linhas de orientação para uma alimentação vegetariana saudável

50
  Julho de 2015 0 LINHAS DE ORIENTAÇÃO PARA UMA ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA SAUDÁVEL

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alimentação vegetariana

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  • Julho de 2015

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    LINHAS DE ORIENTAO PARA

    UMA ALIMENTAO

    VEGETARIANA SAUDVEL

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    Autores

    Sandra Cristina Gomes Silva

    Joo Pedro Pinho

    Ctia Borges

    Cristina Teixeira Santos

    Alejandro Santos

    Pedro Graa

    Design

    IADE - Instituto de Arte, Design e Empresa

    Edio Grfica

    Sofia Mendes de Sousa

    Editor

    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel

    Direo-Geral da Sade

    Alameda D. Afonso Henriques, 45 - 1049-005 Lisboa

    Portugal

    Tel.: 21 843 05 00

    E-mail: [email protected]

    Lisboa, 2015

    ISBN

    978-972-675-228-8

    A informao disponibilizada no presente manual imparcial e pretende

    estar de acordo com a evidncia cientfica mais recente. Os documentos

    assinados pelos autores, bem como links externos no pertencentes equipa

    editorial so da responsabilidade dos mesmos. Os documentos e informao

    disponibilizados no podem ser utilizados para fins comerciais, devendo ser

    referenciados apropriadamente quando utilizados.

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    NDICE

    PREMBULO .................................................................................................................................. 5

    RESUMO ........................................................................................................................................ 6

    ABSTRACT ...................................................................................................................................... 7

    AGRADECIMENTOS........................................................................................................................ 8

    INTRODUO ................................................................................................................................ 9

    ALIMENTAO VEGETARIANA .................................................................................................... 14

    Breve histria e conceitos associados ..................................................................................... 14

    O conceito de Dieta Vegetariana e sua classificao .............................................................. 16

    Benefcios/riscos de uma dieta vegetariana ........................................................................... 17

    Alimentos habitualmente presentes numa dieta vegetariana ............................................... 18

    ADEQUAO NUTRICIONAL DA ALIMENTAO VEGETARIANA ................................................. 20

    Energia ..................................................................................................................................... 20

    Macronutrientes ..................................................................................................................... 21

    Vitaminas ................................................................................................................................. 27

    Minerais e Oligoelementos ..................................................................................................... 31

    CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................................. 38

    ANEXO ......................................................................................................................................... 40

    TABELA 1 - Resumo da Distribuio de Macronutrientes ....................................................... 40

    TABELA 2 - Resumo da Ingesto Diria Recomendada ........................................................... 41

    TABELA 3 - Resumo da Ingesto Mxima Recomendada ........................................................ 42

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................................... 43

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    PREMBULO

    O Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel tem como misso melhorar

    o estado nutricional da populao, incentivando a disponibilidade fsica e econmica de

    alimentos constituintes de um padro alimentar saudvel e criar as condies para que a

    populao os valorize, aprecie e consuma, integrando-os nas suas rotinas dirias. Com a

    edio deste Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel cumprem-se

    parte destes pressupostos, dando a conhecer e valorizando um modelo de consumo alimentar

    saudvel junto da populao e criando condies para que pela primeira vez, neste formato,

    em Portugal, os profissionais de sade possam aceder a informao que lhes permitam ser

    mais conhecedores e competentes numa rea em franca expanso.

    Pedro Graa

    Diretor PNPAS

    So vrios os nveis a que este livro opera de forma exemplar. Em primeiro lugar, oferece uma

    perspetiva histrica da opo pela alimentao vegetariana, proporcionando a compreenso

    dos argumentos filosficos, religiosos, sociais, utpicos e relacionados com a sade humana

    dos vegetarianos e passando em revista os perodos histricos e os nomes dos grandes

    defensores deste regime alimentar.

    Em segundo lugar, cumpre a funo didtica de esclarecer as diferenas entre vrios tipos de

    dieta normalmente relacionados com o vegetarianismo e oferece uma viso lcida dos

    benefcios do regime e da sua exequibilidade num pas como o nosso, com uma produo

    variada de alimentos de origem vegetal ao longo do ano, ao mesmo tempo que alerta para os

    riscos de uma dieta vegetariana mal planeada.

    Por ltimo, oferece informao importante sobre a adequao nutricional da alimentao

    vegetariana, disponibilizando tabelas que podem ser utilizadas por vegetarianos e uma

    bibliografia que orienta os interessados em aprofundar o estudo deste regime alimentar.

    sem dvida de louvar, esta iniciativa da Direo-Geral de Sade, que ao reconhecer a

    existncia de um nmero significativo de vegetarianos em Portugal intervm no sentido de

    conceder os instrumentos necessrios aos profissionais de sade e educao para um

    aconselhamento informado.

    Ftima Vieira

    Presidente da Utopian Studies Society/Europe

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    RESUMO

    Os padres alimentares que integram total ou quase totalmente, produtos de origem vegetal,

    parecem ser conhecidos e seguidos desde, pelo menos, a Antiguidade Clssica, essencialmente

    por razes de mbito filosfico e religioso, mas tambm de sade. Nas ltimas dcadas, com o

    aumento do conhecimento nas cincias da nutrio e do ambiente, tem aumentado a

    evidncia cientfica a favor da maior presena de produtos de origem vegetal na nossa

    alimentao. As populaes com consumos elevados ou exclusivos de produtos de origem

    vegetal parecem ter menor probabilidade de contrarem doenas crnicas, como doena

    cardiovascular, certos tipos de cancro, diabetes e obesidade.

    Este padro alimentar ou dieta no uniforme, podendo ser exclusivamente baseado em

    produtos de origem vegetal (vegetariano estrito ou vegano) ou, por exemplo, incluir ovos e

    laticnios (ovolactovegetariano). Na sua base esto, geralmente, fruta, hortcolas, cereais,

    leguminosas, frutos gordos e sementes, de preferncia locais, da poca e minimamente

    processados.

    As linhas de orientao para uma alimentao vegetariana saudvel, propostas neste

    documento, tiveram em conta o indivduo adulto saudvel, no devendo, por este motivo, ser

    extrapoladas para outras fases do ciclo de vida. A adequao desta dieta s vrias fases do

    ciclo de vida, incluindo a infncia, adolescncia, gravidez, lactao, idosos e tambm

    desportistas, implica um bom planeamento e acompanhamento da mesma.

    Este modelo de consumo alimentar, para que seja considerado nutricionalmente adequado,

    deve ter em conta a ingesto apropriada e a biodisponibilidade de alguns nutrientes como a

    protena, cidos gordos essenciais, vitamina B12, vitamina D, iodo, ferro, clcio e zinco, e

    tambm o valor energtico. ainda importante considerar a diversidade de alimentos, a

    reduo das quantidades de sal, acar e gorduras saturadas e a ingesto adequada de gua.

    No caso da vitamina B12, dada a inexistncia de fontes nutricionais numa dieta vegana, esta

    dever ser obtida atravs de alimentos enriquecidos ou por suplementos alimentares.

    Apesar deste padro alimentar ser, de um modo geral, saudvel e fcil de adotar, em

    particular em pases como Portugal, onde existe uma oferta abundante e variada de vegetais

    ao longo do ano e onde os modos de confeo tradicionais j incluem na sua base vegetais,

    existe ainda uma grande falta de informao por parte dos profissionais de sade e educao,

    associada a muita informao de m qualidade nos formatos online que este manual pretende

    colmatar.

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    ABSTRACT

    Dietary patterns consisting exclusively, or mostly, of plant foods seem to have been common

    knowledge and followed since as far as the classical antiquity, essentially on philosophical and

    religious grounds, but also for health reasons. Over the last decades, alongside with an

    increase of knowledge on nutrition and environmental sciences, there has been an increment

    on scientific evidence in favor of a greater presence of plant foods in our diet. Populations

    showing high or exclusive consumption of plant foods seem to be less prone to develop

    chronic diseases, such as cardiovascular disease, certain types of cancers, diabetes and obesity.

    This dietary pattern, or 'diet', is not a uniform one, as it may consist solely of plant foods (strict

    vegetarian or vegan) but it can also include other elements such as eggs and dairy products

    (ovolactovegetarian). At its core there is usually fruit, vegetables, cereals, legumes, nuts and

    seeds, which should preferably be local ones, in season and minimally processed.

    The guidelines for a healthy vegetarian diet which are proposed in this document have been

    designed considering the healthy adult, which is why they should not be applied to other

    stages of a life cycle. The adequacy of this "diet" to the different stages of life, including

    childhood, adolescence, pregnancy, lactation, old age, and even to athletes, requires

    appropriate planning and monitoring.

    In order for this dietary pattern to be considered nutritionally adequate, factors such as the

    appropriate intake and bioavailability of certain nutrients such as protein, essential fatty acids,

    vitamin B12, vitamin D, iodine, iron, calcium and zinc and also caloric intake should be taken

    into account. Moreover, it is important to consider food diversity, the reduction in quantities

    of salt, sugar and saturated fats, and the adequate intake of water. In the case of vitamin B12,

    and due to the absence of nutritional sources in a vegan diet, it has to be provided through

    enriched foods or supplements.

    Although this food pattern is generally healthy and easy to adopt, particularly in countries like

    Portugal, where there is a varied and abundant offer of fruit, vegetables and other plant foods

    throughout the year, and where traditional cooking methods already include plant foods in

    their base, there is still considerable lack of information on the part of health and education

    professionals, associated with poor-quality information on online formats, a situation which

    this manual aims at improving.

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    AGRADECIMENTOS

    Cumpre-nos agradecer ao CHMA, EPE., na pessoa do Senhor Prof. Doutor Amrico dos Santos

    Afonso, Presidente do Conselho de Administrao desta Instituio, toda a recetividade

    proposta de trabalho e incentivo para a sua consecuo, tanto mais de louvar pelo

    reconhecimento implcito do valor da investigao em simultaneidade com o desempenho de

    funes dos autores.

    Agradecemos ainda ao Prof. Doutor Srgio Castedo, Dra. Helena Carvalho e Dras. Sofia

    Mendes de Sousa, Andreia Correia, Joana Carrio e Ins Soares (PNPAS) pela inestimvel

    colaborao na reviso deste documento.

    Agradecemos Dra. Patrcia Henriques (DGS) pelo valioso contributo no processo de

    divulgao deste manual.

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    INTRODUO

    Nos ltimos anos, acumulou-se evidncia cientfica a favor do aumento, na nossa alimentao,

    da presena de produtos de origem vegetal. Inicialmente, foram descritas as vantagens da

    ingesto de diversas substncias presentes nos vegetais, principalmente vitaminas e minerais,

    capazes de reduzir os riscos de deficincia nutricional. A descoberta de novas substncias

    fitoqumicas presentes nos produtos de origem vegetal, com propriedades antioxidantes e

    anti-inflamatrias, capazes de proteger as clulas (nomeadamente carotenoides, flavonoides,

    isoflavonas, fitoesteris, lignanas), aumentou o interesse pelo consumo de vegetais, em

    particular fruta e hortcolas. Este interesse ainda aumentou, quando se concluiu que o seu

    efeito protetor podia ser ampliado pela atuao sinrgica dos vrios fitoqumicos presentes

    nos produtos de origem vegetal, sugerindo que estes e as suas mltiplas combinaes, por

    exemplo, em preparaes culinrias, podiam ser mais interessantes na proteo da sade do

    que os nutrientes por si s(1).

    Estava lanada a discusso que hoje entusiasma epidemiologistas, mdicos de sade pblica,

    nutricionistas e outros profissionais de sade, sobre os benefcios do consumo de produtos de

    origem vegetal e o seu papel na preveno de doena, nomeadamente na preveno de

    doenas muito prevalentes na nossa sociedade, como a doena cardiovascular(2), a doena

    oncolgica(3), a obesidade(4) e a diabetes(5). A evidncia aponta no s para a importncia do

    consumo regular de produtos de origem vegetal, como para o facto de uma alimentao

    exclusivamente baseada nestes produtos ser igualmente ou at mais protetora da sade

    humana. Por outro lado, sabemos hoje que uma alimentao exclusivamente vegetariana,

    quando bem planeada, pode preencher todas as necessidades nutricionais de um ser humano

    e pode ser adaptada a todas as fases do ciclo de vida, incluindo a gravidez, lactao, infncia,

    adolescncia e em idosos ou at atletas(6, 7).

    Na literatura cientfica cada vez maior o interesse nesta rea, o que reflete, em parte, a

    crescente procura da informao dos padres alimentares exclusivamente vegetarianos, mas

    tambm pela crescente evidncia de potenciais benefcios para a sade que os mesmos

    acarretam. Nos ltimos 40 anos, tem-se assistido a um aumento do nmero de artigos

    cientficos sobre a dieta vegetariana. Segundo a base de dados cientfica PUBMED, existiam

    em meados de 2015 mais de 3.000 publicaes sob o tema vegetarian ou vegan(8), sendo

    que aproximadamente metade foi publicada nos ltimos 10 anos.

  • 10

    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    O interesse pelas dietas vegetarianas no se reduz apenas s questes da sade. Existem

    diversas razes que levam um crescente nmero de pessoas, em todo o mundo, a aderir a

    padres alimentares com menores quantidades de produtos de origem animal (por ex. sem

    peixe ou carne) ou at exclusivamente vegetarianos.

    Uma das principais razes apontadas para a opo por uma dieta vegetariana tem sido as

    questes ambientais. As escolhas alimentares provocam um grande impacto na natureza. Por

    exemplo, na Europa, o consumo alimentar representa 20% a 30% do impacto ambiental de

    uma famlia(9) e pequenas mudanas, como a eliminao do consumo de carne, podem ter

    grande influncia nesta reduo, da ordem dos 25%(10, 11). Recentemente, as Naes Unidas

    voltaram a insistir na promoo e utilizao do termo Dieta Sustentvel, um conceito

    introduzido nos anos 80 que prope o desenvolvimento de padres alimentares saudveis

    para os consumidores e para o meio ambiente(12). Assim, uma Dieta Sustentvel deve ter um

    baixo impacto ambiental contribuindo para padres elevados de segurana alimentar e de

    sade das geraes futuras. Uma dieta sustentvel deve proteger e respeitar a biodiversidade

    e os ecossistemas, ser culturalmente aceitvel, facilmente acessvel, economicamente justa e,

    se possvel, nutricionalmente adequada, segura e saudvel. Deve otimizar os recursos naturais

    e humanos disponveis. Para alm de ter em conta a necessidade de produzir alimentos com

    reduzido consumo de gua e de carbono, promover a biodiversidade alimentar e em particular

    os produtos alimentares locais e tradicionais(13). Neste conceito, enquadram-se perfeitamente

    os padres alimentares do Mediterrneo, reconhecidos pela reduzida ingesto de alimentos

    de origem animal e por grandes quantidades de vegetais e, tambm, os padres alimentares

    com participao exclusiva ou quase exclusiva de produtos de origem vegetal, os padres

    alimentares vegetarianos(14-16).

    Outros motivos ajudam a explicar a adeso a este padro alimentar, que tambm pode ser

    enquadrado como um modelo de vida, nomeadamente no que diz respeito s questes

    relacionadas com a proteo, bem-estar e direito dos animais(17-19).

    Se nos ltimos anos, tem mudado a perceo sobre as dietas vegetarianas, quer do ponto de

    vista dos seus efeitos sobre a sade, quer do ponto de vista social, a promoo efetiva de

    padres alimentares com maior incorporao de produtos de origem vegetal na nossa

    alimentao ainda muito reduzida(20). Por exemplo, nos Estados Unidos da Amrica, as

    recomendaes provenientes do Governo e presentes nos guias alimentares oficiais (My

    Plate), sugerem um consumo dirio de frutos e hortcolas de aproximadamente 50% do total

    das pores consumidas. No entanto, o Ministrio da Agricultura apenas atribui 1% dos seus

    subsdios para apoiar a pesquisa, produo e marketing de frutos e hortcolas(21). Inclusive na

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    Europa, o consumo de fruta e hortcolas tem vindo a decair na ltima dcada. Em 2012, era de

    aproximadamente 386,96 g/per capita/dia, um decrscimo de 8,7%, comparado com as

    mdias registadas no perodo 2007-2011. Dos 28 Estados Membros da Unio Europeia, 18

    possuem consumos estimados abaixo dos 400g/dia de frutos e hortcolas, recomendados pela

    Organizao Mundial de Sade(22).

    O crescente interesse dos cidados pelas dietas vegetarianas e a procura de alternativas

    alimentares saudveis tem estimulado o crescimento de um nicho de mercado. Atualmente, e

    mais do que nunca, as opes vegetarianas esto mais acessveis e relativamente fcil adotar

    uma dieta vegetariana, pois alguns bens alimentares e refeies vegetarianas encontram-se

    disponveis, no s em lojas especializadas, mas tambm na internet, nos mercados habituais,

    hipermercados e nas praas de alimentao das grandes superfcies comerciais. A introduo

    de novos produtos destinados a vegetarianos como produtos alimentares (alternativas

    vegetarianas como bebidas vegetais e anlogos de carne), alimentos fortificados (como

    cereais de pequeno-almoo) e de suplementos alimentares de origem vegetal (como mega 3

    proveniente de microalgas e vitamina D proveniente de determinadas leveduras de uso

    alimentar frequentemente designadas na literatura como nutritional yeast) est em

    crescimento. Segundo algumas anlises de mercado, as perspetivas econmicas so positivas e

    continuaro a ser impulsionadas por uma tendncia crescente de consumo no s por parte de

    vegetarianos, mas tambm de outras pessoas que procuram estas opes(23). De todos os

    novos produtos introduzidos no mercado britnico no ano de 2009, 6% eram destinados a

    vegetarianos (ou aptos para vegetarianos), sendo que em 2013 esta percentagem ter

    alcanado os 12%. Estimou-se que este mercado tenha atingido valores na ordem dos 543

    milhes de libras em 2009 e dos 625 milhes de libras em 2013(24). Tambm os livros de

    receitas, revistas e os menus dos restaurantes esto cada vez mais repletos de opes

    vegetarianas apelativas.

    A crescente quantidade e acessibilidade de informao disponvel na internet e noutros meios

    de comunicao generalistas pode contribuir para uma melhor compreenso e aceitao deste

    tipo de dietas. No entanto, podero tambm ser meios de partilha de informao puramente

    comercial, sem rigor cientfico, podendo colocar em causa o estado nutricional destes

    indivduos e, consequentemente a sua sade.

    A adoo de um padro alimentar do tipo vegetariano exige conhecimento, treino na compra e

    confeo e algum tempo para uma assimilao adequada de alguns princpios alimentares.

    Nomeadamente para a obteno de uma quantidade adequada de vitaminas (por ex. vitamina

    B12), minerais (por ex. ferro), gordura (mega 3) e protenas. Por outro lado, a rejeio de

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    produtos de origem animal na nossa alimentao, total ou parcialmente, no implica que esta

    se torne automaticamente mais saudvel. Ou seja, uma dieta vegetariana, se mal planeada,

    pode ser to perniciosa como uma dieta no vegetariana desequilibrada. Se esta for rica em

    produtos excessivamente processados, pode fornecer maior quantidade de gordura, de

    energia/calorias ou de sal.

    ainda importante sublinhar que possvel adotar uma dieta vegetariana recorrendo de

    forma mnima a suplementos alimentares e a produtos processados fora da nossa tradio

    alimentar. Felizmente, Portugal possui condies mpares para uma produo vegetal de

    elevada qualidade, com uma grande variedade sazonal e muito diversificada. Para alm disso,

    toda a nossa tradio gastronmica tem como base os produtos de origem vegetal, a comear

    pela sopa de hortcolas, uma das peas centrais da gastronomia portuguesa. Depois, o po e as

    leguminosas de diversas variedades, passando pelo azeite como gordura central de grande

    qualidade at s centenas de variedades de fruta e hortcolas. Dentro dos produtos vegetais

    disponveis em Portugal, mas ainda no suficientemente valorizados, esto, por exemplo, as

    algas, o agrio, as beldroegas, a acelga, a farinha de alfarroba, algumas variedades nacionais

    de feijo e gro, a batata-doce, a chicria, a castanha e as bolotas.

    O sucesso da adoo sustentada de uma dieta vegetariana pressupe variedade, sabor e

    prazer mesa, dentro da nossa tradio e cultura alimentar, mas tambm a sustentabilidade

    econmica, ou seja, a adoo deste padro alimentar deve ser comportvel com a capacidade

    de aquisio das famlias.

    Deste modo, importante que os indivduos interessados em iniciar ou melhorar a sua

    alimentao e com interesse em adotar uma dieta vegetariana a longo prazo, consultem os

    seus profissionais de sade. Estes devem estar informados e saber informar acerca dos

    benefcios e riscos associados a este tipo de alimentao, mas tambm aconselhar e

    acompanhar na prtica a sua execuo e a ajudar a ultrapassar as naturais barreiras que

    possam surgir inicialmente(7, 25).

    Concomitantemente, os tcnicos responsveis pelos Servios de Alimentao e produo de

    refeies das instituies pblicas e privadas, como creches, escolas, hospitais, lares e prises

    devero estar sensibilizados, formados e capacitados para a elaborao de capitaes, fichas

    tcnicas e de ementas, no sentido do fornecimento adequado de refeies vegetarianas, dado

    o nmero crescente de vegetarianos e de no-vegetarianos que desejam, esporadicamente,

    diminuir o consumo de produtos de origem animal.

  • 13

    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    Este manual surge com o duplo objetivo de informar todos os profissionais de sade e

    responsveis por servios alimentares interessados numa introduo simplificada, mas

    rigorosa e isenta, ao tema e de servir, ao mesmo tempo, como ferramenta de apoio e

    esclarecimento para todos os potenciais adeptos de uma alimentao vegetariana, evitando

    erros que possam colocar a sua sade em risco.

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    ALIMENTAO VEGETARIANA

    Breve histria e conceitos associados

    O padro alimentar vegetariano, que aqui designamos por alimentao vegetariana ou

    dieta vegetariana conhecido desde os tempos da Grcia Clssica. Desde ento, a opo por

    este modo de comer tem sido determinado por motivos religiosos, por questes de sade

    (essencialmente por receio de potenciais riscos de comer carne ou sangue de animal para a

    sade humana) e por questes filosficas, em particular sobre a relao dos seres humanos

    com os outros animais. Durante este perodo e at muito recentemente, a opo por um

    padro alimentar vegetariano foi construdo, quase sempre, como uma oposio ao consumo

    de carne, mais do que sobre as vantagens de consumir produtos de origem vegetal.

    Um dos mais famosos precursores da alimentao vegetariana na Europa foi Pitgoras de

    Samos, que no sculo VI a.C., fundou uma comunidade de matemticos msticos que, dizia-se,

    observavam a proibio de comer animais pois consideravam-nos como tendo o direito de

    viver em comum com a humanidade(26). Outros pensadores da Grcia clssica como Plutarco

    escreveram sobre o consumo de carne ou a sua abstinncia. No caso de Plutarco, nas suas

    Obras Morais (Ethica ou Moralia) e em particular no seu texto, De esu carnium (Sobre o

    consumo de carne), verifica-se uma apologia da alimentao vegetariana, assente no

    reconhecimento de que os animais possuem inteligncia e imaginao(27). O interesse na

    proibio proposta por Pitgoras foi renovado posteriormente por filsofos neoplatonistas

    pagos que buscavam a purificao da alma, ideal que persistiu pelo menos at incio do

    sculo XIX. Uma explicao do vegetarianismo pitagrico e das crenas de alguns pensadores

    gregos da antiguidade clssica era o facto de acreditarem na transmigrao das almas ou

    metempsicose das almas. Se a alma, depois de morte, pudesse passar para o corpo de outra

    espcie animal, o vegetarianismo seria a nica maneira de evitar o canibalismo e portanto

    fator de dissuaso da sarkophagia (consumo de carne). Durante a Idade Mdia e incio do

    perodo moderno ser vegetariano era sinnimo de ter a crena pag na migrao das almas,

    considerada uma heresia. Esta situao, a par da escassez e necessidade de carne ao longo

    deste perodo, fez com que os seus seguidores praticamente desaparecessem.

    A redescoberta dos autores gregos clssicos durante o Renascimento e principalmente a partir

    do sculo XVI, renova o interesse na noo de que os animais eram sensveis dor e, portanto,

    eram merecedores de considerao moral. Diversos pensadores como o Veneziano Luigi

  • 15

    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    Cornaro que produz em 1548, o Tratto della Vita Sobria, mas tambm Erasmo (1467-1536) ou

    Thomas More (1478-1535), escreveram sobre o bem-estar dos animais, recusando o consumo

    de carne ou denunciando as prticas de maus tratos a animais. Mas no sculo XVII que se

    sedimentam os movimentos a favor de uma alimentao vegetariana, tendo por base aspetos

    religiosos, filosficos e morais contra o sofrimento dos animais. No sculo. XIX, com o advento

    do movimento romntico e perspetiva humanista associada, o poeta Shelley, que adere ao

    vegetarianismo em 1812, acrescenta uma dimenso poltica causa do vegetarianismo,

    apontando o uso ineficiente dos recursos e a produo e distribuio desigual de carne como

    uma razo para a escassez de alimentos entre os mais necessitados na sociedade. O ano de

    1809 marca o incio de um movimento, dentro de uma ramificao da igreja Inglesa, em

    direo ao vegetarianismo como uma expresso da f crist. A Igreja Bblia Crist fundada

    em Salford (Reino Unido) em 1809 e o reverendo William Cowherd identifica diversas

    referncias bblicas contra o consumo de carne. Em 1850, parte deste movimento cria a

    Sociedade Vegetariana Norte-americana. Os movimentos cristos mais radicais do um grande

    mpeto ao movimento vegetariano neste perodo, tanto em Inglaterra como nos Estados

    Unidos da Amrica. Entre eles, a Igreja Adventista do Stimo Dia. Um dos seus membros mais

    famosos John Harvey Kellogg, pregador e inventor dos populares cereais de pequeno-almoo

    e de todo um modo de comer e viver sem carne(28).

    Em Portugal e no incio do sculo XX, registou-se, na cidade do Porto, um primeiro movimento

    a favor da alimentao vegetariana, liderado por ngelo Jorge, autor da utopia frugvora

    Irmnia e acompanhado por diversas individualidades da burguesia portuense. Nesta altura,

    fundada a Sociedade Vegetariana de Portugal, que entre outras atividades se dedicaria

    propaganda do naturista e divulgao do vegetarismo, da educao fsica, da higiene e cura

    naturais. Nestes primrdios do movimento vegetariano em Portugal, um dos seus principais

    impulsionadores, ngelo Jorge, defende a alimentao frugvora, considerando que se os

    homens voltarem a ser frugvoros a questo social ser resolvida; e em Irmnia, a utopia

    inventada pelo autor, ele tenta provar o seu ponto de vista, colocando em confronto os males

    da civilizao moderna, carnvora por excelncia, com a beleza, o pacifismo, a sageza e a vida

    fcil dos frugvoros(29, 30).

    No sculo XX e progressivamente, para alm das questes morais e religiosas, o consumo de

    uma alimentao vegetariana passa a estar associado, cada vez mais, a um discurso de

    proteo ambiental e da biodiversidade, do bem-estar dos animais e fundamentalmente pelas

    questes de sade associadas ao consumo de produtos de origem vegetal, que abordaremos

    em maior detalhe(19).

  • 16

    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    O conceito de Dieta Vegetariana e sua classificao

    Dieta vegetariana um termo geralmente atribudo a um padro de consumo alimentar que

    utiliza predominantemente os produtos de origem vegetal. Exclui sempre a carne e o pescado

    mas pode incluir ovos ou laticnios. A incluso de laticnios e/ou ovos um dos principais

    fatores de diferenciao das dietas vegetarianas(7, 31). Os cereais, hortcolas, fruta, leguminosas,

    frutos gordos e sementes so os alimentos comuns aos vrios tipos de dietas vegetarianas.

    A alimentao vegetariana pode-se classificar como:

    Ovolactovegetariana exclui carne e pescado, permite ovos e laticnios

    Lactovegetariana exclui carne, pescado e ovos, permite laticnios

    Ovovegetariana exclui carne, pescado e laticnios, permite ovos

    Vegetariana estrita e vegana exclui todos os alimentos de origem animal(6, 25).

    No caso das dietas vegetarianas estritas e veganas, considera-se a excluso de todos os

    alimentos de origem animal:

    Carne, pescado e ovos (e seus derivados), laticnios, mel, gelatina (exceto a de origem vegetal),

    banha, ovas, insetos, moluscos, crustceos, entre outros, e todos os produtos que os

    contenham.

    Alguns produtos processados podem conter ingredientes e aditivos que podero ser de origem

    animal, como por exemplo: albumina, gordura animal, corantes (como o cido carmnico -

    E120), casena e glicerina(32). Alguns aditivos podero ser aptos para uma dieta

    ovolactovegetariana e no para a vegana.

    A adoo de um determinado tipo de dieta vegetariana est muitas vezes relacionada com os

    diferentes motivos que levam as pessoas a praticar este padro alimentar (sade, bem-estar

    dos animais, ambiente, religio, motivos espirituais ou ticos)(33). Por exemplo, o vegano

    relativamente a quem pratica um padro alimentar vegetariano estrito, para alm de excluir o

    consumo de alimentos de origem animal, exclui do seu dia-a-dia todos os produtos de origem

    animal, como vesturio (peles, couro, l, seda, camura), adornos (prolas, plumas, penas,

    marfim,), produtos testados em animais (produtos de higiene e maquilhagem) e condena a

    utilizao de animais como forma de entretenimento (touradas, circos e jardins zoolgicos)(31).

    Alguns indivduos referem ter uma alimentao semivegetariana (flexitarians). Embora no

    exista uma nica definio de semivegetariano, comummente aceite que este seja um

    padro que apenas exclui a carne ou o pescado, ou algum que apenas consome

  • 17

    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    esporadicamente carne ou peixe. Este tipo de alimentao no , contudo, considerada

    vegetariana(31).

    O padro alimentar macrobitico, no sendo considerado vegetariano, baseia-se

    predominantemente em produtos de origem vegetal. Os cereais integrais so a base da

    alimentao, sendo esta complementada com hortcolas, leguminosas, algas e leos vegetais.

    Como parte desta dieta, poder-se- incluir o pescado, sendo esta a principal distino em

    relao dieta vegetariana. A carne, ovos e produtos lcteos ocupam o topo da pirmide

    macrobitica, devendo o seu consumo ser opcional, espordico ou apenas num perodo de

    transio(34).

    Neste documento, o termo vegetariano ser usado para referenciar a alimentao ovolacto-,

    lacto-, ovovegetariana, vegetariana estrita ou vegana, a no ser que seja mencionado o

    contrrio.

    No se sabe, ao certo, quantos vegetarianos h no mundo, no entanto as estimativas apontam

    para um nmero crescente a cada ano. As estatsticas demonstram que nos EUA 7,3 milhes

    de pessoas possam ser vegetarianas(35), assim como 3,6 milhes no Reino Unido(36) e 30.000

    em Portugal(37).

    Benefcios/riscos de uma dieta vegetariana

    A diversidade de padres alimentares uma importante caracterstica da cultura humana,

    existindo vrias formas do ser humano se poder alimentar saudavelmente. Uma alimentao

    saudvel aquela que tem em considerao as necessidades individuais de cada pessoa,

    devendo ser suficiente, equilibrada, diversificada e adaptada a cada situao e

    circunstncia(38).

    A dieta vegetariana tem sido largamente estudada nos ltimos anos, nomeadamente, na

    preveno de doenas muito prevalentes na nossa sociedade. Estudos epidemiolgicos tm

    documentado benefcios importantes e mensurveis das dietas vegetarianas e outras base

    de produtos vegetais, tais como a reduo da prevalncia de doena oncolgica(39-48),

    obesidade(4, 40, 49-53), doena cardiovascular(2, 39, 41, 54, 55), hiperlipidemias(56-58), hipertenso(39, 52, 53,

    59, 60), diabetes(5, 39, 42, 52, 53, 61), assim como aumento da longevidade(39, 53, 62).

    importante referir que uma dieta vegetariana poder estar associada a um estilo de vida

    saudvel, nomeadamente em termos de hbitos tabgicos(63), consumo de lcool(40, 63),

    atividade fsica e lazer(63). , por isso, importante relembrar que ambos os aspetos, alimentares

    como no-alimentares, proporcionam benefcios para a sade e podero ser confundidores

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    quando se comparam padres alimentares vegetarianos com outros no vegetarianos. Em

    todo o caso, a investigao epidemiolgica de qualidade leva em ateno estes fatores

    confundidores.

    Os benefcios associados dieta vegetariana podero ser justificados devido ao menor

    consumo de produtos de origem animal e/ou ao maior consumo de produtos de origem

    vegetal. Por um lado, o consumo excessivo de produtos de origem animal tem sido

    relacionado com um risco aumentado de vrios tipos de doenas crnicas. Por outro lado,

    produtos alimentares como fruta e hortcolas, leguminosas, cereais integrais e frutos gordos

    tm sido associados a um menor risco de doenas crnicas e a uma maior longevidade, o que

    parece, per se, trazer benefcios possivelmente to ou mais relevantes do que os malefcios do

    consumo excessivo de produtos de origem animal(25).

    A adoo de uma dieta vegetariana no implica, partida, mais sade. So necessrias

    escolhas alimentares adequadas e um estilo de vida saudvel, tal como na dieta no

    vegetariana(64). Uma dieta vegetariana, se mal planeada, com dfice de nutrientes ou com

    excesso de sal ou gordura, por ex., pode ser bastante prejudicial para a sade(25).

    Os benefcios encontrados na literatura cientfica relativamente dieta vegetariana no devem

    ser vistos luz de alguns alimentos ou nutrientes isoladamente, mas como o resultado de uma

    presena constante, diversificada e sinrgica de vrios produtos de origem vegetal, bem como

    de uma provvel associao a um estilo de vida saudvel.

    Alimentos habitualmente presentes numa dieta vegetariana

    De forma a ser completa e equilibrada, a alimentao vegetariana poder incluir os seguintes

    grupos de alimentos:

    Fruta

    Hortcolas

    Laticnios ou alternativas vegetais leite*, bebida vegetal, iogurte*, queijo* (ou as suas

    alternativas vegetais), leite fermentado*

    Leguminosas e derivados, algas leguminosas (feijo, gro, ervilhas, lentilhas, favas),

    derivados (tofu, miso), algas

    Cereais e tubrculos arroz, trigo, centeio, milho, quinoa, aveia e produtos derivados (po,

    tostas, bolachas, massas, flocos de cereais) de preferncia integrais - e batata

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    Frutos gordos e sementes amendoim, frutos gordos (noz, amndoa, caju), creme de frutos

    gordos (manteiga de amendoim e de amndoa), sementes (chia, linhaa, papoila, ssamo)

    Gorduras - azeite e leos vegetais, creme vegetal e manteiga*

    Ovo* ovo, clara, gema de ovo, ovoprodutos e ovos de outras espcies.

    *No includo numa dieta vegana.

    As escolhas alimentares devero privilegiar alimentos locais e respeitar a sazonalidade dos

    produtos vegetais, ajudando a preservar desta forma a sustentabilidade ambiental e

    econmica. A adoo de uma dieta vegetariana variada e nutricionalmente adequada,

    recorrendo maioritariamente a produtos da tradio alimentar portuguesa exequvel e

    desejvel, em detrimento de produtos alimentares excessivamente processados.

    A designao apto para vegetarianos existente em alguns produtos processados, no implica

    necessariamente que sejam nutricionalmente adequados, pois podero conter na sua

    composio excesso de sal, gordura ou acar adicionados. A adoo de tal informao est

    prevista na alnea b, n. 3, Artigo 36., Captulo V, do Regulamento (UE) n. 1169/2011(65) e,

    embora seja de carcter voluntrio, est cada vez mais presente neste tipo de produtos. No

    entanto, dada a inexistncia de uma definio assente a nvel Europeu do que considerado

    vegetariano ou vegano, poder ser necessria a leitura atenta da lista de ingredientes

    destes produtos.

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    ADEQUAO NUTRICIONAL DA ALIMENTAO VEGETARIANA

    Uma dieta vegetariana, desde que bem planeada, saudvel, adequada e poder ser benfica

    para a sade, nomeadamente na preveno e tratamento de algumas doenas(33, 66). Para ser

    nutricionalmente adequada s vrias fases do ciclo de vida, grau de atividade fsica e

    comorbilidades presentes, esta dieta dever ter em conta o valor energtico dos alimentos, os

    macronutrientes e os micronutrientes - vitaminas, minerais e oligoelementos, presentes, bem

    como a sua biodisponibilidade.

    As recomendaes mais relevantes para a dieta vegetariana, em termos de distribuio de

    macronutrientes, ingesto diria recomendada e ingesto mxima recomendada de alguns

    micronutrientes, podero ser consultadas em Anexo, no final deste manual.

    Em termos nutricionais, vale a pena ressalvar que cada momento do ciclo de vida se traduz em

    necessidades especficas. Neste manual, a anlise da adequao nutricional da dieta

    vegetariana teve em conta o indivduo adulto saudvel, no devendo, por este motivo, ser

    extrapolada para outras fases do ciclo de vida. A gravidez, lactao, infncia, adolescncia e

    terceira idade tm necessidades nutricionais diferentes, o que implica um planeamento

    adequado e individualizado da ingesto alimentar e da monitorizao clnica.

    Um exemplo paradigmtico, poder ser a alimentao at aos 6 meses de vida, em que se

    recomenda o aleitamento materno exclusivo. O aleitamento materno ainda aconselhado

    durante o processo de diversificao alimentar, mais ainda nos vegetarianos o aleitamento

    materno deveria ser prolongado at aos 2 anos de idade, de forma a garantir o aporte de

    protena de alto valor biolgico entre outros nutrientes nesta to importante fase de

    crescimento e desenvolvimento. Do mesmo modo, durante este perodo da vida, a

    diversificao alimentar numa dieta vegetariana ter de ser bem planeada, executada e

    acompanhada.

    Energia

    Um padro alimentar vegetariano, independentemente da faixa etria a que se destina, no

    acarreta um aporte energtico aumentado comparativamente com a dieta no vegetariana(64).

    Atingir as necessidades energticas , no entanto, essencial para que se atinjam as

    necessidades em macro e micronutrientes. Um adulto que ingira menos do que 2.000kcal por

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    dia ter dificuldades em atingir as doses dirias recomendadas de algumas vitaminas e

    minerais(67).

    Na dieta vegetariana pode ser facilmente atingido o aporte energtico adequado, e at

    ultrapassado, pois esta inclui alimentos com elevada densidade energtica, nomeadamente os

    frutos gordos, sementes, gorduras vegetais, entre outros(64).

    Macronutrientes

    Protena

    As protenas so constituintes intra e extracelulares e fazem parte da maioria dos processos

    biolgicos. Tm uma funo estrutural (colagnio, actina, miosina), bioqumica (enzimas),

    transportadora (hemoglobina), imunolgica (imunoglobulinas), entre outras(68), pelo que uma

    ingesto adequada de protena essencial para o crescimento e reparao celular, o

    funcionamento normal dos msculos, a transmisso de impulsos nervosos e a funo

    imunitria. As protenas tambm podem ser utilizadas como fonte energtica, no sendo

    contudo a fonte de energia preferencial do organismo, sendo que isso s ocorrer se a

    quantidade de hidratos de carbono e gordura consumidas forem insuficientes, o que poder

    comprometer o tecido muscular, o crescimento e funo imunolgica(69).

    As protenas so substncias azotadas, compostas por cadeias de vinte aminocidos

    diferentes, sendo que estes podem ser considerados como nutricionalmente essenciais e no

    essenciais(70). Os aminocidos so classificados como nutricionalmente essenciais, no

    sintetizados pelo organismo, sendo obtidos a partir da dieta; ou no essenciais, sintetizados

    pelo organismo. Dentro do grupo dos aminocidos no essenciais, a cistena, tirosina, taurina,

    glicina, arginina, glutamina e prolina, em determinadas condies fisiolgicas e em certos

    estados de doena, so considerados condicionalmente essenciais(69).

    Os lactentes e crianas tm, relativamente aos adultos, maiores exigncias relativamente a

    aminocidos nutricionalmente essenciais e a alguns aminocidos condicionalmente

    essenciais(69).

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    Classificao dos aminocidos

    Nutricionalmente Essenciais

    Nutricionalmente No essenciais

    Fenilalanina Aspartato

    Histidina Glutamato

    Isoleucina Alanina

    Leucina Arginina*

    Lisina Asparagina

    Metionina Cistena*

    Treonina Glicina*

    Triptofano Glutamina*

    Valina Prolina*

    Serina

    Tirosina*

    * Condicionalmente essenciais(69)

    A qualidade proteica determinada por dois fatores: contedo em aminocidos e

    digestibilidade, no esquecendo a sua biodisponibilidade.

    Contedo em aminocidos

    Os alimentos com teores elevados de aminocidos essenciais so considerados de alto valor

    biolgico. Nestes, so englobados alguns alimentos de origem animal (como carne, pescado,

    laticnios e ovos) e vegetal (como a soja, quinoa e amaranto). As protenas de vrios alimentos

    de origem vegetal so constitudas por todos os aminocidos essenciais, no entanto, a

    quantidade de um ou dois aminocidos poder ser baixa/limitante. Por exemplo, os cereais,

    especialmente o trigo, so particularmente limitados no seu contedo de lisina e treonina, e as

    leguminosas apresentam baixa quantidade de aminocidos sulfurados (metionina, cistena).

    Numa dieta vegetariana, uma diversidade de alimentos de origem vegetal permite, atravs da

    complementaridade dos seus aminocidos, atingir facilmente as recomendaes quer

    proteicas quer em aminocidos(69, 71).

    Quando ingerido isoladamente, um alimento de origem vegetal poder alcanar as

    necessidades proteicas e de todos os aminocidos, desde que uma quantidade suficiente de

    alimento seja consumida. Quanto menor a qualidade proteica do alimento ingerido, maior

    quantidade de alimento ser necessrio consumir de forma a atingir as necessidades de

    aminocidos(69, 71).

    No h necessidade de, na mesma refeio, atingir as necessidades de todos os aminocidos

    essenciais nem de realizar combinaes de alimentos para assegurar uma adequada ingesto

    proteica, dado que o organismo armazena um pool de aminocidos, desde que as

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    necessidades energticas e proteicas sejam alcanadas durante o dia(69, 71). Estes aminocidos

    essenciais acumulam-se, na sua forma livre, no espao intracelular do msculo-esqueltico, e

    so tambm sintetizados pela microbiota intestinal, colmatando as refeies menos ricas em

    aminocidos essenciais(71, 72).

    Digestibilidade

    A digestibilidade proteica dos alimentos de uma dieta vegetariana habitualmente menor do

    que a dos alimentos de uma dieta no vegetariana (85% vs 95%). Esta diferena justifica-se

    essencialmente devido ao papel da parede celular vegetal que, quando removida, permite

    uma digestibilidade semelhante dos alimentos de origem animal, tal como acontece com a

    protena isolada de soja ou ervilha, o glten de trigo ou farinha de trigo (digestibilidade >90%).

    Millet integral, feijes, e alguns cereais de pequeno-almoo tm uma digestibilidade inferior

    podendo ir de 50 a 80%(71). Demolhar, descascar e germinar leguminosas aumenta a sua

    digestibilidade proteica. Cozinhar em panela de presso, comparativamente com o mtodo

    tradicional, o mtodo mais eficaz para aumentar a digestibilidade proteica(73).

    Fatores antinutricionais naturalmente presentes nos alimentos podero comprometer a sua

    digestibilidade proteica, nomeadamente a fibra, os fitatos nos cereais, os taninos nas

    leguminosas e cereais, e os inibidores da tripsina e hemaglutaninas nas leguminosas. Tambm

    o processamento dos alimentos poder interferir na digestibilidade proteica, uma vez que se

    podem vir a originar fatores antinutricionais, como compostos decorrentes das reaes de

    Maillard e de lisinoalanina(71, 74).

    A qualidade de uma dada protena alimentar pode ser determinada pelo Protein Digestibility-

    Corrected Amino Acid Score (PDCAAS), que avalia a qualidade da protena com base na sua

    composio em aminocidos e pela sua digestibilidade(69, 71). A maioria das protenas de origem

    animal (incluindo ovos e leite) e a protena de soja tm um valor de PDCAAS perto ou igual a

    1,0 (a pontuao mxima), mas as pontuaes para outras protenas vegetais so geralmente

    inferiores. No entanto, uma combinao de protenas vegetais com o consumo adequado de

    energia fornece aminocidos suficientes para atingir as necessidades proteicas(69).

    Consumir uma quantidade e variedade adequada de cereais e leguminosas e atingir as

    necessidades energticas, a qualidade proteica estar assegurada, sendo semelhante da

    carne(75, 76). Por este motivo, o consumo de uma mistura de vrios alimentos (entre

    leguminosas e cereais, por ex.) fornece todos os aminocidos essenciais(64) e estes nem

    necessitam de ser ingeridos na mesma refeio(7, 69, 75), exceto em crianas, nas quais se

    recomenda a ingesto dos alimentos complementares na mesma refeio(71).

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    As publicaes cientficas no demonstram um aumento de risco na deficincia proteica(75),

    pelo que a evidncia atual no suporta a existncia de recomendaes distintas em

    vegetarianos comparativamente com no vegetarianos(69, 76).

    Tal como os no-vegetarianos, a deficincia proteica pode surgir quando no se atingem as

    necessidades energticas ou as calorias ingeridas provenham principalmente de alimentos de

    elevada densidade energtica e de baixa densidade nutricional(33).

    Fontes alimentares: leguminosas, produtos base de soja, cereais integrais, pseudocereais

    (quinoa, amaranto e trigo sarraceno), frutos gordos, sementes, laticnios e ovos.

    Gordura

    A gordura representa a maior forma de armazenamento de energia no organismo, devendo-se

    isto sua elevada densidade energtica (9 Kcal/g). As gorduras so constituintes importantes

    na estrutura celular e, do ponto de vista metablico, participam em vrios mecanismos

    essenciais, sendo tambm transportadoras de vitaminas lipossolveis. Os lpidos, na

    alimentao, devero corresponder entre 30% a 35% do valor energtico total, sendo que

    estes podem ser triglicerdeos, fosfolpidos ou esteroides(68).

    No contexto de uma alimentao saudvel, as gorduras provenientes de diferentes alimentos

    so essenciais ao bom funcionamento do organismo e, quando consumidas nas propores

    recomendadas, so bem toleradas e tm efeitos benficos(77). de realar que mais

    importante o tipo de cidos gordos consumidos do que a quantidade de gordura ingerida(61).

    O padro alimentar vegetariano inclui, habitualmente, uma quantidade de gordura total e

    gordura saturada inferior comparativamente ao padro no vegetariano. Dada a restrio de

    produtos de origem animal, o consumo de gorduras saturadas est diminudo, sendo que o

    consumo de cidos gordos monoinsaturados semelhante. Por outro lado, o consumo de

    leos vegetais, frutos gordos e sementes promove um aumento da ingesto de cidos gordos

    polinsaturados(31, 64, 71).

    Fontes alimentares: leos e cremes vegetais, frutos gordos, sementes.

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    cidos Gordos Essenciais

    Os cidos gordos polinsaturados incluem os mega-3 e os mega-6, e so necessrios para o

    bom funcionamento fisiolgico, incluindo o transporte de oxignio, o armazenamento de

    energia, a constituio da membrana celular, a regulao da proliferao celular e funo

    imunitria (incluindo inflamao). Os animais, incluindo os seres humanos, so incapazes de

    sintetizar os cidos gordos mega-3 e mega-6, sendo por isso denominados de cidos gordos

    essenciais. Contudo, organismo humano consegue converter o cido alfa-linolnico (ALA;

    18:3n-3) em cido eicosapentaenico (EPA; 20:5n-3), que por sua vez convertido no cido

    docosahexaenico (DHA; 22:6n-3). O cido linoleico (LA; 18:2n-6) convertido em cido

    araquidnico (AA; 20:4n-6). importante referir que a taxa de converso do ALA e do LA

    baixa, variando entre 1% a 10%, tendo em conta os polimorfismos no gene da enzima

    responsvel pela converso (dessaturase dos cidos gordos) e o rcio mega 6:mega 3 da

    dieta, dado que ambos competem pelas mesmas enzimas(33, 78). O aporte nutricional

    inadequado de protena, vitaminas e minerais, e o consumo excessivo de cidos gordos trans,

    lcool e cafena comprometem esta converso(78). O excesso de ingesto de cido linoleico

    pode comprometer a converso do ALA em EPA e DHA, o que contribui para a produo de

    eicosanides pro-inflamatrios e o aumento da oxidao das LDL (lipoprotenas de baixa

    densidade)(71).

    Enquanto o consumo de ALA semelhante entre vegetarianos e no-vegetarianos, o de LA

    tende a ser maior na populao vegetariana(78). O EPA e o DHA esto pouco presentes nas

    dietas ovolactovegetarianas e praticamente ausentes nas veganas(64, 72). No entanto, alguns

    alimentos de origem vegetal, nomeadamente os fortificados, podem compensar as

    necessidades em mega 3, sendo as algas/microalgas fontes de EPA e DHA(79), e as sementes e

    leos de linhaa, chia e cnhamo, a soja (e leo de soja), e as nozes fontes de ALA(33, 64, 75, 79).

    Tambm as beldroegas, Portulaca aleracea, so excelentes fontes de ALA, sendo as plantas

    com maior teor conhecido deste cido gordo essencial, cerca de 400mg por 100g de produto

    (cerca de 40% da Ingesto Diria Recomendada para um adulto)(76, 80, 81).

    Em alguns casos, como a gravidez e lactao, a ingesto de alimentos fortificados em DHA(79)

    e/ou a suplementao (proveniente de microalgas) est recomendada(7).

    Os vegetarianos consomem habitualmente menores quantidades de EPA e DHA que os no

    vegetarianos, apresentando tambm valores sricos menores, mas estveis. No h evidncia

    de que os vegetarianos apresentem dfices nutricionais destes cidos gordos, nem efeitos

    adversos do seu baixo consumo(7).

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    importante garantir um rcio mega 6:mega 3 adequado, que dever ser de 2:1 a 4:1. No

    entanto, alguns vegetarianos apresentam um consumo diminudo de mega-3, no se

    verificando este rcio. Alimentos como as sementes de linhaa e o seu leo contribuem para

    um balano n-6:n-3 mais equilibrado, dado que a proporo de cerca de 1:5. Uma colher de

    sopa de sementes de linhaa modas fornece entre 1,9 a 2,2g de n-3(75).

    Quem segue um padro alimentar vegetariano dever privilegiar o consumo de gorduras

    monoinsaturadas (como o azeite) e evitar o consumo de gorduras hidrogenadas e trans

    presentes nos alimentos processados(78).

    Fontes alimentares: algas, microalgas, sementes e leos de linhaa, chia e cnhamo, soja (e

    leo de soja), nozes e beldroegas.

    Hidratos de Carbono

    As necessidades em hidratos de carbono no esto aumentadas na populao vegetariana.

    Habitualmente, os vegetarianos consomem quantidades de hidratos de carbono similares aos

    no vegetarianos(31, 64). Em relao fibra, dado o maior consumo de fruta, hortcolas e

    leguminosas, os vegetarianos consomem habitualmente uma maior quantidade do que os no

    vegetarianos(64).

    Fontes alimentares: cereais e seus derivados, tubrculos, leguminosas e frutas.

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    Vitaminas

    Vitamina B12

    A vitamina B12 (cobalamina) uma vitamina essencial para a sntese de ADN (cido

    desoxirribonucleico) e para a manuteno da integridade da mielina das clulas nervosas. Toda

    a vitamina B12 sintetizada por microrganismos, bactrias, fungos e algas. Plantas e animais

    no tm a capacidade de a sintetizar; os animais adquirem-na pela ingesto alimentar ou pela

    produo da microbiota intestinal. Os produtos de origem vegetal raramente contm esta

    vitamina.

    Estima-se que excretada diariamente cerca de 1 g da cobalamina pela bile, o que

    corresponde sensivelmente a 0,1 a 0,2% das reservas corporais (2500 g). Cerca de 65 a 75%

    da vitamina B12 excretada na bile reabsorvida, resultado de um mecanismo de circulao

    enteroheptico extremamente eficiente. Isto explica o facto de por vezes a depleo das

    reservas corporais surgir apenas alguns anos aps o incio de uma dieta pobre nesta vitamina.

    No entanto, importante ressalvar que, em alguns indivduos, os sintomas da deficincia

    podem surgir passados dois a cinco anos aps o incio de uma dieta que no inclua fontes

    desta vitamina(71, 82). A deficincia em vitamina B12 pode resultar em anemia megaloblstica,

    diminuio da diviso celular e alteraes neurolgicas, incluindo a demncia(71, 82-84).

    O padro alimentar vegetariano habitualmente rico em cido flico, o que poder mascarar

    uma anemia por deficincia de vitamina B12 e esta s se revelar com o surgimento de

    sintomas neurolgicos(79, 83) como parestesias, diminuio da sensibilidade perifrica,

    dificuldades em caminhar e perda de concentrao, podendo estes sintomas ser

    irreversveis(75, 83). Indicadores hematolgicos, como a alterao dos nveis sricos de

    holotranscobalamina II(83), cido metilmalnico (srico e urinrio) e de homocistena(79, 82-84),

    tendem a manifestar-se mais tardiamente(75). A determinao destes marcadores dever ser

    regular, de forma a permitir uma interveno precoce, caso necessrio(83). Os nveis de

    homocistena podem estar elevados com a deficincia em folatos e vitamina B6, no entanto,

    estas so raras em vegetarianos(83).

    A populao vegetariana poder estar em risco de deficincia em vitamina B12, dado que o

    consumo desta vitamina habitualmente baixo, pois a sua forma ativa apenas est presente

    em alimentos de origem animal e em alimentos fortificados(64). O padro ovolactovegetariano

    pode fornecer esta vitamina atravs dos ovos e laticnios(64, 84), no entanto, ainda assim, a sua

    ingesto poder ser insuficiente(75). J a populao vegana no ter nenhuma fonte

    significativa desta vitamina naturalmente presente na dieta, pelo que dever ingerir alimentos

  • 28

    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    fortificados e/ou suplementos com o objetivo de prevenir a deficincia(83). Os alimentos

    fortificados, tais como as alternativas vegetarianas carne, extrato de levedura, bebidas

    vegetais, cereais de pequeno-almoo e/ou os suplementos so indicados para ambos os

    padres desde o momento de adoo dos mesmos(7, 83, 84).

    Os idosos tambm podero beneficiar com a suplementao de vitamina B12 devido

    diminuio da acidez gstrica e a das protases que, consequentemente, diminuem a sua

    absoro(7, 33). A suplementao est ainda recomendada em crianas, grvidas e lactantes, e

    pessoas que fazem cronicamente inibidores da bomba de protes(75, 79).

    As algas por vezes so referidas como alternativas alimentares ricas em vitamina B12, porm

    estas tm anlogos inativos desta vitamina, no devendo por este motivo serem utilizadas

    como fontes de vitamina B12, podendo mesmo interferir com a sua absoro(7, 64, 71).

    Em muitos dos alimentos ditos ricos em vitamina B12, entre 5 a 30% desta vitamina, est

    presente na forma de anlogos de baixa biodisponibilidade, sendo que, em alguns, esta est

    totalmente na sua forma inativa(71). Por este motivo, necessrio um cuidado adicional na

    seleo de fontes alimentares e suplementos desta vitamina.

    Para suprir as necessidades desta vitamina dever-se-:

    - consumir 2 pores de alimentos fortificados que forneam 1,5 a 2,5 microgramas de B12

    cada ou;

    - tomar suplemento com 5 a 10 microgramas de B12 diariamente ou;

    - tomar suplemento com 1.000 microgramas de vitamina B12, trs vezes por semana(70) ou

    2.000 microgramas uma vez por semana(71, 82).

    Dado que s absorvida uma pequena quantidade de vitamina B12 de cada vez, alguns

    autores referem que ser prefervel tomas repartidas de pequenas doses de vitamina B12

    (maior frequncia), do que tomas de maiores quantidades(70, 83).

    O objetivo da suplementao em vitamina B12 no dever ser apenas para o tratamento da

    deficincia, mas acima de tudo para a manuteno das reservas corporais(82).

    Fontes alimentares: laticnios, ovos e alimentos fortificados como alternativas vegetarianas

    carne, extrato de levedura, bebidas vegetais e cereais de pequeno-almoo.

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    Vitamina D

    A vitamina D uma vitamina lipossolvel obtida pela exposio solar, pela dieta e/ou por

    suplementos alimentares. Alguns alimentos podero conter a vitamina D naturalmente ou por

    fortificao(85). A Vitamina D2 (ergocalciferol) produzida atravs da irradiao ultravioleta do

    ergosterol de levedura, e a vitamina D3 por meio da irradiao ultravioleta de 7-

    desidrocolesterol de lanolina(85). A vitamina D2 parece ser atualmente eficaz na manuteno

    dos nveis sricos de 25-hidroxivitamina D(79).

    A vitamina D est diretamente relacionada com a densidade mineral ssea e aumenta a

    eficcia da absoro intestinal do clcio (30 a 40%) e do fsforo (aproximadamente em 80%).

    Alm da sua funo clssica no metabolismo fosfo-clcico, a vitamina D regula os sistemas

    muscular, imunitrio e cardiovascular. Os msculos esquelticos tm um recetor de vitamina D

    e necessitam da mesma para a sua performance, sendo que a deficincia pode provocar dor e

    fraqueza muscular. Tambm o crebro, prstata, mama e clon, bem como as clulas

    imunitrias tm recetores desta vitamina e respondem 1,25-dihidroxivitamina D, a forma

    ativa da vitamina D(85, 86).

    Direta ou indiretamente, a 1,25-dihidroxivitamina D controla mais de 200 genes, incluindo

    genes responsveis pela regulao da proliferao celular, diferenciao, apoptose e

    angiognese(85).

    Existem vrias causas para a deficincia de vitamina D, nomeadamente a reduo da sntese

    pela pele, reduo da absoro e doenas adquiridas ou hereditrias do metabolismo desta

    vitamina. A presena da deficincia de vitamina D no diagnosticada comum. A

    determinao do doseamento srico da 25-hidroxivitamina D um bom indicador do status da

    vitamina D(85).

    Em determinadas condies, a vitamina D pode ser sintetizada endogenamente em

    quantidades suficientes. Uma exposio solar (radiao UVB) dos braos e pernas por 5 a 30

    minutos entre as 10h e as 15h, duas vezes por semana (Primavera e Vero) poder atingir as

    necessidades. No entanto, a quantidade produzida depende de fatores como o tempo de

    exposio solar, a superfcie da pele exposta, a hora do dia, a estao do ano, a latitude do

    lugar, a pigmentao cutnea, a poluio atmosfrica, o uso de protetores solares e a idade do

    indivduo (devido diminuio da sntese drmica e menor expresso dos recetores da

    vitamina D). Este conjunto de fatores torna a capacidade de sntese desta vitamina

    potencialmente insuficiente nos meses de Outono e Inverno em pases como Portugal(70, 79, 85).

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    As recomendaes de vitamina D habitualmente no so atingidas quer em populaes

    vegetarianas quer em no vegetarianas(7, 33, 64). Alguns alimentos como leite, bebidas e cremes

    vegetais, cereais de pequeno-almoo e po so fortificados nesta vitamina, geralmente sob a

    forma de ergocalciferol(33, 79).

    A suplementao em vitamina D com 5 a 10 microgramas por dia segura e adequada

    segundo alguns autores, tanto para vegetarianos, como para no-vegetarianos. Habitualmente

    os suplementos de vitamina D3 so de origem animal, no entanto, atualmente tm surgido

    suplementos de colecalciferol produzidos atravs de lquenes e cogumelos expostos radiao

    ultravioleta. Os suplementos de vitamina D2 so de origem vegetal(64).

    Assim, a suplementao de vitamina D ou o consumo de alimentos fortificados nesta vitamina

    so recomendados em alguns referenciais, especialmente durante o inverno(7, 33, 64, 79).

    Fontes alimentares: alimentos fortificados como leite, bebidas e cremes vegetais, cereais de

    pequeno-almoo e po; ovo (proveniente de galinhas alimentadas com algas).

    Vitamina A

    A designao vitamina A refere-se a um grupo de compostos retinol, retinoldedo e cido

    retinico que so essenciais para a viso, crescimento, diferenciao e proliferao celular,

    reproduo e integridade do sistema imunitrio. A vitamina A, na forma de retinol,

    encontrada em alimentos de origem animal e em alguns alimentos fortificados como cremes

    vegetais e cereais de pequeno-almoo(71). A populao vegetariana, de forma a atingir as

    necessidades desta vitamina, deve consumir alimentos ricos em pro-vitamina A (betacaroteno)

    tais como frutas e hortcolas verdes, cor de laranja e amarelos(76). O consumo de equivalentes

    de retinol, como os carotenoides, est aumentado na dieta vegetariana(64), embora em dietas

    com muito baixo teor em gordura, a absoro de carotenoides poder estar comprometida

    por estes serem lipossolveis(71).

    Fontes alimentares: fruta e hortcolas; cremes vegetais fortificados.

    Restantes vitaminas

    A ingesto de vitamina E, vitamina K, vitamina C, folatos, riboflavina e tiamina em vegetarianos

    habitualmente adequada(64, 71).

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    Minerais e Oligoelementos

    Ferro

    O ferro um nutriente essencial para a sade, participando na formao de hemoglobina e de

    mioglobina, na cadeia transportadora de eletres a nvel mitocondrial, produo de enzimas

    entre outras funes. Uma grande parte das nossas necessidades em ferro est assegurada

    pelo turnover do ferro no sangue. As reservas de ferro so reguladas pela absoro intestinal,

    dado que temos uma capacidade limitada de excretar o seu excesso(87).

    Quando as necessidades de ferro no so atingidas, as reservas deste mineral comeam a

    diminuir. Quando se esgotam as reservas, os nveis sricos de ferro diminuem e a produo de

    hemoglobina diminui, podendo haver uma anemia por deficincia de ferro. Outro indicador de

    nveis baixos de ferro poder ser o aumento dos nveis de transferrina(71).

    Segundo a Organizao Mundial de Sade(88), a deficincia em ferro a deficincia nutricional

    mais comum no mundo (populao vegetariana ou no vegetariana)(31, 33, 75, 79), afetando cerca

    de 25% da populao global, particularmente mulheres jovens e crianas, sendo os seguidores

    de uma alimentao vegetariana muito restritiva os que apresentam um maior risco(87). No

    global, o consumo de ferro parece ser semelhante ou superior em vegetarianos

    comparativamente a no vegetarianos, no entanto, no existe consenso entre os vrios

    estudos(64, 71, 79).

    Embora os adultos vegetarianos tenham reservas de ferro menores do que os no

    vegetarianos, os nveis sricos de ferritina (protena de reserva de ferro cujos nveis refletem

    as reservas corporais de ferro) esto dentro dos parmetros normais(84).

    O ferro disponvel nos alimentos poder ser do tipo heme e no heme(33, 76, 87). Em produtos de

    origem animal, 40% do ferro presente do tipo heme, e 60% no heme, j os alimentos de

    origem vegetal apenas contm ferro no heme(71, 87). O ferro heme absorvido entre 15 a 35%

    no trato gastrointestinal, j o ferro no heme apresenta uma absoro inferior, entre 2 a

    20%(31). Devido a esta menor biodisponibilidade, a Ingesto Diria Recomendada de ferro esto

    aumentadas em 80% na populao vegetariana(7, 64, 76).

    A quantidade de ferro no heme absorvida determinada principalmente pelas suas reservas,

    sendo que pessoas com baixas reservas de ferro ou com necessidades muito aumentadas (por

    ex. grvidas) tero uma adaptao fisiolgica, aumentando a absoro e diminuindo a

    excreo, tornando o ferro no heme quase to bem absorvido como o ferro heme(31, 64, 79, 87).

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    Alimentos ricos em ferro no-heme so: leguminosas, cereais de pequeno-almoo fortificados,

    cereais integrais, tofu, vegetais de cor verde escura, sementes, frutos gordos, e tempeh(33, 87).

    Para o padro ovolactovegetariano, os ovos tambm so uma fonte de ferro(87).

    A biodisponibilidade do ferro no heme influenciada por vrios componentes da dieta que

    podem aumentar ou diminuir a sua absoro, sendo que os fatores inibidores e potenciadores

    se podero anular mutuamente em dietas que incluam uma grande variedade de alimentos(79, 87).

    A absoro do ferro no heme poder estar diminuda devido a fatores como o clcio, fitato,

    polifenis (taninos e catequinas) presentes no ch, caf, especiarias (aafro, chili) e cacau,

    reduo da acidez gstrica e estados inflamatrios aumentados(31, 79, 84, 87). A ingesto de fibra,

    per se, mesmo em quantidades elevadas, tem uma interferncia muito reduzida na absoro

    de minerais da dieta. O efeito inibitrio da absoro de ferro em alimentos ricos em fibra

    deve-se presena de fitato e no presena de fibra, efeito que pode ser minimizado com a

    adoo de mtodos culinrios(31). A ao inibidora do cido oxlico na absoro do ferro

    atualmente considerada marginal(87). O clcio, considerado um inibidor da absoro de ferro,

    no dever ser ingerido sob a forma de suplementos s refeies, sendo que esta inibio no

    se verifica se a quantidade de clcio for inferior a 40mg(87). O baixo consumo de lisina (um

    aminocido essencial encontrado particularmente em leguminosas) pode interferir na

    absoro de ferro(70).

    A vitamina C o fator facilitador da absoro de ferro mais importante, j que promove a

    converso do ferro frrico em ferro ferroso, sendo esta a forma melhor absorvida. Esta poder

    ser proveniente da dieta, ou sob a forma de suplementos, sendo o seu efeito superior ao

    efeito inibidor do fitato, polifenis e do clcio(87). Cerca de 75mg de vitamina C aumentam a

    absoro do ferro no heme em 3 a 4 vezes(25). Tambm os cidos orgnicos,

    frutooligossacardeos, vitamina A e betacaroteno estimulam a absoro de ferro no heme(33,

    75, 79).

    Demolhar e germinar leguminosas, gros e sementes diminui o contedo em fitato e melhora

    a absoro do ferro(75, 79). Alimentos fermentados (como o chucrute), molho de soja e po de

    massa velha aumentam a absoro de ferro(71). O uso de panelas de ferro aumenta o teor

    deste mineral nos alimentos, principalmente se estes forem cidos ou se ferverem(33), embora

    seja incerta a sua quantificao(31). Adicionar acidificantes (citrinos ou vinagre) aos alimentos

    tambm promove a diminuio do fitato(84).

    Importante - Nenhuma deficincia em ferro, quer em vegetarianos, quer em no vegetarianos,

    pode ser corrigida exclusivamente pela alimentao. A deficincia em ferro dever ser tratada

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    com ferro por via medicamentosa, por tempo prolongado, em quantidades que no so viveis

    obter pelo consumo de alimentos(75).

    Fontes alimentares: leguminosas, cereais integrais, vegetais de cor verde escura, sementes,

    frutos gordos, tofu, tempeh, ovo e alimentos fortificados como cereais de pequeno-almoo.

    Zinco

    O zinco necessrio para o normal crescimento e desenvolvimento e para a acuidade do

    paladar. um mineral essencial para as funes metablicas, incluindo funes catalisadoras,

    estruturais e reguladoras e tem um papel importante no sistema imunitrio(25, 89).

    O zinco pode encontrar-se amplamente em alimentos de origem animal e vegetal, embora a

    absoro de zinco proveniente de alimentos de origem vegetal seja inferior(70).

    A populao vegetariana, habitualmente, consome menos zinco do que a no vegetariana, no

    entanto, os seus nveis plasmticos no so diferentes entre os dois grupos, o que sugere

    mecanismos de adaptao(64, 79, 89). Estes mecanismos de otimizao mantm os nveis de zinco

    adequados quer por reduo das perdas, quer por aumento da eficcia da absoro(89). Mesmo

    consumindo menores quantidades de zinco, os vegetarianos apresentam valores sricos

    adequados(71, 89).

    Na literatura no existe evidncia clnica de deficincia em zinco na populao ocidental

    vegetariana(75, 79), no entanto, em veganos, grvidas, lactentes e adolescentes o consumo de

    alimentos fortificados poder estar recomendado(64).

    A biodisponibilidade de zinco est comprometida pela presena de fitato nos produtos de

    origem vegetal e, por este motivo, as necessidades de zinco esto aumentadas em 50% em

    vegetarianos(64, 76). A fibra e o clcio, outrora considerados inibidores da absoro de zinco, so

    atualmente considerados incuos. Dado que o zinco est presente na camada externa dos

    cereais, encontram-se maiores teores deste mineral em produtos integrais, no entanto, estes

    tambm apresentam maiores teores de fitato(89). O baixo consumo de lisina (um aminocido

    essencial encontrado particularmente em leguminosas) pode interferir na absoro de

    zinco(70).

    Demolhar, germinar e fermentar leguminosas, gros e sementes, assim como cozinhar razes

    (cenoura, nabo e beterraba), diminui o contedo em fitato(71). Aminocidos sulfurados

    (encontrados em sementes, frutos gordos, cereais e hortcolas) e os cidos orgnicos (como o

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    ctrico encontrado nos citrinos, o mlico nas mas, o lctico no leite azedo e o tartrico nas

    uvas) ligam-se ao zinco e potenciam a sua absoro(79, 89).

    No padro vegetariano, po, cereais, leguminosas, frutos gordos e sementes so fontes

    alimentares de zinco e no padro ovolactovegetariano, os ovos e laticnios so tambm fontes

    deste mineral(33, 89). As recomendaes de zinco podem no ser atingidas se a ingesto destes

    alimentos ou de alimentos fortificados for diminuta, particularmente nos homens, podendo

    ser necessria a suplementao(71).

    Fontes alimentares: cereais integrais e derivados, leguminosas, frutos gordos, sementes, ovos

    e laticnios.

    Clcio

    O clcio um mineral importante para manter ossos e dentes saudveis, a funo nervosa,

    muscular e a coagulao sangunea normais(90).

    A ingesto de clcio em ovolactovegetarianos tende a ser semelhante ou superior observada

    em no vegetarianos, enquanto quem segue um padro vegano apresenta uma ingesto

    ligeiramente inferior, devendo por isso privilegiar alimentos ricos neste mineral(64, 79, 84).

    Alguns estudos sugerem que os vegetarianos conseguem absorver e reter maiores

    quantidades de clcio do que os no vegetarianos, por mecanismos de adaptao, e que estes

    apresentam densidade mineral ssea semelhante dos no vegetarianos(84). Fatores como

    estilo de vida, hbitos tabgicos, peso e fatores genticos parecem ter um papel mais

    importante na densidade mineral ssea do que a quantidade de clcio ingerida e a sua origem

    (animal ou vegetal)(91).

    Uma alimentao com um aporte proteico excessivo est associada a um aumento da taxa de

    filtrao glomerular e a uma diminuio da reabsoro de clcio pelo rim, levando a um

    aumento da excreo urinria deste mineral. No entanto, o consumo insuficiente de protenas

    tambm prejudicial. O consumo excessivo de sdio desfavorvel dado que aumenta a

    excreo urinria de clcio. Por cada grama de sdio ingerida, h uma perda adicional de 25mg

    de clcio na urina(25).

    A dieta ovolactovegetariana inclui excelentes fontes de clcio: leite, queijo e iogurte, sendo

    que duas a trs pores por dia sero suficientes para atingir as necessidades deste nutriente

    na maioria das faixas etrias. Quem segue um padro vegano pode obter o clcio necessrio

    atravs de alimentos de origem vegetal(33). Alimentos como hortcolas de cor verde escura,

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    leguminosas, sementes e frutos gordos; e alimentos fortificados como tofu, bebida de soja,

    aveia, amndoa ou arroz e cereais de pequeno-almoo podero ser fontes de clcio(33, 79).

    Outros alimentos como folhas de beterraba, ruibarbo, espinafre, acelga e amaranto contm

    clcio, no entanto, dado o seu contedo em oxalatos, este est menos biodisponvel(33, 79). A

    soja, mesmo contendo fitatos e oxalatos, preserva uma boa biodisponibilidade de clcio(75).

    Utilizar menos sal (substituindo-o, por ex., por ervas aromticas) diminui as perdas de clcio na

    urina(79).

    Manter nveis adequados de vitamina D e limitar o consumo de cafena benfico para a

    manuteno dos nveis de clcio(75, 90).

    Fontes alimentares: laticnios, hortcolas de cor verde escura, leguminosas, sementes e frutos

    gordos; alimentos fortificados como tofu, bebida de soja, aveia, amndoa ou arroz e cereais de

    pequeno-almoo.

    Iodo

    O iodo um oligoelemento essencial para o correto funcionamento da tiroide, nomeadamente

    para a sntese das hormonas tiroideias. Estas so responsveis pela regulao do metabolismo

    celular, nomeadamente a taxa de metabolismo basal e a temperatura corporal e desempenham

    um papel determinante no crescimento e desenvolvimento de rgos, especialmente do

    crebro(92-95). Durante a pr-conceo, gravidez e amamentao, especialmente relevante a

    importncia deste mineral, dado o seu papel no desenvolvimento do feto(70, 95).

    O contedo de iodo nas plantas varivel mas habitualmente baixo dado que este depende da

    sua concentrao nos solos e esta geralmente escassa, podendo ser maior em locais junto

    costa martima(70, 92). Quem segue um padro vegetariano e no consome alimentos

    fortificados ou suplementos poder ter um consumo insuficiente neste micronutriente(92).

    Quem segue uma alimentao vegetariana, de forma a contribuir para a ingesto apropriada

    de iodo, deve assegurar uma alimentao variada, incluindo alimentos ricos/fortificados neste

    micronutriente(70). Algas, sal iodado ou suplementos devero ser utilizados com regularidade(7,

    64), tendo em ateno no ultrapassar as doses mximas recomendadas de iodo(70).

    Recomenda-se a substituio do sal comum pelo sal iodado, nas quantidades de sal

    recomendadas. Dada a variabilidade de quantidade de iodo nas algas, recomenda-se

    precauo no seu consumo, que no dever ser superior a 3 a 4 vezes por semana(70).

    Fontes alimentares: sal iodado, algas e laticnios.

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    Selnio

    O selnio necessrio para o funcionamento das selenoprotenas. Este micronutriente

    componente da enzima glutatio peroxidase, protegendo as membranas celulares dos danos

    provocados pela ao de radicais livres. Regula tambm a ao das hormonas tiroideias(71, 82).

    As principais fontes alimentares de selnio, adequadas ao padro alimentar vegetariano, so a

    castanha do Par, sementes, ovo, melao, cogumelos, cereais e derivados. Os nveis de selnio

    so mais afetados pela sua quantidade no solo numa determinada regio do que pelo padro

    alimentar(71). A populao vegetariana habitualmente ingere menor quantidade de selnio,

    porm a ingesto depende da disponibilidade de selnio nos solos(64, 76). Embora a ingesto

    esteja diminuda, esta habitualmente supre as recomendaes(64, 76, 96) e os nveis plasmticos

    so semelhantes aos da populao no vegetariana havendo, por isso, uma provvel

    adaptao fisiolgica(64, 76).

    Fontes alimentares: castanha do Par (ou castanha do Brasil), ovo, sementes, melao,

    cogumelos, cereais e derivados.

    Potssio

    O potssio est presente em inmeros alimentos e particularmente abundante em frutas e

    hortcolas. Est associado a uma maior reteno de clcio pelo osso, reduo do risco de

    doena cardiovascular e primordial na regulao da tenso arterial(71). A dieta vegetariana

    fornece frequentemente mais potssio do que a dieta no vegetariana(64).

    Fontes alimentares: frutas, hortcolas, tubrculos, leguminosas e frutos gordos.

    Magnsio

    O magnsio tem um papel importante em diversas funes do organismo, incluindo a ativao

    enzimtica e a homeostasia ssea. Este encontra-se, por exemplo, na camada externa dos

    gros de cereais integrais. A dieta vegetariana inclui, habitualmente, mais magnsio do que a

    no vegetariana. A fibra e o fitato podem diminuir a sua absoro, no entanto, esta mantem-se

    adequada comparativamente a uma dieta no vegetariana. Desta forma, o elevado teor em

    magnsio encontrado nas dietas vegetarianas compensa a sua menor biodisponibilidade(71).

    Fontes alimentares: cereais integrais e os seus derivados (por ex. cereais de pequeno-almoo),

    algas, leguminosas, frutos gordos e sementes.

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    Fsforo

    O fsforo tem diversas funes com elevada importncia fisiolgica, tais como a mineralizao

    ssea e dentria, o metabolismo energtico, a absoro e transporte de nutrientes, a

    regulao da atividade proteica e o balano cido-base. tambm constituinte de fosfolpidos

    estruturais das membranas celulares, dos cidos nucleicos e das molculas de ATP (adenosina

    trifosfato)(82).

    Aproximadamente 85% do fsforo corporal encontra-se no osso, sendo essencial para o seu

    desenvolvimento e manuteno. Numa dieta vegetariana, a absoro de fsforo menor do

    que na dieta no-vegetariana devido maior quantidade de fitatos. A absoro de fsforo

    pode estar comprometida pela utilizao de anticidos com alumnio e de suplementos de

    clcio (carbonato de clcio). A ingesto de fsforo em vegetarianos similar ou maior do que

    em no-vegetarianos e, apesar da biodisponibilidade ser potencialmente mais baixa, esta est

    consideravelmente acima das recomendaes, sendo pouco provvel que ocorram

    deficincias(71).

    Fontes alimentares: laticnios, cereais integrais, ovos, frutos gordos e leguminosas.

    Sdio

    O sdio tem funes de regulao do volume extracelular e do equilbrio cido-base, sendo a

    sua maior fonte alimentar o sal(71). O consumo excessivo de sal e, consequentemente, de sdio

    est relacionado com o aumento da tenso arterial e da excreo renal de clcio. Em

    vegetarianos, o consumo de sdio habitualmente inferior comparativamente a no

    vegetarianos(97), sendo que, em veganos, o consumo de sdio poder ser inferior a metade do

    observado em no-vegetarianos(98). Apenas uma minoria do sdio consumido (cerca de 10%)

    provm naturalmente dos alimentos, j que o sal adicionado no processamento e confeo

    dos alimentos o que mais contribui para o aporte dirio deste mineral(71). Recomenda-se a

    leitura dos rtulos dos alimentos processados, dados que muitos produtos aptos para

    vegetarianos podem conter sal em excesso.

    Fontes alimentares: sal, alimentos processados.

    Restantes minerais e oligoelementos

    A ingesto de mangans, cloro, flor e molibdnio habitualmente adequada em indivduos

    vegetarianos(71).

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    Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel Linhas de Orientao para uma Alimentao Vegetariana Saudvel, 2015

    CONSIDERAES FINAIS

    Tem vindo a aumentar o nmero de indivduos vegetarianos e no vegetarianos com interesse

    em optar por refeies vegetarianas. As razes so diversas, desde a sade at proteo do

    ambiente.

    Portugal dispe de uma variada produo de alimentos de origem vegetal ao longo do ano, de

    grande qualidade, bem como de uma tradio gastronmica que valoriza a presena de

    vegetais, a comear na sopa.

    A adoo e manuteno de uma dieta vegetariana, em particular, uma dieta vegana, exige um

    mnimo de conhecimentos especficos, alimentares e nutricionais, que apesar de serem

    simples, no so intuitivos.

    Dietas vegetarianas, quando apropriadamente planeadas, incluindo as ovolactovegetarianas

    ou veganas, so saudveis e nutricionalmente adequadas em todas as fases do ciclo de vida,

    podendo ser teis na preveno e tratamento de certas doenas crnicas. Mas, como qualquer

    outro padro alimentar, as dietas vegetarianas podem ser inadequadas.

    Relativamente protena, apesar de ser possvel garantir um perfil aminoacdico adequado s

    necessidades da maioria das pessoas com uma dieta vegana, a obteno deste perfil necessita

    de uma escolha de alimentos muito criteriosa, que poder no ser de fcil concretizao pela

    maioria dos consumidores. Por exemplo, como fontes de protena de elevado valor biolgico

    so apresentados neste texto trs alimentos: soja, quinoa e amaranto; o que se pode traduzir

    num maior risco de monotonia alimentar, uma ve