gazeta do advogado

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EM DEFESA DO CONSUMIDOR Em entrevista exclusiva, o subsecretário do PROCON - RJ, José Teixeira Fernandes, fala sobre o papel do órgão perante a sociedade. PREPOSTO Quem é este agente dentro de um processo ? ARQUITETURA Seu escritório está de acordo com a tendência atual? SAÚDE & BEM ESTAR Cuide do corpo através das terapias alternativas #06 | Ano 2 | Set-Out 2010 | R$ 6,90 www.gazetadoadvogado.com.br

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Entrevista com Anderson Carvalho sobre o perfil dos estagiários do curso de direito nos escritórios de advocacia.

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Page 1: Gazeta do Advogado

Em dEfEsa do ConsumidorEm entrevista exclusiva, o subsecretário do PROCON - RJ, José Teixeira Fernandes, fala sobre o papel do órgão perante a sociedade.

PREPOSTOQuem é este agente dentro de um processo ?

ARQuiTETuRASeu escritório está de acordo com a tendência atual?

SAÚDE & BEM ESTARCuide do corpo através das terapias alternativas

#06

| Ano

2 |

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3Set/Out 2010 Gazeta do Advogado 3

Sumário06 ENTREVISTA - Cidadania: Mola mestra no

processo eleitoral

09 DECORAÇÃO & ESTILO - Arquitetura moderna é tendência nos escritórios de advocacia

10 MERCADO - Extinção do vínculo empregatício não exime preposto preparado

12 CAPA - PROCON: em prol dos consumidores, de olho nos fornecedores

16 ESPECIAL - Advogado Conciliador: Peça fundamental para o quebra-cabeça da celeridade processual

18 OPINIÃO - Exclusão judicial e extrajudical de sócio nas limitadas por justa causa

19 SAÚDE & BEM ESTAR - De bem com a vida e com a rotina

20 CARREIRA - Aonde estão os (bons) estagiários?

22 DIREITO DE RIR - indenização septilhonária

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Gazeta do Advogado é uma publicação bimestral, dirigida a advogados, gestores jurídicos e estudantes, distribuída em todo território nacional. o conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião do jornal. As matérias aqui apresentadas podem ser reproduzidas mediante autorização prévia, por escrito, da editora.

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Capa:Denis Neto

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Page 4: Gazeta do Advogado

4 Set/Out 2010 Gazeta do Advogado4

EXISTE UMA ESTÁCIO

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SABIA QUE COM UMA PÓS-GRADUAÇÃO VOCÊ PODE TER UM GANHO SALARIAL MÉDIO DE 42% [1]?

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Direito, Gestão, Humanas, Saúde, Tecnologia

A partir de R$ 144,00 por mês [4]

[1]Fonte: Pesquisa do Centro de Políticas Sociais (CPS), vinculado ao Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV). [2]Os cursos à distância são ministrados e certificados pela Universidade Estácio de Sá. [3]Os cursos presenciais de Especialização em Licenciatura já incluem essa disciplina na modalidade presencial no currículo. [4]Valor promocional, referente aos cursos de pós-graduação à distância: Políticas e Gestão em Segurança Pública – válido para matrículas realizadas até 31 de agosto de 2010, e Educação Física Escolar – válido para matrículas realizadas até 11 de setembro de 2010. Qualquer outro desconto será calculado sobre o valor da tabela cheia.

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Editorial

EvoluçãoA partir desta edição, o jornal Gazeta do Advogado ganha status de revista e passa a ter uma linha gráfica e editorial voltada para um público alvo exigente, que busca uma leitura jurídica relevante, agradável, com um visual moderno e de fácil entendimento.

Na edição de estreia, o leitor conhecerá um pouco mais da história, das per-spectivas e das mudanças do Procon/RJ, órgão de defesa do consumidor que, atualmente, tem papel de destaque na busca pela celeridade processual e pelo equilíbrio das relações de consumo. Para tal, a equipe de jornalismo entrevistou o subsecretário do Programa, José Teixeira Fernandes.

Destacamos também a reportagem sobre a importância da atuação do advo-gado conciliador em uma audiência, mostrando quem é esse profissional e fazendo um paralelo com a mediação, ferramenta de resolução de conflitos muitas vezes confundida com a conciliação.

Para mostrar as últimas tendências em estilo arquitetônico nos escritórios de advocacia e revelar hobbies e manias dos advogados, quando não estão con-centrados em um processo, criamos a editoria Decoração & Estilo e, para trazer dicas para a melhoria da qualidade de vida, a seção Saúde & Bem Estar trará informações pertinentes ao tema.

Esses são alguns dos assuntos que o leitor encontrará nas páginas que se seguem. Esperamos ter produzido um conteúdo à altura das expectativas.

Boa leitura!

Gazeta do Advogado Ltda.CNPJ 10.992.108/0001-61Rio de Janeiro - RJ - Brasil

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DiREtoR ExECutiVoRenato Lima

EDitoRASimone Gonçalves (MtB 21.890)

[email protected]

SuBEDitoRA / REPoRtAGEMFlávia Ferreira

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DEPARtAMENto CoMERCiALthais Buarque

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DEPARtAMENto DE MARKEtiNGWellington Dias

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REDAçã[email protected]

DiREção DE ARtEDenis Neto

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tiRAGEM20.000 exemplares

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EXISTE UMA ESTÁCIO

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SABIA QUE COM UMA PÓS-GRADUAÇÃO VOCÊ PODE TER UM GANHO SALARIAL MÉDIO DE 42% [1]?

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[1]Fonte: Pesquisa do Centro de Políticas Sociais (CPS), vinculado ao Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV). [2]Os cursos à distância são ministrados e certificados pela Universidade Estácio de Sá. [3]Os cursos presenciais de Especialização em Licenciatura já incluem essa disciplina na modalidade presencial no currículo. [4]Valor promocional, referente aos cursos de pós-graduação à distância: Políticas e Gestão em Segurança Pública – válido para matrículas realizadas até 31 de agosto de 2010, e Educação Física Escolar – válido para matrículas realizadas até 11 de setembro de 2010. Qualquer outro desconto será calculado sobre o valor da tabela cheia.

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A

Entrevista

Entrevista: Erick Wilson Pereira

Cidadania: Mola Mestra da Mudança no Processo Eleitoral

A mobilização de milhares de brasileiros para fomentar, elaborar e aprovar o Projeto de Lei de ini-ciativa popular conhecido como “Ficha Limpa”, que prevê a inegibilidade de candidatos condenados por colegiado em segundo grau, demonstra o clamor da sociedade na luta por um processo elei-toral transparente e condizente, com candidatos merecedores, de fato, de um voto de confiança. O exercício da cidadania tem sido fundamental para traçar os próximos passos dos futuros daqueles que governarão o país e representarão seu eleitorado.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Advogado, o especialista em Direito Constitucional, Erick Wilson Pereira, afirma que o mérito do projeto é positivo, mas que não acabará com a corrupção no país. É importante o debate permanente entre as organizações da sociedade civil, representações políticas e partidos políticos, a fim de estabelecer práticas e valores de-mocráticos, a começar pela reforma política, tão aclamada pela sociedade.

“A mola mestra para movimentar e preservar os valores e as instituições democráticas é a participação mais integrada dos cidadãos no processo eleitoral. Se sua opção é através da ‘mu-dança’ ou da ‘comparação’, pouco importa, o fundamental é a participação de forma reflexiva”, analisa.

G.A. - Que análise o senhor faz do processo histórico eleitoral brasileiro?

Erick Pereira - O marco histórico é a criação do Tribunal Su-perior Eleitoral, há 65 anos, apesar da instituição da Justiça Eleitoral no Brasil ser mais antiga, pois foi criada pelo Códi-go Eleitoral de 1932. Este delegou ao extinto Tribunal Supe-rior de Justiça Eleitoral a responsabilidade pelo alistamento, apuração de votos, diplomação e proclamação dos eleitos. Com a ditadura do Estado Novo e a Constituição de 1937, a Justiça Eleitoral e o regime democrático foram extintos. Mas, sete anos depois, mediante o Decreto-Lei 7.586, mais co-nhecido como “Lei Agamenon Magalhães”, a Justiça Eleitoral foi recriada, desta feita com suas funções sob a alçada do Tribunal Superior Eleitoral. É importante considerar que, de todos os ramos do Poder Judiciário, a Justiça Eleitoral detém a maior amplitude e heterogeneidade de reservas funcionais. Tais encargos têm sua relevância aprovada e ampliada não apenas em correspondência aos anseios de aperfeiçoamento institucional e da ordem política, mas também à crescente de-manda dos atores políticos por novas atribuições que venham aclarar aspectos cada vez mais complexos do Estado Social. É assim que a capacidade operativa da Justiça eleitoral tem se estendido para diversas competências, referidas às diferentes formas de ação, sejam as jurisdicionais básicas, sejam as legife-rantes, administrativas ou consultivas.

G.A. - Quando comparado com outros países, como podemos avaliar o processo eleitoral brasileiro?

Apesar das acusações de parcialidade, especialmente direcionadas ao partido hegemônico do momento, a tendência é o fortalecimento da confiança popular no processo eleitoral. As razões são múltiplas para esta credibilidade. As próprias peculiaridades da Justiça Eleitoral res-pondem por algumas delas, a exemplo da obediência ao princípio da temporariedade de seus membros, escolhidos para um biênio, com renovações independentes de critérios políticos e sem prejuízo da Fo

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obediência a normas rígidas, que só fortalecem a segurança da instituição. Outros aspectos, como a celeridade dos ritos, o investimento tec-nológico nos processos de votação e apuração, a responsabilidade coletiva dos tribunais pelas decisões adotadas, e a competência para res-ponder a consultas sobre matéria eleitoral sem contemplar situações concretas, assim como emitir atos normativos com força regulamen-tar, favorecem uma dinâmica própria que torna difícil a Justiça Eleitoral ser corrompida pela fraude, suborno ou coação, deslegitimando a representação popular e, por consequência, as bases do governo democrático. Sob tais aspec-tos, podemos afirmar que o processo eleitoral brasileiro é considerado aperfeiçoado quando comparado a vários países.

A aprovação da Lei da Ficha Limpa foi come-morada pela sociedade. No entanto, discute-se a constitucionalidade da norma. Qual a sua opinião a respeito da matéria? A legislação, de fato, irá impedir a participação candidatos ina-dequados no processo eleitoral?

Sou a favor do mérito do projeto Ficha Limpa. Mas entendo que não há necessidade de exis-tir uma lei específica para tal fim, até porque já é obrigação do agente político ter a ficha lim-pa. E, ao contrário do que se está a ouvir, não creio que essa lei vá acabar com a corrupção no Brasil. imprescindível é o respeito à constitu-cionalidade e isso só existe quando se atende ao princípio da irretroatividade, da anualidade, da soberania popular e da presunção de ino-cência (não-culpabilidade). Com a condenação em segundo grau, é decretada a morte social do agente político, do cidadão. É inverter os valores morais e jurídicos em nome do clamor público, que está se transformando em mais um

requisito hermenêutico. Além disso, abstraído o clamor social, os motivos de política legislativa esbarram na impossibilidade do efeito retro-ativo da lei. No entanto, temos exemplos na democracia brasileira de pessoas que foram execradas publicamente e absolvidas tempos depois. Se a regra é o pleno exercício dos direi-tos positivos de natureza política, é imperioso aceitar que toda e qualquer norma que puder embaraçar, direta ou indiretamente, o pleno exercício de tais direitos, deve ser objeto de interpretação estrita, em obséquio às boas e tradicionais regras de hermenêutica jurídica. E a interpretação estrita é a que se mostra mais favorável ao cidadão, fazendo com que a sua situação pessoal não seja alcançada pela ex-ceção, que substancia a privação ao exercício do direito.

A legislação eleitoral precisa ser alterada para evitar brechas? O que o senhor sugere?

A eficácia e a legitimidade de reformas políti-cas passam pelo diálogo entre organizações da sociedade civil, representações políticas e par-tidos políticos. O bom funcionamento de cada uma dessas esferas e os acordos estabeleci-dos por elas são aspectos imprescindíveis para a afirmação de práticas e valores democráticos, a exemplo das relações de poder mais harmô-nicas e igualitárias, do acesso mais franco à representação política, e do fortalecimento de organizações políticas partidárias e não parti-dárias. Nos debates será preciso beneficiar a ouvida das organizações da sociedade civil de modo a evitar a monopolização pelo Legisla-tivo, como também priorizar o espírito público ao invés dos interesses individuais, exigência de qualquer reforma estruturante, já que é possível identificar vários conflitos de cunho

casuístico em projetos de lei e propostas de Emenda constitucional.

Qual análise que o senhor faz a respei-to da Justiça eleitoral? Os julgados têm sido satisfatórios?

Em face do atual quadro de vulnerabilidade e volubilidade do sistema partidário, do fisiologis-mo que ainda predomina e da urgente necessi-dade de uma reforma política, muitas decisões do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Su-perior Eleitoral têm a marca da utilidade e do complemento, de modo que não surpreende o surgimento das inúmeras críticas à judicializa-ção da reforma política. De fato, a imposição das novas regras de fidelidade partidária, além de criar insegurança jurídica em face da inver-são da jurisprudência com efeito retroativo, in-duz suspeitas gratuitas de parcialidade no Judi-ciário e enseja embates entre os dois Poderes, a bastar o exemplo de ameaça de proposta de emenda constitucional casuística para anistiar os atuais infiéis. Sobretudo, tal injunção tem o condão de colocar a sociedade à margem de uma reforma política que já nasce com a marca da fragmentação e da ilegitimidade. Não pode-mos nos furtar ao comentário acerca da realida-de que cerca muitas disputas eleitorais, sobre-tudo aquelas caracterizadas por exacerbações emocionais que chegam a resvalar dos candi-datos concorrentes para os magistrados, prin-cipalmente os de primeiro grau. Não é exagero dizer que há grande probabilidade de esses jul-gadores serem as maiores vítimas das pressões políticas regionais - ao contrariarem interesses partidários ou de candidatos, muitas vezes pas-sam a padecer de ofensas ou críticas que des-bordam dos limites aceitáveis de urbanidade, ao invés de verem manejados, contra

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suas decisões, os inúmeros recursos disponibi-lizados pela Justiça Eleitoral.

É comum ouvirmos o ditado popular “cada povo tem o governo que merece”. A sociedade tem consciência e preocupação quando da es-colha dos seus governantes?

Nos fundamentos que justificam a prática efetiva da cidadania, o óbvio – a tese de que o poder corrompe – jamais pode ser descurado. Aos exemplos da história, somam-se as dou-trinas, de Maquiavel, Hobbes e La Boétie, até Hannah Arendt e Bobbio. Contra os maus po-líticos ou práticas abusivas do poder, resta ao povo o exercício da cidadania, cuja efetividade demanda ser pautado por consciências livres e perceptivas do seu mundo. Tendemos a achar que a ignorância, a falta de consciência e pre-ocupação quando da escolha dos governantes

reside apenas nas mentes incultas, ile-tradas. Mas, dia a dia, deparamo-nos com pessoas considera-das bem instruídas que desconhecem os fatores políticos, so-ciais e culturais que condicionam a própria realidade. Ou seja, ignorantes políticos pululam a nossa vol-ta. Não admira que o famoso dito de Brecht persiste tão aplicável aos nossos dias: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala nem participa dos acontecimentos políti-cos. Ele não sabe que

o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabe-to político é tão burro, que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.” Assim é que, a manutenção de uma boa coesão social em muito depende do exercício da cidadania nas diversas instâncias públicas, tanto mais válido quanto mais se ampara em procedimen-tos políticos e jurídicos adequados à realidade social que se pretende concretizar. Neste sen-tido, a mola mestra para movimentar e preser-var os valores e as instituições democráticas é a participação mais integrada dos cidadãos no processo eleitoral. Se sua opção é através da “mudança” ou da “comparação”, pouco im-porta, o fundamental é a participação de for-ma reflexiva. Apesar de ser extraordinário o alcance do poder de sufrágio, tal importância é

frequentemente depreciada em razão da viola-ção perpetrada pelas investidas dos maus po-líticos na vontade e na liberdade pessoal dos eleitores. Há que se evitar que o cidadão eleja o escapismo, a opção pelo niilismo, apenas para imaginar distanciamento da classe políti-ca. Pois, não podemos esquecer quem somos nós e qual a cidade na qual desejamos viver. E, se isso nos enche de sentimentos de impo-tência ou revolta, temos que politicamente agir. E só agiremos, votando.

O que falta para revertemos esse cenário político marcado pela corrupção dos governan-tes eleitos e escolhidos pelo próprio povo?

O exercício da cidadania comporta a into-lerância para com diversos comportamentos que deságuam na corrupção. Tal intolerância, que conduz às exigências justas, deve perpas-sar pelas individualidades, pelos discursos e práticas de líderes, pelas instituições e pode-res. Não podemos permitir que o bombardeio contumaz de escândalos iniba nossas ações. Nos idos do século XViii, um senhor marquês que não primava por certas virtudes, o francês Daniel Alphonse François, já advertia que a tolerância é a virtude dos fracos. O Marquês de Sade, caso reencarnado nos tempos atuais, certamente nos teria chamado de pobres ma-soquistas frágeis. Talvez com a concordância de Rui Barbosa, para quem a tolerância só não é esgotável nos idiotas. Muitos pensam que estamos apenas engatinhando na escala, embora de forma crescente, de percepção da corrupção. Percepção apontada pelos estudos como diretamente relacionada à intensifica-ção do seu combate. Mas, algumas medidas contra a corrupção, a exemplo de cassações e prisões me fazem crer que os limites do in-tolerável na esfera política têm sido paulatina-mente fixados.

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Decoração & Estilo

Arquitetura Moderna é Tendência Nos Escritórios de AdvocaciaAs tradicionais estantes abarrotadas livros jurídicos, dividindo o espaço com móveis pesados, normalmente de madeira escura, deixaram de ser uma reali-

dade dos projetos arquitetônicos dos escritórios de advocacia, nos últimos anos. O ambiente austero deu lugar a espaços amplos, iluminados e com decoração contemporânea. A ideia é manter o formalismo que o Direito exige, aliado a uma arquitetura neutra, mas moderna.

Gustavo Seferin, sócio da Seferin Arquitetura, explica que, atualmente, ambientes modernos e claros trazem um aspecto de segurança e confiabilidade para a empresa. Porém, lembra que a boa arquitetura não é respaldada apenas por essas duas características, mas, sim, por ambientes com detalhes bem trabalhados e elementos que dão equilíbrio ao espaço.

“Para um escritório que lida com pessoas em um momento delicado da vida é imprescindível que o projeto contemple espaços funcionais, flexíveis e que respeite o seu fluxo de trabalho. Essas estratégias projetuais trazem melhorias e agilizam as tarefas do escritório”, ressalta o arquiteto.

Esse tipo de lay out é padrão também nos grandes escritórios dos Estados unidos e da Europa, prevalecendo a intercomunicação interna, a ampla visão do espaço e um clima mais corporativo, segundo acrescenta o arquiteto André Piva, que possui um escritório que leva seu nome, no Rio de Janeiro.

Mudando o Visual Para dar início ao projeto arquitetônico

de um escritório de advocacia, Piva explica que precisa ser levado em consideração o tipo de Direito que o escritório trabalha e a estrutura do mesmo, para que se adequem a subdivisão interna dos funcionários e as necessidades físicas de cada setor.

É imprescindível que seja realizada uma longa investigação de todos os elementos que cercam o cotidiano dos profissionais, destaca Seferin. “O responsável pelo projeto deve conhecer por completo toda a rotina de trabalho e procedimentos do seu cliente. O único jeito de obter suces-so nessa tarefa é conversando muito com os funcionários e futuros usuários do novo espaço projetado, sem esquecer que não é o profissional que deverá se adaptar ao espaço e, sim, o contrário. O contratante deve fornecer o máximo de informações com relação ao funcionamento, aos fluxos e ao tipo de serviço prestado”, afirma ele.

Ainda que a linha arquitetônica siga os padrões do cliente, as inspirações para o desenvolvimento dos projetos de escri-tórios de advocacia são diversas e cada arquiteto tem suas preferências, com refe-rências que podem vir das mais diversas áreas da arquitetura. “Cada vez mais apa-recem novos escritórios realizando exce-lentes trabalhos em lugares como a Chi-

Divulgação/Denilson machado, MCA

Ambientes com divisórias leves, móveis modernos e iluminação que permite o gerenciamento de consumo são tendências atuais.

Divulgação/Seferin Arquitetura

na, EuA, Reino unido e Espanha. Dentre esses podemos destacar o trabalho dos arquitetos John Pawson e Gensler, que vem sendo fontes de inspiração para mui-ta gente”, diz Seferin.

Esse modelo vindo das corporações do exterior gera espaços bem iluminados, amplos e uniformes, com destaque para lounges e áreas ViPs para clientes. “Es-tão sendo utilizados materiais mais con-temporâneos, como vidro aço couro, e as salas são montadas com divisórias de vidro e persianas internas, por exemplo”, aponta Piva.

Arquitetura EcológicaSeferin acrescenta que até mesmo a

preocupação com as questões de pre-servação do meio ambiente está come-çando a ditar regras aos elementos de construção. De acordo com ele, surgem opções para a substituição da madeira, como laminados, melamínicos e cerâ-mica. Quanto à iluminação, vem sendo elaborada visando a uma economia ener-gética. “Aumentou-se o uso de lâmpadas fluorescentes e LEDs. O LED, inclusive, vem ocupando um espaço interessante no mercado, porém, seu alto custo ainda im-possibilita que ele seja melhor difundido”, comenta o arquiteto.

Em seu primeiro projeto para um escri-

tório de advocacia, Gustavo Seferin se de-parou com o desafio de elaborar um pro-jeto que contemplasse uma sala exclusiva para cada um dos dois advogados, uma recepção com espera, sala de reuniões, um web space e uma copa.

“Todos esses ambientes deveriam estar funcionalmente resolvidos nos 40 metros quadrados disponíveis. A grande dificul-dade foi criar um espaço que, mesmo com todos esses ambientes, não parecesse segmentado e pouco iluminado. Para re-solver esse problema, utilizou-se divisó-rias leves, baixas, com quadros brancos, vidro e persianas. As divisórias poderiam ser fechadas e as persianas abaixadas de modo a dar privacidade a alguns am-bientes, como a sala de reuniões. Para contrastar com o branco das paredes e das divisórias, e deixar o ambiente mais formal, foram utilizados móveis laminados de madeira escura e a iluminação foi feita, basicamente, por lâmpadas fluorescente, visando a uma economia maior de ener-gia”, explica Seferin.

Tem sido muito comum, no meio jurí-dico, essa preocupação com o visual do escritório. Mais do que um projeto de de-coração, essa é uma forma de melhorar os procedimentos diários e de comunicar os valores do escritório, registrando o posicionamento do mesmo no mercado.

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10 Set/Out 2010 Gazeta do Advogado10

C

Mercado

Extinção do vínculo empregatício não exime preposto preparado

Considerada peça fundamental no processo, seja cível ou trabalhista, a figura do preposto tem sido objeto de debate no meio jurídico. Após a alteração da legislação, no âmbito dos Juizados Especiais, que desobriga o vínculo empregatício da-queles que representam as empresas em juízo, surge a ten-dência da quarteirização dos prepostos vinculados às bancas de advocacia, que, por sua vez, têm contratado pessoas exclu-sivas para serem representantes da empresa em audiências judiciais.

A discussão se volta acerca dos aspectos jurídicos e corpo-rativos, pois os prepostos não precisam, necessariamente, ter conhecimento da lei, mas devem ter noção a respeito da es-trutura da empresa e dos interesses por ela defendidos para estarem, de fato, credenciados para cumprir essa tarefa.

A contratação diferenciada de prepostos ocorre em virtude do excessivo número de ações em face de grandes empresas e conglomerados econômicos, gerando, portanto, processos repe-titivos, formadores do contencioso em larga escala.

“Os escritórios vêm contratando serviços específicos de atu-ação de pessoas para a única e exclusiva finalidade de repre-sentar empresas em juízo. A contratação dessa forma ‘quar-teirizada’ gera segurança no aspecto jurídico, evitando, assim, eventuais ausências de representantes das empresas aciona-das, pois teríamos uma instituição prestando serviços somente para tal objetivo, ou seja, fornecer pessoas capazes de repre-sentar as empresas em juízo”, analisa o advogado Renato Luiz de Vasconcellos, do escritório de advocacia Zveiter.

Advogados afirmam que, independente da quarteirização ou não do corpo de prepostos, o mais importante é que o represen-tante da empresa esteja devidamente preparado e treinado, pois, caso contrário, poderá colocar em risco e prejudicar o seu representante perante a Justiça.

Preposto sem Vínculo

Até pouco tempo, discutia-se a necessidade do vínculo em-pregatício do preposto nas audiências pertinentes aos Juiza-dos Especiais. A edição da Lei 12.137/09 alterou o parágrafo 4º, do artigo 9º, da Lei 9.099, determinando que “o réu, sen-do pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser representado por preposto credenciado, munido de carta de

preposição com poderes para transigir, sem haver necessidade de vínculo empregatício”.

A alteração da redação do dispositivo representou uma revi-ravolta para as empresas, tanto as de grande quanto pequeno porte. Segundo advogados, a imposição legal da necessidade do vínculo empregatício do preposto representava custos eleva-dos para a empresa, pois o empregado precisava deixar o posto de trabalho para comparecer em juízo em qualquer comarca do país. Às vezes, a despesa com os deslocamentos se tornava maior do que a própria causa.

“As empresas sofriam terrivelmente com a imposição da ne-cessidade de comparecimento de preposto com vínculo, pois tinham que ter um grande quadro de empregados capazes de atender tal imposição legal, ou seja, a atividade empresarial, estava seriamente prejudicada por uma exigência meramente formal. A polêmica foi travada no âmbito nos Juizados Especiais Cíveis e, hoje, diante de previsão legal, temos o entendimento consolidado acerca da desnecessidade de comprovação do vín-culo, bastando a apresentação de documento com outorgas de poderes para representar a empresa”, relembra Vasconcellos.

Especialistas comemoraram a mudança da lei e as empresas que têm contencioso de massa considerável passaram a mudar a estratégia para cortar custos e obter economia processual nesse quesito. “Muitas empresas têm contrato profissionais e escritórios de advocacia para realizar audiências, como prepos-tos, justamente pela economia e praticidade que tal providência acarreta”, diz Andrea Vianna, do escritório Luchesi Advogados.

Para a advogada Patrícia Oki Moreira Lima, do escritório Gouvêa Vieira Advogados, a justificativa de tal medida é a de que as empresas têm redução de custos, não só pela ausência do empregado de suas tarefas rotineiras, como também pelas eventuais despesas em qualquer parte do território nacional. “Além disso, as empresas ganharam em qualidade: um prepos-to contratado por um escritório de advocacia é treinado para esta função. Não se trata de um empregado do setor de ‘vendas’ ou ‘informática’, pouco conhecedor do seu papel como preposto, que, por sua vez, pode comprometer a empresa ao falar de mais ou de menos”, afirma.

No entanto, alerta o advogado Renato Vasconcellos, a contra-tação desses profissionais pode comprometer a segurança cor-porativa. “Em tese, são pessoas contratadas tão somente para representação em juízo que às vezes não conhecem a história e estrutura da empresa, tampouco os fatos inerentes ao proces-so. Daí a importância, nessa hipótese, de preparar e qualifi-car os prepostos sem vínculo empregatício, permitindo, assim, uma representação eficaz e segura”.

Vantagem da Quarteirização

Para avaliar se é mais vantajoso ou não quarterizar os pre-postos de uma empresa, é necessário observar o montante do contencioso da empresa, pois uma outra tendência que surge no mercado é a manutenção de um corpo jurídico interno volta-do para atender a este tipo de demanda.

“Nessa análise, devemos considerar os aspectos jurídicos e financeiros. A capacitação dos prepostos e os custos envol-vidos na manutenção desses representantes internamente devem ser avalizados para que seja escolhida a melhor for-ma de atuação”, analisa Catarina Costa, sócia do escritório Dannemann Siemsen.

Assim como na esfera cível, na seara trabalhista a manuten-ção de um corpo de prepostos próprio dentro da empresa pode

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11Set/Out 2010 Gazeta do Advogado 11

representar, também, uma estratégia positiva. De acordo com Patrícia Oki, é válido ter um corpo de empregados para repre-sentar a empresa em juízo, ensinando-lhes a postura necessá-ria para se portar durante uma audiência e, estando, princi-palmente, bem informados sobre toda a matéria discutida no processo judicial.

Independentemente de contratados para tal finalidade ou não, a figura do preposto é de suma importância e não deve apenas atuar como um mero figurante da empresa em juízo. Com poder de outorga, o representante legal tem poderes para firmar acordos em nome da empresa, motivo este que se faz necessário conhecer não só o processo em tramitação, mas, principalmente a empresa por ele representado perante o juiz.

“O que deve prevalecer é a ética e uma conduta de lealdade processual, onde prevaleça o princípio da verdade real e a iso-nomia processual. Adequado seria que o preposto fosse pessoa com vasto conhecimento sobre os procedimentos da empresa, sobre os fatos controvertidos e que tenha poder de decisão, in-dependentemente de ter vínculo empregatício com a empresa, ou não”, recomenda a advogada Andrea Vianna.

na Justiça do Trabalho, vínculo é obrigatório

Ao contrário da esfera cível, o vínculo empregatício do pre-posto, na seara trabalhista, é obrigatório para as grandes em-presas. O Tribunal Superior do Trabalho consolidou esse en-tendimento ao editar a Súmula 377 que estabelece que “exceto

quanto à reclamação de empregado doméstico, ou contra micro ou pequeno empresário, o preposto deve ser necessariamen-te empregado do reclamado Inteligência do artigo 843, pa-rágrafo 1º, da CLT e do artigo 54 da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006”.

Por ser obrigatório o vínculo empregatício, a possibilidade de ‘quarteirização’ de prepostos para representar a empresa em juízo de cunho trabalhista torna-se pouco provável, pois conforme prevê o artigo 843, parágrafo 1º, da CLT, o empre-gador pode ser substituído por sócio, diretor ou gerente pe-rante o juízo o que não faculta a representativa de pessoas não ligadas à empresa.

De acordo com os advogados Maria Cristina Tellechea e Luiz Renato Bueno, do Gouvêa Vieira Advogados Associados, a pre-sença de prepostos comprometidos com a empresa e plenamen-te ciente dos fatos que serão discutidos no processo é indis-pensável. O depoimento de um indivíduo despreparado e mal informado pode comprometer o resultado da audiência, pois, se indagado pelo juiz a respeito de determinada informação acer-ca da empresa, a resposta desconexa, ou até mesmo o silêncio, pode gerar a aplicação da pena de confissão.

“Cabe aos escritórios de advocacia ajudar na preparação, caso a caso, dos prepostos, dando-lhes ciência da contestação que será apresentada, não com o objetivo de pretender que se-jam falseados os fatos para se coadunar com os termos da defe-sa, mas para que o preposto tenha ciência dos termos que serão defendidos pela empresa em juízo”, recomendam.

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12 Set/Out 2010 Gazeta do Advogado12

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PROCON:Em Prol dos Consumidores, De Olho nos Fornecedores

Gazeta - Como o senhor define o papel do Procon, atualmente, e qual é o poder efetivo do órgão na seara do Direito do Consumidor?

José – O papel do Procon é levar ao consumidor informações sobre os direitos que ele, muitas vezes, não sabe que tem. Nossa missão é conscientizar e mostrar a importância de reclamar por um produto ou serviço ruim, exercendo, assim, um direito de cidadão. infelizmente, no Brasil ainda é neces-sário mostrar a importância do exercício desse direito. Assim, ao longo dos anos estamos tra-balhando essa conscientização que, por sua vez, abarca o fornecedor também. Quere-mos chegar ao equilíbrio dessa relação de consumo, pois, desta forma, o consumo será mais racional. O consumidor terá menos prejuízo, pois o fornecedor terá em mente que seu produto ou serviço precisa ser de boa qualidade. Temos, sim, um consumidor mais exigente, principalmente com a globalização, que abre concorrência, fazendo com que as empresas fornecedoras se empenhem para dribla-la.

Ao longo de sua existência, houve mudança no perfil do Procon, principalmente depois que passou a vi-gorar o Código de Prote-ção e Defesa do Consu-midor?

Quando da criação do Procon, houve um impacto significativo na sociedade

As enormes filas que se formam, diariamente, nas unidades do Procon, no Rio de Janeiro, denotam que, ainda que tenhamos consumidores mais exigentes e conscientes de seus direitos, ainda há prestadores de serviços que desrespeitam as regras básicas de consumo. Neste cenário da seara do Direito do Consumidor, sempre buscando o equilíbrio das relações de consumo, o Procon ganha força, a cada ano, sendo-lhe conferida maior credibilidade, por parte dos cidadãos e das empresas.

Criado na década de 80, o Programa Estadual de Orientação e Proteção ao Consumidor pas-sou por mudanças em sua sistemática, tornou-se aliado da celeridade da Justiça, desenvolveu projetos para chegar mais próximo do público e, a cada dia, consegue maior aproximação com os departamentos jurídicos das empresas, buscando a solução do conflito dentro da proposta de conscientização da importância de evitar que uma reclamação vá a juízo.

Para conhecer um pouco mais da atuação e das perspectivas do Procon, no Estado do Rio, a equipe da revista Gazeta do Advogado falou com o subsecretário-adjunto dos Direitos do Consumidor, José Teixeira Fernandes.

Abaixo, veja a entrevista:

Entrevista: subsecretário do Procon-RJ José Teixeira Fernandes

Foto: Gazeta do Advogado

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13Set/Out 2010 Gazeta do Advogado 13

“O papel do Procon é levar ao consumidor informações sobre os direitos que ele, muitas vezes, não sabe que tem”

e os fornecedores ficaram assustados com a nossa atu-ação. Na década de 80, agíamos fortemente em prol dos direitos dos cidadãos, quando aconteceu a criação dos Juizados Especiais Cíveis. Com isso, o Procon passou a ocupar o segundo lugar no ranking do cenário de defesa do consumidor. Passado um tempo, mudou-se de posi-ção de novo, pois o Procon se estruturou melhor, passou a exercer uma atividade mais diuturna junto à defesa do consumidor e se mostrou mais célere, pois o judiciário ficou congestionado. Sendo assim, para se ter uma idéia, 75% das demandas dos JEC´s são de relações de consu-mo. Então, a importância do Procon veio a facilitar o Ju-diciário, pois tirando essa demanda do Juizado, estamos promovendo celeridade à Justiça.

Além da estruturação do órgão, que outras ações foram desenvolvidas para facilitar o atendimento ao consumidor que vai ao Procon/RJ?

Em 2008, encaminhamos ao então Corregedor do Tri-bunal de Justiça do Rio de Janeiro uma proposta de insta-lação de um posto do Procon em cada Fórum do Estado, de modo que as demandas de relações de consumo que chegassem ao Judiciário fossem encaminhadas a este posto. Essa iniciativa foi implementada em Niterói, em um primeiro momento, mas houve um hiato em função da fal-ta de recursos para instalações da estrutura necessária. Posteriormente, criamos o Procon Móvel, quem vem ge-rando um resultado excelente, inclusive com proposta de ampliação do projeto. Diante da percepção de que o con-

sumo tem relação com a violência, pois se educando a relação de consumo, diminui-se a violência, dirigimos

as unidades avançadas para regiões mais carentes, como Rocinha, Preventório, Complexo do Alemão e outros, justamente para levar educação na re-lação de consumo e para mostrar os direitos de cada um. Atualmente, o Procon Móvel faz cer-ca de 40 atendimentos diários.

Em relação ao serviço Expressinho, como surgiu essa iniciativa e quais as perspectivas em relação ao aumento do número de empresas participan-tes?

Começou quando, no Governo pas-sado, pelo então secretário de justi-ça, Sergio Zveiter, houve a criação do Expressinho. Quando assumi a função no órgão, dei continuida-de e venho ampliando-o, passo a passo. O serviço é bom, pois agi-liza as demandas e, em função da atuação do Procon, sempre punindo com rigor, os fornece-dores não querem ficar no topo

do ranking das empresas mais reclamadas, até mesmo porque muitos consumidores consultam essa relação de empre-sas antes de contratar um serviço ou comprar um produto. No Expressinho,

cerca de 90% das demandas do consumidor são resolvidas. Várias empresas solicitam alo-car representantes no Procon, mas não temos espaço físico para atendê-las. Hoje, temos seis empresas filiadas.

É notório o ranking das empresas mais reclamadas no Procon. Como o senhor avalia essas incidências e como veem o futuro da con-ciliação nesse sentido?

Quando não tínhamos eficiência na seara da defesa do consumidor, as empresas, muitas vezes, não se preocu-pavam com a qualidade do produto ou serviço ofertado. Éramos cercados por maus prestadores. Com a criação dos órgãos de defesa do consumidor, essa postura mu-dou e, ainda que muitas pratiquem atos lesivos, há uma diminuição nessa incidência. Ainda não conseguimos educar por completo essa relação, mas continuamos punindo com seriedade e rigor, pois queremos chegar a níveis aceitáveis de reclamações. Neste ponto que a con-ciliação é fundamental, pois vislumbra-se que, futuramen-te, o Judiciário não poderá arcar com toda demanda. Em um mundo desenvolvido, a conciliação se faz presente em todos os casos e precisamos disso aqui no Brasil tam-bém. No Procon, o índice de conciliação chega a 85%.

Diante das novas leis que surgem, como a que exigiu a portabilidade numéricas às operadoras de telefonia e a dos SAC´s, o Procon/RJ desenvolve projetos, junto as empresas, para esclarecimento e conscientização?

um discurso que sempre surge, quando da vigência de uma nova lei, é “será que vai pegar?”. Só que é preciso estar ciente de que lei existe pra ser cumprida e não para “pegar” ou não. E essa consciência nós promovemos para as empresas e também para o consumidor. Daí nos-sa fiscalização diuturna para que essas leis consumeris-tas sejam cumpridas. Fiscalização esta que acontece em parceria direta com o consumidor, diante da denúncias feitas pro eles, para que possamos instruir um processo administrativo.

Sabemos que está havendo maior aproximação do Procon com os departamentos jurídicos das empre-sas. De que forma se dá essa relação? Há o desenvol-vimento de projetos em parceria?

Ao longo dos anos, essa aproximação vem tomando fôlego, pois os departamentos jurídicos, principalmente de empresas de grande porte, estão percebendo a credi-bilidade do Procon. Antes, não acreditavam na eficiência, no rigor e na transparência da atuação do órgão. Aliás, ressalto que não apenas o Procon, mas os processos administrativos nesse país não tinham credibilidade de processo judicial. Ou seja, as empresas eram acionadas

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14 Set/Out 2010 Gazeta do Advogado14

administrativamente e judicialmente, pelo mesmo erro, e não davam a devida importância. isso acontecia, por-que os processos administrativos eram “viciados”, então, achava-se uma brecha para defender o cliente e cance-la-los. Quando multávamos, as multas eram questiona-das com mandato de segurança. Com isso, mudamos a sistemática e melhoramos a elaboração dos processos

administrativos. A partir daí, os departamentos jurídicos passaram a ser preocupar e estreitar o relacionamento com o Procon. É importante deixar claro que não atua-mos apenas pra punir, queremos equilibrar as relações de consumo, mas não vamos deixar de aplicar as san-ções. Ainda temos problemas com os departamentos jurídicos, mormente de grandes empresas, pois as pe-quenas tentam solucionar imediatamente as demandas. As de grande porte ainda estão arredias, não atendendo aos reclames do consumidor e sem dar credibilidade ao processo administrativo instaurado.

Quais as perspectivas para o Procon/RJ ?O Governo do Estado propôs um Projeto de Lei para

transformar o Procon em uma autarquia, para garantir nossa autonomia técnica, administrativa e financeira, o qual foi aprovado em maio deste ano. Hoje, tudo que ar-recadamos vai para o caixa único do Governo e, então, a partir de 2011, passaremos a ter essa autonomia. Com o projeto aprovado, teremos cargos com salário melho-res e conseguiremos investir em estrutura e em pessoal, melhorando o atendimento ao cidadão. Teremos funcio-nários mais especializados e daremos abertura a todos que quiserem participar do Procon, por meio de con-curso. Essa determinação vai democratizar o órgão e a população ganhará na amplitude do Procon e na maior eficiência. Em 2011, o Rio terá o Procon que merece, atuante, confiante e muito melhor em qualidade. impor-tante lembrar que há expectativa de instalação de mais unidades do Procon no Estado, assim como a ampliação do Procon Móvel.

Total de 1º atendimento ................................. 53.787 Total de retornos e audiências ....................... 47.363 Total de acessos ao SiNDEC ......................... 101.150

Fonte: SiNDEC - Procon/RJ

Encaminhamento para o Judiciário ................ 1.581 Audiências ...................................................... 475 Acordos .......................................................... 3.270

RESuLTADO ANuAL DOS ATENDiMENTOS DE TODOS OS POSTOS DO ÓRGÃO, EM 2009:

EXPRESSiNHO 2009:

Veja os números do PROCON:

“Ainda temos problemas com os departamentos jurídicos, mormente de grandes empresas, pois as pequenas tentam solucionar imediatamente as demandas”

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15Set/Out 2010 Gazeta do Advogado 15

Ex-Libris

Com o intuito de defender as múl-tiplas dimensões dos Recursos

Bioculturais imateriais (RBis) e promover desenvolvimento sustentável,obra identifi-ca os pontos fracos e fortes das principais propostas de regimes internacionais em construção assentadas sobre direitos de prioridade, direitos de quase-priori-dade e regras de responsabilidade.

Não há dúvida que em nosso país a carga tributária é muito alta, porém

poucos entendem seu real motivo. Este tema é explanado amplamente e apon-ta alguns motivos para esta alta carga tributaria, tal como a existência de inú-meros tributos, e o processo de recolhi-mento moroso e burocrático, o que gera mais gastos para as pessoas físicas e ju-rídicas e acarreta maiores gastos “líquidos” e “brutos”.

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Tutela Jurídica dos recursos da Biodiversidade, dos Conhecimentos Tradicionais do folclore

o país dos impostos

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Guia da aprovação

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16 Set/Out 2010 Gazeta do Advogado16

“O conciliador tem que saber ouvir, ter serenidade, ser ponderado, ter bom senso e procurar fazer propostas conciliatórias coerentes” (Paulo Jangutta)

advogado Conciliador: Peça Fundamental para o Quebra-Cabeça da Celeridade Processual

PPara ser um advogado conciliador, o profissional precisa ser formado em Di-reito, ter amplo conhecimento da área de Processo Civil, conhecer os limites da ne-gociação e estar atento às explanações das partes, para conseguir que estas che-guem a um acordo. Com esta afirmação, a conciliadora da 2ª Vara Cível do Fórum do Méier, no Rio de Janeiro, Eliane de Vasconcellos, simplifica o perfil daquele que é a terceira pessoa em um proces-so, com uma função bastante relevante: contribuir para a rapidez e eficiência da Justiça brasileira.

A função do advogado conciliador surgiu fortemente sete anos após a promulgação da Constituição Federal, quando entrou em vigência a Lei Federal 9.099/1995, dispondo sobre os Juizados Cíveis e Cri-minais nos Estados. Com eles, o objetivo da conciliação se fez fundamental na bus-ca pelo consenso das partes.

O juiz titular do 7º Juizado Especial Cí-vel do Tribunal de Justiça do Estado do Rio, Paulo Roberto Sampaio Jangutta, ressalta que o envolvimento do advogado conciliador com o processo é imparcial, mas não a ponto de propor uma solução injusta, ou seja, essa equidistância não pode permitir conivência com um acordo que prejudique uma das partes.

“O conciliador tem que saber ouvir, ter serenidade, ser ponderado, ter bom senso e procurar fazer propostas conciliatórias coerentes, sem querer jul-gar a ação. Por isso é importante que este profissional tenha experiência de vida e saber jurídico”, destaca Jangutta, corrobo-rando sua importância nos Juizados, uma vez que, conseguindo a conciliação entre as partes, abrevia o tempo do processo.

O advogado conciliador, para exercer a função, precisa ser submetido a um curso de qualificação, conforme ex-plica Jangutta. O juiz diz que é preciso ter formação profissional teórica, a qual lhe dará uma base para lidar com os conflitos jurídicos e, assim, atuar profissionalmen-te na condução das partes.

Histórias de ConciliadoresApesar de ser uma profissão não re-

munerada, o prazer em lidar com as pes-soas, com uma diversidade de casos e contribuir para o melhor andamento da Justiça são fatores que atraem os bacha-réis em Direito para a função. É o caso de Otília Hubner, que, há quatro anos, atua como advogada conciliadora do 7º JEC, no Rio. Aposentada, quis estar próxima do dia a dia das audiências.

“Sempre temos o que aprender com o relacionamento humano e, nos juizados, temos essa oportunidade. São muitas as vantagens de se atuar como concilia-dor. Aqui, contribuímos para o Judiciário e para a credibilidade do órgão, pois as partes ficam mais confiantes por esta-rem sendo assistidas, ainda que estejam acompanhadas de seus advogados. So-mos a porta de entrada do processo”, evi-dencia Otília.

Para Wagner Cunha de Oliveira, ser um advogado conciliador significou a retoma-da de sua carreira, após se afastar do Direito, por problemas pessoais. “Adqui-rimos muita experiência nessa função. É importante termos acesso aos processos, o que a conciliação nos permite. Temos contato com causas mais demandadas, com diversos tipos de lides, o que nos prepara para tratar das situações deman-dadas. Dirimir o conflito é muito gratifican-te, principalmente quando fechamos um acordo. É um aprendizado diário e muito enriquecedor”, diz ele.

Nesta linha de aprendizado, inaê Estre-la Ribeiro Pinheiro buscou a conciliação para conhecer o cotidiano do Judiciário e visualizar, na prática, a matéria Processo Civil, quando ainda cursava o quinto perí-odo da faculdade. Quando abriu oportu-nidade no Juizado para participar como expectadora das audiências, aceitou na hora o convite. “Foi imprescindível essa vivência, até mesmo para melhoria das minhas notas. Felizmente, fui convidada a ser conciliadora, fiz o curso necessário,

em 2007, e, desde então, estou no 7º Jui-zado do Tribunal. Sempre apreciei essa nova fórmula de diálogo na Justiça”, con-ta inaê.

O papel do advogado conciliador in-discutivelmente deve ganhar relevância, principalmente quando se trata da cons-cientização das partes sobre as vanta-gens de se chegar a um acordo. Eliane de Vasconcellos lamenta que muitos ain-da sejam resistentes a este consenso. “Faço uma média de dez audiência diá-rias e consigo cerca de quatro acordos”, salienta a advogada.

Especial

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17Set/Out 2010 Gazeta do Advogado 17

Quem é o Profissional Mediador?

MEDIAÇÃO X CONCILIAÇÃOApesar de terem, igualmente, o objetivo final de propiciar a negociação entre as partes, a conciliação e a media-

ção possuem dinâmicas pautadas em técnicas próprias de comunicação e de tentativa de resolução do conflito. A presidente da Comissão de Mediação de Conflitos da OAB-RJ, Samantha Pelajo, explica que a mediação devolve, às pessoas envolvidas na situação controvertida, a liberdade, a responsabilidade e a dignidade de, em igualdade de condições com o outro, resolver seus próprios conflitos de interesses. Ela diz que, em virtude de a mediação ser um instrumento pautado pela não-adversariedade, tem o condão de propiciar a redução do desgaste emocional normal-mente experimentado pelas partes em um processo judicial de natureza litigiosa.

Abaixo, ela aponta as principais diferenças entre as duas formas de ato processual:

De acordo com Samantha Pelajo, o mediador pode ter qualquer formação, mas precisa passar por um curso de capacitação, teórico e prático, sobre técnicas de comuni-cação e negociação. Os interessados em exercer a função devem procurar os cursos ministrados em instituições privadas especializadas, em diversas universidades e

na própria OAB, nas seccionais que possuem a comis-são de mediação e conflitos.

A advogada explica que esta não é uma profissão re-gulamentada, mas que é lícita, uma vez que o mediador não decide a questão, nem sugere alternativas. Sua in-tervenção tem o objetivo de facilitar o processo de diá-logo e de entendimento entre as partes de um processo.

Na mediação, as posições rígidas das partes são redefinidas em termos de interesses. Interesses são passíveis de harmonização, complementação ou, mesmo, negociação; posições, não.

Na mediação, as partes são convidadas para uma postura colaborativa, ou seja, a proposta é de que se pense alternativas que possam proporcionar um contexto de satisfação mútua.

Na mediação, todos os aspectos do conflito - legais, econômicos, sociais, culturais, emocionais - serão considerados de forma sistêmica.

Na mediação, são as próprias partes que, estimuladas pelo mediador, identificam uma multiplicidade de alternativas, exploram os custos e benefícios de cada uma delas e escolhem a solução.

Na mediação, a visão é prospectiva. A visita ao passado só tem o condão de identificar o quê funcionou.

Na mediação, os advogados assessoram e as partes negociam.

Na conciliação, cada uma das partes cede um pouco, para se alcançar um meio termo.

Na conciliação, a postura se mantém adversarial, na qual cada uma das partes está focada apenas em seus próprios interesses

Na conciliação, atém-se ao marco legal.

Na conciliação, o conciliador pode sugerir alternativas de solução do conflito.

Na conciliação, a visão é retributiva. O acordo será determinado pelo que ocorreu no passado.

Na conciliação, os advogados se mantêm como representantes de seus clientes.

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18 Set/Out 2010 Gazeta do Advogado

OEXCLusÃo JudiCiaL E EXTraJudiCaL dE sÓCio nas LimiTadas Por JusTa Causa

O tema da exclusão de sócio sempre gera discussões, tanto técnicas quanto apaixonadas, em virtude das circunstân-cias em que se desenvolve. O Código Ci-vil, principal elemento do marco regula-tório das sociedades limitadas não é, por sua vez, de grande ajuda.

Em primeiro lugar, examinaremos o art. 1085 da citada lei, que prevê a cha-mada exclusão extrajudicial do sócio, ou seja, aquela que não necessita, para ser levada a cabo, de assentimento do Poder Judiciário (o que, por óbvio não exclui a apreciação por este Poder acaso provoca-do). Logo de início podemos perceber que somente a minoria pode ser extrajudicial-mente excluída por justa causa, já que o art. 1085, mencionado, está incluído na Seção VII, cujo título é Da Resolução da Sociedade em Relação a Sócios Minori-tários. O preceito ainda determina que para que tal ocorra, deve haver cláusula autorizativa expressa no contrato social, devendo ainda ser obedecida a ampla de-fesa para o sócio acusado.

Por outro lado, tratando da exclusão judicial (ou seja, operada apenas com o assentimento do referido Poder) em loca-lização legal completamente diversa, na Seção V assim epigrafada Da Resolução da Sociedade em Relação a um Sócio, está o art. 1030 do Código que estatui que o sócio pode ser excluído judicialmen-te, mediante a iniciativa dos demais só-cios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações.

Passamos então a traçar o compara-tivo. Em primeiro plano, como já obser-

vada, são diversas as seções em que in-cluídos os preceitos citados. A Seção VII – exclusão extrajudicial – trata da reso-lução em relação a sócios minoritários, enquanto a Seção V – exclusão judicial – trata da resolução em relação a um sócio.

Neste passo, o que quer parecer é que enquanto na exclusão extrajudicial so-mente os detentores da minoria do capi-tal social podem ser excluídos, na exclu-são judicial, também o majoritário poderá sê-lo. Isto parece ser confirmado pela re-dação do art. 1030, ao falar em iniciativa da maioria dos demais sócios, o que quer dizer que na deliberação assemblear (que forçosamente deverá ocorrer para que tal seja decidido), o sócio majoritário acusa-do não terá seu voto contabilizado, ha-vendo uma recontagem de votos de modo a que o restante dos sócios, naquela oca-sião, sejam contabilizados como se deten-tores fossem de todo o capital social. E da votação é que se verá então a maioria dos demais sócios. Cremos que esta interpre-tação é preferível àquela segundo a qual, nesta ocasião, a contagem será por ca-beça (por sócio) e não por capital social. Enfim, na hipótese de exclusão judicial, o majoritário poderá ser excluído.

Outro aspecto que chama atenção é o de que, enquanto no art. 1085 (exclusão extrajudicial), a conduta do sócio acusado deve ser de forma a por em risco a conti-nuidade da empresa, em virtude de atos de inegável gravidade. Já pela normati-vidade do art. 1030 (exclusão judicial), a conduta considerada é a de falta grave no cumprimento de suas obrigações.

A mera leitura comparativa denuncia as distinções e, acaso tomados os dispo-sitivos ao pé da letra, a impressão que se tem é que a exclusão extrajudicial poderá se dar inclusive por atos praticados pelo sócio ainda que fora do exercício de suas funções de sócio, enquanto que a exclu-são judicial somente pode ter por causa de pedir a falta grave no cumprimento de suas obrigações.

O que nos parece, com as devidas vê-nias de entendimentos divergentes, é que aqui o intérprete deve se utilizar de uma interpretação sistemática de forma a usar ambos os dispositivos em uma elu-cidação dialética conjunta, ao ponto de quase que igualar as situações. Em ou-tras palavras, pode-se interpretar a falta grave do art. 1030 com a conduta de pra-ticar atos de inegável gravidade.

Quanto à limitação (existente no art. 1030, mas não no art. 1085) da prática ter que ocorrer no cumprimento de suas obrigações, deve-se lembrar que isso não significa necessariamente no exercício de suas funções de sócio, uma vez que o sócio deve comportar-se em sociedade de forma a não macular a imagem da socie-dade a que pertence. E, assim, deve tal proceder desavisado, a depender das cir-cunstâncias, valer como causa para am-bas as situações.Társis Nametala Sarlo JorgeProcurador Federal da AGuDoutorando em Direito pela uERJProfessor/Coordenador do LLM em Direito do ibmec/RJ

Viviane Matos González PerezProcuradora do Município de São Gonçalo – RJMestre em DireitoSócia de MGB A. Ass.

Opinião

Page 19: Gazeta do Advogado

19Set/Out 2010 Gazeta do Advogado

De Bem com a Vida e Com a RotinaTrabalhando Déficit Físicos e MentaisMetologia utilizada em empresas,

a terapia ocupacional tem ganha-do espaço no mercado. Dinâmicas de grupo têm sido promovidas, a fim de evitar conflitos interpessoais, absenteísmo por lesões por esfor-ços repetitivos e distúrbios osteo-musculares relacionados ao trabalho (LER/DORT) e estresse.

Os terapeutas ocupacionais traba-lham com déficits físicos, mentais e sociais por meio de atividades espe-cíficas que visam a ajudar no alcance do nível máximo de funcionalidade e independência de cada um.

De acordo com a especialista Érika Nobre, a terapia ocupacional utiliza técnicas que promovem relaxamento e catarse emocional. Entre as téc-nicas utilizadas estão a arteterapia, musicoterapia, massoterapia e me-ditação. Os atendimentos podem ser feitos individualmente ou em grupo, levando em consideração a neces-sidade singular da pessoa, visando, principalmente, à minimização dos efeitos provocados pelo estresse como meio para prevenir patologias psicossomáticas.

Érika ressalta que a terapia ocupa-cional é um recurso a mais para en-

Prazos para cumprir, audiências para par-ticipar, julgamentos para sustentar e clientes para atender. Para quem se encaixa neste rol de atividades diárias, sabe o quanto é estressante e corrida a rotina na vida de um advogado. Em contrapartida, o mundo mo-derno oferece instrumentos que podem auxi-liar aqueles que tentam equilibrar a máquina humana, não só do aspecto físico, mas prin-cipalmente mental. Cuidar da saúde é es-sencial, mas também é preciso dar atenção especial ao tratamento psíquico do indivíduo. Desta forma, cresce, cada vez mais, a busca por terapias alternativas, como shiatsu, mas-soterapia, acupuntura e terapia ocupacional.

As terapias não servem apenas como tra-tamento para o corpo, que já sente os refle-xos de uma vida agitada e descontrolada do ponto de vista rotineiro. Elas são considera-das como métodos preventivos de eventuais doenças decorrentes do sedentarismo, da má alimentação, do estresse e dos distúrbios físicos e mentais.

De acordo com a fisioterapeuta Elizabeth Tozatto, profissionais que têm uma vida mo-vimentada nem sempre mantêm uma alimen-tação saudável, assim como não praticam atividades físicas para manter o equilíbrio.

“As terapias permitem não só o reequilíbrio emocional, mas também fisiológico. São res-ponsáveis pela promoção do relaxamento do corpo e da mente, ajudam na postura, circu-lação sanguínea, concentração e, de outras maneiras, melhora o bem estar do indivíduo. isso sem contar com o fortalecimento do sis-tema imunológico, que é peça fundamental para prevenir doenças”, afirma.

grandecer o trabalho de uma empresa que vê seu colaborador como um ser humano, e não como uma máquina. Esta metodologia busca a valorização do profissional, tendo como objetivo identificar e minimizar fatores que pos-sam diminuir a qualidade de vida dos colaboradores e, consequentemente, a sua produtividade na empresa.

“Todos nós precisamos ter momen-tos de cuidados. Estar atento à saúde física, psíquica e emocional é impres-cindível para termos boas decisões e resoluções, tornando-nos mais fun-cionais. Por isso precisamos do pro-fissional terapeuta ocupacional nos ajudando a reorganizar nossa rotina cotidiana e nos auxiliando com técni-cas preventivas ou reabilitadores nes-te processo”, diz Érika, que tem como público empresas e advogados.

Exemplo a Ser SeguidoConsciente da necessidade de ter

uma vida saudável como garantia de bem estar, o advogado Fernado Al-bino, do escritório Abino Advogados Associados, é favorável a métodos alternativos para equilibrar o corpo e a mente. Além disso, afirma, é um erro achar que a alimentação e bebida ser-vem como compensação ao estresse.

“A solução é um programa alimen-tar e exercícios regulares. Com isso, compensa-se corpo e mente. Seria ótimo que a prática de hábitos saudá-veis se difundisse, cada vez mais, em vem do culto ao trabalho noturno e à boemia”, ressalta, acrescentando que faz atividades físicas com frequência.

A preocupação com o bem estar se estende àqueles que trabalham no escritório. Como incentivo, a banca oferece apoio financeiro para quem faz academia regularmente, além de um programa preventivo, como check up anual e palestras sobre nutrição e saúde.

Saiba mais

Terapia ocupacional - Caracterizada pelo tratamento por meio de atividades, sendo aplicadas de maneira direta ou indireta, física ou mental, ativa ou passiva, preventiva, corretiva ou adaptativa. Estão relacionadas às necessidades terapêuti-cas, pessoais, sociais e culturais, refletindo os fatores ambientais que influenciam a vida do indivíduo. Técnicas utilizadas: arteterapia, musicoterapia, massoterapia, meditação e psicodrama, podendo ser aplicada individualmente ou em grupo.

Shiatsu - Técnica japonesa adotada para massagear pontos específicos do corpo, seguindo o trajeto dos meridianos que são responsáveis pela harmonia e equilíbrio da energia do corpo humano.

Massagem terapêutica – Destinada a ativar os sistemas circulatórios, muscu-lares e nervosos, contribuindo para a redução de dores musculares e espasmos. Seu efeito é tranquilizante, o que favorece o bem estar emocional do indivíduo.

Acupuntura – Tratamento milenar feito com a inserção de agulhas em regiões específicas do corpo, visando ao equilíbrio do organismo. É indicado para pesso-as que sofrem de estresse, ansiedade, depressão, entre outros sintomas provoca-dos pelo desequilíbrio de energia do corpo humano.

Saúde & Bem Estar

Page 20: Gazeta do Advogado

20 Set/Out 2010 Gazeta do Advogado

“A falta de interesse na advocacia é

preocupante, assim como o

fato do ingresso na carreira

pública sem a vivência forense

necessária”

A

aonde Estão os (Bons) Estagiários?

Anualmente, centenas de bacharéis em Direito saem das faculdades para encarar o mercado de trabalho. Natu-ralmente, a tendência seria o ingresso na advocacia, logo após a aprovação no Exame de Ordem. Mas boa parte dos formandos encara cinco anos de graduação não para seguir carreira como advogado, mas, sim, para prestar concurso público. E a mudança do per-fil dos futuros profissionais do Direito é sentida pelos es-critórios, que são pilares na formação dos advogados e um dos principais investidores na carreira jurídica privada.

De acordo com o conselheiro federal da Ordem dos Ad-vogados do Brasil, Marcelo

A cultura do concurso público vem dificultando a efetivação de profissionais nos escritórios de advocacia

Cintra Zarif, a falta de inte-resse na advocacia é preocu-pante, assim como o fato do ingresso na carreira pública sem a vivência forense neces-sária para o desempenho de cargos de destaque, como os de juiz, defensores e membros do Ministério Público.

Segundo afirma, o cresci-mento do número de facul-dade de Direito, com o conse-quente aumento do número de advogados no mercado e a massificação dos processos judiciais provocaram uma mudança no perfil dos pró-prios estudantes. “Hoje, eles buscam muito mais sua reali-zação em concursos públicos. Assim, procuram cumprir o estágio da forma rápida e pos-sível, adequando-o ao estudo para as provas”, analisa.

Na avaliação da advoga-da Maria Pia Bastos-Tigre Buchheim, sócia do escritó-rio Bastos-Tigre, Coelho da Rocha e Lopes Advogados, bancas que investem em es-tagiários como futuros inte-grantes dos seus quadros têm encontrado dificuldade para efetivá-los, não só por con-ta da limitação imposta pela Lei do Estágio, como também porque boa parte almeja car-reira pública após a conclusão da graduação.

Motivar estagiários nas ta-refas inerentes à advocacia é um dos principais desafios das bancas que investem na “prata da casa”. Advogados afirmam que a dificuldade não consiste na contratação de estudantes, mas sim na efetivação dos futuros profis-sionais.

“O que se verifica é a baixa qualidade do ensino, em gran-de parcela das faculdades, gerando estagiários despre-parados e sem qualquer base acadêmica. Além disso, não sei se a falta de interesse em seguir a advocacia se verifica.

O que me parece é que muitos egressos dos bancos das fa-culdades não reúnem as mí-nimas condições para exercer a advocacia, o que, de certa maneira, é comprovado pelos altos índices de reprovação nos exames da OAB”, afirma Daniel Gustavo Magnane Sanfins, sócio do escritório Duarte Garcia, Caselli Gui-marães e Terra Advogados.

Na avaliação da diretora de desenvolvimento humano e organizacional do escritório Tozzini Freire Advogados As-sociados, Cláudia Meirelles, a contratação não é difícil, o que tem sido complicado é o acom-panhamento dos graduandos, apresentando-lhes uma visão ampliada da carreira e fazen-do com que entendam as eta-pas da formação e os benefí-cios que os esperam.

“O desafio não é encontrar estudantes com foco em car-reira, mas sim estagiários dispostos a passar por todo o desenvolvimento necessário, em contraposição à ideia de ‘carreira relâmpago’ que eles têm em mente. A opção pela carreira pública talvez seja uma tendência nacional para diversas áreas. Isso gera, para as empresas, a neces-sidade de se aproximar cada vez mais dos estudantes, pro-porcionando um conhecimen-to maior para estes jovens sobre o trabalho no setor pri-vado. Isso faz com que seja despertado o interesse para que sigam carreira nos gran-des escritórios, por exemplo”, ressalta Cláudia.

Novo Perfil do BacharelAdvogados renomados afir-

mam que a nova geração de estagiários apresenta perfil diferenciado de gerações an-teriores. Atualmente, estu-dantes têm mais naturalida-de e fluência com relação aos avanços tecnológicos. Na ava-

liação de José Carlos Wahle, sócio do escritório Veirano Advogados Associados, os fu-turos profissionais têm uma ansiedade por resultados, são impacientes e estão acostu-mados a lidar com variedade e quantidade de informação.

“Também é uma geração mais curiosa por experiência em diferentes áreas jurídicas. Paradoxalmente, ou não, é mais propensa à especializa-ção. O resultado é uma classe de advogados que mais preco-cemente se aprofunda em es-tudos de especialização, ten-do como desafio a armadilha de não conhecer o suficiente sobre outras áreas do Direi-to”, diz Wahle.

A ansiedade por resultados imediatos é observada por ad-vogados mais experientes. Se-gundo Daniel Sanfins, os no-vos estagiários, de uma forma geral, têm mais “pressa” e de-sejam realizar tarefas para as quais não estão preparados, rejeitando trabalhos que são essenciais para sua formação, como, por exemplo, o acom-panhamento de processos em fóruns e tarefas burocráticas muito próprias da advocacia.

“Em regra, por conta do uso cotidiano da internet, não têm o hábito da leitura e de pesquisas em biblioteca, optando por utilizar as facili-dades da informática para ob-tenção de informações. Esse viés é muito prejudicial à for-mação dos estudantes, uma vez que, a despeito de todos os benefícios da ferramenta cibernética, ela é apenas um dos vários instrumentos que devem ser utilizados para o bom desempenho da advoca-cia. Nada substitui o livro e a internet deixou nossas gera-ções um pouco preguiçosas”, observa Sanfins.

Maria Pia comunga da mesma ideia. A advogada denomina a nova geração de

Carreira

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21Set/Out 2010 Gazeta do Advogado

‘Estagiários 2.0’, pois são me-nos comprometidos com as or-ganizações, mas preocupados com a remuneração e com o desenvolvimento da carreira. “A vida é muito voltada para a área tecnológica, o que, às ve-zes, compromete a qualidade da redação e da comunicação de uma forma geral”, analisa.

Cursando o 7º período da faculdade de Direito, o es-tudante Anderson Carvalho observa que a maioria dos colegas de turma está voltada para o concurso público. Ele é um dos poucos que investi-rá na advocacia, pois quando entrou para o curso, mesmo sem ter obtido informações a respeito dos vastos campos que o Direito proporciona, se identificou com a carrei-ra e, por isso, dedica-se à carreira privada.

“Hoje em dia, a faculdade não oferece nenhum dire-cionamento nesse sentido. A maioria não tem ideia de como funciona a advocacia e somente no final do curso é que o aluno começa a ter no-ção do que é a carreira, pois precisa cumprir a carga horá-ria de estágio para se formar. Mas pode ser tarde demais, pois o futuro profissional não pode ter apenas um perfil téc-nico. É preciso ter uma visão mais ampla, porque grandes escritórios são verdadeiras empresas. Assim como a fa-culdade, a própria Ordem dos Advogados do Brasil poderia incentivar os que estão co-meçando a ser mais atuante e criar uma rede de relacio-namento para aproximá-los, dando-lhes uma visão do que a carreira representa”,

diz Carvalho.O conselheiro federal da

OAB Marcelo Cintra Zarif admite que é preciso um tra-balho de melhor divulgação nas faculdades, mas, prin-cipalmente, para corrigir as distorções decorrentes do ex-cesso de faculdades e da mas-sificação da advocacia. “Acre-dito que seja uma missão dos conselhos seccionais estarem mais próximos dessa realida-de. Mas, certamente, compete à OAB atuar no sentido de fazer com que essas diretrizes sejam observadas”, afirma.

Para especialistas, a advo-cacia privada é muito instá-vel, pois o profissional, que é liberal, na maioria dos ca-sos, depende do sucesso das ações que patrocina para ser remunerado. “Cabe à OAB monitorar esta tendên-

cia e propor alternativas”, sugere Maria Pia.

Ainda assim, na avaliação do advogado José Carlos Wah-le, a advocacia é uma carreira promissora. “Creio que a pro-fissão vem consistentemente ampliando seu papel perante os clientes, saindo do perfil de assessoria simplesmente jurídica para assessoria de negócios, em um sentido mais amplo, com conhecimento ju-rídico. Para aqueles que já optaram pela advocacia, digo que as mudanças significam tanto oportunidades, quanto desafios. Em geral, as praças com maiores oportunidades também são as com competi-ção mais acirrada. Daí, só há um caminho para progredir: o da excelência. Para trilhá-lo, é preciso talento, perseveran-ça e trabalho duro”.

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22 Set/Out 2010 Gazeta do Advogado22

HHá alguns meses atrás, a imprensa vei-culou um inusitado caso que corria na justi-ça dos Estados unidos, em que um cliente, dizendo-se vítima de mau atendimento, pedia contra o Bank of America uma monstruosa indenização de uS$ 1,784 septilhão. Ain-da hoje, é possível encontrar referências ao

processo na internet.Na época, para ilustrar o absurdo envol-

vido, afirmou-se na reportagem que “seria preciso juntar a economia de 21 bilhões de planetas Terra para chegar a essa cifra”. O que ninguém sabia – e agora revelamos com exclusividade aos nossos leitores – é que nin-guém precisava ir até os Estados unidos para se deparar com este tipo de pérola…

Em fevereiro de 2007, uma curiosíssima Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental foi protocolada no Supremo Tri-bunal Federal. Conhecida pela sigla ADPF, este tipo de ação consiste em uma medida judicial que tem por objetivo verificar a com-patibilidade de atos do Poder Público com al-gumas normas da Constituição, consideradas “preceitos fundamentais”.

Bom, ninguém precisa saber o que é uma ADPF, mas o que importa é que esse tipo de ação não serve para pedir indenizações. Só esqueceram de avisar isto para o protagonis-ta desta pérola…

um advogado atuando em causa própria, como não podia deixar de ser, apresentou no Supremo Tribunal Federal uma inacredi-tável ADPF. O pedido formulado ao final da ação é estarrecedor: o advogado pretende receber dos réus (união Federal e um juiz federal) uma “irrisória” indenização de uns…

R$ 11.111.777.999.777.555.999.111.333.777.999.333.556,22. Sim, é sério. É isso mesmo que vocês leram…

isso mostra que a indenização de 1 septilhão pedida pelo americano não passa de uma mixaria e que a imprensa estava exagerando em dizer que era um valor absurdo, não acham? Ou mostra que o absurdo não tem limites.

Agora, sério: alguém consegue escrever isso por extenso? Alguém se arrisca? Não? Onze onzilhões, cento e onze dezilhões, setecentos e setenta e sete nonilhões, novecentos e noventa e oito oitilhões, setecentose setenta e sete setilhões, quinhentos e cinquenta e cinco sextilões, novecentos e noventa e nove quinquilhões, cento e onze quatrilhões, trezentos e trinta e três trilhões, setecentos e setenta e sete bilhões, novecentos e noventa e nove milhões, trezentos e trinta e três mil, quinhentos e cinquenta e seis reais

e vinte e dois centavos!!! Para piorar, o advogado não apenas pediu 11 onzilhões de reais, como também o arbitramento de honorários de 20% sobre esse valor. Certamente, seriam os maiores honorários da galáxia.

A essa altura, todos devem estar se perguntando qual o funda-mento para uma indenização dessas. Bom, não é uma das tarefas mais fáceis de saber.

Após ter a coragem de ler as 32 páginas dessa petição, che-guei à conclusão de que o fundamento, resumindo a história, é que

o advogado afirma ter sido indevidamente barrado por um detector de metais na Justiça Federal de São Paulo. É isso mesmo: ele está extorquindo, delirando, PEDINDO 11 onzilhões de reais porque foi barrado num detector de metais !!!

Sintam-se à vontade para ler toda a ação na página do Supremo Tribunal Federal. Se alguém tiver um palpite sobre a origem desse

valor aleatório, eu agradeço.E que fim esse processo levou? Bom, a odisseia de nosso protagonis-

ta de hoje não durou muito. Distribuída a ação ao Min. Joaquim Barbosa, a pe-tição inicial foi indeferida logo de cara, sem nem ter sido levada a julgamento.

E qual seria a moral da história de hoje? Penso que seria mais ou menos assim, vamos lá:

um americano insatisfeito com o banco… 1 septilhão de dólares.um advogado barrado na porta do fórum… 11 onzilhões de reais.Contar essas histórias… não tem preço.

Essa aconteceu em Ribeirão Preto-SP. Certa vez, um escrevente, já acostu-mado a passar por situações engraçadas, estava atendendo o balcão quando chegou um estagiário novo, de um conceituado escritório da cidade, solici-tando carga de um processo, momento em que foi informado que o processo estava concluso. O estagiário, sem perder a postura, respirou fundo e com muita desenvoltura perguntou:

- Mas qual foi a conclusão então?????

Se você tem alguma pérola para contar, envie sua colaboração para [email protected]

Fonte: www.perolasjuridicas.com.br

Direito de rir

atitude

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