61º caderno cultural de coaraci

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7/21/2019 61º Caderno Cultural de Coaraci http://slidepdf.com/reader/full/61o-caderno-cultural-de-coaraci 1/16 CADERNO CULTURAL DE COARACI BAHIA JANEIRO DE 2016 - VOLUME 61- 39.700 EXEMPLARES PUBLICADOS - 700 MENSAIS DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Imagem da Capa:Umbral do Ginásio de Esportes Terra do Sol (reformado e entregue em dezembro de 2015). A obra de reforma foi o resultado de uma Parceria Publica Privada entre a Prefeitura Municipal, a Rede Portal MIX e a Liga Municipal de Futebol de Salão de Coaraci

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C A D E R N O C U LT U R A L

D E C O A R A C I B A H IA

JANEIRO DE 2016 - VOLUME 61- 39.700 EXEMPLARES PUBLICADOS - 700 MENSAISDISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Imagem da Capa:Umbral do Ginásio de Esportes Terra do Sol (reformado e entregue em dezembro de 2015).A obra de reforma foi o resultado de uma Parceria Publica Privada entre a Prefeitura Municipal,

a Rede Portal MIX e a Liga Municipal de Futebol de Salão de Coaraci

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AÇÕES DO GOVERNO DA CIDADANIA EM12 DE DEZEMBRO DE 2015,

DATA COMEMORATIVADA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE COARACI 

PRODUTORES DE CACAU PAGAM PORSERVIÇO DE CHUVA ARTIFICIAL

CONTRA A ESTIAGEM

A Prefeita de Coaraci, Professora Josefina Castro, seustaff, munícipes, convidados e políticos, assistiram a umamissa e participaram da solenidade de hasteamento dasbandeiras em frente à Sede da Prefeitura Municipal. Nomesmo dia foram entregues à comunidade a nova sede doCREAS, o Conjunto Residencial Hélio Brid Fraife, e as novasinstalações do Ginásio de Esportes Terra do Sol, uma obraresultante da Parceria Publica Privada com a Rede Portal Mix ea Liga Coaraciense de Futebol de Salão, e entregaram troféusaos vencedores de um Campeonato de Futebol no C.S.U. .

EXPEDIENTE  Diretor: Paulo Sérgio Novaes Santana

Endereço: Rua José Evangelista de Farias, nº.16, 1º andar, Centro,Coaraci-Ba. Fones: (73) 8121-8056 - (73) 3241-2405.

  Correção textual, redação e diagramação, imagens e artes: PauloSNSantanaInternete:Site: www.informativocultural.wix.com/coaraci

E-mail:[email protected] - Impressão Gráfica Mais.

Fotos capturadas por Maradona Locutor

61º CADERNO CULTURAL DE COARACI - JANEIRO DE 2016 

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A ESTIAGEMFonte de dados: 14/12/2015 - 17h04 - TV STª.Cruz 

Texto adaptado pro PauloSNSantana

Os municípios da região sul estão enfrentando aestiagem e a situação está se agravando. É o caso deAlmadina. Na cidade, os produtores rurais estãopassando por dificuldades para conseguir água. Acidade ainda não será beneficiada com a chuva

artificial e não tem previsão de quando a situaçãoocorrerá. O Rio Almada, que fica no município estácompletamente seco e o abastecimento em pelomenos oito cidades da região está comprometido. Orio leva água a mais de 530 mil pessoas. O leito do rioagora, só tem folhas secas. Um fazendeiro deAlmadina há 61 anos, relata que depois de tantotempo passa pela situação de estiagem pela primeiravez. "Tá difícil mesmo. Não tem água, nem comidapara o gado", disse. Por conta da situação, ele investiuR$ 5 mil em um poço artesiano, que ainda não estápronto. Contudo, nem todos os produtores têmcondições de fazer um poço e, com isso, são obrigadosa enfrentar a estiagem, a vegetação seca e a falta deágua. Um trabalhador rural, que mora perto do rio,onde costumava ser um balneário, está sentindo napele o que é ficar sem abastecimento. "Antes erabeleza, a água corria com fartura, tinha peixe e agoranão tem nada, só tem pedra", contou ele. Por toda aregião os lagos estão secando. Também há áreasinteiras queimadas.Em Coaraci, por exemplo, o nível do rio tambémbaixou muito. Dá pra ver que água esta empoçada,tem baronesas e mau cheiro.O diretor administrativo da Associação deDesenvolvimento e Integração do Sul da Bahia(ADISB), Saulo Oliveira, acredita que a situaçãopoderia ser diferente se ocorressem ações depreservação e conservação ambiental. "Um problemaque já se transformou em um grande desafio paraaquelas pessoas que hoje querem fazer alguma coisa

pelo rio".Desafios da gestão de recursos hídricos:

 - Conter o desmatamento e a destruição das matasciliares, estancar a contaminação dos corpossuperficiais e subterrâneos por agrotóxicos e efluentesdomésticos e industriais, controlar a irrigaçãointensiva, a construção de reservatórios e o déficit desaneamento e assegurar o acesso universal a água dequalidade. Fonte UNICESP .

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HÁ TRÊS ANOS

QUANDO TUDO COMEÇOU

Cristóvão

Aos quatorze anos, alto e bonito, cabelos negros, lisos erebeldes, Cristóvão filho único do Sr. Misael Barata –Padaria “A Vencedora” – estudava na Escola Vera Cruz, daProfessora Lindalva Guimarães, ao lado da Igreja de N. S.

de Lourdes. D. Lindalva ditava um texto para os alunos,quando a aula foi interrompida pela Secretária, queentrou acompanhada de uma linda mocinha de uns dozeanos de idade. Chamava-se Jennifer e era filha única doSr. Dió (Diocleciano Madeira), um rico criador de gado doVale do Rio do Ouro (próximo a Almadina). Na sala sóhavia uma carteira vaga onde a nova aluna foi sentar-se…Ao lado de Cristóvão!

Jennifer

Tinha uma boa altura para sua idade. Chamavam aatenção os olhos verdes, os longos cabelos cor de cobre eseu rosto angelical. Estudando e saindo juntos, entre elae seu colega Cristóvão, surgiu uma grande afinidademesclada de cumplicidade, confiança e atração, porem, as

forças sutis e silenciosas que regem as razões doscorações, começaram lentamente a atuar.

Um doce sentimento começou a se manifestar noscorações dos dois adolescentes. Uma paixão trazida pelodestino começou a despertar no íntimo dos dois e adominar a mente, a alma, os sentidos… Os sonhos… Sempalavras!

Como sempre completamente nu e usando apenas aaljava – Cupido ria de tudo enquanto trabalhava e seenvolvia entre os dois, lançando suas flechasimpregnadas do “curare” do Amor!

A Debutante

Jennifer, agora com quinze anos, chamava a atenção peloseu porte, pela sua beleza. Cristóvão, aos dezessete, alto

e forte, praticando vários esportes, principalmente futebole vôlei, era um rapaz que também chamava a atenção demulheres de todas as idades. Os que os viam juntos, seadmiravam pela beleza do amor que unia o jovem casal.

O ANJO DE BRONZE (Aconteceu em Coaraci II)

De Ivo. B RamosOs Ciprestes

A Rua do Cemitério, no início da década de cinquenta, erauma ladeira sem pavimento e muito esburacada. De umlado, uma longa fileira de casas coloridas com beirais ecalçadas irregulares e do outro, uma cerca de aramefarpado que protegia um imenso pasto de “sempre-verde”, cujas cepas estavam tosadas por uma dezena devacas leiteiras e suas crias. O cemitério ficava no alto dacolina, no fim da rua.

Logo na entrada, à direita do portão via-se, fixado sobreuma base de uns trinta centímetros de altura e arrodeadade exuberantes Onze Horas, um bloco maciço de mármorebranco de um metro e quarenta de altura, com cerca deum metro de largura. O bloco continha uma bela esculturade uns oitenta centímetros, cuidadosamente cinzelada,mostrando um homem e uma mulher nus e de mãosdadas. Os corpos eram perfeitos. Uma obra para deleitede poucos! Ao lado do casal lia-se a inscrição em baixorelevo, com letras douradas:

 “PULVIS ES ET IN PULVEREM REVERTERIS”.

À esquerda, havia uma Capela para velórios e nos fundosum pequeno recinto – com entrada pela parte de trás –para ferramentas e apetrechos, além de um catre paradescanso do coveiro/zelador.

Uma infinidade de plantas ornamentais enfeitava assepulturas. Partindo do pesado portão de ferro, gradeadoe protegido por uma sólida cobertura de telhas vermelhas,existia uma alameda de uns dois metros de larguracalçada de paralelepípedos, ladeada de murtas ebuganvílias. As plantas, muito floridas, eram baixas ecuidadosamente aparadas.

A Alameda seguia por uns sessenta metros e terminava junto à cerca de arame farpado, que delimitava a área docemitério.

Próximo à cerca se destacavam dois altos e esguiosCiprestes plantados atrás de um jazigo de granito negro.Sobre a laje polida e fixado junto à cabeceira, havia umanjo de bronze de uns setenta centímetros, segurando

dois pequenos corações unidos pelo símbolo “&”, de unstrês centímetros: No primeiro, havia a inscrição“Jennifer. 

O outro estava vazio… Esperando…

O Anjo de Bronze

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Uma Valsa e dois Amores

A festa dos quinze anos… A festa das debutantes seaproximava e os preparativos tinha a intensa participaçãodos pais. Seriam vinte e dois casais que dançariam agrande valsa, no suntuoso salão do Clube Social deCoaraci, caprichosamente decorado para a grande festa.Os ensaios para a valsa, a prova dos vestidos longos, dosternos e o traje dos orgulhosos pais. Tudo programado,

inclusive a orquestra!

“Sobre as Ondas”

Atendendo ao pedido unânime dos presentes, o Maestro,após O Danúbio Azul, iniciou os primeiros acordes de

 “Sobre as Ondas”. Se misturando aos jovens casais deDebutantes, os pais aproveitaram para mostrar quedançar valsa é para todas as idades! De repente, quando aOrquestra preparava a Apoteose, ouviu-se um prolongado

 “oooohhh!” Acompanhado de esfuziante salva de palmas.

O que estaria acontecendo no meio do salão? Empolgadapelo momento de emoção, a orquestra repetiu “O DanúbioAzul! – A Valsa das Debutantes”! “Amor é um fogo quearde sem se ver; É dor que desatina sem doer…” (*) Dominada por uma grande e profunda emoção, as pernasbambas, Jennifer – irremediavelmente apaixonada –chorava e tremia, enquanto girava ao sabor de umromântico e inesquecível sonho, ao som maravilhoso de

 “O Danúbio Azul”, nos braços de Cristóvão, o seu grandeamor!

“Que seja infinito enquanto dure…”(**)

Sens ib i l i zados pe lo momento marcante quepresenciavam, os casais, sorridentes e batendo palmas,foram se afastando, formando um grande círculo edeixando no centro, os jovens apaixonados que se

sentiam em outro mundo: O mundo dos sonhos, dafelicidade… do Amor! Um Mundo só para os apaixonados!Como um barco à deriva “sobre as ondas”, Jennifer, estavacompletamente imersa em sentimentos que a dominavame, na ponta dos pés, com os braços em volta do pescoço deCristóvão, se entregou num longo e arrebatado beijo!

Dió, o pai, diante da cena, deu um grito estridenteassustando a todos e partiu em direção ao casal.Transtornado pela raiva ao ver sua única filha, a suaJennifer, a sua princesinha, naquele inesperado ato de –para ele – surpreendente rebeldia, diante das espantadastestemunhas, alucinado, cego, fora de si, gritava: “Minhamenina! Minha criança! Você não pode se envolver comum reles padeiro, descarado e aproveitador!” Num atoviolento, arrancou a moça dos braços do espantado esurpreso rapaz, atirando-a esparramada no meio dosalão, ao mesmo tempo em que aplicava brutal eimpiedoso soco no estômago de Cristóvão, que se dobroude dor. Foi pior… Ao se dobrar, recebeu um violento murrona cara, fazendo-o rodopiar e de costas, se estatelar porcima de pessoas, mesas e cadeiras e ficar prostrado…Desmaiado!

O pandemônio estava formado e irreversível! Ao ver o seufilho ser agredido daquela forma brutal e inexplicável,Misael – pai de Cristóvão – armou-se de uma garrafa epartiu pra cima de Dió, atingindo-o em cheio! Díó era umhomem rígido, cultivado ao ar livre e nas intempéries doscampos de gado. Recebeu a garrafada na testa e, com osangue escorrendo pela cara, jogou-se sobre Misael eambos rolaram levando de roldão mesas, cadeiras,senhoras, moças e rapazes, que ficaram esparramados nochão, enquanto os dois pais, lutavam engalfinhados,rolando e rosnando, como feras disputando as própriasvidas! Desmaios e gritos de desespero, enchiam oambiente do que antes era uma linda e maravilhosa festade quinze anos!

A Orquestra silenciou! Acabou a festa, acabou oromantismo, acabaram-se os sonhos no silêncio dosúltimos acordes da “Valsa das Debutantes”… O DanúbioAzul!

Ainda desmaiado e sangrando Cristóvão, que ao cairsobre mesas e cadeiras, fraturou duas costelas, foi levadoàs pressas para atendimento médico, onde foi enfaixado.Pela manhã voltou a si ao lado de outra pessoa que

também estava bastante ferida e com um braçoimobilizado… Seu pai! Mais tarde os dois foram levadospara casa, sem saber nenhuma notícia de Jennifer ou desua família! Para onde foram? Para onde a levaram?

O Lago dos Cisnes

O Baile teve início com um show de Balé dos alunos daEscola de Balé da Professora Altamira. O “Pas du Deux”formado por um jovem casal, arrancou aplausos daplateia, principalmente no momento do beijo entre oromântico casal de cisnes, obedecendo ao ritmo doprimeiro ato do Tema Principal do grande concerto.

O DANÚBIO AZUL – A Valsa das Debutantes

De acordo com a caprichosa programação do evento, ospais, as moças ou os rapazes, não poderiam escolher osseus pares. Três pessoas foram nomeadas pelospresentes para efetuarem o sorteio e definir quemdançaria com quem: Sr. Abelardo, Presidente do Clube;Professora Altamira, Diretora da Escola Clássica de Músicae Dança; Professor Albuquerque, Regente da Orquestra.Vinte e dois envelopes fechados, contendo um cartão como nome de cada um dos rapazes, era colocado dentro deuma urna; nenhum dos presentes poderia discordar donome sorteado. Os pais anunciavam o nome da Debutante

e um membro da mesa, retirava da urna um envelope,abria e lia em voz alta o nome do Cavalheiro. E assim foi foifeito.

Por um capricho do destino, a última Debutante foiJennifer, que dançaria com o último Cavalheiro…Cristóvão!

Agora, sob os acordes d´O Danúbio Azul, a bela eromântica Valsa, tradicional nas festas de quinze anos, oselegantes casais, formados primeiro pelos pais, quedepois de uma volta completa no salão, entregava aDebutante ao Cavalheiro, que girando ao sabor da clássicacomposição, fazia aflorar nos corações, sonhos efantasias.

O requinte dos casais, a beleza da decoração, o

romantismo que representava uma festa de quinze anos,era muita emoção para os pais e para os filhos e filhas queestavam gravando indelevelmente na alma, na mente eno coração, aqueles momentos de alegria e infinitafelicidade.

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UM ANO DEPOIS…

Cristóvão sofria com a ausência de Jeniffer, seu preciosoamor. Onde estaria? A casa dela permaneceu fechada. AFamília se mudou, não se sabe para onde, enquanto a belafazenda de gado do Vale do Rio do Ouro, soube-se depois,fora vendida. Em conversa com D. Teté (Esther, a mãe deCristóvão) a Professora Lindalva, da Escola Vera Cruz,informou que Jennifer estava estudando em Colégio

Interno (N. S. Das Mercês) em Salvador e soube, commuita tristeza, que a pobre moça fora acometida demelancólica e profunda depressão. Estava hospitalizadaem estado grave!

Dois dias depois a Professora Lindalva, voltou à residênciade Cristóvão para informar que Jennifer havia morrido.Chorando copiosamente e, com a mão no coração, o rapazgritava em pleno desespero: “Oh! Deus, leva-me tambémpara junto da minha Jennifer! Meu querido Amor de olhosverdes!” 

O comércio fechou e o enterro, a pedido de Jennifer, foirealizado em Coaraci. Toda a Cidade compareceu,

 juntamente com os colegas da Escola Vera Cruz e daEscola de Música e Dança. O Maestro veio acompanhadode uns vinte músicos que homenagearam Jennifer com a

Valsa “Sobre as Ondas”. A pedido de seus pais, Cristóvãonão foi ao enterro. Estava tão transtornado quepermanecia prostrado, sob cuidados médicos.

O PEDIDO DE JENNIFER 

Ainda no cemitério, logo após o encerramento dacerimônia, o Sr. Dió e esposa, chamaram à parte aProfessora Lindalva e entregando a ela um envelope,disse: “Este é o último desejo de nossa filha e ela nospediu que entregasse à senhora. Eu e minha esposa,autorizamos que, seja qual for o pedido dela, que sejarigorosamente cumprido e não se preocupe comdespesas! É tudo por minha conta. Muito obrigado,querida Professora e aqui nos despedimos… Adeus!” Aochegar em casa, D. Lindalva observou que a última

vontade de Jennifer, consistia na construção do seumausoléu, conforme um caprichoso desenho feito por ela.Na carta havia o trecho de um Soneto, que retratava osseus sentimentos. Emocionada, a Professora leu em vozalta o belo Poema:

 “Amor um mal, que mata e não se vê:

Que dias há que na alma me tem posto

Um não sei quê, que nasce não sei onde.

Vem não sei como, e dói não sei porquê!”(*)

A Professora atendeu o pedido ao pé da letra e mandouconstruir o mausoléu para duas pessoas, exatamentecomo estava estabelecido na “Carta” e no desenho de

Jennifer! ALGUNS ANOS DEPOIS…

Certo dia, eu fui com minha mãe visitar uma senhora (D.Pequena), sua comadre, cuja casa ficava bem em frenteao portão do cemitério. Ela nos disse que, em certasnoites, se ouvia misteriosos ruídos vindos do cemitério. Àsvezes, até gritos lancinantes e aterradores que semisturavam ao barulho da ventania. Isso deixava osmoradores da Rua do Cemitério em dúvida… Será que erasó o vento? O Sr. Desidério, (esposo de D. Pequena)narrou o seguinte: -“Uma noite, voltando de uma viagem,cheguei em casa por volta de uma hora da manhã. Estavamuito escuro, mas uma réstia de luz se projetava até àrua, vinda de um velório que havia na pequena Capela. Oportão estava entreaberto e cheguei a ver umas seis

pessoas que, de costas, conversavam em voz baixa. Pelamanhã encontrei Terto, o coveiro, que me informou quefechou o portão às oito da noite e que não houve nenhumvelório durante aquela noite!” 

“RECANTO DO BEBEL”

Toda sexta-feira à noite, era sagrado o “baba” que eradisputado entre bancários e comerciários. Depois do jogo,vitoriosos e perdedores se reuniam no “Recanto doBebel” – animado bar ao ar livre que ficava na Rua doCemitério – onde era consumido um grande pernil deporco decorado com batatas coradas, gentilmente assadona Padaria “A Vencedora” do pai de Cristóvão. Mais de

trinta rapazes entraram rindo e cantado a plenos pulmõese sentaram-se ao redor da longa mesa, enquanto Bebel eseus dois filhos adolescentes abasteciam os copos decerveja. O “Recanto do Bebel” ficava a cem metros daentrada do Cemitério.

Já passava das vinte e três horas. A cidade estavacompletamente às escuras, devido ao horário dedesligamento da Usina de Força (às vinte e duas horas).Bebel (Abelardo) acendeu um Aladim, que ficavapermanentemente pendurado no teto e várioscandeeiros, que colocou em pontos estratégicos paraclarear o ambiente.

O SEPULCRO NEGRO

A chuva caía fina, intermitente e fria, mas isso não tirava o

entusiasmo da rapaziada! Em dado momento, o bancárioRomilson – ponta direita – levantou segurando umagarrafa e na outra mão um copo e gritou bem alto: “Umbrinde às “almas penadas”, pessoal… Hoje é sexta-feira!Vocês já souberam dos misteriosos acontecimentos queandam ocorrendo no cemitério às sextas-feiras? Osmoradores das casas que ficam mais próximas à entrada,informaram ao Delegado terem ouvido ruídos, gritos dedesespero e queixumes, como se estivessem torturandoalguém! Isso aconteceu em duas sextas-feiras e esta é aterceira. O Delegado respondeu que a polícia não era pagapara perseguir “almas penadas e assombrações!” 

Romilson continuou com a brincadeira: “Aí pessoal, sealguém tiver coragem de entrar no cemitério e provar queentrou, não precisa pagar a conta e nem pagará a

próxima! Quem se habilita?” O silêncio era total. Ninguémqueria ganhar tal prêmio! Estava ficando tarde e alguns jogadores já haviam ido embora. De repente, o silêncio foiquebrado por uma voz forte: “Eu topo!” Todos se virarampara o lado de onde vinha a corajosa voz: Cristóvão! Asprimeiras palmas partiram de Romilson, que determinouas “regras”: O “corajoso”, para provar que entrou nocemitério, teria que trazer um ramo de Cipreste, árvoreplantada no fim da alameda, nos fundos do cemitério –

 justamente atrás do Sepulcro Negro.“Um ramo deCipreste? Me aguardem, medrosos!” Disse Cristóvão edesapareceu na úmida escuridão da noite, em direção aocemitério. Depois da morte de Jennifer, Cristóvão nuncamais voltou lá. Recebendo no rosto as frias gotas dechuva, chegou até à cerca, onde os fios de arame farpadolhe serviram de escada. Seguiu por entre os túmulos esem nada enxergar, atolava os pés no barro amarelo dascovas. Na mais completa escuridão, seguiu pela alamedacalçada até chegar ao túmulo de granito negro.

Ele não sabia de quem era aquele túmulo! Cansado eencharcado, sentou-se ao lado do Anjo de Bronze,enquanto o vento lúgubre assobiava e fazia farfalhar asfolhas dos Ciprestes. Para se orientar, riscou um fósforo. Àluz da pequena chama, Cristóvão pode observar melhor otúmulo, o polido granito negro, o Anjo e a cabeceira ondese via um nicho protegido por um vidro. A chamabruxuleante de mais um fósforo, clareou de cheio oconteúdo do nicho: Um papel amarelado pelo tempo,mostrando o trecho de um lindo Soneto sobre o Amor, aolado de um retrato emoldurado em bronze… O retrato deJennifer!

UMA GRANDE DOR…

Alucinado pela dor, sentia as pernas tremerem, enquantocopiosas lágrimas lhe desciam pela face e se misturavam

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às gotas de chuva. Cristóvão saiu em disparada em plenaescuridão, pisando nas flores e nas covas, no barroamarelo, tropeçando nas poças, caindo e levantando! Achuva aumentou consideravelmente. Gemendo, gritandoem sua dor, lamentando pelo desespero daquela feridareaberta e no afã de sair dali, aos gritos, jogou-se decabeça contra os fios de arame farpado da cerca! Gritos dedor, desespero e sofrimento, ecoavam na escuridão docemitério! Aos poucos, os gritos foram se transformandoem abafados gemidos… Se confundindo com a ventania.Lentamente foram diminuindo… Diminuindo… Até cessarpor completo! A chuva e o vento continuavam a fustigar osCiprestes e o Anjo de Bronze do Túmulo Negro!

A Demora

De todo o grupo, uns doze ainda permaneciam no bar,tomando as últimas cervejas, enquanto aguardavam avolta de Cristóvão. Estavam preocupados mas, aescuridão, a chuva forte e a hora avançada, impediam aaventura de ir conferir no cemitério. Achando que o colega

 “se mandou e não foi a cemitério coisa nenhuma”,resolveram todos ir embora. Já passava das duas damadrugada! O céu estava nublado e a manhã estava fria.Romilson tomava café na companhia dos pais e dos dois

irmãos mais novos, quando fortes pancadas na porta osassustaram! Quem seria?

 “Bom dia, D. Juju, viemos chamar o Romilson para nosacompanhar. Aconteceu alguma coisa impressionante láno cemitério!” Acompanhado dos seis colegas de “baba”,Romilson sugeriu ir chamar Cristóvão.

Da porta, D. Esther informou que estava muitopreocupada. “Cristóvão não voltou para casa. Estranho,ele nunca dormiu fora! Vejam na Padaria, por favor!” 

 “Não, aqui ele não apareceu e Seu Misael disse que vai daruma bronca, quando ele aparecer!” Informou, Joaquim – opadeiro.

 “Gente é melhor ir ver o que ocorreu de novidade, queestá atraindo tanta gente ao cemitério. Deve ter sido algo

assombroso, vejam que multidão está indo pra lá!” Consternados, os rapazes viram que a Polícia estavaretirando o corpo ensanguentado de um rapaz, com acamisa enlameada e transformada em farrapos, quemorreu de forma trágica, com a garganta dilacerada peloarame farpado da cerca do cemitério.

Estarrecidos, os rapazes observaram a boca escancaradae os olhos esbugalhados daquele que fora o grande amigo,o grande companheiro de todas as horas. Continuaramolhando, com muita dor, enquanto a Polícia colocava ocorpo de Cristóvão numa maca. Ao passar bem perto,Romilson e os colegas (em prantos), observaram que omorto mantinha firmemente seguro na mão direita a

 “prova exigida”… um ramo de Cipreste!O SegundoCoração

Gente, para finalizar este relato, é necessário que vocêssaibam o que aconteceu tempos depois. Quatro anosapós a malfadada Festa das Debutantes, o Sr. Dió eesposa voltaram a Coaraci e (Graças a Deus!) fizeram aspazes com os pais de Cristóvão. No dia seguinte, os paisde Jennifer e os pais de Cristóvão, convidaram algumaspessoas para acompanhá-los a uma visita ao Cemitério.Estavam presentes a Professora Lindalva, o Maestro,minha mãe e alguns colegas de Cristóvão.O Túmuloestava polido e bem conservado. Os pais colocaram floresnos pequenos jarros de granito (o jarro da direita era o deCristóvão) e fizeram orações de mãos dadas. O retratoemoldurado e o amarelado papel com o poema,continuavam no pequeno nicho envidraçado. O grupo

começou a sair e já estava na metade da Alameda,quando a Professora Lindalva sentiu que alguma coisa aincomodava e resolveu voltar. Observando o Anjo deBronze, viu algo que ninguém havia notado o queaconteceu...

após a reconciliação entre as duas famílias. Chamou ocoveiro e perguntou: “Ontem, quando nós acertamos alimpeza do Túmulo Negro e do Anjo de Bronze,comentamos sobre o coração vazio. Alguém esteve aqui?”– “Não senhora, ninguém esteve aqui! Ninguém mexeu notúmulo… O que a senhora viu?” O nome de Cristóvão nosegundo Coração!!!” FIM.

Nomes, lugares, acontecimentos, situações e época, são

frutos da imaginação do Autor. Quaisquer identificação oucomparações não passarão de mera coincidência. Existem pessoas mencionadas que ainda residem em Coaraci,mas os seus verdadeiros nomes foram preservados.(*)Sonetos de “Os Lusíadas” (trechos) – Luiz deCamões.(**) Vinícius. - Autor Ivo Batista Ramos

COLABORADORES DESTE EXEMPLAR: Dra. Suzy S. Cavalcante, Mª.Celia C. Santana, oEmpresário Agostinho Reis, o Produtor de Cacau e GadoAdalberto Brandão, o Arquiteto Dr. Renato Rebello, oFuncionário Aposentado do Banco do Brasil AntônioBarbosa (toinho), a Professora Eponina Borges, WilsonFerreira e esposa, a Professora Valdelice Nascimento.

MESTRE KIBÃO

Mestre BalãoCoaraciense residente em Guarulho, São Paulo, filho de

Luis de Oliveira e Silva e de Maria Senhora de Jesus e Silvaé Professor de Capoeira na Academia CET Capoeiragem.Kibão estudou no Pestalozzi, e no Colégio Municipal deCoaraci. É primo de Tiago filho de José Raimundo e deMárcia Cristina.Luiz Marcelino de Jesus Silva, conhecido na Capoeiragemcomo, Prof. Kibão, nasceu na cidade de Itabuna, criadoem Coaraci-BA. Iniciou na Capoeira em 1994 com oContramestre Fabão. Hoje mora na cidade deGuarulhos/SP onde desde 2006 realiza um trabalho noCTE Capoeiragem com o apoio da Associação, Nação doReggae, que hoje já é uma realidade no município.Em 2012 passou uma temporada de 3 meses na Europanos núcleos do CTE Capoeiragem da Bélgica e Suíça,ministrando cursos e participando de grandes eventos.Nos dias 20 á 24 de Janeiro de 2015 estará sendorealizado o 5º Encontro Internacional de CAPOEIRAGEMem Salvador/BA, onde Kibão se formará em Contramestredo CTE Capoeiragem, sobe a supervisão do Mestre Balão,fundador do CTE Capoeiragem.

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EQUIPE DO BOLACHAANOS 80

Carlos Coelho Ferreira:- Me parece que Matias é o decamisa branca.Evandro Lima Alves:-O saudoso Matias, é o de

camisa branca mesmo, ele foisegurança do Banco do Brasil.Selminho:- Agachados:Júlio Cunha (finado), Zé Forró( fin a d o ) , M e l q u i s e d e c k(finado), Aio (finado), Zé doBazar, Vivi, (finado) e IsaacMarques.- Em pé:Cesar, Careca, FernandoVeneno, Dr. Roney, Pito,Celeiro, Hélio Coelho, Ivo doBolacha e Mathias (finado).

Foto abaixo é da equipe vencedora do XIII JINFABB,Campeonato de Futebol dos Aposentados do Bancodo Brasil, Categoria de 60 a 65 anos em Natal, noRio Grande do Norte.Participaram da competição os coaracienses Toinhoe Massa Bruta.

No Paulo Américo, aeducação também ésustentável. Olha ai, aárvore de Natal que elesconstruiram com garrafaspet. Libanilde Almeida,Kali Gomes e IvoneteSantos conseguiram asgarrafas. Todos os alunosda Escola participaram dopro je to na ta l i no daescola...

EXPEDITO HÉLIO ÉEMPOSSADO NOVO MEMBRODO LIONS CLUB DE ITABUNA

Com uma noite em sua sede, o Lions Clube

de Itabuna Centro, sob a presidência de AlineFarias, realizou uma assembléia festiva paraempossar o novo companheiro leonino,Expedito Hélio, que recebeu o Pim (símbololeonístico) da sua esposa Sandra, sendomuito cumprimentado por todos ospresentes. Em seguida foi servido umdelicioso jantar, ocorrendo tudo no maiscompleto leonismo.

NO BAR E JAZZ BOLACHA EXISTEUM ESPAÇO PARA OS

FUMANTES DESMEDIDOS...

É um espaço criado para os fumantesinveterados que frequentam aqueleambiente cultural-etílico. Ótima iniciativa emprol da saúde dos pulmões, já que a saúde dofígado a Deus pertence...

MICARETA ANOS 70Foliões acompanhando o

trio Tapajós

Toinho Massa

Antônio Barbosa

Projeto Sustentavel

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 A TROPA DOSSINOS DE OURO Aconteceu em Coaraci 

 DE IVO B RAMOSRoseta era uma cabra

cinzenta, de boa raça.Comprada por meu avô,para o fornecimento deu m l e i t e m e n o sgorduroso. O de vaca faziamal a algumas crianças e,de vez em quando,provocava dores debarriga em outras. Rosetachegou em boa hora!Ótima parideira, tinhavários filhos e o rebanhode caprinos crescia. Eral i n d o v e r R o s e t aperambular pelo pasto

entre os outros animais,b a l a n ç a n d o a q u e l aenorme barriga de maisuma gestação. Certanoite, ouviu-se umagrande agitação vinda doabrigo das cabras, queficava sob o assoalho dasbarcaças, a cerca de cemm e t r o s d a c a s a d afazenda. Meu avô, tioDadá e alguns primos, quet a m b é m o u v i r a m aalgazarra, se dirigirampara lá a fim de conferir omotivo do reboliço.Delonge se ouvia o berreirodos animais assustados.A curiosidade era grande!Com candeeiros para

alumiar o caminho eajudada pelo clarão dalua, a visibilidade eraextraordinária àquelahora da madrugada. Devez em quando a neblina,

c o m o u m v é uesfarrapado, cobria tudo eumedecia a paisagem deorvalho, construindoverdadeiros prodígios etransformando as teias dearanha em rendas decristal, penduradas nascercas de arame farpado!Ao longe via-se a silhuetan e g r a d a S e r r a d oRoncador e mais além, asn u ve n s e n t r e r a i o svermelhos e dourados,n u m m a r a v i l h o s o

arrebol, anunciavam umanova aurora. “Tufe, tufe,tufe, tufe! – Co-coró-cóóóó!” De algum lugar…bem distante… ouvia-se obater das asas e o cantode Tamborim. Era o iníciodo amanhecer!Os berrosc o n t i n u a v a m …Preocupado, meu avô seperguntava: “O queestaria assustando tantoa q u e l e s a n i m a i s ,normalmente dóceis etranquilos?” 

 “- Não entrem! Afastem-se ! Cu i dado , mu i t ocuidado!” Alertava meua v ô , v i s i v e l m e n t eassustado com o que viu,

ao abrir a porteira docurral. Roseta estavaprostrada no chão, a bocache i a de uma babaespumosa… Os olhosabertos… Vidrados! Ao seu

lado, o pequeno cabritoque ela havia paridodurante a noite, trôpego,tentava se equilibrar. A luzbruxuleante do candeeiro,clareava o bicho terrívelque aguardava próximoao corpo inerte de Roseta.

Mais de um metro decomprimento! Causavaadmi ração a be le zaselvagem daquele animalenrodilhado, em plenaexpectativa. Suas malhasiridescentes, de aspectoaveludado e em perfeitasimetria, em marromescuro, marrom claro,p r e t o e c i n z a , s em i s t u r a v a m c o m oamarelo desbotado doven t r e . O pe s coço ,tomando a forma de um

 “S”, elevava a cabeçatriangular a um palmo dealtura, cuja língua negra ebifurcada, entrava e saíanervosamente, medindotodas as possibilidades deataque e de defesa! O

corpo subia e descial en tamente , no seur e s p i r a r p r o f u n d o …calculado…

Como uma rara e belaescultura, esquecida peloartesão, permaneciacompletamente imóvel…Silenciosa. Só a língua semexia, num lascivo e

inusitado vai-e-vem, numincansável entra e sai!

 “ - M a l h a d e S a p o ! ”Murmurou meu avô,enquanto pegava no coloo pequeno cabrito recém-nascido. – “Abram aporteira dos fundos paraos an ima i s s a í r em .Cuidado! Não tentemm a t á - l a . É m u i t operigoso, no estado dea l e r t a e m q u e s eencontra. Vamos fazerfachos e expulsá-la sob a

ameaça do fogo.”   UM ANO DEPOIS… 

 “-Tá lindo o bode órfão!Que nome botaram nele?”Perguntou Dioclécio – omascate joa lhe i ro –enquanto sorvia umacaneca de café, sentindocom prazer o seu aroma.

 “- Ainda não tem nome…Esse bode é criado à basede frutas, verduras,muito leite e muito dengopor todas as crianças.Vive

no meio delas e brincam juntos o dia todo. É o únicobode que conheço, quetoma banho de rio todosos dias e ainda usa sabão

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grama, como se nada tivesse acontecido. Apenas olha oagressor… Só olha! Picolé era um gigantesco touro da raçaTabapuã que, como Badalo, também foi criado namamadeira, com a participação da maioria das crianças.Devido a essa intimidade, permitia carregá-las em seudorso – oito a dez de cada vez – e caminhandolentamente, levá-las até o rio, onde participava do banhoem grande algazarra! Lavado e relavado o grande boi,servindo de trampolim, gostava da bagunça! Picolé tinhacerca de quatro anos e pesava uns seiscentos quilos,chamando a atenção o seu grande e negro cupim sobre odorso cinzento e a enorme “testa de martelo” queimpunha respeito.A meninada – mais de quinze –ouvindo os apelos do avô, interrompeu a pelada e partiu,dividindo-se em dois grupos para cercar o bode, mas nãodeu tempo… Com a loura crina ao sabor do vento, Badalodisparou em alta velocidade, pela quinta vez, em direção

de gendiroba!” Respondeumeu avô , enquantoenrolava um cigarro depalha. Debruçado na

 jane la , segurando a

segunda caneca de café,D i o c l é c i o f a l o u :

 “Compadre, observe otamanho do saco desseb o d e . P a r e c e d u a smangas espada dentro deum grande coador! Andac o m a q u e l e s a c obalançando entre aspernas, como se fosse obadalo de um sino!” 

 “-Ótimo, gostei! O nomedele será Badalo!

R a ç a p u r a , b o m

reprodutor. Um belo parde chifres encaracoladoscresceu, ao lado dasl o n g a s o r e l h a s ,enfeitando-lhe a cabeçagrande e bem feita. Olhoscastanhos claros e sob oqueixo uma comprida eespessa barbicha brancaque, de vez em quando,minha irmã tingia de anil…Um bode “Barba Azul!” 

DUELO DE TITÃS

Não se s abe o quea c o n t e c e u c o m apersonalidade de Badalo.Sempre muito manso comas crianças, com as quaisfoi criado e de repentea g r e s s i v o c o mdesconhecidos! Cismavaaté com alguns animais dafazenda, dando- lhesviolentas marradas. Certodia, não permitiu o treinoda equipe de futebolformada pelos rapazes danossa fazenda e dasf a z e n d a s v i z i n h a s .Badalo, quando viu os

rapazes correndo atrás dabola, entrou no campo e,ameaçadoramente, deu

 “marcha à ré”, afastando-

-se uns dez metros.Dando um longo berro,escolheu uma vítima ep a r t i u e m g r a n d evelocidade… Atingindo em

cheio o jogador, atirando-o esparramado sobre agrama encharcada! Foiuma loucura! Um corre-corre pelo gramado,enquanto Badalo – comsua voz t rêmu la detaquara rachada – berravavitorioso, escavava o chãoe tentava atingir maisgente!

Foi difícil afastá-lo daconfusão. Só foi possívelcom a ajuda da únicapessoa que poderia fazê-lo: Minha irmã, que o crioue que só a ela obedecia!Chamando-o pelo nome,acariciou-lhe a longa ebela crina que lhe caiapelo pescoço e docilmenteo conduziu até o outrolado da cerca. Abaixou-see dirigindo-lhe palavrascarinhosas ao pé daorelha, permitiu queBadalo lhe lambesse aface! Era o único bode queaprendeu a agradecerlambendo, como fazem os

cachorros!Um dia, ouvimos os gritosdo meu avô: “-Meninos!Afastem aquele bode dotouro Picolé. Esse touronão vai agüentar asmarradas de Badalo!”Ogrande bode de setentaquilos afasta-se de costas,oito ou dez metros, berra,empina como um cavalo eparte a toda velocidade,cabeça baixa, a testa emriste como um aríetemedieval… atinge o tourona altura do ventre. Bate evolta para outra violentaporrada. O Touro recebe,geme e volta a comer

ao “pobre” Picolé…

Todo mundo parou paraa s s i s t i r à g r a n d emarrada… A poucosmetros do objetivo, numú l t i m o e p o d e r o s oimpulso, Badalo deu umsalto elevando o corpo eenrijecendo ao máximo opescoço, para reforçar oi m p a c t o i m i n e n t e …Quando… Para surpresade toda a plateia, o touro,simplesmente virou-se decabeça baixa e com apoderosa testa… Esperou… Como a bigorna que

espera o malho…Com espanto, ouviu-seum forte e abafado ruído,provocado pelo violentoimpacto das duas testas!– Um duelo de titãs – Como choque, o corpo do bodesubiu numa desajeitadap i r u e t a e c a i uesparramado no chão… Elá ficou! “Badalo morreu!”Murmurou meu avô, comtristeza.Corremos até ocorpo estate lado deBadalo que, de barriga pra

cima e as pernas abertas…Parecia morto!…

I n d i f e r e n t e , P i c o l éafastou-se da cena da

batalha… Para ele, nadaaconteceu!

Depois de vários baldes deágua e tentativas parareanimá-lo e ajudá-lo a selevantar, assistimos ovalente Badalo se erguercom dificuldade, sairz o n z o , t r ô p e g o ,silencioso… Sem nadaentender!

ADEUS, BADALO!

Meses depois, o grandereprodutor foi compradopor um expositor dec a p r i n o s , d o n o d a

Fazenda Espera Feliz, adoze qui lômetros deTucano – no agrestebaiano – onde um harémde mais de trinta cabritasvirgens o aguardava…

Houve choro na suapart ida… Sim, muitochoro!

Badalo foi apenas umbode, mas marcou a nossainfância, deixando a suaparcela de inesquecíveislembranças e um docesentimento de admiraçãoe de saudade!  Apenas um bode…

fim...

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EDVALDO SANTANA«Não sei porque você se foi 

Quantas saudades eu vou sentir...Você marcou a minha vida

Viveu, morreu e sempre continuarána minha história...

Meu pai..EDVALDO SANTANA DA SILVA...

O MEU DIVA...O MEU GRANDE AMOR!!!

Mensagem de Marcelo, Adriana,Mãe, esposa, filhos e netos...

 O Senhor Edvaldo Santana a algumtempo sofreu um acidente, umaqueda que infelizmente complicou oseu estado de saúde. EdvaldoSantana foi um coaraciense muitorespeitado e querido por todos os quetiveram a prazer de conhecê-lo. Comcerteza ele vai deixar uma lacuna nafamília de pessoas valorosas queconstituiu em Coaraci. Nós do

Caderno Cu l tura l de Coarac ienviamos aos familiares os nossosmais sinceros sentimentos...

Mulheres coaracienses que muito contribuíram

para o desenvolvimento da Terra do Sol. Você sabequem são elas?

A identificação, de algumas foi feita por:

Quinto Souza: - Acho que no lado esquerdo em pé, é a esposade Gironda, se não for Soninha é Gracinha Feitosa, não é Gessildaao lado de Leda e a irmã dela salvo engano? Norma? No alto, nocentro, acredito que seja Eliane Galvão.Josenilda Costa Souza: - Sim é Norma Tavares e à esquerdaparece ser a irmã dela Antonieta. À direita Leda Feitosa, CéliaReis, Solange Galo, Soninha, à frente, Glória Argolo e DamianaFeitosa, atrás de Celia é Euvalda, em cima parecem ser Glayde

Santana e Madalena, prima de Leda Feitosa. Mas o que mais mechamou a atenção é o uso, por quase todas, de um lenço branco.-A pessoa em pé atrás de Euvalda, parece uma das irmãs deEleuza.

HISTÓRIAS DE ANTÔNIOCARDOSO, ’’O SR.

LIXINHA’’- Sempre vive aqui, onde nascerammeus quatorze filhos. Quandocheguei nesta terra ainda não tinhaquase nada. A energia provenientede um gerador instalado naBarragem era tão fraca quequalquer um apagava a lâmpadacom um sopro;

- Um dos mais antigos motoristas deCoaraci, foi o Sr. Parrilha, pai do Dr.Wanderlei;-Naquela época eu trabalhei naconstrução do CEC, e só quem tinhacaçamba em Coaraci era eu.Carreguei todo o material deconstrução da escola;-Numa ocasião fui dirigi um Pau-de-Arara de Sergipe à São Paulo,porque eu sou natural de lá, ondetambém nasceu o meu pai que foiassassinado por Lampião. Eu dirigimuitos Pau-de Araras pra São Paulo,na rodovia Rio Bahia. Naquelaépoca havia tanto caminhão parado

na estrada, que se você filmassedava pra fazer um rolo de filme,tinha gente da Bahia, da Paraíba ede Pernambuco, de Sergipe todotipo de motorista;-Naquela época nós parávamos noBrás. Uma vez quando ia pra SãoPaulo, depois de Taobim, umguarda rodoviário me parou e disse;- Oh sergipano você não vai passarnão, com esse tanto de gente e

 pneu careca. Eu pedi e insisti praseguir viagem, de vez em quandovoltava lá e pedia, mas ele dizia nãovai passar com esse pneu assimnão. Eu fiquei por ali, deu seis

horas, e quando foi na base das dezhoras da noite, ele ainda não querialiberar o caminhão, ai eu mandei os

 passageiros descerem, acenderemfogo, fazerem as suas necessida-des, gastar a água deles, fazer bemsujeira no local, mandei botar osmeninos pra ficar cagando pelosmatos ao redor do posto policial,quando o guarda rodoviário saiuque viu aquilo, aquele povão ali nafrente, ele me chamou e disse: - Ohsergipano, pega o teu pessoal e caifora daqui!- Já conduz i pau-de -a ra ra pr aBrasília, até levei dois cantores, o

Zé do Pandeiro e Vavá Sanfoneiro;-Naquela época Sergipe era ume s t a d o p o b r e , h o j e e s t adesenvolvido. Eu sou filho de umlugar chamado Divina Pastora.

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  EDMUNDOOLIVEIRA E

SILVAPROPRIETÁRIO

DA LOJA 

INOVAÇÃO

SENHORENÉAS DE

LIMABRANDÃO,

PAI DEADALBERTOBRANDÃO.

COMERCIANTE DE ROUPAS

EDMUNDO OLIVEIRA E SILVAO DONO DA LOJA INOVAÇÃO

Edmundo Oliveira e Silva veio pra Coaraci ainda novo, comseu pai José Augusto de Oliveira, aqui foi membro doCentro Espirita do Sr. Valdivino Barreto, era muitoconhecido na comunidade como comerciante de roupas.Foi o proprietário da primeira loja de modas em Coaraci,com um alfaiate permanente. Sua Loja se chamavaInovação, ficava na Rua Rui Barbosa, vizinha à atual Cestado Povo.Era filho de Augusto, irmão de Zeca Brando, e de CarlitoQuadros. A família era composta por José Augusto deOliveira o patriarca da família sua esposa e os filhos:Gildete Quadros de Oliveira, a mãe de Renato Rebello,Edmundo Oliveira e Silva, Odete de Oliveira Brandão, mãede Adalberto Brandão (entrevistado por nós), CarlitoQuadros, muito conhecido aqui, e Josemar Quadros deOliveira o popular Zeca Branco.

O Sr. Enéas foi comerciante em Coaraci durante toda a suavida. Ele assumiu o lugar do pai na condução dosnegócios. Seu filho Adalberto ainda tem um escritório naRua Rui Barbosa, uma herança da família e as paredes doescritório de compra e venda de cacau, tem setenta anosde existência. Adalberto até hoje conserva tudo como eraantes. Adalberto é um produtor de Cacau, e negocia avenda e a compra do produto. Ele é casado com NascitaBrandão, com quem têm quatro filhos: Camile, Enéas,Taís e Matheus. Sempre residiram na região, e nomunicípio de Coaraci, onde eles tem seis propriedades, afazenda central fica localizada em Cafundó.Para Adalberto Coaraci é uma Capital de uma microregião, é um centro onde o povo de Inema, Pimenteira,União Queimada, Bandeira do Almada, Acampamento,São Roque, Almadina, Itapitanga, Lomanto Junior,Itajuípe, vêm fazer negócios, comerciais e bancários. Praele Coaraci mesmo com esta crise que assola o país e aregião, ainda sobrevive bem, e é um polo de negóciosonde encontra-se um povo honesto e trabalhador, omunicípio é tradicionalmente conhecido por isso. Ele noscontou que foi o seu avô quem trouxe seus conterrâneosde Santo Antônio de Jesus, comerciantes que foram bem

sucedidos e alavancaram o comércio local, gente comoWaldo Matos, o seu Valdivino Henrique pai de Elivaldo, oSr. Joaquim Henrique, que residiu onde hoje localiza-se asinstalações do Asa Branca.Adalberto conta que a Rua Rui Barbosa praticamentepertenceu a seu avô Augusto Quadros e foi ele quem abeneficiou, saneou e construiu muitas casas, inclusive foinesta rua onde existiu o Cine Glória, que ficava onde hojeesta localizado o Comercio de Cacau onde Jaldo é gerente.Disse que um dos primeiros carros de Coaraci, pertenceua Zeca Branco, modelo Chevrollet GMC cara de sapo e logodepois Raimundo Benevides chegou com outro carro. Queesses homens ajudaram a abrir a estrada de Itapitanga nobraço e no machado, as fotos da construção da estradaainda devem existir em poder dos filhos de Zeca Branco...

Foto anos 80 de Adalberto Brandão com Sr. Batista

Adalberto José de Oliveira Brandão é primo de RenatoRebello e de Elivaldo Henrique (o ex-prefeito de Coaraci).O avô de Adalberto, Sr. José Augusto, foi quem trouxe acolônia de Santo Antônio de Jesus praqui. O Sr. Augustoconstruiu um imenso casarão na Rua Rui Barbosa onderesidia com a sua família. Neste mesmo casarão ZecaBranco fez a primeira instalação telefônica da região, quefacilitou os seus contatos com a sua Cerâmica. A linha eraúnica e ligava a residência à sua fabrica. O telefonepossuía apenas três números, Adalberto ainda tem o

telefone guardado em uma de suas fazendas. Zeca Brancofoi um pioneiro em muitas coisas: No feitio de Cachaça (AMulher Rendeira), na Cerâmica Rio Almada, naInseminação de Gado, foi um incentivador do progressode Coaraci. Um homem progressista.

Na foto acima o Governador Regis Pacheco esta assinandoo documento da emancipação de Coaraci, no dia 12 deDezembro de 1952. Pode-se identificar na fotografia,através de informação de Adalberto Brandão: O aindagaroto , a garota , Altamiro,Renato Rebello Leda Feitosa ZéAugusto e Eneas de Lima Brandão.

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Além da prática corriqueira de extorsões, eram assassinosimpiedosos e frios… Eram “otoridades”, como elesmesmos se definiam! Prefeitos e delegados os toleravam;achavam “um mal necessário!” 

CHICOTE – O INSPETOR Alto, forte, exímio lutador de Boxe e Jiu-Jitsu, gostava deum Ringue e aceitava todos os desafios. Triste de quemaceitasse uma aposta contra ele: muitos foram parar nohospital, outros no cemitério. Não tinha consideração enem pena quando se tratava de bater, e curtia ver as mãosensanguentadas… Com o sangue alheio! Extremamenteracista, sorria enquanto surrava, principalmente negros enegras!Até hoje, não sabemos o seu verdadeiro nome.Pernambucano, 1,85m, 80 quilos de músculos, cabelosloiros, olhos miúdos e azuis no rosto quadrado. Usavasempre calças e botas militares, luvas de couro, óculosescuros e a inseparável boina preta, que de vez emquando puxava para baixo e cobria toda a cabeça,deixando apenas dois pequenos orifícios para os olhos. Dolado direito, portava uma “Luger – Parabellum 9 mm”;atrás das costas, uma longa e afiada faca militar e, do ladoesquerdo, um Chicote trançado em tiras de couro cru deuns quatro metros de comprimento. O cabo de jacarandá

era decorado com argolas de prata trabalhada eterminava com uma caveira também de prata, dotamanho de uma pera – às vezes usava o cabo do chicote

OS GÊMEOS AMBRÓSIO E AMBROSINO

OS GÊMEOS

De Ivo B Ramos

A cidade de Coaraci era próspera e tinha cerca de vinte ecinco mil habitantes, nos fins da década de cinquenta. A

energia elétrica era fornecida por uma pequena usina deforça, instalada numa barragem construída no rio Almada,na Boca da Conversa, bairro na entrada da cidade. A Usinaera particular e funcionava das dezoito às vinte e duashoras. Na Cidade havia dois Bancos e o comércio giravaem torno dos Agentes compradores de cacau e dasfazendas existentes no município, além da feira livre quefuncionava aos sábados. Nos dias de feira, a populaçãoaumentava bastante e era grande o vai-e-vem depessoas, carroças e caminhões cheios de gente. Tropaschegavam carregadas de cacau e saíam carregadas demercadorias, para abastecer os armazéns nas diversasfazendas. O congestionamento era grande no centro dacidade e as lojas vendiam de tudo: Perfumes franceses,como Dior, Chanel e o inglês Bond Street, além de

casemira inglesa, fina cambraia de linho belga, seda pura, “voil” suíço e o inesquecível linho diagonal branco, “YorkStreet 00”, para os ternos sob encomenda.Comerciantes,fazendeiros e agentes compradores de cacau usavamRolex, Omega, Cyma ou Mido. Os Carnavais erammemoráveis e o Clube Social de Coaraci era o local onde aspessoas tinham a oportunidade de exibir suas melhoresroupas e suas joias mais caras, bem como de apresentaros filhos adolescentes e as filhas debutantes. Muitosestudavam em Salvador, outros em Jaguaquara. ADelegacia de Polícia tinha pouco o que fazer. Não havialadrões e os assassinatos eram raros, mas ocorriam.Estupros? Nem pensar! A segurança da cidade estava nasmãos do Delegado, seis soldados e dois agentes civis,denominados inspetores. Os inspetores eram homens

fortes e violentos que praticavam injustiças acobertadospela auréola de “autoridade” e pela certeza da impunidadedos seus atos! Surravam e torturavam, usavam métodosextremos e medievais para provocar a dor e…estupravam, adultas e jovens (só eles “podiam”!).

como cassetete! Aí está a origem do seu apelido: Val doChicote e depois, apenas Chicote!A Rua Primeiro de Janeiro, no outro lado do rio, era muitoanimada nas noites de Sábado. Era lá que estavam osbordéis, os cabarés e as casas de jogos. Vinham mulheresde Jequié, Ipiaú, Feira de Santana e Vitória da Conquista.As cafetinas viajavam para fazer a seleção de garotas dedezesseis a vinte anos… Eram as mais lucrativas! Asociedade era fortemente preconceituosa e não via taismulheres ou as proprietárias de bordéis com bons olhos.Por isso, para circular pelo comércio e pelas lojas, elastinham que se trajar e se comportar discretamente paranão chamar a atenção.Eu estava cursando o Segundo Grau no Ginásio local,

quando chegaram dois rapazes – irmãos gêmeos – vindosda Fazenda Lagoa da Taquara, a quarenta quilômetros deCoaraci. Já eram adultos quando se matricularam.Haviam estudado na Escola mantida pela fazenda ondenasceram, viveram e trabalharam.

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Aconteceu em Coaraci

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. Por isso, para circular pelo comércio e pelas lojas, elastinham que se trajar e se comportar discretamente paranão chamar a atenção.Eu estava cursando o Segundo Grau no Ginásio local,quando chegaram dois rapazes – irmãos gêmeos – vindosda Fazenda Lagoa da Taquara, a quarenta quilômetros deCoaraci. Já eram adultos quando se matricularam.Haviam estudado na Escola mantida pela fazenda ondenasceram, viveram e trabalharam.

OS GÊMEOSAmbrósio e Ambrosino – Era muito difícil saber quem eraquem, devido à impressionante semelhança entre os dois.Morenos, cabelos negros e lisos, altos e fortes; eram doisbelos rapazes que despertavam nas mulheres, sonhos efantasias. Acostumados ao trabalho pesado na fazenda,desde cedo expostos ao sol e à chuva, lidando com gado,cavalos e burros, rachando lenha ou subindo e descendoladeiras na mata e na roça de cacau, desde o romper daaurora até o anoitecer, forjaram físicos invejáveis para osseus dezoito anos. As despesas de manutenção dos dois,eram garantidas pela generosa mesada vinda de suamadrinha, a proprietária da Fazenda Lagoa da Taquara.O treinador da equipe de futebol e professor de educaçãofísica do Ginásio, ficou impressionado quando colocou os

dois no time. Se destacaram e chamaram a atenção:Ambrósio como atacante e Ambrosino como goleiro. Asvitórias da equipe eram, em sua maioria, atribuídas àdestreza e competência da dupla. Para poder distingui-los, só depois que colocavam os uniformes: Camisa 9 deatacante para Ambrósio e uniforme de goleiro paraAmbrosino. Quando tiravam as camisas, a confusãovoltava e ninguém sabia quem era Ambrosino ou quemera Ambrósio! Cedo os dois se destacaram como ótimoscolegas no Ginásio, companheiros e amigos de moças erapazes, sendo requisitados nos aniversários e nos bailesdo Clube Social. Chamavam a atenção pela incrívelsemelhança e se divertiam confundindo as garotas que osassediavam.

INGRID

Alta e bem feita, tinha longos cabelos loiros e olhos azuis.A sua beleza chamava a atenção, onde quer que fosse!Aos dezesseis anos fazia parte do grupo de prostitutasrecém chegado de Ipiaú e Vitória da Conquista, para

 “enfeitar” o Cabaré da Rua Primeiro de Janeiro. Entrou na “A Paulicéia” e dirigiu-se ao balcão dos cosméticos eperfumes franceses. O balconista estava atendendo aAmbrósio que, ao ver a moça e impressionado com a suabeleza, cedeu-lhe a vez de ser atendida primeiro. Ao sairda loja, viu um belo rapaz moreno que vinha em suadireção… Ela o encarou, empalideceu e desmaiou, sendoimediatamente amparada por Ambrosino, antes que seestatelasse no chão! Ambrosino levou-a no colo paradentro da loja, colocou-a numa cadeira e deu-lhe água.Refeita do susto e ainda sem acreditar no que estavavendo, olhava de um para o outro sem entender tamanhasemelhança.

 “Desculpem pelo transtorno, ao vê-lo quando saí da loja,pensei que era o outro. Não sabia que eram dois! SouIngrid.” Disse, segurando as mãos dos rapazes, com ocoração aos pulos. “Como são lindos, meu Deus… E sãodois!” Pensou.  “Prazer, Ambrosino.”   “Prazer, Ambrósio.” 

TRÊS DIAS DEPOIS “Como é, estão prontos?” Perguntou Luiz entrando, juntocom Augusto, no quarto dos rapazes no Pensionato Vascoda Gama, na Rua Dois de Julho. “Hoje chegou de Itabunaum ótimo conjunto musical para alegrar o fim de semana.A boate vai estar lotada de gente bonita! Vai serinaugurado o novo gerador!”Calças jeans e camisa polo

branca. Calças jeans e camisa polo preta. Quem usavacamisa branca e quem usava camisa preta? Rindo ecantarolando, os quatro amigos enfrentaram a noiteescura, em direção à Primeiro de Janeiro.

Eram vinte e duas horas quando entraram na BoateCrystal, dirigindo-se imediatamente ao guichê para acompra dos bilhetes que davam direito à escolha de umaparceira para dançar. A escolhida recebia o bilhete edepois o resgatava, ganhando trinta por cento do valorimpresso e cinquenta por cento, de dez bilhetes emdiante. A Boate tinha um lustre de cristal pendurado nocentro do teto, com mais de trinta lâmpadas coloridas.Havia também, no andar superior, oito quartos e seissuítes. Os quartos eram alugados pelas cafetinas paraservir de alojamento para as garotas que traziam de fora eas suítes eram alugadas por comerciantes, agentes decacau, fazendeiros ou profissionais liberais, ondehospedavam por sua conta, as mulheres mais bonitas poreles escolhidas, passando a ser seus “Protetores”. As queestivessem sob a “proteção” de alguém, eram exclusivas eintocáveis… Como se lhe pertencesse, durante esseperíodo. Poderiam dançar se o seu “dono” permitisse!Além da garantia do pagamento das despesas pessoais,elas tinham generosas mesadas e proteção física.Ninguém mexia com mulheres que estivessem sob a

 “proteção” de alguém. Era muito perigoso!O PROTETOR 

Roque era um belo e rico rapaz de uns vinte e sete anos.

Adorava cavalos de raça e estava acostumado a domá-los.Caía e levantava com destreza, tornando a montar, atémostrar “quem mandava no pedaço!” Diamond, um belocavalo negro de três anos de idade, da raça “Quarto deMilha”, era o seu favorito. Roque gostava de exibir a nova– e cara – sela que acabara de adquirir, em sua últimaviagem a Las Vegas, onde Diamond “arrancou” uma Taçacomo participante do “Grande Prêmio de Nevada paraQuarto de Milha”. Roque vivia com os pais numa grandefazenda de gado e criação de cavalos, no Vale do Rio doOuro, a cinquenta quilômetros de Coaraci, onde mantinhaum bem cuidado Haras. Colecionava selas que trazia dosEstados Unidos, sempre que participava de campeonatose torneios, principalmente em Nevada, Arizona ouCalifórnia. A Sala de visitas da casa da fazenda era cheia

de troféus. Sempre que vinha a Coaraci, ficava hospedadona casa do seu tio, o Delegado, onde se encontrava com oseu melhor amigo… O Inspetor Chicote! Roque era o

 “protetor” de Ingrid.. Cabelos soltos caindo nos ombros, saia preta e blusa deseda estampada de azul e branco, Ingrid parou no meio daescada, apreciando o salão. De repente, seu coração deuum salto ao observar, numa mesa de canto, Ambrosino(ou Ambrósio?) junto com amigos. A boca seca, o coraçãodisparado… Estava apaixonada!… Por quem?! Ambrósio,sentado de costas, sentiu um suave perfume francês euma pequena mão que lhe tocava o ombro. “Ingrid! Prazerem revê-la. Existe alguém que não para de falar o seunome!”   “Estou de passagem. Breve retorno à Vitória daConquista, onde moro.” 

 “Podemos dançar?” Confusa, Ingrid virou-se e deu de caracom… Ambrosino (camisa preta). Segurando-lhe a mão,ele dirigiu-se à pista de dança e começaram os primeirospassos de “Vereda Tropical” e logo após, “Besame Mucho”.O casal dançava bem, curtindo o momento de emoção e oromantismo da bela canção. Ingrid sentia as pernastrôpegas pela emoção… Nunca se apaixonara antes!Chorava e sorria de felicidade! Fechou os olhos e seabandonou num longo e infinito beijo! “Vou morrer detanto amor!” Pensou.Enlevados pelo sentimento que os unia, sob a luz difusa dosalão, o casal não viu que dois homens se aproximavam.De repente Ambrosino sentiu que a moça, após receberum brutal soco no rosto, foi arrancada violentamente dosseus braços e, como um trapo, atirada sem dó nem

piedade, sobre uma mesa, estatelando-se nos primeirosdegraus da escada de granito, numa pose grotesca! Apósreceber por trás, vários e violentos socos na altura dosrins, Ambrosino foi jogado ao chão, mas antes de

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,completar a queda, recebeu um impiedoso soco noestômago desfechado por Chicote, que acompanhavaRoque. De um salto, Ambrósio pendurou-se no lustre edesfechou, com os pés juntos, um fortíssimo golpe nacara de Roque, quebrando-lhe o nariz, os dentes efraturando-lhe o maxilar. Vendo Roque prostrado e seesvaindo em sangue, Chicote virou-se para acudi-lo,recebendo um poderoso soco no baixo ventre e outroimediatamente no pomo de Adão, que o deixou sem ar esem fala. Para completar Ambrósio desfechou, sem dónem piedade, um chute nos testículos, fazendo Chicote,com as duas mãos entre as pernas, prostrar-se de joelhos,com a boca escancarada pela dor. Com os olhosarregalados, viu Ambrosino se aproximar segurando umaperna de cadeira. Indefeso, foi o jeito curtir a violentapancada no pé do ouvido e cair de cara no chão. Tentavase levantar segurando o cabo do chicote, quandoentraram seis policiais que, depois de muita luta,conseguiram dominar os dois irmãos, algemá-los econduzi-los para a viatura, debaixo de agressões e deviolentas chicotadas, que transformavam as camisas dosdois em farrapos ensanguentados! Em poucos minutos asviaturas foram tragadas pela noite escura, tomandodestino ignorado. Dentro dos veículos, além dos policiais,

estavam Ingrid (aparentemente desmaiada), os gêmeose Roque, que permanecia desacordado. Como a moça iaem outro carro, os rapazes não sabiam que ela já estavamorta. Ingrid morreu instantaneamente ao se chocarcontra os degraus da escada e ter seccionada a carótida equebrado o pescoço.Após enterrar o corpo da moça sob uma enorme cajazeira,a caminho da fazenda de Roque, os homens recolocaramcuidadosamente o tapete de grama que haviam retirado,fazendo com que desaparecessem completamentequalquer sinal de que ali houvesse sido enterrado algumcorpo. Espalharam algumas pedras, galhos e troncosapodrecidos para completar o cenário. Encerrada amacabra tarefa, o grupo de policiais prosseguiu por maisdois quilômetros pela estrada de barro, até encontrar os

companheiros do primeiro carro.Os dois rapazes, nus e semi desmaiados, estavampendurados pelos pulsos, numa das traves do barracão,construído no meio do pasto como ponto de apoio nostreinos dos cavalos. Chicote, com a cara ensanguentadadepois que perdera todos os dentes da frente, continuavaa castigá-los impiedosamente, enquanto Roque, com orosto desfigurado, estava sentado num tamboreterecostado na parede. Ao seu lado, deitado no chão, umsoldado gemia de dor com um olho vazado e um braçoquebrado em dois lugares. Os rapazes, que haviamperdido muito sangue, não mais reagiam… estariammortos?!Colocaram Roque no banco da frente de um doscarros e os corpos dos rapazes na carroceria do outroveículo cabine dupla, ainda despidos, e seguiram para ohospital a pedido de Roque, quase desmaiando.A esburacada estrada de barro para Itabuna não ajudavae fazia Roque e o soldado gritarem de dor a cadasolavanco. Perto de Itajuípe, enquanto o carro de Roqueprosseguia, o outro entrou por uma estreita e abandonadaestrada secundária, dentro de uma roça de cacau e, a unsdois quilômetros, largaram os gêmeos numa pequenaravina, considerando que, se ainda estivessem vivos, nãodurariam muito. Chuviscava e o vento frio fazia dançar oescuro matagal. Por um capricho do destino, Abel eNonato, dois veteranos serradores, empregados daFazenda Lagoa da Taquara, que estavam há três dias namata à procura de madeira de lei, resolveram retornarpara casa, justamente pela estrada pouco usada, mas queencurtava o caminho. O sol despontava tingindo o céu devermelho, antes carregado e escuro. Os dois homens

pararam ao ouvir nitidamente gemidos que vinham dedetrás de uma grande pedreira coberta de exuberantevegetação. Assustaram-se com a cena macabra queviram: Com o corpo ensanguentado, o rosto desfigurado e

e irreconhecível, um homem nu recostado na pedragemia, enquanto mantinha sobre os joelhos a cabeça deoutro homem, também completamente nu e não menosmaltratado. Os dois serradores, apavorados com o queviam, se aproximaram e ouviram: “Ajudem!… Ajudem!Avisem Lagoa da Taquara… Água… água!” Os dois seentreolharam… “Parece os mabaços!” A dona da Lagoa da Taquara, permanecia calada dentro daambulância que seguia em direção ao Aeroporto de Ilhéuslevando, com o maior cuidado, os dois irmãos que iriamem avião da Cruzeiro do Sul – fretado em nome daFazenda Lagoa da Taquara – para tratamento no melhor emais moderno hospital do Rio de Janeiro.

QUATRO ANOS SE PASSARAM…O que aconteceu aos gêmeos e à pequena Ingrid, nãorepercutiu na sociedade coaraciense! O fato eracorriqueiro entre policiais e “arruaceiros de fim-de-semana”, principalmente nas noites de sábado e domingoquando, não só em Coaraci como em qualquer outracidade da Região Cacaueira, os fins de semana eramextremamente movimentados, principalmente nas ruasdo chamado “Baixo Meretrício”, que fervilhavam de gentede todas as classes sociais, vestindo suas melhoresroupas e com dinheiro para gastar com jogo, mulheres e

bebidas! A Polícia rondava, prendia e recolhia aos porõesda cadeia onde batia e surrava, sem dó nem piedade, “osperturbadores da ordem!” Muitos colegas do Ginásio deCoaraci, principalmente os que compunham as equipesesportivas e as garotas, sentiram a falta dos gêmeos, maslogo os esqueceram, ao saberem que haviam se mudadopara o Rio de Janeiro. Poucos souberam o verdadeiromotivo da “mudança”. Naquela época a morte de uma prostituta não chamava aatenção de ninguém e a polícia considerava como “casocorriqueiro”, devido ao fato de serem pessoas anônimas,que se escondiam atrás de alcunhas e pseudônimos.Ninguém sabia sua real origem, cidade ou família. Elasfaziam questão de manter em segredo tais informaçõespessoais! Quando adoeciam eram abandonadas à míngua

e quando morriam (geralmente assassinadas), eramenterradas como indigentes… E caso encerrado!Os costumes familiares eram rígidos em relação à criaçãodas filhas. Os pais costumavam expulsar a filha que

 “sujasse o bom nome da família”, bastando “perder avirgindade” – casava obrigada ou era expulsa de casa! Foio que aconteceu com a menina Ingrid, que foi expulsa aosquatorze anos e, para sobreviver, se tornou umaprostituta, mudou de cidade e adotou um novo nome parase esconder da família e de conhecidos.

O REBOTALHOÉramos quatro amigos (Eu, Genilson, Gatipan e Joel) aoredor de uma mesa, tomando sorvete de frutas no EliteBar – Centro de Coaraci. Ficamos em silêncio enquantoobservávamos um homem que, com o corpogrotescamente arqueado e arrastando os pés comdificuldade, atravessava a Praça. Aparentava um precoceenvelhecimento, para a sua verdadeira idade, cerca dequarenta e seis anos. Joel, você foi o salvador daquelehomem! Conte para nós, o que você sabe de sua história…E Joel narrou o seguinte:Há cerca de seis meses, por volta das duas da manhã deuma noite sem lua, eu vinha de Ilhéus e no trecho entreBandeira do Almada e União Queimada, meu carroenguiçou. Na beira da estrada, havia um terreno gramadoe com um belíssimo céu estrelado, só me restava forraruma lona, deitar e aguardar… Foi o que fiz. O silêncio e osentimento de solidão eram quase palpáveis! As horas searrastavam… De repente ouvi um longo gemido… Umurro! Logo a seguir, gritos lancinantes de dor e desespero,como se alguém estivesse sendo esganado! Silêncio… Os

minutos se arrastavam lentamente… Novamente, gritoshorríveis, lamentos e gemidos de arrepiar qualquercristão! Trêmulo e molhado de suor, corri para dentro docarro… Silêncio…

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carro… Silêncio…Confesso que fiquei apavorado! Abri o porta luvas pegueia lanterna, o revolver e um facão que estava debaixo dobanco e resolvi ir conferir. As minhas pernas tremiam e eusuava nas axilas. Assombração? Não tenho medo, apesarda ansiedade e do tremor insistente por todo o corpo! Subio barranco e com o facão afastando matos e galhos, seguipor um estreito caminho dentro da negra escuridão daroça de cacau. Andei por uns cinquenta metros enovamente ouvi urros estarrecedores… Gente, me deuvontade de voltar correndo… Era assustador! Pus o facãona bainha e segurando o revolver na mão direita e alanterna na esquerda, continuei. Os gemidos agora erambaixos, entrecortados de lamentos tristes, dolorosos…Olhei ao redor… Escuridão… Farfalhar do matagal ao sabordo vento. Solidão e silêncio. De repente, um urrolancinante e estarrecedor bem à minha esquerda, a unsdez metros. Apavorado caí e saí rolando no chão úmido efofo de folhas apodrecidas. Parei a apenas dois metros… Alanterna acesa iluminou de cheio a cena mais apavorantee dantesca que já vi!Oh! Deus, o que é aquilo? Onde estou?Não, não era assombração! Era… O que restou de um serhumano: Os braços esticados e presos aos troncos de

duas árvores, uma de cada lado, com arame farpadocruelmente torcido com alicate. O corpo despido e todoretalhado a chicotadas, era mantido ereto por um grossorelho de couro cru em volta do peito, passando por baixodos braços e preso a um galho a uns dois palmos acima dacabeça; o rosto incrivelmente inchado e deformado porhorríveis hematomas, a boca aberta mostrava a falta dequase todos os dentes, quebrados a cacetadas e um dosolhos estava vasado, possivelmente a socos. Os ossosdas pernas e dos braços estavam quebrados… Incrível! Asduas mãos estavam sem os dedos… Foram decepados,todos os dedos!!!O sangue gotejava do corpo maltratado, formando umagrande poça embaixo dos seus pés! Muito sangue!Lentamente o foco de luz foi descendo pelo corpo

massacrado… A cena era macabra! Eu estava a um metrodo homem, agora desmaiado… Ou morto? Não. Ao ver aluz, deu um curto gemido. Quem seria aquele homem,cuja cabeça estava raspada a zero? O foco continuoudescendo, enquanto eu, trêmulo e com a boca seca, tomeinovo susto: A genitália! Meu Deus, o que fizeram? O pênishavia sido mutilado até a metade e os testículos… Tive queter muita coragem para continuar com a luz acesa. Haviauma grande pedra atada com arame farpado a doispalmos do chão, esticando e fazendo o saco chegar a umestado de dilatação que parecia que continha dois cocosde catolé! O que quer que tenha feito, esse homem pagoucaro! Se sobreviver, não passará de um rebotalho peloresto dos seus dias! Pensei, com dó no coração. O homemgemeu mais uma vez e me fez ver que aquilo não era umpesadelo! Lentamente voltei para a estrada e encontreiJoca (o serralheiro), que assustou-se ao me ver saindo domatagal com uma lanterna e um revolver. “Joel, o quehouve? Vi seu carro e parei para verificar… Você quer mematar do coração?”  “Me dê uma carona e a caminho da Delegacia eu lhe contoo que vi!” Nunca se soube quem foram os autores daquele crime. Avítima também nunca falou nada a respeito. Nem com aPolícia, que investigou e nada descobriu! Lentamente ohomem foi se afastando, dando cada passada com muitosacrifício, até desaparecer em direção à Praça da Feira.

 “Repararam a boina preta e os óculos escuros? Até hápouco tempo era conhecido como o temido e valenteInspetor Chicote! Foram centenas as vítimas de suascrueldades. Muitos sobreviveram… Muitos pereceram sob

os vários recursos que usava para matar: O Ringue, afaca, a Luger Parabellum, o Chicote e as torturas!” 

“AMBRÓSIO & AMBROSINO – ADVOGADOSASSOCIADOS” (Direito Internacional

Era 1976, eu trabalhava no Departamento de AssuntosExternos do Grupo Intercontinental, no Rio de Janeiro.Sobre a minha mesa um memorando: “Pegar os Contratosno escritório de advocacia, no 34º Andar do EdifícioAvenida Central.” Dr. Ambrósio levantou e nos abraçamos como velhosamigos. “Quase vinte anos. Nos apaixonamos pelo Rio eaqui ficamos! Meu irmão está em Bruxelas a serviço doEscritório.” O Escritório era amplo e luxuoso, empregandomais de vinte profissionais das mais diversas áreas doDireito. Uma das paredes do Escritório era forrada emlambris de jacarandá, onde estavam expostos váriosobjetos: Lembranças, prêmios, diplomas internacionais etroféus. Um deles me chamou a atenção: Tratava-se deum lindo quadro (0,90cm X 0,60cm) com moldura demadeira e fundo em veludo vermelho, onde se encontravaum bastão de jacarandá de uns quarenta centímetros,ornado de grossas argolas de prata lavrada, tendo naextremidade uma enorme caveira, também de prata, dotamanho de uma pera! Vendo-me parado diante doquadro, o advogado pôs o braço em meus ombros e meexplicou: “Isto é o que restou de um Chicote!” FIM.Ivo B Ramos – Limão mirim – Crônicas da Vida Real

Mar/2013. Obs.: A crônica foi publicada originalmentecom o título “Aconteceu em Coaraci”, que foi mudado para

 “Os gêmeos”. Nomes, lugares e situações, são frutos daimaginação do autor. Se alguém identificar nomes,lugares e situações, é mera coincidência.

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Feliz 2016

Si i f i l l i / i

O sonho já começou

Foto da fachada do Ginásio de Esportes Terra do Sol

Olimpíada 2016 é do Brasil

Imagem da contra-capa: Matriz da Igreja Católica Nossa Senhora de Lourdes com pintura parcial na sua fachada, uma obra bancada pelo fieis da Igreja. Dezembro 2015 - Capturada Iphone PSNS.