gazeta do advogado - 20

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NESTA EDIÇÃO PLACARD .............................................................................................. VC EDITORIAL ............................................................................................... 1 VIDA INTERNA Deliberações do Conselho Nacional ........................................................ 2 CPL continua a cancelar estágios profissionais ....................................... 6 Encerramento do IV Curso de Formação de Estagiários Branqueamento de capitais – Obrigações específicas dos Advogados ................................... 7 Programa «Direito para Todos» ............................................................... 12 Eleição e constituição do Conselho Provincial de Cabinda ................... 13 ARBITRAGEM INTERNACIONAL I Conferência Internacional sobre Arbitragem ........................................ 14 26 questões sobre Arbitragem ............................................................... 15 ESTUDOS Segurança Social – Apreciação para uma inflexão de políticas públicas de cariz universalista (parte 1) .......................................................... 21 REFLEXÕES Porque se justifica em Angola um tribunal de execução de penas ....... 27 Porque se justifica em Angola um novo mapa geográfico dos tribunais ...................................................................................... 27 De quantos magistrados precisa o sistema judicial angolano? ............. 28 BIBLIOTECA 64.º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos ......... 29 Legislação publicada .............................................................................. 32 NOTÍCIAS BREVES .............................................................................. 32 DIA DA MULHER ............................................................................. VCC VIDA INTERNA – Circular do CPL ....................................................... CC N.º 20 • 2013 Janeiro, Fevereiro e Março Menção de Responsabilidade Ordem dos Advogados de Angola Editor CDI / OAA Av. Ho Chi Min (Edifício da DNE) Luanda – Angola Telefone: 222 326 330 Fax: 222 322 777 Director António Joaquim Coordenação Helena Cunha Colaboradores H. Cachimbombo, Manuel Gonçalves, Sofia Vale, Lino Diamvutu, Correia V. Pongolola, Luís Paulo Monteiro Concepção Gráfica, Paginação e Produção PubliDigital (Portugal) Local de Edição: Luanda ISSN: 1816-3556 Depósito Legal: 79/04 Tiragem: 1000 ex. Publicação Trimestral Boletim da Ordem dos Advogados de Angola

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Gazeta do Advogado

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NESTA EDIÇÃO

� PLACARD .............................................................................................. VC

� EDITORIAL ............................................................................................... 1

� VIDA INTERNA

Deliberações do Conselho Nacional ........................................................ 2CPL continua a cancelar estágios profissionais ....................................... 6

Encerramento do IV Curso de Formação de EstagiáriosBranqueamento de capitais

– Obrigações específicas dos Advogados ................................... 7

Programa «Direito para Todos» ............................................................... 12Eleição e constituição do Conselho Provincial de Cabinda ................... 13

� ARBITRAGEM INTERNACIONAL

I Conferência Internacional sobre Arbitragem ........................................ 1426 questões sobre Arbitragem ............................................................... 15

� ESTUDOS

Segurança Social – Apreciação para uma inflexão de políticas públicas de cariz universalista (parte 1) .......................................................... 21

� REFLEXÕES

Porque se justifica em Angola um tribunal de execução de penas ....... 27Porque se justifica em Angola um novo mapa geográfico

dos tribunais ...................................................................................... 27De quantos magistrados precisa o sistema judicial angolano? ............. 28

� BIBLIOTECA

64.º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos ......... 29Legislação publicada .............................................................................. 32

� NOTÍCIAS BREVES .............................................................................. 32

� DIA DA MULHER ............................................................................. VCC

� VIDA INTERNA – Circular do CPL ....................................................... CC

N.º 20 • 2013Janeiro, Fevereiro

e Março

Menção de ResponsabilidadeOrdem dos Advogados

de Angola

EditorCDI / OAA

Av. Ho Chi Min(Edifício da DNE)Luanda – Angola

Telefone: 222 326 330Fax: 222 322 777

DirectorAntónio Joaquim

CoordenaçãoHelena Cunha

ColaboradoresH. Cachimbombo,Manuel Gonçalves,

Sofia Vale, Lino Diamvutu,

Correia V. Pongolola, Luís Paulo Monteiro

Concepção Gráfica,Paginação e ProduçãoPubliDigital (Portugal)

Local de Edição: Luanda

ISSN: 1816-3556

Depósito Legal: 79/04

Tiragem: 1000 ex.

Publicação Trimestral

Boletimda Ordemdos Advogadosde Angola

VC • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

NOVO CÓDIGO DO IMPOSTO DE SELOInformação da Direcção Nacional de Impostos

República de AngolaMinistério das Finanças Direcção Nacional de Impostos

Ao Gabinete da Ministra da Justiça – Luanda

Ofício n.° 919/37/GAB/DNI/2012Assunto: Novo Código do imposto de Selo

Excelência,Foi aprovado o novo Código do Imposto de Selo, pelo De -

cre to Legislativo Presidencial n.° 6/11, de 30 de Dezembro e nasequência de vários constrangimentos enfrentados pelos advo-gados e funcionários forenses, em virtude de se continuar a exi -gir o comprovativo do pagamento do imposto de Selo nos ac -tos prati ca dos pelos advogados, vimos, por este meio informaro seguinte:

O novo Código do Imposto do Selo, é um diploma únicocon tendo a tabela do imposto, e com a entrada em vigor domesmo, foram revogados o Diploma Legislativo n.° 3841/68, de6 de Agos to que aprovou o Regulamento do Imposto do Selo,com as alte rações que lhe foram introduzidas pelo Decreto n.°7/89, de 15 de Agosto, a actualização que lhe foi conferida peloDecreto execu tivo n.° 85/99, de 11 de Julho, igualmente o De-creto n.° 18/92, de 15 de Maio, sobre a Liquidação do impostodo Selo por meio de Guia. Foi, ainda, revogado o Decreto Exe -cutivo Conjunto n.° 8/08, de 1 de Fevereiro, dos Ministros dasFinanças e da Justiça, so bre a liquidação do Imposto do Selopor meio selo de verba, o Decreto Executivo n.° 71/04, de 9 deJulho, que aprovou a Ta be la Geral do Imposto do Selo e demaislegislação que contraria o diploma em análise.

Com a aprovação do Código de Imposto de Selo, foi efec -tua da uma profunda reformulação das normas anteriormenteem vigor, nomeadamente, a redução da base de incidência, dasta xas deste imposto e foi simplificado a tabela do imposto re -

du zindo as realidades sujeitas a este imposto (passando ape-

nas para 26 verbas, em contraposição às 163 da anterior Ta -

bela).Neste sentido e com vista a garantir a efectiva aplicação

do novo Código de Imposto de Selo a nível dos organismos einstituições por vós tutelados (cartórios dos tribunais e con ser - vatórias), importa realçar algumas das principais alterações aeste imposto:

1. Estão sujeitos ao pagamento de imposto de selo ape-

nas os actos, contratos, documentos, livros, papéis e ou -

tros factos previstos na tabela anexa ao código ou emleis especiais, conforme resulta do artigo 1.°;

2. Foi eliminada a estampilha fiscal enquanto forma de li -quidação e pagamento do Imposto de Selo, sendo que,nos termos do ar tigo 13, a liquidação do mesmo efec-tua-se por meio de verba e paga -se por meio de DAR –Documen to de Arrecadação de Receitas;

3. Não estão sujeitos ao pagamento do imposto de seloas peças processuais, os autos e termos, requerimentose de mais actos equivalentes praticados pelos advogadospe rante os Tribunais;

4. Exceptuam-se no número anterior os autos e termosque compreendem arrendamento ou licitação de bens imó - veis, cessão, conferência de interessados em que se con -corde na adjudicação de bens comuns, confissão de dí vi -da, fian ça, hipoteca penhor, responsabilidade por perdase danos, conforme resulta do verba 3 da Tabela anexa aoCódigo de Imposto de Selo;

5. Os documentos emitidos pelas Conservatórias do Re -gisto Civil e Criminal, nomeadamente, atestados, certi dões,certificados e declarações, não estão sujeitos ao impos-to de selo;

6. As Conservatórias do Registo Automóvel, Comercial eos Notarios, só devem liquidar e cobrar o imposto deselo, relativamente aos actos previstos na actual tabelado imposto, anexa ao referido diploma, nomeadamente,os previstos nas verbas 3.°, 6.°, 7.°, 10.º, 13.º, 14.º e21.º

Sem outro assunto de momento, subscrevemo-nos comrespeitosos cumprimentos.

Direcção Nacional de impostos, em Luanda, aos 28 de Agosto de 2012

O DIRECTOR NACIONAL,LEONEL FELISBERTO DA SILVA

C. C. – Gabinete da Secretária de Estado das Finanças

PLACARD

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 1

EDITORIAL

Uma Ordem forte com uma Advocacia forte

Caros Colegas,Uma ordem e advocacia fortes passam, entre

outros muitos aspectos, pela coesão da classe, pe -lo empenho e brio dos profissionais. Passa ainda pe -la urgente obtenção ou aquisição de instalações quenos confiram dignidade institucional, pois que, semelas, dificilmente teremos asseguradas as condiçõespara dar continuidade ao actual processo de reorga -nização interna, com a rentabilização dos recursoshumanos e técnicos, para uma melhor e mais ra cio -nal administração da instituição.

Caros Colegas, no próximo dia 26 de Maio docorrente ano, a actual Direcção completará um anode mandato e é desejável que nesta fase se faça, ain -da que breve, uma referência aos aspectos que mar -caram esta primeira dezena de meses. Como nãopodia deixar de ser, a implementação programáticada coesão da classe, organização interna e a cons -tituição dos Conselhos Provinciais e Interprovinciais,nos termos e pressupostos estatutários consagra-dos, merecem boa nota, pois estão a concorrer, semdúvidas subsistentes, para uma mais racional admi -nistração da instituição.

Com efeito, sem medo de errar, o Conselho Pro -vincial de Luanda, que abarca mais de 90% dos ad-vogados da nossa Angola, apesar dos contratempospróprios do já referido processo de reorganização in -terna e com o acordo e apoio do Conselho Nacio nal,está a fazer tudo para que os advogados cum pramos Estatutos, no concernente aos seus deveres paracom a organização, de modo, claro, a fortalecê-la.

A esse propósito e no mesmo âmbito, refira-sea necessidade de se cumprir com a obrigação esta -tutária de um Quadro Geral de Advogados com infor -mação permanentemente actualizada de modo a quea relação instituição/classe se possa estabelecer deforma transparente e eficaz. Este Quadro Geral de Ad -vogados exige o concurso de todos com informa çãosobre domicílio profissional, telefones, e-mails, com -posição e sigla dos escritórios, informação de incom -patibilidade e outras pertinentes.

A instituição está a exercer acção disciplinar so -bre os advogados que prevaricam em relação aosnormativos ético-deontológicos e, portanto, têm deser chamados à atenção e, se persistem, têm de so -frer as consequências disciplinares, pois não há ou -

tro caminho ou alternativa. A Ordem tem de se for-talecer para tornar forte a advocacia.

A formação dos jovens advogados e estagiá -rios, sobretudo, na prática forense e ética profissio -nal, pelo Centro de Estudos e Formação da Ordem dosAdvogados – recentemente arrancou o 6.º curso –não pode aqui deixar de merecer um assinável reparo.

Caros Colegas, este esforço e conjunto de me-didas que vêm sendo implementadas dificilmente semostrarão eficazes se os advogados e advogadosestagiários não se lançarem na «aventura» da comu -nicação entre si através dos espaços próprios dis po -níveis como esta Gazeta e o fórum na página da Or -dem (oaang) e na nossa revista, debatendo ideias esuscitando o contraditório, ao mesmo tem po quecriam hábitos de escrita e de reflexão.

A advocacia ilícita que todos os dias chega aoconhecimento da instituição e a necessidade de acombater firmemente com o apoio da classe sendoque esta, no seu conjunto, é a mais prejudicada comessa prática, merece e vai continuar a merecer umcombate enérgico e, a esse respeito, não podemosdeixar de partilhar com os Colegas o facto de a Pro -cu radoria-Geral da República se ter mostrado intei -ramente disponível para articular com a nossa insti -tuição, através da Comissão para Questões Judiciais,das Garantias dos Direitos e Prerrogativas dos Advo -gados e do Combate ao Exercício Ilegal.

Em jeito de perspectiva imediata, está à porta,numa observância estrita das imposições estatutá rias,a realização das Assembleias Gerais de Advo ga dos,sendo uma ordinária e outra com carácter ex traor -di ná rio, cujos assuntos em pauta brevemen te serãoanun ciados, destacando-se, obviamente, a apre sen -ta ção do estado das contas da nossa Instituição.

Por último, não tanto numa perspectiva ime -dia ta, destacamos a realização da 4.ª ConferênciaNa cional dos Advogados, agendada para o mês deNo vembro, na cidade do Huambo, para marcar o com -promisso de implantação da instituição pelo país in -teiro, estando já constituídas as comissões que játra balham no sentido de se assegurar uma realiza-ção digna da importância e objectivos do evento.

A instituição estáa exercer acçãodisciplinar sobreos advogadosque prevaricamem relação aosnormativos ético--deontológicos...

António Joaquim KalikemalaDirector

DELIBERAÇÃO SOBRE WILLIAM TONET

Requerente: William Afonso Tonet

DELIBERAÇÃO

O Conselho Nacional da Ordem dos Advogados de Angola(«CN») reuniu extraordinariamente aos 26 de Novembro de 2012,para apreciar e deliberar sobre o teor do requerimento datado de15 de Novembro de 2012, apresentado pelo cidadão WilliamAfonso Tonet (doravante o «Requerente»), nos serviços admi nis - trativos da OAA aos 21 de Novembro de 2012, nos termos doqual peticiona o reconhecimento, formal, da sua inscri ção co moAdvogado, desde 12 de Abril de 2011.

Para fundamentar pretensão acima referida, o Requerentealega em síntese, o seguinte:

(i) Que no início do ano de 2009, requereu a sua inscriçãocomo advogado estagiário, tendo instruído o respectivo pro -cesso com os documentos estabelecidos pelo n.º 4 do ar-tigo 100.º dos Estatutos da OAA (EOAA), designadamentecópia do Bilhete de Identidade, carta de licenciatura, originalou pública-forma, Certificado de Registo Criminal, e Bo le -tins preenchidos nos termos regulamentares, assinados pe -lo Requerente, e 3 fotografias;(ii) Que a inscrição do Requerente como advogado estagiá -rio foi admitida pelo Conselho Provincial de Luanda da OAA(«CPL»), tendo-lhe sido atribuída a cédula profissional deadvogado estagiário com o número 1056;(iii) Que concluiu o estágio para o exercício da advocacia,e seguidamente requereu ao CPL, aos 12 de Janeiro de 2011,a sua inscrição definitiva como advogado;(iv) Que decorridos 572 (quinhentos e setenta e dois) diasso bre a data da apresentação do seu pedido de inscriçãodefi nitiva como advogado não foi notificado de qualquer des - pacho, nem foi emitida a seu favor a respectiva cédula pro -fissional de advogado;(v) Que, atendendo à natureza jurídica da OAA e ao regimeque lhe é aplicável, os actos praticados pelo seus órgãossão considerados actos administrativos, e estão sujeitos aodisposto no Decreto-Lei n.º 16-A/95, de 15 de Dezembro –que aprovou as Normas do Procedimento e da Actividade Ad -ministrativa («NPAA») –, e a sua actuação está sujeita aosprin cípios estabelecidos naquele diploma legal;

(vi) Não tendo sido proferida pelo CPL qualquer decisão so -bre o seu pedido de inscrição definitiva depois de decorri-dos 21 (vinte e um) meses a contar da data da sua apresen -tação, apesar de estar obrigada a fazê-lo no prazo de 2 (dois)meses, o Requerente considera que foi admitido como ad-vogado por via de deferimento tácito, desde 12 de Abril de2011, carecendo apenas que seja emitida, a seu favor, a res -pectiva cédula profissional definitiva de advogado.

Termos em que pugnou pelo reconhecimento, formal, da suainscrição como Advogado, desde 12 de Abril de 2011, e, conse -quentemente, seja emitida, a seu favor, a respectiva cédula pro -fissional definitiva de advogado, no mais curto espaço de tempo.

APRECIANDO E DECIDINDO:

Antes de apreciarmos e decidirmos mérito das questões sus -citadas no requerimento apresentado pelo Requerente WilliamAfonso Tonet, importa fazer um breve enquadramento da situa -ção sub judice.

1. Enquadramento

O requerimento em análise foi apresentado na sequência dadecisão do CPL de cancelar a inscrição do Requerente como ad -vogado estagiário.

Tal decisão foi proferida pelo CPL no âmbito do processointerno, em curso, de recadastramento e actualização de advo-gados e advogados estagiários, resultante de uma deliberaçãodo Conselho Nacional («CN»), tomada em conformidade com acompetência que lhe é atribuída pela alínea d), n.º 1, do artigo33.º dos EOAA, designadamente, de manter actualizados osquadros gerais de advogados e advogados estagiários.

Acontece que, no âmbito do aludido processo de recadas-tramento e actualização, o CPL apurou que existe um númerobastante elevado de advogados estagiários que, pelas mais va -riadas razões, se encontram numa situação de estágio irregulare/ou em desconformidade com os EOAA e o Regulamento so -bre Estágio.

Resulta das disposições combinadas dos artigos 104.º, n.º5, e 100.º, n.º 1, dos EOAA que, o estágio tem a duração máxi -ma de 3 (três) anos, findo os quais, se o advogado estagiário nãoo concluir e/ou não reunir os demais requisitos para requerer a

2 • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

VIDA INTERNA

DELIBERAÇÕES DO CONSELHO NACIONAL

inscrição definitiva, é cancelada a inscrição, podendo, entretan-to requerer nova inscrição.

À data dos factos, o CPL identificou mais de 20 (vinte) ad-vogados estagiários em situação de estágio superior ao prazomáximo estabelecido no citado artigo 104, n.º 4, dos EOAA, e/ousem lograrem reunir os requisitos necessários para aprovaçãodo pedido de inscrição definitiva como advogado, o que obvia-mente determinou o cancelamento das inscrições dos mesmos.

Em decorrência do acima dito, o CPL comunicou formal-mente, isto é, por escrito, o cancelamento da inscrição a todosos advogados estagiários em situação de estágio irregular e/ouem desconformidade com os EOAA, que na altura foram identi -fi cados.

Porque, em consequência do cancelamento da inscrição,os então advogados estagiários perderam essa qualidade e porvia disso ficaram impedidos de exercerem advocacia a partir dadata do aludido cancelamento, o CPL comunicou igualmente talsituação aos órgãos que intervêm na administração da justiça,nomeadamente, mas sem se limitar, aos Tribunais e à Procura -doria-Geral da República.

Por forma a tornar mais abrangente o conhecimento das si -tuações de cancelamento das inscrições, a OAA decidiu divul-gar no seu site uma lista contendo os nomes dos visados, a qualserá periodicamente actualizada, uma vez que o processo de re -cadastramento e actualização de advogados e advogados esta -giários continua em curso.

O Requerente é um dos então advogados estagiários que viua sua inscrição cancelada, pelas razões acima apontadas, comoabaixo se explicitará e demonstrará.

Os actos acima praticados pelos órgãos da OAA, enqua -dram-se perfeitamente no âmbito das suas competências – cfr.artigos 3.º, alínea b), 33.º, n.º 1, alíneas c) e d), 38.º, n.º 1,alínea m), 100.º, n.º 1, e 104.º, n.º 5, dos EOAA.

2. Da notificação do requerente para apresentação de do - cumento comprovativo do reconhecimento de estudos fei - to no estrangeiro

Compulsados os documentos que constituem o processoindividual do Requerente arquivado na OAA, constata-se, de inte -resse para apreciação e decisão do caso sub judice, o seguinte:

(i) Aos 14 de Janeiro de 2009 o Requerente deu entrada noCPL do seu pedido de inscrição como advogado estagiário,o qual foi deferido aos 23 de Fevereiro de 2009, e, conse-quentemente, lhe foi atribuída a cédula profissional de advo -gado estagiário sob o n.º 1056;(ii) Não obstante a sua decisão acima referida, a então Pre -sidente do CPL, Dra. Teresa Marçal, exarou um despacho,aposto na Ficha de Inscrição de Advogado Estagiário, queabaixo se transcreve:

«– Juntar declaração definitiva de reconhecimento deestudos pela UAN;– Declaração de serviço»

(iii) O despacho da Presidente do CPL foi ratificado pelo en -tão Bastonário, Dr. Inglês Pinto, por despacho datado de 26de Fevereiro de 2009, também aposto na Ficha de Inscriçãode Advogado Estagiário, nos termos seguintes:

«T. C.Estou de acordoAgir em conformidade»

(iv) Em data que não se logrou apurar, o Requerente juntouao seu processo de inscrição uma declaração de serviçoemitida pela empresa WT MUNDOVÍDEO, LIMITADA, datadade 24 de Novembro de 2010, a atestar a existência de umvín culo laboral com o Requerente; (v) Aos 12 de Janeiro de 2011 o Requerente deu entrada no CPLdo pedido de inscrição definitiva como advogado, o qual mereceudespacho do então Presidente, Dr. Hermenegildo Cachimbom -bo, datado de 28 de Junho de 2011, nos termos seguintes:

«O reconhecimento de estudos feitos no estrangeirocompete à Reitoria da Universidade Agostinho Neto e//ou Secretaria de Estado do Ensino Superior. Neste con -texto, o requerente deve juntar declaração definitiva deReconhecimento de Estudos».

(vi) Do despacho referido no anterior ponto (iv), foi o Reque -rente notificado aos 11 de Julho de 2011.

Em face do acima dito, conclui-se, pois, que não corres pon -de minimamente à verdade a afirmação do Requerente segun-do a qual não foi proferido qualquer despacho sobre o seu pedi -do de inscrição.

3. Da inexistência do pretenso deferimento tácito

De acordo com a tese sustentada pelo Requerente, não ten -do sido proferida pelo CPL qualquer decisão sobre o seu pedi-do de inscrição definitiva depois de decorridos 21 (vinte e um)meses sob a data da sua apresentação, apesar de estar obrigadaa fazê-lo no prazo de 2 (dois) meses, o seu pedido de inscriçãodefinitiva como advogado foi admitido por via de deferimentotácito, desde 12 de Abril de 2011, carecendo apenas que sejaemitida, a seu favor, a respectiva cédula profissional definitivade advogado.

Ora, a tese do Requerente só pode resultar de uma análisedo ordenamento processual administrativo angolano altamentedelirante, já que entre nós não vigora a regra de que o silênciofunciona como deferimento tácito. Na verdade, entre nós, a re -gra é a do indeferimento, prevista no artigo 58.º das NPAA, se-gundo a qual a inércia, a omissão do dever de decisão por par -te da Administração, conduz, transcorrido o prazo estabelecidopor lei, ao indeferimento tácito.

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 3

No contexto do ordenamento processual administrativo an-golano, o deferimento tácito ocorre excepcionalmente, nas si tua - ções mencionadas no artigo 57.º das NPAA, e noutras em queespecialmente se preveja o deferimento tácito.

Ora, o pedido de inscrição definitiva como advogado formu -lado ao CPL pelo Requerente, não se enquadra de modo nenhumem qualquer uma das situações previstas no citado artigo 57.ºdas NPAA, nem tão-pouco o deferimento tácito deste pedido re-sulta de algum diploma legal especial (que nem sequer foi invo -ca do pelo Requerente).

Acresce que, de acordo com José António Garcia-Trave ja -no Fos in Los Actos Administrativos, 2.ª ed., actualizada, a págs.160, constitui um princípio hoje admitido aquele segundo o qualnão poder adquirir-se por silêncio administrativo mais do que sepoderá ter obtido por forma expressa. Não cabe, por is so, o si -lêncio positivo contra legem.

Esta é também a posição de António Dias Garcia in «A Au-torização Administrativa», a págs. 43, do BMJ 425.

De acordo com o autor acabado de citar, o particular não po -derá aceder a um determinado direito através do silêncio da ad-ministração quando a solicitação seja ilegal.

Quanto a esta temática vide também Ernesto Garcia Travija noGarnica, in El silêncio administrativo el derecho espanol, a págs. 82.

Os autores acima apontados pertencem todos à escola es-panhola, onde alegadamente o Requerente é doutorando, peloque lhe será de fácil consulta.

Entende o CN que o pedido de admissão e inscrição defini -tiva do Requerente como advogado, sem o necessário reconhe -cimento do estudo efectuado no estrangeiro, viola o disposto nosartigos 11.º, n.º 1, da Lei n.º 1/95, de 6 de Janeiro – Lei da Ad-vocacia –, e 98.º, n.º 1, dos EOAA, pelo que tal pedido é ilegale não pode de modo algum proceder, ainda que os órgãos com-petentes da OAA permaneçam eternamente mudos.

Em face do acima exposto, conclui-se, pois, que não assis -te qualquer razão ao Requerente.

TERMOS EM QUE O CONSELHO NACIONAL DA OAA DELI -BERA O INDEFERIMENTO DO PEDIDO FORMULADO PELO RE-QUERENTE, DE RECONHECIMENTO FORMAL DA SUA INSCRI -ÇÃO COMO ADVOGADO, E REITERA A DECISÃO DO CPL DECAN CELAMENTO DA INSCRIÇÃO DO REQUERENTE COMO AD-VOGADO ESTAGIÁRIO.

4. Da restituição da Cédula Profissional

Nos termos do disposto no n.º 5 do artigo 101.º dos EOAA,«O advogado suspenso ou com a inscrição cancelada deve res -

tituir a cédula profissional ao Conselho Provincial em que este-

ja inscrito e, se o não fizer no prazo de 15 dias, poderá a Ordem

proceder à respectiva apreensão judicial». Termos em que, o CN recomenda ao CPL que notifique o Re -

querente para, no prazo de 15 dias, restituir a Cédula Profissio -nal de advogado estagiário, findo o qual, se o não fizer, accionaros competentes mecanismos judiciais para a apreensão judicialda Cédula em questão.

Luanda, aos 26 de Novembro de 2012

O Conselho Nacional,

Hermenegildo Cachimbombo – BastonárioHenriqueta Silva – Vice-PresidenteAntónio Penelas – Membro Cons. NacionalLuís Paulo Monteiro – Membro Cons. NacionalClotilde Melo Pinto – Membro Cons. NacionalDjamila Pinto de Andrade – Membro Cons. NacionalJayr Fernandes – Membro Cons. NacionalJacinto Ucuahamba – Membro Cons. NacionalEvaristo Solano – Membro Cons. Nacional

4 • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

VIDA INTERNA

A Ordem dos Advogados vai realizar a 4.ª Conferência Nacional de Advogados, prevista para próximo mês de Novembro, nacidade do Huambo.

Para o efeito, foram já constituídas a Comissão Técnico-Científica e a Comissão Administrativa, tendo a coordená-las os drs.Evaristo Solano e Ângelo Funete, respectivamente, as quais estão a desenvolver as primeiras diligências para a criação das con di -ções técnicas e de logística que permitam a sua realização.

A Conferência vai submeter-se ao tema geral «Advocacia e Constituição», e do seu programa preliminar constam 4 painéis quetratarão da Ordem no Reforço e na Coesão da Classe, do Estado da Reforma da Justiça e do Direito, da Advocacia na SADC e Ad-vocacia e Arbitragem.

Sobre o desenvolvimento dos preparativos da Conferência Nacional de Advogados daremos mais e mais precisas informaçõesnas próximas Gazetas.

IV CONFERÊNCIA NACIONAL DE ADVOGADOS EM PREPARAÇÃO

DELIBERAÇÃO SOBRE O DR. JOSÉEDUARDO AMBRÓSIO SAMBO

Conselho NacionalACÓRDÃO N.º 1/2012

Recurso de Decisão do Ilustre Bastonário Referente à Incom -patibilidade do Exercício da Profissão de Advogado com a Qua -li dade de Comissário da Polícia Nacional

Recorrente: José Eduardo Ambrósio SamboRecorrido: Bastonário da Ordem dos Advogados de Angola

RELATÓRIO

Em reunião ordinária, datada do dia 6 de Setembro do cor ren - te ano, o Conselho Nacional da Ordem dos Advogados de An go -la apreciou o recurso interposto pelo Dr. José Ambrósio EduardoSambo tendo como objecto a decisão do Bastonário da Ordemdos Advogados de Angola que indeferiu o pedido de le vantamen -to da suspensão do exercício da advocacia por incom patibilidade.

O Recorrente, ao ter ostentado a qualidade de Inspector-Ge - ral do Ministério do Interior, viu a sua actividade forense suspen -sa, uma vez que tal função se mostrava incompatível com o exer -cício da advocacia, nos termos do art.º 56.º dos EOA, bem co moà luz do n.º 2 do art.º 4.º da Lei da Advocacia.

Por força de um Despacho Presidencial, o Recorrente foranomeado para o cargo de Conselheiro do Comandante-Geral pa -ra Área Jurídica, cessando, assim, as actividades referentes àInspecção-Geral.

Na sequência dos factos retro mencionados, o Recorrentesolicitou levantamento da suspensão, em documento dirigido aoIlustre Bastonário, sustentando que o facto de ter deixado de serInspector-Geral e actualmente desempenhar o cargo de Conse -lheiro Jurídico confortava a sua solicitação. Segundo o mesmo,o n.º 3 do art.º 4.º da Lei 1/95 encerra o fundamento para o le -vantamento da suspensão, porquanto a actividade que exerceestá clara e definidamente confinada à consulta jurídica compa -tível com o exercício da Advocacia.

Em resposta ao requerido, o Bastonário, por ofício com a Ref.n.º 046/OA-B/2012, de 3 de Julho, deu a conhecer ao Requerenteque o pedido de levantamento da suspensão fora indeferido pelofacto de o mesmo, apesar de Conselheiro Jurídico, ser quadro ac -tivo da corporação, razão pela qual a incompa ti bi lidade subsiste.

Não se conformando, porém, com a decisão proferida, o oraRequerente, interpôs recurso ao Conselho Nacional mobilizan-do, para o efeito, a previsão do n.º 5 do art.º 77.º dos Estatutosda Ordem.

Assim, havendo obrigação legal de o Conselho Nacional apre -ciar todos os recursos para si remetidos, clarifica que, no casopresente, a norma tida pelo Recorrente como habilitada para in-terposição do recurso não é própria, uma vez que o objecto dorecurso não é de natureza disciplinar.

A despeito de tal imprecisão, o Recorrente, note-se, foi no-tificado da decisão do Bastonário a 06 de Julho de 2012 e o pre -sente recurso deu entrada na secretaria da OAA no dia 26 de Ju -lho de 2012. Portanto, 20 (vinte) dias depois.

Compulsado o n.º 2 do art.º 5.º dos Estatutos, verifica-seque o direito de oposição conferido ao Recorrente caducara nopassado dia 15 de Julho de 2012.

DELIBERANDO:

O Conselho Nacional da Ordem dos Advogados de Angolade libera que o Recurso interposto pelo Sr. Dr. José AmbrósioEduardo Sambo é dado como improcedente por manifesta ex-temporaneidade. Assim, tal interposição, fora do prazo, constituifacto impeditivo para apreciação do mérito do recurso.

Pelo que

A DECISÃO PROFERIDA PELO BASTONÁRIO DA ORDEM DOSADVOGADOS DE ANGOLA EM DOCUMENTO COM REF. N.º 046//OA-B/2012 PRODUZ OS SEUS EFEITOS, EM DEFINITIVO, UMAVEZ QUE CONSTITUI CASO JULGADO.

Notifique-se.Luanda, aos 5 de Outubro de 2012,O Conselho Nacional

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 5

VIDA INTERNA

DELIBERAÇÕES DO CONSELHO NACIONAL

A Gazeta do Advogado aceita e agradece a permuta com outraspublicações, nacionais ou internacionais, da área do jurídico

6 • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

Nome Cédula | Início | Cancelamento

Adriano Jonas Chiwale202 | 14-11-2000 | 13-Nov-12

Alfredo Graça Matias 204 | 09-10-2000 | 09-Out-12

António Francisco de Oliveira 69 | 20-04-1998 | 05-Set-12

António Maseka Mafolo 1268 | 05-10-2009 | 18-Out-12

Arcides dos Reis Campos 179 | 03-05-2000 | 05-Out-12

Bula Pedro João 88 | 04-08-1998 | 04-Set-12

Carlos Baptista Secuca213 | 04-04-2001 | 17-Out-12

Custódio Armando44 | 19-09-1997 | 06-Set-12

David Luís Emanuel Fernandes de Sousa129 | 10-06-1999 | 10-Set-12

Djidiana Diarra152 | 22-10-1999 | 10-Out-12

Domingas Alexandra Garcia61 | 06-03-1998 | 28-Set-12

Domingos Pedro João Diogo144 | 01-09-1999 | 07-Fev-05

Fecília Massingue Neto Senalto312 | 14-05-2003 | 05-Nov-12

Fidel Kiluange Assis Araújo317 | 15-04-2003 | 07-Nov-12

Filomena Jardina Fernandes Teodoro36 | 25-04-1997 | 09-Out-12

Filomena Maria dos Santos Victor208 | 29-12-2000 | 05-Out-12

Gilberto António Nguigui Dilu 319 | 22-05-2003 | 08-Nov-12

Januário Capita Vicente 73 | 08-06-1998 | 04-Set-12

João Bernardo José Neto 192 | 04-08-2000 | 09-Out-12

José João 87 | 25-04-1997 | 28-Set-12

José Miguel 50 | 27-11-1997 | 04-Set-12

Luís Bizerra 26 | 21-04-1997 | 06-Set-12

Manuel Augusto Fernandes da Fonseca 167 | 11-01-2000 | 05-Out-12

Manuel do Nascimento Cardoso 210 | 01-04-2001 | 07-Nov-12

Maria de Jesus dos Reis Ferreira 240 | 01-11-2001 | 07-Nov-12

Maria Lizete Silva e Lemos 60 | 05-03-1998 | 06-Set-12

Mário Jorge Baptista de Figueiredo 321 | 14-07-2003 | 10-Out-12

Marlene de Fátima Alves dos Reis eAlmeida 1 | 28-04-1997 | 09-Out-12

Minervina Celeste G. Ganga Fortunato 328 | 07-10-2003 | 07-Out-12

Miranda Cândido Kiala 322 | 24-07-2003 | 05-Nov-12

Mutombo Mavunza 310 | 15-04-2003 | 05-Nov-12

Nelson Vieira Soares da Silva 292 | 01-10-2002 | 07-Nov-12

Nimy Alukeny Alves Mariano 253 | | 07-Nov-12

Paulina Pipa Bravo Monteiro 941 | 04-08-2008 | 30-Out-12

Pedro Miguel João 309 | 10-02-2003 | 19-Out-12

Roque Mendes São José Pires Delgado 13 | 28-03-1997 | 06-Set-12

Sebastião Dombaxe Catorze 203 | 15-06-2000 | 11-Out-12

Sebastião José Francisco Filipe 51 | 03-12-1997 | 04-Set-12

Sebastião José Gonçalves 62 | 19-03-1998 | 12-Set-12

Vicente Figueiredo 135 | 31-05-1999 | 08-Nov-12

William Afonso Tonet 1056 | 23-02-2009 | 05-Set-12

Xunú de Sousa dos Santos Pinto 245 | 01-05-2001 | 05-Nov-12

Yaba Pedro Alberto 251 | 01-11-2001 | 05-Nov-12

Zaida da Rosa de Sá e Vasconcelos 657 | 19-12-2007 | 09-Out-12

VIDA INTERNA

O Conselho Provincial de Luanda tem vindo a aplicar o estatuído no n.º 5 do art.º 104.º dos Estatutos da Ordem dos Advoga-dos de Angola, no concernente à duração do estágio profissional, o qual determina que «o período máximo para a conclusáo doestágio é de três anos, findos os quais o estagiário tem de iniciar novo estágio». Neste sentido, o CPL está a proceder ao cancela-mento de estágios dos Advogados cuja duração excedeu o período máximo estabelecido estatutariamente e a avisar os estagiáriosnessa situação de que têm as suas inscrições canceladas e que devem devolver as carteiras profissionais sob pena de apreensãojudicial.

O processo, estando em curso, culmina com a organização de listagens com os nomes do advogados estagiários nesta situa -ção, ou seja com inscrição cancelada. Estas listas são remetidas às instituições judiciais.

É objectivo da CPL, atento ao interesse público subjacente ao exercício da advocacia, que todos colaborem neste procedimento,para uma rigorosa observância das imposições estatutárias que regem o exercício da advocacia.

CONSELHO PROVINCIAL DE LUANDA CONTINUA A CANCELAR ESTÁGIOS PROFISSIONAIS

AO ABRIGO DO N.º 5 DO ART. 104.º DOS EOA

Advogados estagiários com inscrição cancelada – actualização de 20/02/13

� Hermenegildo Cachimbombo Bastonário

1. Notas Preliminares

Antes da incursão no tema objecto danossa comunicação, impõe-se uma rese -nha histórica, ainda que breve, sobre obran queamento de capitais, para melhorenquadramento do tema.

Desde os finais da década de 80 doséculo passado que o branqueamento decapitais é um fenómeno muito estudado,pois cedo se percebeu que a não privaçãodos criminosos dos seus extraordináriosre cursos económicos pode levar à ine fi -cá cia dos instrumentos repressivos dasso cie dades modernas, como as penas pri -va tivas de liberdade, o que conduz à desa -creditação na justiça e, em certos casos,coloca em risco as estruturas do Estado.

Há, por parte dos vários actores so-ciais, uma premente preocupação em es -tudar e compreender este fenómeno. Tantoas organizações que têm como atribui -ções imediatas o combate a este flagelo(polícias e tribunais), como as que o pro -curam estudar na sua total dimensão (uni -versidades, institutos formais e informaisde reflexão, meios de difusão de infor -ma ção, etc.), sempre se esforçaram paracom preendê-lo, decompondo-o tanto quan - to possível e delimitando as suas tipolo-gias, e se possível predizendo tendênciase formas de actuação.

Segundo alguns autores, a expres sãojornalística «branqueamento de capi tais»apareceu na década de 1920 nos EstadosUnidos da América, como refe rência àspráticas contabilísticas de Me yer Lans ky,contabilista de Al Capone. Tal especialista

financeiro, utilizando esta ções de lavagemde automóveis, conseguia dissimular o di -nheiro que a organização criminosa che -fiada por Al Capone obtinha através dasmais diversas práticas criminosas, revelan -do-se os ganhos através de «sindicatos»que garantiam uma certa paz nos locaisonde se implementavam o jogo ilícito, trá -fico de armas, álcool, etc.

Outros autores referem que «bran quea -mento de capitais» tem de facto o mesmolocal de nascimento, mas os con tabilistasda referida organização crimino sa usavam,não estações de serviço automóvel, massim lavandarias, o que levou a esta expres -são mais próxima de «lava gem».

Literalmente, a expressão branquea-

mento de capitais significa operação paralavar, clarear ganhos, proventos ou ren di -mentos «sujos», obtidos por transac ções«subterrâneas» e/ou ilícitas, ou ainda in-troduzir em circuitos convencionais e le -gais capitais de origem duvidosa.

Podemos, abstraindo-nos de váriosconceitos sobre o tema, definir branquea -mento como toda e qualquer actividadefinanceira ou económica efectuada inten -cionalmente com o objectivo de branqueare/ou ocultar o produto de actividades ile-gais. Ou seja, a conversão, transferências,aquisição, detenção ou utilização de bens,direitos relativos a esses bens e/ou pro-duto resultado desses bens, que prove -nham de uma actividade criminosa ou daparticipação numa actividade dessa na-tureza com o objectivo de dissimular e/ouencobrir a verdadeira natureza, origem,localização, utilização, circulação ou pos -se desses bens, ou produto resultado des -ses bens com a intenção de fugir à acçãodas autoridades com vista a fruição futu-ra do produto assim tornado «lícito».

Independentemente da definição quese adopte, todas as definições de bran-queamento têm em comum os seguintesaspectos:

1 – Um processo;2 – Que tem como objectivo a oculta -ção de bens, capitais ou produtos;3 – Com a finalidade de lhes dar umaaparência final de legitimidade/lega -lidade.

2. As fases do branqueamento

Enquanto processo, o branqueamen -to passa necessariamente por fases, jáque a inserção de capitais de origem du-vidosa nos circuitos convencionais não éfeita de forma abrupta.

O branqueamento de capitais até serencarado como tal passa necessariamen -te por 3 (três) fases, embora recentemen -te alguns autores falem de uma 4.ª fase,a «segurança», reportando-se à activida -de que os líderes das organizações crimi -nosas têm de assegurar durante todo opro cesso de formação para não seremtambém defraudados.

1.ª – Colocação – A colocação con-siste na introdução dos bens, produtos oucapitais que se pretendem branquear nosistema económico-financeiro, utilizandoos mais diversos meios ou instrumentos.O branqueador utiliza as potencialidadesoferecidas por todo o sistema económi -co-financeiro para proceder à colocaçãodos bens, produtos ou capitais que pre-tende branquear, e não apenas no siste -ma financeiro. Isto é assim porque, na suagénese, designadamente após a Conven -

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 7

VIDA INTERNA

BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS Obrigações específicas dos Advogados

O CEF/OAA encerrou o seu 6.º Curso de Formação de Estagiários, no passado dia 18 de Janeiro, em cerimónia que decorreu noAnfiteatro Maria do Carmo Medina, na FDUAN. Durante a Cerimónia, o Bastonário, Dr. Hermenegildo Cachimbombo proferiu uma

palestra com o tema «Deveres dos advogados à luz da Lei de Branqueamento de Capitais», que reproduzimos.

ENCERRAMENTOVI CURSO

ção de Viena de 1988 sobre tráfico ilícitode estupefacientes e de substâncias psi-cotrópicas, e a criação do Grupo de Ac -ção Financeira Internacional (GAFI) na ci -meira de Paris de 1989 do G7 (então G5),o branqueamento de capitais reportava-seapenas ao crime procedente de tráfico deestupefacientes.

2.ª – Circulação – Esta fase é a quenormalmente exige mais especializaçãoe capacidade criativa. A circulação impli-cará um conjunto de procedimentos queprovoquem grande rotatividade de titula -ridade dos bens, com vista ao maior afas -ta mento possível entre a sua origem e for -ma de obtenção, e aquele que finalmenteficará na posse dos mesmos.

Esta fase preenche-se com a multipli -cação das operações, em mais que umpaís se possível, de forma a que, em casode investigação ou perseguição, as dissi -mulações realizadas possam frustar aprossecução dos intentos da justiça.

Nesta fase, com o intuito de interrom -per o «paper trail», recorre-se com algu-ma frequência a terceiros, como são oscasos das profissões liberais, mediado -res de seguros, advogados, solicitadores,contabilistas, bancários, etc. – alguns dosquais até há bem pouco tempo não tinhamqualquer obrigação na panóplia das leisdo branqueamento, permitindo-se desdelogo «oficiosamente» ocultar o verdadei -ro titular dos fundos investidos, aplicadosou depositados.

Quanto mais longa for esta fase, quan -to mais etapas tiver, quantos mais ordena -mentos jurídicos usar, melhor para o bran -queador.

A dissimulação da origem dos acti -vos é agora efectuada com recurso apro cessos mais complexos, nomeada -men te:

1 – Off-shore Banking;2 – Empresas Fictícias;3 – Empresas de fachada «écran»;4 – Negócios fictícios;5 – Contabilidade paralela em empre -sas com actividade regular;6 – Mistura de activos «sujos» com

activos «limpos» dentro de estrutu rasempresariais regulares.

3.ª – Integração – A terceira fase,constitui-se com a integração dos bense/ou dos valores na esfera patrimonial docriminoso a quem os valores são devidos.Completa-se quando os bens ou valoresilícitos surgem com a aparência de lícitose são usados livremente pelo criminoso,à frente de todos, muitas vezes até comelevada consideração social.

Alguns autores mencionam que a in -te gração pode repartir-se em três está-dios: o primeiro significaria um investimen -to a curto prazo, em meios de trans portee co municação; médio prazo, aquisiçãode companhias de fachada com recursoa empregados qualificados; longo prazo,em actividades inteiramente legais ou dein fluência política (apoios eleitorais), eco -nómica ou social.

Porém, o mais significativo sobre ain tegração é referir que ela se consolidaquando os bens ou valores obtidos ili ci -ta mente, como produto de um ou várioscri mes, são usados livremente sem le van -ta rem qualquer dúvida sobre a sua pro ve -niência.

3. Necessidade de prevenir e evitaro branqueamento de capitais

A protecção do sistema contra o bran -queamento de capitais encontra funda-mento, antes de tudo, numa relação decomplementaridade entre o interesse pú -blico, a segurança na economia e do sis-tema financeiro em particular, e, pela suagénese, na prossecução do princípio dagarantia da igualdade de oportunida des atodos os cidadãos.

Esta leitura permite uma compreen-são clara da importância do Governo nanecessidade de garantir um sistema finan -ceiro íntegro, com porte e sofisticação, quepermita afastar a desconfiança dos seusintervenientes por razões como o bran-queamento de capitais, de forma a que aformação e a captação da pou pança líci-ta, seja feita de um modo eficiente, regu-

lar e de acesso ao público em geral, semreceios de operações ilícitas e, com isso,o desenvolvimento económico e social.

O interesse público na formação dapoupança e da sua captação que, entreou tras coisas, justifica a defesa da con-fiança no sistema financeiro, e a protec -ção dos investidores/aforradores, na me -dida em que a Sociedade vive do sistemafinanceiro e do investimento, exige umadisciplina que regule eficazmente a segu-rança económico-jurídica das operaçõese proteja os intervenientes e as opera çõeslícitas no sistema financeiro perante dis-torções das suas expectativas que pos-sam afectar a sua confiança no sistemade poupança e investimento e na licitudedos seus negócios.

Isso exige, entre outras medidas, queseja acautelado o uso do sistema finan-ceiro e económico, tentando não só com -bater o crime por trás do branqueamen-to, tentando também não defraudar asex pectativas dos investidores e aforrado -res, evitando uma crise de confiança rui -nosa para o sistema financeiro, a eco no -mia e a própria sociedade.

O branqueamento de capitais tem con - sequências económicas e sociais signi-ficativas, principalmente em países comsistemas financeiros frágeis, resultandopor vezes em distorções do mercado, le -vando a que a economia, por vezes a se-gurança, e, em última instância, a socie da -de, sejam colocadas em perigo.

No sector financeiro, o branqueamen -to de capitais pode apresentar riscos acres - cidos e consideráveis, além do principal queé a imagem da instituição e a sua credibili -dade pública, sem dúvida um dos grandesactivos das entidades financei ras, «a mar -ca». Nessa conformidade, foram já nota-dos os seguintes efeitos ne gativos do en-volvimento em acções de branqueamento:

• Perda de negócios lucrativos;• Problemas de liquidez causadospe la súbita retirada de fundos;• Cancelamento de acordos de cor-respondência bancária;• Custos de investigações e multas;• Apreensão de activos;

8 • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

VIDA INTERNA

• Prejuízos em empréstimos;• Diminuição do valor das acções dasinstituições financeiras.

4. A Lei 34/11, de 12 de Dezembro,e os deveres dos Advogados

Em Angola, a questão do branquea-mento de capitais é tratada fundamental-mente por um diploma, a Lei 34/11, de 12de Dezembro.

Estão vinculadas ao regime estatuídona Lei 34/11, constituindo, por conse guin -te, o seu âmbito:

• Entidades que exerçam activida desde mediação imobiliária e de com pra evenda e revenda de imóveis; • Os construtores que procedem àven da directa de imóveis;• Instituições de crédito / socieda desfinanceiras / seguradoras / bolsas devalores / casinos / serviços de comer -cialização de fundos de capital de ris -co / entidades de investimento quecomercializem as suas unidades departicipação / concessionárias de ser -viço postal universal / compra e ven -da de imóveis / mediação mobiliária; • Lotarias / comerciantes de bens /téc nicos oficiais de contas / audito resexternos / transportadores de fundos/ consultores fiscais / notários / con-servadores de registos / advogados /solicitadores / profissionais indepen -dentes; • Vendedores de metais e pedras pre -ciosas com transacções em moedana cional que transaccionem em nu -me rários superiores a USD 15.000,00.

Sobre as entidades acima mencio na - das recaem algumas obrigações decor ren - tes do exercício da respectiva actividade:

• Obrigação de identificação; • Obrigação de diligência; • Obrigação de recusa; • Obrigação de conservação; • Origação de comunicação; • Obrigação de abstenção; • Obrigação de colaboração;

• Obrigação de segredo; • Obrigação de controlo; • Obrigação de formação.

O diploma em análise define e espe -ci fica cada uma destas obrigações, sen -do que todas elas estão relacionadas coma suspeita ou até mesmo a prevenção deactividades por parte de clientes que pos -sam dar origem ao crime de branquea-mento de capitais.

A supervisão e fiscalização do cum -pri mento das obrigações acima mencio na -das cabe a várias entidades, dependen doda natureza da instituição supervisionada1.

O artigo 43.º da Lei n.º 34/2011, de12 de Dezembro, dentre outros aspectos,consagra de forma inequívoca as seguin -tes regras:

• O regime de responsabilização dasentidades obrigadas;• A consagração da responsabilida -de transgressional das pessoas co -lectivas;• Responsabilidade solidária: (em no -

me e no interesse da respectiva pes -

soa colectiva).

5. Obrigações específicas dos Advo -gados e da Ordem dos Advogados

Em Angola o exercício da Advocaciaé regulado pela Lei 1/95, de 6 de Janeiro,mas para que se possa ter uma visão ca -bal do exercício da Advocacia em Ango-la, fundamentalmente no que diz respeitoaos deveres dos Advogados, temos deter em conta os Estatutos da Ordem dosAdvogados.

Nos termos do artigo 30.º da Lei 34//11, e na senda do que já foi referido, osAdvogados têm a obrigação de comuni -car à Unidade de Informação Financeiratodas as operações que forem suspeitas,ou que indiciarem o crime de branquea-mento de capitais.

Este dever de informação sofre algu-mas restrições, uma vez que não deve serexercido em todos as actos, nem em to -das as circunstâncias, sob pena de ser

pos to em causa um dos basilares princí-pios deontológicos do exercício da Ad vo -cacia, o segredo profissional, entre nóscon sagrado no artigo 65.º dos Estatutosda Ordem dos Advogados. O n.º 4 do ar-tigo 65.º dos Estatutos da OAA auxiliariana resolução deste problema, na medidaem que apresenta os factos que podemoriginar a cessação do segredo profissio -nal, mas fá-lo de maneira muito abran gen -te e abstracta, ao fazer referência à digni -dade e defesa dos direitos e interesses doAdvogado, conceitos muito maleáveis re -la tivamente aos quais não existe unanimi -dade sobre o seu conteúdo.

Este problema é em parte resolvidopelo disposto no número 2 do artigo 3.ºda Lei 34/11, ao apresentar as situaçõesem que não há o dever de informação, quesão as seguintes:

• As informações obtidas no contex -to da avaliação da situação jurídica docliente, no âmbito da consulta jurídica;• No exercício da sua missão de de-fesa ou representação do cliente numprocesso judicial, ou a respeito de umprocesso judicial, incluindo o aconse -lhamento relativo à maneira de pro -por ou evitar um processo;• As informações que sejam obtidasantes, durante ou depois do processo.

Como já fizemos referência, as entida -des descritas no artigo 3.º da Lei n.º 34//11, dentre elas os Advogados, estão su -jei tas a um conjunto de deveres já men -cio na dos que constituem os deveres maisim por tantes ligados à matéria que aqui seaborda.

Estes deveres colocam-se em váriassituações no exercício da advocacia, no -meadamente nas circunstâncias seguintes:

• Compra e venda de imóveis e par-ticipações sociais;• Gestão de fundos, valores mobiliá -rios ou outros activos de diferente na -tureza;• Gestão de contas bancárias e con -tas poupança;• Organização de contribuições des -

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 9

tinadas à criação, exploração ou ges -tão de sociedades; • Criação, exploração ou gestão depes soas colectivas ou centros de in-teresse colectivos sem personalida -de jurídica;• Compra e venda de estabelecimen -tos comerciais;• Prestadores de serviços a socie da -des, a outras pessoas colectivas (cfr.al. m) do artigo 2.º).

Em todas estas situações, os Advo -ga dos estão vinculados aos deveres con -sagrados no artigo 4.º, como consequên -cia do que vem estabelecido no artigo n.º3, al. g), que sujeita os Advogados ao re -gi me estabelecido na referida lei.

Obrigação de identificação (art. 5.º)

– identificação dos seus clientes, dos seusrepresentantes, bem como do beneficiá -rio efectivo do negócio, mediante a apre-sentação de documento válido. Este deverde identificação nasce a partir do momen -to em que os clientes ou seus represen-tantes estejam diante de uma das se guin -tes situações:

a) Estabeleçam relações de negócio;b) Efectuem transacções de montan -te igual ou superior, em moeda na-cional, ao equivalente a USD 15.000(quinze mil dólares americanos), inde -pendentemente de a transacção serrealizada através de uma única ope -ra ção ou de várias operações que apa -rentem estar relacionadas entre si;c) Surjam suspeitas de que as opera -ções, independentemente do seu va -lor, estejam relacionadas com o cri -me de branqueamento de capitais oude financiamento de terrorismo;d) Existam dúvidas quanto à autenti-cidade ou à conformidade dos dadosde identificação dos clientes.

A verificação da identidade do clien tee, se aplicável, dos seus representan tese do beneficiário efectivo, deve ter lugarno momento em que seja estabelecida arelação de negócio ou antes da realizaçãode qualquer transacção ocasional.

Obrigação de diligência (art. 7.º) – noexercício desta obrigação as entidades vin -culadas, no caso, os advogados, devem:

a) Obter informação sobre a finalida -de e a natureza pretendida da rela -ção de negócio;b) Obter informação relativa a clien -tes que sejam pessoas colectivas ouentidades sem personalidade jurídi-ca, que permita compreender a estru -tura de propriedade e de controlo docliente;c) Obter informação, quando o perfilde risco do cliente ou as característi -cas da operação o justifiquem, sobrea origem e os destinos dos fundosmovimentados no âmbito de uma re -lação de negócio ou na realização deuma transacção ocasional;d) Manter um acompanhamento con -tínuo da relação de negócio a fim deassegurar que tais operações sãocon sistentes com o conhecimentoque a instituição possui do cliente, dosseus negócios e do seu perfil de ris -co, incluindo, se necessário a ori gemdos fundos;e) Manter actualizados os elementosde informação obtidos no decurso darelação de negócio.

Obrigação de recusa (art. 11.º) – emcaso de incumprimento dos requisitoscon sagrados nos artigos 5.º e 7.º, os Ad -vogados devem:

a) Recusar o início da relação de ne -gócio;b) Recusar a realização da tran sac -ção; ouc) Extinguir a relação de negócio.

Obrigação de conservação (art. 12.º)

– as entidades sujeitas devem conservarpor um período de 10 anos, a partir do mo - mento em que for efectuada a tran sac ção,ou após o fim da relação de ne gó cio, nomínimo os seguintes documentos:

a) Cópias dos documentos ou outrossuportes tecnológicos comprovati -

vos do cumprimento da obrigação deiden tificação e de diligência;b) Registo de transacções que sejamsuficientes para permitir a reconstitui -ção de cada operação, de modo a for -necer, se necessário, prova no âmbi -to de um processo criminal;c) Cópia de toda a correspondênciaco mercial trocada com o cliente;d) Cópia das comunicações efectua -das pelas entidades sujeitas à UIF eoutras autoridades competentes.

Obrigação de comunicação (art. 13.º)

– as entidades sujeitas (Advogados) de -vem, por sua própria iniciativa, informar,de imediato a UIF sempre que saibam,suspeitem ou tenham razões suficientespara suspeitar que teve lugar, está em cur -so ou foi tentada uma operação suscep-tível de estar associada à prática do crimede branqueamento de capitais ou de finan -ciamento do terrorismo ou de qualqueroutro crime. Estas entidades devem tam-bém comunicar à UIF todas as transac -ções em numerário igual ou superior, emmoeda nacional, ao equivalente a 15.000dólares americanos.

Obrigação de abstenção (art. 15.º) –sempre que se constate que uma determi -nada operação evidencia fundada suspei -ta e seja susceptível de constituir crime,as entidades sujeitas, para além das obri -ga ções decorrentes do artigo 5.º da pre-sente lei, devem abster-se de executarquais quer operações relacionadas com opedido do cliente, e aguardar pela decisãocomunicada por escrito, ou por qualqueroutro meio cuja informação seja posterior -mente confirmada por escrito, pela UIF.

Obrigação de cooperação (art. 16.º)

– as entidades sujeitas (Advogados) de -vem prestar prontamente à UIF e autori-dades de supervisão e fiscalização men-cionadas no artigo 35.º, quando por estassolicitadas, fornecendo-lhes as informa -ções sobre certas operações realizadaspelos clientes e apresentar os documen-tos relacionados com determinadas ope -rações.

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VIDA INTERNA

Dever de sigilo (art. 17.º) – os Ad -vo gados e os membros dos respectivosór gãos sociais, ou que nelas exerçam fun - ções de direcção, de gerência ou de che -fia, os seus empregados, os mandatá riose outras pessoas que lhes prestem ser vi -ço a título permanente, temporário ou oca -sio nal, não podem revelar ao cliente, ou aterceiros, que transmitiram as comunica - ções legalmente devidas ou que se encon -tra em curso uma investigação criminal.

Obrigação de controlo (art. 19.º) – to -das as entidades sujeitas, incluindo na tu -ralmente os Advogados, devem dotar-sede políticas, processos e procedimentos,nomeadamente em matéria de avaliaçãoe gestão de risco, auditoria e controlo in-terno adequados para verificar o cumpri-mento dos mesmos, bem como procedi -mentos adequados para assegurar critériosexigentes de contratação de empregados,de forma a permitir-lhes que, em qualqueraltura, estejam aptos a cumprir as obriga -ções preconizadas pela presente lei.

Obrigação de formação (art. 20.º) –as entidades sujeitas devem garantir a for -mação adequada aos seus empregadose dirigentes, visando o cumprimento dasobrigações impostas pela presente lei eregulamentação em matéria de preven çãoe repressão de branqueamento de capi-tais e financiamento de terrorismo.

São também aplicáveis aos Advoga-dos, no exercício da profissão, os deve resconstantes nos artigos 62.º e seguintesdos Estatutos da Ordem dos Advogadosde Angola.

Desde que haja fortes suspeitas daocorrência de actos que traduzam o bran -queamento de capitais por parte da enti-dade a que o Advogado irá prestar ser -viço, cremos que este poderá com baseno artigo 69.º dos Estatutos da Ordem dosAdvogados recusar o patrocínio, desdeque este seja considerado motivo justifi -cativo. A partir do momento em que sur -ge a suspeita, há o dever de recusa darea lização da operação, e de abstenção deaconselhamento, sob pena de consi de - rar-se o advogado comparticipante, co-au -

tor ou cúmplice do crime de branquea-mento.

À Ordem dos Advogados compete afiscalização e supervisão do cumprimen-to das obrigações constantes do artigo 3.ºda Lei 34/11, relativamente aos Advoga-dos, cabendo por isto a esta institui ção enos termos dos seus estatutos aplicar san -ções aos Advogados que violem as obri-gações estatuídas no diploma em aná li -se. Este poder resulta essencialmente dosartigos 74.º e 75.º dos Estatutos da Or -dem dos Advogados.

As obrigações da Ordem dos Advo-gados resultam de uma leitura combina-da dos artigos 35.º, n.º 2, al d), e 36.º,nos termos dos quais se estabelecem asseguintes competências:

a) Regulamentar as condições deexer cício, as obrigações de informa ção eesclarecimento, bem como os instru-mentos, ou mecanismos e as formalida -des de aplicação necessá rios ao efectivocumprimento das obri gações pre vistasna presente lei, sempre com observânciados princípios da legalidade da necessi-dade, da adequação e da proporcionali-dade;

b) Fiscalizar o cumprimento das nor-mas constantes da presente lei e das nor-mas regulamentares emitidas pe las au-toridades de supervisão e de fis calização;

c) Instaurar e instruir os respectivosprocedimentos transgressionais e, con for -me o caso, aplicar ou propor a aplicaçãode sanções;

d) Cooperar e partilhar informaçãocom outras autoridades competen tes eprestar assistência em investigações, pro - cedimentos transgressio nais ou proces-sos judiciais relativos ao branqueamentode capitais, ao financiamento do terroris-mo ou aos cri mes subjacentes sempreque tal for solicitado.

Conclusão

Aceita-se que o combate ao bran quea - mento, designadamente através da preven -ção e da dissuasão, possa constituir um

dos meios mais eficazes de re primir a cri -minalidade mais grave e organizada, bemcomo de evitar e perseguir as tipologias,tendências e padrões das actividades debranqueamento.

E, como sempre, é preferível apostarna pedagogia, em acções de prevençãoou outras de similar natureza ou alcance;e somente caso estas ou aquelas nãofuncionem, então sim, lançar persegui çãoaos autores dos ilícitos, de modo legíti-mo, por forma adequada e proporciona-da, consubstanciada em acções de repres -são diversas.

Aos Advogados, enquanto operado -res do Direito, são acometidas responsa -bilidades acrescidas no combate ao bran -queamento de capitais nas suas maisvariadas formas; este papel resulta funda -mentalmente dos meandros do exercícioda advocacia, que, nalgumas situa ções,co locam o Advogado em cenário de imi-nente branqueamento de capitais.

No entanto, dada a especificidade daprofissão, o cumprimento dos deveres deidentificação e de informação, entre ou tros,deve ser sempre mediado pela Or dem –da forma como melhor se clarifica rá emsede da regulamentação da Lei 34/11.

Notas

1 A supervisão das instituições financeiras ban -cárias e não bancárias referidas no número 2do artigo 3.º e n.º 1 do artigo 5.º ambos da Lei13/05, Lei das instituições financeiras (LIF),cabe ao BNA. A supervisão das instituições fi-nanceiras não bancárias constantes no n.º 2do artigo 5.º da LIF, cabe ao Instituto de Su-pervisão de Seguros. À comissão de mercadode capitais cabe a supervisão das Instituiçõesfinanceiras não bancárias, designadas no n.º3 do artigo 5.º da LIF.

Bibliografia

Amaral, Ricardo José de Almeida – O Bran-

queamento de capitais e a derrogação do se -

gredo bancário – implicações da má fé nas vá -

rias responsabilidades, Verbo Jurídico, 2007.Braguês, José Luís – O Processo de Branquea -

mento de Capitais, Edições Húmus, WorkingPapers n.º 2/2009, OBEGEF – Observatório deEconomia e Gestão de Fraude.

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 11

O Programa Direito para Todos, iniciativa do Conselho Pro -vin cial de Luanda, que levou aos cidadãos a assistência jurídi-ca gratuita, teve grande receptividade quer da parte destes querda parte dos advogados.

O Programa repercutiu-se tão positivamente que iniciativasdo género foram realizadas em várias províncias sob responsa -bi lidade dos respectivos Conselhos Provinciais (nomeadamenteHuambo, Huíla e Benguela).

O Programa vai agora encerrar a sua 1.ª fase experimental

(seis meses) em 30 de Março de 2013, numa das escolas doLar go da Independência, em Luanda.

Após esta 1.ª fase experimental, o Direito Para Todos pros se - guirá noutro formato. Em vez de decorrer em lugares públicos epara os cidadãos em geral, é intenção do CP de Luanda levar aassistência gratuita à população prisional nas cadeias.

O Conselho Nacional aprovou já esta iniciativa e pretende queela se estenda a todo o país, contando para isso com os Conse -lhos Provinciais.

12 • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

VIDA INTERNA

PROGRAMA «DIREITO PARA TODOS»Referências positivas na Comunicação Social

Total de cidadãos atendidos: 41 – Masc. 19 / Fem. 22

Questões cíveis: 11 Masc. 5Fem. 6

Questões criminais: 6Masc. 4Fem. 2

Questões familiares: 7Masc. 1Fem. 6

Questões laborais: 10Masc. 8Fem. 2

Outras: 7Masc. 4Fem. 3

Idade dos atendidos:20 anos: 7 | 20 aos 30: 15 | 30 aos 40: 9 | 40 aos 50: 7 | 50 aos 60: 1 | 60 aos 70: 2

Conselho Provincial da Ordem dos Ad vo -gados de Angola, no Huambo, aos 11de Janeiro de 2013

A Secretária, Cidalina Pombal

RELATÓRIO-SÍNTESE DA PRIMEIRA EDIÇÃO DO PROGRAMA «DIREITO PARA TODOS»

Aconselhamento Jurídico gratuito rea lizado na Escola do 1.º ciclo n.° 34, no Huambo, no dia 22/12/2012

RELATÓRIO-SÍNTESE DA PRIMEIRA EDIÇÃO

DO PROGRAMA «DIREITO PARA TODOS»

Relatório da Assistência Jurídica na Huíla

A sessão estendeu-se das 09 às 12ho ras

Advogados envolvidos: 9Advogados – 3 Advogados Estagiários – 6

Casos atendidos:Área de Família:

7 casos, sendo 5 mulheresCível:

3 casos, sendo 1 mulher

O Programa Direito para Todos, iniciativa do Conselho Provincial de Luanda, tem levado junto dos cidadãos assistência jurídica gratuita. Os cidadãos são aconselhados

nos locais por advogados, que a Ordem dos Advogados mobiliza, sobre os seus direitos. O programa tem tido grande adesão em Luanda e nas Províncias, e tem vindo

a ser referido positivamente na Comunicação Social.Esta semana, o Programa Direito para Todos foi referido pelo Provedor da República

e Presidente da Associação dos Ombudsmen ou Provedores de Justiça de África, dr. Paulo Tchipilica, em entrevista ao Novo Jornal, na qual faz uma abordagem do quadro

da Justiça no país e, ao evocar a defesa dos direitos e liberdades dos cidadãos, apontou oPrograma como «uma iniciativa louvável que a Ordem dos Advogados tem levado a cabo, de

realizar consultas gratuitas aos cidadãos e já é um bom passo para haver, nos próximos temposalgum acordo», referindo-se a acordos entre as associações que trabalham na defesa dos direitos

e liberdades dos cidadãos e a própria Provedoria.

Triénio 2012-2014

PROGRAMA

Data: 28 de Novembro de 2012, quarta-feira

I. Acto eleitoral

• 07:00 – Chegada da Delegação provenien -te de Luanda, 1.º serviço, Companhia TAAG• 08:00 às 8:30 – Pequeno-almoço no res -taurante Laura Services, com todos os advo-gados locais• 08:45 – Partida para o Anfiteatro da Univer -sidade 11 de Novembro• 09:00 às 12:00 – Acto eleitoral• 12:00 às 12:30 – Apuramento dos resulta-dos Eleitorais e divulgação dos resultados• 12:45 às 13:45 – Almoço

II. Acto de Tomada de Posse e entrega de títulos profissionais

• Das 14:00 às 16:00– Apresentação da mesa de honra:

Dr. Zé Manuel / Dr. Bumba– Palavras de boas-vindas:

Dr. Francisco Luem ba – Empossamento dos membros do ConselhoProvincial eleito pelo Bastonário da Ordem dosAdvogados– Momento Cultural– Outorga de Cédula Profissional aos advoga -dos e advogados estagiários, pelo Presidenteeleito e pelo Bastonário– Discurso do Presidente do Conselho Pro vin -cial– Discurso do Bastonário– Fim do Acto

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 13

VIDA INTERNA

ELEIÇÃO E CONSTITUIÇÃO DO CONSELHO PROVINCIAL DE CABINDA

Em eleições provinciais realizadas no dia 28 de Novembro do ano passado, os Advogados de Cabinda constituíram

o Conselho Provincial de Cabinda.O processo eleitoral decorreu sem qualquer problema

e foi votada a lista única, encabeçada pelo dr. Arão Bula Tempo,que é agora o Presidente do Conselho Provincial de Cabinda.Lembramos que a Província tinha, na altura, 15 Advogados.

Para ficar em registo da Gazeta mostramos o Programa do eventoe a Acta Eleitoral

ACTA DA ASSEMBLEIA ELEITORAL

Aos 28 dias do mês de Novembrode 2012, na Cidade de Cabinda, no An -fiteatro da Universidade 11 de Novem -bro, sita à Rua Comendador HenriqueSerrão, s/n, realizou-se a AssembleiaGeral para a eleição e constituição doConselho Provincial de Cabinda.

Concorreu ao pleito eleitoral ape-nas uma lista, encabeçada pelo SenhorDr. Arão Bula Tempo e integrada pelosDrs. José Zau Vuluquizi, Júlio EduardoBan za Sambo, André Mateus da SilvaBumba e Marcos Evangelista Massun-go.

A Assembleia Eleitoral foi declara -da aberta pelo Coordenador da Co mis -são Eleitoral, pelas 09 horas, estandoregistados 15 eleitores.

No decurso da votação, apresen-tou-se para exercer o direito de voto,o Senhor Dr. José Manuel Gimbi, ten -do-se constatado que o seu nome nãofigurava no caderno eleitoral, pelo quea Comissão Eleitoral deliberou a in clu - são do seu nome, uma vez que pos suia sua inscrição desde 20 de Novem-bro de 2012, conforme Cartão de Iden -ti ficação apresentado.

A Comissão Eleitoral deliberou ain -da, por força do n.° 3, do artigo 3.°, doRegulamento Eleitoral da Ordem dosAdvogados de Angola, a proibição doexercício do direito de voto aos Advo-

gados não Licenciados em Direito (Ad -vogados Populares) e que, ainda as sim,haviam sido incluídos no Caderno Elei -toral.

A votação decorreu dentro da nor -malidade e foi dada por encerrada à ho -ra prevista, e imediatamente efectua -do o escrutínio, tendo sido apurados osseguintes resultados:

a) Número de votantes – 9b) Número de votos a favor – 8c) Número de votos contra – 1d) Número de votos válidos – 9e) Número de votos nulos – 0f) Número de votos brancos – 0g) Número de votos por corres pon -dência – 0

Assim, foi declarada vencedora aLista Única, encabeçada pelo SenhorDr. Arão Bula Tempo, com 8 votos a fa -vor, e 1 contra.

Recomenda-se ao Conselho Pro -vincial ora eleito, no sentido de apli cara multa devida aos Advogados que nãocumpriram com o dever de votar, casonão venham apresentar qualquer justi-ficação, nos termos do n.° 4 do arti go12.° dos Estatutos da OAA.

Nada mais havendo a tratar, foi aassembleia eleitoral declarada encer-rada e lavrada a presente acta, que vaiassinada pelos Membros da ComissãoEleitoral.

A Comissão Eleitoral

Dr. Arão Bula Tempo, presidente do C. P. Cabinda.

Dr. Manuel Gonçalves Dr. Luís Cortes Martins Prof. Dr. Dário Moura Vicente

Dr. Lino Diamvutu Prof. Dr. José António Semedo Prof. Dra. Sofia Vale

14 • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

ARBITRAGEM INTERNACIONAL

I CONFERÊNCIA INTERNACIONALSOBRE ARBITRAGEM

• ABERTURADr. Rui Mangueira (Ministro da Justiça)

• 9:00 – 1.º PAINELModerador: Dr. Carlos Feijó (Universidade Agostinho Neto)Oradores:Dr. Manuel Gonçalves (MG – Advogados)

– A arbitragem em acção: desenvolvimentos recentes em

Angola

Dr. Luís Cortes Martins (Serra Lopes, Cortes Martins & Asso -ciados) – A arbitragem em acção: desenvolvimentos recentes em

Portugal

Debate

• 10:00 – 2.º PAINELPresidente e Moderador: Dr. Evaristo Solano (Ordem dos Ad-

vogados de Angola)Oradores:Prof. Doutor Dário Moura Vicente (Faculdade de Direito da Uni -

versidade de Lisboa; Serra Lopes, Cortes Martins & Asso -ciados) – A convenção de arbitragem: problemas actuais

Dr. Lino Diamvutu (FDUAN, ENSA) – A constituição do Tribunal Arbitral e as dificuldades que

levanta

Debate

• 11:00 – PAUSA PARA CAFÉ

• 11:30 – 3.º PAINELPresidente e Moderador: Representante da Faculdade de Di-

reito da Universidade Agostinho NetoOradores:Prof. Dr. José António Semedo (Universidade Gregório Se me -

do) – O Processo Arbitral: entre autonomia e legalidade

Prof.ª Dra. Sofia Vale (FDUAN) – A Decisão Arbitral e a sua Impugna ção

Debate

• 13:00 – ENCERRAMENTODr. Rui Ferreira (Presidente do Tribunal Constitucional)

Coordenadores: Dr. Manuel Gonçalves (MG – Advogados),Dr. Luís Cortes Martins (SLCM), Dr. Jayr Fernandes (OAA)

PROGRAMA – 04/12/2012 – PALÁCIO DA JUSTIÇA – LUANDA

Dr. Manuel Gonçalves Dr. Luís Cortes Martins Prof. Dr. Dário Moura Vicente

Dr. Lino Diamvutu Prof. Dr. José António Semedo Prof. Dra. Sofia Vale

� Manuel Gonçalves | Advogado

� Sofia Vale | Professora Universitária

� Lino Diamvutu | Advogado

Nos dias que correm, a arbitragem voluntária vem-se cadavez mais afirmando como uma alternativa credível e eficaz, faceaos tribunais judiciais, para a resolução de litígios, tendo parti cu - lar relevância quando estão em causa contendas de carácter co - mercial, em muitos casos oriundas de contratos internacio nais.

Face ao crescimento económico do país, o mundo interro-ga-se se o Estado Angolano é amigo da Arbitragem. Importa re -ferir que Angola tem, desde 2003, uma lei inteiramente dedicadaà arbitragem voluntária, a Lei n.º 16/03, de 25 de Julho. Foramainda aprovados pelo Governo o Decreto n.º 4/06, de 27 de Feve -reiro, que define o regime de outorga das autorizações adminis -trativas para a criação de Centros de Arbitragem e a Re soluçãon.º 34/06, de 15 de Maio, reafirmando o engajamento do Gover -no na Arbitragem como meio de solução de litígios dis poníveis.Por conseguinte, pode-se afirmar que o país está cla ra mente apos -tado em se tornar num Estado amigo da Arbitragem. Os próximospassos hão-de ser, por um lado, a ratificação por Angola dasprincipais convenções internacionais em matéria de arbitragem e,por outro lado, a criação de condições para que um maior nú me -ro de arbitragens tenha lugar em Angola, só as sim sendo possí -vel «testar» a bondade da lei angolana de arbitragem voluntária.

O aumento da confiança do empresariado angolano, dos in -vestidores estrangeiros, e das instituições públicas e cidadãos naarbitragem voluntária passa também pelo desenvolvimento da ar -bitragem institucionalizada, através da criação em Angola de cen - tros de arbitragem, cuja credibilidade, independência, impar ciali -dade e competência os erijam como referências internacio nais.

Uma vez que a arbitragem se pode tornar um assunto com-plexo para quem não esteja acostumado a lidar com as ques -tões práticas que ela coloca, optámos por apresentar vinte e seisquestões com que qualquer interessado, estudante, potencial uti -lizador ou parte numa arbitragem se deparará, tentando dar-lhesuma resposta simples e de fácil apreensão.

Trata-se de uma brochura com questões elementares, insu -ficiente para os profissionais de direito.

E para os empresários ou cidadãos que precisem de definirmodelos de resolução de conflitos ou de recorrer aos tribunaisar bitrais, não dispensa o contacto com os profissionais de direi to.

Com a disseminação de informação clara sobre arbitra gem,esperamos contribuir para o desenvolvimento da cultura da arbi -tragem em Angola.

1. O QUE É A ARBITRAGEM?

A arbitragem é uma forma alternativa de resolver diferendossem recurso aos tribunais judiciais. As partes desavindas con-cordam em que o diferendo seja solucionado por árbitro(s) porelas indicado(s), cuja decisão final é vinculativa para as partese tem a força executiva das decisões dos tribunais judiciais.

2. COMO SE DISTINGUE A ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA DAARBITRAGEM NECESSÁRIA?

A arbitragem é voluntária quando a decisão de submeter umlitígio a arbitragem resulta da vontade das partes litigantes. Aocontrário, a arbitragem é necessária quando a lei impõe o recur -so ao foro arbitral para a resolução de determinadas controvér-sias.

3. QUE VANTAGENS TEM A ARBITRAGEM EM RELAÇÃO ÀRESOLUÇÃO DE LITÍGIOS PELOS TRIBUNAIS JUDICIAIS?

A grande vantagem da arbitragem reside na celeridade dopro cesso arbitral e na rapidez com que as partes litigantes ob -têm uma decisão final. De facto, no processo arbitral as partespodem definir qual o prazo em que a decisão deve ser proferi-da e, se nada acordarem, essa decisão deverá ser emitida noprazo máximo de seis meses. Uma vez que é corrente as partesrenunciarem antecipadamente à possibilidade de recurso da de-cisão arbitral, evitam-se as delongas comuns às decisões judi-ciais (que passam anos a aguardar a decisão do respectivo recur -so pelos tribunais superiores).

Outra grande vantagem, por regra apontada pelos utiliza - do res, é a possibilidade de escolherem os árbitros, podendo as -sim selecionar os melhores julgadores para o seu litígio, quer emtermos técnicos, quer em termos pessoais.

A arbitragem comporta ainda outras vantagens, tais comoa possibilidade de os árbitros decidirem com base na equidade,o facto de os árbitros terem conhecimentos técnicos especia li za -dos que os tornam mais habilitados para decidir sobre a ques -tão em litígio, o sigilo que caracteriza o procedimento e a deci -são ar bitral, bem como a flexibilidade inerente a todo o processoque permite às partes escolherem, por exemplo, o local da ar -bi tra gem e a lei aplicável.

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 15

ARBITRAGEM INTERNACIONAL

26 QUESTÕES SOBRE ARBITRAGEM

4. O QUE DISTINGUE A ARBITRAGEM DA MEDIAÇÃO E DACONCILIAÇÃO?

A mediação, a conciliação e a arbitragem são métodos de re -solução de litígios que se apresentam como alternativos face àutilização dos tribunais judiciais.

Estes três métodos distinguem-se quanto ao grau de inter-venção do terceiro imparcial (mediador, conciliador ou árbitro) naprocura de uma solução para o litígio. Na mediação, as par tesescolhem um mediador para facilitar o consenso que preten-dem atingir, que ajuda a identificar os interesses e as necessi-dades inerentes ao conflito, para que as partes, por si pró prias,encontrem uma solução. Na conciliação, o conciliador propõeàs partes soluções alternativas para resolver a controvérsia, queas partes aceitarão ou não, até que um consenso seja obtido.Por regra, a conciliação é feita por quem tem o poder decisório,ou seja, o árbitro ou o juiz. Esta característica permite uma claradiferenciação da mediação. Já na arbitragem a decisão do litígiocabe exclusivamente ao(s) árbitro(s) designado(s) pelas partes,que poderão decidir com base na lei de determinado país (ou paí -ses) ou com base na equidade, consoante o que as partes ha -jam previamente definido.

5. PODE OBRIGAR-SE A OUTRA PARTE A USAR A ARBI-TRAGEM?

Ninguém pode ser obrigado a usar a arbitragem (a chama-da arbitragem voluntária) ao invés de recorrer aos tribunais judi -ciais. Não obstante, o Estado pode determinar legalmente quede terminadas matérias deverão ser sempre submetidas a arbitra -gem (a chamada arbitragem necessária).

Assim, para que se possa recorrer à arbitragem é neces sárioque as partes tenham acordado contratualmente em utili zar estemétodo de resolução de conflitos. Como em qualquer outro con -trato, as partes comprometem-se a respeitar os compromissosnele assumidos, pelo que se posteriormente uma das partes pre -tender lançar mão do foro judicial ao invés do foro arbitral não opoderá fazer (a não ser, claro, que haja mútuo acordo em revogara convenção arbitral). Deste modo, se um dado contrato contiveruma cláusula compromissória, não pode uma das par tes pres -cindir da arbitragem e intentar uma acção judicial, por quanto semantém vinculada ao foro arbitral que ela própria escolheu.

6. QUE DESVANTAGENS PODE TER A ARBITRAGEM?

Uma vez que o processo arbitral é muito célere, as partessão chamadas a custear todas as despesas a ele inerentes numcurto espaço de tempo, designadamente as despesas com a de -signação dos árbitros e advogados e os custos do processo atéà prolação da sentença arbitral.

A arbitragem pode também não ser o meio mais adequadopara a resolução de litígios entre pequenas empresas e/ou rela-tivos a contratos de baixo valor, uma vez que as partes poderãonão estar preparadas para suportar o esforço financeiro que aar bitragem exige.

Quando se opta pela arbitragem institucional é necessárioescolher uma instituição fidedigna, credível, competente e isen-ta, de modo a assegurar que o princípio da igualdade das partesno processo é efectivamente observado. Isto é particularmenterelevante quando estamos perante litígios que opõem os particu -lares ao Estado.

7. COMO SE DISTINGUE A ARBITRAGEM INSTITUCIONALDA ARBITRAGEM AD HOC?

A arbitragem institucional é aquela em que o processo de -corre perante uma instituição de arbitragem devidamente acre -di tada pelo Estado em que essa instituição tem a sua sede. Tema vantagem de disponibilizar às partes uma panóplia de regrase procedimentos previamente fixados (e já testados) relati vos àcondução do processo arbitral, mas comporta normalmen te cus-tos mais elevados do que a arbitragem ad hoc.

A arbitragem ad hoc é conduzida por um tribunal arbitralcons tituído especialmente para um dado litígio, sendo em regrautilizada quando as partes, advogados e árbitros são mais ex-perientes. Tem a vantagem de introduzir maior flexibilidade nasregras do processo (que são desenhadas à medida do litígio) ede permitir uma redução dos custos da arbitragem.

8. QUAL A RELEVÂNCIA DA DISTINÇÃO ENTRE ARBITRA -GEM NACIONAL E ARBITRAGEM INTERNACIONAL?

Diz-se nacional (ou doméstica) a arbitragem que apenas temconexão com um Estado. É internacional (ou transnacional) a ar -bitragem que (i) põe em jogo interesses do comércio interna-cional, (ii) embora não pondo em jogo interesses do comércioin ternacional, tem por objecto um litígio que apresenta laços ju-ridicamente relevantes com mais de um Estado, e (iii) aquelaque tendo por objecto um litígio que se insere exclusivamente naesfera social de um Estado é realizada noutro Estado.

A classificação de uma arbitragem como nacional ou inter -na cional é importante na medida em que tem sempre de se atri -buir uma «nacionalidade» à arbitragem, «nacionalidade» essa quereleva designadamente para efeitos de (i) determinação da leique regula a arbitragem, (ii) determinação do tribunal judicial quetem jurisdição sobre o procedimento arbitral e (iii) identificaçãodo procedimento a ser seguido para a execução da sentença ar-bitral, pois normalmente uma sentença proferida internamente émais facilmente executável do que uma proferida no estran gei -ro.

16 • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

ARBITRAGEM INTERNACIONAL

9. COMO SE DISTINGUE A CLÁUSULA COMPROMISSÓ RIADO COMPROMISSO ARBITRAL?

Quando as partes acordam em prescindir do foro judicial esubmeter os litígios que as opõem ao foro arbitral, elas subscre -vem uma convenção de arbitragem, que pode ter a forma ou decláusula compromissória ou de compromisso arbitral.

A cláusula compromissória é uma cláusula inserida numdeterminado contrato onde as partes convencionam que os lití-gios oriundos desse contrato serão resolvidos por arbitragem,sendo subscrita antes da verificação de qualquer litígio concre-to. O compromisso arbitral consiste num contrato autónomo,ce lebrado posteriormente ao surgimento de um litígio entre aspartes, no qual estas acordam em submetê-lo a arbitragem,definindo as condições e termos em que essa arbitragem terálugar. Note-se que, ainda que as partes tenham já submetido umlitígio perante um tribunal judicial, estas podem sempre, enquan -to a decisão judicial não for proferida, optar pela arbitra gem, bas -tando para tanto que subscrevam um compromisso arbitral.

10. COMO SE DEVE REDIGIR UMA CLÁUSULA COMPRO-MISSÓRIA?

Se as partes optarem pela arbitragem ad hoc ao invés da ar -bitragem institucionalizada torna-se mais importante que a cláu -sula compromissória seja elaborada de forma completa. Umacláusula compromissória bem elaborada deve abordar pelo me -nos cinco aspectos fundamentais: (i) sede da arbitragem, (ii) nú -mero de árbitros, (iii) forma da designação dos árbitros e de iní -cio do processo arbitral, (iv) se a decisão dos árbitros terá porbase o direito constituído (e de que país) ou a equidade e (v) alíngua do processo arbitral.

Caso as partes optem pela arbitragem institucionalizada, elasdeverão adoptar o modelo de cláusula compromissória dispo -nibilizado pela instituição de arbitragem a que recorrem, que jácontém todas as indicações necessárias para o desenrolar da ar -bitragem.

Sugerimos dois modelos de cláusula compromissória paraarbitragens ad hoc a que a LAV se aplique:

CLÁUSULA – MODELO 1: Arbitragem 1. Todas as questões emergentes do presente Contrato ouda sua execução serão dirimidas por arbitragem, nos termospre vistos na Lei n.º 16/03, de 25 de Julho, devendo os ár-bitros decidir de acordo com a equidade e sem recurso. 2. O tribunal arbitral será composto por um único árbitro,designado por comum acordo das partes ou, no caso deelas não chegarem a acordo, pelo Presidente da Ordem dosAdvogados de Angola, no prazo de 30 (trinta) dias a contarda notificação para arbitragem.

3. A arbitragem terá lugar em Luanda, decorrendo o pro ces -so arbitral em língua portuguesa.

CLÁUSULA – MODELO 2: Resolução de Diferendos 1. Os eventuais diferendos que possam surgir entre as par -tes em matéria de aplicação, interpretação ou integração dasregras por que se rege este contrato serão resolvidos porarbitragem. 2. O Tribunal Arbitral será composto por três membros, umdesignado por cada parte e o terceiro escolhido de comumacordo pelos árbitros que as Partes tiverem designado, queexercerá as funções de Presidente do Tribunal Arbitral. 3. A parte que decida submeter determinado diferendo aoTribunal Arbitral apresentará à outra parte, através de cartaregistada com aviso de recepção ou protocolo, o requeri -mento de constituição do Tribunal Arbitral, contendo a de -signação do árbitro, e, em simultâneo, a respectiva petiçãoinicial, devendo esta, no prazo máximo de 30 (trinta) dias acontar da recepção daquele requerimento, designar o árbi-tro que lhe cabe e deduzir a sua defesa, pela mesma forma. 4. Ambos os árbitros designados nos termos do número an -terior designarão o terceiro árbitro do tribunal, no prazo de10 (dez) dias a contar da designação do segundo árbitro. 5. Na falta de designação de qualquer um dos árbitros estacompete ao Director da Faculdade de Direito da Universida -de Agostinho Neto. 6. O Tribunal Arbitral julgará segundo o direito angolano cons -tituído e das suas decisões não cabe recurso. 7. O processo arbitral será conduzido em língua portuguesa. 8. A decisão arbitral deverá ser proferida no prazo máximo de6 (seis) meses a contar da data de constituição do TribunalArbitral, podendo este prazo ser prorrogado pelo tribunal porum período máximo de mais 6 (seis) meses se a complexi -dade do litígio assim o exigir. A decisão arbitral confi guraráa decisão final de arbitragem relativamente às maté rias emcausa e incluirá a fixação das custas do processo e a formada sua repartição pelas partes. 9. A arbitragem decorrerá em Luanda, funcionando o Tribu -nal Arbitral de acordo com as regras fixadas no contrato,com as que o próprio Tribunal Arbitral venha a estabelecer eainda, subsidiariamente, com as previstas na Lei n.º 16/03,de 25 de Julho.

11. QUAIS OS ASSUNTOS QUE PODEM SER SUBMETIDOSÀ APRECIAÇÃO DE UM TRIBUNAL ARBITRAL?

Podem ser submetidos a arbitragem todos os direitos dis -poníveis das partes, i. e., aqueles que elas podem constituir, mo -dificar, extinguir e renunciar. A aferição da disponibilidade de umdireito deve ser feita tendo em conta a questão concreta em litígio.

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Em regra, não serão arbitráveis questões de natureza cri -minal, relativas a direito da família, falências e direito do traba -lho, uma vez que o nosso legislador as retirou do âmbito de dis -ponibilidade das partes. Já a maioria das questões de natu rezacivil e comercial serão arbitráveis, designadamente litígios en -tre as sociedades e os sócios, entre os sócios, relativos à res -ponsabi lidade civil dos administradores, contratos de compra evenda, arrendamento, fornecimento e prestação de serviços, di-reitos dos consumidores, direito patrimonial de autor, seguros eresseguros.

12. COMO SE ESCOLHE A LEI APLICÁVEL À ARBITRA GEM?E A LEI PROCESSUAL?

Numa arbitragem temos de ter em conta duas leis, a saber,a lei que regula a relação jurídica em litígio (lei material) e a leique regula as regras do processo arbitral (lei processual).

A lei processual é aquela que vai regular o tipo de prova aapresentar, os prazos para apresentação de requerimentos aotribunal arbitral, a forma de citação do réu, as regras de funda-mentação da sentença, o tipo de recursos admitidos, entre ou -tros. A lei processual deve ser escolhida pelas partes até ao mo -mento da constituição do tribunal arbitral, sendo aconselhávelque as partes optem entre a lei processual do país onde decorrea arbitragem (porque aí estarão os tribunais que darão apoio aoprocesso na sua pendência) e onde pretendem que a sentençaarbitral venha a ser executada, evitando eventuais obstáculos aoreconhecimento da sentença arbitral nesse país. O mais aconse -lhável é que as partes escolham tramitar a arbitragem no mes -mo local da sua previsível execução.

A lei material é também escolhida pelas partes e pode serdistinta da lei processual: pode ser a lei de um determinado país,a equidade ou os usos e costumes (de um determinado país ouvigentes a nível internacional). Uma vez que a generalidade dostribunais nacionais não manifesta objecção em executar umasentença arbitral proferida com base no direito material estran -geiro, as partes podem optar pela lei material que mais lhes con -vier sem qualquer constrangimento.

13. É NECESSÁRIO SER REPRESENTADO POR UM ADVO-GADO EM PROCESSO ARBITRAL?

As partes numa arbitragem podem representar-se a si pró -prias, não sendo obrigadas a fazer-se assistir por advogado. Nãoobstante, e em virtude da complexidade técnica das ques tõessubmetidas a arbitragem, é aconselhável que as partes se fa çamrepresentar por advogado. Para tanto, é necessário que a parteconfira poderes de representação ao advogado que esco lheu atra -vés de uma procuração.

14. COMO SE ESCOLHE UM ÁRBITRO?

Quando surge um litígio e se despoleta o processo de cons -tituição do tribunal arbitral, as partes devem proceder à designa -ção do(s) árbitro(s), que serão sempre em número ímpar, deacordo com o que estiver previsto na convenção de arbitragemou, subsidiariamente, na LAV.

As partes têm inteira liberdade para designar como árbitroqualquer pessoa singular, de qualquer nacionalidade, indepen-dentemente da sua formação académica e experiência profis-sional. Sem prejuízo, as partes deverão procurar designar comoárbitros indivíduos conhecedores e com experiência em arbi-tragem, em cuja competência, isenção, independência e impar-cialidade confiem. Assim, uma parte não deve designar comoárbitro um indivíduo que manteve ou mantém uma relação (detrabalho ou de prestação de serviços) com alguma das partes,tem interesses em comum com alguma das partes ou que ésempre o árbitro indicado por uma das partes. Do mesmo mo -do, também não deve ser nomeado árbitro um indivíduo que játenha opinião formada sobre o litígio antes de constituído o tri-bunal arbitral ou que tenha manifestado demasiada simpatia/hos -tilidade em relação a uma das partes.

A nomeação de árbitros que não cumpram os requisitos deimparcialidade e independência é fundamento de posterior anu-lação da sentença arbitral.

Mas note-se que a parte que designou um árbitro pode, nodecorrer do processo arbitral, vir a recusá-lo, caso tome conhe -cimento de alguma circunstância que afecte a independência,imparcialidade ou competência do árbitro que designou.

15. PODE DISCORDAR-SE DA ESCOLHA DO ÁRBITRO DE -SIGNADO PELA OUTRA PARTE?

Uma parte pode recusar o árbitro que a outra parte desig-nou, mas essa recusa não pode ser aleatória, só podendo efec-tivar-se quando haja fundadas dúvidas sobre a competência,imparcialidade ou independência do árbitro em questão. A parteque recusou o árbitro deve comunicar pronta e fundamentada-mente tal recusa ao tribunal arbitral, para que esse árbitro se es-cuse ao exercício das respectivas funções ou, então, para queo tribunal arbitral se pronuncie sobre as razões da recusa, afas -tando ou mantendo o árbitro.

16. O QUE SUCEDE SE A OUTRA PARTE NÃO COMPARE-CER NO PROCESSO ARBITRAL?

A parte que pretende dar início ao processo arbitral devenotificar a outra parte para a arbitragem. Sendo a notificaçãoefectuada, caso a parte demandada não compareça no proces-so para contestar, não constitua mandatário nem intervenha de

18 • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

ARBITRAGEM INTERNACIONAL

qualquer forma no processo, o processo continua o seu cursonormal e a parte demandada será julgada pelo tribunal arbitral àrevelia, devendo acatar a respectiva decisão. Note-se que a par -te demandada, caso assim o entenda, pode intervir no pro cessoa qualquer momento, mas terá de o aceitar no estado em que eleestiver.

17. PODE PEDIR-SE AO TRIBUNAL ARBITRAL QUE TOMEMEDIDAS URGENTES?

Havendo fundado receio na lesão de direitos, qualquer daspartes pode requerer ao tribunal arbitral que tome as medidas ur -gentes mais adequadas a acautelar a lesão desses direitos. Nãotendo, porém, o tribunal arbitral competência executiva, em casode não cumprimento voluntário da medida decretada, a parte re -querente terá de pedir a execução junto dos tribunais judiciais.

18. QUE TIPO DE PROVAS PODEM SER APRESENTADASNUM TRIBUNAL ARBITRAL?

Podem ser apresentadas perante o tribunal arbitral todas asprovas que são admissíveis perante os tribunais judiciais, a sa -ber, prova documental, testemunhal, por confissão das partes,pericial e por inspecção judicial.

Não obstante, o tribunal arbitral não tem o poder de imporàs partes ou a terceiros a produção de prova, radicando estaem grande medida na vontade de colaboração das partes e deterceiros. No caso de, por exemplo, uma das partes se recusara entregar ao tribunal documentos que estejam em seu poder ouuma determinada pessoa se recusar a testemunhar, poderá sernecessário remeter a produção de prova para o tribunal judicial,de modo a que este exerça o poder coercitivo necessário àefectiva produção da prova.

19. QUANTO TEMPO DEMORA UMA DECISÃO ARBITRALA SER PROFERIDA?

As partes definem na convenção de arbitragem o tempo deque dispõe o tribunal arbitral para tomar a decisão final, tendoem conta a complexidade técnica do litígio, o número de teste-munhas e/ou peritos que terão de ser ouvidos, a quantidade delínguas presentes no processo, entre outros. O prazo pode tam-bém constar de regulamento institucional para o qual se reme-teu. Se as partes nada disserem, a decisão arbitral deve ser to -mada dentro do prazo supletivo previsto na LAV, que é de seismeses. Não se aconselha a fixação de prazos muito curtos quedepois se tornem difíceis de cumprir.

Se, no decurso do processo, se chegar à conclusão de que otribunal arbitral necessita de mais tempo para concluir o seu traba -

lho e proferir a decisão final, podem as partes, com a anuên ciados árbitros, acordar na prorrogação do prazo inicialmente fixado.

O início do prazo para a prolação da decisão arbitral come -ça a contar a partir do momento em que o último árbitro tenhaacei te a respectiva nomeação.

20. O QUE SE DEVE FAZER PARA GARANTIR QUE A DECI -SÃO ARBITRAL É EXECUTADA?

A decisão arbitral tem a mesma validade, vinculatividade eforça executiva de uma decisão judicial, constituindo a decisãofinal, imparcial e independente sobre o objecto do litígio. Nessamedida, as partes devem-lhe respeito e obediência, cabendo-lhesactuar em conformidade com as instruções nela previstas.

Caso uma das partes não respeite a decisão arbitral, po dea outra parte requerer ao Tribunal Provincial a sua execução coer - civa, como se de uma sentença judicial se tratasse.

21. É POSSÍVEL RECORRER DA DECISÃO ARBITRAL?

Em princípio, pode recorrer-se de uma decisão arbitral nosmesmos termos em que se recorre de uma decisão judicial, sen -do o recurso feito para o Tribunal Supremo.

Sucede porém que um dos objectivos do recurso à arbi-tragem é evitar as delongas características do processo judicial,no qual uma decisão fica durante vários anos pendente de re-curso. Por essa razão, é comum que as partes numa arbitra gemrenunciem antecipadamente à possibilidade de recurso, tor nan -do a decisão do tribunal arbitral definitiva. A LAV prevê tambémque quando as partes confiram ao tribunal arbitral o poder dede cidir de acordo com a equidade se opere a renúncia auto má -tica à possibilidade de recurso.

Mas, diga-se, se a recorribilidade é a regra para as arbitra-gens internas, já para a arbitragem internacional a regra é quepara delas se recorrer é necessário que as partes tenham pre-visto na convenção de arbitragem essa possibilidade.

22. A DECISÃO ARBITRAL PODE SER ANULADA PELO TRI -BUNAL JUDICIAL?

Sem prejuízo da possibilidade de recurso da sentença arbi-tral, o tribunal judicial pode contestar a validade daquela e pro-ceder à sua anulação. A anulação da sentença arbitral só podeter por base algum dos fundamentos previstos na LAV, designa -damente ter sido proferida por um tribunal arbitral incompeten -te, o litígio não poder ser submetido a arbitragem, a conven çãode arbitragem ter caducado ou a sentença não estar fundamen-tada, e é da competência do Tribunal Supremo. Contrariamenteao direito de recurso, o direito à anulação da sentença arbitral éirrenunciável.

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 19

Para evitar que o procedimento arbitral seja conduzido comvícios que levem à anulação da sentença arbitral (o que sempreenredaria as partes nos meandros do foro judicial que elas pre-tenderam tão-exactamente evitar com a arbitragem) é fundamen -tal que os árbitros e os advogados escolhidos pelas partes se -jam experientes e entendidos em arbitragem.

23. COMO PODE UMA SENTENÇA ARBITRAL ESTRAN GEI -RA SER VÁLIDA EM ANGOLA?

Uma sentença arbitral estrangeira para ser válida e passí velde execução em Angola deve passar necessariamente por umprocesso prévio de reconhecimento de sentença, que se aplicaigualmente às sentenças judiciais. A revisão de sentença estran -geira é um processo conduzido no Tribunal Supremo em que arevisão aí operada é essencialmente formal, confirmando este tri -bunal se a decisão arbitral estrangeira se coaduna com os prin -cípios de ordem pública da República de Angola e com as re-gras processuais nucleares do nosso ordenamento jurídico.

Ainda que a revisão de mérito (da substância, do conteúdo)da sentença arbitral estrangeira esteja afastada, o certo é que oprocesso de reconhecimento importa necessariamente algumtempo (que poderá ser mais ou menos longo), acarretando con -sequências importantes para as partes. É, por isso, muito de-sejável que Angola subscreva um tratado internacional que abracaminho ao reconhecimento automático das sentenças arbitraisestrangeiras.

Entretanto, e de modo a que o reconhecimento de senten çasarbitrais proferidas em arbitragens internacionais não seja pro-telado e/ou recusado em Angola, sugere-se que as partes nu maarbitragem internacional cuja sentença se destina a ser exe cutadaem Angola escolham a lei angolana para lei do processo arbitrale Angola como sede da arbitragem.

24. UMA SENTENÇA ARBITRAL PROFERIDA EM ANGOLATEM VALIDADE NO ESTRANGEIRO?

Do mesmo modo que uma sentença arbitral estrangeira temde ser previamente reconhecida em Angola para aqui poder serexecutada, também uma sentença arbitral proferida em Angolaterá de ser previamente reconhecida num determinado país es-trangeiro para que aí possa ser executada.

Este procedimento seria bastante simplificado se Angola ade -

risse à Convenção de Nova Iorque sobre o reconhecimento e aexecução de sentenças arbitrais estrangeiras, que já tem centoe quarenta e quatro Estados signatários e que é de grande aplica -ção no domínio do comércio internacional.

25. ANGOLA SUBSCREVEU ALGUM TRATADO INTERNA -CIO NAL RELATIVO À ARBITRAGEM?

A República de Angola e a República Portuguesa subscre -ve ram um Acordo de Cooperação Jurídica e Judiciária que pre-tende, entre outros aspectos, simplificar o reconhecimento desen tenças arbitrais entre ambos os países.

26. QUAIS SÃO OS CENTROS DE ARBITRAGEM INSTITU-CIONALIZADA DE REFERÊNCIA A NÍVEL INTERNACIONAL?

Existem diversos centros de arbitragem institucionalizada umpouco por todo o mundo, uns com competência genérica e ou -tros que se especializaram em determinado tipo de litígios (co mopor ex., questões de consumo, de imobiliário ou de seguros).

Os centros de arbitragem institucionalizada que têm servidode referência a nível internacional são, em nossa opinião, os se -guintes:

França: ICC – International Chamber of Commerce – www.iccwbo.org

Reino Unido: LCIA – London Court of International Arbitra-tion – www.lcia-arbitration.com

EUA: AAA – American Arbitration Association – www.adr.org

Portugal: Centro de Arbitragem da ACL – Associação Co mer -cial de Lisboa – www.port-chambers.com

Brasil: Centro de Mediação e Arbitragem da Câmara de Co -mércio Brasil-Canadá; Centro de Arbitragem do FIESP//CIESP

Suécia: SCC – Arbitration Institute of the Stockholm Cham-ber of Commerce – www.sccinstitute.se

Holanda: Nederlands Arbitrage Instituut, NAI – www.nai-nl.org

Em Dezembro de 2011 foi autorizada a criação de dois cen -

tros de arbitragem em Angola: o Centro Arbitral Juris e o Centro

Harmonia. A promoção da arbitragem institucionalizada entre

nós contribuirá certamente para o incremento da utilização des -

te método de resolução extrajudicial de conflitos.

20 • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

LEGISLAÇÃO

1. Constituição da República: art.º 174.º2. Código de Processo Civil: arts. 48.º, 49.º,95.º, 287.º, 288.º, 290.º, 493.º, 494.º, 495.º,510.º, 813.º, 814.º, 1094.º, 1095.º, 1096.º,

1097.º, 1098.º, 1099.º, 1100.º, 1101.º,1102.º3. Lei n.º 16/03, de 25 de Julho, sobre a Arbi-tragem Voluntária. I Série – n.º 58.4. Decreto n.º 4/06, de 27 de Fevereiro, que de -fine o regime de outorga das autorizações ad-

ministrativas para a criação de Centros de Ar -bitra gem. I Série – n.º 26.5. Resolução n.º 34/06, de 15 de Maio, quereafirma o engajamento do Governo na Arbitra -gem como meio de solução de litígios dispo -níveis. I Série – n.º 59.

ARBITRAGEM INTERNACIONAL

� Correia Vicente Pongolola | Advogado e Professor

Com este tema pretende-se analisar a questão relacio nada

com a Segurança Social, ou seja, o direito à segurança social no

ordenamento jurídico angolano por um lado e, por outro, aprecia -

ção para uma inflexão de políticas públicas de cariz universa -

lista; neste sentido, saber qual é caminho a per correr para se

alcançar uma política pública na área da protecção social de

cariz universal, tal como consagrado na CRA de 2010, tendo em

linha de conta que em Angola os direi tos sociais ainda não es -

tão consolidados; esta é a questão cen tral deste trabalho.

Começa-se por fazer uma análise histórico-constitucio nal e

da evolução dos vários regimes concernentes à seguran ça so-

cial, depois abordam-se varias questões, tais quais: Siste ma de

três níveis, financiamento da Segurança Social e suas im pli cações

redistributivas, Regime de prestações familiares, Entida des (ins ti -

tuições) intervenientes na protecção social, Solidariedade Fami -

liar em Matéria de Segurança Social, Políticas sociais versus po -

breza, Causas da exclusão social, e por aí em diante.

Depois de uma análise crítica sobre direito à segurança so -

cial à luz do ordenamento jurídico angolano, vamos concluir dei -

xando uma proposta legislativa, ou seja, uma proposta para a

reforma do sistema de segurança social, de modo a atingir-se

uma protecção social universal, na medida em que os instru-

mentos legais existentes estão desadequados; assim sendo, se -

rá necessária a revisão de alguns diplomas que versam sobre

o direito à segurança social. Deverá ser harmonizado o regime

jurídico existente para fazer face às exigências do preceito cons -

titucional, mais concretamente o art. 77.º do CRA.

Neste estudo usou-se o método comparativo entre a reali -

da de angolana e a portuguesa, sem prejuízo de observações de

rea lidades de outros países.

Em termos de delimitação temática, vamos apenas abordar

as questões relacionadas com a segurança social e a assis tên -

cia social. Em suma, o dever académico de expor os factos e

problematizar ideias.

Introdução

A Constituição da República de Angola consagra a seguran -ça social (protecção social) como um dos direitos sociais, con-forme o estatuído no art. 77.º, n.º 1, parte final. Sublinha-se queestes direitos devem ser promovidos pelo Estado no quadro depolíticas públicas.

Para esta abordagem devem ser entendidas como políticaspúblicas as directrizes ou princípios orientadores das acções dopoder público; estas acções consubstanciam-se em actos le -gis lativos, programas concretos, planos de financiamento e fis-calização no âmbito da segurança social.

Convém salientar que há uma panóplia de conceitos e de -finições sobre as políticas públicas. Assim, diz THIAGO LIMABREUS, «as próprias políticas públicas representam a modalida -de de acção por excelência do modelo de Estado Constitucional»1.

JOÃO FERRÃO2, citando Forester, afirma que mais im por -tan te do que as definições são as distinções analíticas. No en-tanto, não vamos entrar deste debate, que se julga ser intermi ná -vel e de pouca ou nenhuma utilidade prática para este tema.

Em Angola, onde o nível de desigualdade se aprofunda dia--a-dia, há necessidade premente de se criarem programas sé -rios na área social para suprir as carências das pessoas mais vul -ne ráveis, dando-lhes o mínimo existencial.

Em Angola, tal como em muitos países, os direitos sociaisvêm consagrados na Constituição; apesar de serem direitos comdignidade constitucional, a sua realização prática está muito aquémdas expectativas dos cidadãos. Numa altura em que a doutrinanão converge na questão relacionada com a natureza dos direi -tos sociais, a questão que se coloca é de saber se estes mesmosdireitos têm natureza subjectiva fundamental, onde os indivíduospodem invocá-los em tribunal, ou apenas são meros instrumen -tos programáticos, sem um mínimo de vinculação; no decorrerdeste trabalho vamos também reflectir sobre esta questão.

Por outro lado, é ponto assente que os direitos sociais têmfundamento na ideia de conferir dignidade à pessoa humana; es -ta é a ideia subjacente às concepções Beveridgiana e Assisten-

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 21

ESTUDOS

SEGURANÇA SOCIALApreciação para uma inflexão

de políticas públicas de cariz universalista(Parte 1)

Siglas e Abreviaturas: Ac – Acórdão; CRA – Constituição da República de Angola; CRP – Constituição da República portuguesa; CPPA – Código deProcesso Penal angolano; CPP – Código de Processo Penal português; CITT – Certificado de incapacidade temporária para o trabalho por doença;FAA – Forças Armadas angolanas; INSS – Instituto Nacional de Segurança Social; LGT – Lei Geral do Trabalho de Angola; MINARS – Ministério daAs sistência e Reinserção Social; MP – Ministério Público; OIT – Organização Internacional para o Trabalho; SS – Segurança Social.

cialista3, ou seja, o centro e vértice da segurança social é a pro-tecção universal das pessoas carentes.

1. Evolução histórica da segurança social angolana

Em Angola, à semelhança de muitos países no mundo, oEstado tem a obrigação de garantir e tutelar os direitos sociais,visto que o desenvolvimento económico do país deve estar in-trinsecamente relacionado com o desenvolvimento social da suapopulação; é esta ideia que vinha expressa na lei constitucionalde 11 de Novembro de 19754, nos seus artigos 27.º e 28.º: «OEstado promoverá as medidas necessárias para assegurar aoscidadãos o direito à assistência médica e sanitária, bem comoo direito à assistência na infância, na maternidade, na invalidez,na velhice e em qualquer situação de incapacidade para o tra-

balho» (sublinhado nosso) – ao passo que o artigo 28.º esti pu -la va uma protecção especial aos Combatentes de Guerra.

Nesta altura não havia um sistema público de segurançasocial, apesar da sua previsão constitucional; o Instituto Nacio -nal de Segurança Social, doravante INSS, só foi criado depoisde 15 anos, isto é, com aprovação da Lei n.º 18/90, de 27 deOutubro, Lei de Base da Protecção Social; é por força desta leique foi criado o INSS, conforme reza o artigo 71.º deste diploma.

Importa salientar que, no período pré-independência e noanterior à Lei de Base da Protecção Social, houve um sistemade segurança social de natureza corporativa, existindo assim umapluralidade de instituições5, tais como: Caixa de Previdência doPessoal do Caminho-de-Ferro de Benguela, Mutualidade de An-gola, Montepio Geral de Angola, Montepio Ferroviário de Angola,Caixa de Auxílios dos Empregados dos Correios e Telecomu ni -ca ções, Cofre de Previdência dos Funcionários Públicos de Ango -la, Caixa de Pensões e Aposentação do Pessoal das Alfândegas,Caixa dos Funcionários da Câmara Municipal de Luanda, Cofrede Previdência do Pessoal da Polícia Nacional. Importa salien-tar que este sistema previdenciário existiu por força das reco men -dações da Convenção n.º 102/1952 da OIT.

O INSS, em matéria de protecção social obrigatória, ganhouexclusividade, ou seja, deixou de existir uma multiplicidade de en -tidades, já acima referidas.

O Instituto está sob a tutela do Ministério do Trabalho e Se-gurança Social. Todavia, o INSS é um ente de direito público compersonalidade jurídica distinta da do Ministério do Trabalho e Se -gurança; tem autonomia administrativa e financeira.

A Lei Constitucional de 1992, aprovada pela Lei n.º 23/92,de 16 de Setembro, manteve o mesmo catálogo de direitos so-ciais da Lei Constitucional de 11 de Novembro de 1975; assimo art. 47.º da Lei Constitucional de 1992 previa o seguin te: o Es -tado promove as medidas necessárias para assegurar aos cida -dãos o direito à assistência médica e sanitária, bem co mo o di-reito à assistência na infância, na maternidade, na inva lidez, navelhice e em qualquer situação de incapacidade para o trabalho.

Porém, a Lei Constitucional de 1992 trouxe como novida desa iniciativa particular e cooperativa nos domínios da saúde6, pre -vidência e segurança social, ou seja, os particulares (empre sa dodireito privado) também podem exercer actividades relacionadascom a matéria de segurança social. No mesmo sentido, a CRA de2010 manteve o princípio da iniciativa privada no domínio da se -gu rança social (vide o n.º 3 do art. 77.º). A Cons tituição de An -gola de 2010, ou seja, a Constituição em vigor traz um catálogodos direitos sociais no Capitulo III, no artigo 76.º e seguintes.

2. Sistema de três níveis

Com a aprovação da Lei n.º 7/04, de 15 de Outubro, Lei deBase da Segurança Social, é revogada a Lei n.º 18/90, de 27 deOutubro. O novo diploma trouxe consigo um sistema de três ní -veis, designadamente:

a) A Protecção social de base, que se configura no sistemanão contributivo e que tem como fundamento e objectivosa solidariedade nacional, a protecção especial a gruposmais vulneráveis, e garantir os níveis mínimos de substân-cias, ten do como financiamento a transferência do Orçamen -to Geral do Estado e receitas dos órgãos locais do Estado,donativos e comparticipação dos utilizadores7. Nesta pers -pectiva, está-se perante a concepção assistencialista, quevisa proteger as pessoas que estão efectivamente nu ma si -tuação de carência por falta de meios de subsistência8.

b) A Protecção social obrigatória, que é um sistema contri -butivo que tem como fundamento a solidariedade de grupocom carácter comutativo tem como destinatários os traba -lhadores por conta de outrem ou por conta própria e suasfamílias. Os funcionários públicos estão transitoriamenteabrangidos pelo regime dos trabalhadores por conta de ou -trem. Todavia, as Forças Armadas Angolanas têm um sis-tema de segurança social que se encontra fora do âmbitoda Lei n.º 18/90, de 27 de Outubro; o Decreto-lei n.º 16/94,de 10 de Agosto, criou o sistema de segurança social dasForças Arma das, tendo como órgão de gestão do sistema dasegurança social a Caixa de Segurança Social das FAAs9.Também no ano 2008 foi criado um sistema de segurançasocial para o Ministério do Interior – neste sentido trata-se daconcepção laborista, que visa proteger os trabalhadores naeventualidade de verem a sua capacidade para trabalho re-duzida ou mesmo a falta de capacidade total para o trabalho.

c) A Protecção Social Complementar, que é um sistema deade são facultativa, assenta numa lógica de seguro e preten -de reforçar a cobertura fornecida no âmbito dos regimesintegrados na protecção social obrigatória, tendo como en-tidades gestoras sociedades financeiras gestoras de fundos

22 • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

ESTUDOS

de pensões, companhias de seguros, associações mutua -listas ou institutos de segurança social complementar10; nomercado angolano, apenas algumas seguradoras desen vol -vem actividades de gestão de fundo de pensões11.

Em suma, este sistema de três níveis se fosse implemen-tado com rigor, traria uma protecção social de cariz universalis -ta, mormente o sistema de protecção social de base, na medidaem que toda a gente em situação de necessidade podia ter aces -so a ela. Todavia, faltam mecanismos para sua concretização naprática, daí a necessidade de uma inflexão do actual quadro, vis -to que a situação actual exclui muito carenciados e cria ins ta bi -lidade social.

2.1. Financiamento da segurança social e suas implica -ções redistributivas

À luz do ordenamento jurídico angolano, as fontes de finan -cia mento variam consoante se trate de protecção social de ba -se, protecção social obrigatória ou protecção complementar.

Assim, a protecção social de base tem como fonte de fi nan -cia mento primária o Orçamento Geral do Estado e como fon tessuplementares os donativos, quer de organismos nacionais ouinternacionais, e comparticipação dos utilizadores de ser vi çose equipamentos sociais.

A protecção social obrigatória tem como fonte fundamentalde financiamento as contribuições dos trabalhadores e das en-tidades empregadoras, onde os trabalhadores contribuem com3% e as entidades empregadoras contribuem com 8%, perfa -zendo um total de 11%12; também são tidos como contribuiçãoos juros de mora pelo atraso no pagamento das contribuições,valores resultantes da aplicação de sanções, rendimento do pa -trimónio e transferências do Orçamento Geral do Estado.

E por fim a protecção social complementar é financiada prin -cipalmente pelas contribuições dos trabalhadores ou entidadesempregadoras, ou ainda por outras formas convencionadas.

A forma como o sistema de financiamento da segurançasocial está desenhado tem implicações redistributivas muito sé -rias. Sublinha-se que temos consciência de que a problemáticada redistribuição da renda dos países constitui uma questão fun -damental da macroeconomia; todavia, não queremos meter aen xada em lavra alheia, nem entrar nas principais teorias das re-distribuição ou distribuição13.

Assim, para este tema vamo-nos focalizar na redistribuiçãocomo uma forma de garantir os direitos constitucionalmente tu -telados14, sendo que a redistribuição é uma função dos Estados;neste contexto, diz a Prof. NAZARÉ, «(...) a retribuição é uma fun -ção primordial dos Estados contemporâneos, o certo é que a sualegitimidade ou, pelo menos, a sua dimensão e impor tân cia, es -tão longe ainda de constituírem matéria económica e politica-mente consensual»15.

Sendo certo que as políticas de retribuições não são consen -suais em países economicamente afirmados, em Angola a faltade critérios e políticas sérias em matéria de redistribuição da ren -da nacional é um facto bastante evidente; apesar do crescimen -to económico que o país vem evidenciado, ainda 70% da popu -lação são extremamente pobres, vivendo com menos de 2 dó la respor dia. É nesta linha que aponta o relatório da Global Witness,«Angola and Nigeria are archetypal example of countries which

have been afflicted by the resource curse. They are two of the

largest oil producing countries in Africa, exporting between them

over four million barrels of oil per day. Their citizens, however,

remain amongst the poorest in the world, with approximately

70 per cent of Angolans and 80 per cent of Nigerians living on

less than two US dollars a day»16.O quadro acima traçado é por si só fundamento para uma

reforma do sistema de segurança social e assistência social an-golano. Neste sentido, pensamos que seria útil a existência deapenas duas entidades públicas para tratar das matérias de se-gurança social e assistência; assim ficava acautelada a sobre -posições de competências17. Assim sendo, estes dois entes se-riam, designadamente, o INSS para a matéria de segurança sociale o MINARS para a matéria de assistência social, ficando de foraem sede desta matéria a Secretaria de Estado para os AssuntosSociais da Casa Civil do Presidente da República. Esta deveriaser extinta por sobreposições de funções e atribuições que sãoori gi nalmente do MINARS; caberá a este (MINARS) executar aspolí ti cas do combate à pobreza; neste sentido, deveria actuar noplano concreto para promover a dignidade da pessoa humana eelimi nar a exclusão social. Em síntese, deveria criar-se um pla nomaterial, estrutural e funcional capaz de responder em tem poútil às prestações legalmente previstas – vide arts. 4.º, 5.º e 6.ºda Lei 7/04, de 15 de Outubro (Lei-Base de protecção social)18.

Neste contexto, o Executivo também deveria canalizar ver-bas para o INSS, ou seja, o instituto deveria ser não apenas noplano formal uma unidade orçamental19, visto que as contri bui -ções dos trabalhadores e das entidades empregadoras não se -rão suficientes para fazer face às exigências legais. Aliás, o me -canismo de redistribuição de que vínhamos falando só teráes paço se se apetrechar o INSS com verba e mecanismos an-tifraudes e pro ces sos transparentes; assim, i. e., para concre -tização do pressuposto da transparência, deveria existir um diplo -ma que específico que mande publicar trimestralmente as con tasdo INSS, para que os contribuintes possam escrutinar de formadirecta as contas. O mesmo diploma deveria ainda prever meca -nismos san cionatórios no caso de não cumprimento por partedo INSS, na pessoa do seu responsável máximo.

No toca ao subsídio de desemprego, apesar de a alínea f) doart. 18 da Lei 7/04, de 15 de Outubro, fazer menção à protec -ção no desemprego, na verdade não há subsídio de desempre goe mui to menos o subsídio social do desemprego; sendo as simdeve ria ser criado um diploma que concretize este direito, espe -cificando com rigor os pressupostos e âmbito da sua atribuição.

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 23

Julgamos que as medidas acima elencadas, uma vez con-cretizadas irão mitigar o défice redistributivo da renda nacional.Esta é a nossa perspectiva de análise do problema; também ées te o espírito e letra do preceito do art. 4.º da Lei 7/04, de 15de Outubro, quando estabelece na alínea a) que constituem fun-damentos e objectivos da protecção social de base; a solidarie -dade nacional que reflecte características distributivas que é es -sen cialmente financiada através do imposto (sublinhado nosso).

2.2. Regime de prestações familiares

Para concretização dos direitos sociais estabelecidos nas alí -neas b) e g) do art. 18 e da Lei n.º 7/04, de 15 de Outubro, Leide Base da Protecção Social, foi aprovado através do Decreto Pre - si dencial n.º 8/11 o Regime Jurídico das prestações familiares.

As prestações às famílias são constituídas pelos se guin tessub sídios:

a) Maternidade – é uma prestação pecuniária que visa com -pensar a perda de remuneração em virtude do gozo da li-cença de maternidade, e tem prazo de garantia de seis me -ses de contribuições, seguidas ou interpoladas, ou seja, pa rase habilitar ao subsídio é necessária a contribuição total deseis meses à Segurança Social – o pagamento é feito pelaempresa no prazo máximo de 30 dias desde o inicio da li -cen ça e a entidade patronal instrui o competente processo,pre enchendo um modelo próprio; b) Aleitamento – é uma prestação que tem como finalidadea compensação do aumento dos encargos familiares;c) Abono de Família – também é um subsídio que visa o au -mento de encargos familiares com incidência na educa çãodos filhos, ao passo que o aleitamento tem a ver com os en -cargos advenientes da necessidade de alimentar os des cen -dentes dos segurados; d) Por último, temos o Subsídio de Funeral, que é uma pres -tação pecuniária que visa compensar as despesas advenien -tes do funeral do segurado (pensionista).

Todavia, há outras matérias que carecem de regulamenta çãocom clareza e precisão, tais como as relacionadas com as presta -ções na doença, protecção nos riscos profissionais, inva lidez, ve -lhice e prestações no desemprego, conforme dispõem as alí neasa), c), d), e) e f) do art. 18.º da Lei de Base da Protec ção Social.

2.3. Solidariedade familiar em matéria de segurança so cial

O direito à segurança social é sempre visto e analisado den - tro dos condicionalismos socioeconómicos de cada país; toda -via, as constituições de muitos países fazem menção ao Direitoà segurança social, i. e., na Constituição da Africa do Sul estesdireitos vêm previstos nos capítulos da Bill of Rights, no ar t.

27.º; no caso da Nigéria estão previstos no capítulo (chapter)Fundamental objective and directives principles of State policy,na alínea c), n.º 3, art. 17.º20; a Constituição brasileira prevê-ono capítulo II, sob a epígrafe, Dos direitos sociais, no art. 6.º; aConstituição portuguesa prevê o direito à segurança social nocapítulo II, sob a epígrafe Direitos e deveres sociais, artigo 63.º,sob titulo Segurança Social e Solidariedade.

A Constituição angolana prevê os direitos sociais no capí-tulo III, sob a epígrafe Direitos e deveres económicos, sociais e

culturais, arts. 76.º e 77.º A Constituição angolana não prevê oprincípio da solidariedade em matéria de segurança social, con-trariamente à Constituição portuguesa.

Curiosamente, em Angola a solidariedade familiar tem umpapel muito importante na atenuação do défice dos direitos so-ciais; isto pode ser ilustrado pela máxima popular segundo a qual«onde comem dois, comem três, quatro ou mais». Neste qua -dro, seria bom se as políticas tendentes ao combate à pobrezade que tanto se fala tivessem uma vertente de assistência so-cial concreta, pelo menos para as famílias monoparentais, nosen tido da atenuação os efeitos da falta de renda.

Nos países ocidentais fala-se em ir viver por baixo da pon -

te, isto é, quando a situação se torna insustentável, faltando abri -go. No contexto africano em geral, e em particular em Angola,não há pontes suficientes para as pessoas lá viverem; é aquionde a solidariedade familiar é chamada a intervir. Daí que emÁfrica não se vejam pessoas a viver por baixo das pontes, masem contrapartida grande parte das casas africanas alberga maisgente para além da capacidade projectada inicialmente; em re -gra, quem não tem casa procura familiares para assistência. Éal go cultural e a pessoa solicitada deve consentir. É quase umaobrigação moral; poucas pessoas conseguem dizer não quan-do se defrontam com familiares a pedir assistência social, en-tenda-se «tecto e comida». No caso angolano a solidariedadefamiliar em matéria de segurança social tem sido um factor demitigação da falta de subsídio de desemprego, subsídio socialde desemprego, e também por falta de concretização de políti-cas para garantir o mínimo de subsistência e dignidade.

Nestes termos, podemos dizer que a solidariedade familiarconstitui um verdadeiro instrumento de superação de situaçõesde carência a que Estado deveria prestar a devida atenção, por -que se julga não ser possível a preservação da unidade e coe sãonacional, a garantia dos pressupostos básicos para o desenvol -vimento, e consequentemente a melhoria da qualidade de vidadas populações, sem políticas públicas centradas nas famílias.

2.4. Entidades (instituições) intervenientes na protecçãosocial

Em Angola existem três principais entidades públicas que in -tervêm na matéria de protecção social, para além das segurado-ras, designadamente:

24 • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

ESTUDOS

a) A Secretaria de Estado para os Assuntos Sociais da Ca -

sa Civil do Presidente da República, tem o seguinte rol decompetência e atribuições: assegurar os contactos com osagentes económicos, organizações sociais e filantrópicas –estabelecendo o diálogo com a sociedade civil de modo a re -forçar as parcerias, acompanhar as actividades desenvolvi-das pelo Executivo, particularmente nos domínios do em -pre go e segurança social, juventude e desportos, saúde,segurança alimentar e nutricional, educação, cultura e reli -gião, no combate à pobreza, à fome, ao analfabetismo e àsgrandes endemias, apresentando sugestões e propostas,analisar, acompanhar à luz das orientações políticas do Exe -cutivo a conformidade política, técnica das estratégias, dosprogramas dos departamentos ministeriais que concorrampara o combate à pobreza e ao aumento da qualidade devida da população, analisar, elaborar propor a elaboração deprogramas para protecção de grupos vulneráveis da socie -dade, apoiar, promover a realização de actividades que en-volvam as organizações associativas, os cidadãos em geral,que concorram para a consolidação da paz, da reconciliaçãonacional e melhoria da qualidade de vida da população21.b) O Ministério do Emprego e Segurança Social que tem po -deres tutelares sobre o Instituto Nacional de Segurança Social,o INSS, que gere o sistema de protecção social obrigatória;c) O Ministério da Assistência e Reinserção Social, tem com -petência em matéria de assistência social, assim reza o seuestatuto; um órgão do Governo encarregue de dirigir e coor -denar a execução da política social relativa aos grupos maisvulneráveis da população, garantindo os seus direitos e apromoção do seu desenvolvimento através de medidas quereportam a implementação de políticas sociais básicas dareinserção e da assistência social, e tem como competên-cias e atribuições: propor políticas, estratégias específicas noquadro da assistência, reinserção social das populações ca -rentes e desprotegidas, assegurar assistência ao idoso, à in -fância e ao adolescente, à pessoa portadora de deficiênciaque não esteja abrangida pela segurança social, propor a im -plementação de estratégias de promoção e desenvolvimen-to comunitário, promover e dinamizar o desenvolvimento deacções que visem o surgimento de serviços de apoio, pro-moção do bem-estar das famílias carentes, promover pro-gramas de atendimento à pessoa portadora de deficiência,garantindo e acompanhando a sua reinserção social, pro poras políticas de integração social e formação profissio nal dosex-militares, etc.

Do ponto de vista programático, as contribuições e compe -tências da Secretaria de Estado para os Assuntos Sociais daCa sa Civil do Presidente da República e do Ministério da Assis -tência e Reinserção Social são coincidentes. Esta duplicação decompetências e atribuições é prejudicial em sede protecção so-cial; normalmente criam-se conflitos positivos ou negativos de

com pe tências, e estes conflitos prejudicam grandemente as po -lí ticas pú blicas no âmbito da segurança social.

2.5. Modelo de Protecção Social

Todas as políticas sociais dos Estados estão sempre reflec -tidas nas dos modelos de protecção social de ESPING-ANDER-SEN22; fazendo uma análise da legislação angolana referente àmatéria de segurança social, notamos com alguma facilidade apresença do modelo continental ou corporativo, em que o siste -ma é financiado em grande medida pelas contribuições dos tra-balhadores, tal como ESPING-ANDERSEN referiu; este mo de lotem dificuldades em responder a níveis astronómicos de desem -prego, por um lado, e, por outro, o aumento dos pensio nistas ge -ra excesso de peso nas despesas com as pensões.

Assim sendo, o Estado angolano deveria também optar pe -lo modelo escandinavo ou social-democrático, na medida em queeste modelo assenta no acesso universal, que garante as pres ta -ções igualitárias, assente no financiamento pelos impostos (OGE).Também seria importante o desenvolvimento de po líticas agres-sivas no combate ao desemprego, ou seja, desenvolver medidaspositivas de inserção no mercado de trabalho.

Este modelo deveria ser implementado nesta altura em que aeconomia angolana esta em afirmação, possibilitando que os fi-nanciamentos via imposto sejam canalizados para uma conta queserá gerida a prazo, possibilitando assim que o Instituto da Segu - ran ça Social tenha fundos suficientes para fazer face aos en car gosque vão seguramente aparecer com o aumento dos pensio nis tas,já que este modelo tem como desvantagem a dificuldade de finan -ciamento; neste sentido, estaria minorada esta des vantagem.

Em síntese, Angola deveria adoptar um modelo misto, istoé um modelo continental, também designado por modelo corpo -rativo e modelo escandinavo ou social-democrático.

Nesta ideia está subjacente a minoração dos constran gi -men tos a que a segurança social angolana está submetida. É deno tar que o sistema de segurança social estará a breve trechosub metido à pressão resultante do aumento de pensionistas, vistoque até ao presente momento o INSS não recebe verbas do OGE.

[continua na próxima Gazeta]

Notas

1 BREUS, Thiago Lima, Políticas públicas no Estado Constitucional, Edi -to ra Fórum, 2007, p. 22.2 FERRÃO, João, O ordenamento do território como política pública, Fun -dação Calouste Gulbenkian, 2011, p. 27. 3 Concepção Beveridgiana também chamada por concepção universalis -ta, surgiu com o Relatório do Economista Britânico, Wiliam Beveridge, em1942. Esta concepção consistia no facto de que o Estado organizava, ge -ria e subsidiava o sistema de segurança social, com fundamento na pro-tecção contra as situações de carência, garantindo prestações mínimas atodas pessoas independentemente da sua situação laboral, ou seja, todostêm direito à segurança social com vista à garantia do mínimo vital.

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 25

A Concepção Assistencialista surgiu com uma Lei (Social Security Act,1935) criada pelo presidente norte-americano, Franklin D. Roosevelt co -mo parte do New Deal. Esta lei estabeleceu seguros sociais de naturezalaboralista tendo como âmbito da protecção a velhice, o desemprego ea sobrevivência de um lado; por outro lado, criou o sistema de assistên-cia de saúde infantil e de maternidade. Para além destas concepções, tam -bém existe a concepção Bismarckiana, baseada no seguro social (sys-tem is based primarily on social insurance contribution), que consistena sistema de protecção social criado pelo Chanceler alemão Otto VonBismarck, no ano 1881, com o propósito de sistematizar os seguros so-ciais; criou diplomas legais com vista a garantir a assistência básica aosindivíduos. Estes diplomas resumiam-se em lei sobre o Seguro obrigató -rio pa ra os trabalhadores da indústria, que se substanciava na protecçãocontra doenças, invalidez, acidentes de trabalho e velhice.Ainda no âmbito desta matéria, cf. PETRA, Monteiro, «O Direito à segu-rança Social Enquanto Ditame da Dignidade da Pessoa humana», in Tra -tado Luso-Brasileiro da Dignidade Humana, coordenação de Jorge Miran -da e Marco António Marques da Silva, Editora Quartier Latin do Brasil,2008, p. 1326 e ss.4 A Lei Constitucional foi alvo de algumas revisões; essas alterações fo -ram as seguintes: Lei 71/76, de 11 de Novembro, Lei 13/77, de 7 de Agos -to. Destaca-se que em 1978, no dia 7 de Fevereiro, foi publicada a LeiCons titucional revista e alterada. O seu art. 2.º dispunha o se guinte: todaa soberania reside no povo angolano. O MPLA – Partido do Trabalho consti -tui a vanguarda organizada da classe operária e cabe-lhe como partidomarxista-leninista, a direcção da política económica e social do Estadonos esforços para a construção da Sociedade Socialista (sublinhado nos -so). Esta revisão da Lei Constitucional de 1978 já fazia menção aos di-reitos sociais, isto é, para além dos previstos nos arts. 27.º e 28.º5 Cf. MAPRESS, Segurança Social em Angola, realidade e perspectivas,Junho de 2008, p. 16.6 Cf. o n.º 2 do artigo 47.º da Lei Constitucional angolana, de 1992.7 Cf. o artigo 4.º e artigo 31.º da Lei n.º 7/04, de 15 de Outubro, Lei deBase da Protecção Social. 8 A propósito disto, vide DAVID, Sofia, «Segurança Social Versus Demo -cracia política, social e participativa», in revista n.º 08 Julgar, Associa -ção Sindical dos Juízes Portugueses, Coimbra Editora, 2009, p. 189.9 A Caixa de Segurança Social da FAA foi criada por meio do Decreto-Lein.º 38/01, de 22 de Junho, com o propósito de prestar assistência so-cial as FAAs; a Caixa é uma instituição pública sob tutela do Ministérioda Defesa Nacional, cujo objectivo social consiste no atendimento e pro-tecção social dos militares desmobilizados, na reserva, antigos comba -tentes, viúvas e órfãos dos efectivos já falecidos.10 Cf. os artigos 27.º, 28.º, 29.º e 30.º da Lei 7/04, de 15 de Outubro,Lei de Base da Protecção Social. 11 As seguradoras gerem os fundos de pensões ao abrigo do despachon.º 185/01, de 27 de Julho, do Ministro das Finanças.12 Cf. o n.º 3 do artigo 15.º do Decreto n.º 38/08, de 19 de Junho.

13 A propósito veja-se, COSTA CABRAL, Nazaré da, «A Retribuição eco nó - mica – breve estudos. O seu significado à luz das principais teorias eco -nómicas», in AAFDL, 2002.14 A propósito veja-se o art. 77.º da CRA. 15 Idem, ibidem, p. 5. 16 Cf. o Relatório da Global Witness, intitulado de Rigged? The Scramblefor Africa’s Oil, Gas and Mineral. A Global Withness é uma Organizaçãonão governamental com sede no Reino Unido, que tem como função ainvestigação da proveniência dos recursos naturas que servem para ofinanciamento de conflitos e corrupção.17 Sem prejuízo da iniciativa privada em matéria de protecção suplemen-tar, conforme dispõe o n.º 3 do art. 77.º da CRA. 18 Entre outras coisas, estes artigos estabelecem o seguinte: constituemfundamentos e objectivos da protecção social de base a solidariedadenacional que reflecte características distributivas e é, essencialmente, fi-nanciada através do imposto; o bem-estar das pessoas, das famílias e dacomunidade que se concretiza através da promoção social e do desen-volvimento regional; reduzindo, progressivamente, as desigualdades so -ciais e as assimetrias regionais; a garantia dos níveis mínimos de sub-sistências e dignidade, através de acções de assistência a pessoas efa mílias em situações especialmente graves, quer pela sua imprevisibi -lidade ou dimensão quer pela impossibilidade total de recuperação ou departicipação financeira dos destinatários; desempregados em risco demarginalização, pessoas ou famílias em situação grave de pobreza. 19 Apesar de a al. e) do art. 33.º da Lei 7/04, de 15 de Outubro, fazer men - ção a transferências do Orçamento Geral do Estado para o Instituto Na-cional de Segurança Social, não tem havido na prática financiamento doOGE para a protecção social obrigatória conforme o previsto, ou seja,to da a dotação do OGE com referência à assistência social na prática écanalizada para o Ministério da Assistência e Reinserção Social. O INSSvive apenas com as contribuições dos trabalhadores e das entidades em -pregadoras, sendo o valor percentual das contribuições apenas de 11%,(3% para o trabalhador e 8% para a entidade empre gadora; vide o n.º 3do art. 15.º do D. L. 38/08); seguramente este va lor é ínfimo. A título com -pa rativo, Portugal tem um valor percentual de 34,75%, cabendo 23,73% àen tidade empregadora e 11% ao traba lhador (vide art. 53.º da Lei 110//2009, de 16 de Setembro). Por outro la do, em Portu gal o sistema de se-gurança social conta também com finan ciamento por transferência do Or -çamento do Estado; a propósito des ta matéria, vide o D. L 367/2007. 20 Nesta Constituição, o Direito à Segurança vem expresso de forma ali -gei rada, dizendo apenas que os direitos sociais estão salvaguardados,(the heath, safety and welfare of all persons in employment are safeguar -ded and not endangered or abused). 21 Cfr. o art. 12.º do Decreto Presidencial n.º 43/10, que aprova o estatu-to orgâ ni co sobre a organização e funcionamento da Casa Civil e da Se -cretaria-Ge ral do Presidente da República.22 Neste sentido, cf. Esping-Andersen, Gosta, Three Worlds of welfare ca -pi talism, 1990, p. 69 e ss.

26 • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

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O dia das penitenciárias em Angola é 20 de Março. É co me -morado há 33 anos e existem oficialmente 34 estabe leci mentosprisionais em Angola.

Angola tem uma população penal de cerca de 20.300 re clu -sos, entre detidos e condenados, dos quais cerca de 80% sãoanalfabetos, sendo cerca de 60% jovens em idade activa e pro-dutiva com menos de 30 anos de idade. O nível de escolaridadepredominante é a sexta classe.

Cerca de 66% dos reclusos estão sem ocupação sociopro -fissional e cerca de 345 dos reclusos estão integrados em pro-gramas laborais e de escolarização.

O Estado despende cerca de USD 30/dia para a manu ten -ção de cada recluso (com água, luz, alimentação, vestuário e me -di camentos). Cerca de USD 610 mil dó la res por dia, o que cor-responde a 18 milhões de dólares/mês.

A maior cadeia de Angola é a cadeia de Bentiaba (Namibe)concebida para 2.000 reclusos. Actualmente, tem internados cer -ca de 1.500 reclusos, dos quais 1.254 são condenados. A cadeiado Bentiaba é o antigo centro prisional de São Ni colau. Foi cons - truída em 1824 e o seu regime é aberto. Possui uma escola com12 salas de au la, lecciona da iniciação ao ensino médio, acolhen -do, em 2012 cer ca de 500 es tu dan tes/reclusos. Ficaram fora dosistema de ensino, por falta de salas de aula, cerca de 300 reclusos.

O hospital da cadeia de Bentiaba tem capacidade para 60ca mas.

Na comarca do Namibe, localizada na sede da província, en -contram-se cer ca de 300 presos. Destes, 145 são condenados,en tre os quais 6 mulheres.

No Namibe regista-se uma média de 47 crimes por sema -na. Os crimes mais fre quentes são roubos, furtos e uso de dro-gas.

Luanda tem cerca de 7 mil presos; dentre eles cerca de 200são mulheres. Cer ca de 1.500 são condenados com processostransitados em julgado e cerca de 5 mil reclusos aguardam jul-gamento. Luanda tem 4 estabelecimentos prisionais.

Em 2012 registaram-se 2 fugas de presos, sendo 1 na ca -deia central de Luan da e outra no estabelecimento prisional deViana. Por norma as fugas ocorrem durante as brigadas de tra-balho, quando os reclusos prestam trabalho fora das ins ta la çõesprisionais.

O estabelecimento prisional de Viana tem a única cadeia fe -minina no país.

Em média, as cadeias de Luanda recebem 80 detidos/dia.Em Luanda duas empresas servem as 3 refeições por dia aos

detidos. Os ser viços prisionais de Luanda têm uma padaria quefabrica diariamente cerca de 8 mil pães destinados aos reclusose efectivos em serviço.

Em 2010 o índice de reincidência de crimes foi de 1,5 e, noprimeiro semes tre de 2012, foi de 2,5%. Em Angola não existe tri -bunal de execução de penas.

A divisão judicial, em Angola, não corresponde à divisão ad -ministrativa. Como sabemos, em Angola existem 18 provínciase, entretanto, existem 19 tribunais provinciais, já que o municípiodo Lobito, na província de Benguela, tem um tribunal com com-petência provincial.

Os tribunais provinciais estão divididos, em regra, em Salasdo Cível e Administrativo, dos Crimes Comuns, de Família, do Tra - balho, e estas em secções. Em Luanda funciona uma sala deQues tões Marítimas, um Julgado de Menores, e estão em funcio -namento 3 tribunais municipais (Viana, Cacuaco e Ingombota).

Em Angola existem 164 municípios, e apenas estão em fun -cionamento 14 tribunais municipais, ou seja, apenas, 8% dos mu -nicípios têm tribunais municipais. Existem províncias como a doBié, com 9 municípios e cerca de 3 milhões de habitantes, quenão têm em funcionamento um único tribunal municipal (o tribu -nal municipal do Andulo não funciona). Grande parte das pro vín -

cias que têm estabelecidos tribunais municipais; estes, não sãomais do que dois. Cabinda tem em funcionamento dois tribu nais:Cabinda e Buco-Zau. O tribunal municipal de Belize não funcio -na, por falta de juiz. Cabinda só dispõe de 3 juízes de Direito.

O Cunene tem 6 municípios e não tem em funcionamento ne -nhum tribunal municipal.

Em 2012, só nos municípios de Kwa nhama e Ombanja fo -ram cerca de 2.300 pessoas vítimas de violência doméstica.

A Província da Huíla tem em funcionamento o tribunal pro vin -cial da Huíla e 2 tribunais municipais (Caconda e Matala).

O tribunal da Huíla não tem instalações próprias e tem ape-nas 2 salas de audiências para 13 juízes.

A província do Huambo tem estabelecidos 2 tribunais muni -cipais: Cáala e Bailundo. Inexplicavelmente, o tribunal munici paldo Bailundo não funciona.

O município de Chongoroi, em Benguela, regista cerca de 10

PORQUE SE JUSTIFICA EM ANGOLA UM TRIBUNAL DE EXECUÇÃO DE PENAS…

PORQUE SE JUSTIFICA EM ANGOLA UM NOVO MAPA GEOGRÁFICO DOS TRIBUNAIS

REFLEXÕES

Durante um ano judicial (1 de Março a 20 de Dezembro) es -tabelecem contacto com o sistema judicial angolano cerca de 100mil cidadãos, pelos mais variados motivos.

Actualmente existem 310 Magistrados do Ministério Público.Em 2012 a Procuradoria-Geral da Republica registou em to -

do o país 38.256 processos.Realizou 43.917 interrogatórios de arguidos presos, dos quais

21.370 foram mantidos presos.Foram encaminhados para os tribunais de 1.ª instância 23.997

processos.Angola tem cerca de 350 juízes (precisamente 351) que pro -

ferem cerca de 3 mil decisões judiciais/ano. É caso para dizerque dos cerca de 23 mil processos judiciais/ano ficaram por re-solver 20 mil processos. O sistema judicial teve uma produtivi-dade de 13% no ano/judicial. Como se explica?

Exemplificando: O Tribunal Supremo deveria ter 11 Juízes Con -selheiros para as duas câmaras, sendo 5 na câmara do Crime e 5na câmara do Cível, Administrativo, Trabalho, Família e Me nores.

Actualmente, tem 3 Juízes Conselheiros na câmara do Cri mee duas juízas na câmara do Cível, Administrativo, Trabalho, Fa mí -lia e Menores.

Em Março de 2012 a câmara do Cível tinha a correr trâ mi -tes cerca de 3.000 processos, sendo 1142 Recursos de Agra voe 1822 Recursos de Apelação.

A lei prevê 8 juízes para o Tribunal de Contas, sendo 4 na Câ -mara de fiscalização preventiva e 4 na Câmara de fiscalizaçãosucessiva. Neste momento trabalham 2 juízes em cada Câmara.

Há falta de Magistrados judiciais em todas as instâncias.Há falta de Magistrados do Ministério Público nos órgãos de

Polícia Criminal, na Direcção Nacional de Investigação Criminal,na Direcção Nacional de Inspecção e Investigação das activida -des Económicas e respectivos órgãos provinciais e municipais,nos comandos municipais e divisões da Polícia Nacional.

Excepção é feita ao Tribunal Constitucional. O plenário do Tri -bunal Constitucional tem em exercício de funções 11 Juízes Con - selheiros.

A contingência (número estimado de processos que um ma -gistrado judicial pode resolver/ano) é de cerca de 150 processosjudiciais/ano. Isto é, 3 julgamentos/semana, 12 julgamen tos/mês,160 julgamentos/ano. Logo, para os Tribunais res pon derem comprontidão à demanda dos cidadãos em Angola, num mesmo anojudicial seriam necessários cerca de 670 juízes.

Se o Estado angolano pagasse uma média salarial de 5 mildólares americanos por Magistrado despenderia mensalmentecerca de 4 milhões de dólares americanos.

Para as duas Magistraturas seriam cerca de 8 milhões dedólares/mês. Nada alarmante, já que o Estado angolano des pen -de cerca de USD 30/dia para a manutenção de cada recluso (comágua, luz, alimentação, vestuário e medicamentos). Cer ca de 610mil dólares por dia, o que corresponde a 18 milhões de dólares//mês.

Em Dezembro de 2012 a OAA tinha inscritos 2200 advoga -dos, sendo cerca de 1300 advogados estagiários. Deste univer so,cerca de 500 advogados são advogados forenses. Isto é, vão àbar ra dos tribunais. Utilizando a hipótese de que 100 mil cida dãosrecorrem aos serviços de justiça por ano, teríamos uma médiade 200 processos assistidos por cada advogado fo ren se/ano.

Se cada advogado receber 3 cidadãos por semana, sendo 12no mês, perfazendo cerca de 120 constituintes/ano, seriam ne -ces sários mais cerca de 300 advogados forenses em Angola.

Facilmente se compreende que o sistema judicial angolanoprecisa de mais Magistrados do que de advogados. Clarificando,precisa de cerca de 450 Magistrados judiciais e 490 Magis tra -dos do Ministério Público para responder com prontidão à de man -da dos cidadãos em Angola durante o ano judicial.

Luís Paulo MonteiroAdvogado

Os dados e opiniões são da inteira

responsabilidade do autor.

acidentes de viação por mês. A esquadra da polícia do municí-pio da Catumbela regista cerca de 15 acidentes de viação/mês.Entretanto, Benguela só tem em funcionamento 3 tribunais mu-nicipais: Cubal, Ganda e Baia Farta.

Só a província do Kwanza Sul tem estabelecidos 5 tribunaismu nicipais: Amboim, Porto Amboim, Cela, Libolo e Sumbe. O tri -bu nal provincial do Kuanza Sul tem 13 juízes, dos quais 5 de Di-reito. Estes tribunais, também chamados de «tribunais de 1.ª ins - tância» têm na generalidade 3 a 4 juízes, e cada um dos juízes

tem distribuídos cerca de 1000 processos. Os tribunais têm, emregra, uma única sala de audiências de julgamento. Em média,ca da juiz utiliza a sala de audiências 2 vezes por semana.

Nenhum destes tribunais municipais dispõe de ligação à In-ternet, pessoal de especialidade nem viaturas celulares.

Invariavelmente, os juízes colocados nos tribunais de 1.ª ins -tância julgam todo o tipo de processos.

A organização judiciaria constitui o suporte garantístico parao exercício pleno e eficaz do poder judicial.

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REFLEXÕES

DE QUANTOS MAGISTRADOS PRECISAO SISTEMA JUDICIAL ANGOLANO?

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 29

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64.º ANIVERSÁRIO DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL

DOS DIREITOS HUMANOSA Declaração Universal dos Direitos Hu-

manos foi adoptada pelas Nações Unidasem 10 de Dezembro de 1948 (A/RES/217)no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, dohorror do holocausto nazi e também na vi -gência do colonialismo europeu, que mar ca - vam a política internacional.

O seu principal redactor foi o jurista ca -nadiano John Peters Humphrey, (30 de Abrilde 1905 - 14 de Março de 1995) acérrimode fensor dos direitos humanos o qual, em 1946, enquanto direc -tor da Divisão de Direitos Humanos das Nações Unidas e coma colaboração de representantes de todas as regiões do mundo,criou o projecto inicial da Declaração Universal dos Direitos Hu-manos.

Foi aprovado como resolução da Assembleia Geral – A/RES//217 – que foi referida por Eleanor Roosevelt, que presidia a Co -missão das Nações Unidas para os Direitos Humanos, como a«Carta Magna da Humanidade».

Ela trouxe consigo uma mudança substancial na teoria e naprática do direito internacional, pois que reconheceu que os Di-reitos Humanos constituem matéria indelével de preocupação evigilância internacionais.

Trata-se do documento dos direitos humanos mais univer-sal, mais editado, documento matriz que faz a delineação dos di -reitos fundamentais que devem sustentar qualquer so ciedade de -mo crática.

Podemos dizer que a Carta Magna da Humanidade, ao seraprovada e adoptada, passou a constituir uma das mais impor-tantes conquistas das Nações Unidas transferida para todos ossistemas jurídicos. Faz parte do direito das Nações e é o garan -te teórico da liberdade, justiça e paz no mundo.

No seu preâmbulo e Artigo 1.º, a Declaração proclama ine -quivocamente os direitos inerentes de todos os seres humanos:«O desconhecimento e o desprezo dos direitos humanos con-

duziram a actos de barbárie que revoltaram a consciência da

Humanidade e o advento de um mundo em que os seres huma -

nos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da misé -

ria, foi proclamado como a mais alta inspiração do Homem... To -

dos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e

em direitos».Porque comemoramos a memorável data e ninguém pode

esquecer, a Gazeta deixa aqui, na íntegra, a Declaração:

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM

PREÂMBULO

Considerando que o reconhecimento dadignidade inerente e dos direitos iguais einalienáveis de todos os membros da fa mí -lia humana é o fundamento da liberdade, jus - tiça e paz no mundo,

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitoshumanos resultaram em actos bárbaros que ultrajaram a cons -ciência da Humanidade e que o advento de um mundo no qual osseres humanos gozem de liberdade de expressão e de cren ça eda liberdade do medo e da miséria, foi proclamado como a maisalta aspiração do homem comum,

Considerando que é essencial, para que o Homem não sejaobrigado a recorrer, como último recurso, à rebelião contra a ti -ra nia e a opressão, que os direitos humanos sejam protegidospelo estado de direito,

Considerando que é essencial para promover o desenvolvi-mento de relações amistosas entre as nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas, na Carta,reafirmaram a sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dig -nidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direi tosentre homens e mulheres, e que decidiram promover o progres -so social e melhores condições de vida em maior liberdade,

Considerando que os Estados-Membros se comprometerama promover, em cooperação com as Nações Unidas, a promo çãodo respeito universal e observância dos direitos humanos e li ber -dades fundamentais,

Considerando que uma compreensão comum desses direi -tos e liberdades é da maior importância para o pleno cumprimen -to desse compromisso,

Agora, portanto,A Assembleia Geral,Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do

Homem como um ideal comum a atingir por todos os povos etodas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos osórgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, sees forcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o res -peito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas

Eleanor Roosevelt com a Declaração

progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhe -ci mento e a sua aplicação universais e efectivas, tanto entre as po -pulações dos próprios Estados-membros como entre os po vosdos territórios colocados sob a sua jurisdição.

Artigo 1.º – Todos os seres humanos nascem livres e iguaisem dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência,devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Artigo 2.º – Todos os seres humanos podem invocar os di-reitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, semdistinção alguma, nomeadamente de raça, cor, sexo, língua, reli -gião, opinião política ou outra, origem nacional ou social, fortu -na, nascimento ou outro estatuto.

Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no es -tatuto político, jurídico ou internacional do país ou do terri tó rioda naturalidade da pessoa, seja esse país ou território indepen-dente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de so -berania.

Artigo 3.º – Todas as pessoas têm direito à vida, à liberda -de e à segurança pessoal.

Artigo 4.º – Ninguém pode ser mantido em escravidão ou emservidão; a escravatura e o comércio de escravos, sob qualquerforma, são proibidos.

Artigo 5.º – Ninguém será submetido a tortura nem a puni -ção ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes.

Artigo 6.º – Todos os indivíduos têm direito ao reconheci-mento como pessoa perante a lei.

Artigo 7.º – Todos são iguais perante a lei e, sem qualquer dis - criminação, têm direito a igual proteção da lei. Todos têm direito aprotecção igual contra qualquer discriminação que viole a presen -te Declaração e contra qualquer incitamento a tal discri minação.

Artigo 8.º – Todas as pessoas têm direito a um recurso efec -tivo dado pelos tribunais nacionais competentes contra os ac -tos que violem os seus direitos fundamentais reconhecidos pe -la Constituição ou pela lei.

Artigo 9.º – Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detidoou exilado.

Artigo 10.º – Todas as pessoas têm direito, em plena igual-dade, a uma audiência justa e pública, julgada por um tribunal in -dependente e imparcial em determinação dos seus direitos e obri -gações e de qualquer acusação criminal contra elas.

Artigo 11.º – 1. Toda a pessoa acusada de um acto delituo -

so presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legal-mente provada no decurso de um processo público em que to -das as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.

2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que,no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à fa -ce do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não se -rá infligida pena mais grave do que a que era aplicável no mo-mento em que o acto delituoso foi cometido.

Artigo 12.º – Ninguém deverá ser submetido a interferên-cias arbitrárias na sua vida privada, família, domicílio ou corres -pondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra taisintromissões ou ataques, todas as pessoas têm o direito à pro -tec ção da lei.

Artigo 13.º – 1. Toda a pessoa tem o direito de livrementecircular e escolher a sua residência no interior de um Estado.

2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em quese encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.

Artigo 14.º – 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem odireito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países.

2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso deprocesso realmente existente por crime de direito comum oupor actividades contrárias aos fins e aos princípios das NaçõesUnidas.

Artigo 15.º – 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacio -nalidade.

2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacio -nalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo 16.º – 1. A partir da idade núbil, o homem e a mu lhertêm o direito de casar e de constituir família, sem restrição al -gu ma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamentoe na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.

2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e plenoconsentimento dos futuros esposos.

3. A família é o elemento natural e fundamental da socie da -de e tem direito à protecção desta e do Estado.

Artigo 17.º – 1. Toda a pessoa, individual ou colectiva, temdireito à propriedade.

2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua proprie -dade.

Artigo 18.º – Todas as pessoas têm direito à liberdade depen samento, de consciência e de religião; este direito implica aliberdade de mudar de religião ou de credo, assim como a liber-dade de manifestar a sua religião ou credo, sozinho ou em comu -nidade com outros, quer em público ou em privado, através doensino, prática, culto e rituais.

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A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • 31

Artigo 19.º – Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opi -nião e de expressão; este direito implica a liberdade de manteras suas próprias opiniões sem interferência e de procurar, rece -ber e difundir informações e ideias por qualquer meio de ex pres -são, independentemente das fronteiras.

Artigo 20.º – 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade dereunião e de associação pacíficas.

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma asso-ciação.

Artigo 21.º – 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar partena direcção dos negócios públicos do seu país, quer directamen -te, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.

2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições deigualdade, às funções públicas do seu país.

3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos po -deres públicos; e deve exprimir-se através de eleições honestasa realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com vo -to secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde aliberdade de voto.

Artigo 22.º – Toda a pessoa, como membro da sociedade,tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir asatisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indis-pensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação interna-cional, de harmonia com a organização e os recursos de cadapaís.

Artigo 23.º – 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à li -vre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatóriasde trabalho e à protecção contra o desemprego.

2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salárioigual por trabalho igual.

3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativae satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência con -forme com a dignidade humana, e completada, se possível, portodos os outros meios de protecção social.

4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pes-soas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seusinteresses.

Artigo 24.º – Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos la -zeres e, especialmente, a uma limitação razoável da duração dotrabalho e a férias periódicas pagas.

Artigo 25.º – 1. Toda a pessoa tem direito a um nível devi da suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e obem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário,ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos ser vi çossociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego,na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos

de perda de meios de subsistência por circunstâncias indepen-dentes da sua vontade.

2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assis -tência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora domatrimónio, gozam da mesma protecção social.

Artigo 26.º – 1. Toda a pessoa tem direito à educação. Aeducação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao en -sino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. Oensino técnico e profissional deve ser generalizado; o acesso aosestudos superiores deve estar aberto a todos em plena igual dade,em função do seu mérito.

2. A educação deve visar à plena expansão da personalida -de humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberda -des fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerânciae a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais oureligiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Na - ções Unidas para a manutenção da paz.

3. Os pais têm um direito preferencial para escolher o tipode educação que será dada aos seus filhos.

Artigo 27.º – 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte li -vremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de parti -cipar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.

2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e ma -teriais ligados a qualquer produção científica, literária ou ar tís ti -ca da sua autoria.

Artigo 28.º – Toda a pessoa tem direito a que reine, no pla -no social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornarplenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas napresente Declaração.

Artigo 29.º – 1. O indivíduo tem deveres para com a comu -nidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimen -to da sua personalidade.

2. No exercício deste direito e no gozo destas liberdadesninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela leicom vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o res -peito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer asjustas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar nu -ma sociedade democrática.

3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exer -cidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 30.º – Nada na presente Declaração pode ser inter-pretado de maneira a conceder a qualquer Estado, grupo ou in-divíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de pra -ticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aquienunciados.

Imagem e texto da Declaração in: Wikipedia

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O intelectual francês Stéphane Hessel, autor do best-sel -

ler In dignai-vos!, mor reu ontem, dia 27 de Fevereiro, duran te anoite, aos 95 anos, anunciou hoje a sua mu lher.

O antigo diplomata e ex-combatente da resistência fran ce -sa à ocupação ale mã «morreu durante a noite», disse à AFPChris tiane Hessel-Chabry.

Stéphane Hessel, diplomata de ori gem alemã, foi membroda Resistência Francesa, torturado pela Gestapo e preso numcam po de concentração durante a Se gunda Guerra Mundial.

É autor dos livros Indignai-vos! (2010) e Empenhai-vos!

(2011), que venderam milhões de exemplares em todo o mun - do e que inspiraram os movimentos dos «In dignados» em vá - rios países, sobretudo no Sul da Europa.

Nascido em Berlim em 1917, cedo foi viver para Françacom a família, tendo obtido a nacionalidade francesa. A ori -gem judai ca obrigou-o a abandonar o país aquan do da ocupa -ção nazi, pa ra se juntar à Resistência liderada por De Gaulle emInglaterra.

Em 1944, foi preso em território fran cês e enviado paracampos de concentra ção nazis, de onde conseguiu evadir-se.Após o fim da guerra, iniciou uma longa carreira diplomáticae representou a Fran ça junto das Nações Unidas.

In Expresso, edição on-line, de 4 de Março de 2013

Morreu Stéphane Hessel, o único redactor ainda vivo,

da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948

LEGISLAÇÃO RELEVANTE

Lei n.º 2/13

Aprova o Orçamento Geral do Estado para o ExercícioEconómico de 2013.

Lei n.º 1/13

Autorização Legislativa para alteração do momento cen -sitário.

Lei 27/12 – Lei

Da Marinha Mercante, Portos e Actividade Conexas.

Lei 26/12 – Lei

Do Transporte e Armazenamento de Petróleo Bruto eGás Natural.

Lei 25/12 – Lei

Sobre a Protecção e Desenvolvimento Integral daCrian ça.

Lei 24/12 – Lei

De Alteração a Lei n.º 15/10 de Julho – Lei-Quadro do Orçamento Geral do Estado.

Lei 23/12 – Lei

De Alteração do artigo 56.º Código de Processo Penal.

BASTONÁRIO DE S. TOMÉ NOMEADO 1.º MINISTRO

De S. Tomé e Príncipe chega-nos a notícia de que o Dr. Ga -briel da Costa, Bastonário da Ordem de S. Tomé e Príncipe, foinomeado Primeiro-Ministro, dia 13 de Dezembro, pelo Presiden -te da República, Manuel Pinto da Costa. Fica a substituí-lo, naOrdem dos Advogados, a Dra. Celiza de Deus Lima, do Conse -lho Nacional da mesma, a quem desejamos o maior sucesso àfrente da instituição.

VIII CONSELHO CONSULTIVO DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Sob a orientação do seu Ministro, Dr. Rui Mangueira, o Minis -tério da Justiça e dos Direitos Humanos realizou o seu VIII Con-selho Consultivo, em Benguela, nos dias 20 e 21 de Fevereiro.

A legislação sobre o Combate ao Branqueamento de Capi-

tais foi considerada pelo titular da pasta como sendo prioritáriano sentido de penalizar os crimes desta natureza.

A Defesa dos Direitos Humanos, o combate à droga e as car -reiras foram outros assuntos abordados e discutidos nos doisdias do evento.

MIGUEL LOINAZ ELEITO PRESIDENTE DA UIA

Pela primeira vez na história da União Internacional dos Ad-vogados (UIA) um uruguaio é eleito presidente. O advogado Mi -guel Lonaiz foi eleito por maioria absoluta da assembleia na pri -meira volta, em fins de 2012. Lonaiz chega à presidência da UIA,cuja sede fica em Paris, com uma agenda que o levará a traba -lhar em tribunais internacionais como o Tribunal Penal Internacio -nal e a assessorar as Nações Unidas já que a UIA é um organis -mo consultor da ONU.

In: Boletim Internacional – Conselho Federal da OAB

NOTÍCIAS BREVES

BASTONÁRIO DE MOÇAMBIQUE DIZ QUE PARCERIAS COM PORTUGUESES

DISFARÇAM EXERCÍCIO ILEGAL DA PROFISSÃO

O Bastonário dos Advogados de Moçambiquecon sidera que as parcerias de escritórios locais comportu gueses são «um disfarce» do exercício ilegal daadvocacia em Moçambique, apontando a prática co -mo «um dos maiores desafios» da Ordem, noticiou aLusa.

Gilberto Correia, que vai abandonar a liderança daOrdem dos Advogados de Moçambique (OAM), afir-ma, em editorial do Boletim Informativo da OAM, que,a co berto dos acordos de cooperação com escritó -rios de ad vogados locais, os advogados portugue-ses instalam-se em Moçambique para exercer ilegal-mente a actividade.

«Várias vezes, sob o disfarce da formação, trans -missão de conhecimento, gestão da parceria, harmo -nização informática, entre outros, alguns advogadosportugueses instalam-se nos escritórios dos alegadosparceiros em Maputo, onde praticam de forma maisou menos disfarçada actos próprios da profissão deadvogado em benefício de terceiros – clientes aqui emMoçambique», diz Gilberto Correia.

Segundo o bastonário da OAM, trabalhos realiza -dos por advogados estrangeiros não autorizados aexercer a actividade em Moçambique são depois as -sinados por colegas moçambicanos.

«O nosso estatuto proíbe que o advogado assi -ne pareceres, peças profissionais e outros escritos pro - fissionais que não tenha feito ou em que não tenhacolaborado», lê-se no editorial.

Em alguns casos, assinala Gilberto Correia, a par -ticipação dos advogados moçambicanos nas socie -da des de advogados é uma fachada, uma vez que apropriedade dos escritórios pertence a advogados do -miciliados no estrangeiro.

«As operações de fraude à lei, os negócios si -mulados e os acordos parassociais passaram a ser re -gra para acobertar claros dissídios entre a verdadematerial e a verdade formal em matéria de procura -do ria ilícita», afirma o bastonário da OAM.

Em Moçambique, a profissão de advogado está,geralmente, vedada a estrangeiros, e um protocoloassinado entre as ordens portuguesa e moçambica -na, permitindo essa actividade nos dois países, ca-ducou e não foi renovado.

In: Site da ANGOP – Agência Angola Press, 22-02-2013

A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013 • VCC

NOTÍCIAS BREVES DIA DA MULHER

LEMBRAR O 8 DE MARÇO

No dia 8 de Março de 1857, numa fábrica têxtil de Nova York, mor-reram queimadas 130 mulheres.

Tinham ocupado as instalações da fábrica numa acção de reivindi-cação de redução do horário de trabalho de 16 para 10 horas.

Só passados muitos anos, em 1910, durante uma Conferência in-ternacional de mulheres, que se realizou na Dinamarca, foi consideradoque esse dia trágico e incontornável na luta pela emancipação e igualda -de deveria ser lembrado e celebrado em todo o mundo como Dia Inter-nacional da Mulher.

A situação de preconceito sexista que as mulheres continuam a en-frentar, em todos os sectores da realidade, nomeadamente e também noda advocacia, tem vindo a ser alterada mas ainda há muito por fazer evencer.

Na advocacia lembramos o nome da primeira jurista de que temosregistos, Carfânia. Exerceu, com alma e vigor, a advocacia em Roma. Ro -ma, onde se desenvolveu o modelo-base inspirador dos ordenamentosjurídicos ocidentais e, por via deles, o nosso próprio. Nesta mesma Ro -ma imperial, Carfânia teve de enfrentar e soube enfrentar um mundo pro-fundamente masculino que remetia a mulher para um papel secundáriona sociedade.

Na advocacia, e aqui, mencionamos o nome de Maria do Carmo Me -dina, a primeira advogada em Angola, profissão que abraçou e desempe -nhou numa conjuntura histórica muito adversa – a ditadura e o colonia lis -mo –, a qual não a impediu de esgrimir o seu conhecimento do Direito ea sua entrega à Justiça

«participando em julgamentos em quase todos os tribunais de An-gola, elabora petições e reclamações junto das autoridades admi -nistrativas e governativas, predominantemente em representação defuncionários angolanos relegados para as mais baixas categorias dofuncionalismo público e defesa de direitos de propriedade de famí -lias angolanas, interpõe recursos junto das mais altas instâncias en -tão sedeadas em Lisboa, como o Supremo Tribunal de Justiça, Su -pre mo Tribunal Militar, Conselho Superior Ultramarino. Participa emquase todos os julgamentos dos presos políticos angolanos e repre -senta-os em inúmeras petições e recursos administrativos dirigidosàs autoridades coloniais».

In Curriculum Vitae

de Maria do Carmo Medina

Deste espaço que é a Gazeta felicitamos, neste dia, todas as mulhe -res advogadas a quem desejamos coragem, dedicação, consciência noexercício da profissão.

Que elas sejam um esteio ético para a Advocacia.

CC • A Gazeta do Advogado • n.º 20 • Janeiro-Março • 2013

O Conselho Provincial de Luanda, no exercício das suas obrigações de organização e controlo da maioria dos advogados, 854 num universo de 953, tem vindo a tomar um conjunto

de medidas com o objectivo de chamar os advogados às suas responsabilidades perante a instituição e, portanto, reforçar a própria instituição e a advocacia.

É neste espírito que, mais uma vez, o Conselho Provincial de Luanda insta os advogados acumprirem com as suas obrigações estatutárias, às quais não devem nem podem subtrair-se.

Deixamos aqui a Circular.

Conselho Provincial de Luanda

Circular n.° 01/OA- CPL/2013

No âmbito da sua acção programática de organização e coesão da classe de Advogados, oConselho Provincial de Luanda da Ordem dos Advogados de Angola (CPL), vem, por meio desta,dar a conhecer a todos Advogados e Advogados Estagiários a necessidade do cumprimento ri go -roso dos deve res consagrados nos Estatutos da Ordem dos Advogados de Angola (EOAA), desig -nadamente nos artigos 63.° e 105.º, e Re gulamento de Estágio, concernentes a:

– Comunicação à Ordem dos Advogados de Angola (OAA) de qualquer mudança de escritórioou domicílio profissional;– Menção expressa, nas peças processuais, cartas e ou tros documentos, da qualidade deAdvogado ou Advogado Es ta giário, incluindo o nome legível, o número de cédula profissionale de identificação fiscal;– Comunicação tempestiva à OAA das situações de incom patibilidade ou impedimentos super -venientes para o exercício da advocacia e devolução da respectiva cédula;– Resposta pontual às solicitações de informações e con vocatórias dos Conselhos Nacional eProvincial da OAA; – Cumprimento do período de duração máxima para o es tágio de advocacia;– Empenho dos patronos na direcção dos estágios dos ad vogados estagiários e elaboração darespectiva informação final.

Finalmente, o CPL informa que a inobservância dos deveres acima referidos configura infrac -ção disciplinar e, enquan to tal, passível de procedimento disciplinar, nos termos dos EOAA e de -mais regulamentação.

Gabinete da Presidente do Conselho Provincial, em Luan da, aos 06 de Fevereiro de 2013.

A Presidente, Mariza Sequeira

CONSELHO PROVINCIAL DE LUANDA INSTA ADVOGADOS AO CUMPRIMENTO

DAS SUAS OBRIGAÇÕES PARA COM A ORDEM