gazeta do advogado nº 1

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NESTA EDIÇÃO EM DESTAQUE VIDA INTERNA Ordem dos Advogados de Angola realizou a I Conferência Nacional de Advogados ..................................................................................... 3 Conclusões da Conferência ..................................................................... 4 E AINDA... EDITORIAL Já temos a nossa Gazeta .......................................................................... 1 VIDA INTERNA O papel do Advogado no estabelecimento e funcionamento do Tribunal Penal Internacional – Um Tribunal para o Futuro ...................... 6 Cerimónia de entrega de Cédulas – 2004 ....................................................... 9 RELAÇÕES INTERNACIONAIS Protocolo da UOALP relativo à formação contínua ................................ 11 PARECERES E RESOLUÇÕES Emissão de pareceres sobre matérias a julgamento nos Tribunais Angolanos por Professores de Faculdades de Direito Estrangeiras .... 12 Recurso Hierárquico interposto por Advogado ...................................... 13 Resolução sobre Incompatibilidades (Res. 02/04) ................................ 14 PROPOSTAS DE LEGISLAÇÃO Projecto de Lei das Sociedades de Advogados ..................................... 15 Projecto de Decreto sobre criação de Centros de Arbitragem Voluntária .................................................................. 20 NOVIDADES LEGISLATIVAS Legislação recente de interesse para o Advogado ................................ 21 ESTUDOS E OPINIÕES Responsabilidade Civil do Advogado .................................................... 23 DIREITOS HUMANOS Os Advogados nas esquadras de Polícia ............................................... 31 HISTÓRIA Processo constitutivo da Ordem dos Advogados de Angola ................ 32 ÓRGÃOS SOCIAIS DA OAA ........................................... contracapa N.º 1 • 2004 Outubro, Novembro e Dezembro Menção de Responsabilidade Ordem dos Advogados de Angola Editor Centro de Documentação e Informação / OAA Av. Ho Chi Min (Edifício da Direcção Nacional de Estatística) Luanda – Angola Telefone: 32 63 30 Fax: 32 27 77 Director Luís Filipe Pizarro Secretariado Helena Cunha Colaboradores H. Cachimbombo, António Joaquim Concepção Gráfica, Paginação Electrónica e Produção PubliDigital (Portugal) Local de Edição Luanda Depósito Legal 179/04 Tiragem 1000 exemplares Publicação Trimestral Boletim da Ordem dos Advogados de Angola

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Menção de Responsabilidade Ordem dos Advogados de Angola Tiragem 1000 exemplares Editor Centro de Documentação e Informação / OAA Av. Ho Chi Min (Edifício da Direcção Nacional de Estatística) Luanda – Angola Telefone: 32 63 30 Fax: 32 27 77 N.º 1 • 2004 Outubro, Novembro e Dezembro Depósito Legal 179/04 Local de Edição Luanda Colaboradores H. Cachimbombo, António Joaquim Director Luís Filipe Pizarro Secretariado Helena Cunha Publicação Trimestral

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Page 1: Gazeta do Advogado nº 1

NESTA EDIÇÃO

EM DESTAQUE

� VIDA INTERNA

Ordem dos Advogados de Angola realizou a I Conferência Nacional de Advogados ..................................................................................... 3

Conclusões da Conferência ..................................................................... 4

E AINDA...

� EDITORIAL

Já temos a nossa Gazeta .......................................................................... 1

� VIDA INTERNA

O papel do Advogado no estabelecimento e funcionamento do Tribunal Penal Internacional – Um Tribunal para o Futuro ...................... 6

Cerimónia de entrega de Cédulas – 2004 ....................................................... 9

� RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Protocolo da UOALP relativo à formação contínua ................................ 11

� PARECERES E RESOLUÇÕES

Emissão de pareceres sobre matérias a julgamento nos Tribunais Angolanos por Professores de Faculdades de Direito Estrangeiras .... 12

Recurso Hierárquico interposto por Advogado ...................................... 13Resolução sobre Incompatibilidades (Res. 02/04) ................................ 14

� PROPOSTAS DE LEGISLAÇÃO

Projecto de Lei das Sociedades de Advogados ..................................... 15Projecto de Decreto sobre criação de Centros

de Arbitragem Voluntária .................................................................. 20

� NOVIDADES LEGISLATIVAS

Legislação recente de interesse para o Advogado ................................ 21

� ESTUDOS E OPINIÕES

Responsabilidade Civil do Advogado .................................................... 23

� DIREITOS HUMANOS

Os Advogados nas esquadras de Polícia ............................................... 31

� HISTÓRIA

Processo constitutivo da Ordem dos Advogados de Angola ................ 32

� ÓRGÃOS SOCIAIS DA OAA ........................................... contracapa

N.º 1 • 2004Outubro, Novembro

e Dezembro

Menção de ResponsabilidadeOrdem dos Advogados

de Angola

EditorCentro de Documentação

e Informação / OAAAv. Ho Chi Min

(Edifício da DirecçãoNacional de Estatística)

Luanda – AngolaTelefone: 32 63 30

Fax: 32 27 77

DirectorLuís Filipe Pizarro

SecretariadoHelena Cunha

ColaboradoresH. Cachimbombo, António Joaquim

Concepção Gráfica,Paginação Electrónica

e ProduçãoPubliDigital (Portugal)

Local de EdiçãoLuanda

Depósito Legal179/04

Tiragem1000 exemplares

Publicação Trimestral

Boletimda Ordemdos Advogadosde Angola

Page 2: Gazeta do Advogado nº 1

Contacte o Centro de Documentação e Informação da Ordem dos Advogados

Av. Ho Chi Min (Edifício da Direcção Nacional de Estatística) – Luanda – ANGOLATelefone: 32 63 30 • Fax: 32 27 77 • E-mail: [email protected]

Page 3: Gazeta do Advogado nº 1

Estimados Colegas,

A Gazeta do Advogado que agora sai a público vem preencher um vazio que há muito sen-tíamos: o de possuirmos um veículo de comunicação que divulgasse os actos promovidos pelanossa instituição e que desse a conhecer a todos os advogados quais as principais decisõestomadas pelos órgãos sociais da Ordem dos Advogados.

Pretendemos, também, com este órgão, criar mais um canal em que os advogados, em par-ticular, e os profissionais do direito, em geral, possam expor os seus pontos de vista sobre as vá-rias questões que afectam a nossa profissão e muito especialmente o sector de justiça.

A Gazeta do Advogado não se substitui à Revista da Ordem dos Advogados. Elas comple-mentam-se. A Gazeta tem um carácter essencialmente informativo e a segunda, a Revista, temcomo objectivo a publicação de estudos e artigos de fundo que possuam maior complexidade.

A juntar a estes meios de difusão continuaremos a editar obras na Colecção «Direito eJustiça».

A nossa organização tem vindo a crescer e, muito recentemente, com a realização da I Con-ferência Nacional dos Advogados, mostrámos, uma vez mais, que os Advogados estão unidos eque todos estamos prontos para enfrentar as grandes batalhas que visam a dignificação e a pro-tecção da classe, a melhor defesa do Estado Democrático de Direito e dos Direitos Humanos emAngola.

O carácter eminentemente social da Advocacia faz com que cada advogado deva, em qual-quer circunstância, defender sempre a justiça e o direito, assegurando a todos os cidadãos umaefectiva defesa dos seus direitos fundamentais, mesmo que, muitas das vezes, tenhamos de en-frentar sérias e fortes adversidades.

Este é o nosso apanágio e será sempre o nosso guia neste Boletim Informativo.

Neste momento de alegria, os meus parabéns a todos os Colegas que de forma directa ouindirecta contribuíram para que fosse possível a saída deste número e com ele déssemos inícioà edição do nosso boletim informativo, A Gazeta do Advogado.

Luanda, 6 de Outubro de 2004

Raúl AraújoBastonário

A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004 • 1

Já temosa nossa Gazeta

EEDDIITTOORRIIAALL

Bastonário Raúl Araújo,

2002-0000.

Page 4: Gazeta do Advogado nº 1

Sob o sugestivo lema «AADVOCACIA E OS NOVOS DE-SAFIOS DA JUSTIÇA», realizou--se, de 20 a 21 de Setembro de2004, no Palácio dos Congres-sos, Luanda, a 1.ª ConferênciaNacional de Advogados, umainiciativa da Ordem dos Advo-gados, designadamente do seuConselho Nacional.

Tratou-se, pois, do primei-ro evento do género e teve apresença e participação de con-vidados estrangeiros, oriundosde países da Comunidade Por-tuguesa, designadamente doBrasil, Cabo Verde, Moçambi-que e Portugal, em representa-ção das respectivas associa-ções profissionais.

Tendo por objectivo essencial o es-tudo e o debate das questões e dos pro-blemas que dizem respeito aos fins daOrdem dos Advogados, à formação e aoexercício da profissão do advogado, nelatomaram parte, na qualidade de confe-rencistas, insignes juristas e advogados,sendo de destacar o proeminente Prof.Dr. Avelãs Nunes, da Universidade deCoimbra e do Dr. Raimundo Cézar Britto,Secretário-Geral da Ordem dos Advoga-dos do Brasil, e os Drs. Fernando SousaMagalhães e Amaro da Luz, Presidenteda Comissão Nacional para a Formaçãoda Ordem dos Advogados de Portugal eadvogado, respectivamente.

Como não podia deixar de ser, umavez que o conhecimento e a abordagemda realidade angolana se revelou impres-cindível, a Conferência contou com o con-curso de reputados advogados e juristasnacionais, nomeadamente o Prof. Dr. Vas-co Grandão Ramos, o Bastonário ManuelGonçalves, o Prof. Dr. Orlando Rodrigues,

o Prof. Mestre Carlos Teixeira, a Dra. Pul-quéria Van-Dúnem Bastos e o Prof. Dr.Carlos Freitas.

Distribuídos por quatro painéis, osconferencistas, nas suas eloquentes co-municações, abordaram profusamente aproblemática do ensino do Direito nas uni-versidades, a formação profissional do ad-

vogado, o exercício da advocacia e os no-vos desafios com que, hodiernamente,se deparam os seus profissionais, em vir-tude da globalização cada vez mais cres-cente e irradiante, associada ao avançodas tecnologias de informação, permitin-do uma maior transacção de serviços aque a advocacia não está incólume.

2 • A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004

VVIIDDAA IINNTTEERRNNAA

Abertura da Conferência: Paulo Tjipilica, Ministro da Justiça, Roberto de Almeida, Presidente da

A. N., Raúl Araújo, Bastonário da OAA, e Lígia Fonseca, Bastonária da Ordem de Cabo-Verde.

ORDEM DOS ADVOGADOS DE ANGOLAREALIZOU A 1.ª CONFERÊNCIA NACIONAL

DE ADVOGADOS

À esquerda, Sala da Conferência, e, à direita, Bastonário da OAA, o Ministro da

Justiça e o Professor Avelãs Nunes da Universidade de Coimbra.

Page 5: Gazeta do Advogado nº 1

Realizou-se em Luanda de 20 a 21 deSetembro, a 1.ª Conferência Nacional deAdvogados subordinada ao tema «A advo-cacia e os novos desafios da justiça».

Na sessão de abertura, presidida peloBastonário da Ordem dos Advogados deAngola, estiveram presentes S. Exa. o Dr.Roberto de Almeida, Presidente da Assem-bleia Nacional, e S. Exa. o Dr. Paulo Tchipi-lica, Ministro da Justiça.

A Conferência contou com a presençados Bastonários das Ordens de Advogadosde Cabo-Verde, Moçambique, do Secretá-rio-Geral da Ordem dos Advogados do Bra-sil, e de conferencistas convidados oriun-dos de Portugal e Brasil.

Participaram nos trabalhos os delega-dos da Ordem nas Províncias de Cabinda,Benguela, Huíla e Cunene, Advogados ins-critos, Magistrados Judiciais e do Ministé-rio Público e finalistas de cursos de Direitodas Faculdades de Direito existentes em Luanda.

A Conferência organizou-se em quatro painéis, discutindonomeadamente: O ensino do Direito; A formação profissional;O exercício da advocacia e Os novos desafios da Justiça.

1. SOBRE O ENSINO DO DIREITO

A Conferência apreciou as ideias expostas e chegou às se-guintes conclusões:

1. A análise do ensino do Direito não pode ser dissociadado ensino geral em Angola e muitas das debilidades daquele en-sino advêm de insuficiências dos ensinos de base, secundárioe médio.

2. O investimento na educação como factor determinantedo desenvolvimento, garantia de realização dos direitos e liber-dades dos cidadãos é condição essencial para a melhoria daqualidade do ensino do Direito e, em consequência, de maioresoportunidades dos advogados no mercado de trabalho.

3. Os problemas relativos ao conteúdo dos cursos de Direi-to devem continuar a ser estudados a nível da Comissão Para aReestruturação do Ensino do Direito em Angola;

Não obstante, os cursos devem predominantemente ser di-rigidos à formação jurídica e à investigação, privilegiando-se oensino essencialmente teórico.

Porém, impõe-se conceder ao ensinoalguns aspectos de carácter prático, procu-rando que os alunos tenham uma partici-pação activa no processo de aprendizagem,privilegiando, através dele, a sua avaliaçãocontínua.

A Conferência pronunciou-se tambémpela necessidade de:

4. Complementar os cursos de Direitocom programas de pós-graduação, nomea-damente, através de cursos de mestrado,com vista à formação de docentes e de ou-tros juristas;

5. Rever os curricula dos cursos de Di-reito, incluindo sempre neles as disciplinasfundamentais e formativas para o Direito, erecusando qualquer redução drástica da du-ração do respectivo curso.

6. Proceder ao controlo efectivo daqualidade do ensino ministrado nas faculdades, assim como daqualificação do respectivo corpo docente, e proliferação desen-freada de faculdades, com o objectivo puro e simples do lucro.

2. SOBRE A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A Conferência apreciou as grandes linhas expostas pelosconferencistas e chegou às seguintes conclusões:

1. A formação profissional dos advogados é uma obriga-ção fundamental da Ordem dos Advogados;

2. A advocacia é um factor essencial para a construção deum verdadeiro Estado de Direito;

3. A Ordem dos Advogados deve ser reconhecida pelo Es-tado como interlocutora institucional fundamental na definiçãode políticas de ensino superior na área do Direito;

4. A formação profissional dos advogados é um dever e umdireito de todos quantos se inscrevem na Ordem dos Advoga-dos, constituindo um factor de sobrevivência da profissão;

5. A formação dos advogados deve ser essencialmente decariz técnico-prático devendo, sobretudo, apoiar-se na expe-riência de advogados qualificados;

6. Durante o estágio, deve ser introduzido um sistema deavaliação com a realização de, pelo menos, um exame de agre-gação;

A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004 • 3

VVIIDDAA IINNTTEERRNNAA

I Conferência Nacional de Advogados

CONCLUSÕES

Discurso de Abertura.

Leitura das Conclusões.

Page 6: Gazeta do Advogado nº 1

7. Deve promover-se a viabilização, pela via do diálogo ins-titucional, de acções de cooperação com centros de formaçãodas magistraturas, visando a realização de acções de formaçãoconjuntas e de interesse mútuo e a sedimentação de uma cul-tura jurídica comum;

8. Impõe-se a criação urgente do Centro de Estudos Jurídi-cos como impulsionador privilegiado de acções de formaçãocontínua e especializada.

A conferência pronunciou-se, ainda,

9. Pela celebração de protocolos de cooperação com asuniversidades para a realização de acções de formação espe-cializada, por um lado, e para a criação de cursos de pós-gra-duação visando interesses de formação profissional específicados advogados, por outro;

10. Relativamente ao estágio, entendeu a Conferência queé urgente a criação de um Centro de Estágios da OAA, que, porrazões de economia de recursos humanos e financeiros, pode-ria fundir-se, num primeiro momento,com o Centro de Estudos Jurídicos;

11. Impõe-se uma Revisão do Es-tatuto da OAA e do actual Regulamen-to sobre Estágio, introduzindo, de en-tre outras alterações, a ampliação doperíodo de estágio para 18 meses, di-vidido num período de formação inicialde 6 meses, com aulas a serem minis-tradas no Centro de Estágio, a que seseguiria um período de 12 meses deformação tutelada por patrono;

12. Deve ser assegurada a igual-

dade de oportunidades entre advogados residentes em Luandae advogados residentes fora da capital;

13. Importa proceder à dinamização da realização de ac-ções de formação contínua, como seminários, congressos,conferências e quaisquer outros encontros para debate de ma-térias especificamente relacionadas com o exercício da advo-cacia;

14. Por fim, a Conferência propôs a criação de uma co-missão nacional de acompanhamento dos estagiários, a quemcompetiria também preparar a nova regulamentação dos esta-giários.

3. SOBRE O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA

Sobre a importância da função social do advogado, a Con-ferência salientou o valor da confiança e da autoridade/credibi-lidade do advogado na realização dos direitos e liberdades doscidadãos, do estado de direito e na administração da justiça.

Nesse sentido, a Conferência pronunciou-se pela necessi-dade de:

1. Reforçar o estatuto do advogado, em especial através daconsagração constitucional do advogado como participante enão como mero auxiliar da administração da justiça;

2. Participação obrigatória de todos os advogados na pres-tação de assistência judiciária;

3. Estudar a adopção de formas de prevenção e repressãode concorrência desleal entre advogados, praticada designada-mente por via de tráfico de influências, em especial revendo-segradualmente o regime de incompatibilidades;

4. Estudo da possibilidade e interesse da criação do advo-gado público, como um novo meio de garantir o acesso à jus-tiça, sujeitando-o à tutela reguladora da Ordem e sem limites dasua independência no exercício da profissão;

5. Continuação da formação ético-deontológica dos advo-gados pela OAA e reforço do poder disciplinar da Ordem.

Sobre o funcionamento do sistema de administração da jus-tiça, a Conferência analisou diversospontos de vista e recomenda:

6. Que a Ordem intervenha com amaior urgência para que seja dada pos-se aos membros nomeados para o Con-selho Superior da Magistratura e paraque este importante órgão passe a exer-cer legitimamente as suas funções;

7. Alteração urgente das leis subs-tantiva e adjectiva e consequente alte-ração dos métodos e procedimentosdos órgãos judiciais;

4 • A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004

VVIIDDAA IINNTTEERRNNAA

Convidados à I Conferência Nacional: do Brasil, Dr. Cézar

Britto, de Portugal, Dr. Sousa Magalhães, de Moçambique,

o Bastonário Dr. Carlos Cauio e o Sr. Vice-PGR,

Dr. Henrique dos Santos.

Conferencistas saúdam a I Conferência Nacional.

Page 7: Gazeta do Advogado nº 1

8. Implementação de meios judiciais céleres e pouco one-rosos de resolução de pequenos litígios, com especial atençãopara as formas de mediação e conciliação;

9. Cumprimento rigoroso do sistema de distribuição de pro-cessos para garantir a sua natureza aleatória, retomando-se osistema de afixação das pautas;

10. Revisão do sistema de funcionamento dos cartórios dostribunais, com vista à sua modernização para garantir maiorprodutividade no trabalho dos tribunais, bem como realizaçãode investimentos, materiais e humanos, para assegurar o seufuncionamento adequado;

11. A revisão do estatuto remuneratório dos magistrados e detodos os trabalhadores envolvidos na administração da justiça;

12. Aumento do número de magistrados e de pessoal deapoio à administração da justiça, reforçando-se o rigor na suaselecção e incrementando-se o investimento na sua formaçãocontínua;

13. Responsabilização de todos os intervenientes na admi-nistração da justiça, designadamente no que respeita ao cum-primento dos prazos judiciais;

14. Aprovação urgente do Código de Custas;15. Revisão da legislação penitenciária, aperfeiçoando-se

os serviços prisionais, devendo criar-se novos centros de inter-namento para menores

16. Recomendar a publicação da jurisprudência, especial-mente a do Tribunal Supremo.

4. SOBRE OS NOVOS DESAFIOS

1. Necessidade de consagração, na Lei Constitucional, do

estatuto do Advogado e da OAA, como instrumentos fundamen-tais na defesa dos valores da justiça e do Direito;

2. Premência de uma melhor formação deontológica dosAdvogados e de um exercício, mais efectivo e célere, da acçãodisciplinar;

3. Estabelecimento de um sistema de apoio jurídico, efi-ciente e de qualidade, em substituição do actual e ineficaz sis-tema de assistência judiciária, por forma a não privar os pobresdo acesso à justiça;

4. Criação de um fórum permanente, que integre represen-tantes de todos os operadores e auxiliares da justiça, dos ser-viços que a condicionam a montante, de membros do executivoe de outros parceiros e organizações sociais, para discussão econcertação em torno das questões da justiça e do Direito;

5. Definição legal dos actos de Advogado e de Solicitadore tipificação do crime de procuradoria ilícita;

6. Urgência da aprovação da Lei sobre a Sociedade de Ad-vogados;

7. Criação de mecanismos adequados de apoio e desen-volvimento dos Advogados a exercer fora de Luanda;

8. Revisão urgente do Código das Custas Judiciais e me-lhoria da sua aplicação, num sentido mais favorável ao utenteda justiça, e da Tabela de Emolumentos Notariais;

9. Inviabilização, de momento, do exercício da Advocaciapor Advogados estrangeiros, tendo em conta a necessidade deprotecção e dignificação dos profissionais nacionais, sem pre-juízo do seu desenvolvimento no quadro da globalização.

Feito em Luanda, aos 21 de Setembro de 2004.

A Conferência

A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004 • 5

Ao lado: Participantes no jantar de

confraternização que encerrou a Conferência.

Em baixo: Delegado do Huambo recebe

Diploma de Participação.

Page 8: Gazeta do Advogado nº 1

6 • A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004

� Amnistia Internacional

Senhoras e Senhores,

Gostaria de congratular a Ordem dos Advogados de Ango-la por incluir o tema do Tribunal Penal Internacional nesta Con-ferência e agradecer esta oportunidade de dizer algumas pala-vras relativamente ao papel dos advogados no estabelecimentoe futuro funcionamento do Tribunal Penal Internacional.

O QUE É O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL?

O Tribunal Penal Internacional é uma instituição judicial per-manente e independente criada pela comunidade internacionala fim de conduzir inquéritos e proceder criminalmente contra aprática de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes deguerra. A criação do Tribunal foi um enorme passo em frente naluta contra a impunidade para crimes que têm devastado a hu-manidade durante os últimos séculos. A criação do Tribunal de-verá ser vista como um presente do século XX, o mais sangre-to na história da humanidade, ao século XXI a fim de ajudar aimpedir a ocorrência de tais crimes no futuro e, caso venhamnovamente a ser cometidos, a garantir que os respectivos res-ponsáveis serão apresentados perante a justiça e que será de-terminada a atribuição de reparações às vítimas e às suas fa-mílias.

A 17 de Julho de 1998, uma conferência diplomática, como apoio indispensável dos países africanos, incluindo Angola,adoptou o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. OEstatuto de Roma define os crimes, o funcionamento do Tribu-nal e o que os Estados deverão fazer para cooperarem com o

Tribunal. A 60.ª ratificação necessária para o Estatuto de Romaentrar em vigor foi depositada no dia 11 de Abril de 2002, tendoo Estatuto de Roma entrado em vigor no dia 1 de Julho de 2002,para os Estados-Partes àquela data.

O Tribunal encontra-se agora plenamente operacional e jáiniciou investigações baseadas em denúncias ao procurador doTribunal, por dois Estados africanos, a República Democráticado Congo e o Uganda, sobre os horrorosos crimes, incluindoviolações e raptos de crianças para servirem como soldados,que tiveram lugar no contexto dos conflitos ocorridos nestesdois países nos últimos dois anos.

A jurisdição do Tribunal aplica-se aos crimes cometidosdepois da entrada em vigor do Estatuto de Roma, ou seja, 1 deJulho de 2002, nalguma das seguintes situações: se os crimestiverem sido cometidos no território de um Estado-Parte ou porum cidadão de um Estado-Parte; se um Estado que não tenharatificado o Estatuto de Roma tenha declarado aceitar que o Tri-bunal exerça a sua competência em relação a um determinadocrime; se tiverem sido cometidos crimes numa situação queameace ou viole a paz e a segurança internacionais e o Conse-lho de Segurança das Nações Unidas tenha denunciado a situa-ção ao procurador do Tribunal, nos termos do disposto no Capí-tulo VII da Carta das Nações Unidas.

RATIFICAÇÃO DO ESTATUTO DE ROMA

Até 17 de Setembro de 2004, o Estatuto de Roma tinha si-do ratificado por 94 Estados, incluindo 24 Estados africanos ea maior parte dos Estados da Comunidade de Desenvolvimen-to da África Austral (SADC), e assinado por 139 Estados, in-cluindo Angola. O Acordo sobre os Privilégios e Imunidades doTribunal Penal Internacional, o qual garante privilégios e imuni-

VVIIDDAA IINNTTEERRNNAA

O PAPEL DO ADVOGADO NO ESTABELECIMENTO

E FUNCIONAMENTO DO TRIBUNAL PENAL

INTERNACIONAL Um Tribunal para o Futuro

(Texto da Amnistia Internacional à Conferência)

Page 9: Gazeta do Advogado nº 1

dades para o Tribunal, os funcionários do Tribunal, a defesa, asvítimas e as testemunhas, foi adoptado durante a Assembleiade Estados-Partes que teve lugar em Nova Iorque, em Setembro2002. Até 17 de Setembro de 2004, o Acordo tinha sido ratifi-cado por 14 Estados e assinado por 62, tendo entrado em vigorno dia 22 de Julho de 2004.

Apesar do largo apoio ao Estatuto de Roma em África e naregião SADC, é um enorme desapontamento que nenhum dospaíses de língua portuguesa em África ainda tenha ratificado oEstatuto de Roma, embora todos o tenham assinado, o que in-dica a intenção de o ratificar no futuro. Este facto encontra-seem marcado contraste com os outros países de língua portu-guesa, o Brasil, Portugal e Timor-Leste, os quais ratificaram jáo Estatuto de Roma e começaram a implementá-lo nas respec-tivas legislações nacionais. Esperamos que Angola actue rapi-damente na implementação do apelo incluído na DeclaraçãoFinal da V Conferência de Chefes de Estado e de Governo daComunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que tevelugar nos dias 26 e 27 de Julho de 2004 em São Tomé e Prín-cipe, reafirmando o apelo do ano passado do Conselho de Mi-nistros da CPLP, a 18 de Julho de 2003, encorajando os Esta-dos que ainda o não fizeram, a ratificarem o Estatuto de Romae a integrarem as normas internacionais de direitos humanosnas suas legislações e nas suas constituições nacionais.

A NECESSIDADE DE IMPLEMENTAR O ESTATUTO DE ROMA

O Tribunal é complementar dos tribunais criminais nacio-nais1, apenas exercendo a sua competência quando os tribunaisnacionais não tenham vontade de levar a cabo os inquéritos ouprocedimentos ou não tenham capacidade efectiva para o fazer.É, portanto, responsabilidade dos Estados-Partes exercer a ju-risdição primária sobre indivíduos suspeitos ou acusados de te-rem cometido qualquer um dos crimes tipificados no Estatutode Roma.

Quando os Estados se tornam partes do Estatuto de Roma,assumem igualmente obrigações de cooperação com o Tribu-nal, conforme o disposto no Artigo 86.º do Estatuto de Roma2,nos casos em que o Tribunal decidir exercer a sua competên-cia. Nestes casos, o Tribunal dependerá da cooperação dos Es-tados-Partes a fim de poder conduzir de forma plena e efectivaos inquéritos e procedimentos contra crimes da sua competên-cia. Estas obrigações incluem assegurar que o procurador doTribunal e a defesa podem conduzir inquéritos de forma efecti-va dentro das suas jurisdições, que os tribunais e as autorida-des nacionais providenciam plena cooperação na obtenção dedocumentos, na localização e apreensão de bens do acusado,na condução de buscas e apreensões de elementos de prova,na localização e protecção de testemunhas, na detenção e en-trega de pessoas acusadas pelo Tribunal e disponibilizando lo-

cais de detenção onde as pessoas condenadas pelo Tribunalpossam cumprir as penas. Os Estados devem também conduzirprocessos abertos e transparentes de nomeação de candidatosa juízes ou a procurador do Tribunal, assegurar reparaçõesefectivas para as vítimas de todos os crimes de direito interna-cional, as quais incluem a restituição, a compensação, a reabi-litação, a satisfação e garantias de não repetição, de acordocom os parâmetros internacionais, e julgar casos de infracçõescontra a administração da justiça do Tribunal3.

AS IMPLICAÇÕES PARA OS ADVOGADOS EM ANGOLA

O que é que a criação deste tribunal do futuro significa paraos advogados em Angola?

As obrigações de complementaridade e cooperação com oTribunal assumidas pelos Estados-Partes representam inúme-ros desafios para os advogados em todos os países do mundo,incluindo Angola. É fundamental assegurar que os advogadosse encontrem preparados para assumirem as suas novas res-ponsabilidades sob este novo sistema de direito criminal inter-nacional.

O primeiro desafio para os advogados em Angola será o declarificar se existem realmente obstáculos constitucionais queestejam a atrasar a prometida ratificação. Muitos dos 94 Esta-dos que ratificaram o Estatuto de Roma tinham questões sobrea compatibilidade do Estatuto de Roma com as suas constitui-ções, e os advogados angolanos poderão achar útil considerara forma como outros países ultrapassaram potenciais obstácu-los constitucionais à ratificação ou em conceber soluções efec-tivas para tais obstáculos.

O segundo desafio para os advogados em Angola será o dereverem o Código Penal, o Código de Processo Penal e demaislegislação em vigor em Angola, a fim de determinar quais asmudanças que serão necessárias a fim de que Angola possaexercer as suas obrigações de complementaridade de formaconsistente com o disposto no Estatuto de Roma e com a legis-lação consuetudinária e convencional internacional e dar cum-primento às suas obrigações de cooperação nos termos do dis-posto no Estatuto de Roma. É importante que os advogadosparticipem no processo de redacção da legislação de imple-mentação, sugerindo, analisando e comentando e assegurandoque as questões do interesse da sociedade civil sejam devida-mente incluídas em qualquer legislação decretada, relativamen-te ao exercício da jurisdição primária pelos Estados e à coope-ração com o Tribunal. A Amnistia Internacional preparou umalista para implementação efectiva do Estatuto de Roma, a fim deauxiliar os Estados na redacção desta legislação4.

O terceiro desafio para os advogados em Angola será o derecomendar vivamente a Angola que ratifique o Acordo sobre osPrivilégios e Imunidades do Tribunal Penal Internacional e de-

A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004 • 7

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terminar se será necessária legislação para implementação doAcordo e, caso seja, o que é que será necessário para esta im-plementação.

O quarto desafio para os advogados em Angola será o deassegurar que Angola continue a proteger a integridade do Es-tatuto de Roma, mantendo a sua recusa em assinar um acordode impunidade com os Estados Unidos da América, o que seriacontrário às obrigações de Angola na qualidade de signatária doEstatuto de Roma de não gorar os seus objectivos e fins, en-quanto não procede à sua ratificação. Aqueles acordos enfra-quecem o trabalho e a eficácia do Tribunal, na medida em queprocuram impedir que o Tribunal Penal Internacional exerça asua jurisdição sobre cidadãos dos Estados Unidos da Américae certas outras pessoas acusadas de terem cometido genocí-dio, crimes contra a humanidade ou crimes de guerra no terri-tório de um Estado-Parte.

O quinto desafio para os advogados em Angola será o dedelinear e auxiliar a implementar programas de formação parajuízes, magistrados do Ministério Público, advogados, polícias emilitares, funcionários dos Ministérios da Justiça e dos Negó-cios Estrangeiros e a sociedade civil sobre as obrigações assu-midas nos termos do Estatuto de Roma.

A comunidade jurídica tem a enorme responsabilidade deassegurar que não mais existirão paraísos seguros para os per-petradores de genocídio, crimes contra a humanidade e crimesde guerra. A Amnistia Internacional encoraja os advogados emAngola a desempenharem o seu papel neste novo sistema dejustiça criminal internacional de forma plena e consistente como direito consuetudinário e convencional internacional, e a cola-borar com outros membros da sociedade, garantindo a ratifica-ção e a implementação universais do Estatuto de Roma a fim deque o Tribunal seja um meio efectivo para pôr um fim aos piorescrimes cometidos contra a humanidade.

Muito obrigada.

1 Parágrafo 10, Artigo 1.º e Artigo 17.º do Estatuto de Roma.2 Artigo 86.º do Estatuto de Roma: «Os Estados-Partes deverão, emconformidade com o disposto no presente Estatuto, cooperar plena-mente com o Tribunal no inquérito e no procedimento contra crimes dacompetência deste».3 Artigo 70.º do Estatuto de Roma.4 O Tribunal Penal Internacional: Lista de Verificação para uma Implemen-tação Eficaz (IOR 40/11/2000).

8 • A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004

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ExcelênciasIlustríssimo BastonárioIlustres Membros dos Conselhos Na-

cional e Provincial Digníssimos Convidados Minhas Senhoras e Meus Senhores Caros Colegas

Mais uma vez nos reunimos paraproceder a tradicional, mas não banal,cerimónia que marca formalmente a en-trada de novos colegas para a classe, uns como estagiários ou-tros como advogados. A todos dizemos, sejam bem-vindos evotos de sucesso.

Como se disse, receberão cédulas advogados estagiários eadvogados. Embora os novos colegas se encontrem em esca-lões de diferenciação profissional desigual, não o é o grau deresponsabilidade perante o significado deste acto, salvo rarasexcepções.

A cédula, não é um simples cartão que autoriza e prova quese está autorizado e apto a exercer a profissão. Estar na suaposse é uma grande responsabilidade, pois significa, entre ou-tros aspectos, que se conhecem e se aceitam todos os direitose deveres mas, sobretudo, os ético-deontológicos da profissãoe, mais do que isso, que se está disposto a lutar pelo seu cum-primento, cumprindo e fazendo cumprir.

O advogado não é um pantomimeiro. A responsabilidade dehonrar a génese da profissão exige-se tanto a uns como a ou-tros. Aos segundos, portanto aos advogados, emrelação aos primeiros exige-se maior rigor técnico,mais acutilância mais destreza de raciocínio, maisconsistência na apresentação dos argumentos,maior domínio das matérias do direito e das práti-cas forenses. Mas a todos, repete-se, exige-se omesmo grau de responsabilidade, embora ao esta-giário, por estar em fase de fazer prova de capa-cidade técnica e idoneidade moral para o exercícioda profissão, se exija, por vezes, mais.

A cédula, Caros Colegas, não pode ser vista co-mo a porta que se abre para deixar sair tudo o queexiste em nós, e que por ser jurídica e socialmentecondenável antes, se domesticou. Pelo contrário,deve ser vista como o selo que impede que essessentimentos conheçam a tentação de se manifestar.

Neste particular – o da formação ético-deon-tológica, ainda não recebida nas nossas facul-dades, prejudicada, por vezes, pela ausência devalores morais sólidos – o Patrono tem papel fun-damental a desempenhar.

Mas têm-no também na formaçãogeral do estagiário, já que lhe incumbe,grande para não dizer mesmo total res-ponsabilidade. O Patrono deve cuidar desupervisionar, com zelo, os passos doseu estagiário no que refere à comparên-cia no escritório, prestação de serviçoneste, elaboração das peças processuaise outros documentos, participação nosactos a que deva estar presente e o re-sultado dessa participação. Compete-lhe

também, comunicar à OAA todas as manifestações de inaptidãopara o exercício da profissão, evitando fazê-lo só no fim do es-tágio, impedindo a continuação da carreira do estagiário nummomento em que este já criou várias expectativas a respeito, bemcomo lhe compete alertar do facto o estagiário. Não pode serao cabo de 12 meses de convivência semanal de pelo menos12 horas, como estabelece o regulamento de estágios, que pelaprimeira vez se coloca à Ordem a inaptidão do estagiário por fac-tos que eram notórios nos primeiros meses de estágio, tais comodesconhecimento técnico-jurídico do elementar e dificuldadeem absorvê-lo; faltas de comparência frequentes e/ou prolon-gadas e injustificadas; desobediência reiterada às instruções eregras do escritório onde faz o estágio e, por conseguinte, doPatrono; violações ao Regulamento de Estágio e do Estatuto daOAA e de outra legislação aplicável aos advogados; manifestaincapacidade técnica e/ou moral para o exercício da profissão.

Se o Patrono estiver atento e for exigente, aperceber-se-ádas debilidades do seu estagiário. Se for diligente,comunicará à Ordem ou, pelo menos, alertará deforma inequívoca o estagiário do seu mau desem-penho e das consequências dele advenientes e,neste caso, sobrará ao estagiário pouca oportuni-dade para, sem ser notado, fazer o que quer e nãoo que deve.

Mas não é apenas o Patrono que se compor-ta como referimos que se mostra um mau Pa-trono. Também se revela assim aquele que, saben-do não reunir os requisitos legais para o ser, a talqualidade se candidata e aquele que, reunindo ascondições legais, não reúne no seu escritório ascondições mínimas, porque, no rigor do termonem o tem, aceita estagiários, ou ainda aquele que,reunindo todas as condições, não leva o estágio asério, seja por falta de tempo devido às variadís-simas ocupações que tem, ou porque acha que oestágio não merece ser feito e por isso não me-rece atenção, ou ainda por outra razão qualquer,não controla o que o estagiário faz nem como faz,

A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004 • 9

VVIIDDAA IINNTTEERRNNAA

Cerimónia de Entrega de Cédulas, Junho 2004

Mesa do Acto de Entrega de Cédulas.

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consente que se faça passar por advogado, sonegando a suacondição de estagiário quando, e o que é mais grave, não in-centiva essa sonegação e, a acrescentar a tudo isso, no fim doestágio faz um relatório de rasgados elogios sobre as qualida-des do estagiário, quando não perdeu sequer tem-po a ler e ou a pronunciar-se sobre a dissertaçãode estágio, obrigatória, do seu estagiário. Do mes-mo modo se qualifica o Patrono que inicia o está-gio a licenciados não inscritos na Ordem, incorren-do com o seu estagiário, se é que assim se podechamar, na prática de exercício ilegal da profissão.

Mas não anda também bem o Patrono que fazdo estagiário seu moço de recados, o desfeiteia detodos os modos e maneiras e julga que este lhedeve cega obediência e não tem opinião, como nãoanda bem aquele que condiciona a informaçãofinal do estágio não à capacidade e competênciasdemonstradas mas à simpatia ou antipatia pessoalque nutre pelo seu estagiário. Não vai ser com cer-teza com estas últimas que o advogado se vai afir-mar na profissão.

Não se esqueça o Patrono que a avaliação fei-ta ao estagiário na transição para advogado depen-de praticamente da sua informação, o que signifi-ca dizer que é dele que depende lançar no mercadobons ou maus profissionais, e também que osolhos atentos dos colegas e da sociedade procu-ram encontrar naqueles que passaram pelas mãosdeste ou daquele Patrono marcas suas e que maisfacilmente lhes atribuirão notas as negativas queas positivas, porque aquelas pesam mais.

Por isso, neste campo, Distintos Colegas, seapresenta uma das excepções em que o grau deresponsabilidade de advogados e do advogado es-tagiário não é igual. A do advogado é muito maior.

Voltando aos principais destinatários desta ce-rimónia, aconselho o estudo permanente, o respei-to e o reconhecimento aos vossos Patronos. Lu-tem sempre pelo Direito e pela Justiça, sejam fiéisà vossa consciência e leais para com o vossoconstituinte. Apartem-se da vaidade e da arrogân-cia por não serem, para o profissional da advoca-cia, boa companhia. Escolham antes, para tal, asimplicidade,a prudência e, sem espaço para hu-milhações, a humildade.

Aqueles que nos primeiros tempos, fruto doseu saber e trabalho se sintam cercados de elogios, peço quenão se deixem deslumbrar pelo brilho das luzes da ribalta edormir sobre os louros. De repente, as palmas podem deixarde soar porque se deixou de estar à altura.

Mais lúcido será continuar a trabalhar e a estudar, procurarver onde poderia ter feito melhor e ter como convicção de que

se pode fazer sempre melhor. Que é melhor ser o melhor entreos bons do que o melhor entre os medíocres.

Não será dispiciendo lembrar que está longe do bom cami-nho o Advogado que nem sequer conhece as normas do Esta-

tuto da Ordem, do Regulamento do Estágio ou daLei da Advocacia e outros diplomas dos quais é oprincipal destinatário, como o está aquele que pin-ta ao seu constituinte um quadro de belas coresmesmo quando não acredita no sucesso da causaque tem em mãos, seja pela inviabilidade jurídica,seja porque não se sente com competência paratratar do assunto e no final quando, como era deesperar, perde a causa, remete a culpa do insuces-so ao Juiz, ao colega que representa a parte con-trária, ao próprio cliente, enfim, a quem calhar emsorte, mas nunca a ele próprio.

O nosso cliente merece sempre o nosso res-peito e lealdade e enganá-lo, sobretudo conscien-temente, viola regras de ouro da convivência entreadvogado e cliente e por isso, se torna disciplinar-mente punível.

Muitas vezes a causa da escolha do mau ca-minho para levar a bom porto a profissão tem a vercom a escolha desta sem paixão, sem vocação. Éque as outras razões não nos tornam tão fortes nadefesa dos princípios da profissão. Ter vocaçãopara o estudo do direito não significa ter vocaçãopara exercer advocacia. Não nos enganemos, nemnos sintamos obrigados a ser advogados só porsermos licenciados em direito.

Caros colegas, não terminarei sem dirigir umapalavra especial aos novos colegas, nossos com-patriotas, que estudaram e exercem a profissãonoutras paragens e entenderam fazê-lo tambémem Angola, pelo que tiveram que passar não porum estágio propriamente dito, mas por um perío-do de adaptação à nossa legislação e Tribunaissob a supervisão de um Advogado Patrono, bemcomo àqueles que, encontrando-se nas mesmascircunstâncias que os anteriores, se viram dispen-sados deste período pela sua classificação no qua-dro Docente Universitário.

Esperamos que a vossa entrada para a classeseja uma mais-valia com reflexos na diversifica-ção da oferta apresentada àqueles que procuramos serviços dos advogados, tal como gostaríamos

que os conselhos aqui colocados tenham, também para vocês,alguma validade.

Muito obrigada.

Pulquéria Van-Dúnem Bastos, Presidente do Conselho Provincial de Luanda

10 • A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004

VVIIDDAA IINNTTEERRNNAA

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A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004 • 11

RREELLAAÇÇÕÕEESS IINNTTEERRNNAACCIIOONNAAIISS

Sob a presidência da Dra. Lígia DiasFonseca, Bastonária da Ordem dos Advo-gados de Cabo Verde e Presidente da Uniãodos Advogados da Língua Portuguesa, esti-veram reunidos em Luanda, no dia 21 deSetembro de 2004, à margem da 1.ª Con-ferência Nacional da Ordem dos Advogadosde Angola, representantes da Ordem dos Ad-vogados de Angola, na pessoa do seu Bas-tonário, Dr. Raúl Araújo; da Ordem dos Ad-vogados do Brasil, representada pelo seuSecretário-Geral, Dr. Raimundo Cézar Britto;da Ordem dos Advogados de Moçambi-que, na pessoa do seu Bastonário Dr. Car-los Cauio e da Ordem dos Advogados Por-tugueses, representada pelo Dr. Fernando deSousa Magalhães, Presidente da ComissãoNacional para a Formação da Ordem dosAdvogados Portugueses,

Considerando:

• as deliberações adoptadas pela As-sembleia Geral da União dos Advoga-dos de Língua Portuguesa, no seu VIIEncontro realizado na cidade da Praiano dia 13 de Abril de 2004 relativas àformação contínua;• a capacidade das Ordens de Advo-gados do Brasil e Portugal para de ime-diato organizarem acções de formaçãoem qualquer um dos países de origemdos membros da UALP;• o interesse demonstrado pelas Ordensde Advogados de Angola, Cabo Verde eMoçambique na realização de Acçõesde Formação de curta duração desti-nadas aos membros destas Ordens;

No âmbito das atribuições da União dasOrdens e Associações de Advogados de Lín-gua Portuguesa estabelecem o seguinte pro-tocolo:

I – A Ordem dos Advogados Portugue-ses e a Ordem dos Advogados do Brasilcomprometem-se a disponibilizar formado-

res para ministrarem cursos de curta dura-ção, em Angola, Cabo Verde e Moçambiqueà solicitação das Ordens de Advogados des-tes países;

II – A OAA, a OACV e a OAM identifi-carão as áreas prioritárias e as matérias quedevem ser objecto dos cursos de formação,as datas mais adequadas para a sua realiza-ção e darão a conhecer esses dados à OAPe à OAB.

Desde já fica apresentado e aceite en-tre as partes o interesse na imediata reali-zação de um curso de formação em deonto-logia profissional destinado essencialmenteaos Advogados estagiários e jovens Advoga-dos inscritos na OAA, na OACV e na OAM.

III – O financiamento dos cursos serásuportado pelas Ordens envolvidas no cur-so em concreto, a ser realizado nos seguin-tes termos:

1. A Ordem que disponibilizar os for-madores suportará os custos da deslo-cação e os honorários dos formadoresdesignados.2. A Ordem beneficiária da formaçãoassegurará a estadia dos formadoresdurante o período em que estes este-jam no País beneficiário por causa darealização do curso.

IV – As partes podem concretizar osprojectos de formação directamente entresi, comprometendo-se a dar conhecimentoatempado de todas as diligências efectua-das ao Secretariado permanente da UALPde forma a que o Secretariado possa divul-gar pelos restantes membros da UALP a in-tenção de realização dos cursos, o seu ob-jecto, data previsível e local da realização.

V – Sempre que as circunstâncias per-mitam e uma Ordem membro da UALP ma-nifeste real interesse de participar num cur-so em programação entre as outras Ordense Associações membros da UALP, o Secre-tariado deverá efectuar todas as diligênciasno sentido de (i) possibilitar a participação

da Ordem interessada no referido curso ou(ii) programar nova edição do curso no paísda Ordem Interessada.

VI – Após a realização de cada curso aOrdem beneficiária enviará ao Secretariadopermanente um relatório acompanhado decópia de todo o material didáctico que tiversido distribuído aos formandos.

O relatório destina-se a uma futuraavaliação das vantagens e desvantagens dosistema criado pelo presente protocolo, ava-liação essa a ser feita após 18 meses de vi-gência do presente Protocolo.

A cópia do material didáctico destina-sea constituir um arquivo documental de per-manente acesso a todos os membros daUALP.

VII – O presente Protocolo entra em vi-gor na data em que o Secretariado perma-nente emitir a comunicação (por qualquervia) da recepção da concordância formal domesmo por parte de todos os Bastonários ePresidentes das Ordens partes do presenteProtocolo.

VIII – O presente Protocolo será dado aconhecer a todos os membros da UALP quepoderão livremente aderir ao mesmo me-diante envio ao Secretariado Permanente deinstrumento de aceitação dos termos deste.

Cidade de Luanda,aos 21 de Setembro de 2004

Ordem dos Advogados de AngolaO Bastonário, Raúl AraújoOrdem dos Advogados do BrasilO Secretário-Geral, Dr. Cézar BritoOrdem dos Advogados de Cabo VerdeA Bastonária, Lígia Dias FonsecaOrdem dos Advogados de MoçambiqueO Bastonário, Carlos Cauio Ordem dos Advogados Portugueses, representada pelo Presidente da sua

Comissão Nacional para a Formação,

Dr. Fernando de Sousa MagalhãesUALP, a Presidente da Direcção A Bastonária, Lígia Dias Fonseca

PROTOCOLO DA UOALP RELATIVO À FORMAÇÃO CONTÍNUA

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PPAARREECCEERR

Assunto: Emissão de pareceressobre matérias a julgamentonos Tribunais Angolanos porProfessores de Faculdades deDireito Estrangeiras

I. INTRODUÇÃO

1. Os colegas A solicitaram à OAA umparecer sobre se «os docentes estran-

geiros, não residentes em Angola ou não

exercendo aqui actividade docente, po-

dem produzir pareceres sobre matérias

a julgamento nos tribunais angolanos».2. Este pedido de parecer – que vem

a propósito de um Parecer emitido peloProf. ------- e junto a um processo quecorre junto do Tribunal Supremo – resul-ta do facto de, na opinião dos colegas,essa actividade representar (i) «Exercícioda Advocacia em Território Nacional», que,nos termos da lei, só pode caber a advo-gados inscritos na OAA, (ii) retirar espa-ço aos docentes nacionais e (iii) gerarrendimentos que não são tributados nemem Angola nem no país onde residem.

II. APRECIAÇÃO

3. Impor ta, em primeiro lugar, sa-ber se a emissão de pareceres consubs-tancia, de alguma forma, a actividade de«exercício da advocacia» ou se, pelo con-trário, deve ser entendida como activida-de conexa (de peritos, de especialistas).

E a verdade é que, embora a nossalegislação sobre o exercício da profissãoesteja ainda em construção e seja, conse-quentemente, ainda bastante insuficiente,o Estatuto da OAA expressamente refere(artigo 41.º, número 4) que «Os docentes

das faculdades de Direito, que se limitem

a dar pareceres jurídicos escritos não se

consideram em exercício da advocacia e

não são, por isso, obrigados a inscrever-

-se na Ordem dos Advogados».Admitimos, como os colegas o fa-

zem, que esta disposição visava essen-cialmente salvaguardar a emissão de pa-receres por docentes das faculdades deDireito angolanas, fossem eles nacionaisou estrangeiros. Contudo, essa presunçãonão pode, à partida, fazer-nos concluir ocontrário, isto é excluir a possibilidade dedocentes (nacionais ou estrangeiros) queleccionam em faculdades estrangeirasemitirem pareceres jurídicos escritos.

4. A emissão de pareceres jurídicosparece-nos consubstanciar uma activida-de eminentemente técnica (1), de espe-cialista, e, consequentemente, não repre-sentar exercício da advocacia.

5. Por outro lado, essa actividade nãoparece ser prejudicial aos docentes an-golanos, não só por serem em númeroreduzido, como, também, pelo facto demuitos dos nossos docentes se estarema formar e/ou a especializar com essesdocentes estrangeiros e, ainda, por essaser também uma forma que permite oestudo e a formação de profissionais an-golanos. À semelhança do que sucede

com os códigos anotados, a jurisprudên-cia e a doutrina de que todos os profis-sionais angolanos se socorrem.

Aliás, esse critério prático não pode-ria nunca ser o determinante para aqui-latar da legalidade ou não da emissão depareceres por docentes de universidadesestrangeiras.

6. Finalmente, quanto ao pagamentoou não de impostos por esses profissio-nais, apenas se lembra que, nos termosda lei, esse imposto é de retenção na fon-te e, consequentemente, deve ser retido epago por quem contrata e paga o parecer.

Relatores: Teresinha Lopes, Membro do Conselho Nacional daOrdem, Advogada Luzia Sebastião, Membro do Conselho Nacional daOrdem, Coordenadora da Comissão deDeontologia e Ética Profissional daOrdem, Advogada

Aprovado pelo Conselho Nacional a 01 de Julho de 2004

O Bastonário

Raúl Araújo

(1) Não vemos qualquer razão para não equi-parar a emissão de pareceres jurídicos à emis-são de pareceres no domínio da engenhariacivil ou da arquitectura ou de qualquer outroramo, como o fazem os colegas signatários dopedido de parecer.

AOS EXCELENTÍSSIMOS ADVOGADOS

Luanda, 20 de Setembro de 2003

Na convicção de que a jurisprudência dos tribunais ango-lanos constituirá um excelente instrumento de trabalho para osadvogados, a OAA tem em vista compilar a referida jurispru-dência numa base de dados – já instalada nos nossos serviçosde documentação e informação – para consulta dos seus as-sociados.

Para que tal desiderato possa ser atingido, solicitamos atodos os Colegas que enviem à OAA cópia das sentenças eacórdãos referentes aos processos judiciais que estiveram aseu cargo nos tribunais.

Esperando o melhor acolhimento,

Com os melhores cumprimentos,

O Bastonário

12 • A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004

PPAARREECCEERREESS EE RREESSOOLLUUÇÇÕÕEESS

RECOLHA E TRATAMENTO DA JURISPRUDÊNCIA NACIONAL

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PPAARREECCEERR NN..ºº 000011//0044

Assunto: Recurso hierárquicointerposto pelo XX

Solicitou-nos o Exmo. Senhor Basto-nário da Ordem dos Advogados um pare-cer sobre a procedência de um RecursoHierárquico interposto pelo Sr. AdvogadoDr. X, de agora em diante designado ape-nas por Sr. Dr. X, e sobre o mesmo cum-pre-nos emitir o seguinte parecer:

DOS FACTOS

Veio o Sr. Dr. X interpor o Recursocom fundamento no n.º 1 do Artigo 5.º ealínea b) do n.º 2 do artigo 7.º do Esta-tuto da Ordem dos Advogados porque,

O Conselho Nacional da Ordem dosAdvogados deliberou suspender a sua ins-crição com fundamento no n.º 2 do Arti-go 57.º do Estatuto da Ordem dos Advo-gados de Angola, suspensão que derivoudo facto de ter considerado ser a funçãoque o Advogado exerce no Comando-Ge-ral da Polícia Nacional, «Chefe do Gabine-te de Informação e Análise» e nessa qua-lidade «Porta-Voz do Comando-Geral daPolícia Nacional», «incompatível» com oexercício da Advocacia.

DO DIREITO

1. O artigo 5.º da Lei da Advocacia,Lei n.º 1/95, de 6 de Janeiro, prevê osimpedimentos ao exercício da advocaciasendo o n.º 2 reservado às situações emque o impedimento decorre do exercíciopelo Advogado de determinada função noEstado, acompanhado da proibição de talexercício ser praticado contra o próprioEstado.

2. Já no que se refere às incompati-bilidades, afinal o fundamento de que oConselho Nacional se socorreu para asuspensão, a questão parece menos cla-ra, uma vez que o Artigo 4.º da Lei daAdvocacia considera na alínea d) do n.º1, ser incompatível com o exercício daadvocacia, entre outras, a qualidade de

funcionário das Polícias e serviços equi-parados.

A Lei da Advocacia, não define o queé ser funcionário da Polícia, nem o quesão serviços equiparados, pelo que sóum exercício de mera argumentação teó-rica poderia trazer alguma luz sobre aquestão em análise.

Com efeito, importaria saber se a qua-lidade «funcionário» que a Lei utiliza pode-rá apenas ser interpretada no seu sentidoliteral ou se também em sentido jurídico.

2.1. Se o sentido for apenas literal,então simplesmente concluiremos quefuncionário é aquele que exerce uma de-terminada função e dado que o Advoga-do recorrente exerce a função de «Porta--Voz» da Polícia Nacional, nada mais nosrestaria senão concluir que se trata deum funcionário da Polícia e assim ficarcoberto pela proibição da alínea d) do n.º1 do Artigo 4.º da Lei da Advocacia.

2.2. Porém parece-nos ser importan-te ir um pouco mais longe uma vez queestá em causa um direito fundamental deum colega de profissão, no caso, o direi-to ao exercício dessa profissão.

Julgamos ser necessário fazer recur-so ao Direito Administrativo e dele retiraras linhas com que poderemos elucidar aquestão.

Nos termos do n.º 2 do Artigo 2.º doDecreto n.º 25/91, funcionário público étodo aquele que «na base do provimentode uma vaga do quadro de pessoal, exer-ça a sua actividade nos Órgãos Centraise Locais do Aparelho do Estado».

Já o agente administrativo é aqueleque «na base de um contrato administra-tivo de provimento, presta à administra-ção, serviços de carácter eventual, excep-cional e transitório».

2.3. Ora, parece de relevante impor-tância saber o que é a Polícia. SegundoMarcello Caetano1, Polícia é o «modo deactuar da autoridade administrativa queconsiste em intervir no exercício das ac-tividades individuais susceptíveis de fa-zer perigar interesses gerais, tendo porobjecto evitar que se produzam, ampliemou generalizem os danos sociais que asleis procuram prevenir».

Polícia é um modo de actividade ad-ministrativa, é «actuação da autoridade»2

e nesse sentido, essa actividade podeser distinguida em dois ramos, a saber:de polícia administrativa propriamente di-ta e de polícia judiciária. Esta distinçãoque resulta do art.º 18.º do Código Fran-cês dos delitos e penas de 3 do Brumá-rio IV salienta que «A polícia adminis-trativa tem por objecto a manutençãohabitual da ordem pública em toda a par-te e em todos os sectores da administra-ção geral. O seu fim é prevenir os delitos.A polícia judiciária investiga os delitosque a polícia administrativa não impediuque se cometessem, reúne as respecti-vas provas e entrega os autores aos tribu-nais encarregados por lei de os punir»3.

Marcello Caetano também perfilhaesse ponto de vista4.

Se transportarmos esta ideia para oOrdenamento Jurídico Angolano, teremosque o Estatuto Orgânico da Polícia Na-cional, publicado no DR n.º 23, da 1.ªSérie, de 11 de Junho de 1993, consagraentre outras as seguintes competênciaspara a Polícia Nacional que tem a nature-za de força militarizada:

«1 – a defesa da legalidade demo-crática,

2 – a manutenção da ordem e tran-quilidade pública,

[...]5 – a prevenção à delinquência e o

combate à criminalidade...».

Parece haver aqui uma comunhãode ideias quanto à polícia administrativafrancesa e na opinião de Marcello Cae-tano, também portuguesa. A assim serentão, também para o Ordenamento Ju-rídico Angolano, a polícia é um modo deactuar da autoridade administrativa, é umpoder constitutivo, de uma competênciapública conferido por lei. Só que a leiumas vezes discrimina minuciosamenteos modos do exercício e o respectivo al-cance, e outras confere poderes discricio-nários, numerosos, sempre que se tratede competência policial, que naturalmen-te sofrerão os limites impostos pelo fimlegal da sua instituição5.

A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004 • 13

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Tratando-se de uma actividade ad-ministrativa, muitos são os órgãos ad-ministrativos investidos com funções deautoridade policial. Porém, importa dis-tinguir entre aqueles que exclusivamentepertencem à adminstração policial e osque cumulativa, acessória ou subsidia-riamente exercem atribuições policiais6.

Os Comandantes da Polícia de Se-gurança Pública, no caso do Ordena-mento Jurídico Angolano, o ComandanteGeral da Polícia Nacional é um órgão quepertence à administração policial. Já oMinistério do Interior, enquanto órgão deuma pessoa colectiva de direito público,que é o Governo, as administrações pro-vinciais e locais são órgãos que exercematribuições policiais, que podem ser rela-tivas à policia geral, especial ou munici-pal, sendo as próprias que dirigem ou su-perintendem nos respectivos serviços esectores de administração8.

Essas autoridades de polícia têmagentes de execução sob suas ordens,que nalguns casos são forças militariza-das. Porém a disciplina militar em queesses corpos se regem, não lhes retira ocarácter civil, nem à função que desem-penham, pois a actividade policial é umprocesso jurídico em que a Administra-ção pública se desenvolve9.

CONCLUSÃO

Do que fica dito permite-nos afirmar,

que o Comandante da Polícia Nacional éum órgão da administração pública, queexerce uma actividade administrativa, aactividade policial, e que o Gabinete deEstudos Informação e Análise, sendo co-mo designa o Estatuto orgânico da Polí-cia Nacional na alínea a) do artigo 7.º, umórgão de apoio do Comando-Geral, nãopode deixar de ser um serviço adminis-trativo porque se contém numa activi-dade administrativa, embora, por vezes,realize trabalho técnico.

Nos termos do n.º 2 do artigo 23.ºdo Estatuto Orgânico da Polícia Nacional,o Chefe do Gabinete de Informação eAnálise tem a categoria de Director Na-cional. Ora o Director Nacional desem-penha um cargo de chefia, provido pornomeação do Ministro do Interior por pro-posta do Comandante Geral, artigo 15.ºdo Estatuto Orgânico da Polícia Nacional.

Se é esta a forma de provimento, en-tão nos termos do n.º 1 e 2 do artigo 2.ºdo Decreto n.º 25/91, de 29 de Junho,que define e estabelece o regime da cons-tituição modificação e extinção da relaçãojurídica de emprego na Administração Pú-blica, o Chefe do Gabinete de Estudos In-formação e Análise é um funcionário ad-ministrativo, um funcionário público.

Donde,E para os efeitos da alínea d) do n.º

1 do artigo 4.º da Lei da Advocacia, estáferido de uma incompatibilidade para oexercício da advocacia.

É este o nosso parecer, salvo melhoropinião.

O Relator: Luzia Bebiana de Almeida Sebastião,Coordenador da Comissão de Ética eDeontologia da OAA

Aprovado em sessão do ConselhoNacional, de 03 de Junho de 2004

O Bastonário

Raúl Araújo

1 MARCELLO CAETANO, Manual de Direito Admi-

nistrativo, Vol II, 10.ª edição, 3.ª reimpressão,revista e actualizada pelo Prof. Doutor DiogoFreitas do Amaral, Tomo II, Almedina, Coim-bra, 1990, p.1150.2 Idem, p. 1551.3 Idem, p. 1153. 4 Idem, p. 1154.5 Idem, p. 1155.6 Idem, p. 1159.7 As referências que aqui se fazem, são porequiparação ao que MARCELLO CAETANO a pp.1159 da obra a que vimos a fazer referência,designa, Governo, regedor, junta de freguesia,que eventualmente na organização administra-tiva angolana, incluirá as administrações mu-nicipais e comunais, e os restantes níveis deorganização administrativa até às sanzalas, bair-ros, etc. 8 MARCELLO CAETANO, da obra em referência, pp.1159.9 Idem, ibidem, pp. 1159, 1160.

14 • A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004

PPAARREECCEERREESS EE RREESSOOLLUUÇÇÕÕEESS

RESOLUÇÃO N.º 02/04, de 21 de Abril

O Conselho Nacional da Ordem dos Advogados, reunido emsessão de 01 de Abril de 2004, adoptou como Resolução oParecer do Conselho Nacional, relacionado com impedimento aoexercício da Advocacia, o qual se consubstancia no seguinte:

Por força da conjugação dos art.os 56.º do Estatuto da Or-dem dos Advogados de Angola, 5.º, n.º 2 da Lei da Advocaciae 6.º, n.º 5 do Código Deontológico, os Advogados que sãomembros das Forças Armadas e militarizadas no activo, os Fun-cionários Públicos e Deputados estão impedidos de pleitear con-tra o Estado, estendendo-se para este efeito, o conceito de Es-tado às Empresas Públicas.

Os advogados em geral estão impedidos de aceitar o man-dato quando tenham tido intervenção no processo ou em pro-

cessos conexos, como representantes da parte contrária ouquando lhe tenham prestado parecer jurídico sobre a questãocontravertida, ou tenham de vir a fazê-lo.

O Advogado que estiver ferido de impedimento em relaçãoa um assunto ou tipo de assuntos, está obrigado a abster-se denele intervir, devendo, no caso do impedimento ser posterior aoinício do mandato, cessá-lo imediatamente e realizar todas asdiligências no sentido da transferência do mandato a fim de quea causa ou assunto não fique sem defesa.

A violação ao acima descrito fará incorrer os seus autoresem responsabilidade disciplinar, sem prejuízo da responsabili-dade civil e criminal que de tal acto resultar.

Luanda, 21 de Abril de 2004O Bastonário, Raúl Araújo

Page 17: Gazeta do Advogado nº 1

� Paulette Lopes, Aníbal Espírito Santo, Luís Pizarro

O exercício de advocacia independente em Angola tem evo-luído da quase não existência à data da independência, até àprática por um número considerável de profissionais.

A organização do exercício da profissão iniciou-se em 1982,com a criação dos colectivos de advogados, órgão dependentedo Ministério da Justiça; em 1995, com a adopção da Lei 1/95foi estabelecido o livre exercício da advocacia enquanto profis-são liberal e, finalmente, em 1996 foi proclamada a Ordem dosAdvogados de Angola.

Com a globalização da economia, e a exemplo do que temsucedido em diversos países, necessário se torna que a advo-cacia em Angola avance ainda mais na sua organização, e quea classe se prepare para enfrentar os grandes desafios coloca-dos pela globalização, nomeadamente a concorrência deslealdas grandes firmas de auditoria, que oferecem aos seus clien-tes pacotes globais de serviços, advocacia incluída, e a tam-bém desleal concorrência de sociedades de advogados estran-geiras.

Com efeito, a complexidade das relações económicas in-ternacionais exige um enorme desenvolvimento das diversasdisciplinas tratadas pelos advogados, desenvolvimento queaconselha que o exercício da advocacia se realize por uma co-laboração de profissionais de diversas especializações. É essacolaboração já existente em alguns casos em Angola, a nível in-formal, que ora se pretende institucionalizar com a possibilida-de, garantida aos profissionais que o desejem, de constituir so-ciedades de advogados.

Nestes termos, ao abrigo da alínea b) do artigo 88.º da LeiConstitucional, a Assembleia Nacional aprova a seguinte:

LEI DAS SOCIEDADES DE ADVOGADOS

Artigo 1.º(Constituição e objecto social)

1. As sociedades de advogados devem constituir-se sob aforma civil e terão por objecto social o exercício exclusivo emcomum da profissão de advogado, com o fim de repartirem en-tre si os respectivos lucros.

2. As sociedades de advogados só se podem constituir nostermos deste diploma.

3. É proibido a uma mesma sociedade de advogados assis-tir ou representar partes que tenham interesses opostos.

Artigo 2.º(Forma)

1. As sociedades de advogados só podem constituir-se porescritura pública, devendo o título constitutivo conter obrigato-riamente as seguintes menções:

a) nome, domicílio profissional e o número de inscrição naOrdem dos Advogados dos associados;b) firma;c) sede social;d) capital social, o valor das participações e sua natureza,bem como os respectivos titulares;e) a declaração da realização total ou parcial do capital;f) as participações de indústria de cada sócio e o respecti-vo regime;g) o modo de repartição dos resultados, distinguindo-se aquota-parte dos mesmos correspondentes às participaçõesde capital e a correspondente às participações de indústria;h) a forma de designação dos órgãos sociais.

2. A firma a que se refere a alínea b) anterior deve ser, pre-viamente, registada na Ordem dos Advogados, para efeitos deemissão do respectivo certificado de admissibilidade e novi-dade.

3. A inobservância da forma é causa de nulidade do con-trato de sociedade.

Artigo 3.º(Registo)

1. Após a constituição da sociedade, deve ser apresentadaà Ordem dos Advogados de Angola, no prazo de trinta dias acontar da celebração da escritura, a certidão do título de cons-tituição, a fim de se proceder ao registo em livro próprio.

2. A Ordem dos Advogados de Angola, por intermédio doConselho Nacional deve verificar da conformidade do pacto so-cial com lei e os princípios deontológicos que regem o exercí-cio da profissão.

A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004 • 15

PPRROOPPOOSSTTAASS DDEE LLEEGGIISSLLAAÇÇÃÃOO

PROJECTO DE LEIDAS SOCIEDADES DE ADVOGADOS

Page 18: Gazeta do Advogado nº 1

3. A deliberação que recuse o registo deve ser motivada enotificada aos interessados, e só pode proceder se o pacto so-cial apresentado não estiver em conformidade com a lei e/ou osprincípios deontológicos.

4. Se o Conselho Nacional não se pronunciar no prazo desessenta dias a contar da recepção do pedido, considera-se, pa-ra todos os efeitos, como registada a sociedade.

5. Ficam igualmente sujeitas a registo, nos termos do núme-ro anterior, as alterações ao pacto social, a cessão, amortização,extinção de participações sociais, a dissolução da sociedade ea exoneração ou exclusão de sócios, devendo tais alterações sercomunicadas à Ordem dos Advogados no prazo de trinta dias acontar da sua ocorrência.

Artigo 4.º(Personalidade jurídica)

As sociedades de advogados adquirem personalidade ju-rídica no momento do registo a que se refere o artigo 3.º

Artigo 5.º(Sócios)

1. Só podem ser sócios de uma sociedade de advogados,licenciados em direito inscritos na Ordem dos Advogados deAngola.

2. Os sócios de uma sociedade de Advogados devem fazerparte de uma única sociedade, não podendo, salvo autorizaçãode todos os sócios, exercer fora da sociedade actividade profis-sional remunerada relacionada à advocacia.

3. Os sócios devem prestar mutuamente informações so-bre a actividade profissional de advogado sem que tal envolvaa violação do segredo profissional, salvo quando exerçam ac-tividades fora da sociedade, devidamente autorizadas pela so-ciedade.

4. O mandato conferido a algum ou alguns dos sócios con-sidera-se automaticamente extensivo a todos os outros sócios,salvo se a não extensibilidade constar expressamente do man-dato, caso em que será sempre admitido o substabelecimentonos termos gerais.

5. Os advogados estagiários podem ser sócios de uma so-ciedade, desde que a sociedade tenha, pelo menos, um sócionão estagiário.

6. O número de sócios pode aumentar ao longo da exis-tência da sociedade, com ou sem aumento do capital social.

7. Qualquer novo sócio tem de apresentar o certificado deinscrição na Ordem dos Advogados de Angola.

Artigo 6.º(Firma)

1. A firma deve individualizar todos os sócios ou alguns

deles e conter a expressão «Sociedade de Advogado(a)-(s)».

2. Quando não individualize todos os sócios a firma deveconter a expressão «e associados».

3. A firma deve constar da correspondência e de todos osdocumentos que emanem da sociedade e dos escritos profis-sionais dos sócios enquanto ajam como tais.

4. No papel timbrado da sociedade de advogados devemconstar os nomes completos ou abreviados de todos os asso-ciados.

Artigo 7.º(Participações sociais)

1. Todos os sócios deverão participar na sociedade com asua indústria e todos ou alguns deles com capital, segundo oque for convencionado.

2. As participações do capital podem ser integradas por:

a) bens imóveis e móveis, direito ao arrendamento e o valorda clientela;b) os documentos, bibliografia e arquivo e de um modo ge-ral os meios necessários ao exercício da advocacia;c) somas em numerário.

Artigo 8.º(Participações de indústria)

1. As participações de indústria não concorrem para a for-mação do capital social e presumem-se iguais as participaçõesde capital, salvo estipulação em contrário no pacto social.

2. As participações de indústria são intransmissíveis e ces-sam sempre que o respectivo titular deixe de fazer parte da so-ciedade.

3. Cessando a participação, os sócios ou os seus suces-sores só terão direito a receber da sociedade:

a) uma importância correspondente à quota-parte das re-servas sociais constituídas no período de tempo em que osócio exerceu a sua actividade na sociedade, sendo estaproporcional à sua participação de indústria;b) uma impor tância correspondente aos resultados doexercício em curso, na proporção da sua participação deindústria e do tempo já decorrido desse exercício.

Artigo 9.º(Cessão de participações

entre sócios e a terceiros)

1. A cessão onerosa de participações de capital entre só-cios é livre, sem prejuízo do direito de concorrência entreeles.

16 • A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004

PPRROOPPOOSSTTAASS DDEE LLEEGGIISSLLAAÇÇÃÃOO

Page 19: Gazeta do Advogado nº 1

2. A cessão a terceiros só é admitida quando o cessionárioseja advogado e depende de autorização da sociedade, conce-dida por deliberação da assembleia geral.

3. A cessão de participações está sujeita à forma exigidapara a constituição da sociedade.

4. O procedimento para a cessão de participações quer asócios quer a terceiros deverá ser regulamentado nos respec-tivos pactos sociais.

Artigo 10.º(Amortização em caso de recusa

de autorização)

1. Se a sociedade recusar a autorização para a cessão departicipação a terceiro, deve no prazo de seis meses proce-der à respectiva amortização, se o sócio assim lho exigir porcarta registada com aviso de recepção, expedida nos quinzedias seguintes à recepção da comunicação da recusa da so-ciedade.

2. A participação deverá ser amortizada pelo valor corres-pondente ao preço da projectada cessão, excepto se a socie-dade comunicar ao sócio, nos trinta dias seguintes ao da recep-ção da carta a que se refere o número anterior, que não aceitacomo valor da amortização tal preço. Neste caso o valor seráfixado por uma comissão arbitral constituída por três advoga-dos, sendo um designado pela sociedade, outro pelo sócio e oterceiro pela Ordem dos Advogados.

3. O terceiro árbitro presidirá com o voto de desempate eestabelecerá os termos do respectivo processo.

4. Se a sociedade não proceder à amortização no prazo deseis meses referidos no n.º 1, esta considera-se automatica-mente realizada naquele termo, vencendo-se imediatamente asprestações a que o sócio tenha direito.

Artigo 11.º(Cessão gratuita)

O disposto nos artigos 9.º e 10.º é aplicável, com as ne-cessárias adaptações, à cessão de participações de capital a tí-tulo gratuito, devendo o sócio que pretender ceder gratuitamen-te a sua participação atribuir-lhe um valor, quando solicitar aautorização a que se refere o n.º 2 do artigo 10.º

Artigo 12.º(Sucessão nas participações sociais

e cessação de actividade)

1. As participações sociais extinguem-se por morte do ti-tular, tendo os herdeiros direito a receber da sociedade o res-pectivo valor.

2. Esse valor será determinado por acordo entre a socie-dade e os herdeiros. Na falta de acordo o valor será fixado por

uma comissão arbitral constituída nos termos do n.º 2 do arti-go 10.º

3. Todavia, pode a sociedade, mediante deliberação da As-sembleia Geral tomada por unanimidade, consentir que as par-ticipações de capital se transmitam para um ou mais herdeirosque sejam advogados, fixando-se desde logo, por acordo, asparticipações de indústria que lhes correspondam.

4. No caso referido no número anterior, as participações decapital são objecto, na partilha, de atribuição preferencial embenefício dos respectivos herdeiros.

5. O disposto nos números anteriores é aplicável, com asnecessárias adaptações quando seja decretada a inabilitaçãoou interdição do sócio.

6. O procedimento fixado para a sucessão em caso de mor-te do sócio, será observado, com as devidas adaptações, quan-do for cancelada a inscrição do sócio como advogado.

Artigo 13.º(Exoneração de sócios)

1. Todo o sócio tem direito de se exonerar da sociedade, sea duração desta não tiver sido fixada no pacto social; não seconsidera para este efeito fixada no pacto social a duração dasociedade se esta tiver sido constituída por toda a vida de umsócio ou por período superior a trinta anos.

2. Havendo fixação de prazo, o direito de exoneração só po-de ser exercido nas condições previstas no pacto social ouquando ocorra justa causa.

3. A exoneração só se torna efectiva no fim do ano socialem que é feita a comunicação respectiva, mas nunca antes dedecorridos três meses sobre esta comunicação.

4. Se a justa causa ou a causa de exoneração expressa nopacto social invocada pelos sócios não for aceite pela socie-dade, a exoneração só pode ser autorizada pelo tribunal.

5. O sócio exonerado tem direito a receber da sociedade aquantia que com esta acordar ou, na falta de acordo, o que forfixado pela comissão arbitral a que se refere o n.º 2 do artigo10.º

Artigo 14.º(Exclusão de sócios)

1. A exclusão de um sócio pode verificar-se nos casos pre-vistos no pacto social e ainda nos seguintes casos:

a) quando lhe seja imputável violação grave das obrigaçõespara com a sociedade ou dos deveres deontológicos;b) quando o sócio esteja impossibilitado de prestar à so-ciedade de modo continuado a participação de indústria aque ficou obrigado.

2. A exclusão do sócio depende do voto de três quartas

A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004 • 17

Page 20: Gazeta do Advogado nº 1

partes dos votos correspondentes aos sócios, salvo se o pactosocial exigir uma maioria mais qualificada, e produz efeitos de-corridos 30 dias sobre a data da comunicação feita pela socie-dade à Ordem dos Advogados.

3. A comunicação referida no número anterior deve ser fei-ta dentro dos oito dias seguintes à tomada da decisão.

4. Sem prejuízo do disposto no número seguinte, o sócioexcluído pode opor-se a esta decisão pela via judicial, e o seudireito a propor a respectiva acção caduca no prazo de sessen-ta dias depois da tomada de decisão.

5. O sócio que for definitivamente proibido de exercer aprofissão, em resultado de sanção disciplinar, deve, obrigatoria-mente, ser excluído da sociedade, devendo a sociedade promo-ver essa exclusão no prazo de trinta dias a contar da aplicaçãodessa sanção.

6. É aplicável aos casos de exclusão de sócios o dispostono número 5 do artigo anterior.

Artigo 15.º(Órgãos Sociais)

1. As sociedades terão como órgãos a Assembleia de só-cios e os Administradores.

2. As funções dos administradores serão definidas pelaAssembleia Geral, aplicando-se, no omisso, o disposto na leicivil.

3. As decisões que estejam fora do âmbito dos poderes deadministração são tomadas pelos sócios reunidos em Assem-bleia.

4. A Assembleia reúne-se regularmente uma vez por ano,até ao dia 15 de Fevereiro, para deliberar sobre as contas doexercício social anterior e sobre outros assuntos para que igual-mente tenha sido convocada.

5. A assembleia reúne-se extraordinariamente a pedido dossócios que representem pelo menos a metade do número dossócios ou um quarto do capital.

6. O pacto social da sociedade deverá indicar as modalida-des de convocação da Assembleia.

Artigo 16.º(Representação da sociedade)

A sociedade é representada em juízo e fora dele pelos seusAdministradores.

Artigo 17.º(Alteração da administração)

A designação dos Administradores, feita no pacto social ouem acto posterior ao da escritura de constituição, pode ser re-vogada por deliberação da maioria dos sócios.

Artigo 18.º(Deliberações sociais)

1. Cada sócio dispõe de 1 só voto, e pode-se fazer repre-sentar às Assembleias por um outro sócio a quem conferirámandato por escrito.

2. A Assembleia só pode deliberar validamente se pelo me-nos três quartos dos sócios se encontrarem presentes.

3. Se, à hora marcada para a reunião não houver quorum,a Assembleia será convocada uma segunda vez, para oito diasdepois, e deliberará validamente se o número de sócios pre-sentes ou representados for de, pelo menos, dois.

4. Salvo se de outro modo for indicado na presente lei ouno pacto social as decisões sociais são tomadas por maioria devotos dos sócios presentes ou representados, e detendo pelomenos a metade dos votos do conjunto dos sócios que repre-sentem pelo menos três quartos das participações sociais.

Artigo 19.º(Actas)

1. Todas as deliberações devem ser exaradas em acta quedeve ser assinada por todos os sócios, presentes ou represen-tantes, e incluirá obrigatoriamente os seguintes elementos:

a) data e local da reunião;b) ordem do dia detalhada;c) identidade dos sócios presentes e representados;d) as deliberações tomadas e os resultados das vota-ções.

2. As actas devem ficar arquivadas na sede da socie-dade.

Artigo 20.º(Relatórios)

1. No final de cada exercício, os Administradores apresen-tam, nas condições fixadas no pacto social, as contas anuaisda sociedade e um relatório de resultados, que devem ser sub-metidos à apreciação da Assembleia de sócios.

2. Para efeitos do número anterior, os documentos acimamencionados devem estar à disposição dos sócios na sede dasociedade para serem consultados.

Artigo 21.º(Remuneração e distribuição

de resultados)

1. As remunerações de qualquer natureza cobradas comocontraprestação da actividade profissional dos sócios, consti-tuem receitas da sociedade.

18 • A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004

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Page 21: Gazeta do Advogado nº 1

2. As modalidades de distribuição dos resultados entre só-cios devem ser determinadas no pacto social, ou em delibera-ção da assembleia geral da sociedade.

3. Na falta de disposição estatutária ou de deliberação daassembleia geral sobre a distribuição dos resultados, estes se-rão distribuídos por todos os sócios de acordo com as suasparticipações.

4. A sociedade pode atribuir mensalmente aos sócios umaimportância fixa por conta dos resultados a distribuir.

5. Todas as importâncias recebidas pelos sócios nos ter-mos dos números anteriores são consideradas como remune-rações de trabalho.

Artigo 22.º(Impossibilidade temporária

do exercício da profissão)

1. Se por qualquer motivo não imputável ao sócio, este fi-car temporariamente impossibilitado de exercer a profissão, osócio mantém o direito aos resultados correspondentes à suaparticipação de capital.

2. Tratando-se de participação de indústria, o sócio mantémo direito ao resultados correspondentes à sua participação du-rante os primeiros seis meses de impossibilidade. Se este seprolongar por muito mais tempo o sócio terá direito à metadedesses resultados no período subsequente aos seis meses atédois anos.

3. Se essa impossibilidade se prolongar por mais de de-zoito meses, a sociedade pode deliberar a amortização da par-ticipação do respectivo sócio nos termos do estabelecido noartigo 10.º deste diploma, extinguindo-se assim a respectiva par-ticipação de indústria.

Artigo 23.º(Suspensão da inscrição do sócio

como advogado)

1. O disposto do nos n.os 1 e 2 do artigo anterior é aplicá-vel em caso de suspensão da inscrição do sócio como advo-gado.

2. Se o sócio for condenado em pena disciplinar de sus-pensão pode a sociedade deliberar sobre a amortização da par-ticipação de capital do sócio nos termos do artigo 10.º

Artigo 24.º (Responsabilidade pelas obrigações sociais

e por actos dos sócios)

1. Pelas dívidas sociais respondem a sociedade e pessoale solidariamente todos os sócios.

2. Os sócios respondem pelas dívidas sociais na proporçãoda sua participação nos resultados e gozam do direito de re-

gresso, entre si, nos termos do artigo n.º 2 do artigo 497.º doCódigo Civil.

3. O sócio não pode eximir-se da responsabilidade por de-terminada dívida a pretexto de esta ser anterior à sua entradapara a sociedade.

4. Cada sócio responde pelos actos profissionais que pra-ticar no âmbito da actividade da sociedade.

5. A sociedade é solidariamente responsável pelos prejuízosdecorrentes desses actos, tendo porém direito de regresso con-tra o respectivo sócio.

Artigo 25.º (Responsabilidade da sociedade)

A sociedade responde civilmente pelos actos ou omissõesdos seus representantes, agentes ou mandatários, nos termosem que os comitentes respondem pelos actos ou omissões doscomissários.

Artigo 26.º (Dissolução)

1. São aplicáveis à dissolução e liquidação da sociedadeo disposto nos ar tigos 1007.º a 1018.º e 1020.º do CódigoCivil.

2. A dissolução da sociedade não impede que os sócios re-tomem a actividade profissional de advogado de forma indivi-dual, ou integrados noutra sociedade.

Artigo 27.º (Poderes dos administradores

depois da dissolução)

Dissolvida a sociedade, os poderes dos administradoresficam limitados à prática dos actos meramente conservatóriose, no caso de não terem sido nomeados liquidatários, dos actosnecessários à liquidação do património social.

Artigo 28.º (Entrada em vigor)

A presente lei entra em vigor após a sua publicação. Vistae aprovada pela Assembleia Nacional.

Publique-se. Luanda, aos ___ de ____________ de _____

O Presidente da Assembleia Nacional,

O Presidente da República,

A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004 • 19

Page 22: Gazeta do Advogado nº 1

20 • A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004

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� Manuel Gonçalves (Proponente)Aprovado pelo Conselho Nacional

CONSELHO DE MINISTROSDecreto N.º ...

A Lei n.º 16/03, de 25 de Julho, so-bre a arbitragem voluntária, dentre as suasprincipais inovações confere a possibili-dade de realização de arbitragem insti-tucionalizada e permanente por pessoasjurídicas.

Os centros de arbitragem, devidamen-te organizados, poderão constituir impor-tantes meios alternativos de composiçãode conflitos, com seriedade e dignidade,contribuindo para a certeza, previsibili-dade e segurança nas relações jurídicasdisponíveis, internas e internacionais.

Cumprindo o disposto no artigo 45.ºda referida lei, importa definir o regime deoutorga das autorizações administrativaspara a criação de instituições arbitrais, as-segurando as condições necessárias pa-ra o seu funcionamento, num sistema fle-xível mas controlado.

Nestes termos, ao abrigo … o Go-verno decreta o seguinte:

Artigo 1.º(Competência)

1. A autorização para a criação decentros de arbitragem para a promoção,com carácter institucionalizado, de arbi-tragens voluntárias, é da competência doMinistro da Justiça.

2. A autorização a que se refere onúmero anterior é dada por despacho pu-blicado no Diário da Republica.

Artigo 2.º(Pedido de autorização)

1. O pedido de autorização deve cons-

tar de requerimento subscrito pelos re-presentantes da pessoa jurídica que, nostermos do artigo 45.º da Lei n.º 16/03,de 25 de Julho, pretenda criar centros dearbitragem.

2. O requerimento referido o númeroanterior deve conter, obrigatoriamente, osseguintes elementos:

a) A exposição circunstanciada dasrazões em que se baseia a preten-são;b) A delimitação do objecto das ar-bitragens que se pretende realizar; 3. O requerimento deve ser instruído

com os seguintes documentos:a) Documentos comprovativos da per-sonalidade jurídica da entidade re-querente;b) Registo Criminal dos representan-tes da entidade requerente;c) Outros documentos que se mos-trem necessários à avaliação da pre-tensão.4. Antes de decidir sobre a preten-

são, o Ministro da Justiça pode solicitaro aperfeiçoamento do requerimento e de-terminar a junção dos documentos refe-ridos no número anterior.

Artigo 3.º(Decisão)

1. O despacho que recair sobre o re-querimento deve ser devidamente funda-mentado e especificar o carácter geral ouespecializado das arbitragens a realizarno centro.

2. A autorização deve depender da re-presentatividade da entidade requerentee da idoneidade necessária ao adequadocumprimento do objecto social do centro.

Artigo 4.º(Revogação das Autorizações)

Por despacho devidamente funda-

mentado e publicado no Diário da Repú-

blica, o Ministério da Justiça poderá re-vogar a autorização concedida nos termosdo presente diploma legal, perante a su-perveniência de algum facto demonstra-tivo da falta de condições técnicas ou ido-neidade para a execução da actividadeobjecto da autorização.

Artigo 5.º(Reapreciação de Decisões)

As decisões do Ministro da Justiçapoderão ser objecto de reapreciação nostermos gerais do direito aplicável à im-pugnação dos actos administrativos.

Artigo 6.º(Registos)

O Ministério da Justiça organizaráum registo das entidades autorizadas arealizar arbitragens voluntárias institucio-nalizadas com a menção, dentre outroselementos, da entidade promotora e doobjecto geral ou especializado do centro.

Artigo 7.º(Contravenções)

1. Quem realizar arbitragens voluntá-rias institucionalizadas sem a devida au-torização será punido com a multa de KZ800.000,00 a KZ 8.000.000,00.

2. A aplicação da multa é da compe-tência do Ministro da Justiça.

Artigo 8.º(Entrada em vigor)

O presente diploma entra imediata-mente em vigor.

Visto e aprovado em Conselho de Mi-nistros ...

PROJECTO DE DECRETO SOBRE CRIAÇÃODE CENTROS DE ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA

Page 23: Gazeta do Advogado nº 1

� Compilação de António Joaquim

PPeerrííooddoo:: ddee 11 aa 3311 ddee JJaanneeiirroo ddee 22000044

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Decreto Executivo n.º 6/04Cria e aprova o impresso a ser utilizado para o pedido de

Certificado de admissibilidade de firmas ou denominação social.

Diário da República n.º 4, de 13 de Janeiro

MINISTÉRIO DAS FINANÇAS

Decreto Executivo n.º 19/04Actualiza os valores das taxas e licenças de Obras particu-

lares, Alteração durante a construção, Construções de CarácterProvisório, Obras de Conservação e Reparação, Obras de De-molição, Construções nas Zonas Residenciais Periféricas, ViaPública, Vistorias, Ocupações de Edificações, Transmissão dePropriedade, Velocípedes, Publicidade, Ocupação da Via Públi-ca e Taxas Diversas.

Diário da República n.º 7, de 23 de Janeiro

MINISTÉRIO DO COMÉRCIO

Despacho n.º 15/04Determina que, transitoriamente e para a Província de Luan-

da, a Direcção Nacional do Comércio Interno passe a licenciara actividade Comercial.

Diário da República n.º 8, de 27 de Janeiro

PPeerrííooddoo:: ddee 11 aa 2299 ddee FFeevveerreeiirroo ddee 22000044

ASSEMBLEIA NACIONAL

Lei n.º 1/04Das Sociedades Comerciais – Revoga toda a legislação

que contrarie o disposto na presente lei e nomeadamente os ar-tigos 104.º a 206.º do Código Comercial, a lei de 11 de Abril de1901, Lei das Sociedades por Quotas, o Decreto-Lei n.º 598//73, de 8 de Novembro, Sobre a Fusão e Cisão de SociedadesComerciais, o Decreto-Lei n.º 49 381, de 15 de Novembro, So-bre a Fiscalização das Sociedades Anónimas, o art.º 6.º da Lei

n.º 9/91, de 20 de Abril e o art.º 3.º do Decreto n.º 38/00, de 6de Outubro.

Diário da República n.º 13, de 13 de Fevereiro

MINISTÉRIO DAS FINANÇAS

Despacho n.º 53/04Sobre a titularidade pelo Instituto Angolano de Participa-

ções do Estado (IAPE) das Participações Financeiras do Estadoem diversas sociedades comerciais.

Diário da República n.º 14, de 17 de Fevereiro

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Decreto Executivo n.º 25/04Divide em duas secções a Conservatória do Registo Predi-

al de Luanda:1.ª – Registos em atraso;2.ª – Registos e inscrição de situações novas.

Diário da República n.º 15, de 20 de Fevereiro

PPeerrííooddoo:: ddee 2200 ddee FFeevveerreeiirroo aa 3300 ddee AAbbrriill ddee 22000044

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Decreto executivo n.º 29/04Desdobra a Sala de Trabalho do Tribunal Provincial de

Luanda em três Secções.

Diário da República n.º 16, de 23 de Fevereiro

Decreto executivo n.º 40/04Cria as 7.ª e 8.ª Secções da Sala dos Crimes Comuns do

Tribunal Provincial de Luanda.

Diário da República n.º 16, de 23 de Fevereiro

TRIBUNAL DE CONTAS

Resolução n.º 2/04Aprova o regulamento interno do Gabinete do Presidente do

Tribunal de Contas.

Diário da República n.º 25, de 26 de Março

A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004 • 21

NNOOVVIIDDAADDEESS LLEEGGIISSLLAATTIIVVAASS

Page 24: Gazeta do Advogado nº 1

BANCO NACIONAL DE ANGOLA

Aviso 1/04Define as operações de empréstimos entre o Banco Nacio-

nal de Angola e as Instituições financeiras – Revoga o Aviso n.º5/2000, de 2 de Agosto.

Diário da República n.º 26, de 30 de Março

MINISTÉRIO DAS FINANÇAS

Despacho n.º 95/04Dá nova redacção ao artigo 2.º do Decreto executivo n.º

36/03, de 29 de Julho, sobre os endossos dos títulos de pro-priedade das mercadorias importadas.

Diário da República n.º 27, de 2 de Abril

PPeerrííooddoo:: ddee 3300 ddee AAbbrriill aa 3300 ddee JJuunnhhoo ddee 22000044

ASSEMBLEIA NACIONAL

Resolução n.º 17/04Elege os juristas que integram o Conselho Superior da Ma-

gistratura Judicial e o Conselho Superior da Magistratura do Mi-nistério Público.

Diário da República n.º 38, de 11 de Maio

CONSELHO DE MINISTROS

RectificaçãoAo Decreto n.º 6/01, de 2 de Março, publicado no Diário da

República n.º 10, 1.ª série – que define o resseguro e o co-se-guro, assim como as entidades que podem exercer esta activi-dade em Angola.

RectificaçãoAo Decreto n.º 2/02, de 11 de Fevereiro, publicado no Diá-

rio da República n.º 12, 1.ª série – sobre o contrato de seguros.

Diário da República n.º 42, de 24 de Maio

MINISTÉRIO DAS FINANÇASDecreto Executivo n.º 60/04

Cria o Documento de Liquidação de Impostos (DLI).

Diário da República n.º 13, de 24 de Maio

MINISTÉRIO DAS FINANÇAS

Despacho n.º 119/04Prorroga até dia 30 de Junho de 2004, o prazo para a en-

trega da Declaração de Rendimentos, Modelo 1, a que se refereo n.º 1 do artigo 48.º do Código do Imposto Industrial.

Diário da República n.º 45, de 4 de Junho

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Decreto Executivo n.º 62/04Cria o impresso próprio a ser doravante utilizado para o pe-

dido de confirmação do certificado de admissibilidade da firmaou denominação – Revoga toda a legislação e normas que con-trariem o estabelecido no presente diploma.

Decreto Executivo n.º 63/04Aprova o regulamento interno do Ficheiro Central de Deno-

minações Sociais.

Diário da República n.º 46, de 8 de Junho

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Despacho n.º 5/04Cria um grupo de Trabalhos com objectivo de compatibi-

lizar e harmonizar os diplomas regulamentares do ordenamen-to do território, mercado imobiliário e habitação, bem como osinstrumentos financeiros de apoio à actividade coordenada porCarlos Maria da Silva Feijó.

Diário da República n.º 48, de 15 de Junho

ASSEMBLEIA NACIONAL

Lei n.º 3/04Do ordenamento do Território e do Urbanismo. – Revoga

todas as disposições que contrariem o disposto da presentelei.

Decreto n.º 36/04Aprova a tabela de Taxas de portagem e autoriza a sua co-

brança na ponte sobre o Rio Kuanza.

Diário da República n.º 51, de 25 de Junho

22 • A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004

NNOOVVIIDDAADDEESS LLEEGGIISSLLAATTIIVVAASS

Page 25: Gazeta do Advogado nº 1

RESPONSABILIDADE CIVILDO ADVOGADO

� Hermenegildo Cachimbombo

1. INTRODUÇÃO

Com a ascensão do país à indepen-dência, e como resultado das opçõesideológicas da época, foi adoptado umsistema de advocacia que assentou fun-damentalmente na abolição da advoca-cia «privada» e na organização de «co-lectivos de advogados», que funcionavamsob a direcção e controlo do Ministérioda Justiça.

Com este modelo de organização,os advogados eram considerados fun-cionários públicos e a sua remuneração,bem como a fiscalização do exercício dasua actividade, eram uma responsabili-dade do Estado.

Não obstante o facto de ter sido pre-visto, na lei que regia o exercício da ad-vocacia, um conjunto de deveres cujaviolação era susceptível de fundamentara responsabilização do advogado infrac-tor, a aplicação prática do sistema, ao lon-go de cerca de três décadas, e no quadroassim criado, conduziu ao nascimento deuma certa cultura de «irresponsabiliza-ção profissional»1.

Estiveram na base do surgimentodessa cultura de «irresponsabilização pro-fissional», para além dos factores já re-ferenciados, o facto de, durante as trêsdécadas em que imperou no país o siste-ma político de matriz socialista, ter sidobastante reduzida a actividade jurisdicio-nal.

Não existindo no país actividade eco-nómica privada, cuja dinâmica é poten-cialmente geradora de conflitos que con-vocam a intervenção dos mais diversosramos do Direito, a actividade jurisdicio-nal então desenvolvida circunscrevia-se

quase praticamente ao julgamento de ca-sos de natureza criminal e familiar.

Neste contexto, a dimensão da inter-venção do advogado, enquanto profissio-nal do direito, era pouco significativa e,consequentemente, surgiram poucas si-tuações que pudessem determinar umareflexão do género da que nos propomosaqui fazer.

No entanto, com o nascimento dasegunda República, o quadro político eeconómico do país sofreu transforma-ções profundas e a nova dinâmica intro-duzida na vida económica do país deumais espaço à intervenção dos advoga-dos.

Em consequência destas transforma-ções, que resultaram, também, em con-quistas da classe, começaram a surgirsituações práticas de violação de deve-res profissionais, por par te de algunsmembros que, todavia, dada a letargia aque a consciência social se acomodou,nem sempre têm levado à responsabili-zação dos respectivos autores.

É dentro deste condicionalismo quepassaremos a fazer uma reflexão sobre oproblema da responsabilidade profissio-nal do advogado.

Para o efeito, começaremos por fa-zer referência aos pressupostos que de-terminam o surgimento da obrigação deindemnizar, prestando maior atenção aosrequisitos que apresentam especificida-de face aos princípios gerais consagra-dos no Código Civil, e depois abordare-mos a questão da natureza jurídica daresponsabilidade civil do advogado.

Seguidamente, analisaremos os re-flexos práticos do problema em Angolae, para concluir, ensaiaremos soluçõesque permitam melhorar a cultura de res-ponsabilização dos profissionais da ad-vocacia em Angola.

2. PRESSUPOSTOS E NATUREZAJURÍDICA DA RESPONSABILIDADE

CIVIL DO ADVOGADO

2.1. Pressupostos

Numa perspectiva geral, o conceitode responsabilidade civil acha-se asso-ciado à ideia de repar tição dos riscosinerentes à coexistência social, procuran-do, desta forma, apontar casuisticamen-te quem deve suportar os danos sofridosno desenvolvimento das mais diversasrelações sociais.

A deslocação do dano da esfera ju-rídica do lesado para a esfera jurídica doautor da lesão tem sido, tradicionalmen-te, sujeita à verificação dos seguintespressupostos: (i) verificação de um factohumano, (ii) ilicitude do facto, (iii) nexode imputação do facto ao agente, (iv) ne-xo de causalidade e, (v) verificação de umdano.

(i) Em relação ao primeiro requisito,facto humano, tem aqui acolhimento oentendimento da doutrina dominante, se-gundo o qual é relevante para o efeito ofacto humano dominável ou controlávelpela vontade, podendo este consistir nu-ma acção ou omissão.

A equiparação da omissão à acção,nos termos em que é feita pelo ar tigo486.º do Código Civil, dada a natureza daactividade do advogado, tem um grandereflexo prático.

Estabelecida a relação advogado//cliente, o primeiro obriga-se, na maioriados casos, a praticar actos jurídicos nointeresse do segundo, daí que existasempre o dever jurídico de agir.

Este dever de agir deriva tanto da lei,como das convenções das partes. Po-rém, existe quem defenda, como referi-

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EESSTTUUDDOOSS EE OOPPIINNIIÕÕEESS

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remos no ponto 2.2., que as obrigaçõescontratualmente assumidas entre advo-gado e cliente são como que simplesconcretizações dos deveres legalmenteimpostos aos primeiros.

A intervenção de um advogado noâmbito do sistema de assistência judi-ciária representa um caso ímpar de obri-gação de agir de fonte legal, mas, nageneralidade dos casos, a distinção dafonte da obrigação não é susceptível deser feita de forma tão linear.

Mas, mais importante do que ques-tionar-se sobre a natureza das obriga-ções assumidas pelo advogado peranteo cliente, é constatar que pelos fins pró-prios do patrocínio judiciário – garantiros meios técnicos para a procedência dapretensão do constituinte – a omissãogeralmente representa a violação de umdever de agir, razão pela qual deve serquase sempre equiparável à acção.

(ii) Os contornos do segundo requi-sito, ilicitude do facto, em sede da res-ponsabilidade civil do advogado, depen-dem muito da posição que se adoptequanto à questão da natureza jurídica doinstituto.

Pressupondo que a responsabilida-de civil do advogado tem natureza deli-tual, resultará alargado o alcance do prin-cípio geral consagrado no ar tigo 483.ºdo Código Civil.

A verificação de situações subsu-míveis na previsão da primeira parte doartigo 483.º do citado diploma legal, ouseja, de violação de direitos de outrem,circunscreve-se, em grande medida, àssituações descritas no artigo 68.º do Es-tatutos da Ordem dos Advogados de An-gola (a seguir designados abreviadamen-te por Est. da OAA).

Assim, entendemos, na esteira damelhor doutrina2, que cabem apenas na-quela hipótese os casos de violação dedireitos subjectivos absolutos, nomeada-mente, os direitos de personalidade, nassuas mais diversas manifestações, e osdireitos reais.

O artigo 68.º do Est. da OAA impõeaos advogados o dever de, no fim da re-

presentação, restituírem ao cliente os do-cumentos, valores ou objectos que sehajam mostrado necessários para a pro-va do direito do cliente ou cuja retençãopossa trazer a este prejuízos graves.

Como se vê, trata-se aqui, em últimaanálise, de violação de direitos reais dosconstituintes.

No entanto, não é de se afastar emabsoluto a possibilidade de violação di-recta de direitos de personalidade narelação advogado/cliente, mas, de umponto de vista prático e objectivo, essescasos dificilmente se verificarão.

A violação de direitos de personali-dade neste tipo de relação pode decorrer,a título de exemplo, da violação do deverde guardar sigilo profissional.

Se um advogado, no exercício domandato, tomar conhecimento de factosrelativos à intimidade da vida privada doseu constituinte e, sem a autorização des-te ou do órgão da OAA competente parao efeito, os divulgar, além de incorrer emresponsabilidade disciplinar e criminal de-corrente da violação do dever de sigiloprofissional, poderá ser responsabilizadocivilmente com fundamento no desres-peito pelo direito à reserva sobre a inti-midade da vida privada, direito este con-sagrado no ar tigo 81.º do Código Civilvigente na República de Angola.

Afere-se assim que, entre as preo-cupações que levaram o legislador a con-sagrar o dever estatutário dos advoga-dos manterem segredo sobre os factosde que tomem conhecimento no exercí-cio da profissão, se enquadra, também,ainda que indirectamente, a necessidadede proteger os direitos de personalidadedos destinatários dos seus serviços.

Deslocaremos a seguir a nossa aten-ção para a segunda hipótese da previsãodo artigo 483.º do Código Civil – qual-quer disposição legal destinada a prote-ger interesses alheios.

A principal preocupação do enuncia-do das normas dos artigos 62.º (Deve-res do Advogado para com a comuni-dade) e 67.º (Deveres do Advogado paracom o cliente) é a de proteger os clien-tes contra danos que possam sofrer em

consequência da actividade dos advoga-dos.

Entre os comandos consagradosnesses artigos, destacam-se os deveresde os advogados darem aos clientes opi-nião conscienciosa sobre o merecimen-to do direito ou pretensão que invocam,de estudarem com cuidado e trataremcom zelo as questões de que são incum-bidos e, ainda o dever de guardarem se-gredo profissional.

Dadas as exigências da vida moder-na, as pessoas físicas e jurídicas, antesde praticarem qualquer acto jurídico comalguma relevância para as suas vidas,frequentemente procuram obter orienta-ção de um profissional para melhor acau-telarem os seus interesses.

Socorrem-se da orientação profis-sional dos advogados porque depositamnesses profissionais uma certa confian-ça, que é o reflexo do reconhecimentosocial da importância e do prestígio daactividade da classe.

Em função do crédito que é dado pe-la sociedade aos advogados, é justo quea sociedade crie mecanismos que repre-sentem o reverso da moeda para os pro-fissionais que, no exercício da sua activi-dade, adoptem uma postura susceptívelde defraudar as expectativas colectivas.

É assim que a consagração dos de-veres que acima referimos parece resul-tar das preocupações do legislador sobrea necessidade de salvaguardar o interes-se da colectividade em garantir aos seusmembros a expectativa de poderem con-tar com o profissionalismo e o sigilo daclasse, sempre que precisem de recorreraos serviços de advocacia.

Para atingir este propósito – a salva-guarda das expectativas colectivas – o sis-tema sujeita os infractores à responsabi-lidade disciplinar e/ou criminal, o que,logicamente, representa um factor adicio-nal àqueles outros que concorrem paraefectivação da paz e segurança social.

Mais, sem prejuízo da salvaguardado referenciado interesse colectivo, o le-gislador teve, também, em atenção osinteresses particulares de cada um dosmembros da comunidade, individualmen-

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te considerados, e, por isso, colocou àsua disposição instrumentos que, emconcreto, lhes permitem reagir contra aactuação ilícita de advogados que causedanos na sua esfera jurídica.

Entre os instrumentos disponibiliza-dos pelo sistema temos a considerar anorma do artigo 485.º do Código Civil,que trata da responsabilidade por con-selhos, recomendações ou informações.

Apesar do facto de o preceito legalestar sistematicamente inserido na sec-ção da responsabilidade civil por factosilicítos, o legislador consagrou uma for-mulação que nos parece ser a mais feliz,porquanto, permite dar resposta aos pro-blemas que a este respeito se suscitamsem necessidade de preocupar-se como problema da natureza da fonte da obri-gação.

Ao dizer que a obrigação de indem-nizar existe quando se tenha assumido aresponsabilidade pelo dano, quando ha-via o dever jurídico de dar o conselho, re-comendação ou informação (...), o legis-lador, com bastante acerto, remeteu paraos princípios gerais a resolução do pro-blema.

Assim, caberá ao intérprete deter-minar casuisticamente quais as normasque melhor satisfazem os interesses emcausa, podendo estas ser de responsa-bilidade pré-contratual, contratual ou de-litual.

Dado que, como adiante melhor es-pecificaremos, propendemos a defendera natureza delitual da responsabilidadecivil do advogado, também aqui acha-mos que, quando um advogado aconse-lha o seu constituinte em circunstanciasque nos permitem concluir que o advo-gado actuou em total desrespeito aosseus deveres estatutários de zelo e cui-dado e com isso causou danos ao seuconstituinte, a actuação do primeiro deveser reputada como sendo contrária à lei.

Os deveres de actuação zelosa ecuidada resultam, entre outras, da normada alínea d) do artigo 67.º do Est. OAA,constando, entre os seus fins de protec-ção, como vimos, os interesses particu-lares.

À semelhança do dever de conselho,os deveres de informação e recomenda-ção integram o conteúdo natural da obri-gação do advogado, razão pela qual assoluções encontradas para a primeira hi-pótese devem ser extensivas às segun-das.

Considerando o nível de formação epreparação que é exigido às pessoas queexercem a advocacia, a violação gros-seira dos deveres de zelo e cuidado fazpresumir a existência de intenção de pre-judicar pelo que, em tais casos, o in-térprete deve presumir que o advogadoactuou com dolo, cabendo ao autor dalesão o ónus de afastar a presunção quesobre si recai.

O que fica dito no parágrafo anteriorem relação à norma da alínea d) do arti-go 67.º, aplica-se, «ipso facto», ao con-junto das disposições dos ar tigos 62.ºe 67.º do referido estatuto, decorrendodesse facto um considerável alargamen-to das hipóteses de verificação de actua-ção ilícita de advogados que os pode fa-zer incorrer na obrigação de indemnizar.

Além das normas positivadas nosEst. da OAA e noutros diplomas legaisque regem o exercício da advocacia emAngola3, em nossa opinião, pode tam-bém servir de base para responsabiliza-ção civil dos advogados a violação depráticas forenses sedimentadas pelo cos-tume num determinado fórum.

Alicerça o ponto de vista acima ex-presso o facto de o Est. da OAA prever,entre os deveres deontológicos, o deverde observar os costumes e praxes pro-fissionais.

Por exemplo, é comum no fórum daprovíncia de Luanda, os Juízes marca-rem várias audiências, normalmente au-diências preparatórias, para o mesmo diae hora4.

Apesar de ser questionável a legali-dade desta prática, a verdade é que osadvogados, em regra, se fazem presen-tes a tempo e horas.

Ora, se um advogado, domiciliadoem Luanda e com pleno conhecimentodesta prática, não comparece a uma au-diência marcada nas condições referen-

ciadas, e a sua ausência causar prejuí-zos ao seu constituinte, é possível respon-sabilizá-lo com fundamento em actuaçãonegligente.

Pressupondo, agora, que a responsa-bilidade civil do advogado tem naturezacontratual, a ilicitude da sua actuação po-derá resultar não só da violação das cláu-sulas contratuais, como também das nor-mas deontológicas.

Os defensores da teoria contratua-lista aceitam, pacificamente, que, quandocelebram um contrato com um determi-nado constituinte, os advogados mani-festam, de forma livre e consciente, avontade de se vincular não só às con-venções contratuais, como também aosoutros deveres profissionais previstos pe-los estatutos da organização representa-tiva da classe, e em todos os outros di-plomas legais que regem o exercício daactividade.

Aliás, o momento supremo para ma-nifestarem a vontade de se vincularemaos deveres estatutariamente consagra-dos é o momento em que decidem ins-crever-se na respectiva ordem, para sehabilitarem ao exercício da profissão.

A ilicitude da actuação do advoga-do é, nesta perspectiva, aferida quer combase na violação das convenções con-tratuais, quer com base na violação dosdeveres profissionais legal e estatutaria-mente fixados. Pensamos nós que a re-lação entre as convenções contratuais eos deveres estatutários deve ser entendi-da como uma relação de complementari-dade.

Para ilustrar a relação de comple-mentaridade na determinação da ilicitudeda actuação de um advogado temos, atítulo de exemplo, a situação de deso-bediência às instruções do constituinteque, consubstanciando uma violação deuma cláusula contratual, não deixa de re-presentar uma violação do dever estatu-tário de tratar com zelo a questão de queo advogado é incumbido.

(iii) Os critérios de aferição da exis-tência do nexo de imputação do facto aoagente, terceiro requisito por nós enun-

A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004 • 25

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ciado, são, no essencial, coincidentescom os consagrados no Código Civil.

Assim, para que a actuação do ad-vogado seja susceptível de juízo de cen-sura é necessário que este tenha ca-pacidade natural de discernimento eapreciação do carácter ilícito da sua ac-tuação, o que, em princípio, ocorrerá en-quanto o advogado se mantiver em con-dições de exercer a profissão.

Porém, tendo em atenção alguns re-quisitos exigidos para que os indivíduosse possam habilitar ao exercício da advo-cacia, algumas das regras estabelecidasnaquele diploma ganham nesta matériacerta especificidade. Vejamos;

Estando o exercício da advocacia su-jeito à fiscalização da OAA, dificilmentese poderão configurar hipóteses de inim-putabilidade por causas naturais, meno-ridade e anomalia psíquica, e, por estamesma razão, não se reveste de qual-quer importância a presunção de falta deimputabilidade feita no n.º 2 do ar tigo488.º do Código Civil.

A importância prática da norma docitado artigo 488.º circunscrever-se-á aoscasos de privação temporária da capa-cidade de discernimento, casos que, aocorrerem, deverão ser solucionados combase no n.º 1 do referenciado artigo, ouseja, o advogado deve ser responsabili-zado sempre que se coloque proposita-damente naquela condição.

Tendo em atenção os deveres pro-fissionais que impendem sobre o advo-gado, os casos de privação temporária eintencional da capacidade de discerni-mento – por ingerência de substânciasalcoólicas ou psicotrópicas – implicam oagravamento do juízo de censurabilidadeda actuação do agente, na medida emque para além de perigarem os interes-ses da defesa, são susceptíveis de man-char o bom nome e prestígio da classe.

Quanto ao critério de apreciação deculpa consagrado no n.º 2 do ar tigo487.º do Código Civil (bom pai de famí-lia), na esteira do pensamento do Profes-sor Moitinho de Almeida5, deve ser subs-tituído pelo critério do bom profissional.

A solução avançada por Moitinho de

Almeida serve melhor os interesses emcausa em matéria de responsabilidadeprofissional, na medida em que, aos pro-fissionais liberais, devem ser exigidos pa-drões de actuação superiores aos padrõesque presidem à actuação de um homemmédio, sendo este, aliás, o fundamentoúltimo do carácter liberal das profissões.

Sendo pacificamente aceite, à seme-lhança da quase generalidade do direitocivil, a responsabilização do agente combase quer na actuação dolosa, quer naactuação negligente, interrogamo-nos seo princípio da redução do «quantum» daindemnização com fundamento na actua-ção negligente é aqui aplicável – reflec-tiremos sobre esta questão na 3.ª partedeste trabalho.

(iv) Em relação à questão do nexo decausalidade, acolhemos, sem reserva, ateoria da causalidade adequada, que, deresto, é lugar-comum no actual estágiode desenvolvimento da ciência jurídica.

A actuação do advogado é causa dodano quando, em abstracto, a condutaadoptada pelo advogado seja susceptívelde produzir o dano ocorrido, não bastan-do que, em concreto, tenha sido a causade um determinado dano.

Sendo a obrigação do advogado umaobrigação de meios e não uma obriga-ção de resultados6, na medida em que oadvogado não pode garantir ao clienteo bom resultado da demanda, devendoassegurar, somente, os meios de que ocliente necessita para uma assistênciaque possa ser tida por eficaz, a aferiçãoprática da existência ou não do nexo decausalidade exigirá do julgador muita pon-deração.

Suponhamos que, numa acção de-clarativa de condenação, na contestação,o Réu deduz reconvenção e, para provaro direito invocado, junta aos autos umdocumento autêntico. O advogado do Au-tor, por qualquer razão, não replica e oJuiz da causa elabora despacho sanea-dor sentença e dá provimento ao pedidodo Réu.

Em casos do género, será necessá-rio ponderar se, ainda que o advogado

do Autor replicasse, a decisão do juiz se-ria naquele sentido, pois, se a resposta aessa questão for afirmativa, parece serde afastar a relação de causalidade.

É de afastar a relação de causalida-de porque, nesta hipótese, não se de-monstrou que a conduta do advogado,na generalidade dos casos, produziria omesmo dano, sem prejuízo de, no casoconcreto, ter contribuído para decisão dojuiz.

(v) Relativamente à determinação dodano sofrido, cuja reparação é a principalfinalidade do instituto em análise, apli-cam-se os critérios gerais não se levan-tado nesta matéria qualquer especialida-de.

2.2. Natureza jurídica

O problema da natureza jurídica daresponsabilidade civil dos advogados ébastante debatido na doutrina e, a par dointeresse teórico que possa despertar, oproblema reveste-se de grande impor-tância prática.

Reveste-se de grande importânciaprática porque, como se sabe, em fun-ção da natureza que lhe for atribuída,obrigacional ou delitual, lhe corresponde-rá um regime jurídico específico e comcontornos mais ou menos apertados.

As principais diferenças entre o re-gime da responsabilidade obrigacional eo da delitual prendem-se com o regimede prova e os prazos de prescrição.

Enquanto na responsabilidade deli-tual é ao credor que impende o ónus deprova (487.º do Código Civil), na respon-sabilidade obrigacional competirá ao de-vedor provar que não actuou com culpa(artigo 799.º do Código Civil).

Por outro lado, o prazo de prescri-ção é na responsabilidade delitual, detrês anos (artigo 498.º do Código Civil),ao passo que à responsabilidade contra-tual se aplica o prazo ordinário de pres-crição.

As diferenças de regime acabadasde referir, por si só, são suficientes para

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animar o debate a que temos assistidona doutrina sobre esta temática, visto queas soluções avançadas num e noutrocaso podem facilitar ou dificultar o exer-cício judicial do eventual titular do direitoà indemnização.

Há um sector da doutrina que con-sidera que a responsabilidade civil do ad-vogado tem natureza contratual, e assimo afirmam os seus precursores porqueconsideram que a relação advogado/clien-te assenta, fundamentalmente, na basede um contrato, o contrato de mandato.

As vozes que se levantam contra ateoria contratualista, argumentam, basi-camente, que as obrigações do manda-tário consagradas no ar tigo 1161.º doCódigo Civil, não se aplicam «ipsis ver-bis» ao mandatário forense7.

A propósito, dispõe a alínea a) do ci-tado artigo do Código Civil que o man-datário é obrigado a praticar os actoscompreendidos no mandato, segundo asinstruções do mandante.

Ora, sendo certo que mandatário ju-dicial deve respeitar as instruções do seumandante, a verdade é que, pela especi-ficidade da sua actividade, só deve se-guir aquelas instruções na medida emelas se conformem com as normas le-gais e com as regras deontológicas quepresidem e devem presidir a toda a suaactuação.

Em caso de desconformidade entreas instruções do mandante e as impo-sições legais e deontológicas, o advoga-do, em vez de as acatar, deve persuadiro mandante a conformar as suas preten-sões com os ditames da lei, porque sódesta maneira respeitará as expectativasque, como referimos no ponto 2.1 do nos-so trabalho, a sociedade deposita nestaclasse de profissionais.

Há também, entre os defensores datese contratualista, quem considere queo contrato que rege a relação entre o ad-vogado e o cliente é um contrato deprestação de serviços, sendo o contratode prestação de serviço definido comoaquele em que uma das partes se vincu-la a proporcionar à outra certo resultadodo seu trabalho.

O conteúdo da obrigação que o pres-tador de serviços assume, no âmbito dorespectivo contrato, é relativamente di-verso ao conteúdo da obrigação do man-datário judicial, que como já referimosquando analisámos a questão do nexo decausalidade, é uma obrigação de meiose não de resultado.

Uma vez que o advogado se vinculaunicamente a realizar actos tendentes agarantir a satisfação da pretensão doconstituinte e não a efectiva satisfação –sendo esta um elemento do contrato denatureza aleatória – resultam diferentes osobjectos de um e de outro contrato.

Este entendimento é, de resto, o quetem permitido que, na prática, os ad-vogados não sejam responsabilizadosquando as acções por si patrocinadasnão procedem e, ainda assim, lhes sejamdevidos os honorários pelos serviçosprestados, solução que, logicamente, se-ria diferente caso se entendesse a rela-ção entre advogado e cliente como as-sente, na sua essência, num contrato deprestação de serviços.

Os que defendem a natureza delitualda responsabilidade civil dos advogadospara fundamentar o seu ponto de vista,socorrem-se dos fins essenciais e sub-jacentes à advocacia, deixando para umsegundo plano a questão de saber qual éa fonte das obrigações que o advogadoassume perante o cliente.

Concluem estes que a actividade dosadvogados, enquanto auxiliares de jus-tiça, é uma actividade tendente à satis-fação de interesses predominantementepúblicos.

Não há dúvida que esta classe deprofissionais, ao intervir na administraçãoda justiça, propondo acções em nomedos constituintes, requerendo a práticade actos que, de acordo com a sua con-vicção técnica, contribuem para a efecti-vação das pretensões dos constituintes,protestando contra actos que violem di-reitos fundamentais dos cidadãos numEstado democrático e de direito, estão acontribuir para a boa administração dajustiça.

A boa administração da justiça, en-

tendida como a realização de uma jus-tiça célere e baseada em critérios de es-trita legalidade, e por isso justa, é uminteresse que diz respeito a toda colec-tividade.

Não pretendem, os defensores destepensamento, dizer que, na sua actuação,os advogados não têm em conta os in-teresses particulares dos seus clientes,mas que, no confronto entre os dois blo-cos de interesses, o assento tónico recaipara o interesse público.

Em função do carácter predominan-temente público da actividade forense,aos advogados são impostos por lei, no-meadamente, mas sem se limitar, peloEst. OAA e a Lei n.º 1/95, de 6 de Ja-neiro, uma série de deveres cuja violaçãoos faz incorrer em responsabilidade civildelitual, com fundamento ou na violaçãode direitos absolutos de outrem ou emdisposições legais destinadas a protegerinteresses alheios.

Poder-se-ia afirmar, a este propósi-to, que, entendida a responsabilidade ci-vil do advogado como delitual, deixar-se--iam sem protecção os danos puramenteeconómicos8, que têm melhor protecçãono âmbito da responsabilidade obriga-cional e não se enquadram directamentena previsão da norma do artigo 483.º doCódigo Civil – pure ecomic loss, na ter-minologia inglesa.

Mas, como a violação de deveresprofissionais que origina danos puramen-te económicos é susceptível de ser ofen-siva dos bons costumes ou de configu-rar uma situação de abuso de direito, porvia destes, chamemo-lhes antídotos, dosistema jurídico, aqueles danos acabamsempre protegidos9.

Por outro lado, a existência de de-veres especiais destinados a protegerinteresses de terceiros, que podem serprejudicados com exercício de uma pro-fissão liberal, alarga a protecção delitualdos danos puramente económicos.

No nosso caso, podem ser indica-dos como deveres especiais destinadosà protecção de terceiros alguns dos pres-critos no artigo 62.º do Est. OAA (Deve-res do Advogado para com a comunida-

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de) onde se realçam os deveres de nãoadvogar contra lei expressa, não usar demeios ou expedientes ilegais, e não pro-mover diligências inúteis ou prejudiciaispara a correcta aplicação da lei.

Por último, os que defendem a na-tureza delitual da responsabilidade emanálise, dizem-nos que as próprias obri-gações que normalmente as partes con-sagram nos contratos, acabam por seruma reprodução dos deveres legalmenteconsagrados, pelo que se devem consi-derar incorporadas naqueles.

Sobre esta problemática, estamospropensos a perfilhar o entendimento dosque defendem a natureza delitual da res-ponsabilidade porquanto:

a) É pacífico aceitar que os fins visa-dos pela advocacia, enquanto acti-vidade de classe, são fins predomi-nantemente públicos, fins esses quefundamentam e determinam a impo-sição legal de deveres deontológicose profissionais à classe.b) Em regra, ao conferirem mandatoa um advogado, os cidadãos não sepreocupam em estabelecer, contra-tual e pormenorizadamente, os direi-tos e deveres do advogado; agem naconvicção de que as obrigações doadvogado estão integradas no con-junto de normas deontológicas queorientam a profissão e, basicamentee na falta de tabela previamente es-tabelecida pela Ordem, o que esta-belecem são os valores e forma depagamento de honorários.

Mas, mais importante do que saberqual é a natureza jurídica do instituto emcausa, é encontrar soluções para os ca-sos em que um mesmo facto viole nor-mas convencionais e deveres legalmenteconsagrados.

O problema deve ser resolvido combase na via do concurso de responsabili-dades, podendo o lesado fundamentar oseu pedido de indemnização simultanea-mente com recurso a normas de respon-sabilidade obrigacional e a normas deresponsabilidade delitual, conforme se

mostrem mais vantajosas para os seusinteresses.

O que deve haver é um único pedidode indemnização, ficando as bases dasua fundamentação dependentes da livreescolha do beneficiário do eventual direi-to à indemnização – esta é, aliás, a po-sição que genericamente é defendida nadoutrina.

3. REFLEXOS PRÁTICOS DO INSTITUTO

Referidos que estão os principaistraços caracterizadores do instituto daresponsabilidade civil do advogado, cum-pre-nos então analisar as repercussõespráticas do instituto na ordem jurídica an-golana.

Apesar de não existir, pelo menosaté onde sabemos, um estudo estatísticoque nos permita aferir cientificamente so-bre a percentagem de casos de respon-sabilização civil de advogados, com ba-se na nossa pequena vivência forense ena análise dos elementos de informaçãoa que tivemos acesso, concluímos serbastante reduzido e até mesmo insignifi-cante o número de casos desta naturezaa correrem termos nos nossos tribunais.

Para contornar a falta de elementosestatísticos, conversámos com Magis-trados Judiciais e do Ministério Público,abordámos advogados e solicitadores, equase todos foram unânimes em reco-nhecer que não tiveram nenhuma expe-riência relativa a acções de responsabi-lidade civil interpostas por constituintescontra os respectivos advogados.

Infelizmente, o resultado deste, cha-memos-lhe de «inquérito», está longe designificar que os advogados angolanosse pautam por uma conduta irrepreensí-vel, a todos os títulos, e que não têmcom os seus actos causado danos aosseus constituintes.

Este problema, o da tendência danão responsabilização dos advogados pordanos causados aos constituintes, no epor causa do exercício da sua actividadeprofissional, é um problema que não éprivativo da realidade angolana.

Interessa contudo, analisar aqui, asrazões que em angola determinam tal si-tuação e se possível perspectivar solu-ções para alteração da referida tendên-cia.

Quais serão, então, os motivos des-ta inércia?

Como já supra referido, dado o per-curso histórico da formação do Estadoangolano, o exercício liberal de activida-des profissionais, incluindo a advocacia,é uma realidade relativamente recente.

Decorre deste facto que os funda-mentos que estão na base do reconheci-mento do carácter liberal da profissão,ainda não foram suficientemente assimi-lados pela sociedade, e daí que, nem osque exercem a advocacia, nem os des-tinatários dos serviços prestados poraquela classe de profissionais, têm re-presentado com clareza e rigor o quadrodos seus direitos e deveres.

Este défice de consciencializaçãoconduz a que, dificilmente, em casos deviolação de direitos dos constituintes poractuação ilícita do advogado, os primei-ros reajam a ponto de tentarem respon-sabilizar civilmente os segundos.

A atitude dominante tem sido maisuma atitude de conformismo, que se po-de considerar, se tivermos em conta arazão exposta, um conformismo basea-do na ignorância e, eventualmente, na fal-ta de meios dos lesados.

A população angolana, infelizmente,possui um nível de escolarização baixo eos mecanismos de difusão de informa-ção, quer os clássicos – livros, jornais,rádio e televisão –, como os que mais re-centemente foram disponibilizados pelastecnologias de informação, com maiorrelevo para Internet, não estão à dispo-sição da generalidade dos cidadãos.

Uma vez que a população, de umaforma geral, desconhece os mecanismosque o sistema coloca à sua disposiçãopara se defender da actuação lesiva dosseus direitos, obviamente, quando talefectivamente sucede, a tendência é na-da ou quase nada fazer.

Por outro lado, os próprios advoga-dos porque não sentem a «pressão» que

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deveria existir por parte dos seus consti-tuintes e da sociedade em geral, não têmdesenvolvido satisfatoriamente a culturada auto-responsabilização profissional.

O sentido de auto-responsabilizaçãoprofissional, para além de ser uma cons-tante do processo de auto-superaçãotécnica de cada profissional, é tambémconsequência da exigência social relati-vamente à qualidade do serviço presta-do.

Aumentando a pressão social, osadvogados terão necessariamente de me-lhorar o seu nível de organização, de for-ma a poderem responder às solicitaçõesque lhes forem sendo feitas.

Porque não existe, pelas razões in-vocadas, uma for te exigência social, osentido de profissionalismo dos advo-gados angolanos tem dado passos bas-tantes tímidos, mesmo ao nível da sua re-gulamentação jurídica.

Esta situação deixa os cidadãos, decerta forma, pouco protegidos, senão ve-jamos:

a) Na eventualidade de, durante o pa-trocínio, um advogado causar danosao seu constituinte em circunstân-cias susceptíveis de o fazerem in-correr na obrigação de indemnizar,serão os seus bens que responde-rão pelo crédito que for reconhecidoao lesado.b) Grande parte dos advogados an-golanos não têm uma situação patri-monial confortável e exercem a suaactividade de forma individual, patro-cinando causas de elevado valor eco-nómico.

Nestas condições, é grande a possi-bilidade de um terceiro lesado por umaactuação ilícita de um advogado ficar im-possibilitado de se ressarcir dos danossofridos por insolvabilidade do autor dalesão.

Vê-se assim que a criação de umalei que permita aos advogados organiza-rem-se em sociedades poderia vir a seruma forma de melhor defender os inte-resses dos cidadãos pois, com a sua

criação, alarga o âmbito do património aafectar à responsabilidade decorrente doexercício da actividade.

A falta de diploma específico pararegulamentar a responsabilidade civil dosadvogados, por si só, representa umafactor de constrangimento que acresceaos dois já referidos, nomeadamente, fal-ta de informação jurídica dos cidadãos econsequente ausência de exigência so-cial.

Pode-se a este respeito dizer que pa-ra que os advogados sejam responsabi-lizados civilmente pelos actos praticadosno exercício da sua actividade não é ne-cessário criar uma lei especial, sendo su-ficiente para atingir tal desiderato as nor-mas do Código Civil e as disposições dosEst. OAA.

Efectivamente, o regime estabeleci-do no Código Civil, complementado comas disposições dos Est. OAA, permite aresponsabilização civil dos advogadosquando for caso disso.

No entanto, a criação de um diplomaespecífico atenderia melhor à especifici-dade da relação e daria melhor respostaa certas questões que se levantam noâmbito dessa relação, além de poder re-presentar um incentivo psico-social aodesenvolvimento da cultura de responsa-bilização.

De resto, parece ser este o sentidopara o qual o legislador pretende cami-nhar ao referir, no artigo 37.º da Lei daDefesa dos Consumidores10, que o regi-me de responsabilidade por serviçosprestados por profissionais liberais é re-gulado em leis próprias.

No quadro de uma regulamentaçãoespecial, poder-se-ia dar resposta, entreoutras, a questões como a da criação deum seguro profissional obrigatório, a pos-sibilidade da redução do «quantum» daindemnização com fundamento na ac-tuação negligente e consagrar por via le-gislativa a posição doutrinal do concursode responsabilidades, bem como consa-grar um regime de prova mais favorávelao credor.

O estabelecimento de um seguroobrigatório como condição do exercício

da advocacia, numa sociedade como anossa em que, como referimos, grandeparte dos advogados não têm grandesposses patrimoniais, poderia representaruma solução eficaz para, simultaneamen-te, proteger os interesses dos cidadãos edos profissionais.

Na regulamentação do seguro, o le-gislador teria de ser bastante cautelosona fixação quer do prémio, quer do valormáximo das indemnizações a atribuir aeventuais sinistrados, de forma a nãocriar obstáculos acrescidos aos jovensque pretendam ingressar na profissão,nem fazer com que as empresas segu-radoras evitassem celebrar contratos deseguro desta natureza.

O regime do artigo 494.º do CódigoCivil permite, como sabemos, em casosde mera culpa fixar o montante da in-demnização em valor inferior ao que cor-responderia aos danos.

A este propósito é muito discutida aquestão de saber se este regime, pensa-do pelo legislador em sede da responsa-bilidade civil delitual, é extensivo à res-ponsabilidade civil obrigacional.

Com base no argumento sistemáti-co11, uma parte considerável da doutrinanega a pretendida extensão, mas, moder-namente, algumas vozes, dentro de cer-tos condicionalismos, mostram-se a seufavor.

Em relação a esta questão, e no quediz respeito à responsabilidade do advo-gado, o factor de opção não é tanto a in-serção sistemática do preceito, mas sima natureza da obrigação em causa.

Sendo a obrigação do advogado pe-rante o seu cliente uma obrigação demeios, na medida em que, como vimos,o primeiro se compromete a disponibi-lizar uma série de meios técnicos ao se-gundo para fazer proceder as suas pre-tensões, julgamos que a possibilidadede redução do montante da indemniza-ção, com fundamento na mera culpa,funcionaria aqui como um prémio ao in-fractor.

É, justamente, por se esperar do ad-vogado uma actuação zelosa e cuida-da que os cidadãos depositam confiança

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nesses profissionais e deixam ao seu sa-ber a condução dos seus interesses.

Ora, nestas circunstâncias, pareceser um contra-senso poder beneficiar umadvogado reduzindo-lhe o montante daindemnização a pagar quando, com suaactuação, frustou as expectativas que oseu cliente e a sociedade em geral neledepositaram enquanto profissional liberal.

Se o que pretendemos é criar umacultura de responsabilização daqueles queintervêm no mercado de serviços comoprofissionais liberais para, desta forma,melhoramos a qualidade técnica e cien-tífica dos nossos advogados e, conse-quentemente, a qualidade do serviço pres-tado, não temos muitas dúvidas de que asolução consagrada naquela disposiçãodo Código Civil não representa uma mais--valia nesta matéria.

Nesta sede, permitam-nos parafra-sear a linguagem penalista, a negligêncianão pode funcionar como circunstânciaatenuante da responsabilidade mas simcomo circunstancia agravante.

4. CONCLUSÃO

Em Angola, de uma forma geral, osadvogados não têm sido civilmente res-ponsabilizados pelos danos que, no exer-cício da profissão, têm ilicitamente cau-sado aos seus clientes.

Como consequência desta ausênciade responsabilização, assiste-se a umatendência para estagnação no processode auto-aperfeiçoamento técnico e orga-nizativo desses profissionais, o que, logi-camente, tende, também, a reflectir-se naqualidade do serviço prestado.

Tendo em vista os desafios que aopaís se colocam, e atendendo ao factode, para nós, a advocacia ser uma pro-fissão de inegável função social, a pres-tação de serviços jurídicos de qualidaderepresenta um factor impulsionador dodesenvolvimento humano, económico esocial.

Por essa razão, constitui obrigaçãode toda sociedade – especialmente dasentidades que directamente intervêm no

processo – reflectir e adoptar estratégiaspara reverter o actual quadro e criar con-dições propícias para que se instaure, naordem jurídica angolana, um espírito demaior propensão para responsabilizar ci-vilmente aqueles profissionais que ac-tuam ilicitamente.

Entre os factores que podem con-correr para a reversão do actual estádio,apontamos a necessidade de uma maiordifusão dos direitos e deveres subjacen-tes à relação entre advogado e cliente,não só os direitos e deveres positivadosnos diplomas legais que regem o exercí-cio da profissão, mas também as nor-mas consagradas pela prática forense.

Cremos ainda que a criação de umdiploma específico para regulamentar amatéria da responsabilidade civil dos ad-vogados tem uma importância decisivapara a resolução do nosso problema, pois,como vimos, por esta via é possível darresposta a uma série de problemas es-pecíficos relativos ao instituto da respon-sabilidade civil dos advogados.

Esta solução, a da regulamentaçãodo instituto em diploma próprio, de restocorresponde à solução para qual têm pro-pendido vários ordenamentos jurídicos.

Porém, não se deve condicionar a re-solução dos problemas que vão surgindona prática à adopção das soluções queaqui exemplificativamente avançamos,porquanto, os instrumentos actualmenteexistentes na ordem jurídica angolana,desde que correctamente interpretados eaplicados, permitem-nos dar resposta aoproblema.

Bibliografia

ALMEIDA, L. P. Moitinho de – Responsabilidade

Civil dos Advogados, 2.ª ed., Coimbra Editora,1998.CORDEIRO, A. M. R. Menezes – «Da Responsa-bilidade Civil dos Administradores das Socie-dades Comerciais», Lex, Lisboa, 1997.FRADA, Manuel A. Carneiro da – Uma terceira

via no direito da responsabilidade civil? O pro-

blema da imputação dos danos a terceiros por

auditores de sociedades, Almedina, Coimbra,1997.

ARNAULT, António – Iniciação à advocacia, 3.ªEdição revista e actualizada, Coimbra Editora.DIAS, J. F. / MONTEIRO, J. S. – Responsabilidade

Médica em Portugal, sep. do BMJ, n.º 332,Lisboa, 1984.DIAS, João Álvaro – Responsabilidade, informa-

ção, consentimento e confidencialidade, sep.da Revista Portuguesa do Dano Corporal, Maio,1994, Ano II, N.º 4.

Notas

1 Cfr. Artigo 7.º da Lei n.º 9/82, de 18 de Fe-vereiro (revogada pela Lei n.º 1/95, de 6 deJaneiro).2 V. p. FRADA, Manuel A. Carneiro da – Uma ter-

ceira via no direito da responsabilidade civil?

O problema da imputação dos danos causa-

dos a terceiros por auditores de sociedades,Almedina, Coimbra, 1997.Perfilhamos também, a este respeito, o enten-dimento de que a violação por terceiros de di-reitos de crédito não é susceptível de funda-mentar o surgimento do dever de indemnizarcom base na previsão da primeira parte do ar-tigo 483.º do Código Civil.Não sendo possível responsabilizar terceirospor esta via, o que nos conduziria à atribuiçãode eficácia externa aos vínculos obrigacionais,resta-nos, para além da aplicação das normasda responsabilidade contratual, a valoração ca-suística das situações, o que nos poderá per-mitir responsabilizar o infractor com fundamen-to na teoria do abuso de direito. 3 Lei n.º 1/95, de 18 de Fevereiro e Decreto Exe-cutivo Conjunto n.º 46/97, de 7 de Novembro.4 Consideramos que esta prática contraria aosditames da lei processual. No entanto, os ma-gistrados justificam-na dizendo que é uma for-ma de rentabilizarem a sua actividade, porque,assim, contornam as constantes ausências dosmandatários e/ou da partes às audiências. 5 ALMEIDA, L. P. Moitinho – Responsabilidade

Civil dos Advogados, 2.ª Ed., Coimbra Editora,1998.6 Sobre a distinção entre obrigação de meios eobrigação de resultados v. p. ARNAULT, António,Iniciação à advocacia, 3.ª Edição revista e ac-tualizada, Coimbra Editora.7 ARNAULT, António, ob. cit.8 Fora do contexto da relação contratual, en-tende-se por danos puramente económicos osdanos causados a terceiros sem prévia viola-ção de um direito subjectivo absoluto.10 V. p., FRADA, Manuel A. Carneiro da, ob. cit.11 Lei n.º 15/03, de 22 de Julho. 12 Afirmam os defensores deste argumento quese o legislador pretendesse que este regime seaplicasse à responsabilidade obrigacional a is-so teria feito referência expressa.

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DDIIRREEIITTOOSS HHUUMMAANNOOSS

Colocação de Advogadosestagiários nos ComandosMunicipais e subunidadesoperativas da Polícia Nacional,Investigação Criminal e PolíciaEconómica – Fase intermédia – 3.ª fase.

Entidade implementadora: Ordem dosAdvogados de AngolaEntidade financiadora: Reino Unido daGrã-Bretanha (Embaixada em Angola)Entidade Parceira: Ministério do Interior– Polícia Nacional

ASPECTOS GERAIS DO PROJECTO

1. DURAÇÃO – 3 MESES – FASE IN-TERMÉDIA

2. ÂMBITO DE APLICAÇÃO TERRI-TORIAL

3. FINANCIAMENTO PARA A FASEINTERMÉDIA – USD 31.000.00

4.BENEFICIÁRIOS

– Cidadãos detidos, carentes de recur-sos para a constituição de advogado; – Agentes da Polícia Nacional; – A sociedade em geral.

5. META

– Contribuir para a melhoria do Sis-tema Judicial; – Respeito e defesa dos Direitos Hu-manos em especial o direito à inte-gridade física; – Educação jurídica, melhor conhe-cimento da lei por parte dos agentesdo Estado e da sociedade em geral; – Reforço das capacidades de inter-

venção da Ordem dos Advogados deAngola no domínio dos Direitos Hu-manos e da educação jurídica da so-ciedade.

6. OBJECTIVOS ESPECÍFICOS

– Contribuir para o conhecimento eaceitação da presença do advogadoe do seu papel na fase da detenção,de acordo com a lei, tanto pelos agen-tes como pelos próprios detidos, emcoordenação com a Procuradoria-Ge-ral da República; – Contribuir para a divulgação e pro-moção de uma cultura de respeitopelos Direitos do arguido; – Contribuir para o respeito pela le-galidade na fase da detenção nas es-quadras; – Contribuir para a litigação/resolu-ção dos casos de violação dos Di-reitos Humanos.

7. RESULTADOS ESPERADOS

– Conhecimento e aceitação dos prin-cípios por parte das várias institui-ções intervenientes na fase preliminarde detenção: PNA, PGR, OAA, etc.; – Presença regular dos advogados,tendo como indicadores o númerode interrogatórios realizados em pre-sença dos advogados estagiários,número de incidentes, qualidade darelação de cooperação institucional,número de unidades visitadas, quali-dade da relação de cooperação en-tre os serviços da polícia e os advo-gados; – Conhecimento e aplicação das re-gras legais; – Progressiva sensibilização e infor-mação dos agentes, em cooperaçãocom os órgãos especializados daPNA, tendo como indicadores:

• o número de agentes que partici-param em interrogatórios em presen-ça do advogado, • número de agentes que recebe-ram informação escrita sobre DH eregras legais através do projecto,• número de agentes que participa-ram em acções sobre DH e regraslegais; – No que se refere aos detidos:• número de detidos que entram emcontacto com o projecto• número de detidos que receberaminformação escrita e/ou verbal sobreos seus direitos;– número de detidos que beneficia-ram da assistência judiciária gratuitaatravés do projecto. – Aplicação das regras legais na fa-se inicial de detenção: • número de interrogatórios tendointervindo dentro dos prazos legaiso procurador e na presença do advo-gado; • número de casos onde foram vio-ladas as regras legais; • número de acções intentadas pelaPGR ou pelas vítimas fase a viola-ção das regras legais, principalmen-te com base nos artigos 9.3 e 14.3da Lei 18-A/92; – Redução dos casos de maus tra-tos; – Casos de graves violações – pro-cessos judiciais e sua conclusão; – Recenseamento da intervenção dosadvogados, como resultado da ava-liação.

NOTA: A OAA tem em curso vários projectos.Sobre o denominado «PROJECTO DE DIREI-TOS HUMANOS EM ANGOLA», patrocinado pe-la União Europeia, faremos um trabalho maisdesenvolvido no próximo boletim.

OS ADVOGADOS NAS ESQUADRAS DE POLÍCIAUm projecto em desenvolvimento

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A Ordem dos Advogados de Angola foi proclamada aos 20de Setembro de 1996, no Palácio dos Congressos em Luanda.

O acto da proclamação foi precedido da aprovação do Es-

tatuto da Ordem dos Advogados de Angola pelo Decreto n.º28/96, de 13 de Setembro, do Conselho de Ministros (D. R. N.º39 – I Série, 1996) e seguido de um acto eleitoral para o pro-vimento dos seus cargos estatutários.

As eleições do Bastonário, Conselho Nacional e ConselhoProvincial de Luanda da Ordem dos Advogados de Angola parao 1.º triénio (1996/1999) realizaram-se no dia 16 de Novembrode 1996.

Criada em 1926, a Ordem dos Advogados do ex-coloniza-dor – Portugal –, nunca se estendeu ao então «Ultramar», ape-sar das reivindicações profissionais dos advogados do territó-rio, razão por que a advocacia praticada em Angola no períodocolonial se caracterizava, essencialmente, por:

a) exercício liberal da profissão;b) inscrição dos advogados no Tribunal da Relação deLuanda;c) controlo ético-deontológico e competência disciplinar dosJuízes.

No Período pós-independência nacional foi publicada a Lein.º 9 de 1982, de 18 de Fevereiro, da Comissão Permanente daAssembleia do Povo, que aboliu a advocacia privada e criou«um novo sistema de advocacia assente no funcionamento deescritórios colectivos de Advogados» no qual o Advogado seapresenta:

a) dependente administrativamente do Ministério da Justiça;b) sujeito à competência disciplinar, metodológica e técni-co-profissional do Conselho Nacional de Advocacia (órgãoinsuficientemente representativo dos Advogados);c) independente no exercício da profissão.

Em consequência das reivindicações profissionais dosAdvogados de Angola e do novo quadro jurídico-constitu-cional gerado pela II República, foi aprovada a Lei n.º 1/95,de 6 de Janeiro, da Assembleia Nacional, que liberalizou a pro-fissão de Advogado e deu nova composição ao Conselho Na-cional de Advocacia, conferindo-lhe mais representatividadeda classe profissional e atribuindo-lhe funções de disciplina daprofissão.

Foi o Conselho Nacional de Advocacia o órgão que, no pra-zo de um ano, conduziu o processo de institucionalização daOrdem dos Advogados, de que se destacam:

a) a coordenação dos trabalhos de elaboração do antepro-jecto de Estatuto;b) a realização da Assembleia Geral dos Advogados para adiscussão do anteprojecto de Estatuto;c) a negociação do anteprojecto com o Ministério da Jus-tiça;d) a apresentação e defesa do projecto em Conselho de Mi-nistros;e) providências no sentido da promulgação e publicação ofi-cial do Estatuto aprovado;f) publicitação do Estatuto mediante a produção de uma bro-chura;g) a organização do acto de proclamação da Ordem;h) a organização do processo eleitoral, v. g.:

– aprovação de um projecto de regulamento eleitoral

em Assembleia Geral de Advogados;– criação de uma comissão eleitoral;– convocação das eleições;– realização das eleições.

i) organização do acto de tomada de posse dos membrosdos órgãos da Ordem.

32 • A Gazeta do Advogado • n.º 1 • Outubro-Dezembro • 2004

HHIISSTTÓÓRRIIAA

PROCESSO CONSTITUTIVODA ORDEM DOS ADVOGADOS

DE ANGOLA

Page 35: Gazeta do Advogado nº 1

CONSELHO NACIONAL

RAÚL ARAÚJO – (Bastonário)MANUEL INGLÊS PINTO – (Vice-Presidente)

CARLOS FREITASLUZIA BEBIANA SEBASTIÃO

LUÍS FILIPE PIZARROFILIPE PAULINO

TOMÁS DA SILVAMARIA TEREZINHA LOPES

PULQUÉRIA VAN-DÚNEM BASTOSJOÃO ANDRÉ PEDROTERÊNCIO CAMPOS

JOAQUIM MACHILA DOS SANTOS

CONSELHO PROVINCIAL DE LUANDA

PULQUÉRIA VAN-DÚNEM BASTOS – Presidente

MARIA TERESA MARÇAL A. B. BORGES – Membro

ISABEL JOÃO M. S. PELINGANGA – Membro

HERMENEGILDO OSEIAS F. CACHIMBOMBO – Membro

MARIA IDALINA VIEIRA – Membro

SAMUEL JOÃO – Membro

JORGE FORTES GABRIEL – Membro

SOLANGE ROMERO DE ASSIS MACHADO – Membro

CLEMENTINA DE ASSUNÇÃO CARDOSO – Membro

MÁRIO MIGUEL DOMINGUES – Membro

ADELAIDE GODINHO – Membro

VITÓRIA IZATA – Membro

GRACIANO DOMINGOS – Membro

JÚLIA FERREIRA – Membro

DELEGAÇÃO DE BENGUELA

Delegado: Joaquim Machila dos Santos

DELEGAÇÃO DE CABINDA

Delegado: Arão Bula Tempo

DELEGAÇÃO DO CUNENE

Delegado: Ovídio Pahula

DELEGAÇÃO DO HUAMBO

Delegado: Albino Sinjecumbi

DELEGAÇÃO DA HUÍLA

Delegado: Laurindo Mundombe

COMISSÕES

Comissão dos Direitos Humanos e Acesso à Justiça Coordenador: Manuel Vicente Inglês Pinto

Comissão de Deontologia e Ética Profissional Coordenador: Luzia Sebastião

Comissão de Formação e Apoio aos Jovens Advogados Coordenador: Tomás da Silva

Comissão de Informações e Relações Internacionais Coordenador: Luís Filipe Pizarro

Comissão de Previdência Social e SegurançaCoordenador: Carlos Freitas

Comissão de Acompanhamento dos Conselhos e Delegações ProvinciaisCoordenador: Filipe Paulino

COMISSÃO EVENTUAL

Comissão de Sociedades de Advogados e Reforma Institucional

Coordenador: Teresinha Lopes

ÓRGÃOS SOCIAIS DA ORDEM DOS ADVOGADOS

DE ANGOLA

ÓRGÃOS SOCIAIS DA ORDEM DOS ADVOGADOS

DE ANGOLA(Mandato 2002-2005)