revista gazeta do advogado - 3º edição

36
1 ANO I - edição 3 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Upload: gazeta-do-advogado

Post on 07-Apr-2016

220 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

1

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Page 2: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Entrevista: Maria Elizabeth Teixeira RochaCapa

2 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Page 3: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Entrevista: Maria Elizabeth Teixeira Rocha

3

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Page 4: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Sumário

4 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

ENTREVISTA.........................................................06Maria Elizabeth Teixeira Rocha:Temos que mostrar quem somos

FÓRUM DE IDEIAS................................................14Fim da discriminação tributária

CAPA.......................................................................18Quem quer ser juiz leigo?

PARLATÓRIO........................................................25

CARREIRA.............................................................26Um mergulho no mais humano dos direitos

PERFIL....................................................................28William Douglas

OPINIÃO.................................................................32Marcello Rodante: Divórcio Colaborativo: Nova Opção

CHARGE E FRASES..............................................34

CARTA DOS LEITORES

ANUNCIE!

Para a satisfação de nossos leitores,

a Gazeta do Advogado abrirá espaço,

a partir da próxima edição, para que

você possa sugerir, criticar e comentar as

publicações anteriores. Envie um e-mail [email protected]

Comunique-se diretamente com o mundo jurídico e ofereça seu produto. Ligue para (21) 3172-8980 ou envie um e-mail [email protected]

Design:Natalia Sttrazzeri

GAZETA DO ADVOGADOPublicação Bimestral

Envie Sugestões:[email protected]

Capa:Mailson Santana

Os artigos e anúncios publicados são de inteira responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião da revista.

06

14

18

28

Entrevista

Fórum deIdeias

Capa

Perfil

Page 5: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Expediente

5Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

CARTA AO LEITORO acúmulo de processos é o grande gargalo do Judiciário brasileiro. As razões são as mais diversas, do excesso de recursos à carência de mão-de-obra. Cada vez mais demandados pelo cidadão, os magistrados não conseguem se livrar dos estoques, por mais que trabalhem. E foi para aliviar o problema que surgiu a figura do juiz leigo, um advogado com poder para realizar audiências e alinhavar acordos. Os tribunais vinham selecionando os seus a partir de critérios definidos por eles mesmos. Mas o Conselho Nacional de Justiça decidiu estabelecer um padrão. O modelo de contratação, porém, vem recebendo críticas e, a julgar pelo pleito em andamento no Rio de Janeiro, afastando candidatos.

Todo mundo se acostumou a associar a imagem de estouro da boiada quando se pensa em concurso público no Brasil. Esqueça! A seleção para os 200 juízes leigos do TJRJ atraiu menos de 2 mil candidatos, causando estranhamento na própria direção do órgão. Poucos se dispuseram a encarar uma atividade sem remuneração fixa ou qualquer outro benefício trabalhista, ainda que por um trabalho temporário.

Não há absolutamente nada de irregular no concurso do TJRJ, que segue estritamente as determinações do CNJ. A pergunta que fica é por que uma atividade tão importante, apontada por muitos como panaceia para o mal da morosidade, não mereceu a deferência de oferecer, pelo menos, os benefícios trabalhistas mais elementares? É essa discussão que nossa reportagem de Capa quer levantar.

Mas nem tudo é decepção para a advocacia. Acaba de ser sancionada a lei que permite a inclusão da atividade no SuperSimples, uma medida com potencial para aliviar o bolso do advogado e aumentar significativamente o número de escritórios no País. Esta edição mostra como foi a tramitação no Congresso e o que muda a partir de agora.

E por falar em concursos, a Gazeta do Advogado apresenta uma autoridade no assunto: o juiz federal William Douglas, considerado o guru dos concurseiros, personagem da seção Perfil. Aprovado em sete concursos depois de amargar sucessivas reprovações, ele passou a dedicar boa parte do seu tempo a ajudar aos que querem melhorar seu desempenho, seja por meio de palestras ou de livros que vendem como água.

Outra autoridade destacada nesta edição derrubou um tabu. Nova presidente do Superior Tribunal Militar, Maria Elizabeth Teixeira Rocha é a primeira mulher a ocupar o posto em 206 anos da Corte. E chega com ideias progressistas, como a inserção irrestrita de gays e mulheres nas forças armadas e a abertura dos arquivos da ditadura. Que bons ventos a tragam.

Boa Leitura!A EDITORA

Gazeta do Advogado Ltda.

CNPJ 10.992.108/0001-61

Fone: (21) 3172-8980 [email protected]

www.gazetadoadvogado.adv.br

EDIÇÃODébora Diniz

[email protected]

REPORTAGEMNádia Mendes

[email protected]

CONTATO PUBLICITÁRIOFelipe Nascimento

[email protected]

[email protected]

EDIÇÃO DE ARTENatalia Sttrazzeri

TIRAGEM20.000 exemplares

©É proibida a reprodução total ouparcial desta publicaçãosem autorização prévia

Page 6: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Entrevista: Maria Elizabeth Teixeira Rocha

6 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Fotos: Plínio Xavier - STM

Page 7: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Entrevista: Maria Elizabeth Teixeira Rocha

7

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Temos que mostrarquem somos

Por Débora [email protected]

Por mais paradoxal que pareça, a Justiça Militar foi uma das poucas trincheiras de resistência

à ditadura. Graças a liminares expedidas em habeas corpus pelos ministros do Superior Tribunal Militar (STM), muitos presos políticos ganharam a liberdade antes que pudessem ser levados para os porões do regime. É essa história que Maria Elizabeth Teixeira Rocha, recém-empossada presidente da Corte, quer contar à sociedade. “Existe um desconhecimento muito grande, inclusive por parte dos operadores do Direito”, lamenta. Primeira mulher a ocupar o cargo em 206 anos de existência da Corte, a ministra chega à Casa com ideias que em nada lembram o perfil normalmente atribuído aos homens da caserna: defende a abertura dos arquivos da ditadura, é favorável ao ingresso das mulheres nas Forças Armadas de forma

irrestrita e acha “inadmissível” que homossexuais ainda sejam impedidos de se assumir nos quarteis. Doutora em Direito Constitucional pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, Maria Elizabeth leciona desde os 23 anos e possui vasta produção acadêmica. O Direito, como ela diz, está no próprio DNA.

Qual o sentimento de ser a primeira mulher a presidir a mais alta corte da Justiça Militar? É um desafio muito grande, mas, ao mesmo tempo, me sinto muito honrada. Tenho a consciência da responsabilidade que é ser a primeira mulher à frente de uma corte que é ainda um reduto de homens. Além de as Forças Armadas serem uma instituição muito masculina, apesar de já terem mulheres em suas fileiras, o Superior

Tribunal Militar teve a sensibilidade de indicar, no Dia Internacional da Mulher, em 2007, uma mulher para compô-lo. É a corte mais antiga do Brasil e nenhum outro chefe de estado tinha se dado conta da importância da questão de gênero ali. É uma alegria porque a corte tem uma tradição muito grande, uma jurisprudência, ao contrário do que muitas pessoas pensam. Jurisprudência essa que sempre fortaleceu o Estado Democrático de Direito, na medida em que sempre defendeu a democracia, nos mais duros anos de regime militar. Defendeu a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão, o direito de greve, enfim, todo esse plexo de garantias hoje consagradas, mas que foram arrancadas a duras penas do Poder Judiciário naquele período da nossa história. Acredito que isso faz parte de um movimento irreversível

Page 8: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Entrevista: Maria Elizabeth Teixeira Rocha

8 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

de empoderamento feminino. Não tenho a menor dúvida de que as mulheres têm alcançado espaços públicos e privados cada vez maiores e que isso é consequência inevitável do fortalecimento dos direitos individuais e dos direitos humanos.

A maioria das pessoas não sabe que a Justiça Militar assegurou os direitos de muitos presos políticos durante a ditadura. A que podemos atribuir esse desconhecimento?A sociedade civil não conhecer eu até posso entender, já que não existe o conhecimento técnico sobre o Poder Judiciário em geral, mas dentro da própria sociedade jurídica, os operadores do Direito muitas vezes desconhecem o papel da Justiça Militar. Nós somos confundidos com as justiças

militares estaduais, que também têm

um papel muito importante, mas que

tem uma jurisdição completamente diferente da nossa. A justiça estadual julga os crimes somente dos militares estaduais, ou seja, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros (não julga Polícia Civil). A Justiça Militar da União julga

civis e militares pelos crimes contra as instituições militares, ou seja, Marinha, Exército e Aeronáutica, e contra a administração militar. Para além dessa questão, a Justiça Militar teve papel primordial para a garantia do estado de direito nos anos de chumbo. A primeira liminar em habeas corpus foi dada pelo STM e serviu de precedente para o Supremo Tribunal Federal. Antes mesmo de julgar o habeas corpus, o juiz concedeu uma medida liminar, antecipando a decisão de mérito. Com isso, o STM salvou muitas vidas, como foi dito pelos próprios advogados que atuaram nesse período, como Luiz Cláudio Fragoso, Técio Lins e Silva e o Dr. Sobral (Pinto).

Mas o AI-5 cassou o habeas corpus para crimes políticos...Essa foi uma maneira de cercear a liberdade dos presos políticos e impedir que eles tivessem algum recurso processual para ir ao Tribunal. Quando o AI-5 estendeu a impetração do habeas corpus para crimes políticos, o STM criou o Direito de Petição, que não existia. Era como se fosse um

substituto do habeas corpus e foi um instrumento que também salvou vidas. Na medida em que o comandante tinha que prestar contas de um preso político

que estava em uma dependência

militar, esse preso não podia morrer,

não podia desaparecer. Sabiam onde

ele estava. Outro exemplo significativo

foi a instituição da Lei de Segurança

Nacional, que vedava qualquer tipo

de manifestação e a liberdade de

expressão. O STM se pronunciou

no sentido de que palavras danosas

que poderiam provocar incômodo

sobre aquelas pessoas não poderiam

configurar crime contra Segurança

Nacional, defendendo com isso o direito

da imprensa e a liberdade de expressão. A greve por melhoria salarial, vedada por lei, também não constituiria crime

contra a Segurança Nacional.

Antes mesmo do golpe de 64, o STM protagonizou alguns episódios importantes de preservação dos direitos políticos. Como foi essa atuação?Infelizmente, o Brasil sempre viveu surtos institucionais com períodos de normalidade e ditadura. Durante a ditadura de Vargas, que foi duríssima e que hoje é esquecida, o STM, que era sediado no Rio, concedeu liminar para Luiz Carlos Prestes e João Mangabeira, deputado federal na época e que tinha sido preso por um voto de minerva do Tribunal de Salvação Nacional de Vargas. Normalmente o voto de minerva é para beneficiar o réu, nunca para prejudicar. Não sei como os advogados, que eram pessoas que lutavam em prol da liberdade, descobriram isso, porque a votação era secreta, correram para o STM e este concedeu a ordem de livramento para João Mangabeira. Ele

Foto

s: O

dair

Fre

ire

- STM

Page 9: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Entrevista: Maria Elizabeth Teixeira Rocha

9

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

“Acho que é a história que está sendo construída de uma forma diferente. Isso representa o fortalecimento da democracia, na medida em que uma mulher passa a ser presidente de uma corte militar e uma presidente da república que foi guerrilheira hoje é a chefe das Forças Armadas”

faz um discurso muito bacana, quando reassume as funções de parlamentar no Congresso, e exalta o papel da Justiça Militar: “finalmente fui julgado por uma corte de Justiça”. Uma coisa muito interessante que eu descobri por acaso e que só sei porque também sou professora e gosto de pesquisar documentos históricos é o manifesto, assinado por unanimidade pelos ministros militares, contra as torturas e sevícias praticadas no regime. Nenhum tribunal do país, nenhuma corte de justiça se pronunciou nesse sentido. O único tribunal que teve coragem de se posicionar contra a tortura e as sevícias foi o STM.

O que pode ser feito para aproximar a Corte da sociedade?Eu tenho um projeto muito grande que é o de resgate da memória do STM e a necessária transparência. Tenho nove meses de mandato e um objetivo primordial que é digitalizar nossos processos históricos que começam em 1808, no Império, até os dias atuais, tendo como marco a promulgação da Constituição de 1988. Nesse período, temos documentos da Confederação do Equador, do Movimento Tenentista, da Intentona Comunista, da Revolução de 30, documentos do Império, enfim um acervo muito bacana que eu quero resgatar e colocar à disposição dos pesquisadores, dos jornalistas, para que eles possam então conhecer a nossa história. Esse é o primeiro passo: mostrar quem nós somos, mostrar a nossa cara. Também queremos promover exposições com o áudio das defesas que ocorreram durante o regime ditatorial, temos as sessões secretas e as sessões abertas. Todas as gravações abertas, que eram feitas em rolo, já estão em mídia digital. Já as sessões secretas, que devem

somar umas 2 mil horas de gravação, têm a voz de Sobral Pinto, José Carlos Dias, Elano Cláudio Fragoso, Técio Lins e Silva, Fernando Fragoso, todos esses grandes advogados que subiram na tribuna para lutar pela liberdade no Brasil. Só nós temos essas vozes. Vamos licitar para converter tudo em mídia digital para

que essa memória não se perca. Quero

colocar isso no nosso museu, junto de

todo aquele mobiliário do Império, e

colocar fones para que os estudantes

ouçam as vozes da defesa do Brasil,

além de colocar essa mídia no nosso

site para quem quiser acessar.

O que significa uma mulher chegar à presidência da mais alta corte militar no ano do cinquentenário da ditadura? Acho que é a história que está sendo construída de uma forma diferente. Isso representa o fortalecimento da democracia, na medida em que uma mulher passa a ser presidente de uma corte militar e uma presidente da república que foi guerrilheira hoje é a chefe das Forças Armadas. Isso tem um significado muito grande. Esses 50 anos representam o resgate da memória que deve ser preservada para que a história não se repita. É um sinalizador de que devemos fortalecer a democracia e

Page 10: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Entrevista: Maria Elizabeth Teixeira Rocha

10 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

seguir adiante. Por outro lado, também serve para reconhecer o papel das Forças Armadas como instituições de defesas do Estado que não têm rigorosamente nada a ver com o legado das gerações anteriores e seguir a nossa trajetória em prol da democracia, dos direitos civis e dos direitos humanos. É uma sincronia política que realmente sinaliza que a história está mudando para melhor e que somos nós que devemos construí-la. Uma frase de Karl Marx diz que os homens é que constroem a sua própria história. Nós estamos construindo a história do Brasil de amanhã.

Qual sua opinião a respeito da abertura dos arquivos da ditadura? É favorável?Claro! Aliás, não temos que ser a favor ou contra. Hoje há uma lei [da transparência] que determina que todos os documentos devem ser abertos. Chiadeira, protesto, incômodos não tem como impedir. A sociedade não é homogênea, nunca vai ser e acho até bom que haja essas vozes dissidentes para que haja debate e a dialética se instale. A unanimidade é perigosa. Arquivo tem que ser aberto e, sinceramente, nenhuma instituição pública pode se furtar a essa determinação. A questão hoje é saber se ainda há alguma coisa a mais a ser descoberta e onde ela está.

A sociedade tem a visão de que a Justiça Militar é corporativista. A que podemos atribuir essa imagem?É uma grande injustiça, fruto do desconhecimento. Existe um estudo da Fundação Getúlio Vargas que indica que a Justiça Militar é uma das mais duras e uma das que mais condenam. O código militar é diferenciado do código penal comum porque tutela bem sobre hierarquia e disciplina, que são

previstos constitucionalmente como os pilares das Forças Armadas, que não podem se desorganizar porque homens que portam as armas da nação têm de estar submetidos a uma escala de comando rígida. Um pequeno desvio que na sociedade civil não é nem criminalizado é a questão da maconha. Segundo a nova lei antidrogas, a pessoa que usa psicotrópicos, cigarro de maconha e etc. fora do quartel não deve sequer ser penalizada. Dentro do quartel, a postura é diferente. Já julguei um caso que considero bastante grave de um garoto de 18 anos, um menino que está prestando o serviço militar obrigatório, que encosta um civil na parede e fuma um cigarrinho de maconha. Acho isso gravíssimo! Ele vai estar de sentinela de um quartel, segurando um fuzil e não vai estar com os seus sentidos devidamente no lugar. Não sou da teoria do encarceramento, acho que o direito penal deve intervir minimamente e que prisão é só para psicopata, isto é, gente que não pode viver em sociedade e tem que ser segregada. Acredito muito no direito penal garantido, que reabilita, que ressocializa o detento. Isso sim é importante. Já o direito militar

“Arquivotem que ser aberto e, sinceramente, nenhuma instituição pública pode se furtar a essa determinação. A questão hoje é saber se ainda há alguma coisa a mais a ser descoberta e onde ela está”

Page 11: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Entrevista: Maria Elizabeth Teixeira Rocha

11

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

tem uns vieses diferenciados exatamente porque a gente tem armas e a sociedade civil não pode ficar exposta ao caos de homens armados.

Mas não existe certa condescendên-cia do militar ao julgar seus pares?A corte é formada em sua maioria por militares e os militares têm a visão diferenciada, muito mais rígida. Quanto mais alta é a patente, maior o rigor do julgamento. Recentemente, fui relatora de um processo de estelionato cometido pelo coronel de uma provisão de suprimentos, que era o chefe da quadrilha. A pena foi extremamente rigorosa. Nos últimos dados sobre a credibilidade das instituições no Brasil, as Forças Armadas vieram em primeiro lugar, antes mesmo da Igreja Católica. Apesar do regime militar e da ditadura, que faz parte de outro viés, têm a respeitabilidade da sociedade. A Justiça Militar da União tem consciência disso, até porque a sua maioria é formada por militares e eles têm o cuidado de salvaguardar essa imagem diante da sociedade e da própria Força. Aquele que erra dentro das Forças Armadas deve que saber que terá uma punição. E quando ele é punido, o outro vai pensar duas vezes antes de errar.

Por que, apesar dos avanços na sociedade, a participação da mulher nas Forças Armadas ainda é menor quantitativamente?Creio que é menor qualitativamente também. Ainda há uma grande trajetória a seguir para a efetiva igualação das mulheres. A Aeronáutica foi pioneira e as mulheres podem pilotar caças, que é a destinação final da Força Aérea. Na Marinha e no Exército isso não acontece. No Exército elas não podem ser cavaleiras, nem infantes e nem artilheiras. Na Marinha, não podem nem ser fuzileiras

e nem entrar para a Armada Naval, sequer podem entrar para a Escola Naval. Vejo aí uma discriminação de gênero com relação à mulher nas Forças Armadas e na sociedade como um todo. É um trabalho em favor da igualdade de gêneros que vai demandar tempo e políticas públicas do chefe de estado, que é o chefe maior das Forças Armadas, para que essas diferenciações sejam suprimidas. Alguns podem dizer que devido ao porte físico mais delicado as mulheres não podem ser artilheiras, não podem pegar no fuzil, mas isso não é verdade. As mulheres vão para frente de batalha em Israel, elas estão lá em Guantânamo, então, dizer que elas estão despreparadas fisicamente para atuarem em determinadas áreas é um grande equívoco. O progresso tem que acontecer paulatinamente, mas esses espaços que ainda não são ocupados por nós devem, ao longo do tempo, ter uma política revertida ao nosso favor.

E qual a sua opinião sobre a presença de homossexuais?É incrível que no século XXI a gente

ainda esteja discutindo a igualdade de

direitos das pessoas em razão da sua

orientação sexual e de gênero! Isso

é realmente incrível e mostra como

a civilização ainda está atrasada. Eu

sempre defendi nos meus votos e agora

falo abertamente nos meus discursos

que ninguém pode ser discriminado

em razão da sua orientação sexual. Isso

faz parte da sua vida privada e o Estado

não tem que se comportar como um

patrulhador para segregar minorias. É

importante que haja um discurso por

parte do chefe de Estado no sentido

de que essa política de discriminação

dos homossexuais seja revogada. Na

verdade, não há lei que determine que o homossexual não possa ingressar nas Forças Armadas. Não tem e não poderia ter porque confronta diretamente o princípio da isonomia e da igualdade previstos na Constituição. Na medida em que os homossexuais são impedidos de servir à pátria como qualquer outro cidadão brasileiro, você está dizendo em última análise que existe cidadão de primeira e segunda classe. Tenho julgado no sentido de defender o direito a sua identidade e de brigar contra a exclusão, os americanos chamam de discurso do ódio, onde a sociedade está desigualando o cidadão e o isolando de um convívio fraterno presente nos preâmbulos da Constituição. Essa política que prevalece tacitamente no Brasil era a que prevalecia expressamente nos EUA, a política do “não pergunte, não responda” onde o homossexual podia ingressar nas Forças

Page 12: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Entrevista: Maria Elizabeth Teixeira Rocha

12 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Armadas, mas não podia se assumir.

O Obama cumpriu uma promessa de

campanha e conseguiu revogar isso

dentro do Congresso. No Brasil, é uma

luta que toda a sociedade civil tem que

empreender para que seja extirpada.

Isso é inadmissível.

Como está sendo a transição da advocacia, sua origem no Direito, para a magistratura?Sou a terceira geração de advogados

na família. Meu avô foi advogado,

meu pai e eu, com muito orgulho.

Posso dizer que a principal diferença

entre as funções é a imparcialidade,

porque o advogado pode tomar

partido, pode defender as suas ideias

independentemente da condição do

réu, seja ele culpado ou inocente. A

parcialidade é a característica que mais

me atingiu em um primeiro momento.

E como sou extremamente garantista,

eu só julgo com base nas provas que

estão no processo. É aquilo: “se não

está nos autos, não está no mundo”.

Intimamente, posso até achar que o

réu é culpado, mas, se não tiver provas

suficientes para condenar, eu não

condeno. Ao mesmo tempo, defendo

com unhas e dentes o meu ponto de

vista, uma importante característica

do advogado. Eu trouxe da advocacia

esse espírito de embate, de luta.

Advogados e juízes estão em posições

diferentes dentro do processo, mas

o objetivo é comum: a realização da

justiça. A experiência da advocacia foi

muito importante e trago isso no meu

DNA. Primeiro, por ser filha e neta de

advogados, e segundo porque tive uma

proximidade muito grande com a OAB

e o IAB. Sempre convivi muito com eles

na faculdade de Direito – eu leciono

desde os 23 anos –, e na tribuna. Eu

nunca fui uma advogada privada, na

verdade, só no início da minha carreira.

Sempre fui uma advogada pública. Era

procuradora federal, fui aprovada em

primeiro lugar, e sempre trabalhei na

esfera pública nas áreas de Direitos

Humanos e Direito Internacional. Acho

que consegui fazer uma junção entre o

espírito do magistrado e do advogado.

A imparcialidade, fundamental para

decidir, e o espírito que o advogado tem

para defender suas ideias e a justiça.

Qual é o legado que a senhora espera deixar ao fim do mandato?O maior legado é reverter a ideia

equivocada que a sociedade civil e

mesmo o meio jurídico têm da Justiça

Militar da União. Quero mostrar a

importância dessa justiça para o Estado

Democrático de Direito, porque é uma

justiça que defende a estabilidade do

regime e do estado como um todo na

medida em que consegue controlar

com celeridade homens armados.

Nossos processos levam mais o menos

oito meses entre a primeira e a segunda

instância, é célere porque é especializada.

Quero aproximar a sociedade civil da

Justiça Militar porque nos enclausuramos

durante muito tempo. Temos que mostrar

quem nós somos. Quando as pessoas

tiverem contato com as nossas decisões,

lerem e ouvirem nossas defesas, se

convencerão por elas mesmas da

importância que essa justiça tem para a

história do Brasil. Hoje os desafios são

diferentes. Não temos mais a decretação

de guerras, mas enfrentamos a ameaça

do terrorismo, dos narcotraficantes e

é necessário ter Forças Armadas bem

aparelhadas. Hoje o papel dos militares

é muito maior do que defender nossas

fronteiras. Hoje defendemos o meio

ambiente, fazemos o serviço de ajuda

humanitária, atendemos às populações

ribeirinhas. A Justiça Militar é importante

para controlar esses homens armados em

uma sociedade civil desarmada.

Page 13: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Entrevista: Maria Elizabeth Teixeira Rocha

13

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Page 14: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Fórum de Ideias

14 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Foto: Shutterstock

Page 15: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

15

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Advocacia é uma das 140 atividades beneficiadas pela Lei que diversifica o acesso ao Simples Nacional, sancionada em clima de vitória histórica

Foram dois anos de trami-

tação até que, finalmente, o

Congresso Nacional aprovasse

o projeto de Lei Complementar

201/2012, que amplia o universo de

atividades e serviços aptos a serem

enquadrados no Simples Nacional –

ou Supersimples. No total, são 140

novas atividades, como dentistas,

corretores, profissionais de saúde e

os advogados, categoria que mais se

mobilizou pela aprovação da lei. Com

a inclusão no regime diferenciado de

tributação, bancas com faturamento

de até R$ 3,6 milhões pagarão alíquota

única de 4,5% a 16,85% de tributos.

O Simples Nacional é um sistema

de tributação diferenciado para

as micro e pequenas empresas

que reduz em até 40% a carga

tributária e unifica oito diferentes

impostos em uma única alíquota.

A lei também diminui o tempo

para abrir uma empresa de 127

para cinco dias e cria um Cadastro

Fim dadiscriminaçãotributária

Page 16: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Fórum de Ideias

16 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

que a mudança representa “ganhos em

eficiência, a partir da desburocratização;

em justiça, com o estímulo ao pequeno

empreendedor; em racionalidade,

com a simplificação; em incentivo ao

crescimento, com a redução da carga

tributária; e, sobretudo, em justiça

social, valorizando a capacidade de

trabalho e de iniciativa do brasileiro”.

Não foi por acaso que a aprovação do PLC

em votação plenária no Senado, no dia 16

de julho, ocorreu em clima de festa. De

autoria do deputado Vaz de Lima (PSDB-

SP), o texto cria uma nova tabela para

serviços, onde aparecem as atividades

agora incluídas. A tabela entrará em vigor

no dia 1º de janeiro de 2015.

A alta carga tributária existente até

aqui era a principal responsável pelo

baixo índice de advogados integrados

formalmente às bancas, algo em torno de 5% dos 126 mil profissionais. Os outros 95% trabalham por conta própria ou são empregados de empresas diversas. A ampliação do modelo simplificado de tributação vai beneficiar, principalmente, o jovem advogado e os escritórios de pequeno porte, que devem saltar dos atuais 20 mil para algo em torno de 126 mil nos próximos cinco anos, segundo estimativas da OAB.

A Lei foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff na primeira semana de agosto. Durante a solenidade, o presidente da OAB Nacional, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, ressaltou

“Chamo esse projeto de universalização do Simples”, resumiu a presidente Dilma Rousseff na cerimônia de sanção da lei”

Foto

: Mar

celo

Cam

argo

/Agê

ncia

Bra

sil

Único Nacional, reduzindo trâmites

burocráticos. Antes da ampliação,

empresas prestadoras de serviços

decorrentes de atividade intelectual, de

natureza técnica, científica e desportiva

ficavam excluídas do modelo, uma

espécie de discriminação tributária que

causava grandes prejuízos a diversos

profissionais. Agora, o critério deixa de

ser a atividade exercida e passa a ser o

porte e o faturamento da empresa.

Estudos realizados pela OAB Nacional

mostram que a inclusão da advocacia

no Supersimples deve favorecer a

geração de mais de 420 mil empregos

com a criação das novas sociedades.

Ganha também o governo federal, que

verá um aumento expressivo com a

formalização dos profissionais.

Page 17: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

17

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

“É uma data histórica. A OAB-RJ trabalhou muito para que este dia chegasse. É uma melhoria financeira que fará diferença no cotidiano dos

advogados. Foi uma luta que englobou

toda a moralização da entidade,

passando pelo aprimoramento do

Exame de Ordem, a reestruturação

dos serviços prestados e chegando ao

Simples, que é um avanço real para

o dia a dia do advogado”, comemorou o

presidente da OAB-RJ, Felipe Santa Cruz.

Pelo regime de lucro presumido, modelo

de tributação ao qual os escritórios

estavam inseridos até aqui, a carga

tributária chegava a 11,3%, somando-se

Imposto de Renda, CSLL, PIS e Cofins,

de acordo com cálculo do Conselho

Regional de Contabilidade de São Paulo.

Para os autônomos, a mordida podia

chegar a 27,5% sobre os rendimentos –

teto da taxação do Imposto de Renda.

“Esta sanção é o reconhecimento

a uma enorme massa das classes

de trabalhadores brasileiros. A

sociedade precisava de uma resposta

do Parlamento sobre a questão, pois estamos aqui falando de trabalhadores

Sócia de um escritório em Niterói (RJ), a advogada Odete Talask concorda que a inclusão da advocacia no Simples

Nacional, com a consequente redução

da burocracia e da carga tributária, vai

beneficiar principalmente as pequenas

bancas e os advogados iniciantes. “No que

tange ao meu escritório, ele também será

bastante beneficiado pela medida.” (DD)

O critério de adesão era a atividade exercida

ANTES DEPOISO critério passa a ser o porte e o faturamento da empresa

Profissionais como médicos, advogados, jornalistas e várias

atividades do setor de serviços passam a ser contemplados

SIMPLES – O QUE MUDOU

importantíssimos à economia do país

tais como advogados, fisioterapeutas,

corretores de diversos segmentos, entre

outros. Além da ampliação dos limites

para o enquadramento das empresas no

Simples, em 2012, reduzimos alíquotas

e contribuímos para esses 9 milhões

de micro e pequenos empresários,

número que, tenho certeza, aumentará

exponencialmente”, previu a presidente

Dilma Rousseff ao sancionar a lei.

O Instituto Brasileiro de Planejamento

e Tributação (IBPT) preparou uma

simulação, disponível no site da

entidade, em que é possível calcular se

a inclusão no Supersimples é mesmo

a melhor opção para o escritório. Para fazer a simulação, basta inserir as informações sobre a faixa de faturamento da empresa, mão-de-obra utilizada e a margem de lucro do negócio para verificar a redução nas alíquotas de imposto.

Uma banca com receita bruta anual de

R$ 180 mil, por exemplo, pagaria 4,5%

no modelo simplificado. Pela tributação

baseada no lucro real, a alíquota subiria

para 8,77%; no lucro presumido, a

mordida seria ainda maior: de 11,33%.

Empresas prestadoras de serviços decorrentes de

atividade intelectual, de natureza técnica, científica,

desportiva, entre outras ficavam excluídas

“Esta sanção é o reconhecimento a uma enorme massa das classes de trabalhadores brasileiros. A sociedade precisava de uma resposta do Parlamento sobre a questão”

Page 18: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Capa

18 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Foto

: Mai

lson

San

tana

Page 19: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

19

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Baixa procura pelo concurso do Tribunal de Justiça do Rio mostra desconfiança dos advogados com uma atividade sem remuneração definida ou qualquer benefício trabalhista

O Tribunal de Justiça do

Rio de Janeiro dará

posse a 200 novos

juízes leigos nos próximos dias.

Em um cenário de excessiva

demanda e acúmulo de estoque,

eles são vistos como remédio

para aumentar a celeridade dos

processos nos juizados especiais,

de longe um dos mais demandado

pela população. Mas o interesse

pelo concurso foi menor que o

esperado. O motivo pode estar

no modelo de contratação,

definido por resolução do

Conselho Nacional de Justiça

(CNJ), que não prevê vínculo

empregatício e estabelece o

critério da produtividade para

a remuneração.

“Recebemos cerca de 1.700

inscrições para o concurso e

confesso que esperava mais,

já que é possível acumular

a função com a advocacia.

Imaginei que mais advogados

fossem se interessar em ter essa

experiência diferenciada, além

de uma complementação de

renda. E como as vagas eram para advogados com mais de dois anos de atuação, poderiam ser preenchidas por profissionais no início da carreira”, diz a desembargadora Ana Maria de Oliveira, presidente da Comissão Judiciária de Articulação dos Juizados Especiais, responsável pelo concurso no TJRJ.

Outro fator que gerou a expectativa de um grande número de inscritos foi o fato de ser esse o primeiro certame aberto a todos os advogados.

Por Débora Diniz e Nádia [email protected]

Page 20: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Capa

20 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

“A forma de remuneração tem que ser discutida.A remuneração por produtividade pode acarretar que a qualidade do serviço seja questionada”

Antes, apenas alunos e egressos da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) podiam participar. Mas poucos se dispuseram a ocupar um cargo sem benefícios trabalhistas e com remuneração variável.

“Eu não fiz esse último concurso porque alguns aspectos me incomodam. Não ter vínculo de trabalho com o Tribunal – com férias, 13º salário, estabilidade – e não ter um salário exato no final do mês é bem complicado. Se eu ficar doente, faltar e não fizer conciliações eu não vou receber. Se eu quiser tirar férias, eu comunico que não venho, mas sei também não vou receber. Isso é ruim”, justifica Igrayne Cardoso Nascimento Lima.

Desde janeiro de 2012, Igrayne é juíza

leiga do IV Juizado Especial Cível. Ela

faz audiências duas vezes na semana,

mas conta que tem trabalho para todos

os dias. “Hoje eu fiz 30 audiências de

instrução e julgamento e dez acordos”,

disse, no dia desta entrevista. “Levo os

processos para casa e faço os projetos

de sentença. Ando com uma mala de

processos. Dá muito trabalho, mas

é bem gratificante e eu gosto muito,

principalmente porque sinto que

estou ajudando as pessoas que foram

prejudicadas pelas empresas. Fico feliz

quando posso dar uma indenização

a elas. Quero ser juíza e gosto de

conduzir audiências”.

Foto

: Mai

lson

San

tana

Page 21: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

21

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

“Se o juiz leigo vai trabalhar por dois anos, durante esse tempo terá regularidade de trabalho mediante subordinação ao Tribunal. Se existe uma obrigação, logo deveria ter algum tipo de vínculo trabalhista”

Só que vocação não bastou para atrair Igrayne e outros candidatos ao concurso. Presidente da seccional do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), Felipe Santa Cruz ressalta que não é contra o certame, mas aponta alguns critérios que precisam ser mais bem analisados. “A forma de remuneração tem que ser discutida. Alguns colegas advogados ressaltam que a remuneração por produtividade pode acarretar que a qualidade do serviço seja questionada. Os profissionais podem ficar pressionados e, assim, a qualidade cai.”

O concurso, destaca Santa Cruz, é um passo importante, já que é muito melhor a avaliação objetiva do que a

utilização de critérios subjetivos na

escolha de ocupantes de uma função

tão importante para o Tribunal. Mas é

necessário cautela. “Esses juízes estarão

tratando de dramas que envolvem

vidas, é preciso ter jeito para tratar

dessas pessoas, que muitas vezes não

têm instrução. A remuneração por meta

não pode transformar esse trabalho,

que é muito válido, em uma linha de

montagem, desvalorizando esse papel”.

Ana Maria discorda. “Hoje a atuação

do juiz leigo é fundamental, ele é

um multiplicador da figura do juiz.

Nós temos juizados onde entram

1.500 novas ações por mês e todos os

processos têm audiência marcada. O

risco de mecanização não é só do juiz

leigo, é de todos nós, já que o numero de

processos distribuídos é muito grande.”

O controle de qualidade do trabalho

é feito pelo juiz togado, que é quem recebe o projeto de sentença do juiz leigo e, se eventualmente não concordar com ele, pode proferir outra sentença ou retornar o projeto para que o leigo faça a devida adequação.

O concurso em andamento – lançado em janeiro e já na fase final – foi feito para o preenchimento de 200 vagas, que poderiam classificar até 250 candidatos para atuação na cidade do Rio de Janeiro (Comarca da Capital) e cidades do interior como Niterói, São Gonçalo, Duque de Caxias, Volta Redonda e Itaboraí, além de vagas para a atuação como Itinerantes. O exercício da função é temporário. São dois anos de atuação, que podem ser renovados por mais dois anos.

Para a advogada trabalhista Sônia

Mascaro, o problema da seleção está no

fato de não haver vínculo empregatício

ou estatutário entre o juiz leigo e o

Tribunal. “Existem dois regimes de

contratação: a Consolidação das Leis

do Trabalho (celetista) e o estatutário,

estabelecido pela Lei n.º 8.112. Se existe

habitualidade na prestação de serviço,

é preciso que exista algum tipo de

vínculo. Se o juiz leigo irá trabalhar

por dois anos, durante esse tempo ele

terá regularidade de trabalho mediante

subordinação ao Tribunal, se existe uma

obrigação, logo, deveria ter algum tipo

de vínculo trabalhista”, adverte Sônia.

Igrayne Cardoso conduz audiência de conciliação no

IV Juizado Especial Cível

Page 22: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Capa

22 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

A desembargadora Ana Maria volta a

destacar que o exercício da atividade

de juiz leigo está regulamentado na

resolução do CNJ. “É como se fosse um

trabalho autônomo. A pessoa trabalhou

e vai receber pelo que produziu, numa

regra do jogo que é colocada para eles. O

juiz leigo não vai ocupar um cargo de juiz

e, sim, uma função no Tribunal”, ressalta.

Auxiliares da JustiçaA figura dos juízes leigos como auxiliares

dos juízes togados é estabelecida pela

própria Lei 9.099/95, que cria os Juizados

Especiais – antes chamados de juizados

de pequenas causas. Mas a função só foi

regulamentada com a Resolução nº 174

de 2013, do Conselho Nacional de Justiça

(CNJ). Segundo a Resolução do CNJ, os

juízes leigos são considerados auxiliares

da Justiça e devem ser recrutados entre

advogados com mais de dois anos de

experiência. A contratação é realizada

por meio de processo seletivo público de

provas e títulos.

O Rio de Janeiro já conta com a atuação

dos juízes leigos desde muito antes

da resolução. O primeiro concurso foi

realizado em 2005, exclusivamente para

alunos e ex-alunos da Emerj. Com a

resolução do CNJ, a função foi estendida

a todos os advogados interessados.

O juiz leigo precisa ser advogado há

mais de dois anos. Ele vai conduzir

as audiências e elaborar um projeto

de sentença que vai ser homologado

pelo juiz togado. “Se nessa audiência

acontecer um acordo, ele vai elaborar

as cláusulas (do acordo) com as partes e

submetê-las ao juiz para homologação.

Durante a audiência, ele pode ouvir as

testemunhas e os depoimentos pessoais.

Não é um cargo, é uma função que ele

exerce e que tem uma remuneração por

produção”, explica a desembargadora.

Hoje, esse valor é de R$ 22 por projeto

de sentença ou acordo homologado.

Ou seja, se o projeto não resultar em

homologação ou sentença, o juiz leigo

não recebe nada por ele.

O edital do concurso prevê que cada

leigo deve realizar, no mínimo, 80

audiências e igual número de projetos

de sentença por mês. Se cumprir esse

piso, receberá R$ 1.760. A remuneração

máxima não pode ultrapassar a do chefe

de Serventia, em torno de R$ 10 mil brutos.

“Eles vão receber o que produzirem,

não existe um valor que eles recebam

independente da produção. Não acho

que esse seja o valor ideal, mas no Rio de Janeiro nós temos um volume muito

“É como se fosse um trabalho autônomo. A pessoa trabalhou e vai receber pelo que produziu, numa regra do jogo que é colocada para eles. O juiz leigo não vai ocupar um cargo de juiz e, sim, uma funçãono Tribunal”

Foto: Mailson Santana

A desembargadoraAna Maria de Oliveira

Page 23: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

23

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Com a contratação dos juízes leigos, o Judiciário espera atenuar um problema crônico nos juizados especiais: o acúmulo de processos. Dados do CNJ mostram que, em 2012, os juizados especiais do Rio de Janeiro receberam mais de 803 mil novos casos. No mesmo período, foram julgados pouco mais de 846 mil – ou seja, seria necessário praticamente um ano sem novos processos para que todos pudessem ser julgados. Como isso não é possível, hoje os juizados acumulam um estoque de pouco mais de 595 mil processos a espera de julgamento.

A Constituição de 1988 - não por acaso chamada de Constituição Cidadã - ampliou o acesso da população à Justiça. Antes praticamente restrito à solução de conflitos entre duas partes, o Judiciário passou a ser acionado por pessoas dispostas a assegurar direitos, como fornecimento de medicamentos, vaga para os filhos na escola e até mesmo redução da passagem do ônibus. O dano moral, até então discutido apenas por iniciados, passou a ser um tema de domínio público.

Um avanço, sem dúvida, mas que trouxe como efeito colateral o aumento considerável dos processos sob a responsabilidade de um número de magistrados que não cresceu na mesma proporção. Os mesmos dados do CNJ

sobre o Judiciário fluminense mostram que cada magistrado

lotado em um dos juizados especiais do Rio de Janeiro julgou, em média, 8.815 processos em 2012.

Criados pela Lei 9.099/95, os Juizados Especiais têm a função de promover a conciliação, processo, julgamento e execução nas causas de sua competência. Eles podem ser Cíveis ou Criminais, com processos orientados pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.

A competência dos Juizados Especiais Cíveis se restringe a

causas cíveis de menor complexidade, por exemplo, aquelas

cujo valor não exceda 40 vezes o salário mínimo.

Já os Juizados Especiais Criminais têm competência para

conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais

de menor potencial ofensivo, como contravenções penais e

crimes a que a lei atribui pena máxima não superior a dois

anos, cumulada ou não com multa. Os processos julgados

nessa esfera objetivam

que, sempre que possível,

seja feita a reparação dos

danos sofridos pela vítima

e aplicação de penas não

privativas de liberdade.

grande de processos. Se for pensar por um processo só é pouco, mas tem que pensar que o universo é muito grande”,

pondera Ana Maria.

O juiz leigo não precisa abrir mão do

trabalho como advogado para exercer

a função nos Juizados Especiais.

Ele só fica impedido de advogar na

comarca que trabalhe como juiz leigo.

Com isso, consegue conciliar o seu

dia-a-dia de trabalho com o juizado,

onde não precisa estar todos os dias e

tampouco cumprir uma carga horária

pré-estabelecida. Precisa, apenas,

atingir a meta de quantidade.

A desembargadora acredita que a

oportunidade de atuar como juiz leigo

pode ser um diferencial na carreira do

advogado. “Quando foi implantada a

atuação do juiz leigo no Rio de Janeiro,

se imaginou um formato em que essa

função seria exercida por alunos e ex-

alunos da Emerj não para privilegiar

o aluno da Escola, mas porque

acreditávamos que alguém que está

estudando numa escola de magistratura queira ser juiz. Como juiz leigo, ele exerce o trabalho de juiz, mas não produz a sentença, a sentença dele está sendo objeto de homologação. É como se fosse um estágio, um treinamento.” O desinteresse pelo certame do TJ sinaliza que os advogados talvez prefiram fazer esse treinamento em um emprego formal, com garantias. Ou dedicar o tempo à preparação para o concurso de juiz – com toga, benefícios e remuneração garantida.

Um estoque difícil de reduzir

Page 24: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

24 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Foto

: Cla

udio

Bel

li/Va

lor/F

olha

pres

s

Page 25: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Parlatório

25Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

empresa de telecomunicações para liderar a implantação de um novo modelo de gestão e de governança corporativa no escritório de Direito Empresarial.

...esse é o meu mundoAo comentar os objetivos do escritório, Ferrari deixa claro a que veio: incrementar a receita e melhorar as margens operacionais. “Para tanto, iremos revisar nossos processos internos, estabelecer metas claras, focar ainda mais na qualidade dos serviços prestados.” Tudo sob a mais perfeita ótica empresarial.

Essa é minha vida...Após mais de 16 anos na Nextel, o executivo Alfredo Ferrari assume o cargo de CEO do Siqueira Castro Advogados, considerado o maior escritório full service de advocacia da América Latina. Ferrari deixou o posto de vice-presidente de Novos Negócios e Assuntos Corporativos da

De olho no CongressoAinda sob a euforia da ampliação do Supersimples para a advocacia, a OAB já tem uma nova cruzada a empreender no Congresso Nacional: o Projeto de Lei 5.749/2013, recém-aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Para quem não ligou o nome à pessoa, trata-se do projeto que possibilita a atuação de bacharéis em Direito sem aprovação no exame da Ordem como advogados paralegais.

Ficha LimpaO início do período eleitoral agita os escritórios de advocacia. Até outubro, todas as atenções estarão voltadas aos candidatos e, em tempos de ficha limpa, qualquer descuido pode custar à cassação da candidatura. Os advogados envolvidos em campanhas têm um trabalho árduo para manter tudo na legalidade.

As principais demandas dizem respeito à prestação de contas, à contratação de serviços e ao material de campanha. Quem quiser saber quanto custam os honorários para essa consultoria terá que esperar a prestação de contas dos candidatos após o pleito. As cifras são guardadas a sete chaves, mas informações de mercado dão conta de que ultrapassam sete dígitos.

Do outro ladoDe 24,9 mil candidatos nas eleições de 2014, 1.429 se declaram advogados. É a terceira profissão com mais representantes, atrás apenas de empresário e professor. Na disputa pela presidência, dois candidatos – Eymael e Luciana Genro – são advogados.

Mais do mesmoMembros do Conselho Federal da OAB já avisaram que vão mobilizar as seccionais a pressionar deputados e senadores pela rejeição do projeto, de autoria de Sérgio Zveiter (PSD-RJ). O relator, Fábio Trad (PMDB-MS), diz que não vê motivo para alvoroço, já que o PL apenas regulamenta atividades que já são exercidas. A conferir.

Patente AltaA publicação “Intellectual Asset Management”, do IP Media Group, divulgou em junho o ranking anual de firmas de Propriedade Intelectual que atuam na área de patentes, conhecido por “IAM Patent 1000”. O Daniel Advogados mais uma vez foi citado entre os melhores escritórios do Brasil. Na mesma publicação, o sócio Alexandre Fukuda Yamashita foi indicado na categoria processamento de patentes.

Foto

: Rei

nald

o Fe

rrig

no/A

gênc

ia C

âmar

a

Fábio Trad,relator do projeto

O novo CEO, Alfredo Ferrari (à esquerda) com Carlos Fernando Siqueira Castro, presidente do escritório

Foto: Claudio Belli/Valor/Folhapress

O novo CEO, Alfredo Ferrari (à esquerda) com Carlos Fernando Siqueira Castro, presidente do escritório

Page 26: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Carreira

26 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Criado há 17 anos, o Ibdfam reúne profissionais da área, oferece cursos de capacitação, realiza congressos e seminários além de atuar como Amicus curiae em causas que envolvem o Direito de Família no Supremo Tribunal Federal (STF). “Até pouco tempo, a maioria das leis e os próprios profissionais que atuavam nessa área tinham uma visão apenas patrimonial, o mais importante era a proteção aos bens da tradicional família patriarcal no país. Mas muito já mudou. Hoje o Ibdfam reúne quase oito mil membros de todas as regiões. São advogados, promotores, juízes, desembargadores, psicanalistas, enfim, profissionais que lutam cotidianamente para combater o atraso, o preconceito e a exclusão”, conta Cunha.

Entretanto, as leis não acompanharam a evolução dos costumes e das novas configurações familiares. Na atuação do Direito de Família, os principais instrumentos são a inovação dos princípios constitucionais e a jurisprudência. Por isso é importante que o profissional que deseja se especializar na área se atualize permanentemente. “Ler muito, especialmente artigos e livros de pensadores com uma visão mais inovadora. Mas também saber cuidar de si mesmo, olhar para dentro, para que possa estabelecer uma boa relação com os clientes”, aconselha Cunha.

O mercado é bem receptivo a novos advogados, principalmente profissionais que tenham uma visão mais ampla e

Área de Família pode ser uma boa opção para advogados, mas requer atualização permanente e muita disposição para ouvir

Uma área para quem gosta de desafios e de lidar com a diversidade do ser humano.

Esse é o Direito de Família – ou das Famílias, que é assim chamado, no plural, porque plurais também são as composições desse universo na sociedade contemporânea. Com um campo vasto de atuação, abrange desde pensão alimentícia, divórcio, investigação de paternidade, guarda, convivência de filhos, adoção, alienação parental, abandono afetivo, partilha e sucessões.

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (Ibdfam), Rodrigo da Cunha, é o mais humano dos direitos. “Nós que trabalhamos com o Direito de Família, somos como sacerdotes e psicanalistas, profissionais da escuta. O Direito de Família está em constante evolução na sociedade contemporânea. É preciso compreender que todas as famílias, quer queiram, quer gostem ou não, devem ser amparadas pelo Estado Brasileiro”.

Foto

: Shu

tter

stoc

k

Page 27: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

27

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

importância de se manter atualizado e sempre estar estudando, mas adverte que só o conhecimento técnico não garante o sucesso profissional. “É preciso ter senso de administração e organização. Mas é preciso também lembrar sempre da velha fórmula de Aristóteles: conhece-te a ti mesmo. Isto pode nos dar um equilíbrio interno e uma segurança, que naturalmente o cliente saberá. É importante também que separemos as questões objetivas das subjetivas para atuarmos melhor em nossa profissão. A nossa profissão é também um trabalho de ajuda às pessoas que nos procuram”, assume.

“Mas acho que quem melhor sintetiza isto é Fernando Pessoa: Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui / Sê todo em cada coisa. / Põe quanto és / No mínimo que fazes. / Assim em cada lago a lua toda / Brilha, porque alta vive.” (NM)

achatamento dos honorários. Jogam os honorários para baixo e assim desvalorizam a profissão”, critica.

Rodrigo da Cunha admite que as principais dificuldades encontradas pelos advogados especialistas ainda estão atreladas à demora em oferecer soluções para os clientes. “O Poder Judiciário infelizmente ainda é moroso, mas acredito que muitas demandas em breve serão solucionadas por meio da mediação, para a resolução de conflitos, ou nos cartórios, dando mais agilidade”, Cunha acredita que a tendência no Direito de Família é a desjudicialização.

Segundo ele, o primeiro passo para ser bem sucedido é gostar do que faz. Depois, estar inteiro naquilo que faz. “É uma área apaixonante e uma dica é não ficar restrito apenas ao Direito. O que contribuiu muito para o meu trabalho nestas três décadas em que tenho atuado como advogado foi o estudo da psicanálise”. Ele ressalta a

Eventos realizados pelo Ibdfam: https://www.ibdfam.org.br/eventos

Especialização em Direito Civil – Ênfase em Família e Sucessões: Faculdade IDC | Carga Horária: 360h/aCurso ministrado em Porto Alegre – RS | Informações: https://www.idc.edu.br/

Pós-Graduação em Direito de Família e Sucessões: Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas – CBEPJUR (Certificado emitido pela UCAM – Universidade Cândido Mendes) | Carga Horária: 360 h/a | Curso ministrado no Rio de Janeiro - RJ Informações: (21) 2203-0153/1230

Curso de Prática Civil em Família e Sucessões 2014: Cers | Curso Online | Carga Horária: 11 aulas de 2h30min Informações: http://bit.ly/cursodireitodefamilia

ESPECIALIZE-SE

humanista. Mas está também cada vez mais competitivo e exigente. Além do conhecimento técnico, o interessado deve ser sensível às particularidades da área, e especialmente às necessidades do sujeito. “O nosso trabalho impacta profundamente a vida das pessoas. É sempre muito doloroso para os envolvidos um divórcio ou a perda de um familiar, só para exemplificar. Antes de tudo, é preciso ter muita paciência e saber ouvir”, indica Cunha.

Gustavo Kloh é professor da FGV Direito Rio e advoga há dez anos. Para ele, existem três aspectos positivos principais no Direito de Família: é um mercado que não sofre a influência de crises econômicas, portanto é estável; está em expansão com o reconhecimento de novas famílias; e, por ter aspecto pessoal, é uma área muito boa para quem está no começo de carreira. Mas ele ressalta um ponto negativo. “Essa área sofre em razão da proletarização da profissão e

Page 28: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO28

Perfil: William DouglasPerfil: William DouglasFo

to: M

ails

on S

anta

na

Juiz, escritor e palestrante, Willian Douglas garante encontrar tempo para sua verdadeira vocação: ser feliz

Page 29: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

29

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITOAgo/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Conhecido como guru dos concurseiros, o juiz federal William Douglas já vendeu mais de 700 mil livros e atraiu um milhão de pessoas às suas palestras

Eu colecionei um número grande de reprovações em concursos e não tinha como desistir, já que

não conhecia outro caminho melhor para resolver minha vida profissional”. Assim William Douglas, juiz titular da IV Vara de Niterói (RJ) desde 1997, começa a desenhar sua trajetória de sucesso. O magistrado ganhou visibilidade ao ser aprovado em primeiro lugar em vários concursos públicos. O Guru dos Concursos, como é chamado, falou à Gazeta do Advogado como faz para conciliar a rotina de servidor público, autor, palestrante, ter tempo para família e, claro, para ser feliz.

A história começa com o William “concurseiro”, recém-graduado em Direito pela Universidade Federal Fluminense. Depois de ser reprovado em seis concursos, ele procurou pessoas

que já tinham sido aprovadas para ouvir orientações, mas ninguém estava disposto a ajudar. “Eu invariavelmente recebia respostas como ‘vai estudar, se vira, dá teu jeito’. Ninguém te ensina como passar. O professor te ensina a matéria que vai cair, só isso”, lembra William.

Depois de “dar um jeito” e superar as dificuldades, ele foi aprovado em sete concursos, quatro deles em primeiro lugar. E assim como procurou ajuda, foi procurado por quem tinha dúvidas na hora de estudar. William optou por passar adiante a experiência que teve. Assim nasceu o livro “Como passar em provas e concursos”, que foi rejeitado por todas as editoras que William o levou. “A solução foi eu mesmo publicar o livro”, conta William que já publicou mais de 30 livros e que tem uma editora, a Impetus.

Por Nádia [email protected]

Page 30: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

30 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Perfil: William Douglas

“Como passar em provas e concursos” se tornou um best-seller. Está atualmente na 28ª edição com mais de 185 mil exemplares vendidos. Por causa dele William foi entrevistado pelo Jô Soares, participou do Fantástico e deu diversas entrevistas. “O livro acabou gerando a figura que depois foi gentilmente denominada Guru dos Concursos, que acabou se construindo sem que fosse um plano meu”, reflete. Para ele, a espiritualidade tem papel fundamental em toda sua vida. “Tudo isso surgiu da aplicação prática de um versículo da Bíblia. Não tenho vergonha de me declarar cristão”, completa.

Antes de assumir como juiz federal, William passou por vários cargos, entre eles o de defensor público e de delegado de polícia. Ele conta que ingressou na Justiça Federal cheio de ideias, mas que não viu abertura para que elas fossem executadas. Decidiu, então, tomar conta da IV Vara Federal de Niterói (RJ), que foi por ele inaugurada. “Minha lógica no Judiciário é deixar o trabalho sempre em dia. Por isso estamos em primeiro lugar em produtividade entre as congêneres. Produzimos bem acima da

não é um problema só do negro, é um problema de qualquer pessoa que queira justiça social. Aparentemente eu não sou diretamente prejudicado, mas essa foi a causa que eu elenquei para lutar. Então faço parte do Educafro. Minha causa é a inclusão racial e social. Já participei de duas audiências públicas no Senado defendendo as cotas”. William conta que conheceu a atuação do Educafro logo quando lançou “Como passar em provas e concursos”, começou fazendo

média e isso é resultado de um trabalho de equipe que dura vários anos”, elogia.Ele também elogia a “equipe” que tem em casa. “Estou no segundo e, se Deus quiser, último casamento”, ri. “Dá bastante trabalho. Mas eu dou mais trabalho pra ela do que ela pra mim”. Ele ressalta que reserva um tempo para ser marido e pai dos três filhos. Uma menina de 12 anos e dois meninos, um de sete e outro com cinco anos. “Procuro viajar, estar junto, brincar, montar Lego, procuro ser pai”. Ele assume que periodicamente pergunta à esposa e aos filhos se ele está se fazendo presente. “Às vezes ela diz que eu estou bem e às vezes diz que estou devendo, se eu estiver devendo eu resolvo esse problema pontual”, conta.

Além do trabalho de palestrante, autor e juiz William dedica um tempo para participar do movimento negro. “A minha lógica é que o problema racial

Foto

: Mai

lson

San

tana

Foto: Acervo Pessoal

O juiz em seu gabinete, na IV Vara Federal de Niterói

O magistrado em mais um dia de despachos

Page 31: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO 31

ANO I - edição 3

que o filho desse casal resolveu fazer faculdade de Direito e fez questão de estagiar na IV Vara. “Ele disse que aqui foi o primeiro lugar no serviço público que os pais dele foram tratados com dignidade. A vida dele mudou. Ele vai fazer um concurso, ser um juiz, um promotor ou um advogado e vai ser alguém muito útil, porque ele é incomodado com a injustiça. Ele vai fazer o trabalho sempre de maneira apaixonada. Fico muito emocionado de saber que meu trabalho como juiz mudou uma trajetória”.

William atribui o sucesso que tem em todas as áreas da vida em ser apaixonado por tudo que faz. “Se eu fosse ser só juiz ou só palestrante ou só escritor, se eu elegesse uma coisa só para me dedicar eu seria muito melhor. Mas eu ia deixar de me realizar e de realizar coisas em outras áreas”, afirma. Segundo William, ele tem um sistema de produção que não visa a perfeição. “Não faço livro para ele ser revolucionário, faço para resolver problemas. Se ele resolve o problema proposto eu boto o livro na rua. Eu não tenho medo de errar, não tenho medo de fazer projeto que dá errado. Já estou acostumado a errar, não é nenhum drama pra mim”.

Assim como é a produção de livros, ele afirma que faz o mesmo no trabalho como juiz. A opção é sempre pelo mais prático. “Eu penso sempre ‘vamos resolver o problema dessa pessoa, para fazer a vida dela andar e para o processo sair daqui’. E com isso me sobra tempo pro outro processo. Eu não vou fazer uma sentença com 40 laudas para que achem que eu sou um sábio e grande entendedor de Direito, para que me elogiem. Eu faço uma sentença de quatro ou cinco laudas, que resolvem o problema e parto pra

palestras e se apaixonou pela causa. Além das palestras, a parceria resultou na doação de mais de 20 mil livros e em um programa que vende suas obras a preço de custo.

William comenta que fica feliz em fazer a diferença na vida das pessoas. “Tenho 225 mil fãs no Facebook, eu não faço viagem sem tirar fotos com alguém que já leu o livro ou já me viu no Youtube. É comum estar no avião e ver alguém lendo um livro da minha autoria”. Segundo ele, esse assédio não o incomoda, pelo contrário, ele incentiva que as pessoas deem a ele esse retorno. “Eu prefiro administrar o problema do sucesso do que o problema do fracasso. Ruim seria se eu trabalhasse tanto e não tivesse reconhecimento”, reflete.

Ainda sobre reconhecimento, ele conta uma história que o emociona muito. Um casal de empresários tinha sido processado pelo não recolhimento de contribuição previdenciária e, ao analisar o processo, ele viu que o casal havia sofrido uma injustiça e os absolveu. Anos depois, ele descobriu

outro processo. O cuidado que eu tenho é que a minha produção como juiz esteja sempre acima da média, para que o fato de eu ter outras atividades não prejudique o jurisdicionado”.

A lógica no trabalho também serve para algumas regras no casamento. Segundo William é mais importante discutir o que faz feliz do que estar certo. “Aceito que minha opinião seja vencida se a coisa vai funcionar. Essa lógica vai gerando uma vida bastante produtiva. Eu tenho uma vida agradável, eu curto minha vida, namoro minha mulher, brinco com meus filhos, vou à igreja, torço pelo Fluminense e pelo Brasil. Eu gosto muito de escrever, me considero um homem feliz e realizado, mas ainda tenho o que realizar. Gosto de fazer todas essas coisas que faço, ainda não sei o que vou ser quando crescer, quando eu souber eu deixo de fazer tudo isso e me dedico a uma

coisa só”, brinca.

Foto: Acervo Pessoal

Versão palestrante do magistrado: motivação

Page 32: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Opinião: Marcello Rodante

32 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

Foto

: Div

ulga

ção

DivórcioColaborativo:nova opçãoPor Marcello Rodante*

“As Práticas Colaborativas consistem em uma abordagem de resolução de controvérsias interdisciplinar, não adversarial e extrajudicial que prestigia o diálogo produtivo e respeitoso entre as partes, na busca de acordos sustentáveis com os quais toda a família possa conviver”

O divórcio é um momento

muito difícil para a maioria

das pessoas. Aliás, há quem

considere que situações de divórcio

chegam a ser mais traumáticas do que

a perda de entes queridos. De fato,

muitas pessoas casam acreditando

que os relacionamentos nascem para

durar por toda uma vida e, quando se

vêem diante de seu término, acabam

lidando muito mal com tal situação.

Justamente nessa ocasião – quando

as emoções estão à flor da pele e

antagônicos sentimentos ganham

espaço e se embaralham – difíceis

e complexas decisões têm que ser

tomadas, a exemplo de definições

acerca de pensão alimentícia, divisão de

patrimônio, guarda e visitação de filhos.

E uma das primeiras decisões que

rapidamente reclamam atenção das

partes se refere à própria forma de como

o processo de divórcio será conduzido.

Sobre este ponto, atualmente há uma

nova opção aos casais e aos advogados

para lidar com as questões que

envolvem um divórcio. Trata-se das

Práticas Colaborativas, que recebeu em

2013 o Prêmio Innovare na categoria

advocacia, o que, por si, já demonstra seu

valor, reconhecimento e importância.

As Práticas Colaborativas consistem

em uma abordagem de resolução de

controvérsias interdisciplinar, não

adversarial e extrajudicial que prestigia

o diálogo produtivo e respeitoso entre as

partes, na busca de acordos sustentáveis

com os quais toda a família possa conviver.

O processo é interdisciplinar porque

são chamados a atuar advogados

colaborativos, profissionais da área da

saúde, financistas e especialistas em

crianças e adolescentes. O processo

é não adversarial e extrajudicial

porque é baseado em uma seqüência

encadeada de reuniões, que seguem

pautas previamente definidas. Os

encontros ocorrem sequencialmente

e em diferentes formatos: com os

advogados e seus clientes; com os

advogados somente; com os advogados

e os profissionais da saúde; com os

profissionais da saúde e os clientes;

Page 33: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

33

ANO I - edição 3

Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

na maioria das vezes não se encontram

em condições emocionais normais, sendo

necessário, antes, fortalecê-las e auxiliá-

las a reencontrar suas melhores e mais

saudáveis expectativas.

Acolher a família, compreender os

interesses envolvidos, as necessidades

subjacentes, trabalhar em equipe

interdisciplinar e com foco no

redesenho familiar é, portanto, um dos

objetivos perseguidos pela metodologia

das práticas colaborativas, as quais, sem

dúvida, devem ser consideradas, como

nova opção, em situações de divórcio.

*Advogado colaborativo. Sócio de Rodante & Scharlack Advogados, Diretor do Instituto Brasileiro de Práticas Colaborativas (IBPC)[email protected]

“É muito comum, ao final de um relacionamento, que ambas as partes ou uma delas se veja ferida, insegura e, por isso, disposta a ingressar em uma batalha judicial, até mesmo como forma de autodefesa”

com todos os envolvidos (advogados, clientes e profissionais da saúde), tudo de modo a se mapear o conflito e a se trabalhar opções capazes de se harmonizar diferenças.

A ideia é que seja formada uma equipe interdisciplinar de profissionais para cada uma das partes, sendo que as equipes passam a interagir em conjunto, com um alto grau de confiança, transparência e boa-fé. Todos atuam com o mesmo foco: o redesenho estruturado da família pós-divórcio. Para isso, ambas as equipes mantêm a atenção nas necessidades e interesses das partes, objetivando sempre a construção do consenso, em coautoria. Trocas de informações, percepções, sentimentos são realizadas durante todo o percurso do processo. Buscam-se, pois, soluções alternativas mediante a expansão de possibilidades e de oportunidades, sempre mediante dinâmicas dialogadas.

As práticas colaborativas se voltam para a cocriação, para a solução de problemas de forma compartilhada. Com base nisso, jogos de culpa (quem está certo e quem está errado), apontamento de dedos, estratégias de barganhas, imposições unilaterais de posições e ameaças, diretas ou veladas, não devem ter espaço, pois não auxiliam para construção de algo em coautoria. Portanto, por esse modelo, as partes passam a ter responsabilidade direta com o resultado perseguido, tornando-se protagonistas das decisões e das escolhas que são construídas; situação que permite, inclusive, o fortalecimento do próprio relacionamento posto sob discussão.

Os advogados colaborativos assinam um termo que os proíbem de ingressar com ações judiciais, ou seja, eles

assumem o compromisso de tratar de todas as questões familiares fora do Judiciário; ou seja, a portas fechadas. É algo simples ou fácil de fazer? Não, de forma alguma. Mas com boa vontade, foco e compromisso é algo possível de ocorrer, mesmo para os casais que se encontram diante de uma grande crise; mesmo quando a esperança parece ter desaparecido; mesmo quando o medo e a frustração falam alto e pedem por uma batalha judicial.

Nesse sentido, os profissionais da saúde, também chamados de coaches colaborativos, desempenham um papel muito importante. Eles auxiliam as partes e os próprios advogados no mapeamento dos pontos de conflito, acolhem as emoções e desenvolvem forças e competências junto com os clientes, dando sustentação emocional ao procedimento. Os coaches auxiliam as partes a ampliar e fortalecer o próprio processo de comunicação, o que se mostra útil tanto durante as tratativas colaborativas quanto posteriormente, quando o acordo de divórcio for concluído, e as partes tiverem que permanecer se relacionando.

É muito comum, ao final de um relacionamento, que ambas as partes ou uma delas se veja ferida, insegura e, por isso, disposta a ingressar em uma batalha judicial, até mesmo como forma de autodefesa. No entanto, a prática vem demonstrando que a melhor forma de se lidar com questões familiares é mediante processos dialogados, ressalvadas exceções. Porém, processos dialogados também não devem ser confundidos com processos puramente negociais, na medida em que as partes, como dito,

Page 34: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição

Charge

34 Ago/Set 2014 - GAZETA DO ADVOGADO: A REVISTA DE QUEM PENSA DIREITO

“Nós temos hoje 100 milhões de processos em tramitação no país para apenas 18 mil juízes. A razão da demora é a enorme litigiosidade”

Frases

“Esses 50 anos representam o resgate da memória que deve ser preservada para que a história não se repita. É um sinalizador de que devemos fortalecer a democracia e seguir adiante”

Ricardo Lewandowski, após ser eleito o novo presidente do STF.

Maria Elizabeth Rocha, sobre assumir a presidência do STM no cinquentenário da Ditadura Militar.

“O Brasil é um Estado laico, mas, citando um salmo de Davi, eu queria dizer que feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”

Felipe Santa Cruz, presidente da OAB/RJ sobre aprovação do Simples.

“É uma melhoria financeira que fará diferença no cotidiano dos advogados. Foi uma luta que englobou toda a moralização da entidade, passando pelo aprimoramento do Exame de Ordem, a reestruturação dos serviços prestados e chegando ao Simples, que é um avanço real para o dia a dia do advogado”

Dilma Rousseff em evento da igreja Assembleia de Deus.

Page 35: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição
Page 36: Revista Gazeta do Advogado - 3º Edição