avaliaÇÃo atravÉs da metodologia de opÇÕes reais de projeto de geraÇÃo de...

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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ECONOMIA AVALIAÇÃO ATRAVÉS DA METODOLOGIA DE OPÇÕES REAIS DE PROJETO DE GERAÇÃO DE ENERGIA A PARTIR DE BIOGÁS DE ATERRO SANITÁRIO JORGE LUIZ SELLIN ASSALIE ORIENTADOR: PROF. DR. CARLOS DE LAMARE BASTIAN PINTO Rio de Janeiro, 20 dezembro de 2013.

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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALLIIZZAANNTTEE EEMM EECCOONNOOMMIIAA

AVALIAÇÃO ATRAVÉS DA METODOLOGIA DE OPÇÕES REAIS DE PROJETO DE

GERAÇÃO DE ENERGIA A PARTIR DE BIOGÁS DE ATERRO SANITÁRIO

JJOORRGGEE LLUUIIZZ SSEELLLLIINN AASSSSAALLIIEE

ORIENTADOR: PROF. DR. CARLOS DE LAMARE BASTIAN PINT O

Rio de Janeiro, 20 dezembro de 2013.

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“AVALIAÇÃO ATRAVÉS DA METODOLOGIA DE OPÇÕES REAIS D E PROJETO DE GERAÇÃO DE ENERGIA A PARTIR DE BIOGÁS DE ATERRO SANITÁRIO”

JORGE LUIZ SELLIN ASSALIE

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Economia como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Economia. Área de Concentração: Finanças

ORIENTADOR: CARLOS DE LAMARE BASTIAN PINTO

Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2013.

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“AVALIAÇÃO ATRAVÉS DA METODOLOGIA DE OPÇÕES REAIS D E PROJETO DE GERAÇÃO DE ENERGIA A PARTIR DE BIOGÁS DE ATERRO SANITÁRIO”

JORGE LUIZ SELLIN ASSALIE

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Economia como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Economia. Área de Concentração: Finanças

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________

Professor CARLOS DE LAMARE BASTIAN PINTO (Orientador) Instituição: Faculdades IBMEC/RJ _____________________________________________________

Professor LUIZ DE MAGALHÃES OZORIO (Co-orientador) Instituição: Faculdades IBMEC/RJ _____________________________________________________

Professor LUIZ EDUARDO TEIXEIRA BRANDÃO Instituição: Pontifícia Universidade Católica - Rio de Janeiro _____________________________________________________

Professora MARTA CORRÊA DALBEM Instituição: Unigranrio Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2013.

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FICHA CATALOGRÁFICA

A844 Assalie, Jorge Luiz Sellin.

Avaliação através da metodologia de opções reais de projeto de geração de energia a partir de biogás de aterro sanitário / Jorge Luiz Sellin Assalie. - Rio de Janeiro: [s.n.], 2013. 100 f. : il.

Dissertação de Mestrado profissional em Economia do

IBMEC. Orientador: Prof. Carlos de Lamare Bastian Pinto.

1. Opções reais. 2. Resíduos sólidos urbanos. 3. Aterro

sanitário. 4. Energia elétrica. I. Título. CDD 332

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha esposa que foi minha grande incentivadora em mais este desafio e que está ao meu lado em todos os momentos, me impulsionando e me encorajando. Muito obrigado pela sua maravilhosa companhia e pelo incentivo permanente. Estar ao seu lado é a minha maior energia. Em especial, dedico esta dissertação ao meu filho Rafael, que virá ao mundo em junho de 2014. Você é a motivação da minha vida, é a certeza de que a vida se renova, é o meu futuro.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus pelo dom da vida e pela maravilhosa experiência de

poder ser pai. Enalteço também os meus pais, que sempre plantaram e fizeram crescer em

mim o gosto por estudar e a busca pelo conhecimento. Obrigado pelos valores que vocês

desenvolveram em mim.

Agradeço também aos meus professores e orientadores Luiz Ozório e Carlos Bastian, que me

abriram o mundo curioso e fantástico das opções reais e foram incansáveis em rever os

modelos matemáticos, incentivadores na elaboração dos artigos e acima de tudo verdadeiros

amigos e parceiros.

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RESUMO

A destinação adequada dos resíduos sólidos urbanos é um dos maiores desafios da

humanidade, uma vez que reflete diretamente na saúde da população, na medida em que os

subprodutos desta atividade afetam a qualidade do ar, da água e do ambiente urbano. Além

dos benefícios ambientais, os projetos de tratamento de RSU podem gerar outras vantagens

para a sociedade, tal como a utilização do biogás, que é gerado pela decomposição de

resíduos, para produção de energia elétrica. Outra questão estudada em projetos de geração de

energia a partir do biogás de aterro é que o aumento da capacidade de processamento pode ser

efetuado de forma escalonada, criando a flexibilidade de escolha do modo economicamente

mais rentável para utilização do biogás. A combinação dessas flexibilidades gerenciais e as

incertezas, relacionadas ao preço da de energia, gera um valor adicional ao determinado pelo

método de fluxo de caixa descontado, o qual pode ser estimado pelo uso da teoria das opções

reais. O presente trabalho faz uma análise pelo Fluxo de Caixa Descontado e pela

metodologia de opções reais de uma usina de geração de energia a partir do biogás,

incorporando as flexibilidades gerenciais ao longo do tempo e as incertezas inerentes ao setor

de RSU, ao setor elétrico e ao próprio projeto. Verifica-se que essa opção teria a capacidade

de aumentar consideravelmente o VPL estático da usina de geração de energia.

Palavras Chave: Opções Reais, Resíduos Sólidos Urbanos, Aterro Sanitário, Energia Elétrica.

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ABSTRACT

The adequate destination of municipal solid waste is one of the biggest challenges of the

humanity, considering it affects directly the public health, because this activity contributes to

the air, water and environment quality. Aside from the environmental benefits, the MSW

treatment projects can generate other benefits to the commonwealth such as the use of biogas,

which is generated by the residues decomposition, to produce energy. In addition to this

question, another issue that must be considered in cogenaration´s project is that the increase in

the processing capacity can be done in stages, creating the flexibility of choosing how to

optimize the use of biogas. The combination of these managerial flexibilities and the

uncertainties, related to energy prices, generates an additional value to the one calculated by

discounted cash flow method, which can be estimated by the use of real options theory. This

work uses the cash flow method and real option approach to analyze a cogeneration power

plant, considering the flexibilities and the uncertainties related to the waste management

sector, energy sector and to the cogeneration project. The conclusion is that the real option has

a huge impact on the NPV of the cogeneration power plant.

Key Words: Real Options, Municipal Solid Waste, Sanitary Landfill, cogeneration of energy

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Metodologia de Montagem da Árvore de Eventos .................................................. 17 Figura 2 - Cadeia Valor da Gestão de Resíduos Sólidos .......................................................... 22 Figura 3 - Descrição do Funcionamento de Usina Waste to Energy ........................................ 25

Figura 4 - Usina Waste to Energy ............................................................................................ 26 Figura 5 - Maquete Eletrônica da Estrutura de Aterros Sanitários ........................................... 27 Figura 6 - Aterro Sanitário Caieras........................................................................................... 28 Figura 7 - Aterro Sanitário Paulínia ......................................................................................... 28 Figura 8 - Evolução da Geração de RSU .................................................................................. 30 Figura 9 - Evolução da Geração e Destinação de RSU ............................................................ 31 Figura 10 - Destinação de RSU no Brasil ................................................................................ 31 Figura 11 - Sistemas de Drenos para Captação de Biogás ....................................................... 36 Figura 12 - Maquete Eletrônica de Aterro Sanitário com queima controlada de biogás.......... 39

Figura 13 - Possibilidades de Aproveitamento do Biogás de Aterro Sanitário ........................ 40

Figura 14 - Geração de eletricidade no mundo a partir de fontes renováveis .......................... 44

Figura 15 - Evolução da Matriz Energética Brasileira ............................................................. 45 Figura 16 - Curva de captura do biogás .................................................................................... 62 Figura 17 - Estimativa da COPASA referente a tarifa média de energia elétrica por tipo de

fonte .................................................................................................................................. 64

Figura 18 - Receita Operacional Bruta (em R$) da Usina de Geração de Energia .................. 65

Figura 19 – EBITDA (em R$) da Usina de Geração de Energia ............................................. 69

Figura 20 - Tarifa Média Mensal Nominal de Energia Elétrica para Consumo Industrial ...... 77

Figura 21 – Volatilidade do Retorno Mensal da tarifa de energia elétrica para consumo industrial ........................................................................................................................... 77

Figura 22- Árvore de Eventos do VP do Módulo Gerador de Energia .................................... 84

Figura 23 - Árvore de decisão e curva de gatilho do Motor 1 .................................................. 86 Figura 24 - Árvore de decisão consolidada com as opções de expansão dos 6 motores .......... 86

Figura 25: Sensibilidade do VPL e do VPL expandido X Preço da Energia Elétrica .............. 89

Figura 26: Sensibilidade do Valor da Opção x Volatilidade .................................................... 90

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Composição Gravimétrica dos RSU........................................................................ 21 Tabela 2 – Geração de RSU por Macroregião do Brasil .......................................................... 30 Tabela 3 - Comparação da eficiência e das emissões entre as tecnologias de conversão de

biogás em energia ............................................................................................................. 42 Tabela 4 - Gate fee Médio de Aterros Sanitários no Brasil ...................................................... 49 Tabela 5 - Margem EBITDA média setor de destinação de RSU ............................................ 54

Tabela 6 - Custo de Capital do Aterro Sanitário ...................................................................... 56 Tabela 7 - Fluxo de Caixa e VPL do Caso Base de Implantação do Aterro Sanitário ............. 58

Tabela 8- Cronograma de entrada em operação dos motores geradores .................................. 63

Tabela 9 - Custo de Capital da Usina de Geração de Energia .................................................. 71 Tabela 10 - Fluxo de Caixa e VPL da Usina de Geração de Energia ....................................... 72

Tabela 11 – Fluxo de Caixa de cada módulo gerador de energia separadamente .................... 82

Tabela 12 - VPL expandido da Usina de Geração de energia .................................................. 87

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LISTA DE ABREVIATURAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais

ACR Ambiente de Contratação Regulada

ACL Ambiente de Contratação Livre

ANPAD Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CER Certificados de Emissão Reduzida

CMPC Custo Médio Ponderado do Capital

EPE Empresa de Pesquisa Energética

EVTE Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica

FCD Fluxo de Caixa Descontado

GEE Gases de Efeito Estufa

GLP Gás Liquefeito de Petróleo

GN Gás Natural

GNV Gás Natural Gás Natural Veicular

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IEA International Energy Agency

MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

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MGB Movimento Geométrico Browniano

MRM Movimento de Reversão à Média

ONU Organização das Nações Unidas

PEAD Polietileno de Alta Densidade

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

PNSB Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

ROL Receita Operacional Líquida

ROB Receita Operacional Bruta

RSU Resíduos Sólidos Urbanos

TIR Taxa Interna de Retorno

VPL Valor Presente Líquido

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1

1.1. CONTEXTO ................................................................................................................................................... 1

1.2. JUSTIFICATIVA ........................................................................................................................................... 2

1.3. OBJETIVO ..................................................................................................................................................... 5

1.4. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ............................................................................................................. 7

2 REVISÃO DE LITERATURA ............................. .................................................. 9

2.1 AVALIAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS COM FLUXO DE CAIXA DE SCONTADO .................. 9

2.2 FLEXIBILIDADE ..................................................................................................................................... 11

2.3 OPÇÃO REAL ........................................................................................................................................... 12

2.4 HISTÓRICO DE UTILIZAÇÃO DE OPÇÕES REAIS ........... ............................................................. 13

2.5 VOLATILIDADE ...................................................................................................................................... 15

2.6 METODOLOGIA PARA CÁLCULO DO VALOR DAS OPÇÕES REAIS ....................................... 16

3 PANORAMA E DIAGNÓSTICO DO SETOR DE RESÍDUOS SÓLIDOS .......... 19

3.1 DEFINIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................................................................ 19

3.2 CADEIA DE SERVIÇOS E PROCESSAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ................................... 22

3.3 AMBIENTE REGULATÓRIO ................................................................................................................ 28

3.4 PANORAMA DO SETOR DE RSU NO BRASIL .................................................................................. 29

3.5 MATRIZ DE DESTINAÇÃO DE RSU NO BRASIL ............................................................................. 30

3.6 MERCADO DE RSU NO BRASIL .......................................................................................................... 32

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4 POSSIBILIDADES DE APROVEITAMENTO DO BIOGÁS DE ATERR O SANITÁRIO ......................................... ...................................................................... 34

4.1 GERAÇÃO DE CRÉDITOS DE CARBONO ......................................................................................... 36

4.2 GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ................................................................................................. 40

5 ESTUDO DE CASO ........................................................................................... 47

5.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 47

5.2 DESCRIÇÃO DO CASO BASE DE IMPLANTAÇÃO DO ATERRO SAN ITÁRIO ......................... 47 5.2.1 PROJEÇÃO DE RESULTADOS ....................................................................................................... 57

5.3 CASO BASE DE IMPLANTAÇÃO DA USINA DE PROCESSAMENTO DE BIOGÁS DE ATERRO PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ........... .................................................................. 59

5.3.1 PROJEÇÃO DE RESULTADOS ....................................................................................................... 71

5.4 MODELAGEM DAS VARIÁVEIS ESTOCÁSTICAS .............. ............................................................ 72 5.4.1 MOVIMENTO GEOMÉTRICO BROWNIANO (MGB) .................................................................. 72 5.4.2 MOVIMENTO DE REVERSÃO À MÉDIA (MRM) ........................................................................ 74 5.4.3 MODELAGEM DA SÉRIE HISTÓRICA DE TARIFA MENSAL MÉDIA DE ENERGIA PARA CONSUMIDOR INDUSTRIAL....................................................................................................................... 76

5.5 ANÁLISE DA USINA DE GERAÇÃO DE ENERGIA ATRAVÉS DA METODOLOGIA DE OPÇÕES REAIS ................................................................................................................................................. 79

5.5.1 MONTAGEM DA ÁRVORE DE EVENTOS E ÁRVORE DE DECISÃO POR MÓDULO GERADOR DE ENERGIA .............................................................................................................................. 81

5.6 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE ............................................................................................................. 88

6 CONCLUSÃO ......................................... ........................................................... 91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................ ................................................. 93

ANEXO A – ÁRVORES DE DECISÃO DOS MOTORES E ÁRVORE CONSOLIDADA DA USINA .............................. ....................................................... 97

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1 INTRODUÇÃO

1.1. CONTEXTO

A correta destinação dos resíduos sólidos urbanos (RSU) é um dos maiores desafios da

humanidade, tendo em vista os graves impactos ambientais oriundos da gestão inadequada

dos resíduos. Além das questões de ordem ambiental, a gestão dos RSU impacta diretamente

na saúde da população, na medida em que os subprodutos decorrentes da manipulação dos

resíduos afetam a qualidade do ar, da água e do ambiente urbano.

Sendo assim, faz-se mister o comprometimento do poder público e da sociedade no

planejamento e execução das atividades relacionadas ao manejo dos resíduos sólidos, de

forma a evitar a formação de passivos ambientais, a deterioração dos ambientes urbanos, os

gastos crescentes com saúde pública e concomitantemente viabilizar a reciclagem e

valorização dos resíduos, possibilitando a transformação destes em insumo para a produção

industrial.

Paralelamente aos benefícios ambientais, os projetos de tratamento e destinação de RSU

podem gerar outras vantagens para a sociedade, tais como a utilização do biogás, que é gerado

pela decomposição de resíduos, para produzir energia ou para ser queimado de maneira

apropriada, a fim de obter os certificados de emissões reduzidas (CER).

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Isto posto, torna-se ainda mais relevante a análise completa das possibilidades de

aproveitamento dos resíduos sólidos e dos seus subprodutos, contemplando principalmente a

possibilidade de geração de energia elétrica a partir do biogás em localidades próximas aos

grandes centros urbanos.

O presente trabalho agrega a avaliação tradicional de projetos, pelo Fluxo de Caixa

Descontado (FCD), à teoria de opções reais, incorporando as flexibilidades gerenciais ao

longo do tempo e as incertezas inerentes ao setor de RSU, ao setor elétrico e ao projeto de

geração de energia a partir do biogás de aterro sanitário.

Além da análise da possibilidade de aproveitamento do biogás para geração de energia, outra

questão inerente a estes tipos de projetos é que o aumento da capacidade de processamento

pode ser efetuado de forma escalonada, criando a flexibilidade de escolha do modo

economicamente mais rentável para utilização do biogás. A combinação dessas flexibilidades

gerenciais e da incerteza, relacionada à tarifa média de energia elétrica, gera um valor

adicional ao determinado pelo método de fluxo de caixa descontado, o qual pode ser estimado

pelo uso da teoria das opções reais.

Neste sentido, o conjunto de soluções a ser adotado na cadeia de serviços relacionada ao

manejo de RSU deve necessariamente contemplar a sustentabilidade em suas três dimensões:

tecnológica, econômica e ambiental.

1.2. JUSTIFICATIVA

O Brasil ainda encontra-se em uma situação desfavorável no que diz respeito à destinação de

RSU, uma vez que aproximadamente 42% dos resíduos gerados são destinados

incorretamente em “lixões” e aterros controlados, de acordo com o Panorama Nacional de

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Resíduos Sólidos de 2011, publicado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza

Pública e Resíduos Especiais - ABRELPE.

As principais técnicas de destinação correta de RSU são: aterros sanitários (principal técnica

utilizada no Brasil), biodigestão, plantas de combustível derivado de resíduos (CDR) e

incineração com aproveitamento energético.

Importa ressaltar que a destinação final não prescinde de técnicas de tratamento e

reaproveitamento, tais como triagem, reciclagem e compostagem que devem ser amplamente

incentivadas com vistas à preservação dos recursos naturais e atendimento à legislação.

Inclusive, o recente marco regulatório nacional instituído através da Lei 12.305/10, que define

a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece a responsabilidade compartilhada,

bem como estabelece diretrizes e metas para cumprimento dos objetivos de reaproveitamento

dos resíduos, que caso não sejam alcançados poderão ensejar no pagamento de multas por

parte dos entes municipais, o que reforça a necessidade de mobilização de todos os atores

envolvidos na gestão de RSU com foco no reaproveitamento.

A utilização dos aterros sanitários para a destinação de RSU é uma técnica popular e

amplamente utilizada em torno do mundo, sendo a solução mais utilizada no Brasil e na

América Latina. Nos países menos desenvolvidos é notória também a presença de formas

inadequadas de destinação final tais como lixões, aterros controlados e vazadores a céu

aberto, que não apresentam práticas de controle e proteção ambientais tais como drenagem de

chorume, captação e queima de biogás e impermeabilização de solo, sendo, portanto,

inadequadas e intoleráveis do ponto de vista ambiental e legal.

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Com respeito à análise de viabilidade de projetos de aterros sanitários pelo metodologia do

Fluxo de Caixa Descontado, as principais variáveis a serem analisadas consistem no valor do

investimento, a taxa paga pelos municípios e clientes privados para destinação de resíduos

(gate fee) e o custo operacional.

No entanto, um estudo de viabilidade técnica e econômica (EVTE) completo de um aterro

sanitário deve considerar necessariamente as possibilidades de aproveitamento do biogás,

decorrente do processo de decomposição do resíduo, que, devido ao alto poder calorífico e

sua composição química, pode ser utilizado para diversos fins, tais como: geração de energia

elétrica, conversão em Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), Gás Natural (GN) e Gás Natural

Veicular (GNV) ou ainda queima em flares para obtenção de certificados de emissão reduzida

(CER), de acordo com o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) preconizados no

Protocolo de Quioto.

Neste sentido, torna-se necessária a utilização da metodologia de avaliação de projetos com

opções reais, a qual agrega o arcabouço de técnicas de avaliação econômica e financeira em

projetos onde existem flexibilidade gerenciais na tomada de decisões ao longo do tempo e

incertezas com respeito às variáveis que influenciam no fluxo de caixa da firma.

A incorporação do ferramental analítico de opções reais permite elucidar as formas de captura

de valor pertinentes ao negócio de destinação de RSU e ao negócio de geração de energia

elétrica bem como auxiliar os gestores na tomada de decisões, uma vez que fornece

informações a respeito do retorno de projetos considerando as incertezas e as probabilidades

associadas à performance futura do empreendimento.

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Considerando que o setor de resíduos sólidos ainda encontra-se em estágio inicial de

crescimento, sendo múltiplas as oportunidades de criação de valor a partir do melhor

aproveitamento dos resíduos e que o Brasil vivencia uma proximidade do esgotamento dos

melhores potenciais de geração de energia a partir de fonte hidráulica próxima aos grandes

centros consumidores, as usinas termelétricas a biogás tornaram-se uma alternativa importante

para a necessária expansão da capacidade de geração de energia elétrica.

Neste sentido, a utilização da metodologia de opções reais torna-se valiosa e imprescindível

para correta avaliação do negócio de destinação de RSU e para o avanço do Brasil no sentido

do desenvolvimento sustentável do país e na diversificação da matriz energética.

1.3. OBJETIVO

São diversas as ferramentas tradicionais para a avaliação de empresas e projetos, cujos

objetivos finais são os de conferir um valor ao negócio e de verificar a sua viabilidade, isto é,

se devem ser aceitos. Existem os métodos tradicionais ou estáticos de avaliação que

consideram projetos onde não há flexibilidade, isto é, projetos onde não há opções futuras

uma vez tomada a decisão. Enquadram-se neste grupo os métodos da Taxa Média de Retorno

Contábil, do Payback Simples, do Payback Descontado, da Taxa Interna de Retorno (TIR), do

Índice de Lucratividade Líquida e do Fluxo de Caixa Descontado (FCD).

O método de Opções Reais faz a avaliação de projetos com flexibilidade, aqueles em que

decisões futuras levam a novos investimentos, aumento ou redução de tamanho, mudança de

tecnologia, troca ou abandono do projeto ao longo do tempo. A firma tem opções reais

embutidas em seus projetos, que serão exercidas dependendo de condições futuras.

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Determinar a viabilidade e a prioridade de investimentos potenciais é um passo crítico para a

tomada de decisões no âmbito empresarial. A análise de opções reais é um significativo passo

à frente para o tratamento da flexibilidade e, principalmente, de sua avaliação.

O empreendimento hipotético avaliado no presente estudo consiste na implantação de um

aterro sanitário padrão com capacidade para recepção de 800 toneladas/dia de RSU,

perfazendo um total de 292.000 toneladas de resíduos ao ano. Neste empreendimento será

avaliado o impacto econômico financeiro das opções reais de expansão do negócio através do

aproveitamento do biogás em projetos de geração de energia, considerando a modularidade de

implantação da usina geradora de energia. São analisadas as opções de postergação da

implantação de cada módulo de geração de energia vis-à-vis a volatilidade e o preço de venda

da energia elétrica.

O presente trabalho descreve as características de projetos de tratamento de RSU, a fim de

identificar as flexibilidades e incertezas existentes e valorizar o seu impacto no VPL do

projeto utilizando a análise de opções reais. As incertezas são modeladas supondo que o valor

do projeto segue o Movimento Geométrico Browniano utilizando o método Binomial

desenvolvido por Cox, Ross & Rubinstein (1979).

A consecução dos objetivos propostos foi possível mediante o levantamento e análise da

bibliografia pertinente à temática em foco, bem como devido às visitas realizadas a diversos

aterros sanitários no Brasil, com destaque para o CTR Caieras, CDR Pedreira, Aterro

Sanitário de Paulínia dentre outros.

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1.4. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

O presente trabalho está estruturado em cinco capítulos, além da presente introdução que

constitui o capítulo 1, conforme descrito a seguir:

No segundo capítulo é apresentada uma revisão bibliográfica das principais ferramentas para

elaboração de uma avaliação econômico-financeira de um empreendimento. Na primeira parte

é feita uma revisão da metodologia do fluxo de caixa descontado e, em seguida, são

apresentados os conceitos de flexibilidade, volatilidade e a Teoria de Opções Reais, bem

como o histórico de desenvolvimento da metodologia de opções reais na avaliação de

projetos.

O terceiro capítulo traça um panorama do setor de resíduos sólidos no Brasil, abordando um

histórico dos serviços de tratamento e destinação final, a situação atual do setor, a nova

Política Nacional de Resíduos Sólidos, que entrou em vigor em 2010, e traça um paralelo com

a situação mundial. Além disso, neste capítulo alguns conceitos que serão utilizados durante o

trabalho serão definidos e elucidados.

O quarto capítulo evidencia as possibilidade de aproveitamento do biogás, decorrente da

decomposição do resíduo sólido, com destaque para aplicação na geração de energia elétrica.

O quinto capítulo traz um estudo de caso, onde são analisados através do FCD dois

empreendimentos, sendo o primeiro a implantação de um aterro sanitário hipotético e o

segundo a implantação de uma usina de processamento de biogás para geração de energia

elétrica. Adicionalmente, neste capítulo também foram identificas as flexibilidades e as

incertezas existentes, sendo aplicada a teoria de opções reais para avaliar qual o valor do

projeto de geração de energia, considerando a opção de expansão sequencial dos módulos de

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geração de energia, considerando que o aumento da capacidade de processamento pode ser

efetuado de forma escalonada.

O sexto e último capítulo foi reservado para as considerações finais e para a identificação de

tendências e desafios que são vislumbradas para os setores de energia elétrica e de

gerenciamento de resíduos sólidos.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 AVALIAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS COM FLUXO DE CAIXA DESCONTADO

A visão tradicional de finanças sobre o investimento corporativo é a de que as empresas

somente devem investir em projetos quando a expectativa de retorno for superior à taxa

mínima de atratividade (custo de oportunidade do capital). Nesta visão a taxa interna de

retorno (TIR) e o valor presente líquido (VPL) constituem-se nas ferramentas mais utilizadas

na análise de oportunidade de investimento. Essas técnicas utilizam fluxos de caixa esperados

dos projetos e taxas ajustadas ao risco. Dentre elas, o VPL é considerado como ferramenta

mais robusta por evidenciar a criação de valor para os investidores, e permitir a priorização de

projetos em decisões que envolvam a escolha entre múltiplas oportunidades de investimentos.

As finanças corporativas sugerem que os investimentos devem ser feitos com o objetivo de

beneficiar os acionistas, selecionando projetos que venham a aumentar o valor da empresa.

Como o foco do gestor deve ser agregar valor à empresa, fica claro que a questão fundamental

é avaliar adequadamente os ativos, os projetos e a própria empresa, incluindo aí sua

capacidade de geração de caixa (Ramos,2003).

O valor de um ativo, projeto ou empresa avaliada pelo método do FCD é definido como o

valor presente das estimativas dos fluxos de caixa futuros, descontados pelo custo de capital,

menos o investimento inicial. Assim, o valor é função das expectativas de crescimento e do

risco associado.

VPL = ( ) 0

1 K 1

FCtI

nt

tt

−+∑

=

=

(1)

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Onde:

FCt é o valor do fluxo de caixa no período t; K é a taxa de desconto ajustada ao risco; I0 é o investimento inicial; N é o período analisado.

Um investimento deve ser aceito quando possuir VPL positivo e rejeitado quando negativo. Caso

o VPL seja nulo, ocorre indiferença entre realizar ou não o projeto.

Tanto credores quanto acionistas esperam ser remunerados pelo custo de oportunidade do

investimento de seus recursos em uma determinada empresa em vez de outra de risco semelhante.

O custo médio ponderado do capital (CMPC) é a taxa de desconto, ou valor do dinheiro no tempo,

usada para converter o fluxo de caixa livre futuro em valor presente para todos os investidores.

A taxa considerada para descontar o fluxo de caixa, com o objetivo de trazer o fluxo de entradas e

saídas a valor presente, será uma combinação do custo de capital próprio e do capital de terceiros,

ambos refletindo a remuneração exigida por cada parte.

x Ke We + T) - (1x x Kd Wd = CMPC (2)

Onde: Wd: proporção de capital de terceiros na estrutura de capital; Kd: custo do capital de terceiros; T: alíquota do imposto de renda; We: proporção de capital próprio na estrutura de capital; e Ke: custo de capital próprio

Para a determinação da estrutura de capital normalmente leva-se em consideração a estrutura

atual da empresa, expectativas da administração em modificar o mix de capital e a estrutura

de capital de empresas comparáveis. O custo da dívida deve refletir o custo de oportunidade

dos credores diversos da empresa, dependendo do tipo de endividamento, e deve refletir a

taxa de juros pela qual a empresa consegue se financiar hoje no mercado financeiro.

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Determinar a viabilidade e a prioridade de investimentos potenciais é um passo crítico para a

tomada de decisões no âmbito empresarial. Em situações, porém, onde são identificadas

incerteza elevada e boa flexibilidade da ação gerencial, é possível perceber que as regras

tradicionais de avaliação não são capazes de fornecer respostas completas para a decisão

sobre investimentos. É justamente nesse contexto que se faz necessária a busca por outro tipo

de ferramental que contemple o processo de otimização das escolhas gerenciais em ambientes

de incerteza. Esse ferramental é o método de avaliação de opções reais.

A análise de opções reais é um significativo passo à frente para o tratamento da flexibilidade

e, principalmente, de sua avaliação. Este método está sendo amplamente utilizado pois sabe-

se que hoje a grande maioria dos projetos não é estático, isto é, apresentam diversas opções ao

longo de sua vida.

2.2 FLEXIBILIDADE

O método do FCD foi originalmente aplicado à avaliação de projetos e depois estendidos a

empresas inteiras. Durante a última década, avanços teóricos e tecnológicos permitiram que

os profissionais da área de finanças adaptassem técnicas de precificação de opções à avaliação

de decisões de investimento, as chamadas opções reais. Os métodos de precificação de opções

são superiores à abordagens do FCD porque captam explicitamente o valor da flexibilidade

(Copeland, Koller e Murrin, 2002). Enquanto o método do FCD preconiza o desconto dos

fluxos de caixa a uma taxa ajustada pelo risco, a abordagem de opções reais incorpora a

flexibilidade de se reduzir ou abandonar projetos com resultados ruins ou se expandir projetos

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com resultados favoráveis. A avaliação por Opções Reais é uma extensão da teoria de opções

financeiras aplicadas para ativos não financeiros ou reais. (Amram e Kulatilaka, 1999).

2.3 OPÇÃO REAL

A avaliação tradicional pelo FCD é melhor aplicada quando não existe opção alguma ou

quando existem opções, mas com muito poucas incertezas. A análise de opções reais é

importante em situações como: quando existe uma decisão de investimento contingente;

quando a incerteza é muito grande e deve-se esperar por maiores informações, evitando

arrependimentos com investimentos irreversíveis; quando o valor parece ser capturado mais

por oportunidades futuras do que por fluxos de caixa atuais; quando a incerteza é grande o

suficiente fazendo com que a flexibilidade seja considerada e quando existem estratégias

corretivas de expansão, aprimoramento e mudanças de rumo do projeto (Amram e Kulatilaka,

1999).

O método de avaliação por opções reais é aquele que considera o valor presente dos fluxos de

caixa futuros gerados por ativos reais (projetos), contingentes ao exercício de otimizações

determinadas por meio do uso de alternativas estratégicas nos mais amplos possíveis estados

da natureza e ao longo do tempo de vida do ativo real. O objetivo dessas otimizações, uso de

opções estratégicas, é a maximização da criação do valor para o acionista contingente ao

estado da natureza que se revele no futuro.

O valor de uma empresa ou projeto, calculado por opções reais, pode ser definido como:

Valor Expandido = Valor Presente Clássico + Valor da Flexibilidade (Valor da Opção).

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2.4 HISTÓRICO DE UTILIZAÇÃO DE OPÇÕES REAIS

No decorrer das últimas décadas, a evolução dos modelos em finanças, concomitantemente ao

avanço das técnicas computacionais, vem aumentando consideravelmente o uso da teoria de

opções reais em uma ampla gama de indústrias com diferentes tipos de abordagens no Brasil e

no Mundo.

Myers (1977) foi o primeiro autor a cunhar a terminologia opção real, baseado na ideia de

que os projetos de investimento poderiam ser avaliados por uma abordagem similar a usada

para avaliar opções financeiras, as quais foram avaliadas nos trabalhos de Black & Scholes

(1973). Tourinho (1979) usou a teoria das opções reais em uma pesquisa aplicada projetos de

exploração de recursos naturais. Outro trabalho pioneiro foi o de Brennan e Schwartz (1985),

onde os autores desenvolvem aplicações em opções de abandono e parada temporária em

projetos de mineração.

As opções de mudanças são importantes para projetos de recursos naturais (mineração),

planejamento de recursos e construção de indústrias cíclicas; vestuário de moda e setor

imobiliário comercial. Brennan e Schwartz (1985) trabalharam com opção de parada e novo

início de operação em recursos naturais.

Kulatilaka e Marks (1988) apresentam um artigo de uma opção de conversão. Nele, explicam

que a flexibilidade da produção é atingida pela habilidade de mudar um processo de um modo

de operação para outro. Por exemplo, uma planta de geração de energia pode ser construída

com a habilidade de intercalar entre o uso do carvão ou óleo.

A opção onde um projeto em estágio inicial é um pré-requisito para uma cadeia de projetos

futuros relacionados, abrindo oportunidades de crescimento futuro é chamada de opção de

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crescimento. As aplicações usuais de opções de crescimento são no setor de infraestrutura,

pesquisa e desenvolvimento, operações multinacionais com interesse em novos mercados e

aquisições estratégicas. São como opções compostas de projetos correlacionados (Trigeorgis,

1996). Kulatilaka e Perotti (1998) abordaram as opções estratégicas de crescimento e

reforçaram que em um mercado com competição estratégica, o investimento pode propiciar

vantagem de oportunidades de crescimento futuro. Os resultados contradizem a visão de que a

volatilidade é um grande desincentivo ao investimento.

No decorrer das ultimas décadas diversos segmentos vêm sendo contemplados em trabalhos

de opções reais, como por exemplo: o petrolífero (Bjerksund e Ekern, 1990), o mercado

imobiliário (Titman, 1985), a indústria de telefonia (Choi, Kim, e Kim, 2002), o segmento de

produção de etanol (Bastian-Pinto, Brandão e Hahn, 2009), a indústria de aço (Ozorio,

Bastian-Pinto, Baidya, Brandão, 2013), entre outros. Outro segmento onde a teoria de opções

também tem sido amplamente aplicada e o setor elétrico. Herbelot (1992) pesquisou as opções

estratégicas em projetos de energia termoelétrica em os EUA. Gomes (2002) criou um modelo

de opções reais para o momento ótimo de investimento em termoeletricidade no Brasil.

Gollier et all (2004) avaliou a modularidade em um projeto de energia nuclear, considerando

uma planta composta de quatro unidades cada uma com 300 MW.

Um segmento em que a teoria de opções reais não tem sido aplicada ainda de forma

significativa é o de tratamento de resíduos sólidos urbanos (RSU). Além da possibilidade de

utilizar os resíduos para produzir gás ou mesmo energia, os projetos de resíduos sólidos

urbanos são cercados por diferentes tipos de incertezas e flexibilidades gerenciais, criando um

campo propício para aplicações de opções reais. Um trabalho pioneiro que pode ser

mencionado em relação a projetos de tratamento de resíduos sólidos urbanos é Felipetto

(2005), que analisa a opção de expandir o negócio de destinação de resíduos sólidos para

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outro segmento de negócios, qual seja, a geração de energia. No entanto, o trabalho não utiliza

a metodologia de opções de expansões sequenciais e não dependentes para geração de energia

(incluindo a possibilidade de diferimento), a partir de implantação progressiva de motores

geradores. Tal metodologia, estudada no presente trabalho, pode ter um impacto relevante no

valor do projeto.

2.5 VOLATILIDADE

Uma das maiores dificuldades das opções reais é o cálculo da volatilidade do fluxo de caixa

gerado pelo ativo. A qualidade da avaliação por opções depende fundamentalmente da

quantificação do risco (Amram e Kulatilaka, 1999). Damodaran (2003) indica três caminhos

para a volatilidade:

• A volatilidade do valor de mercado de empresas ou commodities do mesmo

segmento de atuação do projeto ou empresa avaliada;

• Usar a variação do fluxo de caixa de um projeto anterior, de natureza semelhante ao

ativo estudado;

• Podem ser especificados cenários e probabilidades para cada um, determinando seu

respectivo fluxo de caixa, e então estimar a variabilidade do valor presente. Como

alternativa, a distribuição de probabilidade pode ser estimada para cada incerteza do

projeto, e determinar a volatilidade do valor presente por meio de simulação dessas

incertezas.

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2.6 METODOLOGIA PARA CÁLCULO DO VALOR DAS OPÇÕES REAIS

A metodologia utilizada no presente trabalho, desenvolvida por Cox, Ross & Rubinstein

(1979), é composta por quatro passos estruturados a seguir descritos:

Primeiro Passo: Avaliação tradicional do projeto sem flexibilidade, que consiste no cálculo

do valor presente do projeto de forma tradicional;

Segundo passo: Avaliação da volatilidade e montagem da árvore de eventos. Este passo

consiste em verificar a(s) variável(eis) que possuem incertezas e afetam o valor do projeto.

Caso exista mais de uma incerteza, elas podem ser combinadas para obter a volatilidade do

projeto. A volatilidade das variáveis pode ser obtida através de dados históricos.

No presente trabalho será utilizada a abordagem consolidada que combina as incertezas das

diversas variáveis do projeto em uma, a volatilidade da taxa de retorno do projeto. Através da

prova de Samuelson, fontes de incerteza múltiplas podem ser combinadas em um único

processo binomial multiplicativo.

A seguinte relação converte valores presentes em taxas de retorno:

VP = VP0 ert => ln (VPt /VP0 ) = rt (3)

A variável de previsão que interessa é Z, cuja distribuição será simulada através do método de

Monte Carlo, através de sucessivas extrações aleatórias de estimativas de VP em t=1, fixando-

se VPo (constante).

Z = ln (VP1/VP0) (4)

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Isto posto, de posso de uma estimativa de volatilidade dos retornos do projeto σz, é possível

construir a árvore binomial de eventos do valor presente do projeto cujos fatores

multiplicativos de movimentos ascendentes e descendentes e as probabilidades da árvore são

dados pelas fórmulas a seguir:

teu ∆= σ ted ∆−= σ )(

)1(

du

dRfp

−−+= (5)

Terceiro passo: Identificar as flexibilidades gerenciais e montagem da árvore de decisão.

Nesta etapa será modelada a opção real do projeto, o valor de exercício e o momento de

exercício.

Inicia-se o cálculo dos Payoffs dos nós terminais e o processo continua sempre da direita para

a esquerda. São utilizadas as probabilidades neutras ao risco p, 1- p, e a taxa livre de risco

(Rf) para calcular o valor presente do projeto em cada nó da árvore, criando uma árvore de

decisões;

Figura 1: Metodologia de Montagem da Árvore de Eventos

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Quarto passo: O valor da flexibilidade obtido utilizando-se a Teoria de Opções Reais é

somado ao VPL calculado através do método tradicional para obter o VPL expandido.

VPL expandido = VPL tradicional + VP Opção real

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3 PANORAMA E DIAGNÓSTICO DO SETOR DE RESÍDUOS SÓLIDOS

3.1 DEFINIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelecida pela lei

12.305/2010 são definidos como resíduos sólidos:

“material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em

sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado

a proceder, nos estados sólido ou semi-sólido, bem como gases contidos em

recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na

rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou

economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.”

São várias as formas possíveis de se classificar os resíduos, por exemplo, por sua natureza

física (seco/molhado); por sua composição química (matéria orgânica/ inorgânica); pelos

riscos potenciais ao meio ambiente e por sua origem (IPT / CEMPRE, 2000).

Com respeito aos riscos potenciais, os resíduos podem ser classes I ou II de acordo com a

NBR-10.004 (rev.1) da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2004).

• Classe I – “perigosos”: por apresentarem alguma(s) característica(s), como toxicidade,

radioatividade, corrosividade, inflamabilidade, infecciosidade ou patogenicidade, apresentam

riscos à saúde pública e efeitos adversos ao meio ambiente quando manuseados ou dispostos

de forma inadequada. .

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• Classe II (A) – “não-perigosos e não-inertes”: também podem apresentar riscos ao meio

ambiente e à saúde pública e apresentam características de combustibilidade,

biodegradabilidade e solubilidade, e não estão enquadrados nas classificações dos resíduos de

classe I ou classe II (B). Esta categoria de resíduos altera a qualidade da água quando em

contato com ela. Exemplos típicos de resíduos classe II (A) são os restos de alimento que geramos

em nossas casas e lodos de estações de tratamento de esgotos domésticos.

• Classe II (B) – “não-perigosos e inertes”: não oferecem riscos à saúde pública ou meio

ambiente e não alteram a qualidade da água quando em contato, exceto pela cor e turbidez.

A classificação dos resíduos de acordo com a origem engloba:

• Doméstico ou residencial: resíduos gerados nas atividades diárias das diversas edificações

residenciais, como casas, apartamentos e condomínios.

• Comercial: resíduos gerados em estabelecimentos comerciais, com características próprias à

atividade ali desenvolvida, subdivididos entre pequenos geradores e grandes geradores.

• Público: resíduos presentes nos logradouros públicos, resultantes da natureza ou do descarte

indevido da população.

• Domiciliar Especial: grupo que compreende os entulhos de obras, pilhas e baterias,

lâmpadas fluorescentes e pneus.

• Fontes Especiais: resíduos que, em função de suas características peculiares, merecem

cuidados especiais quanto ao manuseio, estocagem, transporte e disposição final. Podem ser

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subdivididos como industrial, radioativo, provenientes de portos, aeroportos e terminais

rodoferroviários, agrícola e de serviços de saúde.

Por sua vez, os resíduos sólidos urbanos (RSU) são formados por resíduos domiciliares,

públicos, entulhos e os resíduos de serviços de saúde, excetuados os resíduos industriais

provenientes de processos e tratamento, os hospitalares sépticos e aqueles advindos de portos

e aeroportos. O município é o responsável pela gestão dos resíduos sólidos públicos e

domiciliares. As demais fontes produtoras de resíduos, como a indústria, os serviços de saúde,

a construção civil e os grandes geradores de resíduos comerciais, têm a obrigação de

providenciar coleta e destinação adequada para seu resíduo.

Os RSU são um tipo de resíduo particularmente complicado de se gerenciar por se tratar de

um resíduo muito heterogêneo na sua composição, variando muito de acordo com o local de

produção, os hábitos e a cultura da população urbana geradora. A variação na quantidade de

matéria orgânica, na quantidade de umidade presente, na quantidade de materiais como o

plástico, com alto poder calorífico, entre outras variações, são os maiores desafios no

momento de destinar/tratar este tipo de resíduo. A tabela a seguir demonstra a composição

gravimétrica do RSU brasileiro.

Tabela 1 - Composição Gravimétrica dos RSU

Fontes: Pesquisa ABRELPE 2010 e 2011, PNAD (2001 a 2011) e IBGE 2011

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Os RSU são classificados como um resíduo não-perigoso e não inerte, ou seja, um resíduo

Classe II-A conforme a NBR 10.004, sobre a classificação dos resíduos sólidos.

O envio de resíduos para aterros sanitários, para a incineração, ou para a reciclagem são,

juntas, as práticas mais comuns no mundo para a destinação final dos RSUs. Mesmo

considerando os possíveis pré-tratamentos deste resíduo, seja da parte orgânica, como da

porção reciclável, sempre haverá uma porção remanescente desses pré-tratamentos que

precisará ser destinada a um aterro sanitário, ou que poderá ser aproveitada como matéria-

prima em algum processo.

3.2 CADEIA DE SERVIÇOS E PROCESSAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

O mercado de manejo de resíduos sólidos é composto historicamente por três segmentos de

negócios bem definidos, a saber: (i) limpeza urbana (incluindo varrição e poda), (ii) coleta e

transporte e (iii) destinação final.

Figura 2 - Cadeia Valor da Gestão de Resíduos Sólidos

Fonte: Estre Ambiental

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Com a introdução do novo marco regulatório no ano de 2010 (PNRS) outros segmentos de

negócios como tratamento de resíduos e logística reversa foram alavancados de forma a

cumprir as exigências legais de reaproveitamento. A seguir são brevemente explicadas as

principais alternativas para processamento, tratamento e destinação final de resíduos sólidos:

• Segregação de Materiais, Coleta Seletiva, Usinas de Triagem e Reciclagem:

A segregação de materiais do lixo é a primeira etapa do processamento e uma das mais

relevantes, uma vez que os resíduos devidamente separados podem ser reaproveitados para

reciclagem. Posteriormente a segregação, ocorre a coleta seletiva, através de um sistema de

recolhimento de materiais recicláveis previamente separados na fonte geradora, a qual recolhe

os resíduos e encaminha para reciclagem.

A reciclagem pode ser definida como o resultado de uma série de atividades pela qual

materiais que se tornariam lixo, ou estão no lixo, são desviados, coletados, separados e

processados para serem usados como matéria-prima na produção de novos produtos.

Caso não ocorra a separação na origem e a coleta seletiva, o resíduo também pode ser

encaminhado para as usinas de triagem, que são usadas para a separação dos materiais

recicláveis provenientes da coleta e transporte indiferenciados. Neste caso, a taxa de

recuperação de materiais recicláveis é bastante inferior ao sistema composto por separação na

origem e coleta seletiva.

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• Compostagem

A compostagem é o processo biológico de decomposição da matéria orgânica contida em

restos de origem animal ou vegetal. Esse processo tem como resultado final um produto – o

composto orgânico – que pode ser utilizado ao solo na agricultura para melhorar suas

características. Atualmente no Brasil, ainda há grande desconfiança por parte de agricultores a

respeito da qualidade dos compostos produzidos a partir de resíduos sólidos, o que dificulta

sobremaneira o desenvolvimento de mercado comprador de compostos.

• Tratamento Térmico e reaproveitamento energético de resíduos – Incineração com

aproveitamento energético e Co-processamento em fornos de cimento

A queima com valorização energética de resíduos sólidos é um processo para o tratamento

térmico dos resíduos que envolve a combustão das substâncias orgânicas presentes na matéria

que compõe os resíduos. Durante o processo de incineração, o resíduo apresenta uma redução

do seu volume, do seu peso e das suas características de periculosidade iniciais, através de

uma combustão controlada. Os principais outputs do processo são cinzas, gases da combustão

e calor.

A tecnologia de incineração mais utilizada no mundo é a de fornos de grelha. Este tipo de

forno realiza a queima da biomassa com poucos requisitos de pré-processamento, tal como

dimensionamento, retalhamento etc. Além disso, é uma tecnologia que possibilita a instalação

de plantas em tamanhos variados, desde 50 toneladas/dia até plantas que processam 2.000

toneladas/dia. Trata-se de tecnologia comprovada e dominada e com plantas operando em

diversos países do mundo.

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Os incineradores de resíduos necessariamente devem adotar sistemas eficientes de limpeza de

gases de combustão (principalmente remoção de NOx, dioxinas e furanos), de forma a atender

aos padrões de emissão de poluentes definidos pelos marcos regulatórios de cada país.

Dentre as vantagens do uso de incinerados destacam-se: a redução drástica de massa e volume

a ser descartado, recuperação de energia, esterilização dos resíduos (no caso de resíduos de

serviços de saúde), destoxicação – empregando boas técnicas de combustão, produtos

orgânicos tóxicos industriais podem ser destruídos (IPT/CEMPRE, 2000). A Figura a seguir

detalha o fluxo de resíduos sólidos em um incinerador.

Figura 3 - Descrição do Funcionamento de Usina Waste to Energy

Fonte: Keppel Seghers

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Figura 4 - Usina Waste to Energy

Fonte: WTERT

Por sua vez, o co-processamento em fornos de cimento consiste na utilização de resíduos

industriais com alto poder calorífico como insumo energético para fornos de cimenteiras.

Outros resíduos com menor poder calorífico podem ser agregados ao clínquer na produção do

cimento. Existem restrições dos resíduos que podem ser co-processados para que não sejam

emitidos gases tóxicos para a atmosfera.

• Destinação Final de Resíduos: Lixão, Aterro Controlado e Aterro Sanitário

O lixão é uma forma inadequada de disposição final de resíduos sólidos, que se caracteriza

pela simples descarga sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde

pública. Nos lixões não há controle na entrada dos resíduos, podendo ser lançado qualquer

tipo de resíduo, de qualquer classe, inclusive químicos e infectantes.

O Aterro Controlado também é uma forma de disposição inadequada de destinação, porém

com algumas técnicas de operação que suavizam alguns impactos ambientais. Em geral são

utilizando alguns princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos, cobrindo-os com

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uma camada de material inerte na conclusão de cada jornada de trabalho. Esta solução

continua produzindo poluição porém em menor grau que o lixão a céu aberto. Geralmente,

não dispõe de impermeabilização de base (comprometendo a qualidade das águas

subterrâneas), nem de sistemas de tratamento de percolado ou sistemas de captação, drenagem

e canalização do gás gerado.

O aterro sanitário é uma técnica ambientalmente adequada para destinação final de resíduos

sólidos e pode ser conceituado como fundamentado em critérios de engenharia e normas

operacionais específicas, permite um confinamento seguro em termos de controle da poluição

ambiental e proteção da saúde pública – não produz poluição (IPT/CEMPRE, 2000). Sempre

dispõe de camadas de impermeabilização de base (para impedir a contaminação da água

subterrânea), havendo em grande parte dos casos uma camada de geomembrana de PEAD

(polietileno de alta densidade). Sempre dispõe de sistema de drenagem e tratamento de

chorume (percolado) e de biogás.

Figura 5 - Maquete Eletrônica da Estrutura de Aterros Sanitários

Fonte: CONDER

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Fonte: Elaboração Própria

Fonte: Elaboração Própria

3.3 AMBIENTE REGULATÓRIO

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) proporcionou segurança jurídica aos

contratos de prestação de serviços, concessões e PPP´s estruturados para o setor ao mesmo

tempo que definiu responsabilidades e hierarquia nas técnicas de tratamento e processamento

de resíduos, estabeleceu prazos e facultou a criação de instrumentos de incentivos creditícios

e fiscais para alavancar os investimentos no setor.

Segundo o artigo 9 da PNRS, na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser

observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem,

tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

Figura 6 - Aterro Sanitário Caieras

Figura 7 - Aterro Sanitário Paulínia

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A hierarquia no gerenciamento foi criada de forma a assegurar a reintegração dos resíduos ao

sistema produtivo, sempre levando em consideração a viabilidade técnica e econômica de tal

reintegração.

Além disso, a Lei proíbe a simples destinação final do resíduo até que todas as possibilidades

de tratamento citadas acima tenham sido esgotadas.

Com respeito aos prazos ficou definido nos Artigos 54 e 55 que os Municípios tem até agosto

de 2012 para elaboração do Plano Estadual de Resíduos Sólidos e Plano Municipal de Gestão

Integrada de Resíduos Sólidos e até agosto de 2014 para disposição final ambientalmente

adequada dos rejeitos (erradicação dos lixões).

3.4 PANORAMA DO SETOR DE RSU NO BRASIL

Os principais dados referentes ao setor de resíduos sólidos no Brasil são produzidos pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no âmbito da Pesquisa Nacional de

Saneamento Básico PNSB (a última pesquisa realizada ocorreu no ano de 2008) e pela

ABRELPE através da publicação anual do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. Convém

ressaltar que por vezes as duas referidas publicações apresentam dados divergentes ou até

mesmo conflitantes entre si a respeito do cenário nacional do setor de resíduos sólidos.

De acordo com a ABRELPE (2011), foram geradas aproximadamente 62 milhões de

toneladas de RSU no ano de 2011, equivalendo a um crescimento de 1,8% em relação ao ano

anterior, que teve uma produção anual próxima dos 61 milhões de toneladas. O crescimento

populacional (0,9% no período) explica uma parte deste crescimento na produção dos RSU no

ano de 2011, enquanto a outra parte pode ser atribuída ao aumento da geração per capta de

resíduos, que foi da ordem de 0,8% no período.

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Em 2011 o brasileiro gerou em média passando de 1,04 kg/habitante/dia, sendo que a região

nordeste apresenta o maior índice de geração de 1,302 kg/habitante/dia. O aumento na

produção de resíduo per capita é reflexo do aumento do consumo individual motivado pelo

aumento da renda e do poder aquisitivo.

Figura 8 - Evolução da Geração de RSU

Fonte: Pesquisa ABRELPE 2010 e 2011, PNAD (2001 a 2011) e IBGE 2011

Tabela 2 – Geração de RSU por Macroregião do Brasil

Fontes: Pesquisa ABRELPE 2010 e 2011, PNAD (2001 a 2011) e IBGE 2011

3.5 MATRIZ DE DESTINAÇÃO DE RSU NO BRASIL

A matriz de destinação final de resíduos sólidos ainda é um grande desafio a ser superado

uma vez que aproximadamente 42% dos resíduos sólidos gerados no país são destinados

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incorretamente em aterros controlados, lixões e vazadouros a céu aberto (ABRELPE 2011),

conforme gráfico a seguir:

Fonte: Pesquisa ABRELPE 2010 e 2011

Regionalmente o panorama de destinação de resíduos é ainda mais desafiador nas regiões

Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde a maioria dos municípios descarta os RSU em lixões.

Nestas regiões existe um grande número de Municípios de pequeno porte, que isoladamente

não tem escala suficiente para implantação de um aterro sanitário economicamente viável.

Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008 - IBGE

Figura 9 - Evolução da Geração e Destinação de RSU

Figura 10 - Destinação de RSU no Brasil

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Portanto, as soluções para correta destinação dos resíduos deve considerar as diferenças

regionais, de tal sorte que, nos municípios onde a realidade ainda é a utilização de vazadouros

a céu aberto e lixões, o desafio é a implantação de aterros sanitários.

Por sua vez, em municípios onde já existem os aterros sanitários, o foco dos investimentos

deve ser na implantação de soluções de destinação que contemplem melhor aproveitamento

dos resíduos e que somente sejam depositados no aterro somente os rejeitos, que são os

resíduos não passíveis de reaproveitamento face as melhores técnicas disponíveis.

3.6 MERCADO DE RSU NO BRASIL

Com um rápido ritmo de crescimento populacional e urbano, aliado à industrialização e a

popularização do consumo, a quantidade de lixo gerado nas cidades brasileiras aumentou

vertiginosamente, criando a necessidade de soluções governamentais para gerenciar a correta

disposição desses resíduos.

Apesar do crescimento nas taxas de geração de resíduos recentemente observado no Brasil, é

possível observar que as grandes cidades brasileiras ainda apresentam uma taxa per capta de

geração de RSU bastante inferior as metrópoles de países desenvolvidos, o que evidencia que

ainda há grande espaço para crescimento nesta taxa face à expansão de renda, crédito e a

mudança de padrão de consumo que o país vivencia.

Em países desenvolvidos, Estados Unidos, Japão e na maioria dos países da União Européia,

os sistemas de tratamento contemplam diversas etapas, resultado de um longo período de

investimentos públicos destinados a gestão ambientalmente adequada dos resíduos

juntamente com políticas de redução da geração de lixo, reciclagem e geração de energia.

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A utilização combinada de mais de uma solução para disposição final de resíduos, em geral,

proporciona melhores resultados econômicos e com respeito ao reaproveitamento.

Sendo assim, o mercado brasileiro de gestão de RSU ainda tem muito espaço para

crescimento seja através do aumento da taxa de geração per capta de resíduos, seja pelo

crescimento vegetativo da população e ainda pela utilização de novas técnicas de tratamento

que proporcionem maiores taxas de reaproveitamento e reciclagem.

Para que esta janela de oportunidade de mercado possa ser devidamente aproveitada tanto

pelo setor público quanto pelo setor privado é necessário que o marco regulatório seja

cumprido, os Municípios, na qualidade de responsáveis pela prestação dos serviços de gestão

de RSU, saiam da inércia e os órgãos de controle (Ministério Público e Agências Ambientais)

sejam atuantes na fiscalização e fortalecidos institucionalmente.

Concluindo, para que seja alcançada a universalização dos serviços de destinação final de

RSU no Brasil ainda é necessário um grande salto de investimentos, o que demanda a

exploração de técnicas de avaliação de investimentos como as opções reais para precificação

de empresas e decisão de investimentos em projetos de aterros sanitários.

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4 POSSIBILIDADES DE APROVEITAMENTO DO BIOGÁS DE ATERR O SANITÁRIO

De acordo com o manual sobre o aproveitamento energético de aterros produzido pelo Centro

de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (CEPEA, 2004), o aterro sanitário é

uma prática de disposição que está de acordo com as boas técnicas de construção, de operação

e de monitoramento. Segundo este manual, um aterro sanitário deve atender no mínimo às

seguintes condições de operação:

• Impermeabilização da área com manta plástica e/ou argila compactada de baixa taxa de permeabilidade;

• Drenagem inferior de chorume;

• Drenagem vertical e horizontal para o biogás e chorume;

• Drenagem de pé de talude;

• Drenos de monitoramento;

• Drenagem pluvial superficial;

O resíduo, uma vez depositado em um aterro sanitário, passará por transformações físico-

químicas que comumente são chamadas de “processo de decomposição”. Durante o processo

de decomposição o resíduo irá reduzir sua massa inicial devido basicamente a duas

transformações na sua composição, primeiro a matéria orgânica presente irá produzir um gás,

o biogás, composto basicamente de metano e gás carbônico. Em seguida, a segunda

transformação será a combinação da umidade (H2O) presente nestes resíduos com a matéria

orgânica restante, gerando o chorume, um percolado com altas concentrações de matéria

orgânica e de outros compostos com alto potencial poluente.

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O biogás ou gás de aterro apresenta composição típica de 55% de metano, 40% de gás

carbônico, 5% de nitrogênio e outros gases. Por possuir alto poder calorífico, o biogás é uma

fonte energética renovável.

Sistema de Captação de Gases do Aterro Sanitário

O principal objetivo para a instalação de um sistema de captação dos gases do aterro,

formados no processo de decomposição, é o de evitar a formação de bolsões de gases dentro

do maciço do aterro, que comprometem a sua estabilidade geológica. A captação desses gases

permitirá também que eles sejam tratados adequadamente, ao invés de serem lançados

diretamente na atmosfera.

Sabendo-se que o gás de aterro, ou biogás, é composto basicamente por gás metano (CH4) e

dióxido de carbono (CO2), com traços de alguns outros gases, a sua captação visa a queima

em flares de todo o metano captado, já que este é um gás de efeito estufa com um grande

potencial de aquecimento global, cerca de 21 vezes mais potente do que o dióxido de carbono

para o período de 100 anos (IPCC, 2007). A reação de combustão do metano captado converte

o gás em dióxido de carbono, reduzindo a emissão de CO2 equivalente para a atmosfera

quando este seria emitido diretamente na forma de metano, possibilitando assim a produção

de créditos de carbono. Além disto, esta queima também contribui para a segurança das

operações no aterro, pois o metano pode explodir quando misturado ao ar em concentrações

acima de 5% (WINCONSIN, 2000).

À medida que as camadas de resíduos forem formando as células, é feita a construção de

drenos internos horizontais e verticais, os quais são interligados entre si para a drenagem dos

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gases gerados na decomposição da matéria. A figura a seguir mostra um perfil do solo com os

drenos internos para captação dos gases da decomposição.

Figura 11 - Sistemas de Drenos para Captação de Biogás

Fonte: CONDER (2009)

4.1 GERAÇÃO DE CRÉDITOS DE CARBONO

O “efeito estufa” é um fenômeno natural, decorrente do tipo de atmosfera do planeta terra, e

que tem um efeito parecido a uma estufa de plantas, que retém o calor que tem origem no sol.

A presença de alguns gases na atmosfera, principalmente o vapor de água, o gás carbônico e o

metano, impedem que o calor gerado pela incidência dos raios de sol na superfície da terra e

que é refletido, seja liberado de volta ao espaço. Nos últimos anos a concentração desses

gases na atmosfera vem aumentando, em virtude principalmente do maior uso de

combustíveis fósseis, como carvão e petróleo em atividades domésticas, industriais e de

transporte.

A ONU (Organização das Nações Unidas) convocou uma reunião durante a Rio 92, que

estabeleceu a “Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança de Clima” (UNPCCC -

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United Nations Framework Convention On Climate Change) , com o objetivo de

estabelecimento de metas para a redução de emissões de gases de efeito estufa.

Em 1997, os governos responderam à crescente pressão pública adotando o Protocolo de

Kioto. Como o Protocolo afeta praticamente todos os principais setores da economia, é

considerado o acordo sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável de maior projeção

já adotado.

O Protocolo estabelece metas e prazos vinculantes para cortar um mínimo de 5% das

emissões dos países desenvolvidos. Somente se tornou legalmente vinculante em 16 de

fevereiro de 2005, após a ratificação da Rússia em novembro de 2004, O protocolo incluiu os

países desenvolvidos que contabilizaram um mínimo de 55% das emissões de CO2 do total de

emissões dos países desenvolvidos em 1990. Reconhece ainda que os cortes nas emissões

devem ser acreditáveis e verificáveis.

O Protocolo inova ao dar às partes crédito por reduzir emissões em outros países. A idéia é

que os países que acharem o custo de reduzir emissões no próprio país particularmente alto

possam pagar por cortes nas emissões em outros lugares, com custos menores.

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) foi estabelecido concedendo créditos para

projetos que reduzam ou evitem emissões nos países em desenvolvimento. Esse mecanismo é

um novo canal importante através do qual os governos e corporações privadas transferem

tecnologias limpas e promoverão o desenvolvimento sustentável. Créditos são obtidos na

forma de "certificados de emissões reduzidas" (CER).

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O MDL envolve a compra, pelos países desenvolvidos, de certificados de redução de

emissões de carbono (créditos de carbono) dos países em desenvolvimento (que não têm

metas de redução de emissões). Assim, por exemplo, um país desenvolvido como o Japão

pode, ao invés de reduzir emissões no seu país para atingir a sua meta, comprar e pagar por

créditos de carbono de projetos no Brasil.

Mesmo antes da entrada em vigor do Protocolo de Kioto, em vários países foram criados

mercados para a comercialização de créditos de carbono, até mesmo nos Estados Unidos que,

embora fora do tratado, são os maiores compradores. Negociações de CER estão sendo

efetuadas em bolsas de valores, como é o caso da Bolsa de Chicago.

Dentre os projetos passíveis de serem certificados no âmbito dos mecanismos de MDL

encontram-se os projetos que promovam mudanças para fontes de energia renováveis, como a

energia eólica, solar e biomassa (lixo, cana, etc). Por exemplo, numa região onde a matriz

energética tenha contribuição de termoelétricas movidas a combustível fóssil, a implantação

de unidades de geração de energia eólica, solar ou de lixo, faz com que haja uma modificação

na matriz e uma menor participação de termoelétricas a diesel. Esta diferença pode gerar

CER´s.

São caracterizados como possíveis projetos geradores de CER a utilização de tecnologias e

métodos que reduzam o metano emitido pelo lixo, gado e por plantações de arroz. Neste

sentido, projetos de queima controlada em flares de biogás de aterro sanitário promovem a

transformação do metano em gás carbônico (21 vezes menos potente na geração de efeito

estufa) e portanto fazem jus aos CER, os quais poderão ser comercializados. A figura abaixo

demonstra um aterro sanitário com uma central integrada para queima controlada do biogás

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em flares, em que é possível monitorar quantidade de emissões evitadas e possui sistema

online de certificação dos CER gerados.

Figura 12 - Maquete Eletrônica de Aterro Sanitário com queima controlada de biogás

Fonte: Estre Ambiental

Apesar da geração de créditos de carbono, através da queima controlada do biogás de aterro

em flares, ser uma das possibilidades de agregação de valor para o biogás, o presente trabalho

não tem por objetivo estudar a viabilidade econômica deste tipo de projeto. A precificação da

opção relacionada à possibilidade de comercialização de CER decorrentes de projetos de

destinação adequada de RSU é uma sugestão para estudos posteriores.

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4.2 GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

O biogás de aterro, como dito anteriormente, possui alto teor de metano (CH4) em sua

composição. Em alguns aterros, dependendo da composição dos resíduos, essa quantidade de

metano ultrapassa os 50% (EIA, 1996). O metano, por ser um gás de amplo uso energético,

pode ser utilizado tanto em um motor comum de combustão interna, que irá ativar um gerador

de energia elétrica, como pode ser utilizado para outros fins de caráter energético.

Suas aplicações são amplas, destacando-se a produção de vapor para processos industriais, a

secagem de grãos em propriedades rurais, a secagem de lodo em estações de tratamento de

esgoto, a queima em caldeiras, o aquecimento de granjas, a iluminação a gás, o tratamento de

chorume, entre outros.

Há diferentes alternativas para viabilizar a utilização dos gases produzidos em um aterro

sanitário. A figura a seguir apresenta uma síntese dessas soluções.

Figura 13 - Possibilidades de Aproveitamento do Biogás de Aterro Sanitário

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O biogás poderá ser utilizado para diversos propósitos diferentes incluindo a geração de

energia elétrica, a geração de energia térmica, o uso em veículos, ou até mesmo para

iluminação. Em alguns casos este gás não é aproveitado energeticamente e é apenas queimado

em um flare com possibilidade de geração de receita através da comercialização de CER

(créditos de carbono).

Qualquer que venha a ser o uso energético dado ao biogás, o mais importante para o sucesso

de qualquer projeto de aproveitamento é um bom sistema de extração e de tratamento do

biogás. Este sistema irá determinará a quantidade e a qualidade do combustível que será

recuperado destes gases.

Para a geração de energia elétrica a partir do biogás são utilizados dispositivos que em uma

primeira etapa convertem a energia química presente no combustível, o metano, em energia

cinética de rotação, através dos motores. O motor se conecta a um gerador, que transforma

esta energia cinética de rotação em energia elétrica.

A tecnologia de produção e queima do biogás em conjuntos de motores-geradores apresenta

diversos aspectos favoráveis: eficiência, modularidade (são motores de aproximadamente 1

MW de potência que podem ser adicionados a medida em que aumenta o volume de gás no

aterro) e baixa emissão atmosférica após a combustão. A seguir serão descritos alguns destes

dispositivos de conversão:

- Motores de Ciclo Otto: é o equipamento mais utilizado na queima do biogás devido ao

maior rendimento elétrico e o menor custo de operação quando comparado com outras

tecnologias, inclusive por se tratar do motor de combustão interna mais comum. Uma grande

vantagem deste tipo de dispositivo é o baixo custo de instalação e manutenção, pois se trata de

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uma tecnologia muito difundida e utilizada em todo o mundo, e que possui uma cadeia

produtiva completa no Brasil, favorecendo o acesso a linhas de financiamento do Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES e a alavancagem financeira do

projeto.

- Microturbina a gás: as microturbinas evoluíram das turbinas utilizadas na indústria

aeroespacial e automotiva para serem utilizadas em sistemas elétricos de potência. Suas

principais vantagens são: baixo nível de ruído e vibração, flexibilidade de utilização de

combustível (incluindo o biogás), dimensões reduzidas e instalação simplificada, podendo ser

instalado inclusive ao ar livre, baixa emissão de NOx, e alta eficiência energética quando

utilizada para em plantas de cogeração, podendo chegar em patamares de até 80% de

eficiência (HAMILTON, 2003 apud ICLEI, 2009). Dentre as desvantagens das microturbinas

cabe citar: alto investimento inicial, tecnologia integralmente importada (o que dificulta o

acesso à linhas de financiamento subsidiadas), alto custo de operação e manutenção do

equipamento; maior demanda tecnológica para a limpeza do biogás a ser queimado e

necessidade de ajustes na turbina para queimar um gás com baixo poder calorífico.

Tecnologia de Conversão

Potência Instalada

Rendimento Elétrico

Emissões de Nox

Motores a gás (ciclo Otto) 30 kw - 20 Mw 30% - 40% 250 - 3000

Turbinas a gás (Médio porte) 500 kw - 150 Mw 20% - 30% 35 - 50

Microturbinas (pequeno

porte) 30 kw - 100 Kw 24% - 28% < 9

Tabela 3 - Comparação da eficiência e das emissões entre as tecnologias de conversão de biogás em energia

Fonte: CENBIO, 2005

Para a produção de eletricidade em uma usina térmica movida a biogás, tanto a

municipalidade, como um eventual terceiro interessado, no caso de se fazer a concessão do

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direito de explorar os RSU´s, podem organizar-se como autoprodutor, ou como produtor

independente.

No caso do autoprodutor, a eletricidade gerada tem como finalidade atender, parcial ou

totalmente, as necessidades de consumo do próprio produtor, podendo não obstante ser

autorizada pela ANEEL a venda de eventuais excedentes de energia, na forma do inciso IV do

art. 26 da Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996.

No caso de produtor independente, a geração de eletricidade destina-se à finalidade de venda,

seja no ACR - Ambiente de Contratação Regulada, seja no ACL - Ambiente de Contratação

Livre.

O primeiro leilão exclusivo para fontes alternativas de energia (1º LFA) ocorreu em junho de

2007 (LFA/2007 – edital nº 003/2007), resultando na contratação de 186 MW de energia a um

preço marginal de R$ 139,12/MWh, dentre os quais 46 MW destinaram-se a Pequenas

Centrais Hidrelétricas (PCHs) e 140 MW foram destinados à termelétricas à biomassa. Não

houve empreendimento eólico a lograr-se vencedor neste certame.

Matriz Energética no Brasil e no Mundo

De acordo com o cenário projetado pela International Energy Agency - IEA é estimado um

ganho de representatividade da fonte biomassa e resíduos sólidos frente às demais fontes

renováveis de energia. Projeta-se ainda um forte ganho de representatividade da fonte eólica,

solar (fotovoltaica e CSP) e geotérmica. O Gráfico a seguir mostra a geração de eletricidade a

partir de fontes renováveis de energia até 2050.

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Figura 14 - Geração de eletricidade no mundo a partir de fontes renováveis

Fonte: BLUE Map da International Energy Agency

Apesar de o Brasil possuir potencial para o aproveitamento da fonte de energia advinda da

queima de biogás de aterros sanitários para fins de geração de energia elétrica, é recente a

história de desenvolvimento do setor no país se comparada à geração de energia elétrica a

partir de resíduos sólidos em diversos países europeus e dos Estados Unidos, por exemplo.

Conforme dados divulgados pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE, no último Balanço

Energético Nacional – BEN 2011, a produção de energia primária no Brasil ainda é

majoritamente provinda de fontes não renováveis (52,5%), quase totalmente em função do

petróleo e do gás natural, enquanto as fontes renováveis de energia representam

aproximadamente 47,5% desta produção de energia primária, assim divididos: produtos da

cana de açúcar (19,3%), energia hidráulica (13,7%), lenha (10,3%) e outras renováveis

(4,3%). O gráfico a seguir apresenta a evolução da produção de energia primária no Brasil

desde o ano de 1970 até 2010.

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Figura 15 - Evolução da Matriz Energética Brasileira

Fonte: Balanço Energético Nacional – BEN 2011 (EPE).

Os investimentos em energia renovável apresentam, em sua maioria, custos superiores aos

necessários para a adoção de fontes tradicionais. Não obstante, invariavelmente as energias

renováveis trazem consigo externalidades positivas passíveis de serem mensuradas, como o

desenvolvimento das áreas econômica e social. Adicionalmente, investimentos na geração de

energia que se utiliza do biogás como fonte combustível podem ser viáveis economicamente

devido à apropriação de receitas oriundas da venda da energia elétrica e da comercialização

dos créditos de carbono (ARCADIS TERRAPLAN 2010).

Dos 168 projetos de MDL registrados em diversos setores no Brasil, 25 são realizados em

aterros sanitário e destes, apenas 7 foram registrados com intuito de geração de energia. O

CTR Nova Iguaçu, localizado na região metropolitana do Rio de Janeiro, foi o primeiro

empreendimento do mundo a registrar no Conselho Executivo da ONU um projeto de geração

de créditos de carbono através do MDL.

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Segundo o Atlas Brasileiro de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e Potencial

Energético na Destinação de Resíduos Sólidos (ABRELPE 2013), no cenário atual, o país tem

um potencial de gerar 254 megawatts a partir do biogás e este potencial energético do biogás

pode chegar a 500 megawatts em 2039, capaz de abastecer 3,2 milhões de habitantes,

equivalente à população atual do estado do Rio Grande do Norte.

A ABRELPE destaca neste mesmo estudo que o Brasil tem potencial para reduzir as emissões

de Gases de Efeito Estufa (GEE) em 892 milhões de toneladas de CO2 equivalentes até 2039,

o que corresponderia a quase 30 milhões de CO2 por ano.

Em que pese o atual potencial de geração elétrica do biogás, existem poucos projetos

operacionais no Brasil, com destaque para os aterros sanitários Bandeirantes e São João, no

estado de São Paulo, que possuem potência instalada de 20 MW e 22 MW respectivamente.

O mesmo estudo avalia que o investimento necessário para implantar a infraestrutura em

plantas de captação de biogás e transformação em energia para projetos de geração com

capacidade média de 3 megawatts, condizente com uma planta de médio porte, é da ordem de

US$ 5 milhões, sendo uma parte da tecnologia (microturbina) internacional.

Segundo a ABRELPE, o recém inaugurado aterro sanitário de Seropédica no Estado do Rio

de Janeiro, o qual terá vida útil média de 30 anos e potência instalada de 25 megawatts,

demandou investimento da ordem de R$ 44 milhões para implantação da infraestrutura para

captar o biogás e transformá-lo em eletricidade.

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47

5 ESTUDO DE CASO

5.1 INTRODUÇÃO

O capítulo está dividido em quatro partes. A primeira parte apresenta uma descrição do caso

base referente à implantação de um aterro sanitário e à implantação de uma usina de

processamento de biogás para geração de energia elétrica, incluindo as premissas de receita e

custos, o cálculo do custo de capital próprio e a utilização do método VPL para sua avaliação.

A segunda parte mostra a modelagem das variáveis estocásticas do projeto. Na terceira parte é

realizado um estudo de caso sobre a análise de opções reais aplicadas à geração de energia

elétrica através da implantação de módulos sequenciais e não dependentes de produção de

energia. As opções analisadas são a postergação da implantação de cada módulo de geração

de energia vis-à-vis a volatilidade e o preço de venda da energia elétrica.

Utilizando a Teoria de Opções Reais, o objetivo é verificar se a flexibilidade de adiar, com

possibilidade de não entrada, agrega valor ao empreendedor. Nesse caso a variável aleatória

utilizada para simular a volatilidade do valor do projeto é a tarifa de energia elétrica.

A quarta parte do capítulo apresenta uma análise de sensibilidade do VPL e do VPL

expandido da usina de geração de energia em função de alterações no valor do preço de

energia.

5.2 DESCRIÇÃO DO CASO BASE DE IMPLANTAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO

O empreendimento hipotético avaliado no caso base do presente estudo é a implantação de

um aterro sanitário padrão com capacidade para recepção de 800 toneladas/dia de RSU,

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perfazendo um total de 292.000 toneladas de resíduos ao ano e uma recepção total de

4.380.000 toneladas ao longo de toda a vida útil do aterro, correspondente a 15 anos.

Com intuito de avaliar o valor e a viabilidade econômica do empreendimento hipotético foi

elaborada uma projeção de fluxo de caixa seguindo as premissas operacionais e financeiras

usuais para o setor de destinação de RSU, a seguir descritas.

Horizonte de tempo da projeção financeira

O horizonte de tempo considerado para fins de projeção financeira foi de 15 anos (2013 a

2027). Tal premissa coaduna com os prazos existentes nos instrumentos jurídicos que regem a

contratação de empreendimentos dessa natureza, quais sejam contratos de concessão ou

contratos de prestação de serviços. O prazo de 15 anos também se encontra em linha com a

magnitude do investimento inicial, a qual remete a prazos relativamente longos para plena

amortização e, assim, atração de capital privado.

Por sua vez, a geração de biogás não necessariamente encerra-se em 15 anos, bem como as

máquinas de geração de energia elétrica não são integralmente depreciadas nesse intervalo de

tempo. Não obstante, sob a ótica de mercado adotada, o prazo de concessão ou contratação de

quinze anos permite um horizonte compatível com o estabelecimento de linha de corte

conservadora e factível para obtenção de linhas de financiamento no mercado de crédito.

Por fim, foi utilizada a metodologia de projeção com base em valores reais para mensuração e

projeção das variáveis do fluxo de caixa.

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Receita Operacional Bruta

A receita operacional de um aterro sanitário sem aproveitamento energético é composta

basicamente por 2 fatores, quais sejam, o valor pago por tonelada de resíduo aterrada (gate

fee) e o volume de resíduos recebido.

Receita = Preço X Volume

Para estimar o gate fee de um aterro sanitário foram avaliados alguns contratos de prestação

de serviços e concessões celebrados entre Municípios e empresas privadas, conforme tabela

abaixo:

Aterro Sanitário 2010 2011 2012 Bauru 52,00 55,07 58,65

CDR Pedreira (São Paulo)

43,53 46,10 49,09

Curitiba 52,00 55,07 58,65 Ecopesa - PE 105,80 112,04 96,31

Estrans (Buenos Aires) 32,00 33,89 36,09 Guatapará 49,88 52,82 56,26 Itaboraí 52,00 55,07 58,65 Itapevi 51,44 54,47 58,02

Jardinópolis 73,13 77,44 82,48 Juiz de Fora - MG 57,17 60,55 60,55 Macaúbas - MG 40,58 42,98 42,98

Paulínia 57,18 60,55 64,49 Sergipe 52,00 55,07 58,65

Teresópolis - RJ 73,02 77,33 77,34 Terrestre (Santos) 55,42 58,69 62,50

MÉDIA 56,48 59,81 61,38

Valores Originais na data da Contratação Valores Corrigidos pelo IPCA

Tabela 4 - Gate fee Médio de Aterros Sanitários no Brasil

Fontes: Elaboração Própria com base em contratos de prestação de serviços celebrados

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As células destacadas em verde na tabela correspondem aos dados primários extraídos dos

referidos contratos de prestação de serviços ou concessão. Por sua vez, as células em amarelo

correspondem aos valores atualizados pelo índice de preços IPCA para anos seguintes ou

anteriores, de forma que fosse possível apurar os valores médios anuais praticados nos anos

de 2010, 2011 e 2012.

Para a amostra de contratos analisada, verifica-se que o gate fee médio pago pelos Municípios

é de R$ 61,38 por tonelada de resíduo aterrada no ano de 2012.

Outra importante referência para estimativa do gate fee para o setor é o estudo contratado pelo

BNDES, no âmbito do Fundo de Estruturação de Projetos, junto à FADE-UFPE, o qual tem

por escopo a Análise das Diversas Tecnologias de Tratamento e Disposição final de resíduos

sólidos urbanos existentes no Brasil, Europa, Japão e Estados Unidos (FADE-UFPE ,2013).

Segundo o referido estudo, o gate fee (tarifa por tonelada aterrada) médio praticado no Brasil

no ano de 2012 é de R$ 45,00 por tonelada aterrada de resíduo, em que pese haver grandes

variações no preço médio praticado por estado.

Sendo assim, pelo princípio do conservadorismo, o presente trabalho adotou como referência

o gate fee médio de R$ 45,00 por tonelada aterrada. Em todo o período da projeção (15 anos)

foi considerado que o gate fee não apresentará reajustes reais. Os empreendimentos de aterro

sanitário para recepção de RSU têm como principais clientes os Municípios, os quais firmam

contratos de prestação de serviços ou contratos de concessão, que se caracterizam pela adoção

de fórmulas paramétricas de reajuste de preço atreladas à inflação, motivo pelo qual se optou

por não considerar reajustes superiores à inflação na projeção do gate fee.

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O volume de recepção de resíduos definido para o empreendimento hipotético em estudo é de

800 toneladas/dia, correspondente ao volume de resíduos produzido em um Município ou

conjunto de Municípios com população de aproximadamente 765 mil habitantes,

considerando a taxa de geração de resíduo per capita de 1,04 kg/habitante/dia, de acordo com

o Panorama Nacional de Resíduos Sólidos de 2011, publicado pela ABRELPE.

Portanto, a receita operacional bruta (ROB) do aterro sanitário é de R$ 13,1 milhões ao ano

durante os 15 anos de vida útil do empreendimento.

Investimentos

A implantação de um empreendimento de aterro sanitário ocorre em fases através de

construção de células para destinação de RSU, as quais são progressivamente implantadas

para atender a demanda por aterramento. Cabe ressaltar que as implantações ocorrem em

paralelo à operação. A cada célula encerrada, inicia-se a implantação de uma nova célula para

disposição dos resíduos.

Sendo assim, o investimento para a implantação do empreendimento ocorre todo o início de

ano e corresponde ao CAPEX necessário para implantação de uma célula com capacidade de

recepção de 292.000 toneladas (equivalente a 800 toneladas/dia x 365 dias).

Os principais itens que compõem o investimento para implantação de uma nova célula no

aterro sanitário são:

• Serviços: elaboração do projeto básico e executivo, escavação da nova célula,

movimentação de terra, compactação de solo, aplicação de manta de PEAD,

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implantação de rede coletora de biogás, implantação de drenos de captação de

chorume, instalação de piezômetros, construção dos pontos de controle operacional,

construção de lagoa de chorume.

• Materiais: Manta de PEAD, Brita, tubos para captação do biogás.

Por sua vez o investimento em manutenção dos Ativos Existentes é muito baixo, uma vez que

o ativo é totalmente utilizado no período de um ano.

Por outro lado, existem custos, os quais não são desprezíveis, que permanecem mesmo após o

encerramento das atividades do aterro sanitário que correspondem aos custos de

monitoramento do lençol freático, monitoramento de emissões, manutenção da estabilidade

do maciço de resíduos e o próprio custo de encerramento do aterro com cobertura vegetal e

até mesmo eventualmente a construção de parques, com intuito de reintegrar o aterro ao

ambiente urbano.

Para avaliação do investimento necessário para implantação das células com capacidade de

292.000 toneladas são possíveis duas metodologias: i) Orçamentação a partir do projeto

executivo, que consiste em orçar todos os preços unitários dos materiais e serviços constantes

do referido projeto e ii) Utilização de uma base de projetos para estimativa do investimento

necessário por tonelada de capacidade instalada.

No presente trabalho optou-se por utilizar a metodologia ii por se tratar de um

empreendimento hipotético em que não se dispõe de projeto executivo e nem tampouco dos

quantitativos necessários de materiais e serviços. Desta forma, foi utilizada uma base de dados

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contendo o valor investido/tonelada instalada em 13 aterros sanitários implantados nas regiões

Sul e Sudeste do Brasil.

O valor médio apurado foi de R$ 3,93/tonelada instalada. Cabe ressaltar que este valor não

engloba o investimento necessário para aquisição do terreno, uma vez que em grande parte

dos contratos de concessão o direito de uso do terreno é cedido pelo ente público durante o

prazo do contrato. Para fins de projeção, foi considerado que os valores dos investimentos

anuais não irão apresentar variações superiores à inflação, de tal sorte que o investimento em

termos reais é constante durante toda a vida útil do aterro sanitário e corresponde a R$ 1,1

milhões por ano.

Fatores e Premissas de Rentabilidade

A margem EBITDA (EBITDA/ Receita Operacional) média das 2 principais empresas do

setor de destinação de RSU em aterros sanitários verificada no ano de 2011 foi de

aproximadamente 16%, principalmente por se tratar de serviço que ainda encontra-se na fase

de crescimento no âmbito nacional e caracterizado por fortes barreiras de escala.

O presente trabalho utiliza a metodologia de análise vertical de balanço patrimonial para

estimativa de custos e despesas. Foram analisados os valores históricos de contribuição de

cada rubrica de custo relativamente a Receita Operacional Líquida (ROL), ao longo dos

últimos 3 anos, utilizando por base o balanço patrimonial das 2 principais empresas do setor:

(i) Custos de Serviços Prestados (CSP): Foi considerado durante todo o período

de projeção que a participação do CSP sobre a receita operacional líquida será

de 66%.

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(ii) Despesas Comerciais: As despesas comerciais representaram em média 0,9%

da ROL nos últimos 3 anos, percentual que foi considerado para fins de

projeção. As despesas comerciais referem-se essencialmente a remuneração

dos recursos humanos dedicados a captação e/ou manutenção dos contratos de

prestação e serviços.

(iii) Despesas Administrativas: As despesas administrativas representaram em

média 17,0% da ROL nos últimos 3 anos, percentual que foi considerado para

fins de projeção. Estas despesas são oriundas das atividades de emissão de

notas fiscais, relacionamento com cliente, financeiro, gestão de recursos

humanos (gestão da folha de pagamentos e controle de benefícios), auditoria e

outros.

(iv) Outras Despesas Operacionais: As empresas de destinação de RSU

eventualmente apresentam algumas despesas operacionais classificadas como

outras porém são de caráter não recorrente e para fins de projeção não foram

consideradas.

2009 2010 2011 Media Custos dos Serviços Prestados 62% 68% 68% 66%

EMPRESA 1 41% 52% 60% 51%

EMPRESA 2 83% 83% 75% 81%

Despesas Comerciais 1% 1% 0% 0,9%

EMPRESA 1 2% 3% 1% 2%

EMPRESA 2 0% 0% 0% 0%

Despesas Gerais e Administrativas 18% 16% 17% 17%

EMPRESA 1 31% 23% 25% 26%

EMPRESA 2 6% 8% 9% 8%

MARGEM EBITDA 19% 15% 15% 16%

Tabela 5 - Margem EBITDA média setor de destinação de RSU

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Custo de Capital

Para fins de projeção, foi considerado que o empreendimento de implantação do aterro

sanitário é inteiramente financiado por capital próprio, premissa consistente com o baixo nível

de alavancagem financeira das empresas do setor de destinação de resíduos sólidos. Assim,

para o cálculo da taxa de desconto foi utilizado o custo de capital próprio calculado pela

metodologia do CAPM. A seguir são apresentadas as premissas utilizadas para calcular o

custo de capital próprio do projeto de implantação do aterro sanitário.

Neste caso, como existe um único projeto, podemos avaliá-lo como se fosse uma empresa

com um perfil único de risco. Como o mercado norte americano possui um longo período de

dados históricos e com maior estabilidade de preços e taxas, serão utilizados dados desse país

para calcular o custo de capital próprio desse projeto no Brasil. Para contemplar a exposição

que o ativo possui ao risco Brasil, Damodaran (2002) propõe o seguinte ajuste à fórmula do

CAPM:

Rf]- [E(RM) Bi+ Brasil Riscode Prêmio+ Rf= Ke (6)

Todos os parâmetros acima foram obtidos no site do Damodaran e no site do FED,

http://www.federalreserve.gov/releases/H15/Current/.

A taxa de juros livre de risco Rf é a média aritmética do retorno, para o período de 10 anos

entre 2002 e 2012, dos títulos do Tesouro Americano (Treasury Bonds), no valor de 5,64%.

Para cálculo do prêmio de risco Brasil foi utilizada a metodologia proposta por

Damodaran(2002) em que a partir da classificação de rating do país dada por agências

internacionais, é obtido o spread de risco de não pagamento de um título de um país e

ajustado para refletir a volatilidade do equity.

O ajuste é feito através da multiplicação do desvio padrão do retorno do mercado acionário do

país em relação ao desvio padrão do retorno de um título de longo prazo do país. No caso, é

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utilizado o valor médio para mercados emergentes de 1,5. Dessa forma, o spread de risco

Brasil índice EMBI+ divulgado pelo JP Morgan e consultado em 23/10/2013, no valor de

2,08%, é multiplicado por 1,5 (parâmetro retirado do site do Damodaran), resultando no valor

de 3,12%.

Para a definição do beta do projeto, foram utilizadas informações de Damodaran, de tabela de

países emergentes, para o tipo de atividade “Environmental and Waste Services” – Unlevered

Beta = 0,86. O beta representa o risco do setor comparado ao prêmio de risco do mercado.

Finalmente, o prêmio de risco de mercado, E(RM) – Rf, foi obtido a partir do histórico de

diferença entre os retornos anuais das ações e os retornos anuais sobre títulos livres de risco

nos Estados Unidos, no período de 2002 até 2012, através de média aritmética, no valor de

3,08%.

Colocando esses valores na fórmula ajustada do CAPM por Damodaran temos que:

Ke = 5,64% + 3,12% + 0,86 x (3,08%) = 11,41% anual (nominal)

Parâmetros Premissas Valores RF Treasuries Americanos Long Term Treasury Bond Rate 5,64%

Prêmio de Risco Brasil Country Risk 3,12% Bi 0,86

[E(RM) – Rf] Risk Premium to Use for Equity 3,08%

CAPM Nominal Ke = Rf + Prêmio de Risco Brasil + Bi [E(RM) – Rf] 11,41%

Inflação USAConsumer Price Index 2,34% CAPM Real [(1+CAPMnom)/(1+inflação)]-1 8,86%

Tabela 6 - Custo de Capital do Aterro Sanitário

Como os fluxos de caixa a serem descontados serão fluxos reais, com poder de compra

constante da moeda, o custo de capital nominal calculado pelo CAPM deve ser ajustado pela

inflação dos Estados Unidos, já que tanto a taxa livre de risco quanto o prêmio de risco têm

como base os títulos do Tesouro dos EUA. O valor considerado para a inflação dos EUA foi

de 2,34%, representando o Índice de Preços ao Consumidor (Consumer Price Index – CPI),

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divulgado no site www.bls.gov/cpi do “US Department of Labor – Bureau of Labor

Statistics”, acessado em 26/10/2013.

Para obter o custo de capital real, esses valores foram descontados pela média da inflação

norte americana, resultando em um Ke = 8,86% real.

5.2.1 PROJEÇÃO DE RESULTADOS

A projeção dos fluxos de caixa livres em termos anuais para o aterro sanitário foi calculada da

seguinte forma:

Dep+ Inv - Imp - Giro - x M.EBIT] Qt)x [(Ss =FCXt ∆ (7)

Onde:

FCXt – Fluxo de Caixa do Projeto no ano t (em R$);

Ss – Receita Líquida por Tonelada de RSU aterrada (R$);

Qt – Quantidade de RSU aterrada/ano (toneladas);

M.EBIT – Margem EBIT

∆Giro – Variação de Capital de Giro

Imp – Alíquota de Impostos (34%) x Lucro Líquido Antes do Imposto de Renda

Inv - Investimento previsto (R$)

Dep – Depreciação equivalente ao Ativo Total do ano anterior

A projeção do fluxo de caixa sintética é apresentada a seguir indica que o empreendimento

hipotético de implantação do aterro sanitário apresenta viabilidade econômica, traduzida em

um VPL positivo de aproximadamente R$ 2 milhões.

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ANO 0 ANO 1 ANO 5 ANO 10 ANO 15

2012E 2013E 2017E 2022E 2027E

RECEITA BRUTA

13.140.000

13.140.000

13.140.000

13.140.000

IMPOSTOS

(479.610)

(479.610)

(479.610)

(479.610)

ROL 12.660.390

12.660.390

12.660.390

12.660.390

CSP (excluindo depreciacao)

(8.328.555)

(8.328.555)

(8.328.555)

(8.328.555)

RESULTADO BRUTO

4.331.835

4.331.835

4.331.835

4.331.835

DESPESAS

(2.265.771)

(2.265.771)

(2.265.771)

(2.265.771)

Depreciacao

(1.146.559)

(1.146.559)

(1.146.559)

(1.146.559)

EBIT 919.505

919.505

919.505

919.505

(+) Depreciação

1.146.559

1.146.559

1.146.559

1.146.559

(-) Impostos -

(312.632)

(312.632)

(312.632)

(312.632)

(+/-) Variação Capital de Giro

-

(1.870.923)

-

-

-

(-) Investimentos (1.146.559)

(1.146.559)

(1.146.559)

(1.146.559)

(1.146.559)

(=) Fluxo de Caixa Firma

(1.146.559)

(1.264.049)

606.873

606.873

606.873

VPL Estático do aterro sanitário 2.067.302

Tabela 7 - Fluxo de Caixa e VPL do Caso Base de Implantação do Aterro Sanitário

No cenário-base considerado, o projeto hipotético apresentou fluxo de caixa da firma positivo

no valor de aproximadamente R$ 600 mil a partir do Ano 2 e até o final do período de

projeção, sendo que no Ano 1 o referido fluxo é negativo, em função da necessidade inicial de

capital de giro para implantação do empreendimento.

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Riscos

Empreendimentos de implantação de aterros sanitários estão sujeitos ao risco de

inadimplemento do setor público, que habitualmente é superior ao risco de inadimplemento de

empresas privadas, o que pode eventualmente comprometer a consecução do fluxo de caixa

acima projetado.

5.3 CASO BASE DE IMPLANTAÇÃO DA USINA DE PROCESSAMENTO DE BIOGÁS DE ATERRO PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

O empreendimento hipotético avaliado no caso base do presente estudo é a implantação de

uma usina de geração de energia elétrica a partir do biogás decorrente do processo de

decomposição do RSU.

Com intuito de avaliar o valor e a viabilidade econômica do empreendimento hipotético foi

elaborada uma projeção de fluxo de caixa seguindo as premissas operacionais e financeiras

usuais para o setor de geração de energia a partir da fonte biomassa, a seguir descritas.

Horizonte de tempo da projeção financeira

O horizonte de tempo considerado para fins de projeção financeira da usina de processamento

de biogás foi de 30 anos (2013 a 2042) uma vez que o aterro sanitário continua gerando

biogás mesmo após o seu encerramento no ano 15. Tal premissa coaduna com os prazos

existentes nos instrumentos jurídicos que regem a contratação de empreendimentos dessa

natureza, quais sejam contratos de concessão ou contratos de prestação de serviços. O prazo

proposto de 30 anos também se encontra em linha com a magnitude do investimento inicial, a

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qual remete a prazos relativamente longos para plena amortização e, assim, atração de capital

privado.

Por fim, foi utilizada a metodologia de projeção com base em valores reais para mensuração e

projeção das variáveis do fluxo de caixa.

Receita Operacional Bruta

A receita decorrente da implantação da usina de processamento de biogás para geração de

energia é oriunda da comercialização de energia elétrica. Para estimar esta receita utilizou-se

como base a curva de produção do biogás ao longo do período de 30 anos, considerando que o

aterro sanitário irá encerrar as atividades no Ano 15.

A estimativa de quantidade de biogás produzida pela decomposição dos RSU é premissa

fundamental para a avaliação da viabilidade econômica da implantação da usina de geração de

energia. Para a determinação desta quantidade, foi utilizado o método proposto pela Agência

de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA, 1996), denominado “School Canyon

Model” ou simplesmente método do decaimento de primeira ordem o qual define a curva de

produção em função dos parâmetros abaixo descritos:

)e - (e R L2 = LFG -kt-kc0 (8)

Onde:

LFG = Quantidade Total de gás de aterro gerado no ano (cf*) L0 = Potencial do Resíduo de Geração de Metano (cf/lb) R = Média Anual de Recebimento de Resíduos (Ib) k = Taxa de geração de metano (1/ano) t = Tempo desde a abertura do aterro (anos) c = Tempo desde o fechamento do aterro (anos) *cf – cubic foot equivalente a 0,0283 m3

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Os parâmetros utilizados para a obtenção das curvas de geração de biogás foram definidos em

função de sugestões da própria USEPA, que estabeleceu esses mesmos parâmetros quando da

realização de ensaios em aterros existentes no Estado de São Paulo, e da comparação desses

com outros parâmetros utilizados em aterros de diversos países. A capacidade potencial de

geração de gás metano pelos resíduos, Lo, utilizada no presente estudo é de 125 m3/ton. O

valor de k foi definido em 0,9/ano, em função da experiência nacional, representando um

decaimento alto (Akira, 2002).

Considerando que nem todo o biogás produzido é capaz de ser aproveitado, uma vez que parte

é emitida diretamente para a atmosfera como gás fugitivo, outra parte é transportada

lateralmente, se concentrando na periferia do aterro e uma terceira parte ainda sofre oxidação,

foi adotada a premissa que a taxa de recuperação do biogás equivale a 60% da curva teórica

de produção calculada.

A estimativa de geração e aproveitamento do gás de aterro é baseada no modelo da USEPA,

na expectativa de quantidade e qualidade dos resíduos a serem dispostos e na eficiência do

sistema de coleta de gás. Utilizando as premissas acima descritas, obtém-se a seguinte curva

de captação de biogás no aterro sanitário.

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Figura 16 - Curva de captura do biogás

De posse da quantidade de biogás captado é possível calcular o número de motores que irão

operar a cada ano da projeção, considerando que cada motor-gerador tem potência nominal de

1 MW e necessita da quantidade de 596 m3 de biogás para operar na sua capacidade plena.

Foi utilizada como condição de contorno que cada motor só entra em operação quando houver

quantidade de biogás suficiente para operar em plena capacidade.

Para calcular a quantidade de energia gerada (MWh/ano), foi utilizada a seguinte fórmula:

Quantidade de motores x potência dos motores (1.025 KWh) x (1 – perdas) x disponibilidade

x 24 horas x 365 dias.

Onde:

Perdas = 5% Disponibilidade = 90%

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A tabela a seguir detalha o ano de entrada em operação de cada motor, bem como o período

de operação, em anos, conforme disponibilidade do biogás para processamento, considerando

a curva de decaimento após o encerramento do aterro sanitário.

ANO 2 4 5 8 11 14 Tempo Médio de

Operação do motor Quantidade de Motores 1 2 3 4 5 6

Tempo de operação dos motores (em anos) 14 14 15 16 17 17 16

Tabela 8- Cronograma de entrada em operação dos motores geradores

Adicionalmente, o valor da energia elétrica pago ao gerador considerado para fins de projeção

foi de R$ 210,00/MWh, já considerando as devidas isenções de TUST e TUSD, conferidas a

projetos de geração de energia a partir de fontes renováveis, e líquido das tarifas previstas

pela ANEEL. O valor de R$ 210,00 corresponde à tarifa média no período de janeiro de 2003

a agosto de 2013 da série histórica de tarifa média mensal de energia elétrica por MWh

referente ao consumo industrial coletada pelo IPEADATA. Não foi considerada nenhuma

taxa de crescimento real dos preços de energia, dado o histórico recente e a regulação austera

do setor.

Conforme estudo realizado pela COPASA apresentado aos analistas do mercado financeiro

em 08/10/2013 em evento de relacionamento com investidores denominado COPASA Day, o

preço médio de mercado para o mercado de energia incentivada fica em torno de R$

170,00/MWh (50% incentivado) a R$ 200,00/MWh (100% incentivada) corroborando o valor

de R$ 210,00 utilizado no presente trabalho.

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Figura 17 - Estimativa da COPASA de tarifa média de energia elétrica por tipo de fonte

Fonte: COPASA

Foi considerada a comercialização da energia elétrica sob a configuração de produtor

independente, de tal sorte que a SPE responsável pelo empreendimento pode comercializar a

energia tanto no mercado regulado (ACR) ou no mercado livre (ACL). Para fins da presente

modelagem foi considerada venda 100% em mercado Livre.

Em que pese o valor referencial da tarifa de R$ 210,00 /MWh estar em consonância com a

média da série histórica do IPEADATA e com o valor estimado pela COPASA, cabe ressalvar

que este valor de tarifa refere-se ao valor final pago pelo o usuário industrial, o que inclui

todos os custos de distribuição e transmissão. No entanto, no presente trabalho, por critérios

de simplificação, foram utilizados somente os custos inerentes à geração de energia, o que

pode eventualmente gerar uma majoração das receitas e da geração de caixa do

empreendimento em análise da usina de geração de energia a partir do biogás de aterro

sanitário. Neste sentido, foi elaborada neste trabalho uma análise de sensibilidade do valor do

projeto vis-à-vis os possíveis preços de energia elétrica, com intuito de melhor avaliar o valor

do projeto.

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Isto posto, a receita operacional bruta (ROB) da usina de geração de energia é apresentada no

gráfico a seguir. É possível observar que a ROB cresce gradativamente conforme a entrada

em operação de novos motores geradores, alcançando o valor máximo de aproximadamente

R$ 7,6 milhões nos Anos 14 e 15. Por sua vez, após o encerramento das atividades do aterro

sanitário no Ano 15, a ROB começa a reduzir gradativamente em função da parada gradual de

operação dos motores, ocasionada pela diminuição do biogás disponível.

Receita Operacional Bruta (ROB) = Quantidade de energia gerada x Preço da energia

Figura 18 - Receita Operacional Bruta (em R$) da Usina de Geração de Energia

Investimentos

De acordo com o estudo conduzido pela ARCADIS E TERRAPLAN (2010), o sistema

necessário para geração e comercialização de energia elétrica pode ser dividido em 4 grandes

grupos de investimento:

• Sistema de drenagem: instalação do sistema de drenagem nos aterros sanitários, o qual

engloba perfuração dos drenos e instalação dos poços de drenagem vertical no maciço de

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resíduos. Este investimento já está contemplado no caso base de implantação do aterro

sanitário analisado no capítulo anterior.

• Captação, bombeamento ou sucção, tratamento e queima: Contempla i) licenciamento

e alvarás; ii) projeto executivo; iii) obras civis; iv) sistema de tubulações; v) adaptação de

poços de captação; vi) sistema de automação e controle; vii) tubulações de água gelada e

cargas iniciais de glicol; viii) trocadores de calor; ix) medidores de vazão tipo pitot (principal

e secundários); x) tubulações de aço carbono; xi) instrumentos de medição de pressão e

temperatura; xii) chiller; e os xiii) os queimadores. Este investimento já está contemplado no

caso base analisado no capítulo anterior.

• Geração de energia elétrica: Contempla i) construção civil, galpões ou containers para

acondicionamento dos motores (incluindo projeto executivo e gerenciamento); ii)

motogeradores; iii) painéis de proteção e controle (sincronização com a rede); iv) painéis

auxiliares; v) sistemas de gerenciamento e supervisão dos motores, ventilação e exaustão de

ar; vi) sistema de refrigeração da água dos motores; vii) sistema de abastecimento e filtragem

de óleo; viii) transformadores auxiliares; e ix) seccionadoras para a conexão com a rede.

• Transformação e transmissão: Contempla i) a implantação de redes de distribuição e

transmissão; ii) seccionadoras; iii) transformadores; iv) medidores de energia elétrica; e v)

sistema de tele proteção.

Felipetto (2005) aponta que o valor do investimento por motor gerador de energia a partir do

biogás de aterro sanitário é de R$ 3.175.932,00 que atualizado para valores de 2013 e

aplicadas as devidas correções nas taxas de conversão cambial, correspondem a R$

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3.672.084,27, valor padrão por motor utilizado na projeção. Como premissa foi considerado

que os investimentos são depreciados ao longo de 15 anos.

Por sua vez foi considerado que o valor do investimento para aquisição do motor gerador de

energia é reajustado pela taxa de 6,59% a.a em termos reais, que corresponde a taxa de juros

real do título de renda fixa do tesouro nacional do Brasil com vencimento em 15/05/2035,

denominado NTN-B 15052035, conforme consulta realizada no site do tesouro direto

(https://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto) em 07/12/2013.

Foi utilizado o reajuste do valor do investimento conforme NTN-B 15052035 pois este título

representa o custo de oportunidade de realizar o investimento, ou seja, o investidor avalia a

entre investir o recurso em um título de renda fixa atrelado à inflação (IPCA) ou realizar o

investimento na usina geradora de energia, optando pela opção que fornecer maior retorno. A

maturidade do título de renda fixa com vencimento em 2035 é a que mais se aproxima do

tempo médio de operação do motor, que é de 16 anos ( o que equivaleria a um título com

vencimento em 2029), permitindo, portanto, melhor comparabilidade.

Também foi considerado o custo de implantação de sistema de tratamento de gases e

compressores no valor de R$ 1.476.251,77, conforme o valor apurado por Felipetto (2005)

devidamente corrigido pela inflação do período 2005 a 2013 e ponderado pelo número de

motores do empreendimento hipotético ora em análise (6 motores).

Adicionalmente, foi contabilizado também o investimento de reforma dos motores após

período de trabalho de 60.000 horas que equivale a R$ 133.467,00, conforme especificação de

uso para este tipo de equipamento.

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Por último, foi utilizada a premissa para elaboração de projeção financeira de que não haverá

nenhum custo adicional referente à adequação de estrutura para transformação e transmissão

da energia gerada.

Considerando todas as premissas de investimento anteriormente explicitadas, verifica-se que o

investimento total no Ano 1, equivalente ao somatório do valor presente dos investimentos

para aquisição dos motores, do investimento para reforma após 60.000 horas de trabalho bem

como do dispêndio para montagem dos sistemas auxiliares de tratamento de gases e

compressores, é da ordem de R$ 23 milhões.

Com respeito aos custos operacionais, segundo o atlas da ABRELPE (2013), os custos

variáveis com manutenção de planta de geração de energia a partir de biogás são da ordem de

R$ 36/MWh e incluem os serviços de manutenção na rede de captação, na estação de sucção e

queima, no sistema de tratamento de biogás, na geração e na transmissão de energia elétrica,

além da mão-de-obra (impostos de contratação e custos trabalhistas), gerenciamento

administrativo, recursos humanos e contábeis.

Referente à tributação, os impostos incidentes sobre a comercialização da energia elétrica

considerados na projeção tiveram por base as seguintes alíquotas: ICMS de 18%, IRPJ de

25%, PIS e COFINS de 3,65% (conforme regime de lucro presumidos) e CSLL de 9%.

Desconsiderou-se a cobrança do TUSD/TUST por se tratar de fonte energética alternativa,

contemplável com isenção dos referidos impostos.

A alíquota de ICMS incidente sobre comercialização de energia elétrica em cada estado da

federação é regulada por legislação estadual específica, sendo que a maioria dos estados adota

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a alíquota padrão de 18%, que foi utilizada como premissa para a elaboração do fluxo de

caixa no presente estudo.

Fatores e Premissas de Rentabilidade

A margem EBITDA (EBITDA/ Receita Operacional) durante todo o período de projeção é de

aproximadamente 78%, em linha com a margem verificada em projetos de geração de energia

elétrica, os quais apresentam margens altas em função do baixo custo operacional. O gráfico a

seguir apresenta a evolução do EBITDA ao longo de todo o período de projeção:

Figura 19 – EBITDA (em R$) da Usina de Geração de Energia

Custo de Capital

Para fins de projeção, foi considerado que o empreendimento de implantação da usina de

geração de energia elétrica a partir do biogás de aterro sanitário é inteiramente financiado por

capital próprio. Assim, para o cálculo da taxa de desconto foi utilizado o custo de capital

próprio calculado pela metodologia do CAPM. A seguir são apresentadas as premissas

utilizadas para calcular o custo de capital próprio do projeto de implantação do aterro

sanitário.

Neste caso, como existe um único projeto, podemos avaliá-lo como se fosse uma empresa

com um perfil único de risco. Como o mercado norte americano possui um longo período de

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dados históricos e com maior estabilidade de preços e taxas, serão utilizados dados desse país

para calcular o custo de capital próprio desse projeto no Brasil. Para contemplar a exposição

que o ativo possui ao risco Brasil, Damodaran (2002) propõe o seguinte ajuste à fórmula do

CAPM:

Rf]- [E(RM) Bi+ Brasil Riscode Prêmio+ Rf= Ke (9)

Todos os parâmetros acima foram obtidos no site do Damodaran e no site do FED,

http://www.federalreserve.gov/releases/H15/Current/.

A taxa de juros livre de risco Rf é a média aritmética do retorno, para o período de 10 anos

entre 2002 e 2012, dos títulos do Tesouro Americano (Treasury Bonds), no valor de 5,64%.

Para cálculo do prêmio de risco Brasil, foi utilizada a seguinte metodologia: a partir da

classificação de rating do país dada por agências internacionais, é obtido o spread de risco de

não pagamento de um título de um país e ajustado para refletir a volatilidade do equity. Isso é

feito através da multiplicação do desvio padrão do retorno do mercado acionário do país em

relação ao desvio padrão do retorno de um título de longo prazo do país. No caso, é utilizado

o valor médio para mercados emergentes de 1,5. Dessa forma, o spread de risco Brasil índice

EMBI+ divulgado pelo JP Morgan e consultado em 23/10/2013, no valor de 2,08%, é

multiplicado por 1,5, resultando no valor de 3,12%.

O coeficiente βi desalavancado do setor de energia elétrica, no valor de 0,35, é o beta médio

52 empresas de energia elétrica nos Estados Unidos O beta representa o risco do setor

comparado ao prêmio de risco do mercado.

Finalmente, o prêmio de risco de mercado, E(RM) – Rf, foi obtido a partir do histórico de

diferença entre os retornos anuais das ações e os retornos anuais sobre títulos livres de risco

nos Estados Unidos, no período de 2002 até 2012, através de média aritmética, no valor de

3,08%.

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Colocando esses valores na fórmula ajustada do CAPM por Damodaran temos que:

Ke = 5,64% + 3,12% + 0,35 x (3,08%) = 9,84% anual (nominal)

Parâmetros Premissas Valores RF Treasuries Americanos Long Term Treasury Bond Rate 5,64%

Prêmio de Risco Brasil Country Risk 3,12% Bi 0,35

[E(RM) – Rf] Risk Premium to Use for Equity 3,08% CAPM Nominal Ke = Rf + Prêmio de Risco Brasil + Bi [E(RM) – Rf] 9,84%

Inflação USAConsumer Price Index 2,34% CAPM Real [(1+CAPMnom)/(1+inflação)]-1 7,33%

Tabela 9 - Custo de Capital da Usina de Geração de Energia

Como os fluxos de caixa a serem descontados serão fluxos reais, com poder de compra

constante da moeda, o custo de capital nominal calculado pelo CAPM deve ser ajustado pela

inflação dos Estados Unidos, já que tanto a taxa livre de risco quanto o prêmio de risco têm

como base os títulos do Tesouro dos EUA. O valor considerado para a inflação dos EUA foi

de 2,34%, representando o Índice de Preços ao Consumidor (Consumer Price Index – CPI),

divulgado no site www.bls.gov/cpi do “US Department of Labor – Bureau of Labor

Statistics”, acessado em 26/10/2013.

Para obter o custo de capital real, esses valores foram descontados pela média da inflação

norte americana, resultando em um Ke = 7,33% real.

5.3.1 PROJEÇÃO DE RESULTADOS

A projeção do fluxo de caixa sintética apresentada a seguir indica que o empreendimento

hipotético de implantação da usina de geração de energia a partir do biogás de aterro sanitário

apresenta viabilidade econômica, traduzida em um VPL positivo de aproximadamente R$ 4,8

milhões.

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ANO 1 ANO 5 ANO 10 ANO 15 ANO 20 ANO 25 ANO 30

2013 2017 2022 2027 2032 2037 2042

RECEITA BRUTA - 4.836.538 6.448.718 9.673.077 4.836.538 3.224.359 1.612.179

IMPOSTOS PIS COFINS (LUCRO PRESUMIDO)

- (176.534) (235.378) (353.067) (176.534) (117.689) (58.845)

ICMS

(870.577) (1.160.769) (1.741.154) (870.577) (580.385) (290.192)

ROL - 3.789.428 5.052.570 7.578.856 3.789.428 2.526.285 1.263.143

CSP + DESPESAS (incluindo depreciacao)

(1.563.538) (2.084.717) (3.127.075) (1.563.538) (1.042.358) (521.179)

RESULTADO BRUTO - 2.225.890 2.967.853 4.451.780 2.225.890 1.483.927 741.963

(+) Depreciação

734.417 979.222 1.468.834 734.417 489.611 244.806

(-) Impostos - (756.803) (1.009.070) (1.513.605) (756.803) (504.535) (252.268)

(-) Investimentos (vp do fluxo)

(22.990.286)

(=) Fluxo de Caixa Firma (22.990.286) 2.203.504 2.938.006 4.407.009 2.203.504 1.469.003 734.501

VPL Estático da Usina de Geração de Energia 4.779.977

Tabela 10 - Fluxo de Caixa e VPL da Usina de Geração de Energia

5.4 MODELAGEM DAS VARIÁVEIS ESTOCÁSTICAS

Nessa seção serão apresentados os principais processos para projeção de preços: o movimento

geométrico browniano (MGB) e o movimento de reversão à média (MRM). A partir dos

dados obtidos nesses processos, é possível construir a árvore binomial para precificar o valor

de um módulo de geração de energia a partir do biogás de aterro sanitário.

5.4.1 MOVIMENTO GEOMÉTRICO BROWNIANO (MGB)

Segundo GUTHRIE (2009), uma premissa utilizada na precificação de derivativos financeiros

é a de que o logaritmo do preço do ativo subjacente segue um processo de passeio aleatório

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com drift. O drift é uma constante que gera uma tendência para o processo. Caso essa

constante tenha um valor positivo, o processo apresentará uma tendência de alta.

Os parâmetros drift e variância do MGB são dados pelas fórmulas:

a(x,t) = αx;

b(x,t) = σx.

O que determina a seguinte equação para o modelo:

dx =αxdt + σxdz (10)

Quando se assume que o preço de um ativo (x) segue um MGB, comumente efetua-se o uso

do diferencial do logaritmo natural do preço (dlnx), que pode ser facilmente obtido por

intermédio do Lema de Itô,.

Caso tenhamos um derivativo escrito sobre um ativo x, o seu diferencial estocástico pode ser

determinado por intermédio da aplicação do Lema de Itô. Seja F(x,t) um derivativo escrito

sobre x(t), temos pelo Lema de Itô que:

dF = ∂F/∂x dx + ∂F/∂t dt + ½ ∂2F/∂x2 dx2

dlnx = ∂F/∂x dx + ∂F/∂t dt + ½ ∂2F/∂x2 dx2

dlnx = 1/x dx + 0 dt + ½ (–1/x2) σ2x2dt

dlnx = (α–½ σ2)dt +σdz (11)

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Se xi denota a observação i do preço, então:

X i+1 – Xi = v + ui+1, ui+1~ N (0, σ2) (12)

Onde v é uma constante e ui+1 é o termo aleatório. Portanto, a variação do logaritmo do preço

em cada período depende de uma constante e do termo aleatório que possui distribuição

normal com média zero e desvio padrão igual a outra constante (σ).

A principal característica desse processo é que a variância da mudança do logaritmo do preço

cresce continuamente com o tempo, ou seja, uma estimativa para esse valor em uma data

futura pode estar bem distante valor inicial.

O drift e a volatilidade do processo MGB estão relacionados com a média e variância dos

dados históricos da variação do logaritmo do preço.

5.4.2 MOVIMENTO DE REVERSÃO À MÉDIA (MRM)

Comumente em finanças quando se tenta descrever o comportamento de preços de ativos

financeiros como ações e metais preciosos, por exemplo, o modelo preferencialmente

escolhido é o Movimento Geométrico Browniano. O MGB é o caso base utilizado na maioria

dos modelos de opções financeiras e opções reais e tem entre outras características desejáveis

uma pequena quantidade de parâmetros a serem estimados. Em algumas situações, porém,

esse processo pode não ser considerado uma boa alternativa. Um dos problemas na utilização

do MGB é o fato de que este processo pode divergir levando os preços para o infinito,

gerando modelos eventualmente não muito realistas em caso de ativos de longa duração. Na

sequência é apresentado o modelo mais conhecido de Processos de Reversão à Média, que

refere-se ao modelo de reversão à média aritimético (MRA)

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O modelo mais básico de reversão a média é o MRA de Ornstein Uhlenbeck, que comumente

é definido pela equação abaixo:

dx = η( x − x)dt + σdz (13)

Onde:

dz é um incremento de Wiener;

η é o parâmetro que indica a velocidade da reversão;

x é o nível normal ou média de longo prazo de x.

Apesar do MRA de Ornstein-Uhlenbeck ser um Processo de Markov ele não possui

incrementos independentes, dado que a variação esperada em x é função da diferença entre a

média de longo prazo e a última observação do processo.

Com base na equação apresentada, pode-se concluir que quando t→∞ o valor esperado do

processo MRA de Ornstein-Uhlenbeck irá convergir para x e a variância para um valor

constante, σ2/2η, diferente do MGB cujo valor esperado e a variância de x(t) tendem a crescer

indefinidamente. Quando η→∞ valor esperado do MRA também irá convergir para x , sua

variância, no entanto, irá convergir para zero. Já quando η→0, o MRA tende para o

Movimento Browniano Simples. Outra maneira de verificar este resultado é substituir η por

zero na equação do MRA e com isso será obtida a equação do Movimento Browniano.

A estimação dos parâmetros do modelo de Ornstein-Uhlenbeck pode ser efetuada a partir de

informações em tempo discreto do histórico de preços pela regressão:

xt – xt-1 = a + bxt-1 + ∈t (14)

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De posse dos valores de a, b e σ∈ (erro padrão da regressão) é possível obter os parâmetros da

fórmula dx = η( x − x)dt + σdz por intermédio das equações:

ẋ = –a/b;

η = –ln(1+b);

1)1(

)1ln(22 −++=

b

bεσσ

5.4.3 MODELAGEM DA SÉRIE HISTÓRICA DE TARIFA MENSAL MÉDIA DE ENERGIA PARA CONSUMIDOR INDUSTRIAL

Foi estudada a série histórica de tarifa média de energia elétrica por MWh referente ao

consumo industrial coletada do IPEADATA em consulta realizada em 16/11/2013 no site

http://www.ipeadata.gov.br/, a qual engloba o período entre janeiro de 2003 e agosto de 2013,

com periodicidade mensal, totalizando 128 observações. Cabe ressaltar que a forte queda

ocorrida em fevereiro de 2013 deve-se à Medida Provisória - MP 579/2012.

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Figura 20 - Tarifa Média Mensal Nominal de Energia Elétrica para Consumo Industrial

Fonte: IPEADATA

Figura 21 – Volatilidade do Retorno Mensal da tarifa de energia elétrica para consumo industrial

Fonte: IPEADATA

Optou-se por utilizar o histórico da tarifa média do Brasil nesse período para modelagem da

variável preço de energia elétrica, em detrimento do histórico da tarifa cobrada pelas

distribuidoras de energia elétrica, em função da primeira base de dados ser muito maior e

mais facilmente disponível e confiável, o que gera maior robustez para o modelo.

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Adicionalmente verifica-se que a tarifa de energia elétrica praticada por cada distribuidora é

função de diversos custos, dentre eles destacam-se: os custos operacionais, os custos

derivados de investimentos realizados, a depreciação de seus ativos e os custos dos contratos

de compra de energia, atuais e a serem celebrados no futuro, variáveis que possuem grande

dificuldade de previsão e divergem de distribuidora para distribuidora.

Verificou-se que a volatilidade média anual do retorno do preço da energia, apurado no

período de fevereiro de 2003 a agosto de 2013, foi de aproximadamente 13% a.a e a média

dos retornos deflacionados (dift da série) foi de aproximadamente 0,1% a.a.

Isto posto, verifica-se que uma das limitações do presente trabalho consiste na simplificação

de não considerar os custos de distribuição e transmissão de energia incorporados na tarifa

média ao consumidor industrial, o que eventualmente gera uma majoração do VPL da Usina

de Geração de energia estudada no caso base.

Segundo GUTHRIE (2009), é necessário verificar qual processo se adapta melhor a cada

variável, de forma que a decisão de qual modelo utilizar, como o MGB ou MRM por

exemplo, pode ser resolvida de forma empírica.

Neste sentido, aplicou-se o teste de hipóteses padrão para o processo MGB, o qual é efetuado

a partir da análise da hipótese nula (Ho) de que o coeficiente (b) de ln(Xt-1) na regressão seja

unitário, procedimento conhecido como teste da raiz unitária de Dickey-Fuller.

O teste demonstrou que não se pode rejeitar a hipótese nula de raiz unitária, indicando

portanto que série histórica de tarifa média de energia elétrica por MWh referente ao consumo

industrial coletada do IPEADATA segue um processo MGB.

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Considerando o resultado do teste de raiz unitária e o comportamento histórico da tarifa média

de energia paga pelo consumidor industrial verificada na Figura 20, foi considerado no

presente trabalho que o preço de energia (variável de incerteza) segue um MGB.

5.5 ANÁLISE DA USINA DE GERAÇÃO DE ENERGIA ATRAVÉS DA METODOLOGIA DE OPÇÕES REAIS

Através da teoria de Opções Reais apresentada no capítulo 2 serão realizadas novas avaliações

da viabilidade do projeto de geração de energia elétrica a partir do biogás de aterro sanitário,

de forma a incorporar as flexibilidades gerenciais e as opções de adiar, com possibilidade de

não entrada, a implantação dos motores geradores de energia elétrica.

A opção de postergar esse investimento gera valor para o empreendedor já que permite que o

mesmo se beneficie de possíveis cenários mais favoráveis, como o aumento no preço da tarifa

de energia elétrica nos anos seguintes, e evita perdas caso ocorram situações desfavoráveis

para o projeto (o empreendedor não investirá em novos motores de geração).

A metodologia utilizada no presente trabalho foi desenvolvida por Copeland e Antikarov

(2002) e posteriormente adaptada por Brandão, Hahn &Dyer (2005), e consiste na

combinação das diversas incertezas das variáveis do projeto em uma, a volatilidade da taxa de

retorno do projeto. As premissas utilizadas por esta metodologia são as seguintes:

• Market Asset Disclaimer – Negação do Ativo Negociado: Utiliza o Valor Presente do Ativo

Subjacente sujeito a risco sem flexibilidade, como se fosse um título negociado no mercado.

• Teorema de Paul Samuelson - Os preços (ou os fluxos de caixa) antecipados de maneira

adequada, flutuam de forma aleatória. A implicação é que qualquer que seja o padrão de

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fluxos de caixa que se espera que o projeto venha a ter, as variações de seu valor presente

seguirão um caminho aleatório.

Brandão, Hahn &Dyer (2005) demonstraram que para obter o valor correto da volatilidade de

um VP de projeto, deve‐se proceder da seguinte forma: modela‐se normalmente as variáveis

estocásticas no período 1 do projeto (∆t = 1), considerando o comportamento variável

estocástico desta e a partir dos períodos subsequentes, essas mesmas variáveis terão um

comportamento determinístico, seguindo a variação simulada em ∆t=1;

A razão para isso está em que simular períodos posteriores a 1 iria agregar volatilidade futura

ao VP0.

A seguinte relação converte valores presentes em taxas de retorno:

VP = VP0 ert => ln (VPt /VP0 ) = rt (15)

A variável de previsão que interessa é Z, cuja distribuição será simulada através do método de

Monte Carlo, através de sucessivas extrações aleatórias de estimativas de VP em t=1, fixando-

se VPo (constante).

Z = ln (VP1/VP0) (16)

O desvio padrão dessas taxas de retorno será utilizado como volatilidade do projeto e servirá

para a posterior construção da árvore de eventos.

A variável de incerteza do fluxo de caixa projetado do empreendimento de geração de energia

será tarifa da energia, com o intuito de se verificar através de uma análise de sensibilidade o

impacto no valor presente no projeto.

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Felipetto (2005) realizou um estudo de análise de sensibilidade das variáveis que compõem o

fluxo de caixa de uma usina de geração de energia a partir de biogás e concluiu que a variável

que mais influencia o retorno do projeto é o Preço de Energia, seguido da variável Lo (input

do modelo USEPA de cálculo da quantidade de biogás gerada).

Para a aplicação da metodologia acima descrita foi utilizado o programa computacional @

Risk e foram simuladas 10.000 iterações com variações de preço de energia e o respectivo

impacto no Valor presente do projeto e na taxa de retorno. Para a simulação foi considerado

que o preço de energia apresenta distribuição log-normal, média R$ 210,00/MWh (valor

projetado no cenário base sem flexibilidade) e volatilidade igual a 13%, de acordo com a série

histórica de tarifa média mensal de energia elétrica por MWh referente ao consumo industrial

coletada pelo IPEADATA

Após a realização da simulação, obteve-se o desvio padrão do valor presente do projeto é de

aproximadamente 15,13% que representa a volatilidade única do projeto.

5.5.1 MONTAGEM DA ÁRVORE DE EVENTOS E ÁRVORE DE DECISÃO POR MÓDULO GERADOR DE ENERGIA

Para a construção da árvore de decisão foi necessária a análise do valor presente de um único

motor de geração de energia, de forma a verificar qual seria o valor presente adicionado ao

projeto a partir da implantação de cada novo módulo de geração de energia de forma

independente.

Neste sentido, foi construído o fluxo de caixa da firma para um único módulo de geração de

energia com potência de 1.025 KW e utilizando as mesmas premissas anteriormente descritas.

Verificou-se que um módulo gerador de energia operando ininterruptamente por 16 anos

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apresenta valor presente dos fluxos de R$ 6,3 milhões e VPL de R$ 2,9 milhões, conforme

fluxo de caixa sintético apresentado a seguir.

ANO 1 ANO 2 ANO 5 ANO 10 ANO 15 ANO 16

2013E 2014E 2017E 2022E 2027E 2028E

RECEITA BRUTA - 1.612.179 1.612.179 1.612.179 1.612.179 1.612.179

IMPOSTOS PIS COFINS (LUCRO

PRESUMIDO) - (58.845) (58.845) (58.845) (58.845) (58.845)

ICMS

(290.192) (290.192) (290.192) (290.192) (290.192) ROL - 1.263.143 1.263.143 1.263.143 1.263.143 1.263.143

CSP + DESPESAS (incluindo depreciacao)

(521.179) (521.179) (521.179) (521.179) (521.179)

RESULTADO BRUTO - 741.963 741.963 741.963 741.963 741.963

(+) Depreciação

244.806 244.806 244.806 244.806 244.806

(-) Impostos - (252.268) (252.268) (252.268) (252.268) (252.268)

(-) Investimentos (3.672.084)

(=) Fluxo de Caixa Firma

(3.672.084) 734.501 734.501 734.501 734.501 734.501

Tabela 11 – Fluxo de Caixa de cada módulo gerador de energia separadamente

Conforme anteriormente explicitado, o tempo de operação médio de cada motor gerador de

energia é de 16 anos, de tal sorte que para o cálculo do VPL de cada módulo foram

considerados os fluxos de caixa decorrentes de 16 anos de operação.

Passo 1: Montagem da Árvore de eventos

Dada a volatilidade dos retornos do projeto de 15,13% anteriormente calculada, procede-se

com a construção da árvore binomial de eventos, através do cálculo dos fatores

multiplicativos de movimentos ascendentes e descendentes e das probabilidades, conforme

fórmulas a seguir:

teu ∆= σ ted ∆−= σ )(

)1(

du

dRfp

−−+= (17)

Para obter a taxa livre de risco Rf em termos reais, utilizou-se a média aritmética do retorno,

para o período de 10 anos entre 2002 e 2012, dos títulos do Tesouro Americano (Treasury

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Bonds), no valor de 5,64% descontado pela média da inflação norte americana (2,34%),

resultando em um Rf = 3,22% real.

Foram obtidos os seguintes valores para os parâmetros de construção da árvore de eventos:

u = 1,16 d= 1/u = 0,86 p= 56,83%

Os modelos matemáticos utilizados para mensurar o valor de opções reais de expansão em

geral utilizam o desconto dos dividendos na montagem da árvore de eventos. No entanto, tal

metodologia somente se aplica quando existem expansões sequenciais dependentes e

complementares, de tal sorte que quando o investidor exerce a opção por aguardar para

realizar o investimento no futuro, ele abre mão de um fluxo de caixa que seria gerado pelo

empreendimento na forma de dividendos.

No entanto, no presente trabalho está sendo analisada a opção de diferimento de cada motor,

de tal forma que o valor total da opção real atinente à Usina de Geração de energia

corresponde à composição das opções de diferimento, as quais não são dependentes, uma vez

que cada motor depende somente das condições econômicas de rentabilidade e da

disponibilidade de biogás, condição de contorno, para entrar em operação, não estando

condicionado à operação dos demais motores. Neste sentido, não faz sentido aplicar o

desconto de dividendos na montagem da árvore de eventos de cada motor.

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t = 0 t = 1 t = 2 t = 15

61.198.452

45.219.205

8.561.042 33.412.226

7.358.984 24.688.114

6.325.708 6.325.708 .. .. .. . .. . .. .18.241.914

5.437.514 13.478.851

4.674.031 9.959.450

7.358.984

5.437.514

4.017.749

2.968.693

2.193.551

1.620.803

1.197.603

884.902

Figura 22- Árvore de Eventos do VP do Módulo Gerador de Energia

Passo 2: Montagem da Árvore de decisão

Nesta etapa será modelada a opção real do projeto, o valor de exercício e o momento de

exercício. Como anteriormente visto, o projeto de geração de energia elétrica possui um VPL

positivo na avaliação tradicional, isto é, pelo FCD. Porém, esta viabilidade pode ser majorada

a qualquer momento no futuro por mudanças nos preços da energia, de tal sorte que a opção

proporciona a expansão sequencial dos módulos de geração de energia vis-à-vis os preços da

energia. Neste sentido, pensando-se no projeto específico de energia, a opção aplicável é a de

diferimento (timing), isto é, a opção de adiar o investimento até que se atinjam condições

específicas, que é classicamente utilizada em projetos de exploração de recursos naturais.

Para a construção da árvore de eventos foram utilizadas as seguintes premissas e condições de

contorno da modelagem:

i) Um novo módulo gerador só pode ser adicionado à usina de geração se houver

quantidade de gás captado suficiente para utilizar 100% da capacidade de geração deste

motor, ou seja, para cada novo motor deve haver um fluxo de biogás mínimo de 596 m3/hora

disponível para ser queimado.

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ii) Vários motores podem ser inseridos simultaneamente, caso haja disponibilidade de

biogás, uma vez que a decisão por implantar ou adiar a implantação de cada módulo gerador é

independente das decisões anteriores.

Regra de decisão e valor do projeto em cada nó

A opção de expansão será exercida caso a conjuntura de preços justifique o investimento no

projeto, isto é, caso o Valor Presente dos fluxos de caixa for maior que o valor do

investimento necessário, ou seja, quando o VPL do nó > 0. Utilizando o enfoque da opção de

diferimento, caso o VPL < 0, o projeto será adiado, isto é, a opção de diferimento será

exercida. Conforme anteriormente explicitado, o investimento inicial necessário para a

implantação de um módulo gerador é de R$ 3.672.084,27 (no Ano 1).

Isto posto, o valor da opção diferimento pode então ser obtido diretamente pela simulação

neutra ao risco dos fluxos incrementais obtidos pelo exercício do direito de não investir em

casos de VPL negativo. Em cada nó da árvore de decisão é aplicada a seguinte maximização:

Para t=15:

VPLt = Máximo (VP-CAPEX;0)

Para 0< t < 15:

VPLt = Maximo (VPt-CAPEXt; (((Dividendos + VP+t-1) X p + (Dividendos + VP-t-1 ) X (1-

p))/(1+Rf)) – Decisão entre investir em t ou aguardar para investir em t+1.

Onde:

P = probabilidade do nó superior na árvore de eventos

Na Figura 22 é apresentada a árvore de decisão resumida com as possibilidades de exercício

para o caso de implantação apenas de 1 motor e a Figura 23 detalha a árvore de entrada dos

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motores, que reflete a composição do exercício das opções de expansão de cada motor. As

árvores de decisão de todos os 6 motores que compõe a Usina são apresentadas no Anexo A.

Os valores em cada nó da árvore representam os valores presentes expandidos de cada motor

considerando o exercício das flexibilidades gerencias de adiamento vis-à-vis os preços de

energia vigentes.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

2.667.580 3.567.011 4.646.967 5.787.438 7.139.335 8.738.850 10.628.195 12.856.595 15.481.439 18.569.622 22.199.109 26.460.747 31.460.385 37.321.332 44.187.220 52.225.339

1.682.724 2.411.633 3.186.972 4.114.094 5.219.449 6.533.915 8.093.533 9.940.351 12.123.422 14.699.950 17.736.634 21.311.226 25.514.353 30.451.623 36.246.093

848.853 1.267.938 1.878.760 2.618.983 3.508.674 4.574.132 5.846.072 7.360.360 9.158.863 11.290.434 13.812.068 16.790.240 20.302.465 24.439.114

360.572 558.556 858.366 1.307.716 1.973.665 2.820.831 3.840.959 5.064.583 6.527.372 8.270.980 10.344.040 12.803.307 15.715.001

126.884 205.612 330.962 528.742 837.587 1.314.145 2.039.342 3.007.971 4.176.701 5.580.978 7.262.219 9.268.801

32.726 55.965 95.333 161.682 272.823 457.671 762.496 1.259.992 2.061.577 3.167.939 4.505.739

4.582 8.322 15.117 27.460 49.879 90.602 164.573 298.938 543.005 986.338

0 0 0 0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0

0 0 0 0

0 0 0

0 0

0

Aguarda para implantar o motor Implanta o motor

Período possível de implantação do motor

Figura 23 - Árvore de decisão e curva de gatilho do Motor 1

ANO 0 ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5 ANO 6 ANO 7 ANO 8 ANO 9 ANO 10 ANO 11 ANO 12 ANO 13 ANO 14 ANO 15 ANO 16

0 0 0 1 1 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 6 6

0 1 1 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 6 6

0 0 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 6 6

0 0 0 0 3 4 4 4 5 5 5 6 6

0 0 0 0 0 0 4 5 5 5 6 6

0 0 0 0 0 0 0 0 5 6 6

0 0 0 0 0 0 0 0 0 6

0 0 0 0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0

0 0 0 0

0 0 0

0 0

0

Figura 24 - Árvore de decisão consolidada com as opções de expansão dos 6 motores

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Passo 4: Valor da opção de adiamento e expansão sequencial independente

De posse dos fluxos incrementais estimados na árvore de decisão, descontando esses a uma

taxa livre de risco Rf = 3,22% a.a., foram obtidos os seguintes valores de VPL para Opção de

Diferimento de acordo com o número de motores:

Número de Motores

Contribuição para o VPL expandido da

opção de investir/diferir cada motor

1 2.667.580 2 2.495.936 3 2.417.283 4 2.207.204 5 2.018.237 6 1.837.073

TOTAL 13.643.312

Tabela 12 - VPL expandido da Usina de Geração de energia

Verifica-se que o valor da opção de expansão/diferimento é decrescente para cada motor

adicional, uma vez que os motores que são adicionados mais tardiamente possuem menos

flexibilidade de aguardar para realizar o investimento no futuro.

Analisando o caso de implantação da usina de geração de energia, a qual suporta a instalação

6 módulos (motores) geradores, verifica-se que as opções são responsáveis por um incremento

de aproximadamente R$ 8,8 milhões no VPL em relação ao caso base (modelo de VPL

estático da usina) conforme tabela abaixo. As árvores de decisão contendo os passos adotados

para o cálculo do valor da opção de diferimento supondo que os preços de energia seguem o

MGB estão disponibilizadas no ANEXO A.

Valor Incremental da Opção Real

VPL Estático aterro sanitário 2.067.302 VPL Estático usina de biogás 4.779.977 VPL Expandido usina de biogás 13.643.312 Valor da Opção Real 8.863.335

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Portanto verifica-se que grande parte do valor decorrente do investimento na implantação da

usina de geração de biogás decorre da opção de poder diferir o investimento ao longo do

tempo vis-à-vis o preço da energia vigente em cada momento e da opção de poder expandir de

forma sequencial e não dependente o negócio de geração de energia, uma vez que o

investimento é modular.

Cabe esclarecer por último que o VPL apurado para o caso de implantação do aterro sanitário

considera todo o investimento necessário para captura do biogás, através da implantação de

drenos verticais e horizontais, bem como toda o dispêndio necessário para implantação da

estrutura de pontos de controle, o que contribuiu para que este VPL fosse menor do que o da

Usina de Geração de Energia.

5.6 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE

Nesta seção foi elaborada uma análise de sensibilidade para verificar o impacto no valor da

opção de adiar, com possibilidade de não entrada, e no valor do VPL estático da usina, de

alterações nos valores do preço de energia.

Felipetto (2005) também realizou análise de sensibilidade similar para diversas variáveis do

modelo econômico financeiro da usina de geração de energia a partir de biogás e verificou

que a variável que mais influencia o retorno do projeto é o Preço de Energia.

Para verificar o impacto no VPL e no VPL expandido de alterações no preço de energia, todas

as demais variáveis do modelo econômico financeiro foram mantidas constantes (coeteris

paribus).

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O gráfico a seguir apresenta a relação entre preço da energia, o valor da opção de adiamento e

o VPL estático da usina.

Figura 25: Sensibilidade do VPL e do VPL expandido X Preço da Energia Elétrica

Verifica-se que quanto maior o preço da energia (R$/MWh), maior o valor do VPL estático e

o valor da opção de adiamento da entrada em operação dos motores.

O break even point da usina de geração de energia é alcançado com o preço da energia

elétrica de aproximadamente R$ 180,00, valor este que coaduna com as premissas financeiras

utilizadas pelo setor de gestão de RSU para viabilidade de projetos de geração de energia a

partir de biogás.

De forma similar foi elaborada também uma análise de sensibilidade do valor da opção real

em face de alterações na volatilidade do valor presente do projeto. Conforme esperado,

verificou-se que o aumento na volatilidade dos retornos do projeto ocasiona aumento no valor

da opção de postergá-lo. O gráfico abaixo apresenta a relação entre a volatilidade do projeto e

o valor da opção de adiamento:

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90

Figura 26: Sensibilidade do Valor da Opção x Volatilidade

As análises de sensibilidade realizada apresenta consistência com a Teoria de Opções Reais,

de forma que o valor da opção cresce junto com aumento da volatilidade do retorno do

projeto.

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91

6 CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como objetivo fazer uma análise pelo Fluxo de Caixa Descontado

(FCD) e pela teoria de opções reais de uma usina de geração de energia a partir do biogás,

incorporando as flexibilidades gerenciais ao longo do tempo e as incertezas inerentes ao setor

de RSU, ao setor elétrico e ao projeto de geração de energia a partir do biogás de aterro

sanitário.

Além da análise do aproveitamento do biogás para geração de energia, outra questão abordada

foi o impacto no valor do projeto do aumento da capacidade de processamento pode ser

efetuado de forma escalonada, criando a flexibilidade de escolha do modo economicamente

mais rentável para utilização do biogás.

Adicionalmente aos evidentes benefícios ambientais gerados, os projetos de tratamento de

resíduos sólidos urbanos podem propiciar uma interessante contribuição para produção de

energia pela queima adequada do biogás gerado em aterros sanitários. A análise estática do

VPL gerado pela produção de energia (R$ 4,8 milhões) aponta um acréscimo considerável no

VPL do aterro sanitário. No entanto, as decisões de investimento em projetos de produção de

energia utilizando o biogás gerado em aterros sanitários são tomadas em um ambiente de

incerteza, onde a volatilidade da tarifa de energia tem a capacidade de alterar

significativamente o desempenho econômico dos projetos neste setor. Essas incertezas

combinadas com a flexibilidade de adiar e investir no aumento da produção de energia

somente quando as condições forem auspiciosas geram importantes e valiosas opções reais

como demonstrado no presente trabalho.

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No caso hipotético, baseado em informações de empresas reais atuantes no setor, essa opção

teria a capacidade de aumentar em mais de 100% o VPL estático da geração de energia.

Cabe ressalvar, no entanto, algumas limitações que podem ter majorado o valor do VPL da

Usina e da opção real atinente à implantação sequencial dos motores, A primeira ressalva diz

respeito ao fato do processo MGB apresentar crescimento exponencial do seu valor esperado.

Outra simplificação adotada no modelo econômico financeiro foi a desconsideração dos

custos referentes à distribuição, transmissão e comercialização de energia tanto no caso base

da usina como no modelo com a flexibilidade gerencial incorporada.

Para estudos posteriores são sugeridos os seguintes aspectos: análise da opção de abandono e

redução de escala na produção de energia e o valor da opção de venda direta do biogás para

empresas situadas nas proximidades do aterro sanitário.

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ANEXO A – ÁRVORES DE DECISÃO DOS MOTORES E ÁRVORE CONSOLIDADA DA USINA Motor 1 – Árvore de decisão e Curva de Gatilho ` 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

2.667.580 3.567.011 4.646.967 5.787.438 7.139.335 8.738.850 10.628.195 12.856.595 15.481.439 18.569.622 22.199.109 26.460.747 31.460.385 37.321.332 44.187.220 52.225.339

1.682.724 2.411.633 3.186.972 4.114.094 5.219.449 6.533.915 8.093.533 9.940.351 12.123.422 14.699.950 17.736.634 21.311.226 25.514.353 30.451.623 36.246.093

848.853 1.267.938 1.878.760 2.618.983 3.508.674 4.574.132 5.846.072 7.360.360 9.158.863 11.290.434 13.812.068 16.790.240 20.302.465 24.439.114

360.572 558.556 858.366 1.307.716 1.973.665 2.820.831 3.840.959 5.064.583 6.527.372 8.270.980 10.344.040 12.803.307 15.715.001

126.884 205.612 330.962 528.742 837.587 1.314.145 2.039.342 3.007.971 4.176.701 5.580.978 7.262.219 9.268.801

32.726 55.965 95.333 161.682 272.823 457.671 762.496 1.259.992 2.061.577 3.167.939 4.505.739

4.582 8.322 15.117 27.460 49.879 90.602 164.573 298.938 543.005 986.338

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Motor 2 – Árvore de decisão e Curva de Gatilho

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

2.495.936 3.339.620 4.387.216 5.651.227 7.139.335 8.738.850 10.628.195 12.856.595 15.481.439 18.569.622 22.199.109 26.460.747 31.460.385 37.321.332 44.187.220 52.225.339

1.571.651 2.209.875 3.050.761 4.114.094 5.219.449 6.533.915 8.093.533 9.940.351 12.123.422 14.699.950 17.736.634 21.311.226 25.514.353 30.451.623 36.246.093

848.853 1.267.938 1.878.760 2.618.983 3.508.674 4.574.132 5.846.072 7.360.360 9.158.863 11.290.434 13.812.068 16.790.240 20.302.465 24.439.114

360.572 558.556 858.366 1.307.716 1.973.665 2.820.831 3.840.959 5.064.583 6.527.372 8.270.980 10.344.040 12.803.307 15.715.001

126.884 205.612 330.962 528.742 837.587 1.314.145 2.039.342 3.007.971 4.176.701 5.580.978 7.262.219 9.268.801

32.726 55.965 95.333 161.682 272.823 457.671 762.496 1.259.992 2.061.577 3.167.939 4.505.739

4.582 8.322 15.117 27.460 49.879 90.602 164.573 298.938 543.005 986.338

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Motor 3 – Árvore de decisão e Curva de Gatilho

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

2.417.283 3.237.668 4.262.717 5.510.570 6.994.148 8.738.850 10.628.195 12.856.595 15.481.439 18.569.622 22.199.109 26.460.747 31.460.385 37.321.332 44.187.220 52.225.339

1.517.798 2.129.993 2.938.246 3.968.907 5.219.449 6.533.915 8.093.533 9.940.351 12.123.422 14.699.950 17.736.634 21.311.226 25.514.353 30.451.623 36.246.093

825.242 1.225.050 1.800.854 2.618.983 3.508.674 4.574.132 5.846.072 7.360.360 9.158.863 11.290.434 13.812.068 16.790.240 20.302.465 24.439.114

360.572 558.556 858.366 1.307.716 1.973.665 2.820.831 3.840.959 5.064.583 6.527.372 8.270.980 10.344.040 12.803.307 15.715.001

126.884 205.612 330.962 528.742 837.587 1.314.145 2.039.342 3.007.971 4.176.701 5.580.978 7.262.219 9.268.801

32.726 55.965 95.333 161.682 272.823 457.671 762.496 1.259.992 2.061.577 3.167.939 4.505.739

4.582 8.322 15.117 27.460 49.879 90.602 164.573 298.938 543.005 986.338

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Motor 4 – Árvore de decisão e Curva de Gatilho

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

2.207.204 2.960.624 3.914.191 5.097.399 6.537.238 8.259.262 10.292.903 12.680.771 15.481.439 18.569.622 22.199.109 26.460.747 31.460.385 37.321.332 44.187.220 52.225.339

1.380.188 1.926.370 2.648.810 3.582.490 4.758.310 6.198.623 7.917.709 9.940.351 12.123.422 14.699.950 17.736.634 21.311.226 25.514.353 30.451.623 36.246.093

764.255 1.119.183 1.617.477 2.302.094 3.217.487 4.398.308 5.846.072 7.360.360 9.158.863 11.290.434 13.812.068 16.790.240 20.302.465 24.439.114

354.108 546.813 837.036 1.268.970 1.903.286 2.820.831 3.840.959 5.064.583 6.527.372 8.270.980 10.344.040 12.803.307 15.715.001

126.884 205.612 330.962 528.742 837.587 1.314.145 2.039.342 3.007.971 4.176.701 5.580.978 7.262.219 9.268.801

32.726 55.965 95.333 161.682 272.823 457.671 762.496 1.259.992 2.061.577 3.167.939 4.505.739

4.582 8.322 15.117 27.460 49.879 90.602 164.573 298.938 543.005 986.338

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0 Motor 5 – Árvore de decisão e Curva de Gatilho

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

2.018.237 2.712.922 3.599.743 4.712.828 6.086.500 7.754.757 9.752.331 12.118.102 14.900.652 18.163.579 21.986.184 26.460.747 31.460.385 37.321.332 44.187.220 52.225.339

1.254.434 1.748.045 2.403.203 3.256.324 4.344.721 5.703.961 7.365.906 9.359.564 11.717.379 14.487.025 17.736.634 21.311.226 25.514.353 30.451.623 36.246.093

698.313 1.016.115 1.459.581 2.066.666 2.879.760 3.941.961 5.291.263 6.954.317 8.945.938 11.290.434 13.812.068 16.790.240 20.302.465 24.439.114

332.111 508.220 769.409 1.150.628 1.696.494 2.460.043 3.497.024 4.851.658 6.527.372 8.270.980 10.344.040 12.803.307 15.715.001

125.090 202.353 325.043 517.990 818.057 1.278.669 1.974.902 3.007.971 4.176.701 5.580.978 7.262.219 9.268.801

32.726 55.965 95.333 161.682 272.823 457.671 762.496 1.259.992 2.061.577 3.167.939 4.505.739

4.582 8.322 15.117 27.460 49.879 90.602 164.573 298.938 543.005 986.338

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100

Motor 6 – Árvore de decisão e Curva de Gatilho

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

1.837.073 2.477.779 3.302.073 4.346.405 5.649.213 7.250.127 9.189.861 11.511.451 14.263.245 17.503.434 21.304.783 25.757.405 30.968.660 37.063.476 44.187.220 52.225.339

1.130.803 1.577.660 2.173.823 2.955.843 3.963.458 5.237.821 6.819.636 8.748.150 11.062.360 13.805.624 17.033.292 20.819.501 25.256.497 30.451.623 36.246.093

626.999 910.670 1.306.675 1.850.097 2.581.775 3.546.521 4.789.993 6.354.694 8.276.790 10.587.092 13.320.343 16.532.384 20.302.465 24.439.114

300.401 457.377 688.890 1.025.065 1.504.554 2.174.399 3.087.818 4.298.822 5.853.324 7.779.256 10.086.185 12.803.307 15.715.001

116.196 186.778 297.804 470.425 735.132 1.134.352 1.724.219 2.573.440 3.755.012 5.323.122 7.262.219 9.268.801

31.964 54.579 92.816 157.110 264.518 442.585 735.093 1.210.215 1.971.161 3.167.939 4.505.739

4.582 8.322 15.117 27.460 49.879 90.602 164.573 298.938 543.005 986.338

0 0 0 0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 0 0 0

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0 Árvore de decisão consolidada dos 6 motores ANO 0 ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5 ANO 6 ANO 7 ANO 8 ANO 9 ANO 10 ANO 11 ANO 12 ANO 13 ANO 14 ANO 15 ANO 16

0 0 1 1 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 5 6 6

1 1 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 5 6 6

0 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 5 6 6

0 0 0 3 4 4 4 5 5 5 5 6 6

0 0 0 0 0 0 5 5 5 5 6 6

0 0 0 0 0 0 0 5 5 6 6

0 0 0 0 0 0 0 0 0 6

0 0 0 0 0 0 0 0 0

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