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1. Título: Estado social: delegação de competências ou desresponsabilização? 2. Autor(es): 1 – Almeida, Cristiana Dias de;2 Albuquerque, Cristina Maria Pinto 3. Instituição: Universidade de Coimbra 4. Email 1: [email protected]; Email 2: [email protected] 5. Resumo/abstract: A Rede Local de Intervenção Social (RLIS) surgiu, em Portugal, em 2013, como política de combate à pobreza e à exclusão social. Neste contexto, assistiu-se a uma transferência de responsabilidades no âmbito da ação social do Estado para as Organizações da Economia Social (OES), sob o pretexto da “responsabilidade social dos diferentes agentes sociais” 1 (lógica de governança) e a garantia de “novas e melhores respostas de proximidade aos cidadãos” 2 . No presente artigo pretendemos discutir criticamente os pressupostos da nova lógica da governança das políticas públicas, aqui exemplificada pela RLIS, e discutir os respetivos impactos, nomeadamente em termos de eficácia e de inovação no desenvolvimento local. 6. Nota biográfica dos autores: Cristiana Almeida (Mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra, Bolsa de Doutoramento financiada pela FCT, no âmbito do FSE e do programa de financiamento POCH), Cristina Albuquerque (Doutora em Letras, Especialidade Trabalho Social e 1 Despacho n.º 12154/2013 de 24 de setembro. 2 Idem. 1

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Page 1: dryfta-assets.s3-accelerate.amazonaws.com · Web viewA governança afigura-se, na verdade, como um desafio societal atual e premente, que tem sido discutido tanto no âmbito académico

1. Título: Estado social: delegação de competências ou desresponsabilização?

2. Autor(es): 1 – Almeida, Cristiana Dias de;2 – Albuquerque, Cristina Maria Pinto

3. Instituição: Universidade de Coimbra

4. Email 1: [email protected]; Email 2: [email protected]

5. Resumo/abstract: A Rede Local de Intervenção Social (RLIS) surgiu, em

Portugal, em 2013, como política de combate à pobreza e à exclusão social.

Neste contexto, assistiu-se a uma transferência de responsabilidades no âmbito

da ação social do Estado para as Organizações da Economia Social (OES), sob o

pretexto da “responsabilidade social dos diferentes agentes sociais”1 (lógica de

governança) e a garantia de “novas e melhores respostas de proximidade aos

cidadãos”2. No presente artigo pretendemos discutir criticamente os pressupostos

da nova lógica da governança das políticas públicas, aqui exemplificada pela

RLIS, e discutir os respetivos impactos, nomeadamente em termos de eficácia e

de inovação no desenvolvimento local.

6. Nota biográfica dos autores: Cristiana Almeida (Mestre em Sociologia pela

Universidade de Coimbra, Bolsa de Doutoramento financiada pela FCT, no âmbito

do FSE e do programa de financiamento POCH), Cristina Albuquerque (Doutora

em Letras, Especialidade Trabalho Social e Política Social, pela Universidade de

Fribourg; Professora Auxiliar da Universidade de Coimbra).

7. Palavras chave: Estado social, Políticas Sociais, Governança, Inovação Social,

Avaliação de impacto

Introdução

Em Portugal, tem-se vindo a assistir a uma alteração gradual das lógicas de proteção

social, afigurando-se cada vez menos homogéneas e “securizantes”. A intervenção do

Estado foi sendo adaptada às situações, verificando-se uma maior especificação e

personalização dos meios e modelos de intervenção. Assim, as políticas públicas

passam a estar assentes em opções centradas em lógicas “de contingência e de

adaptabilidade” (Albuquerque e Amaro da Luz, 2016). Estas alterações e adaptações

conduzem ao aparecimento de novas formas de bem-estar social, com implicações

diretas na cidadania e na justiça social.

1 Despacho n.º 12154/2013 de 24 de setembro.2 Idem.

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Page 2: dryfta-assets.s3-accelerate.amazonaws.com · Web viewA governança afigura-se, na verdade, como um desafio societal atual e premente, que tem sido discutido tanto no âmbito académico

Em paralelo, assiste-se a uma passagem gradual de uma lógica de governo (o Estado

providencia e controla as respostas sociais) para uma lógica de governança (o Estado é

parceiro de outros atores, sejam eles públicos, privados ou mesmo voluntários, na

criação e monitorização de respostas sociais).

A governança afigura-se, na verdade, como um desafio societal atual e premente, que

tem sido discutido tanto no âmbito académico (Braun e Schultz, 2010; Lopes, 2010;

Pereira e Carranca, 2011; Kime Lee, 2012; Ferreira, Fernandes e Silva, 2013; Vossole,

2013; Gundelach, Buser e Kübler, 2017; Magone, 2017), como no âmbito das políticas

sociais (Veiga et al., 2013; Burgess, 2014; Ruggie, 2014; Ferrão, 2015; Ekundayo,

2017; Farazmand, 2017). É um tema transversal, adotado a nível global e em múltiplos

setores. O que é “novo” e o que está vinculado às formas tradicionais de agir e

conceituar problemas sociais sob o novo paradigma de governança?

A alteração ao nível dos pressupostos de ação pública que esta transmutação de lógicas

pressupõe abre a possibilidade e incentiva novos processos de intervenção ancorados na

cooperação e na inovação sociopolítica e territorial. Neste âmbito, a Rede Local de

Intervenção Social (RLIS) é um modelo de organização que enfatiza a ação integrada

(envolvimento e responsabilização de diferentes atores locais: entidades públicas,

privadas, sociedade civil). Na lógica de governança está de facto premente a perspetiva

da responsabilização da comunidade no que a riscos e oportunidades diz respeito.

Assim, as OES aparecem aqui como atores privilegiados na intervenção social, na

regulação social e até mesmo na sustentabilidade das próprias políticas públicas, no

geral, e das políticas sociais, em particular. As OES têm vindo a ganhar cada vez mais

protagonismo no que concerne à capacidade de dinamização de programas/projetos de

intervenção social. Pode, no entanto, questionar-se, e esse é o mote da investigação em

curso, em que medida a nova forma de organização territorial (RLIS) corresponde

efetivamente a um novo formato de intervenção social, produzindo formas renovadas de

compreender/atuar sobre problemas sociais locais complexos e gerando impacto social.

No presente artigo pretende-se refletir criticamente sobre estas questões, salientando o

contexto de emergência de uma nova lógica de intervenção objetivada na RLIS, bem

como os fatores críticos que pode comportar, quer em termos de filosofia de base, quer

em termos de implementação.

O artigo estrutura-se em 4 partes articuladas. Começa pela (des)construção analítica da

proteção social, seguindo-se-lhe a discussão em torno dos avanços e recuos da proteção

social em Portugal, bem como das metodologias de intervenção social e finaliza com a

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apresentação da RLIS, análise das ruturas e continuidades do regime de proteção social

clássico, o questionamento sobre a eficácia e a eficiência da adoção do modelo de

governança e do carácter inovador da iniciativa.

Proteção Social: (des)construção analítica3

A discussão em torno dos modelos de proteção social não é nova. Muito se tem escrito e

debatido no que concerne aos mecanismos de satisfação das necessidades das pessoas

em diferentes contextos, sejam eles históricos ou geográficos.

Os modelos de Estado têm sofrido várias transformações ao longo da História. De

acordo com os tempos e as circunstâncias políticas, sociais e económicas, foram sendo

adotados diferentes modelos de proteção social: desde os modelos associados à caridade

até à sua configuração como direito (sistemas estruturados de bem-estar social), e à

mudança de paradigma: da noção de proteção como direito, para a noção de proteção

como responsabilidade partilhada (Welfare Mix) entre Estado, sociedade civil, terceiro

setor e empresas. “Seja como for, a história mostra-nos que não há modelos

monolíticos que se seguem uns aos outros, mas sim soluções sempre compósitas,

transitórias e de duração indefinida” (Estanque, 2012: 16).

Na primeira metade do séc. XX, os sistemas de proteção social generalizaram-se a quase

todos os países da Europa. Com o aparecimento dos direitos sociais, chamados direitos

de terceira geração na perspetiva de Marshall (1950), a par com o reforço da autoridade

do Estado, formulam-se novas exigências sociais e atribui-se ao Estado cada vez mais o

papel de prestador desses direitos. O que Bismark iniciara na Alemanha, em 1880, com

o serviço nacional de segurança social, alastrava agora a muitos outros países. O Estado

tornava-se prestador fundamental dos novos direitos sociais.

No entanto, nas últimas décadas, verificaram-se alterações significativas que levaram a

questionar a sustentabilidade do modelo de Estado Social. Muitos autores (Rosanvallon,

1981, Santos, 1987,1990,1991,1993,2001; Gosta, 1990,1993; Sposati e Rodrigues,

1995; Hespanha e Carapinheiro, 2002; Pereirinha, 2006; Pereirinha e Carolo, 2009;

Estanque, 2012; Silva, 2013; Abramovitz, 2018; Brandt, Roose e Verschelden, 2018;

Otto, 2018) estudaram, por exemplo, as consequências provocadas pelas alterações

tecnológicas, demográficas e do mercado de trabalho e procuraram compreender o

impacto da “nova questão social” nos Estados-Providência.

3 Neste artigo serão adotados de forma indiferenciados os conceitos de Estado-Providência, Estado Social e sistemas de proteção social, como se de sinónimos se tratassem.

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Neste contexto, o estado de bem-estar tradicional tornou-se, nas últimas décadas, cada

vez mais contestado. Recentemente, os desenvolvimentos políticos deram um passo

adiante na erosão do estado de bem-estar tradicional com a emergência do chamado

“workfare” (Brandt, Roose e Verschelden, 2018). As políticas sociais passivas ou

indemnizatórias (Rosanvallon, 1981) foram substituídas gradualmente por políticas

sociais ativas, que implicam a redação de contratos de integração individualizados e

planos de ação pessoais. Brandt, Roose and Verschelden (2018:8) comparam estas

novas formas de intervir a "trampolins", que pretendem a integração no mercado de

trabalho dos destinatários o mais rápido possível.

Por outro lado, Fabian Kessl defende o aparecimento da “sombra do Estado Social”

(2018: 44). Assim, o autor argumenta que perante a ineficiência do Estado-Providência,

surgiram formas espontâneas de suprir as necessidades sociais (através da distribuição

de excedentes de bens básicos aos necessitados), que não estando contempladas nas

formas reguladas do Estado-Providência ou da Sociedade-Providência, trabalham na

“sombra” dos anteriores.

Essa "nova economia de caridade" está a fornecer apoio através de ajuda alimentar,

sopa, lojas de roupas de caridade (idem). Mas, não é apenas a nova “economia de

caridade” que está estabelecida nos últimos 20 a 25 anos na Europa, à sombra do

Estado de bem-estar social, podemos também identificar novos regimes de cuidado

(internacionais) ou estruturas desinstitucionalizadas de ajuda aos refugiados ou

migrantes, como parte desse desenvolvimento.

O autor (Kessl, 2018:44) alerta sobretudo para as consequências do aparecimento desses

“serviços à sombra do bem-estar social”, nomeadamente o facto de: estarem a

enfraquecer os direitos sociais formais, mesmo que esses direitos existam oficialmente;

estarem a mudar fundamentalmente o processo de prestação dos serviços sociais; e, de

não serem uma alternativa, mas estarem diretamente relacionadas aos serviços de

assistência social institucionalizados e profissionalizados.

A formação da “sombra do bem-estar” é, de acordo com esta perspetiva, uma parte

importante do processo de transformação contínua dos estados de bem-estar (Kessl,

2018: 44).

Da caridade ao direito: Avanços e recuos da Proteção Social em Portugal

Até 1974, em Portugal, a intervenção social limitava-se ao “assistencialismo

corporativista de base caritativa” (Joaquim, 2015: 8). O ponto de viragem foi a

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publicação da Constituição da República Portuguesa em 1976, em que foi reforçada a

intervenção do Estado, numa perspetiva de solidariedade social, através da consagração

das “instituições privadas de solidariedade social”, associando estas instituições ao

sistema de segurança social. Após a Reforma da Previdência Social (1962), foi-se

desenvolvendo o Regime Geral de Segurança Social, até à aprovação da Lei de Bases da

Segurança Social de 1984 (Pereirinha e Carolo in Joaquim, 2015: 9).

Com o intuito de constituir um Estado de bem-estar social em Portugal, foram

implementadas políticas económicas e sociais de combate à pobreza e às desigualdades

sociais (a fixação do salário mínimo nacional, os subsídios de desemprego e de doença,

o abono de família, a pensão social, entre outros). Todas estas medidas eram de caráter

universalista e da tutela direta do Estado. “O Estado-Providência tem-se comportado ao

longo dos anos como uma «máquina de indemnizar» (…) e isso revelou-se claramente

inadequado para o tipo de situações de risco social que se apresentam hoje em dia”

(Hespanha, 2008: 1).

Nos últimos anos, assistiu-se a uma alteração gradual das lógicas de proteção social em

Portugal, afigurando-se cada vez menos homogéneas e “securizantes”. A intervenção do

Estado foi sendo adaptada às situações, o que levou a uma maior especificação e

personalização dos seus meios e modelos de intervenção. Assim, as políticas públicas

passam a estar assentes em opções centradas em lógicas “de contingência e de

adaptabilidade” (Albuquerque e Amaro da Luz, 2016: XI). Estas alterações e

adaptações conduzem ao aparecimento de novas formas de bem-estar social, com

implicações diretas na cidadania e na justiça social. O contexto de crise económica e

consequente aplicação de políticas de austeridade levaram a cabo alterações nos Estados

de bem-estar social europeus, no geral, e no Estado de bem-estar português em

particular.

Em Portugal, com as referidas adaptações ao Estado social, é importante analisar as

políticas públicas entretanto criadas e implementadas, para verificar qual o papel do

Estado na intervenção social. Nesta linha de pensamento, as autoras defendem que “o

Estado atual, embora menos protetor e securizante (…), não deixa de ser cada vez mais

controlador, de formas mais explícitas ou mais subtis, numa espécie de garantia de

«omnisciência» sem «omnipotência»” (idem: XII).

Esta tendência ganha relevo quando, em paralelo, se assiste a uma passagem gradual de

uma lógica de governo (em que o Estado providencia e controla as respostas sociais)

para uma lógica de governança (em que o Estado é parceiro de outros atores, sejam eles

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públicos ou privados ou até mesmo voluntários, na criação e monitorização de respostas

sociais).

Nesta perspetiva, algumas das fórmulas «inovadoras», que atualmente permeiam a

providência social de bem-estar, podem não traduzir (…) uma mudança

qualitativa, mas muito mais um conjunto de estratégias políticas destinadas a

preencher o vazio decorrente da relativa inoperância estatal em termos de proteção

social (Albuquerque e Amaro da Luz, 2016: 14).

A governança influencia, na verdade, a implementação e articulação de políticas

públicas ao nível local, desde logo pela forma como é diagnosticado o problema, são

delineados os objetivos e concebidas as políticas, já para não falar do impacto deste

modelo na implementação e avaliação dessas mesmas políticas.

Assente nesta lógica de governança está premente o pressuposto da responsabilização

da comunidade no que a riscos e oportunidades diz respeito. Assim, as organizações da

Economia Social aparecem neste contexto como atores privilegiados tanto na

intervenção, como na regulação social e, até mesmo, na sustentabilidade das próprias

políticas públicas no geral e nas políticas sociais em particular.

Não podemos esquecer que os direitos sociais contemplados pelo Estado social

português sofreram várias influências que contribuíram para a sua construção e

readaptação. Primeiro, as orientações corporativas do Estado Novo, seguindo-se-lhes as

influências igualitárias da democracia (após a revolução de 1974) e a europeização (com

a adesão à EU em 1986). Todo este percurso de maturação do Estado social permitiu

desenvolver duas áreas primordiais de intervenção das políticas sociais, a saber: a

“corretiva”, que prevê transferências sociais e serviços (“de natureza redistributiva”); e

a “preventiva”, no sentido de antever novas situações e/ou problemáticas sociais

(Albuquerque e Amaro da Luz, 2016: 189). Em acréscimo coexistem, desde a fase de

universalização da proteção social no contexto português, um Estado Social que

contempla um grande número de direitos sociais a par de uma economia débil que não

garante a sua sustentabilidade económica e social.

Com o intuito de realizar uma análise mais extensiva dos avanços e recuos do Estado

Social, será necessário descrever as condições económicas, políticas e sociais que

caracterizam as últimas décadas de desenvolvimento político e económico em Portugal.

Portugal atravessou uma crise política, financeira e social, que teve início em 2008 e

fragilizou bastante a sociedade portuguesa.

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Tabela n.º 1 – Apontamentos da crise portuguesa entre 2008 e 2013

Crise política Crise financeira Crise social

XVIII Governo

Constitucional

(26/10/2009 a 21/06/2011)

– Primeiro-ministro: José

Sócrates (PS). O PS ganha

as eleições com maioria

relativa. Esse governo

negociou com a “Troika”

o pedido de ajuda

financeira internacional. O

Memorando com a troika

teve 11 revisões.

José Sócrates apresenta

demissão em 23/03/2011,

devido à rejeição do

Programa de Estabilidade

e Crescimento (PEC).

Manteve-se em funções,

como Governo de Gestão

até 21/06/2011.

XIX Governo

Constitucional

(21/06/2011 a 30/10/2015)

– Primeiro-ministro:

Pedro Passos Coelho

(PSD-CDS). O PSD é o

partido mais votado e

forma governo com apoio

parlamentar maioritário.

Estabelece um acordo de

governo com o CDS-PP

(liderado por Paulo

Portugal pediu ajuda

financeira externa para evitar

a bancarrota.

A 3/05/2011 assina o

Memorando de Entendimento

com a “Troika” (Fundo

Monetário Internacional;

União Europeia; Banco

Central Europeu.

Adoção de medidas

financeiras de austeridade

com vista à redução do

déficit orçamental, do

endividamento público e da

despesa (através da redução

ou congelamento de salários,

do aumento de taxas e

impostos e da reestruturação

de serviços e apoios

públicos).

Corte nas despesas sociais

com restrição no acesso a

prestações sociais (e.g.

Rendimento Social de

Inserção, Complemento

Solidário para Idosos,

Subsídio de desemprego e

Abono de Família).

Restrição do acesso e

diminuição dos valores das

prestações de desemprego.

Entre 2011 e 2014 a emigração

aumentou significativamente

(de 100978 mil pessoas para

134624 mil pessoas).

O desemprego jovem atingiu

os 40% em 2012; o

desemprego de longa duração

atingiu os 9,5% em 2012.

A taxa de desemprego atingiu

os 16,9% em 2013.

Aumentou o trabalho precário

(taxa de emprego em part-time

aumentou de 11,5 em 2006

para 13,1 em 2014; taxa de

empregados com contrato de

duração limitada aumentou de

20,4 em 2006 para 21,4 em

2014)

Em 2013, 19,5% dos

portugueses encontravam-se

em risco de pobreza.

Aumentou de 16,4% em 2006

para 43,2% em 2014 de

pessoas que não podem

suportar despesas inesperadas.

Com valores ainda mais

expressivos quando se

analisam as pessoas com 65 ou

mais anos (aumentou de 34,2%

em 2006 para 52,5% em

2014).

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Portas).

Fonte: Produção própria, baseado em informação do INE, Pordata e site Portugal.gov.pt

Como se pode observar na tabela, registou-se uma diminuição do investimento no

combate à pobreza entre 2010 e 2015, como resultado da alteração dos requisitos de

acesso às prestações sociais e na diminuição do valor das prestações. Desta forma,

apesar do agravamento da situação económica e social, o número de beneficiários de

prestações sociais diminuiu, e, como o valor das prestações também sofreu uma

redução, regista-se uma clara diminuição da despesa social neste âmbito.

Tabela n.º 2 – Variação das despesas da Segurança Social com o combate à pobreza no

período 2010-2015 – Governo PSD/CDS e “Troika”

Com a crise económica como “argumento”, diminuíram-se os apoios sociais e as

condições de acesso às prestações sociais. Simultaneamente, verifica-se um aumento

dos problemas sociais e o campo da intervenção social no combate à pobreza e à

exclusão assume lógicas de ação cada vez mais restritivas. A título de exemplo, e

considerando o caso do desemprego, durante o período de assistência financeira, o

sistema de proteção social foi alterado, deixando desprotegidos um número cada vez

maior de desempregados, com a introdução de restrições no acesso à medida,

diminuição do período de assistência e aumento das responsabilidades de inclusão no

mercado de trabalho por parte do beneficiário (Marques e Matos, 2016). Outro exemplo,

de sucessivas alterações legislativas e de procedimentos, é o Rendimento Social de

Inserção que, com a introdução de regras mais restritivas, dificulta o acesso à medida, o

que se traduz numa diminuição do número de beneficiários num período de

agravamento das situações de pobreza e exclusão social no país. Assim, assiste-se a uma

lógica de atuação da ação social assistencialista e de emergência, em que se verifica a

diminuição dos direitos socais clássicos (universais), em que se confere uma maior

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autonomia (de proteção social, de cidadania e previdencial) aos beneficiários e se

desenvolvem medidas de apoio social em espécie4, precárias, discricionárias e com

exposição estigmatizante da vulnerabilidade dos beneficiários. Importa realçar ainda

que, com a adoção destas medidas de austeridade (que se refletiu na diminuição de

rendimentos das famílias) e com a introdução de alterações às políticas de combate à

pobreza e exclusão social (diminuição de apoios sociais e do números de pessoas

apoiadas), para além de se acentuarem os problemas de pobreza e exclusão social já

existentes, não foi prevenido o aparecimento de novas bolsas de pobreza, que afetam

franjas da sociedade com características diferenciadoras (trabalhadores precários, com

baixos salários, entre outros).

Como se pode constatar, os acontecimentos históricos, políticos, económicos e sociais

das últimas décadas (num movimento já iniciado na década de 1990) indiciam o

crescente desinvestimento na despesa social por parte do Estado (enfraquecimento do

Estado Providência) e, consequentemente, uma maior responsabilização da sociedade

civil nas questões sociais (fortalecimento da Sociedade Providência5).

O Estado deixa assim de constituir-se como agente único de proteção, articulando-

se doravante com outros agentes na produção corresponsável de bem-estar

socioeconómico e de coesão social assente em pressupostos de justiça e de

direitos de participação, de reconhecimento, de inserção e de utilidade

(Albuquerque, 2013: 65).

Encruzilhadas da intervenção social: entre a passividade e a ativação

Ao considerar os indivíduos como cidadãos activos e não apenas como assistidos,

introduz-se uma filosofia de cidadania que estava afastada na clássica relação

paternalista entre Estado e assistido, geradora de dependência e pela qual este

último se tende a tornar num sujeito subordinado (Hespanha, 2008: 2).

Para realçar as principais diferenças entre as políticas sociais clássicas e as políticas

sociais renovadas, apresenta-se o seguinte esquema:

Esquema n.º 1 – Principais diferenças entre as políticas sociais clássicas e renovadas

4 O número de Cantinas Sociais, do Programa de Emergência Social, aumentou de 62 em 2011, para 843 em 2015 (num total de 48000 refeições diárias) (Marques e Matos, 2016). 5 Ver também (Santos, 1991; Gosta, 1993; Sposati e Rodrigues, 1995; Ferreira, 2008; Portugal, 2008; Varela e Guedes, 2013; Branco, 2017)

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Fonte: adaptado de Pedro Hespanha (2008: 3).

Neste quadro conceptual, Pedro Hespanha apresenta as “novas metodologias de

intervenção social” resultantes do “Estado-Providência activo”, nomeadamente “a

abordagem por projecto, a acção descentralizada e partilhada, a personalização e

contratualização das respostas” (2008: 4).

De facto, nos últimos anos proliferaram modelos de intervenção social orientados por

uma abordagem de projeto (gestão por objetivos, flexível, inovador/experimental e de

caracter temporário), muito diferente do modelo anterior (que primava pela estabilidade/

rotina de procedimentos, rigidez /burocracia e permanência). A lógica de projeto

encontra-se generalizada tanto no setor público, como no setor privado (empresas e

organizações da economia social).

Importa agora elencar as principais vantagens e desvantagens deste tipo de abordagem.

Tabela n.º 3 – Pontos fortes e limitações da abordagem por projetos

10

Políticas sociais clássicas

O Estado tinha uma postura relativamente passiva

(atendimento de balcão), muito centralizada e baseada numa

estrutura burocrática de serviços, regida por normas rígidas

A relação com os cidadãos era de autoridade, sem que a estes

fossem reconhecidos verdadeiros direitos

O Estado assumia a responsabilidade exclusiva da

intervenção, operando isoladamente

O cidadão era apenas um agente passivo

Politicas sociais renovadas

Atitude mais activa quer por parte do Estado, quer por parte

dos cidadãos

Os serviços sociais revelam uma maior iniciativa na procura dos

cidadãos em risco social, descentralizam mais a sua gestão

e tornam-na mais flexível.

A intervenção baseia-se em projectos, utilizando o princípio

da gestão por objectivos e partilhando a responsabilidade pela realização dos objectivos

com outros parceiros.

O cidadão torna-se um agente activo e competente com quem o Estado negoceia o formato das

medidas e define os direitos e as obrigações.

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Pontos fortes Limitações

Proximidade: melhor conhecimento da realidade

local, maior facilidade de participação dos

interessados e maior legitimidade da intervenção.

A proximidade pode amplificar as relações

negativas entre parceiros locais.

Atuação integrada: adequada à natureza

multidimensional dos problemas e fomentadora da

cooperação inter-institucional.

Lógicas institucionais fortes podem

potenciar o conflito ou levar à dominação

por parte das instituições mais poderosas

(o problema agrava-se quando falta uma

tradição de cooperação institucional).

Flexibilidade da ação: melhor adaptação à realidade

local e às suas mudanças, melhor ajustamento na

cooperação de atores locais e uma gestão não

burocrática.

A flexibilidade da ação pode desviar a ação

dos objetivos prioritários do ponto de vista

dos interesses nacionais.

Autonomia de ação: maior capacidade de decisão e

de mobilização e utilização de recursos locais.

A autonomia de ação pode conduzir a um

descontrolo no uso dos recursos.

Partilha de identidade: maior coesão em torno de

objetivos locais consensualizados; relações fortes e

positivas de identificação entre os parceiros.

Existe o risco de emergência de lógicas

localistas ou particularistas.

Capacidade de fazer circular a informação, de

mobilizar capital social, de produzir ajudas, de ligar

os agentes económicos, de controlar as políticas

públicas; Duração limitada ao cumprimento de

metas objetivas: permite reavaliação da situação

para ajustar a ação às mudanças.

A intervenção integrada e em parceria

exige uma estrutura organizativa estável e

movida por objetivos precisos, tornando-se

difícil a resolução dos problemas e

correndo-se o risco da descontinuidade de

ação no âmbito de um projeto limitado

temporalmente.

Fonte: adaptado de Pedro Hespanha (2008: 5).

Para além dos aspetos referidos na tabela acima, convém refletir sobre a necessidade de

atividades e de organizações de carácter permanente. Não serão muito projetos

(concebidos por tempo determinado) utilizados para financiar atividades permanentes?

Poderão as organizações continuar a financiar respostas/serviços permanentes com

recurso a financiamentos temporários?

Será necessário referir ainda a influência da europeização de políticas públicas e, em

especial de políticas sociais, não só em termos de linhas orientadoras, mas também em

apoios económicos para a implementação das mesmas (antes da crise económica de

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2008/2009). Pode concluir-se que os fundos públicos nacionais e comunitários são

importantes fontes de financiamento, quer para instituições, quer para respostas sociais.

Outro modelo de intervenção social identificado por Pedro Hespanha (2008:6) é a

intervenção descentralizada e a partilha de responsabilidades com a sociedade civil.

Como qualquer outro modelo, a intervenção descentralizada também pode apresentar

limitações. O autor defende que as mesmas se manifestam na eficácia (as iniciativas

locais sozinhas não conseguem resolver os problemas sociais complexos, necessitam de

ser acompanhadas por medidas de caráter nacional); equidade (“pode gerar-se uma

distribuição desigual de protecção social pelos diferentes territórios”);

avaliação/accountability (“maior dificuldade em controlar a aplicação de recursos

públicos”); localismo (“possibilidade de «desvios» significativos na execução de

políticas, entre os objetivos nacionais e a sua concretização local”); efeito de

proximidade/familiaridade (a falta de distanciamento face ao que é familiar pode

dificultar a consciência das necessidades e das oportunidades locais); escala (existem

situações em que o local não é a melhor opção) (Hespanha, 2008: 6).

A personalização ou individualização das medidas é talvez a inovação mais relevante ao

nível dos modelos de intervenção social. “Em vez de dispositivos abstractos de

aplicação universal, os novos programas sociais privilegiam medidas de carácter

concreto ajustadas ao perfil dos destinatários efectivos, sejam eles famílias ou

indivíduos” (Hespanha, 2008: 10).

A subjetivação da intervenção social é visível pelo enfoque dado à pessoa que recorre

ao sistema, na medida em que a mesma é chamada a intervir ativamente em todo o

processo, seja pela “reconstituição” do seu percurso (quando relata a sua história de

vida), pela identificação das suas capacidades e fragilidades, seja pela mobilização de

recursos endógenos e pela procura de soluções para o/s problema/s identificado/s. No

entanto, ao mesmo tempo que é promovida a autonomia, numa espécie de política social

emancipatória, aumenta o risco de incremento do “fosso” no acesso às estruturas de

oportunidades.

[É] (…) possível identificar duas novas tendências paralelas e, em muitos casos

conflituantes, de agregação das diversas intervenções no domínio social: a) uma

orientação gestionária, determinada por preocupações associadas à produção e

avaliação de objetivos e resultados, tendo por base uma lógica de racionalização e

de quantificação; e b) uma orientação subjetivante, que se concretiza em formas

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renovadas de acompanhamento social de sujeitos em situação de vulnerabilidade

ou de exclusão (Albuquerque, 2013: 75).

Na subjetivação da intervenção social, o papel do interventor social assume especial

relevo. Assim, a sua atuação pode nortear-se pela “singularização ou a personalização

no domínio das interações”; pela “responsabilização no domínio da abordagem

contratual”; pela “mobilização, no domínio da construção motivacional e das

competências” (idem: 78).

O enfoque na singularidade, na autonomia e na responsabilização da pessoa na

resolução do/s seu/s problema/s, será uma resposta positiva, desde que com “conta, peso

e medida”. Há necessidade de contextualizar a situação individual na esfera coletiva, de

potenciar a autonomia da pessoa com o recurso a sinergias existentes, de valorizar a

pessoa, mas num contexto de cidadania e de dignidade. O interventor social assume um

papel decisivo na negociação e combinação dos fatores pessoais e sociais.

Neste cenário de novas abordagens no que concerne à intervenção social, o

envolvimento ativo dos destinatários é peça fundamental. Pressupõe-se que os

beneficiários participem no seu próprio processo de inclusão social, por intermédio da

contratualização. Baseadas em princípios emancipatórios, estas medidas poderão

acarretar alguns dissabores, na medida em que se apresentam como punitivas no acesso

a benefícios sociais em caso de incumprimento, com alto teor de responsabilização do

próprio beneficiário pela situação de exclusão e com a possibilidade de incremento de

um mercado de trabalho secundário e precário (beneficiários com anos de trabalho em

situações precárias, sem os direitos laborais assegurados) (Hespanha, 2008: 12 e 13).

Hans-Uwe Otto (2018: 68) defende que tanto os estados de bem-estar europeus, como o

“espaço político do social", estão a passar por uma reorganização fundamental: por um

lado, assiste-se a um recuo nos modelos que privilegiam o fornecimento de segurança

social aos cidadãos através de pagamentos de transferências; e, por outro, ao

crescimento dos modelos que que enfatizam a responsabilidade individual e prometem

melhores condições de vida por meio da participação ativa no mercado. Assim, os

serviços sociais são transformados em serviços personalizados, não apenas na sua

natureza, mas também na sua importância, assistindo-se mesmo à implementação de

novos princípios de bem-estar, que agora estão totalmente centrados no sujeito

individual e orientados para o desenvolvimento emancipatório da sua clientela (Otto,

2018: 68).

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O autor defende que a nova lógica subjacente aos serviços sociais combina premissas

institucionais e gerencialistas, com objetivos normativos de orientação produtivista, que

caminham lado a lado com o auto comprometimento e a responsabilidade individual dos

destinatários (Otto, 2018: 68).

A este propósito Hans-Uwe Otto (2018: 68) argumenta que Serviço Social, enquanto

profissão, está sob ataque, na medida em que, a ação profissional situada entre sujeito e

estrutura social e entendida como um mediador, não corresponde à nova “forma” dos

serviços sociais, levando ao abandono das lógicas centrais da ação profissional. Do

ponto de vista da teoria da profissão, não se trata apenas de uma forma de ação

corretiva, mas sempre também da reconstrução baseada na existência (ou não) de

oportunidades de realização, bem como da demanda por igualdade de participação, nas

bases materiais, culturais e políticas da vida.

Rede Local de Intervenção Social: delegação de competências ou

desresponsabilização?

A RLIS foi criada, em Portugal, em setembro de 2013, com o intuito de reforçar a ação

das entidades do setor social pela sua proximidade à população, criando um “modelo de

organização, de intervenção articulada e integrada, de entidades públicas ou privadas

com responsabilidade no desenvolvimento da ação social”, regendo-se por princípios de

contratualização, cultura de direitos e obrigações e intervenção de proximidade6.

A iniciativa RLIS é desencadeada num quadro de intervenção financeira externa em

Portugal, num período de forte austeridade e de refluxo das políticas sociais, no qual o

governo em funções procedeu a significativos cortes e restrições nos direitos sociais,

canalizando parte da despesa social para um Programa de Emergência Social.

Através da análise dos antecedentes, são percetíveis as opções políticas que estão na

base do desenho da política pública RLIS, nomeadamente a delegação de competências

de ação social nas instituições da sociedade civil e a procura de financiamento para

programas que, sendo necessários, não estavam a responder às necessidades crescentes

da população portuguesa (quer pela diminuição dos recursos alocados7, quer pelo

aumento da restrição dos critérios de acesso às prestações e aos apoios sociais). Nesta

linha é possível compreender igualmente em que medida esta iniciativa de reforma do 6 Despacho n.º 12154/2013 de 24 de setembro7 Registou-se, simultaneamente, uma importante reestruturação dos serviços públicos, nomeadamente da segurança social e de outros departamentos ministeriais, com a não renovação e cessação de contratos com uma grande quantidade de funcionários da Segurança Social, incluindo Assistentes Sociais e outras profissões sociais.

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modelo de governação da ação social junto de populações vulneráveis não poderá ter

sido influenciada por uma estratégia de mobilização de recursos do Fundo Social

Europeu cujo acesso só seria possível com o envolvimento direto de organizações da

economia social em ações de combate à pobreza e à exclusão social.

A partir da análise do programa do Governo pode afirmar-se que a formulação

evidencia o propósito de criar “um Programa de Emergência Social” (PES) para atingir

os objetivos, nomeadamente combater a pobreza, apostar na inclusão e na coesão social,

estimular a natalidade, reconhecer a importância da família, garantir a sustentabilidade

dos modelos sociais e a sua reforma8.

Por outro lado, aquando da publicação e entrada em vigor da Lei de Bases da Economia

Social (Lei n.º 30/2013, de 8 de maio), os responsáveis políticos afirmaram que tinha

como principal objetivo reforçar a lógica da intervenção partilhada, descentralizada e

próxima dos cidadãos e baseada na partilha de responsabilidades. Contudo, da análise

do referido diploma verifica-se que este regulamenta a relação entre o Estado e as

entidades da economia social, apenas numa perspetiva de deveres do Estado no seu

relacionamento com aquelas entidades, não sendo estabelecidos, nesta lei, deveres das

referidas entidades para com o Estado, ou mesmo para com a sociedade em geral, ou os

membros, utilizadores e beneficiários daquelas entidades em particular.

No período em análise, é aprovada ainda a alteração da lei de bases do sistema de

segurança social9. De realçar que apenas se registam alterações nos artigos 63º - Quadro

legal das pensões e 64º - Factor de sustentabilidade. Este facto, só por si, é revelador do

peso limitado que a ação social teve no debate sobre a reforma do Sistema de Segurança

Social em Portugal. Da análise verifica-se uma transferência de responsabilidades da

Segurança Social, relativamente à ação social, para as autarquias. No ponto 3 do artigo

32.º (Instituições Particulares de Solidariedade Social), fica claro que o Estado exerce

poderes de fiscalização e inspeção sobre as IPSS por forma a garantir o efetivo

cumprimento das obrigações legais e contratuais (resultantes dos acordos ou protocolos

de cooperação celebrados com o Estado).

O Governo associa a criação da RLIS ao intuito de reforçar a ação das entidades do

setor social pela sua proximidade à população, criando um “modelo de organização, de

intervenção articulada e integrada, de entidades públicas ou privadas com

8 O Governo criou o PAEF-Programa de Assistência Financeira a Portugal, o PES, com início em 2011. Combater a Pobreza e Reforçar a Inclusão e a Coesão Sociais; a Economia Social; a Família e a Natalidade; e Promover a Sustentabilidade da Segurança Social são as linhas centrais desta medida. 9 Lei n.º 4/2007, de 16 de janeiro alterada pela Lei n.º 83-A/2013, de 30 de dezembro.

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responsabilidade no desenvolvimento da ação social”, regendo-se por princípios de

contratualização, cultura de direitos e obrigações e intervenção de proximidade

( Despacho n.º 12154/2013 de 24 de setembro). Fica clara a intenção de descentralização

das competências da ação social, não só para os municípios, mas também para as IPSS,

numa lógica de trabalho em rede (governança), com o Estado como parceiro e,

simultaneamente, com as competências de fiscalizador e inspetor.

O diploma (Despacho n.º 12154/2013, de 24 setembro) faz menção ao Programa de

Emergência Social e à Lei de Bases do Sistema da Segurança Social, bem como o

contexto de crise económica e social analisados anteriormente, para justificar a criação

da RLIS.

Tal como indiciavam os argumentos anteriores, dá-se primazia à parceria estratégica no

âmbito da intervenção social, com vista ao aumento da eficácia e da eficiência tanto dos

recursos como das respostas às necessidades populações.

A RLIS assenta, quanto aos seus desígnios, no pressuposto da contratualização (todos

os intervenientes, cidadãos, famílias, instituições públicas e privadas assumem o

compromisso nas intervenções de que sejam parte), a cultura de direitos e obrigações

(promoção da cidadania e o cumprimento de deveres), a transversalidade (a integração

das políticas, programas e medidas de vários setores e a articulação com as entidades de

diferentes áreas nas intervenções) e na lógica de intervenção de proximidade (aproximar

os serviços aos cidadãos na resposta às suas necessidades) (ponto 3, Despacho n.º

12154/2013, de 24 setembro).

Pressupõe ainda a “Inovação Social”, ou seja, a implementação de novos mecanismos

de atuação e diferentes estratégias de ação, que se adequem às necessidades sociais

atuais, bem como às especificidades territoriais.

Apesar de criada em 24/09/2013, a RLIS foi regulamentada apenas em 18/09/201410,

onde fica claro que podem ser entidades aderentes, IPSS e equiparadas ou entidades

públicas com as quais sejam contratualizados serviços complementares.

A RLIS assenta numa lógica de intervenção articulada e integrada de entidades

com responsabilidade no desenvolvimento da ação social que visa potenciar uma

atuação concertada dos diversos organismos e entidades envolvidas na

prossecução do interesse público e promover a implementação de novos

10 Despacho n.º 11675/2014, de 18 setembro, alterado pelo Despacho n.º 5149/2015, de 18 de maio, bem como pela Portaria n.º 137/2015, de 19 de maio, que estabelecem o modelo de organização e funcionamento da RLIS.

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mecanismos de atuação e diferentes estratégias de ação em resposta às

necessidades sociais. (artigo n.º2, Despacho n.º 11675/2014, de 18 setembro).

Neste diploma também são apresentados os objetivos da RLIS, no entanto, passado um

ano, podem observar-se algumas alterações que importa aqui analisar.

Esquema n.º 2 – Objetivos da RLIS

Fonte: Produção própria, baseada no Despacho n.º 12154/2013, de 24 setembro e no

Despacho n.º 11675/2014, de 18 setembro, alterado pelo Despacho n.º 5149/2015, de 18

de maio, bem como pela Portaria n.º 137/2015, de 19 de maio

Importa reter que, no decurso das alterações legislativas11 se verifica uma amplificação dos

objetivos da RLIS, que não deixa de ser reveladora. Enquanto que, no primeiro diploma se

11 Despachos n.º 11675/2014, de 18 setembro, e 5149/2015, de 18 de maio, bem como pela Portaria n.º 137/2015, de 19 de maio

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Ponto 6 - Despacho n.º 12154/2013 de 24 de

setembro

Artigo 4.º - Despacho n.º 11675/2014, de 18 setembro, alterado pelo Despacho n.º 5149/2015, de 18 de maio e pela Portaria n.º 137/2015,

de 19 de maio

b) Assegurar a coordenação eficiente de todos os agentes, meios e recursos;

g) Assegurar os recursos necessários para fazer face às situações de crise e ou emergência social, bem como de comprovada carência económica;

f) Assegurar o acompanhamento social das situações de vulnerabilidade, nomeadamente através da gestão, a nível local, dos programas criados para esse efeito;

d) Reforçar a plataforma de colaboração estabelecida com as entidades que localmente prestam serviços no âmbito da ação social;”

c) Assegurar a coordenação eficiente de todos os meios e recursos que integram a rede

b) Assegurar o atendimento/ acompanhamento social das situações de vulnerabilidade, bem como disponibilizar apoios financeiros de carácter eventual a agregados familiares em situação de comprovada carência económica;

d) Reforçar a plataforma de cooperação estabelecida com as instituições que localmente desenvolvem respostas sociais no âmbito da ação social.”

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previa a disponibilização de apoios financeiros às populações vulneráveis, aquando da

alteração, o objetivo é amplificado para “acompanhamento social das situações de

vulnerabilidade, nomeadamente através da gestão, a nível local, dos programas criados

para esse efeito” e para a existência de “recursos necessários para fazer face às situações

de crise e ou emergência social, bem como de comprovada carência económica” (Artigo 4.º

do Despacho n.º 11675/2014, de 18 setembro). De referir ainda o aumento de objetivos no

âmbito do trabalho colaborativo, bem como a introdução de um objetivo que reforça a

promoção da inovação social.

Para além dos objetivos da RLIS, foram ainda definidos os objetivos do Serviço de

Atendimento e Acompanhamento Social (SAAS).

a) Informar, aconselhar e encaminhar para respostas, serviços ou prestações

sociais adequados a cada situação; b) Apoiar em situações de vulnerabilidade

social; c) Prevenir situações de pobreza e de exclusão sociais; d) Contribuir

para a aquisição e ou fortalecimento das competências das pessoas e famílias,

promovendo a sua autonomia e fortalecendo as redes de suporte familiar e

social; e) Assegurar o acompanhamento social do percurso de inserção social;

f) Mobilizar os recursos da comunidade adequados à progressiva autonomia

pessoal, social e profissional (artigoº 3).

A este propósito salienta-se o facto de, apesar da delegação de competências de ação

social nas Organizações da Economia Social, o Estado continua a providenciar os

instrumentos e os meios para a organização e funcionamento do SAAS.

O modelo de gestão da RLIS assenta numa lógica de descentralização e contratualização

de serviços, numa lógica de proximidade (supraconcelhia, concelhia, circunscrito a uma

freguesia ou localidade, dependendo das características do território), garantindo a

subsidiariedade da sua implementação, acompanhamento e monitorização (artigo 6º do

regulamento da RLIS).

Tabela n.º 4 – Modelo de gestão da RLIS

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Fonte: (Joaquim, 2015: 53)

O modelo de gestão da RLIS prevê três níveis de intervenção e de responsabilidade,

sendo que ao Estado compete acompanhar e monitorizar e todos os níveis de

intervenção (central, distrital e local). Na verdade, na operacionalização da política, é

necessária a aprovação do Serviço Local da Segurança Social tanto para a atribuição de

prestações de carácter eventual com a finalidade de colmatar situações de emergência

social e de comprovada carência económica, como para a contratualização no âmbito da

intervenção social (Acordo de Inserção Social-AIS) ainda que estes aspetos não sejam

explícitos na regulamentação legal.

Esta regulação por parte das entidades públicas, se por um lado, é um fator essencial na

garantia de equidade no cumprimento de regras transversais e monitorização de gastos e

resultados, por outro, pode produzir ou ampliar as tensões já identificadas por Godinho

e Henriques (2013) no quadro do Programa Rede Social, entre a obediência a uma

estrutura top-down de planeamento de políticas sociais, ancorada em instrumentos

normalizados, e uma lógica participativa de tipo bottom-up; entre a flexibilidade e a

geometria variável nas condições de funcionamento e o estatuto orgânico e padronizado

de órgãos, instrumentos e recursos.

O “Manual Técnico para SAAS” foi concebido pelo ISS e distribuído por todas as

equipas RLIS aquando da frequência obrigatória de formação sobre procedimentos

técnicos e metodologias de intervenção social (ministrada pelos Centros Distritais do

ISS) e define um padrão de serviço de atendimento e acompanhamento sociais (SAAS)

prestados no âmbito do programa RLIS.

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Se, por seu turno, com a implementação da RLIS são delegadas competências no âmbito

da ação social nas organizações da sociedade civil, com autonomia para a criação de

respostas inovadoras no combate à pobreza e à exclusão social; por outro, está-se

perante um projeto com regras muito rígidas no que concerne aos procedimentos a

utilizar, seja pela necessidade de aprovação por parte do ISS (local ou distrital) de ações

específicas (ex: atribuição de prestações de carácter eventual e contratualização no

âmbito da intervenção social – AIS), como pelos procedimentos técnicos assumidos em

cada uma das situações de vulnerabilidade social (veiculados e transmitidos tanto nas

formações presenciais e em regime e-learning, como no Manual Técnico adotado).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As RLIS, criadas na ótica do modelo do Welfare Mix, assentam na responsabilidade

partilhada entre Estado, sociedade civil, agentes internacionais, terceiro setor e as

empresas.

Da análise realizada ressaltam algumas questões sobre a política RLIS, designadamente:

1. A opção pela transferência das responsabilidades de ação social do Estado para as

OES, em contexto de crise, será fruto do crescimento das políticas neoliberais de

intervenção ou da necessidade de obter financiamento comunitário para tarefas

essenciais que o Estado não tinha capacidade para suportar?

2. Haverá efetivamente uma transferência de poderes ou continua a ser o Estado a

tutelar a ação social? Apesar de ser entendido como parceiro, o Estado detém a

competência de acompanhamento e fiscalização, para além de que na

operacionalização da intervenção social, existem procedimentos técnicos das

equipas RLIS que dependem da aprovação do ISS (Centro Distrital ou Serviço

Local).

3. Serão as RLIS respostas de intervenção inovadoras? Até que ponto é possível

inovar, quando os procedimentos e metodologias de trabalho são transmitidos e

vinculados pelo ISS?

4. Não será importante o Estado realizar um processo continuado de avaliação do

interesse público, da qualidade dos serviços prestados e da observância dos direitos

dos cidadãos-utentes? De que forma se garantem a equidade e a universalidade no

acesso aos serviços de ação social?

Seria relevante a apresentação pública do resultado das avaliações (ações de fiscalização

e inspeção sobre as IPSS que prestam serviços públicos, no âmbito dos acordos de

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cooperação e parceria celebrados) realizadas pelo Estado, como garante da

transparência e do acesso à informação.

Num período como o que temos vivido nos últimos anos no contexto europeu, de

atrofiamento do welfare state, vimos como o modelo keynesiano foi deixando

espaço para, de novo, reemergir um conceito de “Estado regulador”, inspirado no

princípio shumpeteriano segundo o qual os mercados são dotados de uma

capacidade “natural” de autorregulação, cabendo ao Estado sobretudo assegurar as

condições da boa concorrência. Essa passagem, apesar das suas particularidades

em países diferentes, traduziu-se em três traços fundamentais: a descentralização

da ação estatal para as escalas local ou transnacional; a maior focalização na

esfera laboral, nomeadamente nas políticas de formação profissional e na

flexibilização (lean production); a aposta na “governança”, em geral

acompanhada por processos de privatização e subcontratação em diversos sectores

e serviços públicos (Silva in Estanque, 2012:16).

Houve uma maior responsabilização das OES no combate à pobreza e à exclusão social,

com a atribuição das funções de ação social (anteriormente da competência do Estado),

com o acompanhamento e fiscalização do ISS. Ao mesmo tempo que se chama a

sociedade civil para intervir no combate de problemas sociais complexos com respostas

sociais inovadoras, eficazes e eficientes, exige-se a manutenção de formas de

intervenção e de procedimentos. Há, pois, um conjunto de aspetos que podem afigurar-

se como paradoxais e sobre os quais importa refletir de forma mais profunda, de modo a

determinar os eixos estruturantes de políticas de desenvolvimento local e de governança

que sejam verdadeiramente eficazes e inovadoras e não meros paliativos para as

dificuldades estruturais do Estado.

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