características que transformam uma cadeia de suprimentos em
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CARACTERÍSTICAS QUE
TRANSFORMAM UMA CADEIA DE
SUPRIMENTOS EM SUSTENTÁVEL: O
CASO DA PRODUÇÃO DE CAFÉS
ESPECIAIS.
Andrea Cristina dos Santos (UNB)
Iana Giesbrecht Castello Branco (UNB)
Estudos exploratórios realizados no norte de Minas Gerais revelaram
a necessidade de sincronização das etapas do processo de produção de
café especiais promovendo uma gestão integrada da cadeia
suprimentos. Adicionalmente revelaram uma preocupação dos
produtores e agentes locais em adotar uma cadeia de suprimentos
sustentável para a produção de café especiais. Este artigo tem por
objetivo identificar o conjunto de características que descreve uma
cadeia de suprimentos para que esta seja considerada sustentável.
Para tanto foi realizada uma revisão da literatura com intuito de
identificar as bases conceituais que compõem os temas cadeias de
suprimentos e sustentabilidade e identificar quais seriam as melhores
práticas que levariam uma cadeia de suprimentos tradicional a se
transformar em uma cadeia sustentável. Como resultado desta
pesquisa tem-se um mapa conceitual que conduz por meio da
exploração de seis temas básicos (com suas características específicas
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e melhores práticas) como uma cadeia de suprimentos pode ser
considerada sustentável.
Palavras-chave: Cadeia de Suprimentos; Cadeia de Suprimentos
Sustentável; Café; Minas Gerais; Café Sombreado.
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1. Introdução
Os principais produtores de cafés especiais, ou seja, no qual se tem maior valor agregado ao
produto, estão sendo produzidos fora do país. Entre eles destaca-se a Etiópia, Sumatra, Nova
Guiné e Timor e na América Latina, os Cafés do sul do México, norte da Nicarágua, Costa
Rica, El Salvador, Peru, Panamá e Guatemala. A principal característica que diferencia a
produção destes cafés é a forma de cultivo sob sombra (MANCUSO ET AL, 2013).
Fernandes (1986) coloca que as vantagens do sombreamento estão na produção de internódios
mais longos, redução do número de folhas, porém com maior tamanho, e na produção de
frutos maiores, mais moles e açucarados. Martiello (1995) afirma que a arborização pode
ainda ser vantajosa já que aumenta a obtenção da bebida mais suave, reduz bienalidade da
produção e atenua as temperaturas máximas e mínimas do ambiente. Além disso, as
plantações de café sombreado têm sido citadas como garantia para diversidade porque podem
preservar a alta diversidade de organismos, como pássaros, artrópodes, mamíferos e orquídeas
(GOBBI, 2000).
A EMBRAPA Cerrado vem realizando uma série de pesquisas participativas junto a
agricultores na implantação, manejo, beneficiamento e comercialização da produção, além da
divulgação do trabalho a partir do resgate e melhoramento do sistema tradicional de produção
de café sombreado. Este trabalho está sendo realizado com 16 famílias de agricultores na
microrregião do Alto Rio Pardo, Norte do Estado de Minas Gerais. Os resultados iniciais
alcançados demonstram um aumento da produção, da produtividade, da diversificação da
produção e da renda das famílias envolvidas, além de aumentarem a conservação dos recursos
naturais, o fortalecimento da segurança alimentar e da organização local. (CARRARA, 2009).
A convite da EMBRAPA Cerrado foi feito um estudo exploratório na região citada com o
intuito de diagnosticar como os conhecimentos da Engenharia de Produção poderiam
contribuir com a melhoria da integração da cadeia de suprimentos do café sombreado
produzido no Norte de Minas. Entrevistas com produtores locais e agentes na microrregião
revelaram além da necessidade de sincronização das etapas do processo de produção do café
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promovendo uma gestão integrada da cadeia de suprimentos, havia uma forte preocupação
dos produtores e agentes locais em tornar a cadeia de suprimentos sustentável (CASTELLO-
BRANCO, 2014).
Nesse sentido, Santos (2013) afirma que juntamente ao aumento mundial da população e à
decrescente disponibilidade de recursos naturais, as empresas começaram a entender que as
cadeias de suprimentos necessitavam ser redesenhadas, considerando que a competitividade
no futuro tem a sua existência condicionada ao modelo de negócio sustentável das
organizações. A questão ambiental, a eficiência econômica e a contribuição social são três
partes desta competitividade. Kang et al (2012) colocam que embora haja muita atenção para
adoção de cadeia de suprimentos sustentáveis, há ainda pouca pesquisa ou diretrizes a fim de
entender como adotá-las e qual o procedimento a ser utilizado.
Dentro deste contexto este artigo tem por objetivo apresentar um conjunto de características
que descreve uma cadeia de suprimentos para que esta seja considerada sustentável.
Para tanto por meio da revisão da literatura foi elaborado um mapa conceitual que servirá de
para fazer o relacionamento entre os principais conceitos e práticas utilizados na literatura. Os
Tópicos a seguir apresenta o referêncial teórico utilizado, o mapa conceitual e a considerações
finais sobre a pesquisa.
2. Gestão da Cadeia de Suprimentos
A introdução do conceito Gestão da Cadeia de Suprimentos, no inicio dos anos 80, tem sido
usada para descrever o planejamento e o controle de materiais, os fluxos de informação, e as
atividades logísticas dentro de uma empresa e também externamente entre empresas
(LAMBERT, COOPER E PAGH, 1998).
Segundo Kieckbusch (2010), a principal característica desta abordagem é a busca pela
padronização dos processos de negócio a fim de promover a integração da cadeia. Lambert
(2006) afirma que o gerenciamento da cadeia de suprimentos é a integração dos principais
processos de negócios compreendendo do consumidor final até o fornecedor; o qual provê
produtos, serviços e informações que adicionam valor aos consumidores e demais partes
interessadas.
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Neste caso, a estrutura de rede da cadeia de suprimentos é compreendida pelas empresas e os
vínculos entre elas. Além disso, os três elementos principais da cadeia de suprimentos são: a
estrutura da rede da cadeia de suprimentos, os processos de negócios e os componentes
gerenciais.
Kieckbusch (2010) e Jain et al (2009), afirmam que a cadeia de suprimentos é um processo
dinâmico que inclui o fluxo contínuo de materiais, recursos e informações em diversas áreas
funcionais dentro e entre os membros da cadeia.
A figura 1 ilustra como esses conceitos de diferentes autores são consolidados no
Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos.
Figura 1 - Estrutura do gerenciamento da cadeia de suprimentos
Fonte: Baseado em LAMBERT, COOPER E PAGH, 1998.
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O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos é em última instância e de forma geral uma
metodologia de gestão que visa melhorar a eficiência das tarefas da cadeia de suprimentos
(MENTZER et al, 2001). Tendo em vista que o conceito trazido na palavra “cadeia” é por si
só de integração, onde as empresas de qualquer setor da economia necessariamente precisam
estar em consonância.
Nesse sentido o SCM faz referência às relações entre as organizações através de seus
processos de negócios, onde se busca maximizar as potenciais sinergias, diminuir os
desperdícios, aumentar a eficiência e a eficácia dos processos, a fim de adicionar valor aos
clientes e partes interessadas, tornando a cadeia de suprimentos mais competitiva (SANTOS,
KIECKBUSCH E FORCELLINI, 2006)
Segundo a análise realizada por Ahi e Searcy (2013) muitos conceitos de Gestão da Cadeia de
Suprimentos ou Supply Chain Management (SCM) são hoje utilizados pelos autores de
diversas maneiras. Para diminuir essa diversidade e traçar o embasamento teórico que seria
utilizado neste trabalho foi então elaborada a tabela a seguir, onde são apresentados os
principais conceitos no contexto deste estudo.
A Figura 2 mostra segundo seis critérios uma análise de como os conceitos se relacionam em
termos do atendimento às necessidades dos Stakeholders, a criação e a gestão do valor, a
coordenação dos atores e das atividades, o fluxo de materiais e informações, a gestão do
relacionamento e a busca pela eficiência.
Figura 2 - Conceitos de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos
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Fonte: Elaborado pela autora baseado em Ahi e Searcy (2013).
3. Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável
Como descrito por Diniz (2008), o desenvolvimento sustentável foi objeto de análise de
diversos trabalhos e por isso, faz-se necessária a delimitação do escopo tratado nesta pesquisa,
a qual está pautada na consonância da teoria do triple bottom line com o trabalho de Ignacy
Sachs de 1997 que conceituou o ecodesenvolvimento.
A abordagem sustentável, como citado, tem ganhado cada vez mais importância desde a
introdução do conceito do triple-bottom-line (TBL). Os três pilares que constroem a
sustentabilidade do processo de negócio de uma organização são: o social, o econômico e o
ambiental.
O primeiro pilar está ligado ao que o conceito do TBL aponta como o aspecto social do
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desenvolvimento sustentável. Para Sachs (1997) este pilar está relacionado com duas de suas
abordagens, são elas a social e a cultural.
O que compõe o segundo pilar são as abordagens ambiental e espacial apresentadas por Sachs
(1997) na conceituação do ecodesenvolvimento. Por outro lado na teoria do triple-bottom-line
este pilar se encaixa na performance ambiental apenas.
Sachs (1997) em seu trabalho ainda tratou de uma quinta abordagem, a econômica, que
corresponde também à performance homônima da teoria do triple-bottom-line. Como pôde ser
visto, o desenvolvimento sustentável não é tratado como conceito único e difundido de forma
homogênea.
Embora no passado a gestão da cadeia de suprimentos apenas tenha focado no sistema
eficiente e ágil de produção e na entrega da matéria-prima até o consumidor final, atualmente,
as questões ambientais e sociais tem ganhado importância, o que tem incentivado o debate de
como a indústria responde ao desafio da sustentabilidade (MCKONE-SWEET, 2004).
O New Zealand Business Council for Sustainable Development (2003), conceitua a cadeia de
suprimentos, com a visão sustentável, como a gestão de matérias-primas e serviços desde os
fornecedores passando pelo produtor e chegando ao cliente considerando explicitamente a
melhoria dos impactos sociais e ambientais.
Carter e Rogers (2008) definem o gerenciamento da cadeia de suprimentos sustentável como a
estratégia, a integração transparente e a execução dos objetivos sociais, ambientais e
econômicos de uma organização através da coordenação sistêmica dos processos de negócio
de uma rede de empresas a fim de melhorar o desempenho econômico a longo prazo de cada
uma das empresas envolvidas.
Teuteberg e Wittstruck (2010) apresentam a Casa da Cadeia de Suprimentos Sustentável
(House of Sustainable Supply Chain), Figura 3, a qual está baseada na ideia dos três pilares
apresentada por Carter e Rogers (2008) e considera o gerenciamento dos riscos e da
conformidade a base desta estrutura.
Teuteberg e Wittstruck (2010) defendem que o gerenciamento da cadeia de suprimentos
sustentável deve ser conjugado com o alinhamento estratégico corporativo para o
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desenvolvimento sustentável, garantindo assim que a rede esteja efetivamente protegida
contra ameaças ambientais, sociais e possíveis riscos.
A principal prioridade de um sistema corporativo voltado para a sustentabilidade é medir,
comunicar e reduzir a quantidade absoluta de impactos sociais e ambientais negativos e ainda
contribuir para a transformação sustentável e da sociedade (SCHALTEGGER E BURRIT,
2014).
Figura 3 - Casa da Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável
Fonte: Elaborado pela autora baseado em Teuteberg e Wittstruck, 2010.
Rahmudhin et al (2009) afirma que fazendo a revisão de diferentes elementos relacionados à
sustentabilidade da cadeia de suprimentos, esta pode estar atrelada aos conceitos tais como o
projeto verde (green design), gestão de estoques, planejamento da produção e controle do
retrabalho, recuperação de produto, logística reversa, gestão do desperdício e redução das
emissões.
Ahi e Searcy (2013) apresentam uma consolidação dos principais conceitos da Gestão da
Cadeia de Suprimentos Sustentável, apresentados na Figura 4.
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Figur
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Fonte: Elaborado pela autora baseado em Ahi e Searcy (2013).
4. Resultados obtidos o Mapa conceitual
O mapa conceitual é uma fotografia do território que está sob estudo e representa os conceitos
naquela área e as relações entre eles (TURRIONI E MELLO, 2012).
A Figura 5 a seguir foi elaborada para delimitar os conceitos relacionados às características
sustentáveis vinculadas ao gerenciamento da cadeia de suprimentos que foram identificadas,
como consta no objetivo deste trabalho.
Figura 5: Correlação dos conceitos de sustentabilidade
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Fonte: Elaborado pela autora.
O mapa conceitual está dividido em quatro grandes áreas, a sustentabilidade na base, a cadeia
de suprimentos logo acima e a cadeia de suprimentos sustentável no topo do mapa, Figura 6.
A medida que se caminha de baixo para o centro da figura, os conceitos vão se tornando cada
vez mais correlacionados de forma a demonstrar o cenário integrado e complexo que a cadeia
de suprimentos faz parte.
O tema da sustentabilidade é tratado primeiramente sobre a ótica já apresentada de Teuteberg
e Wittstruck (2010) onde os autores discutem as três dimensões sustentáveis: a ambiental, a
econômica e a social. Porém, ao associar este trabalho com o de Sachs (1997), o qual
apresenta seis dimensões: político-institucional, econômica, social, cultural, espacial e
ambiental.
As duas teorias combinadas passam a dar origem aos três pilares apresentados na figura 5:
abordagem político-econômica; abordagem ambiental e abordagem sócio-cultural. Observa-se
no mapa conceitual que o desenvolvimento sustentável é tido como pilar sólido para o
desenvolvimento dos conceitos desta pesquisa.
Figura 6 - Mapa conceitual
Para Sachs (1997), a esfera ambiental da sustentabilidade está pautada na adaptação do
desenvolvimento à cada ecossistema, contexto e localidade com o intuito de produzir o que
hoje é necessário para a sociedade sem prejudicar a produção futura, o que o autor chama de
solidariedade sincrônica e diacrônica.
A abordagem político-econômica reúne, principalmente, a necessidade da viabilidade
econômica do modelo de negócio da cadeia produtiva cafeeira e, segundo Sachs (1997) a
promoção democrática da governança. Neste contexto, está inserida a avaliação da eficiência
econômica da atividade comercial dos atores da cadeia, além da liberdade das demandas da
sociedade, que podem resultar, por exemplo, no fomento através de políticas públicas.
A terceira e última abordagem está baseada na diversidade de possíveis soluções locais que
são próprias do contexto e da sociedade a qual a cadeia está inserida. Sachs (1997) aponta que
o objetivo é melhorar o acesso às riquezas e reduzir a diferença dos níveis de vida entre os
pobres e ricos. Porém, garantir que a comunidade esteja entregando valor único e seja
representada no produto que está sendo produzido.
Diante desta base, os conceitos do gerenciamento da cadeia de suprimentos são apresentados
chamando a atenção para o carácter consultivo do relacionamento firmado entre estes e o
desenvolvimento sustentável. Esta relação foi representada pela dupla seta a fim de garantir a
troca de informação entre eles.
A cadeia de suprimentos é apresentada na segunda seção do mapa partindo da ideia exposta
por Lambert (2006) destacando os três componentes deste conceito: a estrutura da rede da
cadeia de suprimentos, os processos de negócios e os componentes gerenciais.
Neste sentido, o autor complementa que o gerenciamento da cadeia de suprimentos é a
integração dos principais processos de negócios compreendendo do consumidor final até o
fornecedor; o qual provê produtos, serviços e informações que adicionam valor aos
consumidores e demais partes interessadas.
O gerenciamento da cadeia de suprimentos pode ainda ser visto como a coordenação vertical
de atividades através das empresas com o intuito de servir os consumidores finais com lucro
(LARSON E ROGERS, 1998), ou ainda como uma metodologia de gestão para melhorar a
eficiência das tarefas na cadeia de suprimentos (MENTZER et al, 2001).
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A medida que estes conceitos se relacionam com as abordagens sustentáveis, os temas
destacados na parte central da figura vão sendo inseridos. Estes foram analisados e
aglomerados conforme as características de cada uma das abordagens apresentadas.
A cadeia de suprimentos, à luz da abordagem ambiental, está mais ligada ao conceito de Leff
(2001) que ressalta a reafirmação por parte da comunidade dos direitos à autogestão do seu
patrimônio de recursos naturais e culturais a fim de buscar seu desenvolvimento.
Os Sistemas ou Arranjos Produtivos Locais (APLs) fazem parte deste conjunto da abordagem
ambiental, mas principalmente das abordagens político-econômica e sócio-cultural. A
primeira ocorre quando estes promovem uma especialização regional através do
aproveitamento das vantagens territoriais que permitem o surgimento de estruturas produtivas
especializadas. Isto leva a entender de que forma estes sistemas contribuem para o
desenvolvimento ou para a revitalização de territórios (SEBRAE, 2004).
As duas abordagens seguintes – político-econômica e sócio-cultural – ficam evidentes já que
as empresas que fazem parte deste sistema formam um ambiente produtivo que possibilita um
processo de aprendizado ingressando assim numa intensa dinâmica de recepção,
processamento e emissão de informações, tecnologias e técnicas capazes de manter todo o
sistema em constante movimento (SEBRAE, 2004).
A indicação geográfica (IG), por sua vez, é uma prática que, assim como os APLs, fomenta a
sustentabilidade na cadeia de suprimentos, neste caso apenas em termos das abordagens
político-econômica e sócio-cultural. A IG favorece uma distribuição equilibrada da mais-valia
em toda a cadeia produtiva e pode neutralizar mais eficazmente os comportamentos
oportunistas intracadeia produtiva. No âmbito cultural os benefícios das IGs são ainda mais
visíveis, tais como, geração de satisfação ao produtor, valorização do território e do
conhecimento local; contribuição para preservação da diversificação da produção agrícola,
das particularidades e da personalidade dos produtos, que se constituem num patrimônio de
cada região e país (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E
ABASTECIMENTO, 2014).
Além disso são encontrados benefícios econômicos, como: o favorecimento das exportações,
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a proteção dos produtos contra a concorrência desleal externa, a melhora e a estabilidade da
demanda do produto, o estímulo de investimentos na própria zona de produção e, por fim, a
melhora na comercialização dos produtos (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA
E ABASTECIMENTO, 2014).
Os Sistemas Agroflorestais, segundo Michon (1997) são arranjos ou consórcios de espécies
que têm o intuito de reproduzir ao longo do tempo a dinâmica da vegetação original, sua
estrutura e funcionalidade, visando atender demandas humanas de modo sustentável. Desta
forma, este método produtivo foi inserido, no estudo e montagem do mapa conceitual, como
sendo parte constituinte das abordagens ambiental e também sócio-cultural.
Os principais benefícios dos Sistemas Agroflorestais são: a criação de uma cobertura vegetal
contínua para a proteção do solo; a garantia de produção constante de alimentos, variedade na
dieta alimentar e produção de alimentos e outros produtos para o mercado; o fechamento dos
ciclos de nutrientes e a garantia do uso eficaz dos recursos locais; e, por fim, a contribuição
para a conservação do solo e dos recursos hídricos através da cobertura morta e da proteção
contra o vento (ALTIERI, LETOURNEAU E DAVIS, 1983).
Também fazendo parte das abordagens ambiental e sócio-cultural, as certificações agrícolas
socioambientais são ferramentas de mercado, criadas num contexto de valorização de padrões
sociais e ambientais na cadeia de produção agrícola e cuja função é transmitir aos
consumidores a imagem de um produto diferenciado (LIMA et al, 2008). Marçal e Guimarães
(s.d.) enfatizam que elas são capazes de atestar as práticas agrícolas, assegurar a origem de
produtos e serviços, agregar valor ao produto, diminuir a agressão ao meio ambiente e
desenvolver uma consciência voltada para a sociabilidade.
Segundo Graedel e Allenby (1995), o ecodesign é a prática que integra aspectos ambientais ao
Projeto de Desenvolvimento de Produto e, também, aos procedimentos de projeto de
engenharia e processo, sem alterar outras características como preço, performance e padrões
de qualidade. É por combinar estas duas perspectivas, econômica e ambiental, que este tema
foi inserido nas abordagens político-econômica e ambiental.
O sexto tema tratado na parte central do mapa como uma das características que conduzem a
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cadeia de suprimentos à sustentabilidade trata dos sistemas orgânicos. Estes, segundo Moreira
(2013), constituem uma produção agropecuária que não utiliza insumos sintéticos ou
persistentes, além de frisarem pela reciclagem da matéria orgânica e pelo equilíbrio natural,
incorporando animais adaptados e considerando o ser humano como parte do organismo de
produção. Corroborando, com isso, a inclusão deste mecanismo na abordagem ambiental já
descrita.
5. Considerações Finais
Este trabalho mostrou, primeiramente, o relacionamento entre diversos conceitos já
consolidados na literatura tanto a respeito da cadeia de suprimentos quanto da
sustentabilidade. Com essa relacionamento foi possível ter uma visão mais clara do cenário
existente entre ambos os conceitos e como eles se correlacionam.
Ao apresentar o mapa conceitual, este trabalho cumpre seu objetivo de identificar
características que descrevem uma cadeia de suprimentos quando ela é considerada
sustentável. E, além disso, faz uso desta ferramenta para tornar o entendimento destas
características mais claro e instintivo.
Foi possível observar quais são eles e de que forma os seis temas apresentados no mapa
conceitual conduzem uma cadeia de suprimentos ao ambiente sustentável. Fazem parte deste
grupo os sistemas ou arranjos produtivos locais, a indicação geográfica, os sistemas
agroflorestais, as certificações agrícolas, o ecodesign e os sistemas orgânicos.
Para finalizar, é necessário pontuar a importância das organizações de mercado no contexto
desta pesquisa, que têm sua sobrevivência organizacional, segundo Terra (2007), dependente
diretamente da forma com a qual irão competir dentro de seus mercados, assim, a única
maneira de ser competitivo é inovando, ou seja, promovendo mudanças evolutivas e
adaptando-se aos ambientes inseridos.
De face do apresentado na introdução deste artigo e defendido por Santos (2013) as cadeias de
suprimentos necessitam ser redesenhadas, considerando que a competitividade no futuro tem
a sua existência condicionada ao modelo de negócio sustentável das organizações.
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As próximas etapas que serão percorridas por esta pesquisa dizem respeito à adoção das
práticas e conceitos apresentados neste artigo no intuito de analisar modelos, práticas e
ferramentas que visam a inserção da sustentabilidade na cadeia de suprimentos.
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