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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico
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Curso Alfabetização e Letramento
Disciplina Educação de Jovens e Adultos
Tema Educação de Jovens e Adultos: um olhar que envolve as legislações de Ensino no Brasil
Professor Cristina Rolim Chyczy Bruno
Introdução
Neste tema, iremos estudar as leis do ensino no Brasil e seus impactos
na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Uma delas é a Lei nº 4.024/61, que
organizou o ensino primário de quatro anos, tornando-o obrigatório e gratuito e
gerando, assim, expectativas de acesso à Educação de Jovens e Adultos por
parte das camadas menos favorecidas da população. Veremos, também, um
breve histórico da “Lei da Reforma” – a Lei nº 5.692/71 –, com o intuito de
desvendar o seu caráter tecnicista e a sua proposição para a alfabetização de
adultos por meio de técnicas elementares da escrita.
Além disso, discutiremos a “Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional” – a Lei nº 9.394/96, destacando seus avanços e suas promessas não
cumpridas, como também sua relação com as leis de ensino que a antecederam.
E, por fim, estudaremos os propósitos do “Projeto Jorge Hage”, uma
promessa de educação articulada ao mundo do adulto trabalhador, discutindo
seus emperramentos e suas obstruções.
(Vídeo disponível no material on-line)
Problematização
Maria José é uma profissional que atua na Educação de Jovens e Adultos
em uma escola situada em uma grande capital do Brasil, além de, durante o dia,
lecionar no ensino fundamental. Maria é uma professora muito envolvida com o
que faz, procura cumprir com afinco todas as suas atribuições como docente. À
noite, sua turma é bastante heterogênea, há um grupo de cinco jovens entre 17
e 22 anos, cinco senhoras entre 36 e 45 anos, seis senhores entre 36 e 50 anos,
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além do senhor Alcides, que tem 66 anos de idade. A professora procura
elaborar os planejamentos das aulas sempre contemplando a diversidade
existente, propondo, por exemplo, produções de textos desafiadores e
problemas matemáticos que envolvem o raciocínio lógico, assim todos são
convidados a expor suas estratégias de resolução. Enfim, as aulas costumam
ser sempre atrativas e desafiadoras, para que esses alunos não desistam (mais
uma vez) de estudar. Entretanto, em certa noite, o Senhor Alcides, cansado de
mais um dia de trabalho como vigilante de uma loja de conveniência, dirige-se à
professora e pergunta:
─ Professora Maria José, eu gosto muito de vir à aula, acho que aprendo
bastante, e o que aprendo tem me ajudado no trabalho! Eu já sei conversar com
mais descontração com as pessoas, sem aquele medo enorme de falar errado.
Eu já leio e entendo melhor as recomendações que meus chefes repassam.
Porém eu vejo que estudar exige muito de mim! Eu acho que os governantes de
nosso país deveriam propor leis que nos ajudassem, como um auxílio
alimentação ou, até mesmo, uma redução em nossa jornada de trabalho. A
senhora é testemunha do quanto eu costumo me atrasar para as aulas, além de
não ter nenhum incentivo por parte da empresa em que trabalho. Eu sei que os
estudos vão trazer retornos positivos para mim, mas confesso que não sei se
vou continuar até concluir o ensino fundamental, o que me deixa muito triste e
frustrado.
A professora ficou muito intrigada com a declaração do seu aluno. Para
você, diante do depoimento do Senhor Alcides, qual deve ser a resposta que a
professora deve dar ao aluno? Como essa docente empenhada pode ajudar o
estudante para que ele não desista dos estudos?
Não precisa responder agora. Vamos voltar ao conteúdo teórico do nosso
tema e, ao final, retomaremos essa questão e apresentaremos as possibilidades
de solução para o problema.
(Vídeo disponível no material on-line)
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As Leis que antecederam a atual LDB no Brasil
Os princípios democráticos e a ideia da expansão e da obrigatoriedade do
ensino, também previstos na Constituição de 1988, inspiraram os debates em
torno da Lei nº 9.394, promulgada em 20 de dezembro de 1996. É oportuno
assinalar que a referida lei foi promulgada no Brasil após oito anos de debate no
Congresso Nacional. Ademais, é possível afirmar que, após a Lei nº 4.024/61
(primeira lei de ensino no Brasil), a Lei nº 9.394/96 configura-se como a segunda
lei de ensino, tendo em vista que a Lei nº 5.692/71 constitui-se uma lei de
reforma, que tomou por base de sustentação a Lei nº 4.024/61.
A atual lei do ensino no Brasil é objeto de análise e reflexão no estudo
aqui proposto. Consequentemente, permite construir uma visão das políticas
públicas voltadas à Educação de Jovens e Adultos, favorecendo aos estudantes
que têm esse foco de estudo o vislumbre de uma visão social, cultural e política
do processo de escolarização.
A análise central do estudo está ancorada na análise da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional – a Lei nº 9.394/96 – e nos possíveis avanços
dessa lei do ensino diante da Educação de Jovens e Adultos. Ainda tomando por
base a legislação em questão, busca-se analisar seus progressos em relação às
leis de ensino que a antecederam.
Para saber mais sobre a Lei nº 9.394/96, clique no ícone a seguir e leia o
texto intitulado: “LDB: uma lei sem lei” (BRZEZINSKI, Iria (Org.) LDB dez anos
depois: reinterpretação sob diversos olhares. São Paulo: Cortez, 2008). A autora
apresenta uma abordagem esclarecedora acerca da Legislação de Ensino no
Brasil, com um olhar crítico e contextualizado.
http://paginacultural.com.br/autores/ldb-uma-lei-sem-lei/
A primeira lei do ensino no Brasil: Lei nº 4.024/61
Trazendo à discussão a Lei nº 4.024/61 – a primeira lei de ensino do país
–, a qual entrou em tramitação em 1948, podemos destacar que, com sua
promulgação, o Estado tomou para si a obrigação do ensino. Assim afirma o
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artigo 2° da referida lei, que “a educação é um direito de todos”. No inciso II,
distingue:
“Pela obrigação do Estado de fornecer recursos indispensáveis para que
a família, e na falta desta, os demais membros da sociedade se desobriguem
dos encargos da educação, quando provada insuficiência de meios, de modo
que sejam asseguradas iguais oportunidades a todos.” (Lei nº 4024-1961)
Para ler a Lei nº 4.024/61 na íntegra, clique no ícone indicado a seguir:
http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/129047/lei-de-diretrizes-e-
base-de-1961-lei-4024-61
Nesse cenário, o Estado assume um papel centralizador, e a educação, a
partir de então, passa a se constituir em um sistema único de ensino. Em face
da promulgação dessa lei, que tornava o ensino público do curso primário de
quatro anos obrigatório e gratuito, gerou, de certa forma, uma esperança por
parte dos educadores que lutavam por um modelo educativo menos excludente,
o qual promoveria a participação das camadas menos favorecidas na vida social
e econômica do país.
Analise a figura a seguir e perceba que ela expressa a possibilidade da
aceitação das demandas populares, que imprimiram novas características à
modalidade de ensino aqui retratada.
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A legislação em questão procura destacar o papel do Estado como gestor
de ações educativas, figurando-se como democratizador do processo de ensino.
É importante frisar, ainda, as distinções entre o que o Estado intenciona
fazer e o que de fato faz, pois as políticas públicas em uma democracia são
também uma questão de ações coletivas. Assim, a primeira lei de ensino por si
só não seria capaz de gerar grandes mudanças no cenário educativo – uma
análise crítica desvenda uma legislação sob o corolário de integração dos
excluídos no sistema de ensino, mas, na prática educativa, tal pretensão não se
efetivou. As expectativas dos educadores em torno da inclusão e da ampliação
da participação social, política e econômica dos estudantes atendidos pela
Educação de Jovens e Adultos foram frustradas.
Clique no ícone a seguir e assista ao vídeo do Prof. Dr. Miguel Arroyo. Ele
profere uma palestra sobre a Educação de Jovens e Adultos como prática
cotidiana de inserção de cidadãos em uma sociedade.
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http://www.youtube.com/watch?v=Qy5Fyz5G3Sk
Se por um lado a Lei nº 4.024/61 estrutura o sistema de ensino nacional
brasileiro e institui a obrigatoriedade da educação de quatro anos do ensino
fundamental, por outro lado precisamos salientar que essa mesma lei também
cumpriu o papel de “ajustar a educação aos reclamos postos pelo modelo
econômico do capitalismo do mercado associado dependente, articulado a
doutrina da interdependência” (SAVIANI, 2007, p. 364).
Tendo como base os nossos estudos e o vídeo anterior, reflita sobre a
seguinte questão:
O acesso e a permanência do jovem, do adulto e do idoso à
educação sofreu profundas transformações em relação à primeira lei do
ensino no Brasil?
Ora, a configuração do capitalismo exige pessoas mais capacitadas para
lidar com as novas exigências do trabalho, que deixa de ser meramente braçal
para exigir maior preparo na manipulação de máquinas. Essa realidade
considera que a tecnologia das máquinas cobra do trabalhador conhecimentos
além da escrita do próprio nome. Com essa configuração social e econômica, há
o aprofundamento das relações capitalistas, “decorrente da opção pelo modelo
associado-dependente, que trouxe consigo o entendimento de que a educação
jogava um papel importante no desenvolvimento e consolidação dessas
relações” (SAVIANI, 2007, p. 364).
A escola passa, portanto, a “ser necessária”, em especial ao adulto que
precisa inserir-se no mercado de trabalho. Em verdade, a educação para o povo
apenas “começou a ser valorizada como processo sistemático quando a
Revolução Industrial passou a exigir o domínio das técnicas de leitura e escrita
por parte de um maior número de pessoas” (PAIVA, 1987, p. 26).
A figura a seguir, lançando mão da sátira, expressa “ludicamente” a
exigência de maior preparo para o trabalho. Acompanhe:
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Perceba que a ilustração anterior mostra, de forma irreverente, que a
Revolução Industrial exigiu um novo perfil de trabalhador.
Qual o impacto dessa demanda para a escola, em especial para a
Educação de Jovens e Adultos?
As exigências de um “novo perfil de trabalhador” acabou impactando em
reformulações na legislação anteriormente retratada. Assim, com vistas a
oferecer uma formação técnica e aligeirada ao adulto não alfabetizado, o ensino
supletivo assentou suas razões e proposições.
Vale destacar que o modelo de ensino supletivo nasceu no bojo de uma
educação tecnicista, implantado pela Lei de Reforma nº 5.692/71. Saviani (1998)
retrata que a ruptura política “levada a efeito pelo golpe militar de 1964 foi
considerada necessária pelos setores economicamente dominantes, para
garantir a continuidade da ordem socioeconômica”. (SAVIANI, 1998, p. 21)
Essa situação socioeconômica demandava mudanças na legislação do
ensino; consta que o governo militar não pensou ser necessário editar uma nova
legislação e, de tal forma, realizou ajustes que julgou pertinentes na legislação
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vigente, promulgando, assim, a Lei da Reforma – Lei nº 5.692, de 11 de agosto
de 1971. Elaborada pelos governos militares, a Lei de Reforma é reveladora
dessa tendência produtivista da educação enquanto elemento útil ao sistema
capitalista. A lei traz, no seu artigo 24, a criação do ensino supletivo, que tem
como objetivos:
a) Suprir a escolarização regular para os adolescentes e os adultos
que não a tenham seguido ou concluído na idade própria;
b) Proporcionar, mediante repetida volta à escola, estudos de
aperfeiçoamento ou atualização para os que tenham seguido o ensino regular
no seu todo ou em parte dele;
Art. 25. O ensino supletivo abrangerá, conforme as necessidades a
atender, desde a iniciação no ensino de ler, escrever e contar e a formação
profissional definida.
Conforme citado anteriormente, a Lei nº 5.692/71 implantou o ensino
supletivo, dedicando um capítulo à Educação de Jovens e Adultos, ainda que
sob um prisma tecnicista, pautada, como a própria lei aponta, em técnicas
elementares de leitura no campo da alfabetização.
Assim, a Lei nº 5.692/71 representa a posição do Estado diante de uma
busca de solução técnica para a educação, sob a égide da eficiência e da
produtividade. Percebemos, então, que a teoria constitui-se como “pano de
fundo” da Lei nº 5.692/71, que vê no professor um executor eficiente de “medidas
tomadas na esfera da tecnocracia ocupada por técnicos oriundos da esfera
econômica” (SAVIANI, 1997, p. 33).
No que tange à Educação de Jovens e Adultos:
A partir da Lei nº 5.692/71, houve grande difusão do ensino supletivo
promovido pelo MEC, com a implantação dos Centros de Ensino Supletivo
(CESs). A concepção de ensino supletivo restringia-se à educação
compensatória, de reposição de conhecimentos àqueles que não estudaram na
idade própria, reduzindo o conceito de educação apenas às vivências escolares
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e desconsiderando as especificidades e as experiências de vida do jovem e do
adulto (CURITIBA, 2006, p. 43).
Diante do exposto, fica expresso que as legislações anteriores tratam a
educação de forma reducionista, afinando o modelo educativo às exigências do
trabalho, diante dos contextos históricos vigentes, em especial a Educação de
Jovens e Adultos, que revela, nas legislações, um caráter compensatório e
representa uma espécie de “doação” àqueles que não tiveram acesso à
educação em idade adequada, ou seja, o “mínimo” necessário para que essas
pessoas tenham condições de se inserir em um trabalho que lhes garanta
alguma subsistência.
Um olhar para a história da educação mostra que a Constituição de 1988
representou um marco para a popularização do ensino quando, em seu artigo
208, apresentou o ensino fundamental obrigatório e gratuito e, por se tratar de
direito, “público subjetivo, o entendimento é que o acesso não se circunscreve
ao primeiro acesso à escola, mas se coloca também para os que, por qualquer
razão, a abandonaram” (PEREIRA; TEIXEIRA, 2007, p. 95).
A configuração revela a preocupação com a educação de adultos, tendo
em vista que, na década de 1980, 74.600 pessoas acima de 15 anos foram
consideradas analfabetas no Brasil. (INEP, Mapa do Analfabetismo no Brasil,
2014).
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(Vídeo disponível no material on-line)
A Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996: seus impactos na
Educação de Jovens e Adultos
Podemos afirmar que Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, foi fruto
de debates que decorreram desde 1988. Em sua primeira versão, a lei teve como
relator o deputado Jorge Hage, o qual Saviani (1998) descreve com o seguinte
perfil:
“Demonstrou competência, tenacidade, capacidade de trabalho,
habilidade de negociação e foi incansável no empenho em ouvir
democraticamente todos os que, a seu juízo, pudessem de alguma forma
contribuir para o equacionamento da matéria em pauta, tendo percorrido o país
a convite ou por sua própria iniciativa para participar de eventos dos mais
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diferentes tipos em que expunha o andamento do projeto e acolhia as mais
diversas sugestões” (SAVIANI, 1998).
Jorge Hage Sobrinho é advogado, professor e político brasileiro. É o atual
ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), órgão da Presidência da
República do Brasil responsável pelos sistemas de controle interno e de
correição, bem como pela supervisão das unidades de ouvidoria do poder
executivo federal e pelas ações de prevenção da corrupção. (FONTE:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_Hage)
No que tange à Educação de Jovens e Adultos, o projeto de lei de Jorge
Hage apresentou significativos avanços para essa etapa da educação básica,
pois buscou construir uma educação em harmonia com esse nível de ensino,
evitando o ensino supletivo e a carga de valores que esse termo carregava.
Com base na contribuição de segmentos representados por educadores
à primeira versão da legislação (sob relatoria de Jorge Hage), criou-se uma visão
peculiar da educação voltada ao púbico jovem e ao adulto trabalhador, pois o
projeto considerou que esse segmento da educação possui uma forma singular
de perceber o mundo e conceber a vida. Levando em conta as experiências de
trabalho que essas pessoas possuem, ainda procurou-se criar condições para
que a Educação de Jovens e Adultos fosse estruturada em uma realidade
concreta do adulto inserido na sociedade e no trabalho. Tratou os conteúdos
curriculares, centrando-os na prática social e no trabalho, com metodologia de
ensino-aprendizagem adequada à experiência do aluno.
Trouxe, enfim, enormes avanços, contemplando dimensões relevantes,
como: professores especializados, programas sociais de alimentação e incentivo
às empresas para o oferecimento da educação de adultos. Tais aspectos
revelaram um compromisso genuíno com esse nível de ensino.
No texto do projeto de lei, foi expresso o interesse e as condições para
que os adultos pudessem realizar seus estudos, pois é certo que não basta
implementar programas e oferecer escolas sem o necessário suporte para que
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o aluno ingresse e tenha condições de permanecer e dar continuidade à sua
formação escolar.
Porém o projeto, sob relatoria de Jorge Hage, contrariando interesses de
segmentos, em especial do governo Collor, sofreu emperramentos e obstruções
e, em 1992, foi substituído pelo projeto do então Senador Darcy Ribeiro.
Nesse novo projeto, a educação, de maneira geral e em especial a
Educação de Jovens e Adultos, apresentou-se de maneira antidemocrática e
reducionista e, diante das batalhas de ideologias, o projeto do Senador Darcy
Ribeiro, com algumas inserções do projeto que o antecedeu, logrou êxito e foi
aprovado pela maioria do Congresso Nacional em 1995.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, toma por
base o projeto do Senador Darcy Ribeiro, que na definição de Severino (2007):
“Prevalece o caráter ideológico da lei disfarçado em sua retórica, não respondendo mais uma vez, às reais necessidades da população brasileira em matéria de educação […] fica evidente que a nova lei não decorre de um compromisso político mais amplo e profundo da sociedade brasileira no sentido de se implementar, pela mediação da educação, substantivas na realidade concreta. […] Impõe-se reconhecer que o texto final da LDB é o resultado histórico possível frente ao jogo de forças e de interesses em conflito no contexto da atual conjuntura política da sociedade brasileira.” (SEVERINO, 2007, p. 65, 66, 67).
A crítica dos educadores e da sociedade civil, diante de tal lei, deveu-se
à ausência do compromisso político com os debates e, ainda, todas as propostas
de inclusão dos “excluídos” – como jovens e adultos sem (ou com pouca)
escolaridade – não foram contempladas, considerando-se o que foi apresentado
anteriormente na exposição do projeto de Lei sob relatoria de Jorge Hage como:
“redução de jornada de trabalho em até duas horas diárias, sem prejuízo salarial,
para estudantes trabalhadores; oferta de trabalho em tempo parcial para
adolescentes; intervalos de estudos para trabalhadores.” (PEREIRA; TEIXEIRA,
2007, p. 103).
(Vídeo disponível no material on-line)
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Revendo a problematização
Muito bem! Acredito que já tenhamos tido tempo suficiente para refletir
sobre o caso apresentado no início dos estudos deste tema.
Analise as opções a seguir e sinalize qual é a resposta mais viável para o caso.
a. A Professora Maria José deve, em conjunto com seus estudantes,
escrever uma carta ao Conselho Municipal de Educação pedindo que as
leis educacionais atendam as necessidades dos adultos que trabalham
durante o dia e têm dificuldades de estudar à noite.
b. A professora deve aproveitar essa oportunidade para explicar aos alunos
sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394/96
–, que rege a educação nacional, aproveitando o momento para retratar
os processos históricos que envolveram a promulgação da lei em
questão.
c. A professora deve propor ao Sr. Alcides uma redução de sua jornada
diária de estudos.
Feedback:
a. O fato de produzir uma carta será bastante positivo à aprendizagem dos
alunos, pois eles irão conquistar ricas aprendizagens, além da professora
estar ensinando aos alunos o verdadeiro sentido da cidadania ao
reivindicar os direitos aos órgãos competentes. Todavia, ela deve explicar
que por si só o Conselho Municipal da Educação não pode mudar as leis
do ensino no Brasil, pois isso depende de instâncias superiores, como
projetos de leis, que devem ser aprovados no Congresso Nacional.
b. É relevante que os estudantes conheçam as leis que regem o ensino no
país, em especial os alunos adultos, que, em posse desse conhecimento,
têm a possibilidade de exigir seus direitos. Diante dessa temática, a
professora também deve abordar o processo histórico que antecedeu a
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Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, pois, diante de uma
situação concreta, os alunos terão a oportunidade de compreender que
os fatos não são fruto do acaso, mais, sim, de conquistas e de perdas,
que envolvem lutas de pessoas (reais e concretas) engajadas em causas
coletivas.
c. A professora não tem autonomia de reduzir a jornada de estudos de seus
alunos, pois essa jornada é definida pela Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Porém a professora deve incentivar o aluno para que
ele não desista e, em conjunto com a direção e com a equipe pedagógica
da escola, permitir atrasos ou, em caso de faltas, orientar o Sr. Alcides
que solicite declarações de trabalho, com o objetivo de justificar as suas
faltas, uma vez que suas ausências têm motivos justos.
Síntese
Durante nossos estudos, fizemos uma reflexão abrangente acerca da
legislação vigente, procurando retratar seus propósitos no que tange à Educação
de Jovens e Adultos. Vimos, também, que, se tomarmos como base as
legislações anteriores, a Lei de Diretrizes e Bases representou avanços para a
educação. Essa análise assenta-se no fato de que a legislação em questão traz
a responsabilidade da União frente à Educação de Jovens e Adultos e também
define as responsabilidades dos estados e dos municípios com a educação
básica, considerando que esse nível de educação integra a educação básica.
O artigo nº 37 da Lei nº 9.394/96 assim define a Educação de Jovens e
Adultos: “será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de
estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”. Considerando que a
idade própria vai dos 7 aos 14 anos de idade, isso implica que o jovem deve ser
maior de 15 anos para ingressar nesse nível de ensino.
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Convém ressaltarmos, entretanto, que os avanços gerados pela Lei nº
9.394/96 são parcos diante da expectativa da sociedade civil, dos educadores e
dos fóruns envolvidos nos debates que precederam a publicação de tal lei. O
teor da legislação em questão não atende o que foi almejado para a Educação
de Jovens e Adultos no já descrito projeto da relatoria de Jorge Hage. Embora
os olhares não possam ser cerrados ao fato de que essa lei amplia o ensino
obrigatório de quatro para oito anos e coloca a Educação de Jovens e Adultos
no mesmo patamar dos outros níveis de ensino, isso representa um avanço, se
tomarmos por base as legislações anteriores de ensino.
O texto final da Lei nº 9.394/96 é um resultado histórico, que representa
os interesses e as aspirações já descritas; mas o fato é que a população
brasileira ainda precisa de educação básica e o analfabetismo ainda demanda,
por parte do governo, a criação de programas paralelos voltados para a
alfabetização de jovens, adultos e idosos, visando a erradicação do
analfabetismo.
No que refere-se à Educação de Jovens e Adultos, tendo em vista as
legislações de ensino no Brasil, cremos ser necessário considerar esse nível de
ensino em sua especificidade e procurar modos de superação do “mito do direito
de todos à educação, quando o número de brasileiros que chegam às escolas
do país e dos que nela conseguem permanecer é chocante e irrisório” (FREIRE,
2005, p. 159). A escola, em especial a de jovens e adultos, está para a formação
de leitores, em especial leitores críticos da realidade social. Contudo, muitas
vezes, conduz sua ação de forma frágil, vitimada pela implementação de
programas que lhe são impostos, sem que participe de debates e, na maioria
das vezes, fica ausente dos planos de implementação.
Dessa maneira, as análises aqui tecidas procuram situar, de forma ampla,
a legislação do ensino no Brasil, em especial seus objetivos e impactos na
Educação de Jovens e Adultos, como políticas que se materializam em Lei de
Diretrizes e Bases, que, no âmago de suas proposições, são objetos de anseios,
lutas e debates. Por outro lado, quando tais leis são promulgadas, elas não
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apresentam, em seu teor, reflexos de toda a luta que se travou em busca de uma
educação democrática e de qualidade.
Vale mencionar, ainda, que a prática do diálogo, a promoção à
participação e o debate de ideias abrem possibilidades para a reflexão acerca
de políticas afinadas com o tempo histórico em que vivemos e, de alguma forma,
permitem contemplar as necessidades daqueles que não tiveram acesso à
educação no tempo adequado.
(Vídeo disponível no material on-line)
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Referências
BRASIL. Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Disponível em:
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4024.htm). Acesso em: 15 março de
2014.
_________. Lei n. 5692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para
o Ensino de 1. e 2. Graus, e dá outras Providências. Disponível em:
(http://www.camara.gov.br/sileg/integras/136683.pdf). Acesso em: 31 março de
2014.
_________. Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional. Disponível em:
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm). Acesso em: 20 novembro
de 2013.
BRZEZINSKI, I. LDB Interpretada: diversos olhares se entrecruzam. São Paulo:
Cortez, 2007.
FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática da libertação. Uma introdução ao
pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Centauro, 2005.
INEP. Mapa do Analfabetismo no Brasil. Disponível em:
(http://www.publicacoes.inep.gov.br/). Acesso em: 2 de junho de 2014.
PAIVA, V. Educação popular e educação de adultos. São Paulo: Editora
Loyola, 1987.
PEREIRA, E; TEIXEIRA, Z. A. Educação básica redimensionada. In: B, Iria (org.).
LDB Interpretada: diversos olhares se entrecruzam. São Paulo: Cortez, 2007.
SAVIANI, D. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. São
Paulo: Autores Associados, 1997.
_________. Educação do senso comum à consciência filosófica. 12. ed.
Campinas, SP: 1998.
__________. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores
Associados, 2007.
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SEVERINO. A J. Os embates da cidadania: ensaio de uma abordagem filosófica
da nova lei de diretrizes e bases da educação nacional. In: BRZEZINSKI, Iria
(org.). L.D.B. Interpretada: diversos olhares se entrecruzam. São Paulo: Cortez,
1997.
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Atividades
A primeira lei de ensino do país entrou em tramitação em 1948. Vale
destacar que, com sua promulgação, o Estado tomou para si a obrigação
do ensino. Sobre a primeira lei de ensino do país, analise as proposições
a seguir, no que refere-se à legislação do ensino, classificando-as em
verdadeiro (V) e falso (F). Em seguida, selecione a alternativa que
apresenta a sequência correta:
( ) A primeira lei de ensino no país é denominada de Lei de Diretrizes e
Bases da Educação – Lei nº 4.024, de 1961.
( ) No cenário da primeira lei de ensino do país, o Estado assumiu um
papel centralizador, e a educação, a partir de então, passou a constituir-se
em um sistema único de ensino.
( ) Em face da promulgação dessa lei, originou-se o curso primário de
quatro anos de duração, obrigatório e gratuito.
( ) A primeira lei de ensino no país trouxe a obrigatoriedade de
oferecimento da Educação de Jovens e Adultos àqueles que não tiveram
acesso à escolaridade na idade apropriada.
a. F – V – F – V
b. V – F – V – F
c. V – V – V – F
d. F – F – V – V
A Lei nº 9.394/96 foi fruto de debates que decorreram desde 1988. Em
sua primeira versão, teve como relator o deputado Jorge Hage. Em
relação ao projeto do deputado Jorge Hage, primeira versão de nossa
última lei de ensino no Brasil, analise as proposições a seguir e, em
seguida, selecione a alternativa que contém as sentenças corretas:
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I – Com o “Projeto Jorge Hage”, criou-se uma visão peculiar da educação
voltada ao púbico jovem e ao adulto trabalhador, pois o projeto considerou
que esse segmento da educação possui uma forma singular de perceber o
mundo e conceber a vida.
II – Com o “Projeto Jorge Hage”, procurou-se criar condições para que a
Educação de Jovens e Adultos fosse estruturada em uma realidade
concreta do adulto inserido na sociedade e no trabalho.
III- No “Projeto Jorge Hage”, tratou-se dos conteúdos curriculares,
centrando-os na prática social e no trabalho, com metodologia de ensino-
aprendizagem adequada à experiência do aluno.
IV – O “Projeto Jorge Hage” trouxe vários benefícios à educação de adultos,
todavia pecou quando não contemplou programas sociais de alimentação
e incentivo às empresas para o oferecimento da educação de adultos.
a. I, II e III
b. I, II e IV
c. I, III e IV
d. II, III e IV
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico
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Relacione a coluna A com a coluna B e, em seguida, selecione a
alternativa que apresenta a sequência correta da coluna B de cima para
baixo.
Coluna A Coluna B
I. Lei nº 4.024, de 1961.
II. Lei nº 9.394, de 1996.
III. “Projeto Jorge Hage”.
IV. Lei nº 5.692, de 1971.
( ) Apresentou incentivo às empresas
para o oferecimento da educação de
adultos.
( ) Incluiu a Educação de Jovens e
Adultos à educação básica.
( ) Imprimiu o tecnicismo à educação
e inaugurou o ensino supletivo.
( ) Trouxe a obrigatoriedade de
ensino de quatro anos, denominado
de ensino primário.
a. II – I – IV – III
b. II – IV – III – I
c. I – II – III – IV
d. III – II – IV – I
O artigo nº 37 da Lei nº 9.394/96 assim define a Educação de Jovens e
Adultos: “será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade
de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”. Com base
nessa afirmação, é correto afirmar que:
a. O jovem, para frequentar a Educação de Jovens e Adultos, deve ser maior
de 15 anos de idade.
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico
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b. A Educação de Jovens e Adultos é um nível de ensino obrigatório
legalmente.
c. A Educação de Jovens e Adultos constitui-se da última etapa da educação
básica.
d. A Educação de Jovens e Adultos é legalmente oferecida em todas as
empresas que fornecem trabalho para adultos analfabetos.
O capitalismo exige pessoas mais capacitadas para lidar com as novas
exigências do trabalho, que deixa de ser meramente braçal para exigir um
maior preparo na manipulação de máquinas. Com base nessa afirmação,
é correto afirmar que:
I. As escolas estavam preparadas para a configuração do capitalismo e
suas exigências quanto ao preparo do aluno trabalhador.
II. Essa realidade considera que a tecnologia das máquinas cobra do
trabalhador conhecimentos para além da escrita do próprio nome.
III. Com a configuração social e econômica, na ocasião da Revolução
Industrial, há o aprofundamento das relações capitalistas, que trouxe
consigo o entendimento de que a educação jogava um papel importante no
desenvolvimento da economia.
IV. Nesse cenário, a escola passa a ser necessária, em especial ao adulto
que precisa inserir-se no mercado de trabalho.
Selecione a alternativa que contém os itens corretos:
a. I, II e III
b. I, II e IV
c. I, III e IV
d. II, III e IV