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  • 8/3/2019 Diretrizes para a anlise de conjuntura contempornea: uma agenda de investigao - Theotnio dos Santos e Carl

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    dirETrizES PArA A ANliSE dA coNjuNTurAcoNTEmPorNEA: umA AgENdA dE iNvESTigAo

    Theotonio dos Santos

    Carlos Eduardo Martins

    Resmo

    O objetivo principal deste artigo apresentar uma agenda de investigaaopara a anlise da conjuntura contempornea, tendo como fundamento te-rico-metodolgico as tendncias seculares e os ciclos de longa durao,com suas distintas fases. Nesse sentido, feita tanto uma sucinta descriodos grandes processos sistmicos da conjuntura contempornea, quantouma listagem dos principais indicadores (inclusive macroeconmicos) daconjuntura. Na seo nal, alguns resultados da agenda de pesquisa so

    igualmente apresentados.

    Palavras-chave: ciclos de Kondratiev, conjuntura contempornea, indica-dores macroeconmicos.

    1. a ConJUntUra E a Longa dUrao

    Neste texto, temos a preocupao de denir uma agenda de investigao

    da conjuntura contempornea. Para isso, situamos os instrumentos terico-metodolgicos fundamentais, as principais variveis empricas e os objetosde investigao mais relevantes.

    No plano terico-metodolgico, buscamos situar, de um lado, as ten-dncias estruturais e seculares em curso, e de outro lado, os ciclos de longadurao e suas distintas fases.

    Professor titular da Universidade Federal Fluminense, Coordenador de Ctedra da Unesco e Membro de corpo

    editorial da Monitor Mercantil. Doutor em Sociologia (USP) e pesquisador da REGGEN e LPP.

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    Por tendncias seculares e ciclos no entendemos foras determinsticase automticas que atuam de forma independente da vontade humana. Soexpresses relacionais de certos padres sociais dominantes de organizaoda vida humana e podem ser vericados no desenvolvimento do capitalis-mo. No devemos qualicar estas tendncias e ciclos como econmicos,

    mas sim como sociais, no sentido de que abarcam o amplo espectro da vidaeconmica, poltica, social e ideolgica das sociedades.

    Os grandes processos sistmicos da conjuntura contempornea so:a) A revoluo cientco-tcnica: Ela designa uma modicao nas

    estruturas sociais com profundos impactos civilizacionais. Sua origem estno papel dominante que a cincia passa a ter no processo produtivo. Elasurge em alguns pases centrais no ps-guerra e a partir dos anos 1970, como paradigma microeletrnico, as tecnologias de comunicao e a biotecnolo-gia, ganha projeo global. Durante a revoluo industrial, a cincia foi umafora auxiliar e subordinada tcnica e tecnologia. A indstria alavancouo crescimento econmico e o emprego, realizando um amplo movimentode urbanizao do globo terrestre. A revoluo cientco-tcnica desloca a

    fonte da produtividade para o setor de servios qualicado e elimina cada

    vez mais o emprego diretamente produtivo em benefcio do indiretamenteprodutivo, generalizando o princpio da automao. A cincia passa a sercada vez mais determinante em relao tecnologia e tcnica e no oinverso. Uma anlise dos profundos impactos societrios deste processodeve destacar principalmente, suas repercusses sobre:

    * A formao taxa de lucro, a concentrao e a centralizao de capital;* Os nveis de emprego, os salrios, a qualicao dos trabalhadores

    e dos setores mdios;

    * A gesto empresarial, estatal, e as formas de organizao da socie-dade civil; e* A produo e a distribuio de riquezas em nvel mundial.

    b) Os ciclos sistmicos: designam os ritmos e as fases que assumem osprocessos de organizao do mundial do sistema capitalista. Estes se estabe-lecem em torno de hegemonias estatais, vinculadas a grupos e organizaescapitalistas determinadas. Observa-se nos ciclos sistmicos a ocorrncia deduas fases: a expanso e a crise. Durante a expanso, a hegemonia exerce

    uma liderana virtuosa e impulsiona o desenvolvimento do sistema mundial.

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    Na crise torna-se um obstculo a este desenvolvimento, pois funda-se nocontrole das nanas e da institucionalidade do sistema-mundo alcanado

    durante a fase anterior para manter-se. O exerccio unilateral da hegemonias agrava a crise de legitimidade e pode dar lugar a um perodo de caos eindeterminao durante o qual se reorganiza o sistema mundial. A potn-cia hegemnica no precisa, entretanto, optar pelo unilateralismo e podevincular-se a um movimento mais estruturado de reorganizao do sistemamundial em direo hegemonia compartilhada, onde ainda ocupar umlugar destacado. Entretanto, a ausncia de um sucessor capaz de impulsionara renovao dos ciclos sistmicos tende a isolar a burguesia dominante emdeclnio deste movimento e aproxim-la do imperialismo. O redireciona-mento da potncia em crise de hegemonia para o multilateralismo dependerento de profundas mudanas na composio interna de poder, determinadas

    por um avano substancial do movimento popular.c) Os ciclos de Kondratiev: referem-se coordenao entre as mudan-

    as de paradigmas tecnolgicos e de gesto sociais. Possuem em mdia50 a 60 anos, dividem-se em fasesA eB e foram observados por NicolaiKondratiev desde 1789. As primeiras correspondem s mudanas na base

    tecnolgica de produzir acompanhadas por transformaes organizacionais(gesto estatal, empresarial e de outros organismos da sociedade civil), asltimas referem-se aos perodos onde a base organizacional no est ajusta-da s transformaes tecnolgicas. No existe apenas uma forma de ajusteorganizacional. Esta depender dos setores sociais que lideraro o processo.Esta disputa entre projetos distintos uma das razes deste atraso. AsfasesA, em geral, so compostas por altas taxas de lucro e de crescimentoeconmico, forte renovao social e poltica. As fases B, por recesses

    prolongadas e deslocamento da acumulao para as taxas de juros. Elaspodem ainda ser subdivididas em at seis etapas. Retomada, prosperidadee maturidade (expanso) ou recesso, depresso e recuperao (crise).

    Os perodos de maior tenso social so os de choque e transio entreuma grande etapa e outra (Expanso/crise e vice-versa). As tenses quese acumulam na transio da maturidade recesso que inicia a longacrise so especialmente explosivas, mas sua capacidade de se expressarem amplos processos de refundao institucional pode ser limitada pelas

    tendncias seculares do sistema e pelos ciclos sistmicos, se estes processos

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    de longa durao tiverem fora para enfatizar as continuidades. As tensesque se desenvolvem durante a transio da retomada prosperidade, queinicia a longa expanso, tm em geral maior poder de se converterem em

    processos de institucionalizao que as anteriores, se respaldadas pelas ten-dncias expansivas de longa durao do sistema. Os perodos de transio maturidade tendem a ser perodos de transformaes progressistas queantecipam parcialmente os conitos posteriores. Os perodos de transio

    depresso tendem a ser os de maior reacionarismo, pois so aqueles em quea destruio surge como um objetivo explcito. Mas estas foras tendem aser limitadas por aquelas que emergem durante a retomada para promovera renovao dos ciclos sistmicos.

    Entretanto, as tendncias cclicas devem ser interpretadas concre-tamente a partir da articulao das grandes tendncias da conjunturaque as individualizam para o conjunto da economia mundial e para cadaregio, resignicando-as. Torna-se fundamental investigar a articulao

    destas grandes tendncias no mundo contemporneo, as foras poltico-sociais a ela articuladas e as formas que adquirem nas diversas regiesdo mundo. Nesse plano de investigao, as esquerdas e o pensamento

    progressista devem responder a seguinte questo: quais so as forascapazes de promover o desenvolvimento econmico sustentado nestasperiodizaes e implementar uma ampla renovao social e poltica nosplanos nacional, regional e global que benecie o conjunto das classes

    trabalhadoras e as minorias sociais?

    2. o indiCadorEs dE ConJUntUra

    A anlise do movimento das tendncias seculares e cclicas, seusefeitos econmicos, polticos e sociais mundiais requer o manejo de indi-cadores chaves para sua visualizao. Consideramos estratgicos para aanlise da conjuntura os seguintes indicadores, que devem ser objeto deinvestigao permanente:

    * O PIB, o PIB per capita, a taxa de lucro, os juros, o investimento, aprodutividade, a inao, o cmbio, os salrios, o desemprego, o balano

    de pagamentos, a dvida interna, a dvida externa, os gastos em cincia e

    tecnologia e os gastos militares.

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    * O mapeamento das principais foras polticas dos pases e regiesestudadas, suas bases sociais e sua projeo internacional, mediante oacompanhamento de estatsticas eleitorais e dos paradigmas dominantesde poltica externa

    * O monitoramento dos movimentos sociais e de seus impactos nagesto das polticas pblicas de seus pases, de blocos regionais ou de or-ganismos inter-governamentais..

    * Acompanhamento dos principais fruns dos organismos multilaterais(ONU, OMC, G-7, FMI, Banco Mundial) e dos movimentos sociais (FrumSocial Mundial)

    Propomos a aplicao dessa metodologia para analisar:a) O Mundo: Atravs do monitoramento da economia mundial e das

    foras dirigentes dos organismos multilaterais e sua legitimidade.b) As seguintes regies: Amrica do Sul, Amrica do Norte, Amrica

    Central e Caribe, Europa Ocidental, Europa Oriental, frica, Oriente Mdio,Sudeste Asitico (regio de maior dinamismo na economia mundial) e sia.

    c) Os BRICAS: Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul. Estespases so de dimenso semi-continental, dotados de alta capacidade de

    alavancagem de processos de desenvolvimento regional, o que os situacomo marcos potenciais de contra-hegemonia.

    3. os indiCadorEs maCroEConmiCos da ConJUntUra

    1) O PIB e O PIB per capita: Aqui nos interessa principalmente suastaxas de crescimento. Elas permitem situar as distintas fases e sub-fases dociclo. Para isso as medidas relativas ao PIB per capita so mais precisas,

    pois independem das taxas de crescimento demogrco para situar perodos

    de crescimento e recessivos. Podemos situar como perodos de crescimentoaqueles que se situam prximos -,5 % de expanso do PIB per capita eos de crise, os que atingem cerca de 60% desta expanso. Esta estimativa se

    baseia nos perodos largos de expanso e crise vivenciados, sucessivamente,pela economia mundial nos intervalos de 1938-1973 e 1974-1993. As taxas decrescimento do PIB devem acrescentar a estes parmetros a expanso demo-grca e variam regionalmente. Devemos considerar perodos de crescimento

    os que alcanarem: ,-,7% para a Europa Ocidental e Oriental; ,9%-3,4%para os Estados Unidos; 3,5-4% para a economia mundial, a sia e a Amrica

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    Latina; 4,5 e 5% para a frica. Para o Brasil esta taxa se inscreve no padromdio latino-americano e para o Mxico est cerca de 0,4% acima.

    ) A taxa de lucro: Este indicador constitui a principal medida desustentabilidade da fase expansiva. Altas taxas de lucro direcionam parao setor produtivo os investimentos, gerando em princpio efeitos positivossobre os salrios e a renda. As taxas de lucro tambm variam regionalmentede acordo com as relaes entre capital e trabalho, mas a existncia de umaeconomia cada vez mais globalizada produz uma crescente convergnciaentre as taxas de lucro internacionais. Nossos estudos sobre a economianorte-americana nos ps-guerra tem revelado que nos perodos de ascensoas taxas de lucro atingem aproximadamente entre 11 e 9%, de acordo coma trajetria no ciclo sistmico da hegemonia estadunidense, e nos perodosde crise, em mdia, cerca de 60% disto3. Este comportamento da taxa delucro nos permite assinalar que, de um lado, os lucros crescem acima daexpanso da economia impulsionando a concentrao de capital e, de outrolado, sua queda afeta mais que proporcionalmente o investimento, o que um dos instrumentos para conter seu descenso.

    3) Os juros: Estes so um importante instrumento para identicar os

    perodos de crise e recesso prolongada. Neste intervalo, os juros reaissituam-se acima do crescimento econmico e impulsionam a acumulaonanceira. O Estado tem se tornado o principal instrumento de oscilao

    das taxas de juros atravs de suas decises de poltica monetria que im-pactam a dvida pblica. O perodo de crise da economia mundial que sedesenvolveu entre 1974-93 caracterizou-se, principalmente a partir de 1979,

    por sensvel elevao das taxas de juros e forte expanso mundial da dvidapblica. No perodo de crescimento prolongado em que a economia mundial

    parece ingressar a partir de 1994, as taxas de juros passam a estar limitadaspelo crescimento e mudam seu comportamento. Expandem-se lentamentenos perodos de recuperao e ganham maior flego ao nal das fase de

    prosperidade e maturidade quando ultrapassam as taxas de expanso do PIB.Durante as pequenas crises de transio sub-cclica so niveladas abaixodas taxas de crescimento para estimularem a recuperao econmica.

    A taxa de lucro corresponde percentagem representada pelos lucros em relao ao produto bruto das corporaes

    no-financeiras. Em relao aos lucros, tomamos como referncia seu valor aps os impostos e o ajuste s variaes

    de estoque e de consumo de capital fixo. No que se refere ao produto bruto, tomamos em considerao o seu valor,

    uma vez descontados os lucros (antes de deduzidos os impostos).

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    4) O investimento e a produtividade: Estas taxas so impulsionadasnos perodos de expanso econmica quando viabilizam a introduo deum amplo conjunto de inovaes. As medidas destes indicadores variaroamplamente de acordo com o grau de desenvolvimento tecnolgico regionale sries de longo prazo devem ser construdas para vericar seu comporta-mento nos pases e regies a serem analisadas.

    5) A inao: Aqui distinguiremos entre a inao de preos ao con-sumidor e a ao produtor. As presses inacionrias podem originar-se da

    excessiva expanso da demanda e do crdito ou, inversamente, da rigidezda oferta, motivada por exemplo, por polticas monetrias contracionistas.As taxas de inao apresentam grande diversidade regional e inter-tem-

    poral por envolver fatores econmicos nominais, mas so um importanteinstrumento de avaliao do ciclo econmico.

    6) O cmbio e o balano de pagamentos: O cmbio estabelece a rela-o da moeda nacional com outras moedas de referncia e um importanteinstrumento de regulao do balano de pagamentos. Em linhas gerais avariao cambial deve expressar a variao de produtividade nacional emrelao economia mundial. Caso o cmbio se valorize acima ou abaixo

    da produtividade, na ausncia de protees regulatrias, teremos pressesnegativas ou positivas sobre o balano de pagamentos, impulsionadas pelosdcits ou saldos da balana comercial que podem levar ao endividamento

    externo ou acumulao de reservas cambiais. Existem vrios tipos de re-gimes cambiais: xo, bandas ou utuante. No regime de cmbio utuante

    a poltica monetria tem um importante papel na determinao do valor docmbio. Em nossos estudos tomaremos o dlar e o euro como as principaismoedas internacionais de referncia para o cmbio nacional.

    7) A dvida externa e a dvida interna: As dvidas externa e a internaso importante instrumento de regulao das poupanas nacionais. Altosestoques de dvida externa em relao ao PIB acarretam o envio para foradas economias nacionais de grande parte do esforo de poupana local, poisimplicam o pagamentos de servios e juros. Montantes elevados de dvidainterna em relao ao PIB, por sua vez, representam uma signicativa trans-ferncia da renda nacional ao setor nanceiro, limitando a transformao

    da poupana em investimento. As taxas de juros so um importante fator

    para regular a trajetria da dvida. Caso seus nveis reais se situem acima do

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    crescimento econmico, atuam como um fator de ampliao da dvidas e,inversamente, para sua conteno se seus ndices se nivelarem por debaixoda expanso da economia.

    8) Os salrios e o desemprego: Tomaremos aqui em consideraoos salrios reais. Eles so um indicador relevante, embora no o nico dodinamismo do mercado interno. Salrios e nvel de emprego apresentamforte relao. O excesso de oferta de trabalhadores tende a pressionar paraabaixo os salrios e a escassez realiza o movimento inverso. Por isso os

    perodos de crise so os de retrao salarial e desemprego por excelncia,enquanto que na expanso observamos o aumento do emprego e da rendados trabalhadores, sobretudo na properidade e maturidade. Entretanto, arevoluo cientca-tcnica tem produzido profundas modicaes ocu-

    pacionais que podem afetar esta relao positiva entre expanso econmi-ca, emprego e salrios. Para os indicadores de desemprego situaremos astaxas de desemprego aberto que se refere ao grupo que procurou e noencontrou emprego num perodo determinado, em geral a semana ou o ms

    como uma primeira medida que pode ser complementada por indicadoresmais sosticados (desemprego aberto + desalento + emprego precarizado),

    dependendo da disponibilidade nacional destas estatsticas.9) Os gastos em cincia e tecnologia: Estes gastos so fundamentaispara competitividade das economias nacionais ou regionais. Eles so uminstrumento relevante para identicar o perl perifrico, central ou semipe-rifrico de um Estado e suas estratgias de insero internacional. Os pasesque buscam se manter na fronteira tecnolgica ou alcan-la gastam entre-3% do PIB em P&D. Aqueles que gastam cerca 1% ou menos do PIB emP&D tem chances muito remotas de exercerem um papel mais signicativo

    na economia mundial. Os pases semiperifricos esto num patamar inter-medirio e podem se aproximar do grupo superior ou inferior, dependendodas estratgias que priorizem. A diviso de gastos entre o setor pblico e o

    privado e a participao do setor produtivo so elementos importantes parao xito de um sistema de inovao.

    10) Os gastos militares: Este um indicador de grande importncia paraanlise das fases dos ciclos sistmicos e o seu crescimento pode indicar aentrada num perodo de crise de hegemonia.

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    4. RESuLTAdOS ALCAnAdOS

    Nos ltimos dez anos temos desenvolvido estudos atravs de vriasiniciativas e bases institucionais que associamos ou integramos REGGEN(Ctedra UNESCO/UNU sobre Globalizao e Desenvolvimento Sustent-vel). Podemos resumir alguns de seus principais resultados analticos:

    A partir de 1994 se desenvolve na economia mundial um novo ciclolongo de Kondratiev. Ele se caracteriza inicialmente por uma fasede crescimento prolongado que desloca o eixo da acumulao paraas taxas de lucro. Podemos observar isto pela retomada de nveis

    acelerados de expanso econmica mundial, pela elevao da taxasde lucro, pelo descenso das taxas de juros internacionais, princi-

    palmente entre 1989-9, e pela conteno da expanso das dvidas pblicas dos principais Estados nacionais. Nos grcos abaixo

    podemos observar o comportamento das taxas de lucro nos EstadosUnidos, que representa aproximadamente 0% do PIB mundial, eas taxas de crescimento da economia estadunidense e mundial. Nogrcos 1 e 2 observa-se a ntida recuperao e ascenso das taxas

    de lucro nos Estados Unidos entre 1994-1999, em relao aos pa-tamares em que se estabeleceram entre 1969-1993. Embora caiamsignicativamente entre 2000-2002, no se tratou de uma queda

    prolongada, mas de uma inexo de curto prazo, que comeou a ser

    revertida a partir de 003. Apesar de as taxas de lucro registraremum salto signicativo a partir de 1994, no alcanam os nveis de

    1959-68 nos Estados Unidos. Isto est relacionado sobretudo coma crise de hegemonia estadunidense e provoca o deslocamento dosinvestimentos para outras regies da economia mundial, como oLeste Asitico, onde as taxas de lucro so mais elevadas, o que ocapacita a liderar o crescimento econmico no novoKondratiev. Osgrcos 3 e 4 conrmam o salto no crescimento econmico do PIB

    per capita a partir de 1994, frente ao perodo de 1974-93, para osEstados Unidos e a economia mundial. O crescimento econmicose aproxima dos nveis do ps-guerra, sem entretanto alcan-los.

    Esta diferena mais intensa no caso dos Estados Unidos e tende aacentuar ao longo da fase A desteKondratiev.

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    O neoliberalismo uma ideologia cujo desenvolvimento atendea trs contextos: a) necessidade de direcionar a acumulao de

    bases nacionais para internacionais de gesto, em razo das poten-cialidades da revoluo tecnolgica criada pela microeletrnica; e

    b) s tentativas de organizar este movimento atravs do exercciode uma hegemonia unilateral, fundada em gigantescos dcits em

    conta corrente e pblicos, equilibrados atravs da captao crescenteda liquidez da economia mundial por meio da sobrevalorizao docmbio e da elevao das taxas de juros; e c) Aos enormes desequi-lbrios sistmicos provocados pela combinao destes processosque levam grande projeo do capital nanceiro na economia

    mundial. Nos anos 1980, a projeo do capital nanceiro se ma-nifesta pela exponecializao das taxas de juros, dvidas pblicase pela sobrevalorizao do dlar. Posteriormente, com a elevaodas taxas de lucro, a partir de 1994, a hipertroa do setor nanceiro

    sustenta-se pela existncia de altos estoques da dvida pblica quecompromete parte dos oramentos scais e pela sobrevalorizao

    do dlar. A necessidade de pleno aproveitamento das potencialidades

    do novo Kondratiev exige a organizao da acumulao mundial sobbases mais integradoras de gesto. Embora o neoliberalismo entreem crise a partir do incio dos anos 1990, com as derrota eleitorais desuas principais lideranas polticas, estas no foram denitivas, nem

    provocaram ainda uma ruptura denitiva com sua macroeconomia.

    Torna-se necessrio aprofundar a mudana de estilo de gesto mundial,iniciada na segunda metade da dcada de 1990, em direo ao multi-lateralismo. Esta mudana, entretanto, ter que ser muito mais ampla

    para conquistar legitimidade. Ela dever criar formas de contenodos grandes desequilbrios nanceiros mundiais e redirecionar osexcedentes mundiais para o desenvolvimento sustentvel, impulsio-nando a incluso social e a preservao dos ecosistemas planetrios.Para isso dever estabelecer novas formas de institucionalizao do

    poder mundial, reformular a propriedade e a distribuio de renda. O avano do novo Kondratiev impulsiona uma forte ofensiva da

    esquerda e da centro-esquerda na economia mundial. Estas devero

    ter papel decisivo em sua reorganizao para a superao da crise

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    de hegemonia dos Estados Unidos. Sobretudo em reas da periferiaonde o neoliberalismo confrontado por fortes movimentos de iden-tidade tnica, nacional ou regional, ou onde enfrenta um certo graude desenvolvimento do aparato industrial, cientco-tecnolgico e

    militar. Entretanto, a ofensiva das esquerdas desata uma forte reaoconservadora e provoca a tendncia ao desdobramento do neolibera-lismo em fascismo. Para a vitria das esquerdas ser fundamental asua projeo sobre o centro poltico e segmentos dos setores mdiosque participam na gesto do capitalismo de Estado.

    Na Amrica Latina dever se aprofundar nos prximos anos a crisedo neoliberalismo. A esquerda e a centro-esquerda devero manteras posies acumuladas na nova fase de integrao ao capital inter-nacional que a entrada na prosperidade dever deslanchar na regio.Entretanto, esta integrao ser de curta durao e sua crise poderser impulsionar uma nova onda de ofensiva das esquerdas.

    Fonte: Economic Report of the President (006).

    Grco 1: Taxa de Lucro nos Estados Unidos (1959-2005).

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    Fonte: Economic Report of the President (006).

    Grco 2: Taxa de Lucro nos Estados Unidos (1959-1999).

    Fonte: Groningen Development Centre (006).

    Grco 3: PIB per capita nos Estados Unidos (1938-2000).

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    Textos de Economia, Florianpolis, v.0, n., p.9-, jul./dez.007

    Fonte: Groningen Development Centre (006) e Economic Report of the President (006).

    Grco 4: PIB per capita na economia mundial (1938-2002).

    gUidELinEs For an anaLYsis oF thE ContEmporarY

    ConJUnCtUrE: an agEnda For inVEstigation

    The main objective of this paper is to put forward an agenda of in-vestigation concerning the analysis of the contemporary conjuncture. Thetheoretical and methodological basis for this endeavour are the seculartendencies and long-term cycles, in their distinct phases. A brief descriptionof the most relevant systemic processes in the contemporary conjunctureand a list of its main indices - including macroeconomic indices - are

    presented. In the nal section of the paper, some of the results of thisresearch agenda are also presented.

    Key-wors: Kondratievs cycles, contemporary conjuncture, macroeco-nomic indices.

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