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CARACTERÍSTICAS QUE TRANSFORMAM UMA CADEIA DE SUPRIMENTOS EM SUSTENTÁVEL: O CASO DA PRODUÇÃO DE CAFÉS ESPECIAIS. Andrea Cristina dos Santos (UNB) [email protected] Iana Giesbrecht Castello Branco (UNB) [email protected] Estudos exploratórios realizados no norte de Minas Gerais revelaram a necessidade de sincronização das etapas do processo de produção de café especiais promovendo uma gestão integrada da cadeia suprimentos. Adicionalmente revelaram uma preocupação dos produtores e agentes locais em adotar uma cadeia de suprimentos sustentável para a produção de café especiais. Este artigo tem por objetivo identificar o conjunto de características que descreve uma cadeia de suprimentos para que esta seja considerada sustentável. Para tanto foi realizada uma revisão da literatura com intuito de identificar as bases conceituais que compõem os temas cadeias de suprimentos e sustentabilidade e identificar quais seriam as melhores práticas que levariam uma cadeia de suprimentos tradicional a se transformar em uma cadeia sustentável. Como resultado desta pesquisa tem-se um mapa conceitual que conduz por meio da exploração de seis temas básicos (com suas características específicas XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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CARACTERÍSTICAS QUE

TRANSFORMAM UMA CADEIA DE

SUPRIMENTOS EM SUSTENTÁVEL: O

CASO DA PRODUÇÃO DE CAFÉS

ESPECIAIS.

Andrea Cristina dos Santos (UNB)

[email protected]

Iana Giesbrecht Castello Branco (UNB)

[email protected]

Estudos exploratórios realizados no norte de Minas Gerais revelaram

a necessidade de sincronização das etapas do processo de produção de

café especiais promovendo uma gestão integrada da cadeia

suprimentos. Adicionalmente revelaram uma preocupação dos

produtores e agentes locais em adotar uma cadeia de suprimentos

sustentável para a produção de café especiais. Este artigo tem por

objetivo identificar o conjunto de características que descreve uma

cadeia de suprimentos para que esta seja considerada sustentável.

Para tanto foi realizada uma revisão da literatura com intuito de

identificar as bases conceituais que compõem os temas cadeias de

suprimentos e sustentabilidade e identificar quais seriam as melhores

práticas que levariam uma cadeia de suprimentos tradicional a se

transformar em uma cadeia sustentável. Como resultado desta

pesquisa tem-se um mapa conceitual que conduz por meio da

exploração de seis temas básicos (com suas características específicas

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e melhores práticas) como uma cadeia de suprimentos pode ser

considerada sustentável.

Palavras-chave: Cadeia de Suprimentos; Cadeia de Suprimentos

Sustentável; Café; Minas Gerais; Café Sombreado.

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1. Introdução

Os principais produtores de cafés especiais, ou seja, no qual se tem maior valor agregado ao

produto, estão sendo produzidos fora do país. Entre eles destaca-se a Etiópia, Sumatra, Nova

Guiné e Timor e na América Latina, os Cafés do sul do México, norte da Nicarágua, Costa

Rica, El Salvador, Peru, Panamá e Guatemala. A principal característica que diferencia a

produção destes cafés é a forma de cultivo sob sombra (MANCUSO ET AL, 2013).

Fernandes (1986) coloca que as vantagens do sombreamento estão na produção de internódios

mais longos, redução do número de folhas, porém com maior tamanho, e na produção de

frutos maiores, mais moles e açucarados. Martiello (1995) afirma que a arborização pode

ainda ser vantajosa já que aumenta a obtenção da bebida mais suave, reduz bienalidade da

produção e atenua as temperaturas máximas e mínimas do ambiente. Além disso, as

plantações de café sombreado têm sido citadas como garantia para diversidade porque podem

preservar a alta diversidade de organismos, como pássaros, artrópodes, mamíferos e orquídeas

(GOBBI, 2000).

A EMBRAPA Cerrado vem realizando uma série de pesquisas participativas junto a

agricultores na implantação, manejo, beneficiamento e comercialização da produção, além da

divulgação do trabalho a partir do resgate e melhoramento do sistema tradicional de produção

de café sombreado. Este trabalho está sendo realizado com 16 famílias de agricultores na

microrregião do Alto Rio Pardo, Norte do Estado de Minas Gerais. Os resultados iniciais

alcançados demonstram um aumento da produção, da produtividade, da diversificação da

produção e da renda das famílias envolvidas, além de aumentarem a conservação dos recursos

naturais, o fortalecimento da segurança alimentar e da organização local. (CARRARA, 2009).

A convite da EMBRAPA Cerrado foi feito um estudo exploratório na região citada com o

intuito de diagnosticar como os conhecimentos da Engenharia de Produção poderiam

contribuir com a melhoria da integração da cadeia de suprimentos do café sombreado

produzido no Norte de Minas. Entrevistas com produtores locais e agentes na microrregião

revelaram além da necessidade de sincronização das etapas do processo de produção do café

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promovendo uma gestão integrada da cadeia de suprimentos, havia uma forte preocupação

dos produtores e agentes locais em tornar a cadeia de suprimentos sustentável (CASTELLO-

BRANCO, 2014).

Nesse sentido, Santos (2013) afirma que juntamente ao aumento mundial da população e à

decrescente disponibilidade de recursos naturais, as empresas começaram a entender que as

cadeias de suprimentos necessitavam ser redesenhadas, considerando que a competitividade

no futuro tem a sua existência condicionada ao modelo de negócio sustentável das

organizações. A questão ambiental, a eficiência econômica e a contribuição social são três

partes desta competitividade. Kang et al (2012) colocam que embora haja muita atenção para

adoção de cadeia de suprimentos sustentáveis, há ainda pouca pesquisa ou diretrizes a fim de

entender como adotá-las e qual o procedimento a ser utilizado.

Dentro deste contexto este artigo tem por objetivo apresentar um conjunto de características

que descreve uma cadeia de suprimentos para que esta seja considerada sustentável.

Para tanto por meio da revisão da literatura foi elaborado um mapa conceitual que servirá de

para fazer o relacionamento entre os principais conceitos e práticas utilizados na literatura. Os

Tópicos a seguir apresenta o referêncial teórico utilizado, o mapa conceitual e a considerações

finais sobre a pesquisa.

2. Gestão da Cadeia de Suprimentos

A introdução do conceito Gestão da Cadeia de Suprimentos, no inicio dos anos 80, tem sido

usada para descrever o planejamento e o controle de materiais, os fluxos de informação, e as

atividades logísticas dentro de uma empresa e também externamente entre empresas

(LAMBERT, COOPER E PAGH, 1998).

Segundo Kieckbusch (2010), a principal característica desta abordagem é a busca pela

padronização dos processos de negócio a fim de promover a integração da cadeia. Lambert

(2006) afirma que o gerenciamento da cadeia de suprimentos é a integração dos principais

processos de negócios compreendendo do consumidor final até o fornecedor; o qual provê

produtos, serviços e informações que adicionam valor aos consumidores e demais partes

interessadas.

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Neste caso, a estrutura de rede da cadeia de suprimentos é compreendida pelas empresas e os

vínculos entre elas. Além disso, os três elementos principais da cadeia de suprimentos são: a

estrutura da rede da cadeia de suprimentos, os processos de negócios e os componentes

gerenciais.

Kieckbusch (2010) e Jain et al (2009), afirmam que a cadeia de suprimentos é um processo

dinâmico que inclui o fluxo contínuo de materiais, recursos e informações em diversas áreas

funcionais dentro e entre os membros da cadeia.

A figura 1 ilustra como esses conceitos de diferentes autores são consolidados no

Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos.

Figura 1 - Estrutura do gerenciamento da cadeia de suprimentos

Fonte: Baseado em LAMBERT, COOPER E PAGH, 1998.

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O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos é em última instância e de forma geral uma

metodologia de gestão que visa melhorar a eficiência das tarefas da cadeia de suprimentos

(MENTZER et al, 2001). Tendo em vista que o conceito trazido na palavra “cadeia” é por si

só de integração, onde as empresas de qualquer setor da economia necessariamente precisam

estar em consonância.

Nesse sentido o SCM faz referência às relações entre as organizações através de seus

processos de negócios, onde se busca maximizar as potenciais sinergias, diminuir os

desperdícios, aumentar a eficiência e a eficácia dos processos, a fim de adicionar valor aos

clientes e partes interessadas, tornando a cadeia de suprimentos mais competitiva (SANTOS,

KIECKBUSCH E FORCELLINI, 2006)

Segundo a análise realizada por Ahi e Searcy (2013) muitos conceitos de Gestão da Cadeia de

Suprimentos ou Supply Chain Management (SCM) são hoje utilizados pelos autores de

diversas maneiras. Para diminuir essa diversidade e traçar o embasamento teórico que seria

utilizado neste trabalho foi então elaborada a tabela a seguir, onde são apresentados os

principais conceitos no contexto deste estudo.

A Figura 2 mostra segundo seis critérios uma análise de como os conceitos se relacionam em

termos do atendimento às necessidades dos Stakeholders, a criação e a gestão do valor, a

coordenação dos atores e das atividades, o fluxo de materiais e informações, a gestão do

relacionamento e a busca pela eficiência.

Figura 2 - Conceitos de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos

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Fonte: Elaborado pela autora baseado em Ahi e Searcy (2013).

3. Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável

Como descrito por Diniz (2008), o desenvolvimento sustentável foi objeto de análise de

diversos trabalhos e por isso, faz-se necessária a delimitação do escopo tratado nesta pesquisa,

a qual está pautada na consonância da teoria do triple bottom line com o trabalho de Ignacy

Sachs de 1997 que conceituou o ecodesenvolvimento.

A abordagem sustentável, como citado, tem ganhado cada vez mais importância desde a

introdução do conceito do triple-bottom-line (TBL). Os três pilares que constroem a

sustentabilidade do processo de negócio de uma organização são: o social, o econômico e o

ambiental.

O primeiro pilar está ligado ao que o conceito do TBL aponta como o aspecto social do

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desenvolvimento sustentável. Para Sachs (1997) este pilar está relacionado com duas de suas

abordagens, são elas a social e a cultural.

O que compõe o segundo pilar são as abordagens ambiental e espacial apresentadas por Sachs

(1997) na conceituação do ecodesenvolvimento. Por outro lado na teoria do triple-bottom-line

este pilar se encaixa na performance ambiental apenas.

Sachs (1997) em seu trabalho ainda tratou de uma quinta abordagem, a econômica, que

corresponde também à performance homônima da teoria do triple-bottom-line. Como pôde ser

visto, o desenvolvimento sustentável não é tratado como conceito único e difundido de forma

homogênea.

Embora no passado a gestão da cadeia de suprimentos apenas tenha focado no sistema

eficiente e ágil de produção e na entrega da matéria-prima até o consumidor final, atualmente,

as questões ambientais e sociais tem ganhado importância, o que tem incentivado o debate de

como a indústria responde ao desafio da sustentabilidade (MCKONE-SWEET, 2004).

O New Zealand Business Council for Sustainable Development (2003), conceitua a cadeia de

suprimentos, com a visão sustentável, como a gestão de matérias-primas e serviços desde os

fornecedores passando pelo produtor e chegando ao cliente considerando explicitamente a

melhoria dos impactos sociais e ambientais.

Carter e Rogers (2008) definem o gerenciamento da cadeia de suprimentos sustentável como a

estratégia, a integração transparente e a execução dos objetivos sociais, ambientais e

econômicos de uma organização através da coordenação sistêmica dos processos de negócio

de uma rede de empresas a fim de melhorar o desempenho econômico a longo prazo de cada

uma das empresas envolvidas.

Teuteberg e Wittstruck (2010) apresentam a Casa da Cadeia de Suprimentos Sustentável

(House of Sustainable Supply Chain), Figura 3, a qual está baseada na ideia dos três pilares

apresentada por Carter e Rogers (2008) e considera o gerenciamento dos riscos e da

conformidade a base desta estrutura.

Teuteberg e Wittstruck (2010) defendem que o gerenciamento da cadeia de suprimentos

sustentável deve ser conjugado com o alinhamento estratégico corporativo para o

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desenvolvimento sustentável, garantindo assim que a rede esteja efetivamente protegida

contra ameaças ambientais, sociais e possíveis riscos.

A principal prioridade de um sistema corporativo voltado para a sustentabilidade é medir,

comunicar e reduzir a quantidade absoluta de impactos sociais e ambientais negativos e ainda

contribuir para a transformação sustentável e da sociedade (SCHALTEGGER E BURRIT,

2014).

Figura 3 - Casa da Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável

Fonte: Elaborado pela autora baseado em Teuteberg e Wittstruck, 2010.

Rahmudhin et al (2009) afirma que fazendo a revisão de diferentes elementos relacionados à

sustentabilidade da cadeia de suprimentos, esta pode estar atrelada aos conceitos tais como o

projeto verde (green design), gestão de estoques, planejamento da produção e controle do

retrabalho, recuperação de produto, logística reversa, gestão do desperdício e redução das

emissões.

Ahi e Searcy (2013) apresentam uma consolidação dos principais conceitos da Gestão da

Cadeia de Suprimentos Sustentável, apresentados na Figura 4.

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Fonte: Elaborado pela autora baseado em Ahi e Searcy (2013).

4. Resultados obtidos o Mapa conceitual

O mapa conceitual é uma fotografia do território que está sob estudo e representa os conceitos

naquela área e as relações entre eles (TURRIONI E MELLO, 2012).

A Figura 5 a seguir foi elaborada para delimitar os conceitos relacionados às características

sustentáveis vinculadas ao gerenciamento da cadeia de suprimentos que foram identificadas,

como consta no objetivo deste trabalho.

Figura 5: Correlação dos conceitos de sustentabilidade

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Fonte: Elaborado pela autora.

O mapa conceitual está dividido em quatro grandes áreas, a sustentabilidade na base, a cadeia

de suprimentos logo acima e a cadeia de suprimentos sustentável no topo do mapa, Figura 6.

A medida que se caminha de baixo para o centro da figura, os conceitos vão se tornando cada

vez mais correlacionados de forma a demonstrar o cenário integrado e complexo que a cadeia

de suprimentos faz parte.

O tema da sustentabilidade é tratado primeiramente sobre a ótica já apresentada de Teuteberg

e Wittstruck (2010) onde os autores discutem as três dimensões sustentáveis: a ambiental, a

econômica e a social. Porém, ao associar este trabalho com o de Sachs (1997), o qual

apresenta seis dimensões: político-institucional, econômica, social, cultural, espacial e

ambiental.

As duas teorias combinadas passam a dar origem aos três pilares apresentados na figura 5:

abordagem político-econômica; abordagem ambiental e abordagem sócio-cultural. Observa-se

no mapa conceitual que o desenvolvimento sustentável é tido como pilar sólido para o

desenvolvimento dos conceitos desta pesquisa.

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Figura 6 - Mapa conceitual

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Para Sachs (1997), a esfera ambiental da sustentabilidade está pautada na adaptação do

desenvolvimento à cada ecossistema, contexto e localidade com o intuito de produzir o que

hoje é necessário para a sociedade sem prejudicar a produção futura, o que o autor chama de

solidariedade sincrônica e diacrônica.

A abordagem político-econômica reúne, principalmente, a necessidade da viabilidade

econômica do modelo de negócio da cadeia produtiva cafeeira e, segundo Sachs (1997) a

promoção democrática da governança. Neste contexto, está inserida a avaliação da eficiência

econômica da atividade comercial dos atores da cadeia, além da liberdade das demandas da

sociedade, que podem resultar, por exemplo, no fomento através de políticas públicas.

A terceira e última abordagem está baseada na diversidade de possíveis soluções locais que

são próprias do contexto e da sociedade a qual a cadeia está inserida. Sachs (1997) aponta que

o objetivo é melhorar o acesso às riquezas e reduzir a diferença dos níveis de vida entre os

pobres e ricos. Porém, garantir que a comunidade esteja entregando valor único e seja

representada no produto que está sendo produzido.

Diante desta base, os conceitos do gerenciamento da cadeia de suprimentos são apresentados

chamando a atenção para o carácter consultivo do relacionamento firmado entre estes e o

desenvolvimento sustentável. Esta relação foi representada pela dupla seta a fim de garantir a

troca de informação entre eles.

A cadeia de suprimentos é apresentada na segunda seção do mapa partindo da ideia exposta

por Lambert (2006) destacando os três componentes deste conceito: a estrutura da rede da

cadeia de suprimentos, os processos de negócios e os componentes gerenciais.

Neste sentido, o autor complementa que o gerenciamento da cadeia de suprimentos é a

integração dos principais processos de negócios compreendendo do consumidor final até o

fornecedor; o qual provê produtos, serviços e informações que adicionam valor aos

consumidores e demais partes interessadas.

O gerenciamento da cadeia de suprimentos pode ainda ser visto como a coordenação vertical

de atividades através das empresas com o intuito de servir os consumidores finais com lucro

(LARSON E ROGERS, 1998), ou ainda como uma metodologia de gestão para melhorar a

eficiência das tarefas na cadeia de suprimentos (MENTZER et al, 2001).

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A medida que estes conceitos se relacionam com as abordagens sustentáveis, os temas

destacados na parte central da figura vão sendo inseridos. Estes foram analisados e

aglomerados conforme as características de cada uma das abordagens apresentadas.

A cadeia de suprimentos, à luz da abordagem ambiental, está mais ligada ao conceito de Leff

(2001) que ressalta a reafirmação por parte da comunidade dos direitos à autogestão do seu

patrimônio de recursos naturais e culturais a fim de buscar seu desenvolvimento.

Os Sistemas ou Arranjos Produtivos Locais (APLs) fazem parte deste conjunto da abordagem

ambiental, mas principalmente das abordagens político-econômica e sócio-cultural. A

primeira ocorre quando estes promovem uma especialização regional através do

aproveitamento das vantagens territoriais que permitem o surgimento de estruturas produtivas

especializadas. Isto leva a entender de que forma estes sistemas contribuem para o

desenvolvimento ou para a revitalização de territórios (SEBRAE, 2004).

As duas abordagens seguintes – político-econômica e sócio-cultural – ficam evidentes já que

as empresas que fazem parte deste sistema formam um ambiente produtivo que possibilita um

processo de aprendizado ingressando assim numa intensa dinâmica de recepção,

processamento e emissão de informações, tecnologias e técnicas capazes de manter todo o

sistema em constante movimento (SEBRAE, 2004).

A indicação geográfica (IG), por sua vez, é uma prática que, assim como os APLs, fomenta a

sustentabilidade na cadeia de suprimentos, neste caso apenas em termos das abordagens

político-econômica e sócio-cultural. A IG favorece uma distribuição equilibrada da mais-valia

em toda a cadeia produtiva e pode neutralizar mais eficazmente os comportamentos

oportunistas intracadeia produtiva. No âmbito cultural os benefícios das IGs são ainda mais

visíveis, tais como, geração de satisfação ao produtor, valorização do território e do

conhecimento local; contribuição para preservação da diversificação da produção agrícola,

das particularidades e da personalidade dos produtos, que se constituem num patrimônio de

cada região e país (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E

ABASTECIMENTO, 2014).

Além disso são encontrados benefícios econômicos, como: o favorecimento das exportações,

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a proteção dos produtos contra a concorrência desleal externa, a melhora e a estabilidade da

demanda do produto, o estímulo de investimentos na própria zona de produção e, por fim, a

melhora na comercialização dos produtos (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA

E ABASTECIMENTO, 2014).

Os Sistemas Agroflorestais, segundo Michon (1997) são arranjos ou consórcios de espécies

que têm o intuito de reproduzir ao longo do tempo a dinâmica da vegetação original, sua

estrutura e funcionalidade, visando atender demandas humanas de modo sustentável. Desta

forma, este método produtivo foi inserido, no estudo e montagem do mapa conceitual, como

sendo parte constituinte das abordagens ambiental e também sócio-cultural.

Os principais benefícios dos Sistemas Agroflorestais são: a criação de uma cobertura vegetal

contínua para a proteção do solo; a garantia de produção constante de alimentos, variedade na

dieta alimentar e produção de alimentos e outros produtos para o mercado; o fechamento dos

ciclos de nutrientes e a garantia do uso eficaz dos recursos locais; e, por fim, a contribuição

para a conservação do solo e dos recursos hídricos através da cobertura morta e da proteção

contra o vento (ALTIERI, LETOURNEAU E DAVIS, 1983).

Também fazendo parte das abordagens ambiental e sócio-cultural, as certificações agrícolas

socioambientais são ferramentas de mercado, criadas num contexto de valorização de padrões

sociais e ambientais na cadeia de produção agrícola e cuja função é transmitir aos

consumidores a imagem de um produto diferenciado (LIMA et al, 2008). Marçal e Guimarães

(s.d.) enfatizam que elas são capazes de atestar as práticas agrícolas, assegurar a origem de

produtos e serviços, agregar valor ao produto, diminuir a agressão ao meio ambiente e

desenvolver uma consciência voltada para a sociabilidade.

Segundo Graedel e Allenby (1995), o ecodesign é a prática que integra aspectos ambientais ao

Projeto de Desenvolvimento de Produto e, também, aos procedimentos de projeto de

engenharia e processo, sem alterar outras características como preço, performance e padrões

de qualidade. É por combinar estas duas perspectivas, econômica e ambiental, que este tema

foi inserido nas abordagens político-econômica e ambiental.

O sexto tema tratado na parte central do mapa como uma das características que conduzem a

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cadeia de suprimentos à sustentabilidade trata dos sistemas orgânicos. Estes, segundo Moreira

(2013), constituem uma produção agropecuária que não utiliza insumos sintéticos ou

persistentes, além de frisarem pela reciclagem da matéria orgânica e pelo equilíbrio natural,

incorporando animais adaptados e considerando o ser humano como parte do organismo de

produção. Corroborando, com isso, a inclusão deste mecanismo na abordagem ambiental já

descrita.

5. Considerações Finais

Este trabalho mostrou, primeiramente, o relacionamento entre diversos conceitos já

consolidados na literatura tanto a respeito da cadeia de suprimentos quanto da

sustentabilidade. Com essa relacionamento foi possível ter uma visão mais clara do cenário

existente entre ambos os conceitos e como eles se correlacionam.

Ao apresentar o mapa conceitual, este trabalho cumpre seu objetivo de identificar

características que descrevem uma cadeia de suprimentos quando ela é considerada

sustentável. E, além disso, faz uso desta ferramenta para tornar o entendimento destas

características mais claro e instintivo.

Foi possível observar quais são eles e de que forma os seis temas apresentados no mapa

conceitual conduzem uma cadeia de suprimentos ao ambiente sustentável. Fazem parte deste

grupo os sistemas ou arranjos produtivos locais, a indicação geográfica, os sistemas

agroflorestais, as certificações agrícolas, o ecodesign e os sistemas orgânicos.

Para finalizar, é necessário pontuar a importância das organizações de mercado no contexto

desta pesquisa, que têm sua sobrevivência organizacional, segundo Terra (2007), dependente

diretamente da forma com a qual irão competir dentro de seus mercados, assim, a única

maneira de ser competitivo é inovando, ou seja, promovendo mudanças evolutivas e

adaptando-se aos ambientes inseridos.

De face do apresentado na introdução deste artigo e defendido por Santos (2013) as cadeias de

suprimentos necessitam ser redesenhadas, considerando que a competitividade no futuro tem

a sua existência condicionada ao modelo de negócio sustentável das organizações.

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As próximas etapas que serão percorridas por esta pesquisa dizem respeito à adoção das

práticas e conceitos apresentados neste artigo no intuito de analisar modelos, práticas e

ferramentas que visam a inserção da sustentabilidade na cadeia de suprimentos.

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