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1 Contribuições da Orientação Vocacional/Profissional para o planejamento e gestão autônoma de estudantes do ensino superior: um estudo sobre o percurso de ensino e de carreira nas trajetórias estudantis Autor(es): CARVALHO, Olgamir F. de; SILVA, Klever C.; SILVA, Flavia A. Instituição de origem: Universidade de Brasília Email: [email protected] ; [email protected] ; [email protected] Resumo: A temática, objeto deste artigo, convida-nos a pensar a Orientação Vocacional/Profissional, no contexto do ensino superior. No Brasil, as universidades não possuem serviços suficientes e adequados, para auxiliar os jovens a lidar com as escolhas e as questões referentes ao processo de transição escola-trabalho. Os serviços existentes não têm caráter universal e, muitas vezes, de caráter marcadamente assistencial e não possibilitam aos jovens lidar com as questões referentes às diferentes transições desse percurso. Entendemos que o desenvolvimento de atividades de informação, tomada de decisão em matéria de ensino, as capacidades de gestão da carreira, etc. auxiliarão as universidades a motivarem os alunos a estabelecer seus próprios objetivos e a assumir a responsabilidade pela sua própria aprendizagem. Palavras-chave: Educação e trabalho; Assistência Estudantil; Orientação vocacional/Profissional. Nota biográfica: Olgamir Francisco de Carvalho - Doutora em Educação pela UNICAMP-Campinas, Professora Associada da Faculdade de

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Contribuições da Orientação Vocacional/Profissional para o planejamento e gestão

autônoma de estudantes do ensino superior: um estudo sobre o percurso de ensino

e de carreira nas trajetórias estudantis

Autor(es): CARVALHO, Olgamir F. de; SILVA, Klever C.; SILVA, Flavia A.

Instituição de origem: Universidade de Brasília

Email: [email protected]; [email protected]; [email protected]

Resumo:

A temática, objeto deste artigo, convida-nos a pensar a Orientação Vocacional/Profissional, no contexto do ensino superior. No Brasil, as universidades não possuem serviços suficientes e adequados, para auxiliar os jovens a lidar com as escolhas e as questões referentes ao processo de transição escola-trabalho. Os serviços existentes não têm caráter universal e, muitas vezes, de caráter marcadamente assistencial e não possibilitam aos jovens lidar com as questões referentes às diferentes transições desse percurso. Entendemos que o desenvolvimento de atividades de informação, tomada de decisão em matéria de ensino, as capacidades de gestão da carreira, etc. auxiliarão as universidades a motivarem os alunos a estabelecer seus próprios objetivos e a assumir a responsabilidade pela sua própria aprendizagem.

Palavras-chave: Educação e trabalho; Assistência Estudantil; Orientação vocacional/Profissional.

Nota biográfica:

Olgamir Francisco de Carvalho - Doutora em Educação pela UNICAMP-Campinas, Professora Associada da Faculdade de Educação da UnB; Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Trabalho; Coordenadora do Observatório da Juventude da Universidade de Brasília.

Klever Corrente Silva - Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação - modalidade profissional na UnB. Professor de Educação Básica da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Brasil.

Flávia Alves da Silva – Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação – modalidade profissional na UnB. Graduada em pedagogia, especialista em Gestão e Orientação Educacional. Servidora pública, pedagoga, na Universidade de Brasília.

Introdução

Este artigo traz dados iniciais de Pesquisa que estamos desenvolvendo no âmbito

do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Trabalho – NEPET, da Faculdade de

2

Educação, da Universidade de Brasília e busca caracterizar as políticas e serviços

existentes na universidade no que se refere às diferentes transições, em especial, a

transição educação e trabalho.

O tema educação e trabalho implica numa relação dialética entre sujeitos ativos

e que se transformam no processo. A educação alimenta a prática laboral que por sua

vez subsidia a formação dos sujeitos. Nesse contexto de análise surgem também os

embates sobre a educação como a principal responsável pela transformação da

sociedade e meio para a mobilidade social.

Nesta perspectiva, conforme Bourdieu e Passeron (1970), o ambiente escolar é

marcado pelo caráter de classe, desde a organização pedagógica até o modo como

prepara o futuro dos discentes. Deste modo, para que ocorram as mudanças há que se

superar o controle de um extrato social sobre o outro, que resulta no que Bourdieu

definiu como violência simbólica, legitimadora da dominação e posta em prática por

meio de “estilos de vida”. O que explica porque é tão difícil alterar certos padrões

sociais.

Examinando o Relatório de Autoavaliação Institucional 2014, da Comissão

Própria de Avaliação (CPA) da Universidade de Brasília (UnB), constatamos o quadro

de exclusão que esses dados revelam. Eles demonstram que o percentual de evasão de

estudantes entre 2013 e 2014 é de 16,7% e que este índice, corresponde a 6.377 alunos

desligados, enquanto o número de formandos no mesmo período foi de 4.022 alunos.

Acreditamos que tais dados que configuram a “inclusão excludente” no ensino

superior e que segundo o estudo tem como causas principais a troca de curso, a falta de

perspectiva na área, a falta de condições financeiras para permanecer na universidade e

o excesso de reprovações, reafirmam por um lado, o despreparo dos alunos frente à

escolha realizada e, de outro, a necessidade de serviços de orientação, que possibilitem a

todos os alunos que ingressam na universidade explorar seus interesses, habilidades e

oportunidades de carreira, preparando-os para as diferentes transições, seja no âmbito da

própria universidade ou do mercado de trabalho.

A orientação vocacional e profissional enquanto um conjunto de atividades que

possibilita aos cidadãos de qualquer faixa etária e em qualquer momento da vida

conhecer as suas aptidões, interesses, competências e tomar decisões, sobretudo no que

tange a questão da formação e ocupação, pode ser decisiva na perspectiva de

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encaminhamento mais adequado de problemáticas como as mencionadas anteriormente

e que constitui em prejuízo para os alunos, a universidade, a família e o país.

(CARVALHO, 2014).

Todo o contexto que envolve a relação entre a educação e o mundo do trabalho

aponta para a importância e a necessidade da Orientação Vocacional e Profissional:

Fatos observados, no cotidiano das relações de trabalho, como o desemprego, a concorrência acirrada no mercado, as aposentadorias em idade precoce, as condições críticas impostas pelo contexto socioeconômico nacional e internacional, as inovações tecnológicas e científicas, o surgimento contínuo de novas ocupações, a crescente demanda de qualificação profissional (e a desproporcionalidade entre o número de vagas no Ensino Superior e o número de candidatos), as mudanças nos critérios de empregabilidade, bem como aspectos observados no cotidiano das instituições educativas como a evasão no ensino fundamental, médio e, sobretudo, no ensino superior, e os inúmeros pedidos de reopção de curso na Universidade fornecem motivos suficientes para justificar a existência de serviços de Orientação Profissional. (VALORE, 2008:68)

Carvalho (2014) afirma que atualmente os jovens e os adultos incluídos ou não

no mercado de trabalho são responsabilizados pela sua própria condição de

empregabilidade, carecendo de políticas públicas integradas que ampliem com

efetividade as oportunidades de educação e de trabalho e, portanto, promovendo uma

autêntica orientação e formação com vistas à suplantação da situação de exclusão

existente. Do mesmo modo, os jovens que estão inseridos no sistema escolar, também

carecem de informações e atividades pedagógicas que envolvam tomadas de decisões,

que os ajudem a enfrentar de forma apropriada a transição escola-trabalho, cada vez

mais complexa.

Valore (2008) afirma que uma má escolha da profissão acarreta prejuízos

significativos não apenas para o sujeito que escolhe, mas para a toda a sociedade arca

com o ônus dessa situação. A autora traz como exemplos a questão da evasão nas

Universidades públicas e o custeio para a realização de atendimentos psicoterápicos e

psiquiátricos que decorrem da crise profissional. Além desses indícios apontados,

podemos apontar também a questão do desperdício de tempo ocorrida nas trocas de

cursos por falta de identificação, a falta de perspectiva em relação ao que fazer após

concluir a graduação para inserir-se no mercado de trabalho e de forma mais extrema o

suicídio, como resultado da perda do sentido da vida. Em todas essas situações estão

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presentes a questão da insatisfação, do desconhecimento ou da má-adaptação à

profissão.

Deve-se constituir em um dever da Universidade ter um serviço de Orientação

Vocacional/Profissional, que em articulação com os serviços de assistência estudantil

possam formar uma rede de atendimento a todos os universitários, assim como é

importante para a sociedade em geral, políticas públicas para que o trabalhador possa

desenvolver as condições necessárias ao gerenciamento das suas escolhas.

(CARVALHO, 2014).

Elementos teórico-conceituais básicos

O nosso estudou utiliza os aportes teórico-metodológicos do modelo

desenvolvido por Domingos Sobrinho, que se baseia em dois pilares: a teoria das

representações sociais de Moscovici e seus seguidores e a praxiologia de Bourdieu.

Para Domingos Sobrinho (2016) é importante destacar que Moscovici considera

as representações sociais enquanto sistemas de preconcepções, de imagens e valores,

detentoras de uma significação cultural própria e sobrevivendo independentemente das

experiências individuais, sendo-nos impostas sem o nosso consentimento, portanto de

forma não consciente. Afirma o autor, que “a possibilidade de se captar a dinâmica

consciente/inconsciente, racional/pré-reflexivo sempre foi determinante nas aplicações

que o seu modelo teórico faz da proposta moscoviciana". (2016:26)

A proposta de Moscovici supõe que não existe separação entre os universos

exterior e interior do indivíduo ou grupo e que o objeto faz parte de um contexto ativo e

pode ser percebido seja pela pessoa ou pelo grupo, como prolongamento do seu

comportamento. Deste pressuposto moscoviciano, deriva o “axioma” difundido por

Jodelet e, segundo o qual, uma representação social é uma forma de conhecimento

socialmente elaborada e compartilhada, tendo um objetivo prático “e concorrendo à

construção de uma realidade comum a um conjunto social” (JODELET, 1991 apud

DOMINGOS SOBRINHO, 2016:26).

Partindo das afirmações de Jodelet (2001) de que a pesquisa das representações

sociais demanda a construção de modelos explicativos que articulem o afetivo e o

mental, os sistemas cognitivos e psicológicos, mas considerando-se a inserção social

dos indivíduos e tendo em vista, também, as três questões que Jodelet propôs para um

modelo operacional de aplicação da teoria “Quem sabe e de onde sabe? O que sabe e

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como sabe? Sobre o que sabe e com que efeitos?” (ibid.:28), Domingos Sobrinho

acrescenta mais uma questão ao modelo Jodelet/Moscovici, “A partir de que condições

sabe?”, o que em sua perspectiva, supre a “exigência epistemológica da proposta

moscoviciana com apoio na sociologia da cultura de Bourdieu, a qual é inseparável de

uma teoria da dominação, aspecto este, segundo o autor, negligenciado nas elaborações

centrais de Serge Moscovici e Denise Jodelet" (DOMINGOS SOBRINHO, 2016:28).

Nosso estudo, parte do pressuposto de que o conhecimento da identidade e das

representações sociais dos diferentes objetos da cultura acadêmica e do mundo do

trabalho é essencial para o nosso empreendimento, o que supõe investigar aspectos

teóricos e epistemológicos da construção das representações sociais e sua aplicação ao

estudo das trajetórias dos estudantes no ensino superior.

O segundo pilar, está relacionado à Praxiologia de Bourdieu. A referida

praxiologia se articula em torno de alguns conceitos básicos como habitus, campos

sociais, poder simbólico, capital cultural, a partir dos quais, Bourdieu construiu uma

“teoria do mundo social".

Domingos Sobrinho afirma que (2016:29) “o fato de ter uma visão global da

sociedade permite-nos estabelecer uma clara distinção entre as contribuições de

Bourdieu e Moscovici e, ao mesmo tempo, a possibilidade de diálogo entre os dois”. Ele

destaca: ”Bourdieu quis ir além das concepções dos atos e falas dos “indivíduos”

(agentes) entendidos como processos exclusivamente interiores, mentais, resultados de

cálculos e intencionalidades, por conseguinte, concebidos como independentes de

qualquer influência externa, desconsiderando-se, pois, as condições sociais que

permitem aos “sujeitos” se construírem e serem o que são. (DOMINGOS SOBRINHO,

2016:30)

Para o autor estes pressupostos são também aceitos por Moscovici e Jodelet,

embora eles utilizem apenas o termo sujeito. Ele destaca ainda, que “o habitus,

enquanto conceito operacional de cultura pode ser empiricamente apreendido e que

"uma vez estruturado, não cessa de produzir percepções, representações, opiniões,

crenças, gestos e toda uma gama de produções simbólicas, promovendo a articulação

dialética entre ator social e estrutura social”. (DOMINGOS SOBRINHO, 2016:30)

Do ponto de vista de nossa investigação, os conceitos derivados da praxiologia

de Bourdieu, ajuda-nos, a entender como as trajetórias social, familiar e escolar dos

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estudantes universitários e os capitais por eles acumulados nesse percurso condicionam

sua forma de inserção no campo educacional na realidade do ensino universitário.

Entendemos que o modelo teórico desenvolvido por Domingos Sobrinho é

pertinente à análise de investigações em nível psicossocial e que uma das contribuições

do referido modelo é precisamente o fato dele consistir na integração da análise de

contribuições de diferentes campos, no caso, da sociologia, psicologia e educação.

Como nos ensina Aisenson (2011:156):

Las cuestiones que aborda la orientación movilizan tanto procesos subjetivos como dinámicas sociales, y abarcan areas vitales importantes para la vida y el desarrollo humano. Estas cuestiones son complejas y conciernen a varios campos sociales (Bourdieu, 1980, 1987; Bourdieu & Wacquand, 1992), en particular los campos de la educación, el trabajo, la salud y el económico.

Casanova (2016:11-12) reafirma e orienta, no prefácio do livro organizado por

ele e por Domingos Sobrinho que

Apesar de la naturaleza multifactorial del complejo proceso educativo en la universidad y de la necesidad de complementar enfoques sociológicos, sociodemográficos, familiares, de género, educativos y psicológicos, continúa siendo central la correspondencia entre las diferentes cantidades de capital económico, social y cultural y los diferentes resultados y rendimientos educativos, en el acceso, en la trayectoria y en la salida respecto a la universidad. [...] Del mismo modo, es fundamental saber diseñar efectivos programas teniendo en cuenta sus condiciones de aplicación, lo cual exige conocer los diferentes contextos y situaciones de enseñanza-aprendizaje.

A questão metodológica

A investigação, ora em desenvolvimento, tem por objetivo, conhecer os

principais elementos constitutivos das trajetórias estudantis no ensino superior e o papel

da orientação vocacional e profissional na orientação e acompanhamento das transições

referentes ao ensino e à carreira, na perspectiva do planejamento e gestão autônoma dos

estudantes. Para tanto se norteia por algumas questões de pesquisa, dentre elas:

• Como os jovens enfrentam as transições e se orientam na vida acadêmica?

• Como eles representam objetos sociais relacionados a essa sua trajetória?

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• Que processos e fatores estruturam essas representações e a própria

identidade?

• Quais as contribuições dos serviços de orientação vocacional e profissional

no sentido de permitir aos jovens entender e ampliar suas perspectivas em

termos de construir seus projetos de carreira e implementá-los?

Para fins deste artigo, foi analisada a trajetória dos estudantes da Universidade

de Brasília, a partir de dados coletados no último Relatório de Avaliação Institucional

produzido pela Comissão Própria de Avaliação - CPA, da Universidade, relativo ao ano

de 2016, buscando colocar em evidência a relação entre a situação existente e a

necessidade de se implementar um efetivo serviço de orientação

vocacional/profissional, na universidade.

A CPA, instituída pela resolução do Conselho Universitário (CONSUNI) nº

31/2013, é uma instância de atuação autônoma em relação aos órgãos da Universidade,

responsável por coordenar os processos de avaliação interna. Ela é composta por 17

membros que contemplam todos os segmentos da comunidade acadêmica: docentes,

discentes, técnicos administrativos e da sociedade civil.

O referido Relatório de Autoavaliação Institucional relata e avalia as principais

ações e os projetos executados pela Universidade e as potencialidades e dificuldades

identificadas pela Comissão, com base nas dimensões previstas no Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Superior (SINAES), instituído pela Lei nº 10.861 de 14 de abril

de 2004, e organizado em eixos conforme a Nota Técnica INEP/DAES/CONAES nº 65.

Para a sua elaboração, foi realizado o 3º Fórum de Avaliação (no qual foram

destacados os temas da evasão, retenção, trajetória de egressos e avaliação externa);

consulta à comunidade acadêmica (executada entre janeiro e fevereiro de 2017, tendo a

participação de 3.051 discentes, 465 docentes e 480 técnico-administrativos); avaliações

in loco e o projeto CPA Itinerante (estratégia que buscou aproximar a CPA dos

institutos e faculdades, compartilhando informações de egressos, retenção e evasão).

Elementos para um Perfil Geral dos estudantes da Universidade de Brasília:

algumas aproximações

O levantamento de dados do Sistema de Gerenciamento Acadêmico da

Universidade – SIGRA, realizado em 19 de julho de 2016, nos mostra, a partir da base

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de egressos, um primeiro esboço de resultados produzido pela universidade. Esta base é

composta de 78.571 egressos da UnB até 2015, considerando os graduados, pós-

graduados e desligados que não concluíram os cursos. A nossa pesquisa tem como foco,

o ensino de graduação.

TABELA 1.BASE DE EGRESSOS DA UNB COM CPF, 2015

Situação QuantidadeFormado – Graduação 30.843Formado – Pós 17.387Desligados – Total 30.341Total 78.571

Fonte: SIGRA (19/07/2016).

Embora os dados não estejam desagregados em relação ao nível educacional,

chama a atenção o alto nível de desligados da universidade, ressaltando-se a relevância

dos aspectos referentes à permanência dos alunos na universidade, o que vem

corroborar a realidade evidenciada por nosso estudo, no que se refere à necessidade de

ações de orientação.

No que tange à questão da evasão, segundo a análise da Comissão, o maior

desafio da Universidade, é a retenção de estudantes. Existem duas taxas para avaliarem

esta questão: a taxa anual de evasão (TAE) e a taxa acumulada de diplomação (TAD). A

TAE é o percentual de matrículas que estavam vigentes no ano anterior, mas que

descontinuaram por qualquer motivo diferente da obtenção do diploma. A TAD é a

fração de alunos que obtiveram o diploma independentemente da época. De acordo com

o relatório institucional da CPA, a taxa de êxito da Universidade de Brasília foi de

76,1%, percentual que precisa ser melhorado por meio da redução das taxas de evasão e

retenção dos alunos. “A Universidade precisa intervir nas causas dessas taxas, a fim de

que se desenvolva com qualidade, buscando identificar quais são as lacunas na sua

prestação de serviços que podem estar contribuindo para o percentual de insucesso

institucional (23,9%)” . (UNB, 2016).

TABELA 2.EGRESSOS DA UNB ATUANDO NO MERCADO FORMAL, POR SITUAÇÃO ACADÊMICA E REGIÃO GEOGRÁFICA , 2015

Egresso – UnB

DF Centro-Oeste (exceto

Norte Nordeste

Sudeste Sul Total %

9

DF)

Formado – Graduação

17.680 714 1.400 282 1.493 267 21.836 43,82%

Formado – Pós

9.659 1.274 552 753 881 224 13.343 26,79%

Desligado – Iniciativa do Estudante

6.195 505 333 193 733 156 8.115 16,28%

Desligado – Falta de Rendimento

4.604 350 102 153 380 121 5.710 11,46%

Outros 462 64 32 64 164 39 825 1,65%

Total 38.600 2.907 2.419 1.445 3.651 807 49.829 100%

Fonte: SIGRA (19/07/2016); RAIS (2015).

Embora a análise da tabela 2 permita concluir que a parte majoritária dos

egressos da Universidade de Brasília atua no mercado formal, preocupa-nos a

informação de que dos 78.571 egressos (formados ou desligados) constante na tabela 1,

apenas 49.829 (62,15%) estão atuando no mercado formal conforme a tabela 2. Em que

medida a passagem de 37,85% (formados ou desligados) pela Universidade os auxiliou

no processo de escolha e decisões que os permitissem se inserir no mercado formal, ante

a transição educação-trabalho?

Outro aspecto que se pode evidenciar ao cruzarmos a informação da quantidade

total de Desligados (30.341 – 100%), obtidos pela tabela 1, com os dados obtidos pela

tabela 2 é que 8.115 desligados, ou seja, 26,75% ocorreram por iniciativa do próprio

estudante, que 5.710, o que corresponde a 18,82%, foram por falta de rendimento, e que

2,72% estão em outras circunstâncias. Desse modo, o total de Desligados e Outros (que

são os que estão empregados formalmente), são 14.650 (48,28%) e, portanto 51,72%,

que é a maior parte dos desligados, não conseguiu inserir-se no mercado formal.

Podemos inferir que mais de um quarto dos desligados, estão empregados

formalmente, e este pode ser um dos motivos para terem abandonado o curso, pois de

acordo com Zago (2006) alguns universitários são trabalhadores-estudantes e as

atividades remuneradas acabam estabelecendo forte concorrência com os estudos, e pela

necessidade de sobrevivência material, alguns acabam abdicando da trajetória

acadêmica. Quanto à outra informação, uma das possíveis justificativas para a falta de

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rendimento pode ser as lacunas da formação dos estudantes nas matérias básicas

decorrentes de desigualdades existentes na educação básica (ZAGO, 2006).

TABELA 3.GRADUADOS DA UNB ATUANDO NO MERCADO FORMAL, POR REGIÃO E ESTADO, 2015

Região Estado Graduados

Centro-Oeste

DF 17.680GO 616MS 29MT 69Total 18.394

Norte

AC 1.224 AM 42AP 10PA 32RO 27RR 13TO 52Total 1.400

Nordeste

AL 11BA 85CE 37MA 23PB 20PE 42PI 21RN 23SE 20Total 282

Sudeste

ES 34MG 232RJ 477SP 750Total 1.493

Sul

PR 82RS 65SC 120Total 267

Total Geral 21.836

Fonte: SIGRA (19/07/2016); RAIS (2015).

Do universo de 21.836 estudantes egressos dos cursos de graduação da UnB,

84,24% têm vínculo de trabalho na região Centro-Oeste, ratificando, segundo a

Comissão, a forte relação da Universidade com as demandas de formação, locais e

regionais.

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TABELA 4.EGRESSOS DA UNB ATUANDO NO MERCADO FORMAL DO DF, POR TIPO DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO E NÍVEL DO CURSO, 2015

Tipo de vínculo Nível do Curso TotalGraduação Mestrado Doutorado Residência

Serviço Público Efetivo

15.718 4.995 1.726 370 22.809

Serviço Público Não Efetivo

1.072 295 31 3 1.401

CLT 11.069 2.213 519 100 13.901Temporário/Avulso 220 150 60 15 445Outros 37 5 2 - 44Total 28.116 7.658 2.338 488 38.600

Fonte: SIGRA (19/07/2016); RAIS (2015).

O nível educacional em evidência neste estudo é a graduação, e a tabela 3,

mostra os egressos que estão atuando no mercado formal, evidencia que 59,72% atuam

no serviço público, enquanto 39,37% possuem vínculo celetista.

Cabe apresentar também, para fins de nossa análise, o perfil dos demandantes da

Assistência Estudantil, conhecer as necessidades do público assistido, dentre elas, as

questões dos desligamentos que interferem na permanência dos estudantes em situação

de vulnerabilidade socioeconômica na Universidade.

Em cumprimento ao disposto na Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012, a

Universidade de Brasília endereça metade das vagas aos alunos advindos do ensino

médio integralmente cursado em escolas públicas. Outra cota social, que faz parte das

políticas de ações afirmativas promovidas pela UnB, trata-se do percentual de 5% de

vagas destinadas para os candidatos que se autodeclaram negros. As vagas restantes são

oferecidas em regime de ampla concorrência.

A tabela abaixo apresenta os dados referentes ao perfil de todos os discentes

matriculados nos cursos de graduação presenciais no semestre letivo 2017/2, vinculados

a assistência estudantil.

TABELA 5.PERFIL DOS ESTUDANTES PARTICIPANTES DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL, PORCENTAGEM POR SEXO, RAÇA E ETNIA, 2017

Feminino Masculino Branca Parda Preta Amarela Indígena% 57,2 42,8 25,0 52,7 19,6 2,0 0,7Total 2995 2243 1307 2754 1024 106 39

Fonte: Elaborado pelos autores com base no levantamento de dados da DDS (2018).

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Do total de 5.238 estudantes que participam da assistência estudantil, 25%, são

brancos; 52,7% são pardos; 19,6% são pretos, seguidos por 2,0% de amarelos e 0,7% de

indígenas. A maioria dos discentes é do sexo feminino 57,2% seguido por 42,8 do sexo

masculino. O somatório dos estudantes de cor preta e parda totalizam 72,3% da amostra,

especificamente, 3.778 estudantes negros, participam da assistência estudantil,

conforme os dados coletados, ou seja, mais da metade dos participantes da assistência

estudantil são negros.

Esses dados revelam uma assistência estudantil com predominância feminina e

negra, perfil que vem sendo marginalizado no mercado de trabalho. Conforme Antunes

[...] a expansão do trabalho feminino tem, entretanto, significado inverso quando se trata da temática salarial, terreno em que a desigualdade salarial das mulheres contradita a sua crescente participação no mercado de trabalho. Seu percentual de remuneração é bem menor do que aquele auferido pelo trabalho masculino (2001:105).

Dimensionar o papel da assistência estudantil para que as estudantes tenham

uma nova perspectiva fora da universidade, não só como mão de obra, mas como

sujeitos de direitos e com visão ampliada de tal condição.

TABELA 6.PERFIL DOS ESTUDANTES PARTICIPANTES DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL, PORCENTAGEM POR COTAS E FORMA DE INGRESSO PREDOMINANTE, 2017

Cotas Escola Pública Baixa Renda – Não PPI

Esc. Púb. Alta Renda – Não PPI

Esc. Púb. Alta Renda PPI

Esc. Púb. Baixa Renda PPI

Indígena Negro Universal

% 13,8 7,1 15,2 23,9 0,5 5,5 34,0Total 725 370 798 1251 25 286 1783

Fonte: Elaborado pelos autores com base no levantamento de dados da DDS (2018).

Nesta segunda tabela constam os percentuais dos discentes, participantes dos

programas da assistência estudantil, conforme o tipo de cota de acesso à UnB. Do total

de 5.238 estudantes da assistência, 13,8% são oriundos de escola pública, baixa renda,

sendo não PPI e 7,1% ingressaram por escola pública, alta renda, não PPI. Dos

ingressantes por escola pública, alta renda, PPI o percentual é de 15,2% e os

ingressantes por escola pública baixa renda, PPI, o percentual é de 23,9%.

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Infere-se com esses dados que a assistência estudantil tem conseguido atender

aos estudantes oriundos de escola pública, baixa renda, negro, evidenciando que o

público prioritário tem vindo das classes populares, das periferias, do universo a

margem do mundo do trabalho e da educação. Para Florestan Fernandes (2008) a escola

de qualidade não era redentora da humanidade, mas o instrumento fundamental para

emancipação dos trabalhadores. Com isso pode-se afirmar que a universidade tem papel

relevante nesse processo de emancipação social e política dos estudantes em

vulnerabilidade.

GRÁFICO 1.PERCENTUAL DE ESTUDANTES POR CURSOS EM 2º/2017

LetrasEnfermagem

Ciências NaturaisPedagogia

AgronomiaFarmácia

Educação do CampoCiências Sociais

Serviço SocialGestão do Agronegócio

FisioterapiaDireito

Gestão AmbientalCiências Contábeis

0 50 100 150 200 250 300

Fonte: DDS (2018).

O gráfico demonstra que a maioria dos estudantes da Assistência está

matriculada nos cursos das áreas de humanas. Letras é o grande destaque. Desse dado

pode-se levantar uma série de questões a serem aprofundadas. Uma diz respeito ao

elemento motivador para a definição da carreira a seguir e do curso a optar. De acordo

com Gondim (2002) o que parece ocorrer é que o estudante consegue identificar um

perfil geral que é transmitido pelos meios de comunicação acerca do que é demanda do

mercado de trabalho, mas não consegue identificar de que modo este perfil estaria

adequado às suas habilidades e competências.

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Muitos podem se perguntar se haverá emprego para todos? Como a universidade

vem trabalhando a construção da identidade profissional do futuro egresso?

Um outro elemento importante a ser destacado, é a questão da concorrência no

acesso ao ensino superior. O atual formato do processo seletivo para as universidades

estabelece uma nota de corte que agrega valor a determinados cursos pela lei da “oferta

e demanda”, quanto mais procurado o curso, maior sua nota de corte. Isso pode

significar que o acesso a esses cursos está restrito aos que tiveram mais condições de se

preparar para a “batalha” da seleção, restando para os que ficam atrás, os cursos menos

demandados. Talvez isso explique a grande maioria dos estudantes da assistência

encontrar-se matriculados em cursos de baixa demanda. Há de se considerar que a

opção por uma licenciatura, como é o caso de Letras, pode-se constituir na busca por

uma inserção mais rápida no mercado de trabalho, ou ainda por uma questão de vocação

destes estudantes.

O segmento de Pessoas com Necessidades Especiais também é destinatário de

ações que visem a sua integração e permanência no âmbito universitário, mediante o

Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais. A Tabela 7 mostra a

evolução de estudantes cadastrados, percebe-se um acréscimo nos atendimentos.

TABELA 7.ESTUDANTES DA GRADUAÇÃO CADASTRADOS POR TIPO DE NECESSIDADE ESPECIAL, UNB, 2015 E 2016

Necessidades Especiais 2015 2016Deficiência Auditiva 11 14Deficiência Física 22 24Deficiência Intelectual 2 3Deficiência Múltipla 5 4Deficiência Visual 18 19Dislexia e/ou TODA/TDAH 124 127Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) 15 16Outras Necessidades 2 3Surdo/Cego 0 1Total 199 211

Fonte: PPNE/UNB (2016).

Propiciando e garantindo condições para o desenvolvimento dos estudantes que

necessitam de apoio e desenvolvendo práticas cidadãs, as ações desenvolvidas neste

Programa foram: tutoria especial (189 tutores participantes e 90 estudantes assistidos),

15

acompanhamento acadêmico (1.094 cartas de apresentação, 97 efetivações de prioridade

de matrícula), ações de interação com Institutos e Faculdades (diálogo em busca de

estratégias para adequação educacional), ações de interação com a prefeitura do campus

(para garantir mais acessibilidade), transporte no campus, laboratório de tecnologia

assistiva, cursos e palestras internos e externos à UnB.

Os Programas de tutoria/monitoria buscam a participação dos estudantes para

uma formação integrada que melhore o ensino de graduação, compreendendo de forma

mais ampla e aprofundando a sua área de estudos, por meio de atendimento a outros

estudantes e oferecendo suporte à pratica educativa utilizando-se de novas práticas e

experiências pedagógicas. No ano de 2016 foram concedidas 228 bolsas de monitoria

no valor de R$400,00 e 228 bolsas de monitoria no valor de R$2200,00.

A Universidade coordena e acompanha o desenvolvimento dos estudantes no

estágio, que por se tratar de uma atividade educativa supervisionada e que ocorre no

ambiente de trabalho tem a intencionalidade de preparar os estudantes para o trabalho

produtivo, além de fazer parte do projeto pedagógico dos cursos e integra o itinerário

formativo dos estudantes. A atividade de estágio busca desenvolver competências

típicas da atividade profissional e à contextualização curricular, preparando os alunos

para a vida cidadã e para o mundo do trabalho.

TABELA 8.QUANTITATIVO DE ESTUDANTES QUE REALIZARAM ESTÁGIO EM 2016

Estágio Obrigatório Estágio Não Obrigatório1º Semestre 2º Semestre 1º Semestre 2º Semestre

1539 1348 2041 20052887 4046Total Total

Fonte: DEG/UNB (2016).

Serviços/Ações desenvolvidas pela universidade

Após termos realizado a descrição e análise de elementos que caracterizam o

perfil dos egressos da Instituição estudada, caracterizaremos os serviços

disponibilizados pela universidade para auxiliarem os universitários na sua trajetória

acadêmica e apresentaremos os dados referentes a estes ainda com base no Relatório de

Avaliação Institucional. Dividimos os serviços e suas ações em cinco blocos: as de

desenvolvimento institucional, as acadêmico-administrativas de ensino, as acadêmico-

administrativas de extensão, as de comunicação e as de atendimento aos discentes.

16

Nas ações de integração desenvolvidas junto ao ensino de graduação e que

visam o desenvolvimento institucional da Universidade podemos citar as atividades de

responsabilidade social.

Segundo o Relatório, as atividades de responsabilidade social dizem respeito

àquelas que promovam a cultura, a inclusão social, o desenvolvimento sustentável, a

defesa e promoção dos direitos humanos, da igualdade étnico-racial e da diversidade

sexual. Essas ações são desenvolvidas pelo Decanato de Assuntos Comunitários (DAC),

pelo Decanato de Extensão (DEX) e pelas faculdades e institutos da UnB em atividades

específicas.

A política desenvolvida pelo DAC é voltada para os estudantes por meio dos

programas de assistência estudantil e tem como objetivo estratégico garantir a

permanência com sucesso acadêmico dos estudantes caracterizados em situação de

vulnerabilidade socioeconômica.

Estudantes (e servidores) em situação de vulnerabilidade social e institucional,

também contam com ações afirmativas que defendem e promovem os direitos humanos,

a igualdade étnico-racial e a diversidade sexual. Tais ações são ofertadas

preferivelmente para esses grupos, pois frequentemente padecem de preconceitos e

discriminações, o que ratifica o diagnóstico sobre estes serviços que são relacionadas

aos eixos temáticos: Formação e Produção de Conhecimentos; Mobilização e

Visibilidade; Articulação e Monitoramento. Também ocorrem atendimentos

individualizados a estudantes, conforme demandas.

O DAC aprovou o Plano da Diversidade, o Plano de Responsabilidade Ética, a

Resolução nº 001/2016, que regulamenta o direito a acompanhante ou atendente pessoal

do discente com deficiência que ocupa vaga na Casa do Estudante Universitário da

UnB; implantou o projeto de monitoramento acadêmico e de atendimentos

multidisciplinares aos usuários de Programas de Assistência Estudantil; difundiu, com o

apoio de outras unidades, mensagens de incentivo e encorajamento para comprometer a

comunidade acadêmica no combate a quaisquer formas de discriminação.

Na esfera da extensão, a UnB também logrou uma boa colocação no ranking

nacional do desporto universitário da Confederação Brasileira do Desporto

Universitário (CBDU).

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No que diz respeito às ações acadêmico-administrativas relacionadas ao ensino

de graduação destacamos o combate à evasão e o incentivo para produções acadêmicas.

Na política de combate à evasão, destacam-se duas ações: a reintegração e o

programa de tutoria da graduação. A reintegração consiste no regresso ao ambiente

acadêmico do aluno desligado (que tenha reprovado três vezes em uma mesma

disciplina obrigatória, que não cumpriu condição, que não ter integralizado o curso

findo o período máximo ou o tenha abandonado), este participa de um edital específico

e tem sua solicitação analisada pelo Colegiado do curso que emite um parecer.

Consoante o Relatório, analisado por este estudo, no ano de 2016 houveram 671

estudantes reintegrados.

O programa de tutoria da graduação promove melhoria no rendimento

acadêmico dos universitários, bem como auxilia na integração social e acadêmica dos

discentes de forma a contribuir para a sua permanência na Universidade, os projetos

possuem diferentes modalidades: vinculados a disciplinas específicas, desvinculados de

disciplinas específicas, vinculados de disciplinas de serviços, multidisciplinares.

Conforme a Comissão, 28 unidades acadêmicas tiveram as suas propostas foram aceitas.

A UnB propicia, por meio das políticas para produções acadêmicas, a

participação dos discentes em eventos nacionais ou internacionais, além das

possibilidades de engajamento na pesquisa científica. Na iniciação científica, por meio

dessa política, os alunos desenvolvem os seus estudos sob a orientação de um professor

e vinculam-se a um grupo de pesquisa da Universidade. O recurso financeiro é

disponibilizado pela própria universidade, por meio do Decanato de Ensino de

Graduação.

No que tange às ações acadêmico-administrativas de extensão evidenciam-se as

bolsas de extensão.

De acordo com o Comissão, no ano de 2016, a Universidade desenvolveu 505

projetos de extensão, disponibilizou 202 bolsas de extensão no valor de R$ 400,00 cada

e teve a participação de 4.542 discentes participando das atividades de extensão, sendo

446 bolsistas e 4.098 não-bolsistas.

Na comunicação interna e externa da universidade, destacamos a carta de

serviços, o guia do calouro e a campanha de recepção e boas-vindas aos calouros.

18

A Carta de Serviços tem por objetivo informar aos cidadãos dos serviços

prestados pela UnB, das formas e requisitos de acesso a esses serviços, das etapas e

prazos, dos compromissos e dos padrões de qualidade do atendimento ao público. Este

instrumento de comunicação, é disponibilizado sob o formato eletrônico e físico, no

sítio da Universidade (www.unb.br) e nas unidades acadêmicas e administrativas,

respectivamente.

Ainda no que se refere à informação, existe o Guia do Calouro, que é um

documento que apresenta a Universidade ao aluno ingressante e, portanto, auxilia a

inserção do estudante na rotina acadêmica. O guia traz informações úteis para a

trajetória acadêmica: um breve histórico da UnB, dados sobre a estrutura administrativa

e gestão da Universidade, orientações sobre os processos e prazos relativos à vida

acadêmica, as regras de convivência, entre outros. Este documento é disponibilizado no

endereço eletrônico www.boasvindas.unb.br, que também disponibiliza as principais

informações que os calouros necessitam.

Outra atividade existente na Universidade é a campanha de recepção e boas-

vindas aos calouros, que ocorre no início de cada semestre letivo. Ela conta com a

presença das representações estudantis e da administração superior da UnB. No evento,

apresenta-se a Universidade ao calouro, disponibilizam-se materiais informativos e

promovem-se debates reflexivos sobre a responsabilidade compartilhada que os

membros da comunidade acadêmica precisam ter para consolidar os propósitos da

universidade.

Sem dúvida, tais ações são importantes para integrar estudantes, professores,

servidores etc. e têm a função de informar, e ao mesmo tempo, conhecer e reforçar o

sentimento de pertencimento ao ambiente universitário. Estar informado contribui para

o sentimento de pertencimento ao grupo, o que para Zago (2006) é um aspecto

importante para a permanência no ensino superior.

Em relação aos Programas de Assistência Estudantil, a Universidade de Brasília,

publica semestralmente um edital de avaliação socioeconômica, processo pelo qual os

estudantes que possuem situação considerada insuficiente para sua manutenção e

permanência na Universidade, ou seja, com perfil de vulnerabilidade socioeconômica,

tornam-se elegíveis para acessar aos benefícios de ordem assistencial. Alguns

programas da Assistência Estudantil e parcerias são: Bolsa-Alimentação, Moradia

Estudantil da Graduação, Auxílio Socioeconômico, Vale-Livro e Auxílio Emergencial.

19

Cada campus da UnB possui um Restaurante Universitário (RU), que garante

três tipos de refeições de baixo custo: desjejum, almoço e jantar, que são balanceadas,

saudáveis, acompanhadas por nutricionistas sendo adequadas à comunidade e à rotina

universitária. O Programa Bolsa-Alimentação é desenvolvido em parceria com o

Restaurante Universitário (RU) e constitui-se na isenção de pagamento das taxas das

refeições servidas em todos os campi. Em 2016, 5.058 estudantes de graduação foram

atendidos por este benefício.

O Programa Moradia Estudantil da Graduação, facilita o acesso e a assiduidade

do estudante socioeconomicamente vulnerável a universidade. Havendo a modalidade

pecúnia, na qual é concedida mensalmente um auxílio financeiro para moradia

estudantil e aproximação do campus, e a modalidade de vaga na Casa do Estudante

Universitário, para os estudantes cujas famílias não possuam imóveis ou residência fixa

no Distrito Federal. Em 2016 participaram desse programa 1.400 estudantes, sendo

1.124 na modalidade pecúnia e 336 na modalidade de vaga na Casa do Estudante

Universitário da Graduação.

O Programa Auxílio Socioeconômico trata-se do recebimento mensal, por parte

do estudante, de um auxílio financeiro para diminuir a desigualdade social entre os

estudantes da Universidade, contribuir para a sua permanência, evitar a retenção e

promover a diplomação. No ano de 2016 participaram desse programa 2.753 estudantes

da graduação.

O programa Vale-Livro consiste em uma parceria com a Editora UnB que

disponibiliza aos estudantes de graduação, que sejam caracterizados com

vulnerabilidade socioeconômica, cinco vales para serem utilizados por semestre, com

60% de desconto nos livros. Em 2016, 81 estudantes solicitaram o benefício.

O Programa Auxílio Emergencial destina-se àqueles estudantes que não estão

inseridos nos programas de Assistência Estudantil da UnB, mas que se encontram

momentânea ou inesperadamente em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Em

2016 foram concedidos 292 auxílios emergenciais, o que corresponde à média mensal

de 24,3, quantidade próxima ao limite médio de concessão auxílios emergenciais

regulamentado que são de 25 mensais.

Um outro serviço ofertado pela Universidade é o Serviço de apoio

psicopedagógico, por meio do Serviço de Orientação ao Universitário (SOU) dispondo

20

de assistentes, psicólogos e pedagogos que realizam atendimentos à comunidade

acadêmica em relação ao acolhimento, às normas de permanência, à saúde mental,

apoiando-lhes para potencializar as suas aprendizagens e desenvolver integralmente os

estudantes. Conforme levantamento realizado 387 alunos de graduação foram atendidos

no SOU para orientação e/ou acompanhamento acadêmico no ano 2016.

Também fora desenvolvido o programa de acolhimento ao ingressante, buscando

ter uma atitude e relação mais acolhedora no âmbito universitário, integrar calouros aos

outros partícipes do cotidiano acadêmico e promover a divulgação de programas e

serviços ofertados pela instituição que se constituem em oportunidades formativas e de

apoio para o estudante de graduação foram desenvolvidas ações como: recepção dos

calouros por tutores no registro acadêmico, promoção da Mostra de Oportunidades,

realização de tour no campus, apresentações musicais e aula magna.

O acolhimento aos discentes ocorre no registro acadêmico, onde lhes são

apresentados os projetos, os programas e as políticas desenvolvidas na Universidade.

Ao conhecer tais ações têm-se a expectativa de que o estudante se comprometa e realize

as que lhe couberem. E por consequência, espera-se que a vivência na academia seja

propícia para o desenvolvimento de habilidades e competências para a atuação

profissional do egresso. A Diretoria de Acompanhamento e Integração Acadêmica

(DAIA), no âmbito do Decanato de Ensino de Graduação é a unidade responsável pela

integração do estudante com as atividades acadêmicas.

Diversos programas e projetos comunitários foram desenvolvidos pela

Universidade com a finalidade de executar uma política artística, cultural e esportiva:

Programa de Apoio aos Centros Acadêmicos (74 cadastrados), Campus Sonoro –

Conexões (130 participantes), Cinemateca 2016 – Mostra e filmes (547 participantes),

Cinemateca – Segundas Curtas (35 participantes), eventos realizados nos Anfiteatros

(28.503 participantes, considerando público interno e externo).

Entre os anos 2012 e 2016, 806 estudantes-atletas auferiram auxílios pagos por

meio do programa Bolsa Atleta Universitário. Elas visam conceder melhores condições

para os estudantes continuarem suas carreiras esportivas e acadêmicas, valorizando e

reconhecendo a sua dedicação ao esporte para representar a UnB nas competições.

A Universidade, em 2016, viabilizou a realização e participação em eventos:

visitas técnicas; eventos apoiados e realizados pela Coordenação da Questão Indígena

21

com a participação dos estudantes indígenas reforçando a responsabilidade social da

Universidade; Ciclo de Diálogos, com a presença do professor António Nóvoa, ex-reitor

da Universidade de Lisboa que debateu sobre o compromisso das instituições para a

solução de problemas mundiais; e também um diálogo com o Professor José Pacheco

que versou sobre memórias e heranças culturais de Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e

Augustinho Teixeira; Mostra de Cursos, na Semana Universitária da UnB, que visa

explicar sobre os cursos de graduação mantidos pela Universidade, auxiliando os

futuros universitários em suas escolhas profissionais. O principal público-alvo dessa

ação são os estudantes do ensino médio. Embora seja uma incipiente ação de Orientação

Vocação/Profissional, auxilia no preenchimento de lacuna existente pela ausência de

ações como esta na Educação Básica.

Propiciando e garantindo condições para o desenvolvimento dos estudantes que

necessitam de apoio e desenvolvendo práticas cidadãs, as ações desenvolvidas neste

Programa foram: tutoria especial (189 tutores participantes e 90 estudantes assistidos),

acompanhamento acadêmico (1.094 cartas de apresentação, 97 efetivações de prioridade

de matrícula), ações de interação com Institutos e Faculdades (diálogo em busca de

estratégias para adequação educacional), ações de interação com a prefeitura do campus

(para garantir mais acessibilidade), transporte no campus, laboratório de tecnologia

assistiva, cursos e palestras internos e externos à UnB.

Os Programas de tutoria/monitoria buscam a participação dos estudantes para

uma formação integrada que melhore o ensino de graduação, compreendendo de forma

mais ampla e aprofundando a sua área de estudos, por meio de atendimento a outros

estudantes e oferecendo suporte à pratica educativa utilizando-se de novas práticas e

experiências pedagógicas. No ano de 2016 foram concedidas 228 bolsas de monitoria

no valor de R$400,00 e 228 bolsas de monitoria no valor de R$2200,00.

A Universidade coordena e acompanha o desenvolvimento dos estudantes no

estágio, que por se tratar de uma atividade educativa supervisionada e que ocorre no

ambiente de trabalho tem a intencionalidade de preparar os estudantes para o trabalho

produtivo, além de fazer parte do projeto pedagógico dos cursos e integra o itinerário

formativo dos estudantes. A atividade de estágio busca desenvolver competências

típicas da atividade profissional e à contextualização curricular, preparando os alunos

para a vida cidadã e para o mundo do trabalho.

22

Considerações Finais

Este artigo, partindo dos dados produzidos pelo Relatório de Avaliação

Institucional produzido pela Comissão Própria de Avaliação - CPA, da Universidade de

Brasília buscou analisar elementos da trajetória dos estudantes da Universidade,

destacando dentre elas, a questão da evasão e da retenção que afetam o sucesso

educacional e a inserção laboral dos egressos.

Posteriormente, caracterizamos e apresentamos dados referentes ações e serviços

oferecidos pela Universidade para apoiar a trajetória acadêmica dos universitários. Ao

analisar estes serviços e suas respectivas ações, identificamos que a Universidade dispõe

de uma ampla gama de atividades e procedimentos que sob diferentes aspectos

contribuem para o sucesso e a permanência dos estudantes caracterizados com

vulnerabilidade socioeconômica. Esses serviços são imprescindíveis, mas tais ações

costumam ser pontuais, direcionadas à grupos específicos, ao passo que defendemos

desses, um serviço de natureza universal, que oriente os alunos a realizarem as

diferentes transições de sua trajetória estudantil.

Considerando os diferentes aspectos levantados neste artigo, em especial a

evasão, percebe-se que não apenas os estudantes considerados vulneráveis evadem ou

portam resultados educacionais negativos. Confrontando esses dados com a inexistência

de serviços que orientem no sentido da autogestão acadêmica dos estudantes,

presumimos que esse é outro aspecto que está relacionado à exclusão, havendo,

portanto, a necessidade de implantação e oferta desse trabalho à comunidade.

Na aspiração de um serviço que seja universal, que auxilie os jovens a lidar com

as questões referentes aos dilemas na transição entre a educação superior pública e o

mundo do trabalho, acreditamos que a institucionalização de um Serviço de Orientação

Vocacional e Profissional pode contribuir para o planejamento e autogestão dos

estudantes do ensino superior, auxiliando-os na permanência em seu percurso de ensino,

fortalecendo sua identidade profissional e assessorando-os a se defrontarem com as

situações de escolhas e decisões no tocante à transição universidade-trabalho.

Pressupomos que o Serviço de Orientação Vocacional e Profissional na

Universidade venha possibilitar que todos os universitários tenham a oportunidade de

conhecer e explorar os seus interesses, habilidade e oportunidades de carreira.

23

Acreditamos numa perspectiva que informe, instrua e prepare os universitários para as

diferentes transições do seu itinerário.

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24

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