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COARACI - TERRA DO SOL 43º CADERNO CULTURAL DE COARACI 02 de Julho, 191 anos de Independência da Bahia e do Brasil JULHO DE 2014 - 22.500 DISTRIBUÍDOS - 500 EXEMPLARES MENSAIS EDIÇÃO ESPECIAL, A SAGA DO CACAU NA BAHIA E COPA DO MUNDO NO BRASIL!

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Page 1: 43 Caderno Cultural de Coaraci 3

paulo

COARACI - TERRA DO SOL43º CADERNO CULTURAL DE COARACI02 de Julho, 191 anos de Independência da Bahia e do Brasil

JULHO DE 2014 - 22 .500 DISTRIBUÍDOS - 500 EXEMPLARES MENSAIS

EDIÇÃO ESPECIAL,

A SAGA DO CACAU NA BAHIA E

COPA DO MUNDO NO BRASIL!

Page 2: 43 Caderno Cultural de Coaraci 3

Capa, projeto gráfico, diagramação editoração e artefinalização PauloSNSantana

Impressão Gráfica GRÁFICA MAIS

Trabalhe conosco Caderno Cultural de Coaraci - (73)8121-8056/(73)3241-2405

Cartas a redação [email protected]

Para anunciar

Alguns textos publicados no Caderno Cultural são adaptados por [email protected]

O ESPORTE NA VIDA: VIDA SOCIAL E POLÍTICAPe. Laudelino José Neto

Estamos sediando pela segunda vez uma Copa do Mundo! Na primeira vez eu nem era nascido. Hoje sou torcedor e brasileiro! A Seleção do Brasil é uma das poucas a participar de todas as copas já realizadas! Isso é bom e bem sabemos como o esporte faz parte da vida humana desde as suas origens. Competir esportivamente faz parte da formação do caráter humano e ajuda na sua formação social e política.

Somos marcados pela euforia e pelas manifestações em favor da Seleção Brasileira em todos os tempos e em todos os lugares. Somos Pentacampeões nesta competição mundial do futebol, esporte que envolve a vida de muitos brasileiros através de seus clubes espalhados por todo Brasil. Futebol e Brasil se confundem. Pena que não podemos dizer a mesma coisa entre Brasil e Política. Somos marcados por uma série de politicagens que nos deixam em situação de lanterninhas em relação a outras nações. Infelizmente somos um povo sem educação política! E isso reflete no nosso cotidiano. Como faz falta, atitudes políticas que demonstrem o quanto somos Povo, Nação, Brasil... E quanto o Verde e Amarelo nos congregam em torno de melhorias que poderiam vir se cobrássemos e se tivéssemos a unidade da torcida futebolística em cobranças na educação, na saúde, na habitação, nos direitos que nos são retirados pela corrupção e pela politicagem... Isso sim deveria gerar protestos.

As atitudes dos mascarados e daqueles que se infiltram em meio às manifestações são lamentáveis. E mostram a forma oculta/mascarada dos politiqueiros. Assim como as palavras desrespeitosas dirigidas a Nossa Presidente, não cabem em nenhum lugar e demonstram o quanto necessitamos de uma educação política. Mesmo porque não podemos desconhecer o quanto são falsas essas criticas em relação à Copa Mundial realizada aqui no Brasil! E que não coincidem com a realidade! Devemos criticar sim a falta de educação política e até a nossa atitude passiva diante dos problemas graves que nos assolam. Não é difícil acreditar que essas badernas e quebra-quebras estão sendo financiadas e movimentadas pelos politiqueiros que deveriam saber o quanto ser brasileiro é muito mais que o futebol, mas que o futebol faz parte da vida sócio-politica-econômica-religiosa de cada Brasileiro! Ou ainda, eles deveriam estar mais preocupados com os brasileiros e menos com aquilo que retiram através da corrupção e da super valorização de obras e projetos que trariam benefícios para todos. E por isso mesmo são politiqueiros e não políticos. Eles buscam benefícios próprios quando deveriam buscar o bem de cada Brasileiro, da Nação!

Pra frente Brasil e depois desse evento que motiva a nossa participação, se formos hexacampeões: Viva! Mais não vamos nos contentar com isso. Vamos nos unir numa torcida política pela cobrança daquilo que temos direito em termo de educação, bem estar, saúde, habitação, estradas, lazer, segurança... Aí sim o hexacampeonato vai demonstra que somos a Nação Verde e Amarelo, pela esperança de dias melhores que construiremos e pela grandeza de sermos ricos de dignidade e respeito que esta faltando nessas manifestações politiqueiras! Pra frente Brasil, não vamos nos contentar nunca com aquilo que querem nos impor... Vamos construir uma Pátria Livre e Amada por todos! Mesmo porque se nos unirmos vamos ensinar aos politiqueiros o que é a Política! E o que deve ser um Governo Político: cuidando do bem comum, do bem de

A

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TIANOJustiniano Francisco Cunha

Texto adaptado por PauloSNSantana

Justiniano Francisco Cunha chegou à região em 1913 logo adquirindo boa área de mata com aproximadamente quatro tarefas, dez hectares produzindo cacau. A área possuía relevo bastante irregular era situada nas proximidades de um pequeno acampamento conhecido como Garganta. Tiano como era carinhosamente chamado aos poucos foi transformando sua roça numa produtiva fazenda composta de uma confortável sede, várias outras para trabalhadores, cochos muitas barcaças, casa de farinha, currais, armazém e estufa para garantir a secagem rápida de sua grande produção. Por comodidade suas tropas saiam em direção a Itabuna tomando o sentido sul e logo após o sentido leste, aproveitando trilhas existentes nos contrafortes de diversas serras na época chamadas de Pedra Lascada, Isabel e Pedra Redonda, numa penosa jornada que chegava a durar até uma semana entre a ida e a volta. Tiano casou-se com a Dona Honorina Cunha, de cuja união teve 13 filhos nascidos sob a responsabilidade da parteira Dona Maria Barros: Raimundo, José, Manoel, Ildefonso, Wilson, José Francisco, Hilda, Maria, Doralice, Josefina, Adélia, Alaíde, e Braulina.

Tiano antes de dirigir-se à região cacaueira analisou terras em Vitória da Conquista e Santo Antônio de Jesus. Chegou a produzir dez mil arrobas de cacau distribuídas numa área de cento e sessenta hectares onde se tornaram tradicionais as grandes festas, sempre com forte presença dos coaracienses que para lá se deslocavam à espera de seus concorridos churrascos e grandes almoços sempre com abate de um boi. Fazendo parte desse calendário estavam as comemorações juninas estendidas até São Pedro onde a fartura era uma rotina. Todas essas alegrias foram esquecidas quando Tiano sentindo os primeiros problemas de saúde fez muitas viagens a Salvador a procura dos melhores especialistas.

A partir daí um grande número de coaracienses se mantiveram presentes em torno de sua residência aguardando informações sobre o seu estado de saúde, enquanto levava forças a família. Tiano nunca se afastou de seus chinelos de bico fechado e muito menos de seus suspensórios que puxavam as calças para cima. Dona Honorina faleceu no dia 8 de março de 1962. Tiano morreu em 24 de fevereiro de 1955 aos 68 anos de idade ocasionando o mais fechado luto da história do município, confirmado nas missas de sétimo, trigésimo dia e de um ano onde uma profunda

tristeza ainda comovia toda a família. Pesquisa Livro Coaraci U. Sopro de Enock Dias Cerqueira, Pag.70,71.

D . O N O R I N A S . T I A N O

CLARINDO TEIXEIRATexto adaptado por PauloSNSantana

Clarindo Teixeira também foi um dos primeiros

cacauicultores e pecuaristas de nossa região, aonde chegou

em 1906. Foi um coaraciense do mais alto nível e um

batalhador incansável pelos destinos do povoado, até a

consolidação de sua emancipação em 1952, quando

acompanhou todos os atos solenes mesmo com idade

avançada e já aposentado das obrigações com as suas

fazendas. Sua história confunde-se com a própria história

do município e teria conteúdo suficiente para encher as

páginas de um grande livro tal a quantidade de fatos que

produziu em seus incansáveis 70 anos de trabalho. Tinha

um coração maior que o próprio corpo, tal a forma como

resolvia seus problemas e os problemas de seus amigos,

vizinhos e empregados. Ao longo de sua vida chegou a

acumular doze fazendas de cacau e pecuária, ele

desconhecia sol, chuva ou trovoada, e das cinco da manhã

às sete e oito da noite empreendia longas caminhadas a pé

ou no lombo de seus animais visitando todos os cantos de

cada fazenda.

Clarindo acreditou no novo povoado e se tornou no

maior construtor de casas da história de Coaraci. Segundo

algumas pessoas, ultrapassou setecentas casas, segundo

outras bem próximo de novecentas casas entre aquelas

próprias para o comércio e aquelas próprias para

residências. Clarindo não teve filhos com dona Josefa

Eufrásia de Jesus, porém através da sua união com dona

Maria, teve os filhos Severino, Edelzuita e José e com dona

Edite a filha Cristina os filhos Hermes e João. Já com a idade

bastante avançada contraiu núpcias com a professora Maria

Dantas, a dona Sinhá. Clarindo morreu no dia 6 de outubro

de 1961, enchendo de luto a sociedade coaraciense. De

Coaraci recebeu uma homenagem importante, a artéria

entre a Avenida Juracy Magalhães e à Rua Fernando

Machado de Araújo Góes que passou a chamar-se Rua

Clarindo Teixeira.

Pesquisa Livro Coaraci Ultimo Sopro, Autor Enock Dias

Cerqueira.Pag.78

Rua Sete de Setembro, foto do fotografo Abdias Amorim

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PREMIAÇÃO COMPLICADA EM TEMPOS DE ELEIÇÃO

(História escrita por Zé Leal)

Estamos em 1996. Época de eleição municipal. Me desloquei de mala e cuia de Salvador para Coaraci, estimulado por Gentil Figueiredo, para ajudar Dra Sonia Leal minha prima, na fundação do PSC, e consequentemente, abrir caminhos para sua candidatura, o que não aconteceu, já que optamos em a p o i a r C a r l o s Fe r n a n d e s . Infelizmente, não tivemos êxito na campanha. Política é assim; uns ganham outros perdem. Perdemos, mas não f izemos nenhuma inimizade. Respeitamos o resultado das urnas com tranqüilidade.Durante a campanha, realizamos comícios, e fizemos também visitas a todos distritos e povoados do município, na tentativa de convencer o eleitorado que a nossa proposta era melhor, etc.Não conseguimos.Numa dessas visitas, resolvemos realizar um jogo de futebol no povoado da Lagoa, entre um time de Coaraci, formado por simpatizantes de nossa campanha, que enfrentou a seleção da Lagoa.Ao final, a equipe vencedora receberia um troféu, o f e r e c i d o p o r n o s s o grupo.Estrategicamente, o time visitado deveria levar o troféu, ou seja, vencer o jogo, afinal, queríamos fazer um mimo aos nossos corre l ig ionár ios . E se nós vencêssemos o jogo?Isso não poderia acontecer. A solução seria arrumar um juiz que nos ajudasse no êxito daquela missão. Surgiu um nome; Bal. Fomos falar com ele, que surpreso disse...”eu vou ter que ajudar um time a perder?”e continuou...”, mas se é para ajudar nossa campanha, vou ver o que posso fazer”. Começou o jogo, tiro indireto toda hora, gol anulado de Coaraci, impedimento inexistente, primeiro tempo 0 x 0. Bal me disse “Zé Leal, tá difícil, o time é muito fraco”. Começou o segundo tempo, a mesma coisa. Os jogadores de Coaraci começaram a estranhar o juiz, reclamando demais, um jogador foi expulso, e nada de gol. Quando faltavam 10 minutos para acabar o tempo regulamentar, Bal encerrou a partida, alegando que já estava escuro. Ainda estava muito claro quando ele me disse:

-não da para aguentar mais, o risco de sair um gol é muito grande. O jogo terminou empatado em 0x0. Os patrocinadores do evento então decidiram entregar o troféu ao time local, que comemorou a conquista até altas horas.

Na apuração das eleições, perdemos na Lagoa. O troféu não ajudou em nada. Que loucura.

CHIQUINHO DO PÃOTexto adaptado de PauloSNSantana

Com o crescimento da população uma figura se tornou folclórica nas ruas do distrito, chamava-se Francisco, era um padeiro que passava no inicio das tardes pelas principais ruas de Coaraci levando na cabeça um grande cesto cheio de pães, que eram oferecidos através da frase; "olha a massa, olha a massa”. Francisco só era conhecido por Chiquinho do Pão. Mais em outras horas do dia, era visto vendendo água potável, conduzida em cangalhas nos lombos de jumentos. Ele oferecia o produto gritando: “olha a água, olha a água”. Era água cristalina e doce, comercializada em carotes, captada de uma fonte próxima ao Bairro da Colina. Chiquinho vivia em companhia de uma mulher negra, muito brava, decidida e sistemática, que costumava aplicar corretivos quando ele saia da linha. Dizem as más linguas que chegava a surrá-lo. Fonte Coaraci Ultimo Sopro. pg.125

C A D E R N O TEMPO PRA FALAR!Pesquisa e Texto de PauloSNSantana

Antigamente no povoado de Itacaré e algumas fazendas da região, tudo era motivo para enxurradas de comentários, expostos e discutidos em rodinhas de bate papo: a política, os filmes, o cinema, o futebol do Rio e de São Paulo, fofocas, fuxicos, eram difundidos rapidamente nas periferias, nas portas das vendas, dos botecos espalhados em todo o povoado e até nas estradas, onde se encontrava facilmente tamboretes, fixados na terra, próximos a alguma casa ou ponto comercial, onde os repórteres do povo encontravam-se para prolongarem-se em um bate papo corriqueiro, acompanhado de cigarros de palha, cafezinhos, e cachaça destilada. Havia muito disse me disse, discussões e brigas por causa dos mal- entendidos. Os linguarudos escarafunjavam fatos polêmicos com se fossem espiões, e espalhavam pelos quatro cantos do povoado, daí estouravam brigas homéricas e quase sempre com sequelas: perda de dentes, de dedos, de uma das orelhas, e até língua decepada. Em Itacaré do Almada haviam vários locais de onde se conseguia pescar uma centena de fatos e causos escabrosos:

A área do projeto da Praça Getúlio Vargas, a travessia Pau de Peri, o Ginásio, a porta do Cinema, os bares e barracas de bebidas, a Pracinha da Igreja Católica, as Fazendas, as arquibancadas do campo de futebol, os clubes, etc. Um dos pontos mais antigos foi a “Boca da Conversa”, mas ainda hoje é assim, e sempre vai haver um recanto, um lugarzinho para se falar da vida dos outros.

LOURIVAL MELO

Texto adaptado por PauloSNSantana.

A familia de Lourival Melo constituiu-se em um grande patrimônio de Coaraci, chegaram aqui em 1940, vindos da região de Pouso Alegre. Lourival era irmão de Jonas de Souza Melo, Gildete, Maria da Glória e Maria de Lourdes e eram filhos de José Torquato Melo, e Merandolina Marcelino de Souza conhecida por Dona Loura. Possuiu fazendas em Pouso Alegre, no Rio do Ouro, e em Brejo Mole, adquiriu nos arredores de C o a r a c i f a z e n d a s pertencentes Antônio Teixeira e a Elias Leal, na estrada de Almadina. Lourival faleceu em abril de 1995 deixando os filhos Veridiano, Joelson, José, Itamar, Raimunda, e Marrúbia, e a esposa, Dona Judite Santos.Fonte:Livro Coaraci Ultimo Sopro de Enock Dias Cerqueira.

C U L T U R A L

UM HOMEM E UM BANCO - Os nomes das personagens são fictícios.Antônio Sousa, um coaraciense, precisava resolver

problemas financeiros da família com o Banco da Bahia, viajou até Salvador, mas quando chegou ao Banco, o Gerente não deu a mínima aos seus problemas e não o atendeu bem. Ele retornou a Coaraci e dias depois retornou ao Banco, e como da primeira vez, não foi bem recebido pelo Gerente, não se sabe porque. Ele já estava ficando desestimulado, quando resolveu pedir ajuda ao Doutor Edgardo Cantuária que residia em Ilhéus, foi até a casa do rico Ilheense, que o recebeu bem, pois conhecia o seu Pai já falecido, depois de exposto o problema, o Dr. disse: Rapaz volte ao Banco e apresente este cartão ao Gerente, vamos ver o que acontece. Outra viagem se fez a Salvador, com uma carta fortíssima na manga. Assim que o Gerente o viu, perguntou: O que faz aqui? E ele respondeu: - O senhor quer saber quem me enviou? O Gerente surpreso perguntou, quem?-Ele então apresentou o cartão. O Gerente imediatamente ordenou a um funcionário que o atendesse e resolvesse o problema do cliente da melhor maneira possível. Quanto ao Doutor Ednardo Cantuária, era o maior acionista do Banco da Bahia, e portando o dono do Banco. O gerente foi notificado, e sofreu sanções da empresa e recebeu ordens para entrar em contato com o cliente e desculpar-se. Acredite se quiser!

Ha muitos anos atrás,

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BIOGRAFIA DE ANTONIO BATISTA SCHERE DONA CELCINA CASTRO

Texto de PauloSNSantana

O Pai de Antônio Batista Scher, Senhor Augusto Ferreira Scher, residia na região de Banco Central, ele confiou o destino de seu filho, Antônio Batista Scher, aos dezessete anos, a um amigo, conhecido como Senhor Francisco Coelho Filho, no início da década de 40. Antônio Scher pouco tempo depois conheceu Lourenço Nascimento, com qual fez sólida e duradoura amizade. Lourenço possuía algumas fazendas, uma delas nas Duas Barras, lá testemunhou a dedicação e a disposição do rapaz para o trabalho, ao ponto de avalizar a aquisição da primeira fazenda de Scher.

Scher casou-se em 02 de outubro de 1948, com a Senhorita Celcina, tendo com ela treze filhos. Celcina Castro e Antônio Scher Batista dos Santos sempre residiram na Rua Jaime de Campos Ribeiro na ladeira mais conhecida como rua da favela. Tiveram como filhos: Josefina Castro, José Ruy e Macedônio, Raimundo, Creuza, Silvia Maria, Maria Silvia, Luiz Castro, Márcio Scher, Augusta e o já falecido Eduardo, (pai de Kadu). Dona Celcina ainda tinha vários netos e bisnetos. Muito religiosa sempre esteve presente nos cultos da Igreja Nossa Senhora de Lourdes. Por ser muito fervorosa não se deixou abater, quando seu marido foi brutalmente assassinado no início da década de 90, no cumprimento do dever de delegado de polícia de Coaraci.

Dona Celcina enfrentou sérios problemas de saúde entre eles uma Diabetes. Passou por cirurgias, lutou bravamente pela vida, mas não resistiu às complicações da idade avançada. A triste notícia do seu falecimento chegou em um momento no qual três de seus filhos disputavam as eleições municipais, dois para o cargo de vereador e Josefina para o cargo de prefeita concorrendo à reeleição.

Antônio Scher expandiu seus negócios e aumentou seu patrimônio, adquirindo muitas fazendas em outras regiões distantes, mas nunca se afastou de Coaraci, foi um homem respeitado, sério e exigente, que contribuiu para os avanços da Terra do Sol, da qual foi um verdadeiro “Xerife”, homem que exigiu o cumprimento das leis e da ordem publica. Foi executando as suas atribuições como Delegado Municipal de Coaraci, que perdeu a vida, deixando uma imensa lacuna.

Obstinado pela justiça e pela ordem costumava fazer rondas noturnas, durante a madrugada, sozinho em sua pampa prateada. Era respeitado e temido por bandidos, e por arruaceiros da sociedade, acostumados a fazer das baladas noturnas um circo de violência. Não olhava cara ou situação social quando executava as suas prerrogativas de delegado policial.Colocava no xadrez pobres e ricos indistintamente, caso cometessem crimes contra a sociedade.

Fonte Pesquisa e entrevistas: Livro Coaraci U Sopro de Enock Dias Cerqueira, Pags. 80 e 81 e entrevistas locais.

ZACOWBOY

O CARONA de Miriam Morgan Texto adaptado por PauloSNSantana

—Estou indo em direção ao Centro, você quer carona? —Disse a voz suave vindo de dentro do carro.—Quero sim, pois acho que não tem mais ônibus. —Respondeu Marcos.

Ao sentar, Marcos ficou maravilhado com o luxo do automóvel, que de fora, parecia um carro comum. O carro tinha um painel maravilhoso cheio de novidades, era perfumado e muito espaçoso.Os dois homens foram conversando amenidades. O papo estava tranquilo e o motorista andava devagar. O homem do carro luxuoso ofereceu uma bebida a Marcos, que aceitou agradecendo pela gentileza.O homem continuava falando sobre sua vida e dizia-se solitário.Nisso, Marcos começou a ficar sonolento, suas pálpebras pesavam muito. Ele foi se aconchegando no banco do carro e acabou adormecendo. Pronto, estava dormindo completamente, num sono profundo. O homem entrou com o carro na garagem de uma clínica. No estacionamento, vieram ajudá-lo a tirar Marcos do carro. Horas mais tarde Marcos acordou num banco de jardim, em uma praça deserta, não se lembrava de nada, apenas sentia muita dor nas costas, é que haviam retirado um de seus rins. Acredite se quiser!

O rapaz viajava sempre de carona. Não tinha medo, pois o que ele não queria era andar de ônibus.Conhecia as mais diversas pessoas, de todas as idades, gostos e personalidades.Certa noite, ao sair do serviço muito tarde, apostou voltar para casa pegando a bendita carona.Um carro escuro parou em frente ao rapaz e abriu o vidro.

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A SAGA DO CACAU NA BAHIATexto: Carlos Juliano Barros

Texto adaptado por PauloSNSantanaMarcada no imaginário popular por lendas que retratam o

passado de extravagâncias dos ricos e famigerados coronéis, imortalizados pela literatura de Jorge Amado, o sul da Bahia luta para recuperar o prestígio de tempos atrás da cultura que moldou a identidade da região: o cacau.

Um fazendeiro antes considerado rico procurou um amigo, também cacauicultor, para falar-lhe de um assunto delicado. “Estou precisando de dinheiro e confio na nossa velha amizade na certeza de que você vai me ajudar”, disse o fazendeiro. O amigo relatou que se prontificou a emprestar uma certa quantia, imaginando tratar-se de R$ 10 mil ou R$ 20 mil. “De quanto você precisa?”, indagou, ao que o fazendeiro respondeu, cabeça baixa: “de uns R$ 200. É para fazer a feira semanal lá em casa.”

Parece o enredo de um filme de terror pouco verossímil. Primeiro, os preços no mercado internacional despencaram por conta da grande oferta do produto em outros países, notadamente os da África. A natureza também não colaborou, mandando poucas chuvas e castigando as plantações com a inclemência do sol. Finalmente, como golpe de misericórdia, um fungo vindo da Amazônia sabe-se lá de que maneira, conhecido por “vassoura de bruxa”, apodreceu os frutos e sepultou de vez as esperanças de produtores descapitalizados, que ainda contavam com o bom humor da bolsa de Nova York – responsável pela cotação das commoditties – para salvar a própria pele. O resultado não poderia ser mais desastroso: a queda vertiginosa da safra, associada à baixa rentabilidade, atolou fazendeiros em dívidas e desempregou centenas de milhares de trabalhadores. Em linhas gerais, essa é a triste história a que a região cacaueira da Bahia vem assistindo a partir do final dos anos 80. O Brasil respondia até então pela segunda maior produção mundial, atrás apenas da Costa do Marfim. Hoje, porém, as 163 mil toneladas colhidas em 2003/2004, que colocam o país na quinta posição, são insuficientes inclusive para atender a demanda interna. Marcada no imaginário popular por lendas que retratam o passado de extravagâncias dos ricos e famigerados “coronéis”, imortalizados por Jorge Amado em livros como Terras do Sem Fim e Gabriela, Cravo e Canela, essa área que abrange quase 90 municípios no sul do estado, e que abriga aproximadamente 85% de todo o cacau nacional, atualmente luta para combater a vassoura de bruxa e recuperar o prestígio de tempos atrás.Até os anos 70 – quando a criação do Centro Industrial de Aratu e, principalmente, a instalação do Polo Petroquímico de Camaçari diluíram definitivamente os traços agrícolas da economia baiana – o cacau foi o principal gerador de divisas do estado, responsável por quase 60% de toda a sua arrecadação.Hoje em dia a situação é bem diferente. No porto da principal cidade da região, Ilhéus, por onde já foram exportados mais de US$ 1 bilhão em sacas de cacau, o movimento gira em torno da soja plantada no oeste baiano, além do papel e celulose produzidos quase no limite com o Espírito Santo. Desde 1995, lá também atracam navios da Costa do Marfim e da Indonésia abarrotados de amêndoas importadas por fábricas de moagem pertencentes a multinacionais importantes – como a

americana Cargill e a suíça Barry Callebaut – também localizadas em Ilhéus, que abastecem indústrias de chocolate do mundo inteiro com produtos gerados pelo beneficiamento do cacau.

“Era um orgulho para o produtor chegar a São Paulo ou ao Rio de Janeiro e dizer que trabalhava com esse fruto. Mas, depois da vassoura de bruxa, os cacauicultores viraram motivo de piada. Empobrecemos de uma hora para a outra”, relatou Isidoro Gesteira,presidente do Sindicato Rural de Ilhéus na época. Os números não deixam dúvida sobre o impacto desse fungo. Na safra recorde de 1984/1985, mais de 400 mil toneladas de amêndoas foram colhidas no país. Porém, em apenas 15 anos, esse índice caiu 60%. Recentemente, com o desenvolvimento de técnicas de enxertia de hastes de plantas resistentes à vassoura naquelas que não suportam a doença – também chamada de “clonagem” – pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, as plantações da Bahia vêm timidamente recuperando o fôlego. Mas nada comparável ao esplendor de décadas passadas.

A doença que ataca as árvores deixando suas folhas com o aspecto de uma vassoura de bruxa definitivamente redesenhou a paisagem local. Os coronéis que mandavam e desmandavam são praticamente página virada. “A agricultura familiar responde pela maior parte da produção”, afirmou Gustavo Moura, diretor da Ceplac na época. Além disso, muitos trabalhadores rurais desempregados foram obrigados a buscar emprego nas cidades, inchando importantes centros de turismo nas redondezas, como Porto Seguro. Por outro lado, a crise fortaleceu os movimentos que lutam pela reforma agrária e, em certa medida, democratizou o acesso à terra. Diversos assentamentos foram criados em lotes abandonados por grandes fazendeiros falidos. Na opinião de Moura, “a crise também enxugou o perdulário. Só sobraram os profissionais”.Os números não deixam dúvida sobre o impacto desse fungo.

Crise para unsAntes de partir para Ilhéus, a fim de

modernizar a administração das fazendas de cacau pertencentes à família de sua esposa, Fernando Botelho recebeu um revólver do pai que, com a voz embargada pelo choro, só

Page 7: 43 Caderno Cultural de Coaraci 3

Rua Fernando Mário A.Góes,06

Fones:(73) 3241-1766/8111-6168

CEP:45.638.000 -Coaraci-Bahia

conseguiu dar um conselho ao filho que se aventuraria naquelas terras repletas de histórias violentas: “cuide-se”.

Contudo, pouco tempo depois ele sentiria no bolso os riscos implícitos em qualquer atividade de monocultura. Escritórios em Itabuna, apartamento em Salvador, uma fazenda de gado e outra de cacau. De tudo isso Botelho foi obrigado a se desfazer quando a crise, comandada pela vassoura de bruxa, bateu à sua porta. A produtividade da São José, sua fazenda em Barro Preto, é um bom termômetro para mensurar o declínio no padrão de vida de produtores de médio e grande porte, assim como ele, desde a fulminante aparição do fungo. Em 1979, de cada um dos 212 hectares do imóvel – onde trabalhavam 120 pessoas – saíam quase 65 arrobas de cacau por ano. Com a crise, esse índice não chegava a sofríveis 20 arrobas, e a fazenda passou a ter 18 funcionários. Depois de 1985, Botelho foi obrigado a apertar o cinto e abrir mão de carros do ano e de viagens para o exterior. Ele dizia: “Não sei da vida dos outros, mas devia haver gente que ficou em situação pior”.

O engenheiro carioca foi um dos cacauicultores contemplados pelo programa lançado em 1995 pelo Governo Federal. Nas duas primeiras etapas juntas, Botelho tomou emprestados cerca de R$ 200 mil. E, somando a terceira e a quarta, o volume de recursos repassados a ele pelo Banco do Brasil mais do que dobrou. Porém, a pedra no sapato dos produtores são as dívidas referentes justamente às duas primeiras etapas. As recomendações iniciais dos técnicos da Ceplac para o combate à vassoura de bruxa, que consistiam basicamente no rebaixamento da copa dos cacaueiros, não surtiram o resultado desejado. “Quando se cortava a árvore, ela sentia necessidade de se proteger do sol e lançava mais brotos e folhas. Esses tecidos novos são justamente a área onde o fungo mais ataca. Nós estamos endividados por conta de um dinheiro que não resolveu o problema, e a maioria das propriedades ficaram hipotecadas.

Vamos perdê-las para o Banco do Brasil – que será, finalmente, o único latifundiário da região cacaueira”, dizia indignado, Isidoro Gesteira.Nas terceira e quarta etapas, iniciadas há pouco menos de cinco anos, o combate à vassoura deu uma guinada de 180 graus com a adoção das técnicas de clonagem. “O problema é que os galhos enxertados precisavam de tempo para crescer e produzir. Na minha fazenda, por exemplo, só 20% da produção era de cacau clonado”, afirmava Botelho.

O avô de sua mulher, coronel Ramiro Aquino, era bastante conhecido na região e já tinha até sido citado na literatura de Jorge Amado. “Mas ele era tranquilo. Não tomava terra de ninguém”, assegura Botelho. Nascido e criado no Rio de Janeiro, com formação em engenharia mecânica, ele tinha planos de ficar no máximo dois anos no sul da Bahia. Entretanto, tomou gosto pela cacauicultura e permaneceu na região. Botelho foi o presidente do Sindicato Rural de Barro Preto, município com pouco mais de sete mil habitantes.

Até 1985, Botelho e outros grandes fazendeiros não tinham do que se queixar. Era prática comum, por exemplo, que fábricas de processamento de amêndoas pagassem antecipadamente pela produção – como comprar um bezerro na barriga da mãe. Assim, eles ganhavam fôlego para honrar seus compromissos no período conhecido como “paradeiro”, reservado à limpeza e manutenção das roças, que vai de janeiro a abril. De maio em diante, nascem frutos dos pés quase que sem interrupção, mas a safra principal só começa a partir de agosto. “Qualquer outro produto comparado ao cacau trazia um lucro irrisório. Não havia como desviar a atenção”, conta Botelho.

“Durante muitos anos, o governo do estado se encostou na Ceplac, que realizava diversas obras públicas com o nosso dinheiro. Hoje o que é oferecido em retribuição? Uma banana”, desabafou. Para amenizar essa inquietação, o deputado federal Josias Gomes (PT-BA),na época, encampou a causa dos cacauicultores do sul da Bahia. “Sugeriu à Ceplac que fizesse uma nota técnica reconhecendo os erros nas duas primeiras etapas. Com base nesse documento, foi ao então ministro da Casa Civil José Dirceu que sugeriu uma prorrogação de seis meses para a cobrança das dívidas”, explica Gomes. Durante esse período, uma comissão instalada no Ministério da Agricultura teria a missão de mediar as negociações entre produtores e governo. “Muitos cacauicultores reclamavam que a Ceplac propôs algo que não deu certo e, dessa forma, o correto seria perdoar a dívida das duas primeiras etapas, que chegava a quase R$ 180 milhões. A culpa também era do governo que ele precisava assumir essa responsabilidade”, concluiu o deputado.

Solução para quem? Maria do Carmo dos Santos, a Carminha, cresceu rodeada por pés de cacau, fazendo a limpeza das roças durante a entressafra,quebrando os frutos que colhia das árvores, separando as amêndoas da polpa esbranquiçada, pisando as sementes que secavam nas barcaças.

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NO TÚNEL DO TEMPO - ESTA FOTO TEM 39 ANOS

Fonte Evandro Lima

Jamais eu imaginei encontrar uma foto minha, tirada há justamente 39 anos, em 1975, justamente quando eu tinha feito o Cursilho da Cristandade, na Diocese de Ilhéus, através da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, em Coaraci. Foi aí que iniciei a minha carreira na comunicação, entrevistando pelo serviço de alto-falante da Matriz, o meu amigo, hoje grande cantor e compositor no Rio de Janeiro, Dido Oliveira. Vejam o traje da época: calça boca de sino era a moda de então e muito mais. Obrigado à conterrânea Gal Soares por me proporcionar este momento de recordação, uma relíquia do passado.

Simone Amaral Marques

Mãe, funcionária pública estadual, advogada, formada na Universidade Estadual Santa Cruz, natural de Almadina-Ba, coaraciense desde os seis meses de idade. Escreve poemas e reflexões há alguns anos. É amante da justiça e da natureza.

Recomeço

De Simone Amaral Marques

Não sinto nadaNão há nada em mimMe esvaziei de tudo

De sentimentos ocultosDe amores sonhados

Só restou um vazio sem fim.Então recomeço

Me preencho de floresMe inundo de cores

Um arco-íris inteiro em mim.

Sua família perambulou por diversas cidades do sul da Bahia empregada por patrões que, via de regra, nunca respeitavam os benefícios trabalhistas a que teria direito. A lavoura do cacau, por ser permanente, absorvia uma grande quantidade de mão-de-obra e, no cotidiano de uma fazenda, tudo era feito pelos braços de homens e mulheres, como há um século. Não existia espaço para a mecanização e o lombo das mulas ainda é o transporte por excelência. Estimou-se que 200 mil pessoas tenham perdido seus empregos em decorrência da mais cruel das crises enfrentadas pela cacauicultura baiana. Além do previsível êxodo rural, nos últimos quinze anos também se observou uma crescente organização dos movimentos de luta pela terra. Carminha tentou a sorte como empregada doméstica, mas o sonho de tocar o próprio lote lhe deu a motivação necessária para aguentar três anos acampada sob uma lona preta, até que a fazenda Boa Lembrança, em Itabuna, fosse considerada improdutiva e desapropriada pelo Incra. Na parte que lhe coube – seis hectares –Carminha plantou mandioca, algumas hortaliças e uma variedade de frutas. Mas só o cacau ocupou metade da área. Com recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), ela comprou três mil mudas resistentes ao fungo amazônico, e esperou vê-las produzindo em poucos anos.“A vassoura de bruxa é a madrinha da reforma agrária aqui na região”, definiu Júlia Oliveira, coordenadora da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-BA) na época. Prova disso foi que, dos 113 assentamentos localizados naquela área, onde residiam aproximadamente seis mil famílias, a esmagadora maioria foi criada na década de 90 em grandes fazendas abandonadas por proprietários descapitalizados. Justamente porque o principal gasto para fazer a manutenção de uma roça de cacau e, consequentemente, o melhor remédio para combater a vassoura, ainda era a mão-de-obra. Mas isso os assentados tinham de sobra. “A agricultura familiar tinha tudo para fazer com que a cacauicultura pudesse se reerguer numa outra base econômica”, analisou Fernando Vargens, do Incra na época. Hoje além do pagamento da dívida com os historicamente explorados trabalhadores rurais, apesar de milhares de famílias ainda aguardarem pelo lento e burocrático processo de desapropriação de fazendas pelo governo, no sul da Bahia, as autoridades precisam encarar de frente outros dois grandes desafios: a recuperação e a diversificação da produção. “Com o cacau não existe 'embeleco'”, explica Roque Coutinho, um dos agricultores do assentamento Nova Vitória, em Ilhéus. Ele quer dizer que, com um punhado de amêndoas no bolso ou um caminhão transbordando de sacas, é impossível não achar comprador. “E as fábricas de moagem pagam de imediato. Não é como o boi que o dono leva trinta dias para receber. Mesmo com toda a crise, a liquidez se manteve”, completa Isidoro Gesteira. A liquidez das amêndoas é uma das razões que justifica essa espécie de obsessão pelo cultivo do cacau, um traço cultural que não faz distinção entre pequenos e grandes produtores no sul da Bahia. Alguns fazendeiros até apostaram no café. Outros aumentaram suas áreas de pecuária. O cultivo de frutas, como a banana e o cajá, também acenou com a possibilidade de brigar pelo seu espaço. Mas a falta de investimentos substanciais em outras culturas esbarra também numa mudança de mentalidade que não se processa de uma hora para outra.“A lavoura do cacau perdeu sua importância econômica, mas ela ainda tem um papel muito relevante para a geração de emprego e para a preservação da Mata Atlântica”, ponderou Gustavo Moura. Esse fruto que moldou a identidade de uma parte expressiva da Bahia parece ter cumprido sua função histórica como importante commodittie e, há quase duas décadas, a economia da região sul do estado atravessa as turbulências que todo sistema baseado na monocultura de exportação está fadado a enfrentar. Porém, de trabalhadores que se transformaram em sem-terra a grandes produtores que ainda resistem à forca das dívidas, todos clamam por uma merecida atenção do governo. Resta saber de que maneira esse socorro virá e a quem ele irá de fato beneficiar.

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SELEÇÃO BRASILEIRAPAIXÃO DE UM POVO

“A válvula de escape dos brasileiros muita vezes é o futebol da seleção brasileira, às vezes você chega em casa, sem emprego, sem dinheiro, aí: “Jogo do Brasil”! Tudo muda , quando você vai ver o Brasil jogar, com cinco estrelas no peito”.(um brasileiro do povo).“Quando vejo o futebol, principalmente quando canto o hino nacional, todo mundo perfilado, todos cantando em uma só voz, aquilo me inspira o maior patriotismo pelo Brasil!”. (Estevão torcedor). ”Pode ser que as pessoas critiquem, falem que não torcem pela seleção brasileira, mas no fundo, no fundo, quando esta acontecendo o jogo do Brasil, está todo mundo assistindo e torcendo.”(Rodrigo fanático pela seleção). “Aí quando você vê a seleção jogar aqui no Brasil, pô, ela jogou em Porto Alegre, treinou em Goiânia, jogou em Salvador, no Maracanã, aí você fala, pô, isso é parte de mim cara, olha aquele cara, olha o Huck, aquele cara é brasileiro. ”A camisa do Brasil é guerra, você vai entrar numa guerra! Tem que ganhar né!’’ (Zito ex-craque da Seleção Brasileira, de 1958 a 1962).”Quando fiz a preleção para os jogadores do Japão eu falei: -Vocês me desculpem, mas na hora do hino nacional, eu vou cantar o hino brasileiro; meu interprete, começou a chorar emocionado porque ele era apaixonado pelo Brasil, ele foi pego dentro de um container querendo fugir pro Brasil, porque ele era apaixonado pela seleção de 70, queria conhecer os brasileiros, Pelé, Tostão, Jairzinho, então ele se emocionou também; eu tive que cutucar ele, e falar:- ei cara, é jogo, nos vamos jogar contra o Brasil, você tem que traduzir aqui pra mim!(Zico).

O NASCIMENTO DA SELEÇÃO BRASILEIRA1914 – 1949

Foi Charles Miller que trouxe a primeira bola para o Brasil, ele que veio com toda aquela novidade, uma bola que até então ninguém sabia que existia, nem como se usava! As pessoas não conseguiam entender como é que alguém podia ganhar a vida chutando bola! Lá pelos lados da Luz, um grupo de ingleses, maníacos se punham a dar pontapés, ou coisa parecida em bexigas de boi, com grande satisfação quando essa espécie de bexiga amarelada entrava por um retângulo formado de paus. É uma bola, são crianças descalças, correndo atrás de uma bola que pode ser de meias, pode ser côco, pode ser qualquer coisa. “Eu joguei muito em um campo que tinha uma mangueira no meio, quer dizer você desviar de uma mangueira, desviar de suas raízes, controlar a bola e desviar dos adversários são quatro elementos para você trabalhar a sua habilidade”. (Dr. Sócrates). ” Só lembro que era menininho né, e tinha uns coleguinhas, e tinha um muro que separava a nossa rua, na Quinta da Boa Vista, então nos fizemos um buraco pra passar e jogar bola. Nós aproveitávamos os gravetos, ou galhos de arvores pra fazer os gols. (Carlos Alberto Torres, campeão do mundo de 1970).

‘Desde o primeiro jogo da seleção já fazem cem anos. Há de fato uma coisa séria para o brasileiro, o futebol!’’Tenho assistido a jogos colossais, mergulhei no povo de diversos países, nessas grandes festas de saúde, de força, e de ar, mais nunca vi um fogo, um entusiasmo, uma ébries da multidão assim. (Crônica do escritor João do Rio, 1916).A bola talvez seja um representante do coliseu de dois mil anos atrás, onde as pessoas vão lá, pra xingar, brigar, soltar o stress, aquela força que vem de dentro, é inexplicável. 1919, O campeonato sulamericano foi disputado no campo do Fluminense, nas laranjeiras, e no ultimo jogo já não cabia mais gente. O evento teve a característica de levar pra população o futebol que na época era restrito às elites. O Futebol era das elites, que iam lá, conversar, bater papo, se cumprimentar, beber chopp juntos ou champanhe, eram elegantes, realmente muito estranho. Com o torneio sul-americano o futebol começou espalhar-se pelas periferias do Rio de Janeiro, mobilizando a população da cidade e aquilo representou o ponto de partida para o seu crescimento no Brasil. O futebol era jogado pra frente, era absolutamente ofensivo, os cuidados com a defesa eram muito poucos, o Brasil foi superior a todos os adversários e travou um duelo formidável na final com o Uruguai e foi preciso duas prorrogações, para que Friedrich fizesse um gol e vencesse por um a zero. Friedrich foi nosso grande herói, ouviu-se o hino nacional duas vezes, e ganhamos o primeiro título em 1919. Pixinguinha até fez uma musica, intitulada “Um a zero” em homenagem ao gol de Friedrich. No outro dia as chuteiras de Friedrich já banhadas em ouro foram expostas na Joalheria Oscar na Rua do Ouvidor. Milhares de pessoas peregrinaram para ver as chuteiras do craque que fez o gol da vitória contra os Uruguaios.A paixão pelo futebol não nasceu do nada, a capoeira está presente na maneira brasileira de jogar futebol, no vai não vai, no segredo guardado só revelado na hora do jogo, no drible, isso é da capoeira, e se notarmos também, conforme a capoeira declinou o futebol cresceu, e isso não foi por acaso. O estilo do brasileiro jogar futebol, foi criado pelo craque Friedrich que mostrou em pleno 1925, a malevolência, os dribles, os cortes, a fantasia, o cara era bom mesmo. Friedrich chamava atenção, tanto que no filme do Sul-americano de 1919, o cinegrafista em determinado momento percebe que existia um diferente e começa a focalizar aquele diferente, e aquele diferente era o Friedrich. O Friedrich era filho de um alemão com uma negra brasileira, aí se explica as suas habilidades futebolísticas. Com isso começa a mudar a percepção do brasileiro de que precisava ser branco e aristocrático para jogar futebol. O Lima Barreto, grande escritor negro, chegou a criar uma liga contra o elitismo no futebol e em particular à seleção brasileira. Criticava em seus artigos a seleção, por ter escolhido jogadores brancos, envergonhados dos seus jogadores negros. (Sergio Cabral, jornalista). “Por isso o futebol é algo como remédio e veneno, porque mostra que nos temos capacidade no plano da cultural, mas ao mesmo tempo temos incapacidade de ter uma educação consistente, uma vida politica transparente e consequente, e uma série de questões que não são enfrentadas e sempre se diz que o futebol tem haver com isso”. (José Miguel Wisnik).

1914, ANO DO PRIMEIRO JOGO DO SELECIONADO BRASILEIRO

-Em 1914 veio ao Brasil um time da segunda ou terceira divisão da empresa Exeter City, pra jogar com uns times do Rio e a seleção carioca, perderam. Era um time profissional inglês e o nosso era essencialmente amador.“O time do Rio, não tinha condições de enfrentar de igual para igual a equipe da Inglaterra, então, a Confederação Brasileira que estava se iniciando, chamou jogadores de São Paulo, entre eles Rubens Sales e Friedrich, e se formou uma bela equipe que conseguiu derrotar a equipe profissional da Inglaterra. Foi aí que começou em 1914, no Brasil as convocações para Seleção Brasileira de Futebol. “(Ivan Soter, escritor)”. “Jogar com profissionais do futebol na época foi algo fantástico e extraordinário”. (Roberto Assaf). “Foi um jogo brutalíssimo, por parte dos visitantes que queriam vencer a todo custo. Eles eram jogadores peritos, perderam porque jogamos admiravelmente bem, e quando os ingleses estavam em inferioridade de gols, quase mataram Rubens e derrubaram violentamente o nosso Friedrich, que até perdera uns dentes.” (Lagreca, Jogador, 1914). O futebol naquela época era muito mais violento, apesar do jogador ter mais espaço a preparação física não era tão evoluída, o bicho pegava dentro de campo, era de uma dureza o jogo, você via pelo número de contusões graves que aconteciam naquela época, volta e meia tinha um jogador com a perna fraturada.(Roberto Sander, Jornalista e Escritor). Todo jogo era uma guerra! Nas disputas sul-americanas envolvendo Brasil e Argentina desde cedo adicionaram elementos de afirmação nacional, principalmente pelo fato de que os argentinos abusavam realmente da violência e expressavam racismo em relação aos jogadores brasileiros, isso de certa maneira serviu para mobilizar a opinião pública brasileira de uma maneira que calou fundo na alma nacional. (Marcos Guterman, Jornalista). Na hora que agente fala, meu, vamo entrar e cê vê ali aquela camisa listrada azul e branca e eles veem a amarelinha, com certeza vai rolar aquela rivalidade. Brasil perde da Itália você sente, Brasil perde França você sente, mas Brasil perde da Argentina é uma noite sem dormir, é uma noite mal dormida.1914 BRASIL E ARGENTINA DISPUTAM

O PRIMEIRO TROFÉUA COPA ROCA: O Brasil venceu a Argentina por 1 a 0 em Buenos Aires, gol de Rubens Sales, que era tão craque, tão craque que os argentinos diziam que ele era um inglês do time do Brasil, ele não era de drible, era rei do passe, que era um fundamento pouco apreciado pois as jogadas se resumiam em bola por mato na defesa ou o cara driblando, driblando, até cansar no ataque, mas quando o jogador usava o passe ou alguns outros fundamentos inteligentes para quela época, se tornava um craque como no caso de Rubens Sales, mas os argentinos continuaram reclamando que ele era Inglês e não Brasileiro. Foi um jogo excepcional. Na volta cantava-se o hino nacional varias vezes, e os jogadores foram tratados como heróis, como se fossem soldados voltando de uma guerra, exatamente como se fosse um exercito. O que fizeram foi transformar o futebol em um instrumento nacionalista, propriamente dito. Era a raça brasileira, era a nação brasileira que devia se apresentar em campo. Os jogos que eram restritos a certos ciclos, mas se ampliou de uma maneira inusitada, chamando a atenção de cronistas e jornalistas da época que se assustaram com a força social daquele fenômeno brasileiro”. (Leonardo Pereira, historiador).

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“O que me moveu a fundar a liga contra o futebol, foi um espetáculo de brutalidade, de absorção de todas as atividades que o futebol vinha trazendo a quase a totalidade dos espíritos nessa cidade. Os jornais não falavam em outra coisa, paginas e colunas eram ocupadas com histórias de match, de intrigas da sociedade, etc., etc. Comecei a observar e a tomar notas, eu percebi logo, existia um grande mal, que a atividade mental de toda uma população de uma grande cidade, fosse absorvida por uma atividade tão fútil e se absorvesse nela. São sempre os mesmos a jogar, e eles cultivam preconceitos de toda a sorte. Nós não estamos dispostos a consentir que se forme as custas do contribuinte uma aristocracia que se baseei nas habilidades dos pés. Foi então que me insurgi. Combaterei sempre esse tal de futebol”. (Crônica de Lima Barreto, escritor, 1922). ’’Todas as copas são de certo modo ritualizações e dramatizações de questões brasileiras. Nada tão parecido com a psicanálise do Brasil, quando a copa de cinquenta. E nada foi tão forte como um chacoalho critico politico, como a reação popular no momento em que se aproximava a realização uma copa do mundo no Brasil. Isso colocou o Brasil em confronto consigo mesmo, graças futebol’’. (José Miguel Wisnik).

1930 – 1934O MUNDO CELEBRA O FUTEBOL

O BRASIL ESTÁ EM GUERRA’’Getúlio Vargas lidera a revolução que muda definitivamente o país, é o fim da republica velha. Paulistas e Mineiros perdem o poder. A revolução de trinta revirou o Brasil. Getúlio assumiu com a tarefa de transformar o Brasil em um pais industrial e faz isso, da direitos à classe trabalhadora, de certa maneira controla os sindicatos que já estavam se organizando, e joga o Brasil economicamente pra frente. Esse momento histórico de reviravolta, de aceleração da história é que torna realmente o Brasil no país do futebol. Portanto o que acontece dentro do campo, tem haver com o que acontece fora’’. (Joel Rufino). Havia um clima entre os paulistas queriam formar uma comissão técnica deles e os cariocas que não aceitaram, pareciam dois países diferentes.(Roberto Assaf). Nos últimos momentos antes de seguirem para Copa do Mundo de Trinta no Uruguai, ia haver um ultimo treino, e nesse ultimo treino a federação paulista se negou a mandar os jogadores. Não apareceu ninguém pra treinar. A seleção terminou levando só jogadores cariocas. Jogaram duas vezes perderam as duas e foram eliminados, mas o jogador Fausto foi cognominado em Montevidéu, “El Mago”, o melhor jogador da Copa do Mundo de 1930. Fausto quando acabou a copa foi impiedoso com seus companheiros : -Disse que Araquém foi uma bailarina, porque ficava fazendo férulas, disse também que o ponta esquerda tinha medo da própria sombra, e que Preguinho tinha sido o único valente da equipe...etc...Preguinho foi o jogador que fez o primeiro gol brasileiro em copas do mundo. Em 1932 os paulistas pegam em armas exigindo uma nova constituição, Getúlio resiste, o exercito brasileiro sitia São Paulo. Friedrich se alista e

icomo “bicicleta” que até os dias de hoje é considerada uma jogada espetacular, “um gol de bicicleta!”. Leônidas tinha o tamanho, a velocidade, e a malícia de um mosquito, no mundial de 38 um jornalista francês contou nele seis pernas, em pouco tempo o seu nome já era marca de cigarros e de chocolates, recebia mais cartas que artistas de cinema, as cartas pediam fotos, um autógrafo, emprego público, etc. Leônidas fez muitos gols. Alguns executados no ar, o corpo suspenso, os pés girando, de cabeça pra baixo, as costas arqueadas, o que os brasileiros chamaram de bicicleta. Os gols de Leônidas eram tão lindos que até os goleiros adversários se levantavam para cumprimentá-lo. (Crônica de Eduardo Galeano, escritor Uruguaio, 1995). Como pensar o futebol brasileiro com a dimensão que atingiu no Brasil, se você não tivesse lá atrás um Friedrich, um Leônidas da Silva, um Fausto, a maravilha negra, um Heleno de Freitas, um Ademir Queixada, se não tivesse todos aqueles mitos que de geração pra geração redundaram num Mané Garricha, num Pelé, Didi, Nilton Santos, em um Tostão, num Rivelino num Zico, em um Ronaldinho, Sócrates, Romário, Ronaldo Fenômeno, são todos mitos, mais mitos que tem base, que tem lastro, que não foram inventados, que não foram produtos de mídias são produtos da sua excelência, são produtos do seu talento. É claro que o mito realimenta a paixão faz com que surjam novos mitos. (Juca Kfouri, jornalista). Os grandes craques, os maiores craques brasileiros eram por coincidência negros: Leônidas da Silva, Domingos da Guia e Fausto.(Sergio Cabral, jornalista).Houve quem resistisse ao fato deles se tornarem figuras publicas notórias, famosas num Brasil, que já tinha o radio como meio de comunicação, capaz de levar não só as informações para o pais inteiro mas também de fabricar ídolos. Domingos e Leônidas agente pode dizer que são os primeiros grandes ídolos da historia do futebol brasileiro. Com o profissionalismo, o jogador negro passa a ser um funcionário do clube, não mais um igual, que deveria ter obrigações, que podia ser demitido, não era mais uma relação de iguais. “Na minha época o racismo estava de pé, preto passava mal. Moreno ainda entrava, mas preto, preto mesmo não havia condição. Pelé! Como é que Pelé venceu, porque era bom demais! ”(Domingos da Guia, jogador). O América esteve em crise quando botou pra jogar um preto conhecido por Manteiga, um jogador que veio da marinha, um jogador maravilhoso, ouve uma crise, vários jogadores saíram do time, porque escalaram manteiga, que era na verdade melhor do que qualquer um daqueles dali, mas que socialmente sofria restrições. O Fluminense também não aceitava gente de cor, dizem que alguns jogadores morenos passavam pó de arroz no rosto, com medo da reação da torcida. Mas a ideia de que eles queriam esconder a cor não resiste sequer a fotografias dos times da época, eles usavam pó de arroz, não para parecer branco, mas os torcedores entenderam assim e a história perpetuou-se. Leônidas da Silva, embora craque dos anos 30, e admitido no cenário do futebol, não era inteiramente aceito, parte dele era admitida, parte rejeitada, mas depois desse período o futebol que era quase que exclusivamente elitista e de brancos passa a fazer parte do cotidiano de todos os brasileiros abolindo-se os preconceitos. O profissionalismo permite que se inclua nas equipes jogadores negros e mestiços.

nvenção de Leônidas foi a jogada conhecida convoca publicamente os atletas a formarem uma tropa de desportistas. O jogador Rubens Sales adere ao movimento. O futebol no Brasil nessa época pelo menos oficialmente ainda era amador. Os jogadores se manifestaram pelos jornais e x i g i n d o q u e o f u t e b o l f o s s e profissionalizado, porque embora eles não fossem reconhecidos como trabalhadores os clubes ganhavam dinheiro com a transferência deles. Portanto essa coisa de escravidão dos jogadores brasileiros começa muito cedo, os clubes ganhavam com as transferências de jogadores, que se chamava na época “laçar jogadores” e com as rendas dos jogos. O futebol desde cedo explorou o interesse das pessoas em assistir os jogos. E só quem não ganhava eram os atletas. COPA RIO BRANCO 1932

NASCE O FUTEBOL EXPORTAÇÃONeste evento aconteceu a mais importante vitória da seleção brasileira, mais do que as conquistas do sul-americano de 1919 e 1922. O Brasil conseguiu vencer a seleção do Uruguai que era a campeã do mundo dentro da casa dela no Estádio Centenário, e de quebra revelou dois grandes jogadores, o zagueiro central Domingos da Guia e o meia Leônidas da Silva, que foram contratados durante a copa, e permaneceram lá, onde já existia futebol profissional.Os dois craques mudaram o eixo do futebol brasileiro para o Rio de Janeiro.”No futebol você tem que adivinhar o que vai acontecer, quando o jogador tem esse dom, passa a estar no lugar certo e na hora certa. Por isso Domingos da Guia foi um excelente zagueiro”. (Flávio Costa, técnico da seleção brasileira de 1950). “Ele tinha um imã nas pernas. Ou ele roubava a bola no primeiro toque ou no segundo, adivinhava, o que íamos fazer”.(Zizinho, mestre Ziza).’’Naquela época a maioria dos zagueiros davam chutões pra frente, rifando a bola, o Domingos da Guia inaugurou um estilo de jogo, saia driblando, e passava a bola a seus companheiros com maestria’’. (Luiz Carlos Barreto, fotojornalista nas copas de 50 e 62).’’Domingos da Guia pisava na grama de leve pra não magoar a semente da s u a a r t e ’ ’ . ( A r m a n d o N o g u e i r a , Jornalista).’’Ele era um ídolo da torcida do Boca’’.(Orlando Zagueiro). Domingada era uma jogada típica de Domingos da Guia dentro da área. Um drible e um toque de efeito, que misturava calma e técnica apurada com muita responsabilidade, e maravilhava os torcedores que não matava de coração. Quando Domingos não podia jogar, cinco mil torcedores ficavam em casa, achando que sem ele o jogo não tinha graça. Quando ele estava escalado, novamente a praça de esportes, lotava para assistir o seu excelente futebol. (Luís Verissimo, jornalista). ‘’Ano a ano Domingos da Guia era transferido de equipes com salário maior, no momento em que o profissionalismo no Brasil não estava instaurado ainda, ele ja faturava no exterior. Foi contratado pelo Nacional do Uruguai depois pelo Boca Junior da Argentina, se convertendo assim num jogador de sucesso internacional’’.(Leonardo Pereira).Domingos da Guia foi suspenso na Argentina por seis meses, então veio passar a temporada no Rio de Janeiro, onde passou a jogar na equipe do Flamengo que ainda não era considerada profissional e por isso pode contrata-lo. Leônidas foi um jogador comparado a Pelé, a única diferença entre os dois foi que Leônidas jogou na época do rádio e Pelé na época das televisões. A grande

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FAROFA DE PIMENTA

Fonte Miguel Magalhães

Texto adaptado por PauloSNSantana

Domingão era um motorista do município de Coaraci, que

trabalhava na administração de Gilberto Lírio, e dirigia uma

Rural e um Corcel pertencentes à Prefeitura Municipal.

Continuou com o Prefeito Joaquim Almeida Torquato, e nesta

oportunidade dirigia caminhões e caçambas. Era pai de duas

filhas que residiam em Coaraci, conhecidas como Alba Regina

de Almeida e Ana Cristina Oliveira Almeida.

Waldetinho (pepino), contou a Miguel que uma ocasião

presenciou ele dirigindo uma caçamba com problemas na

concha, que destravava e elevava-se perigosamente, para

resolver o problema ele colocou uma grande pedra na

caçamba para evitar a elevação e o atrito da concha com o

chassis do caminhão.

Já a Dona Pequenita, esposa de Sr. Carlos Magalhães, mãe

de Miguel Magalhães, conta que uma vez Domingão foi

almoçar em sua casa, e vendo pimentas em uma conserva,

derramou uma quantidade considerável em um prato de

barro, fez uma farofa e comeu às colheradas. Motoristas e

barbeiros são duas categorias de profissionais que sabem

contar muitas histórias e o motorista Domingão era uma

dessas figuras. Dizem as suas filhas que Zé Adolfo, Chico

Cigano e Senhor Bruno da Venda sabem muitas histórias

interessantes sobre ele.

Tel: (71) 4141-5947 | Fax: (71) 4141-5947 | e-mail: [email protected]

J O S É V I E I R A S A L E S

P A T R O C I N O U

E S S E E X E M P L A R D O

C A D E R N O C U L T U R A L C O A R A C I

E V A N D R O L I M A

P A T R O C I N O U

E S S E E X E M P L A R D O

C A D E R N O C U L T U R A L C O A R A C I

A CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE DESPÓRTOS NÃO ACEITAVA JOGADORES PROFISSIONAIS NA SELEÇÃO BRASILEIRA, APENAS OS AMADORES

ESTAVAM APTOS A REPRESENTAR O PAÍS.Só existia um time grande amador no país que era o Botafogo, então a CBD teve que ser profissional contratando jogadores de outros clubes. Pagando, para voltar a ser amador, por causa disto o Carlito Rocha que era dirigente do Botafogo acabou sendo obrigado a contratar alguns jogadores para serem selecionados pela CBD, porque os clubes paulistas se recusavam a cedê-los. Na verdade eles foram disputar essa copa como se fossem marginais. (Roberto Assaf). Eu rompi o contrato com o Vasco, e não fui jogar pelo dinheiro, como muitos quiseram crer, e a minha declaração era que eu tinha rompido o contrato para ir defender a seleção brasileira em um campeonato mundial. (Leônidas da Silva).

ITALIA 1934E assim formou-se um time, para jogar em uma copa do mundo no sistema mata-mata. O time era bom mais ainda não estava preparado para disputar uma competição daquela envergadura. Saímos para jogar a copa de 34 despreparados psicologicamente, deveria ter preparo para o jogador entender que naquele momento não interessava as habilidades pessoais mais a união do grupo com o objetivo de representar a altura a nação. Não existia partida oficial fácil. Nós fomos mais passear do que jogar o campeonato. (Atacante Luizinho 1938 – 1954). O Brasil disputou uma única partida, contra a Espanha, perdeu de três a um e voltou pra casa. Ou seja, o Brasil fez uma viagem de aproximadamente cinquenta dias, pra disputar uma única partida. Mas hoje nos podemos dizer que o Brasil é o único país do mundo que disputou todas as copas do mundo. (Roberto Assaf, jornalista).Não sei se você já foi a uma copa do mundo, quem foi a uma nunca mais para de ir.(Francisco Morais, torcedor).

1937 O ESTADO NOVO UNIFICA O PAÍSEm um pronunciamento pelo rádio o presidente Getúlio Vargas decreta o Estado Novo. O Ditador promete construir uma identidade nacional, única moderna e brasileira. A filha de Getúlio Vargas vai ser a madrinha da seleção brasileira. E ele usa o futebol e a questão do meio de comunicação novo, para fazer essa ligação, pra transformar o futebol num instrumento politico.(Marcos Guterman, jornalista).

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O BRASIL É UM DOS PAÍSES QUE MAIS GASTA COM SEUS

PARLAMENTARES!Texto de PauloSNSantana

Enquanto no Brasil os parlamentares vivem na mordomia, com salários altíssimos, ajuda de custo fabulosa, auxilio viagem, diárias pagas pelo governo, residindo em apartamentos enormes, andando de carros de ultima geração, combustível custeado pelo Governo e muitas mais...

Na Suécia que é um Pais considerado Rico, onde a renda per capita representa o dobro ou mais que a nossa, onde existe respeito pelo erário publico, onde ser politico é sinônimo de ser honesto, os políticos não recebem salários, usam seus próprios carros e pagam as suas despesas de combustível, viajam com recursos próprios, não tem assessores, muito menos secretárias. Os que residem em apartamentos do governo têm a sua disposição um quarto e sala, não tem empregada domestica muito menos zeladores, ou motoristas, e tem que manter o apertamento limpo.

No Brasil a corrida ao cargo eletivo é completamente interesseira, acredito que 99,99% dos políticos eleitos e aqueles que querem alcançar esse objetivo, procuram vida boa, enriquecimento ilícito, dinheiro fácil e estabilidade econômica imediata.

Se por ventura fizéssemos uma reforma radical neste país das maravilhas, e suprimíssemos todas as mordomias dos parlamentares dos três poderes, dos estados e municípios, em época de eleições faltariam candidatos, iria haver uma debandada fantástica, pois os sangue suga, teriam que trabalhar para equilibrar as suas vidas.

Não quero que confundam as minhas considerações com tendências socialistas comunistas, longe disso. Eu sou um democrata convicto, defensor da liberdade de expressão, econômica e social, jamais iria aceitar um sistema opressor, ditador radical. Mas chegou a hora das decisões! Até hoje não entendo porque alguém nessa época do capitalismo selvagem, investe 100.000.000 para ser eleito? Porque muitos candidatos vendem a alma ao Diabo para serem eleitos? Quem gasta vai querer receber de volta com juros e correções agiotarias! Para o Brasil mudar efetivamente, verdadeiramente, teria que haver renovação no Congresso Nacional, nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras Municipais. Isso se o povo brasileiro quiser, pois se continuarem votando interesseiramente, vendendo seus votos, jamais terão um país melhor!

O poder emana do povo!

1938 O MUNDO DESCOBRE O FUTEBOL BRASILEIRONa copa de 38, a seleção era composta por excelentes jogadores, do eixo

Rio-São Paulo independente de raça, cor ou religião. (Leonardo Pereira, historiador). A Copa veio para estabelecer de vez a ideia de que o Brasil era o país feito para o futebol e o futebol para o Brasil.(José Miguel Wisnik). É a copa que vai definir a imagem que temos do futebol brasileiro. (Leonardo Pereira, historiador). Eu tinha dez anos de idade, e passava quase que a semana inteira grudado no meu radio para saber de todas as noticias do futebol e da seleção brasileira. Pelo radio dava a impressão de que havia um confronto de futebol diferente, o Europeu com seu estilo corpo a corpo, força física e choques, e o futebol brasileiro cadenciado, na base da ginga e dos dribles, dos movimentos descontínuos, das mudanças de ritmo, e as jogadas individuais. (Luís Carlos Barreto, foto jornalista, copas 1950 a 1962).

“O futebol brasileiro é como a dança Jonesíana, dança que permite o improviso, a adversidade a espontaneidade individual, dança lírica, enquanto o futebol europeu é a expressão Apolínea de métodos científicos, de esporte socialista, em que a ação pessoal resulta mecanizada subordinada a um todo. O brasileiro é uma forma de dança, em que as pessoas se destacam, e brilham”. (Crônica de Gilberto Freyre, 1936). A grande descoberta do mundo foi quando Leônidas jogou na copa de 38, eles descobriram que havia um outro tipo de futebol. Leônidas era chamado de “O homem de borracha”.(Luís Carlos Barreto, foto jornalista, copas 1950 a 1962). Leônidas encarnava aquele jogador tipicamente brasileiro, uma capacidade de improviso, com malevolência, com picardia, com arte, em fim era um jogador que surpreendia e prendia os zagueiros. Ele fazia gols diferentes e espetaculares. (Roberto Sander, jornalista e escritor).Ele não só foi o maior jogador, melhor jogador da copa como também foi o artilheiro da competição. Imagina um jogador brasileiro ser artilheiro de uma copa do mundo, isso era fantástico pra época. E essa copa gera mito porque foi a primeira transmitida pelo rádio, no Brasil. É evidente que os narradores exageravam, dizendo que o Brasil era o melhor time do mundo, que o Brasil foi roubado, aquela história.(Roberto Assaf). Nelson Rodrigues dizia na época que o jogo pelo rádio era mais emocionante do que quando se via no estádio ou no campo. (Luís Carlos Barreto, foto jornalista, copas 1950 a 1962). “No Jogo contra a Polônia, decidimos na prorrogação, ganhamos de 6X5, contra a Tchecoslováquia tivemos que realizar dois jogos porque nem na prorrogação decidiu-se. Em duas horas de futebol, terminou a partida empatada e Leônidas machucado. Então houve um terceiro jogo, que foi 48 horas depois.(Leônidas da Silva, atacante, 1931 – 1946).O técnico da seleção queria poupar Leônidas para a final! Como é que o Brasil ia jogar uma semifinal contra a Itália poupando o seu principal jogador. Leônidas jogou a semifinal, o Brasil perdeu por dois a um, num jogo que até hoje é polêmico. Dizem que o pênalti que Domingos da Guia fez no Silvio Biola atacante da Itália não existiu. Ou que a marcação desse pênalti foi uma forçassão de barra, porque o juiz conseguiu enxergar um pênalti fora de onde a bola se movimentava.(Roberto Assaf). Chegamos em terceiro lugar naquela copa, e saímos com a certeza absoluta de que era questão de tempo sermos campeões do mundo e mais, que a nação brasileira passaria a ser reconhecida mundialmente como uma nação diferente grande, com suas características, mistura de raças, e com esse potencial de se destacar entre as demais nações, (Leonardo Pereira, historiador). A Seleção Brasileira a partir de 1938, passou a ser a grande paixão do povo brasileiro.

A GUERRA1939 HITLER INVADE A POLÔNIA

Hitler promete guerra total, destruição de todos que se oponham ao nazismo!

A segunda guerra mundial impediu a realização das copas de 1942 e 1946, com a Europa dizimada o Brasil conquista o direito de sediar as copa de1950.

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CRIADO SOBRE AS PILHAS DE CACAUDe Guthierry Sousa Nunes

Certo dia um moleque estava como de costume perturbando a turma de trapicheiros que trabalhava em Corrêa Ribeiro (empresa de compra e venda de cacau).Era tempo da safra do cacau e naquele dia o armazém fervilhava, muitas sacas de cacau chegando e saindo e aquele menino seco pulando de uma “pilha de cacau” (coluna com mais ou menos 10 sacas de cacau empilhadas) para outra. Então seu Elias que era o responsável pelos trapicheiros e vendo que o pivete estava atrapalhando o serviço, seguiu na direção dele e dando-lhe um puxão de orelha mandou que ele fosse embora, então em tom de promessa o moleque falou “oh seu Elias isso não vai ficar assim não, o senhor me paga”. Passado alguns dias já com a safra encerrada e a calmaria de volta ao armazém, estava seu Elias sentado de cabeça baixa costurando uma saca de cacau, quando o demônio, tendo em mãos um revólver de espoleta comprado na loja de seu Missinho, grande comerciante que tinha a melhor loja de brinquedos de Coaraci, adentrou o recinto. O maldito do filé de grilo sorrateiramente chegara na ponta dos pés e colocando o cano da arma de brinquedo no ouvido do seu Elias efetuou o disparo. De repente o silêncio da tarde foi rompido por um estampido, os outros trapicheiros que estavam do lado de fora correram para dentro do armazém e se depararam com seu Elias caído ao chão e o famigerado do filé dizendo a seguinte frase “não ti disse que tu me pagava”. Logo os gritos começaram: “seu Luiz seu menino matou seu Elias” o corre, corre foi geral e seu Luiz Sena ao chegar no fundo do armazém encontrou seu Elias tonto sem saber onde estava e o maldito do filé de arma em punho se vangloriando de sua façanha, depois de alguns tapas nas orelhas e promessa de castigo, seu Elias que tinha fama de homem valente caiu perante as travessuras de um moleque criado sobre as pilhas de cacau.

P a r a q u e h a j a u m a b e l a c a n ç ã o ,t o d a s a s n o t a s s ã o i m p o r t a n t e s !

Diga não ao racismo

Antônio Sena

O PADRINHO DE IVETE SANGÁLO

Texto adaptado por PauloSNSantana

Fonte:Livro Garatujas de Dr. Eldebrando Morais Pires. Escrito em novembro de 2005, em seu apartamento da Rua Carlos Gomes em Salvador na Bahia.

Antônio Sena chegou, despertou, surgiu, irrompeu em Coaraci. Não me lembro da data, Sena veio assumir a gerência do banco do Brasil, na deslumbrante Coaraci. Gerente do banco na zona do cacau era mais do que prefeito para o cargo. Modificou o conceito de gerente enclausurado, era afável, fala mansa, passou a fazer visitas, e participar ativamente da vida da comunidade, visitava os clientes do banco sem grandes distinções, esclarecia direitos dos ruralistas e condições de outros clientes do banco.Era muito estimado alegre e gentil. Na hora “H” era sério e preciso. Alguns lhe faziam pequenas restrições. Eu mesmo o achava mais para o banco. Também o banco era seu ganha pão, a sustentação da família, embora o banco vivesse do dinheiro da gente. Aí são outros quinhentos. Sena chegou meio analfabeto, mas fez admissão e foi estudar no Ginásio de Coaraci, um belo estabelecimento de ensino. De manhã no banco e à noite de blusão e tudo, caderno embaixo do braço a caminho das aulas lá no outro lado do rio. Era bom aluno e ninguém falava de privilégios do gerente do banco com os professores, seus clientes de verdade.Era esse o Sena de Coaraci: Estudante, gerente do banco do Brasil, cidadão. E aí entrou para a maçonaria para saber dos seus segredos e morrer com eles. Foi sim escolhido pela loja como sendo capaz de a ela pertencer. Passaram-se os anos e Sena foi transferido quando já estava apaixonando pela encantadora Coaraci, foi para Juazeiro na Bahia. Lá no norte, a mesma vida, a mesma conduta, a mesma aceitação da sociedade. E dos inúmeros clientes mais chegados, um lhe prometeu ser o padrinho de um filho. E o filho nasceu. Não era um filho e sim uma filha. Sena como Nildete sua esposa, a levou à pia batismal, tornando uma cristã com o prenome de IVETE. E o sobrenome de Sangalo. Aí está: Sena e Nildete são padrinhos de nada mais, nada menos, que Ivete Sangalo. Ela fala sempre disso nas suas entrevistas quando se refere ao nascimento em Juazeiro. Está sentindo o currículo do rapaz? Na verdade ele não é esse balaio tão grande. Nildete sua mulher esta sim é um doce.Nildete e Sena saíram por aí fazendo uma porção de filhos. De juazeiro foi transferido para Recife. Afinal um prêmio: uma capital. E Recife.Não era mais Sena. Concluiu o curso de direito. Era o doutor Antônio Sena de Coaraci. Gerente do banco do Brasil em Pernambuco, marido de Nildete Sena, padrinho de Ivete Sangalo, Mestre Maçom da Loja Filhos da Acássia de Coaraci, Rotariano Emérito! Chega? Eu falei: olha o currículo do homem. E se ainda fosse pouco, pai de cinco maravilhosos filhos. Uma alegria só.Catulo dizia: "ninguém sente uma alegria sem sentir logo uma mágoa". E a mão certeira da tragédia se abateu sobre a família feliz. Sena entrou em coma e dez dias depois abriu os olhos, limpou a consciência, conferiu com estranheza o ambiente, aquela parafernália circundante, e tentou livrar-se dela. O médico ficou pasmo, segurou as suas mãos;

-hei rapaz calma! Era um milagre com M grande e maiúsculo. Passaram-se os anos e um dia

Sena subiu as escadas do meu apartamento na Rua Carlos Gomes, número 204. Conversamos, e a conversa foi bater lá no coma. No fim da conversa ele olhou pra mim e disse:-olha Bandinho eu estive lá do outro lado por dez dias e não vi nada! E arrematou:

- olha Bandinho esse pessoal da novela que veio do outro lado, não veio de lado nenhum. Ele deve ter ficado sim, em sono profundo e sonhando com aquelas besteiras todas. Eu fiquei dez dias em coma profundo, como tantos outros. Estive com o pé no lado de lá. O pé, a mão e a cara; faltou pouco para ir o resto. Dez dias. Olha Bandinho eu lhe dou minha palavra de honra eu presto testemunho em juízo se for o caso! E a prova testemunhal é válida sim. Lá do outro lado não tem é nada!

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FANTÁSTICOOS PRIMEIROS DIAS DE COPA

NO BRASIL

Chegaram a temer, chegaram a botar em dúvida. Mas agora é certeza: está tendo Copa! E o que se vê nos estádios está bom demais!Nada de 0 a 0! Os primeiros dias de Copa já mostram um mundial histórico. Tudo indica isso. Já teve jogaço, goleada, zebra, hinos à capela, craques inspirados, festa nos estádios. E a primeira rodada ainda nem acabou.Chegaram a temer, chegaram a botar em dúvida. Mas agora é certeza: está tendo Copa! E o que se vê nos estádios está bom demais! Aquele clima de mundo reunido. Aquelas cores tão variadas nas arquibancadas. E os uniformes apertados, calor, umidade e, às vezes, chuva. Parece a competição da camiseta molhada tudo grudado. Mas se o assunto é moda, por favor: levanta essa calça, cara! Que é isso, rapaz? O short no meio das pernas devia ser falta! Para cartão amarelo! .Aquela festa que o brasileiro está acostumado a ver de longe agora é aqui, na nossa casa. Em compensação, esta é a primeira Copa do Mundo em que, quem decide o tempo de execução do hino não é a FIFA! É a torcida. E isso não é exclusividade nossa não. O Chile também gostou da ideia. E o amarelo desta torcida não é do Brasil, não. Também é a primeira copa com spray pros árbitros marcarem a distância das barreiras. E também é a primeira Copa com auxílio eletrônico para confirmar se a bola entrou. E em tão pouco tempo, já rolou tanta coisa inesquecível. Quem poderia esperar o campeão do mundo ser esmagado na estreia, ainda que pelo vice-campeão?Já teve quase jogada de gênio. Já teve tanto gol maravilhoso. Fora o gol do Van Persie, o mais original. Quem disse que

gol de cabeça não pode ser golaço? Isso não foi um peixinho. Foi o gol Shamu! Foi o gol Esther Williams! Pois é. Nesta Copa, só há uma certeza: ninguém arrebentou no bolão da firma! Alemanha empatando com Gana, Argentina tomando calor do Irã, campeã eliminada em dois jogos, goleadas absurdas, e no grupo de Inglaterra, Itália e Uruguai, Inglaterra fora e quem está classificada é a Costa Rica. E os contrastes da Copa: a euforia dos azarões e a frustração dos campeões. Luís Suarez, do Uruguai, teve a dor do medo de perder a Copa machucado. E a certeza da recuperação em dois gols para a vitória. A tragédia do goleiro da Rússia que tomou um frango. E a consagração do danado do Uchôa! O goleiro que está sem clube, mas que tá com a seleção mexicana! E fez a partida da vida logo contra a gente! E aquela maca laranja com bordas, meio parecida com caixão. Um troço esquisito. Pelo menos evita acidentes que a gente já viu em outras situações no passado. Mas os lances, realmente, assustaram. O alemão foi no ombro adversário e sangrou. O suíço viu a chuteira adversária de muito perto, teve fratura em ossos do rosto e voltou pra casa. O holandês foi de cara no chão e saiu naquela maca macabra, com os olhos virados, pro hospital. O uruguaio foi com a cara no joelho adversário, desmaiou e recebeu ordens do médico para sair. Mas, ficou revoltado,e o uruguaiu Luis Suarez deu uma mordida no Italiano e não foi expulso.Se Neymar fez dois na estreia reprisou a façanha, com a perfeita noção de espaço no deslocamento da esquerda pro meio, e a finalização de Neymar. Aquela que o mundo conhece, aos vinte e dois minutos, trinta e cinco gols, tal qual Tostão, tal qual Ronaldinho Gaúcho, o artilheiro da copa, e como no jogo de estreia o melhor homem em campo, segundo a FIFA. O Brasil de Neymar. A genialidade no caso dele já é previsível, mas quando a bola roubada chega a Neymar o toque preciso que sempre se imagina, acontece. Mas nesse roteiro de previsibilidade o momento do gol é sempre um mega impacto pra quem assiste. Gol de Copa do Mundo, com toda grandeza que isso significa. E tudo se repete taí o Fred o artilheiro em jejum, o artilheiro sem gol, tentando marcar de novo, marcado, repetem-se inclusive as dificuldades no meio campo com das vezes anteriores, e gol contra não Tiago S i l va , chega de go l con t ra . Fernandinho em lugar de Paulinho no segundo tempo substituição bem sucedida. Saíu de Fernandinho a jogada que transformou o zagueiro David Luís em lateral esquerdo heróico, pelo menos para Fred, havia também o Fernandinho para marcar de biquinho o quarto gol do Brasil, agora que venham as oitavas de final.

Professora Associada I do Departamento de

Pediatria e Coordenadora do Núcleo Universitário de Telessaúde do Complexo

HUPES PATROCINOU ESSE

CADERNO CULTURAL

Dra.Suzy S.Cavalcante

O HOMEM DE CASCAVELTexto adaptado por PauloSNSantana

Havia uma cidade conhecida pelo

machismo, diziam que lá só existiam

garanhões, homens de verdade, era

um lugar muito respeitado e

reverenciado pelas mulheres. No

município vizinho, conhecido por

Tocaia, havia fórum, Juiz de Direito,

Promotores, Defensores Públicos, a

população ao contrário dos dez mil de

Cascavel, possuía quarenta mil

habitantes. O Juiz da comarca era um

homem respeitado que fazia cumprir a

lei e a justiça, naquela região marcada

pela violência. Em um Domingo calmo e

propicio ao descanso, às quinze horas,

alguém tocou a campainha, e a esposa

do Juiz, foi atender. Havia um jovem de

aproximadamente vinte e cinco anos,

pedindo para falar com o Juiz que

minutos depois o atendeu. O rapaz foi

dizendoque queria dar um queixa de

um estrupo! O Juiz, disse que não era

estrupo e sim estupro! E perguntou o

que houvera: Então ele disse que foi

agredido sexualmente, por outro

homem. O Juiz fitou o sujeito, que não

parecia vitima, e sim um revoltado

queixoso, maneiroso, e de voz feminil,

cheio de trejeitos que dizia:-eu não

queria, resisti, fui forçado ele me

obrigou. Eu não sou dessas coisas,

doutor. Quero processar ele pelo crime

de “estupro”. Esta bem. O senhor vai ao

Fórum, procura o escrivão, em meu

nome, registra a queixa e nós vamos

tomar as providencias. O rapaz

agradeceu dizendo que morava em

Cascavel. Passados alguns dias,

apareceu na casa do Juiz que ficou na

dúvida, e não o reconheceu. Ele

percebeu o titubeio do Juiz, fitou sério e

afirmou categoricamente: -Doutor, não

se lembra de mim?-Eu sou “o homem”

de Cascavel! O Juiz segurou-se como

pode e completou: -Está bem pode ir lá

para o Fórum, que eu vou em seguida.

Fechou a porta e desabafou: vem cá,

Maria (esposa)! Olha essa. E o povo de

Cascave l? E les sabem desse

representante? Fonte: Livro Garatujas,

Dr. Hildebrando Morais Pires, PGS.

129,130.

Page 15: 43 Caderno Cultural de Coaraci 3

Em 1981, no então Colégio de Coaraci, o goleiro de futsal Evandro Lima pousava para fotografia com os fãs, que aliás, eram muitos........há 33 anos.Na foto: Evandro, Valdirene Ferreira e nosso querido Neto Soares.

PÃOUm cidadão coaraciense, residindo na Capital Baiana, mas sempre ligado nos acontecimentos da sua Coaraci. Pão como é conhecido é um bom baiano, sempre bem humorado, e quando esta de passagem na terra do sol é requisitado pelos amigos, admiradores do seu ótimo astral.

FECHOU-SE UM CICLO:

A ERA DE OURO DO CACAU Havia em Coaraci nos meados de 1955 um fazendeiro chamado de

Zé Grande, que possuía três fazendas de cacau, duas na região dos

Macacos e uma no Distrito do Bandeira do Almada, onde ele residia.

Homem de muitas posses, mas que não sabia usufruir a riqueza que

possuía. Assim, como muitos outros que habitavam nesta região. Ele

tinha uma coisa peculiar, não gostava de gastar nem um centavo da

sua fortuna, mas quando chegavam os vendedores de roupas,

utensílios domésticos, ouro, prata, bijuterias, sandálias, sapatos, etc,

ficava mais feliz que mulher quando vai comprar vestido novo. Os

mascates, como eram chamados, sabendo que era fácil engabelar o

velho, vendiam anéis falsificados, pelo preço de ouro. Aí nesta parte,

ele caia que nem um pato, pois era obcecado por joias e por não saber

diferenciar o falso do verdadeiro, gastava assim, uma pequena

fortuna. Em cada dedo havia um ou dois anéis, que ele se gabava

dizendo que eram todos de ouro.

Certa ocasião, vinha caminhando do Bandeira para Coaraci,

puxando um animal, para fazer a feira para a semana. Tomou uma

topada, e gritou para o seu empregado, “ta vendo aí Genaro! Se eu

estivesse calçado, teria estragado o meu sapato”. Pois costumava

andar descalço com eles amarrados com os cadarços, pendurados no

pescoço.

Você pode duvidar, mas é a mais pura verdade, foi um caso real.

Dinheiro na cabeça dele era para guardar e não para gastar com as

necessidades básicas.

Um dos hábitos dele em relação aos filhos era, mandá-los procurar

emprego e sair de casa quando completavam 18 anos, acreditava que

já era o momento de sair de casa para buscar o seu próprio sustento,

estando preparado ou não, querendo ou não, tinha que sair de casa

pelo mundo afora.

Ele tinha oito filhos, tinha quatro mulheres e quatro homens. As

mulheres tinham de casar logo, pois na cabeça dele, ficou maior de

idade, acabava a sua obrigação de pai.

Certo dia, um dos filhos, que morava longe, em São Paulo, fez uma

carta para o pai, e pediu que ele mandasse dinheiro para comprar uma

calça. Então ele mandou uma certa quantia. Então o filho respostou:

“Meu pai. O dinheiro que o senhor me mandou só dá para comprar a

metade de uma calça, peço-lhe que me mande a outra metade?”.

Pois é, o velho era assim, tinha a mão fechada. Quando ele veio a

falecer, os filhos, que não estavam habituados a administrar tanto

dinheiro, começaram a gastar exageradamente. Começaram a

comprar Rural nova, enchiam a cara de cachaça, muitas mulheres. E

como ainda não sabiam dirigir, viviam batendo os carros. Mas não

mandavam consertar, deixavam o carro largado na fazenda e

compravam um novo. Em pouco tempo, a fortuna acabou. Começaram

a viver de favor na casa dos parentes que tinham uma condição

financeira melhor. Mas, chegou o momento no qual os donos da casa,

se cansam da “tranquilidade” dos hospedes, e acabam convidando-os

a sair. É difícil acreditar em histórias assim, mas meus avós me

contaram que isso se passou com meu bisavô e seus filhos, que eram

irmãos da minha avó. De herdeiros ricos a mendigos, assim aconteceu

com a vida de muitos filhos de coronéis do cacau, por não saberem

administrar ou investir em outras áreas ou na diversificação agrícola, e

acharem que o ouro (como era chamado o cacau) não perderia o

brilho, e nunca pensarem que chegaria o tempo em que todo o mal

semeado nesta terra seria requerido.

Pois é, o sangue dos inocentes derramado pela ambição de alguns,

clamou por vingança, que não demorou a acontecer, pois nesta vida,

nada acontece por acaso. Se esta estória tem alguma semelhança com

a sua vida real, é mera casualidade, desde criança que ouço esses

casos contados por minha família, muitas vezes ocorridos com

antepassados.

FRANCISCO CARLOS ROCHA ALMEIDA

JUS REALDe Roger Alves Póvoas

Certamente vai ser puro e beloO dia do encontro final

Que é tão certo quando a luz que viráAcompanhada pelo Deus vivo

Santos, Anjos, QuerubinsNuma rica alegoria

Infindável primaveraDe pureza multicor que virá

Acompanhada pelo Deus vivo

Arpas, flautas e clarinsVão saudar um só Juiz

Onde o justo será justo e o mal, mauReal justiça que virá

Acompanhada pelo Deus vivo.

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CADERNO CULTURAL DE COARACI Email:[email protected]

Site - www.informativocultural.wix.com/coaraci(73) 8121-8056 # 9118-5080 # 3241-2405

A Mata Atlântica é um patrimônio nosso. Já foi uma grande mata e se encontra morrendo, em vias de extinção, assim como tudo que nela vive. A flora, a fauna, as belezas dessa riqueza natural são insubstituívels. O comportamento humano tem agredido esse santuário ecológico, pondo em risco a vegetação, os animais e a própria vida.

Agora, é com você, preserve os incríveis poderes das plantas, a importância da mata, os animais em extinção, acabe com as queimadas... faça alguma coisa já!