gazeta do advogado nº 4

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NESTA EDIÇÃO EM DESTAQUE VIDA INTERNA I Encontro de Jovens Advogados Intervenção do Sr. Bastonário ................................................................... 2 Conclusões do Encontro .......................................................................... 5 E AINDA... EDITORIAL Ordem dinamiza projectos importantes ................................................... 1 VIDA INTERNA Cerimónia de entrega de Cédulas em Luanda ........................................ 7 Conselho Provincial de Benguela – Processo Eleitoral ........................... 8 Primeira cerimónia de entrega de Cédulas Profissionais em Benguela .. 9 REFLEXÕES O contributo das instituições financeiras de direito angolano para o desenvolvimento de Angola ................................................. 11 RECORTES DE IMPRENSA A formação de Advogados em Angola: Uma resposta à globalização ............................................................ 18 PARECERES E RESOLUÇÕES Exercício da Advocacia .............................................................................. 21 MEMÓRIAS Comemorações de um Centenário: Dr. Eugénio Ferreira ............................... 22 INSÓLITO Despacho de um Magistrado do Ministério Público ............................... 23 JURISPRUDÊNCIA Comentário a Acórdão do Tribunal Supremo ......................................... 24 PLACARD Comunicados e Notas breves ................................. Verso de contracapa N.º 4 • 2005 Julho, Agosto e Setembro Menção de Responsabilidade Ordem dos Advogados de Angola Editor Centro de Documentação e Informação / OAA Av. Ho Chi Min (Edifício da DNE) Luanda – Angola Telefone: 32 63 30 Fax: 32 27 77 Director Luís Filipe Pizarro Secretariado Helena Cunha Colaboradores Machila dos Santos Daniel Domingos António Carlos Feijó Carlos Ferreira Concepção Gráfica, Paginação e Produção PubliDigital (Portugal) Local de Edição Luanda ISSN: 1816-3556 Depósito Legal: 179/04 Tiragem 1000 exemplares Publicação Trimestral Boletim da Ordem dos Advogados de Angola

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J URISPRUDÊNCIA Comentário a Acórdão do Tribunal Supremo ......................................... 24 R EFLEXÕES O contributo das instituições financeiras de direito angolano para o desenvolvimento de Angola ................................................. 11 Boletim da Ordem dos Advogados de Angola P ARECERES E R ESOLUÇÕES Exercício da Advocacia ..............................................................................21 Tiragem 1000 exemplares N.º 4 • 2005

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Page 1: Gazeta do Advogado nº 4

NESTA EDIÇÃO

EM DESTAQUE

� VIDA INTERNA

I Encontro de Jovens AdvogadosIntervenção do Sr. Bastonário ................................................................... 2Conclusões do Encontro .......................................................................... 5

E AINDA...

� EDITORIAL

Ordem dinamiza projectos importantes ................................................... 1

� VIDA INTERNA

Cerimónia de entrega de Cédulas em Luanda ........................................ 7Conselho Provincial de Benguela – Processo Eleitoral ........................... 8Primeira cerimónia de entrega de Cédulas Profissionais em Benguela .. 9

� REFLEXÕES

O contributo das instituições financeiras de direito angolanopara o desenvolvimento de Angola ................................................. 11

� RECORTES DE IMPRENSA

A formação de Advogados em Angola: Uma resposta à globalização ............................................................ 18

� PARECERES E RESOLUÇÕES

Exercício da Advocacia .............................................................................. 21

� MEMÓRIAS

Comemorações de um Centenário: Dr. Eugénio Ferreira ............................... 22

� INSÓLITO

Despacho de um Magistrado do Ministério Público ............................... 23

� JURISPRUDÊNCIA

Comentário a Acórdão do Tribunal Supremo ......................................... 24

� PLACARD

Comunicados e Notas breves ................................. Verso de contracapa

N.º 4 • 2005Julho, Agosto

e Setembro

Mençãode ResponsabilidadeOrdem dos Advogados

de Angola

EditorCentro de Documentação

e Informação / OAAAv. Ho Chi Min

(Edifício da DNE)Luanda – Angola

Telefone: 32 63 30Fax: 32 27 77

DirectorLuís Filipe Pizarro

SecretariadoHelena Cunha

ColaboradoresMachila dos Santos

Daniel Domingos AntónioCarlos Feijó

Carlos Ferreira

Concepção Gráfica,Paginação e ProduçãoPubliDigital (Portugal)

Local de EdiçãoLuanda

ISSN: 1816-3556Depósito Legal: 179/04

Tiragem1000 exemplares

Publicação Trimestral

Boletimda Ordemdos Advogadosde Angola

Page 2: Gazeta do Advogado nº 4
Page 3: Gazeta do Advogado nº 4

Este ano haverá renovação de mandatos dos órgãos sociais da Ordem dos Advogados, cum-prindo-se com as regras democráticas de organização e funcionamento da nossa instituição.

No próximo dia 30 de Novembro, dentro do prazo legal estabelecido, os advogados são cha-mados a eleger o Bastonário e o Conselho Nacional, bem como o Presidente e o Conselho Provin-cial de Luanda.

Avizinha-se uma luta interessante entre potenciais candidatos, o que é positivo e revela o ca-rácter dinâmico e a importância que os advogados dão à sua instituição de classe.

Que vença o que melhor propostas apresentar e que melhor saiba defender os interesses daclasse e do estado democrático de direito.

Entretanto, e pela primeira vez, realiza-se um processo eleitoral da Ordem dos Advogadosfora da província de Luanda. No dia 2 de Setembro realizou-se a eleição do Presidente e do Con-selho Provincial da Ordem dos Advogados de Benguela, que contou com a participação activa detodos os advogados daquela província.

Para a materialização das decisões saídas do 1.º Encontro dos Jovens Advogados, a Direc-ção da OAA reuniu-se com a Direcção do Ministério da Juventude e Desportos, na pessoa doSenhor Vice-Ministro da Juventude, tendo-se decidido celebrar um Protocolo entre a OAA e oMJD, no sentido de se estabelecerem formas de colaboração entre as duas instituições e moda-lidades de o Governo prestar apoio aos Jovens Advogados em projectos habitacionais, de aqui-sição de meios de transporte e de equipamentos e instalação de escritórios.

Na mesma perspectiva, foram feitos encontros com a Direcção do Banco de Poupança e Cré-dito, na pessoa do Presidente do Conselho de Administração, e do Banco de Comércio e Indús-tria, com quem está a ser preparado um protocolo em que se definirão os mecanismos de feitu-ra de financiamentos para os Jovens Advogados.

No dia 25 de Agosto realizou-se em Maputo, Moçambique, o VIII Encontro da União dos Ad-vogados de Língua Portuguesa. O encontro decidiu aprovar um programa de formação dos ad-vogados em que se prevê, entre outros aspectos, que grupos de jovens advogados possam fazerestágios profissionais no Brasil e em Portugal e que os advogados angolanos se possam enqua-drar em vários programas de formação profissional contínua em sistema on-line ou por intermé-dio de conferências a serem dadas no país por especialistas portugueses e brasileiros.

Em fase adiantada está igualmente a preparação do lançamento do projecto-piloto de implemen-tação da Assistência Judiciária, que será financiado pelo Governo através do Ministério da Justiça.

Estas são algumas acções importantes que foram desenvolvidas nos últimos meses e queserão apresentadas em pormenor na Assembleia Geral ordinária que se realizará no próximo dia23 de Setembro, no quadro da Semana do Advogado, que se comemorará a partir do dia 16 domesmo mês.

Ordem dinamizaprojectos importantes

EDITORIAL

Raúl AraújoBastonário

A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • 1

Diversosprotocolos acelebrar entre aOAA e váriasentidadespermitirãoconcretizariniciativasrelevantes paraa classe, e muitoem especial paraos jovensadvogados.

Page 4: Gazeta do Advogado nº 4

2 • A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005

INTERVENÇÃO DO BASTONÁRIO

Excelências,Estimados Colegas,Distintos Convidados,

O Conselho Nacional, no âmbito doseu programa anual de actividades para ocorrente ano, decidiu convocar o I Encon-tro dos Jovens Advogados com o objecti-vo de se fazer a apreciação das principaispreocupações que enfrentam os advoga-dos que iniciam a sua actividade e muitoparticularmente dos que pela 1.ª vez en-tram para o mercado de trabalho.

Esta era afinal uma das divisas do meuprograma de candidatura para Bastonáriopara o triénio 2003-2005, o que com estaacção se está a materializar.

Quais são então as razões para a rea-lização deste I Encontro?

A Comissão especializada do Conse-lho Nacional fez um inquérito aos jovensadvogados e chegou à conclusão que osprincipais problemas que se vivem são osseguintes:

a) não recebimento de remuneraçãodurante a fase de estágio;b) dificuldades de acesso ao créditobancário em virtude de não se pos-suir salário fixo;c) dificuldades de acesso a moradia ea carro próprio.

Face a estas condicionantes, verifica-mos que um número substancial de jo-vens vai para a magistratura judicial ou doministério público, ou se inscreve comoadvogado para exercer esta profissão co-mo 2.ª opção, isto é, tem um emprego fi-xo e é advogado porque é bonito sê-lo ouporque o serviço assim o exige.

Nesta situação, desde logo o estágiofica condicionado, porque não se tem tem-

po para o fazer convenientemente ou, oque é pior, quer-se apenas cumprir formal-mente esta fase fundamental de entradapara a advocacia.

A pergunta é então a de se saber co-mo resolver esta contradição.

Para nos auxiliar na procura de solu-ções, convidámos algumas entidades pa-ra nos darem algumas informações.

Por esta razão, desde já agradecemosa pronta resposta que nos foi dada peloMinistério da Juventude e Desportos, que,na pessoa do Senhor Vice-Ministro, nosvai falar sobre as políticas governamentaispara a juventude, pelo Ministério do Urba-nismo e Ambiente, que, por intermédio doSenhor Director do Instituto Nacional deHabitação, vai fazer uma abordagem sobrea política habitacional do Estado, e do Ban-co de Poupança e Crédito, que acedeuigualmente ao nosso convite e nos vai daruma panorâmica sobre as políticas ban-cárias de crédito e de que forma os advo-gados podem aceder aos seus benefícios.

Para ultimar a abordagem desta ma-téria o Senhor vice-presidente da OAA, Dr.Inglês Pinto, vai falar-nos sobre o que pen-sa a Ordem dos Advogados sobre o Aces-so à Justiça e quais os mecanismos quepodem e devem ser utilizados para que,por um lado, se assegure aos cidadãos odireito à assistência judiciária e, por outrolado, se garanta aos advogados a remu-neração devida por este serviço prestado.

No quadro dos trabalhos da Reformada Justiça, a Ordem dos Advogados apre-sentou à Comissão de Reforma as suasopiniões sob a forma de propostas legis-lativas, para que se alterem substancial-mente os procedimentos actualmenteexistentes de prestação de assistência ju-diciária às populações mais carenciadaseconomicamente.

Desde logo porque entendemos que aassistência judiciária não se pode circuns-crever ao apoio judiciário nos tribunais edeve ser alargada também à prestação deserviços de informação jurídica e de con-sulta jurídica.

Para o efeito, propõe-se a criação deum Centro de Apoio Judiciário, estrutura deâmbito nacional, que estará presente emtodas as províncias.

Desta forma estaremos em condiçõesde assegurar uma presença dos advoga-dos em todo o país, devendo o Estado ga-rantir os recursos financeiros necessáriospara pagar adequadamente os honoráriosdos advogados.

Aproveito a ocasião para comunicarque a Ordem está a preparar um projectoque será financiado pelo Ministério da Jus-tiça para se iniciar a implementação ime-diata de estruturas deste género.

Estimados Convidados,Colegas,Excelências,

Estão a ser criadas as condições or-ganizativas e técnicas necessárias paraque o Centro de Estudos e Formação daOrdem inicie as suas actividades. O pro-grama de trabalhos já foi submetido àapreciação do Conselho Nacional, que deua sua concordância, devendo-se desde jápassar à fase de execução.

A actividade do Centro de Estudos eFormação será circunscrita em duas áreas

VIDA INTERNA

I ENCONTRODE JOVENS ADVOGADOS

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A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • 3

de actividade: a fase do estágio e a fasede formação contínua dos advogados.

Na 1.ª fase será feita a formação teó-rica necessária para o recebimento dos no-vos licenciados que se baseará nas áreasde processo civil e penal e na deontologiae ética profissional.

Apenas os candidatos que tenhamapreciação positiva na 1.ª fase poderãotransitar para a 2.ª fase, que é a de acom-panhamento do patrono.

No processo de formação contínuados advogados está agendado um conjun-to de palestras, seminários e pequenoscursos de actualização de conhecimentosou de aquisição de novos conceitos jurídi-cos.

A título informativo devo dizer que re-cebi há dois dias uma proposta do Direc-tor do Centro, Professor Carlos Feijó, dese realizar no princípio do mês de Agostoum ciclo de debates sobre «Direito, Inves-timento e Negócios em Angola: novos ins-trumentos jurídicos e financeiros», em quese pretende abordar três temas: «Direito,Investimento e Negócios»; «Parcerias pú-blico-privadas e instrumentos financei-ros» e «Formação profissional dos Advo-gados».

Manifestei desde já a minha concor-dância, sendo entretanto necessário resol-ver uma situação complicada que surgiuhá uma semana.

A Ordem dos Advogados, como é deconhecimento dos colegas, não tem con-dições financeiras para adquirir instalações

próprias para o seu funcionamento, mas,dado o seu carácter de instituição de utili-dade pública e o seu papel social, a Facul-dade de Direito da Universidade AgostinhoNeto cedeu-nos, através de um Protocolo,as actuais instalações para que pudésse-mos funcionar.

Uma vez que convivíamos neste pisocom o INEJ e dado que eles já possueminstalações novas solicitámos à Faculda-de de Direito que nos fosse facultado maisespaço de trabalho para que o nosso Cen-tro de Estudos e Formação funcionasse eministrasse os cursos previstos, para alémde criarmos uma área autonomizada paraa actividade da Assistência Judiciária, quetem sido prestada de forma extremamenteprecária.

Quando tudo nos pareciam rosas eisque tomamos conhecimento que a Reito-ria da Universidade entregou estas instala-ções à Faculdade de Letras para aqui de-senvolver parte das suas actividades.

Apesar de reconhecer que não somosos proprietários das instalações e de per-cebermos quais as dificuldades sentidaspela Faculdade de Letras, não posso, naqualidade de Bastonário da Ordem dos Ad-vogados de Angola, deixar de manifestar omeu profundo desagrado pela forma co-mo este processo decorreu e a forma co-mo a Ordem foi mal tratada em todo esteprocesso.

Quero com isto dizer aos estimadosColegas que neste momento a Ordem dosAdvogados está seriamente comprometi-

da no desenvolvimento das suas activida-des, porquanto mesmo os espaços, comoeste em que agora estamos, que eram deutilização comum da Ordem e do INEJ eda sala de reuniões, nos foram retirados eentregues à Faculdade de Letras.

Acho que é justo dizer que apenas es-tamos aqui hoje porque o Doutor Paulo deCarvalho entendeu a nossa situação e gen-tilmente cedeu-nos a sala para realizarmoseste Encontro.

Assim, e face à situação actual, so-mos a obrigados a tomar algumas me-didas de emergência até que consigamosencontrar uma solução para podermos tra-balhar.

Para já, suspendemos o recebimentode novos pedidos de assistência judiciáriapor não possuirmos condições de atendi-mento às pessoas que nos contactam.

Quanto ao funcionamento normal daestrutura veremos como será (ou se será)possível conciliar a nossa actividade coma circulação de centenas de pessoas quevirão para as aulas, neste pequeno espaçoem que ainda estamos circunscritos.

Excelências,Estimados Colegas e Convidados,

Não quero perder a oportunidade pa-ra uma vez mais chamar a atenção para anecessidade de se respeitarem escrupulo-samente as regras de ética e deontologiaprofissional.

Criado da OAA – CDI, em 02 de Junho de 2005 Criado da OAA – CDI, em 02 de Junho de 2005

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA por ano:de 1997 a Maio de 2005

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA por natureza e sexo:de 1997 a Maio de 2005

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4 • A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005

Há algum tempo dei a conhecer que aOrdem dos Advogados está a ser rigorosana aplicação das normas deontológicas eque algumas medidas disciplinares têm si-do aplicadas a vários colegas.

Para além disto estamos, igualmente,a fazer cumprir o estabelecido na lei e a in-formar todos os colegas que se encontramabrangidos pelo regime de incompatibili-dades, e que por esta razão não podemexercer advocacia, que deixem de o fazer,sob pena de termos de intentar processosde exercício ilegal de profissão.

Recordo que, nos termos da Lei daAdvocacia, Lei n.º 1/95, de 6 de Janeiro,estão abrangidos pelo regime de incom-patibilidades as seguintes pessoas, entreoutras:

– Membros do Governo;– Magistrados Judiciais e do Ministé-rio Público;

– Funcionários dos Tribunais, das Po-lícias e serviços equiparados.

Apesar disso, e de forma incompreen-sível, constatamos que há colegas que, àrevelia das medidas tomadas pela institui-

ção e apesar de já terem sido informadosde que não podem exercer advocacia, con-tinuam a exercê-la, a receber clientes e aconsultar processos em tribunal, e até,espantemo-nos, a tentar defender os seusconstituintes em audiências de julgamento.

Face a esta situação, a Ordem dos Ad-vogados vê-se obrigada a passar a divul-gar publicamente todos os nomes dos ad-vogados que estejam impedidos de exercernormalmente advocacia, para que os cida-dãos não sejam lesados nos seus mais ele-mentares direitos.

Excelências,Estimados Colegas e Convidados,

A Ordem dos Advogados assinou re-centemente um Protocolo com a UNICEF--Angola, no qual esta instituição se com-

VIDA INTERNA

João Pedro e Rui Piedade

José Manuel Ricardo

Alberto Uaca e Adalberto dos Santos Fernandes

Aurora Virgínia, Rosa Branca e Cláudia do Rosário José Mampuia André e José Carlos da Silva

Page 7: Gazeta do Advogado nº 4

promete a prestar apoio material e finan-ceiro à nossa instituição, para que seassegure apoio jurídico às crianças queforem presentes ao Tribunal de Menores,bem como na formação especializada deadvogados nesta área.

Pretendemos com esta acção acen-tuar ainda mais a nossa vertente socialpara além do apoio que já é dado ao Mi-nistério da Família e da Promoção da Mu-lher.

Finalmente, informo os Colegas deque o Conselho Nacional decidiu, na suareunião ordinária do mês de Julho realizadaontem, dia 7, convocar a Assembleia Ge-

ral dos Advogados da província de Ben-guela para o dia 2 de Setembro, para aeleição dos órgãos sociais do ConselhoProvincial daquela província.

De acordo com o calendário eleitoralaprovado, estabeleceu-se o período de 25de Julho a 1 de Agosto como o de apre-sentação de candidaturas para Presidentee membros do Conselho Provincial, ini-ciando-se a 12 de Agosto a campanhaeleitoral.

Para a eleição do Bastonário e dosmembros do Conselho Nacional, bem co-mo do Presidente e membros do Conse-lho Provincial de Luanda, fixou-se a data

de 26 de Novembro, devendo a apresen-tação de candidaturas decorrer de 17 a 21de Outubro.

Para terminar, desejo a todos os cole-gas sucessos nos trabalhos deste I En-contro dos Jovens Advogados e que estaactividade sirva para que se sintam todosmobilizados para prestarem a vossa cola-boração nas várias acções desenvolvidaspela Ordem dos Advogados.

Muito Obrigado.

Luanda, 8 de Setembro de 2005

A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • 5

Realizou-se, no dia 08 de Julho do corrente ano, na Sala deConferências da Ordem dos Advogados de Angola, o I Encontrode Jovens Advogados sob o lema «Jovens Advogados: Proble-mas e Desafios».

A sessão de abertura foi presidida pelo Senhor Bastonárioda Ordem dos Advogados de Angola, Dr. Raúl Araújo, ladeadopelo Vice-Ministro da Juventude e Desportos, Dr. Albino da Con-ceição e pelo o Dr. Tomás da Silva, Coordenador da Comissãode Formação e Apoio aos Jovens de Advogados.

Participaram no Encontro advogados, advogados estagiá-rios e estudantes de Direito.

O Encontro teve um Painel, comportando 4 (quatro) temas,nomeadamente:

– Perspectiva Governamental para a inserção profissional daJuventude;

– Projectos Habitacionais do Estado: Acesso dos JovensAdvogados;– Problemática do Acesso ao Crédito Bancário por profis-sionais liberais;– O Acesso à Justiça.

As comunicações foram seguidas de intervenções e deba-tes entre os presentes, tendo-se constatado o seguinte:

– Desde os primórdios da independência e até muito recen-temente, registou-se uma ausência de definição de uma po-lítica governamental, com carácter nacional e abrangente, pa-ra a juventude;– Aprovação recente do Programa Executivo de Apoio à Ju-ventude e Plano Geral de Parcerias;– Dificuldades de acesso pelos jovens ao primeiro empregoe necessidade de definição de uma política para o seu en-quadramento profissional;

CONCLUSÕES DO ENCONTRO

Dulcidónio Ribeiro de Carvalho e Osvaldo Bravo da Rosa Joana Lumélia, Dulcínia Manuel e Zenaida Ramos

Page 8: Gazeta do Advogado nº 4

– Faltas de centros de emprego e orientação específica pa-ra o enquadramento sócio-profissional da juventude;– Insuficiência de condições no mercado de trabalho nacio-nal para a absorção dos jovens recém-formados;– Necessidade de uma participação crescente da juventudenas políticas governamentais a si direccionadas;– Imperiosa necessidade de preparação da juventude paraassunção e desempenho de funções de direcção nos varia-dos sectores da vida social do país;– Importância da consagração constitucional do direito à ha-bitação;– Incidência predominante do défice habitacional sobre a ju-ventude, que constitui mais de 60% da população angolana;– Desintegração familiar dos jovens recém-casados que,por falta de habitação, vivem conjunta ou separadamente emcasas de familiares;– Impossibilidade de o Estado, por si só, prover habitaçãoa todos os que dela carecem;– Dificuldades de recurso ao crédito bancário para a reso-lução dos problemas habitacionais;– Necessidade de criação de formas alternativas e comple-mentares ao sistema de crédito existente;– O acesso à Justiça constitui um dos direitos fundamen-tais dos cidadãos;– A concretização do direito de acesso à Justiça está longede se verificar, pela insuficiência de operadores judiciários,nomeadamente Magistrados Judiciais e do Ministério Públi-co, polícias e advogados;– Os Centros de assistência judiciária e jurídica podem, efec-tivamente, desde que devidamente estruturados e apoia-dos, constituir uma saída para a remuneração regular dosAdvogados, sobretudo dos jovens;– As custas judiciais e os emolumentos notariais e de re-gisto constituem obstáculos ao acesso à justiça por partesignificativa dos cidadãos;– A divulgação das leis concorre para a concretização e am-plo exercício do direito de acesso à Justiça;– O acesso ao crédito bancário depende da domiciliação deconta na instituição que o concede e pagamento do saláriomediante a referida conta; – Dado o carácter liberal da profissão de advogado, nãoexistindo remuneração regular, mostra-se inviável o recursodestes profissionais ao crédito bancário.

Com base nessas constatações, o Encontro recomendou:

1. A Ordem dos Advogados deve dialogar com o Governono sentido de se lograr uma melhor integração profissionaldos jovens advogados;2. O Programa Governamental da Juventude deve acompa-nhar as preocupações dos profissionais liberais, nomeada-mente às relativas aos jovens advogados;

3. A Ordem dos Advogados deve concertar com o Governoa extensão aos jovens advogados do mecanismo de rendaresolúvel na aquisição de habitação nos projectos de inicia-tiva do Governo;4. Alargamento do debate em torno da criação do Fundo deFomento Habitacional e sua rápida instituição no sentido daresolução dos problemas específicos dos jovens advoga-dos, decorrentes da sua condição de profissionais liberais;5. Divulgação dos Planos de Expansão Urbanística dos Go-vernos Provinciais, nos seus múltiplos aspectos, junto da Or-dem dos Advogados e outras instituições cujas atribuiçõessejam de utilidade pública;6. Estudar formas de estimular as indústrias do sector deconstrução, com vista a tornar acessível os materiais deconstrução, visando um maior impulso à autoconstrução di-rigida;7. Promover a instalação de novos núcleos habitacionais atodos os extractos sociais, por forma a obter-se uma con-veniente inserção social da população, a fim de desestimu-lar a segregação social;8. A conduta dos operadores judiciários constitui um ele-mento essencial para o acesso à Justiça;9. O acesso à Justiça passa também pelos meios alterna-tivos de resolução de conflitos;10. O fortalecimento e melhoria dos mecanismos da assis-tência judiciária;11. Que sejam promovidos, com regularidade, encontros si-milares a fim de reforçar a união e intercâmbio entre jovensadvogados e advogados séniores; 12. Criação de mecanismos de estímulo pelos GovernosProvinciais para jovens advogados que pretendam instalar--se em localidades onde haja falta ou insuficiência dessesprofissionais;13. Com o financiamento do Estado, deve ser criado umCentro/Instituto de assistência e patrocínio judiciário depen-dente da Ordem com autonomia funcional e que possibilitea atribuição de remuneração condigna aos advogados queno seu âmbito venham a prestar serviços;14. Acelerar o processo conducente à publicação do Códi-go das Custas Judiciais já aprovado;15. A celebração de protocolos entre a Ordem dos Advoga-dos e instituições de crédito deve ser profundamente anali-sada, a fim de compatibilizar as exigências bancárias, comas necessidades reais de recurso ao crédito pelos profissio-nais liberais.

A sessão de encerramento foi presidida por Sua Ex.ª o Se-nhor Ministro da Justiça, Dr. Manuel da Costa Aragão.

Luanda, aos 08 de Julho de 2005

O I Encontro de Jovens Advogados

6 • A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005

VIDA INTERNA

Page 9: Gazeta do Advogado nº 4

Bakci Soares faz a leitura

do Decálogo

Prof.ª Medina entrega Cédula

a Vladimir Fortunato

Machila dos Santos entrega

Cédula a Suzana Ramos

Pulquéria Bastos entrega

Cédula a Alda Masseca

Pulquéria Bastos entrega

Cédula a Alexandre Morgado

Bastonário Raúl Araújo entrega

Cédula a Nahary Cardoso

Caros Colegas,

A leitura do Decálogo que acabámos de ouvire que, invariavelmente, vem sendo feita em todosos actos de entrega de cédulas, não é acidental.

Com ela tem-se o propósito de, no dia emque formalmente se entra para a classe, lembrar aconduta profissional do advogado, lembrando-lheassim regras de ética e deontologia profissional, derelacionamento humano e social.

É fundamental na nossa pro-fissão a observância das regrasde conduta e (a) consciência deque se pertence a uma classe queé vista como a defensora da lei,do Direito e da Justiça, e tambémde que é dever de todos os seusmembros defenderem essa ima-gem da profissão.

É pois com tristeza que vemos colegas, re-cém-iniciados ou não, a olhar com desprezo osseus clientes e as causas que estes trazem, quan-do os mesmos são pessoas simples e humildes,possam elas pagar ou não os honorários preten-didos pelo advogado. Pensam estes colegas tal-vez que, ainda que não ponham todo o seu empe-nho e saber ao dispor da causa e daí ocorramprejuízos para o seu constituinte este, ou não per-ceberá o seu laxismo e incúria, ou que, perceben-do, nada fará contra ele por se sentir impotente. Eaté pode ser que o raciocínio esteja certo. O quenão está certa, com toda a certeza, é a condutado advogado que se apresenta de fato e gravata,exige ser tratado pelo seu título, nunca se esque-cendo de o mencionar antes do nome, mas que secomporta como um vulgar charlatão.

Que exemplo dá o advogado que é conhecidopor convencer o seu constituinte a fazer acordosque o prejudicam, acordos que prejudicam tendoem vista apenas vir a receber honorários altos, oupor ficar indevidamente com valores do seu clien-te? Quem poderá depositar confiança num advo-gado assim ou numa classe que tem dentro de sigente como esta, ainda que tal advogado se mos-tre com competência técnica excepcional?

É realmente constrangedor termos de reco-nhecer que temos colegas com esse comporta-mento, e que há pessoas que, com forte inclinação

para a prática de actos ilícitos, só se inscrevem naOAA para, com fins maléficos, tirar proveito dosconhecimentos adquiridos, contornando e violan-do a lei, e fazer trapaças aos seus próprios cons-tituintes.

A Ordem não pode tolerar tais comportamen-tos, nem outros menos graves mas igualmentesancionáveis. Se o próprio advogado não se sabeposicionar perante a lei e a ética andamos muito

mal, temos de convir, e em nadaeste profissional vai contribuir pa-ra a consolidação do Estado De-mocrático que todos nós, pelomenos, afirmamos pretender. Eisto não é uma questão de retó-rica, pois cabe ao advogado o de-ver de lutar por um mundo maishumano e mais justo.

Estamos, apesar, de tudo,convictos que os advogados que não sabem serprofissionais constituem uma minoria e que amaioria não consentirá que a bel-prazer daquela, aimagem de toda a classe seja maculada.

Mas estamos igualmente convictos de que,neste momento, a classe não goza da melhor fa-ma. Cabe, assim, a todos os que se sintam real-mente advogados e, por conseguinte, traídos porcertas práticas, defenderem intransigentemente oscolegas injustamente acusados e denunciar todosaqueles que tenham um comportamento não ético.

A terminar, dirijo uma palavra especial aosnovos colegas, nossos compatriotas, que estuda-ram, uns, e outros exercem a profissão, noutrasparagens e entenderam fazê-lo também em Ango-la, pelo que tiveram que passar não por um está-gio propriamente dito, mas por um período deadaptação à nossa legislação e Tribunais, sob a su-pervisão de um Advogado Patrono, e aqueles que,não tendo feito o estágio, tiveram de o fazer aqui.

Esperamos que a vossa entrada para a classeseja uma mais-valia com reflexos na diversifica-ção da oferta apresentada àqueles que procuramos serviços dos advogados, tal como gostaríamosque os conselhos aqui colocados tenham, tambémpara vocês, valia.

Sejam todos vocês, caros colegas, muito bem--vindos à classe.

Luanda, 24 de Junho de 2005

VIDA INTERNA

Cerimónia de Entrega de Cédulas em Luanda

Bastonário Raúl Araújo, Dr. Luís

Pizarro e advogados estagiários

A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • 7

Page 10: Gazeta do Advogado nº 4

CONVOCATÓRIADE AASSEMBLEIA GGERAL

DE AADVOGADOS

Por deliberação do Conselho Nacional, nasua sessão de 07 de Julho de 2005, e nos ter-mos dos arts. 25.º e 27.º dos Estatutos da Or-dem dos Advogados de Angola, aprovado peloDecreto n.º 28/96, de 13 de Setembro, do Con-selho de Ministros, convoco todos os advoga-dos domiciliados na Província de Benguela, cominscrição em vigor, para uma Assembleia Ge-ral de Advogados, que terá lugar no dia 02 deSetembro de 2005, com início às 15H00, emlocal a indicar oportunamente e com a seguinteProposta de Agenda de Trabalhos:

Ponto único: Eleição do Conselho Provin-cial de Benguela da Ordem dos Advogadosde Angola.

Para efeitos de apresentação de candidatu-ras, junta-se a calendarização aprovada pelo Con-selho Nacional.

Ordem dos Advogados de Angola, em Luanda, 07 de Julho de 2005

O Bastonário, Raúl Araújo

NOMEAÇÃODA CCOMISSÃO EELEITORAL

DESPACHO N.º 05/AO-GAB/2005 – Ao abri-go do n.º 2 do artigo 5.º do Regulamento Eleito-ral da Ordem dos Advogados de Angola, nomeiopara integrar a Comissão Eleitoral da Provínciade Benguela os Ilustres Colegas:

Pulquéria Bastos, Presidente da Comissão

Idalina VieiraAntónio Domingos Joaquim

Luanda, 10 de Julho de 2005 O Bastonário, Raúl Araújo

8 • A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005

VIDA INTERNA

CONSELHO PROVINCIAL DE BENGUELAProcesso Eleitoral

Exmo.º SenhorDr. Joaquim António Miranda PintoMandatário da Lista do Candidato a Presidente do Conselho Provincial de Benguela da OAABenguela

N/Ref. N.º 4040/OA-CPL/2005Luanda, 04 de Agosto de 2005

Exmo. Sr.Analisado o processo de candidatu-

ra para Presidente e Membros do Conse-

lho Provincial de Benguela da OAA,encabeçado pelo Sr. Dr. Joaquim Ma-chila dos Santos, verifica-se que não foicumprido o requisito do art. 12.º, n.º 3,al. c) do Regulamento Eleitoral da Or-dem dos Advogados, de 29 de Agostode 1996, isto é, a lista não foi apoiada.

Sob pena de rejeição, deve estevício ser corrigido no prazo de 3 (três)dias.

Com os melhores cumprimentos,subscrevemo-nos,

A Presidente da Comissão Eleitoral

Pulquéria Van-Dúnem Bastos

OFÍCIO AAO MMANDATÁRIO

DESPACHO N.º 06/OA-CN/2005 – Sanado que está o vício, dou por aceite a can-didatura do Dr. Joaquim Machila dos Santos.

Luanda, aos 08 de Agosto de 2005

A Presidente da Comissão Eleitoral, Pulquéria Van-Dúnem Bastos

DESPACHO DDE AACEITAÇÃO DDA CCANDIDATURA

Ao Coordenador da Comissão EleitoralLuanda

Nós abaixo assinados, Advogadoscom inscrição em vigor, temos a honrade, nos termos do disposto no art. 10.º,n.º 2, do Estatuto da Ordem dos Advo-gados e do ar t. 12.º do RegulamentoEleitoral, apresentar a V. Ex.ª a propostade candidatura à eleição de Presidentedo Conselho Provincial de Benguela.

CONSELHO PROVINCIAL DE BENGUELA

Candidato a PresidenteDr. Joaquim Machila dos Santos

Candidatos a Membros do Conselho Provincial

de Benguela

Dr. Fernando Dias CangatoDr. Rodrigues VanhaleDr. Rufino Narciso

Mandatário da Lista:Dr. Joaquim António Miranda Pinto,

com domicílio na Avenida da Indepen-dência, Bairro da Restinga, 2.º andar, n.º7, cidade do Lobito

– Tel. 92 351 71 56

Benguela, 29 de Julho de 2005

PROPOSTA DDE CCANDIDATURA

Page 11: Gazeta do Advogado nº 4

Aos dias 22 de Julho de 2005, às 15 horas, no Salão Nobre da AdministraçãoMunicipal de Benguela, realizou-se a Cerimónia de Entrega de Cédulas Profissionaisa Advogados e Advogados Estagiários.

Contou com a presença de Ilustres Convidados da Província e de Académicos,e foi presidida por S. Ex.ª o Senhor Bastonário da Ordem dos Advogados de Ango-la, Dr. Raúl Araújo, que estava ladeado pelo Dr. Joaquim Machila dos Santos, Dele-gado Provincial da OAA e Membro do Conselho Nacional, e pelo Dr. Filipe Paulino,Membro do Conselho Nacional e Coordenador da Comissão de Acompanhamentodas Províncias.

O acto teve o seu início com a apresentação da composição da mesa dapresidência, feita pelo advogado Dr. Rufino Narciso, a que se seguiu a leitura doDecálogo, que coube ao estagiário Dr. José Bento Cangombe. O momento mais altoda Cerimónia, como seria lógico, foi a entrega de Cédulas Profissionais ao Dr. Fer-nando Dias Cangato e ao Dr. Rodrigues Vanhale, enquanto que a entrega de Cédu-las de Estagiários foi feita ao Dr. José Bento Cangombe e ao Dr. Marco Bruno Fer-reira Castendo.

Em seguida, com as devidas saudações, o Dr. Joaquim Machila dos Santos, naqualidade de Delegado Provincial da OAA em Benguela, proferiu o seu discurso. Noessencial, desejou as boas vindas aos colegas que acabavam de entrar para aclasse como advogados e advogados estagiários.

Por último, o mais aguardado foi, como sempre, o discurso de encerramentoque foi proferido por S. Ex.ª, o Senhor Bastonário da Ordem dos Advogados deAngola, que começou por saudar todos os presentes à Cerimónia, aproveitou aoportunidade para anunciar o início do processo eleitoral do Conselho Provincialde Benguela, centrou depois o seu discurso, obviamente, no acto de entrega deCédulas que acabava de ser realizado, e, como era de esperar, desejou as boasvindas aos colegas que acabavam de entrar para a classe como advogados e ad-vogados estagiários, com a recomendação de tudo fazerem para dignificar a pro-fissão, principalmente, aos que acabavam de receber as Cédulas Profissionais deAdvogado.

Benguela, 8 de Agosto de 2005

O Delegado Provincial, Joaquim Machila dos Santos

PROGRAMA EELEITORALDOS CCANDIDATOS

O Programa Geral de Acção tem co-mo pontos fortes:

1. A continuidade e aperfeiçoamen-to da actividade da Ordem dos Ad-vogados da Província de Benguela2. Criação de condições para o fun-cionamento da Ordem dos Advoga-dos na Província3. Reforço das relações institucionais4. A dignificação da justiça

Objectivos Gerais– Reforço da Unidade da Classe– Defesa dos Direitos Fundamentaisdos Cidadãos– Dignificação da Justiça– Apoio ao jovem Advogado

1. Reforço da Unidade da Classe– Desenvolvimento de acções quecontribuam para uma maior convivên-cia dos advogados– Promoção de debates sobre ques-tões profissionais

2. Defesa dos DireitosFundamentais dos Cidadãos– Uma particular atenção à presta-ção de assistência judiciária– Cooperação com os demais ope-radores judiciários na protecção dosdireitos fundamentais dos cidadãos

3. Dignificação da Justiça– Dignificação da justiça e defesa daindependência do poder judicial– Fortalecimento da Cooperação daOrdem com os demais órgãos da Jus-tiça (Tribunais, PGR e Governo) namelhoria da administração da Justiça

4. Apoio ao jovem Advogado– Prestar o apoio necessário aos jo-vens no início da sua actividade

Um Mandato de acção «Para bem da Justiça»

A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • 9

PRIMEIRA CERIMÓNIA DE ENTREGA

DE CÉDULAS PROFISSIONAISEM BENGUELA

Reproduzimos abaixo o Relatório da Cerimónia e, na páginaseguinte, o discurso de intervenção proferido na ocasião peloDelegado da Ordem na Província de Benguela.Infelizmente, não foi possível neste evento contar com amerecida reportagem fotográfica.

Page 12: Gazeta do Advogado nº 4

� Machila dos Santos | Advogado

ExcelênciasIlustríssimo BastonárioIlustre Membro do Conselho Nacio-

nalDigníssimos ConvidadosMinhas Senhoras e Meus SenhoresCaros Colegas

As nossas primeiras palavras sãopara dar as boas vindas aos colegas queacabam, formalmente, de entrar para clas-se como advogados e advogados esta-giários.

A entrega do título que permite oexercício da profissão, embora habitual,não pode ser encarada como um facto demero expediente, razão porque não é en-tregue na Secretaria da nossa nobre Ins-tituição, mas em cerimónia pública, reali-zada especificamente para o efeito, comoacontece hoje no Salão Nobre da Admi-nistração Municipal de Benguela, com aparticularidade de ser a primeira vez queum acto como este se realiza fora da Ca-pital do País, Luanda.

Isto é demonstrativo de que a exis-tência dos advogados a nível de todo oterritório nacional, apesar de ser aindamuito reduzida, começa a ser uma reali-dade inquestionável.

É sempre com muito agrado que aOrdem regista a chegada de novos mem-bros, pois com isto a classe fica maisfortalecida em quantidade e qualidade.

Os mais jovens, ou os mais recente-mente formados, se preferirmos, não têma experiência dos que há muito exercema profissão, mas têm um saber mais mo-derno, mais actual pois as escolas mo-dernizam-se todos os dias. Outros aindavêm de outros cantos do Mundo e trazemtambém consigo novidades e opiniões in-teressantes.

Resulta desta simbiose uma dinâmi-ca saudável e indispensável para o de-senvolvimento do Direito, por um lado, eum leque cada vez mais vasto de esco-lha para os utilizadores dos serviços deadvocacia, que se apresentam cada vezmelhores, por outro lado.

A advocacia, como profissão, é umsacerdócio, logo a vocação deve colocar--se acima de tudo. Não basta ser jurista pa-ra ser advogado, nem há necessidade parao jurista de se sentir com tal obrigação oudiminuído por não sentir nas suas veiaspulsar a necessidade de ir para o fórum.

O jurista que queira enveredar pelaadvocacia não pode ter como o objecti-vo único ganhar dinheiro. Se assim for,esse advogado jamais será capaz de,com sacrifício e abnegação, defender osinteresses e direitos vilipendiados de quemnão tem meios financeiros, como tambémnão perceberá a importância que tem pa-ra o candidato a seu constituinte a reso-lução de questões que, a seus olhos são,permitam-me a expressão, de «lana ca-prina».

Pedimos-vos, Caros Colegas, queleiam e retenham o conteúdo do Decálo-

go que aqui por um de vocês foi lido.Não se entendeu fazer essa leitura por

acaso.Sejam dedicados, honestos, trabalha-

dores e estudiosos permanentes. Não su-bestimem o adversário.

Pautem sempre a vossa conduta pe-lo respeito pela ética e deontologia profis-sional e não descurem os ditâmes esta-tutários e demais normas a que estamosobrigados.

Contem com a Ordem para vos de-fender contra os impedimentos ou livreexercício da profissão e a violação dosdireitos e prerrogativas dos advogados.Mas a Ordem não poderá dar protecçãoàqueles que com a sua conduta manchama classe.

Como é sabido, a memória dos ho-mens retém com mais facilidade as máspráticas do que as boas. O espírito hu-mano é pródigo em generalizar. Significaisto dizer que as más práticas dos advo-gados se mantêm mais firmemente namemória das pessoas do que as boaspráticas, e que as más práticas de al-guns servem para generalizar, como prá-tica de todos.

A Ordem espera de vocês e de todaclasse uma grande cooperação na rea-lização de projectos, na apresentação depropostas e sugestões, para um melhorfuncionamento e fortalecimento da clas-se.

A nossa nobre Instituição não pode-rá ser for te se não puder contar com acolaboração de todos. A este propósitolembramos a necessidade do pagamen-to pontual das quotas – dever estatutáriodos advogados. A maior parte de nós sóo cumpre quando interpelada, havendouma boa parte que nem com isso.

As nossas últimas palavras são dereconhecimento aos advogados que têmcontribuído como Patronos para a forma-ção dos Advogados Estagiários, privando--se do seu tempo e espaço para os poderacompanhar convenientemente. Espera-mos que os nossos novos Colegas, pelasua conduta, não venham a fazer comque os seus Patronos reputem o tempo,empenho e sacrifício convosco despen-dido como mal empregues.

Esperamos também o mesmo empe-nho e prontidão, quando reunirem as con-dições estatutárias para ser Patronos emreceber estagiários.

Caros Colegas, mais uma vez sejambem vindos e votos de muito sucesso navossa vida profissional.

Muito Obrigado

Benguela, 22 de Julho de 2005

10 • A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005

VIDA INTERNA

Cerimónia de Entrega de Cédulas Profissionais em Benguela

Page 13: Gazeta do Advogado nº 4

� Daniel Domingos António | Advogado

1. INTRODUÇÃO

Com a conquista da independêncianacional, em 11 de Novembro de 1975,verificou-se uma viragem profunda e ra-dical na estrutura sócio-económica e polí-tica de Angola. A organização e direcçãoda economia angolana, antes fundada noprimado do liberalismo económico, sofreualterações no período pós-independênciapor força das novas opções políticas adop-tadas pelo Estado fundado no centralismoe dirigismo económico de base socialista.

Constatou-se ainda a fuga massivade capitais para o estrangeiro no sectorprivado da economia e a inércia e degra-dação do tecido produtivo nacional, que-brando-se os ritmos de crescimento e de-senvolvimento outrora alcançados.

Em função da grave crise social quese atravessava na altura o Estado tomoumedidas para reverter o quadro sócio-eco-nómico caótico que então se vivia e, pro-gressivamente, tem elaborado políticastendo em vista o desenvolvimento da eco-nomia angolana.

Ora, a regulação económica situa-sena área de convergência entre o Estado ea economia. No dizer de Santos et al.1 «aregulação económica é o conjunto de me-didas legislativas, administrativas e con-vencionadas, através das quais o Estado,por si ou por delegação, determina, con-trola ou influencia o comportamento dosagentes económicos».

Quer isto dizer que a regulação visagarantir o interesse público que, no casode Angola, se traduz na estabilização ma-cro-económica e no desenvolvimento daeconomia.

Neste contexto, o Estado tem vindo aregular a estruturação dos diversos sec-tores da economia, com particular real-ce para o sistema financeiro nacional en-quanto vector fundamental da economia,em particular o subsector bancário e si-milar com vista ao crescimento e desen-volvimento económico do País, tendo pa-ra o efeito criado ao longo dos anos váriasinstituições.

A partir de 1988, o Governo deu iní-cio a reformas profundas no sistema eco-nómico com a aprovação do Pacote legis-lativo do SEF (Programa de SaneamentoEconómico e Financeiro) que visava re-lançar a economia nacional.

Por outro lado, a partir da década de90 deu-se uma viragem profunda nos sis-temas político e económico em Angola:adoptou-se o multipartidarismo e a econo-mia de mercado. Porém, o País encon-trava-se destruído por uma guerra fratri-cida que afectou negativamente todo osector produtivo e as infra-estruturas.

Neste contexto, o Governo Angolanoadoptou uma Estratégia Global para a Saí-da da Crise, que passa necessariamentepor uma reestruturação do sistema finan-ceiro nacional para alcançar um desenvol-vimento económico sustentado, pelo quese constatou haver necessidade de exis-tir um banco de capitais públicos especial-mente vocacionado para o fomento da ac-tividade económica.

Pelos factores apontados, enquantocontinuam as reformas no sector finan-ceiro e não havendo um banco de capi-tais públicos especialmente vocacionadopara o fomento da actividade económi-ca, o Governo Angolano optou por criaro FDES, em 1999, um fundo inserido nosistema financeiro nacional, com o objec-tivo de mobilizar recursos para garantiade um desenvolvimento sustentado.

Neste contexto, caracterizaremos osistema financeiro nacional no períodopós-independência até 1991, as mutaçõesverificadas no sistema financeiro nacio-nal a partir de 1991 até 1999 e, tendo ematenção a relação existente entre o Direi-to e a Economia, procederemos a análiseda inserção do FDES – Fundo de Desen-volvimento Económico e Social na eco-nomia.

Demonstraremos como as normasjurídicas estabelecidas com a criação doFDES, o regime e o modelo adoptado sãouma das soluções adequadas ao desen-volvimento da economia em termos decustos e benefícios, traduzidas em maioreficiência (maiores resultados e menorescustos).

2. A REESTRUTURAÇÃO E MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA

FINANCEIRO ANGOLANO

2.1. Caracterização do sistemafinanceiro no períodocompreendido entre 1975-1991

Após a independência de Angola, até4 de Novembro de 1976, o quadro legal

O CONTRIBUTO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

DE DIREITO ANGOLANO PARA O DESENVOLVIMENTO DE ANGOLA:

O CASO FDES*

A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • 11

REFLEXÕES

Page 14: Gazeta do Advogado nº 4

do sistema financeiro nacional baseava--se no Decreto-Lei n.º 45.296, de 8 deOutubro de 1963, dimanado do legisla-dor colonial. Porém, um novo conjuntode diplomas legais veio pôr fim à vigên-cia do supra citado decreto-lei e instituiruma nova organização do sistema finan-ceiro. A 5 de Novembro de 1976 forampublicados dois importantes diplomas,nomeadamente a Lei 69/76 e a Lei 70/76.O primeiro diploma legal veio procederao confisco do Banco de Angola e, simul-taneamente, é criado o Banco Nacional deAngola que substitui aquele, passando ater funções diversas: de Banco Central,Banco Emissor, Caixa do Tesouro e deComércio Bancário. Ora, o Banco Nacio-nal de Angola, além das funções tradicio-nais de banco central passou também aexercer actividade de Banca Comercial.

Através do segundo diploma (Lei n.º70/76) o Governo confiscou o Banco Co-mercial de Angola tendo, ao abrigo domesmo diploma legal, instituído o BancoPopular de Angola (BPA).

Deste modo, o sistema financeiro an-golano caracterizou-se até 1991 pela exis-tência de dois bancos mas, na prática,apenas existia um banco, pois o BPA ti-nha competências mitigadas pelo for tepoder que o BNA exercia sobre si. Por ou-tro lado, só existia uma empresa de se-guros (ENSA, UEE).

E não havia possibilidade de se alar-gar o número de instituições bancárias, amenos que fossem criadas pelo Estado,pois em 25 de Fevereiro de 1978, com apublicação da Lei n.º 4/78, a função ban-

cária foi declarada exclusivamente públi-

ca. Durante o período em análise, as taxasde juro e de câmbio eram administrativa-mente fixadas.

O sector bancário não se desenvol-veu adequadamente nesse período, por-quanto não era possível distinguir os mer-cados financeiro, monetário e cambial,pois o circuito comercial e o circuito cen-tral confundiam-se no BNA, situação quese manteve até ao primeiro trimestre de1991 e constituiu um sério entrave na re-gulação da actividade monetária e cam-bial até àquela altura. O Banco central,

instituição responsável pelo controlo daofer ta nacional de moeda e das condi-ções de crédito e pela supervisão do sis-tema financeiro, em especial dos bancoscomerciais, era ao mesmo tempo um Ban-co Comercial.

Esta situação manteve-se assim por-que até àquela época a orientação políticae estratégica do País era de base socia-lista e «tal como na maioria dos siste-mas financeiros socialistas, as decisõesrelativas ao volume e alocação do crédi-to eram tomadas pelo Ministério do Planoe os bancos (neste caso o BNA, já que oBPA limitava a aplicação dos fundos quecaptava aos depósitos no banco central)actuavam como meros instrumentos doplano, o que conduziu a um atrofiamentoda capacidade das instituições, tanto aonível da análise de crédito como da ges-tão bancária em geral, dada a inexistên-cia de supervisão e a “arbitrariedade” daconcessão dos empréstimos»2.

2.2. As mutações verificadas no sistema financeiro a partir de 1991

Segundo eruditos da ciência econó-mica3, os objectivos da política económi-ca são essencialmente os seguintes: al-cançar a melhor combinação possível deinflação reduzida, desemprego reduzido,rápido crescimento económico, um sal-do comercial sustentável e mercados fi-nanceiros estabilizados. Ora, a políticamonetária é um segmento da política eco-nómica e, através dela, o banco centralexerce o seu controlo sobre a moeda, ta-xas de juro e as condições de crédito.

Por sua vez, a política monetária po-de ser:

a) expansionista – política do bancocentral traduzida no aumento da ofer-ta de moeda para reduzir as taxas dejuro. O propósito desta política é in-crementar o investimento e assim au-mentar o Produto Nacional Bruto;b) ou restritiva – uma política de ban-co central que restringe ou reduz aoferta de moeda e aumenta as taxasde juro. Esta política tem como con-

sequência desacelerar o crescimen-to do Produto Nacional Bruto real, fa-zendo reduzir a taxa de inflação ourevalorizar a taxa de câmbio.

Em Angola, até 1990 a política mo-netária era restritiva, tendo como princi-pal objectivo o combate à inflação, redu-zindo as taxas de inflação a níveis baixos,tendo por fim último o crescimento eco-nómico sustentável, progressivo.

Ora, com a alteração da Constituiçãoangolana na década de 90, deu-se umaviragem profunda e radical na ordem jus--económica e política e, consequente-mente, no sistema financeiro pois, ao seadmitir e proteger a propriedade privadade modo amplo4, verificou-se igualmenteuma profunda mudança na organizaçãodo sistema financeiro. Isto deveu-se aofacto de as políticas públicas relativas àordem jus-financeira adoptadas até Mar-ço de 1990 não terem conduzido à esta-bilização macro-económica nem ao de-senvolvimento do país, pois além da suaimplementação precária, o sistema finan-ceiro vigente não era capaz de mobilizara poupança suficiente para o investimen-to nacional, em particular para o tecidoprodutivo.

Neste contexto, procedeu-se a umareforma institucional e legislativa no âm-bito do sistema financeiro, consubstan-ciada no seguinte:

• Aprovação da Lei n.º 4/91, de 20de Abril (Lei Orgânica do Banco Na-cional de Angola), que elimina do BNAas funções comerciais que possuíaaté então, sendo-lhe atribuídas fun-ções típicas de Banco Central, no-meadamente as funções de autori-dade monetária e cambial, controlo,coordenação, orientação e supervi-são do mercado e políticas monetá-ria e cambial, tendo por objectivo fun-damental «... o combate à inflação,a criação de condições para estimu-lar a poupança de activos denomina-dos em Kwanzas, reduzindo o exces-so de liquidez na economia, utilizandoentre os instrumentos de política mo-

12 • A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005

REFLEXÕES

Page 15: Gazeta do Advogado nº 4

netária que foram ficando com o tem-po disponíveis, as reservas obrigató-rias, a venda de títulos do Banco Cen-tral (TBC), as sessões de venda dedivisas e outros cuja conveniênciase foi identificando»5.• Aprovação da Lei n.º 5/91, de 20de Abril (Lei das Instituições Finan-ceiras) que introduziu como princi-

pal novidade a criação de um sistema

financeiro de dois níveis, concreti-

zando o abandono do princípio da

exclusividade pública das funções

bancária e creditícia outrora estabe-

lecidas pela Lei 4/78, dando possibi-

lidade de surgimento de outros ban-

cos públicos e privados. Aliás, a Lein.º 10/88, de 2 de Julho, ao definiros sectores a liberalizar já previa talabertura no sistema financeiro.

Antes da entrada em vigor dos ins-trumentos legais citados acima, porque sóhavia uma instituição financeira (o BNA)que detinha as funções de Banco central,comercial e de investimento, o contribu-to desta instituição para o desenvolvimen-to de Angola era escasso dada a exigui-dade de recursos financeiros que o paíspossuía e a quase inexistência de agen-tes privados nacionais pois a grande maio-ria das empresas públicas estavam falidase dependiam de recursos provenientes doorçamento geral do estado.

Deste modo, com as reformulaçõesoperadas pelo regime normativo estabe-lecido pelas Leis 4/91 e 5/91, ambas de20 de Abril, a partir de 1991 o sistema fi-nanceiro tornou-se mais dinâmico poiscom a abertura do sistema bancário sur-giram:

a) dois bancos públicos (o Banco dePoupança e Crédito, SARL, e o Ban-co de Comércio e Indústria, SARL);b) sucursais de três bancos estran-geiros (Banco Totta, Banco de Fo-mento e Exterior e Banco Portuguêsdo Atlântico) e,c) a Caixa de Crédito Agro-pecuáriae Pescas e várias casas de câmbio.

Com o surgimento destas instituiçõestornou-se manifestamente clara a distin-ção entre os mercados financeiro, mo-netário e cambial, passando a existir doisníveis6 no sistema financeiro com a se-guinte estrutura:

I. Órgão de supervisão do sistema fi-nanceiro (o BNA);II. Instituições bancárias, parabancá-rias e instituições especiais de cré-dito.

A partir de então previu-se uma evo-lução positiva no contributo das institui-ções financeiras ao desenvolvimento daeconomia nacional, pois os Bancos pú-blicos (BPC, BCI e CAP) passaram a apoiara economia real, apesar de estarem vo-cacionados, em grande medida, para ocrédito a curto prazo.

A partir de 1997, o Governo Angola-no reformulou os programas económi-cos e sociais tendo por objectivo alcan-çar a estabilização macro-económica, arecuperação da produção e o crescimen-to económico.

A definição de tais objectivos tor-nou necessária uma maior eficácia dosistema financeiro nacional, porquanto asinstituições financeiras passariam a terum papel crucial no desenvolvimento dopaís.

Assim, foi alterado o quadro jurídi-co-legal para o conjunto das instituiçõesfinanceiras, devido à evolução dos mer-cados monetário, financeiro e cambial edos agentes interventores nos referidosmercados e à necessidade de consolida-ção da economia de mercado estabeleci-da na constituição de 92.

Assim, as Leis n.º 4/91 e n.º 5/91 fo-ram alteradas pelas Leis n.º 6/97, de 11de Julho, e n.º 1/99, de 23 de Abril, res-pectivamente, que introduziram uma no-va dinâmica no sistema financeiro. A pardessas alterações foi aprovada a Lei n.º5/97 que simplificou e liberalizou algumasoperações do mercado cambial, nomea-damente a liberalização das taxas de câm-bio.

Foi neste quadro que, à luz da estra-

tégia global para a saída da crise políticaeconómica e social gizada pelo Governode Angola em 1999, se estabeleceu co-mo princípios fundamentais da política decrédito e da política monetária o seguin-te7:

a) A liberalização da taxa de câmbioe da taxa de juro com a instituciona-lização do mercado monetário e cam-bial interbancário;b) O levantamento das restrições àimportação com fundos próprios eautorização do recurso ao crédito doexportador;c) A permissão de operações de cré-dito em moeda externa;d) A simplificação dos mecanismose procedimentos de importação.

Assim, o quadro legislativo do sectorfinanceiro a partir de Maio de 1999 per-mitiu dar início a correcções dos gran-des desequilíbrios macro-económicos epossibilitou a criação de bases de sus-tentação da economia de mercado, emparticular devido ao aumento da concor-rência no sector financeiro, com o surgi-mento de novos bancos comerciais e atransformação de sucursais de bancosestrangeiros em bancos de direito ango-lano. É importante ressaltar que a con-corrência é de extrema importância naseconomias de mercado, pois permite pro-porcionar produtos e serviços a preçosde mercado e o desenvolvimento das em-presas.

Porém, até meados de 1999, a po-lítica de crédito à economia praticadapelas instituições financeiras em Ango-la estava essencialmente voltada parao curto prazo e concentrada em grandeproporção na actividade comercial pro-priamente dita e com taxas de juro muitoaltas (cerca de 12% no crédito em moe-da externa e mais de 50% no crédito emmoeda nacional). Mas, como é consabi-do, um país só cresce se houver investi-mento produtivo e, por esta razão, o cré-dito deveria estar direccionado para omédio e longo prazos, o que não aconte-cia.

A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • 13

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3. A CRIAÇÃO DO FDES

3.1. Causas

A economia angolana por volta de1999 caracterizava-se por elevados ní-veis de inflação (3 dígitos), desempregocrescente, tecido produtivo degradadopor força da guerra, extrema dependên-cia das importações e com uma estrutu-ra das exportações assente basicamentena exportação de petróleo – vide QuadroI relativo à evolução da inflação.

Um tal cenário levou o Governo a gi-zar uma Estratégia para a Saída da Criseque se vivia, e é no âmbito desta estraté-gia que, em Agosto de 1999, é criado oFundo de Desenvolvimento Económico eSocial, abreviadamente designado porFDES, como instrumento do Governo namaterialização da política de relançamen-to da ofer ta interna de bens e serviçosatravés da concessão de crédito para o fi-nanciamento do sector produtivo, em par-ticular das pequenas e médias empresasde direito privado angolanas.

Presidiram à criação do FDES razõesde natureza conjuntural e estrutural.

As razões de natureza conjunturaltêm a ver com o deficiente funcionamen-to do sistema financeiro nacional, que atéao final do primeiro semestre de 1999 nãotinha claramente definido as regras e pro-cedimentos públicos para o acesso aocrédito ao desenvolvimento.

Por outro lado, por imperativos da es-truturação dos anteriores programas deapoio ao desenvolvimento do sector pri-vado nacional, implementados pelo FAEN8

e INAPEM9, por exemplo, não havia acomparticipação do empresariado no fi-nanciamento dos projectos de investimen-to, ou seja, os bancos financiavam em100% os projectos, o que não é recomen-dável no plano teórico.

Com efeito, se olharmos para o indica-dor de rentabilidade dos capitais próprios

nos projectos, percebe-se ser maior esteindicador quando há capitais próprios e

alheios envolvidos no negócio, por via doleverage, além de que quando o empre-sário não comparticipa financeiramenteele sente-se pouco estimulado a um cum-primento a contento dos projectos comfinanciamento aprovados.

Do ponto de vista estrutural, com afalência da Caixa de Crédito Agro-pecuá-ria e Pescas, deixaram de existir institui-ções de capitais públicos vocacionadaspara o fomento da actividade económicano médio e longo prazos, porque os Ban-cos Comerciais estavam vocacionadospara o curto prazo.

Foram estas as razões fundamentaisque levaram à criação do FDES.

3.2. Objectivos

Os objectivos da criação do FDES as-sentam em três grandes linhas:

1) contribuir para o financiamento dorelançamento económico e social,nomeadamente pela via do aumentoda produção e da oferta interna debens e serviços e pela promoção dospequenos e médios produtores na-cionais do meio urbano e rural, emespecial nas zonas do País definidascomo prioritárias pelo Governo;2) criar facilidades de crédito, sujei-

tas à intermediação do sistema finan-ceiro nacional e conceder juros boni-ficados para o financiamento de pro-jectos de investimento integrados noâmbito do Programa Económico eSocial do Governo;3) financiar importações de bens deequipamento e de bens intermediá-rios considerados essenciais para oapoio das actividades ligadas aos pro-jectos de investimentos integradosno âmbito do Programa Económicoe Social do Governo.

Ora, como se pode inferir do acimaexposto, o objecto principal do FDES é fi-nanciar o desenvolvimento do sector pro-dutivo, financiar o sector empresarial pri-vado nacional com vista ao aumento daoferta interna de bens e serviços.

Trata-se por tanto, de financiar es-sencialmente projectos de investimento(médio e longo prazos), uma inovação nosistema financeiro nacional que até en-tão estava voltado para o curto prazo.

3.3. Regime

O FDES é um fundo inserido no sis-tema financeiro nacional destinado à mo-bilização de recursos para garantia de umdesenvolvimento económico sustentado.

14 • A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005

REFLEXÕES

Quadro I – Evolução da inflação em Angola

Fonte: GPEA-FDES, consolidado do BNA, DEE

Inflação Anual Linear (Inflação Anual)

10

Inflação Anual

Page 17: Gazeta do Advogado nº 4

Trata-se de uma pessoa colectiva de di-reito público com autonomia administra-tiva, financeira e património próprio.

É uma instituição especial de créditocriada pelo Governo ao abrigo do dispos-to no n.º 4 do art.º 7.º da Lei n.º 1/99.

O quadro legal do FDES vem estipu-lado nos diplomas seguintes:

• Decreto n.º 21/99, de 27 de Agos-to, que cria o Fundo de Desenvolvi-mento Económico e Social e aprovao seu Estatuto.• Decreto Executivo n.º 4/00, de 28de Janeiro, que aprova as regras eprocedimentos do Fundo de Desen-volvimento Económico e Social.

De salientar que o Decreto 21/99,submete a actividade do FDES à super-visão do Banco Nacional de Angola, nostermos da Lei n.º 1/99, pelo facto de estenovo ente ser uma instituição financeira.

Ainda no citado Decreto 21/99, quan-to ao regime jurídico do FDES, a novida-de que ressalta à vista tem a ver com ofacto de se submeter o FDES à tutela doMinistério das Finanças e, simultaneamen-te, à Comissão Permanente do Conselhode Ministros11.

4. IMPACTO DO FDES NA ECONOMIA

4.1. Efeitos sobre as taxas de juro

(Ver Quadro II)

Como se observa no Quadro II, des-de o surgimento do FDES em 1999 e ar-ranque operacional em 2000, que vimosassistindo a um decréscimo das taxas dejuro do crédito ao sector empresarial an-golano (dos 12% em 1999 para os 9%em Setembro de 2004, segundo dadosdo BNA e fontes independentes). A esta-bilidade na taxa do FDES (fixada em 9%desde 2000), de certo modo, tem susci-tado revisões nas taxas activas pratica-das pelos seus parceiros, operadores deseus produtos e não só.

Opiniões de especialistas do FDESconvergem na ideia de vir a verificar-seum decréscimo para níveis abaixo dos9% e muito próximos dos 4% nos próxi-mos tempos, considerando a possibili-dade de introdução no sistema financeironacional de instrumentos como os fun-dos de bonificação das taxas de juro,bem como a revisão das taxas de juro doFDES.

4.2. Efeitos sobre a política de crédito da banca comercial

Numa economia competitiva, os in-termediários financeiros são os únicosagentes que podem realizar a tarefa decompatibilizar prazos e volumes dos re-cursos financeiros com os interesses dosagentes superavitários e deficitários naforma de assunção de riscos, minimizan-do incertezas das aplicações financeiras eos resultados das suas inovações finan-

ceiras12. E, para haver desenvolvimento,estas aplicações financeiras deverão servoltadas para o médio e longo prazos.

Como se disse atrás, a prática co-mercial da Banca estava essencialmentevoltada para o curto prazo. Ora, o FDEScriou duas linhas de crédito intermedia-das pelos Bancos de direito Angolano,para financiar o investimento privado na-cional a médio e longo prazos nos sec-tores da Agro-pecuária, Pescas, Indús-tria, Transportes e Construção Civil.

Mas, a partir do ano 2000, altura emque começaram a ser operacionalizadasas linhas de crédito, o crédito da BancaComercial para o médio e longo prazosaumentou consideravelmente.

O lançamento pelo FDES de um no-vo produto financeiro a 29 de Outubro de2004, denominado GARANTIA FDES, quevisa garantir os financiamentos a conce-der pela Banca Comercial a projectos deinvestimento produtivo a médio e longoprazos, é também um incentivo e impul-so para a Banca aplicar o excesso de li-quidez que detém em stock.

A GARANTIA FDES é um instrumen-to financeiro consubstanciado num docu-mento emitido pelo FDES, para respon-der perante terceiros (beneficários) pelosincumprimentos de uma obrigação con-traída por um cliente (garantido) seu (ga-rante). Enquadra-se no âmbito das ga-rantias bancárias e tem uma importânciafundamental como um vector de desen-volvimento, porquanto na situação da eco-nomia angolana caracterizada por insu-ficiente património dos empresários e ainexistência do seguro de crédito, situa-ção que dificulta seriamente o acesso aocrédito dados os padrões de exigênciados bancos, este instrumento vem ali-geirar o acesso ao crédito à economia,dando o conforto necessário aos agen-tes económicos e aos bancos financia-dores.

4.3. Outros impactos económicos

Com a inserção do FDES na econo-mia, na base dos financiamentos apro-vados, esperam-se outros impactos de

A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • 15

Quadro II – Crédito ao Sector Empresarial

Fonte: Consolidado do BNA e FDES, GPEA-FDES

Taxas de Juro Banca VSFDES (Operações Indexadas em USD)

Page 18: Gazeta do Advogado nº 4

vária ordem, nomeadamente sobre o Pro-duto Interno Bruto e a geração/conserva-ção de empregos. O Quadro III reflecte es-tes efeitos.

Ao nível do Produto Interno Bruto(PIB), os 209 projectos aprovados peloFDES, entre Outubro de 2000 e Dezem-bro de 2004, no montante global de USD36,9 milhões em financiamentos, permi-tem, pelo menos em termos previsionais,gerar USD 7,09 por cada dólar de finan-ciamento em projectos que em média ge-ram um valor acrescentado bruto (VAB)de USD 1,25 milhões – sendo notável queos sectores da indústria de materiais deconstrução, pescas e indústria transfor-madora são os que mais contributo ofe-recem à formação do PIB.

Quanto ao emprego, os 209 projectoscom financiamento aprovado pelo FDESpermitem gerar/conservar 4.989 postosde emprego directo.

Em termos de financiamento dispen-dido, a geração/conservação dum postode trabalho custa em média USD 7.396.É notável que é ao nível dos sectores detransportes (no caso o terrestre de merca-dorias, com USD 21.438), pescas (comUSD 9.112) e indústria transformadora(com USD 6.843) que os custos em fi-nanciamento para a geração/conservaçãode um posto de trabalho são significa-tivos. Estes custos explicam-se pelo ele-vado custo dos equipamentos (camiões,embarcações, maquinaria fabril, etc.) na-queles sectores.

Desper ta ainda par ticular interesseconstatar que, numa visão previsional, ba-seada nos projectos de investimento apro-vados, a produtividade média da força de

trabalho gerada/conservada através dofinanciamento do FDES é, em média, deUSD 52.443, sendo que os sectores dostransportes e indústria dos materiais deconstrução se apresentam como os maisprodutivos. Estes dados, pelo menos na-quilo que a perspectiva do senso comumnos oferece, estão perfeitamente condi-zentes com a realidade, pois, em Angola,actualmente são os sectores que regis-tam significativo crescimento (expansãoda cidade de Luanda para sul, obras deconstrução civil como a barragem de Ka-panda e outras infra-estruturas, bem co-mo a expansão da frota rodoviária, comempresas como Chicoil e MRN, além deoutras, com elevados investimentos járealizados e visíveis em cerca de 500 ca-miões novos de marca Volvo e Scania,representando uma capacidade de cargaestática de 15.000 toneladas).

5. CONCLUSÃO

Como ficou dito na introdução, a am-pla abertura material operada pelo Paco-te Legislativo do Programa de Sanea-mento Económico e Financeiro em 1988e a consequente reforma legislativa e ins-titucional operada em Angola a partir de1991, permitiu o surgimento de bancoscomerciais privados e públicos, resultan-do num apoio directo ao empresariadoprivado nacional. Porém, a mobilização depoupanças efectuada pelas instituições fi-nanceiras era essencialmente canalizadapara o crédito de curto prazo.

Ora, como é consabido, só é possívelhaver desenvolvimento económico sus-tentável quando se financia no médio e

longo prazos e essencialmente no tecidoprodutivo. Como resulta da nossa expo-sição, com o surgimento do FDES deu-seuma inovação no sistema finaceiro na-cional: a concessão do crédito ao inves-timento às pequenas e médias empresasatravés dos produtos financeiros de mé-dio e longo prazos.

Por outro lado, através de produtosfinanceiros como a GARANTIA FDES con-cebidos para facilitar o acesso ao crédi-to à economia aos agentes económicose dando conforto aos bancos financiado-res, o FDES contribui activamente para amodernização e desenvolvimento do sis-tema financeiro nacional, influenciando osbancos a financiar o investimento, o quenão era comum, pois estes estavam vol-tados essencialmente para o crédito decurto prazo.

Deste modo, ficou também demons-trado que com o surgimento do FDES severifica um ajustamento positivo nas ta-xas de juro activas do sistema financeironacional, influenciada em grande medidapela estabilidade da taxa de juro dos pro-dutos do FDES e, verifica-se igualmentea manutenção e ou aumento de postosde trabalho, a nível dos projectos de in-vestimento por si financiados, contribuin-do-se deste modo para o equilíbrio social.

Portanto, não restam dúvidas de que,ao ser criado o FDES, o Governo deu umpasso significativo no relançamento doDesenvolvimento económico e social dopaís, mormente das estruturas produti-vas.

Notas

* Relatório de Mestrado na área jurídico-empre-sarial.1 Direito Económico, p. 225.2 COELHO, Filipe – Sistemas Financeiros e De-

senvolvimento Económico: Angola no Contex-

to Africano, p. 153.3 Por exemplo, SAMUELSON & NORDHAUS – Eco-

nomia, p. 624 e 861.4 Vide arts. 10.º e ss. da Lei Constitucional vi-gente.5 AMARAL, Marinela – O sistema financeiro na-

cional: situação actual e vectores do seu de-

senvolvimento, pág. 65.

16 • A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005

REFLEXÕES

Quadro III – Financiamentos aprovados (2002-2005)

OBS: F/L indica o custo em termos de financiamento por emprego gerado/conservado

Page 19: Gazeta do Advogado nº 4

6 Vide arts. 1.º a 5.º da Lei n.º 4/91.7 DA ROCHA, Alves – Os limites do crescimen-

to económico em Angola, pág. 84.8 FAEN – Fundo de Apoio ao Empresariado Na-cional, criado em 1995 pelo Conselho de Mi-nistros para concessão de créditos ao empre-sariado nacional.9 INAPEM – Instituto Nacional de Apoio às Pe-quenas e Médias Empresas, criado pelo Con-selho de Ministros em 1995 para apoiar a for-mação e assistência técnica das Pequenas eMédias Empresas.10 RCP é a rentabilidade dos capitais próprios;r é a rentabilidade económica da empresa;CP são os capitais próprios; CE são os capitaisalheios; i é a taxa de juro e t é a taxa de im-posto.11 Vide art.º 3.º do Decreto n.º 21/99, de 27 deAgosto e art.º 8.º do Estatuto do FDES, anexoao citado decreto.12 MARQUES, Newton Ferreira da Silva – Estru-

tura e funções do sistema financeiro no Brasil:

análises especiais sobre a política monetária

e dívida pública, autonomia do Banco Central

e Política Cambial, p. 17.

Bibliografia

AMARAL, Marinela – «O sistema financeiro na-cional: situação actual e vectores do seu de-senvolvimento», pág. 65, In: Os grandes

desafios da sociedade angolana para os pró-

ximos dez anos, Fundação Sagrada Esperança,2001.COELHO, Filipe – Sistemas Financeiros e Desen-

volvimento Económico: Angola no contexto

Africano, Colecção Veja Universidade / CiênciasSociais e Políticas, 2000.DA ROCHA, Alves – Os Limites do Crescimento

Económico em Angola, Executive Center eLuanda Antena Comercial, 2001.MARQUES, Newton Ferreira da Silva – Estrutura e

Funções do Sistema Financeiro no Brasil: Aná-

lises especiais sobre política monetária e dívi-

da pública, autonomia do Banco Central e Polí-

tica Cambial, Brasília, Thesaurus Editora, 2003.SAMUELSON, Paul e NORDHAUS, William D. – Eco-

nomia, 14.ª Edição, McGraw-Hill, 1993.SANTOS, A. C., GONÇALVES, E., e LEITÃO MARQUES,Mª. M., Direito Económico, 3.ª edição, Alme-dina, 1998.

Legislação consultada

Lei Constitucional.Decreto-Lei n.º 45296, de 8 de Outubro de1963.Lei n.º 69/76, de 5 de Novembro – Determinao confisco do Banco de Angola e simultanea-mente cria o Banco Nacional de Angola.Lei n.º 70/76, de 5 de Novembro – Confisca oBanco Comercial de Angola e institui o BancoPopular de Angola (BPA).Lei n.º 4/78, de 25 de Fevereiro – Declara ex-clusivamente pública a função bancária.Lei n.º 10/88.Lei n.º 4/91, de 20 de Abril – Lei Orgânica doBanco Nacional de Angola.Lei n.º 5/91, de 20 de Abril – Lei das Institui-ções Financeiras.Lei n.º 5/97 – Liberaliza as taxas de câmbio.Lei n.º 6/97, de 11 de Julho – altera a Lei 4/91.Lei n.º 1/99, de 23 de Abril – altera a Lei 5/97.Decreto 21/99, de 27 de Agosto – Cria o FDESe aprova o seu Estatuto.Decreto Executivo n.º 4/00, de 28 de Janeiro –Aprova as regras e procedimentos do FDES.

A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • 17

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Page 20: Gazeta do Advogado nº 4

� Carlos Feijó | Advogado e Professor de Direito

I.

1. A formação dos advogados angolanos é um desafio queesta classe de profissionais tem em mãos.

A chamada «terceira revolução industrial», que opera umaruptura tecnológica com o passado, faz sentir os seus efeitosno mundo do Direito.

Por exemplo, a sociedade anónima foi o grande instrumen-to jurídico dos progressos realizados no passado; hoje, os gru-pos societários e as novas técnicas jurídicas são instrumentosnecessários ao desenvolvimento sustentado. Por outro lado, no-vas formulações jurídicas são criadas, outros equilíbrios devemser encontrados no plano dos contratos, da propriedade, da fa-mília, da sociedade e do próprio Estado.

Ora, se a revolução económica e tecnológica é inegável, ca-be ao jurista acompanhá-la, revendo até as premissas da dog-mática e prática jurídicas.

No campo profissional, as universidades unem-se às empre-sas; os magistrados e advogados debatem com professores uni-versitários os novos caminhos do Direito.

No nosso caso, infelizmente, o nosso Direito é caracteriza-do por duas faces – a obsoleta e a moderna –, cabendo aos ju-ristas conciliá-las e serem um elemento catalisador da revolu-ção jurídica que se impõe.

Tudo isto para dizer que se a evolução da actividade eco-nómica contribui para tornar mais complexas as regras jurídi-cas, a criatividade dos advogados tornou-se, no mundo hodier-no, uma verdadeira vantagem competitiva, que tem inclusivejustificado a preferência pela utilização, na maioria dos países,de sistemas jurídicos mais flexíveis e adaptados a mudanças,como o sistema da common law. Não é por acaso, por um lado,que a globalização jurídica vem impondo a aplicação generali-zada do direito anglo-americano nos contratos internacionais e,por outro, que se considere que o direito passou a ser um dosfactores de competitividade económica.

Com efeito, para que os advogados angolanos passem aser competitivos, há que repensar todo o processo de formaçãoe acesso ao exercício dessa profissão jurídica, sobretudo quan-do o ensino jurídico em Angola não é, ainda, caracterizado pe-la inovação, modernidade e experimentação, evidenciado antes

as quatro megatendências negativas que marcam sobremaneirao ensino do Direito:

i) Crise do ensino pré-universitário; ii) Inadequação de planos curriculares (voltados para a for-mação de um corpo de profissionais para o exercício de fun-ções na Administração Pública, magistrados e advocacia,negligenciando qualquer inter-relação com outras áreas deconhecimento);iii) Predominância do modelo aula-conferência e incapaci-dade de os docentes levarem à aula outras técnicas de en-sino;iv) Desconhecimento, pelos estudantes, dos melhores mé-todos de estudo, associado à procura obsessiva de assi-milação acrítica de cada palavra dita pelos professores, sema capacidade ou curiosidade intelectual para a procura epesquisa das matérias ministradas nas aulas.

Ora, esta realidade exige um esforço na formação profis-sional dos advogados, que os torne profissionais capazes decompetirem, em igualdade de condições, neste mundo, tambémjuridicamente cada vez globalizado.

2. A pensar em tudo isto, a Ordem dos Advogados de An-gola preocupada com a formação dos advogados, entendeusubmeter ao Conselho de Ministros uma proposta de alteraçãodo seu estatuto, com o objectivo, entre outros, de, por um lado,alterar a designação e o objecto do centro de estudos, que pas-sa a designar-se Centro de Estudos e Formação, e, por outro,alterar o primeiro período do estágio dos advogados de três me-ses para seis meses.

O objectivo principal destas alterações é dar resposta aosproblemas de formação dos advogados em Angola e, atravésdela, melhorar a qualidade da prestação de serviços jurídicosaos interessados.

II. ASPECTOS ORGÂNICOS E INSTITUCIONAIS DA FORMAÇÃO DOS ADVOGADOS ANGOLANOS

1. A formação dos advogados angolanos implica a adop-ção de medidas orgânicas e institucionais. Uma delas é a refor-mulação orgânica e funcional do centro de estudos, hoje, tam-

18 • A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005

RECORTES DE IMPRENSA

A FORMAÇÃO DE ADVOGADOS EM ANGOLA

Uma resposta à globalização

Page 21: Gazeta do Advogado nº 4

bém, de formação, com o objectivo de permitir o acesso ao exer-cício da profissão àqueles que tenham adquirido uma formaçãoprofissional inicial, complementar e contínua.

2. O Centro de Estudos e Formação deve ser consideradocomo o serviço da OAA ao qual competirá a prossecução coor-denada dos princípios orientadores do estágio e da formaçãocontínua dos advogados, que contribua para um adequado exer-cício da advocacia, designadamente nas suas vertentes técni-cas e deontológica.

Para este efeito, o Centro de Estudos e Formação deverá tero seguinte objecto:

2.1. No domínio da formação

a) Concretizar os princípios gerais da formação e dos pro-gramas de estágios e formação contínua, garantindo umapreparação profissional rigorosa, criteriosa e coerente;b) Assegurar a execução de um sistema de avaliação qua-lificado à medida das elevadas exigências do acesso à pro-fissão.

2.2. No domínio dos estudos e investigação

a) Organizar serviços periódicos de estudo e discussão de te-mas jurídicos com interesse para o exercício da advocacia;b) Suscitar debates sobre projectos de diplomas legais fun-damentais;c) Realizar cursos práticos de Direito e realizar conferências,debates, seminários, colóquios e congressos sobre temasjurídicos ou de especial interesse para a comunidade na áreade investigação institucional da ordem dos advogados;d) Promover a edição e publicação de trabalhos, estudos eintervenção de destaque.

3. Para a prossecução das suas atribuições deverá, orgâni-ca e funcionalmente, estruturar-se em áreas ou unidades orgâ-nicas que correspondem ao seu objecto.

Será, ainda, necessário dotar-se o centro de um corpo de for-madores e de patronos-formadores, instalações, equipamentos eoutros meios necessários ao desempenho das suas atribuições.

4. Na sua estrutura orgânica, deverá figurar um serviço deavaliação, devendo nele ter assento pelo menos um magistra-do, dois docentes universitários, um para área do processo civile outro do processo penal, e três/quatro advogados.

III.

1. O ensino universitário visa «assegurar» uma sólida prepa-ração científica e cultural e «proporcionar» uma formação téc-

nica que habilite para o exercício de actividades profissionais eculturais e fomente o desenvolvimento das capacidades de con-cepção de inovação e de análise crítica.

A formação profissional não é, assim, uma decorrência di-recta do ensino universitário, ao qual compete, no plano da pre-paração técnica, proporcionar os quadros que habilitem os li-cenciados para o futuro exercício de actividades profissionais.

Assim, no plano do direito, enquanto no ensino universitá-rio se privilegia antes o conhecimento dos instrumentos quepermitam a comparação das normas, na formação profissionalé mais importante o conhecimento detalhado das normas.

Esta diferença metodológica e epistemológica é decisiva, eé a última a que mais interessa à formação profissional dos ad-vogados.

2. A formação dos advogados deverá compreender a for-mação inicial, a complementar e a contínua.

2.1. A fase da formação inicial deve incluir, para além daassistência do patrono, a formação de natureza prática organi-zada e disponibilizada pelo Centro de Estudos e Formação daOAA.

A fase da formação inicial destina-se a garantir uma inicia-ção nos aspectos práticos da profissão e em adequado conhe-cimento das regras e exigências deontológicas da profissão.

Nesta fase, os programas de estágios devem compreenderas áreas de deontologia profissional, prática processual civil eprática processual penal, e a prática jurídica interdisciplinar, on-de se operará a intersecção entre os vários ramos de Direito,procurando manter hábitos de reflexão global e multidisciplinarsobre os problemas jurídicos. Por exemplo, analisar-se-ão ques-tões relativas à propriedade – cruzando contribuições dosdireitos reais, do direito administrativo e do direito fiscal –, àresponsabilidade, fazendo confluir o direito penal, o direito dasobrigações e o direito internacional público ou aos direitos fun-damentais, trabalhando com o direito constitucional, a teoria ge-ral e os processos civis e penal.

A esta formação inicial não deve ser alheia a participaçãodos formandos em actividades de estudos, seminários e confe-rências.

2.1.1. Os conteúdos e objectivos dos programas das áreasreferidas, bem como as respectivas cargas horárias visarãofundamentalmente a preparação dos advogados estagiários pa-ra a prática concreta de actos inerentes ao exercício profissionaldurante a fase da formação complementar.

2.1.2. A formação inicial teria a duração de seis meses.

2.2. À fase complementar, com uma duração de doze me-ses, seriam admitidos os advogados que tivessem nota positivaem cada uma das áreas que integram a formação inicial.

A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • 19

Page 22: Gazeta do Advogado nº 4

Esta fase, em que o advogado estagiário está ainda sob aorientação do seu patrono, visa a formação alargada e progres-siva através de intervenções judiciais, nomeações oficiosas efrequência de acções de formação obrigatória. O objectivo últi-mo desta fase é a aquisição de conhecimentos fundamentaispara o desempenho da profissão.

Esta fase exigirá um permanente esforço de organização doCentro e da Ordem, dado que a eles caberá organizar as diferen-tes acções de formação que os advogados estagiários têm obri-gatoriamente de frequentar, de modo a obterem uma avaliaçãofinal positiva.

2.2.1. Note-se que é de se ponderar o seguinte: o artigo101.º dos Estatutos diz que «a cada advogado ou advogado es-tagiário inscrito será entregue a respectiva cédula profissional».

Ora, parece a cédula profissional só deveria ser passadaaos que passassem para a fase complementar.

2.2.2. A fase de formação complementar funcionaria, as-sim, no sistema em que o advogado estagiário, ao longo desteperíodo, tem de perfazer obrigatoriamente um certo número decréditos, que obtém quer nas acções de formação quer no pa-trocínio oficioso ou outras acções, para que possa realizar umexame final.

2.2.3. O exame final de avaliação teria como tema obriga-

tório a deontologia profissional, podendo ainda ter como objec-to as práticas processual penal ou civil e jurídica interdisciplinar.

3. A formação contínua diz respeito à participação em ses-são periódicas de estudos e discussão de temas jurídicos, emcursos práticos de direito e em conferências, seminários, coló-quios e congressos sobre temas jurídicos.

3.1. O Centro de Estudos e Formação no início de cada ano,elaboraria o programa nacional de formação contínua ordinária,tendo por base o conjunto de eventos internos a organizar.

3.1.2. A formação contínua exigirá a celebração de acordos,convénios, protocolos com as universidades, escolas profissio-nais e organismos profissionais representativos de outras profis-sões jurídicas: por exemplo, o Centro de Estudos Judiciários.

Estas são algumas ideias que deixo aqui registadas e queespero sejam entendidas como uma modesta contribuição paraa dignificação da classe.

Notas

Artigo publicado, em duas partes, no Jornal de Angola, edições de 26 ede 27 de Maio de 2005.

20 • A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005

Participe neste projecto!

A Ordem dos Advogados prepara-se para retomar a publicação da sua Revista, um importante instrumento de

consulta, não apenas para profissionais do foro, mas também para estudantes e restante público com interesse

pelas temáticas aí tratadas.

Colabore também neste esforço, com artigos de sua autoriasobre questões que considere relevantes.

Poderá submeter à aprovação do Conselho Editorial textos originais, de Doutrina, Jurisprudência, trabalhos

universitários, estudos de casos, perspectivas históricas, ou versando quaisquer outras matérias

relacionadas com o Direito, contribuindo assim paraenriquecer o conteúdo da nossa Revista.

Envie-nos o seu trabalho por correio, ou então por e-mail para:[email protected]

Revista dda OOrdem ddos AAdvogadosParticipe neste projecto!

RECORTES DE IMPRENSA

Page 23: Gazeta do Advogado nº 4

PARECER

Assunto: EXERCÍCIO DA ADVOCACIA

O Escritório de Advogados XXX XXXX – Advogados, enviouem 14 de Março de 2005, para conhecimento de Sua Exa. o Sr.Bastonário da Ordem dos Advogados de Angola, uma carta emque dá a conhecer a sua integração numa parceria profissionalcom escritórios de Advogados sediados em países estrangei-ros, denominada «YYY YYYY».

De acordo com a carta, a «YYY YYYY consiste numa redede sociedades e escritórios de Advogados que são independen-tes entre si, quer no plano jurídico-financeiro ou organizacional.Não existe nenhuma relação de subordinação de qualquer tipoque comprometa a autonomia e independência dos escritó-rios integrantes da aliança. A YYY YYYY não tem personalidadejurídica própria».

Promove a colaboração e o intercâmbio profissional entreos seus membros na base de uma carta de princípios que as-senta na seguintes vertentes:

«• Recomendação recíproca de clientes e potenciais clien-tes• Colaboração em projectos ou transacções que abranjammais do que uma jurisdição• Apresentação de candidaturas conjuntas para a presta-ção de serviços jurídicos abrangendo mais do que uma ju-risdição• Intercâmbio de advogados• Promoção de acções de formação e aperfeiçoamento pro-fissional• Partilha de conhecimentos e experiências em matéria degestão e apetrechamento tecnológico dos respectivos es-critórios• Desenvolvimento conjunto de acções de promoção e co-municação».

OPINIÃO

Se a preocupação se prende com a violação à Lei da Ad-vocacia, o conteúdo do acordo não parece contra esta atentar,já que se trata de um protocolo de colaboração.

Porém, a sigla utilizada pelos membros parece induzir a umaideia de marketing comercial, cuja aceitação parece duvidosa(veja-se o que foi recentemente publicado na Revista FOCUS,de 15/03/05, cuja cópia nos permitimos juntar). Com efeito, osescritórios e sociedades não podem ter nomes de fantasia; por

essa razão parece também não se poder utilizar um nome defantasia para uma parceria.

Por outro lado, a denominação «YYY YYYY», sugere a pre-dominância de um dos membros da parceria, que consequen-temente arrasta a ideia de exclusividade que põe em causa a in-dependência do escritório XXX XXXX – Advogados.

Estes indícios são preocupantes, se nos recordarmos dosantecedentes relativos à forma como o Escritório XXX XXXX temvindo a ser tratado como um «escritório YYY».

Julgo que embora não esteja subjacente um pedido de au-torização, dado que o escritório XXX XXXX – Advogados, já seencontra integrado na referida rede, seria de toda a utilidade aquestão ser referida na Assembleia da OAA, para se sondar aopinião dos demais colegas antes de se adoptar qualquer po-sição.

Luanda, 18 de Abril de 2005

Luzia Bebiana de Almeida SebastiãoMembro do Conselho Nacional

Coordenadora da Comissão de Ética

A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • 21

PARECERES E RESOLUÇÕES

Page 24: Gazeta do Advogado nº 4

� Carlos Ferreira (filho)

É com indisfarçável orgulho que osherdeiros de Eugénio Ferreira aderem aesta iniciativa da Ordem dos Advogados,da qual é patrono e detém o Cartão deMembro n.º 1.

Num momento complicado para a so-ciedade angolana, em que se confrontamclaramente o sentido ético e moral de ummodus vivendi, sério, legítimo e verda-deiramente independente, por um lado ea cultura da barbárie e do nonsense, poroutro, cremos ser importante a divulga-ção de escritos que, sob o ponto de vistaestritamente jurídico, ou numa perspecti-va mais global, sirvam, de qualquer for-ma, para o cumprimento do seu legado.

Tendo sido Advogado e Juiz, CríticoLiterário, Jornalista, e Dirigente Políticofoi, acima de tudo, através do exercícioda pedagogia que construiu o seu nomee a sua carreira, nas múltiplas facetas queescolheu para percorrer a vida.

Que fiquem não apenas os escritos,num sentido eminentemente técnico.

Que fique, acima de tudo, o sentidode dignidade, de honra, de justiça e de mo-déstia com que soube enfrentar uma vi-

da inteira de adversidades, recu-sando ao mesmo tempo honra-rias fáceis e frutos que não eramseus.

Os nossos agradecimentosà Ordem dos Advogados pelalembrança e por prolongar notempo e para a memória colec-tiva o que fez Eugénio Ferreira, noexercício do Direito em Angola.

•••

VARIAÇÕES SSOBREUM VVELHO TTEMA

A definição elementar de Di-

reito, tal como é exposta, por es-

ta ou aquela forma, pela gene-

ralidade dos autores, é simples

e facilmente apreensível. Para

Roubier, por exemplo, «a regra

de direito é uma linha de condu-

ta imposta aos homens vivendo

em sociedade e cujo cumpri-

mento é assegurado pela autori-

dade pública».

Dentro do critério enuncia-

do, o poder justo coincide, em

última análise, com o poder político. E

efectivamente, em fase normal de desen-

volução do processo social, tudo se pas-

sa, com maior ou menor aproximação,

como se realmente assim fosse. Parece

então existir certa identidade conceptual

entre Estado e Direito. Todavia, nem sem-

pre o fenómeno social se apresenta com

essa transparência. Há colapsos e des-

continuidades, por vezes graves e pro-

fundos, na evolução social, ao ponto não

raramente atingido de aquela identidade

se transformar na mais radical e contra-

ditória antinomia.

É certo que, quando tal sucede, o

Estado procura fundamentar, legitimar, a

A Gazeta inicia, nesta edição, a divulgação de um conjunto detextos jurídicos escritos pelo Dr. Eugénio Ferreira, ao longo da suavida e registados em algumas revistas da especialidade.Pretendemos, com este gesto, associar-nos a todos os que,estamos convictos, se juntarão em homenagem a este Homemque, na vida, se conduziu por critérios exemplares. E quedignificou em suprema medida também a Advocacia.

MEMÓRIAS

COMEMORAÇÕES DE UM CENTENÁRIOEm Março de 2006, faria 100 anos o Dr. Eugénio Ferreira

22 • A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005

Page 25: Gazeta do Advogado nº 4

sua acção antijurídica em princípios que

os seus agentes (ou detentores) preten-

dem fazer crer anteriores e superiores às

leis positivas ordinárias.

Mas quais são esses princípios?

Em 1789, a «Declaração dos Direi-

tos do Homem» proclamava no seu art.º

2.º: «O fim de toda a associação política

é a conservação dos direitos naturais e

imprescritíveis do homem». E os siste-

mas legais de todo o mundo, mais ou

menos veladamente, erigiram a Razãonatural em fonte de todas as leis positi-

vas.

Se o conhecimento científico ver-

dadeiro consiste em estabelecer leis a

partir da análise da realidade, como es-

creveu o prof. Magalhães Vilhena, é evi-

dente que o conceito de Razão natural,

quer fundado sobre uma moral mais ou

menos teológica, quer sobre a metafí-

sica do «estado natural», revelou-se,

pelo seu idealismo subjectivo, não só

origem de insolúveis contradições mas

também ineficaz, como finalidade nor-

mativa das regras de conduta social.

Alguns jusnaturalistas, como Bau-

dry-Lacantinerie, Roubier, Esmein e Jul-

liot de Morandière, pretendem salvar a

noção de Direito natural, atribuindo-lhe o

novo conteúdo de «comum ideal de jus-

tiça».

Limitam-se eles, porém, como luci-

damente observaram Monique e Roland

Weyl, a substituir uma noção idealista

por outra noção idealista, também inca-

paz de dar conta, tão vazia é de conteú-

do objectivo, das trocas de a história im-

prime ao pensamento jurídico.

E cada vez mais se impõe a neces-

sidade de cientificar as normas de con-

duta social, trazendo-as de novo à ma-

triz telúrica que as gerou e descobrindo

e analisando as condições objectivas que

as ditaram.

Eugénio Ferreira

In: Gazeta dos Advogados da Relação de

Luanda – Revista Trimestral de Direito e Ju-risprudência, II Série, n.º 2, Abril-Junho, 1957,Ano XXVII

A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • 23

INSÓLITO

É lugar-comum falarmos na dignifi-cação da Justiça e das instituições Judi-ciárias, nomeadamente dos Tribunais.

Os Tribunais são Instituições a querecorremos para salvaguarda de direitosque são violados, para realizar Justiça,razão pela qual, mesmo sem sermosAdvogados nos é incutido, desde muitonovos, o respeito que devemos ter poressa Instituição.

Na verdade, a nossa realidade des-vir tua essa afirmação, quando consta-tamos que são os próprios Tribunais, (oualgumas pessoas que neles trabalham),que não cuidam de preservar a imageme erguer o bom nome das Instituiçõesque têm, ou deviam ter, como missão orespeito e defesa dos direitos funda-mentais dos cidadãos. A razão de serdestas pequenas linhas é um tristemen-

te célebre despacho de um magistradodo Ministério Público, que a signatária ob-teve como resposta a um requerimentoque dirigiu ao Tribunal.

Qualquer descrição que fizesse aosmeus colegas desse despacho não fariaJustiça ao desrespeito que indiciam aspalavras do ilustre Magistrado, razão porque decidi partilhar convosco a leitura detão ilustre peça e a minha repetida indig-nação de cada vez que subtraio ao meuprecioso tempo cinco minutos para a re-ler, na tentativa de acreditar no que jul-gava impossível e que é indescritível.

Acedi, pois, com elevado prazer, aoconvite que me foi formulado pela Ordemdos Advogados de Angola de trazer à es-tampa o presente despacho.

Ana Paula Godinho

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COMENTÁRIOA AACÓRDÃO DDO TTRIBUNAL SSUPREMO

Assunto: «A RIQUEZA MUDOU DE COR» / / «MPLA Sacode a água do capote»Artigos publicados no jornal Angolense n.º 217, Ano VI,semana de 11 a 18 de Janeiro de 2003, e n.º 218, Ano VI,semana de 18 a 25 de Janeiro de 2003. Questões que sesuscitam. (Em comentário ao Acórdão da Câmara dosCrimes do Tribunal Supremo, de 23 de Dezembro de 2004)

I – O ACÓRDÃO

«Na ... Secção Criminal do Tribunal Provincial de Luanda, oRéu ... foi acusado pelo Assistente pela prática de um crime dedifamação, p. p. pelas disposições conjugadas dos artigos 42.ºe 45.º da Lei n.º 22/91, de 15 de Junho, por haver indícios su-ficientes de que no jornal Angolense, n.º 217, Ano VI, Semanade 11 a 18 de Janeiro de 2003 e 218, Ano VI, Semana de 18 a25 de Janeiro de 2003, ter publicado dois artigos sob o título “Ariqueza mudou de cor” e “MPLA sacode a água do capote”, nosquais, incluem o nome e a fotografia do ofendido, imputando-lheimplicitamente, o facto de ter furtado do erário público entre 50a 100 milhões de dólares americanos, sendo tal ofensivo à suahonra, consideração e bom nome (fls. 36 e 37).

Notificado o Digno Magistrado do MP do Tribunal a quo,conformou-se com a acusação do Assistente (fls. 38).

Realizado o julgamento e depois de respondidos os quesi-tos, pelo Acórdão de fls. 71 e segs. dos autos, foi a acusaçãojulgada improcedente e não provada sendo, em consequência,o Réu absolvido.

Inconformado com a decisão, o Assistente interpôs recur-so pedindo a revogação do decidido e a consequente conde-nação do Réu por entender que este violou os artigos 43.º e45.º da Lei n.º 22/91, de 15 de Junho e art. 407.º do CódigoPenal (fls. 81 e segs.)

Contra-alegando, o Réu pediu a confirmação do decidido(fls. 89 e segs).

Nesta Instância, o Digníssimo Magistrado do M.º P.º ao tervista dos autos expendeu, a fls. 12/v, o seguinte douto parecer:

“O réu não acusa ninguém de ter cometido um qualquercrime. Apenas exprime uma suspeita sobre a forma menostransparente como foram adquiridas tais riquezas.Por isso, bem andou o Tribunal ‘a quo’ ao absolver o réu emandá-lo em paz”.

Mostram-se colhidos os vistos legais.

Importa, pois, apreciar e decidir.

O Tribunal recorrido trouxe à colação a seguinte matéria defacto:

– O Jornal privado “Angolense” nas suas edições números217 e 218, Ano VI, referentes às semanas de 11 a 18 deJaneiro de 2003 e de 18 a 25 do mesmo mês e ano, publi-cou dois artigos com os títulos “A riqueza mudou de cor” e“MPLA sacode água do capote”, nos quais, de entre outrosnomes e fotografias publicadas, menciona e publica a fo-tografia do ora ofendido ... ;– Os citados ar tigos descrêem os contornos pelos quais,várias individualidades deste País, incluindo o ofendido, ad-quiriram fortunas por meios ilícitos;– O responsável pela publicação destes ar tigos é o chefeeditor daquela publicação, o ora Réu;– O ofendido foi citado como tendo uma fortuna estimadaentre 50 a 100 milhões de dólares americanos e consideratal ofensivo à sua honra, consideração e bom nome; – O réu assumiu a responsabilidade pela publicação dessesartigos justificando que fê-los apenas com “ânimus narran-

di” e por tal corresponder ao sentimento da maioria dos an-golanos, perante a ostentação de riqueza demonstrada porvárias individualidades de peso político considerável; – Mais disse o réu que não teve o propósito de atingir o ofen-dido, de forma directa ou indirecta, na honra e considera-ção que lhe são devidas.

Ao fazer a apreciação destes factos, o Tribunal recorrido en-tendeu que:

– A simples publicação de um artigo jornalístico, atribuindoa figuras públicas do Estado a posse de avultadas somasmonetárias adquiridas por meios ilícitos, deveria, de ime-diato, desencadear um processo investigativo, quer a pedi-do dos visados ou por iniciativa da autoridade competente,no caso a PGR, sobre os visados;– São os visados no artigo quem deve, em primeira linha,demonstrar o contrário da publicação, porque esta até estáa conceder, numa primeira análise, um valioso préstimo àjustiça com respaldo na lei e a justiça moral da sociedade;– Só haverá crime de difamação quando os visados de-monstrarem, sob o crivo de uma sindicância judicial, trans-parente, livre e de sua própria iniciativa, que não possuemriquezas adquiridas por meios ilícitos; e, para além disso,ficar provado, por factos irrefutáveis, que desse facto ad-vieram prejuízos na vida privada, social ou laboral do quei-xoso;– Os Tribunais não podem, por “dá cá aquela palha” amor-daçar a voz do povo, pois estar-se-ia a coarctar um direitoque por natureza própria pertence ao cidadão num Estadode Direito, livre e Democrático;– A livre e espontânea manifestação do pensamento, sem

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JURISPRUDÊNCIA

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ferir os limites de outrem, não pode ser coarctada por nin-guém;– Sendo o Direito Penal subsidiário, um direito de interven-ção mínima, deveria o queixoso, ao invés de intentar umaacção criminal, ter esgotado outras vias para a solução daquestão, mormente a utilização do direito de resposta, asolicitação de uma sindicância ao Ministério Público e ór-gãos afins para se saber se os visados possuem ou não osvalores descritos na publicação e quais os meios utilizadospara a sua obtenção;– o Réu não agiu com “ânimus injuriandi” ou “ânimus difa-

mandi” mas com “ânimus corrigendi”, isto é com espíritode crítica.

Estes os factos e a apreciação que deles fez o Tribunal re-corrido.

Nas alegações de recurso (fls. 81 e segs.), o ofendido rea-firma ter o réu violado os artigos 43.º e 45.º, da Lei n.º 22/91,de 15 de Junho (Lei da Imprensa), e o artigo 407.º do CódigoPenal, porquanto nas publicações do Semanário Angolense comos números 217 e 218, de Janeiro de 2003, incluiu “o nome ea fotografia do ofendido, imputando-lhe, implicitamente, o factode ter furtado do erário público entre 50 a 100 milhões de dóla-res americanos”.

Diz o queixoso que expressões como “Este dado reforça a

ideia há muito mantida de que ‘os novos ricos’ do país, no fun-

do a quase totalidade do grupo, não constituíram as suas ri-

quezas com trabalho directo e esforço próprio. Isto, por outro

lado, atiça ainda mais as suspeitas, quase certezas, de que em

regra tais enriquecimentos resultam dos processos ilícitos e

pouco naturais” e que “não tendo nascido em berço dourado

como a maior parte dos seus concidadãos, tornaram-se ricos do

dia para a noite graças a esquemas de compadrios e de clien-

telismo político que têm reinado” (pág. 13, edição n.º 217), eainda “Exigir provas dessa realidade é, portanto, um exercício

de cinismo e maniqueísmo”, “cidadãos angolanos detentores

de fortunas incalculáveis, a maior parte das quais obtidas de

forma fraudulenta”, “o surgimento de cidadãos ricos neste país

não pode, nem por sombras, estar dissociado do imenso rom-

bo do tesouro nacional” (págs. 7 e 9 da edição n.º 218), são,sem dúvidas, uma forma ardilosa procurada pelo articulista pa-ra atingir a imagem, a consideração e o bom nome das pes-soas cujos nomes foram citados e cujas fotografias foram pu-blicadas nas referidas edições.

Mas adiante diz que “a imputação de posses a alguns go-vernantes, por via de delapidação do erário público, na base demeras suposições, carece de ser provada por parte de quem afaz e, no caso sub judice, o articulista, ex-vi do artigo 45.º daLei n.º 22/91, de 15 de Junho”.

Por sua vez o réu, nas contra-alegações que juntou, come-çou por dizer que importa clarificar que no artigo “A riqueza Mu-

dou de Cor” não está publicada a fotografia do suposto ofendi-

do e nem sequer é mencionado o seu nome. Apenas são teci-das considerações de carácter geral e abstractas, sobre um fe-nómeno de alcance social que é a transferência da riqueza na-cional, até então detida maioritariamente por brancos e mestiços(minoria da população angolana) para os negros, grande maio-ria da população. No artigo “O MPLA Sacode a Água do Capo-

te”, o ar ticulista tece novas considerações de carácter geral,relativas à reacção do Bureau Político do MPLA, enquanto ins-tituição partidária, por isso colectiva, ao emitir uma declaraçãopolítica orientadora em face da publicação do artigo “As 50 maio-

res Fortunas de Angola”, da qual o recorrente não faz qualquermenção, quer na acusação particular quer nas alegações de re-curso. Aí sim, vem mencionado o nome e a fotografia do recor-rente; porém, como não acusa por esse artigo, ele não é paranenhum efeito aqui chamado.

Diz ainda que a publicação da fotografia do recorrente ailustrar o artigo “MPLA Sacode a Água do Capote” nada tem aver com o facto de ter sido citado como detentor de uma fortu-na pessoal.

Conclui dizendo que não imputou ao recorrente, nem implí-cita nem expressamente, “o facto de ter furtado do erário públi-

co entre 50 a 100 milhões de dólares”, pelo que não violou osartigos 43.º e 45.º da Lei de Imprensa».

APRECIAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO E DO DIREITO

Na verdade, o Semanário Angolense publicou, na sua edi-ção de 11 a 18 de Janeiro de 2003, uma relação de nomes on-de consta o do queixoso ... como sendo uma das pessoas quepossui «mais de 50 e menos de 100 milhões de dólares» (vide

fls. 11 dos autos).Para além dessa relação, constam na mesma edição arti-

gos em «caixa», relacionados com a questão dos «Milionáriosdeixam a (por ter sido mal tirada a fotocópia não se consegue

ler na íntegra o referido cabeçalho)» (vide fls. 10 dos autos).Porém, e tal como alega o réu, em nenhum desses artigos

é referido, de forma expressa, o nome do queixoso.Mas, mais do que isso, não se descortina, em qualquer

deles, a imputação ao queixoso da prática de qualquer ilícitocriminal como estando na origem da alegada fortuna, estimadapelo articulista «entre 50 a 100 milhões de dólares». O que seretira, com alguma relevância, desses ar tigos é o facto de sedenunciar – de forma verídica ou não – a existência de milioná-rios cuja riqueza se suspeita ter sido adquirida de maneira pou-co transparente ou – para utilizar os termos do articulista – por«processos ilícitos e pouco naturais».

Para que se verifique, de acordo com a actual lei penal, ocrime de injúrias ou o crime de difamação, cometidos atravésda imprensa, é necessário que, no ar tigo publicado, o autor«impute a outrem factos concretos e determinados, ofensi-

A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • 25

Page 28: Gazeta do Advogado nº 4

vos da sua honra e consideração, como por exemplo dizer do

ofendido que praticou certo desvio ou dissipação de dinheiro

do Estado (difamação, art. 407.º), ou então a afirmação gené-rica de que o ofendido procedeu de forma reprovável (injúria,

art. 410.º), o que acontece, por exemplo, se alguém diz de ou-

trem que ele é um ladrão» (pág.164).Convém desde já dizer que a lei não exige – ao contrário do

que se afirma no Acórdão recorrido – um dano efectivo do sen-timento de honra ou da consideração: «Basta para a existência

do crime, o perigo de que aquele dano possa verificar-se, pois

a lei fala de factos ofensivos, isto é que ofendam ou possam

ofender e não apenas de factos que tenham na realidade ofen-dido a honra e a consideração alheia» (ibidem).

«A honra é aquele mínimo de condições, especialmente

de natureza moral, que são razoavelmente consideradas es-

senciais para que um indivíduo possa com legitimidade ter es-

tima por si, pelo que vale.

A consideração é aquele conjunto de requisitos que ra-

zoavelmente se deve julgar necessário a qualquer pessoa, de

tal modo que a falta de algum desses requisitos possa expor

essa pessoa à falta de consideração ou ao desprezo público.

A honra refere-se ao apreço de cada um por si, à auto-ava-

liação no sentido de não ser um valor negativo, particularmen-

te do ponto de vista moral. A consideração ao juízo que forma

ou pode formar o público no não julgar um valor negativo» (ibi-

dem, págs. 167 e 168).Posta assim a questão, cremos que não existiu qualquer

«animus injuriandi» ou «animus difamandi» por parte do réu emrelação ao ofendido.

Pelo conteúdo dos artigos somos a concluir que o seu au-tor quis apenas denunciar, com verdade ou sem ela, comporta-mentos, atitudes, sinais ou mesmo simples suspeitas que, doseu ponto de vista ou da opinião de certas pessoas, represen-tam uma má distribuição da riqueza.

Trata-se, pois, de uma simples opinião do articulista semqualquer imputação de factos concretos e objectivos, ofensivosda honra e da consideração do queixoso.

O réu, como jornalista e como cidadão, tem direito a ex-pressar a sua opinião.

O direito de opinião é um corolário da liberdade de expres-são, um dos princípios basilares de um Estado democrático ede direito.

A este propósito, diz o professor Manuel da Costa Andrade,in Liberdade de Imprensa e Inviolabilidade Pessoal, págs. 52 e53, que: «Como de todos os lados se reconhece, o confronto

livre e aberto de ideias é “um meio indispensável à clarificação

racional e consensual de interesses”».Citando uma decisão do Tribunal Constitucional Federal Ale-

mão, prossegue dizendo que: «Constantemente chamado a to-

mar decisões políticas, o cidadão tem de estar completamente

informado, conhecer as opiniões dos outros e estar em condi-

ções de as confrontar criticamente. Ora é precisamente a im-

prensa que mantém esta permanente discussão em acção.

Produz as informações, toma ela própria posição sobre as

questões e actua, por isso, como força orientadora dos de-

bates públicos. É nela que se articula a opinião pública e os ar-

gumentos se clarificam na dialéctica dos discursos e contra-

-discursos, ganhando contornos claros e facilitando o juízo e a

decisão do cidadão. Por outro lado, a imprensa funciona como

instância de ligação e controlo entre o povo e os representan-

tes eleitos, assegurando a transparência dos estados e mo-

vimentos da opinião pública, mediatizando, por isso, decisões

políticas atentas às representações e aspirações colectivas».Mais adiante refere: «Coisa de iniciados, a decisão política é cada vez mais pri-

vilégio de estruturas burocráticas, ganhando progressivamente

distanciação e opacidade em relação ao cidadão comum. Isto

ao arrepio do “ideal democrático, que reclama necessariamen-

te a escolha entre várias alternativas concorrentes e com iguais

oportunidades. Só que hoje é cada vez maior a tentação para a

imposição de apenas uma das soluções, porque cientificamen-

te sustentada. Ora, quando à partida há só uma verdade, não

tem sentido discutir alternativas”. Enquanto isto aumentam ex-

ponencialmente os “armazéns” de informação (e por via disso

de controlo do poder) sobre cidadãos ao dispor do Estado so-

cial. Resumidamente, “enquanto cresce a controlabilidade dos

cidadãos, a burocracia torna-se cada vez mais incontrolável”.

Neste quadro, só a imprensa livre emerge como instância de

actualização da opinião pública e, para além disso, como salva-

guarda da dignidade humana. Isto na medida em que esta re-

clama a possibilidade de participação livre e esclarecida nas de-

cisões sobre a coisa pública.

Noutra perspectiva, a liberdade de imprensa pode contri-

buir para assegurar a transparência da administração pública,

a promoção e divulgação de valores estéticos, científicos e cul-

turais ou a preservação do património natural ou artístico. Co-

mo pode ter um papel insubstituível na denúncia da discrimina-

ção, atentados e maus tratos contra grupos menos protegidos

ou na descoberta e prevenção de fenómenos sociais negativos

como a corrupção».É com fundamento neste direito de opinião que a Lei de Im-

prensa assegura o direito de resposta a quem entenda não se-rem verídicas as denúncias efectuadas.

Em todo o caso, o exercício do direito de resposta não pre-judica que o ofendido se possa socorrer paralelamente do pro-cedimento civil ou criminal que ao caso couber (n.º 5 do art.34.º da Lei n.º 22/91, de 15 de Junho).

[ A DECISÃO ]

Nestes termos, os desta Câmara, negando provimento aorecurso interposto pelo Assistente, acordam em confirmar a de-cisão recorrida.

26 • A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005

JURISPRUDÊNCIA

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Em consequência, nos termos do § 3.º do art. 144.º do Có-digo das Custas, vai o Assistente condenado no pagamento deKZ. 15.000.00 (quinze mil) de imposto de justiça.

Luanda, 23 de Dezembro de 2004».

A Câmara dos Crimes do Tribunal Supremo decidiu sobre amatéria de facto e de direito e acordou em não dar provimentoao recurso interposto pelo Assistente, tendo confirmado a de-cisão recorrida, com fundamento nas considerações transcritasde páginas 5 a 8 do presente comentário.

Mas, em nosso entender, «esqueceu-se» de se pronunciar,ou mal se pronunciou, sobre três questões que considera teremconstituído os factos e a forma como o Tribunal recorrido apre-ciou a questão e proferiu a sua decisão.

São elas:

1. Diz o Acórdão recorrido: «A simples publicação de umartigo jornalístico, atribuindo a figuras públicas do Estado aposse de avultadas somas monetárias adquiridas por meiosilícitos, deveria de imediato desencadear um processo in-vestigativo, quer a pedido dos visados ou por iniciativa daautoridade competente, no caso a PGR, sobre os visados»;2. Diz também o Acórdão recorrido: «São os visados no ar-tigo quem deve, em primeira linha, demonstrar o contrárioda publicação, porque esta está a conceder, numa primeiraanálise, um valioso préstimo à justiça com respaldo na leie a justiça moral da sociedade; Só haverá crime de difamação quando os visados demons-trarem, sob o crivo de uma sindicância judicial, transparen-te, livre e de sua própria iniciativa, que não possuem rique-zas adquiridas por meios ilícitos, e, para além disso, ficarprovado, por factos irrefutáveis, que, desse facto, advieramprejuízos na vida privada, social ou laboral do queixoso»;3. E diz ainda o Acórdão recorrido: «Sendo o Direito Penalsubsidiário, um direito de intervenção mínima, deveria oqueixoso, ao invés de intentar uma acção criminal, ter es-gotado outras vias para a solução da questão, mormente autilização do direito de resposta, a solicitação de uma sin-dicância ao Ministério Público e órgãos afins para se saberse os visados possuem ou não os valores descritos na pu-blicação e quais os meios utilizados para a sua obtenção».

Estes três fundamentos em que a decisão recorrida assen-tou suscitam três importantes questões de direito, a saber:

– a caracterização da figura do «inquérito preliminar» no or-denamento jurídico-penal angolano, sua natureza e legisla-ção aplicável;– a questão do «ónus da prova» em Processo Penal;– a função subsidiária e de «ultima ratio» do Direito Penal.

São estes os pontos que nos propomos aqui comentar.

II – COMENTÁRIO

A função jurisdicional reveste um duplo objecto, que é, porum lado, garantir a observância das normas jurídicas e, por ou-tro, a aplicação das normas jurídicas aos casos concretos1.

Mas a razão do nosso comentário deve-se ao facto de o re-curso ser o mecanismo processual através do qual uma deci-são proferida por um tribunal, aqui considerado «a quo» é reexa-minada, reapreciada, por outro, o tribunal «ad quem», superior,prolongando assim a relação processual2.

Cria-se assim uma nova instância pelo prolongamento daanterior, cuja função principal é a reapreciação da causa, tantocom relação aos factos como ao direito em vigor para a reso-lução daquela concreta questão3. Nessa apreciação, o Tribunalsuperior, em virtude da finalidade do recurso, sua natureza erazão de ser, pode proceder a uma «ampla reapreciação da cau-sa»4, nos termos do previsto nos artigos 47.º e n.º 3 do artigo51.º, ambos da Lei n.º 20/88, de 31 de Dezembro. O Tribunalsuperior «conhecerá de facto e de direito» e pode «confirmar,revogar, alterar ou anular» a decisão objecto de recurso.

Porém, essa apreciação deve ser fundamentada5. A funda-mentação, provém do Iluminismo e identifica-se, por isso, coma ideologia democrática, representando um importante passopara a racionalização da função jurisdicional. Através da funda-mentação, a decisão justifica-se perante as partes, mas tam-bém aos olhos da opinião pública, que assim exerce o controlodo exercício do poder jurisdicional6. Permite ainda fiscalizar aactividade intelectual realizada pelo juiz face ao caso que lhe éapresentado para resolver, de maneira a ficar claro que tal de-cisão foi tomada de forma mediata com o estudo aprofundadodas circunstâncias que envolvem o caso e não se limitou a serum mero acto arbitrário7.

A decisão fundamentada, embora tenha de atender aos fac-tos e ao direito objecto da decisão judicativa em concreto, vaimais além, realiza uma importante função pedagógica. Com efei-to, as decisões jurisdicionais devem ser motivadas. A motiva-ção auxilia o autocontrolo do juiz, uma vez que ele tem que, àluz da razão, analisar as suas impressões quanto à produção daprova, contribui para a «recolha jurisprudencial das regras ob-jectivas de experiência»8 o «respeito pela lógica e pelas leis dapsicologia judiciária na apreciação da prova»9. Mais do que o jáatrás referido «a motivação visa convencer as partes da justiçada decisão ou, ao menos, demonstrar que esta se alcançou atra-vés de regras lógicas válidas para todos»10.

É por isso que, ao reapreciar uma decisão, o Tribunal ad

quem deve pronunciar-se sobre todas as questões que consti-tuíram fundamento da decisão recorrida, alínea d) do artigo 668.ºdo CPC, subsidiariamente aplicável ao Processo Penal e à 2.ª ins-tância por força do disposto no n.º 1 do artigo 716.º do CPC eainda do artigo 649.º do CPP.

Acresce que, «Pela posição que ocupa na hierarquia judi-ciária, cabe ao Tribunal Supremo11 [dizíamos] um papel prepon-

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derante na uniformização da jurisprudência12. «O Tribunal Su-premo não pode limitar-se a erguer o braço vitorioso de um ouambos os litigantes ou a fixar em último termo a medida maisadequada à infracção apurada pelas instâncias; necessita, maisdo que qualquer outro tribunal, de convencer do acerto da de-cisão proferida em cada caso concreto, tentando criar ou con-solidar as correntes jurisprudenciais que são essenciais à cer-teza e segurança do direito, quer nos tribunais inferiores, quernas suas próprias secções. Exerce, hoc sensu, uma altíssimafunção docente, que está longe de se esgotar ou de encontrarmesmo a sua expressão mais significativa nos assentos que opleno profere...».

Por aqui a nossa estranheza pelo facto de a Câmara dosCrimes do Tribunal Supremo não se ter pronunciado neste caso,sobre questões que constituíram o fundamento da decisão re-corrida, que pela sua importância não podiam deixar de ter sidotratadas.

1. Caracterização da figura do «inquérito preliminar» no ordenamento jurídico-penal angolano, sua naturezae legislação aplicável13

Antes da publicação da Lei n.º 5/90, de 7 de Abril, o «inqué-rito preliminar» era uma figura desconhecida no ordenamento ju-rídico-processual penal angolano; vigoravam a Lei n.º 4/79, de27 de Abril (Lei da institucionalização da Procuradoria-Geral daRepública) e o Dec. n.º 25/80, de 24 de Março (que aprovou oRegulamento Orgânico da PGR). As alíneas n) e o) da Lei n.º4/79 e as alíneas n) e o) do art. 6.º do Dec. n.º 25/80, conferiamcompetência à PGR para, por ordem do Presidente da República,realizar inquéritos e sindicâncias em «Ministérios, ComissariadosProvinciais e outros organismos do Estado e entidades económi-cas e sociais, de colaboração com o Ministério das Finanças».

Estes eram inquéritos de natureza administrativa que, comofacilmente se pode ver, não cabem nas previsões da actual Leida PGR. O «inquérito preliminar» é oriundo do Processo PenalFrancês14 e foi introduzido no Direito Processual Penal Portu-guês pelo Decreto-Lei n.º 605/75, de 3 de Novembro, que jánão entrou em vigor na República de Angola.

O preâmbulo do referido Decreto-Lei realçava a dado passoque o objectivo era «simplificar a averiguação criminal, despin-do-se o processo penal de formalidades desnecessárias». Assim,«logo após o cometimento de uma infracção [deveria] realizar-seuma actividade administrativa-policial de recolha de indícios vi-sando a rápida formação da convicção do Ministério Público so-bre a introdução ou não do feito penal em juízo». No fundo, parao Direito Processual Penal Português, a figura do inquérito prelimi-nar era uma forma simplificada de instrução preparatória. Porém,com a entrada em vigor do Código do Processo Penal de 1987,esta figura deixou de vigorar no sistema jurídico português.

Importa, no entanto, tecer sobre ela algumas considerações:no domínio do Dec.-Lei n.º 605/75 o inquérito preliminar só po-

dia ser utilizado relativamente aos crimes a que correspondesseprocesso correccional. As entidades competentes para procede-rem ao inquérito eram o Ministério Público ou, sob a sua direc-ção, as autoridades policiais; com a publicação desse Dec.-Leia investigação criminal e a recolha de provas passou a fazer-seou através de inquérito preliminar ou através de instrução pre-paratória, a cargo de juízes de instrução.

Não tem sido pacífico o entendimento sobre a natureza doinquérito preliminar. Alguns autores, como Castro de Sousa naobra citada, defendem ser o inquérito preliminar um procedi-mento de natureza meramente administrativa e que, por isso, osactos ali praticados, não constituem actos de instrução em sen-tido material ou substancial15. Diferentemente, Germano Marquesda Silva considera que os actos praticados no inquérito prelimi-nar são actos de instrução em sentido material, porque da mes-ma substância dos praticados na instrução preparatória.

Embora esta questão nos pareça de relevante interesse teó-rico, não nos vamos sobre ela debruçar. Interessa-nos, aqui eagora, tratar de dois aspectos que caracterizam esta figura noDireito Português:

a) O Código do Processo Penal de 1987 transformou o «in-quérito preliminar» em «fase geral e normal de preparar adecisão de acusação ou de não acusação»16. O artigo 262.ºdo CPP Por tuguês, define o inquérito como a fase que«compreende o conjunto de diligências que visam investi-gar a existência de um crime, determinar os seus agentese a responsabilidade deles e descobrir e recolher as provas,em ordem à decisão sobre a acusação». Entende-se peloreferido que passam a existir duas fases de instrução: umanão judicial (inquérito) a cargo do Ministério Público assis-tido pelos órgãos de polícia criminal e outra de instrução ju-dicial pós-acusação, que é facultativa (instrução contraditó-ria) a cargo de juízes de instrução; b) Os actos praticados na fase do inquérito – e na do inqué-rito preliminar – correspondem ou correspondiam ao con-ceito de corpo de delito ou instrução preparatória dos ar-tigos 158.º e 170.º do CPP de 1929, e 10.º e 12.º doDec.-Lei n.º 35007, que são diplomas básicos do proces-so penal angolano.

Não conhecemos os trabalhos preparatórios da Lei n.º 5/90,Lei da PGR, mas ao menos no plano formal parece-nos ter-seinspirado no Dec.-Lei português n.º 605/75, de 3 de Novembro,numa altura em que este havia já sido revogado. O pensamen-to do Legislador da Lei n.º 5/90, a respeito do inquérito prelimi-nar não nos parece muito claro. O próprio texto do diploma mos-tra-se ambíguo e pouco esclarecedor.

Na alínea k) do art. 2.º fala-se em «inquéritos preliminaresdestinados a averiguar a existência de infracções criminais»,mas nas alíneas f) do art. 20.º, i), do art. 24.º, j), do art. 27.º,e j) do art. 30.º, o termo utilizado é simplesmente «inquérito».

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Os inquiridores agem na sua actividade, investidos nos «po-deres das autoridades de instrução criminal» alínea i) do ar t.24.º, alínea j) do art. 27.º e alínea j) do art. 30.º

Finalmente, estabelece a Lei na alínea k) do artigo 2.º que,quando se apurem indícios suficientes para procedimento cri-minal, os inquéritos devem ser enviados «aos órgãos de instru-ção e investigação criminal».

A redacção dessa alínea k) sugere, entretanto, outro senti-do possível: o de que o inquérito pode ser usado pela PGR noscasos em que, não havendo indícios de existência de uma qual-quer, determinada e concreta infracção criminal e não sendo,por essa razão, possível abrir a instrução preparatória, se sus-peita, no entanto, que tal infracção foi cometida.

Na verdade, para que se instaure procedimento criminalcom base em suspeitas, torna-se necessário fundamentá-las esuportá-las por elementos objectivos dotados de credibilidadee verosimilhança.

É um facto que o procedimento criminal pode ser instaura-do contra incertos (em caso de inexistência de arguido determi-nado) mas não para investigar crimes de cuja existência nemsequer se suspeita de forma fundamentada.

Será que a finalidade dos inquéritos previstos na Lei n.º 5/90é a de recolher elementos objectivos que dêem solidez à estru-tura objectiva da suspeita de que foi cometido um crime aindanão indiciado?

Os preceitos analisados não permitem, só por si, uma res-posta clara e inequívoca sobre a natureza e os objectivos da-queles inquéritos, mas tudo indica que sim.

Seja como for, o inquérito previsto na Lei n.º 5/90 é umafigura distinta quer do inquérito preliminar quer do inquérito pre-vistos nas leis portuguesas. Contudo, e se o inquérito se desti-na a averiguar da existência de infracções criminais, os actospraticados no seu âmbito ainda que se considerem pré-prepa-ratórios, ou assim não sejam considerados, têm pelo conteúdo,pela finalidade, pela qualidade e poderes do órgão que os pra-tica, natureza processual penal, material ou substancial, e nãoapenas administrativa.

Por outro lado, o inquérito previsto na Lei 5/90 não tem re-gulamentação própria, mais especificamente, não está reguladonem na Lei 5/90 nem em outro qualquer diploma legal posterior.

Pela sua natureza, ser-lhe-ão aplicáveis subsidiariamenteas normas do CPP que regulam a instrução preparatória ou cor-po de delito, em particular as normas que informam o estatutodo arguido, os seus direitos e deveres, a defesa e os princípiosgerais do processo penal, como a presunção de inocência e anão inversão do ónus da prova, entre outros. Todos estes prin-cípios devem ser respeitados na condução do inquérito.

O objecto do inquérito é a suspeita ainda não suficiente-mente fundada de que alguém cometeu um dos crimes previs-tos na lei penal em vigor em Angola.

O objectivo do inquérito é dar fundamento a essa suspeita,buscando provas para com consistência se concluir que deter-

minada pessoa cometeu um crime. Assim, as diligências a rea-lizar devem ser no sentido da concretização do objecto e objec-tivo definidos.

Depois das considerações feitas e face ao objectivo da figu-ra do inquérito preliminar, parece-nos faltar claramente a exac-ta adequação entre a figura do inquérito e o conteúdo do artigopublicado no Jornal Angolense.

Se, de facto, o douto Acórdão recorrido concluiu não ter oréu feito nenhuma imputação objectiva de factos ao ofendido,ou melhor, não ter o réu acusado o ofendido de ter cometidoalgum crime, porque razão está a chamar a figura do inquéritopreliminar, se a finalidade desta figura é averiguar a existênciade infracções criminais? Pior ainda, afirma que a PGR deveriater tomado essa iniciativa, e vai mais longe, para sugerir que talfosse feito pelo próprio ofendido. Dá assim a entender que oofendido deveria ter desencadeado procedimento criminal con-tra si próprio.

Ora, o inquérito previsto na Lei n.º 5/90 não pode ser umarede que se lança ao mar para apanhar qualquer tipo de peixe.As suspeitas que constituem o seu objecto têm de possuir ummínimo de fundamento e apontar para a averiguação da exis-tência de infracções criminais minimamente determinadas, es-pecíficas e concretas. De outro modo, corre-se o risco de trans-formar o inquérito em devassa à vida das pessoas, e a devassa,instituição do velho processo penal inquisitório da Idade Média,passou à história há mais de duzentos anos e é incompatívelcom os princípios do processo penal em vigor em Angola, no-meadamente com o princípio da não inversão do ónus da prova.

Por isso dissemos que muito mal andou a Câmara dosCrimes do Tribunal Supremo, ao silenciar questões de direito detão alta importância.

2. A questão do «ónus da prova» em Processo Penal

O art. 342.º do Código Civil que aqui é subsidiariamente apli-cado ao Direito Penal e Processual Penal, se atendermos a umconceito de Direito Penal em sentido amplo ou ordenamento jurí-dico-penal17, consagra o princípio do ónus da prova. Segundo es-te princípio, recai sobre o sujeito processual que faz a afirmaçãode um facto ou da existência de um direito, a «obrigação» deoferecer a prova do que afirma, sob pena de não ver produzido oefeito que pretende ou de a afirmação que fizer não ser eficaz18.

Porém, este princípio, assim enunciado, vale para os desig-nados processos de partes em sentido material. Com efeito, sem-pre que se pretende iniciar ou promover qualquer espécie de pro-cesso, a prossecução processual pode ser construída em doissentidos: a) as partes dispõem do processo tal como da relaçãomaterial controvertida; b) o tribunal investiga o facto sujeito a jul-gamento, independentemente das contribuições trazidas pelaspartes e, assim, autonomamente, constrói a sua decisão19.

Estas duas formas de adquirir o material probatório respei-tam a dois princípios entre si opostos: o princípio da verdade

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formal, também designado dispositivo, de contradição ou dis-cussão, e o princípio da verdade material ou da investigação, ins-trutório, ou inquisitório20.

Se consideramos um processo presidido pelo princípio daverdade formal, contradição ou discussão, estaremos no domí-nio das concepções privatísticas do processo, em que o pro-cesso é um duelo entre as partes e o juiz apenas um árbitro, aquem cabe zelar pela observância das regras do jogo e trazer oresultado. Decorrem daqui importantes consequências, desdelogo a de que compete às partes trazer o material que serve debase à decisão. O juiz não é autónomo para investigar da ve-racidade dos factos que são trazidos pelas partes. Vigoram pa-ra esse efeito as seguintes duas máximas latinas: «Judex judi-

care debet secundum allegata et probata partium» e «quod non

est in actis non est in mundo».Na sequência desta primeira consequência, torna-se lógico

que sobre as partes recai todo o risco de condução do proces-so, da afirmação, contradição ou impugnação. Por aqui, sem-pre que uma parte não impugnar a prova trazida pela outra, osfactos não impugnados consideram-se como verdadeiros aindaque o não sejam. Vale pois o princípio da verdade formal, umaverdade intraprocessual21.

O princípio de contradição combina com o designado prin-cípio dispositivo, ou seja, as partes dispõem do objecto do pro-cesso e, por isso, podem desistir, confessar, transigir, sem queo juiz possa obstar a tal modelação22. Trata-se de princípios queestão na base da construção do processo civil, ressaltando-se,é claro, as limitações que hoje lhe foram introduzidas e que aquinão cabe referir.

Diferentemente se passam as coisas, quando se trata daconstrução do processo integrada pelo princípio da investiga-ção. Aqui, a posição do juiz obedece a características absolu-tamente diferentes das que referimos a propósito do designadoprincípio dispositivo.

Com efeito, o processo penal não é um processo de par-tes, a não ser em sentido formal. Isto significa que o processo,a relação material controvertida não está na disposição das par-tes. Está em causa, não um interesse das partes, mas o inte-resse público, do Estado, por isso o Ministério Público, embo-ra sendo o titular da acção penal, não é parte, não prosseguenem defende um qualquer interesse próprio. Prossegue o fim doprocesso, que não é senão a realização do direito penal, porisso deve efectuar as diligências para ou provar a culpa do réuou a sua inocência23.

No processo construído sob o princípio da investigação, ajunção do material de facto não pertence às partes mas ao Juiz.É sobre ele que recai o ónus de investigar e esclarecer oficio-samente, ou seja, sem a contribuição das partes, «o facto queé submetido a julgamento»24.

Vigora em processo penal o princípio da verdade material edo inquisitório, que são incompatíveis com qualquer repartição doónus da prova, tal como ele se apresenta em processo civil25.

Sobre as partes em processo penal26, entendido como umprocesso de partes em sentido formal instrumental, «estrutura-do a partir de posições processuais opostas, assumidas pelossujeitos processuais com capacidade para discutir a causa eobrigarem o tribunal a tomar uma decisão»27, não podem sertranspostas as concepções dominantes em processo civil.

Partes em sentido processual penal são «os sujeitos proces-suais titulares do direito de acusação e de defesa, que discutema causa e têm a faculdade quer de formular pretensões ao titularda jurisdição (juiz) quer de impugnar e contradizer as formula-das pela outra parte»28. São partes em processo penal o arguido,sujeito passivo da relação processual e simultaneamente da re-lação substantiva penal, o Ministério Público, sujeito da relaçãoformal, mas «desinteressado» da relação material controvertidae o acusador particular nos denominados crimes particulares29.

Uma vez que o dever de investigar impende sobre o juiz enunca sobre as partes, a elas não cabe afirmar, contradizer ouimpugnar, não cabe a apresentação de certos factos, não cabechegar a acordo expresso ou tácito.

É ao Tribunal que compete, porque a sua convicção não selimita aos meios de prova trazidos pela acusação e pela defesa,chegar à verdade. Uma verdade não apenas formal mas mate-rial, no sentido «de uma verdade subtraída à influência que, atra-vés do seu comportamento processual, a acusação e a defesaqueiram sobre ela; mas também no sentido de uma verdadeque, não sendo “absoluta” ou “ontológica”, há-de ser antes detudo uma verdade judicial, prática e, sobretudo, não uma ver-dade obtida a todo o preço mas processualmente válida»30.

Da exposição feita pretendeu-se, apenas, trazer à luz as con-sequências para o processo civil e para o processo penal, ondese encontra a questão objecto do presente comentário, da vigên-cia dos princípios da discussão e do princípio da investigação.Para dizer que o primeiro vigora no processo civil e o segundoem processo penal e, assim, concluir que em processo penalnão vigora o problema do ónus da prova e sua repartição ou, pe-lo menos, não nos termos em que se suscita no processo civil31.

A assim ser, muito mal andou a Câmara dos Crimes do Tri-bunal Supremo que, na apreciação ao Acórdão recorrido, feztábua rasa de uma questão de direito tão importante, sem se-quer sobre ela se pronunciar, deixando, por conseguinte, fazertransparecer, primeiro, que a questão da inversão do ónus daprova e sua repartição é uma questão de facto e, segundo, queo Tribunal «a quo», apreciou bem essa matéria quando enten-deu que «são os visados no artigo quem deve, em primeira li-nha, demonstrar o contrário da publicação...».

«Só haverá crime de difamação quando os visados demons-trarem, sob o crivo de uma sindicância judicial transparente, li-vre e de sua própria iniciativa, que não possuem riquezas ad-quiridas por meios ilícitos; e, para além disso, ficar provado, porfactos irrefutáveis, que, desse facto, advieram prejuízos na vidaprivada, social ou laboral do queixoso...».

Se for permitido fazer uma leitura à luz das considerações

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feitas sobre como se estruturam o direito processual civil e o di-reito processual penal, particularmente que princípios informamessa estruturação, não se pode deixar de concluir terem sido,neste caso, transpostas para o processo penal de forma nua ecrua as normas do processo civil, particularmente no que à ma-téria da prova diz respeito.

É um facto que, no domínio do direito penal internacional,se tem vindo a tentar que, em casos excepcionais graves, osEstados aceitem a derrogação convencional daquele princípio.Mas sem êxito assegurado.

Foi o caso da Convenção das Nações Unidas contra a Cri-minalidade Transnacional Organizada, que só foi assinada de-pois de a obrigação de derrogação de tal princípio ter sido subs-tituída pela faculdade de os Estados o fazerem e, ainda assim, namedida em que os princípios do seu direito interno o permitam.

Interessa, para melhor compreensão, transcrever o teor don.º 7 do artigo 12.º da referida Convenção: «Os Estados-Partespoderão considerar a possibilidade de exigir que o autor de umainfracção demonstre a proveniência lícita do presumido produ-to do crime ou de outros bens que possuam ser objecto de con-fisco, na medida em que esta exigência esteja em conformidadecom os princípios do seu direito interno e com a natureza doprocesso ou outros procedimentos judiciais».

É indiscutível que tal possibilidade não está em conformi-dade com os princípios que presidem ao direito processual pe-nal angolano. Neste sentido, o Tribunal, tanto o «a quo», comoa Câmara dos Crimes do Tribunal Supremo, demitiu-se da suafunção de investigação, de procura da verdade material, funçãoque é pública, e colocou-se na posição de árbitro, imprópria pa-ra a natureza e os fins do processo penal.

3. A Função Subsidiária e de ultima ratio do Direito Penal

«... Sendo o Direito Penal subsidiário, um direito de inter-venção mínima, deveria o queixoso, ao invés de intentar umaacção criminal, ter esgotado outras vias para a solução daquestão...», disse o Tribunal «a quo»...

Na realidade, a função do Direito Penal, no sistema social eno sistema jurídico em particular, é de tutela subsidiária ou deultima ratio de bens jurídicos. Significa que a intervenção do Di-reito Penal depende em última análise de estar em jogo a tutelade bens jurídicos cuja lesão se revela digna de pena32. Comefeito, e segundo Roxin33, o direito penal só deve intervir quan-do outros meios de solução social do problema – como a acçãocivil, os regulamentos de polícia ou jurídico-técnicos, sançõesnão penais, etc. –, falhem. Por isso, a pena, é denominada «ul-

tima ratio de política social» e a sua função é de protecção sub-sidiária de bens jurídicos. E na medida em que o Direito Penalsó protege uma parte dos bens jurídicos e mesmo assim nemos protege na totalidade, pois em relação a alguns deles, comoo património, a protecção só opera face a concretas formas deataque, se fala também da sua natureza fragmentária34.

Essa limitação ao Direito Penal deriva do princípio da pro-porcionalidade que, por sua vez, é um princípio estruturante doEstado de Direito. Com efeito, a intervenção do Direito Penal re-presenta a mais dura intromissão nos direitos fundamentais doscidadãos, máximo, no nosso sistema jurídico, a liberdade, dadoque já não vigora aqui a pena de morte. Ora, essa intromissãosó deve ocorrer quando outros meios menos duros não se mos-trem capazes de ter êxito, pois entende-se que o recurso aoDireito Penal, quando outras medidas de politica social podemigualmente proteger o bem jurídico e até com mais eficácia, re-presenta um excesso que a Constituição proíbe35.

Estas são directivas de política criminal para o legislador,para aquele que está encarregado de definir que bens jurídicosmerecem tutela e que meios de tutela se mostram disponíveisno sistema. Tem a ver com o exercício do direito de punir ou ius

puniendi, previsto na alínea i) do artigo 90.º da Lei Constitucio-nal36. Não está pois dirigido ao Juiz, que é o aplicador da lei e,muito menos às partes em sentido processual, como o arguidoe o ofendido.

O Tribunal «a quo» no Acórdão recorrido mostrou desco-nhecer a razão por que se fala no principio da intervenção míni-ma e a quem ele se dirige ao dizer que «o queixoso, ao invés deintentar uma acção criminal, deveria ter esgotado outras viaspara a solução da questão...», isto porque o direito Penal é umdireito subsidiário.

Desconheceu o Tribunal «a quo», e a Câmara dos Crimesdo Tribunal Supremo limitou-se a dizer: «em todo o caso, o exer-cício do direito de resposta não prejudica que o ofendido sepossa socorrer paralelamente do procedimento civil ou criminalque ao caso couber...». Não exerceu a função pedagógica quese impunha, pois tratando-se de uma questão de política cri-minal fundamental, de natureza constitucional, é estranho queaquela instância não tivesse tido a preocupação de, de forma pe-dagógica, sobre ela se pronunciar.

O Relator: Luzia Bebiana de Almeida SebastiãoAdvogada, Professora de Direito Penal e Membro do ConselhoNacional da Ordem. Especialista no âmbito do Direito Penal,concluiu um mestrado e três pós-graduações em universidadeseuropeias e dos Estados Unidos da América.É colaboradora permanente da Revista Portuguesa de Ciência

Criminal, bem como autora e co-autora de diversos livros e arti-gos publicados em várias revistas e jornais nacionais e es-trangeiros.

Notas

1 CAVALEIRO DE FERREIRA, Manuel – Obra Dispersa – I, 1933/1959, Univer-sidade Católica Editora, Lisboa, 1996, p. 328.2 GRANDÃO RAMOS, Vasco – Direito Processual Penal – Noções Funda-

mentais, Ler & Escrever, Luanda, 1995, p. 391. 3 Idem, p. 399.

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4 Idem, p. 401. Com efeito, esta é apenas uma faculdade, dado que a rea-preciação, em processo penal, não é absoluta. Sofre as restrições quedecorrem do disposto no Artigo 667.º do CPP.5 O dever de fundamentar as decisões judiciais é constitucional. A LeiConstitucional da República de Angola de 1992, Lei n.º 23/92, de 16 deSetembro, prevê no n.° 2 do artigo 121.º a obrigatoriedade do cumpri-mento das decisões judiciais por parte dos cidadãos e demais pessoasjurídicas. Porém nada refere de forma expressa sobre a fundamentação.Permitam-nos que tomemos como exemplo o texto do «Anteprojecto deConstituição da República de Angola», que está em discussão na As-sembleia Nacional. O Artigo 289.º do Anteprojecto, expressamente non.° 1, estabelece: «Todas as decisões jurisdicionais são fundamentadasnos termos da lei». Esta é uma disposição de alto alcance porque cons-titui uma garantia do Estado de Direito. Veja-se a propósito o comentáriofeito por GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, ao n.° 1 do artigo 208.º daConstituição da República Portuguesa, in: Constituição da República Por-

tuguesa Anotada, 3.ª Edição, p. 798. 6 FERREIRA, Amâncio Fernando – Manual do Recurso em Processo Civil,2.ª Edição, Almedina, p. 18. 7 Idem, ibidem, p. 18.8 Idem, p.189 Idem, p.1810 Idem, p.18. No mesmo sentido, já antes, EDUARDO CORREIA, «Les preu-ves en droit penal portuguais», in: Revista de Direito e Estudos Sociais,ano IV, pp. 30 e ss. 11 Estamos a este propósito a citar um extracto do comentário feito porMAIA GONÇALVES ao artigo 666.º do CPP extraído do n.º 6 do relatório doDecreto-Lei n.º 44278, de 14 de Abril de 1962, que aprovou o EstatutoJudiciário. Veja-se CPP Anotado e Comentado, Livraria Almedina, Coim-bra, 1972, p. 766. Poderá dizer-se estar este comentário tacitamenterevogado por força da revogação «eventualmente» tácita, e dizemoseventualmente porque a Lei n.º 7/94, de 29 de Abril, que aprovou o Es-tatuto dos Magistrados Judiciais e do Ministério Público, revogou emgeral todas as disposições que considerou que a contrariavam, poden-do daqui inferir-se que, por se tratar de um diploma que provém doperíodo colonial, estará tacitamente revogado. Acontece, porém, que aLei n.º 7/94 nada refere quanto à organização dos tribunais. Esta foiremetida para a Lei n.º 18/88, Lei do Sistema Unificado de Justiça. Nemesta última, nem a Lei n.º 20/88, de 31 de Dezembro, que faz o ajusta-mento entre as Leis Processual Penal e Processual Civil, tratam estaquestão com a teorização que se mostra necessária ao presente caso.Por isso nos permitimos fazer essa citação. Por outro lado, quer-nosparecer que o conteúdo do comentário em nada contraria o espírito daLei Constitucional, antes pelo contrário. 12 É um facto que a questão objecto do nosso comentário não é umaquestão de uniformização de jurisprudência. Contudo, o que nos faztrazer à colação o ponto de vista de MAIA GONÇALVES é o que se segue. 13 Tomamos a liberdade de seguir de perto as considerações feitas, masainda não publicadas, pelo nosso Ilustre Professor Vasco Grandão Ra-mos, a propósito desta matéria. 14 SOUSA, João de Castro e – A Tramitação do Processo Penal, CoimbraEditora, 1985, pp.153 e ss. No mesmo sentido, RODRIGUES, Anabela Mi-randa – «I Inquérito no Novo Código do Processo Penal», in: Jornadas

de Direito Processual Penal – O Novo Código de Processo Penal, Livra-ria Almedina, Coimbra, 1988, pp. 61 a 79; p. 64.15 No mesmo sentido, RODRIGUES, Anabela Miranda – obra citada, p. 69.Também MOURA, José de Souto – «Inquérito e Instrução», in: Jornadas

de Direito Processual Penal, O Novo Código de Processo Penal, pp. 83a 145; pp. 97.16 Veja-se Preâmbulo do CPP Anotado, de MAIA GONÇALVES, 10.ª Ed., Re-vista e Actualizada; Dec.-Lei n.º 78/87, de 17 de Fevereiro, III.7.b), a pp.38.

17 Com efeito, FIGUEIREDO DIAS (Direito Penal – Parte Geral. Questões fun-

damentais. A doutrina geral do crime, Tomo I, Coimbra Editora, 2004, p.6), distingue entre um direito penal substantivo, também designado di-reito penal material, para referir o que em linguagem jurídica corrente-mente se designa «direito penal» e um direito penal em sentido amploou ordenamento jurídico-penal, que abrange, para além do referido di-reito penal substantivo, também o direito processual penal, adjectivo ou

formal e o direito de execução das penas e medidas de segurança oudireito penal executivo.18 GRANDÃO RAMOS, Vasco – obra citada, p. 255. 19 FIGUEIREDO DIAS – Clássicos Jurídicos – Direito Processual Penal, Coim-bra Editora, 2004, pp. 187-188.20 Vejam-se para mais desenvolvimentos sobre essa matéria, MANUEL DE

ANDRADE e ANTUNES VARELA – Noções elementares de Processo Civil, pp.347 e ss.; EDUARDO CORREIA – Revista de Direito e Estudos Sociais, n.º14, 1967, pp. 4 e ss. 21 Figueiredo Dias – Clássicos Jurídicos, pp. 189-190.22 Idem, pp. 190. 23 GRANDÃO RAMOS, Vasco – obra citada, p. 255. 24 FIGUEIREDO DIAS – Clássicos Jurídicos, p. 192. É claro que quando seafirma que o ónus de investigar cabe oficiosamente ao Juiz, sem contri-buição das partes, pretende-se dizer que, contrariamente ao que se pas-sa nos processos presididos pelo princípio dispositivo, a actividade deinvestigação não se limita ao que os sujeitos processuais, o arguido e oMinistério Público, ou o Assistente, tenham trazido. O juiz goza de au-tonomia para ir buscar, onde quer que elas estejam, as provas necessá-rias para o esclarecimento da verdade. 25 GRANDÃO RAMOS, Vasco – obra citada, p. 255. 26 Não pretendo entrar na polémica doutrinal, que não é pacífica, sobrese o processo penal é ou não um processo de partes. Porém, pareceimportante salientar a propósito que o conceito de parte está aqui a serutilizado como defende VASCO GRANDÃO RAMOS (obra citada, p. 107), emsentido processual, ou seja, como «qualquer sujeito processual capazde deduzir uma pretensão em juízo ou de a contradizer», independente-mente de a essa capacidade em concreto corresponder um direito emsentido substancial. 27 GRANDÃO RAMOS, Vasco, Idem, p. 10828 GRANDÃO RAMOS, Vasco, Idem, p. 112.29 GRANDÃO RAMOS, Vasco, Idem, p. 113. 30 FIGUEIREDO DIAS – Clássicos Jurídicos, pp. 193-19431 FIGUEIREDO DIAS – Clássicos Jurídicos, pp. 197-198; no mesmo senti-do, GRANDÃO RAMOS, Vasco – obra citada, pp. 255 a 259.32 FIGUEIREDO DIAS, Jorge – Direito Penal – Questões Fundamentais. A Dou-

trina Geral do Crime, Tomo I, Coimbra Editora, p. 109. Para mais de-senvolvimentos do mesmo autor, O Problema da Consciência da Ilici-

tude em Direito Penal. 1.ª Edição, § 4, II; COSTA ANDRADE – Consentimento

e Acordo em Direito Penal, 1990, pp. 385 e ss. 33 ROXIN CLAUS – Derecho Penal, Parte General – Tomo I – Fundamentos.

La Estrutura de la Teoria del Delito, Civitas, 1999, § 2, pp. 65 e ss. Nomesmo sentido GÜNTHER JAKOBS – Derecho Penal, Parte General, Funda-

mentos e Teoria de la imputacion, Marcial Pons, Madrid, 1987, pp. 60--61.34 A propósito da fragmentariedade do Direito Penal, também FARIA COSTA

– O Perigo em Direito Penal, Coimbra Editora, 1992, pp.192-193, maisespecificamente nota 27. 35 Veja-se o n.º 1 do artigo 52.º da Lei Constitucional, n.º 23/92, de 16de Setembro. 36 Para mais desenvolvimentos sobre o Direito Penal em sentido subjec-tivo e sobre as concepções sobre o direito de punir no Estado de Direi-to Democrático veja-se SANTIAGO MIR PUIG – Derecho Penal. Parte Gene-

ral, 5.ª Edición, Barcelona, 1998, pp. 74 e ss.

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JURISPRUDÊNCIA

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A Gazeta do Advogado • n.º 4 • Julho-Setembro • 2005 • VCC

I ENCONTRO DOS JOVENSADVOGADOS

Na senda das Conclusões

Na sequência da realizaçãodo I Encontro dos Jovens Advoga-dos, foi realizado um encontroentre a Ordem dos Advogados, napessoa do seu Bastonário, e o Mi-nistério da Juventude e Despor-tos, na pessoa do Sr. Ministro,os quais decidiram a preparaçãoe assinatura de um Protocolo como objectivo de que sejam devida-mente implementadas as suas con-clusões.

Com o mesmo objectivo, e con-cretamente para serem vistas for-mas de apoio habitacional ao Jo-vem Advogado, está em preparaçãooutro Protocolo que vai ser assi-nado pela Ordem e pela direcçãodo Banco do Comércio e Indústria,na sequência de reunião havidaentre as duas instituições.

Os dois Protocolos e outrasrealizações serão publicados emfuturas edições d’A Gazeta.

PLACARD

OAA suspende a recepção de novos pedidos de Assistência Judiciária

Com a cedência à Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universida-de Agostinho Neto da parte onde funcionou o Instituto de Estudos Judiciá-rios, a Ordem dos Advogados de Angola tem-se deparado com grandes dificul-dades para fazer face às solicitações que lhe são feitas, pois a entrada,saída e circulação permanente de estudantes tem originado grandes pro-blemas ao funcionamento dos nossos serviços, máxime o atendimento aos ci-dadãos carentes que, com frequência, acorrem à nossa Instituição com o pro-pósito de beneficiarem da Assistência Judiciária.

Assim sendo, levamos ao conhecimento de todos os interessados que estásuspensa, a partir de agora, a recepção de novos pedidos de assistência Ju-diciária até que se resolva a situação supra apresentada, com excepção dosprocessos urgentes já em Tribunal.

Luanda, 19 de Julho de 2005A ORDEM DOS ADVOGADOS DE ANGOLASecretaria-Geral

Realizou-se no passado dia 25 de Agosto, em Maputo,capital da República de Moçambique, o VIII Encontro daUnião dos Advogados de Língua Portuguesa.

O encontro contou com a participação dos Bastonáriosde Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal ecom o Presidente da Associação dos Advogados de Macau.

A anteceder este Encontro, e sob iniciativa da Or-dem dos Advogados de Moçambique, realizou-se um Seminá-rio sobre Falências e Recuperação de Empresas, que con-tou com a presença de advogados, empresários e membrosda sociedade civil daquele país. Neste encontro foi fei-ta uma abordagem sobre a legislação e a experiência devários países, como sejam Angola, Brasil, Moçambique ePortugal.

O VIII Encontro da UALP foi dirigido pelo Bastonário

de Cabo Verde, presidente em exercício da organização,e nele foi aprovado um conjunto de decisões extrema-mente importantes para os advogados de língua portugue-sa.

Foram aprovadas alterações aos Estatutos da associa-ção, passando ela a denominar-se União dos Advogados deLíngua Portuguesa, UALP, aprovado em programa de inter-câmbio no domínio da formação profissional contínua eno domínio dos estágios para jovens advogados.

A UALP realçou, uma vez mais, a importância da Orga-nização no reforço da amizade e cooperação entre os ad-vogados de língua portuguesa.

O VIII Encontro da UALP elegeu para presidente o Pre-sidente da Associação dos Advogados de Macau, e convo-cou o IX Encontro, que se realizará em Macau.

VIII ENCONTRO DA UNIÃO DOS ADVOGADOS DE LÍNGUA PORTUGUESA

Levantamento da suspensãode Assistência Judiciária

Embora sem resolver o seu problema das instalações, pelo prejuízo queestá a causar aos cidadãos carenciados, que continuam a acorrer à Ordem,o Conselho Nacional, na sua sessão de Agosto, deliberou levantar a suspen-são da recepção de novos pedidos de Assistência Judiciária.

Luanda, 31 de Agosto de 2005OS SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS

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