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SIMP.TCC/Sem.IC. 2018(13); 1774-1788 FACULDADE ICESP / ISSN: 2595-4210 1774 CURSO DE DIREITO A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL: Abordagem crítica inimputabilidade penal THE REDUCTION OF CRIMINAL MAJORITY IN BRAZIL: Critical approach to criminal liability. Vanessa dos Santos Costa Resumo: A redução da maioridade penal está tendo uma grande repercussão no Brasil. Há entendimentos favoráveis e negativos quanto a questão, seja por doutrinadores e estudioso do direito que entendem que a preposição de redução é ato justo onde se puniria o indivíduo na medida de sua ação e há opositores que entendem que não adiantaria o estado endurecer as leis penais, quando o próprio Estado nãos as cumpre. Assim, o presente trabalho deseja estudar as implicações e as discussões acerca da inimputabilidade penal no Brasil e as possíveis consequências para os índices de criminalidade. Ademais, o presente estudo visa tecer comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescentes (ECA) nos pontos relacionados ao trabalho na intenção de analisar as regras aplicadas as infrações penais cometidas por menores de idades e a Emenda Constitucional nºs 171/93 e 33/2012; bem como, estudar as possíveis implicações dessa redução. Como metodologia, adotou-se a pesquisa documental indireta e bibliográfica, que busca informações em documentos que se relacionam com o problema de pesquisa. Por fim, concluiu-se que não há comprovação de que diminuição da idade penal o índice de criminalidade seja reduzido, no meu ponto de vista o ingresso desses jovens antecipado no sistema prisional irá transforma-los grandes criminosos. A violência no Brasil será solucionada com essa punição, mas sim por ações sociais e governos. Palavras-Chave: Maioridade Penal. Direito Penal. Inimputabilidade penal. Criminalidade. Abstract: The reduction of the criminal majority is having a great repercussion in Brazil. There are favorable and negative understandings on the matter, either by legal scholars and lawyers who understand that the preposition of reduction is a just act where the individual would be punished in the measure of his action and there are opponents who understand that it would not be good for the state to harden criminal laws , when the State itself does not comply with them. Thus, the present study wants to study the implications and the discussions about the criminal incomputability in Brazil and the possible consequences for the indices of crime. In addition, this study aims to comment on the Statute of the Child and Adolescent (ECA) in the points related to the work in order to analyze the rules applied to juvenile criminal offenses and Constitutional Amendment No. 171/93 and 33/2012 ; as well as to study the possible implications of this reduction. As methodology, indirect documentary and bibliographical research was used, which seeks information in documents that relate to the research problem. Finally, it was concluded that there is no evidence that a reduction in the criminal age of the crime rate is reduced, in my view, the entry of these young people into the prison system will transform them into great criminals. The violence in Brazil will be solved with this punishment, but by social actions and governments. Keywords: Criminal majority. Criminal Law. Criminal incompetence. Crime. Sumário: Introdução. 1. Os direitos da criança e do adolescente normatizados no Brasil. 2.O estatuto da criança e do adolescente (lei nº 8.069/1990). 3. A criminalidade de jovens no Brasil. 3.1 Os atos infracionais e as medidas aplicadas. 4. proposta de redução de maioridade penal e as suas possíveis consequência no Brasil. 5. motivos contra a redução da maioridade penal. Considerações Finais Referências Bibliográficas. EMAIL: [email protected] INTRODUÇÃO O tema redução da maioridade penal no Brasil envolve vários segmentos da sociedade, desde os sociais, jurídico e político, sendo que o último não é producente à sociedade, principalmente com relação a políticas públicas voltadas aos menores e a família destes. O sistema penitenciário brasileiro também não se situa entre os melhores do mundo. A superlotação nos presídios e as precárias situações destes nada favorecem a discussão sobre a modificação da inimputabilidade penal. Mas apesar disso, Como citar esse artigo: Costa VS. A redução da maioridade penal no Brasil: Abordagem crítica inimputabilidade penal. Anais do 13 Simpósio de TCC e 6 Seminário de IC da Faculdade ICESP. 2018(13); 1774-1788

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SIMP.TCC/Sem.IC. 2018(13); 1774-1788 FACULDADE ICESP / ISSN: 2595-4210

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CURSO DE DIREITO A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL: Abordagem crítica inimputabilidade penal THE REDUCTION OF CRIMINAL MAJORITY IN BRAZIL: Critical approach to criminal liability.

Vanessa dos Santos Costa

Resumo: A redução da maioridade penal está tendo uma grande repercussão no Brasil. Há entendimentos favoráveis e negativos quanto a questão, seja por doutrinadores e estudioso do direito que entendem que a preposição de redução é ato justo onde se puniria o indivíduo na medida de sua ação e há opositores que entendem que não adiantaria o estado endurecer as leis penais, quando o próprio Estado nãos as cumpre. Assim, o presente trabalho deseja estudar as implicações e as discussões acerca da inimputabilidade penal no Brasil e as possíveis consequências para os índices de criminalidade. Ademais, o presente estudo visa tecer comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescentes (ECA) nos pontos relacionados ao trabalho na intenção de analisar as regras aplicadas as infrações penais cometidas por menores de idades e a Emenda Constitucional nºs 171/93 e 33/2012; bem como, estudar as possíveis implicações dessa redução. Como metodologia, adotou-se a pesquisa documental indireta e bibliográfica, que busca informações em documentos que se relacionam com o problema de pesquisa. Por fim, concluiu-se que não há comprovação de que diminuição da idade penal o índice de criminalidade seja reduzido, no meu ponto de vista o ingresso desses jovens antecipado no sistema prisional irá transforma-los grandes criminosos. A violência no Brasil será solucionada com essa punição, mas sim por ações sociais e governos. Palavras-Chave: Maioridade Penal. Direito Penal. Inimputabilidade penal. Criminalidade. Abstract: The reduction of the criminal majority is having a great repercussion in Brazil. There are favorable and negative understandings on the matter, either by legal scholars and lawyers who understand that the preposition of reduction is a just act where the individual would be punished in the measure of his action and there are opponents who understand that it would not be good for the state to harden criminal laws , when the State itself does not comply with them. Thus, the present study wants to study the implications and the discussions about the criminal incomputability in Brazil and the possible consequences for the indices of crime. In addition, this study aims to comment on the Statute of the Child and Adolescent (ECA) in the points related to the work in order to analyze the rules applied to juvenile criminal offenses and Constitutional Amendment No. 171/93 and 33/2012 ; as well as to study the possible implications of this reduction. As methodology, indirect documentary and bibliographical research was used, which seeks information in documents that relate to the research problem. Finally, it was concluded that there is no evidence that a reduction in the criminal age of the crime rate is reduced, in my view, the entry of these young people into the prison system will transform them into great criminals. The violence in Brazil will be solved with this punishment, but by social actions and governments. Keywords: Criminal majority. Criminal Law. Criminal incompetence. Crime. Sumário: Introdução. 1. Os direitos da criança e do adolescente normatizados no Brasil. 2.O estatuto da criança e do adolescente (lei nº 8.069/1990). 3. A criminalidade de jovens no Brasil. 3.1 Os atos infracionais e as medidas aplicadas. 4. proposta de redução de maioridade penal e as suas possíveis consequência no Brasil. 5. motivos contra a redução da maioridade penal. Considerações Finais Referências Bibliográficas.

EMAIL: [email protected]

INTRODUÇÃO O tema redução da maioridade penal no

Brasil envolve vários segmentos da sociedade, desde os sociais, jurídico e político, sendo que o último não é producente à sociedade, principalmente com relação a políticas públicas voltadas

aos menores e a família destes. O sistema penitenciário brasileiro também não se situa entre os melhores do mundo. A superlotação nos presídios e as precárias situações destes nada favorecem a discussão sobre a modificação da inimputabilidade penal. Mas apesar disso,

Como citar esse artigo:

Costa VS. A redução da maioridade penal no Brasil: Abordagem crítica

inimputabilidade penal. Anais do 13 Simpósio de TCC e 6 Seminário de IC da

Faculdade ICESP. 2018(13); 1774-1788

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uma parcela da população almeja esta redução, acreditando ser um dos meios que conteriam a criminalidade.

Objetiva-se, neste artigo científico, analisar a imutabilidade penal e considerada cláusula pétrea, inalterada por Emendas Constitucionais. Onde há doutrinadores que fluem a Proteção Integral, diretriz internacional que foi criada com base na Convenção Internacional dos Direitos da criança, existe como apoio em relação a esse assunto, não só para o Brasil, bem como, para a maioria dos países do mundo.

Essa doutrina, que aparece no art. 227 da Constituição de República Federativa do Brasil, estabelece que a proteção da criança e do adolescente deve ser objeto de olhar atento, devendo o Estado garantir seus direitos fundamentais. E é por isso, que uma pessoa antes de completar 18 anos, não é responsabilizada pelos seus crimes cometidos.

A criminalidade teve aumento considerável no Brasil, levantando a hipótese de se discutir a inimputabilidade penal, tendo como objetivo reduzir os atos infracionais acometidos por jovens com menos de dezoito anos, mas como há controversas, alguns insistem em afirmar que com a mudança proposta agravaria mais o problema.

Dessa maneira, a criança e adolescente é considerado mentalmente incapaz sobe a haste da política criminal, estabelecendo que o jovem com menos de dezoito anos não seja capaz de entender e agir diante das leis estabelecidas pela sociedade.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no art. 121, § 3º estabelece que o jovem que infringi as normas, não poderá em hipótese alguma permanecer mais de três anos em regime da “internação”, passando após esse período ele passará a liberdade assistida, que com o mau-comportamento terá que voltar para o regime fechado.

Conforme esse Estatuto os lugares onde o menor fica em regime fechado ou em liberdade assistida devem oferecer ao

adolescente infrator, estudo, alojamento, vestuários, alimentação e cuidados médicos e cuidados psicológicos.

Sempre que uma criança e adolescente infrator vai para essas medidas de internação ele passa primeiramente por um acompanhamento multidisciplinar feito por psicólogos e assistentes sociais, no intuito de assistir aos familiares e prover ao delinquente os recursos que lhe forem necessários à sua reabilitação.

Pelos menores de idade estarem atualmente relacionados a incursos criminais, até mesmo em crimes hediondos, surge então um assunto que têm tido de máxima importância para a sociedade, influenciado também pela mídia, que apoia a “ideia” dessa maioridade seja reduzida, argumentam que estes menores se transformem em ferramentas essenciais para prática de crimes em favor de chefes de quadrilhas e bandidos, haja vista que estes menores não poderão responder penalmente pelos crimes que cometem.

Sendo que como problemática de pesquisa, intenciona-se esse projeto estudar as consequências positivas ou negativas as proposições de mudança da inimputabilidade penal no Brasil, conforme os artigos 228, da Constituição da República Federativa do Brasil, Federal.

Além dos vários posicionamentos, o legislativo brasileiro segue discutindo a matéria ao logo de diversas legislatura. E para alguns juristas o Supremo Tribunal Federal não poderia anuir favoravelmente à redução, tendo em vista ser a idade penal uma cláusula pétrea.

Ademais, a intenção do presente trabalho é ser instrumento para o meio acadêmico e para este estudante como mecanismo de se criticar a intenção acerca da idade penal brasileira, pondo seus fatores relevantes e dados estatísticos, o que seria, neste estudo condizente com a necessidade de tentar analisar a ocorrência de atos infracionais por crianças e adolescentes, a criminalidade, visto que a questão não é

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pacifica entre a doutrina e pessoas ligadas ao ramo do direito.

Dito isso é objetivo do presente estudo, tecer análise sobre a implicações da proposta acerca da maioridade penal no Brasil, e as possíveis consequências positivas e negativas para os índices de criminalidade. Bem como, estudar o ECA e analisar as regras aplicadas as infrações penais acometidas por menores de idades.

Para tal, adotou-se como metodologia a pesquisa documental indireta, fundada em publicações oficiais públicas e artigos científicos, com a intenção de classificar e reunir as informações que se relacionam a temática em tela.

Ainda, a metodologia bibliográfica, que busca informações em documentos que se relacionam com o problema de pesquisa. Sendo que ambas, não se confundem, haja vista que a segunda se utiliza principalmente das contribuições de vários autores sobre determinada temática de estuda e a primeira em materiais que podem ser reelaborados com os objetivos da pesquisa.

1. OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NORMATIZADOS NO BRASIL

Há vários direitos fundamentais a crianças e adolescentes garantidos na Carta Magna Brasileira, considerada garantista, tratando no art. 227 que é obrigação da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e jovem, com prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de dispô-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, conforme Paganini e Moro (2011).

A Emenda Constitucional 171/93 tem por objetivo mudar idade penal dos dezoito

anos para dezesseis anos com a finalidade de reduzir a violência no Brasil.

A PEC 171/93, a principal proposta de lei que prega a redução, ainda deve ser votada no plenário da Câmara e precisará de, no mínimo, 308 votos para ser aprovada. Se passar, ela terá ainda que ser votada em segundo turno e, com resultado favorável, passará ao Senado – onde deverá ser votada em duas fases novamente.

Conforme Passarinho (2015), na Câmara, tramitam 20 projetos de lei que alteram o ECA para endurecer as medidas socioeducativas e 36 projetos que visam a redução da maioridade penal. No Senado, existem cerca de 10 projetos que visam tornar mais rigorosa a punição a adolescentes que cometem crimes.

Entre os argumentos de especialistas contrários a uma idade penal inferior à atual de dezoito anos, onde há engano sobre as suas consequências, dentre elas a diminuição gradativa da criminalidade, como é esperado, que o pleno desenvolvimento cerebral de um indivíduo ocorre apenas dos dezoito a vinte anos, e que as prisões para adultos já são superlotadas no Brasil.

Sobre as Penitenciárias Brasileiros, o Levantamento Nacional de Informação Penitenciárias – INFOPEN (2014) aponta que há um aumento de 7% ao ano de presos no Brasil e faltam mais de 200 mil vagas nos presídios de todo o país. Observa-se que a redução da maioridade não é a resolução para os altos índices de criminalidade no Brasil. Portanto, é a questão mais complexa, indo além do aspecto punitivo, alcançando bojo social, fruto das contradições do sistema capitalista não se pode atribuir à responsabilidade do caos as crianças e adolescentes, visto ser eles, sobretudo os da classe subalterna às principais vítimas, conforme Paganini e Moro (2011)

Desse modo, por tratar-se de direitos fundamentais e estarem contidos na Constituição da República Federativa do

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Brasil, não podem ser suprimidos do ordenamento.

O conceito jurídico de criança e adolescente conforme art. 2º da Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, denominado Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade, e adolescente, aquela entre 12 e 18 anos de idade. Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade (BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/1990).

Logo, é nessa etapa que as crianças realizam suas fantasias, brincadeiras, aprendizados e os adolescentes suas descobertas e suas potencialidades, ambos desfrutando de seus direitos pela condição de cidadão, e tratam de proteger integral devendo prever maios para dispor de recursos e benefícios que propicie o pleno desenvolvimento conforme os artigos 3º e 4º do ECA.

Por esse motivo, tanto a criança quanto o adolescente devem ser respeitados e, ainda, considerados sujeitos de direitos, detentores de sua própria história, jamais sendo inferiorizados perante os adultos e consequentemente desrespeitados por sua condição.

Por conseguinte, destaca Paganini e Moro (2011), a Convenção dos Direitos da Criança e do Adolescente considera criança todo ser humano menor de 18 anos de idade, salvo se, nos termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais cedo, (Art. 1º) (ONU, 2010), ou seja, tal documento não utiliza o termo adolescente, mas tão somente criança com até 18 anos de idade incompletos, e adultos aquele que tiver idade superior a esta.

Desse modo, o Estatuto da Criança e do Adolescente reconhece que toda criança e

adolescente tem direito a igualdade de condições para acesso e permanência na escola, o direito de ser respeitado por seus educadores, de contestar critérios avaliativos, como também de ter acesso a escola pública próxima de sua residência (art. 53). Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. (BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/1990).

O preceito da politização busca auxiliar na efetivação das políticas públicas, como alternativa de garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes. [...] promover o reordenamento institucional, promovendo um conjunto de serviços de efetivo atendimento às necessidades de crianças, adolescentes e suas próprias famílias por meio de políticas de proteção e defesa de direitos, bem como de atendimento em todos os campos destinados à efetivação dos direitos fundamentais (VERONESE e CUSTÓDIO, 2007, p. 36).

Por esse princípio, rompesse de vez com as práticas assistencialistas e caritativas representadas pelo direito do menor, conforme Paganini e Moro (2011). Acrescenta Prates (2005) que a proposta desse Estatuto é ofertar por meio do estado

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proteção a menores de 18 (dezoito) anos, devendo nos casos de infrações feitas por crianças e adolescentes dispor, executar e acompanhar programas de Educação, cultura e de preparação social para que conviva em sociedade. E ainda, acolhe-lo no ceio social, reintegrando-o e reeducando-o, na medida dos desejos desses programas, atendendo aos dispostos durante o referido Estatuto.

2. O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE (LEI Nº 8.069/1990).

O ECA criado em 1990, pela Lei nº 8.069, dispondo sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, com vistas à complementação da Constituição Federal de 1988 e substituição da Lei nº 6.697/1979, conhecida por Código de Menores.

Teve também como declaração Universal dos Direitos da Criança de 1979 e da Convenção Internacional sobre os direitos da Criança aprovados pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1989. O Estatuto da Criança e do Adolescente consagra os avanços das normativas internacionais das quais o nosso país é signatário, da política de direitos humanos na área da infância e da adolescência e tem um duplo caráter: sancionatório e educacional – ambos referem-se e buscam a responsabilização do adolescente considerando que ele tem capacidade de discernimento e está em um período do desenvolvimento humano importante, que se caracteriza por mudanças físicas, psíquicas e sociais aceleradas, formação de identidade a partir de modelos sociais e afetivos que lhe são oferecidos e de novas oportunidades de inserção produtivas em sua coletividade, no presente e no futuro (BRASIL, Conselho Federal de Psicologia, 2013, p. 21).

Mesmo sendo reflexo de mudanças internacionais, o país tardou em cumprir os compromissos assumidos ao promulgar

formalmente a Convenção no Brasil em 1990. Como obrigação do tratado, o Estado brasileiro deveria ter feito um relatório sobre implementação do tratado m 1992, e em seguida, a cada cinco anos.

Mas não o fez por mais de dez anos. Apenas em novembro de 2003, o governo da época encaminhou ao Comitê da ONU um primeiro informe com o panorama da situação da infância no Brasil entre 1991 e 2002. O Estatuto da Criança e do Adolescente, conhecido pela sigla ECA, prevê proteção integral às crianças e adolescentes brasileiras. Igualmente, estabelece os direitos e deveres do Estado e dos cidadãos responsáveis pelos mesmos. Art. 40 Os Estados Partes reconhecem à criança suspeita, acusada ou que se reconheceu ter infringido a lei penal, o direito a um tratamento capaz de favorecer o seu sentido de dignidade e valor, reforçar o seu respeito pelos direitos do homem e as liberdades fundamentais de terceiros, e que tenha em conta a sua idade e a necessidade de facilitar a sua reintegração social e o assumir de um papel construtivo no seio da sociedade (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, Lei nº 8.069/1990).

Aponta Ramidoff (2008) que a ideia da proteção integral, que não inibe a contenção da criança e adolescente. Pondera-se também que, para melhor compreensão do Estatuto da Criança e do Adolescente, com exceção do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana proveniente da Constituição Federal, o ECA é orientado por no mínimo mais três relevantes perspectivas, quais sejam, o Princípio da Prioridade Absoluta, o Princípio do Melhor Interesse e o Princípio da Municipalização.1 3. A CRIMINALIDADE DE JOVENS NO BRASIL

Conceitua Basaldúa (2014) a infância e

a adolescência como a etapas em que se

1 PRATES, Flávio Cruz. Adolescente Infrator. 4. Tiragem. Curitiba: ABDR, 2005.

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constroem o desenvolvimento físico, psicológico e relacional, definindo pela formação de sua identidade e pela formação de valores estão diretamente expostas a fenômenos de risco. Indivíduos nestas fases, encontram-se em desenvolvimento, recebe e absorve as emoções e experiências que o alcança.

“Encarcerar adolescentes por mais tempo no sistema prisional viabilizaria a formação de sujeitos sadios e ajustados? As causas das infrações estariam circunscritas a fatores intrínsecos e individuais?” (ZANIANI, 2012, p. 50).

Processualmente, Martins (2014) destaca que a apreensão de adolescente por atos infracionais deverá ser apresentada, imediatamente, à autoridade policial com atribuições na Comarca para formalizar o procedimento investigatório. Constatando a autoridade que o ato foi praticado com violência ou grave ameaça, lavrará auto de apreensão, ouvindo-se testemunhas, e por último, o adolescente.

Devendo ainda, nas palavras do autor, fazer consignar aos autos os produtos do delito e os instrumentos utilizados para a prática do ato infracional, requisitando-se a realização de exames e perícias indispensáveis para a comprovação da materialidade do referido ato.

Ainda, estaria desalinhada a correlação feita entre os índices de criminais disposto, uma vez que faz uma “representação social falsa de que o adolescente é o responsável pelo crescimento dos índices de criminalidade” (TRASSI, 2006 p. 15).

Segundo Miranda (2010), delinquência juvenil está relacionada a problemas na vinculação social do jovem às instituições sociais como família, escola, igrejas, o que se faz explicar pela Teoria do Controle Social, a onde esses exerceriam a função fundamental na formação ou adaptação do indivíduo às normas sociais. As transformações na vida desses jovens ocorrem com muito mais rapidez e intensidade em relação aos jovens da década passada.

Figura 1 - Atos Infracionais - Total Brasil (2016)

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Fonte: Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (2016)

Assim sendo, segundo dados da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, levantados em 2016, denominado Levantamento Anual do SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo) na época o foram registrados mais de 29 mil jovens atendidos, sendo que 70% com medidas de internação, 8% em semiliberdade e 20% em internação provisória.

O Levantamento do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE destaca a discrepância dos dados, pois pode haver mais de um registro infracional para o mesmo indivíduo. Segundo os dados levantados pela Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (2016), dos registros 47% foram classificados como análogo a roubo e 22% foram registrados como análogo ao tráfico de drogas.

Foi registrado em 10% da incidência de atos infracionais análogo ao homicídio, e 3% para a tentativa de homicídio. Em sua maioria dos atendimentos realizados são do sexo masculino (96%), encontram-se entre os 16 aos 21 anos (80%), considerados pretos/pardos (59%).

Ainda mais de 14% dos adolescentes e jovens em restrição e privação de liberdade são pardos/negros, 21% se consideram branca e à 1% a cor amarela. Não houve nenhuma observação com relação à cor amarela, e 22% dos adolescentes e jovens não tiveram registro quanto a sua cor, sendo classificados na categoria sem informação.

Faz-se importante levantar os dados sobre óbitos nas unidades de atendimento socioeducativos, identificados pelo Levantamento Anual SINASE (2014), das mortes 13% decorreram de conflitos generalizados, 31% de conflitos interpessoal, 8% Suicídios, 2% morte natural e 46% outros (má registro de informações, intencionalidade a produção incompleta destas informações e também indica pouca incidência no atendimento

socieducativo por parte dos órgãos de fiscalização, monitoramento e controle social). Pode-se verificar a vulnerabilidade dos adolescentes e jovens em atendimento socioeducativo. 3.1 Os Atos Infracionais e as Medidas Aplicadas

Destaca Basaldúa (2014) que a conduta

tipificada como crime ou contravenção penal (art. 103), praticada por criança (de até 12 anos de idade) ou adolescente (de 12 a 18 anos incompletos), é conceituado pelo ECA, em respeito ao princípio da anterioridade penal ou da legalidade, como ato infracional.

Sendo, nas palavras de Saraiva (1999), só se considerará ato infracional se em antes houve a tipificação. Contudo por ser o infrator coma até 18 anos inimputável, não cometeria crime, mas ato infracional. Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato. (BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/1990).

Segundo Costa (2005): A idéia de impunidade está associada à interpretação, dominante junto ao senso comum, de que a Lei destinada aos adolescentes, no caso o Estatuto da Criança e do Adolescente, não cumpre a função suficiente de punição. Em realidade, pode-se afirmar que a população desconhece o sistema penal juvenil contido no Estatuto, acabando por constituir a ideia equivocada de que esta Lei é branda e protetiva da impunidade (COSTA, 2005, p. 75).

Segundo Sá e Oliveira (2008), há diferença entre ato infracional e crime, não apenas nomenclatura ou consequências jurídicas. As medidas educativas e as sanções penais jamais se confundem, pois aquelas possuem caráter sócio-pedagógico ao passo que as segundas se destinam à prevenção, punição e a ressocialização. “A natureza das medidas socioeducativas são a impositiva, sancionatória e retributiva” (SÁ e OLIVEIRA, 2008, p. 17).

Para Tejadas (2008), o ato infracional, é um fenômeno relacionado ao contexto

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social, ás oportunidades, ao acesso aos serviços sociais, e a aspecto relacionado subjetivamente a vida familiares e comunitários do indivíduo.

O ato infracional é, portanto, “a conduta criminosa praticada por criança e adolescente, entendendo-se por criança aquele com idade de inferior a doze anos e adolescente aquele com idade entre doze e dezoito anos incompletos” (MARTINS, 2014, p. 51).

Os dados já identificados pelo relatório do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINA. Se reforça a ideia posta por Tejadas (2008), no qual demonstra que o infrator se encontra em ponto de vulnerabilidade extremada, de modo que está disposto à pratica do ato infracional, ou suscetível a ele.

Segundo ONUBR (2015), nos casos em que haja práticas de ato infracional por menor de 12 anos, o ECA estabelece várias medidas, em seu art. 101, de proteção à criança e encaminhamentos que devem ser feitos pela autoridade competente.

Assim, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a partir dos 12 anos de idade e até 18 anos, além das medidas do art. 101, o ECA estabelece outras 6 distintas medidas de responsabilização dos adolescentes pelos atos cometidos, “advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade liberdade assistida, semi-liberdade e internação” (FREIXO, 2007, p. 14), sendo a mais grave delas a internação.

Na qual “a internação só seja aplicada em casos de muita gravidade – o que, infelizmente, não é levado a sério por muitos juízes, que ordenam a internação de adolescentes por motivos banais, o que só faz abarrotar as casas de internação e prejudicar as vidas destas pessoas” (FREIXO, 2007, p. 14).

Sendo que a internação é aplicada quando o ato infracional é praticado: 1) mediante grave ameaça ou violência à pessoa; 2) por reiteração no cometimento de outras infrações graves; 3) por

descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. O sistema jurídico vigente no Brasil dispõe que a maioridade penal se dá aos 18 anos de idade [...]. O Legislador manteve-se fiel ao princípio de que a pessoa menor de 18 anos não possui desenvolvimento mental completo para compreender o caráter ilícito de seus atos, ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (BASALDÚA, 2014, p. 1).

Conforme ONUBR (2015) a implementação das medidas socioeducativas estabelecidas pelo ECA, por sua vez, é fortalecida pela resolução nº 119/2006 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) e pela Lei Federal 12.594 (2012), que estabeleceram o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) e regulamentaram a sua estruturação em harmonia com o Estatuto. A aplicação da medida sócio-educativa, tem como objetivo inibir a reincidência entre os menores infratores, e sua finalidade é pedagógica-educativa. Estão elas elencadas no art. 112 do ECA., sendo: desde a advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade; internação em estabelecimento educacional, o regime de semiliberdade, a liberdade assistida e a prestação de serviços à comunidade (SÁ e OLIVEIRA, 2008, p. 17).

Portando a intenção das medidas socioeducativas são, na palavra da ONUBR (2015): (I) a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação; (II) a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento; e (III) a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrição de direitos, observados os limites previstos em lei.

A implementação das medidas socioeducativas conta, portanto, com um arcabouço legal e institucional substantivo e constitui responsabilidade compartilhada entre Governos Federal, estaduais e

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municipais, bem como de todo o Sistema de Justiça, conforme ONUBR (2015).

Segundo dados apontados por Freixo (2007) e levantados por em 2004 mostrou que apenas 0,2% da população de 12 a 18 anos havia cometido algum tipo de ato infracional e estava cumprindo medidas sócio-educativas. Destes atos infracionais, 73,8% eram crimes contra o patrimônio, e não contra a pessoa/contra a vida. 4. PROPOSTA DE REDUÇÃO DE MAIORIDADE PENAL E AS SUAS POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIA NO BRASIL

As propostas de emenda à Constituição (PEC 171/1993), que altera o texto do art. 228 da carta Magna Brasileira de 1988, acerca da imputabilidade e penal, em síntese consistem de que os infratores, até 16 anos, devam ser responsabilizados proporcionalmente aos crimes cometidos.

A ONUBR (2015) já expressou o Sistema das Nações Unidas no Brasil expressa o seu entendimento de que há “necessidade de um sistema de justiça especializado para a adolescência" (ONUBR, 2015, p. 3) sobre as diferentes propostas de lei de responsabilidade penal de adolescentes que transitam no Congresso Nacional e, particularmente, o Projeto de Emenda Constitucional – PEC 171/93, que visa a alterar o art. 228 da Constituição Federal brasileira de forma a estabelecer a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.

Na justifica o Projeto de Emenda Constitucional – PEC 171/93, pega-se paralelo a Inglaterra e Escócia, primeira vigora a maioridade aos 10 anos e a segunda aos 12 anos, antes 8 anos, funda-se ainda, na ideia de que a redução é questão de segurança pública. Temos assistido na mídia casos de adolescentes muito violentos, que recebem como medida sócio-educativa a internação, por período ínfimo em relação à gravidade de suas condutas danosas, criando no seu meio uma cultura de impunidade e, na sociedade, uma descrença na segurança pública. O Brasil está estarrecido com as últimas notícias sobre o assassinato do jovem casal de namorados,

Liana Friedenbach e Felipe Caffé, em Embu, no Estado de São Paulo. A participação de um menor nesse crime deixa a sociedade mais chocada, tendo em vista a sua inimputabilidade penal e os requintes de frieza e crueldade com que o delito foi cometido. É imprescindível que a lei amplie o limite de internação, quando o adolescente cometer ato infracional de estupro ou homicídio doloso, por motivo fútil ou torpe, ou com emprego de meio insidioso ou cruel. Tais fatos são naturalmente hediondos, sejam cometidos por adolescente ou adulto, ferindo todos da sociedade nos seus sentimentos de solidariedade e respeito à dignidade da pessoa humana e vida (Senador VALMIR AMARAL - PMDB – DF , 2007 apud SÁ e OLIVEIRA, 2008, p. 20).

E a PEC 33/2012, versava sobre modificação do artigo 129 e 228 da Carta Magna prevendo que poderia o Ministério Público desconsiderar a inimputabilidade penal dos menores de dezoito anos, conforme prevê o ECA.

A ONUBR (2015) afirma a imprescindibilidade de respeito aos direitos humanos, sendo esses universais, inalienáveis, indivisíveis, e se constituem o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. A redução da maioridade penal opera em sentido contrário à normativa internacional e às medidas necessárias para o fortalecimento das trajetórias de adolescentes e jovens, representando um retrocesso aos direitos humanos, à justiça social e ao desenvolvimento socioeconômico do país. Salienta-se, ainda, que se as infrações cometidas por adolescentes e jovens forem tratadas exclusivamente como uma questão de segurança pública e não como um indicador de restrição de acesso a direitos fundamentais, o problema da violência no Brasil poderá ser agravado, com graves consequências no presente e futuro (ONUBR, 2015, p. 3).

Segundo Basaldúa (2014) a diminuição da idade penal apresenta-se como alternativa a questão dos crimes cometidos por menores de idade, mas apresentaria como resultado diversos outros problemas a longo prazo, seja pelo colapso do sistema prisional com os adultos que neles fazem parte, bem como nos abrigos para as infrações que se encontram em declínio, sendo necessário uma reforma estrutural ou pedagógica.

Para Basaldúa (2014), os projetos que tratam da matéria, tem apenas conotação

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políticas e “prometem soluções aparentemente inócuas, pois não procuram explicar e analisar os fatores que condicionam a criminalidade (...) procuram criar novos tipos de sanções em vez de resolver, na sua origem, o problema da criminalidade” (BASALDÚA, 2014, p. 24).

“O que estamos vendo é uma mudança

de um tipo de Estado que garante direitos para um tipo de Estado Penal que administra a panela de pressão de uma sociedade tão desigual, um Estado que alija, mata e prende aqueles que não estão entre os poderosos donos do mundo” (FREIXO, 2007, p. 12).

Figura 2 - Mapa Mundo na Maioridade Penal

Fonte: Unicef (2017), disponível em: http://www.crianca.mppr.mp.br/pagina-324.html

Para a Unicef (2017) nos países de primeiro mundo a preocupação repousa em prover a educação e cultural, como meio preventivo ao crime, ao invés de estabelecer medidas punitiva, como posterior ao ato infracional. Uma vez que uma parcela significativa desses jovens delinque pelo contexto em que estão inseridos, seja familiar, social, traumáticos e de deficiência de políticas sociais. A questão da delinquência juvenil é um fenômeno que atinge o mundo inteiro e tratasse de um comportamento desviante que varia de cultura para cultura. [...] países como França, Canadá, Bélgica e Rússia adotam-se idades inferiores aos 18 anos para início da responsabilidade penal, e, na maioria, admite-se a imputabilidade de menores quando do cometimento de crimes específicos, como é o caso da PEC em comento (BASALDÚA, 2014, p. 14).

Se entendermos que a diminuição da idade penal, apena se reduz os problemas, mas não se trata o que lhe deu causa. Ademais, já se atestou ineficiente, como a Europa que não reduziu número de crimes, ou o Estados Unidos, que não diminuíram a quantidade de presos do seu sistema prisional. [...] isso resolve o problema da violência, ou só o acentua? O preso ainda por cima deixa a cadeia marcado, com enormes dificuldades para conseguir retomar o convívio social, arrumar um emprego... É por isso, inclusive, que é tão importante o debate sobre outras formas de responsabilização, muito usadas – e com bons resultados – em outros países, como as penas alternativas, que além de causarem muito menos sofrimento apresentam um custo muito menor – e que, aliás, são previstas na nossa lei, sendo muito pouco aplicadas por um modelo que

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vem privilegiando o encarceramento (FREIXO, 2007, p. 12).

5. CONSIDERAÇÕES A PROPOSTA DE REDUÇÃO DA MIORIDADE PENAL

Segundo Sankievicz (2007), nos argumentos contrários à redução da maioridade penal se baseia na imputabilidade penal que é constituída por dois elementos: o primeiro intelectual (capacidade de entender o caráter ilícito do fato, o segundo volitivo (capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimento). Muitos estudos no campo da criminologia e das ciências sociais têm demonstrado que não há uma relação direta de causalidade entre a adoção de

soluções punitivas e repressivas e a diminuição dos índices de violência. No sentido contrário, no entanto, se observa que são as políticas e ações de natureza social que desempenham um papel importante na redução das taxas de criminalidade (SPOSATO, 2009, p. 30).

Para Cavalcanti e Tannuss (2013) os que fundamentam a proposta se devem que o adolescente tem discernimento para votar e, consequentemente, para compreender o caráter lesivo dos seus atos, o que os

obrigam a respondê-los na esfera penal, além de enfatizar que o ECA.

Knuth (2013) lista motivos para 10 possíveis motivos sobre a redução da maioridade penal, dentre elas, as que listam abaixo:

MOTIVO ARGUMENTAÇÃO

A desigualdade social A redução da maioridade em nada resolverá o problema da desigualdade social no Brasil. Apenas disporia jovens negros e pardos das comunidades carentes e das periferias atrás das grades.

A violência ligada a questões de cunho social

No Brasil, a violência é ligada a desigualdade social, exclusão social, impunidade, falhas na educação familiar, desestruturação da família, deterioração dos valores ou do comportamento ético, e, finalmente, individualismo, consumismo e cultura do prazer.

O elevado número da impunidade no Brasil

No Brasil ressoa a impunidade. Em 2010, mais de 8.000 crianças foram assassinadas. Em 2012, mais de 100.000 crianças e adolescentes sofreram maus tratos e agressões, 80.000 foram negligenciados, 60.000 sofreram agressões psicológica, 56.000 físicas, 35.000 sexual e 10.000 explorações do trabalho infantil.

A redução da maioridade penal tem um obstáculo jurídico-

constitucional.

Pela previsão constitucional, artigo 228, torna a inimputabilidade penal, parte do núcleo constitucional inalterável por meio de emendas.

As superlotações e as condições desumanas das cadeias

brasileiras

As prisões Brasileiras aportam mais de 600 mil presos, com déficit de 200 mil vagas. Percebe-se que a superlotação e as condições desumanas das cadeias brasileiras, tornam esse sistema ineficaz. O que resultaria apenas em altos índices de reincidência.

Na cadeia comum não é um lugar apropriado para um jovem

infrator.

O contato com outros presos que cometeram crimes diversos apenas proporcionaria aos menores infratores, a um ambiente infecto de outros crimes e contexto, para os quais ele não estaria plenamente apto a separar.

Estatisticamente, a quantidade de atos infracionais

Estatisticamente, a quantidade de atos infracionais, é pequena se relacionada aos crimes feitos por adultos. No ano de 2006 as prisões contavam com mais de 400 mil presos e possuía pouco mais de 15 mil internos.

Não há dado estatístico que a redução da maioridade penal de

fato diminuiria a violência no Brasil.

Não há dados substanciais que ateste que a diminuição da maioridade penal afeta os índices de criminalidade.

A diminuição pode acarretar em desastres estruturais para as

futuras gerações.

A sociedade chegaria ao nível exigir nova redução da idade penal, chegando a punir crianças pela pratica infracional, haja vista que essa sociedade já seria ineficiente e prover reabilitação ou a socialização suficiente para não deliquir.

Tabela 1 – Manifestação favoráveis

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Fonte: Knuth (2013, p. s/n)

Para os defensores da redução, os argumentam gerados é que parte dos menores contribui para a criminalidade, onde eles fazem parte das quadrilhas e no ponto de vista conseguem até chefiar movimentos mais violentos.

Para Blume (2017) deve-se afastar a proposta de redução da maioridade penal no instante em que o Estado entende a eficcidade de se educar ao invés de apenas aplicar uma medida punitiva, e crer o autor que o sistema carcerário não é veículo de reabilitação dos presos, sendo que não se cumpriria uma futura reinserção como ente tratado adequadamente.

Ainda, a prisão de jovens após admitida a redução, apenas abarrotaria as prisões que já hospedam mais de 200 mil presos segundo INFODEPEN (2014). Para Blume (2017) a criança e adolescente, ainda, dispõem de um nível de desenvolvimento destoando do adulto.

E por fim, conclui o autor em seus comentários contrários a proposta que a redução apenas acrescenta o desnível social entre as classes vulnerável, estaríamos indo em contrário a tendência de outros países que fixam inimputabilidade penal até os 18 anos, e a decisão seria de pleno inconstitucional indo contrário ao art. 228 “ São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial” (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988).

Não querem saber da impunidade ou restrição de liberdade, mas sim dos atos que incentiva a prática criminosa. Nada importa o fator social, se tais menores são capazes de entrar em conflito com a lei, tem como receber punição prevista em lei. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade aprova a redução por achar que é o mais correto, pois logo, o fato da aprovação vem mais a ser com o sentimento de vingança, de insegurança alastrado no país, é devida a ausência de modernização das leis do direito penal Brasileiro,

entretanto as mídias têm colaborado para que a sociedade aprove a redução da maioridade penal, visando à responsabilização do menor infrator. Condenar os jovens adolescentes à prisão com outros bandidos não será uma decisão inteligente.

Quem apoia a ideia de que lugar de bandido é na cadeia, tem um pensamento vazio e demagógico, pois no ato da sua ignorância não visão que o país não tem prisões suficientes. O certo a ser feito é criar medidas adequadas ao menor infrator.

Tomar a decisão de punir sem ao menos se preocupar quais os motivos que provocam a violência, só irá gerar mais violência. É de fato que não existe nenhum tipo de experiência no presídio que possa contribui para o processo de reeducação e reintegração dos jovens na sociedade. Trazendo para o sentido contrário, quem tem todo o poder nas mãos de desempenhar um importante papel para reduzir as taxas de criminalidade será a influência da política juntamente com toda sociedade. Quando o adolescente ingressa na marginalização, nem sempre é por acaso, muitas vezes é consequência de um estado de injustiça social, que agrava a pobreza em que sobrevive a grande parte desses jovens. Entretanto, reduzir a maioridade penal é transferir um problema que existe, sendo que para o estado se torna mais fácil prender do que educar.

É mais que esclarecedor que a diminuição da idade penal não diminuirá a criminalidade. É bom destacar que, para que se solucione a criminalidade púbere, não convém intimidá-los com a imputabilidade, tem que haver uma transformação social, gerando espaço para a aceitação do menor infrator na sociedade e sua ressocialização.

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