desencadeando o empreendedorismo · desencadeando o empreendedorismo o poder das empresas a...

58
DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado & Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS

Upload: vannguyet

Post on 28-Jan-2019

223 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

DESENCADEANDOO EMPREENDEDORISMO

O P O D E R D A S E M P R E S A S A S E R V I Ç O D O S P O B R E S

Comissão para o Setor Privado&

Desenvolvimento

R E L AT Ó R I O PA R A O S E C R E T Á R I O G E R A LD A S N A Ç Õ E S U N I D A S

Page 2: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

1° de março de 2004

As análises e recomendações de políticas desteRelatório não refletem necessariamente as opiniões do Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento, de sua Diretoria Executiva ou dosPaíses Membros das Nações Unidas. O Relatórioé uma publicação independente, feita pelo PNUD,e reflete o pensamento dos membros da Comissãopara o Setor Privado e Desenvolvimento.

Direitos reservados (2004):Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoOne United Nations Plaza, New York, NY 10017, USA

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte destapublicação será reproduzida, armazenada ou transmitida, para qualquer finalidade e de qualquerforma, eletrônica, mecânica, fotocópia ou outro meio,sem a permissão prévia do PNUD.

Page 3: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

MEMBROS DA COMISSÃOC O - P R E S I D Ê N C I A S

Honorável Senhor Paul MartinPrimeiro Ministro, Canadá

Ernesto ZedilloDiretor, Centro Universitário de Yale para Estudos da Globalização

Ex-Presidente, México

M E M B R O S

M E M B R O S E X - O F F I C I OMaurice Strong (Canadá)

Conselheiro Especial da Comissão

Mark Malloch Brown (Reino Unido)Administrador, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

S U P L E N T E SDebra Dunn, para Carleton Fiorina (Estados Unidos)

Vice-Presidente Sênior de Assuntos Corporativos, Companhia Hewlett-Packard

Michael Froman, para Robert Rubin (Estados Unidos)Presidente e CEO, CitiInsurance

S E C R E TA R I A D O D A C O M I S S Ã ODiretor Executivo: Nissim Ezekiel

Equipe Principal: Jan Krutzinna, Naheed Nenshi,Yann Risz e Sahba Sobhani

Eduardo Aninat (Chile)Ex-Diretor Administrativo Adjunto

Fundo Monetário Internacional

Jorge Castañeda (México)Ex-Ministro das Relações Exteriores, México

Professor Emérito de Políticas e Estudos da AméricaLatina, Universidade de Nova Iorque

Luisa Diogo (Moçambique)Ministra do Planejamento e Finanças,

Moçambique

Carleton Fiorina (Estados Unidos)Presidente e CEO, Companhia Hewlett-Packard

Rajat Gupta (Índia)Sócio Sênior - Global

McKinsey & Company

Anne Lauvergeon (França)Presidente do Conselho Executivo, Areva Group

Presidente e CEO, Cogema

Jannik Lindbaek (Noruega)Presidente, Statoil ASA

Peter McPherson (Estados Unidos)Presidente, Michigan State University

Alan Patricof (Estados Unidos)Vice-Presidente do Conselho de Administração eFundador, Apax Partners

Kwame Pianim (Ghana)CEO, Novo Mundo Investimentos

C.K. Prahalad (Estados Unidos)Professor de Administração de EmpresasTitular da Cadeira Harvey C. FruehaufFaculdade de Administração, Universidade deMichigan

Robert Rubin (Estados Unidos)Diretor e Presidente do ConselhoComitê Executivo, CitigroupEx-Secretário do Tesouro, Estados Unidos

Miko Rwayitare (África do Sul)Presidente e Diretor Executivo,Telecel InternationalProprietário da Vinícola Mont Rochelle

Juan Somavia (Chile)Diretor Geral, Organização Internacional do Trabalho

Hernando de Soto (Peru)Presidente, Instituto para Liberdadee Democracia, Peru

Page 4: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

liminar a pobreza, aspiração primordial dosObjetivos de Desenvolvimento do Milênio, émaior prioridade de desenvolvimento do século21. Apesar do enorme progresso feito nos últimos

50 anos, 1,2 bilhões de pessoas (a quinta parte da população mundial)subsistem com menos de um dólar por dia, sem acesso a muitos dos serviçossociais considerados básicos para uma vida digna. Esta situação penosa requer umaresposta global, que utilize todos os recursos financeiros, intelectuais eorganizacionais que possamos reunir.

Diante deste quadro desolador, o Secretário Geral Kofi Annan desafiou aComissão para Setor Privado e Desenvolvimento a responder duas perguntas:Como podemos desencadear o potencial do setor privado e doempreendedorismo, nos países em desenvolvimento? Como o setor privado podeser engajado no combate à pobreza? O presente relatório é a nossa resposta a essasinterrogações.

O Relatório oferece recomendações sobre como os atores principais – governos,instituições públicas de desenvolvimento, o setor privado e as organizações dasociedade civil (ONGs) – podem alterar abordagens e estratégias para reforçarsignificativamente a capacidade do setor privado de promover o desenvolvimento.

PRÓLOGO

E

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES i

Foto

:So

nya

Lau

ren

ce G

reen

/PN

UD

So

mál

ia

Page 5: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

O objetivo de combater a pobreza nosleva a focar no desenvolvimento denegócios que criam empregos eriqueza na economia nacional,potencializando a capacidade dosempreendedores locais.

Traçamos um plano ambicioso paranossa tarefa, que se completou empouco mais de um semestre desdenosso primeiro encontro em junho de2003. Nossa intenção não foi a derealizar pesquisa básica: já seencontram em andamento muitasiniciativas de pesquisa, e as principaisagências de desenvolvimento,fundações privadas e instituiçõesacadêmicas vêm direcionando suaenergia para analisar as contribuiçõesdo setor privado ao desenvolvimento.Ao invés disso, nossa abordagemconsistiu em compreender e assimilaro trabalho já feito por todas as partesda coalizão para o desenvolvimento –incluindo empresas, sindicatos eorganizações da sociedade civil – eintegrar nossas conclusões ao marcoaqui apresentado.

A voz do empresariado se fez muitopresente nos trabalhos da Comissão,expressa através de suas ações erespostas às ambiciosas consultasrealizadas para entender o que maisafeta sua capacidade de produzir ecrescer. É a capacidade, o ímpeto e ainovação dos empreendedores que,conjuntamente, ampliam o impacto dosetor privado amplamente constituído.As ações do empresariado abrangemas diretivas de gestores de

multinacionais e de grandes empresasnacionais, mas também as deindivíduos que operam informalmenteem pequenas comunidades. Demos asuas vozes nossa maior atenção.

A Comissão procurou destacar umaampla gama de exemplos e boaspráticas, que mostram como asestratégias do setor privado podem serdirecionadas para a causa dodesenvolvimento e da redução dapobreza. Dentre tais experiências,incluem-se iniciativas de sucessooriginadas a partir de atorestradicionais de desenvolvimento, comoos organismos multilaterais dedesenvolvimento e as agências decooperação bilateral. Porém,freqüentemente, destacamosabordagens menos conhecidas, poréminovadoras, desenvolvidas eimplementadas pelo setor privado,tanto por empresas quanto pororganizações da sociedade civil. Estesmétodos baseiam-se em mecanismosde mercado e em incentivos do setorprivado, tornando-os mais facilmentereplicáveis e ampliáveis, comoacreditamos ser necessário fazer. Umade nossas principais constatações é aescassez de conhecimento sobre boaspráticas, gerando a necessidade demelhores pesquisas e análises sobre oque funciona e o que não funciona.

Nossa conclusão preliminar foi de quenão bastaria que esta Comissãoproduzisse um relatório tradicional, dotipo em que se declaram opiniões econclama-se outros para a ação. Pelo

contrário, consideramos fundamentalelaborar uma série deiniciativas e ações piloto, que testassemnossas principais observações econclusões, de tal forma que suacorrespondência com o universo realdo desenvolvimento pudesse serdemonstrada. Essa é a razão pela qualo relatório se encerra apresentando umrepertório ilustrativo de ações, queserão detalhadas nos próximos meses,para serem brevemente implementadascomo projetos piloto. Algumas destasações poderiam ser impulsionadas peloSistema das Nações Unidas, outras porseus parceiros e partes interessadas.

As iniciativas propostas não sãosuficientes. Nós as apresentamos comoorientação acerca dos tipos de açõesque consideramos que podem e devemser replicadas, para que haja o maiorimpacto possível. Tampouco cremosque cada uma destas ações constitua-senum modelo perfeito. Aspeculiaridades de cada país nosexigirão modificações nas iniciativas,assim como em algumas de nossasrecomendações gerais, para adaptá-lasa cada situação concreta. Nossas idéiase conclusões são apresentadas comodiretrizes que propiciam um diálogoconstrutivo. O intuito é catalisar umacoalizão renovada entre os principaisatores envolvidos, centrada nosdesafios aqui apresentados. Talcoalizão é essencial para desencadear opotencial do setor privado, atingir osObjetivos de Desenvolvimento doMilênio e combater a pobreza.

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRESii

Paul Martin Ernesto ZedilloCo-Presidente Co-Presidente

Page 6: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Foto

:Lu

c A

nh

/PN

UD

trabalho da Comissão não teria sido possível sema participação e a contribuição de muitaspessoas e organizações. Desejamos expressarnossa sincera gratidão a todos aqui mencionados.

AGRADECIMENTO ESPECIAL...

À McKinsey & Company, que ofereceu informações e assessorament à Comissãoe seu Secretariado durante todo o projeto. A equipe de Maria Blair, MichaelMonson e Mark Templeton, que foi conduzida por Tilman Ehrbeck, DianaFarrell, Jeremy Oppenheim e Les Silverman.

A Jennifer Barsky, Prabal Chakrabarti e Irene Philippi que também deramcontribuições vitais para o trabalho do Secretariado.

LEITORES E ESPECIALISTAS

Nosso trabalho recebeu contribuições de muitos que nos precederam, e outrosmuitos que nos brindaram generosamente com seu tempo e conhecimento paraajudar-nos a consolidar nossas idéias. Dentre eles:

AGRADECIMENTOS

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES iii

O

Page 7: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Adrian Hodges, FórumInternacional de LíderesEmpresariais; Lalita Gupte, MahdavKalyan e K. V. Kamath, BancoICICI; Nandan Nilekani e SanjayPurohit, Infosys Ltd.; Percy S.Mistry, Oxford International Group;Richard Frank, Bob Graffam, JulioLastres e Alexander Schwedelheim,Darby Overseas Investments Ltd;Michael Barth, CompanhiaHolandesa de Financiamento aoDesenvolvimento;

Nancy Bearg, Enterprise Works;Gary Bond, Noreen Doyle e MichaelMcCullough, Banco Europeu paraReconstrução e Desenvolvimento;Cameron Rennie, ConselhoEmpresarial Mundial para oDesenvolvimento Sustentável;Enrique Ferraro, Jim Kaddaras eMaria Otero, Accion; Jide Zeitlin,Goldman Sachs; Masood Ahmed,David Stanton e Adrian Wood,Departamento Internacional para oDesenvolvimento, Reino Unido;Professores Michael Chu, CalestousJuma, Tarun Khanna, George Lodge,Michael E. Porter, Iqbal Quadir eDeborah Spar, Universidade deHarvard; Michael Fairbanks, On theFrontier; Craig Wilson, DeltaPearl;Elli Kaplan; Benjamin Krutzinna;Neysan Rassekh; Alex Shakow;George Ivanov; Eleonore Kopera,Fórum Humanitário de Negócios;Barbara Samuels, SamuelsAssociates; Donald Snodgrass,Development Alternatives, Inc.;

Elizabeth Littlefield, CGAP; BillKramer, Instituto de Pesquisa daÁgua; Hugh Locke, LockeAssociados; Bill Draper,DraperRichards; JoaquimBoborquez; Maria Cattaui Livanos eWilliam Stibravy, da CâmaraInternacional de Comércio; RobertLitan, Robert Chernow, FundaçãoEwing Marion Kauffman;Professores John McMillan e PaulMilgrom, Universidade de Stanford;Christopher Woodruff, Universidadeda Califórnia, San Diego; ProfessorJonathan Morduch, Universidade deNova Iorque; Jeb Brugman e CraigCohon, GlobalLegacy; Bob Fitch,Enterplan; Daniel Zelikow, JPMorgan; Kenny Pegram e RaySmilor, Fundação para oDesenvolvimento de Empresas; SunilSinha, Emerging Market Economics;Roland Dominicé e Jean-Philippe deSchrevel, BlueOrchard; ProfessorRoger Leeds, Universidade JohnsHopkins; Professor Ted London,Laboratório de Estudos sobre a Baseda Pirâmide da Universidade daCarolina do Norte; John Richardsone Sevdalina Rukanova, Centro dasFundações Européias; KennethBorghese, John E.Wasielewski,Agência Internacional deDesenvolvimento dos EstadosUnidos; S. Aftab Ahmed, SabineDurier, Mariann Kurtz, GuyPfeffermann, Harold Rosen, ThomasSchipani, Bernard Sheahan e UdayanWagle, Corporação FinanceiraInternacional; Gerard Byam, CesareCalari, Gerard Caprio, ArvindGupta, Jemal-ud-din Kassum,

Michael Klein, Khalid Mirza,Francois Nankobogo, Neil Roger,Marilou Uy and Dileep Wagle,Banco Mundial; Gerald T. West,Fundo Multilateral para Garantia deInvestimentos; Jonathan Fiechterand Prakash Loungani, FundoMonetário International; KarenDecker and Arvind Mathur, Bancode Desenvolvimento da Ásia; NancyBoswell, Transparência Internacional;Antonio Vives, Banco Inter-Americano de Desenvolvimento; eRic Cameron e Arthur Saper,Agência de DesenvolvimentoInternacional do Canadá.

CONSULTAS

O Secretariado da Comissão efetuouquatro consultas formais comrepresentantes internacionaos dotrabalho; fundações européias,acadêmicos, organizações canadensesda sociedade civil. Nossoagradecimento aos anfitriões dessasconsultas, incluindo a OrganizaçãoInternacional do Trabalho e o CentroEuropeu de Fundações, assim comoaos participantes das consultas,dentre os quais encontram-se: BobKyloh, da delegacia sindical daOrganização Internacional doTrabalho; Raul Requena, RedeInternacional de Sindicatos; WendyCaird, Internacional de ServiçosPúblicos; Carla Coletti, FederaçãoInternacional dos Metalúrgicos;Esther Busser, ConfederaçãoInternacional dos Sindicatos Livres;Sándor Köles, Fundação Carpathian;Matthieu Vanhove, Cera Holding;William White, Charles FundaçãoStewart Mott; Dario Disegni,Compagnia di San Paolo; Charles

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRESiv

Page 8: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Buchanan, Fundação Luso-Americana; Michael Brophy, Helpfor All Trust; Luc Tayart de Borms,Fundação King Baudouin; MichelBourges Maunaury, MadariagaFundação Européia; RaymondGeoris e Alexandre Kirchberger,Rede das Fundações Européias paraCooperação em Inovação; InekeDerkzen, Fundação Rabobank; JohnMroz, Instituto Leste-Oeste; CharlesMaynes, Fundação Eurásia; JohnWyn Owen, Nuffield Trust; DavidDollar, Banco Mundial; MichaelKlein, Grupo Banco Mundial;Raymond Fisman, Universidade deColumbia; Florencio Lopez-de-Silanes, Universidade de Yale; NazeerAziz Ladhani, Fundação Aga Khan;Gerry Barr, Conselho Canadensepara a Cooperação Internacional;John Watson, CARE Canadá;Patricia McCullagh, Ric Cameron eArthur Saper, Agência deDesenvolvimento Internacional doCanadá; Michel Chaurette, CentroCanadense para EstudosInternacionais e Cooperação; PamFoster, Iniciativa Halifax; MollyKane, Inter Pares; Robert Letendre,Organização Católica Canadensepara o Desenvolvimento e a Paz;Mark Fried e Rieky Stuart, OXFAMCanadá; Roy Culpeper, InstitutoNorte-Sul; e Kathy Vandergrift,Visão Mundial do Canadá.

NAÇÕES UNIDAS

Muitos dentro da grande família dasNações Unidas generosamente nosconcederam seu tempo e seuconhecimento, incluindo: MichaelHenriques e Stephen Pursey daOrganização Internacional do

Trabalho; Wilfried Luetkenhorst esua equipe na Organização dasNações Unidas para oDesenvolvimento Industrial; GeorgKell e sua equipe, do GlobalCompact; e Antti Piispanen,Lorraine Ruffing, Karl Sauvant e aequipe da Conferência das NaçõesUnidas para o Comércio e oDesenvolvimento. Nossoagradecimento também a JohnMcArthur e sua equipe do ProjetoMilênio; e aos colegas do Programadas Nações Unidas para oDesenvolvimento (PNUD): ZéphirinDiabré, Administrador Adjunto;Bruce Jenks, do Departamento deRecursos e Parcerias Estratégicas, equem forneceu a orientação geral doPNUD ao projeto; Sanjay Gandhi,Connie Gratil, Sirkka Korpela eCasper Sonesson, também doDepartamento de Recursos eParcerias Estratégicas; KalmanMizsei do Departamento para aEuropa e CIS; Shoji Nishimoto doDepartamento de Políticas deDesenvolvimento; Hafiz Pasha doDepartamento para a Ásia e oPacífico; a equipe do Escritório doAdministrador, em especial GilbertHoungbo, Lauren Canning, Alan J.Lee e Mark Suzman; Djibril Diallo,Victor Arango, Carmen Higa,Hyacinth Morgan e William Ormedo Departamento de Comunicaçãodo Administrador; ChristinaBarrineau, Normand Lauzon e PeterKooi do Fundo de Desenvolvimentode Capitais das Nações Unidas; eBibi Amina Khan e Golda Kruss,que deram suporte ao Secretariadoda Comissão.

EDIÇÃO, DESIGNE PRODUÇÃO

Por fim, agradecemos profundamenteàqueles que nos ajudaram com aedição, a produção e a tradução,sempre trabalhando com prazosreduzidos: Bruce Ross-Larson eMeta de Coquereaumont, ElizabethMcCrocklin, Thomas Roncoli eChristopher Trott, da Cia. deDesenvolvimento de Comunicações.;Julia Dudnik-Ptasznik da ColonialComunicações; Michel Coclet;Edward Ranney Carta, da EurOzTecnologias; Thomas Barbush e aequipe da Gráfica Moore Wallace-Hoechstetter; Kaika Clubwala daA.K. Suprimentos para Escritórios; eElizabeth Scott Andrews, NaeemArastu, Sokhna Diouf, FrançoiseGerber, Rajeswary Iruthayanathan,Maureen Lynch e Jeremy Owens, doPNUD.

Finalmente, gostaríamos deagradecer o Escritório do Programadas Nações Unidas para oDesenvolvimento (PNUD) no Brasil,em especial ao seu RepresentanteResidente Carlos Lopes, e à equipeque nos prestou inestimável suportepara a produção, lançamento edistribuição no Brasil e nos demaispaíses de língua portuguesa, daversão em português do relatório:Marielza Oliveira, Karla Parra,Denise Kipmann, Narue Shiki eWilson Soares.

A G R A D E C I M E N T O S v

Page 9: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

ÍNDICEM E M B R O S D A C O M I S S Ã O

P R Ó L O G O i

A G R A D E C I M E N T O S i i i

D E S TA Q U E S 1

C A P Í T U L O 1 . P O R Q U E O S E T O R P R I VA D OÉ T Ã O I M P O R TA N T E PA R A A R E D U Ç Ã O D A P O B R E Z A 5

A extrema pobreza persiste 6O setor privado é importante para os pobres...e, muitas vezes, é constituído pelos pobres 7Quem são os empresários? 8O foco no setor privado nacional 9

C A P Í T U L O 2 . R E S T R I Ç Õ E S A O S E T O R P R I VA D ON O S PA Í S E S E M D E S E N V O LV I M E N T O

11Informalidade generalizada entre as microempresas 12Poucas empresas pequenas e médias são competitivas 13A ausëncia de pressão competitiva sobre as grandes empresas 14Bases para o empreendedorismo—ainda por construir 14Os três pilares do empreendedorismo—normalmente inexistentes 17

C A P Í T U L O 3 . C O M O D E S E N C A D E A RO P O D E R D O S E T O R P R I VA D O 21

Construindo as bases 23Erguendo os pilares 24

C A P Í T U L O 4 . E N G A J A N D O O S E T O R P R I VA D ON O D E S E N V O LV I M E N T O 29

Servindo os mercados na base da pirâmide 30Formando um ambiente favorável e construindo redes 30Fomentando parcerias público-privadas para o desenvolvimento sustentável 33Aprimorando a governança corporativa 34Avançando as práticas empresariais responsáveis e os padrões de responsabilidade social corporativa 34

C A P Í T U L O 5 . A Ç Õ E S R E C O M E N D A D A S 37

Ações na esfera pública: criando um ambiente favorável 38Ações na esfera público-privada: associações e inovação 40Ações na esfera privada: mobilizando capacidades e recursos 41Olhando para o futuro 42

N O TA B I B L I O G R Á F I C A 43

B I B L I O G R A F I A 45

Page 10: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Q U A D R O S

Quadro 1.1 Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 7

Quadro 3.1 O setor privado da Costa Rica — um bom exemplo 27

Quadro 4.1 Recursos inexplorados, para o desenvolvimento do setor privado 30

Quadro 4.2 O potencial da base da pirâmide 32

F I G U R A S

Figura 1.1 Mais investimentos — maior crescimento 7

Figura 1.2 Quatro bilhões de pessoas forman a base da pirâmide 8

Figura 2.1 A informalidade cresce nos países mais pobres 12

Figura 2.2 Na medida em que os países enriquecem, pequenas e médias

empresas tornam-se mais importantes e a informalidade menos importante 13

Figura 2.3 Bases para o setor privado e pilares do empreendedorismo 15

Figura 2.4 Empresas de países de baixa renda suportam maiores

encargos para se formalizarem 17

Figura 3.1 Fortalecendo a eficácia das ações de desenvolvimento

do setor privado tradicional 22

Figura 4.1 Contribuições do setor privado para o seu próprio desenvolvimento 30

Figura 5.1 Ações em três áreas centrais 38

Page 11: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Foto

:Pe

dro

Co

te/P

NU

D

Comissão acredita que qualquer programa dedesenvolvimento do setor privado – assim comorecomendações de ações e políticas que oacompanham – deve estar embasado na

consciência de que a poupança, os investimentos e a inovação que conduzem aodesenvolvimento são efetuados majoritariamente por indivíduos, corporações ecomunidades.

O setor privado pode reduzir a pobreza ao contribuir para o crescimentoeconômico, a criação de empregos e a geração de renda para a população pobre.Também pode empoderar a população pobre, ao oferecer um vasto espectro deprodutos e serviços a preços mais baixos.

Pequenas e médias empresas são criadoras de emprego, representando sementespara a inovação e o empreendedorismo. No entanto, em muitos países pobres,pequenas e médias empresas têm relevância marginal no ecoistema nacional. Umnúmero significativo delas opera de forma ilegal, contribuindo para a ampliar ainformalidade e reduzir a produtividade, e lhes falta financiamento e capital delongo prazos, bases necessárias à construção de empresas viáveis.

DESTAQUES

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 1

A

Page 12: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

A Comissão acredita que aresponsabilidade principal para atingiro crescimento e o desenvolvimentoeqüitativos é dos países emdesenvolvimento, e consiste em criar ascondições que possibilitem a obtençãodos recursos financeiros necessáriospara efetuar investimentos.

Essas condições – a governabilidade,as políticas macro e microeconômicas,as finanças públicas, o sistemafinanceiro e outros elementosfundamentais do ambiente econômicode um país – são, em grande parte,determinadas pelas ações dosresponsáveis pela formulação depolíticas. Seu desafio consiste emcapitalizar os avanços da estabilidademacroeconômica e da democracia, eassim iniciar reformas que produzammais mudanças nos marcosinstitucionais e que, por sua vez,potencializam e estimulam o setorprivado.

A maior parte das ações recomendadasimplica em colaboração entre os atoressociais. Quando os governosimplementam mudanças nas políticas,normalmente o fazem com o apoio eparticipação direta das instituiçõesmultilaterais de desenvolvimento.Quando o setor privado adota umapostura mais ativa no processo dedesenvolvimento sustentável, muitasvezes o faz em resposta aposicionamento da sociedade civil, quechama a atenção para o tema. Quandoos governos implementam reformasregulatórias, podem efetuá-las emconsulta direta a representantes dosetor privado. As ações específicasidentificadas neste relatório devem serentendidas no contexto desta ampla

cooperação – cada vez mais necessáriapara combater a pobreza.

Existem três áreas de grande interessepara nós, quais sejam:

1. Na esfera pública, promoverreformas na legislação, na regulação eem outras barreiras ao crescimento.

2. Na esfera público-privada,facilitar a cooperação e as parceirasentre atores públicos e privados, deforma a ampliar o acesso a fatoresdeterminantes, tais comofinanciamento, capacitação e serviçosbásicos.

3. Na esfera privada, estimular odesenvolvimento de modelos denegócios que podem ser expandidos ereproduzidos, e que sejamcomercialmente sustentáveis.

AÇÕES NA ESFERAPÚBLICA: CRIANDO UMAMBIENTE PROPÍCIO

A criação de um ambiente propício aodesenvolvimento inclui medidas parareduzir participação do setor informalna economia, através de reforma doambiente geral favorável à economiaformal.

Para os governos dos paísesem desenvolvimentoReforma dos marcos regulatórios efortalecimento do estado de direito.Os governos dos países emdesenvolvimento devem externar umcompromisso forte e definitivo paracom o desenvolvimento sustentável dosetor privado, combinando estecompromisso com um esforço genuínopara reformar o ambiente regulatório eeliminar as barreiras artificiais,

oriundas de políticas que restringem ocrescimento econômico.

Formalizar a economia. Os governosdos países em desenvolvimentoprecisam enfocar a criação de condi-ções para reduzir a informalidade eassim, no longo prazo, alterar acomposição do ecosistema do setorprivado.

Engajar o setor privado nas políticas.Os governos precisam criar umaparceria verdadeira com osrepresentantes do setor privadonacional, de forma a por em prática asmudanças e assegurar que a voz dosetor privado inclua as vozes dasmicro, pequenas e médias empresas.

Para os governos dos países

desenvolvidosFomentar um ambientemacroeconômico internacional e umregime de comércio favoráveis. Como objetivo de promover o rápidocrescimento do investimento privadonacional, é essencial aumentar o fluxoda cooperação para o desenvolvimentoe reformar o sistema de comércioglobal, a fim de oferecer oportunidadeseconômicas justas aos produtores dospaíses em desenvolvimento.

Redirecionar as estratégiasoperacionais das instituições eagências multilaterais e bilaterais dedesenvolvimento. Ao encorajar odesenvolvimento sustentável do setorprivado, os países desenvolvidosprecisam assegurar que as açõescoletivas dessas agências serão melhorcoordenadas, de forma a auamentarsua eficiência e reduzir a pressãoexercida sobre a capacidadeadministrativa dos governos dos paísesem desenvolvimento.

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES2

Page 13: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Desatar os nós do financiamento.São desejáveis certas mudanças nasregras administrativas que regemfundos vinculados, para que um uso euma prestação de assistência técnicamais efetivos estimulem odesenvolvimento do setor privado.

Para as instituições multilateraisde desenvolvimento Aplicar a recomendação deMonterrei sobre especialização eassociação, para as atividades dedesenvolvimento do setor privado.A significativa sobreposição deatividades é contraproducente e precisaurgentemente ser abordada.

Tratar o problema da informalidadenos países em desenvolvimento. Háum trabalho pioneiro em marcha, paradescrever a estrutura do setor infor-mal, e um esforço global para expandira cobertura deste trabalho poderiaalcançar benefícios significativos.

AÇÕES NA ESFERAPÚBLICO-PRIVADA:ASSOCIAÇÕESE INOVAÇÃO

A Comissão considera necessário quetodas as partes façam esforçoscoordenados nos âmbitos financeiro,de capacitação e de parcerias público-privadas para a prestação de serviçosessenciais.

Facilitar o acesso a maiores opçõesde financiamento. Visualizamos odesenvolvimento contínuo dosmercados financeiros nacionais,acoplado à capacitação de reguladorese de instituições financeiras privadas.

Contribuir para o desenvolvimentode capacidades e conhecimentos.Ações de construção de capacidadespoderiam abranger desde programaspara lideranças públicas e privadas,

passando pelo treinamento de micro-empreendedores, até colaboração comautoridades públicas e sindicatos paramelhorar a capacitação detrabalhadores.

Facilitar o fornecimento sustentávelde serviços básicos, principalmenteenergia e água. Neste campo, aComissão observa a necessidade deque se desenvolvam modelosinovadores que fomentem parceriasentre provedores de serviçosgovernamentais, multinacionais eempresas locais.

AÇÕES NA ESFERAPRIVADA:MOBILIZANDOCAPACIDADES ERECURSOS

A Comissão acredita que o setorprivado – e, em especial, grandesempresas nacionais e multinacionais -precisa estar consciente de que podecontribuir para acelerar odesenvolvimento econômico e aredução da pobreza.

Para o setor privadoCanalizar a iniciativa privada paraos esforços de desenvolvimento.Acreditamos que o setor privado temum potencial imenso para contribuircom o desenvolvimento, por meio doseu conhecimento, especialização,recursos e relacionamentos.

Desenvolver vínculos entremultinacionais e grandes empresasnacionais, para fortalecer pequenasempresas. Os elos estabelecidos entreos diferentes tipos de empresas, empaíses em desenvolvimento, oferecemum canal efetivo para proporcionar às

empresas locais o acesso a mercados,financiamento e conhecimentostécnicos.

Fomentar oportunidades denegócios em mercados localizadosna base da pirâmide. Outra ação vitalque pode ser feita pelo setor privado,tanto nacional quanto internacional,consiste em reconhecer as necessidadesdos mercados da base da pirâmide (os4 bilhões de pessoas que ganhammenos de US$1.500/ano), criandosoluções inovadoras para atender essasnecessidades.

Estabelecer padrões. O setor privadoprecisa ter um compromisso real como desenvolvimento sustentável,prestando especial atenção àgovernabilidade e à transparência dasempresas.

Para as organizações do trabalho

e da sociedade civil.A Comissão considera que asorganizações do trabalho e dasociedade civil devem continuarexercendo seu papel de observadorescríticos da agenda de desenvolvimento– e de facilitadores e apoiadores deabordagens inovadoras para atingir osObjetivos de Desenvolvimento doMilênio e melhorar as condições devida das pessoas pobres.

Aumentar a responsabilidade nosistema. Este é um elementofundamental do trabalho dasorganizações da sociedade civil, assimcomo de sua liderança em disseminaro conceito de desenvolvimentosustentável. Esse trabalho deve serfortalecido.

D E S TA Q U E S 3

Page 14: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Desenvolver novas parcerias erelações para atingir objetivoscomuns. As organizações da sociedadecivil são as que se encontram maispróximas da base da pirâmide. Elastambém são, por muitas vezes,instrumentos de experimentação denovas tecnologias para solução deproblemas.

OLHANDOPARA O FUTURO

Para fomentar o progresso, a Comissãorecomenda que as Nações Unidaspromovam o acompanhamento dodesenvolvimento do setor privado. Umrelatório anual de progresso manteria a

proeminência das recomendações geraisda Comissão e asseguraria ocompromisso em tratar os diversosproblemas a aqui identificados.

A Comissão está preparando umaprimeira série de iniciativas viáveis,que propiciam as transformações empaíses específicos, e provêem asferramentas para que governos e setorprivado complementem os recursosdisponíveis e iniciem rapidamente aimplementação de um programa demudanças. Essas primeiras ações têmo intuito de estimular respostascolaborativas de potenciais parceirosque venham a ler este relatório. Nossamensagem a todos vocês é: juntem-sea nós.

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES2

Page 15: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Foto

:B

ori

s M

issi

rkov

Este relatório nos leva a percorrer um vilarejohumilde num dia qualquer, e nos permite enxergaros empreendedores em sua labuta diária. Nosconscientiza de que o pequeno empreendedor é

um elemento tão importante do setor privado quanto uma corporaçãomultinacional, fazendo-nos reconhecer que o setor privado já ocupa uma posiçãocentral na rotina das pessoas pobres, e que detém o poder de melhorar suas vidas.Nos orienta a fazer uso das inovações tecnológicas, organizacionais e gerenciais dosetor privado, para melhorar as condições de vida dos pobres. Portanto, o temacentral deste relatório é como desencadear o poder dos empreendedores locaispara reduzir a pobreza em suas comunidades e nações.

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, ambiciosos em magnitude ealcance, só podem ser atingidos se estabelecermos o compromisso de aplicar asmelhores práticas e conhecimentos. O problema é gigantesco, com um quinto dapopulação mundial subsistindo com menos de um dólar por dia, porém exemplos

CAPÍTULO 1

POR QUE O SETOR PRIVADOÉ TÃO IMPORTANTE PARAA REDUÇÃO DA POBREZA

E

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 5

Page 16: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

de empresas privadas que contribuempara reduzir a pobreza nos encorajam aser otimistas. Considere as exportaçõesde roupas por Bangladesh, detecnologia da informação pela CostaRica, e de flores pelo Quênia – novasindústrias gerando empregos,aumentando a renda, fazendo aesperança crescer. Considere, ainda, asseguintes experiências de sucesso,abrangendo desde modernasmultinacionais até empreendedoresnacionais, que demonstram o potencialdo retorno privado para fomentar odesenvolvimento:

■ A Cemex, uma empresacimenteira mexicana, tornou-seuma das principais produtoras einovadoras mundiais do seu setor,empregando milhares de pessoas.

■ As Casas Bahia, no Brasil,desenvolveram um modelo denegócios único, através do qualofertam serviços de varejoeficientes a consumidores pobres.

■ A Infosys, uma empresa indianade serviços de tecnologia dainformação, cresceu, de umfaturamento inferior a US$ 10milhões no início de 1990, até setornar uma líder mundial, comfaturamento atual de quase US$800 milhões, ao mesmo tempo queestabeleceu padrões internacionaisde governança corporativa e criouuma nova parceria para odesenvolvimento com os governoslocal e central.

■ O Banco ICICI, também da Índia,emprega tecnologia e umaabordagem integrada de toda a suavariada carteira de clientes –particularmente em mercadosrurais, micro, pequenas e médiasempresas.

■ No Camboja, centenas depequenos fornecedores privados

oferecem serviços que vão desde arecarga de baterias até a provisãode energia elétrica a comunidadesinteiras. Esses fornecedoresatendem, hoje, um total estimadode 115 mil consumidores, mais deum terço dos consumidores deenergia elétrica do País.

■ A forte competição entre empresasprivadas de telefonia na Somáliacontribuiu para reduzir o custo dasligações internacionais a menos deum dólar por minuto, cerca de umsexto do que custa em muitosoutros países africanos. Isso ocorreem um país onde não há sistemapostal ou bancário oficial, e ondemuitos não têm acesso à águaencanada ou eletricidade.

■ Na Guatemala, a Confederação deCooperativas Agrícolas formouuma joint venture com umaempresa canadense, que hojeexporta mais de três milhões dedólares/ano em vegetais para oCanadá, gerando uma renda estávelpara 100 mulheres indígenas esustento para mais de milprodutores rurais.

■ Em Moçambique, um produtorrural comprou, financiada, umaprensa para extração de óleo desemente. Hoje em dia, dono dequatro prensas para extração deóleo, ele se uniu a nove outrosoperadores de prensas numacooperativa que negocia em grupocom bancos e compradores locais.

■ Na Índia, pequenos produtores desoja usam um pequeno quiosque deacesso à Internet para conferir os

preços de seu produto no websiteda Bolsa de Chicago, eliminandointermediários locais e obtendopreços melhores.

Esses exemplos não são apenashistórias de sucesso, são histórias sobreo sucesso do setor privado nacional, eo tema central deste relatório. Porém,sair do “caso de sucesso” para chegar aresultados significativos requer umanova forma de pensar odesenvolvimento, que não seja limitadapelas ideologias ou viciada por debatesexaustivos.

A EXTREMA POBREZAPERSISTE

Apesar dos progressos em algunspaíses e regiões, a extrema pobrezapersiste como um problema de difícilsolução na maior parte do mundo.Ganhos substanciais em alguns paísessão acompanhados por grandes perdasem outros, e o número de pessoas quecontinua a ganhar menos de um dólarpor dia, e a sofrer com a fome e a faltade água, saneamento e energia, ainda éenorme. O último Relatório deDesenvolvimento Humano doPrograma das Nações Unidas para oDesenvolvimento (PNUD) informaque o percentual de pessoas vivendo naextrema pobreza caiu de 29,6% em1990 para 23,2% em 1999. Porém, onúmero de pessoas vivendo commenos de um dólar por dia diminuiusomente de 1,29 bilhões para 1,17bilhões, em uma década. Ademais, se afantástica melhoria nos indicadores depobreza da China forem excluídos,verificamos que o número de pessoasvivendo em condições de extremapobreza na realidade cresceu.

Nos anos recentes, a redução dapobreza tornou-se o tema central dodiálogo mundial, ocupando o lugar de

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES6

Page 17: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

principal objetivo do desenvolvimento,ao invés de resultado deste processo. ADeclaração do Milênio constituiu-senuma expressão de solidariedade edeterminação sem precedentes,comprometendo países ricos e pobres aerradicar do mundo a pobreza,promover a dignidade e a igualdadehumanas e alcançar a paz e asustentabilidade ambiental. Adeclaração resultou no consenso acercados Objetivos de Desenvolvimento doMilênio (Quadro 1.1).

O progresso é possível, e ocorreregularmente quando existemcondições adequadas. O crescimentoeconômico permitiu que milhões depessoas deixassem a economia desubsistência, inserindo-se nos setoresindustrial e de prestação de serviços, oque contribuiu para aumentar ariqueza e reduzir a pobreza. Basta ver oprogresso dramático , em termos dequalidade de vida, alcançado peloconjunto de países do leste asiático queinclui Indonésia, Coréia, Malásia eTailândia e a redução considerável nonúmero de pessoas pobres na China.

O impacto geral que o crescimentoeconômico exerce sobre a pobrezadepende de uma gama de fatores queinfluenciam a natureza do própriocrescimento, mas as evidênciasempíricas são convincentes. No lesteda Ásia e no Pacífico, a região com asmaiores taxas de crescimento dos anos90, um crescimento de 6,4% ao ano doPIB per capita resultou numa reduçãode 15% na taxa de pobreza (medidapelo critério de US$ 2 diários). No sulda Ásia, um crescimento anual de3,3% produziu um declínio de 8,4% napobreza. Em contraste, o baixo

crescimento da América Latina e doCaribe, de 1,6%, e de 1,0% no OrienteMédio e Norte da África, levou a umaredução apenas marginal das taxas depobreza. Como exemplo mais grave, astaxas negativas de crescimento daÁfrica subsaariana e dos países daEuropa e Ásia Central resultaram emaumentos na pobreza de 1,6% e de13,5%, respectivamente.

A mensagem é clara: o crescimentosustentado reduz a pobreza. A conexãoentre o crescimento econômico e oforte investimento privado, éigualmente clara. Um estudo de 50países em desenvolvimento, de 1970 a1998, examinou a relação entreinvestimentos privados e públicos, deum lado, e crescimento e renda, deoutro. Países com maior crescimentoeram os que desfrutavam de maioresinvestimentos privados (Figura 1.1).

Porém, para que o crescimento daprodução contribua para combater apobreza, o mesmo precisa resultar emrenda para os pobres. A quantidade deempregos e o valor dos salários sãoelementos cruciais para trabalhadores

C A P Í T U LO 1 : POR QUE O SETOR PRIVADO É TÃO IMPORTANTE PARA A REDUÇÃO DA POBREZA 7

1. A erradicação da extrema pobreza eda fome: reduzir pela metade aproporção das pessoas vivendo commenos de um dólar por dia; reduzir àmetade a proporção de pessoassofrendo com a fome.

2. O alcance da educação primária:assegurar que todos os meninos emeninas completem o curso primário.

3. A promoção da igualdade de gêneroe o fortalecimento da mulher: eliminar adisparidade de gênero na educaçãoprimária e secundária até 2005, e emtodos os níveis de educação até 2015.

4. A redução da mortalidade infantil:reduzir em dois terços os índices demortalidade das crianças abaixo decinco anos.

5. Aprimoramento da saúde maternal:reduzir em três quartos o índice demortalidade materna.

6. Combate ao HIV/AIDS, malária eoutras doenças: conter e reverter adisseminação do HIV/AIDS; conter ereverter a disseminação da malária eoutras grandes doenças.

7. Assegurar a sustentabilidadeambiental: integrar os princípios dodesenvolvimento sustentado naspolíticas e programas nacionais; revertera perda de recursos naturais; reduzirpela metade a proporção de pessoassem acesso sustentável a água potável esaneamento básico; atingir melhorasignificativa nas vidas de pelo menos100 milhões de habitantes de bairrosdegradados até 2020.

8. Desenvolver uma parceria global parao desenvolvimento.

Q U A D R O 1 . 1 O S O B J E T I V O S D ED E S E N V O LV I M E N T O D O M I L Ê N I O

F I G U R A 1 . 1 M A I S I N V E S T I M E N T O S — M A I S C R E S C I M E N T O

16

14

12

10

8

6

4

2

0< 3% 3–5% > 5%

Taxas de Crescimento, 1970–98

■ Privado ■ Público

Inve

stim

ento

s em

Per

cen

tual

do

PIB

,19

70

–98

Fonte: Bouton and Sumilinski (2000)

Page 18: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

assalariados e contratados. Para osautônomos, produtividade e retorno,fatores influenciados pela tecnologia,pelos insumos e pelos preços, sãofundamentais. Assim, o emprego é ovínculo principal entre o crescimentoda produção e a redução da pobreza.

O SETOR PRIVADO ÉIMPORTANTE PARA OSPOBRES... E, MUITASVEZES, É CONSTITUÍDOPELOS POBRES

O setor privado é crucial na vida daspessoas pobres. Em primeiro lugar,todos os pobres são consumidores. Ahistória se repete em todo o mundo: osconsumidores pobres pagam mais queos consumidores ricos por serviçosbásicos. Em Mumbai, habitantes dasfavelas de Dharavi pagam 1,2 vezesmais pelo arroz, 10 vezes mais porremédios e 3,5 vezes mais por água doque os moradores da AvenidaBhulabhai Desai, bairro de classe médialocalizado no outro extremo da cidade.Cerca de quatro bilhões de pessoas -aquelas que ganham menos de US$1.500 por ano -formam os mercados dabase da pirâmide (Figura 1.2).

A qualidade dos bens que as pessoaspobres adquirem - seja comida, águaou serviços financeiros – é, quasesempre, inferior. Em geral, um setorprivado que opera na informalidade éque se encarrega de preencher aslacunas, com produtos de preços mais

altos e qualidade duvidosa. E atendenecessidades importantes, pois é aeconomia informal que sustenta amaioria das famílias pobres em muitospaíses. Porém, as vantagens daseconomias de escala e de escopo estãopresentes nas vidas de quem seencontra na base da pirâmide.Algumas das barreiras são processosdeficientes de marketing edistribuição.

O setor privado já atende asnecessidades dos pobres onde ogoverno não chega. Em certos países,por exemplo, o governo tem poucoimpacto sobre os pobres. As favelasnão possuem serviços de saúde,educação pública ou infra-estrutura.Esta história se repete por todo omundo em desenvolvimento. Emmuitos casos, quando os serviçosexistem, são oferecidos pela iniciativaprivada. De 15% a 90% da educaçãoprimária é fornecida por escolasprivadas. Aproximadamente 63% dosgastos com saúde efetuados nos países

mais pobres ocorre no âmbito privado,quase o dobro dos 33% que este gastorepresenta nos países ricos daOrganização para a Cooperação eDesenvolvimento Econômico.

Com as devidas atenção eregulamentação, os serviços oferecidospelo setor privado podem contribuirpara atender as demandas dapopulação pobre. Dados recentes sobrenovas ligações de água, em três paísesda América Latina, mostram que entre25 e 30% da expansão da rede sedestina ao atendimento do quintilmais pobre da população.

Em resumo, um setor privadoinovador pode encontrar formas deofertar bens e serviços de custo baixo(mesmo os mais sofisticados) aconsumidores de todos os níveis derenda. Ele pode atender tanto áreasurbanas deprimidas quanto vilarejos ecomunidades rurais humildes.Empresas podem desenvolver canaisde distribuição para consumidores emvilarejos e, assim, ampliar seuconhecimento sobre as reaisnecessidades deste segmento demercado. Para reduzir custos, podeutilizar a terceirização, que propicia

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES8

F I G U R A 1 . 2 Q U AT R O B I L H Õ E S D E P E S S O A S N A B A S E D A P I R Â M I D E

> $20,000

$1,500–20,000

< $1,500

Camada 1

Camada 2–3

Camada 4

75–100

1,500–1,750

4,000

Paridade de poder decompra em dólares

População em milhões

Fonte: Prahalad and Hammond (2002)

Page 19: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

maior flexibilidade.

Assim, o setor privado pode aliviar apobreza via:

■ Contribuição para o crescimentoeconômico, contribuindo paragerar emprego e renda.

■ O poder que atribui aos pobres aooferecer serviços e bens deconsumo, ao aumentar sua gama deopções, e ao reduzir preços,melhorando a qualidade de vidadas pessoas pobres.

A maior interação entre os que estãona base da pirâmide e o setor privadocria oportunidades para oenvolvimento direto na economia demercado.

QUEM SÃO OSEMPREENDEDORES?

A Comissão adota uma visãoexpansiva do setor privado. As grandesempresas constituem uma parteindispensável da economia privada,mas os próprios pobres são igualmenteimportanted. Muitas vezes, elesmesmos são os empreendedores,frequentemente por necessidade,exercendo uma atividade informal eamarrados a negócios precários. Nóscompartilhamos a visão de queambientes empresariais orientadospara o mercado abrangem diversasformas de empresas privadas, quecoexistem em relações simbióticas. Oecosistema geralmente incluicorporações multinacionais, grandesempresas nacionais, micro, pequenas emédias empresas, com atores formais einformais. Portanto, encompassa tantoos pequenos agricultores quanto asmultinacionais.

A agricultura suscita um interesseespecial, pois 75% das pessoas quevivem com menos de um dólar por diaestão na zona rural, e sua produção émajoritariamente de subsistência. NaÁfrica, a agricultura sustenta mais de

70% da população, contribuindo com30% do PIB. O fornecimento deinsumos para o setor agrícola, e aagregação de valor a produtos agrários,através de processamento e marketing,são mecanismos importantes dedesenvolvimento do setor privado. Arelevância crítica do setor agrícola parao combate à pobreza reforça anecessidade de progresso urgente naeliminação dos subsídios auferidos porprodutores de mercados desenvolvidos,e na reforma das regras comerciais.

Em muitos países emdesenvolvimento, as mulheresconstituem a maioria dosmicroempreendedores da economiainformal, e um percentual significativodo setor formal. Muitas delas sãoanalfabetas e vivem em comunidadesrurais pobres. Constituir suas própriasempresas - geralmente microempresas- é geralmente a única possibilidade deobterem trabalho e auferirem renda.Na América Latina e no Caribe, de25% a 35% das micro, pequenas emédias empresas formais pertencem esão conduzidas por mulheres. NasFilipinas, 44% das microempresaspertencem a mulheres, mais de 80%das quais estão em zonas rurais. NoZimbábue, as mulheres dirigem amaioria das micro e pequenasempresas (67%), ao passo que asempresas conduzidas por homenstendem a proporcionar a maior parteda renda familiar e a ter maisempregados.

Também são empreendedores osexecutivos de grandes empresas, quetoman a iniciativa de inovar e expandiros negócios. Este relatório ressaltamuitos exemplos de grandes empresasque buscaram os mercados da base dapirâmide, e desenvolveram produtos eprocessos para atender os pobres deforma lucrativa ou operar de formasustentável em ambientes desafiadores.Iniciativas individuais de engenheiros

e executivos estão, muitas vezes, naraiz destes movimentos por parte dasgrandes corporações, que podem tergrande impacto positivo sobre odesenvolvimento.

O empreendedorismo também é forçamotriz em muitas organizações dasociedade civil, além de existir nogoverno e nas administraçõespúblicas. Alguns indivíduos nestasorganizações sentem o ímpeto deinovar e aproveitar as oportunidadesque se apresentam, com a mesmapaixão e dedicação de umempreendedor, apesar do pouco ounenhum retorno financeiro.

Talvez onde o empreendedorismomais prospere seja nas pequenas emédias empresas com alto potencialde crescimento e inovação. Essesegmento dinâmico é tipicamente aincubadora do empreendedorismo eda inovação, dirigindo o crescimentoeconômico, criando empregos efomentando a competitividade, ainovação e a produtividade.

O FOCO NO SETORPRIVADO NACIONAL

Nos centramos aqui no setor privadonacional por 3 razões principais.Primeiro, os recursos nacionais sãomuito maiores que os externos, sejamreais ou potenciais. Investimentosprivados nacionais alcançaram médiasentre 10 e 12% do PIB nos anos 90,ao passo que os investimentospúblicos nacionais mantiveram-se em7% e os investimentos estrangeirosdiretos (IED), entre 2 e 5%. Segundo,quando examinamos os recursos

C A P Í T U LO 1 : POR QUE O SETOR PRIVADO É TÃO IMPORTANTE PARA A REDUÇÃO DA POBREZA 9

Page 20: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES10

informais, como o valor potencial daterra, a riqueza nacional que pode seralavancada é significativamente maiorque os IED acumulados, ou dascarteiras de investimentos privados.Terceiro, o impulso dado aos recursosnacionais de uma economia -tantofinanceiros quanto empresariais –normalmente cria condições para umcrescimento mais estável e sustentável.

Estimativas dos ativos nacionais nospaíses em desenvolvimento alcançam $9,4 trilhões, valor que representamuitas vezes o valor dos fluxos decarteiras de investimento, ou de IEDpara os países em desenvolvimento,nos últimos 15 anos. Essascomparações, de fluxos com ativos, sãoapenas ilustrativas.

Converter os ativos informais emrecursos financeiros requer umprograma amplo de reformas quepossibilitem o uso destes ativos comogarantias ao sistema bancário. Nãoobstante, deve-se ter em mente ogigantesco valor destes ativos. Porexemplo, estudos recentes efetuadosno Egito concluiram que o país dispõede uma economia informal vibrante eimensa, que emprega mais de 8

milhões de pessoas (cerca de 40% daforça de trabalho) e que possui ativosno valor de quase $ 250 bilhões,montante este que representa 30 vezesa soma do valor de mercado de todasas empresas listadas na Bolsa deValores do Cairo.

Esse interesse no setor privadonacional não significa atribuir poucaimportância ao IED. Além dosrecursos financeiros que o IED aporta,a penetração da cultura empresarialcontribui para modificar a maneirapela qual os negócios são feitos,transmite conhecimentos e melhorespráticas gerenciais, oferece acesso amercados internacionais, transferetecnologia e inovações, introduzpressão competitiva em mercadosantes protegidos, e constitui umimpulso ao crescimento das empresaslocais. Nessas circunstâncias, o IEDpode melhorar todo o ambiente deinvestimento.

Page 21: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Os países em desenvolvimento possuemenergia e riquezas em abundânica, e todos ossegmentos do setor privado demostraram quepodem responder quando se ampliam suas

capacidades. Porém, segundo as investigações da Comissão, o setor privadoenfrenta três desafios estruturais fundamentais em todos os países emdesenvolvimento, mesmo que em diferentes medidas:■ Microempresas, e muitas pequenas e médias empresas, operam informalmente.■ Muitas pequenas e médias empresas encontram barreiras para crescer.■ A ausência de pressão competitiva protege as grandes empresas das forças de

mercado e da necessidade de inovar e aumentar sua produtividade.

C A P Í T U L O 2

RESTRIÇÕES AO SETORPRIVADO NOS PAÍSES EMDESENVOLVIMENTO

O

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 11

Foto

:PN

UD

Cu

ba

Page 22: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

INFORMALIDADEGENERALIZADA ENTREAS MICROEMPRESAS

O microempreendedorismo é umaforma comum de emprego em muitospaíses em desenvolvimento (Figura2.1). Quase todas as microempresastrabalham fora do sistema legal,contribuindo para difundir ainformalidade.

A informalidade oferece algunsbenefícios, em determinadascircunstâncias. Pode servir como umsubstituto do emprego, paratrabalhadores que encontramdificuldades em conseguir um posto detrabalho. Por exemplo, os tailandesesurbanos que perderam seus empregosdurante a crise econômica do final dosanos 90, passaram a se sustentar pormeio de oportunidades no comércioambulante informal. Nas sociedadesque limitam a participação dasmulheres na economia, empresasfamiliares oferecem oportunidades àsmulheres de auferir renda. Se as regrasformais, sistemas de controle econdições culturais são tão restritivasque a maior parte dos empreendedoresficam impossibilitados de usar seus

talentos, a economia pode se beneficiarse passam a operar informalmente.

As dificuldades de acesso afinanciamentos também obrigam osempresários dos países emdesenvolvimento a trabalhar operaçõesde pequena escala. Empreendedores eempresas que operam informalmentenão conseguem empréstimos a custosrazoáveis porque não possuemregistros legais nem títulos depropriedade dos imóveis que ocupam.Freqüentemente, a única opção deacesso ao capital é por meio deagiotas, que cobram juros altos e sópodem emprestar pequenas quantias,insuficientes para impulsionar ocrescimento de uma empresa .

O acesso das empresas informais aosistema legal e a seus benefícios élimitado. Em geral, o sistema formaldeveria respeitar contratos e protegerdireitos de propriedade de forma maisjusta do que ocorre em sistemasinformais. Regras previsíveis emecanismos de resolução decontrovérsias são essenciais para que osempreendedores se engajem emnegócios de longo prazo, quepossibilite a eles inovar, ganharexperiência e difundir conhecimentos

e benefícios. Propina paga a agentespúblicos, que contribui para reduzir aincerteza no mundo incerto em queestes empreendedores operam, diminuia renda que poderia, de outra forma,ser investida em aumentar aprodutividade das operações.

Sistemas informais de controle, cruéise arbitrários, também limitam acapacidade produtiva dosempreendedores. As prisões pordívidas e punições ao estilo da máfiaprejudicam o pleno acesso doempreendedor a recursos humanosessenciais. De acordo com Hernandode Soto, um terço dos devedoresegípcios que obtiveram créditoinformalmente, passaram algum tempoem cárcere privado, por não teremquitado o que deviam.

Os empreendedores que operamformalmente se vêem prejudicadospelos subsídios implícitos que asempresas informais recebem por meiodas desigualdades na aplicação das leise por mecanismos precários deproteção à propriedades e aoscontratos, os quais geram distorçõescompetitivas. Ambos os aspectos criamum ambiente desigual e reduzem oacesso de empreendedores formais ainsumos e mercados, o que osdesencoraja a investir para aumentar aprodutividade.

Empresas informais podem cobrarpreços menores pois não pagamimpostos nem cumprem outrasobrigações regulamentares. Aquelasempresas formais que são maisprodutivas têm dificuldades emaumentar sua participação no mercadona disputa com empresas informais, jáque as primeiras pagam impostos eoutras contribuições que aumentamsignificativamente seus custos.Empresas mais produtivas estão menosaptas a tirar empresas informais menosprodutivas do mercado. Assim,mecanismos ineficientes de controlepermitem que empresas informaiscontinuem existindo, impedindo que

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES12

F I G U R A 2 . 1 A I N F O R M A L I D A D E C R E S C E N O S PA Í S E S P O B R E S

Portugal

Chile

Mexico

Tailândia, Turquia, Brasil

Índia, Indonésia,Paquistão, Filipinas

África subsaariana

Estimativa de trabalhadores não agrários do setor informal

30

38

40

50

70

80

Fonte: Banco Mundial e Organização Internacional do Trabalho

Page 23: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

empresas produtivas atinjam escalamáxima. Ainda assim, dada asignificativa vantagem emprodutividade de empresas formais,sua inabilidade em competir podesimplesmente estar refletindo a má-vontade em atender certos segmentosde mercado, ao invés de demonstrar asvantagens de custo oferecidas pelainformalidade.

Além disso, os direitos e a proteçãodos trabalhadores do setor informaldeixam muito a desejar emcomparação com o que ocorre no setorformal, e os consumidores - que sópodem adquirir bens de qualidade esegurança duvidosas - carecem deacesso à maior variedade e aosmenores preços existentes emmercados realmente competitivos.

Há muitas restrições à entrada nosetor formal. A principal questão é arelação entre custos e benefícios para oempreendedor, que precisa escolherentre conduzir operações formais einformais.

Na maior parte dos países emdesenvolvimento, a formalidade custacaro. Agentes formais sãofrequentemente sobretaxados (umcírculo vicioso, uma vez que eles sãosobretaxados porque poucas empresasformais carregam a maior parte dopeso dos impostos). O registro de umaempresa pode ser um processo longo ecaro (na Angola, por exemplo, essaoperação leva 146 dias e custa mais deoito vezes a renda per capita). Aregulação e as exigências do governosão complexas - e o custo de atendê-las, alto. As oportunidades de subornocrescem com a complexidade daregulação, deixand indefesos aquelesagentes econômicos menores, que nãopossuem acesso a recursos jurídicos.

Além disso, os empreendedores vêempoucos benefícios em se formalizarem.Enquanto as empresas formais nospaíses desenvolvidos podem levantar

capital ao hipotecar seus ativos, issonão é possível em muitos países emdesenvolvimento, onde as leishipotecárias são fracas e os bancosrelutam em financiar pequenos agenteseconômicos. Em teoria, a formalidadefacilitaria vender em mercados alémdas fronteiras nacionais, mas a precáriainfra-estrutura local e a corrupção nasalfândegas limitam as oportunidades.E a legislação de falências, que protegeas empresas formais em paísesdesenvolvidos é, muitas vezes,ineficiente nos países emdesenvolvimento, expondo osempreendedores formais a riscosmaiores (devido à visibilidade maior)do que aqueles que eles enfrentariamse permanecessem no setor informal.

POUCAS EMPRESASPEQUENAS E MÉDIASSÃO COMPETITIVAS

Pequenas e médias empresas tendem aser grandes geradoras de empregos,pois representam o embrião dainovação e empreendedorismo. Aoentrarem no mercado e aumentarem acompetição, PME impulsionam aeficiência e o cresciment, e promovermo desenvolvimento.

De fato, algumas pesquisas recentesindicam que o crescimento econômicoem países pobres é acompanhado porum crescimento mais do queproporcional na parcela do setorformal representada pelas pequenas emédias empresas. Nos países demenor renda, as pequenas e médiasempresas formais respondem porcerca de 30% dos empregos e 17% doPIB, ao passo que em países comrenda elevada esses percentuais são de60% e 50%, respectivamente. Ou seja,os países mais ricos apresentam menosatividade informal e muito maisatividade de pequenas e médiasempresas (Figura 2.2).

A realidade em muitos países pobres,especialmente na África Subsaariana, éque o setor das pequenas e médiasempresas é relativamente marginal noambiente nacional. Por que aspequenas e médias empresas nãoconseguem “ascender” ao nível deempresas maiores?

Para que essa evolução seja possível, éessencial que as condições sejamrazoavelmente justas, e que existamestruturas institucionais de suporteentre os atores já estabelecidos(normalmente maiores) e os recém-chegados (quase sempre menores). Asregras que restringem a entrada aexpansão no mercado têm um efeitocontracionista para as pequenas e

C A P Í T U L O 2 : R E S T R I Ç Õ E S A O S E T O R P R I VA D O N O S PA Í S E S E M D E S E N V O LV I M E N T O 13

Paísesde baixa

renda

Paísesde renda

intermediária

Países de altarenda

■ Atividade Informal■ Atividade das pequenas e médias empresas■ Atividade remanescente

Fonte: Ayyagari, Beck, andDemirguc-Kunt (2003)

Percentual do PIB

FIGURA 2.2 PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS TORNAM-SE MAIS IMPORTANTES E A INFORMALIDADE MENOS IMPORTANTE À MEDIDA QUEOS PAÍSES ENRIQUESSEM

47

16

37

31

39

30

13

51

36

Page 24: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

médias empresas, favorecendo asgrandes corporações já estabelecidas.Pequenas e médias empresas poderiamcompetir efetivamente em nichos demercados, mas as vantagensdesfrutadas pelos grandes atoresestabelecidos impedem a competiçãoadvinda do setor das pequenas emédias empresas. Sem os custosrazoáveis derivados de sistemascompetitivos justos, pequenas e médiasempresas não podem crescer e setornar mais produtivas. São aindapenalizado por legislações tributáriasarbitrárias ou ineficientes,regulamentações onerosas aos negóciose outras restrições.

A informalidade generalizada e aausência de capacitação efinanciamento também são fatores queafetam a capacidade dosempreendedores de fazerem seusnegócios crescer. As pequenas emédias empresas, apesar denormalmente animadas por idéiasinovadoras ou pelas oportunidadesrepresentadas por mercadosinexplorados, sofrem com a menorprodutividade dos fatores de produção,seja o uso de tecnologias ultrapassadasou a utilização de recursos humanosmenos qualificados. O custo dosserviços de suporte empresarial énormalmente mais alto do que aspequenas e médias empresas sãocapazes de custear, ou não estão emsintonia com suas necessidades. Asexportações mais baixas das pequenase médias empresas decorrem, emgrande parte, da falta de acesso aoconhecimento dos padrõesinternacionais de qualidade.

O mais importante é que pequenas emédias empresas carecem de acesso afinanciamento e capital de longoprazos, bases sobre as quais ascompanhias são erguidas. O alto riscoassociado a pequenas e médias

empresas, seja real ou percebido, existepela ausência de instrumentos definanciamento que permitemadministrar e diversificar este risco. Osbancos também enfrentam altoscustos, ou não conseguem obterinformações confiáveis, mesmoquando as pequenas e médiasempresas sejam merecedoras decrédito. Esses fatos elevam as taxas dejuros e reduzem os volumesemprestados, estabelecendo barreirasde preço e quantidade para ocrescimento das pequenas e médiasempresas. Tais empresas acabam sendoobrigadas a recorrer a empréstimos defamiliares ou de amigos, a utilizarlucros retidos ou crédito de curtoprazo oferecido por outros pequenoscompradores ou fornecedores, ao invésde poder contar com linhas de créditode longo prazo, oferecidas por grandesinstituições, voltadas para usosespecíficos.

A AUSÊNCIA DEPRESSÃOCOMPETITIVA SOBREAS GRANDESEMPRESAS

As grandes empresas formam onódulo central das redes e dos arranjosprodutivos locais e, em razão de seutamanho e da amplitude de atividadesempresariais em que se envolvem,fornecem a centelha que energiza oambiente competitivo. Mas em muitospaíses em desenvolvimento, as grandesempresas podem também sufocar osesforços e a iniciativa empreendedora.Muitas vezes, elas se aproveitam deambientes institucionais fracos paralevantar barreiras anticompetitivas eassim proteger sua posição devantagem. Enquanto mercadosinformais locais podem funcionarnormalmente sem muitaregulamentação, mercados mais

maduros e complexos precisam deregras apropriadas para umfuncionamento eficaz.

Um setor financeiro dinâmico, no qualas novas empresas podem obterfinanciamento em termoscompetitivos, é também importantepara criar pressão competitiva nomercado. Entretanto, empresas composição protegida nesses mercadosnormalmente têm fortes incentivospara usar seus instrumentos de pressãoe atrasar o progresso das iniciativas degoverno destinadas a melhorar a infra-estrutura institucional dos mercados.

Práticas desse tipo prejudicamdiretamente as pessoas pobres, poisresultam em preços mais altos eprodutos de qualidade inferior. Aspessoas pobres se beneficiaramenormemente da abertura de mercadoscompetitivos, na Índia, no início dosanos 90. Antes disso, a populaçãoestava subsidiando a maior parte dosetor privado, que vendia produtos debaixa qualidade por altos preços,graças ao controle da entrada decompetidores no mercado doméstico, ea severas quotas e tarifas deimportação. Políticas anticompetitivascomo essas são normalmenteperpetuadas por estranhas aliançasentre as grandes empresas protegidas eas pessoas pobres, que temem perderseus empregos em um mercadocompetitivo.

A corrupção, aliada a um sistema legalfraco e arbitrário, sustenta as empresasprotegidas em prejuízo daspotencialmente mais competitivas. Asprotegidas recebem subsídios, licençasespeciais ou privilégios que preservamsua posição e reduzem o incentivo àinovação e redução de preços. Essasfirmas são responsáveis por incentivosperversos a fornecedores semcompetitividade, mesmo quandoexistem fornecedores maiscompetitivos. Um ambientemacroeconômico precário encorajagastos desnecessários e retarda o

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES14

Page 25: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

crescimento da produtividade dasempresas competitivas.

Essas empresas podem, tambémindiretamente, impedir quecompetidores tenham acesso a capital,ao contribuir para um ambiente quemantém o financiamento poucodesenvolvido. As grandes empresas,portanto, controlam a maior parcelados recursos existentes em um sistemafinanceiro pouco desenvolvido.

BASES PARA OEMPREENDEDORISMO— AINDA PORCONSTRUIR

A construção de um setor privadoforte requer uma base sólida nosmacroambientes globais e nacionais,na infra-estrutura física e social e noestado de direito (Figura 2.3).

Macroambiente globalAs bases para o crescimento no setorprivado começam por um ambientemacroeconômico que funcione bem,envolva uma economia globaldinâmica, abasteça os mercados epromova regras adequadas de comércioque permitam acesso competitivo àsoportunidades do mercado. A livrecirculação de mercadorias, capital einformação - além da transferência detecnologia e idéias - estimula odesenvolvimento do setor privado. Issoocorre por meio de diversosmecanismos: mercados abertos,investimento estrangeiro de qualidade,ajuda efetiva ao desenvolvimento,transferência eficiente de tecnologia econhecimento, e requer aimplementação de reformas voltadaspara o desmantelamento dos subsídiosagrícolas e de outras formas deprotecionismo que tão evidentementeimpedem o desenvolvimento do setorprivado exportador nas áreas rurais dospaíses em desenvolvimento.

Há amplo consenso de que a aberturade mercados tem impulsionado ocrescimento econômico. Cabe reiteraras vantagens, ainda que conhecidas.Uma política comercial aberta estimulao crescimento da produtividade aoabrir o setor privado à concorrência. Olivre comércio ajuda os países aalocarem seus recursos nas suas áreasmais produtivas de vantagemcomparativa. As importações maisbaratas elevam a qualidade de vida epermitem o uso de insumos maisbaratos, já que o setor privado produztanto para os consumidores nacionaisquanto para os externos. Um regimecomo esse oferece acesso livre amercados por meio de redução dastarifas e das barreiras não-tarifárias.

O macroambiente nacionalOs elementos centrais de ummacroambiente doméstico sólido, doponto de vista das empresas, incluiempaz e estabilidade política, boagovernança com previsibilidade daspolíticas públicas, transparência e

responsabilização, e políticasmacroeconômicas relevantes. Para asempresas, conflitos internos ouexternos aumentam os custos e aincerteza, desencorajando osinvestimentos domésticos eestrangeiros. Mais grave ainda, osconflitos impedem o desenvolvimentodo setor privado, pois eles geralmentelevam à trágica destruição do capitalhumano, à má alocação dos escassosrecursos públicos, à devastação dasterras, ao ataque aos recursos naturaise à eliminação do acesso a mercados.

Infra-estrutura física e socialA infra-estrutura física e social de umpaís inclui estradas, energia, portos,saneamento e telecomunicações, assimcomo educação básica e saúde. Aconstrução desses serviços básicos temduplo benefício: melhora a vida daspessoas pobres diretamente epossibilita o crescimento dos negócios.

C A P Í T U L O 2 : R E S T R I Ç Õ E S A O S E T O R P R I VA D O N O S PA Í S E S E M D E S E N V O LV I M E N T O 15

Pilares do empreendedorismo

Bases para o setor privado

Ambienteelevado de

negócios

Acesso aofinanciamento

Acesso atécnicas e

conhecimento

Estado de direito

Infra-estrutura física e social

Macroambiente doméstico

Macroambiente global

Crescimento do setor privado

F I G U R A 2 . 3 B A S E S PA R A O S E T O R P R I VA D OE P I L A R E S D O E M P R E E N D E D O R I S M O

Page 26: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Ineficiências técnicas nas rodovias,linhas férreas, energia e água, sozinhas,causaram um prejuízo estimado deUS$ 55 bilhões/ano em perdas noinício dos anos 90, uma quantidadeequivalente a 1% do PIB dos paísesem desenvolvimento, ou a duas vezes oorçamento anual do financiamento dainfra-estrutura no mundo emdesenvolvimento. Essas perdas recaemsobre grandes e pequenas empresas, esobre as pessoas, especialmente as maispobres. Rodovias de baixa qualidadepodem retirar pequenos produtoresdos mercados regionais, e causam ainterrupção do fornecimento deinsumos essenciais aos grandesprodutores.

Uma infra-estrutura bem conservadamelhora o comércio ao acelerar otransporte de produtos e matérias-primas, sustentando a produçãointensiva em energia e tornando ainformação e a comunicaçãorapidamente acessíveis. Infra-estruturas precárias normalmenteimpedem a atividade empresarial.

Garantias de conectividade através detelecomunicações e tecnologia dainformação têm se tornadoespecialmente importantes, poiscontribuem para que algumasbarreiras, criadas pela infra-estruturafísica inadequada, sejam sobrepujadas.O acesso eficiente à informação éclaramente uma parte vital dasnecessidades de infra-estrutura básicanas economias modernas.

A manutenção de uma infra-estruturade alta qualidade é, em grande parte,uma questão de investimentos decapital. Contratos eficientes, leilões,credibilidade regulatória e capacidadede gestão pública e privada tambémsão muito importantes.

Os estudos que demonstram osretornos sociais e econômicos dosinvestimentos em educação e saúderessaltam sua eficácia. Altos níveis deinvestimento em capital humano, emeducação e saúde, estabelecem ascondições básicas para o crescimentodo setor privado. Uma força detrabalho capacitada e saudável é umaforça de trabalho produtiva. Basta quealguém observe os países devastadospor problemas de saúde, ou pordoenças, para verificar os estragos queuma infra-estrutura de saúdeinadequada ou subfinanciada podemcausar em economias produtivas. Asempresas privadas auferem retornosdos investimentos feitos em educação,do ensino fundamental até o superior,da educação universal até a específica.Garantir que esta educação sejaapropriada para a futura força detrabalho é uma tarefa crucial da boainfra-estrutura educacional. Aeducação das mulheres tem efeitosparticularmente positivos na sua rendafutura – e na renda da sociedade comoum todo.

Os investimentos em saúde e educaçãoenvolvem tanto o setor público quantoo privado, e, indo na contra mão dacrença tradicional, muitos serviçoseducacionais e de saúde em países emdesenvolvimento são fornecidos pelainiciativa privada, incluindocooperativas e organizações mutuáriasde previdência. Em alguns sistemas,entre 70 e 80% dos gastos com saúdeocorrem no âmbito do setor privado.Muitas vezes, mas nem sempre, oenvolvimento privado é conseqüênciados parcos investimentos públicos. Odesenvolvimento do setor privado sebaseia em dois elementosfundamentais: a melhoria da infra-estrutura social e a garantia de que aspessoas que vivem com rendas maisbaixas terão acesso a serviços de saúdee educação de alta qualidade.

O Estado de DireitoO “estado de direito” significa que asdecisões governamentais são tomadasde acordo com leis e regrasestabelecidas, e que são seguidas portodos os cidadãos. As regras sãoaplicadas de forma consistente poruma burocracia profissional, e julgadaspor um Judiciário justo e transparente,que é adequadamente recompensado.Em quase todos os casos, as cortesapresentam justificativas legais parasuas decisões, seguindo o devidoprocesso legal. Países podem estarsujeitos a sistemas legais diferentes,provenientes de sistemas políticos eculturais diferentes, mas aadministração honesta e a manutençãoda ordem por meio de um sistemalegal justo são princípios centrais.Ambos - a lei e a sua gestão - sãoimportantes.

As leis formam uma camada intrínsecaàs bases de um setor privado robusto.Sem um sistema legal transparente ehonesto, os sistemas judicial eadministrativo, e outros esforços paraimpulsionar o desenvolvimento dosetor privado, não conseguemfuncionar conforme planejado, epodem até mesmo ser prejudiciais.Governos locais precisam estabeleceras “regras do jogo”, montando umsistema que reduz os custostransacionais ao torná-los previsíveis eoperativos. Os sistemas legal eadministrativo influenciam quando ecomo as transações acontecem.

O estado de direito se manifesta nosetor privado pela legislação comercial,leis sobre consumo e contratos, entreoutras. O reconhecimento e a proteçãodos direitos de propriedadecircunscrevem o comportamento dosetor privado. Sistemas legaiscontraditórios e confusos tornam aspráticas de negócio complexas, epressionam as empresas a se tornaremou permanecerem informais. A málegislação apóia empresas oligárquicase corruptas ante as forças competitivas,

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES16

Page 27: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

normalmente em prejuízo daspequenas e médias empresas. Relaçõespromíscuas entre empresas ereguladores impedem odesenvolvimento da competição domercado aberto e livre. Os pobres sãoas primeiras vítimas das falhas legais.

Embora possa existir um conjunto deleis estabelecidas, o sistema legal, emmuitos países em desenvolvimento,funciona de maneira informal. Namudança do sistema informal para oformal, muitos países possuemsistemas novos e antigos coexistindo, eque muitas vezes estão em conflito. Operdedor é, normalmente o novosistema mais formal, que acaba por serimplementado de forma superficial eineficiente. Uma estimativa sugere que80% dos assuntos legais envolvendo ospobres são direcionados para sistemasinformais ou são julgados com baseem usos e costumes.

Corrupção e confusão sobre ocumprimento das leis são geralmenteas culpadas pelos altos custos deconformidade legal. A rotinaburocrática, a acumulação deprocessos, as decisões arbitrárias eoutras condições e práticas onerosas eineficientes, impedem a atividadeprivada. Arbitrariedades ou corrupçãono cumprimento das leis subverteaquelas leis criadas como formasbenevolentes de proteção, tais comoleis de segurança do trabalho, proteçãoambiental e segurança do consumidor.Práticas corruptas distorcem preços emercados, e impedem a competiçãolivre e justa.

O Banco Mundial estima que acorrupção pode reduzir o crescimentode um país em cerca de 0,5 a 1% aoano. O Índice de Percepção daCorrupção, publicado pelaTransparência Internacional, é quaseperfeitamente correlacionado com onível de renda de um país, compouquíssimas exceções. Geralmente, ospaíses mais pobres são classificadoscomo mais corruptos, apesar de haver

muitas evidências recentes de que acorrupção não está limitada àscategorias de menor renda.

OS TRÊS PILARES DOEMPREENDEDORISMO -NORMALMENTEINEXISTENTES

Mesmo tendo bases macroeconômicase institucionais sólidas, três fatoresadicionais são indispensáveis para queo empreendedorismo e o setor privadofloresçam em uma economia: umambiente de negócios nivelado, acessoa financiamento, e conhecimentos ehabilidades.

Um ambiente de negóciosnivelado — com regras justas,impostas com justiçaTalvez o requisito mais imprescindível,para que o empreendedorismo e osetor privado floresçam, seja umambiente de negócios equânime para acompetição no mercado nacional. Esteambiente só pode existir em virtude de

regras e de mecanismos que permitamseu cumprimento em condições justas,confiáveis e efetivas. Regras previsíveisasseguram o acesso livre dosempreendedores a mercados, e umaatividade empresarial eficiente. Aconfiança no sistema encoraja oempreendedorismo e atrai o tipo detalento (nacionais, estrangeiros) queembarca na aventura empreendedora.

Boas regras são um elemento críticopara a criação de um ambientenivelado de negócios, e regulaçãoefetiva é essencial para a economia demercado. Se as regras foremexcessivamente complexas e aplicadasincorretamente, podem se tornarbarreiras significativas e atrasar ocrescimento das empresas. Isso seaplica às regras para a entrada,operação, distribuição e saída domercado.

Regras de entrada. Licenças erequerimentos processuais excessivos,para o registro de novas empresas,

C A P Í T U L O 2 : R E S T R I Ç Õ E S A O S E T O R P R I VA D O N O S PA Í S E S E M D E S E N V O LV I M E N T O 17

F I G U R A 2 . 4 E M P R E S A S E M PA Í S E S D E B A I X A R E N D A E N F R E N TA MM U I T O M A I S D I F I C U L D A D E S Q U A N D O S E R E G I S T R A M

Número deprocessos

Duração(dias)

Nota: Países de baixa renda têm PIB per capita (paridade de poder de compra)menor que US$2,976 in 2001, Países de renda intermediária estão entre US$2,976 eUS$9,205 e os países de alta renda estão acima de US$9,205.

Fonte: Banco Mundial (2003a)

Renda

Baixa

Média

Alta

11

11

8

70

58

42

115

29

17

Custo (% daRNB per capita)

■ Empresasem países debaixa rendalevam maistempo e têmmaiorescustos (empercentualda RNB percapita).

Page 28: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

elevam os custos de entrada no setorformal e atrapalham o ambiente denegócios em muitos países emdesenvolvimento (Figura 2.4). Porexemplo, o estudo Custos de se FazerNegócios, do Banco Mundial, estimaque o início de um negócio requerUS$ 5,531 na Angola (mais do queoito vezes a renda per capita) e cercade US$ 28 na Nova Zelândia (muitomenos de 1% da renda per capita).Regulamentações de entrada muitocomplexas estão diretamente ligadas àqueda na produtividade. Quando ospaíses são classificados pelo grau defacilidade com que permitem iniciarum negócio, vemos que os 25%colocados no topo da lista possuemuma produtividade do trabalho deUS$ 40 por trabalhador, quase o dobrodos 25% últimos. Processos de registromais longos estão diretamenterelacionados a níveis mais altos decorrupção.

Regras de operação. As regras dedemonstração de informações podemter impacto positivo nos ambientesindustrial e de negócios, ao permitirque os consumidores e investidorestenham acesso à informação de quenecessitam para escolher que produtoscomprar, e como alocar seu capital.Regras trabalhistas são importantespara evitar que os trabalhadores sejamexplorados. Porém, diversos países emdesenvolvimento possuem regrastrabalhistas excessivamente complexas,mais que as dos países desenvolvidos.Para demitir empregados, as empresasde países de renda baixa ou médiaenfrentam barreiras mais altas, emmédia, do que suas contrapartes naseconomias desenvolvidas. Os

mecanismos para que o diálogo socialpermita encontrar formas de mitigaros efeitos das demissões, e para que asredes de seguridade possam protegeros pobres, são normalmente fracos ounão existem, na maioria dos países emdesenvolvimento. Além disso,regulações trabalhistas rígidas sãoassociadas ao alto desemprego demulheres. Note-se, porém, que poucasdessas regras são de fato cumpridas,justificando a simplificação e melhoracompanhamento. Regras tributárias eestruturas complexas também impõemcustos mais altos, que recaem maissobre pequenas e médias empresas doque sobre empresas grandes, quepodem contratar especialistas emplanejamento tributário.

Regras creditícias. Muitos paísescarecem de regras para compartilharinformação sobre crédito, tornandovirtualmente impossível aos credoreschecar o quão endividado umpotencial cliente se encontra. Alémdisso, os credores têm proteçãolimitada em caso de não liquidação dodébito, reduzindo bastante suadisposição em assumir os riscos deemprestar as pequenas e médiasempresas.

Regras tributárias. Impostos altos eadministração tributária complexarepresentam restrições para pequenas emédias empresas, e podem levá-las àinformalidade se a carga tributária setornar excessiva.

Uma economia informal representativapode significar menor arrecadação deimpostos pelo governo, elevando acarga tributária das empresas formais ecriando incentivos para que passem afuncionar de maneira informal. NoBrasil, por exemplo, a economia

informal cresceu ao mesmo tempo quea arrecadação tributária, de 24% doPIB em 1991 para 29% em 1999.

Regras de mercado. Barreiras nomercado imobiliário são altas emmuitas nações. Nas Filipinas, porexemplo, a obtenção do título formalde propriedade de um terreno“informal” requer 168 etapas,envolvendo 53 agências públicas eprivadas, e levando 13-25 anos. Esseárduo processo desencoraja as pessoasa comprar terras formalmente, fazendocom que seja impossível o uso dapropriedade como garantia naobtenção de crédito, uma das maioresfontes de capital nos paísesdesenvolvidos.

Barreiras de mercado a produtostambém impedem o crescimento. Asbarreiras comerciais e os subsídios,oferecidos pelo mundo desenvolvido,são os maiores culpados. Mas muitospaíses em desenvolvimento tambémlevantam barreiras protecionistas - porexemplo, proibindo pequenas empresasde distribuir energia em áreas rurais,mesmo quando os monopólios estataisnão atendem essas áreas.

Restrições a preços também podemconturbar o ambiente de negócios.Muitos governos, por exemplo,cobram preços excessivamente altospara ligações domésticas einternacionais no setor de serviços detelecomunicações. Como resultado, osmonopólios que operam nessascondições são altamente lucrativos,mas seu capital e sua produtividadesão baixos. Os preços altos conferempoucos incentivos às empresas detelecomunicações para que usem seusrecursos de forma mais efetiva.

Regras de saída. Regras e proteçõesinadequadas de falência podem criarobstáculos adicionais para o

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES18

Page 29: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

financiamento das empresas. Paísescom melhores regulações deinsolvência tendem a ter empréstimosem maior volume e a custos maisbaixos.

A atuação precária das instituiçõesformais permite que empresas selivrem de algumas ou de todas essasregras, gerando vantagens de algumasdelas sobre as demais. O colapso deinstituições formais acontece quandoos agentes públicos não têmconhecimento ou vontade de executarsuas funções regulatórias. Os agentespúblicos às vezes não têm a intençãode implementar as regras, pois asinstituições para as quais trabalhamnão lhes oferecem os incentivosadequados. As instituições talvez nãorecompensem seus agentes poraplicarem a lei de forma justa eequânime. Talvez elas careçam detransparência e muitas nãosupervisionem seus agentes de maneirasuficiente. Além disso, os agentesgovernamentais podem também nãoter os conhecimentos e recursos de queprecisam para fazer valer a lei. Elesnormalmente carecem de ferramentase capacitação.

Acesso ao financiamentoMesmo que o investimentoestrangeiro direto exerça um papelessencial no processo dedesenvolvimento, é impossível que umpaís progrida sem que hajainvestimento doméstico, oriundo dapoupança interna. Isso requerinstituições financeiras nacionais queadministrem eficientemente o risco ealoquem o capital em investimentosprodutivos. Muitos países emdesenvolvimento dispõem de setoresfinanceiros estatais fracos e incapazesde agir como catalisadores dodesenvolvimento. Porém quandoreformas são realmenteimplementadas, os benefícios sãorápidos e evidentes, mesmo

considerando que a criação e areestruturação no setor financeiro sejauma tarefa de longo prazo.

Grandes empresas são bem servidaspelos sistemas bancários existentes, etem havido progresso considerável emmicrofinanças nos últimos dez anos -com 41 milhões de pessoas pobresatendidas em mais de 65 países. Mas,na melhor das hipóteses, o progressono financiamento das pequenas emédias empresas tem sido lento.Então, a questão não é apenas de faltade dinheiro. Pequenas e médiasempresas são empreendimentosarriscados. Elas requerem capital derisco, mas as fontes desse tipo decapital são difíceis de acessar. Assim,as pequenas e médias empresasacabam utilizando o mecanismoclássico de financiamento através doendividamento. Este método pode serevelar difícil para os empreendedoresde países em desenvolvimento, poispoucos deles conseguem alavancarativos de garantia, da forma comoempreendedores de paísesdesenvolvidos conseguem. Por quê?Principalmente, devido àinformalidade dos direitos depropriedade, e à ausência de mercadoshipotecários. O requerimento degarantias atua como um funil pelo qualpassam os tomadores de empréstimosricos, e exclui empreendedores comalto potencial de crescimento.

A maioria dos mercados emergentesfinancia até 90% de seus investimentoslocalmente, ainda que na ÁfricaSubsaariana esse número fique emtorno de 65% (sendo que a maioriadas empresas produtivas gera lucrosem moeda local, o que torna ofinanciamento local sustentável). Ocrédito privado, em percentual do PIB,cresce de 12% em países de baixarenda para 25% nos países de rendamédia-baixa, continua crescendo para

30% nos países de renda média-alta,até atingier 85% nos países de altarenda.

Uma teia de fatores está envolvida,além da mera falta de capital.

■ A lei e sua implementaçãogeralmente estão no cerne daquestão. A maioria dos países têmdireitos de propriedade fracos,fazendo com que o uso de bens,como forma de garantia, sejadificultado. Mesmo quando osdireitos de propriedade são bemdefinidos, a implementação decontratos hipotecários énormalmente impossível, porrazões políticas e judiciais. Alémdisso, as leis de falência sãotipicamente inexistentes,aumentando o risco dos credores egerando desincentivos para queinvistam em pequenas e médiasempresas.

■ Instituições financeiras precáriastambém são um problema.Instituições financeiras nacionaisoperam em condições de oligopólioou monopólio, com pouca pressãodos acionistas para que entrem emnovos mercados, por exemplo,emprestando para pequenas emédias empresas.

■ Mesmo quando as instituiçõesfinanceiras querem atuar, muitasvezes elas carecem da capacidadede emprestar a pequenas e médiasempresas. Os bancos estãoacostumados a efetuar análises derisco muito completas, dado queoperam com grandes clientes – taisanálises são caras demais parapequenas e médias empresas. Noextremo oposto do espectro, asinstituições de microcréditoemprestam a partir de análisesmuito limitadas, apoiando-se, na

C A P Í T U L O 2 : R E S T R I Ç Õ E S A O S E T O R P R I VA D O N O S PA Í S E S E M D E S E N V O LV I M E N T O 19

Page 30: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

maioria das vezes, na redecomunitária para obter reembolso.Isso não funciona muito bem paraos volumes maiores, dos quais aspequenas e médias empresasprecisam.

■ A falta de informação confiáveltambém atrasa o crescimento dosempréstimos as pequenas e médiasempresas – geralmente por nãoexistirem agências de informaçãocreditícia, e porque osrequerimentos de demonstração deinformações são fracos ou nãoimplementados.

■ Os investidores carecem deoportunidades para se retirar daoperação. Os mercados de capitaisde países pobres são inexistentes outêm pouca liquidez, fazendo comque seja impossível efetuar ofertaspúblicas. Ofertas privadas podemfuncionar, mas muitos mercadosestão longe de terem liquidez, compoucas oportunidades de transação.

■ Os empreendedores, comumente,carecem de conhecimento evontade de receber capital de risco.Quanto ao conhecimento, o talentogerencial é limitado. Quanto àvontade, investidores privadosinformam a relutância de pequenase médias empresas em abrir seuslivros publicamente, em paísesonde o caixa dois é comum.

Acesso a técnicas e conhecimentoAs inovações tecnológicas e a mudançadas economias em direção aoconhecimento fazem do investimentoem capital humano uma prerrogativapara o crescimento econômicosustentável, e torna estes investimentoscruciais para a criação, o crescimento ea produtividade das empresas. Ocapital humano pode determinar opotencial de crescimento e desobrevivência de uma empresa,

contribuindo diretamente para suaprodutividade ao facilitar a adoção deinovações em tecnologias e processos.A vantagem competitiva de umaempresa nasce de sua capacidade deempreendedorismo; de seuconhecimento técnico e gerencial; edas habilidades, educação eadaptabilidade de seus funcionários.

O nível educacional é importante, e ashabilidades dos empregados precisamser continuamente melhoradas pormeio de treinamentos no ambiente detrabalho, que aumentam aprodutividade empresarial e suacapacidade de absorver novastecnologias. Na Costa Rica, IlhasMaurício e Singapura, o setor privadotem se beneficiado de um círculovirtuoso de educação formal, reforçadopela aprendizagem e treinamentodentro das empresas. A Costa Ricatem a maior exportação de softwareper capita da América Latina, fazendocom que o país seja um eixotecnológico na região, graças a seusinvestimentos no ensino fundamental(produzindo um dos mais altos índicesde alfabetização) e no ensino técnico.

Muitos países em desenvolvimentosofrem de baixos níveis deinvestimentos em capital humano, oque é agravado pela emigração deprofissionais altamente qualificados. Afuga de cérebros ocorrida desde 1990tem sido estimada em 15% paraAmérica Central, 6% para África, 5%para Ásia e 3% para a América do Sul.A Organização Internacional paraMigração estima que cerca de 300 milprofissionais do continente africanovivem e trabalham na Europa e naAmérica do Norte. Segundo algumasestimativas, até um terço dos

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES20

profissionais de P&D do mundo emdesenvolvimento residem nos países daOCDE.

Essa persistente fuga de cérebros retirados países em desenvolvimento oknow how de milhares de talentos desua população, reduzindo o estoque decapital humano qualificado existente,erodindo a base tributária doméstica, epressionando a classe média educada,que é um fator de estabilidade namaioria das sociedades.

A migração de empreendedorestalentosos e não avessos ao risco domundo em desenvolvimento, quebuscam oportunidades em sociedadesmais favoráveis ao empreendedorismo,evidencia os obstáculos para iniciar eampliar negócios em seus países deorigem. A maior causa disso é oambiente social deteriorado, que limitao número de possíveis empreendedorese restringe seu potencial.

■ ■ ■

Esse diagnóstico, da estrutura do setorprivado e das restrições ao seucrescimento rápido, aplica-se emdiferentes graus a um amplo conjuntode países em desenvolvimento. Oequilíbrio entre diferentes fatores variade acordo com a renda,desenvolvimento institucional e acomposição do setor privado. Resolveras restrições, de forma a desencadear opoder do setor privado, demandaráprogramas customizados para asnecessidades individuais de cada país,mas as abordagens serão, de maneirageral, similares. Passaremos a elasagora.

Page 31: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Foto

:Ev

an S

chn

eid

er/P

NU

D

Comissão reconhece que as restrições para odesenvolvimento de um setor privadosustentável são bem conhecidas – e geralmenteaceitas como tal. O mesmo ocorre com os

elementos principais das políticas formuladas para minorá-las. O grande desafioconsiste em passar do estágio da compreensão dessas principais limitações, para oestágio em que se desenham “pacotes” de soluções específicas, aplicáveis pelospaíses. O foco da atenção, nesse momento, deve passar de mera determinação de“quais” são as limitações, para centrar-se em “como” elas podem ser superadas e“quem” irá superá-las. Aqui examinaremos os passos políticos e administrativosque podem diminuir essas restrições e contribuir na criação da capacidadenecessária para governar transações, capacidade esta que é vital para odesenvolvimento do setor privado e para o funcionamento eficiente de umaeconomia de mercado.

A Comissão tem enfatizado que o setor privado é importante para os pobres, devárias maneiras. Se os benefícios das reformas são claramente articulados e seusresultados rapidamente vistos, iniciativas construtivas para o desenvolvimento dosetor privado podem traduzir-se em maior apoio político. E o ímpeto e o

C A P Í T U LO 3

COMO DESENCADEAR OPODER DO SETOR PRIVADO

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 21

A

Page 32: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

consenso para a mudança, assimproduzidos, podem proporcionar aplataforma para um programa globalde reforma e de mudança.

Algumas lições gerais, frutos daexperiência:

■ Reformas bem-sucedidasgeralmente são aquelas nas quais osgovernos e tomadores de decisãoenvolvidos assumemvoluntariamente compromissos demudança claros.

■ Reformas recheadas decondicionantes raramente são bemsucedidas, quando os governos queas implementam não estãocomprometidos.

■ Mudanças significativasfreqüentemente ocorrem quandoos países enfrentam graves criseseconômicas (Índia em 1991, LesteAsiático no final da década de 90),e a resposta a essas mudanças

pode ser rápida. Obviamente, émelhor não esperar por uma crisepara iniciar as reformas.

■ Mudanças podem tambémresultar de alterações profundas nafilosofia econômica básica (China,Vietnã e Leste Europeu).

■ Novos governos que substituemantigos regimes com histórico degovernança deficiente (Quênia,Nigéria nos últimos anos) podemmuitas vezes utilizar o ímpeto damudança para implementarreformas.

■ Mudanças quase sempre implicamem novos papéis para o setorprivado local e para organizaçõesda sociedade civil, incluindoorganizações de empregados e deempregadores.

■ Tecnologia é o agente de muitasdas mudanças necessárias, e novastecnologias permitem quemudanças sejam implementadasmuito mais rapidamente do quenormalmente se pode esperar.

Apoio ao desenvolvimento do setorprivado – nacional e mundial – podeenvolver pesquisa econômica,assessoramento à formulação depolíticas macroeconômicas e setoriais,assistência técnica e apoio financeirodireto a projetos específicos do setorprivado. Salvo este último caso, amaioria dessas intervenções envolvegovernos e instituições públicas empaíses em desenvolvimento (Figura3.1).

Os principais atores públicos nessaárea são o Grupo Banco Mundial(incluindo a Corporação FinanceiraInternacional e a Agência Garantidorade Investimento Multilateral) e oFundo Monetário Internacional. Osbancos de desenvolvimento regional,incluindo o Banco Asiático deDesenvolvimento, o Banco Africanode Desenvolvimento, o BancoEuropeu para Reconstrução eDesenvolvimento e o BancoInteramericano de Desenvolvimento,também concentram esforços nosuporte à criação de um ambientepropício para o desenvolvimentoempreendedor nas suas respectivasregiões. Importantes funções tambémsão desempenhadas pela Organizaçãopara a Cooperação e DesenvolvimentoEconômico (OCDE) em pesquisa eformulação de políticas, e pelasprincipais organizações especializadasda ONU, como a Organização dasNações Unidas para oDesenvolvimento Industrial, aConferência das Nações Unidas emComércio e Desenvolvimento, aOrganização Internacional doTrabalho e o Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento.Agências bilaterais e instituições(como a Agência dos Estados Unidospara o Desenvolvimento Internacional,a Agência Canadense para oDesenvolvimento Internacional e aCompanhia Financeira deDesenvolvimento da Holanda)também se dedicam a pontos

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES22

F I G U R A 3 . 1 F O R TA L E C E N D O A E F E T I V I D A D E D A S AT I V I D A D E ST R A D I C I O N A I S D E D E S E N V O LV I M E N T O D O S E T O R P R I VA D O

Dirigidas poratores do setorprivado■ Empresas■ Organizações da

sociedade civil■ Fundações

Dirigidas poratores do setorpúblico■ Governos locais■ Colaboradores

governamentais■ Agências de

desenvolvimento

Direcionadas aosatores do setor público

■ estabelecer padrões maisamplos (normas industriais,sustentabilidade, controlecorporativo)

■ Pressionar por mudançasnas políticas

■ Promover o processoparticipativo através dodiálogo com a sociedade

■ Reforma nas políticas■ Assessoramento

para formulação depolíticas

■ Financiamento e suportetécnico às reformasdo setor público

■ Tranferências financeiras(assistência, empréstimos)

Direcionadas aosatores do setor privado

■ Vínculos negociais eparcerias

■ Investimento, incluindoinvestimento estrangeirodireto

■ Mentoria paraempreendedores

■ Parcerias público-privadas,por exemplo, para provisãode serviços essenciais

■ Órgãos consultivospúblico-privados

■ Privatização ou tercerização■ Promoção de investimentos■ Diretamente prover serviços

de desenvolvimento denegócios

■ Financiamento direto

Page 33: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

importantes da tarefa, incluindomelhorias no acesso ao capital esuporte ao desenvolvimento demicroempreendedores e pequenas emédias empresas.

A Comissão acredita que qualquerabordagem ao desenvolvimento dosetor privado – e as políticas erecomendações que a acompanham -precisa ser baseada no entendimentode que a poupança, os investimentos eas inovações que conduzem aodesenvolvimento são efetuadosprincipalmente por indivíduosprivados, corporações e comunidades.Portanto, os governos devem agircomo facilitadores do desenvolvimentodo setor privado, evitando ações que oimpeçam. Governos e agênciasintergovernamentais só conseguemfacilitar o desenvolvimento do setorprivado através de estímulos aosmercados que funcionam de formacompetitiva. Para tal, devem:

■ Oferecer ambientes conducivos aoperações e investimentos, nosquais todas as empresas privadas(nacionais, estrangeiras,politicamente associadas ou não)possam prosperar sem temores oufavores, o qual passa por umcontexto social geral politicamenteestável e previsível, que conta comregras adequadas ao favorecimentoda competição, velando de formaadequada à sua efetiva aplicação, eque conta ainda com princípiosmacroeconômicos sensatos,incluindo uma política fiscal quepermita o desenvolvimento dosetor privado formal e que sejaadequada ao financiamento dainfra-estrutura física e humananecessárias.

■ Estabelecer sistemas legais ejudiciais que funcionemadequadamente, protejam direitosde propriedade e promovam aresolução de disputas contratuais –sistemas percebidos como capazes

de operar com credibilidade eeficiência, quando comparados apadrões internacionais.

■ Facilitar a movimentação docapital privado de todos os tipos, enão apenas do investimentoestrangeiro direto, através dofomento à progressiva evolução dosmercados de capital nacionais e deseus vínculos com mercados decapital regionais e globais. Noentanto, a liberalização dos fluxosde capital financeiro exige muitaprudência. É necessário que existaum sistema financeiro sólido, comboa regulamentação ecumprimento das normas, antesque se proceda à total liberalização.

■ Influenciar favoravelmente aspercepções de risco global, nacionale regional, através de melhoras nadisseminação da informação emtempo real (e não simplesmenteatravés de marketing promocionaldas oportunidades deinvestimento) e estimularcomportamentos, por parte dogoverno, que excitem e estimulemos investidores nacionais ouestrangeiros, ao invés dedesencorajá-los.

■ Criar subsídios e incentivostributários onde isto for claramentenecessário para corrigir asimperfeições do mercado, e evitar ouso excessivo de medidas quepodem ser politicamente atrativasno curto prazo, mascontraproducentes para o sólidodesenvolvimento do setor privadono longo prazo.

■ Prover ou facilitar o fornecimentoprivado de infra-estrutura básica(energia, água, comunicações,transporte) através de parceriaspúblico-privadas, modelosinovadores de regulação e outrosmeios para garantir que empresasprivadas não sejam levadas adesvantagens competitivas.

CONSTRUINDO ASBASES

O capítulo 2 discutiu omacroambiente nacional einternacional e a disponibilidade dainfra-estrutura física e social. Nestecapítulo, nos concentraremos em açõesmais específicas para a promoção doestado de direito e a criação decondições competitivas justas para osempreendedores. Nós tambémtocaremos nos princípios gerais queprecisam ser adotados para ampliar oacesso ao financiamento e adisponibilidade de capacidades econhecimento. A implementaçãoefetiva dessas políticas pode ajudar osempreendedores privados a realizartransações, com a confiança de que asbases contratuais dessas transaçõesserão cumpridas. Em qualquereconomia, é preciso que exista umasólida governabilidade das transações,para liberar a energia doempreendedorismo nacional.

Fortalecendo o estado de direitoPara empresas privadas, o estado dedireito constitui a base de um marcoregulatório previsível e dagovernabilidade das transações entreatores privados. Para assegurar oestado de direito, não basta ter ou criarum conjunto apropriado de normas –é preciso garantir que as leis serãocumpridas de maneira justa.

Existe uma necessidade imperiosa deassegurar a integridade do serviçopúblico, e portanto o governo deve:

■ Estabelecer e aplicarprocedimentos públicostransparentes, abertos e não-excludentes, para as contratações eaquisições públicas.

C A P Í T U L O 3 : C O M O D E S E N C A D E A R O P O D E R D O S E T O R P R I VA D O 23

Page 34: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

■ Estabelecer sistemas abertos,transparentes, eficientes e justospara a contratação de servidorespúblicos, de modo a garantireficiência e a qualidade dosserviços públicos e a evitar o tráficode influência, o nepotismo e ofavorecimento.

■ Oferecer mecanismos paraincentivar a educação, a formação ea supervisão, assim como códigosde conduta, que fomentem erecompensem a integridade e oprofissionalismo.

■ Estabelecer um sistema para evitarconflitos de interesse e influênciaindevida sobre servidores públicos,oferecendo também mecanismosatravés dos quais um funcionáriopúblico possa denunciar taiscondutas sem colocar em risco asua segurança e sua posiçãoprofissional.

Assegurar a integridade no serviçopúblico é assegurar a responsabilidadee a transparência nas ações dosservidores públicos. Isso requer dosgovernos:

■ A mobilização de uma ampla basede apoio, mediante campanhasparticipativas anti-corrupção,dirigidas aos setores público eprivado.

■ O estabelecimento deprocedimentos de controleadequados para a administração e osetor públicos, assim comométodos e sistemas quedisponibilizem, pública etempestivamente, relatórios sobreas decisões tomadas e os resultadosobtidos no setor público.

■ A garantia de transparência nosprocedimentos públicos paraaquisições, privatizações,adjudicação de projetos e

permissões estatais, assim comopara empréstimos de bancosnacionais e outros empréstimosgarantidos pelo governo, paraalocações orçamentárias e paraisenções fiscais. Tais procedimentosdevem estimular a livreconcorrência e prevenir acorrupção, bem como proporcionarambientes regulatóriosdescomplicados, através daeliminação das regras conflitantes,ambíguas ou excessivas quesobrecarregam as empresas.

■ A criação de sistemas de acesso àinformação sobre gastos públicos.

■ O fortalecimento de medidas paracombater o suborno e promover aintegridade das operaçõesnegociais.

Proteção aosdireitos de propriedadeHá evidência abundante de que osgovernos fazem muito pouco parasalvaguardar os direitos depropriedade. Os países em que seregistram as melhores práticasdispõem de tribunais eficientes, e leis einstituições que os respaldam, paradefinir os direitos de propriedade doscidadãos e das empresas. No entanto,em muitos países em desenvolvimento,as instituições que definem e fazemvaler os direitos de propriedade – osistema judiciário, cartórios e os órgãosresponsáveis por efetivar ocumprimento da lei– são muitas vezesas instituições públicas menosmodernas e aquelas que contam comos menores volumes de recursos,dentre as instituições públicas.

Os direitos de propriedade dasempresas podem muitas vezes serprotegidos através da criação de meiosalternativos de solução decontrovérsias com outras empresas,clientes, fornecedores e funcionáriosde governo.

■ Sistemas alternativos para soluçãode controvérsias oferecem umsubstituto aos morosos e carostribunais formais, pois conseguemprover proteção legal previsível aoscontratos e propriedades dospequenos empreendedores. AArgentina estabeleceu um sistemaalternativo piloto, e o resultado foique 66% de 32 mil conflitoscomerciais foram resolvidos em umprazo médio de dois meses (bemmelhor que a média de 3-4 anos,obtida no sistema formal).

■ Distribuição automática e aleatóriade processos aos juízes, utilizandosistemas computadorizados,aumentam a eficácia do Judiciário ereduzem a corrupção. Em umaexperiência piloto da Eslováquia, otempo transcorrido entre oprotocolo da ação e a primeiraaudiência foi reduzido de 73 para28 dias, e o número de fases doprocesso diminuiu de 23 para 6passos.

■ Tribunais especializados emcobranças de dívidas resolvem asreclamações com maior celeridade,pois quem os preside tem maiorescompetências para aplicar alegislação responsabilidade sobretodo o processo de cobrança, desdeo embargo até o leilão dapropriedade, se isto for necessário.Na Colômbia, um tribunalespecializado em cobrança dedívidas conseguiu que o número deprocessos tramitados passasse de 4mil para 11 mil por ano (1996-2000), resolvendo 75% dos casosem um ano, e reduzindo o estoquede processos pendentes em 5 milcasos.

ERGUENDOOS PILARES

O Capítulo 2 também descreveu ostrês pilares indispensáveis para oempreendedorismo e para o

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES24

Page 35: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

crescimento do setor privado:condições justas, acesso afinanciamento, e conhecimentos ecapacitação.

Criando condições justasCriar e preservar condições justas paraas empresas requer um sistema deregras e de mecanismos de controleque inspire confiança e limiterazoavelmente os custos e encargosdos empreendimentos. Nos últimosanos, esta área tem recebido maisatenção dos atores públicos e privadosde desenvolvimento. Um dosprincipais focos de atenção tem sido oaperfeiçoamento da legislação e daregulação. No Vietnã, uma nova lei desociedades contribuiu para a criar ummilhão de novos postos de trabalho.Um ambiente justo implica ainda emfortalecer as instituições responsáveispor colocar em prática aregulamentação e zelar pelo seucumprimento. A receita parece nãodeixar dúvidas – antes de mais nada, épreciso extirpar o comportamentohabitual que gera a regulaçãodeficiente. Sempre há alguém que sebeneficia de cada regra, e encontrarformas de vencer sua resistência é oprimeiro passo para uma reformaefetiva.

Simplificando regras. Um elementoimportante para o ambienteempresarial justo consiste emsimplificar as regras que afetam oregistro, a operação e a extinção deempresas privadas. A experiênciademonstra que a maneira de abordaressas questões é muito simples –necessita-se apenas de vontade real deimplementar mudanças. Os passosfundamentais implicam em adotar asmelhores práticas no que se refere aoregistro de empresas, às mudanças detitularidade, ao encerramento dasoperações e à governança dastransações. Exemplos de programas deação incluem:

■ Quiosques e postos deatendimento que simplificam oregistro comercial e da propriedades„o eficientes, e sua maiortransparÍncia contribui paraminimizar a corrupção em todos osníveis. Na Tanzânia, a Agência deRegistro e Licenciamento deNegócios reduziu o tempo deregistro de novas empresas, de 90para 3 dias. Na Índia, o processoeletrônico para registro depropriedades, implantado noestado de Andhra Pradesh, reduziuo tempo dispendido de 7-15 diaspara poucas horas.

■ Licenças unificadas para empresaspermitem aos governos consolidaros registros de empresas, de modoque os empreendedores necessitamobter apenas uma licença paratornarem-se proprietários de umaempresa e poder exercer suasatividades, em vez de umavariedade de licenças em cada nívelgovernamental. No Quênia, aslicenças únicas para empresaspermitiram reduzir os custos paraas pequenas empresas e aumentarem 30-40% a arrecadação dogoverno.

■ A responsabilidade pelorecolhimento de impostos(incluindo taxas alfandegárias) epela fiscalização passa a serexercida por autoridades tributáriasunificadas, para todos os níveis degoverno. Em Zâmbia, um sistemacom estas características eliminouduplicidades nas inspeções efiscalizações, ao mesmo tempo emque melhorou os serviços aoconsumidor e o cumprimento danormativa vigente.

Muitas dessas mudanças podemreduzir substancialmente ainformalidade na maioria daseconomias, sobretudo quando vêm

acompanhadas de esforços de cadapaís para melhorar sua compreensãodas características das empresasinformais. Porém, a informalidade étão difundida e difícil de erradicar querequer um enfoque especial.

Buscar maneiras de aumentar osbenefícios da formalização é uma dasestratégias possíveis. Este resultadopode ser obtido, em parte, abrindo-seas licitações públicas à participação deatores informais que cumpririam ostrâmites de formalização caso viessema ser declarados vencedores, emelhorando-se o acesso ao mercadoatravés da organização de feirascomerciais e do estabelecimento decontatos com compradoresinternacionais. Oferecer serviços dedesenvolvimento empresarial a preçosacessíveis, para aprimorar a capacidadegerencial, a produtividade e aqualidade, são estratégias comprovadasde apoio a pequenas e médiasempresas formais.

Boa parte do êxito dessas iniciativasreside numa crescente tomada deconsciência sobre os custos dainformalidade – e a uma mudança dementalidade. Pode-se fomentar odebate público através de campanhasde conscientização, e pode-sefortalecer as organizações da sociedadeque representam os interesses depequenas empresas.

Criando mercados competitivos. Acriação de mercados competitivos e aredução da influência das empresas jáestabelecidas são cruciais para nivelaras condições vigentes. Quando jáexistem empresas estabelecidasdominantes, pode-se contribuir para aabertura de mercados através de trêsferramentas: inovação tecnológica,desenvolvimento de mecanismos de

C A P Í T U L O 3 : C O M O D E S E N C A D E A R O P O D E R D O S E T O R P R I VA D O 25

Page 36: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

financiamento, comércio e fluxos decapital mais livres. Mudançastecnológicas incentivam a competiçãoe aliviam as restrições de entrada. Aotrazer pressão de fora, a tecnologiaajuda a derrubar barreiras de entrada ea criar as bases para futurasintervenções para eliminação derestrições à entrada nos mercados. Ummercado financeiro desenvolvidopromove a competição pois facilita oacesso a recursos de empréstimo e definanciamento para aquelas empresasque não dispões de contatos ou deacesso a subsídios. Os fluxoscomerciais e de capital tambémreduzem a capacidade das empresas jáestabelecidas de influenciar agovernabilidade das transações, aofomentar a concorrência entreempresas nacionais e estrangeiras.

A competição gera vencedores eperdedores, o que se supõe uma fontede tensão entre os mercados e ademocracia. Quem trabalha emempresas ineficientes pode acabarsofrendo as desvantagens dasmudanças, sobretudo quando nãoexistem redes de proteção socialadequadas. Dessa maneira, é ideal quea abertura de mercados para aconcorrência ocorra de formaescalonada, de maneira que a aberturacompleta tenha lugar apenas quando jáse conte com um conjunto sólido deinstituições que possam velar peloadequado funcionamento do mercado.É preciso ainda que se articule umrede de proteção social voltada para aspessoas e não para as empresas, quepossa prestar assistênciasocioeconômica àqueles indivíduos quetenham sido prejudicados.

Para que o processo de mudançascontinue apesar dessas tensões, épreciso que os custos de mercadosnão-competitivos se tornemtransparentes. A sociedade deve ser

conscientizada, e um modo de fazê-loconsiste em evidenciar as diferenças depreços e qualidade existentes entreprodutos produzidos em economiasprotegidas e aqueles oriundos deeconomias mais abertas. Outra formade demonstrar estes custos seriadisponibilizar informações sobre ovalor dos subsídios que acabamdestinados a empresas protegidas.

A reforma fiscal – simplicidade,clareza e estabilidade. A criação deuma ambiente favorável às pequenas emédias empresas requer uma políticafiscal que responda às suasnecessidades, incentive aimplementação de novas iniciativas eajude a expansão das empresas que jáexistem. Os governos precisamdesenvolver políticas fiscais emcolaboração com pequenas e médiasempresas, simplificando as regras quelhes dizem respeito, reduzindo suascargas tributárias e fomentado atransparência e a estabilidade.

Os governos também necessitam demecanismos formais para organizarregularmente reuniões e consultas, queassegurem que os órgãosrepresentantes das pequenas empresasestejam informados sobre as últimasmudanças na regulamentação fiscal etenham ocasião de apresentar suasopiniões e propostas. Para auxiliar aspequenas e médias empresas a cumpriras regras e garantir interpretaçõescomuns em todas as regiões do país, osfuncionários fiscais devem podercontar com uma formação básica emmatéria de regulamentação eprocedimentos tributários.

Reforma financeira e acesso aocapital.A criação de mercados financeirosdomésticos eficientes e de acesso aocrédito para empresas locais têm sidoos maiores objetivos dos bancosmultilaterais e das agências bilateraisde desenvolvimento, cujas atividades

são, na maioria das vezes, direcionadaspara a estabilização do ambiente denegócios e para o fortalecimento dasinstituições financeiras.

Um dos grandes problemas dasintervenções que atualmente serealizam, quando se trabalha commuitos intermediários de eficáciadesigual, é que estes nem sempre sãomotivados pela demanda. Modelos desucesso têm implementado umaabordagem que envolve múltiplosatores para o desenvolvimento demercados eficientes. Considere-se osesforços da Corporação FinanceiraInternacional (CFI) para desenvolver osetor de arrendamento mercantil(leasing) em muitos países, um modeloque também é aplicável amicrocréditos e financiamentohabitacional. Este modelo se baseia naformação de uma coalizão de atores domercado integrada por governos ereguladores, instituições internacionaisde arrendamento mercantil,instituições financeiras locais eespecialistas em aspectos legais,regulatórios e tributários do leasing.

Os governos devem desempenhar umpapel chave na criação e construção deinfra-estrutura e instituiçõesfinanceiras de longo prazos, parafortalecer o sistema bancário e torná-lo mais competitivo. Neste processo, osgovernos devem garantir que osprogramas públicos de ajuda financeirasejam complementares – ao invés decompetir com o financiamento privadodisponível em condições comerciaisnormais.

Os formuladores de políticas devemconcentrar-se em reduzir as barreirasde acesso ao financiamento,reconhecendo que o acesso égeralmente mais importante que ocusto desse financiamento. Eles devemreconhecer que programas de créditosubsidiado são insustentáveis edesnecessários, e que é maisimportante reduzir os custostransacionais e aumentar a

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES26

Page 37: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

produtividade e a inovação entre osprovedores de serviços financeiros.Eles devem também reformular asregras dos mercados financeiros,introduzindo novas estruturas legais eeliminando qualquer tipo de obstáculoou limite restritivo. É preciso contarcom condições legais e sistemas deimplementação eficientes, para abordartemas tais como falências, registros,garantias e regulamentação deempréstimos. Tais medidas podemgerar benefícios muito maisimportantes do que programas decrédito específicos.

Para atender melhor as necessidadesde empresas menores, é precisoreforçar o alcance e a capacidadeoperativa das instituições financeiras.Sempre que estão sujeitas àregulamentação apropriada, asinstituições financeiras não bancáriasdesempenham um papel maisrelevante, pois são mais capazes de seajustarem de forma efetiva àsnecessidades de pequenas e médiasempresas via a oferta de produtosfinanceiros inovadores e deinstrumentos que fomentem a liquideze coloquem à sua disposição umagama de produtos personalizados deseguros, empréstimos e poupança.

Em certos casos, o financiamentopúblico permite preencher lacunasexistentes nos mecanismos definanciamento. Mas os governosprecisam garantir que os programaspúblicos sejam complementares, aoinvés de competir com ofinanciamento privado que poderiaestar disponível em termos comerciais.Os esforços devem orientar-se parautilizar os sistemas bancário efinanceiro existentes de forma adistribuir os recursos, e não para criaragências estatais específicas, quedurante muito tempo têmdemonstrado sua incapacidade emcanalizar fundos. Os Estados Unidosadotaram o conceito de Gestão da

Pequena Empresa, que é útil comomodelo. O objetivo é fazer com que osistema financeiro possa catalisar ocrescimento das pequenas e médiasempresas e aliviar os risco extrínsecosaos negócios, dos quais os empresáriospodem prescindir.

Os pequenos empresários devemdispor das mesmas ferramentas deadministração de risco que as grandesempresas possuem, dentre as quais seencontram produtos de seguro eproteção, assim como produtossofisticados que permitem minimizar,por exemplo, riscos cambiais ouinflacionários. Porém, redes e parceriaspodem chegar a ser ainda maisimportantes. Os recursos podem vir de

emigrantes, novos ofertantes de capitalde risco, participações societárias, oude outros tipos de empresas ou gruposde particulares, mais conhecidos como“anjos”, pessoas que progrediram nosistema e agora desejam ajudar outrosa progredir também. O acesso a essesfundos pode introduzir oempreendedor em redes profissionaisque compartilham padrões para aavaliação de novas empresas. Àmedida que o acesso a essas redes éformalizado pelas instituições, mesmoos empreendedores pobres podemdesfrutar de financiamentos e deserviços de gestão de riscos.

C A P Í T U L O 3 : C O M O D E S E N C A D E A R O P O D E R D O S E T O R P R I VA D O 27

A Costa Rica tem atraído algumas das principais empresas de tecnologia da informação.Hoje, a fábrica de montagem e produção de chips da Intel, avaliada em 0,5 bilhão dedólares, é responsável por 25% dos produtos da empresa em todo o mundo e responde por40% das exportações do país. Isso fez do país um dos 30 maiores exportadores de softwareno mundo e o maior exportador per capita de tecnologia da informação na América Latina.Entre 1985 e 2002 as exportações do país quintuplicaram, passando de 1,1 bilhão de dólarespara 5,1 bilhões. O fluxo de investimentos estrangeiros diretos cresceu mais de dez vezes, de59 milhões em 1989 para 661 milhões em 2002.

A taxa de alfabetização na Costa Rica é de 95,5%, e 18,5% da força de trabalho em atividadepossui ensino superior ou técnico completos. Políticas governamentais aprimoraram osistema educacional, incorporando ensino técnico e treinamento em eletrônica, informáticae engenharia. O país possui 85 escolas vocacionais (que ensinam a mais de 85.000estudantes por ano), 4 universidades públicas e 46 privadas, incluindo uma das maisreconhecidas instituições de ensino de negócios da América Latina, a INCAE. O governotambém fundou um Instituto de Ensino Nacional, que oferece treinamento técnico gratuito,já tendo treinado mais de 127.000 pessoas.

O setor privado lidera a atração de investimentos e a criação de um ambiente favorável aosnegócios através de uma organização sem fins políticos e lucrativos, a Organização paraInvestimentos e Desenvolvimento da Costa Rica (CINDE). Criada em 1983, é financiada pordoadores internacionais e fortemente apoiada pelos altos escalões do governo. Nos anos 90,a CINDE começou a atrair corporações multinacionais, tendo exercido papel fundamental nadecisão da Intel de instalar na Costa Rica sua primeira fábrica de chips na América Latina, oque não estava nos planos iniciais. A empresa foi influenciada pelo ambiente, aberto efavorável aos negócios, conjugado a um sistema político estável, respeito pelo domínio dalei, baixos índices de corrupção e boa infra-estrutura.

Mais de 30 multinacionais se mudaram para a Costa Rica, gerando mais de 10.000 empregosna indústria eletrônica. Corporações multinacionais, como a Intel, também contribuíramdiretamente para o desenvolvimento de uma força de trabalho capacitada, através detreinamento no local de trabalho e instituições formais de ensino, além de aumentar oconhecimento sobre oportunidades de carreira na engenharia e em outras áreastécnicas.

Fonte: PNUD (2001)

Q U A D R O 3 . 1 O S E T O R P R I VA D O D A C O S TA R I C A – U M B O M E X E M P L O

Page 38: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

O objetivo de longo prazo deve serdispor de instituições financeiras queapóiem as pequenas e médias empresase encorajar os mercados financeiros aoperarem de maneira efetiva. Issorequer que se ponha em marcha e sedesenvolvam agências de crédito eoutros mecanismos que proporcionemuma referência creditícia, um métodoeficaz para fortalecer os sistemasfinanceiros.

Desenvolvendo capacidades econhecimentosMais investimentos são necessários nacapacitação de empresas locais,incluindo línguas estrangeiras,tecnologia da informação eplanejamento gerencial, incluindonoções de economia, finanças e gestãode projetos. Parcerias público-privadasque combinem formação prática nolocal de trabalho com o ensino básicopodem ser pontos de partida demodelos viáveis de aprendizagem.Também são eficazes os esforçosrecentes no sentido de propiciartreinamento em liderança paratomadores de decisão de países emdesenvolvimento, fornecido porinstituições educacionais proeminentesno tema. É de especial importância acapacitação local de formadores,“ensinando a quem ensina”, por ser aúnica maneira de responder à enormedemanda por capacitação existente nospaíses em desenvolvimento.

Também existem oportunidades paraacelerar a capacitação e para incentivaro empreendedorismo, aproveitando-seos vínculos sociais no setor privado depaíses em desenvolvimento. Osemigrantes que residem em economiasavançadas estão em excelente posiçãopara incentivar empreendedores locais,ou para tornarem-se investidores ouempresários. Expatriados nos paísesem desenvolvimento também podemcontar com uma capacitação que lhespermita treinar e motivarempreendedores locais.

Adicionalmente, os governos devemfazer o possível para:

■ Construir redes deempreendedores e associaÁıespara a aprendizagem entre pares.As redes podem criar um climaempreendedor para treinamento,capacitação e aprendizado, alémde reforçar as conexões existentesentre empresas. Nelas se apóiamsistemas privados e nativos deaprendizado, que encoraja osempreendedores a aprender comseus pares.

■ Aproveitar o potencial do setorprivado para oferecer formaÁ„o etreinamento no local de trabalho,como uma parte vital dodesenvolvimento do capitalhumano.

■ Estabelecer um sistema nacionalefetivo para treinamento edesenvolvimento de capacidades,envolvendo organizações deempregados e trabalhadores comoatores principais.

■ Desenvolver instituiÁıes deformaÁ„o em gest„o empresarial,incluindo escolas de negÛcios,para formar talento empresariallocal.

■ Conduzir pesquisas adicionaissobre empreendedorismo nospaÌses em desenvolvimento,visando melhor compreender asinteraÁıes entre as característicasempreendedoras e o ambiente denegócios.

■ Desenvolver polÌticas públicaspara incentivar emigrantescapacitados a retornar a seuspaíses.

O verdadeiro envolvimento dosprincipais atores no processo demudança somente é útil se vem

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES28

acompanhado do comprometimento,nos níveis mais altos, e da percepçãode que as mudanças estãoacontecendo. Especialmente no iníciodo processo, demonstrações de sucessoe mudanças são vitais para dissipar osentimento de ceticismo e descrençaque geralmente acompanham anúnciosgovernamentais de mudança. Asautoridades já possuem o poder deimplementar novas abordagens deforma rápida, particularmente noscasos em que as mudanças abarcam asregras administrativas.

Divulgar o sucesso de modelos dereforma em outros países emdesenvolvimento ou vizinhos pode seruma ferramenta útil para garantirapoio, uma vez que é provável quesejam vistos como aplicáveis, dadas ascondições locais semelhantes. Assim, aliberação da capacidade intelectual ede implementação do setor privadodoméstico será muito importante,sendo completada pela experiênciainternacional ou entre países emdesenvolvimento.

Constantemente, as pessoas pobrestêm demonstrado habilidade no uso datecnologia, o que deveria ser utilizadocomo elemento central de qualquerprograma de reforma, permitindo osalto essencial para que o progressoseja rápido. O trabalho comorganizações da sociedade civil paraexaminar e monitorar impactos eextrair lições será responsável peloprocesso de construção da coalizão quedeixará as bases para futuros processosde mudanças.

Page 39: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

maioria dos esforços para abordar as limitaçõesao desenvolvimento do setor privado tem origemnos governos e instituições de desenvolvimentopúblico. Mas a Comissão acredita que para

alcançar o nível necessário de mudança, é preciso ir mais longe e pensar comomelhor envolver o setor privado no desafio do desenvolvimento. Muitos recursosimportantes para a promoção do setor privado ainda permanecem latentes aodesenvolvimento, uma vez que sua materialização nãofica a cargo dos atorestradicionais e não ocorrem sob o rótulo explícito de desenvolvimento (Quadro 4.1).

Ações privadas e parcerias público-privadas se dividem em duas categorias. Elassão transações comerciais conduzidas por incentivos do mercado, desenvolvidascomo parte de uma corporação de negócios em formação e de uma estratégiacomercial, e que, apesar de tudo, tem fortes implicações para o desenvolvimento.Ou elas são especificamente estruturadas como tentativas inovadoras de adotarprincípios e abordagens do setor privado para os problemas do desenvolvimento(Figura 4.1). De uma perspectiva diferente, essas atividades inovadoras do setorprivado são também puramente interações entre entes privados ou elas caem maisobviamente na área das parcerias público-privadas.

A

Foto

:So

nya

Lau

ren

ce G

reen

/PN

UD

So

mál

ia

C A P Í T U LO 4

ENGAJANDO O SETOR PRIVADONO DESENVOLVIMENTO

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 29

Page 40: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

SERVINDO OSMERCADOS NA BASEDA PIRÂMIDEECONÔMICA

O vasto mercado consumidoremergente na base da pirâmide –integrado por 4 bilhões de pessoascom renda per capita inferior aUS$1,500 anuais – oferece às

multinacionais e grandes empresaslocais um mercado atrativo para seusbens e serviços (Quadro 4.2). Tal é ocaso da Índia, que possui 700 milhõesde pessoas no mercado rural. A Chinaconta com um bilhão.

Á medida que as economias avançadaspassam a representar uma parte cada

vez menor da economia mundial, asmudanças nos hábitos de consumo quea acompanham podem geraroportunidades nada desprezíveis paracorporações globais. Investir eparticipar de mercados adequados,especialmente ospujantes –particularmente os mercadosemergentes – pode adequados – eparticular os pujantes – pode-seconstituir numa opção estratégicamuito mais importante. De fato,muitas empresas já estão servindo o“mundo dos pobres” por meios quegeram altos retornos, levando a umamaior eficiência operacional edescobrindo novas formas de inovação.Para essas empresas, e para aquelas queseguem essa tendência – promovernegócios voltados para a base dapirâmide promete oferecer vantagenscompetitivas no desenrolar do século21. Ao mesmo tempo, proporcionavínculos importantes com o mercado,disponibilizando recursos para osconsumidores da base da pirâmide.

FORMANDO UMAMBIENTE FAVORÁVELE CONSTRUINDOREDES

Uma das maneiras mais certeiras decontribuir para o êxito das empresas éreforçando o poder das conexões eredes de que fazem parte. Muitosecosistemas empresariais evitamambientes regulatórios frágeis, atravésda criação de capacidade privada,dentro da própria rede, para aautoregulação e para que as regrassejam de fato aplicadas. Deste modo,pode-se reduzir assimetrias dentro dasredes e aumentar sua capacidade parafazer cumprir os contratos, ampliandoassim a confiança no sistema.

As redes podem trazer muitosbenefícios, como:

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES30

Muitos atores privados, de fora da comunidade de desenvolvimento tradicional, estãofocando os desafios do desenvolvimento.

Companhias■ Grandes corporações (multinacionais e locais) estão liderando ambientes privados que

desenvolvam e fortaleçam as habilidades de micro, pequenas e médias empresas locais.■ Instituições financeiras globais e instituições financeiras locais estão desenvolvendo

abordagens inovadoras e tecnologias para melhorar o acesso ao crédito para os pobrese para pequenas e médias empresas.

■ Empresas individuais, geralmente corporações multinacionais, mas também algumasgrandes corporações locais, estão lançando programas de responsabilidade socialcorporativa para direcionar as necessidades específicas de desenvolvimento.

■ Importantes empresas locais – sozinhas ou com associações do setor privado doméstico– estão ampliando os instrumentos para o alcance das estratégias de pressão específicaspara ações benéficas ao setor privado, instruindo e influenciando o processo dedesenvolvimento.

Associações e fundações■ Associações internacionais do setor privado, como o Conselho de Desenvolvimento

Sustentável, Câmara Internacional de Comércio, Fórum Internacional de LíderesEmpresariais, Fórum Econômico Mundial, Organização Internacional de Empregadores eoutras em nível regional, como Rede de Negócios do Oeste da África e o Fórum deNegócios da Commonwealth, estão centradas em vários aspectos do desenvolvimento.Associações empresariais nacionais, como a Confederação das Indústrias da Índia e aFederação dos Manufatureiros da Malásia, têm desempenhado um importante papel noplanejamento econômico nacional.

■ Fundações privadas estão comprometidas num processo de desenvolvimento maisamplo, com o foco na responsabilidade e resultados.

Instituições acadêmicas■ Instituições acadêmicas (incluindo cursos de administração) – nos países que são

membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico e em algunspaíses em desenvolvimento – estão se concentrando mais no desenvolvimento do setorprivado e em temas mais amplos do desenvolvimento.

■ Escolas de negócio importantes estão trabalhando com colegas africanos para umtreinamento gerencial comum de funcionários públicos locais e líderes do setor privado.

Redes de pessoas■ As pessoas estão participando ou querendo participar mais na resolução dos temas

globais, através da contribuição com seu conhecimento e serviços para váriasorganizações do tipo “grupos de desenvolvimento da paz” (experientes executivosaposentados, estudantes de administração e negócios, especialistas do setor financeiro).

■ Executivos estrangeiros de corporações multinacionais estão orientando osempreendedores locais ou lecionando sobre negócios em cursos onde estão alocados.

■ Imigrantes na América do Norte e Europa estão apoiando empreendedores na sua terranatal com remessa de fundos, financiamento informal de pequenos empreendimentos, econsultoria e orientação em negócios. Eles são o reflexo da fuga de cérebros abordadano capítulo 2, e representam a massa crítica (banco de cérebros) que poderiadesempenhar um papel mais ativo se as mudanças nas políticas do país, discutidas nocapítulo 3, começassem a acontecer.

Q U A D R O 4 . 1 O S R E C U R S O S D I S P O N Í V E I S PA R A O D E S E N V O LV I M E N T OD O S E T O R P R I VA D O

Page 41: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

■ Permitir a transferência decapacidades, tecnologias e padrõesde qualidade.

■ Garantir que o investimentoestrangeiro direto tenha efeitosindiretos positivos.

■ Atrair empresas para o setorformal.

■ Criar a capacidade para regular astransações através de contratoscomerciais.

■ Abrir mercados e suprir cominsumos as empresas menoresatravés de redes de parceirosmaiores.

■ Melhorar a capacidade daspequenas e médias empresas,nessas redes, de obterfinanciamento em condiçõescomerciais.

■ Aumentar os salários, níveis deemprego e produtividade dasempresas locais.

■ Ampliar a oferta e baixar os preçospara consumidores pobres,introduzindo no mercado umamaior variedade de bens.

O potencial dessas redes – queincluiem relações verticais de cadeiasde fornecimento e agrupamentoshorizontais – é enorme. Mas até agoraseu impacto tem sido limitado, econcentrado em uns poucos países emdesenvolvimento, como Brasil, China,Índia e Malásia. Nos países da ÁfricaSubsaariana existem poucas transaçõescomerciais entre grandesmultinacionais e pequenas empresasnacionais. Um estudo de 5companhias estrangeiras e 36 empresaslocais, no Quênia, revelou quenenhuma das multinacionais láinstaladas utilizou o fornecimentonacional.

Um bom exemplo das possibilidadesde um ecosistema privado é aHindustan Lever Ltda., a maior

fabricante de produtos alimentícios ede higiene pessoal da Índia. Seuecosistema se compõe de 80instalações industriais, 150 pequenas emédias empresas fornecedoras queempregam cerca de 40.000 pessoas,7.250 distribuidores exclusivos, 12.000atacadistas e pequenos varejistas,300.000 lojistas e 150.000empreendedores individuais quevendem seus produtos em vilasdistantes, um número que deveaumentar para 1 milhão segundo asexpectativas recentes.

Trabalhando com mulheresempresárias, a Hindustan Lever estáaproveitando o ecosistema na intençãode atingir os mais de 200 milhões deconsumidores em zonas rurais. Essasempresas aprendem tudo sobre osprodutos, preços e lucros, de forma apoder assessorar os clientes, nas

próprias vilas, sobre os produtos quevendem. A Hindustan Lever tem acapacidade de alcançar clientes quenormalmente não alcançaria, seutilizasse os canais normais dedistribuição. Esse ecosistema demercado constitui um meio dedemonstrar aos pobres os benefícios datransparência nas transações e anecessidade do respeito aos contratos –sejam eles explícitos ou tácitos emrelação às empresas. Esse acordo entreempresas nacionais e sistemas denegócios globais reduz a dependênciaem relação a agiotas e exploradoreslocais.

Outro exemplo é a exportação de 2bilhões de dólares da indústria dovestuário, em Bangladesh, baseada nacapacidade de disseminação dainovação. Em função da limitadaexportação de têxteis e vestuárioscoreanos aos Estados Unidos, aDaewoo iniciou uma parceria com

C A P Í T U L O 4 : E N G A J A N D O O S E T O R P R I VA D O N O D E S E N V O LV I M E N T O 31

F I G U R A 4 . 1 C O N T R I B U I Ç Õ E S D O S E T O R P R I VA D O A OD E S E N V O LV I M E N T O D O S E T O R P R I VA D O

Dirigidas poratores do setorprivado

■ Empresas■ Organizações da

sociedade civil■ Fundações

Dirigidas poratores do setorpúblico

■ Governos locais■ Doações

governamentais■ Agências de

desenvolvimento

Direcionadas aos atoresdo setor público

■ estabelecer padrões maisamplos (normasindustriais,sustentabilidade, controlecorporativo)

■ realizar articulações paramudanças políticas

■ promover o processoparticipativo através deamplo debate com asociedade

■ Reforma política■ Consultoria política■ Financiamento e apoio

técnico às reformas nosetor público

■ Transferências financeiras(assistenciais, empréstimos)

Direcionadas aos atoresdo setor privado

■ Vínculos comerciaise parcerias

■ Investimento, incluindoinvestimentoestrangeiro direto

■ Aconselhamentopara empreendedores

■ Parcerias público-privadas, por exemplo,para a prestação deserviços básicos

■ Órgãos consultivospúblico-privados

■ Privatização ou terceirização■ Promoção de investimentos■ Serviços de

desenvolvimento denegócios diretos

■ Financiamento direto

Page 42: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES32

Q U A D R O 4 . 2 M O S T R A N D O O Q U E É P O S S Í V E L N A B A S E D A P I R Â M I D E

No setor financeiroO Banco ICICI da Índia está apresentando formas inovadoras dedisponibilizar serviços financeiros aos carentes. Foramdesenvolvidos dois modelos:

■ O modelo “acesso direto ao banco” promove e mantém gruposde auto-ajuda, para criar uma poupança em comum. Uma vezque esse fundo alcança um certo tamanho (poucas centenasde dólares americanos), o Banco ICICI poderá concederempréstimos de US$5.000 com a distribuição de US$ 250 porpessoa. A pressão do grupo é a melhor garantia, e as taxas deadimplemento são de 99.9%.

■ De forma indireta, o Banco ICICI estabelece parcerias cominstituições de microcrédito e obtém vantagens delas. Ainstituição de microcrédito faz uso de suas aptidões paracontribuir nos aspectos de intermediação social, ao passo queo banco realiza a intermediação financeira e arca com o riscodo crédito. Isso pode efetivamente alavancar o capital de riscoexistente nos bancos, e pode ser a solução possível para asrestrições de capital nas instituições de microcrédito. Essemodelo reduz o custo de intermediação sem afetar a qualidadeda carteira.

A estratégia faz sentido comercial e teve impacto importante nodesenvolvimento. Por exemplo, o número de grupos de auto-ajuda aumentou para mais de 10 mil, permitindo ao Banco ICICIampliar substancialmente sua participação no mercado nas áreasrurais. Moradores dos vilarejos tem tido muitas oportunidades definanciamento. De maneira interessante, um estudoindependente mostrou uma forte onda de autoconfiança nosmembros dos grupos de auto-ajuda.

No setor de varejo As Casas Bahia, a maior rede varejista do Brasil, tem o foco quaseque inteiramente em consumidores de baixa renda. Ela usa ocarnê, ou caderneta, sistema de financiamento que permite aosconsumidores de baixa renda comprarem a crédito. As CasasBahia usa um sistema próprio de verificação de crédito e aplicaregras baseadas no senso comum para oferecer ou nãofinanciamento àqueles sem histórico creditício.

As Casas Bahia tem receita de 4,2 bilhões de reais, 330 lojas, 10milhões de clientes e 20 mil empregados. Cerca de 70% de seusclientes não possui renda fixa ou formal, e são basicamentefaxineiros, cozinheiros, vendedores ambulantes e trabalhadoresda construção civil cuja renda mensal é o dobro do saláriomínimo. Os carentes agora têm acesso a uma linha de produtos ebenefícios muito mais ampla, e com melhores condições decrédito, do que tinham antes.

No setorde cimentoA CEMEX, maior companhia de cimento do México e terceira domundo, criou dois programas básicos para abranger a populaçãocarente do México, onde 60% das pessoas sobrevivem commenos de US$5 por dia.

■ A Patrimonio Hoy visa atender os segmentos da população debaixa renda e construtores autônomos. É como um sistema demicrocrédito, com pequenos grupos que emprestam recursos,que são usados para comprar cimento e outros materiais deconstrução.

■ Construmex é um método inovador de contenção daemigração, e o dinheiro enviado ao país de origem paraconstrução pode ser transferido diretamente para a empresade cimento sem pagar intermediários financeiros. O serviçopermite aos mexicanos que moram nos Estados Unidos queenviem seu dinheiro e seus pedidos diretamente aosdistribuidores de cimento no México, que então entregam ocimento no local da futura casa ou empresa da pessoa.

A CEMEX sabia que uma parte significante dos 10 bilhões emremessas de dinheiro para o México (aproximadamente 10%) éusada para construção de casas.

A Patrimonio Hoy triplicou a taxa de cimento consumido pelosconstrutores autônomos de baixa renda. A Construmex registrouUS$2.5 milhões em vendas desde que começou a operar, emjulho de 2001, a maior parte de emigrantes em Los Angeles. Como seu potencial de vendas para os Estados Unidos estimado emUS$160 milhões por ano, a Construmex está planejando expandir-se para outras cidades com grandes comunidades mexicanas,incluindo Chicago e Houston. Ambos os programas oferecem àpopulação carente oportunidades para construir suas casas emelhorar sua qualidade de vida.

No seto de telefonia móvelGrameenPhone é a maior operadora de celular em Bangladesh.Vodacom é a subsidiária sul-africana da Vodafone e a maioroperadora da África do Sul. Ambas companhias trabalham comempreendedores locais que adquirem telefones celulares erevendem serviços telefônicos em seus vilarejos. GrameenPhonecombina essa atividade com micro-crédito para empreendedores,com grande foco nas mulheres.

A GrameenPhone construiu a maior rede de celulares do país,com investimentos superiores a US$300 milhões e mais de ummilhão de assinantes. O seu programa rural já está disponível emmais de 35 mil vilarejos, oferecendo acesso à telefonia para maisde 50 milhões de pessoas, enquanto ajuda na formação demicroempreendedores. O segredo para o sucesso da telefonia nosvilarejos tem sido o núcleo de empreendedores, 95% delesmulheres, que se beneficiaram da oportunidade de gerenciarsuas próprias microempresas.

Vodacom oferece mais de 23 mil linhas de celulares em mais de4.400 localidades por toda a África do Sul. A companhia temoferecido serviços de comunicação a preços acessíveis paramilhões de sul-africanos, permitindo a milhões de pessoasanteriormente desprovidas a oportunidade de geração de rendae capacidade comercial duradoura. Esses negócios geram as maisaltas receitas da Vodacom.

Fonte: Prahalad

Page 43: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

empresas locais de Bangladesh paraproduzir vestuário para exportação, etreinou a mão-de-obra local com asmais recentes técnicas de produção.Com o tempo, no entanto, 115 dos130 gerentes coreanos que foramtreinados deixaram a organização e,com o conhecimento e rede decontatos que haviam adquirido,abriram suas próprias empresas. Aindústria, que contribui com mais dametade das exportações do país,cresceu mais de 2 bilhões de dólaresem vendas anuais.

As redes conectam empreendedores apotenciais fontes de financiamento,aptidões humanas, parceiros,fornecedores e informação. Atravésdessas redes, os empreendedorescompartilham informação, análises demercado, tecnologia e suas própriasexperiências de aprendizado. Elestambém reunem grupos para discutirtemas de interesse comum e contribuirde forma mais ampla para ascomunidades em que vivem.

As redes empresariais informais(muitas vezes de origem étnica oureligiosa) predominam nos países emdesenvolvimento. Na ausência dedisposição legal para observância dasobrigações contratuais, essas redesbaseadas em relacionamentos –apoiadas na confiança, garantiaspessoais e execução informal doscontratos – facilitam as transações e ocomércio entre países e oferecem umafonte de financiamento. Muitoconhecida é a grande rede deempreendedores chineses no exterior,com negócios predominantementefamiliares, situados entre os 50milhões de emigrantes chineses, queteve um papel importante natransformação econômica da China eapareceu como uma força nos negóciosno Sudeste Asiático. Estatísticasoficiais chinesas revelam queempreendedores chineses no exteriorcolaboram com 70% do investimentodireto estrangeiro na China – mais de

US$50 bilhões, recentemente.

A emigração indiana tem menos a vercom investimento direto em seu paísde origem do que em estabelecerconexões empresariais entreinvestidores estrangeiros e acomunidade empresarial local, além defacilitar o rápido desenvolvimento deecosistemas empresariais privados.

Com o desenvolvimento do mercado eo surgimento de grandes empresas, osvínculos informais baseados emcontatos pessoais estão sendosubstituídos por redes formais deorganizações, como as câmaras decomércio, associações de ex-alunos eincubadoras. Essas redes formais deorganizações têm sido fonte de apoiomútuo no mundo desenvolvido, e ofazem, cada vez mais, no mundo emdesenvolvimento, desempenhando umimportante papel em:

■ Agrupar e agregar recursos em umfundo comum que sirva de basepara criar instituições ecompartilhar habilidades;

■ Estabelecer relacionamentos eníveis de confiança que as tornemais efetivas;

■ Definir padrões comuns;■ Orientar ou facilitar a ação coletiva

na aquisição e reunião deinformações e no marketinginternacional.;

■ Definir e transmitir crençascomuns e posicionamentos;

■ Oferecer mecanismos paradesenvolver um programaeconômico comum ou regional.

As associações empresariais,especialmente organizações deindústria e comércio, estãorepresentando os interesses comuns deseus membros através da coordenaçãode atividades, estabelecimento depadrões de autoregulação,pressionando os governos e oferecendoserviços diretos a seus membros,

dentre os quais se contam a promoçãode contatos, formação, disseminaçãode informações e acesso a mercados.Associações empresariais têm lideradoa melhoria da competitividade de seusmembros através de:

■ Redução dos custos da informação;■ Estabelecimento de coordenação

horizontal (distribuição de cotas,redução da capacidade) ecoordenação vertical (para cima epara baixo);

■ Definição de padrões e melhoriada qualidade.

FOMENTANDOPARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS PARA ODESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

Benefícios importantes podem serobtidos através do estímulo deparcerias público-privadas maisefetivas, particularmente nofornecimento seletivo de serviços,como energia e água. Projetos deprodução de energia e saneamentobásico podem utilizar a mais eficazestrutura de propriedade necessária,incluindo a propriedade pública. Masa entrega final para o cliente rural oupara o setor informal pode muitasvezes ser administrada por pequenasempresas nacionais. A produçãodescentralizada de energia, através dadistribuição de energia de vários tipos,pode também ser contratada junto aosetor privado por acordos com a rededo setor público. Energia solar epequenas centrais hidrelétricas sãoexemplos.

Parcerias público-privadas sãotambém eficientes para implementarobjetivos de desenvolvimento

C A P Í T U L O 4 : E N G A J A N D O O S E T O R P R I VA D O N O D E S E N V O LV I M E N T O 33

Page 44: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

sustentável. Importante ressaltar aquio Global Compact das Nações Unidas– um compromisso voluntário dasempresas de respeito ao meioambiente, direitos humanos e direitosdo trabalho – e os PrincípiosEquatoriais da Corporação FinanceiraInternacional, um acordo deinstituições financeiras internacionaispara cumprimento de padrõesrigorosos de proteção ambiental epolíticas sociais em todos os projetosque financiam, independentemente dealguns serem co-financiados porinstituições públicas, que observam osmesmos padrões.

Parcerias público-privadas similaresem gerenciamento corporativo etransparência estão influenciando ocomportamento do setor privado. Acampanha “Publique o que VocêPaga” pretende orientar cidadãos depaíses em desenvolvimento ricos emrecursos a exigir de seus governos ademonstração de como as receitas dasindústrias de petróleo, gás emineradoras são gerenciadas edistribuídas.

A campanha, promovida por umacoalizão mundial de mais de 170organizações não-governamentais e dasociedade civil, foi fundada pela GlobalWitness, pelo Instituto Open Society, deGeorge Soros’s CAFOD (AgênciaCatólica da Inglaterra e País de Galespara o Desenvolvimento), Oxfam,Save the Children do Reino Unido eTransparência Internacional do ReinoUnido.

A coalizão exige a regulaçãointernacional da divulgação dos

impostos líquidos, taxas, royalties eoutros pagamentos feitos pelasempresas aos governos dos países emdesenvolvimento em todos os paísesque elas operam.

Dado que empresas individuais podemficar em desvantagem ao revelarinformações se outras não as divulgam,confiar na divulgação voluntáriapoderia não ser uma opção viável.Todavia, todas as empresas e acomunidade investidora sebeneficiariam com um jogo de regrasiguais, se os organismos reguladorespassassem a exigir essa divulgação. Aimportância deste enfoque também sereflete na Iniciativa de Transparênciapara as Indústrias Extrativas,desenvolvida pelo governo do ReinoUnido e recentemente endossada peloBanco Mundial.

Além de estabelecer padrões para osetor privado, um número pequeno,porém crescente de empresas, estáelevando os padrões para que elaspróprias sirvam de modelo para avaliaroutras empresas privadas. Essas novastendências oferecem um importantecomplemento à visão tradicional deum setor privado regulado e de umorganismo público regulador. AInfosys, na Índia, não só estápavimentando o caminho nessa área,mas também se envolvendodiretamente com os governos paraparticipar de uma reforma mais amplae de um plano de desenvolvimentotanto de suas próprias operaçõesquanto do país. Esse tipo de funçãopara o setor privado é fundamental noesforço para o desenvolvimento.

APRIMORANDO AGOVERNANÇACORPORATIVA

A governança corporativa constitui umponto fundamental na criação de

mecanismos contra a corrupção e a máadministração, limitando o acesso ainformações privilegiadas e aofavorecimento, enquanto promove osvalores da economia de mercado numasociedade democrática. Estes valoresincluem demonstrações de contas,comprometimento, transparência e oestado de direito – assim como aequidade, responsabilidade, o sentidode propriedade e proteção a acionistasminoritários.

Dentre os benefícios do compromissocom os mecanismos da governançacorporativa, encontram-se: menorcorrupção, um setor privado maissaudável, mercados mais justos e maiordesenvolvimento institucional,elementos que conjuntamenteoferecem suporte ao crescimento daeconomia. Além da governançacorporativa, que é, em essência, aproteção dos direitos dos acionistas, háo interesse crescente naresponsabilidade social das empresas.Empresas não são pressionadas apenaspelo governo, que defineregulamentação para a boa governançacorporativa através da imposição decódigos de conduta nos negócios, mastambém pela opinião pública,estimulada pela sociedade civil eorganizações do trabalho. Códigosauto-regulatórios ou voluntários deconduta corporativa comprovam queas empresas estão dispostas a ser boas“cidadãs corporativas”.

É importante que os setores público eprivado trabalhem de forma conjuntapara desenvolver um conjunto deregras vinculantes, que determinem aforma como as empresas devem serconduzidas. Associações empresariais,como as câmaras de comércio e osgrupos setoriais, devem estimular seusmembros a desenvolver padrões degovernança corporativa para protegeros acionistas e outros constituintes – epadrões de responsabilidade social pararesponder às partes interessadas

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES34

Page 45: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

externas. Forças tarefa do setor privadoque promovam a governançacorporativa e associações empresariaisque desenvolvem códigos degovernança corporativa para seusmembros são pontos de partidapromissores.

AVANÇANDO ASPRÁTICASEMPRESARIAISRESPONSÁVEIS E OSPADRÕES DERESPONSABILIDADESOCIAL CORPORATIVA

Para alguns, a atual tendênciaconhecida como a “tripla avaliação deresultados” (triple bottom-line) – quecongrega o respeito ao meio ambiente,a equidade social e a viabilidadefinanceira – é uma boa notícia para osnegócios. Segundo este balançotríplice, as empresaa devem atentarnão apenas para o valor econômicoque aportam, mas também aos valoressociais e ambientais que produzem – edestroem. O termo aglutina osparâmetros, ações e procedimentos queas empresas devem observar paraminimizar qualquer dano advindo desuas atividades e produzir resultadoseconômicos, sociais e ambientais. Issoimplica em transparência por parte daempresa quanto a seus objetivos, e levaem consideração as demandas de todasas partes interessadas – acionistas,clientes, empregados, parceiroscomerciais, governos, comunidadeslocais e o público em geral.

As possibilidades de alinhamentoentre interesses comerciais e sociaisainda estão por explorar. A maioria dasempresas que sabiamente se voltarampara o desenvolvimento sustentávelforam empurradas ou puxadas nessadireção: empurradas pela mudança nasexpectativas sociais e pelas exigênciasde seus constituintes, e puxadas em

direção dos mercados emergentes peloacirramento da competição nosmercados maduros do mundodesenvolvido.

Muitos dos esforços têm seconcentrado nos tradicionais modelosde caridade e filantropia: construçãode escolas e clínicas de saúde ou apoioa organizações culturais e artísticas.Embora seja importante e talvez aténecessário, esse modelo é mais umavitrine do que uma contribuição real esustentável para a vida dos maiscarentes. Pelo fato de situarem-se forado modelo tradicional de negócios, osbenefícios são avaliados em termosabstratos – tais como reputação,redução do risco e autorização paraoperar – ao invés de como resultadofinanceiro, pois muitas vezesrepresentam resultados financeiros decurto prazo, indetermináveis e nãocontabilizáveis. E os compromissospodem ir e vir de acordo comvariações nas condições de negócio ouno gerenciamento.

A última década apresenta evidênciascrescentes de que as empresas queforam pioneiras em ativamentegerenciar seus impactos nodesenvolvimento sustentávelalcançaram melhores resultadosfinanceiros. Empresas têm sidopressionadas por advogados, pelossindicatos, pela mídia e até mesmo poracionistas, para que levem emconsideração os efeitos negativos epositivos de suas atividades, em graumuito maior do que faziam antes. Elasestão incorporando direitos humanos,padrões trabalhistas fundamentais edesenvolvimento sustentável a seuscompromissos corporativos. Aospoucos, elas estão aprendendo aimplementar esses valores através desistemas gerenciais e padrões contáveis

mais abrangentes. E, ao longo desteprocesso, elas estão divulgandopublicamente seus sucessos e fracassos,utilizando sofisticados relatórios deresponsabilidade social corporativa.

Parcerias globais para definir padrõesem diferentes setores da indústria têmtambém facilitado a liderança no setorprivado e os atributos da governançacorporativa que refletem mudanças naconduta corporativa. Essas parceriasincluem a “Cuidado Responsável”(Responsible Care) na indústriaquímica, a “Iniciativa Sustentável paraFlorestas” (Sustainable ForestInitiative), a “Pesca Sustentável”(Sustainable Fisherie)s, e a “IniciativaMineradora Global” (Global MiningInitiative), lançada em 1998 por novecompanhias mineradoras ao redor domundo.

A indústria mineradora mundialprocurou redefinir seu papel,demonstrando o compromissocorporativo de diálogo comconstituintes e de desenvolvimentosustentável. A iniciativa resultou emum projeto de pesquisa independentesobre extração, mineração edesenvolvimento sustentável, além deuma conferência com múltiplos atoressociais, em Maio de 2002. As parceriase esforços de pesquisa que surgiramdessas iniciativas continuam através doConselho Internacional em Extração eMetais, e o Conselho de ComércioMundial para o DesenvolvimentoSustentável e outras associações deindústrias e empresas quecompartilham experiências parapromover o crescimento local, atravésde padrões e pincípios desustentabilidade.

C A P Í T U L O 4 : E N G A J A N D O O S E T O R P R I VA D O N O D E S E N V O LV I M E N T O 35

Page 46: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

As parcerias refletem a evolução dosnovos padrões voluntários paraavaliação de empresas. Alguns críticosvão denunciar essas parcerias comomecanismos corporativos para evitarregras obrigatórias. Outros as vêemcomo evidência direta do compromissocorporativo e da compreensão de comoé importante assumir a liderança nodesenvolvimento sustentável. Entre osnovos parâmetros estão: AA1000(desenvolvido pelo Instituto paraResponsabilidade Ética e Social),ISO14001 (Organização Internacionalpara Padronização) e Projeto Sigma(um modelo de gerenciamento dasustentabilidade sendo desenvolvidopela Instituição Britânica de Normas,Fórum para o Futuro, e outros).

A elaboração e a melhoria dosindicadores de desenvolvimento,através das agências internacionais dedesenvolvimento, como o Sistema deSustentabilidade da CorporaçãoFinanceira Internacional, e através deassociações como a Iniciativa doRelatório Global, oferecemoportunidades únicas para monitoraras contribuições do setor privado aodesenvolvimento sustentável. Omesmo ocorre com as avaliações dosesforços corporativos para contribuircom os Objetivos de Desenvolvimentodo Milênio, publicados através daIniciativa de Governança Global, doFórum Econômico Mundial. Essasferramentas quantitativas permitirãoque as corporações possam ir além dosrelatórios qualitativos associados àfilantropia tradicional, rumo ainvestimentos sociais estratégicos comobjetivos de curto, médio e longo

prazos. Ser capaz de orçar e reportarresultados trará o benefício dequantificar as contribuições do setorprivado para a redução da pobrezamundial, e ainda, simultaneamente deincentivar a adoção de abordagensmais pró-ativas de desenvolvimentosustentável. Modelos de indicadoresbaseados em sistemas internacionais jáexistentes também fornecem asferramentas para análise do custo-benefício dos investimentos e aidentificação de padrões eficientes.

■ ■ ■

A Comissão percebe uma grandenecessidade de acelerar a divulgação deinformações sobre modelos bemsucedidos, criando novos modelos ouadaptando os modelos existentes anovos ambientes, reproduzindo-osem diferentes localizações eampliando-os.

O setor privado, especialmente aadministração de grandes empresaslocais e multinacionais, necessitaefetuar um compromisso muito maiorde capturar as oportunidades–pesquisando mercados na base dapirâmide, avançando padrões desustentabilidade e de confiabilidadepública, e ainda, sendo criativo sobrecomo interagir com empresas locais ouexternas para auferir benefíciosmútuos. Os governos dos países, tantodesenvolvidos como emdesenvolvimento, podem facilitar esteprocesso, e as instituiçõesinternacionais de desenvolvimentopodem ajudá-los.

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES36

Page 47: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Foto

:C

hao

Do

an/P

NU

D

Comissão acredita que a responsabilidadeprimordial de proporcionar crescimento edesenvolvimento equânime é dos países emdesenvolvimento. Essa responsabilidade inclui a

criação de condições que tornem possível assegurar os recursos financeirosnecessários para investir. As ações dos responsáveis pela formulação de políticascondicionam, em grande parte, o estado da governabilidade, as políticasmacroeconômicas e microeconômicas, as finanças públicas, o sistema financeiro eoutros elementos básicos do ambiente econômico de um país. O desafio dos paísesem desenvolvimento está em capitalizar os avanços na estabilidademacroeconômica e na democracia, e assim iniciar reformas que proporcionemmudanças complementares nos marcos institucionais que, por sua vez,potencializam e fomentam o setor privado.

A maioria das ações recomendadas envolve o trabalho conjunto de vários atores.Quando os governos efetuam mudanças nas suas políticas, normalmente o fazemcom o apoio e a participação diretos de instituições multilaterais dedesenvolvimento. Se o setor privado assume uma posição mais ativa nodesenvolvimento sustentável, isto ocorre porque a sociedade civil chama suaatenção para o tema. Quando os governos implementam reformas nos marcosregulatórios, geralmente o fazem através de consultas diretas a representantes do

C A P Í T U LO 5

AÇÕES RECOMENDADAS

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 37

A

Page 48: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

setor privado. As ações individuais aquiidentificadas devem ser vistas naestrutura dessa cooperação mais ampla– cada vez mais necessária para reduzira pobreza.

O nosso interesse repousa em trêsáreas:1. Na esfera pública, promover as

reformas de leis, regulamentos eoutras barreiras ao crescimento.

2. Na esfera público-privada,facilitar a cooperação e as parceriasentre atores públicos e privados,para ampliar o acesso a fatoresdeterminantes tais comofinanciamento, capacitação eserviços básicos.

3. Na esfera privada, estimular odesenvolvimento de modelos denegócios passíveis de seremampliados e reproduzidos, quesejam comercialmente sustentáveis.

A gama de ações nessas três áreascentrais – necessária para colocar emprática um programa bem-sucedido dedesenvolvimento do setor privado –deriva de um modelo analíticoconcebido para desencadear acapacidade dos empresários nacionais,

segundo descrito nos Capítulos 2 e 3.Estas iniciativas reforçam epotencializam as contribuições do setorprivado para o desenvolvimento,conforme explicado no Capítulo 4.

AÇÕES NA ESFERAPÚBLICA: CRIANDO UMAMBIENTE FAVORÁVEL

Criar um ambiente propício aodesenvolvimento do setor privadoenvolve passos formulados para reduzira fatia do setor informal na economia,através da reforma do ambiente geralpropício à economia formal. Essasmedidas devem resultar na redução decustos e na ampliação das vantagens daformalidade.

Recomendações para osgovernos dos países emdesenvolvimentoA Comissão acredita que os governosdos países em desenvolvimento devemassumir a responsabilidade pelasseguintes ações:

Reformar o marco regulatório efortalecer o estado de direito.Governos dos países em

desenvolvimento precisam assumir umcompromisso sério, que não deixamargem a dúvidas, com odesenvolvimento do setor privado – econciliar este compromisso com ointeresse legítimo de reformar opanorama regulatório de forma aremover os entraves artificiais,induzidos por políticas que restringemo crescimento econômico. Todo oprocesso começa com a postura daslideranças nacionais. Por exemplo, nãohá justificativa para que o custo de seabrir uma empresa em países de baixarenda seja muitas vezes maior que omesmo procedimento em paísesmembros da Organização para aCooperação e DesenvolvimentoEconômico (OCDE). Nósenfatizamos a adoção de uma visãopragmática, focada no usuário final,que se concentre em melhorias efetivasno relacionamento dosempreendedores com as instituiçõespúblicas e as regulações. Assim, namedida em que os governosdesenvolvem e fazem cumprir regrasformais mais efetivas, passarão aentender a importância dosecosistemas privados em criar maiorparticipação na economia, além de

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES38

F I G U R A 5 . 1 A Ç Õ E S N A S T R Ê S Á R E A S - C H AV E

Dirigidas poratores do setorprivado:■ Empresas■ Organizações da

sociedade civil■ Fundações

Dirigidas poratores do setorpúblico:■ Governos locais■ Doações

governamentais■ Agências de

desenvolvimento

Direcionadas aos atores do setor público Direcionadas aos atores do setor privado

3. Esfera privada:Mobilizar conhecimentos e recursos■ Enfoque nas potencialidades do setor privado e

apoio a empreendedores e empresas.■ Construir ecosistemas e redes de suporte.■ Investir nas empresas da base da pirâmide.

2. Esfera público-privada: Parceria e inovação■ Criar maiores opções de financiamento para empreendedores.■ Desenvolver lideranças e habilidades empresariais com treinamento.■ Apoiar parcerias público-privadas para fornecimento de serviços básicos.

1. Esfera pública: Criar um ambiente favorável■ Reformar marcos regulatórios e fortalecer o

estado de direito.■ Formalizar a economia.■ Engajar o setor privado no processo de criação

de políticas.

Page 49: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

demonstrar o valor da capacidade deregular transações.

Formalizar a economia. Governos depaíses em desenvolvimento precisamconcentrar seus esforços na criação decondições para a redução dainformalidade e assim, com o tempo,alterar a configuração do ecosistema dosetor privado. O foco deve ser emresultados mensuráveis. Dado que acomposição do ecosistema do setorprivado em um país é um forteindicador do seu processo dedesenvolvimento – níveis elevados deinformalidade estão associados a rendasbaixas - o objetivo concreto deve seralterar essa composição de formaespecífica e mensurável. Metasindicativas de ampliação da parcela deempresas menores e formais naeconomia, realizáveis num prazo de 5 a10 anos, precisam ser estabelecidas.

Um claro reconhecimento do setorinformal deve ser acompanhado depassos rápidos para analisar suascaracterísticas locais e para aplicarmedidas que ampliem seu acesso afinanciamentos, bem como de medidasde suporte ao setor formal. Precisamoscomeçar pela conscientização e peladisseminação de informações sobre opredomínio da informalidade – e pelodiagnóstico do problema no contextonacional. As soluções incluem reformasem regras estatais específicas e na suaaplicação.

Uma questão que demanda açõesurgentes é a melhoria das regras eprocedimentos de registro depropriedade e de titularidade deimóveis, pré-requisitos essenciais parao acesso a financiamentos lastreadosnesses ativos. Aqui estão incluídosprocedimentos práticos e amigáveispara que empreendedores possamobter, e fazer valer, os direitos depropriedade. Como em qualquerprocesso de mudança no setor público,órgãos consultivos devem orientar osesforços de mudanças de uma maneiratransparente, envolvendo

empreendedores informais,cooperativas e organizações dasociedade civil.

Engajar o setor privado no processode criação de políticas. Os governosprecisam criar uma parceria efetivacom os representantes do setor privadonacional, para implementar mudançase garantir que os anseios do setorprivado incluam os anseios das micro,pequenas e média empresas. Conselhose órgãos consultivos com membros dogoverno e setor privado estão sendocriados, porém mecanismos parareduzir a distância entre a intenção decolaborar e o apoio efetivo só podemser assegurados pelos governos e seusparceiros do setor privado. Quandonovos arranjos são colocados emprática, a divulgação de exemplos decooperação bem sucedida pode fazer asrelações evoluirem da desconfiançamútua para a formação de parceriasestratégicas. Órgãos consultivospúblico-privados, onde funcionáriospúblicos e representantes do setorprivado compartilham opiniões, sãooutro fator importante. Mas todas ostipos de atores do setor privado devemser envolvidos, incluindoempreendedores pequenos e informais,além de organizações do trabalho.

Induzir um ambientemacroeconômico internacional e umregime de comércio favoráveis. AComissão acredita que os governos depaíses desenvolvidos devem estimularum ambiente macroeconômicointernacional e um ambiente políticofavoráveis ao florescimento de todo opotencial dos empreendedores nospaíses em desenvolvimento, dado queuma economia internacional forteproporciona mercados para os bens dasempresas de países emdesenvolvimento. O aumento do fluxoda cooperação para o desenvolvimentoe a reforma do sistema global decomércio, contribuem para ofereceroportunidades econômicas justas aosprodutores de países em

desenvolvimento, e são essenciais parapromover um rápido crescimento noinvestimento privado doméstico.

Redirecionar as estratégiasoperacionais das instituições eagências multilaterais e bilaterais dedesenvolvimento. Os paísesdesenvolvidos são os principaisacionistas dos bancos dedesenvolvimento multilaterais econtrolam a maioria dos ministérios eorganismos bilaterais de cooperação,ativos na arena do desenvolvimento.Para apoiar o desenvolvimentosustentável do setor privado, énecessário assegurar que as açõescoletivas dessas agências sejam maisbem coordenadas – aperfeiçoando suaeficiência e reduzindo pressões sobre acapacidade administrativa dos governosde países em desenvolvimento.Também é necessário que o foco dacooperação para o desenvolvimento dosetor privado nos países emdesenvolvimento seja a criação decondições para a redução dainformalidade e para a mudança nacomposição de seu ecosistema.

Desatar a cooperação. Os paísesdesenvolvidos são a principal fonte dosrecursos de assistência técnicautilizados, pelas instituiçõesmultilaterais de desenvolvimento, nosuporte às reformas políticas einstitucionais nos países emdesenvolvimento. Apesar da introduçãode certa flexibilidade nos últimos anos,os principais elementos desses fundossão fixos, o que pode criarcomplicações desnecessárias em relaçãoà eficácia com que podem canalizar eafetar a qualidade do suporte prestado.Além disso, a maior parte dos recursosé oferecida aos governos, e nãodiretamente aos seus receptores finais.Certas mudanças nas regrasadministrativas que regem estes fundospoderiam permitir a liberação e o usomais eficazes da assistência técnica, eassim estimular o desenvolvimento dosetor privado.

C A P Í T U L O 5 : A Ç Õ E S R E C O M E N D A D A S 39

Page 50: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Ações recomendadas para asinstituições multilaterais dedesenvolvimentoO Consenso de Monterrei reconheceuexplicitamente o papel da iniciativaprivada no desenvolvimento,assinalando a necessidade de seaperfeiçoar o funcionamento e aeficiência das agências globais ebilaterais de desenvolvimento.Reconheceu-se ainda a limitadacapacidade de absorção de muitospaíses em desenvolvimento, bem comoo fato de que sua capacidadeadministrativa fica sobrecarregada aolidar com a sobreposição de atividadesdas instituições de desenvolvimento.Desta maneira, o Documento deConsenso incentivou um alto grau deespecialização e de parceria nacomunidade do desenvolvimento, deforma a melhorar o impacto geral dasvárias formas de cooperação para odesenvolvimento.

Aplicar a recomendação deMonterrei para a especialização eestabelecimento de parcerias àsatividades de desenvolvimento dosetor privado. Muitas instituiçõesestão engajadas em esforços de apoioao desenvolvimento de mercadosfinanceiros, de prestação de serviços dedesenvolvimento empresarial àspequenas empresas, de aconselhamentosobre a criação de um ambientefavorável, de aprimoramento dagovernança corporativa e deintensificação do foco nasustentabilidade. Embora a escolha deum “fornecedor” aos países recebedoresdessa ajuda seja importante, ficaevidente que essa sobreposição deatividades é contraproducente e precisaser abordada com urgência.

Abordar a informalidade nos paísesem desenvolvimento. Algunstrabalhos pioneiros se encontram emandamento para mapear a estrutura dosetor informal, e o esforço global paraexpandir o alcance desse trabalho deveobter benefícios significativos. Uma

parceria para acelerar esse mapeamentona América Latina acaba de ser feita,entre o Banco Interamericano deDesenvolvimento e o Instituto para aLiderança e a Democracia do Peru. Hátambém grande espaço para facilitar acriação de vínculos entre corporaçõesmultinacionais e pequenas e médiasempresas, tendo em vista a importânciados ecosistemas do setor privado e osbenefícios potencialmente advindos dasparcerias entre entes privados.

AÇÕES NA ESFERAPÚBLICO-PRIVADA:PARCERIAS E INOVAÇÃO

A Comissão acredita que todos osatores precisam cooperar no fomentoao financiamento, à capacitação e àcriação de parcerias público-privadaspara a prestação de serviços essenciais.Em cada uma dessas áreas críticas,governos de países emdesenvolvimento e atores privadosnecessitam desenvolver modelos viáveisde parcerias que possam alavancar suasrespectivas capacidades. Váriasorganizações da sociedade civil podemaportar percepções e experiênciasvaliosas a tais parcerias. A construçãode parcerias sustentáveis requerhabilidade para avaliar interessesconflitantes e para a negociação deacordos pragmáticos.

Organismos multilaterais dedesenvolvimento podem agir comoprestadores de serviços e moderadoresimparciais. Para se tornaremintermediários eficazes, devemconstruir a capacidade de criarparcerias que façam sentido econômicopara os atores privados, ao mesmotempo que são administráveis por partedos órgãos públicos dos países emdesenvolvimento. Diferentes atorespodem iniciar e liderar parcerias emmomentos distintos. O maisimportante é que todos tenhamexpectativas realistas sobre os interessese capacidades de cada parceiro. AComissão percebe a necessidade de

inovar no estabelecimento de modelosde parceria verdadeiramentesustentáveis para os países emdesenvolvimento.

Facilitar o acesso a maiores opções definanciamento. Nós vislumbramos odesenvolvimento continuado dosmercados financeiros domésticos,juntamente com a criação decapacidade para reguladores einstituições financeiras privadas. Vemoscomo muito promissoras ações quefacilitam a transferência deconhecimento Sul-Sul entreinstituições financeiras e agênciasreguladoras. Alianças amplas parafomento ao microcrédito, como partedas recomendações do AnoInternacional do Microcrédito 2005 daONU, e aos empréstimos parapequenas e médias empresas, podemgerar modelos financeiramentesustentáveis. Métodos inovadorestambém são necessários paratransformar fluxos financeiros de váriasemigrações em investimentosprodutivos de longo prazo em seuspaíses de origem.

Colaborar no desenvolvimento decapacidades e conhecimento. Asatividades de construção decapacidades podem abranger desdeprogramas para lideranças públicas eprivadas, passandoo pelo treinamentode microempreendedores, até esforçosconjuntos entre autoridades públicas esindicatos para aprimorar a capacidadeda força de trabalho. A Comissãovislumbra alianças mais amplas comescolas de negócios e de comércio,colaboração público-privada emformação profissional e a criação deprogramas de mentoria paraempreendedores – alavancando colegas,residentes e emigrantes. Enxergamosuma grande oportunidade para infra-estruturas organizacionais queestabelecem redes de contato entrerecursos privados de todo o mundo easpirantes a empreendedores nos paísesem desenvolvimento, que podem

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES40

Page 51: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

incluir programas formais de empresasmultinacionais visando tornardisponíveis seus recursos humanos eknow-how para empreendedores depaíses em desenvolvimento.

Permitir o fornecimento sustentávelde serviços básicos, principalmenteenergia e água. A Comissão consideranecessário o desenvolvimento demodelos inovadores para parceriasentre prestadores de serviçosgovernamentais, empresasmultinacionais e empresas locais. Ofornecimento sustentável de serviçosbásicos depende de parcerias efetivas,além de outras formas de cooperaçãopúblico-privada, difíceis de articular,pois ainda estão por desenvolver ashabilidades necessárias para aimplementação de parceriasduradouras, nas quais os incentivos detodos os atores estejam equilibrados e agovernança adequada esteja presente.Consideramos necessário gerarcapacitação adicional que visa ajudar alidar com disfunções do mercado eassimetria de informações, oferecerapoio operacional e experiência prática,preencher lacunas de conhecimento eatuar como intermediário imparcialentre interesses conflitantes. A efetivaintermediação, superando obstáculosque poderiam impedir ações, podetornar viáveis mais transações.Planejamos acompanhar entidadespúblicas e privadas atuando nestestemas, para averiguar de que maneiraseria possível suplementar a capacidadeinstitucional existente – e como aspessoas carentes podem serdiretamente capacitadas a desenvolverseus negócios.

AÇÕES NA ESFERAPRIVADA: MOBILIZARCAPACIDADES ERECURSOS

A Comissão acredita que o setorprivado, particularmente grandesempresas nacionais e corporaçõesmultinacionais, deve contribuir para

acelerar o desenvolvimento econômicoe a redução da pobreza.

Ações recomendadas para osetor privadoAções requeridas ao setor privado,conforme dispostas no Capítulo 4:

Canalizar a iniciativa privada para osesforços de desenvolvimento.Acreditamos que o setor privado possuienorme potencial para contribuir como desenvolvimento por meio do seuconhecimento, competência técnica,recursos e relações. Para desencadearesse potencial, será necessário oaumento da visibilidade do grandenúmero de contribuições do setorprivado (ilustradas no Capítulo 4) quepermanecem desiguais e invisíveis –além de estabelecer uma infra-estruturacapaz de canalizar efetivamente essascontribuições. Isso pode ser alcançadoatravés de uma nova organizaçãoprivada central que aproximaria know-how, serviços e recursos da necessidadede sua utilização nos países emdesenvolvimento, principalmenteatravés do setor privado, mas tambématravés de agências governamentais.

Desenvolver vínculos entre empresasmultinacionais e grandes empresasdomésticas visando fortalecerpequenas empresas. Os laços entre osdiferentes tipos de empresas nos paísesem desenvolvimento oferecem umcanal efetivo de acesso a mercados,financiamento, experiências e know-how para as empresas locais. Énecessário e urgente que empresasmultinacionais se integrem melhor apequenas e médias empresas ereforcem elos com o ambientedoméstico, assim como aquelesexistentes entre microempresasdistribuidoras e grandes empresasdomésticas. Muitos atores necessitamtrabalhar em conjunto para que issoocorra. A gama de atividades paratornar duráveis os laços criados incluiinformação, know-how e apoio comexperiência prática.

Buscar oportunidades de negóciosem mercados localizados na base dapirâmide. O reconhecimento dasnecessidades dos mercados localizadosna base da pirâmide e a criação desoluções inovadoras para preencheressas necessidades são ações vitaissolicitadas pelo setor privado, tantodoméstico quanto internacional. Osesforços devem ser feitosprincipalmente pela alcançar aexpansão dos mercados e de novasoportunidades de negócios. A interaçãonos ecosistemas nacionaisprovavelmente resultará em mudançasparalelas no comportamentoeconômico de todos os participantes dacadeia, de operadores informais apequenas e médias empresas e suasfinanciadoras. Isso é importante paradar poderes às pessoas carentes epoderia também ter grande valia nacriação de um mecanismo de avaliaçãopara grandes empresas e multinacionaisavaliarem seu sucesso na criação demercados lucrativos para consumidorespobres.

Estabelecer padrões. O setor privadoprecisa estabelecer um compromissoreal com o desenvolvimento sustentável– com o foco nítido na governançacorporativa e na transparência. Temosdestacado empresas de sucesso quemodificaram o debate em torno dodesenvolvimento dentro de suaseconomias, criado um consensopolítico que libera o caminho para queos governos possam facilitar a expansãoe o crescimento de um vigoroso setorprivado. Tal mudança ocorrerá quandoos administradores pioneirosperceberem o valor da liderança, foremresponsáveis em relação às necessidadesde desenvolvimento social eestabelecerem novos padrões quedemonstrem o valor dasustentabilidade. Hoje, muitas grandesempresas nos países emdesenvolvimento são tambémmultinacionais no sentido em que suasatividades de comércio não mais selimitam ao seu país de origem.Todavia,

C A P Í T U L O 5 : A Ç Õ E S R E C O M E N D A D A S 41

Page 52: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

desempenham um papel diferentedentro de suas economias locais – e sãovistas de maneira diferente demultinacionais, no sentido tradicionaldo termo. As próprias empresas dessenível, onde existam, necessitamcompreender a maior amplitude de suaestrutura de operações e trabalharativamente para criar o novo consensoque propomos. Muitas das iniciativasvoltadas à sustentabilidade discutidasno presente relatório tendem aenvolver grandes multinacionais. Masiniciativas similares ou desdobramentosde iniciativas globais envolvendo osetor privado local podem ser bastanteeficazes na redefinição dos papéis dosdiferentes atores no processo dedesenvolvimento.

Ações recomendadas para asociedade civil e organizações dotrabalhoA Comissão acredita que a sociedadecivil e as organizações do trabalhodevem continuar atuando comoobservadores críticos da agenda dedesenvolvimento – e como promotorese apoiadores de abordagens inovadoraspara atingir os Objetivos deDesenvolvimento do Milênio emelhorar as condições de vida daspessoas carentes. As organizações dasociedade civil desempenham umimportante papel na formação de umapoderosa aliança global que ampliegradualmente a força de cada um dosprincipais atores para atingir essesObjetivos.

Aumentar a responsabilidade nosistema. Esse é um ponto central dotrabalho das organizações da sociedadecivil, uma vez que cabe a elas aliderança para impulsionar o conceitode desenvolvimento sustentável. Essetrabalho deve ser fortalecido.

Desenvolver novas parcerias erelações para atingir objetivoscomuns. Numerosas organizações dasociedade civil estão atuando emparcerias diretas com o setor privadopara combinar os conhecimentos de

gerência e a capacidade financeira deempresas privadas com seu know-howe contatos em mercados localizados nabase da pirâmide, o que pode facilitaruma colaboração do setor privado coma sociedade civil, capaz de desenvolverprogramas de microcrédito em basescomercias e sustentáveis. Asorganizações da sociedade civil estãomais próximas da base da pirâmide.Muitas vezes, elas tambémrepresentam uma opção de base detestes para novas tecnologias de soluçãode problemas. Essas organizaçõesnecessitarão também medir seu êxitoem facilitar parcerias inovadoras entreentes privados para lidar com objetivoseconômicos e de política social.

OLHANDO PARA OFUTURO

Reconhecendo o tamanho e acomplexidade do desafio, a Comissãoconclui pela necessidade da canalizaçãoda capacidade e de recursos privadospara fomentar o próprio setor privadonos países em desenvolvimento.Acreditamos que as energias e asoportunidades continuam sendo poucoaproveitadas, porque as necessidadesdos países em desenvolvimento nãoencontraram correspondênciaapropriada nos recursos e interessesdisponibilizados globalmente. Dessamaneira, nossa proposta de programade ação foi desenhada para funcionarcomo catalisadora de uma respostaprivada forte, que é o principal objetivodo nosso trabalho.

Para promover o progresso, a Comissãorecomenda que as Nações Unidasfomentem o acompanhamento dodesenvolvimento do setor privado. Umrelatório anual de progresso manteria arelevância das recomendações gerais daComissão e asseguraria o compromissocom o tratamento das várias questõesaqui apontadas. Esse relatórioofereceria uma oportunidade paracomemorar progressos e exporobstáculos para o desenvolvimento do

setor privado e deveria ser preparadocom a ajuda de alguns membros daComissão e instituições dedesenvolvimento.

À medida que os principais atorescomecem a trabalhar em conjunto nadireção de objetivos comuns, seráexigida uma mudança significativa naestrutura das interações econômicas epolíticas de muitos países emdesenvolvimento. Os atuaisrelacionamentos rompidos econflitantes terão de ser gradualmentesubstituídos por parceriascolaborativas, em que as ações de cadaator são influenciadas e modificadaspor maiores desafios e pela capacidadede outros.

Visando catalisar esse processo, aComissão está reunindo uma primeiralista de iniciativas exeqüíveis parafacilitar transformações em cada umdos países e fornecer as ferramentasque permitam aos governos e ao setorprivado suplementar os recursosdisponíveis e começar rapidamente aimplementar um programa demudanças. Essas primeiras ações sedestinam a estimular reaçõescolaborativas de potenciais parceirosque leiam o presente relatório. Nossamensagem a todos vocês é: juntem-sea nós.

Nos próximos meses lançaremosiniciativas e consultaremos os leitoresdeste relatório visando atrai-los para atarefa. Convidamos os vários atoresenvolvidos e identificados no presenterelatório a atentarem ao nossochamado e trabalharem prontamentepara transformar idéias iniciais emplanos comerciais definidos, quepodem ser lançados dentro dospróximos seis meses. Somente seformos capazes de criar umsentimento de acompanhamentocontínuo de nosso trabalho inicial,poderemos ter a esperança de liberar aenergia empreendedora das pessoaspobres e aproveitá-la como alavancapara o crescimento do setor privado.

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES42

Page 53: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

omo indicado na Bibliografia a seguir e nasdetalhadas referências citadas abaixo, o presenterelatório baseia-se em uma ampla série dedocumentos e numerosas fontes externas.

Muitas pessoas despenderam bastante tempo e energia contando suas experiênciase visões à Comissão. Essas pessoas estão identificadas na seção dosAgradecimentos.

Recursos institucionais do Grupo Banco Mundial, incluindo a CorporaçãoFinanceira Internacional e a Agência Multilateral de Garantia de Investimentos,foram importantes fontes de informação, conforme especificado no capítulo dereferências abaixo. A obra do Banco Doing Business in 2004: UnderstandingRegulation merece menção especial como base de quantidade substancial dasanálises e conclusões dos Capítulos 2 e 3. As recomendações do Capítulo 3 sãouma síntese de intervenções políticas sugeridas em várias fontes e, em particular,resultado do trabalho de desenvolvimento do setor privado da Organização para aCooperação e o Desenvolvimento Econômico.

NOTA BIBLIOGRÁFICA

C

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 43

Foto

:M

un

ira

Mo

rsh

ed M

un

ni/

PNU

D B

ang

lad

esh

Page 54: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

A Secretaria da Comissão tambémusufruiu de debates e entrevistas comMichael Barth, Richard Frank e PercyMistry, cuja influência é sentida nestedocumento. Da mesma forma, K.V.Kamath, Lalita Gupte e MadhavKalyan do Banco ICICI, e NandanNilekani e Sanjay Purohit do Infosys,ofereceram uma ampla visão sobreabordagens de administração dasprincipais empresas de paísesdesenvolvidos. Suas percepçõestiveram relevância especial para ostemas de desenvolvimento tratados.

REFERÊNCIASADICIONAISCapítulo 1 baseado em Bouton eSumlinski 2000; De Soto 2000; IFAD2002; IFC 2000; McKinsey and Co.2003; Pfeffermann 2000; Prahalad, aser publicado; Prahalad e Hammond2002;World Bank 2002b, 2002c,2003d; UNDP 2003b.

Capítulo 2 baseado em Ananth e Soju2003; Ayyagari, Beck, Demirgüç-Kun2003; Carrington e Detragiache 1998;Cervantes e Guellec 2002; De Soto2000; IFC 1997; McKinsey and Co.2003; Transparency International2003; World Bank 2003a.

Capítulo 3 baseado em De Soto 2000;IFC 1996; McKinsey and Co. 2003;OECD 1993; OECD e UNIDO1999; Rajan e Zingales 2003;WorldBank 2003a.

Capítulo 4 baseado em IFC 2002a;Porter 2003; Prahalad e Hammond2002; Prahalad, a ser publicado; Sapere Saravanamutto 2003; UNCTAD2001, 2002; Wignaraja e Ikiara 1999.

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES44

Page 55: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Ananth, Bindu, Annie George Soju. 2003. “Scaling up Micro-Financial Services:An Overview of Challenges and Opportunities.” ICICI Bank, Mumbai.

Ayyagari, Meghana, Thorsten Beck, Asli Demirgüç-Kunt. 2003. Small andMedium Enterprises across the Globe: A New Database. Washington: WorldBank.

Baghai, Mehrdad, Stephen Coley, David White. 1999. The Alchemy of Growth:Practical Insights for Building the Enduring Enterprise. Reading, Mass.:Perseus Books.

Batra, Geeta, Daniel Kaufman, Andrew Stone. 2003. Investment Climate aroundthe World: Voices of the Firms from the World Business EnvironmentSurvey.Washington: World Bank.

Bouton, Lawrence, e Mariusz Sumlinski. 2000 “Trends in Private Investment inDeveloping Countries: Statistics for 1970–1998.” Discussion Paper 21.International Finance Corporation,Washington.

Carrington,W.J., e E. Detragiache. 1998. “How Big Is the Brain Drain?” WorkingPaper 98. International Monetary Fund, Washington.

BIBLIOGRAFIA

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 45

Foto

:Ph

illip

Arc

her

/PN

UD

Page 56: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Cervantes, Mario, DominiqueGuellec. 2002. “The Brain Drain:Old Myths, New Realities.”OECD Observer May 7.[http://www.oecdobserver.org/news/fullstory.php/aid/673/The_brain_drain:_Old_myths,_new_realities.html]

CIDA (Canadian InternationalDevelopment Agency). 2003.Framework for Private SectorDevelopment. Gatineau, Canada.

Collier, Paul, David Dollar. 2001.Globalization, Growth & Poverty:Building an Inclusive World Society.New York: Oxford UniversityPress.

Daley-Harris, Sam. 2003. “State of theMicrocredit Summit CampaignReport 2003.” Microcredit SummitCampaign, Washington, D.C.

De Soto, Hernando. 2000. TheMystery of Capital:Why CapitalismTriumphs in the West and FailsEverywhere Else. New York: BasicBooks.

Dollar, David, Aart Kray. 2002.Growth Is Good for the Poor.Washington, D.C.:World Bank.

Duggal, Bikram, Amit Singhal. 2002.“Extending Banking to the Poor inIndia.” ICICI Bank, Mumbai.

Easterley,William. 2001. The ElusiveQuest for Growth: Economists’Adventures and Misadventures inthe Tropics. Cambridge, Mass.:MIT Press.

EBRD (European Bank forReconstruction and Development).1998. Financial Sector inTransition. London.

_______. 2002. Transition Report2002: Agriculture and RuralTransition. London.

_______. 2003. Transition Report2003: Integration and RegionalCooperation. London.

Fairbanks, Michael, Stace Lindsay.1997. Plowing the Sea: Nurturingthe Hidden Sources of Growth in theDeveloping World. Boston, Mass.:Harvard Business School Press.

Fields, Gary S., GuyPfeffermann, eds.2003. Pathways out of Poverty:Private Firms and EconomicMobility in Developing Countries.Boston, Mass.: Kluwer AcademicPublishers.

FMO (Netherlands DevelopmentFinance Company). 2003.Partnerships for Development:Annual Report 2002. The Hague,Netherlands.

Harris, Roger W. 2003. Informationand Communication Technologiesfor Poverty Alleviation. New York:United Nations DevelopmentProgramme.

ICICI Bank Ltd. 2003. Annual Report2003. Mumbai, India.

IFAD (International Fund forAgricultural Development). 2002.“Financing Development: TheRural Dimension.” Rome.

IFC (International FinanceCorporation). 1996. Lessons ofExperience: Leasing in EmergingMarkets.Washington, D.C.

_______. 1997. Lessons of Experience:Foreign Direct Investment.Washington D.C.

_______. 2000. “Trends in PrivateInvestment in DevelopingCountries: Statistics for 1970–98.”Discussion Paper 41. WashingtonD.C.

_______. 2002a. Developing Value: TheBusiness Case for Sustainability inEmerging Markets.WashingtonD.C.

_______. 2002b. The Environmentaland Social Challenges of PrivateSector Projects: IFC’s Experience.Washington, D.C.

_______. 2003. “Sub-Saharan Africa:Seeking Sustainable EconomicGrowth.” Washington, D.C.

Infosys Technologies Ltd. 2003.Annual Report 2003. Bangalore,India.

ILO (International LabourOrganization). 2003. “Report ofthe Director General:Working outof Poverty.” Geneva.

International Chamber of Commerceand United Nations. 2003. Nepal:An Investment Guide to Nepal,Opportunities and Conditions. NewYork and Geneva: United Nations.

Kennedy, Richard M., HobohmSarwar. 1999. “Supporting PrivateIndustry: Capacity Building forPrivate Sector Development inAfrica.” Working Paper 3. UnitedNations Industrial DevelopmentOrganization, Vienna.

Klein, Michael U., Bita Hadjimichael.2003. The Private Sector inDevelopment: Entrepreneurship,Regulation, and CompetitiveDisciplines. Washington,D.C.:World Bank.

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES46

Page 57: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Liedholm, Carl, Donald C. Mead.1999. Small Enterprises andEconomic Development: TheDynamics of Micro and SmallEnterprises. New York: Routledge.

Lodge, George C. 2002. “TheCorporate Key: Using BigBusiness to Fight Global Poverty.”Foreign Affairs 81(4): 13–18.

McKinsey and Company. 2003.“Unleashing the Full Potential ofEntrepreneurs to Alleviate Povertyin Less Developed Countries.”Paper prepared for theCommission on the Private Sectorand Development, New York.

Nelson, Jane. 2002. BuildingPartnerships: Cooperation betweenthe United Nations System and thePrivate Sector. New York: UnitedNations.

OECD (Organisation for EconomicCo-operation and Development).1993. DAC Orientation forDevelopment Co-operation inSupport of Private SectorDevelopment. Paris.

_______. 2001. The DevelopmentAssistance Committee (DAC)Guidelines—Poverty Reduction.Paris.

_______. 2003, “Anti-CorruptionAction Plan: Anti-CorruptionNetwork for TransitionEconomies.” Paris.

OECD (Organisation for EconomicCo-operation and Development),UNIDO (United NationsIndustrial DevelopmentOrganisation). 1999. “PolicyGuidelines and Recommendationsfor the Forum forEntrepreneurship and EnterpriseDevelopment.” Paris and Vienna.

Pascual, Patricia J. 2003. E-Governance. New York: UnitedNations Development Programme.

Pfeffermann, Guy. 2000. The Role ofPrivate Enterprise in DevelopingCountries. Washington D.C.:International Finance Corporation.

Porter, Michael E. 2003.“Microeconomic Foundations ofCompetitiveness: A New Agendafor International AidInstitutions.”Workshop with theUnited Nations DevelopmentProgramme Leadership Team,November, New York.

Prahalad, C.K. a ser publicado. TheFortune at the Bottom of thePyramid: Eradicating Povertythrough Profit. Philadelphia,Penn.:Wharton School Publishing.

Prahalad, C.K., Allen Hammond.2002. “Serving the World’s Poor,Profitably.” Harvard BusinessReview September.

Prahalad, C.K. Kenneth Lieberthal.1998. “The End of CorporateImperialism.” Harvard BusinessReview July-August.

Rajan, Raghuram G., Luigi Zingales.1998. “Which Capitalism? Lessonsfrom the East Asian Crisis.”Journal of Applied CorporateFinance 11(3): 40–48.

_______. 2003. Saving Capitalismfrom the Capitalists. New York:Crown Business.

Saper, Arthur, Neil Saravanamutto.2003. “Private Sector and PovertyReduction: Growth,Transformation and Prosperity.”Canadian InternationalDevelopment Agency, Gatineau,Canada.

Sen, Amartya. 1999. Development asFreedom. New York: Alfred A.Knopf.

Shirole, Sanjay. 2003. “SMEFinancing in India: Challenges andOpportunities.” ICICI Bank,Mumbai.

SIDA (Swedish InternationalDevelopment CooperationAgency). 2003. “Making MarketsWork for the Poor.” Stockholm.

Smilor, Ray. 2001. Daring Visionaries:How Entrepreneurs BuildCompanies, Inspire Allegiance, andCreate Wealth. Holbrook, Mass.:Adams Media Corporation.

Snoodgrass Donald R., James PackardWinkler. 2003. “EnterpriseGrowth Initiatives: Where AreThey Going.” DevelopmentAlternatives, Inc., Bethesda, Md.

Stiglitz, Joseph E. 2002. Globalizationand Its Discontents. New York:W.W. Norton and Company.

B I B L I O G R A F I A 47

Page 58: DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO · DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES Comissão para o Setor Privado& Desenvolvimento RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO

Transparency International. 2003.“Transparency InternationalCorruption Perceptions Index2003.” Berlin.

UNCTAD (United NationsConference on Trade andDevelopment). 2002. WorldInvestment Report: TransnationalCorporations and ExportCompetitiveness. New York andGeneva.

_______. 2003. Investment andTechnology Policies forCompetitiveness: Review ofSuccessful Country Experiences.Technology for DevelopmentSeries. New York and Geneva:United Nations.

UNDP (United Nations DevelopmentProgramme). 2001. HumanDevelopment Report 2001: MakingNew Technologies Work for HumanDevelopment. New York: OxfordUniversity Press.

_______. 2002. Human DevelopmentReport 2002: Deepening Democracyin a Fragmented World. New York:Oxford University Press.

_______. 2003a. African StockMarkets: Handbook.

_______. 2003b. Human DevelopmentReport 2003: MillenniumDevelopment Goals: A Compactamong Nations to End HumanPoverty. New York: OxfordUniversity Press.

United Nations. 2002a. “TheMonterrey Consensus— FinalOutcome of the UN InternationalConference on Financing forDevelopment, March 2002.” NewYork.

_______. 2002b. “Report of the High-Level Panel on Financing forDevelopment.” New York.

_______. 2002c. “Report of the WorldSummit for SustainableDevelopment (WSSD).” NewYork.

Weeks, Julie R., Danielle Seiler. 2001.“Women’s Entrepreneurship inLatin America: An Exploration ofCurrent Knowledge.” Inter-American DevelopmentBank,Washington, D.C.

“Western China Offers HugeOpportunities for OverseasChinese Entrepreneurs.” 2002.People’s Daily March 2.

Wignaraja, G, G. Ikiara. (1999.),“Adjustment, TechnologicalCapabilities and EnterpriseDynamics in Kenya.” In S. Lall,ed. The Technological Response toImport Liberalization in Sub-Saharan Africa. London:Macmillan.

Willem te Velde, Dirk. 2002.“Government Policies for InwardForeign Direct Investment inDeveloping Countries:Implications for Human CapitalFormation and Income Inequality.”Technical Paper 193. OECDDevelopment Centre, Paris.

World Bank. 2001. WorldDevelopment Report 2000/01:Attacking Poverty. New York:Oxford University Press.

_______. 2002a. A Case for Aid:Building a Consensus forDevelopment Assistance.Washington, DC.

_______. 2002b. Global EconomicProspects and the DevelopingCountries 2002. Washington,D.C.

_______. 2002c. World DevelopmentReport 2002: Building Institutionsfor Markets. New York: OxfordUniversity Press.

_______. 2002d. “Private SectorDevelopment Strategy: Directionsfor the World BankGroup.”Washington, D.C.

_______. 2003a. Doing Business in2004: Understanding Regulation.New York: Oxford UniversityPress.

_______. 2003b. World DevelopmentReport 2003: SustainableDevelopment in a Dynamic World.Transforming Institutions, Growth& Quality of Life. New York:Oxford University Press.

_______. 2003c. World DevelopmentReport 2004: Making Services Workfor Poor People. New York: OxfordUniversity Press.

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES48