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CCDD Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Tema 1 Conceitos em Toxicologia Projeto Pós-graduação Curso Enfermagem do Trabalho Disciplina Toxicologia Tema Conceitos em Toxicologia Professor João Luiz Coelho Ribas Introdução Quando falamos em toxicologia, especialmente a toxicologia ocupacional, estamos falando de algo extremamente sério para os trabalhadores que, muitas vezes, não têm noção da complexidade e da gravidade que produtos teoricamente simples podem trazer à sua saúde. Então, o objetivo desta aula é definir o que é a toxicologia e qual é a sua importância na saúde e no dia a dia dos trabalhadores. Vídeo disponível no material on-line. Problematização A seguir, conheça a história de Lucas, um homem de 45 anos que se encontra com um problema sério de saúde. Preste muita atenção na história e na problematização que será apresentada na sequência e, durante os seus estudos, procure refletir sobre os questionamentos levantados no final da história. Vídeo disponível no material on-line.

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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico

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Tema 1 – Conceitos em Toxicologia

Projeto Pós-graduação

Curso Enfermagem do Trabalho

Disciplina Toxicologia

Tema Conceitos em Toxicologia

Professor João Luiz Coelho Ribas

Introdução

Quando falamos em toxicologia, especialmente a toxicologia

ocupacional, estamos falando de algo extremamente sério para os

trabalhadores que, muitas vezes, não têm noção da complexidade e da

gravidade que produtos teoricamente simples podem trazer à sua saúde.

Então, o objetivo desta aula é definir o que é a toxicologia e qual é a sua

importância na saúde e no dia a dia dos trabalhadores.

Vídeo disponível no material on-line.

Problematização

A seguir, conheça a história de Lucas, um homem de 45 anos que se

encontra com um problema sério de saúde. Preste muita atenção na história e

na problematização que será apresentada na sequência e, durante os seus

estudos, procure refletir sobre os questionamentos levantados no final da

história.

Vídeo disponível no material on-line.

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Lucas é um homem de 45 anos que sempre precisou trabalhar muito

para sustentar a sua família; primeiro ajudando seus pais, e depois sua esposa

e seus 3 filhos. Ele já foi pedreiro, pintor, vendedor e exerceu outras atividades.

Mas há 15 anos, trabalha como frentista em um posto de gasolina. Lucas teve

alguns problemas de saúde no decorrer desse tempo, porém, nenhum deles foi

grave.

Entretanto, uma dor de cabeça, que não passava e só piorava no

decorrer do dia, começou a incomodá-lo muito. Essa dor teve inicio há alguns

anos, e algumas pessoas disseram para ele que o motivo da dor intensa

poderia ser algum problema de visão.

Então, Lucas procurou um oftalmologista que o examinou e diagnosticou

apenas um astigmatismo leve. O médico o recomendou que usasse óculos

para descanso diariamente ao chegar em casa. No entanto, o uso do óculos

não acabou com sua dor de cabeça.

A cunhada do Lucas sugeriu que ele procurasse um dentista, pois a dor

poderia ser causada por bruxismo ou algo parecido. Então, ele foi ao seu

dentista, mas nada de anormal foi detectado.

Lucas já havia se consultado algumas vezes com o médico que atende

na unidade de saúde próxima a sua casa, e que lhe prescrevera analgésicos

normais e relaxantes musculares em algumas ocasiões. Na última consulta, o

médico receitou alguns medicamentos para o tratamento de enxaqueca, que,

assim como os outros, não tiveram o efeito esperado. Os remédios apenas

aliviavam as dores no momento em que eram ingeridos, mas, pouco tempo

depois, a dor voltava.

Em busca de uma solução para a sua dor de cabeça crônica, Lucas

mudou seus hábitos alimentares e começou a fazer exercícios físicos, mas

nada disso resolveu o seu problema. Ele começou a notar que as dores

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amenizavam aos finais de semana, e que durante as suas férias elas

simplesmente desapareciam.

Em uma conversa com um antigo amigo, Lucas contou o seu drama, e o

amigo lhe disse que seu filho era enfermeiro do trabalho e talvez pudesse

ajudá-lo de alguma forma. Então, Lucas foi conversar com o enfermeiro e

contou toda sua história.

E agora, se você fosse o enfermeiro, quais orientações você passaria ao

Lucas? Será que essa cefaleia pode ser resultado do tipo de trabalho

executado por ele?

Toxicologia: O Estado da Arte

O termo toxicologia pode ser definido como o estudo dos efeitos nocivos

de substâncias estranhas sobre os seres vivos. Cabe lembrarmos aqui, que:

Essas substâncias estranhas podem ser qualquer uma com potencial de

agressão ao organismo. Portanto, pode ser desde uma “simples e inocente

planta” até o mais perigoso dos venenos.

Toda substância traz uma capacidade relativa de provocar danos no

sistema biológico. Essa capacidade é chamada de toxicidade.

Você deve estar se perguntando:

Mas como eu posso identificar a toxicidade de cada substância?

Vídeo disponível no material on-line.

Para descobrirmos a toxicidade de cada substância, primeiramente, ela

precisa passar por estudos que envolvem organismos biológicos e que não

podem ser diretamente determinados utilizando recursos típicos de laboratórios

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químicos. Ou seja, além de precisarmos da estrutura química da substância,

precisamos também do seu potencial de dano ao entrar em contato com o

organismo, somente assim, podemos definir a sua toxicidade.

Atenção: Quanto mais tóxica é a substância, menos quantidade dela

será preciso para ocasionar danos ao organismo. Seguindo essa lógica,

podemos concluir que quanto menos tóxica é a substância, mais quantidade

dela será preciso para ocasionar danos ao organismo.

De acordo com esse raciocínio podemos montar a seguinte tabela:

Toxicidade Relativa por Ingestão

CLASSE DE TOXICIDADE PROVÁVEL DOSE LETAL ORAL

Super tóxico < 5 mg/Kg

Extremamente tóxico 5,1 – 50 mg/Kg

Muito tóxico 51 – 500 mg/Kg

Moderadamente atóxico 0,51 – 5 g/Kg

Ligeiramente tóxico 5,1 - 15 g/Kg

Praticamente atóxico Maior do que 15 g/Kg

Esta tabela refere-se única e exclusivamente a uma toxicidade oral, ou

seja, uma mesma substância que é Super Tóxica via oral, pode ser Muito

tóxica via inalatória e Ligeiramente Tóxica via dérmica (pele), por exemplo.

Aqui temos uma clara orientação de que a toxicidade de uma substância pode

e vai mudar de classificação de acordo com a via de contato com a substância.

Outra forma de identificarmos a toxicidade de uma substância é a

partir das cores que ela estampa em seu rótulo, como demonstra a figura a

seguir:

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Classificação Toxicológica

Fonte: Modificado de: http://seagro.to.gov.br/noticia/2011/7/11/rotulos-de-defensivos-agricolas-com-baixa-

toxidade-nao-terao-mais-a-tradicional-caveira/

Substâncias que estão muito acima dessa classificação são impedidas

de serem registradas e comercializadas, pois possuem o grau de toxicidade

muito alto e podem causar inúmeros danos à saúde humana, animal e

ambiental.

Mas como surgem tais classificações?

Essas classificações surgem a partir do estudo toxicológico das

substâncias e da determinação do que chamamos de DL50 ou CL50.

DL50 é a dose de uma substância capaz de matar 50% da população

exposta a ela (nesse caso, pensamos exclusivamente em animais

experimentais como ratos e camundongos, por exemplo).

CL50 é a concentração de uma substância capaz de matar 50% da

população exposta. A sua diferença em relação a DL50 é que ela é aplicada

especialmente em seres aquáticos.

No entanto, ambas tem o mesmo significado e abrangência.

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A DL50 é realizada em animais de experimentação e tem como objetivo

oferecer a base dos itens necessários para a determinação da classificação

toxicológica de uma substância.

Porém, para cada via de contato existe uma DL50, ou seja, a mesma

substância pode ter uma DL50 para ingestão, uma DL50 diferente para a

exposição inalatória e uma DL50 para a exposição através da pele.

Conceitos importantes da toxicologia

Alguns conceitos em toxicologia apresentam certas peculiaridades que,

muitas vezes, podem nos confundir ou nos levar a interpretações errôneas.

Vejam alguns exemplos desses conceitos:

Xenobiótico: Substância estranha, capaz de induzir efeitos deletérios

sobre os organismos.

Tóxico: Xenobiótico causador de efeitos deletérios.

Veneno: Qualquer substância, preparada ou natural, que por sua

atuação química é capaz de destruir ou perturbar as funções vitais de

um organismo.

Toxina: Substância natural (biotoxina) que provoca efeitos tóxicos.

Agente tóxico: Substância que interagindo com um organismo vivo é

capaz de produzir um efeito tóxico, podendo causar desde uma

alteração funcional ou até mesmo a morte.

Intoxicação: Desequilíbrio fisiológico causado por um agente tóxico.

Asfixiante: Compostos que reduzem a absorção de oxigênio pelo

organismo.

Irritantes: Materiais que causam inflamação nas membranas e

mucosas.

Carcinogênicos: Provocam câncer.

Neurotóxicos: Levam danos ao sistema nervoso.

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Mutagênicos: Causam mutações genéticas.

Teratogênicos: Provocam má formação congênita.

Hepatotóxicos: Levam danos ao fígado.

Nefrotóxicos: Provocam danos aos rins.

Vídeo disponível no material on-line.

Condições de exposição

No ambiente de trabalho, além do conhecimento desses conceitos

apresentados anteriormente, sempre que nos referirmos aos agentes tóxicos,

temos que levar em conta, além da toxicidade de um determinado produto, as

condições e o período de exposição do trabalhador a esse elemento.

Podemos dividir as exposições em:

Exposições crônicas: são aquelas que duram de 10% a 100% do

período de vida do ser. No caso do trabalho, exposições a um mesmo

grupo de substâncias acima de 5 anos ininterruptamente.

Exposições subcrônicas: são aquelas de curta duração, conceituadas

como menores do que 10% do período vital. No âmbito do trabalho,

podemos caracterizar como uma exposição por um período de 3 a 5

anos ininterruptamente.

Exposições agudas: são aquelas relativas a um único dia ou menos,

ocorrendo em um único evento. No caso do ambiente de trabalho,

geralmente está associado a um acidente ou a uma exposição maciça

devido a algum defeito no EPI (Equipamento de Proteção Individual) ou

no maquinário.

Exemplos:

Um frentista desce no poço de gasolina para uma manutenção e se

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intoxica devido à alta quantidade de vapor de gasolina. Esse caso é

caracterizado como exposição aguda.

Um pintor se intoxica com a tinta a cada vez que faz uma pintura. Após 4

anos nessa atividade, resolve trocar de emprego e vai trabalhar em uma

indústria metalúrgica. Nesse caso, podemos afirmar que o trabalhador,

em relação à tinta, está em uma exposição subcrônica.

O trabalhador rural tem como sua atividade pulverizar a lavoura. Ele faz

isso ao longo de sua vida produtiva. Nesse caso é uma exposição crônica.

Agora pare e analise a situação a seguir!

Um trabalhador exerceu a profissão de pintor durante 4 anos, depois

desse período arrumou um novo emprego como frentista, e trabalhou nesse

emprego por 3 anos. Após esse período, foi contratado por uma sapataria, a

qual ficou trabalhando por mais 4 anos. Nesse caso temos 3 exposições

subcrônicas ou uma exposição crônica?

Temos que levar em conta que esse trabalhador está exposto a um mesmo

grupo de substâncias nos três empregos, ou seja, aos solventes. Por isso

podemos considerar, nesse caso, uma somatória de tempos de exposição,

totalizando 11 anos, portanto a exposição é crônica.

Por exemplo, se ele tivesse trabalhado, entre a atividade de pintor e a de

frentista, em uma marmoraria (onde a substância tóxica é a sílica – grupo

diferente do solvente) e, entre a atividade de frentista e a atividade na

sapataria, tivesse trabalhado em uma indústria de fundição (aqui estaria

exposto especialmente aos vapores de metais e afins), não teríamos

caracterizado uma exposição crônica, mas sim várias subcrônicas não

interligadas (ininterruptas).

Na área do trabalho precisamos ficar atentos ao fato de que estamos

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lidando com vários tipos de substâncias e, algumas delas, podem não nos

causar problemas na exposição aguda, porém, podem nos levar a um

envenenamento progressivo se estivermos expostos de forma crônica sem a

devida proteção.

Por outro lado, existem algumas substâncias que são extremamente

tóxicas em termos agudos, mas sem problemas aparentes quando a

relacionamos com a exposição crônica. Portanto, tenha muito cuidado e

atenção com todas as substâncias, desde as ditas “sem importância

toxicológica” até as com grande potencial toxicológico. Todos esses cuidados

precisam ser mantidos para garantir a segurança e a saúde do trabalhador, que

é o principal objetivo da toxicologia ocupacional.

Para saber mais sobre esse tema, acesse o link sugerido a seguir:

http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-

16731999000100005&lng=en

Para que você possa refletir um pouco mais sobre as diferenças das

substâncias na toxicologia ocupacional, acesse o vídeo disponível no material

on-line.

Além das condições de exposição, outro fator importante para a área de

toxicologia ocupacional são as vias de entrada do tóxico no organismo do

trabalhador.

Mas quais são as vias de contato de uma substância com o

organismo?

Essas vias de contato, em toxicologia, são chamadas de vias de

exposição, e podem ser divididas em três:

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Ingestão ou via oral

Fonte: http://lenitamunhoz.files.wordpress.com/2011/08/digesto.jpg

Inalação ou via respiratória

Fonte: http://www.ocorpohumano.com.br/index1.html?http://www.ocorpohumano.com.br/s_respiratorio.htm

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Contato com a pele ou via dérmica.

Fonte: http://www.afh.bio.br/sentidos/sentidos10.asp

Para saber mais sobre essa questão, acesse o vídeo disponível no

material on-line.

Em termos ocupacionais, nos preocupamos muito pouco com a

intoxicação via oral, pois no ambiente do trabalho dificilmente teremos uma

intoxicação do trabalhador por ingestão de alguma substância. Na grande

maioria dos casos de ingestão de substâncias no ambiente de trabalho, estão

associados ao suicídio e não a uma exposição ocupacional.

Mas existe algum exemplo de intoxicação ocupacional via oral?

Sim! Um bom exemplo é quando uma pessoa vai abastecer o carro em

um posto de gasolina e, depois de abastecê-lo, descobre que não tem dinheiro

para pagar pelo combustível. Infelizmente em casos assim, em alguns postos,

o frentista é obrigado pelo empregador a retirar o combustível colocado no

tanque do carro e, para isso, ele utiliza uma mangueira. Para iniciar a retirada,

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o frentista precisa “chupar” o combustível do tanque, e nesse momento, ele

acaba engolindo certa quantidade de combustível. Esse é um caso típico de

intoxicação ocupacional via oral.

A via inalatória e o contato dérmico são as vias que mais nos preocupam

em termos ocupacionais, pois além de serem as mais comuns, podem causar

problemas graves ao trabalhador dependendo da toxicidade dos produtos que

entrarem em contato com ele através dessas vias.

A via inalatória é uma das mais perigosas, especialmente porque o

sistema respiratório mantém a maior área do corpo humano em contato com o

meio externo, com uma superfície alveolar estimada de aproximadamente 70

m2. Além disso, um volume considerável de ar atinge o sistema respiratório,

em torno de 5 a 6 litros/minuto em um organismo em repouso, e até 30

litros/minuto durante esforços físicos. Ou seja, além do elemento tóxico poder

entrar em grande quantidade, a área para absorção do mesmo (quando

possível) é bastante considerável.

O nosso olfato pode ser um excelente sensor de perigo, através da

detecção de cheiros e odores que podem ser agressivos ao organismo. Porém,

infelizmente uma grande gama de produtos químicos, que podem ser

absorvidos via pulmonar, não apresentam qualquer tipo de cheiro ou odor, não

podendo assim ser identificados pelo olfato do trabalhador.

Além disso, precisamos lembrar que nos acostumamos muito fácil com o

cheiro de alguns produtos e, alguma substância que poderia ser detectada a

tempo, acaba passando despercebida.

Um bom exemplo é o perfume. Quando ele é novo e o usamos pela

primeira vez, poucas borrifadas serão sentidas por todos a nossa volta,

inclusive por nós mesmos. Na medida em que vamos usando-o acabamos nos

acostumando com o cheiro, podemos até passar cada vez mais, porém não

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sentiremos mais o seu cheiro.

Em relação à via dérmica, precisamos nos lembrar de que a pele

constitui uma importante camada protetora do organismo, mas, infelizmente,

não protege sempre contra os riscos presentes no ambiente de trabalho. Isso

acorre porque as substâncias químicas podem ser absorvidas diretamente pelo

nosso organismo através da pele saudável, não necessitando obrigatoriamente

de alguma lesão, como pensam algumas pessoas.

Algumas substâncias não precisam necessariamente ser absorvidas

para causar dano à pele. Nesse caso, podemos originar doenças do trabalho

como irritação e dermatites de uma forma geral.

A Saúde do Trabalhador e a Toxicologia

A Toxicologia Ocupacional é a área da Toxicologia que se ocupa do

estudo de ações e efeitos danosos de substâncias químicas usadas no

ambiente de trabalho sobre o organismo humano. Busca, principalmente, obter

conhecimentos que permitam estabelecer critérios seguros de exposição por

meio de índices de segurança a ser observados no ambiente laboral.

As primeiras referências de associação entre a saúde no trabalho e a

toxicologia são datadas de 2600 anos antes de nossa era, vinculadas à

construção das pirâmides e à exploração de minas de cobre e turquesa. Nessa

época, os trabalhadores (na sua grande maioria escravos) já contavam com

assistência médica, licença por enfermidades, pensão por invalidez e cobertura

de gastos com a saúde.

No entanto, tudo isso se perde no tempo e na história, voltando a ter

importância somente em 1700 com Bernardino Ramazzini, que foi o

pesquisador responsável por definir e utilizar a prevenção primária das

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doenças relacionadas ao trabalho.

Atualmente, as doenças relativas ao trabalho e a toxicologia

ocupacional ganham destaque nas empresas e indústrias em geral, pois a

segurança toxicológica do trabalhador já está se tornando prioridade nas

organizações.

Toxicologia Ocupacional X Toxicologia Ambiental

A imagem a seguir retrata muito bem a dicotomia entre toxicologia

ocupacional e toxicologia ambiental. Precisamos nos lembrar que o trabalhador

está sim exposto a inúmeras substâncias químicas em seu ambiente de

trabalho e, quando ele deixa esse ambiente, entra em contato com outras

inúmeras substâncias (senão as mesmas do seu ambiente de trabalho, apenas

em concentrações diferentes) o que pode agravar a sua intoxicação.

Fonte: http://www.quimicosunificados.com.br/categoria/jornais/

Para saber mais sobre essa questão, acesse o vídeo disponível no

material on-line.

Podemos concluir que a toxicologia ambiental está intimamente ligada a

toxicologia ocupacional, não tendo como dividi-las, pois ambas podem e,

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muitas vezes, irão causar problemas ao trabalhador.

No entanto, quando falamos em toxicologia ambiental, nos referimos ao

estudo das fontes de poluição, das interações dos poluentes com o ambiente

terrestre, aquático e atmosférico, além das interações com os animais e com os

seres humanos.

A finalidade da Toxicologia Ambiental é em última análise verificar as

condições de risco para propor medidas preventivas, como monitoramento e

controle de fontes emissoras de poluição. Assim, a toxicologia ambiental

analisa os estudos em uma dada população, principalmente o homem, e a

Ecotoxicologia estuda o impacto de poluentes sobre comunidades que

constituem um ecossistema.

Revendo a Problematização

E agora, se você fosse o enfermeiro, quais orientações você passaria ao

Lucas? Será que essa cefaleia pode ser resultado do tipo de trabalho

executado por ele?

a) Você o aconselharia a mudar de emprego.

b) Você o aconselharia a continuar fazendo sua atividade, porém usando EPIs.

c) Você o aconselharia a mudar de setor dentro da empresa.

Feedbacks

a) Visto que se trata de um caso de cefaleia de origem ocupacional,

provavelmente por contato dérmico e/ou inalação dos vapores de combustíveis

(especialmente da gasolina que afeta o Sistema Nervoso Central e pode trazer

como característica cefaleia crônica e constante), o ideal seria sim a mudança

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de emprego. Mas nesse caso específico creio que é impraticável, pois mudar

de emprego nessa altura poderia fazer com que ele perdesse vários de seus

direitos, sem contar que ele teria que arrumar outro emprego o qual não

entrasse em contato com solventes de nenhuma natureza.

b) Também seria uma excelente orientação. No entanto, a utilização de EPIs

(especialmente roupa de manga comprida, calças compridas, máscara e luvas,

além de uma higiene adequada quando entrasse em contato com os

combustíveis) muitas vezes é impraticável pelo calor, pelo desconforto ou até

mesmo pela disponibilização por parte do empregador.

c) Isso mesmo! Pois a troca de setor iria retirá-lo do contato direto com os

vapores dos combustíveis. Claro que em alguns casos o empregador precisará

capacitar esse trabalhador para que ele consiga desenvolver outra atividade de

forma adequada e que cumpra a expectativa da empresa.

Síntese

Durante os nossos estudos, vimos que a Toxicologia é a ciência que

estuda os efeitos adversos produzidos pela interação de agentes químicos com

sistemas biológicos, ou seja, é a ciência que define os limites de segurança dos

agentes químicos.

A Toxicologia é uma ciência muito ampla e de interesse para várias

áreas, por isso foi necessário subdividi-la segundo o seu campo de aplicação.

Sendo assim, nos aprofundamos na Toxicologia Ocupacional, que é aplicada

ao estudo dos mecanismos de ação e efeitos nocivos produzidos pelos

contaminantes presentes nos ambientes de trabalho, sobre a saúde dos

trabalhadores, visando ao controle ambiental desses contaminantes, à

vigilância da saúde dos trabalhadores, através de controle biológico de

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exposição durante e após as exposições, além de avaliação de tratamentos

feitos em trabalhadores doentes.

Vídeo da síntese disponível no material on-line.

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Referências

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) < www.anvisa.gov.br>

Biblioteca Virtual em Saúde – Toxicologia Brasil

<http://br.storescompared.net/search/biblioteca+virtual/>

Centro de Controle de Doenças (CDC) <www.cdc.gov>

Klaassen, Curtis D.; Watkins III, John B. Fundamentos em Toxicologia de

Casarett e Doull. São Paulo: Artmed. 2 ed, 2012.

Larini, Lourival. Toxicologia. São Paulo: Manole Ltda.

Michel, Oswaldo da Rocha. Toxicologia Ocupacional. São Paulo: Revinter.

2001.

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) <http://portal.mte.gov.br/portal-mte/>

Oga, Seizi. Fundamentos de Toxicologia. São Paulo: Atheneu. 3 ed, 2008.

Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX)

<www.fiocruz.br>

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Atividades

1. Na toxicologia, voltada para o ambiente do trabalho, monóxido de carbono

pode ser classificado como agente asfixiante. Por quê?

a) Porque é uma substância natural que provoca efeitos tóxicos levando à falta

de ar.

b) Porque é um material que causa inflamação em membranas e mucosas.

c) Porque é uma substância capaz de provocar danos no sistema biológico.

d) Porque é uma substância que tem como característica reduzir a absorção de

oxigênio pelo organismo, porém sem causar falta de ar.

2. Um jovem, filho de um pequeno agricultor, foi ajudar seu pai pela primeira

vez na pulverização da lavoura de tomate da família. O jovem auxiliou seu pai

na preparação da calda e na pulverização. Logo após o término do trabalho,

ele começou a demonstrar alguns sintomas como: vômito, diarreia, sialorreia,

suor abundante e febre. Procurando auxílio médico, ele foi diagnosticado com

intoxicação por agrotóxico. Nesse caso específico, trata-se de uma intoxicação:

a) Aguda.

b) Crônica.

c) Subcrônica.

d) Subaguda.

3. Um problema bastante comum, mas negligenciado pela maior parte dos

frentistas, é a perda progressiva da audição, relacionada com os anos de

trabalho nessa profissão. Umas das principais causas dessa ototoxicidade é

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devido à presença de tolueno que é adicionado aos combustíveis como

antidetonante. Um frentista que desenvolve perda progressiva da audição

ocasionada pelo tolueno, entrou em contato com ele principalmente pela via:

a) Oral.

b) Inalatória.

c) Dérmica.

d) Nasal.

4. Toxina é caracterizada por ser:

a) Substância natural que provoca efeitos tóxicos.

b) Materiais que causam inflamação nas mucosas.

c) Compostos que reduzem a absorção de oxigênio pelo organismo.

d) Xenobiótico causador de efeitos deletérios.

5. O principal objetivo da Toxicologia Ocupacional é:

a) Estudar a estrutura química dos elementos presentes no ambiente do

trabalho.

b) Prever acidentes de trabalho.

c) Estudar o ambiente em torno da indústria.

d) Prevenir o envenenamento de origem ocupacional.

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Gabarito comentado

Questão 1, correta letra d.

a) Lembrar que uma substância natural que provoca efeitos tóxicos é

denominado de toxina e, no caso, o monóxido de carbono não é uma toxina e

não leva à falta de ar.

b) Materiais que causam inflamação em membranas e mucosas são materiais

irritantes e não asfixiantes.

c) O monóxido de carbono de fato provoca danos no sistema biológico, mas

sua primeira ação é redução da absorção de oxigênio levando posteriormente à

danos maiores.

d) Sim! Agentes asfixiantes, como o monóxido de carbono, vão levar ao

impedimento de troca gasosa e, consequentemente, reduzir a absorção de ar

pelos pulmões, porém sem apresentar características de falta de ar.

Questão 2, correta letra a.

a) Isso mesmo! As exposições agudas são aquelas relativas a um único dia ou

menos, ocorrendo em um único evento.

b) As exposições crônicas são aquelas que dependem de um tempo bem maior

de exposição. No ambiente de trabalho cerca de 5 anos ou mais de exposição.

c) As exposições subcrônicas são aquelas de curta duração, mas

compreendem mais de um evento. Na área do trabalho cerca de 3 a 5 anos de

exposição contínua.

d) O termo Subagudo tem o mesmo conceito de subcrônico, mas não é

utilizado na área ocupacional. Utiliza-se com certas restrições em casos de

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doenças clínicas.

Questão 3, correta letra b.

a) Dificilmente temos a via oral como um problema de intoxicação no ambiente

do trabalho. Essa via é mais restrita a casos de suicídio, por exemplo.

b) A via inalatória, neste caso, é a principal via de introdução do tolueno e dos

outros solventes presentes nos combustíveis, pela formação de vapor

especialmente durante o abastecimento e a falta de utilização de EPIs, como a

máscara, por exemplo.

c) A via dérmica é uma via de absorção bastante importante no caso do tolueno

e dos produtos contidos nos combustíveis em geral. No entanto, se

considerarmos a quantidade e a forma de exposição ela fica em segundo lugar.

d) A via nasal é pouco relacionada ao ambiente do trabalho, e é mais voltada a

irritações nasais (mucosas nasais), o que não é o caso do tolueno nem dos

combustíveis em geral.

Questão 4

a) Isso mesmo! A toxina é caracterizada como substância natural com potencial

de causar efeitos tóxicos. Temos como exemplo toxinas produzidas por

bactérias, plantas e animais.

b) Materiais que causam inflamação nas mucosas são caracterizados como

agentes irritantes.

c) Compostos que reduzem a absorção de oxigênio pelo organismo são

chamados de compostos asfixiantes.

d) Xenobiótico é sim uma substância estranha, capaz de induzir efeitos

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deletérios sobre os organismos. Mas vale lembrar que quando falamos de

xenobiótico falamos de uma substância desconhecida.

Questão 5:

a) A toxicologia ocupacional também estuda a estrutura química dos elementos

presentes no ambiente de trabalho para conhecer melhor as suas ações, mas

não é esse seu principal objetivo.

b) Na verdade não. Com os conhecimentos em toxicologia do trabalho

podemos prevenir alguns incidentes toxicológicos, mas não especificamente

acidente de trabalho.

c) É importante cuidar do ambiente em torno da indústria, mas esse não é o

objetivo da toxicologia ocupacional.

d) Isso mesmo! O grande objetivo da toxicologia ocupacional, além do estudo

dos elementos tóxicos presentes no ambiente de trabalho, é prevenir que

esses elementos cheguem aos trabalhadores causando doenças muitas vezes

incapacitantes.