gestÃo de riscos na cadeia de suprimentos: um estudo …
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GESTÃO DE RISCOS NA CADEIA DE
SUPRIMENTOS: UM ESTUDO DE CASO EM
UMA EMPRESA DO SETOR DE COSMÉTICOS
Wilson Hilsdorf
Beatriz Torres Silva
O mercado de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, caracteriza-se pela
exigência do mercado consumidor da introdução de novos produtos
continuamente. Este ambiente, além de outros fatores, dificulta a previsão
da demanda cujos erros de estimativas podem ocasionar rupturas na ponta
de venda gerando insatisfação do cliente. O Gerenciamento de Riscos na
Cadeia de Suprimentos (SCRM) tem ganhado a atenção de organizações
preocupadas em superar esses desafios. Assim, a partir de análise realizada
em uma empresa do ramo de cosméticos o objetivo deste trabalho é
entender os componentes de risco de modo a gerar estratégias da cadeia de
suprimentos para sua mitigação. Para tal, utilizou-se um modelo de
gerenciamento de risco da cadeia de suprimentos encontrado na literatura
específica sobre o assunto. O emprego da metodologia resultou em dois tipos
de estratégias de gerenciamento a serem adotadas são “Postergar” e
“Controle” as quais de fato mostram-se eficazes para aplicação na indústria
em estudo.
Palavras-chave: Gerenciamento de Riscos, Indústria de Cosméticos, Gestão
da demanda
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
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1. Introdução
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos
– ABIHPEC (2017), a indústria de cosméticos apresentou um crescimento médio próximo a
11,4% ao ano, posicionando o Brasil como um dos principais mercados do planeta, atrás
somente dos Estados Unidos, China e Japão.
Garcia e Furtado (2002) afirmam que esta é uma área caracterizada pela necessidade contínua
de pesquisas de novos insumos e introdução de inovações em suas linhas de produtos. Além
dessas exigências dos consumidores e mercado, as ações dos concorrentes e a
imprevisibilidade do ambiente de negócio implicam que a cadeia de suprimentos dificilmente
alcançará um estado estável e com isso esses parâmetros de incertezas podem se propagar ao
longo da cadeia de suprimentos (VAN DER VORST e BEULENS, 2002; CHRISTOPHER,
2011). Sendo assim, é fundamental que as empresas planejem desvios e desenvolvam planos
de contingência ao projetarem ou redesenharem suas cadeias de suprimentos. Elas precisam
entender as interdependências da cadeia, identificar potenciais fatores de risco, sua
probabilidade, consequências e severidades. Os planos de ação de gerenciamento de riscos
podem então ser desenvolvidos para evitar a ocorrência dos riscos identificados, ou, se não for
possível, pelo menos mitigar, conter e controlá-los (TUMMALA; SCHOENHERR, 2011).
Assim, a partir de análise realizada em um setor de uma empresa do ramo de cosméticos o
objetivo deste trabalho é identificar os componentes de risco nesta cadeia, de modo a gerar
estratégias para sua mitigação. Para tanto, utilizou-se um modelo de gerenciamento de risco
da cadeia de suprimentos encontrado na literatura específica sobre o assunto.
A relevância deste trabalho é determinada em função das características do mercado de
cosméticos e sua importância no cenário econômico brasileiro.
2. Revisão Bibliográfica
2.1. Demanda: Características e Gestão
A gestão da demanda é a integração das necessidades originadas do mercado na direção dos
fornecedores, de modo a balancear e alinhar estrategicamente a demanda com a capacidade
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operacional ao longo da cadeia de suprimentos. O alinhamento da demanda na cadeia de
suprimentos enfrenta dificuldades progressivas tais como a falta de precisão nas informações,
entre outras, provocando ineficiência no atendimento a clientes, redução do giro de estoque e
alto índice de obsolescência agravada pela grande diversidade de produtos (MELO;
ALCÂNTARA, 2011).
A tipologia adotada por Fisher (1997) agrupa os produtos em duas categorias, produtos
funcionais e inovadores. Os produtos funcionais são descritos como tendo um padrão estável
de demanda, um ciclo de vida mais longo, menor variedade de produtos, menor margem de
contribuição e prazos de entrega mais longos. Por outro lado, produtos inovadores são aqueles
que têm ciclos de vida de produtos mais curtos, produtos com maior variedade, maiores
margens de contribuição e prazos de entrega mais curtos. Uma comparação detalhada destes
dois tipos de produtos é apresentada na Tabela 1.
Tabela 1 - Produtos Funcionais x Inovadores
Aspectos da demanda Funcional (demanda previsível) Inovador (demanda imprevisível)
Ciclo de vida do produto
Margem de contribuição (%)
Variedade de produtos
Margem de erro média na previsão (%)
Stockout médio
Lead-time requerido para produtos sob
encomenda
Mais de 2 anos
5 a 20
Baixa (de 10 a 20 por categoria)
10
1 a 2
6 meses a 1 ano
3 meses a 1 ano
20 a 60
Alta (milhares por categoria)
40 a 100
10 a 40
1 dia a 2 semanas
Fonte: Adaptado de Lo e Power (2010)
Sendo assim o risco de demanda varia de acordo com a natureza do produto sendo que
produtos com características funcionais são menos sujeitos a riscos do que os inovadores.
2.2. Gerenciamento de Riscos na Cadeia de Suprimentos
O risco pode ser definido como uma "combinação de probabilidade ou frequência das
ocorrências de um determinado risco e sua magnitude". Com base em vários autores que
definiram o risco da cadeia de suprimentos, conceitualiza-se como um evento que afeta
negativamente as operações da cadeia e, por consequência, as medidas de desempenho
desejadas, como o nível de serviço, a responsividade e custo. Independentemente da área de
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interesse, o risco está associado a uma perda indesejável, ou seja, uma consequência negativa
indesejada e incerta (TUMMALA; SCHOENHERR, 2015).
Existem estudos que exploraram as abordagens de gerenciamento de riscos sob vários
ângulos. Com base nestes estudos, Tummala et al. (1994), desenvolveram um Processo de
Gerenciamento de Riscos (PGR) estruturado consistindo em cinco fases: identificação de
risco, medição de risco, avaliação de risco, estimativa de risco e controle de risco e
monitoramento. Esta estrutura de gerenciamento foi aplicada de forma bem-sucedida para
identificar potenciais fatores de risco e avaliar a probabilidade de sua ocorrência. Pesquisas
adicionais realizadas por Manuj e Mentzer (2008) basearam-se em um PGR modificado para
identificar, avaliar e gerenciar os riscos da cadeia de suprimentos: o SCRMP (Supply Chain
Risk Management Process).
2.3 Modelo de Manuj e Mentzer
Manuj e Mentzer (2008) desenvolveram uma abordagem fácil, prática e direta para o
gerenciamento global de riscos da cadeia de suprimentos. Essa abordagem apontou que o
processo para gerenciamento e mitigação de riscos seria composto por cinco passos:
identificação dos riscos (classificados em suprimentos, operações, demanda e segurança);
avaliação e estimativa dos riscos (análise da decisão, estudos de caso e apoio na percepção);
seleção apropriada do gerenciamento de riscos (ou seja, a estratégia proposta: evitar,
postergar, especular, limitar, controlar, dividir/transferir e segurar); implementação das
estratégias (tendo como habilitadores o gerenciamento da complexidade, o aprendizado
organizacional, tecnologia da informação e indicadores de desempenho); e mitigação dos
riscos (preparando-se para eventos imprevistos), como disposto na Figura 1:
Figura 1 – Modelo de Gestão de Risco da cadeia de suprimentos global e mitigação
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Fonte: Adaptado de Manuj e Mentzer (2008)
No modelo, os autores analisam riscos dentro da própria cadeia de suprimentos, a saber:
riscos de suprimentos, riscos de demanda e riscos operacionais, desde a empresa focal, através
do ambiente interno até o ambiente global (Tabela 2).
Tabela 2 – Tipos de riscos e suas fontes
Tipos de Riscos Fontes
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Supply Interrupção do fornecimento, estoques, problemas de qualidade,
complexidade do produto
Operacionais Paradas da operação, fabricação inadequada, falta de capacidade
Demanda Introdução de Novos Produtos, Variação da Demanda (tendências,
sazonalidades), amplificação da demanda
Segurança Segurança dos sistemas de informação, infraestrutura, vandalismo, crime,
sabotagens
Fonte: Adaptado de Manuj e Mentzer (2008)
Cada passo é explicado usando exemplos e tabelas que podem ser usadas imediatamente para
avaliar o risco na própria cadeia de suprimentos.
No primeiro passo do framework de gerenciamento de riscos, o objetivo é criar o que pode ser
referido como um perfil para cada um dos riscos identificados na Tabela 3. Esse perfil contém
elementos que podem ser classificados em categorias, fontes e efeito do risco. As categorias
de risco podem ser classificadas em quantitativas ou qualitativas, já as fontes de risco podem
ser atomísticas (diretas) ou holísticas (indiretas) e os efeitos domésticos, globais ou ambos.
Tabela 3 - Exemplo de tabela para a criação de um perfil de risco
Categoria de Risco Descrição do
Risco
Atomístico/Holístico Quantitativo/Qualitativo Doméstico/Global/Ambos
Risco de fornecimento
Risco operacional
Risco de demanda
Risco de segurança
Riscos políticos
Riscos de competição
Risco de recursos
Fonte: Adaptado de Manuj e Mentzer (2008)
O próximo passo é determinar quais riscos identificados no passo 1 são críticos para a cadeia
de suprimentos. A Tabela 4 contém exemplo de uma ferramenta de avaliação e estimativa de
riscos que sintetiza os elementos de análise de risco e paradigmas da escolha probabilística e
os combina com a abordagem de mapa de risco.
Tabela 4 - Exemplo de tabela para avaliação e estimativa do risco
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Lista de
Riscos
Perdas
Potenciais
Probabilidade Impacto/
Consequências
Pior
cenário
Risco
aceitável?
Outras
considerações
Avaliação
final
Fonte: Adaptado de Manuj e Mentzer (2008)
O próximo passo é selecionar as estratégias apropriadas para o gerenciamento de riscos. Uma
vez que o gerenciamento de risco deve estar em sincronia com a estratégia da cadeia de
suprimentos é preciso identificar ambas:
Tabela 5 - Exemplo de Tabela para seleção apropriada de gerenciamento de risco
Tipo de Supply Chain Maiores Riscos Práticas de gestão de riscos
na cadeia
Estratégia de gestão de
riscos selecionada
Eficiente/Responsiva/Cobertura de riscos/Ágil
Fonte: Adaptado de Manuj e Mentzer (2008)
Com base nas incertezas de Demanda e Abastecimento, Lee (2002) sugere quatro tipos de
estratégias de supply chain: eficiente, responsiva, cobertura de risco e ágil. A Tabela 6
apresenta as características para cada tipo:
Tabela 6 - Tipos de Supply Chain e Estratégias de Gerenciamento de Riscos
Incerteza na demanda Low High
Incerteza no
fornecimento
Low Supply Chain Eficiente
Foco na eficiência de custo
Prática da postergação Fonte única
Supply Chain Responsiva
Foco na responsividade e flexibilidade
Postergação
High Supply Chain com Cobertura de
Risco
Foco no agrupamento e divisão de
riscos
Múltiplas fontes Transferência/Compartilhamento de
riscos
Cobertura
Supply Chain Ágil
Foco na responsividade e cobertura de riscos
Cobertura
Fonte: Lee (2002)
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Ao desenvolver estratégias de gerenciamento de riscos Manuj e Mentzer (2008) dividem essas
estratégias em sete categorias (Tabela 7):
Tabela 7 - Estratégia de Gerenciamento de Riscos
Strategy Estratégia Descrição
Avoidance Evitar Sair de um mercado (ou produto) ou atrasar entrar em
um mercado (ou produto)
Postponement Atrasar Atrasar o comprometimento dos recursos para manter
a máxima flexibilidade
Speculation Especulação Realizar mudanças no fluxo de mercado o mais breve
possível, no intuito de reduzir os custos do sistema
Hedging Cobertura Dispersando globalmente seu portfólio de
fornecedores, clientes e instalações
Control Controle Integração vertical e lateral de fornecedores e
parceiros de negócios
Trasfering/
Sharing Risk
Transferência/
Compartilhamento
de Risco
Terceirização, offshoring, contratação
Security Segurança Identificando movimentos incomuns e protegendo
contra a penetração indesejada
Fonte: Adaptado de Manuj e Mentzer (2008)
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Os outros dois passos, referem-se à execução da estratégia de gerenciamento de risco
selecionada e a mitigação desses.
3. Metodologia
Esta pesquisa é de natureza qualitativa. Segundo Godoy (1995) nesta perspectiva, um
fenômeno pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte,
devendo ser analisado em uma perspectiva integrada. Para tanto, o pesquisador vai a campo
buscando “captar" o fenômeno em estudo a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas,
considerando todos os pontos de vista relevantes. Vários tipos de dados são coletados e
analisados para que se entenda a dinâmica do fenômeno.
O método selecionado foi o estudo de caso que conforme Yin (2010) é “o método de
investigação empírica que averigua um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu
contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são
claramente estabelecidos, onde se utiliza múltipla fontes de evidência”.
O modelo de gerenciamento de riscos proposto por Manuj e Mentzer (2008) foi aplicado pelo
pesquisador com a participação de pessoas diretamente ligadas ao processo de gerenciamento
da demanda.
4. Estudo de Caso – Indústria de Cosméticos
Nesta seção serão apresentados os resultados do estudo em uma indústria de cosmético. Para
fins deste estudo o nome da indústria será mantido em sigilo, a pedido dos gestores da
empresa.
4.1. Dados Institucionais da Empresa
A empresa X é uma marca lançada em 2011 por um grupo de capital nacional, atualmente é a
segunda maior marca em vendas dentro desse Grupo. Possui um amplo portfólio de produtos
com mais de 600 itens, como perfumaria, maquiagem, esmaltes, cabelos, corpo, banho e
acessórios. É multicanal, com foco em venda direta, além de comercialização em lojas
próprias e virtuais.
4.2. Processo de Planejamento de Demanda
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Além das características de produtos inovadores, com curto ciclo de vida, introdução
constante de novos produtos e grande variedade que dificultam a estimativa da demanda, há
também outros fatores que também potencializam o aumento do erro de estimativa. Como se
trata de uma empresa relativamente nova, esta não está consolidada e sua taxa de crescimento
passou de incerta para elevada e o histórico de produtos que auxiliam na construção da
demanda ainda é incipiente, o que leva a altos índices de erro de gestão da demanda.
Estratégias de mitigação de riscos são fundamentais nesta indústria e, dadas suas
características, a estratégia de cadeia de suprimentos “ágil”, na qual se integram
características de responsividade e de cobertura dos riscos, se configura como a ideal.
4.3. Aplicação do SCRMP desenvolvido por Manuj e Mentzer
Uma vez que a gestão de risco do presente trabalho é focada apenas em demanda em uma
empresa do contexto nacional, a tabela de criação de perfil de risco foi simplificada. Outra
simplificação é como se trata de um estudo de caso qualitativo, a coluna com a descrição
Quantitativa/Qualitativa foi retirada. Assim a Tabela 8 exibe os principais riscos de demanda
aos quais a empresa está sujeita.
Tabela 8 - Tabulação dos Principais Riscos de Demanda
Descrição Específica do Risco Atomistic/ Holistic
Ruptura de atendimento para itens regulares Ambos
Ruptura de atendimento para itens promocionados Ambos
Ruptura de atendimento para itens de lançamento Ambos
Não atendimento de um item de lançamento Ambos
Superestimativas ocasionando alto volume de estoque Atomistic
Introdução de Novos Produtos por competidores Holistic
Rupturas devido ao Efeito Chicote causado pela cadeia Holistic
Tendências e Modismos relâmpagos Holistic
Fonte: autores
O próximo passo é determinar quais dos riscos elencados na Tabela 8 são críticos para a
cadeia de suprimentos, de modo que aqueles que tornam a cadeia mais vulnerável sejam
objeto da atenção. A classificação dos riscos está apresentada na Tabela 9.
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Tabela 9 - Resultado da avaliação e classificação do risco
Lista de Risco Perda Potencial ProbabilidadePior Cenário
Possível
Pior cenário
possível é
aceitável?
Avaliação
Final do
Risco
Ruptura de
atendimento para itens
regulares
Receita ProvávelO cliente deixa de
comprar o itemSim Pequeno
Ruptura de
atendimento para itens
promocionados
Receita /
Satisfação do
Cliente
ProvávelO cliente deixa de
comprar o itemSim Pequeno
Ruptura de
atendimento para itens
de lançamento
Receita /
Satisfação do
Cliente
Provável
O cliente deixa de
comprar produtos
da marca
Não Sério
Não atendimento de
um item de lançamento
Receita /
Satisfação do
Cliente
Muito
Improvável
Grande insatisfação
do cliente dando
abertura à
concorrência
Não Catastrófico
Superestimativas
ocasionando alto
volume de estoque
Custo de
Carregamento e
Perda de
Estoque
ProvávelGasto com doação e
descarte de estoqueSim Sério
Introdução de Novos
Produtos por
competidores
Receita/Cliente Provável
O cliente deixa de
comprar produtos
da marca
Não Sério
Rupturas devido ao
Efeito Chicote causado
pela cadeia
Receita/Satisfaç
ão do
cliente/custo em
estoque
Muito
Provável
Estoque posicionado
no lugar incorreto,
perda de vendas,
custo com estoque
Sim Sério
Tendências e
Modismos relâmpagosReceita/Cliente Improvável
Não atendimento ao
consumidor dando
abertura para a
concorrência
Não Catastrófico
Fonte: autores
O próximo passo é a seleção apropriada das estratégias de gerenciamento de risco, o que não
foi feito para todos os riscos pontuados e sim, apenas para os riscos classificados como
Catastrófico e Sério. Os resultados estão apresentados na Tabela 10, baseada no modelo de
Manuj e Mentzer (2008).
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Tabela 10 - Lista de Riscos e suas respectivas estratégias de gestão
Risco identificado Práticas de gerenciamento de
risco aplicáveis
Estratégia adotada
Ruptura de atendimento para itens de
lançamento
Postergar, cobertura, controle,
compartilhamento
Postergar
Superestimativas ocasionando alto
volume de estoques
Postergar, controle Postergar
Introdução de novos produtos por
competidores
Cobertura, controle, compartilhamento Controle
Rupturas devido ao efeito chicote Controle Controle
Tendências e Modismos relâmpagos Cobertura, controle, compartilhamento Controle
Fonte: autores
Portanto, as estratégias de gestão de risco a serem adotadas são “Postergar” que consiste no
retardamento para se finalizar a configuração de um produto até que os pedidos sejam
recebidos, eliminando-se, assim, a incerteza nas decisões de produzir, e “Controle” que
consiste na integração vertical e horizontal com fornecedores e parceiros de negócios.
5. Conclusão
O objetivo deste trabalho foi identificar os componentes de riscos na cadeia de suprimentos da
indústria de cosméticos. Com base na metodologia proposta por Manuj e Mentzer (2008)
consagrada na literatura, foi feita uma aplicação prática que possibilitou a compreensão dos
componentes do risco, como criar um perfil de risco e como usar o perfil de risco para gerar
um conjunto de estratégias apropriadas no contexto de cadeias de suprimentos de cosméticos.
Particularmente importante é como o modelo se estende desde o nível micro dentro da
empresa focal até o macro ambiente da cadeia de suprimentos.
Os tipos de estratégias de gerenciamento identificados como mais adequados foram
“Postergar” e “Controle” que de fato mostraram-se eficazes para aplicação na indústria em
estudo.
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Dentre as principais limitações deste estudo, tem-se a realização de estudo de um único caso,
que não permite que generalizações sejam tomadas para o contexto de outras empresas.
Como recomendação para trabalhos futuros sugere-se prosseguir com os passos 4 e 5 do
modelo, realizando a implementação das estratégias definidas com a mitigação dos riscos.
REFERÊNCIAS
ABIHPEC – Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria, e Cosméticos. Dados de
mercado. Acesso em: 13 dez. 2017.
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YIN, R. K. Estudo de caso: Planejamento e métodos. 4ª Edição. Porto Alegre: Bookman, 2010.