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1 Sociedade Civil: Uma Perspectiva Histórica e Sociológica Autoria: Eduardo Loebel 1 RESUMO DO TRABALHO Tem-se como pressuposto que o termo sociedade civil refere-se ao lugar na sociedade onde pode haver, além de autoritarismo enraizado, discursos com graus de autonomia, livre associação, solidariedade, movimentos sociais, sendo ele uma instância diferente do mercado e do Estado (Cohen e Arato, 1992). Apresentamos parte da pesquisa realizada no bairro Conceição, Osasco-SP, entre 2004 e 2006, sobre experiências participativas de sujeitos em movimentos sociais nos anos 1980. Os objetivos do presente trabalho são: a) retomar um quadro teórico sobre sociedade civil; b) apresentar um sistema de categorias; c) mostrar como este é um instrumento “artesanalmente” construído para análise e interpretação de dados numa perspectiva histórica e sociológica do objeto situado e datado. Não são abordados sua aplicação e resultados. Após a introdução, resgata-se o marco teórico sobre sociedade civil e autores do atual debate brasileiro. Para apresentar o sistema de categorias discorre-se sobre as opções metodológicas e explana-se sobre a construção das categorias e metacategorias. As considerações finais dizem respeito às articulações entre o quadro teórico e o sistema de categoria, as potencialidades e limitações da perspectiva proposta para a Administração e sugestões para pesquisas futuras. 2 INTRODUÇÃO Muitos debates e pesquisas gravitam em torno da noção de sociedade civil no âmbito brasileiro (Dagnino, 2002a, 2002b; Avritzer, 1994a; 1994b; Costa, 2002; Alves, 2004) e da América Latina (Restrepo, 1990; Avritzer, 2002; Dagnino et al, 2006), e global (Vieira, 2001; 2004). Autores defendem a existência de um processo para construir uma ordem democrática no Brasil, nos países latino-americanos e a importância do papel que nele cabe à esfera pública e à sociedade civil. O debate teórico parece ter mudado da segunda metade da década de 1980 em diante (Cardoso, 1994) devido à consolidação da democracia eleitoral na América Latina e à insatisfação com os resultados das democracias para as classes populares. Reconhece-se, no entanto, que houve abertura de um campo de experiências e práticas como aquisição e produção de conhecimento no âmbito local marcado pela emergência de novos atores sociais (Sader, 1988; Gohn, 1991; Doimo, 1995; Scherer-Warren, 2005). Nos anos 1980, com o aprofundamento do processo de democratização, as clivagens latentes no conceito de sociedade civil vêm à tona. Segundo Costa (2002, p. 57), o termo sociedade civil apresentava-se no Brasil com “traços conceituais muito difusos”. Os atores sociais, muito heterogêneos, “integravam o conjunto de protagonistas do processo de restabelecimento da democracia”. No que se refere aos movimentos sociais da segunda metade dos anos 1980 e início dos anos 1990, falava-se recorrentemente de refluxo e cooptação. O conceito de sociedade civil predominante na época parece ter contribuído para esta interpretação. Para Costa (2002, p. 56), desde o período da ditadura militar no Brasil, articulou-se uma linha marxista de interpretação do conceito de sociedade civil, fundada na concepção gramsciana (Coutinho, 1999a; 1999b), que entende que os movimentos sociais emergem da sociedade civil, podem contribuir para a transformação da lógica da relação de classes, mas devem estar articulados com outras organizações, como partidos políticos, organizações econômicas, visto que não possuem autonomia. Outra visão nos mostra que muito pouco se pensou, naquela época, sobre a relação entre movimentos sociais e o Estado, pois [o] problema, nessas interpretações, era a falta de uma descrição que apanhasse aspectos importantes. Desse modo, quando passamos para uma outra fase – e passamos porque o contexto político mudou, não por causa de uma pura elaboração

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Sociedade Civil: Uma Perspectiva Histórica e Sociológica

Autoria: Eduardo Loebel

1 RESUMO DO TRABALHO Tem-se como pressuposto que o termo sociedade civil refere-se ao lugar na sociedade onde pode haver, além de autoritarismo enraizado, discursos com graus de autonomia, livre associação, solidariedade, movimentos sociais, sendo ele uma instância diferente do mercado e do Estado (Cohen e Arato, 1992). Apresentamos parte da pesquisa realizada no bairro Conceição, Osasco-SP, entre 2004 e 2006, sobre experiências participativas de sujeitos em movimentos sociais nos anos 1980. Os objetivos do presente trabalho são: a) retomar um quadro teórico sobre sociedade civil; b) apresentar um sistema de categorias; c) mostrar como este é um instrumento “artesanalmente” construído para análise e interpretação de dados numa perspectiva histórica e sociológica do objeto situado e datado. Não são abordados sua aplicação e resultados. Após a introdução, resgata-se o marco teórico sobre sociedade civil e autores do atual debate brasileiro. Para apresentar o sistema de categorias discorre-se sobre as opções metodológicas e explana-se sobre a construção das categorias e metacategorias. As considerações finais dizem respeito às articulações entre o quadro teórico e o sistema de categoria, as potencialidades e limitações da perspectiva proposta para a Administração e sugestões para pesquisas futuras. 2 INTRODUÇÃO Muitos debates e pesquisas gravitam em torno da noção de sociedade civil no âmbito brasileiro (Dagnino, 2002a, 2002b; Avritzer, 1994a; 1994b; Costa, 2002; Alves, 2004) e da América Latina (Restrepo, 1990; Avritzer, 2002; Dagnino et al, 2006), e global (Vieira, 2001; 2004). Autores defendem a existência de um processo para construir uma ordem democrática no Brasil, nos países latino-americanos e a importância do papel que nele cabe à esfera pública e à sociedade civil. O debate teórico parece ter mudado da segunda metade da década de 1980 em diante (Cardoso, 1994) devido à consolidação da democracia eleitoral na América Latina e à insatisfação com os resultados das democracias para as classes populares. Reconhece-se, no entanto, que houve abertura de um campo de experiências e práticas como aquisição e produção de conhecimento no âmbito local marcado pela emergência de novos atores sociais (Sader, 1988; Gohn, 1991; Doimo, 1995; Scherer-Warren, 2005). Nos anos 1980, com o aprofundamento do processo de democratização, as clivagens latentes no conceito de sociedade civil vêm à tona. Segundo Costa (2002, p. 57), o termo sociedade civil apresentava-se no Brasil com “traços conceituais muito difusos”. Os atores sociais, muito heterogêneos, “integravam o conjunto de protagonistas do processo de restabelecimento da democracia”. No que se refere aos movimentos sociais da segunda metade dos anos 1980 e início dos anos 1990, falava-se recorrentemente de refluxo e cooptação. O conceito de sociedade civil predominante na época parece ter contribuído para esta interpretação. Para Costa (2002, p. 56), desde o período da ditadura militar no Brasil, articulou-se uma linha marxista de interpretação do conceito de sociedade civil, fundada na concepção gramsciana (Coutinho, 1999a; 1999b), que entende que os movimentos sociais emergem da sociedade civil, podem contribuir para a transformação da lógica da relação de classes, mas devem estar articulados com outras organizações, como partidos políticos, organizações econômicas, visto que não possuem autonomia. Outra visão nos mostra que muito pouco se pensou, naquela época, sobre a relação entre movimentos sociais e o Estado, pois

[o] problema, nessas interpretações, era a falta de uma descrição que apanhasse aspectos importantes. Desse modo, quando passamos para uma outra fase – e passamos porque o contexto político mudou, não por causa de uma pura elaboração

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interna dos movimentos -, quando chegamos aos anos 1980, quando começa o processo de democratização com o pluripartidarismo, o arranjo de novas formas de gerenciamento das políticas públicas, iniciado, inclusive, um pouco antes da democratização, estes estudos se voltam meio perplexos para o processo de institucionalização. [...] Estou querendo mostrar como os próprios contextos políticos e o próprio contexto ideológico recortam de certa maneira um objeto e como esse recorte, no caso dos movimentos sociais, dificultou o entendimento da dinâmica do que aconteceu depois. (CARDOSO, 1994, p. 85).

O objetivo deste trabalho consiste em apresentar parte do processo de investigação de um movimento social urbano por moradia: o quadro teórico de referência sobre sociedade civil, a construção do sistema de categorias e a articulação entre ambos. A nosso ver, a discussão é justificada pela crescente importância que o conceito de sociedade civil tem ganhado no campo da Administração. Apresenta-se o marco teórico fundamental do conceito de sociedade civil, uma visão do debate atual no Brasil, a construção de categorias e metacategorias analíticas. Encerram o trabalho um conjunto de considerações finais. 3 MARCO TEÓRICO Consideramos autores como Hegel, Marx, Gramsci, Cohen e Arato. Emerge as idéias de sociedade civil dual; reduzida à dimensão econômica; fortalecida pelas concepções de cultura, associativismo e sociedade policêntrica; concebida como triádica e baseada no modelo de sociedade em dois níveis. 3.1 A noção de sociedade civil em Hegel Para Hegel, a ação humana acontece em três níveis: família, sociedade civil e Estado (1997, p. 36) como momentos diferentes de uma vida ética (Sittlichkeit), capaz de combinar a dualidade Estado/sociedade nesse esquema de três partes (p. 149). O termo “sociedade civil”, criado por Hegel, é diferenciado de Estado e família. No mundo moderno, a sociedade civil é vista como extensão da família e pressupõe a existência do Estado, ou seja: “[é] o grau de diferença; de início expresso abstratamente, confere a determinação à particularidade que tem, no entanto, uma relação com o universal”, ou seja, o Estado (p. 167). Trata-se do trânsito da família à sociedade civil. A família é vista como uma multiplicidade de famílias de acordo com o princípio da personalidade, ou seja, pessoas concretas e independentes que mantêm entre si uma relação extrínseca, mas que, ao atingirem a maioridade, tornam-se capazes de possuir propriedades e constituir suas próprias famílias. A pessoa e suas ações buscam a obtenção de bens para suprir as suas carências, necessidades e vontades. Os indivíduos deixam a unidade da família para ingressar na competição econômica e constituir novas unidades familiares. No modelo de Hegel, a sociedade civil é baseada no associativismo e a família é considerada como natural (espírito moral objetivo imediato). As ações resultantes de interesses particulares produzem a sociedade civil, enquanto as ações de interesse geral dirigidas ao bem universal produzem o Estado. Assim, para Hegel, a sociedade civil está separada do Estado e pode ser caracterizada como produto da ação particular e um sistema de necessidades interdependentes (p. 167-168) que cria um nível específico de comunicação e interação com a finalidade de satisfazer as necessidades humanas (a competição econômica). No entanto, a sociedade civil não se restringe a um sistema de necessidades. Há nela outras categorias: o direito, a polícia, as corporações, a legislatura e a opinião pública que pode lhe atribuir uma dualidade. Embora não seja consenso entre seus intérpretes, o conceito hegeliano de sociedade civil é fundamentalmente dual. A sociedade civil não é só ação humana, mas também normas, ou seja, direito abstrato (princípios dogmáticos), Moralität (auto-reflexão do sujeito moral solitário) e Sittlichkeit (razão prática). Para Hegel, a sociedade civil é norma e ação. Arato (1994) afirma que a sociedade civil é uma estrutura que contém tensões entre as

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normas e as ações (ser e dever ser, sujeito e objeto, direito e dever, racional e efetivo), pois “Hegel, certamente, admitiu um conflito entre a norma institucionalizada, a base real da oposição moral e a prática das instituições” (p. 48). Dividida entre Sittlichkeit e Antisittlichkeit (momento da crítica), a sociedade é o “lugar no qual a unidade da vida ética substantiva é alcançada apenas na aparência” (p. 49). 3.2 A noção de sociedade civil em Marx Sociedade civil ou burguesa, para Hegel (die bürgliche Gesellschaft), é uma esfera de indivíduos que deixaram a unidade da família para ingressar na competição econômica, sendo contrastada com o Estado ou sociedade política. Trata-se de uma arena de necessidades particulares, interesses egoístas e divisionismo dotado de um potencial de autodestruição. O “jovem” Marx (1843; 2005 [1843]; 1974a [1844, 1932]) valeu-se do conceito de sociedade civil em sua crítica a Hegel e ao idealismo alemão como ponto de partida para a sua elaboração predominantemente econômica. Posteriormente, o conceito praticamente desaparece na obra, embora seja possível argumentar que algumas implicações de seus desenvolvimentos anteriores sobre o tema permanecem em sua visão da política. No entanto, parece não ser possível encontrar em Marx (1847; 1974e [1851]; 1974c [1857]; 1974d [1862-1863]; 1974b [1865, 1898]; 1978 [1867...]) um conceito único e bem acabado de sociedade civil, visto que na rápida evolução do seu pensamento ocorreram inúmeras “rupturas” internas. A primeira característica da sociedade civil em Marx é o recorte do denso conceito hegeliano e sua conseqüente redução. Com Adam Smith (1974 [1784]) e os economistas clássicos, dos quais foi atento leitor, a noção passa por uma redução econômica, ou seja, refere-se principalmente à instância econômica da atividade social. Assim, a crítica à sociedade civil, presente nos Manuscritos Econômicos e Filosóficos, compreende o âmbito da economia política. No decorrer do tempo, essa noção de sociedade civil foi se consolidando até a última versão em Marx (1978 [1867...]). Nela, as outras instâncias da sociedade civil hegeliana bem como o Estado e o espírito absoluto ficam fora e “acima” da sociedade civil, agrupadas na noção de “superestrutura” ou de reprodução das relações sociais de produção. É perceptível a ênfase nos fatores econômicos e macroestruturais da teoria marxista clássica e de sua concepção de sociedade civil na fase “madura”. 3.3 A noção de sociedade civil em Gramsci Gramsci (1999-2002) parte de Hegel e Marx para desenvolver sua teoria e modelo de sociedade civil que representa um deslocamento conceitual em relação a Marx, derivado diretamente de Hegel. Do ponto de vista estrutural, “[a] sociedade civil, em Gramsci, não pertence ao momento da estrutura, mas ao da superestrutura” (Bobbio, 1999, p. 54, grifo do autor). No entanto, suas reflexões capturaram uma mudança ocorrida no início do século XX, “um novo tipo de sociedade civil” em relação ao Estado submetido à política hegemônica (Semeraro, 1999, p.71). Gramsci compartilha, de modo geral, da crítica marxiana à ordem burguesa. No entanto, desenvolve uma noção de Estado que amplia dialeticamente algumas teses de Marx. Para Marx, poder é sinônimo de coação, que se manifesta, principalmente, por meio do controle do aparelho do Estado, visto como construção institucional a serviço da classe dominante. Para Gramsci, o poder da classe dominante se define principalmente no âmbito da cultura, considerada por Marx como ideologia. Observa-se, por esta concepção de Estado, que a ordem social não se restringe à determinação da superestrutura política e ideológica pela base material, ou seja, o controle puramente econômico do aparelho do Estado pela classe dominante. No entanto, parece fundamental a idéia de que as classes sociais (como sujeitos da história) devem tornar-se Estado (instrumento de uma classe social; lugar de luta pela hegemonia e processo de unificação das classes dirigentes) para serem hegemônicos.

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As concepções de associativismo, instituições culturais e sociedade policêntrica são marcantes na obra de Gramsci. O autor demonstra como a dominação de uma classe assenta-se em múltiplas dimensões, entre elas, a capacidade de dirigir, intelectual e moralmente, o conjunto da sociedade e de gerar consenso. Destaca-se a ênfase às práticas hegemônicas e de dominação e a relação com a noção de bloco histórico. Relacionada à noção de hegemonia, caracterizada pela contingência e instabilidade, Gramsci indica uma dinâmica denominada como contra-hegemonia, que consiste em dar curso a reformas intelectuais e morais, que tenham potência para criar novas hegemonias (Nogueira, 2004, p. 243). Gramsci utilizou duas formas particulares de estratégia comumente verificáveis em conflitos sociais. A revolução passiva descreve processos de mudança reformistas a partir das instâncias mais elevadas de poder, implicando extensivas concessões por parte de grupos hegemônicos mais fracos, freqüentemente no contexto de programas nacionalistas ou populistas, no esforço de preservar aspectos essenciais da estrutura social. A guerra de posição, termo oriundo do universo militar, sugere que grupos que desafiam a hegemonia a partir das bases da estrutura social devem evitar confrontos frontais contra adversários entrincheirados. Guerra de posição constitui uma estratégia de longo prazo, coordenada por múltiplas bases de poder, para ganhar influência em instituições culturais da sociedade civil, desenvolvendo capacidade organizacional associativa e obtendo novos aliados. O poder não é atribuído a cada componente, mas à configuração de forças sociais (como num tabuleiro de xadrez). Cada conjunto de movimentos e contramovimentos apresenta novas possibilidades de abrir passagem no bloco histórico. Estratégias bem sucedidas requerem análises cuidadosas, pois o problema da relação entre estrutura e superestrutura deve ser considerado, se as forças que se encontram ativas na história de um período são analisadas e as relações entre elas determinadas (Levy e Egan, 2003). 3.4 A noção de sociedade civil em Cohen e Arato Cohen e Arato (1992), com base em Habermas (2003 [1962]; 1987; 1996), defendem a tese da superioridade da abordagem triádica para compreender a sociedade civil. Segundo os autores, o conceito de sociedade civil precisa ser reconstruído. Para Habermas (1987) os sistemas são instituições definidas pela capacidade de responder a exigências funcionais impostas pelo meio. O mundo da vida consiste nas formas integradas de vida social por meio de normas consensualmente aceitas pelos participantes. Sua racionalização possibilita a diferenciação de subsistemas autônomos, abrindo o horizonte utópico de uma sociedade civil, no qual as esferas de ação constituem os fundamentos do mundo da vida das pessoas e famílias (esfera privada) e do cidadão (esfera pública), modelo que se aproxima do modelo conceitual triádico de Gramsci. O conceito de sistema deriva do funcionalismo parsoniano, para o qual a interação e a integração social realizam-se por meios regulativos, como dinheiro e poder. Na teoria habermaseana, no entanto, os meios de coordenação, dinheiro e poder, que integram a economia e o Estado, parecem ser menos análogos em sua operação do que na teoria de Parsons (1951a; 1951b; 1971). As suas situações padrão envolvem uma estrutura fundamentalmente diferente: troca ligada ao ganho e, em última instância, à sanção positiva, no caso de dinheiro; subordinação e comando no caso do poder, ligado em última instância a uma sanção negativa, exercida a partir de posições hierarquicamente diferenciadas. Na evolução das sociedades arcaicas para as modernas, na medida em que as estruturas do mundo da vida se diferenciam, forma-se um poder político que obtém autoridade pela capacidade de usar meios de sanção jurídica. O poder de organização, que se constitui no plano da dominação política, converte-se no Estado moderno. O mercado surge no marco das sociedades estatalmente organizadas, que se rege por meio de relações de intercâmbio generalizadas simbolicamente, ou seja, pelo dinheiro.

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Cohen e Arato (1992) sustentam que a noção de mundo da vida, como foi desenvolvida por Habermas (1987) e posteriormente revista frente às criticas (Costa, 2002, p. 24-25), tem dois níveis distintos que, adequadamente diferenciados e esclarecidos, possibilitam definir o exato local da sociedade civil dentro da estrutura conceitual global proposta por Habermas. A reprodução do background cultural e lingüístico, mas também da segunda dimensão do mundo da vida - seus componentes institucionais ou sociais - acontece por meio da comunicação, o que implica os processos reprodutivos de transmissão cultural, integração social e socialização. A diferenciação estrutural do mundo da vida, que é parte do processo de modernização, acontece por meio de instituições especializadas na reprodução de tradições, solidariedades e identidades (igrejas, associações culturais, escolas, etc.). Para Cohen e Arato (1992, p. 429), o nível institucional do mundo da vida é o lugar da sociedade civil. No modelo de Habermas (1987), sistema e o mundo da vida ocupam posições diferentes e complementares na reprodução da sociedade. O sistema é responsável pela reprodução material e o mundo da vida, pela reprodução simbólica. Assim, a evolução do sistema corresponde ao aumento de sua capacidade de controle, enquanto a evolução do mundo da vida corresponde ao aperfeiçoamento da capacidade comunicativa e da prática do entendimento. A complementaridade entre sistema e mundo da vida reside na seguinte constatação: o aumento da complexidade sistêmica exige uma institucionalização dos novos níveis de integração sistêmica, por conseguinte, um desenvolvimento da competência comunicativa e da prática de entendimento. Habermas defende a primazia do mundo da vida e da reprodução simbólica em relação ao sistema, indicando que novas etapas da diferenciação sistêmica só podem ser efetivas quando a racionalização do mundo da vida tenha atingido um nível correspondente. 4 DEBATE TEÓRICO NO BRASIL Para capturar parte do debate atual no Brasil, valemo-nos de autores como Luís Alberto Restrepo, Leonardo Avritzer e Sérgio Costa. Do embate de idéias, sobressai a proposta do fortalecimento da sociedade civil por grêmios e movimentos sociais; a identificação de modelos brasileiros e diferenças em relação ao Primeiro Mundo; a relevância da noção de esfera pública local para o movimento de construção democrática. 4.1 Fortalecimento da sociedade civil por grêmios e movimentos sociais Pesquisador colombiano, Luis Alberto Restrepo expressa a idéia de fortalecimento da sociedade civil por meio dos grêmios, no âmbito da América Latina e aplicada também ao processo brasileiro. Restrepo (1990) expande a concepção gramsciana de direção intelectual e moral, avançando no sentido de uma direção coletiva que se expressa pelos grêmios e movimentos sociais, tanto de classes dirigentes como classes subalternas. Os grêmios das classes dirigentes, segundo o autor, não têm problemas para ser dominantes e dirigentes da sociedade (Motta [1979] discute a trajetória burguesa no Brasil). Os grêmios das classes subalternas representam “ameaça à democracia” e são vistos “com temor e desconfiança pelas classes dirigentes, pelos partidos e pelo Estado, ao menos na América Latina” (p. 87). Assim, a vinculação entre grêmio e partido define a relação entre sociedade civil e sociedade política e “somente a relação adequada entre estas duas formas de organização pode garantir, a longo prazo, uma verdadeira democracia” (p. 92). No entanto, a classe dirigente estabelece a pauta das relações sociais entre movimentos sociais, grêmios subalternos e partidos políticos (p. 92). Se “o conceito de antagonismo deve ser substituído pelo de conflito e a noção de inimigo de classe pela de adversário” (p. 81) e se a classe dirigente se converte em ator social privilegiado, por meio das “agremiações empresariais” (p. 86), temos um jogo (pois deixa de ser luta) que confronta capital e proletariado, no qual um dos adversários ocupa

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a posição de árbitro (pelo menos no sentido do ator social que define a agenda para as relações sociais) e as condições de arbitragem dependem do quão adequadas são as relações que o adversário/árbitro tem com os demais atores (p. 92). 4.2 Modelos brasileiros e diferenças em relação ao Primeiro Mundo Avritzer (1994b) entende como sociedade civil a combinação entre formas sociais modernas ocidentais (modernidade) e instituições de implementação fora dos centros de origem (modernização). Assim, a sociedade civil moderna surge dos processos de diferenciação social, sistema legal e mecanismos de publicidade, estruturas intermediárias capazes de produzir solidariedade social. No entanto, a modernização também estaria sujeita aos processos da inversão entre racionalização cultural e racionalização societária geradora da imitação social; a constituição de atores sociais por um processo de aprendizado poderia incorporar as formas de ação na qual a autonomia prevaleça. Na análise das sociedades civis brasileiras, o autor tem como pressuposto a distinção entre modernidade e modernização. A relevância da noção de sociedade civil é associada ao seu ressurgimento na teoria e na política nos anos 1980 (Keane, 1988a; 1988b; Wolfe, 1989; Cohen e Arato, 1992). Tal ressurgimento está ligado a três fenômenos contemporâneos: a) esgotamento das formas de organização políticas baseadas na tradição marxista e a reavaliação das proposições marxianas de fusões entre sociedade civil, Estado e mercado; b) fortalecimento nos países centrais do Ocidente, pela crítica ao desempenho do Estado de bem-estar social, dos movimentos sociais, cujas demandas não eram mais por ação e serviços estatais, mas, principalmente, pelo respeito à autonomia de certos espaços sociais pelo Estado; c) os processos de democratização da América Latina e no Leste Europeu. Avritzer (1994b), na linha de Weber (1989), destaca que a modernidade ocidental “consiste na capacidade de lidar com processos cognitivos, culturais e morais de forma reflexiva” (p. 275) em dois processos de racionalização: a diferenciação e a desvinculação. A diferenciação coloca o mercado como instituição paradigmática de coordenação da ação regida por resultados, ao lado do Estado. A desvinculação é resultante de formas normativas de coordenação da ação que levam “ao surgimento de formas reflexivas e comunicativas em estruturas paralelas àquelas no interior das quais a razão instrumental se desenvolve” (p. 276). As contribuições de Habermas (1987) tornam-se significativas pois, apoiando-se na noção de “processo de lingüistificação do sacro”, de Durkheim (1999), preconiza a substituição do acordo moral fundado no sacro por formas racionais de generalização de interesses. Assim, há uma “ligação umbilical entre a necessidade de se produzir formas modernas de solidariedade e o conceito de sociedade civil” (p. 276) que se encontra no cerne dos processos que constituíram originalmente a modernidade, representando “o fortalecimento de instituições já presentes no imaginário e na prática política dos atores sociais”. No processo de inovação social brasileiro, na década de 1970, “a modernização e modernidade foram consideradas sinônimos e a implementação de formas impessoais de atividade econômica foi associada à criação de uma sociedade moderna”. Na alternância entre populismo e autoritarismo, o Estado brasileiro constituiu seletivamente os atores sociais beneficiados pelo processo de modernização econômica e definiu as formas de ação em nível da economia e da política, recorrendo com freqüência a pratica intervencionista nos sindicatos, partidos e associações civis. Polarizam-se a reivindicação de modernidade (desenvolvimento) e a falta de formas organizativas de ação para discutir e contestar a forma de modernização realizada pelo Estado. A sociedade civil brasileira se organizou, segundo Avritzer (1994b, p. 283), “em oposição ao fracasso do projeto de imitação institucional”, via racionalização e contestação inerentes à modernização praticada, que o Estado julgou poder reduzir ao consumo. Para Avritzer (1994b, p. 284), “o que caracteriza a sociedade civil brasileira é a

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procura pela autonomia de uma esfera de generalização de interesses associada à permanência de uma forma institucional de organização baseada na interação comunicativa”. Para o autor, o surgimento da sociedade civil brasileira está associado a três fenômenos: a) o surgimento de atores sociais modernos e democráticos, trabalhadores e profissionais constituídos social, cultural e politicamente pelo processo de adaptação à vida urbana; b) a recuperação pelos atores da idéia de livre associação na relação Estado-sociedade e o questionamento de formas privatistas desta relação. Como as elites brasileiras mantiveram-se presas às práticas tradicionais, o processo de modernização ficou dependente da inovação social que aconteceria nas bases populares por um aprendizado coletivo baseado em solidariedade e disposição de lutar contra as dificuldades, ilusões, ambigüidades e contradições de suas condições de vida, tendo como ponto de partida as experiências e práticas sociais como forma de aquisição e produção de conhecimento. Assim, este tipo de aprendizado conectou a modernização brasileira à emergência da sociedade civil em oposição ao Estado; c) a constituição de estruturas legais, públicas, políticas capazes de promover a institucionalização dos anseios políticos e culturais da sociedade civil. No caso brasileiro, não foi a mudança estrutural da esfera pública nem o autoritarismo estatal que levaram à mobilização política, mas outros fatores: a constituição de atores sociais, o seu processo de aprendizado e o rompimento da Igreja Católica com o regime autoritário e com a forma de promover a modernização social. O rompimento eclesial está associado com uma disposição de incentivar o debate sobre as relações sociais, chegando à ação via movimentos urbanos, novo sindicalismo, associativismo civil e profissional da classe média desde o fim dos anos 1970. 4.3 A noção de esfera pública local e construção democrática Costa (1997; 1999-2000; 2002) aborda a esfera pública municipal e sociedade civil de forma inter-relacionada nas pesquisas realizadas em três cidades mineiras. Pressupõe que a esfera pública local é construída com a participação de “movimentos sociais e, de forma genérica, pelos atores da sociedade civil, em suas conexões com os demais atores locais”. O autor (1999-2000), pela “abordagem sociológica da democratização”, critica as teorias da transição democrática dominantes no Brasil nos anos 1970 e 1980. Tal abordagem procura mostrar que, ao lado da construção de instituições democráticas (eleições livres, parlamento ativo, liberdade de imprensa, etc.), a democracia depende da “incorporação dos valores democráticos às ‘práticas cotidianas’” (Avritzer, 1996, p. 143), apontando a necessidade de “estudar, reconstrutivamente, o padrão concreto de relacionamento entre o Estado, as instituições políticas e a sociedade, mostrando que nessas interfaces habita, precisamente, o movimento de construção da democracia” (Costa, 1999-2000, p. 1). O autor apresenta quatro modelos de espaços públicos no debate brasileiro: espaço controlado pelos meios de comunicação de massa; concepção pluralista de esfera pública; concepção republicana de esfera pública e de espaço público. Costa (2002, p. 22-29), ao discutir o mérito discursivo da esfera pública, refere-se à revisão analítica das teses centrais de Habermas (2003) no prefácio da reedição alemã de 1990. Segundo Costa (2002, p. 24), trata-se de um movimento de convergência no âmbito da concepção discursiva da esfera pública, ou seja, entre Habermas (2003; 1987) e Cohen e Arato (1992), colocando efetivamente a última como a principal referência para esta abordagem. As considerações sobre o espaço público brasileiro incorporam ainda a crítica de Habermas à visão republicana da democracia e as críticas feministas de Fraser (1992). Segundo Costa (2002, p. 29-36), a visão tradicional de espaço público no Brasil tem sido contraposta pela idéia de que desde a década de 1980 há um processo de construção de uma esfera pública. Assim, há pesquisadores brasileiros de diferentes orientações teóricas e políticas, identificados com o modelo republicano, influenciados pelo pluralismo, defensores

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de uma performance participativo-institucional ou de que “o espaço público não constitui mero palco de encenação política, mas um lugar ambivalente da topografia social, no qual, de um lado, as relações de poder são reproduzidas, de outro, inovações sociais são legitimadas” (Costa, 2002, p. 32). Tais relações enfatizam as premissas do modelo republicano ou o caráter público/publicista de esfera pública, como mostram Sader (1988) e Cardoso (1994). 5 CONSTRUÇÃO DE METACATEGORIAS E CATETORIAS ANALÍTICAS Para promover a articulação entre quadro teórico e sistema de categorias (vide Diagrama 1), procura-se apresentar aspectos do seu processo de construção, ocorrida ao longo do trabalho de pesquisa. Neste sentido destacam-se: a) opções metodológicas da pesquisa original; b) definições das categorias e metacategorias que resultaram no chamado sistema de categorias (Gil, 1994).

Diagrama 1 – Sistema de categorias

Legenda: objeto de análise; metacategorias; categorias. Fonte: elaborado pelo autor

5.1 Opções metodológicas Para se apreender o sistema de categorias e a sua articulação com quadro teórico é necessário explicitar as definições metodológicas do trabalho de pesquisa original. Assim, neste item abordamos as opções em relação ao nível de análise, as definições quanto às experiências dos sujeitos que se propôs estudar, a abordagem dada à questão da dimensão histórica do objeto de pesquisa e os procedimentos metodológicos. a) Opções em relação ao nível de análise Em relação ao nível de análise, destaca-se que se privilegiou o nível de análise micro, entendendo também que “os movimentos sociais devem ser estudados em dupla especificidade” (Wanderley, 2005), ou seja, nas dimensões histórico-estrutural e conjuntural. Em outras palavras, pretendeu-se coletar dados e construir instrumentos para a análise das experiências participativas dos sujeitos (coletivos e individuais) no seu cotidiano para responder duas questões de pesquisa: a) como os sujeitos individuais, participantes do

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movimento social urbano por moradia no bairro Conceição, na década de 1980 entende (hoje) suas experiências participativas? b) Como tais experiências influenciaram a vida associativa e participativa do Bairro nos anos 1980? As linhas gerais da abordagem são oriundas da fenomenologia social de Berger e Luckmann (2000). No Brasil, as pesquisas sobre movimentos sociais urbanos que foram fontes de inspiração são os trabalhos de Sader (1988) e Doimo (1984; 1986; 1995). b) As experiências dos sujeitos Considerou-se experiência participativa como a significação concreta e pessoal do que foi vivido por um indivíduo ou grupo, em situação de luta e conflito social. Assim, o seu estudo reflete uma busca pelas especificidades do lugar e das situações, a partir dos discursos dos sujeitos. Trata-se de um exercício de reflexão por meio do resgate de sujeitos históricos e de seu repertório de ação coletiva, na busca por aprendizado de uma participação mais igualitária, relacionada à noção de cidadania (Dagnino, 1994). c) Dimensão histórica do objeto de pesquisa Os dados coletados estavam sujeitos aos critérios seletivos da lembrança dos entrevistados e ao processo de recriação da realidade, como afirma Bosi (2004):

Não dispomos de nenhum documento de confronto dos fatos relatados que pudesse servir de modelo, a partir do qual se analisassem distorções e lacunas. Os livros de história que registram esses fatos são, também, um ponto de vista, uma versão do acontecimento, não raro desmentidos por outros livros com outros pontos de vista. A veracidade do narrador não nos preocupou: com certeza seus erros e lapsos são menos graves em suas conseqüências que as omissões da história oficial. Nosso interesse está no que foi lembrado, no que foi escolhido para perpetuar-se na história de sua vida. (p. 37).

Os fatos relatados pelos entrevistados e revelados no material audiovisual são resultado de escolhas de seus autores. Tivemos especial cuidado ao estabelecer as bases da relação social entre entrevistador e entrevistado (longo prazo, empatia do entrevistador, dar voz ao entrevistado). Na maioria dos casos, entregamos com antecedência a grade de entrevistas, com muita conversa sobre o propósito da pesquisa, admitindo com Bosi (2004) a premissa da “veracidade do narrador”. As análises e interpretações das entrevistas são dos fatos lembrados por um processo próprio dos entrevistados. Sabemos da sua existência, mas consideramos como dado os seus discursos.

Esse convívio de lembrança e crítica altera profundamente a qualidade da segunda leitura. A qual, só por essa razão, já não “revive”, mas “re-faz” a experiência da primeira. (BOSI, 2004, p. 57).

d) Procedimentos metodológicos Os procedimentos metodológicos foram: a) entrevista não diretiva; b) pesquisa documental; c) análise e interpretação dos dados. A entrevista não diretiva consiste numa prática social e/ou um dispositivo de pesquisa entre duas pessoas (ou grupo), um entrevistador e um entrevistado, conduzida e registrada pelo entrevistador (Blanchet, 1985, p. 7). Foram realizadas 14 entrevistas sendo nove com participantes da liderança do movimento social e cinco complementares com representante da Prefeitura Municipal, de uma associação local e pessoas da vizinhança. A pesquisa documental abrangeu o arquivo da Sociedade Amigos de Bairro do Jardim Conceição – SAB Jd. Conceição (263 associados), alguns participantes do Movimento Sem-Terra Nova Vida (57 famílias, 108 pessoas, conforme cadastramento realizado pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Osasco (CDDHO), material audiovisual sobre as ocupações fornecido por representantes da Igreja Católica local (oito materiais audiovisuais,

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totalizando 5 horas, 11 minutos e 13 segundos de registro) e pesquisa em jornais locais, O Diário de Osasco e Primeira Hora (46 notícias publicadas entre 02/07/1987 e 07/02/1992). Os dados coletados na SAB Jd. Conceição e CDDHO foram tratados por meio de procedimentos estatísticos descritivos não probabilísticos. Entrevistas, material audiovisual e notícias de jornais (dados textuais) foram transcritos e tratados conforme os procedimentos de análise e interpretação descritos a seguir. A análise e interpretação dos dados basearam-se em Ricoeur (1976) e Gil (1994). Ricoeur (1976) distingue semiótica (ciência dos signos) e semântica (a ciência das frases), focalizando a segunda e designando a frase como unidade de análise do discurso. O discurso porta uma dialética nuclear de evento (o sujeito falando) e significação (o que o sujeito quer dizer), sendo, ao mesmo tempo, acontecimento e significação. Para Gil (1994), não existe um processo único de análise do discurso, mas várias etapas comuns: a) leitura ou audição dos discursos completos; b) agrupar fragmentos de discursos com unidades temáticas (categorização); c) busca de tendências e formulação de conclusões. Os principais procedimentos são redução de dados (segmentação da entrevista, codificação do discurso, seleção dos dados), disposição dos dados e extração de conclusões (impressões iniciais, conteúdo das categorias, comparação entre entrevistas e grupos de entrevistas, interpretação, verificação das conclusões); d) apresentação dos resultados. A codificação consiste em atribuir códigos a segmentos na entrevista. A divisão em unidades se realiza com critério temático sendo que segmentação e codificação ocorrem simultaneamente. As operações de categorização e codificação consistem em identificar fragmentos dos discursos com temas ou tópicos que os descrevem ou interpretam e atribuir-lhes um código próprio. As categorias foram identificadas por um código de três letras relacionadas, seguindo o critério de utilizar nomes de categorias estreitamente relacionados com o conceito que representam de forma a facilitar a associação entre código, nome e conceito. Neste trabalho, o processo de codificação foi aberto e indutivo pelo qual o sistema de categorias não era estabelecido previamente, mas surgiu como conseqüência do próprio processo de codificação, conforme passamos a detalhar. 5.2 Definições de categorias e metacategorias Procuramos descrever o sistema de categorias que, mantendo em seu centro a noção analítica do objeto de análise, é composto de oito metacategorias e 33 categorias. A apresentação encontra-se organizada por metacategorias, iniciando por “sociedade civil local” e seguindo em sentido horário considerando o Diagrama 1. a) Sociedade civil local Sociedade civil local abrange dois conjuntos de categorias. O primeiro, de natureza empírica, diz respeito aos atores sociais: Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Osasco; pessoas de apoio e vizinhança próxima; Igreja Católica local. O segundo, exige definições conceituais. São as categorias referentes à esfera pública, solidariedade, associação, liderança e Direitos. As categorias encontram-se brevemente descritas no Quadro 1 abaixo. Quadro 1 – Breve descrição de categorias da metacategoria sociedade civil local Cód. Definição das categorias ASS Associações e vida associativa no bairro. Alusões às associações e à vida associativa no bairro. CDD Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Osasco e a sua participação no movimento social..

DIR

Direitos. Sistematização da liberdade, das regras das atividades humanas que são reflexo das concepções, necessidades e interesses da classe dominante, produzida pelo desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção que são a base econômica do desenvolvimento social. Em especial o direito de moradia.

ESP Esfera pública. Referências feitas às arenas nas quais se consolidam, no âmbito do movimento social, a vontade coletiva e/ou a justificação das decisões políticas previamente acertadas.

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IGR Igreja Católica local, sua ação e participação no movimento social.

LID Liderança. Referências às pessoas que atuam como organizadores em movimentos e entidades associativas, suas características e atribuições.

PAP Pessoas de apoio e vizinhança próxima. Referências dos entrevistados a pessoas de apoio e à vizinhança no bairro Conceição, suas ações em relação ao movimento social.

SOL Solidariedade. Alusões à geração e utilização de solidariedade no cotidiano e nas ações coletivas. Fonte: elaborado pelo autor. b) Mercado Definimos mercado a partir da abordagem da diferenciação entre sistema e mundo da vida. A racionalização, como processo de diferenciação dos subsistemas de ação estratégica (mercado e Estado) e mundo da vida, permite definir o mercado na esfera sistêmica, diferenciado do Estado, e relacioná-lo à subsistência (tanto como participantes do movimento, como moradores do bairro). Nesse sentido, destacamos duas categorias, consumo e relação de trabalho, que nos permite examinar as condições pelas quais os sujeitos se relacionam com o mercado. É preciso reforçar o foco na interface dos sujeitos com o mercado, e não o estudo do mercado em si. As categorias estão brevemente descritas no Quadro 2. Quadro 2 - Breve descrição de categorias da metacategoria mercado Cód. Descrição

CON Consumo. Maneira como as pessoas se mantêm e se reproduzem como indivíduos sociais no bairro. Considera-se que no capitalismo, o consumo assume essencialmente a forma de consumo de mercadoria (bens e serviços).

RTB Relação de trabalho. Alusões a relações de trabalho pelos entrevistados. Fonte: elaborado pelo autor. c) Família Ao referir-se à família, pretende-se colocar em evidência a análise de relações familiares e do papel feminino. Entendemos a família como instituição (Szymanski, 1992) de diferentes formações, que servem de base tanto ao processo migratório como na ocupação de terra urbana. No âmbito do nosso trabalho, consideramos a família como o principal espaço da esfera privada, elemento organizador de ações coletivas, fonte e legitimação de força social. No âmbito da família, assim como também na sociedade civil, reconhecemos o papel diferenciado da mulher (Manzini-Covre, 1996), quando se compara com outras formas de atuação. Nos movimentos sociais analisados, as mulheres foram também participantes da experiência participativa. As categorias encontram-se brevemente descritas no Quadro 3. Quadro 3 - Breve descrição de categorias da metacategoria família Cód. Descrição FEM Feminino. Referências feitas pelos entrevistados à participação das mulheres no movimento social.

RFA Referência que fazem os entrevistados a relações entre membros de uma família e seus efeitos no âmbito do movimento social.

Fonte: elaborado pelo autor. d) Repertório Repertório significa a possibilidade de acumulação de experiências participativas. Os entrevistados apresentaram experiências participativas anteriores. Além disso, os relatos foram analisados sob o aspecto de experiências participativas no movimento social e no bairro. As categorias encontram-se brevemente descritas no Quadro 4. Quadro 4 - Breve descrição de categorias da metacategoria repertório Cód. Descrição

EXB Experiências participativas no bairro. Elementos do repertório de ação coletiva que são referidos como existentes no bairro Conceição.

EXM Experiências participativas no movimento social. Elementos do repertório de ação coletiva que são

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referidos como existentes nas práticas do movimento social.

EXP Experiência prévia. Elementos do repertório de ação coletiva que são referidos pelos entrevistados como suas próprias experiências vivenciadas no decorrer de suas trajetórias sociais e anteriores ao movimento social.

Fonte: elaborado pelo autor. e) Movimento social urbano Em relação ao movimento social urbano, pretendeu-se colocar em evidência diferentes aspectos: ação coletiva, autonomia, organização, preparação, resultados, situação de carência, trajetória do movimento social, valores e normas. Vide Quadro 5 abaixo. Quadro 5 - Breve descrição de categorias da metacategoria movimento social urbano Cód. Descrição

ACO Ações coletivas, lutas sociais e resistências. Relato dos entrevistados sobre ações coletivas, lutas sociais e ações de resistência no dia-a-dia do movimento social (Gohn, 2004, p. 123).

AUT

Natureza autônoma das ações sociais coletivas, lutas coletivas e resistências coletivas. O sujeito coletivo porta particularidades, não se apresenta como portador da universalidade definida por uma ou mais instituições. As pessoas (trabalhadores, cidadãos, migrantes) participam diretamente de decisões (Gohn, 2004, p. 135).

ORG Organização do movimento social. Explicações dadas pelos entrevistados sobre como o movimento social foi organizado para a ação: objetivos, estratégias, acesso aos recursos, resultados, etc.

PRE Preparação das pessoas para a ação coletiva segundo um projeto do movimento social. Explicação dada pelos entrevistados sobre a preparação prévia do movimento social, freqüentemente associada ao termo “discussão”.

RES Explicações dadas pelos entrevistados sobre os resultados do movimento social.

SIC Situação de carência. Descrições e explicações dos entrevistados sobre a situação de carência que contribuiu para a formação do movimento social (Gohn, 2004, p. 266)

TRM Trajetória do movimento social urbano por moradia. Categoria que se presta à reconstituição dos fatos e captação das explicações que os sujeitos formulam por terem agido de determinada forma no âmbito do movimento social urbano por moradia no bairro Conceição (Gohn, 2004, p. 147)

VAN Referência dos entrevistados aos elementos básicos para construção de identidade coletiva, ou seja, valores, normas, sentimentos e emoções, identificadas em situações práticas no dia-a-dia do movimento social, de acordo com o depoimento dos entrevistados (Gohn, 2004, p. 123)

Fonte: elaborado pelo autor. f) Trajetória social Percebeu-se que não era suficiente o estudo das experiências coletivas, mas dever-se-ia considerar as trajetórias individuais (De Gaulejac, 1987). As pessoas e famílias são trabalhadores, migrantes, sem-teto, que, por meio do movimento social urbano, buscaram os meios para transformar suas condições, ou seja, vir a ser trabalhadores, migrantes, “com-teto”. Esta trajetória que se inicia antes da manifestação do movimento social e se estende para além dela é que importa capturar. As categorias encontram-se brevemente descritas no Quadro 6. Quadro 6 - Breve descrição de categorias da metacategoria trajetória social Cód. Descrição

MIG Migração. Alusões ao processo pelo qual pessoas e famílias deslocam-se de sua cidade natal, muitas vezes, de sua origem rural, para os centros urbanos industriais em busca de uma vida melhor.

TIN

Trajetória individual. Categoria que se presta à reconstituição dos fatos e captação das explicações que os sujeitos formulam por terem agido de determinada forma no âmbito de sua trajetória pessoal que envolve a migração do meio rural, adaptação ao meio urbano industrial e adesão ao movimento social urbano por moradia no bairro Conceição.

Fonte: elaborado pelo autor. g) Política A política pode ser apreendida a partir de diferentes aspectos da sua manifestação nas situações analisadas. Optou-se realizar as análises do conflito social, interesses, poder,

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força social e representantes da sociedade política. As categorias encontram-se brevemente descritas no Quadro 7. Quadro 7 - Breve descrição de categorias da metacategoria política Cód. Descrição

COS Conflito social. Referências a lutas a respeito de valores ou reivindicações de status, poder e recursos, na qual os objetivos das partes conflitantes são não apenas obter os valores e resultados desejados, mas também neutralizar seus rivais, causar-lhes dano ou eliminá-los.

INT Interesses e negociação de interesses. Ligação feita pelos entrevistados entre ações, políticas, estado de coisas e o bem-estar de um indivíduo ou coletividade e referência a situações de negociação de interesses.

POD Poder e força social. Referência que fazem os entrevistados a situações nas quais se manifestou um poder ou força social, qualquer que seja a sua fonte e legitimação.

RSP Representantes da sociedade política. Pessoas que representaram o poder público nas deferentes situações analisadas.

Fonte: elaborado pelo autor. h) Condições de vida no bairro Fundamentado em São Paulo (1979), definimos como condição de vida no bairro algumas categorias relevantes de serviços públicos que interferem nas condições de vida do trabalhador-morador (Habitação, Violência, Saúde, Educação). As categorias encontram-se brevemente descritas no Quadro 8. Quadro 8 - Breve descrição de categorias da metacategoria condições de vida no bairro Cód. Descrição

EDU Educação. Referências dos entrevistados aos serviços prestados pela gestão pública ou privada que provê às pessoas do bairro conhecimentos, habilidades e competências necessárias à vida urbana.

HAB Habitação e infra-estrutura urbana. Referências feitas pelos entrevistados às questões habitacionais e condições de moradia (infra-estrutura urbana) do bairro Conceição, cuja gestão é responsabilidade do Poder Público.

SAU Saúde. Referências feitas pelos entrevistados às questões da saúde pública no bairro e que cabe à gestão pública gerir.

VIO Violência. Referências feitas pelos entrevistados às questões de violência no bairro e que cabe à gestão pública gerir.

Fonte: elaborado pelo autor. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O conceito de sociedade civil tem marcado presença na literatura e na prática da Administração. No campo da gestão pública, trata-se de uma noção fundamental para o entendimento do processo político brasileiro (Bresser Pereira, 1983; Nogueira, 2004) bem como da própria gestão pública no Brasil (Bresser Pereira, 1998; Abrucio, 2001; Avritzer, 2003; Nogueira, 2004). A novidade encontra-se na literatura no campo da administração de empresas, com o desenvolvimento emergente desde os anos 1990 do chamado terceiro setor, alguns autores buscam no conceito de sociedade civil subsídios para suas reflexões (Alves, 2004; Montaño, 2003; Neto e Froes, 1999). A proposta de pesquisa segundo uma perspectiva histórica e sociológica, desenvolvida neste trabalho, está ligada à compreensão das experiências participativas de sujeitos individuais e coletivas em movimentos sociais que são origem da formação de um bairro. Considera-se a experiência participativa como a significação concreta e pessoal do que foi vivido por indivíduos e grupos em situação de luta e conflito social. Neste sentido, tem-se por pressuposto que a história e a socialização no lugar devem ser consideradas em seu diagnóstico. Trata-se, ainda, de uma proposta de reflexão coletiva por meio do resgate do sujeito histórico e seu repertório na busca por aprendizado e inovação local. Indica-se que uma linha pela qual esta reflexão poderia fluir seria aquela que pode ser construída no Brasil a

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partir da Teoria Crítica ressignificada para os dias de hoje, que coloca em evidência, entre outras idéias, a “patologia social da razão” (Honneth, 2004). Pela proposta que fazemos, o quadro teórico encontra-se articulado com o sistema de categorias de forma a constituírem um instrumento de análise e interpretação dos discursos de interlocutores (no caso, entrevistados). No entanto, o sistema de categorias não foi construído senão mediante leituras das transcrições das entrevistas e o contato cada vez em maior profundidade com o conjunto dos dados coletados. Assim, o elemento que realiza a articulação entre teoria e dados, na tentativa de construir um sistema de categorias coerente e consistente, é o próprio pesquisador visto como “instrumento” de sua pesquisa. A trajetória da pesquisa opôs e fez convergir o quadro teórico e os dados em movimentos sucessivos de aproximação, avanços e distanciamentos que implicaram na reconfiguração da própria pesquisa. Eis o elemento “artesanal” da sua construção. Uma “supervisão” (professor orientador) foi fundamental, mas, no dia-a-dia, foi proveitosa a manutenção de uma atitude ao mesmo tempo criativa e disciplinada para entender as ligações que a pesquisa teve com a realidade que buscou explicar, sustentar a sua relevância, lidar com as expectativas e dar conta de demandas internas e externas de consistência, verdade e justificação. Por que uma abordagem como esta traria contribuições à Administração? Entendemos que seria útil no caso de projetos visando a construção de entendimento comum das situações e condições estudadas, desenvolvido em conjuntos com atores da sociedade civil. Em outras palavras, em situações nas quais seja possível considerar os atores sociais como sujeitos, portadores de história, produtores e produtos de socialização. Em estudos que têm a alteridade (Motta e Campos Netto, 1994) como uma noção a ser considerada. Pela experiência, a abordagem proposta provocou incertezas e tem limitações. As incertezas foram: o nível de representação das conclusões em relação ao bairro; as implicações do pesquisador ao interpretar os dados empíricos; a capacidade dos entrevistados de representar as experiências participativas vividas pelo conjunto dos ocupantes de terra que moram no bairro; se a visão dos não-ocupantes de terra moradores do bairro pôde ser capturada com as entrevistas realizadas com vizinhos representativos. As limitações relacionaram-se com a impossibilidade de extrapolação dos resultados para outras situações e as restrições em relação aos dados empíricos. As sugestões para pesquisa futuras consistem na utilização mais intensa da abordagem proposta em estudos nos campos da Administração. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRUCIO, F. L. Os avanços e os dilemas do modelo burocrático. In: BRESSER PEREIRA, L. C.; SPINK, P. Reforma do Estrado e administração pública gerencial. 4ª. ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001, p. 173-199. ALVES, M. A. O Conceito de Sociedade Civil: em busca de uma repolitização. Organização e Sociedade, v. 11 (Ed. Especial), p. 141-154, 2004. AVRITZER, L. Sociedade civil: além da dicotomia Estado-mercado. In: AVRITZER, L. (coord.). Sociedade civil e democratização. Belo Horizonte: Del Rey Ed., 1994a, p. 23-40. _____ Modelos de sociedade civil. In: AVRITZER, L. (coord.). Sociedade civil e democratização. Belo Horizonte: Del Rey Ed., 1994b, p. 269-303. _____ A moralidade da democracia. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte: UFMG, 1996. _____ Democracy and the public space in the Latin America. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2002. _____ O Orçamento Participativo e a teoria democrátioca. In: AVRITZER, L; NAVARRO, Z. A inovação democrática no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003, p. 13-60. BERGER, P L.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 2000. BLANCHET, A. Histoire de l’entretien non directif de recherché. In: L’entretien dans les sciences sociales. Paris: Dunod, 1985. p. 12-77.

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