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Aula 39. Tributário. Mauro Lopes. 301008. Intensivo MP\RJ Boa tarde. Eu estava refletindo sobre a aula, tentando lembrar que a gente tinha combinado alguma coisa, e eu não me lembro se eu perguntei a vocês, ninguém soube me dizer, então eu vou seguir a minha orientação. No meio da aula é que começaram a aprender um monte de sugestões e tal, acerca de temas e eu não me lembro se eu combinei com vocês, eu não me lembro se eu combinei com vocês algum tema, ou se o caso seria de seguir o que a gente estava vendo. Pelo visto vocês também não se lembram. Quem tem o material da aula passada, para eu saber o que eu estava falando, para eu recomeçar do ponto. A gente falou da anterioridade. A gente finalizou falando da anterioridade. Então vamos fazer o seguinte, vamos falar de IMUNIDADE TRIBUTÁRIA hoje. Um tema muito badalado, sempre presente nos concursos. Imunidade tributária. Bem, a imunidade tributária tem natureza jurídica de limitação constitucional do poder de tributar. Significa dizer que a imunidade é verdadeira limitação de competência. Onde houver imunidade, não haverá competência tributária. A imunidade não é um favor que a entidade tributante faz a pessoa imune. Não se trata de um favor fiscal. Deixar de tributar a situação imune é reconhecer a ausência de competência tributária. Ausência de poder de tributar. É muito importante entender isso para distinguir a imunidade da isenção. Não é a imunidade, repito, um favor fiscal da entidade tributante. A imunidade representa limitação do poder que a entidade tributante possui para realizar a tributação. Onde houver imunidade, não haverá competência. Disso resulta a tese necessariamente constitucional da imunidade. Por que a imunidade tributária necessariamente está na CR? Porque se trata de limitação de poder. Norma portanto que integra a estrutura fundamental do Estado. norma que integra a estrutura fundamental do Estado é aquela chamada norma materialmente constitucional. Ou seja, não está na CR por um capricho do constituinte. Está na CR porque tem matéria de CR. Já a isenção, ao contrário da imunidade, pressupõe competência tributária, porque se trata de um favor fiscal concedido pela entidade tributante. Então, a isenção resulta de discricionariedade do legislador da entidade tributante, alcançando hipótese que poderia ter sido tributada, e seria não fosse a norma de isenção. O legislador da entidade tributante, o legislador entende como por exemplo, a lei do imposto de renda, que confere isenção sobre rendimentos de aposentadoria e pensão auferidos por portadores de doenças graves, como cardiopatia grave, neoplasia maligna, mal de Parkinson, enfim,

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Aula 39. Tributário. Mauro Lopes. 301008. Intensivo MP\RJ

Boa tarde. Eu estava refletindo sobre a aula, tentando lembrar que a gente tinha

combinado alguma coisa, e eu não me lembro se eu perguntei a vocês, ninguém soube me

dizer, então eu vou seguir a minha orientação. No meio da aula é que começaram a aprender

um monte de sugestões e tal, acerca de temas e eu não me lembro se eu combinei com

vocês, eu não me lembro se eu combinei com vocês algum tema, ou se o caso seria de

seguir o que a gente estava vendo. Pelo visto vocês também não se lembram. Quem tem o

material da aula passada, para eu saber o que eu estava falando, para eu recomeçar do

ponto. A gente falou da anterioridade. A gente finalizou falando da anterioridade.

Então vamos fazer o seguinte, vamos falar de IMUNIDADE TRIBUTÁRIA hoje. Um

tema muito badalado, sempre presente nos concursos. Imunidade tributária.

Bem, a imunidade tributária tem natureza jurídica de limitação constitucional do poder

de tributar. Significa dizer que a imunidade é verdadeira limitação de competência. Onde

houver imunidade, não haverá competência tributária. A imunidade não é um favor que a

entidade tributante faz a pessoa imune. Não se trata de um favor fiscal. Deixar de tributar a

situação imune é reconhecer a ausência de competência tributária. Ausência de poder de

tributar. É muito importante entender isso para distinguir a imunidade da isenção. Não é a

imunidade, repito, um favor fiscal da entidade tributante. A imunidade representa limitação

do poder que a entidade tributante possui para realizar a tributação. Onde houver imunidade,

não haverá competência. Disso resulta a tese necessariamente constitucional da imunidade.

Por que a imunidade tributária necessariamente está na CR? Porque se trata de limitação de

poder. Norma portanto que integra a estrutura fundamental do Estado. norma que integra a

estrutura fundamental do Estado é aquela chamada norma materialmente constitucional. Ou

seja, não está na CR por um capricho do constituinte. Está na CR porque tem matéria de CR.

Já a isenção, ao contrário da imunidade, pressupõe competência tributária, porque se trata

de um favor fiscal concedido pela entidade tributante.

Então, a isenção resulta de discricionariedade do legislador da entidade tributante,

alcançando hipótese que poderia ter sido tributada, e seria não fosse a norma de isenção. O

legislador da entidade tributante, o legislador entende como por exemplo, a lei do imposto

de renda, que confere isenção sobre rendimentos de aposentadoria e pensão auferidos por

portadores de doenças graves, como cardiopatia grave, neoplasia maligna, mal de Parkinson,

enfim, tem lá arroladas as doenças que conferem ao portador isenção do imposto de renda

no tocante aos proventos de aposentadoria e pensão. Essas pessoas poderiam ser tributadas

porque a CR não consagra a imunidade aos portadores de doenças graves. Mas o legislador

federal discricionariamente (aliás se diz que o legislador tem discricionariedade natural na

atividade legislativa) entendeu por bem isentá-los. Não se pode afastar a competência

tributária, até porque amanhã o legislador pode mudar de idéia e revogar essa isenção, e

passar a tributar os portadores de doenças graves. Então a isenção não afeta a competência.

Ao contrário, pressupõe a competência tributária, pois só se isenta o que se pode tributar.

Esse é o motivo pelo qual a isenção estará sempre presente na lei da entidade tributante.

Trata-se de um favor fiscal em situação em que o legislador poderia tributar, mas opta por

isentar. Já no caso da imunidade não é um favor da entidade tributante. Por quê? Porque a

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imunidade suprime a própria competência tributária, o próprio poder de tributar. Entenderam

o motivo pelo qual a imunidade estará sempre na CR e a isenção na lei?

Pergunta: Inaudível.

Resposta: Claro. A isenção pode ser setorial, pode ser regional, pode ser pessoal,

certo? A isenção tem que ser interpretada como uma norma excepcional. A regra é que

ocorrido o fato gerador, nascida a obrigação, seja o contribuinte chamado a recolher o

tributo. Excepcionalmente, ocorrido o fato gerador, o contribuinte não é chamado a recolher

o tributo, por força da norma isencional, que é portanto excepcional. A exceção pode ou não

se justificar, em função dos critérios eleitos pelo legislador. Esses critérios formam o

chamado discriminem, que é o critério de discriminação eleito pelo legislador para beneficiar

determinada categoria de contribuintes.

Então, é evidente que sendo norma excepcional, vai alcançar apenas uma fração do

número de contribuintes. Ora, saber que fração é essa, é identificar o discriminem, os

critérios de discriminação. Pode ser a localização, pode ser a atividade profissional, pode ser

uma condição de saúde, pode ser a renda auferida por cada um deles. Então vários são os

critérios que podem ser eleitos. O importante é que se verifique uma compatibilidade entre o

critério de discriminação e a finalidade da norma que o tenha eleito. Se houver uma

compatibilidade entre o critério de discriminação e a finalidade da norma, naturalmente o

benefício será válido. Se houver uma incompatibilidade, é porque o benefício é odioso. É

porque se trata de um benefício que viola o princípio da igualdade, da isonomia, e portanto

será excepcionado.

Pergunta: Inaudível.

Resposta: diz ela que caiu no MP se a Constituição Estadual pode prever a imunidade?

O que vocês acham? Vejam, a Constituição Estadual, é norma organizacional do Estado,

correto? O Estado pode se comprometer a não tributar determinadas situações, através da

sua Constituição. Agora, essa norma terá natureza de imunidade, natureza jurídica de

imunidade? Eu entendo que não. por quê? Repito, imunidade é norma materialmente

constitucional. Quando a gente fala em norma materialmente constitucional, porque integra

a estrutura fundamental do Estado, a gente está se referindo a CRFB. Do ponto de vista

prático, pode o Estado se comprometer a não tributar determinadas situações, embora na

minha visão, seja imprópria a inclusão dessa norma na Constituição. Por quê?

Porque o texto constitucional, da CR, ao tratar da isenção no art.150 &6º, exige que ela

seja veiculada por lei específica. O art.150 &6º da nossa CR estabelece como exigência para

a concessão de isenção, a sua previsão em lei específica, e a Constituição Estadual não é lei

específica.

Então eu considero imprópria, até mesmo a pretexto de isenção, essa previsão no

texto constitucional.

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Pergunta: Nem por simetria?

Resposta: Veja bem, você está voltando para a questão da imunidade? Veja bem, a

simetria pressupõe determinadas previsões contidas na CRFB relacionadas à União, e que

podem ser atribuídas também a Estados e Municípios, nas correlatas normas organizacionais,

Constituição e Leis Orgânicas. Exemplo, a medida provisória. A medida provisória é deferida

ao Presidente da República na CR. Por simetria, o STF admite que a Constituição Estadual

também permita que os Governadores editem medidas provisórias e as leis orgânicas dos

Municípios também autorizem os prefeitos a editarem as medidas provisórias, porque a CR

tratou apenas do chefe do Executivo Federal, do Presidente. Certo?

Então aí a simetria se justifica para autorizar que a Constituição Estadual e a Lei

Orgânica Municipal permitam. Agora, no plano da imunidade, não há como se valer do

argumento da simetria, por quê? Porque as imunidades previstas no texto constitucional não

estão relacionadas com tributos federais exclusivamente. Estão relacionados a todos os

tributos. Nós vamos ver, há imunidade quanto a impostos estaduais, especificamente;

quanto a impostos municipais; há imunidade quanto a impostos em geral. Então não há que

se falar em simetria porque aqui a própria CR tratou de impedir a incidência de tributos,

muitas vezes, genericamente considerados, a determinadas situações. Então o próprio

constituinte já tratou das imunidades estaduais a serem observadas pelos Estados e

Municípios. Além disso, a imunidade excepciona a regra constitucional de repartição do

poder de tributar. Quem reparte o poder de tributar é o texto constitucional, como

decorrência da criação de uma Federação. Não se pode criar uma federação que é concebida

através de características básicas, dentre as quais, a autonomia dos entes da federação, sem

atribuir a esses entes federativos, capacidade arrecadatória, porque ninguém tem efetiva

autonomia se não puder arrecadar, se não puder legislar para gerar receita própria. Não é

isso que um pai sempre diz para um filho? Enquanto você viver debaixo do meu teto,

sustentado por mim, terá que obedecer aos meus comandos. Não é isso?

Pois bem, a entidade federativa é mais ou menos isso. Você cria uma entidade, e

torna-a dependente de repasses alheios para sobreviver, ela não tem efetiva autonomia. Por

isso é que eu digo, o poder de tributar repartido, que é na verdade competência tributária, é

instituto de CR, necessariamente. Não pode a CR criar uma federação, dizer que está criando

uma federação, e se negar a repartir o poder de tributar, porque a federação é caracterizada

pela descentralização política. A imunidade segue essa trilha, porque ela excepciona as

regras de competência, muitas vezes em função de direitos fundamentais, como a imunidade

dos templos, que protege a liberdade de credo, a imunidade recíproca que protege a própria

autonomia dos entes da federação, de maneira que é norma materialmente constitucional.

Não há como conceber que o Estado, na sua norma organizacional possa ampliar o conteúdo

da imunidade. Até porque muitas dessas imunidades são cláusulas pétreas, porque

consagram direitos fundamentais. Então o máximo que o Estado poderia é se comprometer a

não tributar determinadas situações, mas mudando de idéia, com um quórum adequado,

revogaria a previsão da Constituição, e passaria a tributar novamente. Ora, se se tratasse de

imunidade propriamente dita, não caberia essa revogação, porque são cláusulas pétreas, a

prever essa imunidade. São verdadeiras garantias individuais dos contribuintes,

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especialmente quando tutelam direitos fundamentais. Então, eu responderia dessa maneira.

O Estado pode até se comprometer a não tributar, não tem problema nenhum, ele tem

autonomia para isso, mas não é tecnicamente isso uma imunidade, porque a imunidade

decorre de norma materialmente constitucional.

Agora, não me pergunte qual foi a resposta da banca examinadora, porque eu não sei.

Pergunta: Inaudível.

Resposta: que não são taxativas? É, mas aí são garantias implícitas, tipo o princípio da

tipicidade, segurança jurídica. Aquelas que dependem especificamente de norma

reconhecendo, me parece que em termos de imunidade, não poderiam ser criadas. O que

pode haver, repito, é uma garantia que não tenha natureza de imunidade. Então veja bem,

eu não nego a eficácia da disposição da Constituição Estadual, eu nego a natureza jurídica de

imunidade. Entendeu?

Agora, isso me leva a dizer uma coisa para vocês, imunidade não é um termo que o

constituinte usa. Isso é mais um problema para essa resposta. Você não vai encontrar na CR

esse termo, imunidade. Imunidade é terminologia doutrinária. E para agravar ainda mais

essa resposta, há autores como o Ricardo Lobo Torres que defendem que essa expressão

imunidade está necessariamente reservada às intributabilidades relacionadas a direitos

humanos. Intributabilidades estabelecidas na CR, mas com propósitos exclusivamente de

desenvolvimento econômico, conjunturais, não teriam, não mereciam o termo imunidades.

Seriam meras não incidências qualificadas pela CR.

Então vejam, ele defende que imunidade você só pode usar, por exemplo, para

qualificar a intributabilidade dos templos, a intributabilidade dos livros, jornal, periódico, ou

papel destinado a sua impressão, a intributabilidade das entidades da federação, se bem que

ali está mais relacionado ao pacto federativo, nesse último caso. Enfim, aquelas que tenham

por escopo tutelar um direito fundamental do cidadão. Na verdade é uma visão humanística

do direito tributário. Talvez, uma visão histórica mostrando que o termo imunidade foi

concebido após, no pós- revolução francesa, para tutelar esse tipo de liberdade individual. E

portanto, não seria propriamente imunidade a previsão constitucional que afasta a incidência

de IPI nas exportações de produtos industrializados de investimento para o exterior. Por quê?

Porque quando a União, quando a Constituição impede a União de cobrar IPI sobre o produto

industrializado de exportação, ela não está tutelando nenhum direito fundamental. Ela está

simplesmente tutelando uma opção econômica, porque interessa ao país que o produto

exportado chegue lá fora com um preço competitivo. É uma espécie de subsídio à

exportação. Deixa de ser exigido o IPI para desonerar o industrial que vai exportar a sua

produção, de maneira que o produto brasileiro ganhe competitividade, e com isso o capital

internacional não especulativo ingresse com o equilíbrio da balança comercial brasileiro. Não

seria isso uma imunidade porque não é nenhum direito fundamental relacionado a essa

garantia, simplesmente uma opção econômica. Então, seria uma não incidência qualificada

pela CR, pura e simplesmente. E a pergunta ainda falava em imunidade né. Ora, direito

fundamental é tutelado na CR.

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Agora, olha aqui, essa doutrina que restringe o termo imunidade a essas

intributabilidades relacionadas a direitos humanos não foi acolhida pelo STF, embora

também isso não tenha sido prático né. O STF dá o nome de imunidade nos seus votos, os

ministros, nas ementas, a qualquer limitação de competência estabelecida no texto

constitucional, qualquer que seja ela, seja por opção econômica, seja para tutelar direitos

fundamentais, o STF trata como imunidade.

Então na dicção do nosso Tribunal máximo, essa distinção terminológica não é

adotada.

Pergunta: Inaudível.

Resposta: Perfeito. Veja bem, eu até concordo com você, mas essa repetição é

despicienda, absolutamente desnecessária. Ela é feita. Se você abrir a Constituição Estadual,

estão repetidas lá as imunidades previstas na CR, apenas para fins didáticos. Para não ter

que abrir as duas Constituições, quando for tratar de direito tributário, você abre só a

Constituição Estadual, e está repetida. Mas não é essa a pergunta, porque pela pergunta, é

para criar novas imunidades. Entendeu? Porque para repetir ela não está criando nada, ela

está só repetindo. Aliás, se você abrir um regulamento por exemplo do IPTU, do ISS, está

tudo repetido também, e o regulamento não está criando imunidade, ele está só

reproduzindo toda a base normativa, e esmiuçando essa base para evitar de você ter que

trabalhar com o regulamento, com a lei e com a CR. Trabalha só com o regulamento, que

está tudo repetido ali. Certo?

Bem, as imunidades podem ser genéricas ou específicas. As mais badaladas, as mais

importantes, são as imunidades genéricas, porque genéricas? Porque elas alcançam

impostos em geral. Já as específicas, também chamadas de extravagantes, atuam no campo

de incidência de determinados impostos. Então, quando a CR diz, é vedado fazer recair

impostos sobre templos. É uma imunidade genérica, a gente vai ver. Qualquer imposto está,

encontra no templo, obstáculo para a sua incidência, seja federal, estadual ou municipal.

Agora quando a CR diz que não incidirá IPI sobre produtos industrializados de

exportação, destinados à exportação, é uma imunidade específica ou extravagante, porque

específica para o campo de incidência do IPI. Nós vamos ver quais são elas todas aí, a parir

de agora.

Para finalizar, fechar essa introdução, detalhe: A CR ao tratar da imunidade, não usa a

expressão imunidade, como nós já vimos. Por outro lado, não usa uma expressão única. A CR

coloca barreiras à incidência de tributos de diversas formas, com diversas terminologias, com

diversas expressões. Eu vou exemplificar algumas para vocês do próprio texto constitucional.

Quando trata das imunidades genéricas, que são as mais importantes, no art.150, VI, a CR

diz que é vedado instituir impostos sobre. Então, ele está excepcionando a competência das

entidades tributantes com essa frase, “é vedado instituir impostos sobre”. E a gente extrai

daí a imunidade. No entanto, naquele caso do IPI, lá no art.153 &3º, III, a expressão já é

outra. Art.153 &3º, III. O imposto previsto no inciso IV, que é o IPI, não incidirá sobre produtos

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industrializados destinados ao exterior. Não incidirá. É vedado instituir impostos e agora o

não incidirá. Outra imunidade vazada em diferentes termos.

Mais uma, art.195 &7º. São isentas de contribuição para a seguridade social, as

entidades beneficentes de assistência social que atendam as exigências estabelecidas em

lei. São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes. Isso é

imunidade. “Ah, mas a CR diz que são isentas”. Mas a CR diz que são isentas sem nenhuma

preocupação com o sentido técnico da expressão isenta. Até porque a CR não é feita para o

jurista, é feita para o povo. Quando ela diz que são isentas, ela está dizendo que são livres,

desoneradas, não incidirá contribuição quando o contribuinte for uma entidade beneficente

de assistência social. Entenderam? Então são isentas, leia-se, são imunes, não incidirá- é

uma outra expressão. Agora, para finalizar, um último exemplo. Art.5º, LXXVII da CR.

Olha o que está lá, são gratuitas as ações de HC e Habeas Data. São gratuitas as ações

de HC e HD. São gratuitas quer dizer o que? Que quem ingressar com HC ou com HD, não

pode ser obrigado a pagar nada por isso. Ora, o que se paga normalmente quando se

ingressa com uma ação judicial? Taxa judiciária. “São gratuitas” significa imunidade às taxas.

Haverá imunidade quanto às taxas, no caso de HC e HD. Entenderam? Na expressão “são

gratuitas”, você encontra implícita aí a previsão da imunidade.

Então, não é um padrão. O constituinte cria a imunidade se valendo de terminologias

distintas. Cabe ao interprete, até porque a imunidade é uma terminologia doutrinária, uma

concepção doutrinária, cabe ao interprete analisando o texto constitucional extrair da sua

previsão, uma exceção à regra de competência, e por isso qualificá-la como o STF faz, como

imunidade tributária. Entenderam?

Vamos então conhecer as imunidades genéricas, que são as mais importantes. Abram

o inciso VI do art.150 da CR.

Pergunta: Então nos casos do art.195 e no caso do HC e HD, são imunidades

específicas?

Resposta: São específicas. A 1ª para a contribuição para seguridade social, e a 2ª, taxa

judiciária. Fiquem calmos porque isso é só a introdução. Eu vou falar para vocês das

imunidades genéricas, depois das específicas, e vocês vão conhecer todas elas.

Bom, a 1ª das imunidades genéricas é da alínea a do art.150, VI. É a chamada

imunidade recíproca. Diz lá a CR que é vedado a U-E-DF-M instituir impostos sobre

patrimônio, renda e serviços uns dos outros. A imunidade recíproca, já foi dita pelo STF, é

uma forma de expressão do pacto federativo. Por quê? Porque na verdade, ele tutela a

autonomia das entidades que compõem a Federação. Disso resulta que a imunidade

recíproca é cláusula pétrea. Conclusão do STF, com base no art.60 &4º, I que diz, não será

objeto de deliberação proposta de emenda tendente a abolir: I- a forma federativa de Estado.

Qualquer proposta de emenda que venha a minimizar o alcance da imunidade recíproca, será

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considerada tendente a abolir a própria Federação, e portanto incidirá no vício do art.60 &4º,

I.

Pergunta: Quando ela fala em impostos, é só impostos ou tributos em geral?

Resposta: Só impostos. Não se estende a imunidade recíproca a outros tributos que

não os impostos. Nada impede ao Município de cobrar por exemplo, taxa de lixo, de coleta de

lixo da União, pelo lixo que o Município recolhe através da Conlurb no prédio da justiça

federal. “ah, mas não cobra”. Se não cobra, não cobra por força de isenção, benefício contido

na sua própria lei. A União por exemplo, na lei que trata da taxa judiciária, a Lei. 9.289\96,

isenta entidades integrantes do Conselho de Fazenda Pública da taxa judiciária federal. Não

precisava, mas o legislador optou por isentar. Se amanhã mudar de idéia, revogará a isenção

e poderá cobrar taxa judiciária de entidades públicas. Por quê? Porque a imunidade recíproca

só alcança impostos. Muitas vezes, taxas e contribuições não são exigidas, mas não por força

de imunidade, e sim por benefícios isencionais. Certo?

A propósito, a CR fala em patrimônio, renda ou serviços. Certa vez a União tentou

cobrar IOF das aplicações financeiras realizadas pelos Municípios. A tese era a seguinte, o IOF

não é imposto que incida sobre patrimônio, renda ou serviço. É imposto sobre operação

financeira. Então se valeu de classificação que leva em conta as materialidades tributadas

para tentar viabilizar a tributação, mesmo prevendo a CR a imunidade recíproca. O STF

brecou essa tentativa. Diz o STF, não é válido adotar classificações que levam em conta as

materialidades para, com base nelas, fazer recair impostos sobre o argumento que não é

classificado imposto sobre o patrimônio, renda ou serviço. Até porque, diz o STF, quando

você cobra imposto da entidade federativa, você está sacrificando o patrimônio dela, em

última análise. Então, impostos em geral. Embora a CR tenha dito patrimônio, renda ou

serviço, a interpretação do STF é essa, impostos em geral. Dúvidas?

Pergunta: Você pode repetir por que não é válido a classificação que leva em conta a

materialidade?

Resposta: Não é válido classificar os impostos de acordo com materialidade para tentar

burlar a imunidade com base nessa classificação. A imunidade segundo o STF alcança

impostos em geral. Entenderam?

Pergunta: Inaudível.

Resposta: Vamos lá no art.13. Olha, veja bem, quando se tratar , se o serviço for

concedido, ele não se qualifica como público. Mas o problema não é esse. O problema é que

quando o serviço é concedido, muda o prestador. O prestador passa a ser quem? Uma outra

entidade que não a entidade imune. A imunidade aqui é pessoal, é da Fazenda Pública. O

problema do serviço não é bem esse, o problema do serviço é a contraprestação. É o que

está no &3º do art.150, que afasta a imunidade dos serviços remunerados por

contraprestação pelo usuário. Eu vou falar isso com vocês daqui a pouco então. Guarda essa

sua dúvida, que eu vou tentar solucioná-la no &3º do art.150.

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A imunidade recíproca só pode ser invocada pela Fazenda Pública quando ela seja a

indicada como sujeito passivo tributário. Não pode a Fazenda Pública pretender estender a

imunidade ao produtor ou comerciante no caso de IPI e ICMS, para evitar a incidência do

imposto sobre operação em que ela adquire bens. Não entenderam nada né?

Eu vou explicar melhor para vocês. Quando a Fazenda é a proprietária dos bens, não

pode recair imposto sobre esses bens. Quando ela presta serviço, não pode recair imposto

sobre o serviço. Quando ela aufere renda, não pode recair imposto sobre a renda. Mas e

quando ela adquire mercadoria? E quando ela é a compradora de uma mercadoria? Pode

incidir ICMS sobre essa operação? Pode. Por quê? Porque nesse caso, ela não é contribuinte.

Contribuinte é o comerciante. Qual é o interesse da Fazenda? Estender a imunidade dela ao

comerciante para que sobre aquela operação não recaia o tributo e assim, ela possa comprar

um produto mais barato. Porque a gente sabe que esses impostos são indiretos, se agregam

ao preço. Mas a União, quando compra produtos, quando compra mercadorias, é adquirente

como qualquer outra pessoa. Não há imunidade nessa operação. Por que não há imunidade

nessa operação? Porque nesse caso, ela não pode pretender estender uma imunidade que é

pessoal dela, para o comerciante ou produtor, para que ela sofra o efeito econômico dessa

imunidade. Isso está expresso na Súmula 591 do STF. A imunidade do comprador não se

estende ao produtor, contribuinte do IPI. Somente haveria imunidade se a União fosse a

produtora. Como a União não é a produtora (no caso não é a União, vamos dizer o Estado,

porque a União é o próprio ente tributante aqui), como o Estado não é o produtor, ele é o

comprador, ele não pode pretender que a sua imunidade se estenda ao produtor para que

naquela operação, haja um desconto de tributo. Entenderam?

O STF na Súmula 591 veda essa pretensão. Então só quem pode invocar a imunidade é

o contribuinte. Terceiro não pode estender ao contribuinte essa imunidade. Por outro lado,

vamos ver agora o outro lado da moeda, quando a entidade pública é proprietária de um

bem, esse bem não pode sofrer a incidência de IPTU. Vamos imaginar um imóvel, um imóvel

urbano, a União é proprietária de um imóvel. Não pode recair IPTU sobre esse imóvel.

Correto? Muito bem. No entanto o Município do RJ tem na sua legislação a previsão segundo

a qual no caso em que a União alugue um imóvel para um particular, pode recair IPTU sobre

o imóvel, cobrado do particular. Aqui é o outro lado da moeda. O Município quer retirar a

imunidade do bem, uma vez que ele está alugado a um particular, para poder cobrar o

tributo do particular. Também não é possível isso. Quando o bem é público, goza de

imunidade. Estando alugado a um particular, não perde a imunidade, até porque o particular

não é contribuinte de IPTU. Locatário não é contribuinte de IPTU. Então não pode o Município

transferir a responsabilidade do ente imune para o ente não imune com o único propósito de

arrecadar. Se o imóvel é da União, não importa que esteja alugado a um particular, continua

imune.

Pergunta: Inaudível.

Resposta: Não, aí é autarquia, a gente vai chegar lá. Eu estou falando de entidade

federativa.

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Vamos agora falar do &2º, que estende a imunidade recíproca a entidades autárquicas.

Diz o &2º do art.150 da CR. A vedação do inciso VI, a, que é a imunidade recíproca, é

extensiva às autarquias e as fundações instituídas e mantidas pelo poder público no que se

refere ao patrimônio, a renda e aos serviços, vinculados às suas necessidades essenciais ou

as dela decorrentes. A imunidade recíproca é extensiva portanto às entidades autárquicas,

autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo poder público, mas aí condicionadamente,

no que se refere a patrimônio, renda e serviços vinculados as suas atividades essenciais ou

as dela decorrentes. Só que a jurisprudência é bastante liberal. Por exemplo, ela falou assim,

imóvel alugado. O INSS por exemplo, que é uma autarquia federal tem uma série de imóveis

alugados a particulares. Esses imóveis gozam de imunidade? Não deveriam gozar, porque o

INSS não tem como atividade essencial alugar imóveis. Certo? Mas o STF não sabe essa

imunidade, dizendo que ele aluga para produzir renda para a sua atividade essencial. Pra

mim confunde, porque uma coisa é não tributar renda do aluguel, outra coisa é não tributar a

propriedade do imóvel. Mas o STF não deixa tributar nada. Então, em última análise, como

autarquia, tudo que ela faz, em última análise, reverte tudo para a sua atividade essencial,

acaba gozando de uma imunidade plena. Quer dizer, com essa interpretação elástica, o STF

acaba tornando sem sentido a restrição do &2º, no que pertine, no que concerne às suas

atividades essenciais ou as dela decorrentes. Mas é a posição do STF.

Muito bem. Pessoa jurídica de direito privado pode gozar de imunidade, essa

imunidade recíproca? O STF entende que sim, no caso das estatais e prestadoras de serviços

públicos. O STF por exemplo, estendeu a imunidade a INFRAERO que é uma empresa pública

federal. O que entendeu o STF? Que a empresa pública que presta serviço não se confunde

com a empresa pública que exerce atividade econômica. A esta última se aplica aquela

previsão constitucional que veda que as estatais tenham benesses fiscais não extensíveis as

demais empresas do setor privado, porque como são estatais que exercem atividade

econômica, hão de se submeter ao princípio da livre concorrência. E por isso não podem ter

benesses porque teriam custo diminuído e assim acabariam apresentando, acabariam se

beneficiando com o monopólio disfarçado. Agora, no caso de estatal de serviço público, o STF

entende que tem que gozar de benefício porque reverte em prol da própria sociedade. E

sendo estatal de serviço público, e dependendo do serviço, sequer se submete a

concorrência. Por exemplo, a INFRAERO tem concorrência? Existe alguma outra empresa que

faça a administração da infra-estrutura dos aeroportos? Não. Então se você não der

imunidade, você vai acabar onerando a taxa que se paga a INFRAERO para embarque,

desembarque, a taxa que nós pagamos quando nos valemos do serviço do aeroporto, a taxa

que as empresas áreas pagam.

Pergunta: Inaudível.

Resposta: Não, o fundamento principal está naquele antigo julgado em que ele

distinguiu a atividade econômica do serviço público, referente aos correios. Em relação ao

serviço postal. Hoje em dia, na agencia do correio você compra até banana. Nos correios,

você paga conta de banco, tem uma série de atividades ali que não são monopolizadas. Até

porque aquilo é franquia. Agora, o serviço postal propriamente dito é monopolizado. Então, o

STF tem estendido a imunidade inclusive, porque sabe o que o STF entende? Que a opção

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Aula 39. Tributário. Mauro Lopes. 301008. Intensivo MP\RJ

entre descentralizar a forma autárquica e criar uma estatal, decorre de fenômenos alheios ao

serviço que é prestado. A INFRAERO poderia ser uma autarquia. Não é porque o Governo

achou por bem criar uma empresa pública, para se livrar de algumas amarras do setor

público, por exemplo, regime estatutário dos servidores. Mas em síntese, isso não modifica o

serviço, a natureza do serviço prestado. De maneira que a INFRAERO faria jus então a

imunidade. Quer ver um julgado sobre a INFRAERO específico, é o RE 363.412. Quem tiver a

apostila, está inclusive transcrita ali, página 92 da apostila. E da ECT, RE 407.099. Agora, o

que parece o STF não ter observado, foi a disposição do &3º que excepciona a imunidade

recíproca e a extensão às autarquias e fundações.

Vamos ver os casos em que segundo o texto constitucional, não haveria imunidade.

&3º excepcionando portanto a imunidade recíproca e sua extensão as essas entidades.

§ 2º - A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às fundações instituídas

e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços,

vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.

Começa aqui o seguinte, quando se tratar de patrimônio, renda e serviços de entidade

imune, mas relacionado com exploração de atividade econômica, regida pelo direito privado,

aí não pode haver imunidade. É evidente, em nome do princípio da livre concorrência, porque

senão seria muito bom para União. Ela criaria por exemplo uma sociedade de economia

mista de atividade econômica e não incorporaria os seus bens ao patrimônio dela. Apenas

cederia o uso. Seria uma forma de diminuir o custo dessa entidade por ela controlada

conservando a imunidade sobre tais bens. Evidentemente que ela perderá a imunidade nesse

caso específico, porque está submetendo o seu patrimônio a exploração de atividade

econômica, regida por normas aplicadas em empreendimentos privados. A regra geral é que

quando o Estado explora atividade econômica com finalidade lucrativa, é submissão às

mesmas regras da concorrência, da iniciativa privada. Então a CR está sendo coerente com o

art.173 &2º da CRFB, nesse particular.

Segunda exceção: ou em que haja contraprestação ao pagamento de preço ou tarifa

pelo usuário. Esse é o problema do serviço, voltando ali a pergunta dela. Quando houver

contraprestação ao pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, não há imunidade, porque

quem está remunerando o serviço é o usuário, não é a entidade prestadora. Então o STF pisa

na bola quando por exemplo, afasta a incidência de ISS ao serviço prestado pela INFRAERO,

ECT, por quê? Porque esse serviço é remunerado pelo usuário. E a CR, expressamente no &3º

excepciona a imunidade nesses casos. Ele se preocupa muito com a natureza do serviço,

mas esquece que ele é remunerado por terceiro, e a CR expressamente rechaçou. Então não

importa que ele seja prestado pela própria entidade, ou que tenha sido concedido. Se for

remunerado por terceiro, não haverá imunidade.

Pergunta: Inaudível.

Resposta: Não, não é que esteja ligado, ele tem que ser interpretado à luz dessa

disposição.

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E finalmente, não exonera o promitente comprador de pagar imposto relativamente ao

imóvel. Aqui é o seguinte, é casuística. O STF tinha uma Súmula dizendo que o bem público

imóvel mesmo objeto de promessa de venda a particular, continuava imune à incidência de

impostos locais. Aí já na CR passada, foi editada uma norma similar a essa que nós estamos

vendo e essa Súmula caiu. E o STF diz agora que perde a imunidade esse imóvel. O imóvel

quando é objeto de venda a particular, perde a imunidade, até porque passa a ser tributado

ao particular promitente comprador. Não fosse assim, aquele que celebrasse promessa de

compra e venda com o poder público envolvendo imóvel, nunca levaria a registro, porque a

promessa de compra e venda registrada, embora seja direito real, não transfere a

propriedade. Então o sujeito quitaria o preço, e não teria interesse em fazer a escritura

definitiva para levar a registro, porque com isso transferiria a propriedade do bem do poder

público para o seu patrimônio e passaria a ser tributado. E era o que acontecia no passado, o

pessoal não formalizava a transferência. Ele vendia não a propriedade, ele cedia o direito à

aquisição.

Então eram cessões ao direito aquisitivo e o bem ficava por longos anos imune à

incidência de impostos, e já economicamente vinculado ao patrimônio do particular. Então,

agora está expresso. O bem público imóvel, no momento que seja objeto de promessa de

venda a particular, perde a imunidade e o promitente comprador, particular, passa a

responder pelo tributo. Entenderam?

Então está aí a imunidade recíproca, e as suas cláusulas excepcionais, a sua extensão

e as suas cláusulas excepcionais do &3º. A Súmula do STF sobre o promitente comprador é a

Súmula 583 do STF.

Súmula 583 do STF: PROMITENTE COMPRADOR DE IMÓVEL RESIDENCIAL TRANSCRITO

EM NOME DE AUTARQUIA É CONTRIBUINTE DO IMPOSTO PREDIAL TERRITORIAL URBANO.

 

Segunda imunidade genérica. Imunidade dos templos de qualquer culto. Qualquer

culto hen, zen, budismo, igreja católica, maranata, batista, universal do reino de Deus,

adoradores de satã, qualquer que seja o culto, o credo.

Pergunta: Inaudível.

Resposta: Não, pode ser feita referencia para ilustrar, quer dizer, como acréscimo.

Além de tudo é monopólio, não concorre e tal. Mas é casuístico. Eu quero dizer o seguinte, eu

em uma prova eu colocaria, olha a INFRAERO e a ECT ganharam a imunidade por decisão do

STF, mas eu não estenderia de maneira indiscriminada não. E eu ainda diria, que essa

interpretação é uma interpretação do &3º, porque presta um serviço, pode até imunidade

sobre patrimônio, renda. Agora no serviço não, porque é remunerado pelo usuário.

Bom, imunidade dos templos de qualquer culto. Ao contrário do que se supõe, a

imunidade não alcança exclusivamente o bem imóvel. A imunidade alcança também o

serviço, a renda, porque quando se fala em imunidade dos templos, dá a entender que é só

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esses que ficam a salvo, né. Só igreja, a sinagoga, a casa de oração, a casa de trabalhos, de

oferendas. Não, nada disso. A edificação, os serviços, o patrimônio, tudo aquilo que se

relaciona a atividade religiosa. Aliás o templo, imagina-se sempre uma edificação, mas ele

pode ser um veículo. Nada impede que a igreja tenha um veiculo e ali dentro esteja

estabelecido um templo e que seja um local em que as pessoas se reúnem, a igreja

itinerante, um ônibus, nada impede, para levar a palavra de Deus a locais inóspitos. O templo

na verdade é o veiculo que não sofrerá a incidência de IPVA que é o imposto que onera a

propriedade de veiculo automotor. Serviços, olha, a missa, a missa encomendada, o

batizado, o casamento, rituais, oferendas, despachos, trabalhos. Nada disso sofre a

incidência de imposto. A renda na instituição religiosa, o patrimônio ainda que alugado a

particulares, isso foi uma grande vitória de ordens religiosas aqui no RJ, a ordem do Carmo, a

ordem de São Bento. Aqui no centro do RJ, são proprietários de diversos imóveis e brigaram

com o Município, ganharam no STF. O STF entendeu o seguinte, desde que elas provem que

a renda do aluguel reverte para a atividade fim, os imóveis são imunes, ainda que alugados a

particulares. Tem até uma Súmula, que não é específica do templo, mas se aplica também,

segundo o STF a eles, que é a Súmula 724 do STF que diz exatamente isso, quando se prova

que a renda do aluguel reverte para essa atividade.

Em relação aos templos, vigora a norma do &4º do art.150, que estende a imunidade a

patrimônio, renda e serviços, voltados as suas atividades essenciais. Então

pragmaticamente, vamos ver questões pontuais a respeito. Já se deu imunidade por

exemplo, aquelas atividades, vamos dizer, acessórias dos templos. Exemplo, venda de velas,

santinhos, bazar, feira de artesanato, feira da providencia, enfim. São atividades que não

estão diretamente relacionadas a religião, mas são indiretamente, porque produzem renda,

para que seja mantida a instituição religiosa. Lanchonete da igreja, até o estacionamento,

mesmo que cobre, a igreja pelo estacionamento. Cobra porque tem que manter um seguro lá

dos veículos, tem que pagar um vigia, mas quando se prova que a exploração do

estacionamento é apenas para viabilizar o acesso dos fieis, não há incidência, nem sobre o

imóvel, nem que se realize o estacionamento quando não é o mesmo imóvel da igreja, nem

sobre o serviço prestado. Agora, terceiriza o estacionamento, não há imunidade porque o

contribuinte passa a ser quem? A empresa que explora a atividade. Aí o contribuinte do ISS é

a empresa prestadora. Quando é a própria igreja, não há a incidência do ISS.

Bom, a imunidade é do templo, não é do pastor, do padre, do rabino, como pessoa

física, evidentemente. Não tem imunidade como pessoa física, pelo fato de ser o chefe lá,

não sei, o sacerdote, a imunidade é da instituição. E a gente quando fala das atividades

acessórias, fala de atividades economicamente singelas, estamos falando de bazar, festa

junina, venda de velas, santinhos, certo? Nós não estamos falando da rede Record de

televisão, por exemplo. E aí sabidamente, da igreja universal do reino de Deus. Quer dizer,

não é da igreja, mas são sócios da Rede Record, integrantes dessa igreja, da direção dessa

igreja.

Pergunta: Inaudível.

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Resposta: Sim, mas aquela rede só veicula isso ou... a rede Globo também transmite

isso, e não quer dizer que ela tenha imunidade. Não, não tem não. aí é uma atividade pública

que ela presta, mas isso não confere imunidade a ela.

Pode haver imunidade a instituição religiosa alugar horário na grade, para veicular

informação religiosa e que vamos dizer, auferir renda de anunciante, por exemplo, nesse

período. É discutível, mas se a atividade religiosa, se a renda é exclusivamente para custear

o que se paga, um valor alto inclusive, para alugar espaço, aí me parece razoável que essa

publicidade já seja utilizada exclusivamente para o aluguel do horário, dos equipamentos que

permitam a transmissão. Mas são casos excepcionais, específicos.

Agora, aplicando-se sempre a Súmula 591 do STF. Quando a instituição religiosa

adquire bens, ela é adquirente. Não há imunidade alguma aí. Ela não pode estender a

imunidade dela a quem está vendendo, para comprar o bem ou mercadoria com desconto

tributário, porque aí não há imunidade. A imunidade é do contribuinte. Se ela é adquirente,

ela não é contribuinte. Não pode estender para o adquirente ou pretender estender essa

imunidade.

Muito bem. Agora, a imunidade da alínea c, dos partidos políticos. Partidos políticos e

fundações, sindicatos de trabalhadores, instituições de educação, e de assistência social,

sem fins lucrativos.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à

União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

VI- instituir impostos sobre:

c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das

entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social,

sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;

Primeiro, partido político. A imunidade dos partidos políticos é decorrência do

pluripartidarismo, a garantia para o pluripartidarismo. Está relacionada a liberdade

ideológica, por quê? Porque seria muito fácil ao Estado desestimular a criação e a

manutenção de partidos economicamente mais ricos, com uma tributação elevada, que só

pudesse ser suportada pelos detentores do poder econômico. Então, a imunidade consagra

aí, tutela a democracia, o regime democrático, o pluripartidarismo, e alcança as fundações

dos partidos políticos, desde que tenham objetivo previsto na lei orgânica dos partidos

políticos, que é a Lei. 9.096\95. E as fundações tem por fins institucionais estudo, pesquisa,

doutrinação e educação política. Então, sendo fundações com esses objetivos, devem gozar

de imunidade.

Pergunta: Inaudível.

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Resposta: No art.53. Olha lá, estudo, pesquisa, doutrinação e educação política.

Também nessa alínea c estão previstos os sindicatos de trabalhadores, entidades sindicais

de trabalhadores.

Atenção, entidades sindicais de trabalhadores, quem abrir a CLT vai ver, existem 3

níveis. Na base são os sindicatos, depois você tem as federações, que são reuniões de

sindicatos, e as confederações, que são reunião de federações. Nesses três níveis as

entidades gozam de imunidade. E aí se aplica também aquele &4º do art.150, patrimônio,

renda ou serviços voltados à atividades essenciais. Recentemente, alguém aí tem a apostila

da 1ª edição? Quem tiver a apostila da 1ª edição, pegue a atualização gratuitamente, ela já

está na 2ª edição, e já foi incorporada essa inovação. A Lei. 11.648\08, alçou à categoria de

entidades sindicais de trabalhadores as centrais sindicais, como a CUT e a força sindical. As

centrais sindicais eram vistas como meras associações civis, não integravam o movimento

sindical formalmente, embora comandassem, como comandam, o movimento sindical

brasileiro.

Por isso até que havia uma divergência, porque alguns entendiam que elas gozavam

de imunidade, porque se as entidades componentes delas que eram os sindicatos gozavam,

por que elas não gozariam? A tese era de que o todo seguiria a sorte das partes que o

compõem. Agora, isso não se discute mais porque foi alterada a CLT pela Lei. 11.648\08 e

alçou as centrais sindicais ao movimento sindical formal brasileiro. Então as centrais sindicais

gozam de imunidade tributária.

Bom, as entidades sindicais patronais não gozam de imunidade. A FIRJAN por exemplo,

não goza de imunidade. Aqui é uma entidade sindical patronal. Alguns autores criticam, mas

o constituinte certamente levou em consideração a hipossuficiência do empregado na

relação que mantém com seu patrão. Certo?

Finalmente na alínea c, instituições de educação e de assistência social sem fins

lucrativos. Diz lá, atendidos os requisitos da lei. Essa lei aí, tem-se entendido, é lei

complementar, embora na alínea c, não haja o qualitativo complementar. Tem-se entendido

que é lei complementar. Por quê? Porque se a imunidade é uma limitação ao poder de

tributar, como nós vimos, você aplicaria aí a essa disposição, você faria uma remissão ao

art.146, II, segundo o qual cabe à lei complementar regular as limitações constitucionais ao

poder de tributar. Ora, se a imunidade é uma limitação do poder de tributar, a lei que vai

estabelecer requisitos para essas entidades serem consideradas sem fins lucrativos e

gozarem de imunidade, teria que ser uma lei complementar. E o legislador reconheceu isso,

porque a norma que cria requisitos, é a norma do art.14 do CTN. Façam outra remissão aí,

art.14 do CTN, que foi alterado recentemente por uma LC, a LC 104\01. Então o próprio

legislador reconheceu a necessidade de LC para tratar desses requisitos.

O que é uma instituição sem fins lucrativos? Uma instituição sem fins lucrativos é

aquela que não distribui qualquer parcela do seu patrimônio ou de suas rendas a qualquer

título, inciso I do art.14. Inciso II, aplica integralmente no país os seus recursos na

manutenção dos seus objetivos institucionais, inciso II; e mantém escrituração em livros

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formais, em formalidades capazes de assegurar sua exatidão. Operam no plano estritamente

formal.

Então, instituição sem fim lucrativo não é que não dá lucro, ela pode dar um lucro

altíssimo. Pode inclusive cobrar pelo serviço prestado, como cobram vários colégios aí de

padres, São Bento, Santo Agostinho, São Vicente. São todas instituição de educação sem fins

lucrativos. Cobram? Cobram. O problema não é cobrar. Não se exige que seja gracioso o

serviço, o que se exige é que não haja distribuição e que seja reaplicado no país os recursos

na manutenção dos seus objetivos institucionais. O sócio de uma empresa privada dessa, não

pode receber dividendos, não pode fazer retiradas, agora evidentemente se ele dá aula, ele

pode receber pela aula. Não pode haver distribuição disfarçada de lucro. Você vai pagar um

salário de professor normal para ele, média de mercado. Pagar muito acima do normal, fica

caracterizado a distribuição disfarçada e perde o caráter de entidades sem fins lucrativos.

Vamos fazer um intervalinho e a gente volta com algumas questões atinentes a essa

imunidade.

Intervalo.

Bem, essa imunidade das entidades de educação e assistência social sem fins

lucrativos, tem por objetivo estimular a criação e a manutenção dessas instituições, porque

elas auxiliam o Estado num campo em que as prestações, elas são notoriamente

beneficentes, que é o campo da saúde, assistência e educação em geral. Então estimula-se a

iniciativa privada, auxilia o Estado desde que sem finalidade lucrativa. Eu selecionei aqui na

apostila alguns julgados do STF marcantes acerca da extensão da delimitação dessas

imunidades. Então, eu vou ler para vocês aqui, porque a jurisprudência em relação a

imunidade é fundamental em concurso. É sempre muito questionado.

Então no RE 221.395, o Supremo estendeu as imunidades à imóveis destinados a

escritórios e residências dos membros das entidades. Então não é o imóvel usado para

atividade essencial da entidade, mas usado para moradia e escritório dos membros dessas

entidades. Também estendeu para rendimentos e ganhos de capital oriundos de aplicação

financeira, afastando o IOF.

Estacionamento. Nesse caso do estacionamento, era um hospital que era controlado

por uma entidade de assistência social, era uma santa casa, hospital beneficente e que tinha

um terreno anexo que era um estacionamento e caiu na prova do MP inclusive, uma questão

relacionada ao estacionamento de entidade de assistência social. Dois ou três dias saiu o

informativo, o informativo saiu na 4ª, e caiu na prova do MP. Aliás foi a 1ª prova do MP que

caiu tributário. Antes não caia direito tributário, quando começou a cair, logo na 1ª prova em

que caiu tributário no MP, caiu essa questão, dias depois de sair no informativo. Se incidia

IPTU sobre o imóvel onde explorado o estacionamento usado pelos hospitais, ou pela santa

casa, para acesso aos doentes e tal. E o STF entendeu que não porque embora não seja

atividade fim do hospital, é uma atividade relacionada, que viabiliza o acesso dos doentes e

tal. A questão do estacionamento foi no RE 144.900. 1ª questão de tributário no MP Estadual

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do RJ. Cada vez eles estão criando mais matérias para o concurso né. Para a área federal,

agora então, econômico, ambiental, internacional. E tem matérias que vão se desgarrando,

agrário, vão se desgarrando do direito administrativo, tutela de direitos difusos, cada vez a

gente tem que estudar mais.

Imóveis alugados, desde que a renda de aluguel reverta para atividade fim, é a Súmula

724 do STF. E olha só que extensão interessante. A entidade aqui de assistência social sem

fins lucrativos, adquiriu o imóvel, para oferecê-lo a locação, para que a renda de alugueis

fosse aplicada na sua atividade essencial. Nessa aquisição do imóvel, o STF não permitiu a

incidência de ITBI, dizendo que ele estava adquirindo o imóvel, para com esse imóvel

produzir renda, que iria reverter para sua entidade. Então, não deixou recair ITBI sobre essa

aquisição. RE 235.737.

Para finalizar, falar da jurisprudência do STF acerca das entidades de previdência

privada. O que é entidade de previdência privada? É aquela entidade que normalmente é

criada por empresas grandes, para complementar aposentadoria e pensões pagas pelo

regime geral de previdência, pelo RGPS. Porque vocês sabem que o regime geral de

previdência tem tanto um teto de contribuição, quanto um teto de benefício. Pode ser um

grande diretor de empresa multinacional, ganhe R$100 mil reais de salário, ele vai pagar

contribuição com base no teto; teto de contribuição que eu acho que é R$3 mil. E o benefício

também tem um teto similar. Olha, como é que o sujeito vai se aposentar se ele ganhava

R$100 mil na ativa, e vai passar a ganhar R$2, 3 mil do RGPS. Então a empresa cria um

fundo de previdência, para beneficiar os seus empregados. São os planos de previdência

fechada, privada e fechada. Esses fundos de previdência são riquíssimos, porque eles são

muito administrados. Então você tem o PETRUS, o PREVI, enfim, uma série de fundos de

previdência, e que brigavam com a União, para obter imunidade, no tocante ao imposto de

renda, principalmente. Essa briga chegou ao STF e foi uma briga de milhões. O STF entendeu

que essas entidades não integram o conceito, ainda que genérico, de assistência social,

porque não tem o caráter de solidariedade, universalidade. Ou seja, não são acessíveis a

todos os brasileiros, apenas aos funcionários da empresa, são planos fechados de

previdência. Então embora não tenham fins lucrativos, são planos fechados, não têm o

caráter de universalidade que o STF entende que deve estar presente nas entidades de

assistência social para merecerem a imunidade.

No entanto, depois desse julgado, ofereceram embargos de declaração ao STF dizendo,

mas espera aí, e quando a previdência, embora fechada, privada, seja suportada

exclusivamente pelo patrão? Ou seja, e quando não se exija contribuição do beneficiário, ou

seja, quando seja uma previdência graciosa? O patrão suporta todo o encargo. Aí o STF: Aí

está bom, nesse caso então, embora não tenha o caráter de universalidade, eu concedo a

imunidade. Foi uma decisão salomônica.

Então o STF em relação a previdência privada, fechada, nega a imunidade, salvo no

caso de entidade mantida com contribuição exclusivamente do patrão. É o que diz a Súmula

730 do STF. Súmula 730 no seguinte sentido.

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SÚMULA Nº   730

 

A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA CONFERIDA A INSTITUIÇÕES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL SEM FINS

LUCRATIVOS PELO ART. 150, VI, "C", DA CONSTITUIÇÃO, SOMENTE ALCANÇA AS ENTIDADES

FECHADAS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL PRIVADA SE NÃO HOUVER CONTRIBUIÇÃO DOS

BENEFICIÁRIOS.

 

Então está sumulado e o que está sumulado para vocês é igual a lei. Tem que estar na

cabeça de vocês. Tudo bem?

Finalmente, quanto às imunidades genéricas, a imunidade dos livros, jornais e

periódicos e do papel destinado a sua impressão. Alínea d.

Notem o seguinte, essa imunidade, ao contrário das demais, é objetiva, porque as

demais são imunidades subjetivas, concedidas em função de aspectos pessoais do obrigado.

Essa aqui é objetiva. Não importa a quem pertença os livros, jornais e periódicos, e o papel

destinado a sua impressão. Ela é objetiva. Ela alcança todas as operações relacionadas a

livros, jornais, periódicos, e papéis destinados a sua impressão. Qual é o propósito dessa

imunidade? Tutelar o livre acesso a informação, tutelar a difusão de cultura escrita, evitar a

censura indireta, entenderam? Esse é o propósito do texto constitucional. E é com esse

propósito que a gente vai interpretar os diversos questionamentos que aparecem acerca da

extensão dessa imunidade. Por exemplo, jurisprudência aqui para vocês. Entidades que

divulgam informação via radiodifusão de sons e de sons e imagens, rádio e televisão, não

gozam de imunidade, só informação escrita, porque a imunidade é de livros, papéis e jornais

destinados a sua impressão. O STF já decidiu isso.

Lista telefônica. Bom, lista telefônica não tem nada a ver com tutela de cultura,

informação, realmente não; mas o STF entendeu que a lista telefônica é veiculo de utilidade

pública e goza de imunidade. Então coloca aí, lista telefônica e imunidade. É o RE 101.441.

Folhetos de propagandas em cartazes, jornais e revistas não gozam de imunidade,

porque a sua índole, a sua natureza exclusivamente propagantística. Aqueles encartes da

casa e vídeo, apostilas. O STF concedeu, disse que são veículos de transmissão de cultura

simplificados, mas gozam de imunidades. Não precisa ter ofendido né, apostila tão bonitinha,

tão completinha, chamar de veiculação de cultura simplificada, esculhambou, mas goza de

imunidade. RE 183.403.

Filmes e papeis fotográficos, necessários à publicação de jornais e periódicos, gozam

de imunidade. Súmula 657 do STF. Quando o STF julgou essa questão, ele julgou uma

questão muito maior. Porque as empresas queriam a extensão da imunidade a diversos

outros insumos, a tinta para a impressão, a linha para a costura de livros, a cola para a capa,

e aí o STF negou a tudo, dizendo que o constituinte sabia que vários eram os insumos para a

consecução, a confecção do livro, mas só estendeu ao papel. Então, não cabe ao interprete

estender desmedidamente. O constituinte deliberadamente teria deixado que fossem

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tributados os demais insumos, só o papel que não. No caso de filme e papel fotográfico ele

estendeu. Então não foi uma vitória do contribuinte, foi uma vitória parcial. O contribuinte

perdeu mais do que ganhou.

O serviço de transporte de jornais, sofrem a incidência de ISS. Transporte de jornal,

porque aí não é operação com livro, com jornal né. É operação de transporte em geral, e

sofrem a incidência do imposto sobre serviço.

Estendeu também o STF a imunidade aos filmes destinados à confecção de capas

moles de livros. Isso aqui não tem imunidade, esse plástico aqui, agora esse filme de plástico

que reveste a capa tem. Esse que se a gente passar a unha descasca. O STF entendeu que a

adere ao papel, não é papel, é plástico, mas adere e para conservar a utilidade, o livro,

enfim, estendeu. Isso se chama filmebopp. Diz que similar ao papel. Foi uma opção do STF.

Opção política, poderia dizer que não, que não era papel. Aí é casuística. RE. 392.221.

Que tal as tiras plásticas utilizadas para amarrar os jornais? Os jornais são distribuídos

amarrados em tiras plásticas. Não deu imunidade as tiras plásticas. RE.208.638.

Álbum de figurinhas. Deu imunidade dizendo, não cabe formular juízo subjetivo acerca

da qualidade cultural ou do valor pedagógico de publicação destinado ao público infanto-

juvenil. RE. 221. 239. E com razão, porque olha aqui, nesse caso específico, sabe qual era o

objeto do álbum de figurinhas? Novela da globo. Aí disseram, não, isso aí não tem nenhum

valor cultural, pedagógico. Realmente não tem nenhum. Mas o STF entendeu que você não

pode formular esse juízo subjetivo de valor, até porque você abre um precedente perigoso.

Isso nos leva a discussão da revista pornográfica. Se goza ou não goza de imunidade. A

pornografia seria um lixo cultural. Quer dizer, você teria a cultura erótica e a pornografia.

Cultura erótica é uma expressão cultural aceitável e tal, e gozaria a revista de imunidade,

mas a pornografia não. Claro, como você vai precisar uma linha divisória entre a cultura

erótica e a pornografia? Aliás, mesmo que você chame a pornografia de lixo cultural, nada

mais é do que a cultura do trash, que é inclusive disseminada e tem vários adeptos aí. Então

você não pode começar a formular esses juízos subjetivos, porque você acaba descamando

para a censura. Não, eu não vou tirar a imunidade porque eu discordo do valor cultural do

seu veiculo. Entenderam?

Então, até porque, por que a pornografia não gozaria de imunidade e o voyerismo,

como é o voyerismo explícito ou no caso da revista Caras, e similares gozariam. Que tipo de

informação cultural relevante a mais, do que a revista pornográfica ou a revista Caras

divulgariam? Eu inclusive a esse respeito eu sempre daquele filme o povo versus Lerry Flynt.

É um filme super interessante, o Lerry Flynt era, e é até hoje, ele está vivo, ele é o criador da

revista Hustler, que é uma revista que surgiu nos EUA como um contra-ponto a Playboy. A

Playboy fazia um nu, supostamente artístico, a mulher ficava de ladinho, e a Hustler

colocava o nu frontal, escandalizando a sociedade, principalmente a sociedade americana,

que na verdade vive a base de um falso moralismo, uma hipocrisia total. Então, os falsos

moralistas americanos levaram as barras do Tribunal o Lerry Flynt, querendo que o Tribunal,

que a justiça, proibisse a publicação dele. E o livro conta a vida dele e a saga dele perante a

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Aula 39. Tributário. Mauro Lopes. 301008. Intensivo MP\RJ

justiça americana para viabilizar a venda da sua revista. E ele acaba chegando a Suprema

Corte Americana. E a Suprema Corte Americana dá ganho de causa a ele, porque não

consegue precisar exatamente essa linha divisória entre a pornografia e a cultura erótica. E o

americano tem o lado bom porque ele é muito ligado ferrenhamente ligado aquela cláusula

constitucional dele da liberdade de expressão. Então, embora tenha esse lado do falso

moralismo, eles também se orgulham de ser o país das liberdades. E acaba prevalecendo a

liberdade do Lerry Flynt.

E isso vale também para efeitos de imunidade, está certo? Porque o que não interessa

a você, interessa ao seu vizinho. Você não pode pretender tributar como forma de censura,

evidente.

Pergunta: Inaudível.

Resposta: Que eu saiba sim. Que eu saiba, não goza de imunidade revista com

natureza propagantistica. A revista do shop time, e outras revistas apenas catálogos de

dinheiro. Aí não goza de imunidade porque aí evidentemente o intuito é exclusivamente

lucrativo, vender o produto. “Ah, mas elas contem receitas”, sim aquilo é só para você não se

sentir mal lendo, porque todo mundo lê, todo mundo gosta de ler. Eu gosto muito de ver

essas novidades tecnológicas. A gente não usa, não precisa daquilo, mas fica com vontade

de comprar e aquelas coisas. A máquina de fazer suco, imagina o dinheiro que você vai

ganhar em frutas usando essa maquina de fazer suco, você coloca uma maça inteira ali. Mas

você quer tomar um suco, coloca três maças ali dentro e toma um copo de suco, e aí

acabaram as maças. Você em dois sucos, acabou com as maças, tem que comprar mais

maças, não compensa, não vale à pena. Gasta muito dinheiro com fruta.

Tinta. Tinta não goza de imunidade. Nós já vimos, a tinta é insumo mas a CR não

estendeu à tinta. RE 265.025.

Outra questão interessante relacionada a imunidade dos livros, jornais e periódicos,

são aqueles itens que acompanham, especialmente revistas. Por exemplo, o faqueiro de

Caras. Quando você compra a revista Caras, vem um peça do faqueiro. Aí você compra outra,

você ganha outra peça. Você vai comprando até completar o faqueiro. Essa peça goza de

imunidade? É evidente que não, não tem nenhuma relação com o conteúdo da publicação, ou

aqueles brinquedos ou aqueles DVD’s de filmes. É impressionante, eles vendem hoje em dia

tudo enrolado em revista, em banca de jornal. Qual é o propósito? Imunidade.

Pergunta: Inaudível.

Resposta: Indevidamente. Porque as bancas não são fiscalizadas, porque banca

tecnicamente vende o que? Jornal e periódico. Banca de jornal vende jornal e periódico. As

bancas hoje vendem de tudo, mas elas não são fiscalizadas, porque tecnicamente...mas veja

agora, filme, show em DVD, é evidente que tem que tributar. Eles dizem, “ah, mas aqui é

brinde”, não é brinde coisa nenhuma. Você não compra a revista, você compra o DVD.

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Pergunta: Inaudível.

Resposta: Não, porque na verdade não é brinde. Ele está invertendo ali os valores.

Pergunta: E se for efetivamente um brinde? Veja bem, não vai incidir ICMS porque o

valor é zero. Certo? Mas nas operações anteriores, porque a empresa tem que comprar o

faqueiro, a Caras tem que comprar a faca. Incide. Diferente do papel usado na impressão.

certo? Tem que incidir. No caso do DVD, é uma fraude, porque você está comprando o DVD.

O Lobão disse que brigou com as gravadoras e vendeu efetivamente os CD’s dele nas bancas

de jornal. Olha, o que está por trás disso, a par da briga com a gravadora? A imunidade que

ele quis estampar. Então, ele não queria efetivamente o CD, ele queria uma revista, enrolou

o CD nessa revista, e vendeu a revista, supostamente com o CD como brinde. Entenderam a

malandragem? Para que? Para não haver incidência de ICMS sobre a venda do CD, o que na

verdade é uma fraude. Tem que incidir. Basta que você descaracterize a venda da revista,

venda do DVD, venda do CD. Diferente do faqueiro de Caras. Você não está comprando o

faqueiro, você está comprando a Caras e por acaso vem a faca. Mas pode ser até um brinde

ali. Mas nas operações anteriores, foi tributado, tinha que ter sido.

Agora, diferente é o caso do fascículo do curso de línguas, porque aí vem com o CD,

com uma fita cassete antigamente. Ali é parte integrante do material. Você não vai aprender

língua sem ouvir a pronúncia. Não há como aprender língua, sem ouvir a pronúncia. Então,

ali sim faz sentido você estender a imunidade ao CD, ou ao DVD, ou ao Pen Drive, ou cartão

de memória, enfim, o que quer que seja, porque aí sim aquele item, tem plena relação com o

objetivo cultural da publicação. Entenderam?

Para finalizar, a questão relacionada ao livro eletrônico. O livro eletrônico é aquele que

não está estabelecido na mídia, papel, é uma mídia alternativa de armazenamento de dados.

Pode ser uma mídia, como CD room, pode ser um cartãozinho de memória, pode inclusive

não se materializar, quando você compra pela internet e faz o ________________ do micro. E aí,

há imunidade ou não há? A receita federal entende que não, só o micro de papel. Mas essa é

uma tese absurda. “Ah, a CR ao falar no papel destinado a sua impressão, só garante a

imunidade ao livro em papel, agora?”. Em 1998, não havia outra mídia, vamos dizer, vulgar,

popular, de armazenamento de dados, de livros e jornais que não o papel.

A partir do momento em que você se desenvolve, econômico, tecnologicamente, você

tem que fazer a sua interpretação constitucional. É a famosa mutação constitucional. A

interpretação acompanha a evolução social, política, econômica e tecnológica. Porque senão

o Brasil fica para trás, porque o empresário brasileiro se desestimula porque perde a

imunidade, de desenvolver essas vias alternativas. Há quem sustente que o livro em papel

vai acabar em 10 anos. “Ah, isso é uma previsão furada, as pessoas não abrem mão de

manusear o papel, e tal”. Pode ser em 10, 20 anos, mas vai acabar, um dia, alguém tem

dúvida?”.

O e-book player hoje é tão bom quanto o livro, com uma vantagem, você não precisa

carregar, ele é carregável(?). E ele tem uma memória que você joga lá, três mil livros, dentro

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da memória dele. Inclusive o e-book player tem uma tela que imita o papel, imita a

luminosidade do papel, para não cansar a sua vista e você vai apertando o botão, e vai

passando as folhas. Já criaram a tela maleável, e o jornal do futuro vai ser assim, uma tela

maleável em que você vai ligar no seu computador, no seu celular, e vai baixar o jornal do

dia. Olha, esse é um futuro não muito remoto, é um futuro aproximado. Ninguém duvida, a

tecnologia está correndo muito mais do que a gente pode imaginar. Por que você vai negar a

imunidade ao livro eletrônico, ao jornal eletrônico? Então é o que a doutrina entende, mas

não há manifestação ainda do STF sobre isso.

Muito bem. Falemos agora então das imunidades específicas, porque as imunidades

genéricas são essas. Vamos ver as imunidades específicas, aquelas que atuam no campo de

incidência de determinados impostos. Eu vou basicamente citar para vocês quais são. Se

tiver alguma controvérsia eu explico.

Aquela do IPI. A 1ª, art.153, &3º, III. É aquela que afasta a incidência de IPI na

exportação de produto industrializado. Vocês já sabem o porquê.

Agora, sobre o ITR. Imposto que onera a propriedade territorial rural. Art.153, &4º, II.

Cuidado porque houve alteração pela EC 42. Vou explicar para vocês. Atualmente o art.153

&4º, II, afasta a incidência de ITR sobre pequenas glebas rurais definidas em lei, quando as

explorem o proprietário que não possua outro imóvel. A redação original antes da EC 42 era

“quando as explore só ou com sua família, o proprietário que não possua outro imóvel”. Essa

expressão “só ou com sua família”, foi abolida, e muito justamente, por quê? Porque todo

mundo sabe que no interior é muito comum o sujeito ter que contratar empregados para

momentos de colheita, nos momentos de plantio. São chamados volantes ou bóias-frias. Eles

trabalham só num determinado período rapidamente, para ajudar na colheita do plantio. E

essa contratação, já inviabilizava a imunidade. Então, o cara tinha que fazer muito filho para

ajudá-lo, porque falava “só ou com sua família”. Filho é família.

Então, o cara fazia 10 filhos para não precisar contratar ninguém, e aí ele gozava de

imunidade. Já o outro que não podia ter filhos, não tinha família, era só ele ou só a mulher,

tinha que contratar, perdia a imunidade. Então essa expressão “só ou com sua família”, foi

abolida. Pode até contratar empregados. O importante é que seja pequena gleba rural, e que

o sujeito só tenha o que ele explore- a terra, e que ele só tenha um imóvel, dele. Aí você vai

dizer, “só um imóvel rural, mas ele pode ter outro urbano?”, não, ele não pode ter nenhum

outro. Só o imóvel rural, porque essa imunidade protege o mínimo existencial. O sujeito tem

uma pequena gleba rural e vive da terra, retira o seu sustento da terra, e só tenha aquele

imóvel.

Bom, o que é pequena gleba rural? Está definida na Lei. 9.393\96, art.2º. Se o imóvel

tiver na Amazônia Ocidental ou no Pantanal Mato Grossense, no sul Mato Grossense, 100

hectares, até 100 hectares é pequena gleba rural. Se tiver no polígono das Secas ou na

Amazônia Oriental, até 50 hectares é pequena gleba rural. E se tiver em qualquer outro

município do Brasil, até 30 hectares. Então varia a pequena gleba rural, a definição, de

região para região, 30, 50 e 100.

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Você vai dizer assim, “mas vem cá, pode a lei ordinária regulamentar uma

imunidade?”. Em tese não, porque imunidade é limitação ao poder de tributar, incide o

art.146, II da CR, que reserva à LC esse papel. Então você vai dizer, então como é que se

aceita que a lei ordinária faça isso? Aceita-se por quê?

Essa imunidade está estabelecida em norma de eficácia limitada, portanto que

depende de regulamentação. Se você disser que a norma é inconstitucional, você tira a

regulamentação e a norma constitucional, que prevê a imunidade, despe-se de eficácia,

resultado, o contribuinte perde, entenderam?

Alguns espertinhos alegaram a inconstitucionalidade formal da Lei. 9.393, sabe por

quê? Porque ela alterou uma outra lei que foi a Lei. 8.847\94 que prevê dimensões menores.

Então, a Lei.9.393 alargou essas dimensões. Você não pode declarar a inconstitucionalidade

de uma lei por vício formal, quando a lei que ela revoga, e que seria repristinada por essa

declaração, padece do mesmo vício.

Nesses casos o STF, diz que o autor é carecedor de ação, mesmo em se tratando de

ação direta, por falta de interesse. Quando ele alega a inconstitucionalidade de uma lei, mas

lei essa que revogou uma anterior que padecia do mesmo vício, e é o caso, é anterior a Lei

Ordinária. Então mesmo reconhecendo o vício, o STF extingue o processo sem exame de

mérito, porque a lei anterior também estava com o mesmo vício e não teria sido invocada na

ação direta.

Pode parecer surpreendente que o STF vislumbre a inconstitucionalidade, mas não a

declare, mas esse não é o único caso não. Quer ver um caso típico que o STF reconhece a

inconstitucionalidade, mas não a declara, por falta de interesse do postulante, é o caso do

salário mínimo. Quando o salário mínimo foi majorado de R$70 reais para R$100 reais se eu

não me engano, R$110, o PT entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade contra a

medida provisória, que majorou o salário mínimo, dizendo que essa medida provisória era

inconstitucional, porque segundo a CR, o salário mínimo tem que prover as necessidades de

educação, moradia, lazer e etc. O STF disse, realmente, R$110,00 reais é um valor aviltante

e que nem de longe garante ao trabalhador que o receba, o acesso a essas exigências do

mínimo existencial, habitação, moradia, alimentação, lazer. Agora, diz o STF, se eu declarar a

inconstitucionalidade dessa MP, o que acontece? Eu restauro a vigência daquela que foi

revogada e que fixada um valor inferior ainda. Então, o autor é carecedor do direito de ação,

porque ele não tem interesse, porque eu agravo a inconstitucionalidade com essa

declaração. Entenderam?

Mutatis mutandis é o que ele fez aqui. É lei ordinária? É. Mas primeiro, se eu declarar a

sua inconstitucionalidade, eu restauro uma outra lei que também era lei ordinária. É o

mesmo vício. E se eu declarar a inconstitucionalidade de todas elas, eu suprimo a imunidade,

porque ela não é auto-aplicável. Por isso é que a gente convive com normas provenientes de

leis ordinárias regulamentando imunidades, paradoxalmente. E o STF não age corrigindo

esse vício.

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Bom, quanto ao ICMS (atenção que o ICMS é importante para o MP), nós temos 4

alíneas a, b, c e d, do inciso X do parágrafo 2º do art.155. Vamos ver, alínea a, não incidirá:

X - não incidirá:

a) sobre operações que destinem ao exterior produtos industrializados, excluídos os

semi-elaborados definidos em lei complementar;

a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços

prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento do

montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores; (Redação dada pela

Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

Exportação de mercadorias e serviços que o Estado tributa pelo ICMS. É o mesmo

motivo pelo qual o IPI não incide, o ICMS também não incide. Subsídio a exportação, para

chegar lá fora com competitividade.

Questão relevante na jurisprudência do STF a esse respeito. O STF entende que a

imunidade não se aplica às prestações e serviços de transporte de produtos industrializados

destinados à exportação. O transporte interestadual é tributado pelo ICMS. O produto

exportado não sofre a incidência de imposto na exportação, mas o transporte interno, por

exemplo, ele vem de MG para o RJ e do RJ é exportado. Esse transporte interno é tributado. O

STF decidiu no RE 340.855.

Então se cair na prova, incide ICMS, sobre serviços de transporte interestadual de

produto industrializado destinado à exportação? Você vai dizer sim, porque uma coisa é a

exportação, outra coisa é o transporte interno que a antecede. O STF entende que é

tributado. RE 340.885.

Olha, essas questões de prova, relacionadas às imunidades, invariavelmente estão na

jurisprudência. Estão respondidas na jurisprudência. Então, não tem jeito, tem que gravar.

Entender de preferência, o que não der, grava.

Alínea b. Sobre operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusive

lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e energia elétrica;

Interpretação do STF. Só não incide ICMS nessas operações em que os combustíveis,

derivados de petróleo, energia elétrica saem de um Estado e vão para outro, quando o

adquirente, situado em um Estado, não seja um consumidor final. Um suposto posto de

gasolina compra um combustível que vem de outro Estado, nessa operação não incide ICMS.

Agora, se quem compra é a indústria que precisa do combustível, e é a destinatária final,

incide. Entenderam? Então, a imunidade só não incide, eu vou ler até o que o STF disse aqui.

Não se aplica aos consumidores finais, localizados nos Estados não produtores.

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Então, quando essa operação pelo qual o combustível sai de um Estado e vai para

outro, não é operação final, ele vai continuar circulando, não incide. Aí aplica-se a imunidade.

Agora, quando é operação final, porque o destinatário situado em outro Estado, vai consumir

ali a energia, o combustível, aí incide. Entenderam? Leiam então o RE. 198.088.

Alínea c. Não incide ICMS sobre o ouro, nas hipóteses definidas no art.153, &5º.

Aqui não é bem uma imunidade. Por quê? Porque o ouro pode sofrer incidência de

ICMS ou do IOF. Depende. O que a CR está dizendo é o seguinte, quando o ouro seja

encarado como ativo financeiro, sofre a incidência exclusiva do IOF. Quando o ouro seja

mercadoria, sofre a incidência do ICMS. Quando você vai a H Stern e compra a aliança mais

cara para o seu amado ou para a sua amada, de ouro puro, você está comprando ouro, o

ouro está circulando como mercadoria. Certo? Está circulando como mercadoria. Então é

evidente que sofre a incidência do ICMS, o ouro posto à venda na joalheria. Certo?

O ouro como ativo financeiro é definido na Lei. 7.766\89, e diz no art.1º.

Art. 1º O ouro em qualquer estado de pureza, em bruto ou refinado, quando destinado

ao mercado financeiro ou à execução da política cambial do País, em operações realizadas

com a interveniência de instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, na forma e

condições autorizadas pelo Banco Central do Brasil, será desde a extração, inclusive,

considerado ativo financeiro ou instrumento cambial.

Então, é a incidência do IOF, desde a extração lá na mina. Já está sendo extraído com a

autorização do Banco Central, para funcionar como ativo financeiro ou instrumento cambial.

Ele vai circular como ativo financeiro, a incidência de IOF. Entenderam? Então não esqueçam,

ativo financeiro-IOF, mercadoria-ICMS. Então não é bem uma imunidade, é apenas a

qualificação do ouro com um ou outra coisa.

E finalmente a alínea d, segundo a qual não incide ICMS nas prestações de serviço de

comunicação, nas modalidades de radiodifusão sonora e de sons e imagens, de recepção

livre e gratuita.

O “S” do ICMS, vocês sabem, relaciona-se a dois serviços. Serviço de transporte

interestadual ou intermunicipal e de comunicação. Serviço de comunicação, para sofrer

incidência de ICMS, tem que ter o requisito da onerosidade. Exemplo, telefonia móvel de

celular, TV a cabo. Por isso é que está lá nas notas, nas faturas da Net, TVA, Sky, lá o ICMS,

da Oi, da Claro, da Vivo, Telemar, está lá. Isso é a margem do ICMS. Eles às vezes colocam, o

serviço prestado pelas redes de rádio e televisão abertas, isso é que é radiodifusão sonora e

de sons e imagens de recepção livre e gratuita, você pega uma antena, puxa, e já está

recebendo o sinal, não são tributáveis porque não são onerosas. Isso já era orientação da

jurisprudência e da doutrina. Só que o constituinte derivado, através da EC 42, acrescentou a

alínea d, para deixar claro a não incidência do ICMS em relação a esse serviço, de recepção

livre e gratuita. Então, a última imunidade atinente aí ao ICMS.

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Agora, a imunidade quanto ao ITBI. Como vocês sabem o ITBI onera a transmissão

onerosa de bens imóveis e direitos a eles relativos, bem como a cessão de direitos a sua

aquisição. Diz o art.156, &2º, I: O imposto previsto no inciso II, que é o ITBI:

I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de

pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos

decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses

casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou

direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil;

Muito bem. Quando você monta uma empresa, você tem que integralizar o capital

social da empresa. Se você transfere imóveis ao capital da empresa, com esse intuito, você

transfere imóvel do seu patrimônio para o patrimônio da empresa. Não há incidência de ITBI,

imunidade. Certo? Da mesma maneira, quando as empresas se fundem e criam uma 3ª

empresa, ou quando há incorporação, cisão, também há mudança de propriedade imobiliária.

Os imóveis, o patrimônio de uma empresa vão para o patrimônio de outra, também não há

incidência. É para não estorvarem economicamente essas atividades empresariais. Na

extinção da empresa, não haverá incidência de ITBI, desde que o imóvel, volte para o

patrimônio do seu antigo proprietário, aquele que utilizou para integralizar a sua parte no

capital social, para evitar fraude. Então, se faria uma coisa muito simples, você quer comprar

um imóvel de alguém, não quer pagar ITBI. Você monta uma empresa com esse alguém,

você entra com o dinheiro e esse alguém entra com o imóvel. Tempos depois, você extingue

a empresa, e você sai com o imóvel e esse alguém sai com o dinheiro. Seria uma fraude aos

interesses fazendários. Então somente quando o imóvel retorna ao patrimônio daquele que o

tenha utilizado para integralizar a sua parte no capital da empresa, a imunidade estará

presente. Tanto na ida quanto na volta. Entenderam?

Bom, não haverá imunidade em qualquer caso se a atividade preponderante da

empresa for exatamente a exploração imobiliária, porque aí o objeto social da empresa se

confunde com a atividade de compra e venda de imóveis, já haveria uma promiscuidade e

uma tentativa, um campo fértil para a fraude. A disposição que regulamenta essa imunidade

é o art.36 e 37, e os parágrafos do art.37 estabelecem quando é que se considera

caracterizada atividade preponderante da empresa. É quando mais de 50% da sua receita,

nos dois antes e nos dois anos posteriores há incorporação imobiliária, sejam compostos de

receitas, de venda de imóveis, arrendamento mercantil e etc. Mais de 50% nesse período,

entre dois antes e dois anos depois da incorporação imobiliária. Não haverá imunidade nesse

caso porque a atividade preponderante é considerada mercado imobiliário. Tudo bem? Então

façam remissão aos artigos 36 e 37 do CTN, que regulamenta essa imunidade.

Mas uma imunidade atinente ao ITBI, embora também possa ser atinente ao ITD é do

art.184 &5º. Vamos interpretá-lo. Art.184 &5º. Leiam comigo, &5º.

§ 5º - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de

transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária.

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Incide imposto na desapropriação? Não incide. Por quê? Porque a desapropriação é

modo originário de aquisição da propriedade. Não há sucessão, não há transmissão nos

modos originários de aquisição de propriedade. É como a arrematação, a hasta pública, não

há a incidência do imposto porque não há transmissão. Não há relação entre o novo

proprietário e o antigo, é aquisição originária. Então não é dessa operação que a CR está

tratando. Ela não vai imunizar um modo originário de aquisição da propriedade de imposto

que onera a transmissão, não há transmissão. Ela está tratando da operação seguinte, por

quê? Porque o poder público desapropria um latifúndio improdutivo e transfere a propriedade

desse latifúndio para o sem-terra. Essa sim, essa operação de transferência do imóvel

desapropriado para fins de reforma agrária ao sem-terra, é que não pode ser tributada. Se

essa for uma operação onerosa, se a União vende o imóvel ao sem-terra, não pode incidir o

ITBI. O sem-terra não está obrigado a pagar o ITBI, por força da imunidade. Agora, se a União

cede gratuitamente através de doação aos Sem-Terra, não incide o ITB, que é imposto

estadual que onera a transmissão, nem um, nem outro. Não há imposto federal possível,

embora a CR fale em impostos federais, estaduais e municipais, foi muito mais genérico do

que precisava, porque aqui a gente cogita do ITD e o ITBI. Entenderam qual é o foco?

Pergunta: Inaudível.

Resposta: Não é para a desapropriação, é para operação seguinte. O poder público

desapropria, adquire originariamente a propriedade, e depois vende ou doa aos sem-terra.

Pergunta: Não faz diferença vender ou doar?

Resposta: Para fins tributários não. Mas se ele vendesse, incidiria o ITBI, não vai incidir.

Se ele doasse, incidiria o ITD. Não vai, nenhum dos dois por quê? Por força do &5º.

Entendeu? Faz diferença por força do título jurídico, mas para fins tributários, o que a CR quis

afastar foi essas transferências, essas transmissões, de imóveis desapropriados para fins de

reforma agrária.

Vamos falar agora de imunidades quanto às taxas. Abram o art.5º da CR, começando

com inciso XXXIV, alíneas a e d. Ele prevê que são a todos assegurados, independentemente

do pagamento de taxas, o direito de petição e a obtenção de certidões. Independentemente

do pagamento de taxas é expressão que confere imunidade às taxas judiciárias, no caso de

obtenção de certidões e direito de petição. Aí você vai dizer, “ah, mas eu cansei de pagar

taxa para obter certidão”, pagou indevidamente, as pessoas pagam porque o valor é

pequeno. A justiça federal durante muito tempo cobrou, R$0,41 centavos por certidão

negativa do distribuidor. Isso dá prejuízo em reclamá-los. Tinha gente que dizia, tipo

administrador, com uma visão estreita né, “não, tem que cobrar alguma coisa para o pessoal

não pedir sem precisar”. Quem é que vai entrar numa fila, pedir uma certidão só porque é de

graça, sem precisar. Quem vai fazer isso? O cara tem que estar muito desocupado, sem ter o

que fazer para se submeter a uma situação dessa. Então, isso acabou. Tanto que hoje você

pede pela internet, você pede não, você imprime direto da internet a certidão. É de graça

como tem que ser.

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Agora evidentemente tem muita gente que vive da burocracia, principalmente os

cartórios, e se você impedi-los de cobrar, você na verdade inviabiliza os cartórios. O fato é

que a CR consagra a imunidade, se a CR está sendo respeitada. A própria justiça estadual

ainda cobra certidão do distribuidor.

Pergunta: Inaudível.

Resposta: Aí a gente está naquela imunidade do art.5º, inciso LXXVI, alíneas a e b. Dá

uma olhada lá.

LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:

a) o registro civil de nascimento;

b) a certidão de óbito;

Para os reconhecidamente pobres, na forma da lei. Eu não sou reconhecidamente

pobre, e eu pedi o registro gratuitamente, no cartório lá no catete, para os meus dois filhos.

Eu levei lá o documento da maternidade, e eu perguntei, quanto é o registro? Não, é de

graça. Eu falei, de graça, você vai me dar um registro, de graça?”. Eu que dou aula de

Tributário, eu não sabia a prática qual era, mas pela CR, eu sabia, “para os

reconhecidamente pobres”. Bom, aí ela me veio com a certidão, sabe papel de pão, é pior.

Aquela impressora matricial fininha, que se bater uma claridade, a gente não consegue ler

nada. Eu olhei assim, é isso aqui? É, a certidão é essa, seu filho está registrado, toma. Tem

certidão melhor que essa? Tem, só que aí eu vou te cobrar.

Pergunta: Inaudível.

Resposta: eu não sei se é inconstitucional porque... (professor e aluno falando ao

mesmo tempo). Quando a lei fala em registro, eu entendo o seguinte, registro e a certidão

que é a prova do registro. E acabou. A 2ª via já seria desídia sua, você perdeu, está dando

um custo a mais para o cartório, que não precisaria ter dado. E aí eu acho razoável cobrar.

Eu não acho absurda essa interpretação não.

Inciso LXXIII. Ação popular. No final diz assim, “ficando o autor, salvo comprovada má-

fé, isento de custas judiciais e ônus da sucumbência”. Isento de custas. Tradução técnico-

jurídico, imune à taxa judiciária, porque as custas tem natureza de taxa judiciária. Imune à

taxa. Então, a ação popular, salvo má-fé do autor, é imune à taxa judiciária.

Agora, outra imunidade quanto a taxa judiciária, só que agora genérica, do inciso

LXXIV, que é a famosa JG, justiça gratuita, que protege os hipossuficientes, os miseráveis

juridicamente. Fala em assistência jurídica integral e gratuita. A imunidade está na expressão

gratuita. Quer dizer, o Estado tem que oferecer advogado e não pode cobrar taxa judiciária

para prestar o serviço judiciário. Inciso LXXIV do art.5º da CR. Também imunidade quanto a

taxa judiciária. Regulamentado aqui no caso pela Lei. 1.060\50, que fala que tem que assinar

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declaração de pobreza, e tal. Agora, para pessoa jurídica, não basta assinar declaração de

pobreza, tem que provar que não tem recursos. A pessoa jurídica tem direito a essa

imunidade, mas tem que provar a insuficiência de recursos. Não basta a declaração de

hipossuficiencia nesse sentido. A pessoa física basta assinar, mas têm muitos juízes exigindo

que a pessoa física prove, por que isso? Eles são instruídos pelo Tribunal, principalmente aqui

no RJ. Sabe por quê? Porque a taxa judiciária vai direto para os cofres do Tribunal. O fundo do

Tribunalç, é o judiciário que administra.

Durante anos atrás, o Tribunal estava oferecendo dinheiro para Rosinha para pagar

13º salário do servidor público, lembra? O Tribunal é cheio de dinheiro. A Justiça do RJ é a

justiça mais avançada do Brasil, porque eles conseguiram administrar o fundo do judiciário.

Então o Presidente, a direção do Tribunal fica exortando os juízes a indeferirem pedido de

assistência judiciária que considerem infundadas, mesmo contra a jurisprudência, por quê?

Porque quem perde com isso é o próprio Tribunal que administra essa verba. Certo? E de

uma maneira geral é bem administrada, porque a justiça fluminense é tida como uma das

mais avançadas do país. O Tribunal de Justiça do Estado do RJ é um dos mais rápidos, senão

o mais rápido do país. E estão sempre expandido com novos fóruns, novas lâminas, o serviço

está melhorando sempre mais, mais e mais. Isso é bom também. Tem um lado bom da coisa.

Habeas corpus e Habeas Data, que nós já tínhamos dito, inciso LXXVII. E atos

necessários ao exercício da cidadania também, emissão de título de eleitor e tal. Agora,

cuidado, nem todas as ações constitucionais estão relacionadas a imunidade quanto às

taxas. A gente falou de habeas corpus, habeas data, ação popular salvo má-fé, mas não

falamos de mandado de injunção e mandado de segurança. Não há imunidade específica no

caso de mandado de injunção e mandado de segurança. Então mandado de segurança e

mandado de injunção se submetem a taxa judiciária.

Finalmente imunidade quanto às contribuições para a seguridade social. Também nós

já adiantamos, art.195 &7º, que fala que as entidades beneficentes de assistência social, são

isentas de contribuições para a seguridade social. São imunes, no caso, tecnicamente

falando, desde que atenda os direitos estabelecidos em lei. Essa lei é a Lei. 8.212, no art.55.

Os requisitos são os seguintes, não precisa anotar não que está na lei, só para ouvir e gravar,

isso é importante se cair em prova. Tem que ser essas entidades reconhecidas como de

utilidade pública federal, estadual ou do DF ou municipal. Então uma entidade federativa tem

que reconhecê-las como de utilidade pública, devem ser portadoras do registro e do

certificado de entidade beneficente fornecido pelo Conselho Nacional de Assistência Social

renovada a cada 3 anos, não podem remunerar diretores, sócios, instituidores ou bem

feitores, tem que aplicar integralmente o resultado operacional na manutenção e

desenvolvimento dos objetivos institucionais, apresentando anualmente ao órgão do INSS

competente, relatório circunstanciado de suas atividades; tem que ter personalidade jurídica

própria, não podendo ser mantida por outra que esteja no gozo da imunidade; e não pode

possuir débitos em relação às contribuições. Aí, se ela preencher todos esses requisitos,

passa a gozar de imunidade em relação às contribuições para a seguridade social.

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Aula 39. Tributário. Mauro Lopes. 301008. Intensivo MP\RJ

Para finalizar por hoje, eu queria falar da imunidade, da suposta imunidade em

repartições consulares e diplomáticas, porque elas não gozam de imunidade tributária. As

repartições consulares e diplomáticas, gozam muitas vezes de isenção proveniente de

tratado. Isenção no tocante a impostos locais sobre o patrimônio, o serviço, relacionadas às

suas atividades essenciais. Mas isenções provenientes de tratados. Essas isenções não são

absolutas. Se não for atividade tipicamente diplomática ou consular, ou se o patrimônio não

tiver afetado a essas atividades, o tributo pode validamente incidir. Certo?

O problema não é a incidência do tributo, porque ela é possível, já que nós já vimos

que não há imunidade tributária. O problema é outra imunidade, a imunidade de jurisdição.

Não a jurisdição do processo de conhecimento, porque o STF já disse que ela não é absoluta.

Então se for ato de gestão, pode ser discutido, e pode inclusive a entidade renunciar a sua

imunidade submetendo-se a jurisdição brasileira, em se tratando de processo de

conhecimento. Agora, em se tratando de processo de execução, a imunidade, a jurisdição

brasileira é absoluta, no organismo internacional.

Segundo o STF, não há sequer a necessidade de se indagar desse organismo

internacional, se aceita de submeter a jurisdição brasileira, porque a imunidade e a jurisdição

de execução é absoluta. E olha, a cobrança de créditos tributários faz via processo de

execução autônomo, execução extrajudicial, que é a execução fiscal. E não cabe execução

fiscal contra Estado Estrangeiro. O STF já reafirmou por maioria, recentemente, essa

orientação no AgRg na ACO 543.

Então, você vai dizer o seguinte, “ah, mas como é que fica, se o tributo validamente

incide, e o Estado Estrangeiro não paga e não pode ser executado, fica como?”. Fica num

constrangimento internacional, fica um mal estar entre as nações. Vem cá, você não vai

pagar o tributo devido não? não, eu não vou pagar. E aí? Então é um constrangimento. Está

certo? Pode gerar retaliação internacional, o que não pode gerar é execução, porque o STF

consagra absoluta do Estado Estrangeiro à jurisdição de execução, no Brasil.

Então vejam, não é imunidade tributária. Eles não têm imunidade tributária. A CR não

prevê essa imunidade. O que há em certos casos são isenções, em certos casos. Fora desses

casos, o tributo incide, tem que ser pago pelo organismo internacional, mas se não for, não

cabe execução, embora gere, repito, constrangimento internacional. Então é impróprio falar

em imunidade tributária de Estado Estrangeiro. O que há é imunidade à jurisdição de

execução. Mas o tributo pode ser exigido na via administrativa, validamente. Você pode

mandar o carnê lá para a entidade pagar, embora não possa haver a exigência em juízo.

Entenderam?

Então eu acho que a gente deu, claro nós fomos em pormenores, mas na apostila

vocês têm todos os pormenores, todos os julgados, todos os números que vejam a ser

pesquisados pelo MPE e MPU, mas a gente deu um apanhado geral na aula de hoje sobre as

imunidades tributárias.

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Aula 39. Tributário. Mauro Lopes. 301008. Intensivo MP\RJ

Na aula que vem, se vocês não se opuserem, eu estava pensando em falarmos em

decadência e prescrição tributárias.

Fim.