governanÇa na gestÃo portuÁria: um estudo em … · governanÇa na gestÃo portuÁria: um estudo...

22
GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana de Almeida [email protected] Déborah Souza [email protected] Sínthia Roberta [email protected] Resumo: Com a intensificação da competição entre os mercados mundiais as operações de importação e exportação foram ampliadas, o que prescindiu a ampliação dos portos. Diante deste cenário os portos se tornaram elementos estratégicos, exigindo um gerenciamento adequado. Para se ter uma análise da governança nos portos alguns modelos vem sendo desenvolvidos, dentre estes se destaca a proposição de Vieira, Kliemann Neto e Monfort Mulinas (2013). Este modelo busca identificar os resultados da governança, indicando a necessidade de ações, que são implantadas nos elementos de governança, sendo codificados pela estrutura da gestão. O porto do Recife existe desde a constituição da cidade do Recife a mais de 200 (duzentos anos), o que sugere um questionamento acerca do nível de governança existente nesta organização portuária. Neste sentido, este estudo objetivou aplicar o modelo de governança proposto por Vieira, Kliemann Neto e Monfort Mulinas (2013) ao porto do Recife. Para tanto, foi adotada como metodologia a pesquisa qualitativa básica pautada pelo método qualitativo, sendo a coleta realizada por meio de entrevistas e observação. Os dados foram analisados de forma descritiva o que permitiu a verificação de que o nível de governança no porto é reduzido em virtude da inércia no desenvolvimento do mesmo. Concluiu-se que em virtude do deslocamento de foco em relação à atividade portuária no estado o porto vem passando por reduções de espaço físico e de investimentos, sendo suas proximidades transformadas em palco para atividades socioculturais. Palavras-chaves: Governança, Gestão Portuária, Modelos de Governança, Porto de Recife.

Upload: phungnhan

Post on 11-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM

UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social

Maria Luciana de Almeida

[email protected]

Déborah Souza

[email protected]

Sínthia Roberta

[email protected]

Resumo: Com a intensificação da competição entre os mercados mundiais as operações de

importação e exportação foram ampliadas, o que prescindiu a ampliação dos portos. Diante

deste cenário os portos se tornaram elementos estratégicos, exigindo um gerenciamento

adequado. Para se ter uma análise da governança nos portos alguns modelos vem sendo

desenvolvidos, dentre estes se destaca a proposição de Vieira, Kliemann Neto e Monfort

Mulinas (2013). Este modelo busca identificar os resultados da governança, indicando a

necessidade de ações, que são implantadas nos elementos de governança, sendo codificados

pela estrutura da gestão. O porto do Recife existe desde a constituição da cidade do Recife a

mais de 200 (duzentos anos), o que sugere um questionamento acerca do nível de governança

existente nesta organização portuária. Neste sentido, este estudo objetivou aplicar o modelo

de governança proposto por Vieira, Kliemann Neto e Monfort Mulinas (2013) ao porto do

Recife. Para tanto, foi adotada como metodologia a pesquisa qualitativa básica pautada pelo

método qualitativo, sendo a coleta realizada por meio de entrevistas e observação. Os dados

foram analisados de forma descritiva o que permitiu a verificação de que o nível de

governança no porto é reduzido em virtude da inércia no desenvolvimento do mesmo.

Concluiu-se que em virtude do deslocamento de foco em relação à atividade portuária no

estado o porto vem passando por reduções de espaço físico e de investimentos, sendo suas

proximidades transformadas em palco para atividades socioculturais.

Palavras-chaves: Governança, Gestão Portuária, Modelos de Governança, Porto de Recife.

Page 2: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

2

1 INTRODUÇÃO

Em virtude do desenvolvimento do comércio de importação e exportação, os portos se

tornaram elos estratégicos para o desenvolvimento econômico das organizações. Possuir um

bom desempenho portuário é de extrema importância, sendo consequência das atividades

realizadas pelos atores inseridos nas aglomerações empresariais de toda cadeia logístico-

portuária. Com a intervenção de um modelo de governança portuária pode-se então

coordenara cadeia logístico-portuária, para se conceber um alinhamento entre os diversos

atores envolvidos proporcionando, assim, um aumento de sua eficácia, eficiência e inserção

competitiva (VIEIRA, 2013).

A análise da governança nos portos é realizada por meio de dimensões, que estão

inclusas em modelos desenvolvidos para este fim. Tais modelos buscam identificar os

resultados da governança, indicando a necessidade de implantação de ações que corroborem a

gestão, as quais devem ser implementadas sobre os elementos constituintes da governança,

sendo assim condicionadas pela estrutura de gestão existente. A finalidade de analisar a

gestão portuária é buscar a melhoria dos indicadores de desempenho no porto, os quais são

verificados a partir de sua evolução ao longo do tempo. Esta análise permite a visualização de

oportunidades de melhoria na gestão como um todo (VIEIRA, KLIEMANN NETO e

MONFORT MULINAS, 2013).

Alguns modelos aplicáveis de governança foram surgindo, o primeiro foi proposto por

Baltazar e Brooks (2007), sendo este posteriormente modificado por Brooks e Cullinane

(2007a) e por Brooks e Pallis (2008), outro modelo foi recomendado por Brooks e Cullinane

(2007b). Na atualidade um modelo que vem ganhando destaque é a proposta de Vieira,

Kliemann Neto e Monfort-Mulinas (2013), o qual apresenta uma abordagem maior, quando se

comparado com os demais modelos, visando preencher pontos que antes não foram

explorados.

O porto do Recife atua na prestação de serviços para atendimento de navios de longo

curso e cabotagem para importação e exportação de cargas nacionais e internacionais. O porto

também tem estrutura para receber navios de cruzeiro e possui um Terminal Marítimo de

Passageiros. Está dentro das atividades do porto do Recife o fornecimento de águas tranquilas

Page 3: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

3

para atracação, a disponibilização de berços e local para armazenagem (armazéns e pátios),

além da segurança necessária para a realização das operações portuárias (Porto do Recife).

Desta forma, a existência do porto de Recife é datada por um período de

aproximadamente 200 (duzentos anos), o que remete-nos a fazer um questionamento a

respeito do nível de governança atingido nesta organização portuária ao longo desse tempo,

ou seja, em qual o estágio de governança o porto se encontra? A contribuição deste trabalho

caracteriza-se na análise da governança do porto do Recife através do modelo proposto por

Vieira, Kliemann Neto e Monfort-Mulinas (2013).

Segundo Vieira, Kliemann Neto e Monfort-Mulinas (2013), a governança portuária

pode ser analisada através das quatro dimensões do modelo de governança observados

(estrutura, elementos, ações e resultados). Neste trabalho foi feito uma análise dessas

dimensões no porto do Recife. Devido a importância da governança para o desenvolvimento

portuário, é interessante a análise da governança neste segmento, analisando seu crescimento

e possíveis formas de melhorias no porto de Recife.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Governança

A governança surge à medida que as empresas se propõem a ir além das fontes

tradicionais de vantagens competitivas, buscando regular a interdependência existente nas

iniciativas que envolvem atores diversos, tendo como objetivo alcançar uma meta de

eficiência coletiva, mais vantajosa se comparada ao meio no qual estão contidas. Pelas regras

de conduta do estado ou da empresa, o conceito de governança pode ser equiparado ao de

governança corporativa. Neste caso, tal construto se relaciona com gestão da autoridade

portuária, a qual atua de modo a coordenar as ações empreendidas pelos atores que fazem

parte desta aglomeração empresarial. Por ser algo complexo, é preciso possuir sistemas que

possibilite o exercício da “boa” governança, para tanto é preciso haver uma coordenação, por

meio de fluxos logísticos, visto que a estruturação destes fluxos atua determinando o sucesso

ou o fracasso de seus processos (VIEIRA et. al., 2014; INSTITUTO BRASILEIRO DE

GOVERNANÇA CORPORATIVA - IBGC, 2015; GONÇALVES, 2015).

Page 4: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

4

Os processos de governança são direcionados e controlados para obter um equilíbrio

entre as vantagens obtidas pelas empresas, criando aglomerados eficientes por meio de um

alinhamento entre os stakeholders. Mas para formular objetivos com alcance estratégico e

chegar aos resultados esperados, é necessário um planejamento de integração que inclua

práticas de monitoramento, controle e divulgação de informações. Tal plano visa reduzir

possíveis conflitos e riscos intrínsecos ao desempenho das atividades empresariais. O

processo de governança é possível ao adotar-se uma conduta que possibilite a satisfação das

necessidades de todos os envolvidos e responda as demandas das lacunas existentes nas

relações entre eles. Assim, a própria governança tem-se tornado um diferencial para as

entidades empresariais interessadas, aprimorando suas relações com os stakeholders e

propiciando maior transparência na divulgação de suas ações no mercado (INSTITUTO

BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA - IBGC, 2015; GONÇALVES, 2015).

É notório que não se tem uma conceituação única sobre o tema governança, visto que

não há consenso na literatura da área, sendo este um conceito que varia dependendo do

contexto. Vieira et. al. (2014, p. 35) afirmam que “a governança conta com uma série de

definições, podendo ser considerada um padrão de comportamento do estado ou de empresas

(governança corporativa) ou a coordenação das transações entre atores pertencentes a uma

aglomeração empresarial”. No estudo em questão entende-se a governança sob a ótica da

segunda conceituação, não se nega a governança enquanto padrão de comportamento, mas

entende-se que, em um cenário globalizado não se pode analisar os processos envolvidos na

gestão de uma organização de forma isolada. Portanto, a análise da coordenação entre os

variados atores envoltos nas atividades de uma organização é primordial.

Mesmo não havendo um conceito único sobre governança, é possível avaliar se na

prática as ações de coordenação ou os padrões de comportamento estão sendo de fato

benéficos para a organização. Por isso, se discute a existência da chamada “boa” governança,

a qual é detectada caso haja uma análise integrada, observando a eficácia e eficiência

envolvida nos processos geridos em determinada entidade. A “boa” governança requer

atenção aos detalhes, vislumbrando uma gestão comprometida com o sucesso e a longevidade

da organização. Neste sentido, se busca uma sistematização no processo decisório, de modo

que as alternativas sejam ponderadas levando a decisões assertivas. Além disso, o controle

estratégico também faz parte da governança, verificando se as decisões tomadas estão sendo

Page 5: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

5

postas em prática, bem como, implementar ações corretivas quando os desvios são

diagnosticados é parte constituinte da mesma (VIEIRA e KLIEMANN NETO, 2013;

INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA - IBGC, 2015;

GONÇALVES, 2015).

2.2 Modelo de Governança Portuária

Os portos demandam de uma governança eficaz, pois são apontados como meio de

ligação entre a produção e os centros de consumo. Assim, a qualidade dos fluxos logísticos

que são gerenciados nos portos e os custos provenientes destes fluxos, resultam do grau de

coordenação existente em meio aos atores da gestão portuária. Com isso, se introduziu

atemática da governança portuária, a qual caracteriza as relações existentes entre as práticas

de coordenação de atividades de forma integrada, entre os atores envolvidos na execução das

atividades dos portos (VIEIRA e KLIEMANN NETO, 2013).

No que concerne à gestão portuária a governança se faz necessária, pois, visa a

promulgação de mudanças no ambiente logístico, a fim de que os portos deixem de ser

burocráticos e passem a ser mais flexíveis, facilitando todo o mecanismo do gerenciamento

logístico-portuário. A prática da governança nas aglomerações empresariais do porto pode

propiciar ou complicar estratégias voltadas à obtenção de vantagens competitivas. Presentes

na gestão portuária, os atores e os mecanismos de logística usados nestes aglomerados se bem

utilizados conduzem a diferenciais competitivos. Tomem-se os casos de importação e de

exportação, a governança pode atuar eliminando custos desnecessários e, por conseguinte,

otimizando a eficiência produtiva, o que propicia melhores margens. Para se ter esse controle

ou adquirir essa “boa” governança, é necessário utilizar um modelo de governança para

mensurar e proporcionar a eficiência mediante seus atores e toda a integração da gestão

logístico-portuária (DE LANGEN, 2007; MILAN e VIEIRA, 2011; VIEIRA e KLIEMANN

NETO, 2013).

São encontrados na literatura alguns modelos de governança portuária, como o modelo

de Baltazar e Brooks (2007), sendo que este foi posteriormente modificado por Brooks e

Cullinane (2007a) e Brooks e Pallis (2008) gerando dois novos modelos, juntando-se a estes o

proposto por Brooks e Cullinane (2007b). Todos estes tratam de forma abrangente a

correlação entre governança e performance portuária. Estes modelos apresentavam algumas

Page 6: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

6

lacunas que foram preenchidas por Vieira, Kliemann Neto e Monfort-Mulinas (2013) em um

trabalho no qual foi inserido o detalhamento das ações e formas de implementação dos

elementos, e dos resultados de governança, em suas estruturas. Tais modificações

possibilitaram a geração de um novo modelo, o qual apresenta de modo detalhado a

implantação da governança no gerenciamento portuário, mesmo que a localidade em análise

esteja em processo de mudança (VIEIRA e KLIEMANN NETO, 2013; VIEIRA et.al., 2014).

Segundo Geiger (2011) um modelo de governança baseia-se em dimensões e deve

responder a três perguntas básicas: “quem governa?”, “como governa?”, e “o que governa?”.

Porém, Vieira, Kliemann Neto e Monfort-Mulinas (2013) acreditavam que faltava algo para

ser preenchido e acrescentaram uma nova pergunta, “para que governa?”,sistematizando um

novo modelo de governança (Figura 1). As respostas para essas quatro perguntas são

respectivamente: a estrutura de governança, sendo esta referente à estrutura institucional e as

regulamentações existentes na aglomeração empresarial; as ações de governança, que se

constituem como os meios de funcionamento de coordenação da aglomeração empresarial; os

elementos de governança, que são os atores envoltos no âmbito desta aglomeração,

juntamente com os fluxos logísticos integrados na mesma; e os resultados da governança, os

quais são associados à eficiência e eficácia da aglomeração empresarial (DE LANGEN, 2004;

BALTAZAR e BROOKS, 2007; BROOKS e CULLINANE, 2007a; CULLINANE, YAP e

LAM2007; BROOKS e PALLIS, 2008; VIEIRA e KLIEMANN NETO, 2013).

Tomando por base este modelo de governança, submetem-se as perguntas da avaliação

de desempenho e da identificação de medidas pertinentes a governança portuária por meio de

uma análise sistemática do porto de Recife. Vieira, Kliemann Neto e Monfort-Mulinas (2013),

especificam cada dimensão proposta e os fatores relacionados ao modelo. É válido elucidar

que o modelo de governança pode favorecer tanto a integração dos atores e a execução das

ações da cadeia, quanto o gerenciamento dos fluxos físicos e informacionais, melhorando

assim a eficácia e eficiência da gestão logístico-portuária (VIEIRA e KLIEMANN NETO,

2013).

Com base nas dimensões do modelo demonstradas na Figura 1, Vieira, Kliemann Neto

e Monfort-Mulinas (2013) propuseram um arcabouço conceitual para o mesmo. Tal estrutura

conceitual é apresentada na Figura 2. Nesta se visualiza que as bases teóricas, devem ser

suficientes para a propiciar a identificação dos resultados de governança (para que governa),

Page 7: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

7

da necessidade de ações de governança (como governa), tendo como objetivo uma integração

eficiente e eficaz dos atores com os fluxos logísticos, que são implementados nos elementos

de governança (o que governa), sendo tudo isso regularizado pela estrutura de governança

existente (quem governa) (VIEIRA e KLIEMANN NETO, 2013; VIEIRA et. al., 2014).

Figura 1: Dimensões e fatores do modelo de governança portuária.

Questão Dimensão de

análise

Descrição Fatores

Para que

governa?

Resultados de

governança.

Grau de coordenação dos atores

da gestão logístico-portuária,

nível de eficiência e de eficácia

nas operações, inserção

competitiva do porto nas redes

globais de transporte marítimo.

- Coordenação dos atores;

- Eficiência das operações;

- Eficácia das operações;

- Inserção competitiva portuária.

Quem

governa?

Estrutura de

governança.

Estrutura para fomentar a

coordenação dos atores da

gestão logístico-portuária,

potencializando a eficiência e a

eficácia das operações, bem

como a inserção competitiva do

porto nas redes globais de

transporte marítimo.

- Titularidade portuária (estatal,

comunitária, municipal ou

privada);

- Modelo de gestão portuária;

- Coordenação dos atores da

gestão portuária: estrutura

existente, eficácia dessa

estrutura e readequação ao

longo do tempo.

Como

governa?

Ações de

governança.

Ações para fomentar o

alinhamento dos atores da

gestão logístico-portuária,

potencializando a eficiência e a

eficácia das operações, bem

- Ações para a coordenação dos

atores da gestão portuária;

- Eficácia dessas ações;

- Aprimoramento das ações ao

longo do tempo.

Page 8: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

8

como a inserção competitiva do

porto nas redes globais de

transporte marítimo.

O que

governa?

Elementos de

governança.

Atores envolvidos e atividades

realizadas na gestão portuária.

- Atores da gestão portuária;

- Atividades logístico-portuárias

na exportação e na importação.

Fonte: Adaptado de Vieira, Kliemann Neto e Monfort-Mulinas (2013, p. 8).

O modelo de governança indica as relações existentes entre suas dimensões, por ter

uma estrutura que favorece a prática das ações, e que permite coordenar atores e fluxos,

causando um aumento na eficácia e na eficiência da gestão logístico-portuária. Após um

reajuste no modelo de governança existente, se consegue uma melhor governança portuária e

um aumento da competitividade na gestão, ocasionando a integração do planejamento com

sua articulação física e operacional (VIEIRA e KLIEMANN NETO, 2013; VIEIRA,

KLIEMANN NETO e MONFORT MULINAS, 2013).

Figura 2: Arcabouço conceitual do modelo de governança portuária.

Page 9: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

9

Fonte: Vieira, Kliemann Neto e Monfort-Mulinas (2013, p.8).

Consequentemente, o modelo de governança associado deve estar inserido na estrutura

organizacional da gestão logístico-portuária. Assim, as dimensões e os fatores considerados

no modelo de governança portuária devem ser julgados antes, durante e após a implementação

de qualquer reforma portuária. Tendo em vista, uma maior influência da eficiência e eficácia

na governança portuária, bem como um aumento de sua inserção competitiva, facilitando

assim, a coordenação dos fluxos físicos e informacionais da logística-portuária, aumentando a

eficiência do porto (VIEIRA e KLIEMANN NETO, 2013).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este estudo tem uma abordagem qualitativa, pois permite uma avaliação detalhada por

parte dos gestores, que foram utilizados como ferramenta de pesquisa. As informações foram

coletadas por meio de entrevista interpessoal um a um, direta com os gestores, em seu

ambiente natural, para se ter uma visão específica dos acontecimentos e da observação de

Page 10: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

10

como eles se comportam e agem dentro do porto, proporcionando informações indiretas,

filtradas pelos pontos de vista dos gestores. De acordo com Creswell (2010), o método

qualitativo é o mais adequado ao desenvolvimento deste estudo, pois permite que um

fenômeno seja investigado envolvendo toda sua complexidade, por ser um tema social se

permite ter uma compreensão a respeito das experiências vividas e do entendimento que os

indivíduos possuem acerca do estudo (BOGDAN e BIKLEN, 1994; MERRIAM, 2009).

A estratégia de investigação adotada foi a pesquisa qualitativa básica, a qual é definida

pela Merriam (2009) como sendo um estudo que busca saber e interpretar o modo como as

pessoas constroem os significados das suas experiências, das suas vidas e de seus mundos. O

porto de Recife é uma empresa histórica, que nasceu junto com a cidade do Recife, em

meados do século XVI, em virtude disto e do fácil acesso ao porto, o estudo foi realizado com

vistas a compreensão da performance portuária na entidade atualmente, toda a pesquisa foi

realizada no ambiente de trabalho dos atores.

Para a seleção dos participantes desta pesquisa, foram utilizados os seguintes critérios:

a) tempo de atuação na organização de pelo menos cinco anos; b) o nível de envolvimento

com a governança portuária, priorizando-se atores diferentemente relacionados a gestão do

porto; e c) diversidade de áreas de atuação, almejando obter uma diversidade de pontos de

vista. O primeiro gestor foi indicado pelo setor de comunicação do porto de Recife, em

seguida utilizou-se a técnica de bola, por meio da qual o primeiro indivíduo indicou o

segundo e este recomendou o último (MERRIAM, 2009). A seguir se expõe o perfil dos

entrevistados (ver figura 3).

Figura 3: Perfil dos entrevistados

Entrevistado Cargo Tempo na empresa

ER1 Coordenador de Operações Mais de 10 anos

ER2 Assistente de Diretoria Financeiro 5 a 10 anos

ER3 Gerente de Engenharia e Manutenção Mais de 10 anos

Fonte: Dados da pesquisa, 2015.

Na coleta de dados foram utilizadas as técnicas de entrevista semiestruturada, visando

obter informações pertinentes aos objetivos do estudo, mas deixando os entrevistados livres

Page 11: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

11

para falarem sobre suas experiências e observações, da atuação dos gestores no ambiente de

trabalho, sendo está restrita as três visitas realizadas na organização. A entrevista foi a

principal estratégia de coleta de dados, foram realizadas individualmente e foi possível obter

dados comparáveis entre os participantes, de modo que permitiram o acesso às experiências e

opiniões dos participantes da pesquisa. As questões abertas permitiram discutir de maneira

dinâmica as etapas do processo de governança no porto. As observações foram realizadas de

forma direta e não participante, acontecendo nos dias da realização das entrevistas no porto

(CRESWELL, 2010; MERRIAM, 2009).

Como roteiro foi utilizado o protocolo de entrevistas proposto por Vieira, Kliemann

Neto e Monfort-Mulinas (2013). Este roteiro é composto por seis perguntas abertas, as quais

possuem propósitos específicos. Sendo assim, há uma pergunta que tem como objetivo avaliar

a percepção do entrevistado sobre a evolução da governança no porto. Em seguida são postas

quatro perguntas, visando identificar cada dimensão (estrutura, elementos, ações e resultados)

do modelo de governança. E, por fim, a última pergunta procurando identificar o que poderia

ou deveria ser modificado na estrutura, nas ações, e nos elementos de governança, visando à

melhoria dos resultados. Este protocolo pode ser aplicado em qualquer entidade portuária

(CRESWELL, 2010; VIEIRA et.al., 2014).

As entrevistas foram realizadas em um espaço de tempo que variou entre 40 minutos e

uma hora. Foram gravadas em áudios e transcritas após sua realização. Finalizadas as

transcrições foi desenvolvida uma análise descritiva dos dados, reconhecendo as principais

características do modelo de governança do porto de Recife, além de possíveis oportunidades

de melhoria (VIEIRA e KLIEMANN NETO, 2013; VIEIRA et. al., 2014).

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Nesta seção são apresentados, os resultados obtidos, a partir das entrevistas realizadas,

pela ótica dos gestores portuários, do porto de Recife. Para proceder tal análise as questões

foram enumeradas de Q1 a Q6 e os entrevistados codificados de ER1 a ER3.

Page 12: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

12

Q1: Percepção quanto à evolução da governança portuária

Pela visão do ER1, desde o advento da Lei de Portos (Lei nº 8.630 de 25 de fevereiro

de 1993), a qual foi substituída pela nova Lei de Portos (Lei nº 12.815 de 05 de junho de

2013) que toda operação portuária passou a ser realizada pelo operador portuário. Em virtude

disso se gerou um conflito, pois o porto é público, mas, as operações são privadas, de acordo

com o que é estabelecido por lei. O ER1 afirma que, a evolução para se adequar à legislação

se deu a partir da estrutura de gestão existente, as normas dispõem de necessidades de um

melhor fluxo de informação, sendo este atualizado, tendo em vista a busca por uma integração

possibilitando a existência de controle das informações.

O ER1 alude que, com o tempo, esses fluxos de informações, as relações entre os

atores, e a integração destes elementos com o passar do tempo foi melhorando e o porto

apesar de ser uma empresa pública, estando atualmente administrada pelo governo do estado

buscando possuir agilidade, que é o que mercado demanda. O entrevistado ER2 menciona

que a empresa por ser muito antiga, e não ter aportes financeiros do estado, com relação à

atualização dos mecanismos necessários para que então a “boa” governança advenha

comparado a demais portos da região, não tem evoluído tanto quanto poderia. A falta de

recursos financeiros adequados para que se possa atualizar os equipamentos e tecnologias

necessárias impedem a evolução do porto. Pois, o porto de Recife não tem uma tecnologia

avançada para obter uma interligação entre seus processos, existindo em virtude disso, falhas

na comunicação, e, consequentemente, em sua atuação.

O entrevistado ER3 relata que no porto o elo entre as cadeias existentes é um pouco

dissociado, pois se deveria trabalhar em conjunto e mesmo que o porto desenvolva suas

atividades por meio de sua equipe, a interação entre estas e destas com as empresas privadas

atuantes nele é fundamental. Quando se tem um serviço a realizar, cada gestor de área que

atuasse diretamente e, até mesmo indiretamente, deveria se reunir para discutir as condições

para se resolver os problemas, empreender ações e, portanto, realizar a atividades da melhor

forma possível. No entanto isso não acontece, a empresa não possui esse relacionamento entre

as áreas, ficando as informações “soltas” e deslocadas. Dessa forma, muitos serviços

poderiam fornecer um feedback de outra área e isso não ocorre, o que ocorre muitas vezes é a

duplicidade de serviço, por não ter equipes sintonizadas pelo fato de a empresa não possuir

um entrosamento.

Page 13: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

13

ER1 enfatiza a necessidade de informações precisas e atualizadas, mencionando que as

relações entre fluxos logísticos tendem a aumentar devido às demandas do mercado, que em

virtude do cenário competitivo impele as organizações a buscarem se diferenciar, através da

prestação dos serviços envolvidos em suas atividades. Neste sentido, caso não exista essa

relação ou não seja vislumbrado um melhoramento na atuação do porto, virá como resultante

a perca de tempo, e, portanto, de produtividade, pois, as informações serão retardadas, e,

atualmente agilidade de resposta é uma obrigação para qualquer entidade organizacional,

mesmo as públicas, sobretudo, no caso visto que as relações são desenvolvidas em sua quase

totalidade com organizações empresariais.

Todos os entrevistados reportam a existência de organograma e normas formais,

contudo a alta rotatividade na diretoria, a qual muda a depender do governo do estado, não há

continuidade nas determinações estratégicas. O que acaba prejudicando o porto, pois, não se

estabelecem as metas, o planejamento estratégico de médio a longo prazo, ou quando se

estabelece não tem uma continuidade. Por ser muito influenciada pelas questões políticas a

gestão muitas vezes acaba não comungando com a missão e a visão proposta, pois, a gestão

acaba não participando do estabelecimento destas, ou quando participa não tem tempo

suficiente para implementar ações de continuidade. Uma vez que, o envolvimento da alta

direção é fundamental no estabelecimento de um planejamento de longo prazo a um prejuízo

a evolução do porto. Desse modo, os diretores específicos das áreas, não tem como

estabelecer um foco de longo prazo para o porto dentro do momento vivido, mas o fato deles

permanecerem a muito tempo em seus setores de atuação conseguem minimizar os impactos

da rotatividade da diretoria e permite a continuidade do porto.

Com isso, identificou-se uma falta de coordenação da autoridade portuária, falta de

planejamento estratégico, missão, visão e valores do porto perante os gestores, marco da nova

Lei de Portos e falta de integração na comunicação entre os gestores portuários. E se percebe

uma instabilidade na gestão ao longo dos anos, não progredido principalmente nos fluxos de

informações associadas. Os resultados quanto essa questão, em resumo, podem ser

observados na Figura 4.

Q2: Evolução da estrutura de governança

Page 14: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

14

Os entrevistados ER1 e ER2 informaram que a estrutura existente no porto do Recife

evoluiu para acompanhar o momento atual visando poder atender as demandas do mercado, e

com isso atrair novos clientes, se comparado há anos anteriores. Apesar de se ter uma

dificuldade na renovação e no melhoramento, isso de certo modo tem que acontecer, pois a

exigência do mercado é grande. Eles afirmam que na maioria das vezes se tem uma mudança

de cliente, mas não uma mudança de carga e vai se atendendo normalmente as demandas da

lei e do mercado.

E, a estrutura referente ao fluxo de informações que antes era totalmente elevado a um

segundo plano foi relativamente aprimorada. Antes as informações eram discriminadas de

forma manual, e o processo de transmissão de uma área para outra ocasionava muitos erros,

recentemente houve um aprimoramento no sistema, que a gestão está tentando implantar.

Segundo ER2, o sistema ainda é muito antigo, não se interliga com as outras áreas, não

fornece quase nenhuma autonomia e há dependências de relatórios de outras áreas, o que seria

evitado com um sistema atualizado, por meio do qual todas as áreas poderiam ter acesso a

todas as informações.

É importante elucidar que por possuir uma estrutura antiga de gestão, o cliente apenas

tem observado a profundidade do porto, as limitações para atracação, o tamanho do navio, a

lua dele e o que precisam fazer para fechar a carga, essas restrições fazem com que o porto

não necessite de uma modernização logística imediata, afirma ER1. Mas por lei, as

informações que são obrigadas para se atender a Agência Nacional de Transporte Aquaviário

(ANTAQ), a Receita Federal, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e

atualmente a Lei Orçamentária, fazem com que se tenha um controle maior sobre prazos,

informações, liberações e isso força o porto do Recife a agir por conta das penalidades das

fiscalizações mais acirradas, dentro das atividades portuárias. O ER2 declara que essas

mudanças vieram para aprimorar a estrutura do porto, sem equívoco algum. Neste sentido, o

que tem impulsionado o aprimoramento de atuação é um fator totalmente externo e coercitivo

– a legislação.

Percebe-se, assim, uma necessidade de integração das informações inseridas no

sistema, para fomentar uma coordenação eficiente, falta plano de uso das infraestruturas, falta

uma Lei Orçamentária do estado com aportes financeiros para desenvolvimento do porto.

Todavia, a Agência Nacional de Transporte Aquaviário (ANTAQ), a Receita Federal, e a

Page 15: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

15

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) realizou melhorias perante a lei nas

estruturas das atividades portuárias em geral.

Q3: Evolução das ações de governança

O entrevistado ER1, considera que as ações de governança advêm do gerenciamento

da eficiência, ele enfatiza que para se realizar alguma ação atualmente por ser um porto

público, existem determinadas restrições orçamentárias. O ER3 relata que falta uma

integração no sistema e entre as autoridades portuárias desestimulando a evolução da estrutura

de governança existente. Para se melhorar o controle das informações, evitando o grande

fluxo de papel que existia e os problemas atrelados a esta forma de trabalho, houve

implantação de sistemas em algumas áreas de controle de cargas, os quais agilizam as

informações tornando-as disponíveis aos atores, que podem gerenciar de forma mais acurada

as atividades relacionadas às cargas. Esta mudança possibilitou o funcionamento com

agilidade normal, atendendo as demandas das empresas atuantes no porto. Como antes o

tempo gasto com esses fluxos de informação era bem maior, apesar de não se ter atualmente

um grande parâmetro comparado a outros portos, visualiza-se uma satisfação no que concerne

ao requisito tempo de execução das atividades inerentes as cargas.

O ER2 específica que não se tem um aporte financeiro do estado, para se ter superávit,

a contribuição do estado é apenas para obras de cunho social, que sirvam também para a

população e não apenas para a empresa, como o terminal marítimo de passageiro e o cais do

sertão. A partir dessa parceria do porto do Recife com o estado, e com a União serviram para

uma ampliação do reconhecimento social do porto, para fins culturais, entretenimento, e isso

era fundamental para parcerias do porto cidade.

Observa-se a falta ações de integração nas informações, por meio de sistemas para a

logística-portuária em meio às autoridades e fluxos logísticos associados, a falta de uma

gestão de infraestrutura portuária e a existência de melhoria por parte do estado e da União

com relações as transformações porto cidade em algo cultural, atrelando-o a atividades de

cunho social.

Q4: Evolução dos elementos de governança

Page 16: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

16

O entrevistado ER1 menciona que a necessidade de evolução dos elementos, depende

da exigência do mercado logístico, essa agilidade forçar o porto do Recife a se revigorar, mas

pode ser que não haja a renovação no tempo necessário, em virtude das dificuldades com as

quais o porto se depara. O ER2 considera que há muito o que evoluir para o porto atuar da

melhor forma nesse mercado logístico, para que ele se torne eficiente, pois a gestão

administrativa é bem elaborada no momento atual, porém não o suficiente, não como deveria

ser, conseguindo atender apenas as necessidades atuais sem espelhar possibilidades futuras e

continuidade.

Alguns fatos lhe travam na estrutura, como a mudança de diretores na gerência do

porto e isso atrapalha para se chegar a excelência, mas com relação ao que se precisa para se

atender ao mercado, especificamente a carga, se tem tentado evoluir na medida do possível, se

tem procurado e conseguido fazer essa iteração com menos eficiência, comparado há anos

atrás, relata o ER1.O porto do Recife desde 2009 vem tendo uma sazonalidade, existe período

que o porto está superavitário relata o ER2, durante o inverno se tem uma diminuição de

custos com carga a granel, mas durante o verão estes custos tendem a aumentar, com isso os

custos gerais aumentam e acaba provocando uma dificuldade na prestação de contas

(déficit),que acaba adentrando de um período para outro.

A gestão do porto do Recife tem a necessidade de inovação, de fixar metas, valores

para que o porto consiga evoluir, o ER1 alude que, se tinha um grande retorno nos armazéns,

às atividades de armazenagem de carga era uma atividade rentável, mas hoje se tem uma

carência, pois as estruturas de armazenagem atualmente estão cedidas ao governo do estado.

Se essas áreas ainda fossem ativadas pelo porto o retorno seria maior, comparado ao que se

tem atualmente. Além disso, a nova lei do estado de Pernambuco para a redução dos custos,

vem tomando conta da gestão do porto de Recife. Essa carência de investimento intimida a

evolução da gestão do porto, pois como ele não é um dos parceiros foco para a evolução do

estado nos dias que correm, os recursos destinados ao mesmo são restritos.

Q5: Evolução dos resultados de governança

Page 17: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

17

Foram ressaltados por todos os entrevistados, que a evolução dos resultados de

governança se mantém estável, mas se comparado há anos anteriores se teve uma evolução,

no entanto não se progrediu como deveria do ano de 2009, até os dias de hoje. Mas apesar da

crise econômica, o porto tem evoluído, porque o mercado precisa, pois quanto menor dwell

times do navio no porto é mais vantajoso, e isso se dá mediante as condições oferecidas do

porto de Recife aos operadores portuários, relata ER1.

O ER2 menciona que perante as dificuldades, o porto vem tendo modificações, se

possui novos sistemas para controlar as cargas, apesar de não ser integrado com outras áreas,

mas isso foi de grande avanço para a gestão do porto, pois se tem uma política de controle

melhor do que antigamente. A estrutura do ambiente de trabalho da gestão portuária também

melhorou, permitindo mais conforto e tecnologia comparados há anos atrás, mas no geral se

percebe uma estabilidade na atuação.

O porto de Recife almeja ter uma ampliação de mercado, participa de feiras para

discussão de novos negócios para atrair operadores portuários para suas estruturas, e assim

tem conseguido trazer novas mercadorias, além de retomar a movimentação de cargas que

tinha sido proibida por não atender as normas ambientais, deficiências estas suplantadas,

alega ER3. Os entrevistados ER2 e ER3 salientam a Agência Nacional de Transporte

Aquaviário (ANTAQ), e a legislação trabalhista que operaram sobre o porto, objetivando um

maior controle. Eles advogam que estas permitem, em meio às exigências, que o porto evolua,

que se tenha controle em suas infraestruturas e na execução de suas atividades fins, as normas

geram impactos na gestão, pois forçam a adequação do porto.

Q6: Oportunidades de melhoria no modelo de governança

O ER2 menciona que a gestão administrativa do porto de Recife está muito aquém de

outras empresas, e é necessário um aprimoramento tanto físico como pessoal, para que se

possa melhorar toda a operacionalidade do porto. O governo do estado tem muitos parâmetros

de desenvolvimento e ferramentas para que ocorra essa transformação, mas o porto não é foco

de investimentos, pelo menos não em sua atividade principal, sendo mais valorizada

atualmente a sua imersão social e cultural.

O entrevistado ER3 alude uma integração maior entre os setores, pois se ter um

mecanismo que consiga integrar as equipes da gestão portuária, se consegue então influenciar

Page 18: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

18

diretamente na governança, fazendo com que ocorra uma administração adequada das tarefas.

Esta permitiria a identificação de problemas, os quais poderiam ser analisados em conjunto

com os diretores verificando as melhores formas de corrigi-los. Também se faz necessária à

capacitação do pessoal para lidar com as normas de atuação portuária as quais mudam e os

atores precisa acompanhar, com cursos, palestras e treinamentos que poderiam ser

proveitosos. Estas discussões poderiam, inclusive, contribuir para a tomada de consciência

das novas regras impostas pela legislação que devem ser seguidas, pois há resistência nos

setores.

O ER1 relata que existe uma carência grande de áreas de armazenagem e que o estado

melhorou sua economia com cargas diferentes no porto de Recife, mas com a perca de áreas

de armazenagem alguns atores não se sentem atraídos para utilizar do porto e isso poderia

melhorar, em virtude de investimentos em concepção de armazenamento e um novo layout do

porto.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O porto do Recife desde 2009 vem diminuindo suas operações e tendo baixas em sua

atuação devido ao surgimento do porto de Suape, o qual conseguiu formar um complexo

industrial ao seu redor, com capacidade de atrair grandes empreendimentos, resultante das

áreas que podem ser expandidas. Com isso, o governo do estado tem dado aportes financeiros

ao porto de Suape, por perceber um desenvolvimento constante, isso faz com que os recursos

que seriam destinados ao porto de Recife tendem a baixar, em virtude do deslocamento do

foco do governo com relação às operações portuárias. Por haver mais atratividade de

investimento das empresas no porto de Suape, a tendência é que o porto do Recife não seja

mais utilizado para suas atividades fins. Os investimentos do estado no mesmo são marginais

e em sua maioria relacionados a promoção de atividades sociais e culturais.

O porto de Recife busca de um certo modo transformar essa visão, procurando

maneiras de atrair operadores portuários para que se tenha investimentos, mas isso só

acontece se houver aportes financeiros consideráveis para o seu desenvolvimento. Por não ter

investimentos suficientes para alavancar seus processos, o porto de Recife tende a continuar

Page 19: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

19

operando por força da coerção legal. À medida que as normas exigem do porto, é que se

começa a reagir para poder atender as leis, mas por condições próprias nada acontece.

A gestão é defasada, se tem mudanças constantes na diretoria, afetando a missão, visão

e valores do porto, por não existir cobranças perante os processos, como o planejamento

estratégico de médio e longo prazo que sucessivamente é desfocado devido à esta falta de

continuidade. Desta forma respondemos à problemática de pesquisa descobrindo que não há

uma integração entre os setores, governança é sinônimo de transparência. Conforme podemos

acompanhar alguns processos, fica evidente essa falta de esclarecimento perante os setores,

dificultando uma gestão eficiente e eficaz. Os sistemas são falhos, não existe um sistema de

integração das informações, ligando toda cadeia, nem mesmo interligando as principais

atividades internas. A existência de um sistema de informação adequado é primordial, pois

este mecanismo provocaria uma melhoria na eficiência e eficácia dos processos operacionais

e de gestão, permitindo oferecer uma infraestrutura tecnológica mais competitiva.

Tem-se uma carência de planejamento nas operações do porto, pois existem períodos

que o porto está superavitário, em comparação durante o inverno se tem uma diminuição

causada pela sazonalidade, o que ocasiona déficit. Para que isso não aconteça, a gestão tem

que elaborar um planejamento a longo prazo que atraia novos operadores portuários que

possam atuar no inverno, para haver um equilíbrio entre os custos,e assim manterem suas

prestações de serviços em constante equilíbrio.

As exigências dos órgãos regulamentadores como a Agência Nacional de Transporte

Aquaviário (ANTAQ), a Receita Federal, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA) impulsionaram o aprimoramento as estruturas das atividades portuárias. Porém,

com a Lei Orçamentária do estado faltam aportes financeiros para ampliação de avanços no

porto, bem como, para qualificação dos funcionários e da gestão. Em virtude da escassez de

investimentos o porto de Recife apresenta redução dos investimentos, nas operações logísticas

e administrativas, e diante desses acontecimentos a performance do porto permanece estável

atualmente, pois estão trabalhando para sobreviver e não para evoluir.

O governo do estado tem investido junto com a União nas relações porto-cidade. A

partir desta iniciativa houve uma percepção de reconhecimento social do porto, o que

propiciou uma busca pela promoção de atividades com fins culturais, de entretenimento.

Sendo notório que na região do porto existe essa carência de relação do porto com a cidade,

Page 20: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

20

pois, sua instalação no século XVI mobilizou a instalação de várias atividades em seu

entorno, neste sentido o desenvolvimento da cidade se deu a partir de suas proximidades. Tal

fato resultou na criação do centro histórico do Recife, desse modo esta região oferece uma

estrutura arquitetônica preservada, sendo uma área privilegiada para recepção de atividades

culturais. Portanto, vislumbrando estas alternativas o governo deslocou áreas voltadas aos

processos portuários, que atualmente poderia ter retornos mais altos, para a instalação da

infraestrutura necessárias as atividades culturais e sociais.

A desativação de atividades econômicas em uma área de preservação histórica com

fins de promover a interação social e cultural incentivando a vivencia de espaços públicos é

algo muito benéfico a sociedade, sobretudo em uma época de tanta desvalorização de bem-

estar social. Contudo, é importante acompanhar o desenrolar dos fatos a fim de que a

população não venha a perder para acessos públicos, principalmente, em se tratando de uma

região cultural e historicamente relevantes. Por isso, sugere-se que estudos futuros busquem

entender como estão sendo articuladas as ações e as atividades nas áreas do porto do Recife.

Como limitação do estudo aponta-se o fato de não terem sido entrevistados atores ligados ao

governo do estado.

REFERÊNCIAS

BALTAZAR, R.; BROOKS, M. R. Port governance, devolution and the matching

framework: a configuration theory approach. Devolution, Port Governance and Port

Performance. Research in Transportation Economics, v. 17, p. 379-403, 2007.

BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação Qualitativa em Educação. Portugal: Porto

editora, 1994.

BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L8630.htm >. Acesso em: 19 de setembro de

2015.

BRASIL. Lei n. 12.815, de 5 de junho de 2013. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/Lei/L12815.htm >. Acesso em: 19

de setembro de 2015.

BROOKS, M. R.; CULLINANE, K. Governance models defined. Devolution, Port

Governance and Port Performance. Research in Transportation Economics, v. 17, p. 405-435,

2007a.

Page 21: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

21

BROOKS, M. R.; CULLINANE, K. Conclusions and research agenda. Devolution, Port

Governance and Port Performance. Research in Transportation Economics, v. 17, p.631-660,

2007b.

BROOKS, M. R.; PALLIS, A. A. Assessing port governance models: process and

performance components. Maritime Policy and Management, v. 35, n. 4, p. 411-432, 2008.

CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3 ed.

Porto Alegre: Artmed, 2010.

CULLINANE, K.; YAP, W. Y.; LAM, J. S. L. The port of Singapore and its governance

structure. Devolution, Port Governance and Port Performance. Research in Transportation

Economics, v. 17, p. 285-310, 2007.

DE LANGEN, P. Governance in Seaport Clusters. Maritime Economics & Logistics, v.6,

p. 141–156, 2004.

DE LANGEN, P. W. Stakeholders, conflicting interests and governance in port clusters.

Devolution, Port Governance and Port Performance. Research in Transportation Economics,

v. 17, p. 457-477, 2007.

GEIGER, A. Modelo de análise da governança para apoiar a inserção competitiva de

aglomerações industriais em cadeias globais de valor. Tese de Doutorado. Programa de

Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP). Universidade Federal do Rio Grande

do Sul (UFRGS). Porto Alegre, 2011.

GONÇALVES, A. O conceito de governança. Disponível em: <

http://www.ligiatavares.com/gerencia/uploads/arquivos/24cccb375b45d32a6df8b183f812205

8.pdf >. Acesso em: 02 de abril de 2015.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA - IBGC. Disponível

em: < http://www.ibgc.org.br/index.php >. Acesso em: 02 de abril de 2015.

MERRIAM, S. B. Qualitative research: a guide to design and implementation. San

Francisco: Jossey-Bass, 2009.

MILAN, G. S.; VIEIRA, G. B. B. Proposição de um modelo conceitual em torno da

prática da governança em cadeias logístico-portuárias. Revista Gestão Industrial, v. 7, n.

4, p. 154-174, 2011.

PORTO DO RECIFE. O porto e a cidade. Disponível em:

<http://www.portodorecife.pe.gov.br/porto_cidade.php >. Acesso em: 26 de setembro de

2015.

VIEIRA, G. B. B. Modelo de governança aplicado a cadeias logístico-portuárias. Tese de

doutorado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP). Universidade

Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre, 2013.

Page 22: GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM … · GOVERNANÇA NA GESTÃO PORTUÁRIA: UM ESTUDO EM UM PORTO SECULAR Área temática: Ética e Responsabilidade Social Maria Luciana

22

VIEIRA, G. B. B.; KLIEMANN NETO F. J. Modelo de governança portuária:Estudo

comparativo dos portos de Valência e Santos. Porto Alegre, 2013.

VIEIRA, G. B. B.; KLIEMANN NETO, F. J.; MONFORT MULINAS, A. Gobernanza em

cadenas logístico-portuárias de contenedores: proposición de un modelo conceptual.

Espacios. v. 34, n.5, p.8, 2013.

VIEIRA, G. B. B.; KLIEMANN NETO, F. J.; SILVA, R. M. da; SENNA, L. A. dos

S. Modelo de governança portuária pela ótica dos gestores: Um estudo no porto de Santos.

Revista Gestão & Tecnologia, v. 14, n. 3, p. 32-55, 2014.