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1. Título: Estado social: delegação de competências ou desresponsabilização?
2. Autor(es): 1 – Almeida, Cristiana Dias de;2 – Albuquerque, Cristina Maria Pinto
3. Instituição: Universidade de Coimbra
4. Email 1: [email protected]; Email 2: [email protected]
5. Resumo/abstract: A Rede Local de Intervenção Social (RLIS) surgiu, em
Portugal, em 2013, como política de combate à pobreza e à exclusão social.
Neste contexto, assistiu-se a uma transferência de responsabilidades no âmbito
da ação social do Estado para as Organizações da Economia Social (OES), sob o
pretexto da “responsabilidade social dos diferentes agentes sociais”1 (lógica de
governança) e a garantia de “novas e melhores respostas de proximidade aos
cidadãos”2. No presente artigo pretendemos discutir criticamente os pressupostos
da nova lógica da governança das políticas públicas, aqui exemplificada pela
RLIS, e discutir os respetivos impactos, nomeadamente em termos de eficácia e
de inovação no desenvolvimento local.
6. Nota biográfica dos autores: Cristiana Almeida (Mestre em Sociologia pela
Universidade de Coimbra, Bolsa de Doutoramento financiada pela FCT, no âmbito
do FSE e do programa de financiamento POCH), Cristina Albuquerque (Doutora
em Letras, Especialidade Trabalho Social e Política Social, pela Universidade de
Fribourg; Professora Auxiliar da Universidade de Coimbra).
7. Palavras chave: Estado social, Políticas Sociais, Governança, Inovação Social,
Avaliação de impacto
Introdução
Em Portugal, tem-se vindo a assistir a uma alteração gradual das lógicas de proteção
social, afigurando-se cada vez menos homogéneas e “securizantes”. A intervenção do
Estado foi sendo adaptada às situações, verificando-se uma maior especificação e
personalização dos meios e modelos de intervenção. Assim, as políticas públicas
passam a estar assentes em opções centradas em lógicas “de contingência e de
adaptabilidade” (Albuquerque e Amaro da Luz, 2016). Estas alterações e adaptações
conduzem ao aparecimento de novas formas de bem-estar social, com implicações
diretas na cidadania e na justiça social.
1 Despacho n.º 12154/2013 de 24 de setembro.2 Idem.
1
Em paralelo, assiste-se a uma passagem gradual de uma lógica de governo (o Estado
providencia e controla as respostas sociais) para uma lógica de governança (o Estado é
parceiro de outros atores, sejam eles públicos, privados ou mesmo voluntários, na
criação e monitorização de respostas sociais).
A governança afigura-se, na verdade, como um desafio societal atual e premente, que
tem sido discutido tanto no âmbito académico (Braun e Schultz, 2010; Lopes, 2010;
Pereira e Carranca, 2011; Kime Lee, 2012; Ferreira, Fernandes e Silva, 2013; Vossole,
2013; Gundelach, Buser e Kübler, 2017; Magone, 2017), como no âmbito das políticas
sociais (Veiga et al., 2013; Burgess, 2014; Ruggie, 2014; Ferrão, 2015; Ekundayo,
2017; Farazmand, 2017). É um tema transversal, adotado a nível global e em múltiplos
setores. O que é “novo” e o que está vinculado às formas tradicionais de agir e
conceituar problemas sociais sob o novo paradigma de governança?
A alteração ao nível dos pressupostos de ação pública que esta transmutação de lógicas
pressupõe abre a possibilidade e incentiva novos processos de intervenção ancorados na
cooperação e na inovação sociopolítica e territorial. Neste âmbito, a Rede Local de
Intervenção Social (RLIS) é um modelo de organização que enfatiza a ação integrada
(envolvimento e responsabilização de diferentes atores locais: entidades públicas,
privadas, sociedade civil). Na lógica de governança está de facto premente a perspetiva
da responsabilização da comunidade no que a riscos e oportunidades diz respeito.
Assim, as OES aparecem aqui como atores privilegiados na intervenção social, na
regulação social e até mesmo na sustentabilidade das próprias políticas públicas, no
geral, e das políticas sociais, em particular. As OES têm vindo a ganhar cada vez mais
protagonismo no que concerne à capacidade de dinamização de programas/projetos de
intervenção social. Pode, no entanto, questionar-se, e esse é o mote da investigação em
curso, em que medida a nova forma de organização territorial (RLIS) corresponde
efetivamente a um novo formato de intervenção social, produzindo formas renovadas de
compreender/atuar sobre problemas sociais locais complexos e gerando impacto social.
No presente artigo pretende-se refletir criticamente sobre estas questões, salientando o
contexto de emergência de uma nova lógica de intervenção objetivada na RLIS, bem
como os fatores críticos que pode comportar, quer em termos de filosofia de base, quer
em termos de implementação.
O artigo estrutura-se em 4 partes articuladas. Começa pela (des)construção analítica da
proteção social, seguindo-se-lhe a discussão em torno dos avanços e recuos da proteção
social em Portugal, bem como das metodologias de intervenção social e finaliza com a
2
apresentação da RLIS, análise das ruturas e continuidades do regime de proteção social
clássico, o questionamento sobre a eficácia e a eficiência da adoção do modelo de
governança e do carácter inovador da iniciativa.
Proteção Social: (des)construção analítica3
A discussão em torno dos modelos de proteção social não é nova. Muito se tem escrito e
debatido no que concerne aos mecanismos de satisfação das necessidades das pessoas
em diferentes contextos, sejam eles históricos ou geográficos.
Os modelos de Estado têm sofrido várias transformações ao longo da História. De
acordo com os tempos e as circunstâncias políticas, sociais e económicas, foram sendo
adotados diferentes modelos de proteção social: desde os modelos associados à caridade
até à sua configuração como direito (sistemas estruturados de bem-estar social), e à
mudança de paradigma: da noção de proteção como direito, para a noção de proteção
como responsabilidade partilhada (Welfare Mix) entre Estado, sociedade civil, terceiro
setor e empresas. “Seja como for, a história mostra-nos que não há modelos
monolíticos que se seguem uns aos outros, mas sim soluções sempre compósitas,
transitórias e de duração indefinida” (Estanque, 2012: 16).
Na primeira metade do séc. XX, os sistemas de proteção social generalizaram-se a quase
todos os países da Europa. Com o aparecimento dos direitos sociais, chamados direitos
de terceira geração na perspetiva de Marshall (1950), a par com o reforço da autoridade
do Estado, formulam-se novas exigências sociais e atribui-se ao Estado cada vez mais o
papel de prestador desses direitos. O que Bismark iniciara na Alemanha, em 1880, com
o serviço nacional de segurança social, alastrava agora a muitos outros países. O Estado
tornava-se prestador fundamental dos novos direitos sociais.
No entanto, nas últimas décadas, verificaram-se alterações significativas que levaram a
questionar a sustentabilidade do modelo de Estado Social. Muitos autores (Rosanvallon,
1981, Santos, 1987,1990,1991,1993,2001; Gosta, 1990,1993; Sposati e Rodrigues,
1995; Hespanha e Carapinheiro, 2002; Pereirinha, 2006; Pereirinha e Carolo, 2009;
Estanque, 2012; Silva, 2013; Abramovitz, 2018; Brandt, Roose e Verschelden, 2018;
Otto, 2018) estudaram, por exemplo, as consequências provocadas pelas alterações
tecnológicas, demográficas e do mercado de trabalho e procuraram compreender o
impacto da “nova questão social” nos Estados-Providência.
3 Neste artigo serão adotados de forma indiferenciados os conceitos de Estado-Providência, Estado Social e sistemas de proteção social, como se de sinónimos se tratassem.
3
Neste contexto, o estado de bem-estar tradicional tornou-se, nas últimas décadas, cada
vez mais contestado. Recentemente, os desenvolvimentos políticos deram um passo
adiante na erosão do estado de bem-estar tradicional com a emergência do chamado
“workfare” (Brandt, Roose e Verschelden, 2018). As políticas sociais passivas ou
indemnizatórias (Rosanvallon, 1981) foram substituídas gradualmente por políticas
sociais ativas, que implicam a redação de contratos de integração individualizados e
planos de ação pessoais. Brandt, Roose and Verschelden (2018:8) comparam estas
novas formas de intervir a "trampolins", que pretendem a integração no mercado de
trabalho dos destinatários o mais rápido possível.
Por outro lado, Fabian Kessl defende o aparecimento da “sombra do Estado Social”
(2018: 44). Assim, o autor argumenta que perante a ineficiência do Estado-Providência,
surgiram formas espontâneas de suprir as necessidades sociais (através da distribuição
de excedentes de bens básicos aos necessitados), que não estando contempladas nas
formas reguladas do Estado-Providência ou da Sociedade-Providência, trabalham na
“sombra” dos anteriores.
Essa "nova economia de caridade" está a fornecer apoio através de ajuda alimentar,
sopa, lojas de roupas de caridade (idem). Mas, não é apenas a nova “economia de
caridade” que está estabelecida nos últimos 20 a 25 anos na Europa, à sombra do
Estado de bem-estar social, podemos também identificar novos regimes de cuidado
(internacionais) ou estruturas desinstitucionalizadas de ajuda aos refugiados ou
migrantes, como parte desse desenvolvimento.
O autor (Kessl, 2018:44) alerta sobretudo para as consequências do aparecimento desses
“serviços à sombra do bem-estar social”, nomeadamente o facto de: estarem a
enfraquecer os direitos sociais formais, mesmo que esses direitos existam oficialmente;
estarem a mudar fundamentalmente o processo de prestação dos serviços sociais; e, de
não serem uma alternativa, mas estarem diretamente relacionadas aos serviços de
assistência social institucionalizados e profissionalizados.
A formação da “sombra do bem-estar” é, de acordo com esta perspetiva, uma parte
importante do processo de transformação contínua dos estados de bem-estar (Kessl,
2018: 44).
Da caridade ao direito: Avanços e recuos da Proteção Social em Portugal
Até 1974, em Portugal, a intervenção social limitava-se ao “assistencialismo
corporativista de base caritativa” (Joaquim, 2015: 8). O ponto de viragem foi a
4
publicação da Constituição da República Portuguesa em 1976, em que foi reforçada a
intervenção do Estado, numa perspetiva de solidariedade social, através da consagração
das “instituições privadas de solidariedade social”, associando estas instituições ao
sistema de segurança social. Após a Reforma da Previdência Social (1962), foi-se
desenvolvendo o Regime Geral de Segurança Social, até à aprovação da Lei de Bases da
Segurança Social de 1984 (Pereirinha e Carolo in Joaquim, 2015: 9).
Com o intuito de constituir um Estado de bem-estar social em Portugal, foram
implementadas políticas económicas e sociais de combate à pobreza e às desigualdades
sociais (a fixação do salário mínimo nacional, os subsídios de desemprego e de doença,
o abono de família, a pensão social, entre outros). Todas estas medidas eram de caráter
universalista e da tutela direta do Estado. “O Estado-Providência tem-se comportado ao
longo dos anos como uma «máquina de indemnizar» (…) e isso revelou-se claramente
inadequado para o tipo de situações de risco social que se apresentam hoje em dia”
(Hespanha, 2008: 1).
Nos últimos anos, assistiu-se a uma alteração gradual das lógicas de proteção social em
Portugal, afigurando-se cada vez menos homogéneas e “securizantes”. A intervenção do
Estado foi sendo adaptada às situações, o que levou a uma maior especificação e
personalização dos seus meios e modelos de intervenção. Assim, as políticas públicas
passam a estar assentes em opções centradas em lógicas “de contingência e de
adaptabilidade” (Albuquerque e Amaro da Luz, 2016: XI). Estas alterações e
adaptações conduzem ao aparecimento de novas formas de bem-estar social, com
implicações diretas na cidadania e na justiça social. O contexto de crise económica e
consequente aplicação de políticas de austeridade levaram a cabo alterações nos Estados
de bem-estar social europeus, no geral, e no Estado de bem-estar português em
particular.
Em Portugal, com as referidas adaptações ao Estado social, é importante analisar as
políticas públicas entretanto criadas e implementadas, para verificar qual o papel do
Estado na intervenção social. Nesta linha de pensamento, as autoras defendem que “o
Estado atual, embora menos protetor e securizante (…), não deixa de ser cada vez mais
controlador, de formas mais explícitas ou mais subtis, numa espécie de garantia de
«omnisciência» sem «omnipotência»” (idem: XII).
Esta tendência ganha relevo quando, em paralelo, se assiste a uma passagem gradual de
uma lógica de governo (em que o Estado providencia e controla as respostas sociais)
para uma lógica de governança (em que o Estado é parceiro de outros atores, sejam eles
5
públicos ou privados ou até mesmo voluntários, na criação e monitorização de respostas
sociais).
Nesta perspetiva, algumas das fórmulas «inovadoras», que atualmente permeiam a
providência social de bem-estar, podem não traduzir (…) uma mudança
qualitativa, mas muito mais um conjunto de estratégias políticas destinadas a
preencher o vazio decorrente da relativa inoperância estatal em termos de proteção
social (Albuquerque e Amaro da Luz, 2016: 14).
A governança influencia, na verdade, a implementação e articulação de políticas
públicas ao nível local, desde logo pela forma como é diagnosticado o problema, são
delineados os objetivos e concebidas as políticas, já para não falar do impacto deste
modelo na implementação e avaliação dessas mesmas políticas.
Assente nesta lógica de governança está premente o pressuposto da responsabilização
da comunidade no que a riscos e oportunidades diz respeito. Assim, as organizações da
Economia Social aparecem neste contexto como atores privilegiados tanto na
intervenção, como na regulação social e, até mesmo, na sustentabilidade das próprias
políticas públicas no geral e nas políticas sociais em particular.
Não podemos esquecer que os direitos sociais contemplados pelo Estado social
português sofreram várias influências que contribuíram para a sua construção e
readaptação. Primeiro, as orientações corporativas do Estado Novo, seguindo-se-lhes as
influências igualitárias da democracia (após a revolução de 1974) e a europeização (com
a adesão à EU em 1986). Todo este percurso de maturação do Estado social permitiu
desenvolver duas áreas primordiais de intervenção das políticas sociais, a saber: a
“corretiva”, que prevê transferências sociais e serviços (“de natureza redistributiva”); e
a “preventiva”, no sentido de antever novas situações e/ou problemáticas sociais
(Albuquerque e Amaro da Luz, 2016: 189). Em acréscimo coexistem, desde a fase de
universalização da proteção social no contexto português, um Estado Social que
contempla um grande número de direitos sociais a par de uma economia débil que não
garante a sua sustentabilidade económica e social.
Com o intuito de realizar uma análise mais extensiva dos avanços e recuos do Estado
Social, será necessário descrever as condições económicas, políticas e sociais que
caracterizam as últimas décadas de desenvolvimento político e económico em Portugal.
Portugal atravessou uma crise política, financeira e social, que teve início em 2008 e
fragilizou bastante a sociedade portuguesa.
6
Tabela n.º 1 – Apontamentos da crise portuguesa entre 2008 e 2013
Crise política Crise financeira Crise social
XVIII Governo
Constitucional
(26/10/2009 a 21/06/2011)
– Primeiro-ministro: José
Sócrates (PS). O PS ganha
as eleições com maioria
relativa. Esse governo
negociou com a “Troika”
o pedido de ajuda
financeira internacional. O
Memorando com a troika
teve 11 revisões.
José Sócrates apresenta
demissão em 23/03/2011,
devido à rejeição do
Programa de Estabilidade
e Crescimento (PEC).
Manteve-se em funções,
como Governo de Gestão
até 21/06/2011.
XIX Governo
Constitucional
(21/06/2011 a 30/10/2015)
– Primeiro-ministro:
Pedro Passos Coelho
(PSD-CDS). O PSD é o
partido mais votado e
forma governo com apoio
parlamentar maioritário.
Estabelece um acordo de
governo com o CDS-PP
(liderado por Paulo
Portugal pediu ajuda
financeira externa para evitar
a bancarrota.
A 3/05/2011 assina o
Memorando de Entendimento
com a “Troika” (Fundo
Monetário Internacional;
União Europeia; Banco
Central Europeu.
Adoção de medidas
financeiras de austeridade
com vista à redução do
déficit orçamental, do
endividamento público e da
despesa (através da redução
ou congelamento de salários,
do aumento de taxas e
impostos e da reestruturação
de serviços e apoios
públicos).
Corte nas despesas sociais
com restrição no acesso a
prestações sociais (e.g.
Rendimento Social de
Inserção, Complemento
Solidário para Idosos,
Subsídio de desemprego e
Abono de Família).
Restrição do acesso e
diminuição dos valores das
prestações de desemprego.
Entre 2011 e 2014 a emigração
aumentou significativamente
(de 100978 mil pessoas para
134624 mil pessoas).
O desemprego jovem atingiu
os 40% em 2012; o
desemprego de longa duração
atingiu os 9,5% em 2012.
A taxa de desemprego atingiu
os 16,9% em 2013.
Aumentou o trabalho precário
(taxa de emprego em part-time
aumentou de 11,5 em 2006
para 13,1 em 2014; taxa de
empregados com contrato de
duração limitada aumentou de
20,4 em 2006 para 21,4 em
2014)
Em 2013, 19,5% dos
portugueses encontravam-se
em risco de pobreza.
Aumentou de 16,4% em 2006
para 43,2% em 2014 de
pessoas que não podem
suportar despesas inesperadas.
Com valores ainda mais
expressivos quando se
analisam as pessoas com 65 ou
mais anos (aumentou de 34,2%
em 2006 para 52,5% em
2014).
7
Portas).
Fonte: Produção própria, baseado em informação do INE, Pordata e site Portugal.gov.pt
Como se pode observar na tabela, registou-se uma diminuição do investimento no
combate à pobreza entre 2010 e 2015, como resultado da alteração dos requisitos de
acesso às prestações sociais e na diminuição do valor das prestações. Desta forma,
apesar do agravamento da situação económica e social, o número de beneficiários de
prestações sociais diminuiu, e, como o valor das prestações também sofreu uma
redução, regista-se uma clara diminuição da despesa social neste âmbito.
Tabela n.º 2 – Variação das despesas da Segurança Social com o combate à pobreza no
período 2010-2015 – Governo PSD/CDS e “Troika”
Com a crise económica como “argumento”, diminuíram-se os apoios sociais e as
condições de acesso às prestações sociais. Simultaneamente, verifica-se um aumento
dos problemas sociais e o campo da intervenção social no combate à pobreza e à
exclusão assume lógicas de ação cada vez mais restritivas. A título de exemplo, e
considerando o caso do desemprego, durante o período de assistência financeira, o
sistema de proteção social foi alterado, deixando desprotegidos um número cada vez
maior de desempregados, com a introdução de restrições no acesso à medida,
diminuição do período de assistência e aumento das responsabilidades de inclusão no
mercado de trabalho por parte do beneficiário (Marques e Matos, 2016). Outro exemplo,
de sucessivas alterações legislativas e de procedimentos, é o Rendimento Social de
Inserção que, com a introdução de regras mais restritivas, dificulta o acesso à medida, o
que se traduz numa diminuição do número de beneficiários num período de
agravamento das situações de pobreza e exclusão social no país. Assim, assiste-se a uma
lógica de atuação da ação social assistencialista e de emergência, em que se verifica a
diminuição dos direitos socais clássicos (universais), em que se confere uma maior
8
autonomia (de proteção social, de cidadania e previdencial) aos beneficiários e se
desenvolvem medidas de apoio social em espécie4, precárias, discricionárias e com
exposição estigmatizante da vulnerabilidade dos beneficiários. Importa realçar ainda
que, com a adoção destas medidas de austeridade (que se refletiu na diminuição de
rendimentos das famílias) e com a introdução de alterações às políticas de combate à
pobreza e exclusão social (diminuição de apoios sociais e do números de pessoas
apoiadas), para além de se acentuarem os problemas de pobreza e exclusão social já
existentes, não foi prevenido o aparecimento de novas bolsas de pobreza, que afetam
franjas da sociedade com características diferenciadoras (trabalhadores precários, com
baixos salários, entre outros).
Como se pode constatar, os acontecimentos históricos, políticos, económicos e sociais
das últimas décadas (num movimento já iniciado na década de 1990) indiciam o
crescente desinvestimento na despesa social por parte do Estado (enfraquecimento do
Estado Providência) e, consequentemente, uma maior responsabilização da sociedade
civil nas questões sociais (fortalecimento da Sociedade Providência5).
O Estado deixa assim de constituir-se como agente único de proteção, articulando-
se doravante com outros agentes na produção corresponsável de bem-estar
socioeconómico e de coesão social assente em pressupostos de justiça e de
direitos de participação, de reconhecimento, de inserção e de utilidade
(Albuquerque, 2013: 65).
Encruzilhadas da intervenção social: entre a passividade e a ativação
Ao considerar os indivíduos como cidadãos activos e não apenas como assistidos,
introduz-se uma filosofia de cidadania que estava afastada na clássica relação
paternalista entre Estado e assistido, geradora de dependência e pela qual este
último se tende a tornar num sujeito subordinado (Hespanha, 2008: 2).
Para realçar as principais diferenças entre as políticas sociais clássicas e as políticas
sociais renovadas, apresenta-se o seguinte esquema:
Esquema n.º 1 – Principais diferenças entre as políticas sociais clássicas e renovadas
4 O número de Cantinas Sociais, do Programa de Emergência Social, aumentou de 62 em 2011, para 843 em 2015 (num total de 48000 refeições diárias) (Marques e Matos, 2016). 5 Ver também (Santos, 1991; Gosta, 1993; Sposati e Rodrigues, 1995; Ferreira, 2008; Portugal, 2008; Varela e Guedes, 2013; Branco, 2017)
9
Fonte: adaptado de Pedro Hespanha (2008: 3).
Neste quadro conceptual, Pedro Hespanha apresenta as “novas metodologias de
intervenção social” resultantes do “Estado-Providência activo”, nomeadamente “a
abordagem por projecto, a acção descentralizada e partilhada, a personalização e
contratualização das respostas” (2008: 4).
De facto, nos últimos anos proliferaram modelos de intervenção social orientados por
uma abordagem de projeto (gestão por objetivos, flexível, inovador/experimental e de
caracter temporário), muito diferente do modelo anterior (que primava pela estabilidade/
rotina de procedimentos, rigidez /burocracia e permanência). A lógica de projeto
encontra-se generalizada tanto no setor público, como no setor privado (empresas e
organizações da economia social).
Importa agora elencar as principais vantagens e desvantagens deste tipo de abordagem.
Tabela n.º 3 – Pontos fortes e limitações da abordagem por projetos
10
Políticas sociais clássicas
O Estado tinha uma postura relativamente passiva
(atendimento de balcão), muito centralizada e baseada numa
estrutura burocrática de serviços, regida por normas rígidas
A relação com os cidadãos era de autoridade, sem que a estes
fossem reconhecidos verdadeiros direitos
O Estado assumia a responsabilidade exclusiva da
intervenção, operando isoladamente
O cidadão era apenas um agente passivo
Politicas sociais renovadas
Atitude mais activa quer por parte do Estado, quer por parte
dos cidadãos
Os serviços sociais revelam uma maior iniciativa na procura dos
cidadãos em risco social, descentralizam mais a sua gestão
e tornam-na mais flexível.
A intervenção baseia-se em projectos, utilizando o princípio
da gestão por objectivos e partilhando a responsabilidade pela realização dos objectivos
com outros parceiros.
O cidadão torna-se um agente activo e competente com quem o Estado negoceia o formato das
medidas e define os direitos e as obrigações.
Pontos fortes Limitações
Proximidade: melhor conhecimento da realidade
local, maior facilidade de participação dos
interessados e maior legitimidade da intervenção.
A proximidade pode amplificar as relações
negativas entre parceiros locais.
Atuação integrada: adequada à natureza
multidimensional dos problemas e fomentadora da
cooperação inter-institucional.
Lógicas institucionais fortes podem
potenciar o conflito ou levar à dominação
por parte das instituições mais poderosas
(o problema agrava-se quando falta uma
tradição de cooperação institucional).
Flexibilidade da ação: melhor adaptação à realidade
local e às suas mudanças, melhor ajustamento na
cooperação de atores locais e uma gestão não
burocrática.
A flexibilidade da ação pode desviar a ação
dos objetivos prioritários do ponto de vista
dos interesses nacionais.
Autonomia de ação: maior capacidade de decisão e
de mobilização e utilização de recursos locais.
A autonomia de ação pode conduzir a um
descontrolo no uso dos recursos.
Partilha de identidade: maior coesão em torno de
objetivos locais consensualizados; relações fortes e
positivas de identificação entre os parceiros.
Existe o risco de emergência de lógicas
localistas ou particularistas.
Capacidade de fazer circular a informação, de
mobilizar capital social, de produzir ajudas, de ligar
os agentes económicos, de controlar as políticas
públicas; Duração limitada ao cumprimento de
metas objetivas: permite reavaliação da situação
para ajustar a ação às mudanças.
A intervenção integrada e em parceria
exige uma estrutura organizativa estável e
movida por objetivos precisos, tornando-se
difícil a resolução dos problemas e
correndo-se o risco da descontinuidade de
ação no âmbito de um projeto limitado
temporalmente.
Fonte: adaptado de Pedro Hespanha (2008: 5).
Para além dos aspetos referidos na tabela acima, convém refletir sobre a necessidade de
atividades e de organizações de carácter permanente. Não serão muito projetos
(concebidos por tempo determinado) utilizados para financiar atividades permanentes?
Poderão as organizações continuar a financiar respostas/serviços permanentes com
recurso a financiamentos temporários?
Será necessário referir ainda a influência da europeização de políticas públicas e, em
especial de políticas sociais, não só em termos de linhas orientadoras, mas também em
apoios económicos para a implementação das mesmas (antes da crise económica de
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2008/2009). Pode concluir-se que os fundos públicos nacionais e comunitários são
importantes fontes de financiamento, quer para instituições, quer para respostas sociais.
Outro modelo de intervenção social identificado por Pedro Hespanha (2008:6) é a
intervenção descentralizada e a partilha de responsabilidades com a sociedade civil.
Como qualquer outro modelo, a intervenção descentralizada também pode apresentar
limitações. O autor defende que as mesmas se manifestam na eficácia (as iniciativas
locais sozinhas não conseguem resolver os problemas sociais complexos, necessitam de
ser acompanhadas por medidas de caráter nacional); equidade (“pode gerar-se uma
distribuição desigual de protecção social pelos diferentes territórios”);
avaliação/accountability (“maior dificuldade em controlar a aplicação de recursos
públicos”); localismo (“possibilidade de «desvios» significativos na execução de
políticas, entre os objetivos nacionais e a sua concretização local”); efeito de
proximidade/familiaridade (a falta de distanciamento face ao que é familiar pode
dificultar a consciência das necessidades e das oportunidades locais); escala (existem
situações em que o local não é a melhor opção) (Hespanha, 2008: 6).
A personalização ou individualização das medidas é talvez a inovação mais relevante ao
nível dos modelos de intervenção social. “Em vez de dispositivos abstractos de
aplicação universal, os novos programas sociais privilegiam medidas de carácter
concreto ajustadas ao perfil dos destinatários efectivos, sejam eles famílias ou
indivíduos” (Hespanha, 2008: 10).
A subjetivação da intervenção social é visível pelo enfoque dado à pessoa que recorre
ao sistema, na medida em que a mesma é chamada a intervir ativamente em todo o
processo, seja pela “reconstituição” do seu percurso (quando relata a sua história de
vida), pela identificação das suas capacidades e fragilidades, seja pela mobilização de
recursos endógenos e pela procura de soluções para o/s problema/s identificado/s. No
entanto, ao mesmo tempo que é promovida a autonomia, numa espécie de política social
emancipatória, aumenta o risco de incremento do “fosso” no acesso às estruturas de
oportunidades.
[É] (…) possível identificar duas novas tendências paralelas e, em muitos casos
conflituantes, de agregação das diversas intervenções no domínio social: a) uma
orientação gestionária, determinada por preocupações associadas à produção e
avaliação de objetivos e resultados, tendo por base uma lógica de racionalização e
de quantificação; e b) uma orientação subjetivante, que se concretiza em formas
12
renovadas de acompanhamento social de sujeitos em situação de vulnerabilidade
ou de exclusão (Albuquerque, 2013: 75).
Na subjetivação da intervenção social, o papel do interventor social assume especial
relevo. Assim, a sua atuação pode nortear-se pela “singularização ou a personalização
no domínio das interações”; pela “responsabilização no domínio da abordagem
contratual”; pela “mobilização, no domínio da construção motivacional e das
competências” (idem: 78).
O enfoque na singularidade, na autonomia e na responsabilização da pessoa na
resolução do/s seu/s problema/s, será uma resposta positiva, desde que com “conta, peso
e medida”. Há necessidade de contextualizar a situação individual na esfera coletiva, de
potenciar a autonomia da pessoa com o recurso a sinergias existentes, de valorizar a
pessoa, mas num contexto de cidadania e de dignidade. O interventor social assume um
papel decisivo na negociação e combinação dos fatores pessoais e sociais.
Neste cenário de novas abordagens no que concerne à intervenção social, o
envolvimento ativo dos destinatários é peça fundamental. Pressupõe-se que os
beneficiários participem no seu próprio processo de inclusão social, por intermédio da
contratualização. Baseadas em princípios emancipatórios, estas medidas poderão
acarretar alguns dissabores, na medida em que se apresentam como punitivas no acesso
a benefícios sociais em caso de incumprimento, com alto teor de responsabilização do
próprio beneficiário pela situação de exclusão e com a possibilidade de incremento de
um mercado de trabalho secundário e precário (beneficiários com anos de trabalho em
situações precárias, sem os direitos laborais assegurados) (Hespanha, 2008: 12 e 13).
Hans-Uwe Otto (2018: 68) defende que tanto os estados de bem-estar europeus, como o
“espaço político do social", estão a passar por uma reorganização fundamental: por um
lado, assiste-se a um recuo nos modelos que privilegiam o fornecimento de segurança
social aos cidadãos através de pagamentos de transferências; e, por outro, ao
crescimento dos modelos que que enfatizam a responsabilidade individual e prometem
melhores condições de vida por meio da participação ativa no mercado. Assim, os
serviços sociais são transformados em serviços personalizados, não apenas na sua
natureza, mas também na sua importância, assistindo-se mesmo à implementação de
novos princípios de bem-estar, que agora estão totalmente centrados no sujeito
individual e orientados para o desenvolvimento emancipatório da sua clientela (Otto,
2018: 68).
13
O autor defende que a nova lógica subjacente aos serviços sociais combina premissas
institucionais e gerencialistas, com objetivos normativos de orientação produtivista, que
caminham lado a lado com o auto comprometimento e a responsabilidade individual dos
destinatários (Otto, 2018: 68).
A este propósito Hans-Uwe Otto (2018: 68) argumenta que Serviço Social, enquanto
profissão, está sob ataque, na medida em que, a ação profissional situada entre sujeito e
estrutura social e entendida como um mediador, não corresponde à nova “forma” dos
serviços sociais, levando ao abandono das lógicas centrais da ação profissional. Do
ponto de vista da teoria da profissão, não se trata apenas de uma forma de ação
corretiva, mas sempre também da reconstrução baseada na existência (ou não) de
oportunidades de realização, bem como da demanda por igualdade de participação, nas
bases materiais, culturais e políticas da vida.
Rede Local de Intervenção Social: delegação de competências ou
desresponsabilização?
A RLIS foi criada, em Portugal, em setembro de 2013, com o intuito de reforçar a ação
das entidades do setor social pela sua proximidade à população, criando um “modelo de
organização, de intervenção articulada e integrada, de entidades públicas ou privadas
com responsabilidade no desenvolvimento da ação social”, regendo-se por princípios de
contratualização, cultura de direitos e obrigações e intervenção de proximidade6.
A iniciativa RLIS é desencadeada num quadro de intervenção financeira externa em
Portugal, num período de forte austeridade e de refluxo das políticas sociais, no qual o
governo em funções procedeu a significativos cortes e restrições nos direitos sociais,
canalizando parte da despesa social para um Programa de Emergência Social.
Através da análise dos antecedentes, são percetíveis as opções políticas que estão na
base do desenho da política pública RLIS, nomeadamente a delegação de competências
de ação social nas instituições da sociedade civil e a procura de financiamento para
programas que, sendo necessários, não estavam a responder às necessidades crescentes
da população portuguesa (quer pela diminuição dos recursos alocados7, quer pelo
aumento da restrição dos critérios de acesso às prestações e aos apoios sociais). Nesta
linha é possível compreender igualmente em que medida esta iniciativa de reforma do 6 Despacho n.º 12154/2013 de 24 de setembro7 Registou-se, simultaneamente, uma importante reestruturação dos serviços públicos, nomeadamente da segurança social e de outros departamentos ministeriais, com a não renovação e cessação de contratos com uma grande quantidade de funcionários da Segurança Social, incluindo Assistentes Sociais e outras profissões sociais.
14
modelo de governação da ação social junto de populações vulneráveis não poderá ter
sido influenciada por uma estratégia de mobilização de recursos do Fundo Social
Europeu cujo acesso só seria possível com o envolvimento direto de organizações da
economia social em ações de combate à pobreza e à exclusão social.
A partir da análise do programa do Governo pode afirmar-se que a formulação
evidencia o propósito de criar “um Programa de Emergência Social” (PES) para atingir
os objetivos, nomeadamente combater a pobreza, apostar na inclusão e na coesão social,
estimular a natalidade, reconhecer a importância da família, garantir a sustentabilidade
dos modelos sociais e a sua reforma8.
Por outro lado, aquando da publicação e entrada em vigor da Lei de Bases da Economia
Social (Lei n.º 30/2013, de 8 de maio), os responsáveis políticos afirmaram que tinha
como principal objetivo reforçar a lógica da intervenção partilhada, descentralizada e
próxima dos cidadãos e baseada na partilha de responsabilidades. Contudo, da análise
do referido diploma verifica-se que este regulamenta a relação entre o Estado e as
entidades da economia social, apenas numa perspetiva de deveres do Estado no seu
relacionamento com aquelas entidades, não sendo estabelecidos, nesta lei, deveres das
referidas entidades para com o Estado, ou mesmo para com a sociedade em geral, ou os
membros, utilizadores e beneficiários daquelas entidades em particular.
No período em análise, é aprovada ainda a alteração da lei de bases do sistema de
segurança social9. De realçar que apenas se registam alterações nos artigos 63º - Quadro
legal das pensões e 64º - Factor de sustentabilidade. Este facto, só por si, é revelador do
peso limitado que a ação social teve no debate sobre a reforma do Sistema de Segurança
Social em Portugal. Da análise verifica-se uma transferência de responsabilidades da
Segurança Social, relativamente à ação social, para as autarquias. No ponto 3 do artigo
32.º (Instituições Particulares de Solidariedade Social), fica claro que o Estado exerce
poderes de fiscalização e inspeção sobre as IPSS por forma a garantir o efetivo
cumprimento das obrigações legais e contratuais (resultantes dos acordos ou protocolos
de cooperação celebrados com o Estado).
O Governo associa a criação da RLIS ao intuito de reforçar a ação das entidades do
setor social pela sua proximidade à população, criando um “modelo de organização, de
intervenção articulada e integrada, de entidades públicas ou privadas com
8 O Governo criou o PAEF-Programa de Assistência Financeira a Portugal, o PES, com início em 2011. Combater a Pobreza e Reforçar a Inclusão e a Coesão Sociais; a Economia Social; a Família e a Natalidade; e Promover a Sustentabilidade da Segurança Social são as linhas centrais desta medida. 9 Lei n.º 4/2007, de 16 de janeiro alterada pela Lei n.º 83-A/2013, de 30 de dezembro.
15
responsabilidade no desenvolvimento da ação social”, regendo-se por princípios de
contratualização, cultura de direitos e obrigações e intervenção de proximidade
( Despacho n.º 12154/2013 de 24 de setembro). Fica clara a intenção de descentralização
das competências da ação social, não só para os municípios, mas também para as IPSS,
numa lógica de trabalho em rede (governança), com o Estado como parceiro e,
simultaneamente, com as competências de fiscalizador e inspetor.
O diploma (Despacho n.º 12154/2013, de 24 setembro) faz menção ao Programa de
Emergência Social e à Lei de Bases do Sistema da Segurança Social, bem como o
contexto de crise económica e social analisados anteriormente, para justificar a criação
da RLIS.
Tal como indiciavam os argumentos anteriores, dá-se primazia à parceria estratégica no
âmbito da intervenção social, com vista ao aumento da eficácia e da eficiência tanto dos
recursos como das respostas às necessidades populações.
A RLIS assenta, quanto aos seus desígnios, no pressuposto da contratualização (todos
os intervenientes, cidadãos, famílias, instituições públicas e privadas assumem o
compromisso nas intervenções de que sejam parte), a cultura de direitos e obrigações
(promoção da cidadania e o cumprimento de deveres), a transversalidade (a integração
das políticas, programas e medidas de vários setores e a articulação com as entidades de
diferentes áreas nas intervenções) e na lógica de intervenção de proximidade (aproximar
os serviços aos cidadãos na resposta às suas necessidades) (ponto 3, Despacho n.º
12154/2013, de 24 setembro).
Pressupõe ainda a “Inovação Social”, ou seja, a implementação de novos mecanismos
de atuação e diferentes estratégias de ação, que se adequem às necessidades sociais
atuais, bem como às especificidades territoriais.
Apesar de criada em 24/09/2013, a RLIS foi regulamentada apenas em 18/09/201410,
onde fica claro que podem ser entidades aderentes, IPSS e equiparadas ou entidades
públicas com as quais sejam contratualizados serviços complementares.
A RLIS assenta numa lógica de intervenção articulada e integrada de entidades
com responsabilidade no desenvolvimento da ação social que visa potenciar uma
atuação concertada dos diversos organismos e entidades envolvidas na
prossecução do interesse público e promover a implementação de novos
10 Despacho n.º 11675/2014, de 18 setembro, alterado pelo Despacho n.º 5149/2015, de 18 de maio, bem como pela Portaria n.º 137/2015, de 19 de maio, que estabelecem o modelo de organização e funcionamento da RLIS.
16
mecanismos de atuação e diferentes estratégias de ação em resposta às
necessidades sociais. (artigo n.º2, Despacho n.º 11675/2014, de 18 setembro).
Neste diploma também são apresentados os objetivos da RLIS, no entanto, passado um
ano, podem observar-se algumas alterações que importa aqui analisar.
Esquema n.º 2 – Objetivos da RLIS
Fonte: Produção própria, baseada no Despacho n.º 12154/2013, de 24 setembro e no
Despacho n.º 11675/2014, de 18 setembro, alterado pelo Despacho n.º 5149/2015, de 18
de maio, bem como pela Portaria n.º 137/2015, de 19 de maio
Importa reter que, no decurso das alterações legislativas11 se verifica uma amplificação dos
objetivos da RLIS, que não deixa de ser reveladora. Enquanto que, no primeiro diploma se
11 Despachos n.º 11675/2014, de 18 setembro, e 5149/2015, de 18 de maio, bem como pela Portaria n.º 137/2015, de 19 de maio
17
Ponto 6 - Despacho n.º 12154/2013 de 24 de
setembro
Artigo 4.º - Despacho n.º 11675/2014, de 18 setembro, alterado pelo Despacho n.º 5149/2015, de 18 de maio e pela Portaria n.º 137/2015,
de 19 de maio
b) Assegurar a coordenação eficiente de todos os agentes, meios e recursos;
g) Assegurar os recursos necessários para fazer face às situações de crise e ou emergência social, bem como de comprovada carência económica;
f) Assegurar o acompanhamento social das situações de vulnerabilidade, nomeadamente através da gestão, a nível local, dos programas criados para esse efeito;
d) Reforçar a plataforma de colaboração estabelecida com as entidades que localmente prestam serviços no âmbito da ação social;”
c) Assegurar a coordenação eficiente de todos os meios e recursos que integram a rede
b) Assegurar o atendimento/ acompanhamento social das situações de vulnerabilidade, bem como disponibilizar apoios financeiros de carácter eventual a agregados familiares em situação de comprovada carência económica;
d) Reforçar a plataforma de cooperação estabelecida com as instituições que localmente desenvolvem respostas sociais no âmbito da ação social.”
previa a disponibilização de apoios financeiros às populações vulneráveis, aquando da
alteração, o objetivo é amplificado para “acompanhamento social das situações de
vulnerabilidade, nomeadamente através da gestão, a nível local, dos programas criados
para esse efeito” e para a existência de “recursos necessários para fazer face às situações
de crise e ou emergência social, bem como de comprovada carência económica” (Artigo 4.º
do Despacho n.º 11675/2014, de 18 setembro). De referir ainda o aumento de objetivos no
âmbito do trabalho colaborativo, bem como a introdução de um objetivo que reforça a
promoção da inovação social.
Para além dos objetivos da RLIS, foram ainda definidos os objetivos do Serviço de
Atendimento e Acompanhamento Social (SAAS).
a) Informar, aconselhar e encaminhar para respostas, serviços ou prestações
sociais adequados a cada situação; b) Apoiar em situações de vulnerabilidade
social; c) Prevenir situações de pobreza e de exclusão sociais; d) Contribuir
para a aquisição e ou fortalecimento das competências das pessoas e famílias,
promovendo a sua autonomia e fortalecendo as redes de suporte familiar e
social; e) Assegurar o acompanhamento social do percurso de inserção social;
f) Mobilizar os recursos da comunidade adequados à progressiva autonomia
pessoal, social e profissional (artigoº 3).
A este propósito salienta-se o facto de, apesar da delegação de competências de ação
social nas Organizações da Economia Social, o Estado continua a providenciar os
instrumentos e os meios para a organização e funcionamento do SAAS.
O modelo de gestão da RLIS assenta numa lógica de descentralização e contratualização
de serviços, numa lógica de proximidade (supraconcelhia, concelhia, circunscrito a uma
freguesia ou localidade, dependendo das características do território), garantindo a
subsidiariedade da sua implementação, acompanhamento e monitorização (artigo 6º do
regulamento da RLIS).
Tabela n.º 4 – Modelo de gestão da RLIS
18
Fonte: (Joaquim, 2015: 53)
O modelo de gestão da RLIS prevê três níveis de intervenção e de responsabilidade,
sendo que ao Estado compete acompanhar e monitorizar e todos os níveis de
intervenção (central, distrital e local). Na verdade, na operacionalização da política, é
necessária a aprovação do Serviço Local da Segurança Social tanto para a atribuição de
prestações de carácter eventual com a finalidade de colmatar situações de emergência
social e de comprovada carência económica, como para a contratualização no âmbito da
intervenção social (Acordo de Inserção Social-AIS) ainda que estes aspetos não sejam
explícitos na regulamentação legal.
Esta regulação por parte das entidades públicas, se por um lado, é um fator essencial na
garantia de equidade no cumprimento de regras transversais e monitorização de gastos e
resultados, por outro, pode produzir ou ampliar as tensões já identificadas por Godinho
e Henriques (2013) no quadro do Programa Rede Social, entre a obediência a uma
estrutura top-down de planeamento de políticas sociais, ancorada em instrumentos
normalizados, e uma lógica participativa de tipo bottom-up; entre a flexibilidade e a
geometria variável nas condições de funcionamento e o estatuto orgânico e padronizado
de órgãos, instrumentos e recursos.
O “Manual Técnico para SAAS” foi concebido pelo ISS e distribuído por todas as
equipas RLIS aquando da frequência obrigatória de formação sobre procedimentos
técnicos e metodologias de intervenção social (ministrada pelos Centros Distritais do
ISS) e define um padrão de serviço de atendimento e acompanhamento sociais (SAAS)
prestados no âmbito do programa RLIS.
19
Se, por seu turno, com a implementação da RLIS são delegadas competências no âmbito
da ação social nas organizações da sociedade civil, com autonomia para a criação de
respostas inovadoras no combate à pobreza e à exclusão social; por outro, está-se
perante um projeto com regras muito rígidas no que concerne aos procedimentos a
utilizar, seja pela necessidade de aprovação por parte do ISS (local ou distrital) de ações
específicas (ex: atribuição de prestações de carácter eventual e contratualização no
âmbito da intervenção social – AIS), como pelos procedimentos técnicos assumidos em
cada uma das situações de vulnerabilidade social (veiculados e transmitidos tanto nas
formações presenciais e em regime e-learning, como no Manual Técnico adotado).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As RLIS, criadas na ótica do modelo do Welfare Mix, assentam na responsabilidade
partilhada entre Estado, sociedade civil, agentes internacionais, terceiro setor e as
empresas.
Da análise realizada ressaltam algumas questões sobre a política RLIS, designadamente:
1. A opção pela transferência das responsabilidades de ação social do Estado para as
OES, em contexto de crise, será fruto do crescimento das políticas neoliberais de
intervenção ou da necessidade de obter financiamento comunitário para tarefas
essenciais que o Estado não tinha capacidade para suportar?
2. Haverá efetivamente uma transferência de poderes ou continua a ser o Estado a
tutelar a ação social? Apesar de ser entendido como parceiro, o Estado detém a
competência de acompanhamento e fiscalização, para além de que na
operacionalização da intervenção social, existem procedimentos técnicos das
equipas RLIS que dependem da aprovação do ISS (Centro Distrital ou Serviço
Local).
3. Serão as RLIS respostas de intervenção inovadoras? Até que ponto é possível
inovar, quando os procedimentos e metodologias de trabalho são transmitidos e
vinculados pelo ISS?
4. Não será importante o Estado realizar um processo continuado de avaliação do
interesse público, da qualidade dos serviços prestados e da observância dos direitos
dos cidadãos-utentes? De que forma se garantem a equidade e a universalidade no
acesso aos serviços de ação social?
Seria relevante a apresentação pública do resultado das avaliações (ações de fiscalização
e inspeção sobre as IPSS que prestam serviços públicos, no âmbito dos acordos de
20
cooperação e parceria celebrados) realizadas pelo Estado, como garante da
transparência e do acesso à informação.
Num período como o que temos vivido nos últimos anos no contexto europeu, de
atrofiamento do welfare state, vimos como o modelo keynesiano foi deixando
espaço para, de novo, reemergir um conceito de “Estado regulador”, inspirado no
princípio shumpeteriano segundo o qual os mercados são dotados de uma
capacidade “natural” de autorregulação, cabendo ao Estado sobretudo assegurar as
condições da boa concorrência. Essa passagem, apesar das suas particularidades
em países diferentes, traduziu-se em três traços fundamentais: a descentralização
da ação estatal para as escalas local ou transnacional; a maior focalização na
esfera laboral, nomeadamente nas políticas de formação profissional e na
flexibilização (lean production); a aposta na “governança”, em geral
acompanhada por processos de privatização e subcontratação em diversos sectores
e serviços públicos (Silva in Estanque, 2012:16).
Houve uma maior responsabilização das OES no combate à pobreza e à exclusão social,
com a atribuição das funções de ação social (anteriormente da competência do Estado),
com o acompanhamento e fiscalização do ISS. Ao mesmo tempo que se chama a
sociedade civil para intervir no combate de problemas sociais complexos com respostas
sociais inovadoras, eficazes e eficientes, exige-se a manutenção de formas de
intervenção e de procedimentos. Há, pois, um conjunto de aspetos que podem afigurar-
se como paradoxais e sobre os quais importa refletir de forma mais profunda, de modo a
determinar os eixos estruturantes de políticas de desenvolvimento local e de governança
que sejam verdadeiramente eficazes e inovadoras e não meros paliativos para as
dificuldades estruturais do Estado.
21
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