as tecnologias digitais em práticas de ensino e de aprendizagem...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ UECE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS CESA MESTRADO ACADÊMICO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE MAPPS LUANDA ARARIPE LUSTOSA DA COSTA As tecnologias digitais em práticas de ensino e de aprendizagem cultivando nativos digitais na escola pública do século XXI Fortaleza-Ceará 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA

MESTRADO ACADÊMICO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE – MAPPS

LUANDA ARARIPE LUSTOSA DA COSTA

As tecnologias digitais em práticas de ensino e de aprendizagem – cultivando

nativos digitais na escola pública do século XXI

Fortaleza-Ceará

2016

LUANDA ARARIPE LUSTOSA DA COSTA

As tecnologias digitais em práticas de ensino e de aprendizagem – cultivando

nativos digitais na escola pública do século XXI

Dissertação submetida ao Curso de Mestrado Acadêmico em

Políticas Públicas e Sociedade do Centro de Estudos Sociais

Aplicados da Universidade Estadual do Ceará, como requisito

parcial à obtenção do título de Mestre em Políticas Públicas e

Sociedade.

Área de Concentração: Políticas Públicas e Sociedade.

Orientadora: Prof.ª. Drª Kadma Marques

Fortaleza-Ceará

2016

BANCA EXAMINADORA

Prof.ª. Drª. Kadma Marques Rodrigues

(Orientadora)

Universidade Estadual do Ceará – UECE

_______________________________________________

Prof. Dr. Sérgio Sobreira de Araújo

Universidade Federal da Bahia – UFBA

_______________________________________________

Prof. Dr. Silas José de Paula

Universidade Federal do Ceará – UFC

________________________________________________

Para Lucas, que sempre me inspira a ser

melhor.

Agradecimentos

Chegar a este momento, depois de todas as angústias e alegrias do percurso, me traz uma

certeza, sozinha eu não estaria aqui. Ser grato é sinal de boa educação, é preciso reconhecer o que

os outros fazem por nós. É com o coração cheio de gratidão que agradeço:

A Deus, que faz o impossível tornar-se possível e que me socorre todas as vezes cheio de

amor, mesmo sabendo que sou filha ingrata.

A UECE, essa instituição que me acompanha desde a graduação e que muito me orgulha.

A FUNCAP, que financiou essa travessia através da bolsa FIT (Fundo de Inovação

Tecnológica), sendo bem mais fácil superar as dificuldades com essa ajuda de custo.

A minha orientadora querida, professora Kadma, que com seu jeito manso e gentil, me

tranquiliza e faz tudo dá certo. Obrigada pela atenção, pelos aprendizados, pela conversa boa e

por essa convivência sadia.

Aos membros da banca, Professor Silas de Paula e Professor Sérgio Sobreira de Araújo

que disponibilizaram tempo e atenção, colocando-se dispostos a participar deste momento. Além

da professora Rosemary, que não pôde participar da defesa, mas que muito contribuiu no

momento da qualificação.

A professora Germana Aline Rocha Matias, professora da disciplina TIC em uma das

escolas pesquisadas, que demonstrou interesse e satisfação em participar deste momento.

A Escola de Ensino Fundamental e Médio Dr. César Calls, em nome do Professor Wilson,

que se dispôs a colaborar com este trabalho e onde encontrei as portas sempre abertas.

A Escola de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra, em nome do diretor Otacílio, me

permitindo trabalhar com calma e me deixando passar tardes e tardes sem se incomodar com a

minha presença.

A Cristina, secretária do mestrado, sempre gentil e disposta a ajudar.

Aos professores do MAPPS, pelo crescimento que me proporcionaram nas disciplinas e

pela convivência feliz.

Ao meu pai querido, que me “tange” nos caminhos acadêmicos, meu maior crítico e

incentivador. Mal finda uma etapa e ele já estar por me cobrar à próxima. A pergunta da vez é a

mesma pergunta da minha orientadora: e o doutorado?

A minha mãe, a quem tudo devo, por me inspirar com sua tranquilidade, otimismo e

alegria de viver.

Ao meu companheiro de todas as horas, com quem divido alegrias, tristezas, o pão e os

dias.

Ao meu filho amado.

A minha amiga Geórgia, meu anjo da guarda na terra.

As minhas irmãs, Lílian e Taline e ao meu irmão, Maurício.

Muitíssimo obrigada!

RESUMO

Com a chegada dos adventos tecnológicos, o professor, antes único detentor da informação,

assume um diferente papel na relação educacional ao se deparar com um novo tipo de aluno, que

chega à escola trazendo consigo a imagem de um mundo que ultrapassa os limites do núcleo

familiar, do professor e da própria escola: são os chamados nativos digitais. Partindo da realidade

escolar do Século XXI, o presente trabalho tem como objetivo analisar o impacto das TIC nas

práticas pedagógicas deste ambiente educacional através dos seus diferentes papéis: como

motivadoras na aprendizagem em geral, como facilitadoras na aquisição de novos conhecimentos

e competências dos alunos, ou ainda, como uma influência positiva no relacionamento entre

aluno e professor. Transformar informação em conhecimento requer que os sujeitos da relação

ensino-aprendizagem falem a mesma linguagem, neste caso, a linguagem das TIC. Este estudo,

muitas reflexões foram feitas, e procurou-se compreender a maneira como os professores estão

lidando com as mudanças advindas da presença dos recursos tecnológicos na escola, a partir do

seu fazer e pensar pedagógicos, assim como, da sua aproximação com o grupo, analisando as

formas e condições concretas e efetivas do trabalho educativo nas escolas públicas estaduais de

Ensino Médio do Estado do Ceará.

Palavras chaves: nativos digitais, Tecnologias da Comunicação e Informação, escolas

públicas.

ABSTRACT

With the technological advents, the teacher, before only information’s holder, takes on a different

role in the educational process, when faced with a new type of students who comes to school

carrying with them the image of a world that goes beyond the boundaries of the core family the

teacher and the school: they are called digital natives. Starting from the school reality of the

twenty-first century, this study aims to analyze the impact of the Information and Communication

Technology in teaching practices of this educational environment through their different roles: as

motivating learning in general and facilitate the acquisition of new knowledge and skills of

students, or, as a positive influence on the relationship between student and teacher.

Transforming information into knowledge requires that the subjects of the teaching-learning

speak the same language, in our case, the language of Information and Communication

Technology. In this study, some reflections were made, and we tried to understand how teachers

are coping with the changes arising from the presence of technological resources in the school,

from its doing and thinking teaching, as well as its approach to the group, analyzing the forms

and concrete and effective conditions of educational work in the public schools of the Ensino

Médio do Estado do Ceará.

Key words: digital natives, Information and Communication Technology, public schools.

“A alegria não chega apenas no encontro do

achado, mas faz parte do processo da busca. E

ensinar e aprender não pode dar-se fora da

procura, fora da boniteza e da alegria”.

(Paulo Freire)

SUMÁRIO

Introdução.....................................................................................................................................01

1. A escola na era do byte.............................................................................................................13

1.1 Modernidade e (Pós) Modernidade..........................................................................................13

1.2 A transformação das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).................................16

1.3 O computador e a internet........................................................................................................22

2. Políticas Públicas de fomento às tecnologias digitais na escola............................................28

2.1 O uso das TIC na educação – o papel da UNESCO.................................................................28

2.2 Políticas Públicas para promover o uso das TIC na educação..................................................29

2.3 Programa Brasileiro de Inclusão Digital..................................................................................34

2.4 Programa Um Computador por Aluno (PROUCA).................................................................36

2.5 O PROUCA no Estado do Ceará..............................................................................................38

2.6 Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo).......................................................39

2.7 Programa Computador Portátil para Professores......................................................................42

2.8 Programa Banda Larga nas Escolas..........................................................................................44

2.9 Programa Banda Larga nas Escolas do Ceará..........................................................................44

3.Um percurso em campo............................................................................................................46

3.1A pesquisa qualitativa................................................................................................................46

3.2 Inserção no campo – a escolha das escolas..............................................................................49

3.3 Notas da primeira visita à Escola César Calls..........................................................................53

3.4Notas da primeira visita à Escola Adauto Bezerra....................................................................56

3.5A etnografia visual do professor dos nativos digitais................................................................60

3.6 A inserção da disciplina TIC na estrutura curricular................................................................70

3.7 Entrevistando o professor que não usa as TIC em sala de aula................................................74

Considerações finais.....................................................................................................................79

Referências Bibliográficas

LISTA DE SIGLAS

AMI Alfabetização Midiática e Informacional

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Social

CENPRA Centro de Pesquisa Renato Archer

CERTI Centros de Referência em Tecnologia

CETIC Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação

CGI Comitê Gestor de Internet

CIED Centro de Informática e Educação

CONSED Conselho Nacional de Secretários de Educação

CREDE Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação

ENEM Exame Nacional de Ensino Médio

FACTI Fundação de Apoio à Capacitação em Tecnologia da Informação

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

LEI Laboratórios Escolares de Informática

LSI Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológicos

MEC Ministério da Educação

NTE Núcleos de Tecnologia Educacional

PCA Professores Coordenadores de Área

ProInfo Programa Nacional de Tecnologia Educacional

Prouni Programa Universidade para Todos

PROUCA Programa Um Computador por Aluno

SEDUC Secretaria de Estado de Educação

SEED Secretaria de Educação à Distância

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SIMEC Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle

SPAECE Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará

TIC Tecnologias da Informação e Comunicação

UECE Universidade Estadual do Ceará

UFC Universidade Federal do Ceará

UNDIME União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Tabela 1: Recursos e ferramentas informatizadas disponíveis na escola

Tabela 2: Titulação dos professores do Ensino Médio

Gráfico 1: Aplicativos e Programas utilizados pelo professor em sala de aula

Gráfico 2: Recursos utilizados em sala de aula pelos professores

Gráfico 3: Usuários de internet no ambiente escolar

Gráfico 4: Aplicativos e programas utilizados pelos professores fora do ambiente escolar

INTRODUÇÃO

O mundo contemporâneo, marcado pelos efeitos da “virada tecnológica”, vive sob o signo

de mudanças aceleradas e descontínuas que encurtam distâncias e temporalidades. Segundo

Santos (1986) tais processos espaços temporais caracterizam o ritmo de vida na chamada aldeia

global. A este contexto, Jair Ferreira dos Santos (1968:8), designa como pós-modernidade,

caracterizando-o como um conjunto de

Mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades avançadas desde 1950. Nasce com a

arquitetura e a computação nos anos 50, toma corpo com a arte pop nos anos 60. Cresce ao entrar na

filosofia, durante os anos 70, como crítica da cultura. E amadurece hoje, alastrando-se na moda, no

cinema, na música e no cotidiano programado pela tecnociência (ciência + tecnologia invadindo o

cotidiano desde alimentos processados até microcomputadores) sem que ninguém saiba se é

decadência ou renascimento cultural. (SANTOS, 1968)

Assim, em um mundo globalizado, as tecnologias aliadas ao marketing têm estimulado o

consumo em massa. Nesse contexto, a força de trabalho mobiliza-se em busca do lazer e do

prazer em “ter”, em consumir. Se por um lado, os dispositivos eletrônicos permitem o acesso às

grandes bibliotecas, a grupos de estudos, a cursos online, fazendo com que as informações sejam

“compartilhadas”, por outro, tais informações somente são consumidas e descartadas instantânea

e simultaneamente, à custa de uma invasão e sobrecarga sem precedentes do campo existencial

dos sujeitos.

Os dispositivos eletrônicos permitem o acesso às grandes bibliotecas, a grupos de estudos,

a cursos online, fazendo com que as informações sejam “compartilhadas”. Por outro lado, tais

informações somente são consumidas e descartadas instantânea e simultaneamente, à custa de

uma invasão sem precedentes do campo existencial dos sujeitos. A comunicação viabiliza

“presenças” mesmo a quilômetros de distância, por meio de equipamentos, como telefones

celulares, tabletes, notebooks, videoconferências, etc. Neste contexto, interatividade é o

neologismo usado para designar a relação homem-máquina, ou mais precisamente, um programa

que a máquina opera, possibilitando interação com o usuário. (Sodré, 2002).

Raphael Lucchesi, economista e diretor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

(SENAI), costuma afirmar que “temos uma escola do século XIX, com professores do século XX

e alunos do século XXI”. Esta afirmação faz todo sentido no contexto desse trabalho. A escola do

século XIX se caracteriza como uma organização na qual o estudante ingressa e cumpre

gradativamente a estrutura curricular, seguindo a premissa que o conhecimento é finito e

determinado. Ao final do percurso escolar, a escola legitima socialmente o ex-discente como um

sujeito apto a ingressar no mercado de trabalho. Desse modo, o ensino é centrado no professor,

persistem cursos iguais para todos, com apresentação unilateral do conteúdo.

O professor do século XX é o que Marc Prensky chama de imigrante digital, em seu

artigo “Digital Natives, Digital Immigrants”, de 2001. Os imigrantes digitais, quando nasceram,

não foram socializados imediatamente com as novas tecnologias da informação e comunicação,

tendo que aprender a lidar com elas posteriormente. O autor estabelece um comparativo entre os

usuários das tecnologias e os falantes de uma língua e afirma que os imigrantes digitais possuem

um “sotaque”, que pode ser percebido, por exemplo, quando leem um manual para baixar um

programa em vez de assumir que o programa o ensinará como utilizá-lo. Este sotaque é explicado

pelo autor como um vínculo com o passado durante o processo de adaptação e aprendizado das

novas tecnologias, pois uma língua aprendida mais tarde, segundo os cientistas, aloja-se em uma

área diferente do cérebro. (Prensky, 2001)

Os professores, imigrantes digitais, não acreditam que seus alunos possam aprender

ouvindo música, assistindo ao YouTube ou à televisão ou ainda jogando videogame, porque não

foi assim com eles, pois a aprendizagem acha-se associada ao esforço, mais do que à diversão.

Prensky cita em seu artigo a reclamação de um estudante do ensino médio: “toda vez que vou à

escola, tenho que diminuir minha energia”; e outro do jardim da infância que disse na hora do

recreio: “www.hungry.com”, querendo demonstrar que sentia fome.

Os alunos do século XXI são aqueles que Marc Prensky chamou de nativos digitais. Eles,

falantes nativos da linguagem digital de computadores e internet, são acostumados a receber

informações rapidamente e costumam realizar múltiplas tarefas simultaneamente.

Os alunos de hoje – do maternal à faculdade – representam as primeiras gerações que cresceram

com esta nova tecnologia. Eles passaram a vida inteira cercados e usando computadores,

videogames, tocadores de músicas digitais, câmeras de vídeo, telefones celulares, e todos os outros

brinquedos e ferramentas da era digital. Em média, um aluno graduado passou menos de 5000 horas

de sua vida lendo, mas acima de 10000 horas jogando videogames (sem contar as 20000 horas

assistindo à televisão). Os jogos de computadores, e-mail, a Internet, os telefones celulares e as

mensagens instantâneas são partes integrantes de suas vidas. (PRENSKY, 2001).

Muniz Sodré lembra que, “a internet é a espinha dorsal da vida contemporânea”. Quando

o foco é a aprendizagem escolar, verifica-se claramente uma assincronia entre o mundo

globalizado e a realidade das instituições de ensino.

No contexto atual, ensinar e aprender ganharam novas dimensões. Este par assumiu uma

dinâmica diversa, onde jamais alguém se torna completo, pleno de conhecimentos. Na atualidade,

a informação tornou-se rápida e efêmera que, tão logo é adquirida, tão logo é superada e

esquecida, sendo o sujeito aprendiz novamente desafiado a adquirir outros conhecimentos.

Este cenário apresenta pelo menos duas dimensões que merecem ser consideradas: os

educandos vivem a efervescência do mundo digital e todas as suas possibilidades (baixam

músicas da internet, participam de redes sociais, informam-se pelo Facebook, comunicam-se por

mensagens instantâneas, assistem mais ao YouTube do que à televisão e descobrem o endereço

dos colegas utilizando o Google Maps); os professores, na maioria das vezes, são pouco

preparados para utilizar as novas tecnologias como recursos em sala de aula. Esse hiato entre

educadores e educandos parece interferir no interesse destes pelas aulas que assumem ares de

cultura escolar “tradicional”, em face da experiência imersiva de acesso rápido a um mundo de

informações organizado na forma de “janelas” e “abas” que parecem nunca se esgotar.

A noção de escola como instituição onde o professor assume uma posição de autoridade

hierarquizada, verticalizada, impondo a seus estudantes o saber social herdado, configura um

modelo démodé. Acrescente-se a isso que, na perspectiva dos arautos da inovação tecnológica, o

professor não é mais o único e nem o principal representante do saber, pois professam a crença de

que somos todos “sujeitos do saber”.

Aquele modelo de aprendizagem poderia ser comparado ao das empresas pós-guerra

(gestão em níveis múltiplos e especializados, rígidas estruturas hierárquicas e escassez de

informações), mas os gestores percebem que, na configuração do mundo contemporâneo, aquele

“modus operandi” deve ser ultrapassado. A estratégia discursiva adotada passou então a ser

aquela da cooperação e da auto-organização, mediante o estabelecimento de relações

caracterizadas pela transparência e visibilidade. (Sodré, 2002).

Este cenário, marcado ainda pela ideologia neoliberal do empreendedorismo, o professor

ganha um novo status: mentor, facilitador, motivador. Esta nomenclatura e seus equivalentes não

deixam espaço para uma relação hierárquica e disciplinar. Embora haja uma tendência a imaginar

que o professor poderá em breve ser substituído por um programa de computador, por ser este

potencialmente mais eficaz em termos de informações e recursos, quando se trata da função

política, ética ou moral assumida perante os estudantes, o docente ainda configura-se como elo

imprescindível à cadeia ensino-aprendizagem.

Contribuir para a formação ética e moral dos alunos para que se formem alunos cidadãos

com consciência da realidade, conhecimento dos mecanismos de controle e defesa de direitos é

um dos desafios da escola contemporânea, que se materializa no professor em sala de aula,

construindo constantemente a ideia de participação social.

Assim, com foco especial na formação docente, a UNESCO (Organização das Nações

Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) lançou em 2013 um modelo de qualificação do

trabalho do professor chamado “Alfabetização Midiática e Informacional: currículo para

formação de professores”, com o objetivo de capacitá-los à integração no sistema formal de

educação, inserindo-os como multiplicadores de um processo catalítico que deve alcançar

milhões de estudantes. É preciso considerar ainda que, voltada à busca por igualdade de

oportunidades viabilizada pela Alfabetização Midiática e Informacional – AMI (Media and

Information Literacy – MIL), a UNESCO tem promovido um modelo de atuação que preconiza o

acesso igualitário à informação e ao conhecimento dos sistemas de mídia e informações livres,

independentes e plurais.

Esta ação traduz uma concepção de educação segundo a qual qualquer perspectiva de

modificação da escola passa por sua ressignificação como instituição social. Faz-se necessário

então questionar os usos das tecnologias em sala de aula pelos professores, uma vez que esta

prática já se encontra difundida por todo o tecido social; bem como, problematizar o sentido do

processo educacional como um todo, a fim de compreender por que vias pode se construir um

modelo de escola mais interativa e compatível com os estudantes do século XXI.

As inovações tecnológicas requerem que os profissionais de educação se adaptem aos

novos tempos. Isto não significa total concordância com este processo, mas maior flexibilização

do conhecimento, usando tais inovações como facilitadoras do processo de ensino, e não como

entraves.

Feitas essas considerações, este trabalho tem como questão principal: como as TIC

(Tecnologias da Informação e Comunicação) impactam no processo de socialização escolar, a

partir da relação ensino-aprendizagem? Considerando esta pergunta inicial e para efeito de

compreensão dessa problemática, outra questão foi pensada: até que ponto a socialização escolar,

promovida pelas escolas públicas estaduais do Ceará contribui para a emergência dos nativos

digitais?

Partindo dessas questões, o objetivo principal dessa pesquisa é problematizar as

experiências de socialização com as TIC no âmbito da Rede de Ensino Médio Estadual, a fim de

compreender o papel, as funções e o uso das TIC no processo de ensino-aprendizagem nestas

escolas.

Já os objetivos específicos da pesquisa exigem uma reflexão sobre as seguintes questões:

Quais recursos materiais subsidiam este trabalho? Como se organiza o ambiente de

trabalho escolar com as TIC?

Quais programas e aplicativos são mais utilizados?

Qual é o perfil dos professores que utilizam as TIC na Escola Pública?

Eles são capacitados para este uso?

Há resistência dos professores quanto ao uso das TIC no processo de ensino-

aprendizagem?

O uso das TIC contribui para tornar o aprendizado mais atrativo?

Qual a recepção dos alunos quando se utilizam as TIC?

Fora do ambiente escolar, professores e estudantes interagem com as TIC?

Com que frequência?

Os objetivos específicos deste trabalho são:

Identificar escolas-modelo e políticas públicas elaboradas para socialização de

estudantes de ensino médio com as TIC.

Traçar o perfil do professor que se utiliza das TIC

Analisar se o uso das tecnologias digitais em sala de aula contribui para que o

aprendizado se torne mais atrativo para os alunos.

Verificar se os professores estão capacitados para usar as ferramentas de TIC na sala

de aula de modo a contribuir para o processo de aprendizagem.

As inovações tecnológicas requerem que os profissionais de educação se adaptem aos

novos tempos. Isto não significa total concordância com este processo, mas maior flexibilização

do conhecimento, usando tais inovações como facilitadoras do processo de ensino, e não como

entraves.

Corpus da pesquisa

Segundo dados de 2014 da Coordenaria de Avaliação e Acompanhamento da Educação,

da Secretaria da Educação, o estado do Ceará tem 621 escolas públicas de ensino médio,

compondo um universo de experiências com o uso das TIC bastante significativo em termos

numéricos. Mas como selecionar aquelas que seriam mais representativas? A escolha deu-se por

uma série de fatores, dentre eles o fato de que as duas escolas selecionadas se destacam em

termos de iniciativas no âmbito da rede pública de ensino estadual, segundo informações obtidas

na SEDUC-CE. São elas a Escola de Ensino Fundamental e Médio Dr. César Calls e a Escola de

Ensino Médio Governador Adauto Bezerra.

A primeira acha-se localizada na Avenida Domingos Olímpio, 1800, no bairro Farias

Brito, em Fortaleza, contando com 1412 alunos matriculados na 8ª e 9ª séries do Ensino

Fundamental e no Ensino Médio. A evasão encontra-se na média cearense, cerca de

aproximadamente 10%.

A escola conta com as seguintes propostas para o uso das TIC: um projeto de tecnologia

avançada em Robótica Educacional, o qual busca desenvolver nos estudantes a capacidade de

raciocínio lógico, as habilidades relacionadas com desenho geométrico, construção de maquetes,

Ciências Exatas utilizando a Informática e a linguagem de programação. Esse projeto teve início

em 2009, primeiro no Ensino Médio e depois no Ensino Fundamental, com o programa Mais

Educação, envolvendo um grupo de 40 alunos.

Ela também conta com um blog, alimentado pelos professores, e outro, mantido pelos

estudantes, bem como tem no facebook sua principal ferramenta de comunicação entre escola e

comunidade. No final do ano de 2014, 14 alunos foram premiados com computadores por bom

desempenho escolar.

A segunda, localizada na Rua Monsenhor Liberato, 1850, no bairro de Fátima, em

Fortaleza, tem 2000 alunos matriculados no Ensino Médio. A evasão é de 3% no turno da manhã

e 14% no turno da noite, encontrando-se também abaixo da média cearense.

A Escola de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra usa as tecnologias para auxiliar na

aula tradicional, como, por exemplo, com o uso do programa GEOGEBRA, um software de

Matemática dinâmica para todos os níveis de ensino, reunindo em um único programa:

Geometria, Álgebra, Planilha de Cálculos, Probabilidade, Estatística e Cálculos Simbólicos.

A escola tem um blog, alimentado por professores e coordenadores pedagógicos e

também utiliza o facebook como principal ferramenta de comunicação com a comunidade. Foi

premiada pelo Programa “Aprender pra valer”, que busca a elevação do desempenho dos alunos

do ensino médio com níveis de proficiência adequados a cada série, bem como a articulação com

a educação profissional e tecnológica. A escola recebeu por isto 304 computadores destinados

aos alunos que atingiram certo perfil em termos de proficiência. Este programa efetiva-se pela

Avaliação Censitária do Ensino Médio realizada pelo Sistema Permanente de Avaliação da

Educação Básica do Ceará (SPAECE).

O SPAECE é um sistema de avaliação que abrange as escolas públicas das redes estadual

e municipal do estado e avalia os alunos da Educação Básica, da alfabetização ao Ensino Médio.

O SPAECE fornece subsídios para a formulação, reformulação e monitoramento das políticas

educacionais, vislumbrando a oferta de um ensino de qualidade na rede pública.

Em cada edição, são aplicados testes de desempenho e questionários contextuais aos

estudantes, visando traçar um panorama da qualidade do ensino. A partir dos resultados, os

gestores de educação podem elaborar e monitorar políticas, programas e projetos educacionais;

nas escolas, os diretores, os coordenadores pedagógicos, os professores, os estudantes e os

responsáveis podem redefinir ações para introduzir ajustes no projeto pedagógico da escola.

Assim, os dados fornecidos pelo SPAECE constituem ferramenta importante para diagnosticar os

resultados escolares e prestar esclarecimentos à sociedade sobre o ensino público cearense.

No contexto de atuação do SPAECE, é preciso considerar que o surgimento da internet e

de todas as novas formas de comunicação e informação provocou mudanças nas formas de

pensar, agir, interagir, ler e aprender. Embora enfraquecido, o modelo disciplinar, no qual o

professor é o dono do saber e organizador do espaço da sala de aula, ainda representa um hiato

entre a vanguarda tecnológica e a educação que se configura dentro dos muros da escola.

No âmbito da educação escolar cearense persiste em muitos casos a estrutura da sala de

aula onde existe apenas um sujeito ativo: o professor, aquele que detém o conhecimento que deve

ser transferido aos estudantes, sem que estes sejam capazes de formular uma reflexão crítica. São

aulas expositivas e baseadas em texto, memorização de conteúdo e leitura de livros didáticos.

Neste contexto, o educando não é incentivado a problematizar, nem a relacionar conteúdo e

realidade, conformando um ensino desvinculado do real.

Bernard Charlot (1976) aponta que este modelo de ensino representa uma inadaptação da

escola à sociedade contemporânea. Ele difunde um saber fossilizado, que não leva em conta as

transformações aceleradas do mundo atual, tendo fraca potência de informação se comparada à

dos mass midia. Sob a perspectiva dita conservadora, a escola assegura a socialização de uma

cultura que deixou de tornar inteligível o mundo em que vivemos e que desconhece as novas

formas culturais que ganham lugar na sociedade de hoje. A escola, prisioneira de tradições

passadas, configura-se como uma organização inapta para apreender a sociedade do presente.

É confrontado a este cenário que o presente trabalho foi elaborado, buscando compreender

como os professores e jovens convivem com o uso das TIC no ambiente escolar e, mais

precisamente, em sala de aula, sem desconsiderar as relações existentes entre este espaço e o das

práticas sociais cotidianas.

Compreender esse par “ensinar aprender” da perspectiva dos alunos, ditos nativos digitais

e dos professores, imigrantes digitais, traz pela problemática em si uma inovação: questionar se

um modelo de escola mais interativa não atende as necessidades dos nativos digitais, bem como

questionar se os professores são capacitados para usar as TIC no processo de ensino-

aprendizagem.

Há uma clara tensão entre alunos e professores, os primeiros anseiam por uma aula mais

interativa, com a utilização de recursos de multimídia, vídeos, jogos e a escola não se encontra

preparada para esse tipo de aula. Os últimos, os professores, também gostariam de usar mais

recursos tecnológicos no aprendizado, mas esbarra em questões como a falta de internet em toda

a escola, ficando quase sempre limitada aos laboratórios de informática, a falta de planejamento

para que o conteúdo não se perca nas redes sociais e a falta de capacitação para utilizar esses

recursos de forma mais eficaz.

Para compreender o campo e os sujeitos estudados a partir de conceitos, pressupostos e

teorias, fez-se necessário definir as principais categorias analíticas que serão abordadas neste

trabalho. Nesse sentido, os Nativos Digitais é a categoria principal. Este termo foi utilizado pela

primeira vez em 2001, pelo escritor, educador e designer de videogames, o americano Marc

Prensky, em seu artigo “Digital Natives, Digital Immigrants”.

Tecnologias digitais ou novas tecnologias, neste estudo, são as tecnologias capazes de

promover a interação entre indivíduos. Essa definição é partilhada por autores como Lévy,

Castells, Giddens, Sousa e Fisher. Quando se fala em novas tecnologias, não se pode deixar de

mencionar a interatividade. Interatividade é o neologismo usado para designar a relação

homem-máquina, ou precisamente um programa que a máquina opera. A interatividade também é

uma forma de controle tecnológico sobre a vida social. Neste sentido, cada cidadão é espião do

outro e todos são vigiados pelas máquinas de visão, públicas e privadas. Os soft sensors são

capazes de dizer quem somos, o que gostamos e com quem nos relacionamos. (Sodré, 2002).

Vale adicionar o conceito de interatividade de André Lemos (1997), outro importante

pesquisador da Cibercultura. Para o autor, interatividade é nada mais que uma nova forma de

interação técnica, de característica eletrônico digital que se diferencia da interação analógica que

caracteriza a mídia tradicional. Lemos acrescenta que as mídias tradicionais, como o rádio, a

televisão, as revistas e os jornais impõem ao espectador uma passividade, assim como há uma

seleção no que será transmitido, é o que o autor chamou de um modelo transmissionista “um-

todos”. As tecnologias digitais trazem novas formas de interação e transmissão de informações,

seria o modelo “todos-todos”, que se caracteriza por uma forma descentralizada e universal de

circulação de informações.

A interatividade revela outro fenômeno recente, a emergência da denominada “geografia

virtual”. Nesta perspectiva é possível observar outra geografia, diferente da física, segundo a qual

se pode habitar um espaço na “rede”. Essa “geografia virtual” mobiliza grupos sociais por

interação das mais diversas, como e-mails, facebook, blogs. O que pode levar ao surgimento de

movimentos políticos na rede, sem a interferência de partidos políticos, como aconteceu na

primavera árabe em janeiro de 2011 e no movimento Passe Livre, em 2013, quando diversos

movimentos sociais surgiram da comunicação e palavras de ordem que circulavam nas redes

sociais e no facebook. (Sodré, 2002).

Para trabalhar a Educação, usei autores como Pierre Levy, Saviani, Moacir Gadotti,

Louis Not, Mizukani, Ladislau Dowbor, Maria Neide Sobral, dentre outros. A categoria

“educação”, estudada neste trabalho, se volta para a inserção das TIC no processo de ensino-

aprendizagem.

Propor um estudo sobre os nativos digitais, uma categoria muito debatida (não exatamente

com essa nomenclatura) na Educação e na Pedagogia, mas que pouco se investiga nas Ciências

Sociais, é tarefa das mais ousadas. Primeiro, foi preciso criar e reinventar formas sociológicas de

olhar para esses sujeitos. Pensar como a educação é influenciada pelo uso das TIC e da internet

requer uma compreensão mais ampla do fenômeno educacional, pois é também indispensável

pensar como a internet e as tecnologias digitais são utilizadas pela sociedade como um todo,

como elas influenciam as práticas cotidianas, as relações entre os indivíduos e até a

individualidade.

Na articulação entre teoria e empiria, foi imperativo estabelecer um equilíbrio entre a

perspectiva do campo e as perspectivas de diferentes autores buscando um caminho que não se

perca na interseção de vários campos: da Sociologia à Educação, da Comunicação às Políticas

Públicas, das Tecnologias da Comunicação e da Informação à Cultura.

Para tentar apreender a complexidade desse universo, partiram-se da premissa que as

Políticas Públicas de inserção das TIC na Educação congregam vários níveis empíricos: são de

âmbito internacional, nacional e estadual, chegando à realidade escolar.

Ver os jovens sempre conectados, cada um com seu celular, frequentemente ligado a uma

rede social, Facebook, Whatsapp, Instagram, sempre empenhados em descobrir a senha da

internet Wi-Fi da escola, e a preocupação dos coordenadores com o momento em que o “cinturão

digital” se instalar realmente e os alunos tiverem internet Wi-Fi o tempo todo foi animador. É

clara a tensão crescente entre usuários e escolas, tendo estas que se adaptar ao estudante do

século XXI. Este momento talvez se converta assim em um marco que assinala um novo tempo.

Aspectos metodológicos

Nesta pesquisa percebe-se uma relação dinâmica entre o mundo real e os sujeitos e não há

a possibilidade de dissociar a subjetividade dos sujeitos do objeto que o cerca, portanto, do ponto

de vista da abordagem, trata-se de pesquisa qualitativa. Não serão utilizados métodos estatísticos

para atribuir significado ao objeto, tendo por isso aspecto descritivo, sendo o ambiente natural, no

caso, a escola, a fonte para a coleta de dados. A observação em campo é voltada para a

compreensão e influência das TIC no processo de ensino-aprendizagem e na emergência dos

nativos digitais.

A quantificação de valores não é prioridade neste estudo, a compreensão da dinâmica das

relações sociais no ambiente escolar é que se faz importante, sendo o método investigativo

observacional voltado para o aprofundamento da compreensão da comunidade escolar. O

pesquisador é instrumento chave para ocupar-se do processo e não, simplesmente, dos resultados

em si.

As primeiras análises foram realizadas a partir das primeiras percepções no campo

empírico. A pesquisa tem caráter descritivo e exprime detalhadamente os sujeitos da comunidade

escolar: gestores, professores, alunos e colaboradores. Apesar de buscar o efeito dos usos das TIC

no ambiente escolar, esta pesquisa vai um pouco além e tenta compreender an passant, o impacto

que tem a tecnologia na vida dos sujeitos citados.

Após o registro dos fatos observados e a seleção dos pontos que mais influenciam esta

problemática, os questionamentos relevantes serviram de embasamento para a elaboração do

roteiro de entrevista apresentado aos docentes. Após a etapa de observação, a entrevista subsidiou

a obtenção de informações a respeito sabem, creem, esperam, sentem ou desejam, pretendem

fazer, fazem ou fizeram e também acerca das suas explicações ou razões a respeito de fatos

vivenciados anteriormente.

Os dados foram coletados através de entrevistas semiestruturadas, formuladas com base

na observação em campo e dirigidas aos professores pessoalmente, face a face, ultrapassando as

quinze perguntas apresentadas na face exploratória da pesquisa. As entrevistas foram transcritas

em mãos e cada frase, interjeição e interrupção foram considerados.

Já que as observações e entrevistas foram realizadas em duas escolas públicas que

inseriram as TIC em sala de aula, o método comparativo revelou-se valioso na comparação dos

resultados obtidos: os dois ambientes foram confrontados, com a finalidade de verificar

similitudes e divergências.

Resumindo o processo: após a escolha bibliográfica, partiu-se para a escrita da teoria do

fenômeno estudado, de modo a compreender, coletar e apresentar novos dados referentes à

temática. Em seguida, prosseguiu-se com a pesquisa de campo com o objetivo de observar in loco

os sujeitos do problema. Ao aplicar as entrevistas, a interpretação qualitativa foi responsável por

guiar a maior parte da pesquisa e o estudo comparativo foi fundamental para as análises e

proposições finais.

1 ESCOLA NA ERA BYTE

1.1Modernidade e (Pós) Modernidade

A atualidade mundial resulta de um período histórico de reestruturação global cuja marca

tem sido a revolução tecnológica. A sociedade emergente é capitalista e informacional. Embora

diferente em cada lugar do planeta, a pós-modernidade parece nos unir numa “aldeia global”

(Santos, 1986). O emprego do termo pós-modernidade ainda não encontrou um consenso entre

pesquisadores que buscam entender o momento contemporâneo. Há quem argumente que esse

movimento sociocultural que se tem caracterizado como pós-moderno ainda está sob a regência

da modernidade, momento histórico que ainda não teria se esgotado. A pós-modernidade denota

o que vem depois da modernidade, designando uma ruptura com o período moderno. É possível

aceitar que vivemos a transição para a pós-modernidade que se traduz por um percurso ainda não

consolidado.

O termo moderno, do latim modernos, surgiu no século V e servia para diferenciar a então

era cristã da outrora era pagã. Entretanto, visto contemporaneamente, a modernidade é a quebra

dos vínculos transcendentais que explicavam a relação do ser humano com o mundo, tendo a

razão como produção de saberes, ciência e objetividade, se distanciando da religião e de poderes

metafísicos. O sujeito moderno pretendia utilizar-se da razão para “produzir” progresso. Assim, a

modernidade se caracteriza pela racionalidade utilitária que não se direciona apenas para o

conhecimento científico, mas também para a arte, a ética, a moral, as relações sociais. Segundo a

teoria sociológica alemã do início do século XX, a modernidade sugere a progressiva

secularização, racionalização e diferenciação econômica e administrativa do mundo social

(Weber, Simmel), que fizeram nascer o Estado Moderno e o capitalismo industrial.

Por sua vez, Jürgen Habermas (2002) procura compreender as características dominantes

da modernidade, desenvolvendo sua análise sob duas perspectivas: a filosófica, denominada

modernidade cultural e a sociológica, que chamou de modernidade social.

Habermas aponta Hegel como o primeiro filósofo a pensar nos problemas da

modernidade, buscando soluções para eles e é nessa esteira que desenvolve o que denominou de

modernidade cultural. Para compreender a modernidade cultural, Habermas aponta três eventos

fundamentais: a Reforma Protestante, quando o sujeito passa a ter acesso ao divino sem a

intercessão do soberano; a Revolução Francesa que se volta contra as leis divinas e proclama a

liberdade do sujeito; e o Iluminismo que dividiu a cultura em ciência, moral e arte. Os “novos

tempos” ou “tempos modernos” não indicavam apenas um período da cronologia histórica, mas

uma ruptura com a tradição medieval.

Para que essa ruptura se justifique e legitime os novos tempos, é preciso que a

modernidade se diferencie da tradição (anterior). Habermas afirma que Hegel em sua busca por

apreender a modernidade, estabelece como princípio dos novos tempos a subjetividade, que

apresenta quatro características essenciais: o individualismo, que se traduz em um indivíduo

único que tenta fazer valer suas pretensões; o direito de crítica, aquilo que busca ser aceito tem

que ser legitimado por cada um e se encontra aberto à crítica; a autonomia de ação, a ideia de que

o sujeito moderno pode dar leis a si mesmo; e a filosofia idealista, a filosofia põe como objeto de

conhecimento o próprio “eu” que o conhece.

Habermas definiu a modernidade cultural como a diferenciação da cultura nos três

âmbitos trazidos pelo Iluminismo. A ciência provoca o desencanto do mundo, deixando o sujeito

livre para conhecer as leis da natureza. A moral não mais se traduz em ideias que distanciam de

forma substantiva o certo do errado, mas na autonomia da racionalidade, onde cada um persiga o

bem-estar particular em conformidade com o bem-estar dos outros. E a arte não mais se sujeita à

expressão da vida das divindades, mas à exteriorização do “eu” pelo artista.

Israelo-francês Lyotard (1998) descreveu um novo modo de pensar e viver que

denominou de “condição pós-moderna”. Lyotard utilizou o vocábulo pós-moderno para descrever

as sociedades desenvolvidas e compreender o estado de cultura após transformações no campo da

arte, da ciência, da literatura e da moral e a crise das grandes narrativas do final do século XIX.

A pós-modernidade para Lyotard se caracteriza pela descrença nesses “metarrelatos”, as

grandes narrativas passam a não inspirar crença no jogo da linguagem e quem tem poder de

decisão determina que a vida só tenha por objetivo o aumento da eficácia. O autor não traça um

quadro cronológico do surgimento desse período, mas afirma que foi nos anos 1950 que a Europa

passou por uma desconstrução e que esse período variou de um país para outro.

O fato é que nas sociedades desenvolvidas o saber científico passa a ser somente uma

espécie de discurso, dentro da “deslegitimação dos metarrelatos”. “O saber muda de estatuto ao

mesmo tempo em que as sociedades entram na idade dita pós-industrial e as culturas na idade dita

pós-moderna”. (LYOTARD, 1998, p.3). Ainda segundo Lyotard, o conhecimento não é mais algo

constitutivo do sujeito, que era o princípio da formação moderna, o conhecimento se aparta do

sujeito cognoscente. O saber passa a ser mercadoria de valor e meio de troca, principal elemento

econômico nas economias desenvolvidas, tornando secundário seu valor de uso. O valor do

conhecimento é melhorar o desempenho do processo produtivo e não mais sua capacidade de

retirar a ignorância de alguém.

Sob a forma de mercadoria informacional indispensável ao poderio produtivo, o saber já é e será um

desafio maior, talvez o mais importante, na competição mundial pelo poder. Do mesmo modo que

os Estados-nações se bateram para dominar territórios, e com isto dominar o acesso e a exploração

de matérias-primas e da mão de obra barata, é concebível que eles se batam no futuro para dominar

as informações. (LYOTARD, 2009)

A modificação do estatuto do saber na cultura pós-moderna ou sociedade informatizada,

segundo Lyotard, busca compreender aspectos da formação (do saber) e dos efeitos sobre o poder

público e as instituições. O autor também questiona o progresso das ciências e tecnologias

correspondente ao crescimento e desenvolvimento sociopolítico; o saber científico não é

sinônimo do saber, existe também outra espécie de saber, não menos importante, o saber

narrativo.

A sociedade resultante dessas mudanças é capitalista e informacional, pois a pós-

modernidade nos uniu numa “aldeia global” (Santos, 1987). Há quem ainda chame este momento

histórico de “era da informação” (Dertouzos, 1997), “sociedade globalizada” (Robertson, 2000)

ou ainda “era dos bits” (Negroponte, 1997). Para Muniz Sodré:

Advém agora o império dos processos de produção eletrônica de informação e imagens, que

incorpora todo o ethos pós-moderno de organização da vida social em termos de simultaneidade,

instantaneidade, globalidade e criação de um real próprio, de natureza tecnocientífica. A sociedade

decorrente não se transforma por escolha política, mas por impacto tecnológico. (SODRÉ, 2002)

O fato é que no mundo contemporâneo tem-se alterado profundamente a maneira como

vivemos, trabalhamos, nos divertimos, educamos nossos filhos, fazemos compras. (Dertouzos,

1997). Acordamos e acessamos a internet para sabermos as notícias e verificar o e-mail;

trabalhamos em equipe, cada um em sua casa; nos relacionamos pelo facebook; tranquilizamos

nossos bebês com “a galinha pintadinha” no tablet; compramos pela internet em sites pouco

confiáveis e educamos nossas crianças tangidos pelo impacto tecnológico.

1.2 A transformação das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC)

A palavra tecnologia tem origem no vocábulo grego "tekhne" e significa "técnica, arte,

ofício", com o sufixo "logia”, do grego “logus”, que quer dizer "razão, estudo". A partir da

origem etimológica, é possível definir tecnologia como a razão do saber fazer (Rodrigues, 2001).

Em outras palavras, tecnologia é o estudo da técnica e visa à aplicação dos conhecimentos

científicos para a resolução de problemas.

Ao longo da história, as tecnologias foram sendo criadas para facilitar a produção humana

e vêm se transformando a partir da necessidade social de cada época. As primeiras tecnologias

surgiram desde a descoberta do fogo, da roda, da escrita, passando pela prensa móvel, pelas

tecnologias militares com a criação de armas, pelas tecnologias das grandes navegações que

permitiram a expansão marítima, chegando às descobertas do século XVIII, que no período da

Revolução Industrial, provocaram profundas transformações no processo produtivo.

Neste sentido, o sociólogo Manuel Castells, remete à ideia de que são as demandas da

própria sociedade e do contexto histórico no qual estão inseridas, que determinam a busca por

novas tecnologias, é a “sociedade é que dá forma à tecnologia de acordo com as necessidades,

valores e interesses das pessoas que utilizam as tecnologias”. (Castells, 2006)

A sociedade do final do século XX tem passado por profundas mudanças econômicas,

políticas, culturais, sociais e tecnológicas. Segundo Gadotti (2000), no final dos anos 80, não se

tinha ideia do significado e do impacto da globalização capitalista na economia, nas

comunicações, na educação e na cultura. As transformações tecnológicas tornaram possível o

surgimento da era da informação.

Nos últimos anos, a informação deixou de ser uma área ou especialidade para se tornar uma

dimensão de tudo, transformando profundamente a forma como a sociedade se organiza. Pode-se

dizer que está em andamento uma Revolução da Informação, como ocorreram no passado a

Revolução Agrícola e a Revolução Industrial (Gadotti, 2000).

Castells, assim como Gadotti, descreve e analisa o termo “era da informação”, em sua

obra A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura (2000), como o conjunto de eventos

que assinalam o fim da era industrial e o surgimento de uma revolução tecnológica no final do

século XX e que tem como característica o desenvolvimento das tecnologias da informação e da

comunicação.

A revolução tecnológica, ressaltada por Castells (2002), trouxe mudanças nos modos de

vida de todas as pessoas, principalmente no comportamento dos chamados nativos digitais, como

se relacionam com a internet, o celular, o computador e o outro. A internet e suas infinitas

possibilidades permitem um intercâmbio cultural e laços, mesmo que superficiais, com quem está

do outro lado planeta.

Neste contexto, o processamento da informação e seus desdobramentos são essenciais no

processo produtivo. O termo informação vem como elemento primordial em todas as atividades

humanas, constituindo-se como o cerne da comunicação e como instrumento básico na conquista

do conhecimento, na formação de senso crítico, na construção de novas concepções e na tomada

de decisões. Segundo Castells (2000), a informação é fundamental para atender às necessidades

dos indivíduos e das organizações por uma melhor qualidade de vida. Lévy (1996) preceitua sua

utilização como um ato produtivo:

Quando utilizo a informação, ou seja, quando a interpreto, ligo-a a outras informações para fazer

sentido, ou, quando me sirvo dela para tomar uma decisão, atualizo-a. Efetuo, portanto, um ato

criativo, produtivo. (Lévy, 1996)

Surge então, para Castells (2000), a noção de uma organização social específica, na qual a

origem, o processamento e a transmissão de informação tornam-se fontes fundamentais de

produtividade e de poder. A forma como a sociedade deste período histórico se comporta para ter

acesso e usufruir desta informação, resulta na busca de inovações tecnológicas que atendam com

eficácia esta demanda. O autor denomina este tipo de organização social, inserida neste novo

modo de desenvolvimento, de “sociedade informacional”, que tem como premissa básica o

processo de informatização, fortemente articulado com todos os sistemas midiáticos de

comunicação.

Castells (2003) identifica ainda outra característica fundamental da Sociedade

Informacional: a sua estrutura em redes. Para o autor, a rede é um conjunto de nós conectados e a

formação de redes sociais é uma prática humana antiga na organização das sociedades. Muniz

Sodré fala em uma “nova geografia virtual”, onde se pode ocupar um “lugar” na rede. Nessa

estrutura em rede as pessoas “compartilham” não apenas informações, mas também opiniões,

angústias, alegrias e momentos. Para os jovens, curtir, publicar e compartilhar nas redes sociais

são formas de ser, poder, organizar e estar no mundo, conectados com os outros ao mesmo tempo

que as influências da rede os recriam e os influenciam.

Moldado pela revolução tecnológica concentrada nas TIC – Tecnologias de Informação e

Comunicação – este novo modelo de organização social teve como ponto culminante o

surgimento da Internet no final da década de 60, o que é para Castells o símbolo desta sociedade,

tornando-se mais intensa, global e acelerada e teve como consequências uma série de inovações

institucionais, tecnológicas, organizacionais, educacionais, econômicas, políticas e sociais.

Ainda para Castells (2008), a internet é uma prática social, é “a expressão de nós mesmos

por meio de um código de comunicação específico, que devemos compreender se quisermos

mudar nossa realidade”. O universo juvenil se apropria dessa ferramenta de infinitas maneiras:

para se comunicar, divulgar trabalhos em grupo, promover-se por meio de aplicativos como o

Instagram ou o facebook, para dispor do conteúdo de quem vive distante, para assistir filmes,

para traduzir trabalhos, para se relacionar…. A internet permite transpor o universo real e

adquirir uma dimensão que ultrapassa a realidade cultural de cada um. Para Sousa (2011):

Indubitavelmente, entre as várias tecnologias, sobressai aquela que é sua maior expressão, a

Internet, por amalgamar diversas facetas tecnológicas até então separadas, como a escrita, a

imagem, o som, etc. Ela é hodiernamente o mais completo meio de comunicação criado pela

tecnologia, tem reconfigurado as culturas e suscitado novas estruturas de sociabilidade

contemporânea. (Sousa, 2011, p.172).

As Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC – podem ser entendidas como os

meios que interferem nos processos informacionais e comunicativos das pessoas. São os recursos

tecnológicos integrados entre si, que proporcionam, por meio das funções de hardware, software

e telecomunicações, a automação e comunicação dos processos de uma sociedade.

A desterritorialização da informação mediada pelas TIC, em um espaço virtual que

ultrapasse as fronteiras geográficas é revelada pelo filósofo Pierre Levy (1994), quando conceitua

ciberespaço: “ciberespaço tornar-se-ia o espaço móvel das interações entre conhecimentos e

conhecedores de grupos inteligentes desterritorializados” (Lévy, 1994).

A noção de ciberespaço permite vislumbrar a expansão da informação e todos os

desdobramentos dela decorrentes, como a fusão do conhecimento. Ao aproximar este conceito da

dimensão social, analisando as coletividades, Levy igualmente defende a aprendizagem

cooperativa ao dizer que ninguém é detentor de todo o conhecimento e que o mesmo deve ser

compartilhado.

A aprendizagem cooperativa é a melhor tradução de inteligência coletiva para o campo da

educação e pôde ser observada primeiramente nas universidades, onde comunidades de cientistas

estudam, simultaneamente, o mesmo tema de vários países diferentes, baseados na colaboração e

na produção de conhecimento. Decorre deste conceito a ideia de Inteligência Coletiva, também

proposta pelo autor, que não se trata de uma fusão das inteligências individuais, mas sim de fazer

crescer, diferenciar e reflorescer mutuamente cada singularidade de cada indivíduo (Lévy, 1994).

No espaço que emana da inteligência coletiva encontro, assim, o outro humano, já não como um

corpo de carne, uma posição social, um proprietário de objetos, mas como um anjo, uma

inteligência em ação – em ação para ele, mas em potência para mim. Se ele nunca aceitar revelar a

sua face de luz, quando eu descobrir o corpo angélico do outro contemplarei a sua vida no

conhecimento ou no seu conhecimento da vida, na projeção do seu mundo subjetivo no céu

imanente do intelecto coletivo. Ora eu não sei o que ele sabe, os nossos futuros diferem, ele tem

neste espaço uma figura de desejo singular, incomparável: o seu corpo angélico revela-mo como

enigma e alteridade (LÉVY, 1994)

Ao associar as necessidades da Sociedade Informacional, descrita por Castells, com as

ideias de Inteligência Coletiva e de Aprendizagem Cooperativa de Lévy, é possível visualizar o

impacto das TIC no contexto educacional. O termo TIC foi usado pela primeira vez por Dennis

Stevenson, em sua obra Information and Communications Technology in UK Schools – an

independent inquiry (1997), para antecipar uma política do governo britânico que deveria

intensificar o uso das TIC nas escolas públicas do Reino Unido, sob o risco de colocar, em um

futuro muito próximo, uma geração de crianças em enorme desvantagem em relação às demandas

do mundo globalizado.

As TIC para fins educativos, com o objetivo de potencializar a aprendizagem dos

estudantes e de criar novos ambientes de aprendizagem, despertando novos interesses, podem ser

consideradas como um subdomínio da Tecnologia Educativa. O termo Tecnologia Educativa é

um domínio da educação que teve as suas origens nos anos 40 do século XX e foi desenvolvido

por Skinner na década seguinte com o ensino programado (Skinner, 1953, 1968). Para Miranda

(2007), o termo não se limita aos recursos técnicos usados no ensino, mas a todos os processos de

concepção, desenvolvimento e avaliação da aprendizagem. Segundo a autora, a tecnologia

educativa envolve questões de gestão educacional, de desenvolvimento educacional e também os

recursos de aprendizagem. Coutinho (2007) assim define a tecnologia educativa:

Não como o simples uso de meios tecnológicos mais ou menos sofisticados, mas como uma forma

sistemática de conceber, gerir e avaliar o processo de ensino e aprendizagem em função de metas e

objetivos educacionais perfeitamente definidos. (Coutinho, 2007).

O cerne do estudo da Tecnologia Educativa consiste, assim, em construir sistemas de

ensino-aprendizagem que possam ser catalisadores de mudanças educativas significativas no

desenvolvimento do sistema ensino-aprendizagem.

Segundo Blanco e Silva (1993) a Tecnologia Educativa surge também como uma via de

acesso a tecnização da vida, ou seja, o ser humano é educado para atuar conscientemente em um

ambiente tecnológico, por isso os modelos educacionais devem acompanhar esta perspectiva. O

autor cita os três níveis de elaboração do conceito: da ênfase colocada na modernização (suportes

para o ensino) passando pela otimização do processo (suportes para a educação) e culminando

nos processos de mudança (foco sistêmico).

O primeiro nível é marcado pela chegada dos aparelhos audiovisuais, adquirido pelas

escolas precipitadamente, pois segundo o autor, os professores não tinham formação adequada

para sua utilização técnica e didática, não atendendo assim ao seu adequado uso pedagógico.

Trata-se de uma Tecnologia para o Ensino em que as técnicas audiovisuais, creditando seu valor por

uma apresentação massiva de informação icônica (fixa e móvel), e os aparelhos facilitam e ampliam

os processos de instrução. Com eles procura-se apenas modernizar as aulas (Blanco e Silva, 1993).

O segundo nível, chamado de otimização dos processos (suportes para a educação), surgiu

na década de 60 com estudos da Psicologia da Aprendizagem e da Comunicação, quando se

descobriu que a tecnologia tem um papel importante no processo de ensino-aprendizagem e no

estreitamento da relação professor estudante.

Neste nível, a utilização da tecnologia ultrapassa os métodos e recursos, pois não mais se

procura o “ensino pelo professor, mas a aprendizagem pelo aluno” (idem, 1993). O objetivo é a

otimização do processo, a fim de que o programa (recurso tecnológico) esteja inserido na sala de

aula como material didático, ao abrigo de um método preciso que implique num modelo de

aprendizagem: “o núcleo e a expressão desta nova forma de ver a tecnologia educativa estão

representados pelos modelos instrutivos, especialmente pelo ensino programado”. (BLANCO E

SILVA, 1993).

O último nível de formulação da Tecnologia Educativa, chamado de Foco Sistêmico

surgiu a partir de pesquisas educacionais nos anos 70, centradas na cibernética, que

possibilitavam a aplicação da concepção sistêmica à educação. Blasco e Silva (1993) salienta que

o momento marcante desta fase foi em 1970 quando a Comission on Instructional Technology

(E.U.A.) conceituou-a como “a maneira sistemática de conceber, de realizar e de avaliar todo o

processo de ensino-aprendizagem em função dos objetivos pedagógicos, resultantes da

investigação nos domínios da aprendizagem humana e da comunicação, utilizando uma

combinação de recursos humanos e não humanos para provocar uma instrução eficaz”. (Blasco e

Silva, 1993, p.42)

O autor afirma que somente entre as décadas de 80 e 90, ao aplicar as Novas Tecnologias

da Informação e Comunicação em uma abordagem de aprendizagem sistêmica, é que se pôde

falar em Tecnologia Educativa e analisá-la pela perspectiva de um processo complexo e integrado

que implica uma junção de seres humanos, recursos e inovação tecnológica, com o objetivo de

gerenciar uma profunda mudança educativa.

A velocidade dos avanços tecnológicos no final do século XX e no início do século XXI

requer que os ambientes de ensino acompanhem a mudança das TIC para que estudantes e

professores se insiram em um contexto globalizado. Com a democratização do conhecimento

pelos diferentes meios e formas de comunicação, entende-se que as TIC são ferramentas

essenciais para os processos educacionais, atuando na vida do estudante com o intuito de definir

habilidades e competências indispensáveis à realidade atual: criatividade, inovação, senso crítico,

cidadania, resolução de problemas e comunicação eficaz, por meio do uso eficiente e responsável

da informação. Nesse sentido, o Ministério da Educação e Cultura (MEC), colabora com esse

debate contextualizando:

O advento das TIC revolucionou nossa relação com a informação. A informação e o conhecimento

não se encontram mais fechados no âmbito da escola, mas foram democratizados. O novo desafio

que se abre na educação, frente a esse novo contexto, é como orientar o aluno, a saber, o que fazer

com essa informação, de forma a internalizá-la na forma de conhecimento e, principalmente, como

fazer para que ele saiba aplicar este conhecimento de forma independente e responsável. (BRASIL,

2009).

Negligenciar o poder das TIC no contexto educacional é negar toda a bagagem de uma

geração que vivencia a tecnologia diariamente, como parte do seu mundo. Segundo Lima (2006),

a Escola do Futuro deve reinventar a arte de aprender ao longo de toda a vida, estimular e

desenvolver a motivação pela aprendizagem, atribuindo aos estudantes um papel ativo no

processo de construção de conhecimentos. As TIC são para isso, facilitadores, meios na

construção do saber.

A educação deve transmitir, cada vez mais, saberes adaptados a uma Sociedade da Educação

(Learning Society) como base das competências do futuro. Da tradicional transmissão dos saberes,

evoluiu-se para uma Sociedade do Saber baseada na capacidade individual da construção dos

conhecimentos, onde as tecnologias da informação e da comunicação são instrumentos ao serviço

dessa construção. Deste modo, a Sociedade da Informação será marcada pelo primado do saber.

(Lima, 2006).

As TIC não põem em dúvida a importância do professor. De acordo com Lima,

reconhece-se hoje que a Escola do Futuro exige que os mestres assumam o papel de facilitadores

em sala de aula, para que a partir daí as TIC sejam verdadeiras aliadas nos processos por eles

conduzidos, por meio de suas competências pedagógicas, técnicas e humanas.

Assim, a utilização das TIC no processo de ensino-aprendizagem requer habilidade,

inteligência, planejamento e estratégia por parte do professor, para respaldar sua credibilidade

pedagógica. Nessa perspectiva, o uso das mídias em sala de aula poderia funcionar como um

meio inovador e motivacional, como um novo apoio pedagógico e não como um fim em si.

Deste modo, o processo de construção do saber atenderia de forma positiva aos anseios

dos alunos da era digital, que parecem acolher com naturalidade as diversidades tecnológicas e os

novos modelos pedagógicos, quebrando a linearidade dos conteúdos e dos paradigmas do

chamado ensino tradicional.

1.3 O computador e a internet

Segundo definição do dicionário Michaellis, computador é aquele (pessoa ou máquina)

que faz cômputos; e o verbo computar é o ato de calcular, contar, orçar, avaliar. Historicamente,

atribui-se a origem do computador à descoberta dos primeiros artefatos humanos com tal

finalidade, no século XVII, quando o matemático francês Blaise Pascal projetou um contador

mecânico que somava e subtraia e o alemão Gottfried Wilhelm Leibniz incorporou a ele

operações de multiplicar e dividir, tornando-o antecessor da calculadora manual. No século

seguinte, o francês Joseph Marie Jacquard construiu um tear mecânico com uma leitora

automatizada de cartões perfurados, que controlavam o movimento da máquina, fornecendo os

comandos necessários para a produção de tecidos mais elaborados.

Baseado na ideia dos cartões de Jacquard, o cientista inglês Charles Babbage, criou em

1822 a máquina diferencial, capaz de realizar cálculos mais complexos com funções

trigonométricas e logaritmos. Em 1833, Babbage desenvolveu a máquina analítica, capaz de

executar as operações matemáticas, armazenar dados em uma memória e imprimir resultados.

Esta máquina foi a base para a criação dos computadores atuais e fez com que Babbage fosse

considerado o “Pai do Computador”. Mário Leite (2006) descreve a máquina analítica, dizendo

que “era capaz de executar as quatro operações aritméticas com até 1000 números de 50 dígitos;

tudo isso memorizando em cartões perfurados”. (LEITE, 2006, p.04)

No final do século XIX, o inventor norte-americano Hermann Hollerith construiu o

primeiro computador mecânico, com o objetivo de apurar e tabular o Censo Demográfico

Americano de 1890. O resultado alcançado com a máquina foi a redução do tempo de

processamento de dados, que no último censo teria sido de sete anos, para apenas dois anos e

meio. Foi também pioneiro ao utilizar a eletricidade na separação, contagem e tabulação dos

cartões. Hollerith foi o fundador da International Business Machines – IBM, em 1924.

Em 1936, o primeiro computador eletromecânico foi criado pelo engenheiro Konrad Zuse

e oferecido ao governo alemão, que o rejeitou por achar que a invenção em nada ajudaria no

período da guerra, pois a perícia de seus pilotos dispensava tais recursos. As aplicações militares

foram decisivas para a transformação do computador moderno, fazendo com que os americanos

intensificassem suas pesquisas científicas e acadêmicas no período da Segunda Guerra Mundial.

O desenvolvimento dos computadores eletrônicos ganhou força com a necessidade de se

projetar máquinas capazes de executar cálculos balísticos com rapidez e precisão para serem

utilizadas na indústria bélica. Com isso, a Marinha Americana em parceria com a Universidade

de Harvard, criou o Mark I, projetado pelo professor Howard Aiken, com base no calculador

analítico de Babbage.

Paralelamente, ocorria em segredo militar o desenvolvimento do computador ENIAC,

sigla para Electronic Numerical Integrator and Computer, o primeiro computador a válvulas

produzido pelo exército dos Estados Unidos e desenvolvido por J. Presper Eckert e John

Mauchly, na Escola Moore da Universidade de Pensilvânia, sob contrato do Laboratório de

Pesquisas Balísticas. O Mark I e o ENIAC fizeram parte da primeira geração de computadores

(1945-1953):

Eram computadores a válvulas cuja programação era feita em linguagem de máquina, com alterações

nos circuitos elétricos da máquina, o que exigia dos técnicos profundos conhecimentos de

eletrotécnica. (LEITE, 2006).

O grande diferencial do ENIAC em relação às invenções anteriores era o fato de não ser

destinado a apenas uma operação específica. O ENIAC pesava quase 30 toneladas e consumia

150 quilowatts de energia, podia fazer 5 mil somas por segundo e calcular uma trajetória mais

rápido do que o tempo que um projétil leva para atingir seu alvo.

Contudo, a capacidade de armazenagem de memória do ENIAC era limitada. Foi quando,

em meados de 40, o matemático John Von Neumann, juntou-se à equipe do ENIAC e propôs

transformar os calculadores eletrônicos em “cérebros eletrônicos”. Modelou uma nova arquitetura

baseada no sistema nervoso central humano, criando na máquina uma memória capaz de

armazenar informações. Surge a segunda geração de computadores (1955-1962):

Com a invenção do transitor em 1949, por William Shockey, surgiu o EDVAC (Electronic Discrete

Variable Automatic Computer), que era 100 vezes mais rápido, e bem menor que o ENIAC.

(LEITE, 2006).

Nesta época, o computador não era mais visto como um instrumento matemático, mas

como uma máquina universal de processamento de informações com uma arquitetura que

permitia trocar o programa sem alterar sua estrutura física. Rapidez, versatilidade e

automodificação eram as principais características da Arquitetura de Von Neumann. Esta

flexibilidade e a capacidade de programar o computador com bases e dados armazenados na

memória, viria a ser a base da ciência da computação.

Na década de 50, os computadores passaram a ser produzidos e comercializados em larga

escala. Foram desenvolvidos os primeiros computadores civis e aperfeiçoados os grandes

computadores militares. Ainda segundo Leite (2006), a característica que marcou a terceira

geração de computadores (1963-1980) foi a utilização do transistor em circuito integrado e a

criação de computadores de médio porte, enquanto que a quarta geração (1975-1990) teve como

referência a miniaturização desses circuitos, que possibilitou o surgimento dos

microcomputadores.

Ainda na década de 60, durante a Guerra Fria, que teve como protagonistas duas potências

mundiais, os Estados Unidos da América e a União Soviética, a Internet surge como uma

ferramenta para assegurar a manutenção da comunicação das forças armadas americanas, caso os

ataques russos destruíssem todas as outras formas de comunicação. Outro objetivo era evitar o

vazamento e a perda de informações sigilosas do governo americano. Era preciso elaborar um

modelo que permitisse a troca e a descentralização da informação, pois caso a base americana

fosse destruída, a informação estaria salva e armazenada em outro lugar.

Manuel Castells (2003) em sua obra Galáxia Internet: reflexões sobre a Internet,

negócios e a sociedade, aponta que o início dessa revolução tecnológica se deu com o surgimento

do primeiro satélite artificial do mundo, o Sputinik, lançado ao espaço pela Rússia em 1957.

Como represália, o governo americano criou a ARPA – Advanced Research Project Agency, com

a missão de mobilizar a pesquisa, principalmente a universitária, para superar a tecnologia militar

da União Soviética.

Em 1961, a Força Aérea americana doou o computador IBM Q32, possibilitando à ARPA

desenvolver um centro de pesquisas tecnológicas, o Command and Control Research (CCR),

coordenado pelo psicólogo Joseph Licklider. A partir do departamento IPTO (Information

Processing Techniques Office), Licklider realizou um trabalho orientado para a interatividade e

transmissão de dados, com o objetivo de estimular a pesquisa em computação interativa e

proporcionar uma comunicação rápida entre as equipes de investigadores, por meio da construção

de uma rede (NET).

Robert Taylor, sucessor de Joseph Licklider, iniciou o projeto que culminou com a

primeira conexão em redes da história, a Arpanet, estabelecida inicialmente em 1969 com uma

rede de quatro nós: a Universidade da Califórnia em Los Angeles, a Universidade da Califórnia

em Santa Bárbara, a Universidade de Utah e o Instituto de Pesquisa de Stanford. Dois anos

depois a rede já contava com 15 nós, a maioria deles centros universitários de pesquisa. Manuel

Casttels (2003) remete então às transformações da Arpanet:

O passo seguinte foi tornar possível a conexão da Arpanet com outras redes de computadores, a

começar pela PRNET e SATNET. Isso introduziu um novo conceito: uma rede de redes.

(CASTTELS, 2003)

A Arpanet passou a ser controlada pela US Defense Communications Agency conhecida

pela sigla DISA (Defense Information Systems Agency). Começou a operar com o protocolo

TCP/IP e por questões de segurança precisou ser dividida em duas redes: a Milnet, para fins

militares e a Arpa-Internet para fins de pesquisa. Em 1975, a NSF (National Science

Foundation), decidiu construir a sua própria rede denominada CSNET (Computer Science

Network) com o objetivo de conectar todos os laboratórios de Informática dos Estados Unidos da

América.

Entre os anos 70 e 80 várias redes foram sendo criadas em todo o mundo e a Arpanet

tornou-se obsoleta tecnologicamente sendo substituída nos anos 90 pela rede da NSF, rebatizada

de NSFNET, que ficou mundialmente conhecida como Internet. Mas o fato que permitiu a

expansão da Internet por todo o mundo foi a criação do WWW World Wide Web ou rede de

alcance mundial, pelos engenheiros do CERN (Centre Européen por la Recherche Nucléaire),

Robert Caillaiu e Tim Berners-Lee, assim como a criação do HTML (HyperText Markup

Language) e dos Browsers.

O primeiro browser a ser utilizado, o LYNX, permitia apenas a transferência de textos, e

foi logo substituído pelo MOSAIC, que permitia também a transferência de imagens

(ALMEIDA, 2005). O MOSAIC se transformou em NETSCAPE, o primeiro navegador

comercial da história. Depois, a Microsoft lançou o Internet Explorer, com seu software Windows

95.

Assim, tornou-se possível conectar-se a todas as redes de computadores de qualquer lugar

do mundo. A transformação da Internet foi muito rápida e apesar de sua origem nos remeter ao

início dos anos 60, foi somente em meados de 90 que esse marco da revolução tecnológica

chegou até casas, escolas, empresas, impactando significativamente os modos de ver o mundo, o

interesse em aprender, as formas de relacionamento e principalmente a capacidade de interagir

ativamente com o mundo.

A Interatividade é um princípio desse novo ambiente comunicacional interligado por

redes. Antes do advento da Internet, nenhum recurso tecnológico permitia a troca de informações

de modo interativo: havia o grupo dos expectadores, separado do grupo dos emissores pelo meio

de comunicação. A mensagem era difundida pelo livro, pelo rádio, pela televisão, numa via de

mão única, sem que fosse possível concordar, contestar, complementar, enfim, sem que ocorresse

o encontro entre receptor e emissor.

O sociólogo e professor Marco Silva, define o conceito de interatividade associado ao

contexto educacional, em seu artigo Sala de Aula Interativa, que decorre da obra com o mesmo

título:

Interatividade significa libertação do constrangimento diante da lógica da transmissão que

predominou no século XX. É o modo de comunicação que vem desafiar a mídia de massa – rádio,

cinema, imprensa e TV – a buscar a participação do público para se adequar ao movimento das

tecnologias interativas. É o modo de comunicação que vem desafiar professores e gestores da

educação, igualmente centrados no paradigma da transmissão, a buscar a construção da sala de aula

onde a aprendizagem se dá com a participação e cooperação dos alunos. (SILVA, 2001)

Para Silva, a Interatividade se baseia em três pressupostos interdependentes,

complementares e que delegam aos atores do processo de comunicação o caráter ativo ao

interagir. O autor chama o primeiro pressuposto de Participação Intervenção no qual a

mensagem, antes fechada e imutável, converte-se em passível de intervenção, segundo

pressuposto seria a Bidirecionalidade Hibridação, que se define pela troca comunicativa, na qual

os sujeitos se relacionam como coautores na construção do diálogo. E por último, a

Potencialidade Permutabilidade, onde temos uma troca colaborativa e emissores e receptores

têm a liberdade de intervir na mensagem, alterando seus atributos e permitindo uma nova lógica.

Ao trazer essa realidade para a sala de aula, Silva considera que o padrão tradicional de

ensino, segundo o qual o professor tinha a voz e o aluno, somente os ouvidos, já não mais atende

ao modelo de sociedade atual, a educação autêntica não se faz sem o aluno, o ditar falar do

mestre não se faz transmitindo de A para B, ou de A sobre B, mas sim, da interação de A e B.

(SILVA, 2001). Mas o que percebe é que o modelo atual de ensino ainda não se apercebeu em

mudar essa comunicação verticalizada para uma comunicação colaborativa.

2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO ÀS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA

ESCOLA

2.1 O uso das TIC na educação – o papel da UNESCO

Em relação ao Brasil, a UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação e a

Cultura – aponta o papel importante que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) têm

exercido para a educação. O desafio é equipar as escolas com essas tecnologias para atender aos

interesses dos aprendizes e da comunidade de ensino e aprendizagem. Segundo a UNESCO, as

TIC podem

Contribuir para o acesso universal da educação, a equidade na educação, a qualidade do ensino e

aprendizagem, o desenvolvimento profissional dos professores, bem como melhorar a gestão, a

governança e a administração educacional ao fornecer a mistura certa e organizada de políticas,

tecnologias e capacidades. (UNESCO, 2015)

A UNESCO aborda as TIC para a educação por meio de uma plataforma intersetorial

própria, a qual organiza o trabalho conjunto dos setores de Comunicação e Informação,

Educação, Ciências, onde são tratadas questões sobre acesso, inclusão, equidade e qualidade na

educação. Assim, a UNESCO, em colaboração com os seus parceiros, desenvolve estratégias,

políticas e atividades para enfrentar os desafios ligados à exclusão digital das populações menos

favorecidas. Seu programa inclui:

– Capacitação e aconselhamento de políticas públicas para o uso das tecnologias na educação,

particularmente nos domínios emergentes como a aprendizagem móvel.

– Garantia de que professores tenham as habilidades necessárias para usar as TIC em todos os

aspectos da prática de sua profissão por meio de ferramentas e como o Marco Político de Padrões

de Competência em TIC para Professores.

– Apoio do uso e desenvolvimento de recursos e softwares educacionais plurilíngues, que sejam

disponíveis para uso e reúso como resultado de licenças abertas (recursos educacionais abertos –

REA; software livre e aberto – free and open source software – FOSS).

– Promoção de TIC para educação inclusiva, que inclua pessoas com deficiências e proporcione

igualdade de gênero.

– Coleta de dados estatísticos e desenvolvimento de indicadores sobre o uso de TIC na educação.

– Provisão de apoio a políticas públicas que garantam que o potencial das TIC seja aplicado

efetivamente por todo o sistema educacional.

Segundo o site da UNESCO, o Brasil precisa melhorar a competência dos professores

para utilizar as TIC na educação, pois a forma como o sistema educacional incorpora as TIC afeta

diretamente à diminuição da exclusão no país.

Para a UNESCO alguns questionamentos são importantes para utilizar as Tecnologias de

Informação e Comunicação na educação: Como as TIC podem ser utilizadas para acelerar o

desenvolvimento em direção à meta “educação para todos e ao longo da vida”? Como elas podem

propiciar melhor equilíbrio entre ampla cobertura e excelência na educação? Como elas podem

contribuir para reconciliar universalidade e especificidade local do conhecimento? Como pode a

educação preparar os indivíduos e a sociedade de forma a que eles dominem as tecnologias que

permeiam crescentemente todos os setores da vida e possam tirar proveito delas?

Nesta perspectiva, as TIC são apenas uma parte do contínuo desenvolvimento de

tecnologias, a começar pelo giz e os livros, todos podendo contribuir e enriquecer a

aprendizagem. A UNESCO acredita também que as TIC, como qualquer ferramenta, devem ser

adaptadas para servir a fins educacionais. Ela considera ainda questões éticas e legais, como

àquelas vinculadas à propriedade do conhecimento, ao crescente tratamento da educação como

mercadoria, à globalização da educação face à diversidade cultural, as quais também interferem

no amplo uso das TIC na educação.

Para solucionar essas questões, a UNESCO coopera com o governo brasileiro na

promoção de ações de disseminação das TIC nas escolas com o objetivo de melhorar o processo

de ensino-aprendizagem, entendendo que o letramento digital é uma decorrência quase necessária

do uso dessas tecnologias.

2.2 Políticas Públicas para promover o uso das TIC na educação

O marco legal neste estudo corresponde àquele que sustenta a política de inclusão no país,

sobretudo, a inclusão digital. É possível citar leis ordinárias, resoluções e instruções normativas

que criaram e/ou regulamentaram programas de inclusão digital no Brasil, mas o marco

normativo primário e de maior valia foi a Constituição Federal de 1988, que em seu artigo 219

garante o direito ao acesso às informações e à formação de um mercado interno que viabilize o

bem-estar da população no que se refere ao acesso à ciência e à tecnologia: “o mercado interno

integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural

e socioeconômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei

federal”. (Constituição Federal: 1988, artigo 122)

Nesse contexto de globalização marcado por profundas mudanças nas relações

econômicas, sociais e políticas no cenário internacional, a tecnologia digital sugere a ideia de

uniformização de mundos, pois a informação não é mais privilégio de alguns, mas torna-se quase

universal (vide os excluídos e analfabetos digitais). Para Gadotti (2000):

Nos últimos anos, a informação deixou de ser uma área ou especialidade para se tornar uma

dimensão de tudo, transformando profundamente a forma como a sociedade se organiza. Pode-se

dizer que está em andamento uma Revolução da Informação, como ocorreram no passado a

Revolução Agrícola e a Revolução Industrial (Gadotti, 2000).

A chamada “Revolução da Informação” impacta em todo o cenário mundial na forma

como os governos priorizam suas políticas para a universalização digital. No Brasil, esse

processo teve início no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995), com a publicação do

Livro Verde do Programa Sociedade da Informação no Brasil, uma consolidação de propostas

feitas por especialistas do governo, da sociedade civil organizada e da iniciativa privada para a

entrada do país na era digital.

Nesse primeiro momento, a inserção digital era uma preocupação primordialmente

econômica, e por isso, o país insere em sua agenda política a universalização do acesso às

tecnologias da informação e comunicação – TIC – e a promoção da “alfabetização digital”

(BRASIL, 2000). Era preciso implantar um programa que garantisse ao Brasil, condições para

competir economicamente no mundo globalizado. Para os autores do Livro Verde:

Trata-se, sobretudo, de permitir que as pessoas atuem como provedores ativos dos conteúdos que

circulam na rede. Nesse sentido, é imprescindível promover a alfabetização digital, que proporcione

a aquisição de habilidades básicas para o uso de computadores e da Internet, mas também que

capacite as pessoas para a utilização dessas mídias em favor dos interesses e necessidades

individuais e comunitários, com responsabilidade e senso de cidadania (Livro Verde, 2000).

A partir da publicação do Livro Verde, o governo formou Grupos de Trabalho e Comitês

para estabelecer metas para universalização do uso das Tecnologias da Informação e

Comunicação (TIC) no Brasil, centrando-se principalmente na necessidade de promover inovação

tecnológica para o desenvolvimento econômico do país. Neste momento, foram criados os

primeiros programas de acesso gratuito à internet para a população de baixa renda, assim como

estratégias de reengenharia que possibilitaram o chamado “governo eletrônico”, que permite ao

cidadão utilizar a internet para dispor de serviços públicos.

O objeto dessa pesquisa não abrange a inclusão digital de forma geral. O campo empírico

restringe-se ao ambiente escolar, espaço de inserção dos jovens na cultura, e ao tempo

contemporâneo, marcado por processos digitais. Neste âmbito, foi no primeiro Governo Lula

(2003-2006) que as ferramentas digitais foram inseridas no sistema público educacional.

Em 2002, com o cenário político favorável à melhoria do papel do Brasil no sistema

mundial, após a grave crise econômica de 2001 (Filgueiras e Gonçalves, 2007), Luís Inácio Lula

da Silva se candidatava pela 4ª vez consecutiva à Presidência da República; o Programa de

governo da Coligação Lula Presidente previa ações de implantação e ampliação das políticas de

acessibilidade das Tecnologias da Informação e Comunicação à população em três eixos:

governança e governabilidade; governo eletrônico e democratização do acesso às Tecnologias de

Informação, cuja função seria incentivar a criação de mecanismos e políticas que permitissem o

aprendizado, o acesso e a incorporação das tecnologias de informação pela população e o

compartilhamento de soluções entre diferentes níveis de governo.

Ao assumir em 2003, Lula substituiu o termo “universalização dos serviços”, usado no

governo anterior, por “inclusão digital”, que passou a ser um dos dez desafios do seu

“megaobjetivo”, denominado no Plano Plurianual de 2004-2007 de “inclusão social e redução das

desigualdades sociais”.

“O software livre representa a vanguarda da informática. Com seu código aberto e de uso

coletivo, estimula a produção e a troca de conhecimento em todas as camadas da sociedade.

Orienta-se para a liberdade do conhecimento e para o atendimento de necessidades específicas

das comunidades, além de favorecer a inclusão digital”. Esse era o texto do fôlder “O software

livre e o desenvolvimento do Brasil”, realizado em Brasília, no primeiro ano do governo Lula, em

2003 e detalhado com muita propriedade por Hermano Viana, no capítulo “Internet e inclusão

digital: apropriando e traduzindo tecnologias”, da coletânea “Agenda brasileira: temas de uma

sociedade em mudança”, organizado por Andréa Botelho e Lilia Moritz Schwarcz, 2011. Diante

de autoridades e políticos brasileiros e do presidente da Free Software Foundation, Richard

Stallman, o software livre se apresentava como uma das preocupações do Estado e o Brasil se

colocaria na vanguarda tecnológica.

Na década de 90, a única possibilidade de acesso à internet no Brasil era através da

conexão ONG base, de algumas universidades e outros poucos órgãos públicos. As iniciativas

governamentais de até então pareciam querer afastar os brasileiros da tendência mundial. Durante

a ECO-92 que os poucos usuários de internet, mais ou menos 800 pessoas, tiveram acesso à

World Wide Web e essa abertura só pôde acontecer porque a comunicação telefônica no Brasil era

muito precária e as organizações que faziam parte do evento precisavam de uma comunicação

eficiente.

Foi somente em 1995 que a Embratel implantou um projeto-piloto que criou um provedor

nacional e estatal único. Nos Estados Unidos a popularização da internet se deu em 1995, apesar

de já haver provedores comerciais desde a década de 80. Bill Gates deu uma entrevista para a

revista brasileira Internet World (setembro de 1995) afirmando que até então a internet não tinha

sido uma área de investimento. Essa constatação significava que até então a rede não havia

despertado atenção comercial, os softwares que já existiam eram livres e disponibilizados por

trabalhos voluntários que tinham como ideal a “informação livre”. Até hoje a internet carrega

essa característica, a capacidade de fazer com que a informação seja livre e ultrapasse os muros

comerciais impostos por empresas comerciais.

No segundo Governo Lula o anteprojeto de lei do Marco Civil da Internet, iniciativa do

Ministério da Justiça foi posto em consulta pública na internet e em 2014 foi lançado um plano

nacional com a ambição de conectar 35 milhões de domicílios à internet banda larga. Já na esfera

civil, a internet cresceu desordenadamente, rapidamente e com características comerciais. A

princípio, nas classes A e B, em seguida nas classes C, D e E.

Vale uma breve consideração sobre o Marco Civil da Internet. A Lei n° 12.965/14 regula

o uso da Internet no Brasil através da previsão de princípios, garantias, direitos e deveres dos

usuários da rede, bem como determina as diretrizes para a atuação do Estado. Foi sancionada pela

presidente Dilma Rousseff, em 23 de abril de 2014. A tramitação do projeto foi realizada em

caráter de urgência depois das denúncias de espionagem do governo brasileiro pela NSA, agência

de segurança nacional norte-americana, fato que causou polêmica nas redes sociais: enquanto uns

promoviam campanhas de apoio, outros alegavam ser o Marco Civil uma tentativa de “censurar”

a rede.

A lei tornou-se necessária para atender uma demanda popular que debatia continuamente

a inclusão digital no Brasil desde a última década. Os impactos na vida da sociedade, em função

da presença maciça das tecnologias digitais nas mais variadas atividades sociais, como no nosso

caso, no cenário educacional, geraram discussões a respeito do tema, pois faltava uma política

coerente e contínua que avançasse no sentido da universalização plena do acesso às redes digitais.

O Brasil, até então, não possuía nenhuma norma capaz de legislar sobre os conflitos surgidos na

rede. Além disso, o avanço da tecnologia e a disseminação de serviços ligados à internet móvel

fizeram com que fosse necessário garantir a proteção ao usuário, seja destacando seus direitos na

hora de comprar esses serviços ou assegurando sua privacidade no uso da rede.

Portanto, o Marco Civil nada mais é do que uma espécie de “Constituição da Web”, ou

seja, um conjunto de leis e regras sobre o uso da internet no Brasil. Dentre os inúmeros aspectos

presentes na lei, vale comentar o item que está diretamente ligado ao nosso estudo: o incentivo à

educação.

Neste o ponto, um aspecto importante do texto é o registro de que, no Brasil, o papel da

internet será, sobretudo, democratizar o acesso à cultura e à educação e promover o exercício da

cidadania e dos direitos humanos, através da inclusão digital, como cita o artigo 4º da lei:

Art. 4o A disciplina do uso da internet no Brasil tem por objetivo a promoção:

I – Do direito de acesso à internet a todos;

II – Do acesso à informação, ao conhecimento e à participação na vida cultural e na condução dos

assuntos públicos;

III – da inovação e do fomento à ampla difusão de novas tecnologias e modelos de uso e acesso; e

IV – Da adesão a padrões tecnológicos abertos que permitam a comunicação, a acessibilidade e a

interoperabilidade entre aplicações e bases de dados. (Lei 12965/14)

Em resumo, trata-se de uma experiência democrática válida e interessante, especialmente

por seu caráter inovador, contudo os impactos ainda são pequenos tanto no sistema político

quanto na sociedade civil, o que aponta a necessidade de melhorias e reformulações para futuras

tentativas similares.

Segundo dados do Caderno Info do jornal O Globo, de 19 de setembro, dez anos após a

abertura comercial da internet, o Brasil de 2006 era o segundo povo do mundo que mais acessava

o YouTube, a segunda comunidade de colaboradores de grupos como Yahoo e Yahoo Respostas,

tinha 21 milhões de usuários do MSN e também éramos os maiores usuários do mundo da rede

social da época, o Orkut.

Segundo pesquisa realizada pelo Comitê Gestor de Internet em 2009, disponível em

http://www.cetic.br/usuarios/tic/, 32% dos lares brasileiros possuem computador, o que

contabiliza 18,3 milhões de domicílios, mas 5 milhões deles sem acesso à internet; 45% da

população brasileira diz já ter acessado à internet, entre os que acessaram a internet, 45% deles

frequentaram “lan houses”. Para os formuladores de políticas públicas de inclusão digital, ter um

computador e uma conexão à internet não faz de alguém um “incluído” digital.

Na pesquisa de 2015, realizada pelo Comitê Gestor de Internet, disponível em

http://www.cetic.br/usuarios/tic/, 98% dos domicílios da classe A tem acesso à internet assim

como 82% da classe B, 48% da classe C e 14% das classes D e E. Aqueles que já acessaram a

internet representam 97% da classe A, 86% da classe B, 61% da classe C e 28% das classes D e

E. Esses dados servem para confirmar a facilidade que os brasileiros têm em utilizar os códigos

abertos, além do interesse por tecnologias.

2.2.1. Programa Brasileiro de Inclusão Digital

O Programa Brasileiro de Inclusão Digital foi criado pela Secretaria de Inclusão Digital

do Governo Federal, através da Lei no 11.196, de 21 de novembro de 2005 e regulamentado pelo

Decreto no 5.602, de 06 de dezembro de 2005. O programa previa incentivos fiscais para

aquisição de equipamentos tecnológicos e estabelecia diretrizes e normas para a execução do

programa nas comunidades, por meio da alfabetização digital e da capacitação de alunos a partir

da ampliação do acesso comunitário gratuito, da ajuda na aquisição domiciliar de

microcomputadores e da universalização da conexão à internet.

O Programa Brasileiro de Inclusão Digital implantou uma política pública inclusiva, que

garantia oportunidade igualitária para todos, buscando o desfazimento da segmentação da

sociedade em dois grupos: analfabetos e alfabetizados digitais. Impactou diretamente na vida

educacional e na formação de cidadãos confiantes e habilitados a usarem os recursos e os

serviços digitais, de modo a aumentar a qualidade de vida e as possibilidades de trabalho. O

programa visou, estrategicamente, atender à população mais carente e à margem da tecnologia da

informação, através dos telecentros comunitários, priorizando municípios e áreas rurais com

menor índice de desenvolvimento humano (IDH), além das comunidades tradicionais.

A inclusão digital abrangia quatro linhas de execução: o barateamento dos equipamentos

com crédito e isenção de impostos; a criação de locais de acesso público, com serviços gratuitos,

acesso à internet através dos telecentros – e capacitação de pessoal das prefeituras para monitorar

as atividades; a garantia da conexão à internet com velocidade compatível para uso dos principais

aplicativos e a implantação de laboratórios de informática em salas de aula nas escolas públicas

com acesso à internet e com banda larga e a qualificação dos professores.

O Governo Federal investiu mais de R$ 500 milhões, distribuídos em 20 projetos entre os

Ministérios das Comunicações, Educação, Ciência e Tecnologia e Planejamento, Orçamento e

Gestão, e também em empresas públicas e privadas e organizações não-governamentais, sob a

coordenação da Presidência da República. Acredita-se que a implantação do Programa Brasileiro

de Inclusão Digital foi fundamental para que outras políticas públicas de acesso às TIC na

educação fossem iniciadas. A partir dele, concretizou-se a oferta dos meios, instrumentos e

facilidades para que os excluídos digitais participassem efetivamente do processo de inclusão

social, atuando como sujeitos ativos da expansão do uso das TIC em sala de aula.

O Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação,

CETIC, foi criado em 2005 para monitorar a adoção das tecnologias de informação e

comunicação (TIC) e com isso subsidiar as políticas públicas que envolvam questões sobre a

inclusão digital. O CETIC desde 2010, pesquisa o uso das TIC na educação

(http://cetic.br/pesquisa/educacao), buscando avaliar a infraestrutura das TIC em escolas públicas

e privadas de áreas urbanas e a apropriação destas nos processos educacionais. O levantamento é

feito junto a alunos, professores do ensino fundamental e médio, coordenadores pedagógicos e

diretores.

Dentro campo de pesquisa, escolas do ensino médio que utilizam as TIC no processo de

aprendizagem, o CETIC apresenta pesquisa que teve por base 930 escolas públicas de ensino

médio na Região Nordeste. Os dados foram coletados entre setembro de 2014 e março de 2015.

Os resultados mais relevantes são:

Na região Nordeste, apenas 30% das escolas públicas de ensino médio teve professores

capacitados para o uso das TIC em sala de aula;

No entanto, 96% das escolas públicas de ensino médio possuíam infraestrutura necessária

para o uso das TIC;

Apenas 30% possuíam professores que davam aulas específicas de informática;

67% possuem Laboratório de Informática, 26% possuem computadores na biblioteca ou sala

de estudos, 7% possuem computadores em sala de aula, 42% possuem computadores na sala dos

professores e 79% possuem computadores na sala de coordenação/direção;

Apenas 5% destas escolas possuem responsáveis pela manutenção de equipamentos de

informática;

85% das escolas possuem acesso à internet, sendo 46% conexão via cabo, 17% conexão via

telefônica (DSL), 11% via rádio, 8% via satélite e 4% via fibra ótica, 15% conexão móvel

(modem 3G).

A partir dessas informações podemos concluir que a parte inicial do programa, que teve

como foco a montagem da infraestrutura das escolas através do fornecimento de equipamentos

foi implantada, deixando a desejar nos quesitos de capacitação dos professores e a

consequentemente na adequação dos imigrantes digitais a esta nova realidade.

2.2.2. Programa um Computador por aluno (PROUCA)

O Programa Um Computador por Aluno – UCA – foi oficialmente criado por intermédio

da publicação da Medida Provisória nº 472/09, de 15 de dezembro de 2009, que trata, entre

outros assuntos, da criação do programa, bem como da instituição de um regime especial para a

compra de computadores voltados ao uso educacional, o RECOMPE. Essa Medida Provisória foi

convertida na Lei nº 12.249, de 10 de junho de 2010, que posteriormente denominou o Projeto de

PROUCA, conforme decreto presidencial que o regulamenta. Segundo a lei instituidora, o

Programa Um Computador por Aluno, tinha no campo educacional, os seguintes objetivos:

a) contribuir na construção da sociedade sustentável mediante desenvolvimento de

competências, habilidades, valores e sensibilidades, considerando os diferentes

grupamentos sociais e saberes dos sujeitos da aprendizagem;

b) inovar os sistemas de ensino para melhorar a qualidade da educação com equidade no

país;

c) ampliar o processo de inclusão digital das comunidades escolares;

d) possibilitar a cada estudante e educador da rede pública do ensino básico o uso de um

laptop para ampliar seu acesso à informação, desenvolver habilidades de produção,

adquirir novos saberes, expandir a sua inteligência e participar da construção coletiva do

conhecimento;

e) conceber, desenvolver e valorizar a formação de educadores (gestores e professores) na

utilização do laptop educacional com estudantes; e

f) criar a rede nacional de desenvolvimento do projeto para implantação, implementação,

acompanhamento e avaliação do processo de uso do laptop educacional.

O Programa Um Computador por Aluno – PROUCA – tinha como desafio alcançar todos

os estudantes de Ensino Médio e Fundamental do país, a fim de que cada estudante possuísse um

computador portátil com acesso à internet. O objetivo do programa era intensificar as TIC nas

escolas, por meio de seu projeto “piloto”, onde 150.000 computadores portáteis (laptops

educacionais) foram distribuídos; na primeira fase, aos alunos da rede pública de ensino,

atendendo 300 escolas espalhadas pelo país. Conforme os dados constantes no SIMEC (Sistema

Integrado de Monitoramento, Execução e Controle) foram investidos R$ 82.485.000,00 para

realização dessa iniciativa. O equipamento adquirido continha sistema operacional específico e

características físicas que facilitavam o uso e garantiam a segurança dos estudantes e foi

desenvolvido especialmente para uso no ambiente escolar.

Antes de ser instituído por lei, o projeto foi apresentado pelo Governo Brasileiro durante o

Fórum Econômico Mundial em Davos – Suíça, em janeiro de 2005. Em junho do mesmo ano, o

presidente Lula criou um grupo interministerial para dar encaminhamento à proposta. A partir de

debates com especialistas da área de Tecnologia da Informação e Comunicação, uma parceria foi

formalizada com a FACTI (Fundação de Apoio à Capacitação em Tecnologia da Informação) e a

FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos).

Em fevereiro de 2006, mais três instituições passaram a integrar o grupo técnico e fazer

um estudo sobre a viabilidade do programa: CENPRA – Centro de Pesquisa Renato Archer;

Fundação CERTI – Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras e LSI –

Laboratório de Sistemas Integráveis. Três fabricantes de equipamentos interessados no projeto

brasileiro doaram ao Governo Federal três modelos de laptop. A Intel doou o modelo Classmate;

a OLPC doou o modelo XO; e a empresa Indiana Encore doou o modelo Mobilis.

FIGURA – LAPTOPS XO (OLPC), MOBILIS (ENCORE) E CLASSMATE (INTEL) FONTE: UCA – UNICAMP (InterHAD).

Em janeiro de 2010, foi finalizado o procedimento licitatório para a aquisição de 150.000

laptop educacionais, que atenderam cerca de 300 escolas públicas já selecionadas nos estados e

municípios. Além dos computadores, cada estabelecimento de ensino recebeu infraestrutura para

acesso à internet e capacitação de gestores e professores no uso da tecnologia.

A partir de então, o UCA passou a denominar-se PROUCA. Nessa nova etapa, o Fundo

Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE – elaborou uma Ata Nacional de Registro de

Preços onde os estados/municípios poderiam adquirir os equipamentos por meio de recursos

próprios ou por financiamento do BNDES, conforme sua política pedagógica, disposição de

recursos e sua capacidade administrativa.

2.2.3. O PROUCA no Estado do Ceará

O Estado do Ceará foi atendido, a partir do ano de 2010, com um total de 4.063

equipamentos UCA, contemplando, nesta primeira fase, um total de nove escolas, conforme se

pode verificar na tabela abaixo:

Os alunos cearenses voltaram a ser beneficiários do projeto em fevereiro de 2013, com

2.779 alunos de escolas públicas da capital e do interior, o que totalizou um investimento de R$

3.213.952,36 e 6.842 alunos atendidos no período de 2010 a 2013.

Em 2013, o Fundo Nacional de Desenvolvimento na Educação, principal financiador do

projeto, deixou de fazer convênios com as prefeituras para o PROUCA. Com a falta de liberação

de recursos, os municípios passaram a fazer adesão ao ProInfo.

2.2.4. O Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo)

O Programa Nacional de Tecnologia Educacional – ProInfo – é um programa

educacional criado pela Portaria nº 522 do Ministério da Educação, por meio da Secretaria de

Educação a Distância – SEED, em 9 de abril de 1997, desenvolvido em parceria com os governos

estaduais e municipais.

Seus objetivos são: “melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem,

possibilitar a criação de uma nova ecologia cognitiva nos ambientes escolares mediante

incorporação adequada das novas tecnologias da informação pelas escolas, propiciar uma

educação voltada para o desenvolvimento científico e tecnológico, educar para uma cidadania

global numa sociedade tecnologicamente desenvolvida”. (www.proinfo.gov.br).

O programa teve início com a introdução das tecnologias de informática e

telecomunicações na rede pública de ensino fundamental e médio por meio de um regime de

parceria entre a Secretaria de Educação a Distância – SEED, do MEC com os governos estaduais,

mas também das Secretarias Estaduais de Educação e Conselho Nacional de Secretários de

Educação – CONSED e os governos municipais, através das Secretarias Municipais de Educação

e União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME.

A instalação de NTE – Núcleos de Tecnologia Educacional – nas principais unidades da

federação buscava garantir a reciclagem, preparação e capacitação dos recursos humanos, no caso

os professores, atores fundamentais para o sucesso do programa. A capacitação do professor se

dá em dois níveis: os multiplicadores e de escolas.

O professor especialista conduz a capacitação de professores para uso da telemática em

sala de aula. Já os professores multiplicadores capacitam os professores nas bases tecnológicas do

ProInfo nos Estados e os NTE, que são estruturas de apoio ao processo de informatização das

escolas, os auxiliam no processo de planejamento, incorporação das novas tecnologias, suporte

técnico, capacitação dos professores e das equipes administrativas das escolas.

Para promover o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação em instituições de

ensino público, no Ensino Fundamental e Médio, essa capacitação recebe recursos do Fundo

Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE) e é realizada no âmbito do Plano

Nacional de Desenvolvimento da Educação.

Segundo o Ministério da Educação, o Proinfo tem o objetivo de promover o uso

pedagógico da informática na rede pública de educação básica. O governo Lula ampliou o

programa, que leva às escolas computadores, recursos digitais e conteúdos educacionais. Em

contrapartida, estados, Distrito Federal e municípios devem garantir a estrutura adequada para

receber os laboratórios e capacitar os educadores para uso de equipamentos e tecnologias.

Baseado na proposta do ProInfo, o Governo Federal criou o E-ProInfo e o ProInfo

Integrado. O primeiro pode ser definido como um ambiente virtual colaborativo de aprendizagem

que permite a concepção, administração e desenvolvimento de diversos tipos de ações, como

cursos a distância, complementação a cursos presenciais, projetos de pesquisa, projetos

colaborativos e diversas formas de apoio ao processo ensino-aprendizagem.

Por sua vez, o Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia Educacional

(ProInfo Integrado) oferece cursos a professores das escolas públicas por meio de formação

voltada para o uso didático-pedagógico das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no

cotidiano escolar, articulado à distribuição dos equipamentos tecnológicos nas escolas e à oferta

de conteúdos e recursos multimídia e digitais oferecidos pelo Portal do Professor, pela TV Escola

e DVD Escola, pelo Domínio Público e pelo Banco Internacional de Objetos Educacionais.

O Painel de Controle do Ministério da Educação – SIMEC (painel.mec.gov.br) fornece

dados estaduais sobre a implantação da educação digital através do ProInfo no Ceará. Registram-

se aqui as informações mais relevantes, dentro deste campo de pesquisa.

De janeiro de 1999 a junho de 2015 foram entregues pelo ProInfo 5.465 laboratórios de

informática, tanto na zona urbana (2.924 escolas), quanto na zona rural (2.541 escolas),

totalizando um investimento de R$ 445.690.530,51, que beneficiou 184 municípios. Somente a

Região Metropolitana de Fortaleza recebeu 1.135 laboratórios.

Em todo o estado do Ceará, 4.696 escolas foram beneficiadas pelo programa, dentre elas

as escolas estaduais de Ensino Médio que foram objetos da pesquisa: Escola de Ensino Médio

Governador Adauto Bezerra (01 laboratório de informática – investimento de R$ 11.103,46) e

Escola de Ensino Fundamental e Médio Dr. César Calls (03 laboratórios de informática –

investimento de R$ 1.394.093,46). Entre os anos de 2011 e 2015, o ProInfo também entregou

5.373 projetores em todo o estado do Ceará, sendo 3.387 somente na Região Metropolitana de

Fortaleza, com recursos do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Mediante exigências do ProInfo, a partir de 1997, foi solicitada aos estados a elaboração

de seus projetos de Informática na Educação, o que incluía a formação de professores e

multiplicadores. Com isso, a Secretaria de Educação do Estado do Ceará SEDUC-CE

desenvolveu a partir de 1998 uma formação que se apresentava em três ações estratégicas

(CEARÁ, 1997):

Curso de Especialização em Informática na Educação para professores multiplicadores dos

Núcleos de Tecnologia Educacional – NTE, técnicos de equipes de apoio curricular e tele ensino.

O curso foi ministrado pela Faculdade de Educação – FACED e pelo Curso de Computação da

Universidade Federal do Ceará, oferecido para 40 professores dos municípios de Fortaleza,

Sobral, Tauá, Iguatu, Crato, Crateús, Itapipoca e Quixadá;

Curso de extensão voltado para os professores multiplicadores, docentes dos laboratórios de

Informática das Infovias do Desenvolvimento, dos NTE, do Projeto Escola Viva e do Centro de

Informática Educativa – CIEd;

Curso de capacitação realizado para professores e alunos monitores das escolas públicas

estaduais.

Importante ressaltar a importância dos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE), locais

dotados de infraestrutura de informática e comunicação que reúnem educadores e especialistas

em tecnologia de hardware e software. Os profissionais que trabalham nos NTE são

especialmente capacitados pelo ProInfo para auxiliar as escolas em todas as fases do processo de

incorporação, e aprimoramento das novas tecnologias no contexto educacional. Portanto, o NTE

é o parceiro mais próximo da escola no processo de inclusão digital, prestando orientação aos

diretores, professores e alunos quanto ao uso e aplicação das novas tecnologias, bem como no

que se refere à utilização e manutenção do equipamento. A capacitação dos professores é

realizada a partir destes núcleos onde os agentes multiplicadores dispõem de toda a estrutura

necessária para qualificar os educadores a fim de utilizar a internet no processo educacional.

A função do NTE é orientar o uso adequado dos instrumentos tecnológicos para promover

o desenvolvimento humano não apenas no âmbito escolar, mas em toda a comunidade,

otimizando assim os resultados através da multiplicação do aprendizado.

O número de escolas a serem atendidas – bem como o número de NTE em cada Estado – é

estabelecido de maneira proporcional ao número de alunos e escolas de cada rede de ensino

público estadual.

No estado do Ceará, os NTE implantados pelo ProInfo estão situados nas dependências

dos CREDE (Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação), totalizando 21 núcleos

em municípios estratégicos. Na primeira fase do projeto (1997 e 1998), 147 escolas foram

atendidas, por meio da instalação de Laboratórios Escolares de Informática – LEI.

2.2.5. Programa Computador Portátil para Professores

O Programa Computador Portátil para Professores veio da articulação entre a Presidência

da República, Ministérios da Educação, da Ciência e Tecnologia, e da Empresa Brasileira de

Correios e Telégrafos com o setor privado, sendo gerido no âmbito da Secretaria de Educação à

Distância – SEED/MEC – no intuito de dar sequência ao projeto Cidadão Conectado –

Computador para Todos – permitindo aos professores do ensino básico, profissional e superior de

instituições públicas e privadas credenciadas junto ao MEC, a oportunidade de adquirir

computadores de diversas marcas e modelos, com financiamento em 24 ou 36 parcelas.

Instituído legalmente pelo decreto 6.504, de quatro de julho de 2008 e com coordenação

dos Ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação, o Programa Computador Portátil para

Professores nasceu com o objetivo de promover a inclusão digital de professores ativos da rede

pública e privada de todos os níveis de educação, mediante a aquisição de computadores portáteis

(notebooks), programas de computador (softwares) neles instalados e de suporte e assistência

técnica, de acordo com as especificações técnicas mínimas estabelecidas pelo Ministério da

Ciência e Tecnologia.

O projeto, em sua primeira fase, no ano de 2009, atendeu a 64 municípios. Depois foi

estendido a todos os municípios brasileiros. No Ceará, os municípios de Sobral e São Gonçalo

foram os primeiros beneficiados pelo Programa que tinha como objetivos específicos:

Facilitar a aquisição de computadores portáteis para professores com preço máximo de R$

1.400,00 (um mil e quatrocentos reais) à vista, com frete incluso e configuração básica de acordo

com a portaria do programa Cidadão Conectado – Computador para Todos.

Auxiliar na formação intelectual e pedagógica dos professores, a partir da interação com as

novas tecnologias da informação e comunicação – TIC, através do fácil acesso ao computador

portátil.

Aumentar os atuais patamares da inclusão digital e fomentar o desenvolvimento sustentável

brasileiro.

Propiciar um ambiente favorável à inovação na área de educação, paralelamente ao

desenvolvimento de futuras tecnologias na área pedagógica e social, contribuindo assim para a

melhoria da qualidade do ensino público brasileiro.

2.2.6. Programa Banda Larga nas Escolas

O Programa Banda Larga nas Escolas foi criado pelo Decreto nº 6.424, de 04 de abril de

2008. A gestão do programa é de competência do Ministério da Educação e da Agência Nacional

de Telecomunicações (ANATEL), em parceria com o Ministério das Comunicações, com o

Ministério do Planejamento e com as Secretarias de Educação Estaduais e Municipais.

Com o objetivo de incrementar o ensino público no Brasil, o programa visa conectar todas

as escolas públicas urbanas à internet por meio da banda larga. O Programa resultou de

negociações com concessionárias de serviços de telecomunicações, que assumiram

voluntariamente o compromisso de propiciar a conexão gratuita à internet via banda larga em

todas as escolas públicas de Ensino Médio e Fundamental, localizadas em áreas urbanas, até

2010, com serviço mantido gratuitamente até 2025.

Em 2003, o Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio da Secretaria de Ciência e

Tecnologia para Inclusão Social criou os Centros Vocacionais Tecnológicos, que são unidades de

ensino e profissionalização voltados para o conhecimento científico e tecnológico, com o objetivo

de disseminar os conhecimentos práticos na área de serviços técnicos e de transferência de

conhecimentos tecnológicos.

Com políticas definidas e implantadas pelo Governo Lula, a presidenta Dilma Rousseff

(2010-2014) deu continuidade aos programas iniciados, ampliando o acesso à banda larga nas

escolas públicas, uma das diretrizes do seu programa de governo.

2.2.7. Programa Banda Larga nas Escolas no Ceará

Segundo dados do Ministério das Comunicações, em 2015, das 630 escolas de Ensino

Médio existentes no estado do Ceará (578 urbanas e 52 rurais – gráficos 1 e 2), 373 declaram ser

atendidas pelo Programa Banda Larga na Escola. Das 52 escolas do meio rural, 24 possuem sala

de informática e têm acesso à banda larga; enquanto que no meio urbano, das 578 escolas

existentes, 480 possuem laboratório de informática, mas somente 349 possuem banda larga. As

630 escolas atendem um total de 347.665 alunos do ensino médio e 19.355 professores atuando

em sala de aula.

Gráficos 1 e 2

As 630 escolas são equipadas com 5.069 computadores, 825 projetores, 968 televisões e

597 aparelhos de DVD. O Ministério das Comunicações não informou o quantitativo de lousas

eletrônicas e tabletes, equipamentos que encontramos em nossa pesquisa de campo, como sendo

os mais disputados entre os professores que utilizam as TIC em sala de aula.

Um fato que chamou atenção na tabela enviada pelo Ministério das Comunicações foi que

96 escolas que não aderiram ao Programa, também possuem sua própria internet banda larga, o

que totaliza no estado do Ceará 469 escolas com acesso à internet. Dentre estas, 78% possuem

velocidade de 2MB, 17% de 5MG, 4% de 10MG e apenas 1% das escolas possuem velocidade de

15 MB. Todas as 373 escolas participantes do Programa Banda Larga na Escola, assim como as

96 não participantes do Programa são atendidas pela operadora Oi.

Ao analisar todos os aspectos observados para contextualizar a formulação deste tipo de

política inclusiva, conclui-se que as políticas públicas dos governos Lula e Dilma construídas

para munir o novo tipo de estudante, que surge em meio às transformações tecnológicas, têm sido

implantadas com o objetivo de oferecer recursos físicos e capacitar docentes e discentes para que

estejam preparados tecnicamente para usar estes recursos tecnológicos.

No entanto, os programas em estudo vislumbravam algo maior que recursos físicos e

habilidades técnicas no ambiente escolar. O propósito era agregar as ferramentas digitais para a

construção de um modelo de ensino onde estudantes e professores juntos possam construir o

saber, usando a cultura digital como parte integrante do processo pedagógico que permeia toda a

aprendizagem.

3 UM PERCURSO EM CAMPO

Os caminhos da pesquisa são sempre tortuosos, plenos de atalhos e trilhas

que muitas vezes não levam a lugar nenhum, obrigando a transitar em idas e

vindas.

Dayrell, 2005, p.19

A reflexão de Dayrell ecoa os encantos e desencantos do percurso metodológico

concretizado nesta pesquisa. Selecionar as escolas nas quais talvez fossem encontrados os

resultados buscados, escolher quais coordenadores aceitariam participar da pesquisa com

tranquilidade sem atrapalhar o caminhar de alunos e professores em suas atividades diárias,

escolher quais professores estavam dispostos a perder cinco a dez minutos do seu intervalo para

responder algumas perguntas, não foi fácil. Esse trajeto de idas e vindas, erros e acertos,

satisfações e decepções, reflexões e questões é característico da pesquisa empírica, revelando as

(im) perfeições da caminhada.

Neste capítulo, a trajetória metodológica acha-se revelada nas inúmeras escolhas

realizadas ao longo da construção deste trabalho. Tal trajetória será descrita minuciosamente,

desde os primeiros contatos com os sujeitos da pesquisa até as estratégias adotadas para

organizar, sistematizar e analisar resultados.

3.1. A pesquisa qualitativa

A pesquisa empírica realizada no âmbito de duas instituições escolares públicas

específicas (Escolas César Calls e Adauto Bezerra) constitui-se em exame minucioso, guiado

pelo objetivo de solucionar o problema da emergência dos nativos digitais pela mediação

docente, a partir da aproximação rigorosamente planejada entre o pesquisador e os sujeitos

(professores) inseridos em seu campo real e cotidiano. Segundo Gil (2007, p. 17), esse tipo de

pesquisa é assim definido:

Procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos

problemas que são propostos. A pesquisa desenvolve-se por um processo constituído de

várias fases, desde a formulação do problema até a apresentação e discussão dos resultados.

(Gil, 2007, p.17)

Ao definir os aspectos da relação docente discente que seriam analisados nesta pesquisa e

traçar a metodologia apropriada para o problema apresentado, a pesquisa qualitativa

observacional despontou como a melhor alternativa. Esta, segundo Trivinõs (1987), apresenta

potencial para captação de aspectos descritivos, tendo no significado formulado pelos sujeitos sua

preocupação essencial, bem como o ambiente natural como fonte direta dos dados. Neste

contexto, o pesquisador converte-se em instrumento chave por ocupar-se do processo, e não

simplesmente dos resultados, analisando por isso os dados indutivamente.

Assim, o método qualitativo observacional foi escolhido por propiciar o aprofundamento

da compreensão de um grupo social específico, de uma organização escolar, neste caso,

socializada com a cultura digital como elemento integrante do trabalho de educação formal.

Deste modo, a quantificação de valores não é uma prioridade, mas antes o que prevalece é a

articulação de diferentes abordagens, centrada na compreensão e explicação da dinâmica das

relações sociais entre estudante e professor, a partir da perspectiva deste último.

Entendendo o processo de inserção das TIC em sala de aula como uma desestabilização

de padrões tradicionais de ensino, a abordagem qualitativa neste caso induziu a uma reflexão por

parte dos agentes da pesquisa, principalmente daqueles mais resistentes a tal transformação.

Embora nas duas escolas observadas, a entrada em campo tenha sido realizada no sentido de

intervir o mínimo possível na dinâmica do ambiente, era preciso reconhecer que desde as

primeiras percepções do campo empírico, as considerações feitas por Richardson mostraram-se

pertinentes:

Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de

determinado problema, analisar a interação de determinadas variáveis, compreender e classificar

processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado

grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do

comportamento dos indivíduos. (Richardson, 1999, p.80)

Deste modo, e conforme a descrição de Trivinõs e também de Godoy (1995, p.62), as

características da pesquisa qualitativa condizem com aquelas do estudo realizado. Quanto ao

caráter descritivo da pesquisa, este foi incorporado a fim de exprimir detalhadamente as

características dos sujeitos da comunidade escolar: gestores, professores, alunos e colaboradores,

inseridos conscientemente ou não no fenômeno da disseminação do uso das TIC. Faz parte

também do trabalho de observação a consideração do impacto que a tecnologia tem na vida de

cada um dos citados sujeitos, seja no contexto social, pessoal ou escolar, diante de variáveis

como grau de escolaridade e idade. A partir da observação e do registro dos fatos observados,

foram extraídos os pontos que mais têm influenciado na configuração da problemática analisada,

para que depois, de forma indutiva, a pesquisa possibilitasse a emergência de questionamentos

relevantes para a elaboração do roteiro de entrevista a ser apresentado aos docentes.

Como técnica complementar de pesquisa, após a etapa de observação, a entrevista

subsidiou a obtenção de informações a respeito do que os docentes sabem, percebem, esperam,

sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram e também acerca das suas explicações ou

razões a respeito de fatos vivenciados que envolvem a disseminação das TIC no ambiente

escolar.

Por isso, os dados foram coletados a partir de um roteiro de entrevistas semiestruturadas,

formuladas com base na observação em campo e dirigidas aos professores pessoalmente. As

entrevistas realizadas face a face geraram elementos favoráveis a uma análise mais aprofundada

do tema, ultrapassando a expectativa inicial gerada pela aplicação das quinze perguntas

apresentadas na fase exploratória da pesquisa.

Segundo Duarte (2004), há alguns procedimentos importantes a serem adotados entre as

etapas de realização de entrevista e análise dos dados coletados. O primeiro deles diz respeito à

transcrição: entrevistas devem ser transcritas, logo depois de encerradas, de preferência por quem

as realiza e devem passar pela chamada “conferência de fidedignidade”: ouvir a gravação tendo o

texto transcrito em mãos, acompanhando e conferindo cada frase, mudanças de entonação,

interjeições, interrupções etc.

Transcrever e ler cada entrevista realizada, antes de partir para a seguinte, ajuda a corrigir erros, a

evitar respostas induzidas e a reavaliar os rumos da investigação (ALBERTI, 1990).

As citadas entrevistas foram realizadas com professores de duas escolas públicas que

inseriram o uso das TIC em sala de aula, utilizando este recurso em diversas disciplinas a partir

dos anos 2000. Neste contexto, o método comparativo revelou-se como um auxiliar valioso na

obtenção de análises mais profundas acerca do tema. Sérgio Bulgacov (1998), explica que os

estudos que envolvem tal método utilizam-no para identificar fenômenos complexos, assim

como, a atuação e a comparação entre organizações de um mesmo setor ou mesmo de setores

diferentes. Desta forma, o autor define o método comparativo como:

A comparação sistemática de um grupo determinado de organizações, ou grupos específicos de

organizações, com a finalidade de estabelecer relações entre suas variáveis ou categorias analíticas.

(BULGACOV, 1998)

A utilização do método comparativo teve como ponto de partida um elemento comum às

duas escolas: ambas apresentavam experiências exitosas posteriores à inserção das TIC na

aprendizagem do conteúdo das disciplinas curriculares. A partir disto, os dois ambientes foram

confrontados, com a finalidade de verificar outras similitudes e explicar possíveis divergências. A

análise comparativa auxiliou tanto na relação entre os resultados das duas no que concerne ao uso

das TIC, quanto à percepção do envolvimento dos professores e dos alunos com a nova realidade

escolar, mediante as variáveis de cada ambiente.

Resumindo o processo: a escolha bibliográfica subsidiou a formulação sociológica do

fenômeno estudado, de modo a interrogar, coletar e compreender dados e perspectivas de análise

referentes à temática. Em seguida, a pesquisa de campo deu sequência ao trabalho com o objetivo

de observar empiricamente a configuração do problema, subsidiando realinhamentos da

perspectiva teórica estruturada. Ao aplicar as entrevistas, a interpretação qualitativa foi

responsável por guiar a maior parte da pesquisa e o estudo comparativo foi fundamental para as

análises e proposições finais.

3.2. Inserção no campo – a escolha das escolas.

Propor um estudo sobre nativos digitais, uma categoria muito debatida na Educação e na

Pedagogia, mas pouco estudada nas Ciências Sociais, ainda mais em um Programa de Pós-

Graduação em Sociologia, não foi uma decisão das mais fáceis. Reinventar formas sociológicas

de olhar para os sujeitos desta pesquisa e pensar como a educação é influenciada pelo uso das

TIC e da internet requer uma compreensão mais ampla do que aquela engendrada pela

perspectiva educacional, pois é preciso pensar também os modos como a internet e as tecnologias

digitais se ramificam na sociedade como um todo. Mas como circunscrever o caminho teórico-

metodológico relativo a uma temática que se encontra na interseção de vários campos

disciplinares: da Sociologia à Educação, da Comunicação às Políticas Públicas, das Tecnologias

da Comunicação e Informação à Cultura?

Descrever em detalhes o campo, controlando a mediação da subjetividade do pesquisador

foi, talvez, o mais difícil. Em muitos momentos foi preciso rever prejulgamentos, os quais

conduziam à adjetivação e caracterização de alunos e professores em situação de aprendizagem, à

luz de concepções que conferiam sentido ao cotidiano compartilhado por pesquisador e sujeitos

da pesquisa. Na concepção formulada inicialmente, podia dizer quem era “comprometido”, sendo

feliz por ser professor; quem apesar de ser funcionário público, odiava a esfera pública da vida

coletiva; o que caracterizava os jovens e aquilo que não. Por isso, foi um difícil exercício

reflexivo e autorreflexivo considerar, sobretudo o que diziam e demonstravam os agentes da

pesquisa, recorrendo a categorias teórico-metodológicas que possibilitassem a superação de

descompassos e conflitos entre a prática e o discurso destes sujeitos.

Observar os jovens em suas interações cotidianas, as diversas maneiras de estar na escola

– no pátio, no refeitório, na biblioteca, na sala de aula – era o que mais interessava como forma

de aproximação do universo pesquisado. Os jovens pesquisados são fruto de suas relações com a

família e a escola, a partir de sua posição e disposições sociais e culturais. Mas eles são também

influenciados por suas interações cotidianas com amigos, face a face ou mediadas pelas

tecnologias digitais, seja o Facebook, o Instagram ou o WhatsApp.

No que concerne ao universo de valores do pesquisador, por vezes, surgia ainda a

comparação entre os jovens da escola pública e os jovens da escola particular, a experiência de

professores que lecionavam nas duas realidades, várias argumentações sobre cada um destes

universos sociais, até o momento em que um professor resumiu bem o que quase todos diziam:

“Minha filha, você quer saber, ‘gente’ é muito parecida, ‘jovem’ mais ainda. Depois da internet,

eles ficaram mais parecidos ainda, e eu penso que é assim em qualquer lugar do mundo. ”

A primeira dificuldade de delimitação do campo empírico da pesquisa foi a de selecionar

dentre as 621 escolas públicas de ensino médio, quais escolas atenderiam às questões abordadas

na pesquisa. A SEDUC fornecera uma lista com as 621 escolas e seus respectivos telefones. Na

Secretaria apenas uma pessoa, depois de bastante insistência sobre o recorte da pesquisa, sugeriu

cinco escolas: Colégio da Polícia Militar do Ceará, Colégio Militar do Corpo de Bombeiro,

Colégio Estadual Justiniano de Serpa, Escola de Ensino Fundamental e Médio Dr. César Calls e a

Escola de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra. Foram várias tentativas por telefone, e-

mail e visitas a estas escolas para conseguir contato com os diretores.

Feito o recorte de duas escolas, o percurso em campo foi iniciado no primeiro semestre de

2015. A Escola Estadual Adauto Bezerra tinha aprovado no ano anterior 144 estudantes no

ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio) em universidades públicas, quase metade dos

inscritos na escola no terceiro ano do Ensino Médio, um feito noticiado por vários jornais locais.

Além do mais, um estudante de 16 anos surpreendeu a todos por acertar 172 das 180 questões da

prova, trazendo visibilidade para a escola em todo o Brasil.

Logo na entrada da escola de grades esverdeadas, um jardim pouco cuidado no centro e

quadras poliesportivas, havia um cartaz que mostrava que foram 60 aprovações na Universidade

Federal do Ceará (UFC), 18 na Universidade Estadual do Ceará (UECE), 45 em outras

instituições de ensino e 80 no Programa Universidade para Todos (Prouni). A título de

comparativo, no ano de 2005, cinco alunos foram aprovados em toda a escola. No ano de 2015, a

escola alcançou a marca de 255 aprovações. A Escola de Ensino Médio Governador Adauto

Bezerra, localizada na Rua Monsenhor Liberato, 1850, no bairro de Fátima, com 2000 alunos

matriculados no Ensino Médio e evasão de 3% no turno da manhã e 14% no turno da noite

constituiu-se assim como uma dentre as escolas que seriam analisadas.

Para corroborar a escolha, a escola usa as tecnologias para auxiliar na aula tradicional,

como, por exemplo, com o uso do programa GEOGEBRA, um software de Matemática dinâmica

para todos os níveis de ensino, reunindo em único programa: Geometria, Álgebra, Planilha de

Cálculos, Probabilidade, Estatística e Cálculos Simbólicos. A escola tem um blog alimentado por

professores e coordenadores pedagógicos e utiliza o aplicativo Facebook como principal

ferramenta de comunicação entre escola e comunidade. A escola também foi premiada pelo

programa “Aprender pra valer”, que busca a elevação do desempenho dos alunos do ensino

médio com níveis de proficiência adequados a cada série, bem como a articulação com a

educação profissional e tecnológica. Por esse feito, em 2014, a escola foi premiada com 304

computadores aos alunos que atingiram certo grau de proficiência. Este programa efetiva-se pela

Avaliação Censitária do Ensino Médio realizada pelo Sistema Permanente de Avaliação da

Educação Básica do Ceará (SPAECE) .

Em cada edição desta avaliação, são aplicados testes de desempenho e questionários

contextuais aos estudantes, visando traçar um panorama da qualidade de ensino. A partir dos

resultados, os gestores da educação podem elaborar e monitorar políticas, programas e projetos

educacionais; nas escolas, os diretores, os coordenadores pedagógicos, os professores, os

estudantes e os responsáveis podem definir ações para introduzir ajustes no projeto pedagógico

da escola. Assim, os dados fornecidos pelo SPAECE constituem ferramenta importante para

diagnosticar os resultados escolares e prestar esclarecimentos à sociedade sobre o ensino público

no Ceará.

No contexto de atuação do SPAECE, é preciso considerar que o surgimento da internet e

de todas as novas formas de comunicação e informação provocou mudanças nos modos de

pensar, agir, interagir, ler e aprender. Embora enfraquecido, o modelo disciplinar subsiste,

representando um campo de tensões entre abordagens que têm como base a chamada vanguarda

tecnológica e a disposição cultivada por valores educacionais “tradicionais”.

A segunda instituição selecionada, a Escola de Ensino Fundamental e Médio Dr. César

Calls, localizada na movimentada Avenida Domingos Olímpio, 1800, no bairro Farias Brito, em

Fortaleza, tem 1412 alunos, matriculados na 8ª e 9ª séries do Ensino Fundamental e no Ensino

Médio. A evasão encontra-se na média cearense, cerca de 10%. O prédio deteriorado em pouco

se diferencia das duas outras escolas que se encontram na mesma avenida. A escola, com suas

colunas amarelas e azuis, um grande pátio ao centro e aquele vai e vem de jovens, é muito

parecida com a maioria das escolas públicas do estado do Ceará. No primeiro andar há um grande

pátio, algumas salas de aula e o refeitório. No segundo andar, além das salas de aula, estão a

biblioteca, as coordenações, as salas de Informática e a sala dos professores. Em toda parte há

cartazes, trabalhos, desenhos e frases motivacionais.

O bairro Farias Brito, conhecido pela população local como Otávio Bonfim, situado na

região Oeste de Fortaleza, ocupa posição privilegiada em termos de acesso à rede de transportes

públicos, pois na avenida transitam as principais linhas de ônibus do município. Assim, a escola

conta com alunos de todos os bairros. Como informou um dos coordenadores: “essa escola não é

uma escola de bairro, temos alunos de vários bairros e de outros municípios também. E temos

muitos alunos do ensino médio que vieram de escolas particulares”.

Em uma das últimas visitas à escola, acontecia o festival “Musique”. Naquele momento,

os professores do núcleo de Linguagens que normalmente trabalham com as TIC, estavam

apresentando aos alunos cantores brasileiros que eles desconheciam, como Zélia Duncan,

Adriana Calcanhoto, Caetano Veloso, Raul Seixas, Chico Buarque, dentre outros. Os alunos

deveriam fazer uma fotografia autoral e relacioná-la com algum trecho da letra de músicas desses

cantores. Por isso, a escola estava repleta de fotografias espalhas por todos os andares. Além

disso, os mais talentosos participariam de um sarau na semana seguinte. Para a seleção, deveriam

gravar um vídeo mostrando seus talentos, os selecionados exibiriam suas apresentações aos

demais, em um dia dedicado à música, à arte e à cultura.

É preciso considerar que a escola conta com as seguintes propostas para o uso das TIC:

um projeto de tecnologia avançada em Robótica Educacional, que busca desenvolver nos

estudantes a capacidade de raciocínio lógico, as habilidades relacionadas com desenho

geométrico, construção de maquetes, Ciências Exatas utilizando a Informática e a linguagem de

programação. Esse projeto teve início em 2009, primeiro no Ensino Médio e depois no Ensino

Fundamental, com o Programa Mais Educação, envolvendo um grupo de 40 alunos. Ela também

tem um blog, alimentado pelos professores, e outro, mantido pelos estudantes, bem como tem no

Facebook sua principal ferramenta de comunicação entre escola e comunidade. No final de 2014,

14 alunos foram premiados com computadores por bom desempenho escolar.

A pesquisa de campo concretizou-se em duas etapas: a primeira, a partir de observações e

entrevistas informais com alunos, professores, coordenadores e servidores e, a segunda etapa, por

meio de uma entrevista estruturada com os professores.

Nas observações realizadas em campo, o celular do pesquisador foi um instrumento aceito

em campo como parte do cotidiano escolar. Como representante das tecnologias de síntese

presentes no século XXI, o celular e todas as suas funcionalidades supre as mais variadas

demandas experimentadas pelo pesquisador em campo: fotografar, filmar, gravar em áudio e em

vídeo e fazer registros no bloco de notas.

3.3. Notas da primeira visita à Escola César Calls

Enquanto esperava ser atendida pelo coordenador pedagógico da Escola César Calls,

fiquei observando aquele ambiente que em nada remetia à minha expectativa de uma escola

pública – além de cadernos e livros nas mãos e nas mochilas, meninas e meninos ostentavam

fones de ouvidos, telefones, smartfones e MP3.

Depois de passar pela biblioteca e pátio, cheguei à coordenação e fui recebida pelo

coordenador. “W” acumula as funções de coordenador financeiro e pedagógico e fala com muito

orgulho do seu trabalho. Entre interrupções de um aluno e intervenções da secretária,

conversamos por quase uma hora. Perguntei se o incomodaria a gravação de nossa conversa, ao

que ele me respondeu “não”.

Pedi que ele me falasse livremente como as TIC impactam no processo de ensino-

aprendizagem. Ele respondeu que as TIC têm a capacidade de aproximar realidade e

conhecimento e que a tecnologia em sala de aula torna o processo de aprendizagem mais atrativo

para os alunos. “Nós não temos como remar contra essa maré. Estes alunos estão sempre

conectados. Se nós, professores, estamos sempre conectados, imagina eles! Eu não posso

desprezar as TIC, eu não impeço que o menino traga seu laptop, eu não tenho como impedir que

ele goste de internet, eu não posso lutar contra isso! ”

Segundo W. o governo do estado apoia a iniciativa de inclusão digital na escola e para

isso os professores receberam tabletes emprestados do governo. A escola tem 60 computadores

educacionais e 40 computadores administrativos, mas só usam metade deles, pois os outros estão

armazenados. Também receberam uma lousa digital e ainda aguardavam receber mais cinco. A

lousa digital enviada pelo governo federal é um projetor com CPU embutida que acompanha uma

caneta holográfica e tem a vantagem de ser móvel, podendo ser levada para qualquer sala de aula.

Ao questionar se havia banda larga em toda a escola, W. disse que o provedor da IBM já

havia chegado, assim como os roteadores que farão parte do cinturão digital, mas que ainda

faltava a fibra ótica e a instalação deste material. Porém, a escola conta com internet nos 28

computadores administrativos e nos 60 computadores educacionais que estão no laboratório. Os

notebooks também têm acesso à internet, mas quando os três laboratórios são utilizados, é

suficiente para a internet cair. “Tem professor aqui que leva de 14 notebooks para a sala de aula!”

O coordenador afirmou ainda que os alunos não têm acesso à senha para utilização da

internet, mas que eles recorrem a programas nos celulares que descobrem a senha, enfraquecendo

o sistema. W. acrescentou: “Mas a gente vai ter que trabalhar com essa realidade, o governo já

mandou a parte física, o provedor e os roteadores, para que haja internet banda larga em toda a

escola. A verdade é que os alunos vão ter acesso à internet o tempo todo. A questão é: como será

a aula com esses meninos com internet o tempo todo? Esse é outro dilema! ”.

Questionado quanto à resistência de alguns professores em relação ao uso das TIC em sala

de aula, W. afirmou: “Você sabe, como em qualquer profissão, há profissionais e ‘profissionais’.

Na educação as pessoas têm o seu jeito de trabalhar, não é que alguns professores sejam

resistentes, mas não se identificam muito. Há professores aqui que dominam e brincam com

tecnologia, vão para a sala de aula e inventam novas maneiras de trabalhar. Nós temos projetos

exitosos na área de robótica, de Química, inclusive dois alunos daqui ganharam passagem e

hospedagem da SEDUC e foram participar de uma feira nacional. Há professores que se

identificam, que gostam. Aqui a gente influencia o aluno a pesquisar, a apresentar seminários, a

fazer banners. Nós temos um núcleo de pesquisa onde eles ficam direto nos computadores”. Ele

ainda acrescentou: “Têm professores inovadores que sabem lidar muito bem com a questão do

WhatsApp e com as redes sociais. Por outro lado, eu vejo professores se digladiando contra a

onda questionadora desses meninos, eu digo: gente, isso é ótimo! Parem de remar contra essa

maré! A nossa função de professor é muito mais de ponte. Eu tenho conhecimento e vou passar

para você, de jeito nenhum! Se esse menino entrar na internet ele descobre muito mais coisa do

que eu. Eu digo: gente, me tragam informações sobre o Barroco! Eu os deixo curiosos. Mas

também procuro ensiná-los a peneirar, a filtrar, priorizar. O que merece confiança? O que merece

uma análise? O que é subjetivo e o que é objetivo? Quando eles descobrem que a internet é um

acesso ao conhecimento e que eles têm acesso ao conhecimento quando querem é maravilhoso! ”.

W. informou que o laboratório de informática é o ambiente mais utilizado para o uso das

TIC, “os professores preferem levar os alunos ao laboratório onde a internet é melhor, apesar da

lousa digital ser móvel, a internet não funciona bem em todas as salas, então o laboratório ainda é

a melhor opção”. Também questionei quais programas e aplicativos são mais utilizados, o que me

respondeu: “o Internet Explorer, usamos bastante o google, os blogs e o facebook. Nós usamos o

facebook para se comunicar. Todos os recados que você vê pregado aí (aponta para um mural

cheio de avisos), eu boto aí só por mania, porque a comunicação escola professor acontece

mesmo pelo facebook. Por exemplo: o novo horário a partir de segunda, a convocação de uma

reunião, etc. Eles (os estudantes) usam todos esses aplicativos que você conhece: facebook,

WhatsApp, Instagram…. O pessoal da biblioteca alimenta o blog. O grêmio estudantil tem um

blog alimentado pelos alunos. Nós também temos uma rádio que os alunos se comunicam”.

Depois de aprofundarmos alguns pontos, como a faixa etária dos professores que usam as

TIC em sala de aula, a formação, se usam as TIC fora da sala de aula, dentre outras questões,

questionei se, na perspectiva do nativo digital, o uso das TIC em sala de aula contribui para

tornar o aprendizado mais atrativo. “Eles adoram, participam, se interessam e não querem perder.

Mas é preciso que haja planejamento, porque se deixar eles a vontade, só querem saber das redes

sociais! ”.

3.4. Notas da primeira visita à Escola Adauto Bezerra

Na primeira visita à Escola Adauto Bezerra fui recebida pela secretária e depois de uma

longa espera, fui encaminhada ao diretor. “O.” aceitou sem objeção que eu gravasse nossa

conversa.

A Escola Adauto Bezerra, no ano de 2014, havia sido premiada com 304 notebooks aos

alunos que atingiram certo grau de proficiência: “A Escola Adauto Bezerra foi uma das mais

premiadas pelo governo, foram 304 computadores…. o aluno não precisa concorrer com o outro,

só com ele mesmo, atingindo a escala, ele ganha!”

Questionei se a escola dispunha de internet para alunos e professores, ao que ele me

respondeu que a escola também fazia parte do cinturão digital, mas que a internet só estava

disponível aos professores. “Olha, a gente tem o cinturão digital, mas ainda é muito concentrado.

Quem é que pode usar? Só os professores! Os alunos não podem usar a internet. Não podem entre

aspas, porque eles são muito espertos, eles descobrem a senha e na hora do intervalo eles usam”.

Ele explicou que a internet não está disponível para os alunos porque a tecnologia Wi-Fi só chega

à mediação da sala dos professores, na área administrativa, mas não se expande para toda a

escola. “A gente participou, há dois finais de semana passados, da construção do Plano Estadual

de Educação, e uma das estratégias de uma das metas do plano foi a instalação de uma internet

que fosse para toda a comunidade escolar, para que todos os estudantes tenham acesso à internet,

na escola inteira. Esse plano foi construído por comissões da sociedade civil e vai para a

Assembléia Legislativa para ser sancionado e transformado em lei, ele deve estar de acordo com

o Plano Nacional de Educação. Aqui na escola nós já temos os quatro access point para serem

instalados, a gente ainda não instalou porque contratamos uma empresa para fazer um estudo de

distribuição, já que a escola é grande, para sabermos os pontos exatos aonde devem ser

instalados. Quando forem instalados, a escola inteira vai ter tecnologia Wi-Fi. Mas mesmo

instalada, ela não estará, de imediato, liberada aos estudantes. Por que? Porque temos que ter

critérios de como os estudantes vão poder utilizar. Uma das nossas grandes dificuldades é o uso

do celular na sala de aula, porque ele é um equipamento proibido, por lei e pela escola. Ele

poderá ser usado como instrumento pedagógico, tem muito pedagogo que discute isso. É, pode,

mas como? E o professor que às vezes nem um tablete tem, não porque não pode comprar, mas

não tem interesse em ter. A gente precisa primeiro discutir como utilizar esses recursos, porque

estamos meio perdidos. Alguns professores não fazem questão de utilizar, eles são diferentes

desses meninos que estão um passo na nossa frente. Tem havido muitas mudanças em relação ao

uso de tecnologias em sala de aula, mas ainda é tudo concentrado na mão do professor. Eu acho

que as escolas que você for pesquisar, quando você falar em tecnologia em sala de aula ele vão

dizer que usam, porque tem data show, tem internet, tem laboratório de Informática. Tem aulas

que são dadas no laboratório de Informática, pelo professor da disciplina mesmo, mas no

laboratório”.

Para o diretor, as tecnologias da educação impactam no processo de ensino-aprendizagem

de forma positiva. “Eu acho que toda tecnologia que vai surgindo vem para suprir uma

necessidade que as outras tecnologias não resolviam. Por exemplo, eu acho que livros são ótimos,

mas não são tão eficientes como o Google. E também o Google não resolve tudo, então as

tecnologias são suplementares, elas dão suporte uma a outra. Nós professores temos que saber

utilizar uma em cada momento. Eu tenho que saber a hora de usar um projetor multimídia em

sala de aula. Agora eu não posso usar o projetor multimídia todo dia e esquecer o livro, que

também não deixa de ser uma tecnologia também. Eu acho que tem que ter o momento, tem horas

que o livro vai ser extremamente utilizado, tem horas que vou usar a tecnologia do quadro branco

e do pincel e farei um bom uso dele, contanto que eu não escreva cinquenta mil coisas, que eu

não preciso mais fazer isso, o quadro branco não serve mais para isso, mas serve para eu botar

tópicos, para chamar a atenção para algumas observações, então ele é importante também. O

quadro branco não serve mais para escrever tudo como faziam antes. Eu acredito que todas as

tecnologias que vão surgindo têm seu lugar de importância se forem usadas de forma correta.

Porque todas as tecnologias, inclusive as digitais, se forem mal utilizadas, podem até atrapalhar.

Quem vai saber o bom uso e o mal-uso delas é o professor. Aqui temos professores que usam

muito o notebook com o projetor multimídia, aqui na escola temos até uns kits, que vem com as

extensões e tudo. O professor pega o kit dele e leva para a sala de aula. Tem professor aqui que

tem o seu próprio kit, vem com sua maletinha, não passa nem na biblioteca para pedir material.

Mas o que é que acontece? Já temos até observado de forma pedagógica e discutido com os

PCA´s (Professores Coordenadores de Área), como um professor chega toda aula com uma

multimídia? Toda aula tem um filme, um documentário, isso também não soa bem, é interessante

em algum momento, mas em todos os momentos, não fica bem. Faz falta a discussão, o

aprofundamento, o envolvimento dos alunos. Por exemplo, uma aula de Filosofia, você bota para

eles para assistir A sociedade dos poetas mortos. O filme todinho acho que você deve assistir em

casa comendo pipoca. Para a sala de aula você corta algumas partes principais e complementa

com textos, com debates, com discussão. Se você não fizer esses meninos entrarem no debate,

ficar só aquela coisa unilateral, direcionada, não funciona. A mesma coisa se o professor chegar

na sala, ficar só falando, é a mesma coisa do filme, o menino não sai do lugar. Enfim, as

tecnologias são importantes, mas é preciso usá-las com bom senso, com estudo pedagógico,

feedback de conhecimento. Eu acho que eles já usam muita tecnologia, principalmente em

relação à escola e a nós, professores. Tem professor aqui que é craque, mas se eu pegar aqui a

escola, dos 100 professores, a grande maioria deles não usa com propriedade. É preciso saber a

competência do professor para usar a tecnologia de forma pedagógica. A gente tinha um

professor de Matemática que se aposentou agora nesse começo de ano e ele estava com uma

dificuldade de interagir com os meninos, até pela idade dele. Mas um excelente professor,

principalmente de conhecimento e domínio da Matemática. E aí a gente sentou com ele e com o

PCA de Matemática porque já tínhamos verificado que a maioria dos alunos estava com notas

baixíssimas na disciplina dele. Tirar nota baixa em Matemática não é nenhuma novidade, mas

com aquele professor a situação estava pior. Aí a gente pensou: será se esse professor pode usar

algum tipo de tecnologia que os outros professores usam, tipo o Geogebra, que é um programa

que pode ser usado no laboratório de Informática? Será que esse professor ganharia um pouco

mais dos meninos em sala de aula se ele levasse alguns vídeos interessantes de Matemática? E o

que foi que a gente fez? Bom, vamos conversar com o professor. O professor, para nossa

surpresa, foi muito aberto. ‘Olha, eu toparia, mas eu não sei usar essas coisas’! Não tem problema

professor, a gente te ajuda. Usamos esse programa em sala de aula e o PCA de Matemática o

acompanhava no laboratório de Informática. Na parte que ele não sabia fazer, o professor de

Informática dava o suporte, a parte do conteúdo, ficava por conta dele. Deu certo, o resultado não

foi maravilhoso, mas obtivemos resultados bons, inclusive com a avaliação do PCA citando que a

interação do professor com os meninos em sala de aula tinha melhorado. Mas foi usado dentro da

medida, continuou com o livro, continuou no quadro, continuou com as exposições do professor.

E os meninos gostaram, porque eles gostam de ir ao laboratório de Informática. Em um momento

como esse, se a gente tivesse estrutura, a gente poderia usar os celulares deles, porque todos eles

têm. Poderia ser um aliado nesse momento. Nós ainda não evoluímos porque primeiro não temos

ainda estrutura, segundo porque temos medo de que a escola entre um pouco mais na

modernidade e se perca no conteúdo”.

O Plano Nacional de Educação (PNE) foi instituído pela lei número 13.005/2014,

determinando para o primeiro ano de vigência a elaboração ou adequação dos planos estaduais,

distrital e municipais de educação, em consonância com o texto nacional. O PNE determina

diretrizes, metas e estratégias para a política educacional para dez anos. O plano é dividido em

grupos: no primeiro grupo estão as metas estruturantes, para a garantia do direito à educação

básica com qualidade, que promovam a garantia do acesso, a universalização do ensino

obrigatório e a ampliação das oportunidades educacionais. As metas do segundo grupo dizem

respeito a redução das desigualdades e a valorização da diversidade, caminhos que visam a

equidade. O terceiro grupo de metas trata da valorização dos profissionais de educação, essa

estratégia busca que as metas anteriores sejam atingidas. O quarto grupo de metas se refere ao

ensino superior.

Para que as metas de estados, Distrito Federal e municípios estejam articuladas com as

metas nacionais, o Ministério da Educação (MEC) atuou em conjunto como Conselho Nacional

de Secretários de Educação (Consed) e com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de

Educação (Undime), criando uma Rede de Assistência técnica, que monitora e avalia os planos

estaduais, distrital e municipais, através de assistência técnica às comissões coordenadoras e as

equipes técnicas.

A figura do PCA (Professor Coordenador de Área), mencionada pelo diretor, foi criada na

rede estadual de ensino do Ceará para subsidiar o trabalho de planejamento e formação contínua

dos professores, assessorando os coordenadores escolares no acompanhamento do trabalho

docente. O PCA colabora com o professor para desenvolver estratégias pedagógicas com o

objetivo de qualificar o processo de aprendizagem dos alunos.

O perfil do PCA deve ser indicado com algumas características profissionais, como:

reconhecimento pelo corpo docente por sua experiência exitosa em sala de aula; capacidade de

manter relação respeitosa com seus pares; ter dinamismo, liderança, flexibilidade e capacidade

formativa; ser compromissado com autoformação; ser assíduo e ter o hábito de planejar suas

atividades; demonstrar comprometimento profissional e seriedade e ter capacidade para gerir

conflitos. O PCA deve ser habilitado em nível superior, tendo por referência a área de

Linguagens e Códigos; Ciências da Natureza e Matemática; ou Ciências Humanas.

Vale mencionar neste momento uma tabela com os recursos e ferramentas informatizadas

disponíveis em sala de aula nas duas escolas, disponíveis para o corpo docente e discente.

Tabela 1: Recursos e ferramentas informatizadas disponíveis na escola

QUANTIDADE

RECURSOS Escola 1 Escola 2

Computadores educacionais 60 60

Computadores

Administrativos 28 40

Notebook 20

Datashow 05 05

Lousa digital 02 01

Copiadora 03 03

Scanner 04 05

Tabela 2: Titulação dos professores do Ensino Médio

TITULAÇÃO QUANTIDADE DE PROFESSORES Escola 1 Escola 2

Graduados --- 12

Especialistas 43 57

Mestrandos 06 ---

Mestres 05 27

Doutores 01 04

Total 55 100

3.5. A etnografia visual e o professor dos NATIVOS DIGITAIS

O percurso metodológico trouxe a ideia de que os professores imigrantes no ciberespaço

vivem os desafios de um tempo em transição. Eles, se nasceram há mais de 20 anos, são de uma

escola onde o aprendizado se dava de forma presencial, oral e a construção do conhecimento se

dá de uma forma diferente do que esperam seus alunos.

Ao longo do trabalho de campo, estive em contato com alguns professores que me

chamaram bastante atenção. Empenhados em dar o seu melhor em sala de aula, são pessoas que

se dizem muito satisfeitas com a escolha profissional que fizeram. Por meio de entrevistas,

pretendi traçar o perfil do professor dos nativos digitais. Não que outros professores não

atendessem às expectativas da pesquisa, mas alguns deles ousavam um pouco mais.

Os professores entrevistados entendem que essa geração de crianças e jovens é muito

diferente no modo de aprender, pois geralmente ela é autodidata naquilo que lhe interessa. Para

muitos autores a grande característica desses jovens está na necessidade e na autonomia em

adquirir o conhecimento que lhes interessa: “eles se comportam como ativos pesquisadores de

informações e não ‘recipientes’. São inquietos e preferem descobrir sozinhos a seguir linearmente

os passos planejados por outrem para chegar às aprendizagens”. (Kenski, 2010, p.50)

Durante a pesquisa nas escolas, vários professores assinalam que percebem os jovens de

hoje apresentam autonomia no processo de aprendizagem. “Para mim, o estudante de hoje é meio

autodidata. Digo isso porque vejo isso todos os dias em sala de aula. É aquele tipo de aluno que a

gente pede para fazer uma pesquisa sobre determinado assunto para debatermos na sala de aula.

Quando o aluno chega em sala para o dia do debate, ele sabe mais do assunto do que eu. Ele traz

coisas que eu nunca nem tinha ouvido falar. Quando eu chego em casa vou pesquisar a

veracidade do que eles disseram e quase sempre eles têm razão”, relata F., professor de História.

“Um dia estava trabalhando com eles sobre jornal e teve um menino que trouxe uma matéria do

New York Times. Ele trouxe a notícia, usou o Google tradutor e traduziu. Tem aluno que se limita

à informação da Wikipédia, mas também tem aquele que vai mais longe.”, afirma G., professora

de TIC.

Os jovens nascidos após 1995, caracterizados por Bortolazzo (2012) como jovens da

Geração Z, fazendo referência ao verbo “zapear” ou mudar os canais da televisão sem se demorar

no mesmo canal, não se adaptam também a horários pouco flexíveis. Se antes, nos conectávamos

ao mundo por meio dos computadores de mesa, esta geração está sempre disponível e conectada

graças aos dispositivos móveis. Se antes a família se reunia na sala ao redor da televisão, hoje

esta geração tem em seu smartfone acesso a tantas possibilidades que nada lhes prende a lugar

nenhum. Parece que a Geração Z se identifica mais com o mundo virtual do que com o mundo

real e traz traços de comportamento bem peculiares, como a preocupação com o meio ambiente e

a construção de um planeta mais sustentável, conformando um forte senso de responsabilidade

social. Se as gerações anteriores precisavam se conectar à internet para entrar no mundo virtual, a

Geração Z já nasceu conectada e trata a conexão a internet como se fosse o fornecimento de água

ou eletricidade, sem imaginar o quanto já foi difícil acessar a internet em uma conexão discada.

Na verdade, a Geração Z não entende bem o verbo “discar”.

Marc Prensky foi quem melhor definiu esses jovens que nasceram pós o advento da

internet, dos smartfones e das conexões de acesso rápido à internet. Os nativos digitais têm uma

maneira diferente de se relacionar com tabletes, computadores e smartfones e isso é claramente

percebido na observação em campo, nas ruas, nos shoppings e nos transportes públicos.

Bortolazzo (2012) descreve o comportamento dos nativos digitais:

Eles são despertados pelo alarme de um telefone celular e já aproveitam para no mesmo aparelho

verificar a temperatura da rua, antes mesmo de sair da cama. Vão para a escola ou para o trabalho

escutando suas músicas favoritas – atividade que pode durar o dia inteiro – e passam a maior parte

do tempo operando com as tecnologias digitais. E finalmente chegam em casa para descansar. Onde?

Na internet. (BORTOLAZZO, 2012, p.07)

Quando questionada sobre quais programas são mais utilizados em sala de aula, a

professora de Português B., relata: “eu basicamente uso na internet os sites de busca, tipo o

Google. Eles sabem editar um texto no Word, por exemplo. Eu vejo mais a dificuldade deles em

usar e-mail. Eu falo: gente manda esse texto para mim! Eles não falam em usar e-mail, eu estava

até trabalhando esse gênero com eles. Preferem usar Facebook ou WhatsApp para enviar”. A

professora também opta por pedir que eles baixem alguns livros paradidáticos da internet:

“Porque eles não querem comprar livros, na biblioteca tem poucos exemplares, então facilita

bastante meu trabalho quando eles baixam o livro da internet, aí não tem a desculpa de que não

leu porque não tinha o livro. Eu acho engraçado que eles não reclamam de ler no computador, eu

reclamaria. Eu sou do tempo que precisava imprimir o material. Se não for assim, parece que eu

não estou estudando, mas eles não.” Os imigrantes digitais, como não foram socializados

imediatamente com os recursos tecnológicos encontram certa dificuldade nesse processo de

socialização não encontrada pelos nativos digitais, como em usar o fone de ouvido o tempo todo,

ler no computador ou assistir filmes em um telefone celular. Uma professora ponderou: “não sei

como eles usam esses fones o dia inteiro, me incomoda tanto, mas parece que eles não se

incomodam não”.

Neste sentido, uma característica percebida pelos professores, também descrita por

Howard Gardner (2013), é o gosto desses jovens por aplicativos.

Os aplicativos são programas desenvolvidos principalmente para celulares, que possibilitam acesso

rápido a música, jogos, jornais, livros, dicionários, respondem as perguntas, controlam dietas, sonos,

alarmes, agendas e um sem número de outras informações. Os jovens estão imersos de aplicativos, e

acreditam que tudo aquilo que se necessita é resolvido por um deles. Se para algum desejo, não

existe um aplicativo – e se não for imediatamente desenvolvido – é porque o desejo não é

necessário. (Lins e Silva)

L., professora de História, destacou a frequência na qual os jovens usam os aplicativos na

sua prática docente: “Olha, esses meninos têm aplicativo para tudo. Você acredita que eles têm

um aplicativo para descobrir a senha da Wi-Fi? Eles dizem assim: professora, você quer que eu

conecte seu celular à internet? Você quer a senha da secretaria, da tesouraria ou da sala dos

professores? Eu fico impressionada! E todos eles têm celulares, mas nem sempre eles têm acesso

à internet”.

Quanto aos aplicativos mais utilizados em sala de aula, a professora de Português B. citou

o Spotfy, um aplicativo de músicas, que é usado para interpretação de textos, unindo o lúdico e a

tecnologia nas aulas de Português. O Spotify foi lançado em outubro de 2008 e é um serviço de

música comercial que fornece conteúdo de gravadoras e empresas de mídia, incluindo a BBC,

Sony, EMI, Warner Music Group e Universal. As músicas podem ser pesquisadas por artista,

álbum, gênero, lista de reprodução ou gravadora. “É uma febre entre os jovens”. A professora

conta que foram os próprios alunos que sugeriram o uso do aplicativo para substituir o uso do CD

player.

Outro aplicativo utilizado pela maioria dos professores é o Facebook. Segundo B.,

professora de Literatura: “usamos na maioria das vezes para publicar notas, avisos e lembretes.

Mas ano passado, resolvemos fazer um projeto tendo como principal ferramenta o Facebook”. O

projeto chamava-se “Ampliando a Escrita”, no qual os alunos faziam produções textuais

semanais sobre diversos temas e os professores usavam o Facebook para publicar textos de

referência para leitura e selecionar as melhores produções escritas pelos alunos.

A professora de Ciências, F., relata que os alunos usam mais o Facebook do que qualquer

outro aplicativo. “Até porque no Facebook a gente tem grupos da sala. No começo do ano eu já

digo: me incluam no grupo da sala! Às vezes a aula acaba, o debate foi bem interessante e não

deu tempo de terminar a correção, eu vou lá no grupo da sala no ‘face’ e termino a correção. O

Facebook é a ferramenta mais utilizada por mim em minhas aulas e funciona porque eles não

saem da ‘face’, então eu sei que eles visualizaram, eu sei que eles estão lá. Eles têm uma

necessidade do Facebook!”. Por conta disso, as escolas têm suas páginas no Facebook, muitas

vezes administradas pelos próprios alunos. “Uma das escolas, por exemplo, tem duas contas de

Facebook para garantir a interação e comunicação: um grupo aberto para todos os alunos e outro

privado somente para professores e funcionários”, comenta a professora F., de Geografia.

Vale nesse ponto firmar uma breve consideração sobre a plataforma Facebook. O site foi

criado em 2004 por quatro estudantes americanos, primeiramente limitado aos estudantes da

Universidade de Harvard, depois se expandindo a outras universidades, até que se tornou de

domínio público. A rede social, em 2014, divulgou a marca de 1,44 bilhão de usuários e permite

aos usuários participar de grupos de interesses comuns, organizados pela escola, trabalho ou

faculdade, permite também categorizar os amigos em listas, como “amigos do trabalho”, “colegas

de sala de aula”, dentre outros. Segundo levantamento da Pew Research Center, 71% dos jovens

usam a plataforma. Movimentos sociais ganharam força graças às palavras de ordem ditas no

Facebook, levando milhares de pessoas às ruas, como na Primavera árabe e no Movimento Passe

Livre. Segundo dados da própria ferramenta, o número de interações realizado durante os três

meses de campanha presidencial no Brasil em 2014 bateu o recorde de 346 milhões de

comentários, curtidas e compartilhamentos, atingindo 44 milhões de pessoas, ou 49,4% dos

usuários brasileiros.

Abaixo se encontra a representação gráfica dos principais aplicativos e programas

utilizados pelos professores em sala de aula, seja para socializar conteúdo, seja para comunicação

com os estudantes. Neste comparativo entre as duas escolas, os percentuais se referem ao número

total de professores (N=20). Os dados foram obtidos a partir de entrevistas com professores.

Gráfico 1: Aplicativos e programas utilizados pelos professores em sala de aula

No livro Educação e Tecnologias – o novo ritmo da informação, a autora Vani Moreira

Kenski aponta outra característica comum desses estudantes que também é percebida pelos

professores, a capacidade de articularem-se entre si, em grupos e redes. Os professores percebem

claramente essa interação quando os direcionam a trabalhar em grupos. “Eu percebo muito

claramente a capacidade deles de articulação quando eu proponho um trabalho. Por exemplo, eu

proponho uma pesquisa sobre a formação e características do povo brasileiro. Eu peço um

trabalho escrito e uma apresentação em sala de aula. Esses meninos criam logo um grupo de

WhatsApp para discutir o trabalho, aonde vão se encontrar, se é que vão, eu percebo que eles

fazem esses trabalhos sem nem se encontrar, quem vai fazer o quê no trabalho, como serão

divididas as tarefas. No dia do trabalho, eles chegam com tudo pronto. Vejo trabalhos excelentes,

com apresentações esclarecedoras. Claro que também tem trabalhos mal feitos, que mais parecem

colagem da Wikipédia”, disse G., professora de Geografia.

O WhatsApp é também uma das principais ferramentas de comunicação da escola: cada

sala tem um líder que cria o grupo da turma, com o objetivo de trocar informações sobre provas,

conteúdos, grupos de estudo ou datas de entregas de trabalho, podendo também ser usado como

ferramenta em sala de aula. O WhatsApp é um software para smartfones utilizado para troca de

mensagens de texto instantaneamente, além de vídeos, fotos e áudios através de uma conexão à

internet. O WhatsApp foi lançado oficialmente em 2009 pelos veteranos do Yahoo e é visto como

uma substituição ao SMS, por ser mais prático e econômico, pois não há custo adicional para

troca de mensagens.

A professora de Português A., 40 anos, 17 anos de docência, também é adepta do uso das

TIC em sala de aula: “O uso das TIC sem dúvida deixa as aulas mais atrativas, o que influencia

diretamente no rendimento dos alunos. Qualquer pequeno recurso tecnológico que usamos, como

o simples uso do celular, deixa os alunos mais motivados e mais receptivos ao aprendizado e

consequentemente, as notas melhoram. Eu percebo alguns colegas bem resistentes em usar as

TIC em sala de aula, mas acho que é uma realidade difícil de ignorar, se a gente resiste muito, a

gente se perde no tempo, porque eles não têm dificuldade nenhuma para usar as tecnologias e o

que vier, eles encaram mesmo! Até um Datashow eles gostam, eu digo assim: me ajuda aqui

gente! E eles vem. ‘Professora, pode deixar que eu vou passando aqui!’ Está desconfigurado,

gente! ‘Pode deixar professora, que eu sei configurar!’ Eu acho interessante porque eles são dessa

era, eles nasceram inseridos nisso”.

Mattar (2010) descreve outra característica bem peculiar dos nativos digitais: é uma

geração que aprende fazendo. As gerações anteriores quando em face de um novo programa de

computador ou de um jogo eletrônico, tendem a ler o manual para entenderem como funciona o

programa ou jogo, já os nativos digitais acreditam que testando o programa ou jogo, em tentativas

de erros e acertos, aprenderão a usar o programa tentando usá-lo.

Os nativos digitais têm a capacidade de jogar videogames online e se comunicar com

pessoas do mundo todo. Durante a pesquisa de campo, havia um grupo de adolescentes

conversando sobre videogames e cheguei mais perto para escutar. Um deles comentava que tinha

jogado com um americano de Minnesota. Intrometi-me na conversa e perguntei: e você fala

inglês? Ele me respondeu que não, apenas o suficiente para jogar. O não entender a língua, que

encabula imigrantes digitais em entrar em uma partida online de videogame, não inibe os falantes

da língua de internet e computadores.

As principais tecnologias usadas nas escolas são a lousa digital, o Datashow, as caixas de

som, os computadores dos laboratórios e os smartfones. J., professora de História, afirma que a

principal ferramenta tecnológica usada por ela e por seus alunos é o smartfone e me apresenta

duas razões relacionadas à praticidade do aparelho: “além de ser fácil de manusear e de todos os

alunos terem, não é preciso criar um ambiente diferente para esse tipo de aula, podemos usá-lo

em qualquer sala em que estivermos. Outra vantagem é que quanto falta Xerox, tôner ou quando

falta papel, eu consigo facilmente multiplicar um texto em sala de aula, usando o aparelho

celular. Eles podem baixar da internet, eu posso passar por blootooth, ou até tirar o print e

encaminhar para o WhatsApp da turma. Assim conseguimos dar continuidade a aula”.

Há apenas 20 anos, não se previa que os celulares contemplariam enciclopédias digitais, mapas do

mundo, câmeras de fotografar e de filmar, redes sociais, Facebook, Twitter, WhatsApp, máquina de

calcular, livros, televisão, filmes, informações ilimitadas, muitos aplicativos e outras tantas

facilitadoras que vieram mudar nossas vidas. Hoje carregamos o mundo no bolso. (Patrícia Konder

Lins e Silva, O mundo dos nativos digitais).

A seguir, encontra-se a representação gráfica dos recursos tecnológicos utilizados pelos

professores em sala de aula como ferramentas para a socialização do conteúdo. Há um

comparativo entre as duas escolas; os percentuais se referem ao número total de professores

(N=20). Esses dados foram obtidos a partir de entrevistas com os professores.

Gráfico 2: Recursos utilizados em sala de aula pelos professores

Alguns professores relatam que a falta de Wi-Fi limita o uso dos smartfones: “Gente, pega

o celular de vocês para a gente fazer uma pesquisa! ‘Ah não, professora, não vou gastar minha

internet com isso! ’Eles têm muito disso, de achar que a internet é só para acessarem as redes

sociais, o WhatsApp e para curtir fotos dos amigos no Facebook e não para fazer pesquisa em

sala de aula”. K, professora de Português. A professora F., de Ciências, também repetiu o mesmo

depoimento: “ontem mesmo eu estava pensando em planejar uma aula para usar o celular desses

meninos, porque eu já tentei, mas na hora que a gente parte para a prática, pede para eles usarem

o celular, eles não querem gastar a internet. É como se o celular fosse só para o bate-papo, só

para as redes sociais. Bom mesmo era se a escola tivesse Wi-Fi para eles usarem, mas como não

tem, limita bastante.”

Quando os questionamentos são os recursos tecnológicos oferecidos pela escola, M., 32

anos, professor de Inglês, cita a lousa digital como a tecnologia mais moderna que a escola

dispõe. No entanto, o professor acha que a lousa é subaproveitada, pois só é possível utilizá-la

com um Datashow e a escola não dispõe de aparelhos suficientes. Outra limitação para o uso da

lousa, segundo o professor, é a questão da preparação do ambiente. “Às vezes temos mais

tecnologia do que ambiente. Nós temos que levar os equipamentos para a sala de aula e montá-los

e muito professores não estão preparados para isso. Existe um único profissional no colégio para

montar o equipamento e deixar o ambiente pronto, mas ele não consegue atender a demanda de

20 turmas pela manhã e 20 turmas no turno da tarde.” A professora de Ciências relatou sua

expectativa quando a lousa digital estava para chegar: “fiquei muito ansiosa com a perspectiva da

chegada da lousa digital. Meu Deus, a lousa digital vai chegar! A gente teve uma aula para

aprender a usar a lousa digital, mas você acredita que eu nunca usei? Acho que eu não uso por

falta de hábito, mas também vejo uma questão de espaço. O colégio é enorme, mas se todos os

professores precisarem usar a sala de Informática, não dá. Temos que fazer um revezamento.” A

escola recebeu a lousa digital do Governo Federal e apesar de móvel, optaram por deixá-la fixa

no laboratório de Informática, já que o alcance da internet é melhor.

Em uma das escolas, quando a lousa digital estava para chegar, os professores tiveram um

breve treinamento para utilizá-la. “Para a lousa digital a gente teve um curso bem básico, mas

com uma pessoa daqui mesmo, foi com um professor que já usava, que já tinha prática com a

lousa digital. Mas eu não sei te dizer se ele foi capacitado para isso, eu acredito que não. A minha

área teve esse curso bem ‘intensivão’, bem rápido mesmo. ”

Pelo discurso dos professores, eles até gostariam de usar mais recursos de tecnologia da

informação e comunicação em sala de aula, mas esbarram em alguns entraves: os equipamentos

são de boa qualidade, mas a manutenção não é frequente, se um computador deu algum

problema, vai demandar algum tempo para ser consertado; os recursos são escassos, dois

laboratórios por escola não são suficientes para atender a demanda de 4000 alunos; e

principalmente, os professores não se sentem capacitados para usar esses recursos, falta um

treinamento voltado ao uso das TIC.

A professora de Português, A., diz que não se sente preparada para tirar o melhor proveito

das TIC no planejamento de suas aulas: “O pouco que sei sobre tecnologia vem de uma bagagem

pessoal, que eu particularmente vou buscar ou em casa com a ajuda do meu filho, ou com a ajuda

dos outros professores e até mesmo dos próprios alunos”. A professora diz que gostaria de ser

capacitada pelo Estado e considera necessária e interessante a implantação de uma política

pública neste sentido. Enfatiza que esta capacitação deva ser feita no ambiente de trabalho:

“Geralmente as reciclagens que são propostas para o professor são fora do horário e do ambiente

de trabalho, o que dificulta a sua aplicação quando trazemos para a nossa realidade”. Ela

considera que se a informação é repassada no ambiente real em que trabalham, fica mais fácil

identificar os fatores limitantes e encontrar suas respectivas soluções, para que se logre êxito no

processo.

Outra queixa constante dos professores, coordenadores e diretores são quanto à qualidade

da internet. Eles lamentam não ter uma internet de ótima qualidade para usar certos recursos em

sala de aula. “A internet aqui às vezes é um problema, tem dias que ela está perfeita, sabe? Mas

eu não posso contar com ela todos os dias, então dificulta muito. Por exemplo, eu planejei uma

aula para amanhã, mas eu não sei se a internet estará legal amanhã, e aí?” Para a professora de

Química, C., 45 anos, a banda larga do colégio não possui capacidade suficiente para que todos a

usem simultaneamente. Foi instituída em uma das escolas uma política de uso limitado com três

logins e senhas diferentes: um para a secretaria, um para os professores e outro para a diretoria.

Não existe um login próprio para os alunos. “Tal política não funciona na prática, pois os alunos

acabam descobrindo a senha e todos usam ao mesmo tempo, o que a torna ainda mais lenta”.

O objetivo desta pesquisa é evidenciar as condições sociais de emergência dos chamados

nativos digitais na escola pública, a partir da mediação significativa e da perspectiva dos

professores. Assim, é possível afirmar que quase todos os jovens do ensino médio na escola

pública usam o Facebook. É fácil percebê-los conectados na fila do lanche, interagindo com os

colegas, fazendo “selfies” e postando na rede social. Apesar de não ser diretamente o objeto de

pesquisa, foi questionado aos professores como eles viam essa interação virtual dos jovens: “vejo

muita desvantagem também. Têm uns meninos daqui da escola que dizem que eu entro no ‘face’

para monitorá-los. Mas não é, é um cuidado que a gente tem. Por exemplo, quando eu vejo

postagens inadequadas, eu acho que eles se expõem muito, eles parecem que têm uma

necessidade de fazer qualquer coisa e tirar uma foto e dizer o que estão fazendo. É uma

necessidade e eu vejo isso como uma coisa negativa. Eu tenho alunas que, sei lá, tiram foto de

biquíni, são lindas e tudo, aí tiram foto e botam lá, pode até ser na inocência, mas aí vêm

comentários desagradáveis. Aí eu chego para elas e para eles também: gente, cuidado!

Principalmente as meninas, eu percebo que elas se expõem mais e parece que quanto mais

‘curtidas’, melhor! Quanto mais comentários, melhor! Aí elas acham: estou bombando! Eu

converso muito com elas, eu não consigo dar uma aula e pronto, eu vejo muito o lado humano

deles. Se eu perceber a evolução do meu aluno como ser humano, eu acho que vale mais do que

em termos de conteúdo, sabe? Eu me preocupo com o tipo de ser humano que estou formando.”,

diz G., professora de Geografia.

Gráfico 3: Usuários de Internet no ambiente escolar

O gráfico acima se refere aos usuários de internet no ambiente escolar. Neste gráfico

também estão contemplados os professores, diretores e coordenadores que acessam a internet Wi-

Fi dos seus telefones celulares. Neste comparativo entre as duas escolas, os percentuais se

referem ao número total de professores, coordenadores e diretores (N=24). Os dados foram

obtidos a partir de entrevistas com os professores, os coordenadores e os diretores.

3.6. A inserção da disciplina TIC na estrutura curricular

Ao visitar a escola César Calls fui surpreendida pela existência da disciplina Tecnologias

da Informação e Comunicação – TIC, que faz parte da estrutura curricular do ensino médio. Com

dois laboratórios, a disciplina tem por objetivo promover o desenvolvimento de conhecimentos e

capacidades dos alunos na utilização das tecnologias de informação e comunicação, de modo que

permitam um domínio digital generalizado, tendo em vista a igualdade de oportunidades.

Ao explicar meu objeto de estudo ao coordenador do Ensino Médio, ele me sugeriu que

conversasse com os professores desta disciplina. Para isso, me direcionou ao laboratório, onde

entrevistei o professor J. 58 anos, professor de Matemática e atual professor de TIC e em seguida

conversei com G., 29 anos, também professora da disciplina.

O professor explicou que é recomendado que a escola siga um planejamento

encaminhado anualmente pelo Ministério da Educação – MEC para cumprir a grade da disciplina

TIC, mas que, por muitas vezes, isto não é possível, pois tal planejamento não condiz com a

realidade dos alunos do Nordeste. Os projetos vindos do MEC tratam, na maioria das vezes, a

realidade do Sudeste e citou como exemplos aqueles que exploram experiências com metrôs, com

enchentes e com outras situações que se tornam impossíveis de serem trabalhadas com a vivência

dos alunos cearenses.

Para adaptar esse planejamento à realidade local, o professor planeja as aulas em paralelo

com a disciplina de núcleos, que trabalha questões dinâmicas e atuais como cidadania, práticas

sociais, identidade social e outras questões de interesse dos alunos: “as aulas de TIC não podem

estar fora do contexto de interesse do aluno, porque assim eles não gostam”, relata o professor,

preocupado com o envolvimento da turma com os temas escolhidos. Ele cita como a principal

virtude desse projeto o fato de ser uma ferramenta que trabalha com a formação pessoal do aluno:

“as aulas de TIC orientam questões de conduta, de valores e até questões vocacionais.”

A professora completou afirmando que a disciplina tem um cronograma e ela tenta

conciliar com a sala de aula. “O terceiro ano está trabalhando com linha do tempo na disciplina

de Português e nós os auxiliamos na construção desse trabalho. Esse trabalho é feito no

laboratório, onde eles fazem pesquisa na internet, eu ensino eles a salvar imagem, a anexar no e-

mail, a gente vai inserindo as tecnologias dentro da realidade deles. Eu também trabalho com eles

o editor de texto, porque eles são excelentes no Facebook, no WhatsApp, mas têm dificuldade de

formatar um texto, por exemplo. Eu acho interessante como eles são: eu escrevo uma atividade

no quadro, em vez de copiarem, eles batem a foto. Eles também trabalham muito em grupo, cada

sala tem um grupo de Whatsapp e eles disseminam a informação que foi dada em sala entre eles.

A tecnologia facilita a comunicação, o aluno que faltou pode se inteirar do que aconteceu em sala

de aula. Eles são diferentes, desde que nasceram eles já tiveram algum contato com as

tecnologias digitais, seja no tablete, seja no celular”.

Grande parte dos professores ainda reclama da qualidade da internet: “olha, a internet

daqui, comparada com a de outras escolas públicas, é boa, mas ainda não é ideal para fazer um

excelente trabalho. Às vezes a internet cai e demora dois dias para voltar. Mas ela é muito mais

constante, do que inconstante.

Mesmo sendo inconstante, a internet tem fornecido a base para a comunicação entre

professores e alunos: “O e-mail é um gênero que eles não veem utilidade em usar. Como o

WhatsApp tem uma comunicação mais direta e instantânea, eles preferem. A rede social é muito

utilizada por eles. Mas eu quis mostrar para eles a importância do e-mail. Principalmente as

turmas do terceiro ano, que logo entrarão no mercado de trabalho. Hoje, a gente faz a atividade

em sala de aula, eles anexam ao e-mail e mandam para eles mesmos. O e-mail hoje, depois que

trabalhei com eles, é uma ferramenta de uso constante, que fez com que abolíssemos o pen drive.

O Facebook da turma eu uso para divulgar algum trabalho, para postar algum link importante que

eu gostaria que eles vissem. Para não perder o tempo de aula, eu mando um link para eles no

Facebook e eles já assistem antes da aula. Também mando vídeos do YouTube, documentários. É

muito mais simples do que era na minha época de aluna, tudo está ao alcance de um clique. Eu

tenho alunos que me surpreendem bastante. Um dia nosso laboratório não estava funcionando e

como todos têm celular, eu trouxe o material e passei por bluetooth, eles repassaram também por

bluetooth de uma para o outro e podemos trabalhar o texto planejado. O interessante foi que eles

que me lembraram de usar o bluetooth, eu como nunca uso, não lembrei dessa possibilidade”,

informou ainda outro professor.

Percebe-se pelo discurso dos docentes que as aulas têm o intuito de privilegiar a

participação dos alunos em pequenos projetos, na resolução de problemas e de exercícios práticos

contextualizados na produção de um projeto ou produto. Desta forma, pretende-se que os alunos

possam atingir diferentes metas multidisciplinares durante o desenvolvimento dos trabalhos.

Estes devem ser resolvidos no computador, permitindo ao aluno encarar a utilização das

aplicações informáticas não como um fim em si, mas como uma ferramenta poderosa para

facilitar a comunicação, a colaboração, o tratamento de dados e a resolução de problemas. O

professor da disciplina TIC explica que acaba sendo um processo constituído de pequenas tarefas

e resume: “ao usar as TIC em todas as etapas do processo, os alunos podem pesquisar, discutir e

contestar as ideias, produzir os trabalhos e ao concluí-los, enviá-los ao e-mail do professor”.

Ao perguntar se ele usava as TIC quando ensina Matemática, ele respondeu que fazia isto

em outras escolas em que também trabalha, mas que na escola pública isto não era possível, pois

as máquinas não eram atualizadas e não rodavam certos programas direcionados ao conteúdo. “O

sistema operacional usado na rede pública é o Linux, que tem muitas restrições para instalação de

programas.” Citou também como fator limitante a lentidão na velocidade da internet,

principalmente quando os dois laboratórios estão lotados, funcionando ao mesmo tempo.

Quanto à organização do ambiente na aula de TIC, o professor agrupa três ou quatro

alunos por computador, pois as turmas são numerosas. Ao perguntar se havia algum critério para

agrupar esses alunos ou se isso funcionava aleatoriamente, ele respondeu que depende do

conteúdo a ser pesquisado e citou como exemplo a pesquisa que fez sobre identidade social, onde

cada um teria que relatar a realidade do seu bairro. Neste caso, ele agrupou os alunos usando o

critério domiciliar. “Esta escola não é de comunidade.

Ao questionar sobre quais os principais programas usados por ele nas aulas de TIC, já que

todos pertencem ao sistema Operacional Linux, ele citou programas como OpenOffice Calc

(planilhas), Impress (apresentações multimídias) e OpenOffice Writer (editor de texto),

considerando-os como essenciais. Entre algumas dificuldades encontradas na condução dos

projetos, estão as diferentes versões do Linux instaladas nas máquinas dos laboratórios, o que

dificulta a orientação do professor e a compreensão dos alunos.

Este é o primeiro ano deste professor ministrando a disciplina TIC e para isso, ele não

teve capacitação ou treinamento especial. Traz consigo somente sua boa vontade, sua experiência

como professor de Matemática e o conhecimento tecnológico adquirido na vida pessoal, pois

sempre se considerou uma pessoa “conectada”. Ele relata que seu primeiro computador foi um

PC 386 no início dos anos 90 e que até hoje usa a tecnologia de todas as formas que estão ao seu

alcance: participa de redes sociais, tem grupos no WhatsApp, se comunica por e-mail, possui um

e-mail próprio para receber os trabalhos dos alunos e assiste vídeos no YouTube.

O professor considera que o uso das TIC em sala de aula contribui significativamente para

que os alunos vejam as aulas de uma forma mais atrativa. Numa pesquisa feita no site da

SEDUC, a TIC aparece como a disciplina com o maior número de votos no quesito: qual a

disciplina que você mais gosta? “Os alunos são altamente conectados e antenados com o mundo

virtual: cerca de 99% deles têm acesso à internet, pelo computador ou pelo smartfone, alguns

alunos possuem as últimas gerações de smartfones do mercado, melhores até do que o meu”.

Em relação ao uso das TIC pelos demais professores da escola, o professor J. afirma que a

maioria usa a tecnologia como um recurso complementar à sua disciplina, principalmente os

professores mais jovens. “O laboratório de informática não tem horários livres, o agendamento é

completo. Todos gostam de usar este recurso”, conclui.

Para finalizar, foi questionado há quanto tempo à disciplina TIC foi inserida como

obrigatória na estrutura curricular do ensino médio. Ele não pôde dar uma informação precisa,

mas disse fazer muito tempo, “talvez mais de 10 anos”. Em abril de 1997, foi criado, pela

Portaria Nº 522/MEC, o Programa Nacional de Informática na Educação (ProInfo) para promover

o uso pedagógico da informática na rede pública de ensino fundamental e médio. O programa

funciona de forma descentralizada, no entanto, sua coordenação é de responsabilidade federal,

mas a operacionalização é conduzida pelos estados e municípios. Em cada unidade da Federação,

existe uma coordenação estadual ProInfo, cujo trabalho principal é o de introduzir as Tecnologias

de Informação e Comunicação (TIC) nas escolas públicas de ensino médio e fundamental.

3.7. Entrevistando o professor que não usa as TIC em sala de aula

Durante a pesquisa, foi se constatando que alguns professores, principalmente aqueles

com faixa etária mais avançada, encontram-se presos aos modelos tradicionais de ensino e se

recusam a usar as TIC em sala de aula.

Há certo receio deste professor, quando desafiado a inserir as TIC como ferramentas de

busca e construção do saber, de ser substituído pelos recursos tecnológicos, perdendo o seu papel

de detentor do conhecimento. Eles não admitem essa insegurança: “Um computador nunca

substituirá um livro, muito menos um professor”.

O objetivo da pesquisa em campo não foi abordar o tema como uma ameaça à profissão,

já que as novas tecnologias não substituirão o papel do professor em sala, as TIC poderão, talvez,

trazer novas formas de se chegar ao conhecimento, obtido por sua vez de modo mais prazeroso,

interativo e transversal.

Foi possível entrevistar um pequeno grupo de professores que trabalha há mais de 20 anos

na escola Adauto Bezerra, alguns já em tempo de aposentadoria, e a partir daí, tentar traçar um

perfil do professor que resiste às novas tecnologias, seja na vida pessoal, seja na vida

profissional.

Há um consenso entre esse grupo que os alunos estão muito conectados e que as TIC

devem fazer parte do ensino, talvez como um instrumento auxiliar, como uma ferramenta usada

esporadicamente, sempre como exceção: “usamos as TIC para variar a dinâmica da aula, mas

nada é melhor do que pesquisar no próprio livro, do que folhear um dicionário. A tecnologia,

muitas vezes, pode deixar os alunos preguiçosos”.

Um deles citou Bauman, dizendo que “as redes são muito úteis, oferecem serviços muito

prazerosos, mas são uma armadilha. Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus

horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zona de conforto, onde o único

som que escutam é o eco de suas próprias vozes, onde o único ser que veem são os reflexos de

suas próprias caras.” A professora complementa dizendo que alguns poucos corajosos resistem a

se adaptar ao mundo tecnológico e a valorizar as ferramentas tradicionais como o quadro, o livro,

o caderno e as discussões em grupo.

A professora de História A., 62 anos, relembra que no início dos anos 2000, a escola

estabeleceu uma parceria com um grupo de concludentes do Curso de Informática da

Universidade Federal do Ceará (UFC), que treinaria os professores para que pudessem adaptar

suas aulas ao uso do laboratório de Informática. Até então o espaço era usado somente pelos

alunos na disciplina de Informática, uma vez por semana, e a dinâmica da aula consistia em três

ou quatro alunos por computador e os alunos escreviam no Word ou desenhavam no Paint.

Ela relata que a chegada da equipe da UFC não foi muito bem-vista pelos professores

mais conservadores: “O que eles vieram fazer aqui? Mudar nosso jeito de dar aula? Esse

laboratório não serve para nada mesmo! Só vai para lá quem não gosta de ensinar, para enrolar

aula e deixar os alunos acessando o Orkut”.

Apesar de certa resistência, o grupo da UFC levou adiante o projeto “Inserção de

Informática nas escolas públicas”. Este trabalho já havia sido realizado em escolas particulares,

cuja realidade era inversa, pois os professores já tinham contato com as TIC por meio da vivência

com a informática na vida pessoal. “Eles tinham computadores em casa, usavam com os filhos e

buscavam conteúdo de aulas em sites de busca”.

Segundo o relato da professora, na época havia cerca de 100 professores no turno da

manhã e como a adesão ao projeto da UFC era opcional, apenas 10% aceitaram participar. Para

muitos, estes encontros oportunizaram um primeiro contato com o computador: “foi quando

aprendemos a ligar e desligar a máquina, a digitar usando um editor de textos, a criar um e-mail e

a usar o MSN.” A ideia da equipe da UFC era conquistar os professores, para que eles se

“encantassem” com as facilidades oferecidas pelas TIC, usando-as nas suas atividades pessoais,

para que depois pudessem migrar para as atividades profissionais.

Importante frisar que antes da implantação deste projeto, os únicos recursos tecnológicos

usados em sala de aula eram a TV, o DVD e o retroprojetor com transparências. Outra

experiência narrada pelos professores foi a do tele ensino. A partir de um convênio entre o

Governo Federal e a Fundação Roberto Marinho, um sistema de Educação a Distância (EAD)

oferecia programas e conteúdo do Telecurso 2000, no qual o professor assumia o papel de

orientador de aprendizagem. Algumas turmas da escola pilotaram tal projeto, mas o projeto não

logrou êxito. Ficou constatado que os alunos que participaram das aulas televisionadas ficaram

mais dispersos e regrediram no aprendizado. Houve declínio das notas em todas as matérias. Na

época o tele ensino foi apelidado pelos próprios professores de “tele engano”.

A professora narra que implantação do uso das TIC nas aulas curriculares, por meio do

projeto dos estudantes de Informática da UFC, ocorria da seguinte forma: “o professor planejava

o tema e os tópicos a serem abordados e ao chegar ao laboratório de informática, contavam com a

ajuda de um monitor, que auxiliava na parte técnica. Eram cerca de três alunos por computador

pesquisando e discutindo o tema, para que depois produzissem um texto acerca da pesquisa. O

que chamava a atenção da professora era a rapidez com que os alunos aprendiam a usar o

computador: “Nós tínhamos demorado meses para aprender a usar os recursos, mas para eles

parecia tudo muito mais natural e interessante”.

Os professores mais abertos e flexíveis à introdução dos recursos do laboratório de

Informática nas suas aulas tiveram bons resultados. Os alunos ficaram mais interessados e

obtiveram um melhor rendimento. “Quando vamos ter aula no computador de novo? – Era a

primeira pergunta ao chegar à sala de aula”. Na época, pouquíssimos alunos da escola pública

tinham acesso ao computador em casa. Quando precisavam, frequentavam lan houses. Quase

nenhum deles tinha telefone celular. Então, o maior contato com as TIC para esses alunos era na

própria escola.

Ao questionar quais as tecnologias que eles usam na vida pessoal, talvez mais da metade

use e-mail e tem redes sociais, mas não acham que isso agregue muito na vida profissional deles.

A ferramenta mais usada por eles é o site de busca Google. Alguns admitem que possam usar

mais o YouTube, de onde poderiam retirar dinâmicas para suas aulas, mas não o fazem.

Gráfico 4: Aplicativos e programas utilizados pelos professores fora do ambiente escolar

Acima, encontra-se a representação gráfica dos aplicativos e programas utilizados pelos

professores fora do ambiente escolar. Neste comparativo entre as duas escolas, os percentuais se

referem ao número total de professores (N=20). Os dados foram obtidos a partir de entrevistas

com professores.

O professor de Matemática, M. 59 anos, diz que, na verdade, muitos professores não se

sentem seguros para usar as TIC como suporte de aprendizado: “Nós deveríamos aprender a usá-

las ainda na faculdade, nos nossos cursos de Licenciatura. Deveria haver uma mudança na grade

curricular nas universidades para que chegássemos preparados para lidar com essa nova

realidade”. A maioria acrescenta que os professores deveriam ter um momento de reciclagem,

uma espécie de formação continuada. “As mudanças tecnológicas são muito rápidas. Fica difícil

acompanhá-las sem reciclagem. Além de termos que nos adequar, temos também que nos

atualizar sempre. A formação continuada seria um bom caminho para isso”.

Mesmo os professores que não usam as TIC em sala de aula se mostram abertos às

mudanças e acreditam que o uso pedagógico das TIC pode contribuir para que o aprendizado se

torne mais atrativo. Aqueles professores que passaram pela inserção das TIC trabalhada pelos

alunos do curso de Informática da UFC, 15 anos passados, relatam que necessitam de um

treinamento continuado para o uso dessas tecnologias, já que se sentem com a autoridade

abalada, uma vez que os alunos dominam as tecnologias mais que eles, gerando insegurança nos

professores.

Quando chegamos a este ponto, senti que eles estavam mais abertos a falar deste assunto e

que os questionamentos abriram espaço a uma reflexão acerca das mudanças. Naquele momento,

pareciam dispostos a dar uma chance ao novo e acolher os nativos digitais de uma forma mais

serena. Refazer uma disposição instalada é o primeiro grande desafio na formação desses

profissionais que passaram anos de suas vidas usando recursos como giz, livros, cadernos, caneta

piloto e quadro branco. Quando queriam inovar, usavam no máximo um CD Player ou um

aparelho de DVD com TV.

Considerações finais

O debate sobre a inserção das TIC em práticas de ensino e aprendizagem nas escolas

públicas de Fortaleza e a emergência dos nativos digitais aborda fenômenos perpassados por uma

questão mais ampla e complexa, a emergência de um “tempo novo”, a contemporaneidade. O

verbo que parece predominar nesse momento é “interagir”, comprimindo distâncias, seja por

Whatsapp, Facebook, Youtube, Instagram, e-mail ou Snapchat, pois a marca distintiva dessa

comunicação é que ela se faz via dispositivos eletrônicos.

Quando tal fenômeno se insinua no âmbito da educação escolar, percebe-se claramente

um descompasso entre temporalidades: por um lado, temos o tempo vivido por alunos

constantemente conectados, que usam dispositivos eletrônicos 24/7 (24 horas, 7 dias por semana)

com muita facilidade, aplicativos fazem parte de seus cotidianos e cultivam a certeza que a vida

foi sempre assim; por outro, temos a temporalidade dos professores que percebem seus alunos

como nativos digitais, já compreendem que essa geração tem um olhar diferente sobre a

aprendizagem, concordam que o modelo disciplinar de ensino ignora algumas possibilidades

desses jovens, mas, na maioria das vezes, não são preparados para inserir recursos tecnológicos

como ferramentas de aprendizagem; e ainda temos aquela que caracteriza muito mais

permanências do que mudanças na instituição escolar: currículo estruturado por disciplinas

estanques, avaliações baseadas em notas, ensino centrado no professor, que permanece a voz

mais ativa no espaço disciplinador da sala de aula.

Nesse contexto, é preciso considerar ainda que as informações se propagam pela internet

numa velocidade crescente, pois é a partir das redes sociais que nos informamos sobre política,

esporte, entretenimento, religião e tudo mais que nos interessar. É a partir da web que

organizamos nossos protestos, que nos manifestamos, que dizemos o que pensamos, onde

estamos, dividimos a dimensão privada da vida cotidiana, postando imagens nossas viagens, o

que sentimos, expomos nossas vidas e nosso cotidiano.

Instada a dar respostas a este contexto, a UNESCO tem sido a grande estimuladora do uso

das TIC na educação, entendendo que estas contribuem para a inclusão, a equidade e a qualidade

do ensino. Entende também que é preciso que os professores tenham habilidades para usar as TIC

em todos os aspectos da prática de sua profissão e que se fazem necessárias políticas públicas as

quais garantam que o potencial das TIC seja aplicado ao sistema educacional.

Na escola pública brasileira, embora as TIC sejam uma parte importante do processo

contínuo de aprendizagem, deste não se suprimem o quadro, o pincel, o livro e, principalmente, o

professor. Na escola contemporânea, o professor tem ainda o desafio de formar estudantes

críticos, com consciência da realidade, conhecimento dos seus direitos e deveres, conferindo

importância à participação social

Em termos locais, para adentrar no campo empírico, foi preciso fazer um breve

levantamento nos dados do CETIC (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da

Sociedade da Informação), que pesquisou 930 escolas de ensino médio da região Nordeste, no

ano de 2015. Nesse universo, apenas 30% das escolas públicas tem professores capacitados para

usar as TIC em sala de aula; porém, 96% das escolas públicas do ensino médio possuem

infraestrutura necessária para o uso das TIC; 67% possuem laboratório de informática; 26%

possuem computadores na biblioteca; 7% apresentam computadores em sala de aula, 42% na sala

dos professores e 79% na sala de coordenação/direção, em contrapartida, apenas 5% das escolas

possuem responsáveis pela manutenção de equipamentos de informática. Apesar de 85% das

escolas terem acesso à internet, apenas 30% dos professores dão aula específica de informática.

Vale mencionar nesse texto final que no Ceará 4696 escolas públicas foram beneficiadas

pelo ProInfo, dentre estas as duas escolas objetos de pesquisa desse trabalho. O ProInfo institui o

uso pedagógico da Informática na rede pública de educação básica. A Escola de Ensino Médio

Governador Adauto Bezerra recebeu um laboratório de informática cujo investimento foi de

R$11.103,46 e a Escola de Ensino Médio Dr. César Calls foi beneficiada com três laboratórios de

informática, com um investimento de R$1.349.093,46.

Em campo, foi possível fazer algumas considerações sobre as questões da pesquisa.

Segundo a entrevista realizada com os professores, o Estado não os capacita para usar as TIC em

sala de aula, os professores as usam com a ajuda dos estudantes e com a experiência que

acumularam empiricamente.

Os professores organizam o ambiente de trabalho com as TIC de acordo com a

disponibilidade dos laboratórios de Informática. Nestes não há computadores suficientes para que

cada estudante ocupe uma máquina. Geralmente, são dois ou três estudantes que se revezam na

utilização de cada computador.

Há um consenso entre professores, coordenadores e diretores que o uso das TIC em sala

de aula contribui para tornar o aprendizado mais atrativo, deixando os alunos mais interessados e

participativos. Embora o aprendizado se torne mais atrativo com o uso das TIC, os professores

reclamam da falta de um programa de capacitação para que façam melhor uso das TIC no

ambiente escolar. Os docentes que fazem uso um programa específico (por exemplo, o

Geogebra), utilizam-no com a ajuda do professor do laboratório de Informática ou com a

experiência que trazem de outras escolas, geralmente privadas.

Há unanimidade entre professores, coordenadores e diretores que cerca de 99% dos

estudantes têm acesso à internet fora do ambiente escolar, evidenciando o caráter social do

fenômeno analisado. Vale relembrar que essa pesquisa foi realizada com os professores e não

com os estudantes, buscando captar a perspectiva daqueles acerca da emergência e da formação

dos chamados nativos digitais na escola pública.

É também consenso entre professores que é complexo para as escolas disponibilizar a

utilização de banda larga aos alunos. É sabido que os docentes têm acesso à internet na sala dos

professores em ambas as escolas. No entanto, os alunos utilizam a internet Wi-Fi da sala dos

professores, da coordenação, da diretoria ou dos laboratórios de informática por meio de

aplicativos que dão acesso às senhas sigilosas.

Quase todos os professores que utilizam as TIC em sala de aula o fazem

independentemente da disciplina lecionada, seja na forma de documentário, em apresentações no

Datashow ou utilizando a internet. Não há como afirmar que os professores das Ciências Exatas

usam menos as TIC do que os professores das Ciências Humanas e vice-versa. De acordo com a

pesquisa, os professores que mais utilizam as tecnologias são aqueles que se apropriaram delas a

partir de inúmeros fatores que configuram a particularidade de suas trajetórias de vida.

Também de acordo com os dados coletados, o Estado investiu em provedores, mas o

cinturão digital ainda não é eficiente para oferecer banda larga para estudantes, professores,

diretores, coordenadores e corpo administrativo.

Quando se pensa em interação professor estudante nas redes sociais, 70% dos professores

interagem com os alunos. Alguns optam por interagir com os alunos apenas em grupos destinados

a este fim, como nos grupos de WhatsApp e Facebook da turma, outros não veem problema em

interagir com os estudantes por meio de suas contas pessoais do Facebook.

A partir desta pesquisa foi possível entender que um novo modelo de escola pública se

esboça, uma instituição escolar que já compreende que precisa aproximar-se do universo de seus

estudantes, nas formas de ensinar, de aprender, de interagir e de ouvir esta geração. É uma escola

que enfrenta paradoxos: por um lado, o temor do momento em que a banda larga será instalada,

possibilitando aos alunos acesso à internet em todo o ambiente escolar; por outro, o incentivo à

ampliação de um segmento do corpo docente que tem aprendido como lidar com os jovens

conectados, empenhando-se na integração das novas tecnologias como aliadas no processo de

ensino e aprendizagem.

O tema não se exaure neste trabalho, há muito que se pensar para uma pesquisa futura. É

cedo para qualquer conclusão definitiva sobre o uso das TIC na educação, até porque falar em

TIC é sempre estar obsoleto. Já na escrita final desse texto uma reportagem do jornal Estadão

mostra que professores começam a “mirar” o Snapchat e o YouTube como aliados na hora de

partilhar conhecimento, pois a proposta é que o estudo sincronize com o ritmo dos jovens. O

Descomplica, uma plataforma de educação online que prepara os jovens para o vestibular, Enem

e Sisu por meio de dicas e conteúdos das provas, já utiliza o Snapchat como aliado. O idealizador

do projeto afirma: “uma das nossas propostas é fazer o jovem gostar de estudar. Hoje já não dá

para esperar que eles estudem só com os livros, precisamos usar ferramentas que eles já usam a

nosso favor”.

Muitos questionamentos ficaram sem resposta, mas pensar que temos uma escola com

horário de entrada e saída, com 40 alunos enfileirados em um espaço retangular separado por

idade e nível, onde o uso de uniforme é obrigatório, onde há uma razão de três aulas de

Matemática para uma de História, faz-nos considerar dinâmicas de produção e apropriação de

conhecimento que circulam neste mesmo espaço de forma intersticial e menos estruturada.

Se as TIC ainda não foram totalmente integradas ao processo de ensino-aprendizagem, é

possível ao menos afirmar que se engendra no âmbito escolar o duplo movimento de

reconfiguração dessa realidade. Percebe-se a emergência de dinâmicas ensejadas de forma

heterônoma, por meio de políticas públicas federais e estaduais que subsidiam com equipamentos

e recursos financeiros a objetivação de práticas de ensino e de aprendizagem mediadas pelas

novas tecnologias, e mesmo um lugar físico que referencia estas práticas – é este o caso do

laboratório de informática; e ainda, de forma autônoma, pela intensificação de intercâmbios e

constituição de redes de sociabilidade entre os chamados nativos digitais, mas também entre estes

e aqueles que representam figuras de transição no modo de apropriação destas tecnologias – os

professores.

Se a análise desta pesquisa deteve-se sobretudo à perspectiva docente, é porque o

professor apresenta-se como o agente que concentra de forma dramática o conflito interno que

marca a transição sofrida pela instituição escolar na contemporaneidade. De modo recorrente, o

professor das escolas públicas estudadas encarna um frágil processo de familiarização com as

novas tecnologias ao longo de sua trajetória social; ao mesmo tempo em que se vê convocado a

enfrentar a urgência da aquisição de formas de pensar e de agir mediadas por estas mesmas

tecnologias. O professor percebe que estas competências fundamentam cada vez mais a

importância do papel que desempenha na formação dos nativos digitais, ao mesmo tempo em que

evidenciam forte descompasso entre sua apropriação destes recursos e a familiaridade com que

estes estudantes manipulam tais tecnologias.

Frente a este impasse, não cabe ao sociólogo formular juízos de valor que apontem as

vantagens ou desvantagens representadas pela introdução das TIC no ambiente escolar, ou

mesmo assumir a superioridade das práticas escolares mediadas pelas TIC em detrimento

daquelas estruturadas como ensino “tradicional”. Ao sociólogo cabe sim compreender as recentes

condições sociais de possibilidade da emergência dos chamados nativos digitais e as

transformações da prática docente neste contexto. Assim, percebe-se que longe de configurar-se

como um agente que se encontra em vias de desaparecimento, os avanços gradativos da utilização

das TIC na escola pública não eliminam a importância do docente como elemento mediador e

socializador destas.

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