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CCDD Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Tema Direito Penal e os Crimes Contra a Administração Pública Projeto Pós-graduação Curso MBA em Administração Pública e Gerência de Cidades Disciplina Crimes na Administração Pública Tema Direito Penal e os Crimes Contra a Administração Pública Professor Débora Veneral Introdução Antes de iniciar seus estudos, assista ao vídeo no material on-line. Verifica-se que o Código Penal Brasileiro reservou um título apenas para tratar dos crimes contra a administração pública, além de leis especiais que tratam das condutas que envolvem o funcionalismo público. Primeiramente, é importante destacar o conceito de funcionário público para que se torne possível delimitar as condutas praticadas na administração pública. Ao analisá-las é possível identificar os tipos penais e os requisitos para aplicação de uma punição, se necessário. No vídeo no material on-line, a professora Débora fará a introdução dos assuntos que serão abordados neste tema, esteja atento.

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Tema – Direito Penal e os Crimes Contra a Administração

Pública

Projeto Pós-graduação

Curso MBA em Administração Pública e Gerência de

Cidades

Disciplina Crimes na Administração Pública

Tema Direito Penal e os Crimes Contra a Administração

Pública

Professor Débora Veneral

Introdução

Antes de iniciar seus estudos, assista ao vídeo no material on-line.

Verifica-se que o Código Penal Brasileiro reservou um título apenas para

tratar dos crimes contra a administração pública, além de leis especiais que

tratam das condutas que envolvem o funcionalismo público.

Primeiramente, é importante destacar o conceito de funcionário público

para que se torne possível delimitar as condutas praticadas na administração

pública. Ao analisá-las é possível identificar os tipos penais e os requisitos para

aplicação de uma punição, se necessário.

No vídeo no material on-line, a professora Débora fará a introdução dos

assuntos que serão abordados neste tema, esteja atento.

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PARTE 1

Funcionário Público

O artigo 327 do Código Penal Brasileiro define as atribuições do

funcionário público:

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais,

quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego

ou função pública.

§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou

função em entidade paraestatal e quem trabalha para empresa prestadora de

serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da

Administração Pública.

§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos

crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de

função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta,

sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo

poder público.

Administração Pública

No direito administrativo são vários os conceitos de administração

pública descritos por doutrinadores, porém, o do ilustre Cretella Júnior (1966)

foi o escolhido para constar neste material:

“Administração não é só governo, poder executivo, como também a

complexa máquina administrativa, a pessoa que a movimenta, a atividade

desenvolvida por esse aparelhamento que possibilita ao Estado o

preenchimento de seus fins. Administração pública é a atividade que o Estado

desenvolve através de atos concretos e executórios para a consecução direta,

ininterrupta e imediata dos interesses públicos.”

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Dos Crimes Praticados por Funcionário Público Contra a

Administração em Geral

Peculato

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou

qualquer outro bem móvel, público ou particular de que tem a posse em razão

do cargo, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio:

Pena - reclusão de dois a doze anos e multa.

§ 1º - Aplica-se a mesma pena se o funcionário público, embora não

tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai ou concorre para que seja

subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe

proporciona a qualidade de funcionário.

Peculato Culposo

§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:

Pena - detenção de três meses a um ano.

§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à

sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de

metade a pena imposta.

Considera-se peculato culposo: apropriar-se, que significa tomar

como propriedade sua ou apossar-se. É o que a doutrina chama de peculato-

apropriação; ou desviar, que significa alterar o destino ou desencaminhar. É o

que a doutrina classifica como peculato-desvio. O termo peculato, desde o

início, teve o significado de furto de coisa do Estado.

Sujeitos ativo e passivo: o sujeito ativo somente pode ser o funcionário

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público. O sujeito passivo é o Estado. Secundariamente, a entidade de direito

público ou o particular prejudicado.

Dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel:

Dinheiro é a moeda em vigor, destinada a proporcionar a aquisição de

bens e serviços.

Valor é tudo aquilo que pode ser convertido em dinheiro, que possui o

poder de compra e traz para alguém, mesmo que indiretamente,

benefícios materiais.

Outro bem móvel é fruto da interpretação analógica, isto é, dados

exemplos, dinheiro e valor, o tipo penal amplia a possibilidade de

qualquer outro bem. Semelhante aos primeiros, pode constituir a figura

do peculato. Assim, se o funcionário receber uma joia, configura-se a

hipótese de “outro bem móvel”.

Origem do bem recebido: pode ser de natureza pública, pertencente à

administração pública ou particular (pessoa não integrante da administração);

em ambas as hipóteses, necessita estar em poder do funcionário público em

razão de seu cargo.

Conceito de posse: abrange a mera detenção.

Em razão do cargo: o funcionário necessita fazer uso de seu cargo para

obter a posse de dinheiro, valor ou outro bem móvel.

Elemento subjetivo do tipo: é o dolo. Exige-se o elemento subjetivo

específico. Consiste na vontade de se apossar, definitivamente, do bem em

beneficio próprio ou de terceiro.

Peculato de uso: assim como o furto, não se configura crime quando o

funcionário público utiliza um bem qualquer infungível, em seu beneficio ou de

outrem, mas com a nítida intenção de devolver, isto é, sem que exista a

vontade de se apossar do que não lhe pertence, mas está sob sua guarda. A

vontade de se apropriar demonstra que a intenção precisa estar voltada à

conquista definitiva do bem.

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Receber dinheiro ou outro valor de particular e aplicar na própria

repartição: comete peculato-desvio, pois o valor foi destinado ao Estado, não

sendo da esfera de atribuição do funcionário, sem autorização legal, aplicá-lo

na repartição, ainda que para a melhoria do serviço público. Qualquer

investimento nos prédios públicos depende de autorização e qualquer

recebimento de contagem exige a incorporação oficial ao patrimônio do Estado.

Objetos material e jurídico: O objeto material é constituído de dinheiro,

valor ou qualquer outro bem móvel. O objeto jurídico é a administração pública,

levando-se em conta seu interesse patrimonial e moral.

Classificação

Crime Próprio: aquele que somente pode ser cometido por sujeito ativo

qualificado ou especial.

Material: crime que exige o resultado naturalístico para sua

consumação, consistente no efetivo benefício auferido pelo agente.

De forma livre: pode ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente.

Comissivo: os verbos implicam em ações.

Omissivo impróprio ou comissivo por omissão: quando o agente tem o

dever jurídico de evitar o resultado, nos termos do art. 13 §2º, CP.

Instantâneo: cuja consumação não se prolonga no tempo, dando-se em

momento determinado.

Unissubjetivo: aquele que pode ser cometido por um único sujeito.

Plurissubjetivo: crime que exige pelo menos duas pessoas.

Lurissubsistente: delito cuja ação é composta por vários atos,

permitindo-se o seu fracionamento, admite tentativa.

Concurso de pessoas: a condição pessoal do agente comunica-se ao

coautor, porque elementar é o crime.

Elemento normativo do tipo: valer-se de facilidade proporcionada pela

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qualidade de funcionário é fundamental para a configuração do peculato-furto.

Assim, não basta que haja a subtração, sendo indispensável que ela se

concretize em razão da facilidade encontrada pelo funcionário para tanto.

Peculato culposo: é a figura a ser preenchida por meio do elemento

subjetivo culpa, isto é, imprudência, negligência ou imperícia.

Causa de extinção da punibilidade ou de redução da pena: aplicável

somente ao peculato culposo. É possível que o funcionário reconheça a sua

responsabilidade pelo crime alheio e decida reparar o dano, restituindo à

Administração o que lhe foi retirado. Nessa hipótese, extingue-se a

punibilidade, se tal reparação se der antes do trânsito em julgado de sentença

condenatória.

Peculato Mediante Erro de Outrem

Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no

exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:

Pena - reclusão de um a quatro anos e multa.

Análise do núcleo do tipo: apropriar-se, como mencionado, significa

tomar algo como propriedade sua ou apossar-se. É o chamado peculato-

estelionato ou peculato-impróprio.

Sujeito ativo e sujeito passivo: o sujeito passivo é somente o

funcionário público. O sujeito ativo é o Estado; secundariamente, a entidade de

direito público ou a pessoa prejudicada.

Elemento subjetivo do tipo: é o dolo. Entendemos não haver, também,

elemento subjetivo do tipo específico. A vontade específica de pretender

apossar-se de coisa pertencente a outra pessoa está ínsita no verbo “apropriar-

se”. Portanto, incidindo sobre o núcleo do tipo, o dolo é suficiente para

configurar o crime de peculato-apropriação.

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Dinheiro ou qualquer utilidade: dinheiro é a moeda corrente oficial

destinada a proporcionar a sua troca por bens e serviços. Utilidade é qualquer

vantagem ou lucro.

No exercício do cargo: o que se tem em conta é que o funcionário,

prevalecendo-se das suas funções, consegue obter valor que não lhe chegaria

às mãos não fosse o cargo exercido.

Objetos material e jurídico: o objeto material é dinheiro ou outra

utilidade. O objeto jurídico é a Administração Pública (interesse patrimonial e

moral).

Inserção de Dados Falsos em Sistema de Informações

Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de

dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas

informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de

obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano.

Pena – reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa.

Figura semelhante ao peculato impróprio: equivale a compará-lo com

o peculato impróprio ou o peculato-estelionato. Neste, o sujeito apropria-se de

dinheiro ou de outra utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por engano

de outrem. Naturalmente, é de se considerar que o dinheiro deveria ter ido

parar nos cofres da Administração Pública, mas termina com o funcionário

(sujeito ativo específico).

Análise do núcleo do tipo: inserir (introduzir ou incluir) ou facilitar a

inserção (permitir que alguém introduza ou inclua), alterar (modificar ou mudar)

ou excluir (remover ou eliminar) são condutas puníveis O objeto é dado falso

ou correto, conforme o caso.

Vantagem indevida: pode ser qualquer lucro, ganho, privilégio ou

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beneficio ilícito, ou seja, contrário ao direito, ainda que ofensivo apenas aos

bons costumes.

Objeto material e jurídico: o objeto material são os dados falsos ou

verdadeiros de sistemas informatizados ou banco de dados. O objeto jurídico é

a administração pública, nos seus interesses materiais e morais.

Modificação ou Alteração Não Autorizada de Sistema de Informações

Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou

programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade

competente:

Pena – detenção de 3 (três) meses a 2 (dois) anos e multa.

Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se

da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para

o administrado.

Análise do núcleo do tipo:

Modificar: imprimir um novo modo, transformar de maneira determinada.

Alterar: mudar de forma desorganizada, decompor o sistema original.

A primeira conduta implica em dar nova forma ao sistema ou programa,

enquanto a segunda tem a conotação de manter o sistema ou programa

anterior, embora conturbando suas informações ou programa de informática.

Elemento subjetivo do tipo: é o dolo. Não existe a forma culposa, nem

se exige elemento subjetivo do tipo específico.

Sistema de informações: é o conjunto de elementos materiais

agrupados e estruturados visando ao fornecimento de dados ou instruções

sobre algo.

Programa de informática: é o software, que permite ao computador ter

utilidade, servindo a uma finalidade qualquer.

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Elemento normativo do tipo: a falta de autorização ou solicitação da

autoridade competente para manipular o sistema de informações ou programa

de informática constitui elemento de ilicitude trazido para dentro do tipo. Assim,

existindo a autorização ou a solicitação, ao invés de licita, torna-se atípica a

conduta.

Objetos material e jurídico: o objeto material pode ser o sistema de

informações ou o programa de informática. O objeto jurídico é a administração

pública (interesse material e moral).

Extravio, Sonegação ou Inutilização de Livro ou Documento

Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a

guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:

Pena - reclusão de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais

grave.

Análise do núcleo do tipo: extraviar é fazer com que algo não chegue

ao seu destino; sonegar significa ocultar ou tirar às escondidas; inutilizar é

destruir ou tornar inútil. Qualquer das condutas pode ser realizada total ou

parcialmente, o que torna mais difícil a configuração da tentativa, já que a

inutilização é delito consumado, em face da descrição típica.

Elemento subjetivo do tipo: é o dolo. Não exige elemento subjetivo

especifico, nem se pune a forma culposa.

Livro oficial ou outro documento: o livro oficial é criado por força da lei

para registrar anotações de interesse para a administração pública.

Objeto material e jurídico: o objeto material é o livro oficial ou outro

documento. O objeto jurídico é a administração pública (nos enfoques

patrimonial e moral).

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Delito Subsidiário: somente aplica o art. 314 quando não houver figura

típica mais grave.

Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas

Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da

estabelecida em lei:

Pena - detenção de um a três meses ou multa.

Análise do núcleo do tipo: dar aplicação significa empregar ou utilizar.

O objeto da conduta são verbas ou rendas públicas.

Verbas ou rendas públicas: verba pública é a dotação de quantia em

dinheiro para o pagamento das despesas do Estado. Renda pública é qualquer

quantia em dinheiro legalmente arrecadada pelo Estado.

Finalidade justa do emprego irregular de verbas: pouco importa. O

funcionário tem o dever legal de ser fiel às regras estabelecidas pela

administração para aplicar o dinheiro público, logo, não havendo exigência,

para este delito, de elemento subjetivo específico, isto é, o objetivo de

prejudicar o Estado, qualquer desvio serve para a configuração do crime.

Conceito de lei: tendo em vista tratar-se de dinheiro público, é preciso

que se compreenda restritivamente o significado de lei. Portanto, é a norma

emanada do Poder Legislativo e não estão incluídos ai meros decretos,

portarias, provimentos ou outras normas em sentido amplo.

Objeto material e jurídico: o objeto material é a verba ou a renda

pública. O objeto jurídico é a administração pública, em seus interesses

patrimonial e moral.

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PARTE 2

No vídeo no material on-line a professora Débora falará dos artigos 316

a 329 do Código Penal, preste bastante atenção!

Concussão

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda

que fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão dela, vantagem

indevida:

Pena - reclusão de dois a oito anos e multa.

Análise do núcleo do tipo: exigir significa ordenar ou demandar,

havendo um aspecto nitidamente impositivo na conduta.

Elemento subjetivo do tipo: é o dolo. Exige-se elemento subjetivo

específico, consiste em destinar a vantagem para si ou para outra pessoa. Não

existe a forma culposa.

Espécie de concussão: na análise de Fernando Henrique Mendes de

Almeida, a concussão se apresenta em três modalidades:

típica (prevista no caput), em que se exige vantagem indevida,

desconectada de qualquer tributo;

própria na qual há o abuso de poder, exigindo-se tributo ou contribuição

indevida ( § 1º, primeira parte);

imprópria, em que se demanda, com abuso de poder, tributo ou

contribuição devida ( §1º, segunda parte) (dos crimes contra a

Administração Pública, p.50).

Modos de atuação: é possível a configuração do delito caso o agente

atue diretamente (sem rodeios e pessoalmente) ou fazendo sua exigência de

modo indireto (disfarçado ou camuflado ou por interposta pessoa).

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Utilização da função: o tipo é explícito ao exigir que o agente valha-se

de sua função demandar a vantagem indevida. Ele pode se encontrar fora da

função (suspenso ou de licença), não ter, ainda, assumido suas atividades

(nomeado, mas não empossado) ou já estar em pleno desenvolvimento de sua

função. Entretanto, em qualquer caso, é indispensável que o reclame a

vantagem invocando sua atividade profissional.

Objetos material e jurídico:

O objeto material é a vantagem indevida.

O objeto jurídico é a administração pública (aspectos: material e moral).

Crime de concussão contra paciente do SUS: é da competência da

justiça estadual, pois a parte prejudicada não é o estabelecimento de saúde,

nem o sistema, ainda que a administração pela União. O ofendido é o

particular.

Conceito de vantagem indevida: pode ser qualquer lucro, ganho,

privilégio ou benefício ilícito, ou seja, contrário ao direito, ainda que ofensivo

apenas aos bons costumes.

Excesso de Exação

§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou

deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio

vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:

Pena - reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos e multa .

§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que

recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos:

Pena - reclusão de dois a doze anos e multa.

Análise do núcleo do tipo: é o excesso de exação qualificado. Quando

o funcionário desviar (alterar o destino original) para si ou para outrem o que

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recebeu indevidamente (aceitar em pagamento sem previsão legal), praticará a

figura qualificada do delito previsto no § 2º O recolhimento apesar de indevido,

destina-se, sempre, aos cofres públicos, uma vez que se trata de Exceção

(cobrança de impostos).

Há duas formas para compor o excesso de exação:

Exigir (demandar, ordenar) o pagamento de tributo ou contribuição social

indevidos;

Empregar (dar emprego ou usar) meio vexatório na cobrança.

Conceito de exação: é a cobrança pontual de tributos. Portanto, o que

este tipo penal tem por fim punir não é a exação em si mesma, mas o seu

excesso, sabido que o abuso de direito é considerado ilícito. Assim, quando o

funcionário cobra tributo além da quantia efetivamente devida, comete excesso

de exação.

Tributo ou contribuição social: tributo é “toda prestação pecuniária

compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa eximir, que não constitua

sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade

administrativa plenamente vinculada” (art. 3º do Código Tributário Nacional). As

contribuições sociais são, atualmente, consideradas também tributos, estando

previstas nos art. 149 e 195 da Constituição Federal.

Cobranças de emolumentos não configuram tributo nem excesso

de exação: “Tipifica-se o excesso de exação pela exigência de tributo ou

contribuição social que o funcionário sabe ou deveria saber indevido, ou,

quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não

autoriza”. No conceito de tributos não se inclui custas ou emolumentos.

Elementos subjetivos do tipo: é o dolo, nas modalidades direta (“que

sabe”) e indireta (“que deveria saber”). Não há elemento subjetivo específico,

nem se pune a forma culposa. Por exclusão, deixou claro o tipo penal que a

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primeira modalidade (exigir tributo ou contribuição social) admite o dolo direto e

dolo eventual, mas a segunda, por não repetir a mesma fórmula, somente

aceita o dolo direto.

Elementos normativos do tipo: o termo indevido evidencia que o

tributo ou a contribuição social cobrados hão de ser impróprios, vale dizer, de

exigência ilícita, seja porque a lei não autoriza que o estado os cobre, seja

porque o contribuinte já os pagou, seja, ainda, porque estão sendo

demandados em valor acima do correto.

Meio vexatório ou gravoso: meio vexatório é o que causa vergonha ou

ultraje; gravoso é o meio oneroso ou opressor.

Norma em branco: é preciso consultar os meios de cobrança de tributos

e contribuições, instituídos em lei específica para apurar se está havendo

excesso de exação.

Objetos material e jurídico: o objeto material é o tributo ou a

contribuição social. O objeto é a Administração Pública (interesses: material e

moral).

Corrupção Passiva

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou

indiretamente, ainda que fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão

dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da

vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato

de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício,

com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:

Pena - detenção de três meses a um ano ou multa.

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Análise do núcleo do tipo: solicitar significa pedir ou requerer; receber

quer dizer aceitar em pagamento ou simplesmente aceitar algo. A segunda

parte do tipo penal prevê a conduta de aceitar promessas, isto é, consentir em

receber dádiva futura.

Elemento subjetivo do tipo: é o dolo. Exige-se o elemento subjetivo

específico, consistente na vontade de praticar a conduta ”em proveito próprio

ou de outrem”. Não há forma culposa.

Necessidade de mencionar expressamente na denúncia o ato de

ofício: não se pode aceitar denúncia oferecida contra funcionário público sem a

indicação de qual é o ato funcional vinculado à suposta vantagem indevida.

Princípio da insignificância: tem aplicação, neste caso, o principio da

bagatela, ou seja, pequenos mimos ou lembranças, destinados a funcionários

públicos, por exemplo, em datas comemorativas – como Natal, Páscoa etc. – é

conduta penalmente irrelevante, não configurando o tipo penal da corrupção

passiva.

Objeto material jurídico: o objeto material é a vantagem indevida. O

objeto jurídico é a Administração Pública (aspecto patrimonial e moral).

Facilitação de Contrabando ou Descaminho

Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de

contrabando ou descaminho (art. 334):

Pena - reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos e multa.

Análise do núcleo do tipo: facilitar (tonar mais fácil, ou seja, sem

grande esforço ou custo) a prática (exercício ou realização) de contrabando ou

descaminho.

Sujeitos: o sujeito ativo é apenas o funcionário público. O sujeito

passivo é o Estado.

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Infração do dever funcional: a expressão integra a conduta típica, não

sendo, pois, suficiente que o funcionário facilite o contrabando ou o

descaminho, mas que o faça infringindo seu dever funcional vale dizer,

deixando de cumprir os deveres previstos em lei. Exige-se que o agente tenha

a função de controlar, fiscalizar e impedir a entrada de mercadoria proibida no

território nacional ou garantir o pagamento de imposto devido pela referida

entrada.

Objetos material e jurídico: o objeto material é a mercadoria

contrabandeada ou o imposto não recolhido. O objeto jurídico é a

Administração Pública (aspectos: material e moral.)

Prevaricação

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício ou

praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou

sentimento pessoal:

Pena - detenção de três meses a um ano e multa.

Análise do núcleo do tipo: retardar significa atrasar ou procrastinar;

deixar de praticar é desistir da execução; praticar é executar ou realizar. Há,

pois, três condutas puníveis no crime de prevaricação. É o que se chama de

auto corrupção própria, já que o funcionário se deixa levar por vantagem

indevida, violando deveres funcionais (Pagliaro & Costa Jr., 2002, p.134)

Elemento normativo do tipo: indevidamente significa não permitido por

lei, infringindo dever funcional. Assim, as duas primeiras condutas (retardar ou

deixar de praticar) devem ser abrangidas por tal elemento.

Ato de ofício: é o ato que o funcionário público deve praticar, segundo

seus deveres funcionais. Exige, pois, estar o agente no exercício da função.

Interesse ou sentimento pessoal: interesse pessoal é qualquer

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proveito, ganho ou vantagem auferida pelo agente, não necessariamente de

natureza econômica.

Objeto material e jurídico: O objeto material é o ato de ofício. O objeto

jurídico é a administração pública (interesse material e moral).

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público de

cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio

ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente

externo:

Pena: detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Análise do núcleo: deixar (não considerar, omitir, desviar-se de algo) é

o verbo central que se associa a cumprir seu dever de vedar (proibir algo por

obrigação legal).

Objeto: é o acesso (alcance de alguma coisa) a aparelho telefônico (de

qualquer espécie - fixo ou móvel-, de rádio - aparelho que recebe e emite sinais

radiofônicos, por meio do qual se ouve algo, mas também se pode transmitir

mensagens) ou similar (qualquer outro aparelho que a moderna tecnologia

capacite à comunicação entre pessoas, como por exemplo, o computador,

apto, atualmente, a promover conversação, seja por meio do teclado, seja em

viva-voz).

Objeto material e jurídico: o objeto material é o aparelho telefônico, de

rádio ou similar. O objeto jurídico é a administração pública (interesses material

e moral), com particular ênfase à segurança.

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Condescendência Criminosa

Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar

subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte

competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:

Pena - detenção de quinze dias a um mês ou multa.

Análise do núcleo do tipo: deixar de responsabilizar significa não

imputar responsabilidade a quem cometeu uma infração para que possa sofrer

as sanções cabíveis; não levantar ao conhecimento é ocultar ou esconder algo

de alguém.

Subordinado: é a pessoa que, numa estrutura hierárquica, deve

cumprir ordens de outra pessoa, considerada o superior.

Cometer a infração no exercício do cargo: para a configuração deste

crime, não se exige que o subordinado seja sancionado pela infração cometida,

nem tampouco que o superior seja obrigado a puni-lo. Quer-se levar em conta

o dever funcional do superior de apurar a responsabilidade do subordinado

pela infração, em tese, que praticou no exercício do seu cargo.

Advocacia Administrativa

Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a

administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário:

Pena - detenção de um a três meses ou multa.

Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:

Pena - detenção de três meses a um ano, além da multa.

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Análise do núcleo: patrocinar significa proteger, beneficiar ou defender.

Seu objeto é o interesse da administração pública.

Valer-se da qualidade de funcionário: a conduta tipificada volta-se

justamente para a pessoa que, sendo funcionária pública, com prestígio junto

aos colegas ou sua facilidade de acesso às informações ou à troca de favores,

termina investindo contra o interesse maior da administração de ser imparcial e

isenta nas suas decisões e na sua atuação.

Violência Arbitrária

Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de

exercê-la:

Pena - detenção de seis meses a três anos, além da pena

correspondente à violência.

Neste caso, apesar de haver discussão se este tipo penal havia sido

revogado pela Lei 4.898/65, a maioria da doutrina entende que não. Trata-

se de crime em que “o bem tutelado é sempre o interesse do bom andamento

da administração pública, que não pode compadecer com a violência de seus

funcionários”.

A conduta desse crime consiste na prática de violência pelo funcionário

no exercício da função ou quando está prestes a exercê-la. A violência a que

se refere o dispositivo diz respeito à violência física ou moral. Portanto, para

configuração desta violência arbitrária é indispensável que haja uma ligação

entre a violência praticada e o exercício real ou suposto da função.

Este crime se consuma com a prática da violência, seja via de fato,

lesões ou homicídio e ainda a violência moral. Admite-se tentativa.

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Abandono de Função

Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:

Pena - detenção de quinze dias a um mês ou multa.

§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público:

Pena - detenção de três meses a um ano e multa.

§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:

Pena - detenção de um a três anos e multa.

Análise do núcleo: abandonar significa largar ou deixar ao desamparo.

Objetiva-se proteger o regular funcionamento dos serviços públicos. Não se

deve confundir o abandono previsto neste tipo penal, que pode configurar-se

em curto espaço de tempo, com o abandono de cargo, estabelecido em lei

específica que rege a carreira do funcionário público, normalmente

demandando um prazo fixo e relativamente extenso.

Elemento normativo: o abandono deve ocorrer “fora dos casos

permitidos em lei”, está o tipo penal prevendo a possibilidade de um funcionário

deixar o cargo licitamente.

Faixa de fronteira: preceitua o art. 1º da lei 6.634/79: “É considerada

área indispensável à segurança nacional a faixa interna de 150 km (cento e

cinquenta quilômetros) de largura, paralela à linha divisória terrestre do

território nacional, que será designada como faixa de fronteira”.

Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou Prolongado

Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as

exigências legais ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber

oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso:

Pena - detenção de quinze dias a um mês ou multa.

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Neste caso, o delito só poderá ser cometido por funcionário público

nomeado, porém, antes da posse, ou ainda, por aquele que já foi exonerado ou

removido.

É imprescindível a presença do dolo.

Neste crime a tentativa é admissível e a consumação ocorre no

momento do exercício da função, ainda que não haja prejuízo à administração.

A conduta descrita no artigo em análise se divide claramente em duas partes:

Entrar no exercício da função pública, antes de satisfeitas as exigências

legais.

Continuar a exercer a função pública depois de exonerado, removido,

substituído ou suspenso.

Tanto uma quanto a outra preenchem os elementos objetivos

necessários à configuração do delito.

Violação de Sigilo Funcional

Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva

permanecer em segredo ou facilitar-lhe a revelação:

Pena - detenção de seis meses a dois anos ou multa, se o fato não

constitui crime mais grave.

§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:

I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo

de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a

sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública;

II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.

§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a

outrem:

Pena – reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa

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A conduta, portanto, divide-se em duas espécies:

Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva

permanecer em segredo (revelação direta).

Facilitar-lhe a revelação (revelação indireta).

(Art. 326) Violação do sigilo de proposta de concorrência, revogado pelo

artigo 94 da Lei 8.666/1993.

Síntese

Neste tema você estudou os crimes de peculatos, fraudes e desvios

contra a administração pública. Você também conheceu as classificações, os

tipos de sujeito, os objetos e as penalidades passíveis a esses tipos de crime.

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Referências

COSTA JR., P. J. da. Comentários ao Código Penal. 7a. ed. atual.

São Paulo: Saraiva, 2002.

CRETELLA JR, J. Tratado de Direito Administrativo. Rio de Janeiro,

1966.

NUCCI, G. de S. Código Penal Comentado. 7a. ed. ver., atual. e ampl.

São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.