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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ André Luiz Tomé SITUAÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO NO BRASIL CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

André Luiz Tomé

SITUAÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO NO BRASIL

CURITIBA

2011

SITUAÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO NO BRASIL

CURITIBA

2011

André Luiz Tomé

SITUAÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO NO BRASIL

Monografia apresentada como requisito parcial

para a obtenção de título de Bacharel em Direito

do curso de Direito da Faculdade de Ciências

Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Orientador: Prof. Friedmann Anderson Wendpap

CURITIBA

2011

TERMO DE APROVAÇÃO

André Luiz Tomé

SITUAÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO NO BRASIL

Esta monografia foi julgada e aprovada como requisito parcial para a

obtenção do grau de Bacharel em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, __ de _________ de 2011.

______________________________

Curso de Direito

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Friedmann Anderson Wendpap

________________________

________________________

________________________

________________________

________________________

Dedico este trabalho àquela que sempre

dedicou tudo a mim e que não mediu

esforços para que eu chegasse até aqui.

Minha querida mãe, Lucimar.

AGRADECIMENTOS

Ao longo destes anos, poucas não foram as pessoas, sem receio de equívoco,

que me ajudaram concluir essa importante etapa da minha vida. De todas elas,

porém, agradeço especialmente a minha esposa Rosane que esteve junto comigo

desde o início, incentivando-me incansavelmente nas horas em que eu mais precisei

e a querida Sophia que sempre compreendeu as minhas necessidades.

Ao meu professor e orientador neste trabalho, Friedmann Wendpap, ilustre

exemplo de magistrado ético, cujos ensinamentos vão muito além da sala de aula e

do campo jurídico.

A todos os nobres professores que dedicaram parte do seu tempo em dividir

os seus valiosos conhecimentos.

Aos meus indispensáveis amigos, conquistados dia após dia, ano após ano;

Luiz Carlos, Maria Fernanda, Mariella e Tuliane.

Finalmente, à pessoa que a pouco mais de um ano tornou-se a razão da minha

vida, o meu filho João Guilherme.

RESUMO

O objetivo deste trabalho será apresentar e discutir todos os aspectos acerca dos estrangeiros com relação ao Estado brasileiro, partindo da imigração e influência na formação desta nação até a importância étnica e cultural trazida por eles. Na sequência, virão as formas e requisitos para admissão dos estrangeiros, desde a naturalização até as variedades dos vistos que podem ser concedidos de acordo com a finalidade, assim sendo: visto de trânsito, de turista, temporário, permanente, de cortesia, oficial e diplomático, cada um com os seus prazos e as suas peculia-ridades. Também serão expostas as formas de exclusão dos estrangeiros que derem azo a tanto, seja a deportação, em decorrência de alguma infração administrativa; a expulsão, quando o indivíduo representar algum perigo ao país; ou a extradição, destinada àqueles que praticaram algum crime e precisam ser julgados e/ou punidos. O instituto do Asilo Político será amplamente estudado, uma vez que se trata de uma medida protetora de direitos individuais. Dessa maneira, será abordado o Asilo Territorial, que é o Asilo Político puro e simples, e o Asilo Diplomático, amplamente utilizado na América Latina e caracterizado por abrigar o asilado dentro de uma embaixada, exaltando assim, a soberania de uma nação dentro do território de outra. Por fim, será possível chegar a uma conclusão a respeito de todos os assuntos abordados na expectativa de ter transmitido ao leitor todo o conhecimento exposto.

Palavras-chave: situação do estrangeiro, vistos, deportação, extradição, asilo

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7

1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SITUAÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO ...... 10

1.1 ASPECTOS FUNDAMENTAIS DO ESTRANGEIRO ....................................... 12

1.2 A IMPORTÂNCIA DOS ESTRANGEIROS NA FORMAÇÃO

BRASILEIRA .................................................................................................... 14

2 TÍTULOS DE INGRESSO E OS DIREITOS DOS ESTRANGEIROS ................. 16

2.1 NATURALIZAÇÃO ........................................................................................... 17

2.2 REQUISITOS PARA A ADMISSÃO DO ESTRANGEIRO NO BRASIL ............ 19

2.3 VARIEDADE DOS VISTOS .............................................................................. 20

2.3.1 Visto de trânsito ............................................................................................. 21

2.3.2 Visto de turista ............................................................................................... 22

2.3.3 Visto temporário ............................................................................................ 22

2.3.4 Visto permanente .......................................................................................... 24

2.3.5 Visto de cortesia, oficial e diplomático ........................................................... 25

3 FORMAS DE EXCLUSÃO DO ESTRANGEIRO ................................................ 27

3.1 DEPORTAÇÃO ................................................................................................ 27

3.2 EXPULSÃO ...................................................................................................... 29

3.3 EXTRADIÇÃO .................................................................................................. 31

4 O ASILO POLÍTICO ............................................................................................ 36

4.1 ASILO TERRITORIAL ...................................................................................... 37

4.2 ASILO DIPLOMÁTICO ..................................................................................... 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 39

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 41

7

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tratará da Situação Jurídica do Estrangeiro no Brasil, ou

ainda, Condição Jurídica, como preferem muitos autores. Indiferente a denominação,

o conceito da situação jurídica do estrangeiro está na gama de direitos e deveres

que o alienígena possui em qualquer Estado que não o de sua origem, de acordo

com a sua vontade e preenchimento de determinados requisitos exigíveis.

Deverá ser abordado em primeiro plano, a historicidade da entrada de estran-

geiros no Brasil e sua fundamental importância para a formação do Estado brasileiro

em todos os seus aspectos.

Desde a descoberta do território pelos portugueses no ano de 1500, que muitos

estrangeiros entram e vivem aqui, porém, foi somente em 1808 com a abertura dos

portos e chegada da Família Real ao Brasil que a imigração iniciou-se, enfim.

Certamente que também será abordado o asilo político, as variadas formas

de admissão e/ou exclusão dos estrangeiros do território brasileiro juntamente com

os direitos e deveres inerentes aos mesmos. Todos disciplinados pelo Estatuto do

Estrangeiro, Lei n.o 6.815 de 19 de agosto de 1980.

Embora seja um princípio de direito internacional, a igualdade de tratamento

não se aplica em toda a sua forma quando se trata de estrangeiros, uma vez que

não gozam de direitos políticos e tampouco podem ocupar uma carreira estatutária

no serviço público.

O alienígena que pretender adentrar ao nosso país deverá estar em dia com

uma série de exigências e formalidades que serão mais brandas caso não haja intuito

de estadia definitiva e mais rigorosas quando ocorrer o contrário.

8

Eis as modalidades de vistos que futuramente deverão ter seus detalhes

expostos: visto de trânsito – concedido àquele que precise adentrar em território

nacional para atingir outro pretendido; visto de turista – concedido ao alienígena que

pretenda adentrar e permanecer em território brasileiro sem caráter definitivo com

finalidade de recreação e/ou visita; visto temporário – para aqueles que por motivos

profissionais venham ao Brasil sem a intenção de se estabelecer; visto permanente

– destinado àquele que intencione permanecer definitivamente no Brasil; visto oficial

– para funcionários de organizações internacionais e todos que tiverem em missão

oficial; visto Diplomático – concedido às autoridades diplomáticas estrangeiras

autorizadas junto ao governo; visto de cortesia – oriundo de convite específico a

autoridades estrangeiras e de reconhecida importância.

Quanto as formas de exclusão do estrangeiro por iniciativa do estado, são: a

expulsão – para aqueles que atentarem contra a segurança nacional e ordem pública

em quaisquer dos seus aspectos, tornando impossível o regresso do expulso;

deportação – remédio para a entrada ou estada irregular de estrangeiro, que não

cumprir o prazo legal para a saída voluntária; extradição – ato de entrega do alienígena

acusado de ter cometido um crime ou que já tenha sido condenado.

Ainda, em consideração ao asilo político, é a proteção conferida pelo Estado

ao indivíduo que sofrer perseguição política ou delitos de opinião em seu país. Este

asilo poderá ser territorial, quando o alienígena adentrar de fato ao território, ou

ainda, diplomático quando ocorrer na sede de representação diplomática exterior, tal

que também é considerada extensão do asilo territorial.

9

Até o encerramento com as considerações finais, o presente trabalho seguirá

pautado em informações bibliográficas disponíveis, de forma mais clara e didática

possível almejando abordar minimamente todos os aspectos e detalhes da Situação

Jurídica do Estrangeiro no Brasil.

10

1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SITUAÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO

Dentre as inúmeras definições possíveis para estrangeiro, a que possui a

melhor concepção para este trabalho é a latina "extranĕus", cujo sentido é: "aquele

que vem de fora, que não pertence à família ou país."1

Fica óbvio neste momento que para definir àquele que vem de fora, precisa-

se, no mínimo, de uma noção "daquele que é de dentro", ou seja, o que difere um do

outro. Mais uma vez, para efeito deste trabalho, deve-se deixar de lado as diversas

diferenças entre as duas situações e levar-se em consideração somente a situação

jurídica concisa que classifica o nacional como "pessoa submetida à autoridade

direta do Estado, que em contrapartida lhe confere direitos civis e políticos"2 como já

é sabido, os "extranĕus" não gozam de direitos políticos.

Por muitos séculos foi atribuído aos estrangeiros um sentimento de aversão

natural e/ou instintiva, considerando-os inferiores e até mesmo, pra não dizer princi-

palmente, como inimigos, que quando vencidos tornavam-se escravos dos vencedores.

Sabiamente, Clóvis Bevilaqua considerou que:

As associações políticas primitivas, sob o influxo dos sentimentos guerreiros e religiosos, olhavam para o estrangeiro como para um inimigo que estivesse constantemente ameaçando a sua existência e a sua religião. O estrangeiro não colaborava para o bem estar da comunidade, falava outra língua, adorava

outros deuses, adotava outros costumes, não podia merecer benevolência.3

Ainda, conforme as lições de Celso Duvivier de Albuquerque Mello:

Na Antiguidade Oriental, aos estrangeiros não eram reconhecidos direitos, uma vez que eles não faziam parte da religião nacional. Na Índia eles estavam abaixo das párias. No Egito o mesmo tratamento foi dispensado, inicialmente, aos estrangeiros para somente ser mais benéfico, com a concessão de favores, quando as relações comerciais se desenvolveram.

1 PRZYBYCIEN, Regina. A condição de estrangeiro. Disponível em: <http://www.ichs.ufop.br/memorial/

trab2/reginaprzybycien.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2011. 2 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. 2.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p.189. 3 BEVILAQUA, Clovis. Direito internacional privado. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1906. p. 111.

11

No direito hebraico o estrangeiro somente adquiria direitos ao se converter à

sua religião, quando então ele passava a ter todos os direitos.4

Foi na Grécia que os estrangeiros passaram a adquirir direitos. Lá, foram

divididos em quatro categorias: os metecos que eram protegidos pelas leis e possuíam

direitos limitados; os isóteles em condição superior à outra categoria, semelhante a um

nacional; os bárbaros sem quaisquer direitos e proteção; e ainda os estrangeiros não

domiciliados que não possuíam direitos, mas sim uma certa proteção.

Em Roma, devido ao comércio e imperialismo, receberam proteção do

Estado condicionada a não auxiliar os seus inimigos.

Mais uma vez, Clóvis Beviláqua ensinou que:

O direito romano, primitivamente, não tolerava a participação do estrangeiro na vida jurídica: adversus hostem eterna aucoritas esto. Mais tarde, porém, fez-se uma distinção entre peregrini e hostes; áquelles concederam-se direitos mais ou menos extensos, ou porque entre eles e os romanos existiam tractados de alliança, de amizade ou de hospitalidade ou porque faziam parte dos domínios territoriaes de Roma; a estes, pela razão

contrária, nenhum direito se reconhecia. Chamaram-nos de barbari.5

Entre os saxônios e os germânicos, os estrangeiros não possuíam garantias

jurídicas e chegavam a ser reduzidos à escravidão. Durante o feudalismo e até a

Revolução Francesa, os estrangeiros foram submetidos às suas leis.

Segundo Celso de Albuquerque Mello:

No feudalismo o estrangeiro que não jurasse fidelidade ao senhor feudal era transformado em servo. O estrangeiro estava sujeito a uma série de imposições: jus albinagii ("droit d’aubaine"), os bens deixados em sucessão pelo estrangeiro passavam ao senhor feudal ; o imposto "foris maritagium", que pagava quando se casava com mulher de outro feudo, ou de condição

diferente da sua.6

4 MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 14.ed. São Paulo:

Renovar, 2002. p.1017. 5 BEVILAQUA, op. cit., p.113. 6 MELLO, op. cit., p.1018.

12

Já no final do século XVIII, influenciada pela Revolução Francesa e pela

pregação dos filósofos sustentando a fraternidade dos homens, a discriminação em

relação aos estrangeiros decaiu consideravelmente, começam a ser reconhecidos

direitos privados aos estrangeiros do velho continente, como bem disse Clóvis Bevilaqua:

A revolução francesa desmantelou o já abalado edifício do feudalismo, e os próceres desse grande movimento social, imbuídos no mais puro libera-lismo, reconheceram o que havia odioso nas ideias do antigo regimen rela-tivamente aos estrangeiros. Começa uma nova era, a de igualdade jurídica no

domínio das relações privadas.7

Favorecida pelo direito Internacional público, a diplomacia alterou a imagem

do estrangeiro perante a sociedade e criou um novo conceito de situação jurídica do

estrangeiro, o qual, nas palavras de

Mister se faz, ressaltar o conceito da situação jurídica do estrangeiro, sob a

ótica de Irineu Strenger:

Condição jurídica do estrangeiro é, pois, o conjunto de direitos de que o mesmo goza em determinado país, que não o de sua origem numa certa época. É o estado de estrangeiro em oposição ao estado de nacional. Varia,

pois, de país para país e de um para outro tempo.8

1.1 ASPECTOS FUNDAMENTAIS DO ESTRANGEIRO

É no artigo segundo da Declaração Universal dos Direitos do Homem que

consta a garantia do gozo dos direitos fundamentais do homem, quando estabelece sua

aplicação a todo e qualquer indivíduo independente de qualquer condição pessoal.

Celso D. de Albuquerque Mello menciona a Convenção Interamericana,

sobretudo o artigo 5.o que dispõe:

7 BEVILAQUA, op. cit., p.115. 8 STRENGER, Irineu. Curso de direito internacional privado. Rio de Janeiro: Forense, 1978. p.995.

13

Os Estados devem conceder aos estrangeiros domiciliados ou de passagem em seu território todas as garantias individuais que concedem aos seus próprios nacionais e o gozo dos direitos civis essenciais, sem prejuízos, no que concerne aos estrangeiros, das prescrições legais relativas à extensão

e modalidades do exercício dos ditos direitos e garantias.9

Afora os direitos políticos, os estrangeiros gozam de todas as outras garantias

entregues aos nacionais, sendo o Estado o responsável por tanto.

Resta evidente que se ao estrangeiro é conferido toda uma gama de direitos, a

ele também se aplica os deveres, responsabilidades, leis e suas respectivas sanções,

como aos nacionais, conforme é superiormente explicado por Mello: "o estrangeiro está

sujeito às leis e à jurisdição do Estado em que se encontra e, em conseqüência, aos

deveres impostos pela legislação que deve ser por ele respeitada".10

É imprescindível mencionar a situação especial do português no Brasil e do

brasileiro em Portugal. Estabelecida pela Convenção sobre Igualdade de Direitos e

Deveres entre Brasileiros e Portugueses de 1.971, foi convencionado: a) a igualdade de

direitos e deveres com os respectivos nacionais, exceto a equiparação dos direitos

reservados exclusivamente pela Constituição de cada um dos Estados, aos que tenham

nacionalidade originária; b) a referida igualdade deve ser requerida perante o Ministério

da Justiça que decidirá sobre tal; c) dependem de requerimento à autoridade compe-

tente e mínimo de cinco anos de residência permanente, o reconhecimento dos direitos

políticos; d) regem-se pela lei penal do Estado de residência; e) o gozo dos mesmos

direitos políticos do Estado de nacionalidade, implica na suspensão do exercício destes

no Estado de residência; f) a proteção diplomática em relação a um terceiro país deverá

ser feita pelo Estado de nacionalidade.

9 MELLO, op. cit., p. 996. 10 Id., p.1020.

14

Tal convenção teve lei semelhante na extinta União das Repúblicas Socialistas

Soviéticas em 1.981, considerada como um avanço na matéria.

1.2 A IMPORTÂNCIA DOS ESTRANGEIROS NA FORMAÇÃO BRASILEIRA

Afora a importância da descoberta do território futuramente brasileiro pelos

portugueses, a importante influência estrangeira se deu inicialmente em 28 de

janeiro de 1.808 quando da Carta Régia de D. João VI, foram abertos os portos

brasileiros e não tardiamente chega a Corte de Lisboa ao Brasil.

Com este fato, iniciou-se a imigração no Brasil.

Diante disto, Manuel Diégues Júnior escreveu que:

Com a abertura dos portos, torna-se possível, e mais constante a presença de estrangeiros na vida brasileira, começam aparecer em nossa paisagem cultural, até então inalterável e unanimemente lusitana, elementos estranhos, não portu-gueses, sobretudo, os que seriam trazidos, quase com caráter exclusivista, pela

Inglaterra, a partir de 1.810 com o Tratado de Comércio assim assinado.11

Com os jogos de interesses da Inglaterra a parte12, ocorreram tentativas de orga-

nizações colonizadoras no Brasil, sendo os estrangeiros admitidos nessa qualidade.

Inicialmente a imigração no Brasil seguiu por duas linhas: a portuguesa,

devida a colonização e à africana, onde os imigrantes não possuíam direitos comuns,

uma vez que tratavam-se de escravos.

Dois grandes marcos de imigração ocorreram; o primeiro com a abolição da

escravidão, quando foi preciso uma grande quantidade de mão de obra para suprir

as demandas deixadas pelos escravos e, posteriormente em 1930 quando, em

11 DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. imigração, urbanização e industrialização. Rio de Janeiro: GB, 1964. p.29. 12 BEVILAQUA, op. cit., p.116-117.

15

decorrência da crise econômica mundial, foram criadas medidas protecionistas aos

trabalhadores nacionais, repercutindo fortemente na imigração.13

Em meio a onda imigratória do início do século XX, e à branda, mas constante

imigração posterior e atual, o Brasil tornou-se um país de grande miscigenação étnica,

religiosa, racial, consuetudinária, folclórica que só fez enriquecer a nação.

Sob este prisma, Rosane e Friedmann Wendpap ressaltam:

Diga-se, há gente que pensa haver suporte científico para a eugenia, acreditando que a purificação racial é imprescindível para o desenvolvi-mento econômico e cultural. Esses sábios de almanaque não mudam de opinião nem quando são compelidos a levar o cachorro de raça pura ao veterinário porque o bichinho sofre de reumatismo, cegueira, problemas pulmonares. O vira-lata come restos do almoço da semana passada e sai feliz da vida; o cão puríssimo sofre indigestão com mudança sutil na ração. O puro é fraco; o impuro, forte.

Se a miscigenação racial fosse a causa das nossas mazelas, seríamos o pior lugar do mundo para viver. A irrelevância das fronteiras de aparência racial para definir vínculos afetivos entre os brasileiros é uma das nossas grandes riquezas. Fazemos amigos, namoramos, casamos, recasamos com a paleta da aquarela misturando as tintas. A brasilidade, não a fenotipia, nos une. As muitas religiões aqui professadas são sincréticas. Nada é puro

abaixo do equador.14

É de extrema importância ressaltar que embora a imigração seja um direito de

cada indivíduo, pode não passar de uma mera expectativa, uma vez que depende de

aprovação de um Estado soberano que para tal é apenas um ato discricionário.

Conclui sobre o assunto José Francisco Rezek:

Admissão discricionária. Nenhum Estado é obrigado, por princípio de direito das gentes, a admitir estrangeiros em seu território, seja em definitivo, seja a título temporário. Não se tem notícia, entretanto, do uso da prerrogativa teórica de fechar as portas a estrangeiros, embora a intensidade de sua presença varie

muito de um país a outro. [grifo do autor]15

13 DIÉGUES JÚNIOR, op. cit., p.29. 14 GAZETA DO POVO. Terror disfuncional. Disponível em: <.http://www.gazetadopovo.com.br/

colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1153012&tit=Terror-disfuncional>. Acesso em: 01 ago. 2011. 15 REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 12.ed. rev. e atual. São

Paulo: Saraiva, 2010. p.197.

16

2 TÍTULOS DE INGRESSO E OS DIREITOS DOS ESTRANGEIROS

Pelo princípio de direito das gentes, nenhum estado é obrigado a admitir

estrangeiros em seu território, fato este que pode trazer problemas ao país que os

recebe no que se refere a necessidades econômicas e comerciais, principalmente.

Porém, a negativa de admissão dos nacionais de outros países precisa ser pautada

em motivo justo, tal como a saturação demográfica.

Conforme bem elucidado por Accioly e Silva "O Estado tem o direito de

negar o ingresso do estrangeiro em seu território, mas não pode fazer a discrimi-

nação baseada em motivos raciais ou religiosos".16

Ainda sobre o tema, Rosane e Friedmann Wendpap nos trazem:

A autorização para ingresso do estrangeiro é ato discricionário do estado. Só o nacional tem o poder de ingressar e o Estado sujeita-se a recebê-lo, o estrangeiro pede o ingresso e o Estado decide se é oportuno e conveniente

autorizar a entrada.17

E conforme entendimento de José Francisco Rezek:

Nenhum Estado soberano é obrigado, por princípio de direito das gentes, a admitir estrangeiros em seu território, sejam em definitivo, seja a título temporário. Não se tem notícia, entretanto, do uso da prerrogativa teórica de fechar as portas aos estrangeiros, embora a intensidade de sua presença

varie muito de um país a outro.18

Ora, se nenhum Estado soberano é obrigado a admitir um estrangeiro em

seu território, a partir do momento em que o aceita, deve-lhe proporcionar a garantia

de certos direitos elementares da pessoa humana.

No entendimento de Accioly e Silva:

16 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G. E. do Nascimento e. Manual de direito internacional público.

São Paulo: Saraia, 2002. p.396. 17 WENDPAP, Rosane Kolotelo; WENDPAP, Friedmann. Direito internacional. Rio de Janeiro:

Elsevier, 2007. p.198. 18 REZEK, op. cit., p.197.

17

Os direitos que devem ser reconhecidos aos estrangeiros são: 1.o) os direitos

do homem, ou individuais, isto é, a liberdade individual e a inviolabilidade da pessoa humana, com todas as consequências dai decorrente, tais como a liberdade de consciência, a de culto, a inviolabilidade de domicílio, o direito de comerciar, o direito de propriedade, etc.; 2.

o) os direitos civis e de família. Estes

direitos não são absolutos, tanto assim que o estrangeiro pode ser preso, mas não abusivamente ou sem razão suficiente, nem condenado sem obediência das formalidades legais de processo, etc. Assim também o direito de proprie-

dade pode ser suscetível de restrições, determinadas pelo interesse público.19

Por fim, é importante ressaltar que a recusa à admissão de membros de

família de uma pessoa já residente no país viola a Convenção Européia dos Direitos

Humanos que protege o indivíduo no seu direito a uma vida em família. Manter a

família separada é confronto a entidade familiar.20

2.1 NATURALIZAÇÃO

A nacionalidade no sentido jurídico é o "vínculo jurídico-político que une o

indivíduo ao Estado".21

O indivíduo pode adquirir uma nacionalidade diferente daquela que ele tem

pelo nascimento por diversos modos: benefício da lei; casamento; naturalização; ‘jus

laboris’; nos casos de mutações territoriais; ‘jus domilii’.

A naturalização é um ato unilateral e discricionário do Estado no exercício de

sua soberania, podendo ser concedida ou negada a quem requeira, ou seja, o

Estado não está obrigado a conceder a nacionalidade mesmo quando o requerente

preenche todos os requisitos estabelecidos pelo legislador, conforme expresso no

Estatuto do Estrangeiro em seu artigo 121.

19 ACCIOLY, op. cit., p.395. 20 DOLINGER, Jacob. Direito internacional privado: parte geral. Rio de Janeiro: Renovar, 1993. p.174. 21 MELLO, op. cit., p.954.

18

Como requisito da naturalização do estrangeiro, verifica-se a perda da nacio-

nalidade original, para fins de se evitar a polipatria.22

Os artigos 112 e 113 do Estatuto do Estrangeiro dispõem sobre a naturali-

zação pelo processo comum, dirigindo-se aos estrangeiros que residam no Brasil há

mais de quatro anos ininterruptos, que a requeiram e comprovem satisfazer as

condições elencadas na lei.23

Para a naturalização que José Maria Rossani Garcez chama de extraordinária,

está prevista na Constituição da República, artigo 12, inciso II, alínea b e favorece os

imigrantes que se fixaram no país há mais de quinze anos, sem quebra de continuidade

e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

Aos originários de países de língua portuguesa, é exigido como prazo de

residência no Brasil apenas um ano ininterrupto e idoneidade moral.

Para todos os demais estrangeiros, a lei ordinária exige, no mínimo, quatro

anos de residência no Brasil, idoneidade, boa saúde e domínio do idioma.

Existem certas hipóteses que atenuam o requisito cronológico, como o casa-

mento com um nacional brasileiro ou a prestação de bons serviços ao país.

O artigo 116, parágrafo único da lei ordinária denominada Estatuto do Estran-

geiro dispõe sobre a naturalização provisória:

Art. 116. O estrangeiro admitido no Brasil durante os primeiros 5 (cinco) anos de vida, estabelecido definitivamente no território nacional, poderá, enquanto menor, requerer ao Ministro da Justiça, por intermédio de seu representante legal, a emissão de certificado provisório de naturalização, que valerá como prova de nacionalidade brasileira até dois anos depois de atingida a maioridade.

22 Garcez considera que a polipatria refere-se a situação dos que detêm mais de uma nacionalidade

e é uma fonte freqüente de conflitos positivos, de difícil solução, ante o concurso de sistemas antagônicos informadores de nacionalidade originária – jus solis e jus sanguinis – tendo em vista, ainda, os efeitos empregados à nacionalidade secundária (GARCEZ, José Maria Rossani. Curso de direito internacional privado. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p.115).

23 Id., p.118.

19

Parágrafo único. A naturalização se tornará definitiva se o titular do certi-ficado provisório, até dois anos após atingir a maioridade, confirmar expres-samente a intenção de continuar brasileiro, em requerimento dirigido ao

Ministro da Justiça.24

É importante ressaltar que a naturalização também é um ato discricionário

do Estado e dessa maneira não é obrigatória, ou seja, caso a caso, o governo pode

recusá-la mesmo quando preenchidos os requisitos da lei.25

Ao brasileiro naturalizado são concedidos todos os direitos do brasileiro

nato, exceto pelo acesso a certas funções públicas eminentes que a Constituição da

República arrola de modo limitativo.

2.2 REQUISITOS PARA A ADMISSÃO DO ESTRANGEIRO NO BRASIL

O principal documento exigido de quem intencione adentrar ao Brasil é o

passaporte. O passaporte é um documento policial emitido pelas autoridades públicas

que identifica o seu proprietário. É ainda utilizado como uma forma de controle do

ingresso de estrangeiros. No passaporte é inserido o visto de entrada do estrangeiro

no país, que lhe confere o direito de permanecer no território pelo tempo autorizado.

Um dos requisitos para a admissibilidade de estrangeiro no Brasil é que toda

a documentação necessária para requerimento do seu visto seja apresentada no

idioma português, em casos de impossibilidade, serão admitidos nos idiomas inglês,

francês ou espanhol.

A lei 6.815 de 19 de agosto de 1.980, o já mencionado Estatuto do Estran-

geiro, prevê os casos em que o visto não será concedido no seu artigo 7.o:

24 BRASIL. Lei 6.815, de 15 de agosto de 1980. Define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil,

cria o Conselho Nacional de Imigração, e dá outras providências. In: Vade Mecum. 7.ed., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva 2009.

25 REZEK, op. cit., p.194.

20

Art. 7.o Não se concederá visto ao estrangeiro:

I - menor de 18 (dezoito) anos, desacompanhado do responsável legal ou sem a sua autorização expressa;

II - considerado nocivo à ordem pública ou aos interesses nacionais;

III - anteriormente expulso do País, salvo se a expulsão tiver sido revogada;

IV - condenado ou processado em outro país por crime doloso, passível de extradição segundo a lei brasileira; ou

V - que não satisfaça às condições de saúde estabelecidas pelo Ministério

da Saúde.26

Para o estrangeiro que pretenda entrar no território nacional, existe uma varie-

dade de vistos, cada um com os prazos e objetivo específico.

2.3 VARIEDADE DOS VISTOS

Podem ser concedidos os vistos: de trânsito, de turista, temporário, perma-

nente, de cortesia, oficial e diplomático.

Seja qual for a sua forma, o visto deve ser requerido no local onde a pessoa

vive. Esta deve provar que possui meios de subsistência no local, além do bilhete de

passagem de ida e volta.

É indispensável a apresentação do passaporte ou outro documento equiva-

lente, de acordo com as leis de imigração e reciprocidade existente entre alguns países.

A verificação dos documentos exigidos é de responsabilidade da empresa

de transporte, conforme disposto no artigo 11 do Estatuto do Estrangeiro:

Art. 11. A empresa transportadora deverá verificar, por ocasião do embarque, no exterior, a documentação exigida, sendo responsável, no caso de irregulari-dade apurada no momento da entrada, pela saída do estrangeiro, sem prejuízo

do disposto no artigo 125, item VI.27

26 BRASIL, op. cit., 2009. 27 Id.

21

Para estrangeiros oriundos de regiões consideradas infectadas por alguma

moléstia, será necessária também a apresentação do certificado internacional

de vacinação.28

2.3.1 Visto de trânsito

Sua definição legal está no artigo 8, caput, do Estatuto do Estrangeiro: "O

visto de trânsito poderá ser concedido ao estrangeiro que, para atingir o país de

destino, tenha de entrar em território nacional".29

Na definição de Roberto Luiz Silva: "visto em trânsito: é dado quando a

pessoa está de passagem para um terceiro Estado. Sua validade máxima é de dez

dias."30 Prazo este, que é improrrogável e permite apenas uma entrada no país.

Na qualidade de Estado Democrático de Direito, o Brasil tem o dever de

garantir os direitos fundamentais do estrangeiro que esteja aqui, ainda que apenas

de passagem, conforme ensinam Rosane e Friedmann Wendpap: "o estrangeiro,

ainda que de passagem pelo Brasil, é plenamente protegido pela ordem jurídica tão-

somente pela sua condição de pessoa."31

28 O Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia (CIVP) é um documento que comprova a

vacinação contra a febre amarela e/ou outras doenças. A possibilidade de exigência do CIVP é prevista no Regulamento SanitárioInternacional (RSI). A lista com os países que exigem o certificado está disponível na internet no sítio da Organização Mundial de Saúde. (ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/ anvisa/home/portosaeroportosfronteiras/!ut/p/c5>. Acesso em: 27 set. 2011.)

29 BRASIL, op. cit., 2009. 30 SILVA, op. cit., p.205. 31 WENDPAP, op. cit., p.198.

22

2.3.2 Visto de turista

É "concedido ao estrangeiro que vem ao Brasil em caráter recreativo ou de

visita, assim considerado que não tenha finalidade imigratória, nem intuito de exercício

de atividade remunerada".32

Acima, a definição legal do visto de turista, presente no artigo 9.o do Estatuto

do Estrangeiro.

O prazo legal de validade do visto de turista é de cinco anos, salvo a relação

entre brasileiros e americanos cujo prazo é de dez anos, conforme acordo bilateral

recente. Dentro de critérios de reciprocidade, proporcionará múltiplas entradas no

País, com estadas não excedentes a noventa dias, prorrogáveis por igual período,

totalizando cento e oitenta dias por ano, podendo, também, ser reduzido o prazo de

estada do turista, a critério discricionário do Departamento de Polícia Federal,

devendo o estrangeiro ser certificado da decisão e notificado para deixar o país33,

ficando sujeito à deportação, conforme artigo 57 do Estatuto.

2.3.3 Visto temporário

O visto temporário é concedido àquele que não é turista, mas, também, não

vem com intuito de estabelecer-se definitivamente no país, mas, que venha por um

período longo, determinado e com objetivo específico.

32 BRASIL, op. cit., 2009. 33 FARIA, Marilia Gabriela Ferreira de. Concessão de vistos para estrangeiros no Brasil. Disponível

em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/2861/concessao-de-vistos-para-estrangeiros-no-brasil>. Acesso em: 29 jul. 2011.

23

É o caso, normalmente, dos estudantes, jornalistas, cientistas, professores,

desportistas, executivos, artistas e outros mais, que, em razão da sua profissão residam

no país sem o ânimo de se estabelecer definitivamente.

Atualmente, é muito concedida esta forma de visto no Brasil, em razão da

quantidade de empresas que necessitam de mão-de-obra especializada.

Novamente, o Estatuto do Estrangeiro preceitua os casos de admissão do

referido visto:

Art. 13. O visto temporário poderá ser concedido ao estrangeiro que pretenda vir ao Brasil:

I - em viagem cultural ou em missão de estudos;

II - em viagem de negócios;

III - na condição de artista ou desportista;

IV - na condição de estudante;

V - na condição de cientista, professor, técnico ou profissional de outra categoria, sob regime de contrato ou a serviço do Governo brasileiro;

VI - na condição de correspondente de jornal, revista, rádio, televisão ou agência noticiosa estrangeira.

VII - na condição de ministro de confissão religiosa ou membro de instituto de vida consagrada e de congregação ou ordem religiosa. (Incluído pela Lei

n.o 6.964, de 09/12/81).34

Ainda, a mesma lei preceitua em seu artigo 14, os prazos de estada no Brasil:

Art. 14. O prazo de estada no Brasil, nos casos dos incisos II e III do art. 13, será de até noventa dias; no caso do inciso VII, de até um ano; e nos demais, salvo o disposto no parágrafo único deste artigo, o correspondente à duração da missão, do contrato, ou da prestação de serviços, comprovada perante a autoridade consular, observado o disposto na legislação trabalhista. (Redação dada pela Lei n.

o 6.964, de 09/12/81).

Parágrafo único. No caso do item IV do artigo 13 o prazo será de até 1 (um) ano, prorrogável, quando for o caso, mediante prova do aproveitamento escolar

e da matrícula.35

Todos os prazos descritos acima, poderão ser prorrogados por igual período

do prazo originário do visto que lhe foi concedido. Tratando-se de ministro de confissão

34 BRASIL, op. cit., 2009. 35 Id.

24

religiosa ou membro de instituto de vida consagrada e de congregação ou ordem

religiosa a prorrogação não deverá exceder um ano.

2.3.4 Visto permanente

O visto permanente é concedido àqueles que pretendam se estabelecer no

Brasil definitivamente, porém, sem a intenção de obter a nacionalidade brasileira.

É permitido ao estrangeiro, o exercício de qualquer atividade remunerada

no país.

O artigo 16 do Estatuto do Estrangeiro contém a previsão legal:

Art. 16. O visto permanente poderá ser concedido ao estrangeiro que pretenda se fixar definitivamente no Brasil.

Parágrafo único. A imigração objetivará, primordialmente, propiciar mão-de-obra especializada aos vários setores da economia nacional, visando à Política Nacional de Desenvolvimento em todos os aspectos e, em especial, ao aumento da produtividade, à assimilação de tecnologia e à captação de recursos para setores específicos. (Redação dada pela Lei n.

o 6.964, de

09/12/81).36

Conforme o artigo 18 do mesmo Estatuto, a "concessão do visto permanente

poderá ficar condicionada, por prazo não-superior a 5 (cinco) anos, ao exercício de

atividade certa e à fixação em região determinada do território nacional."37

Conforme os ensinamentos dos professores, Rosane e Friedmann Wendpap:

A decisão sobre o pedido de imigração é discricionária e o exame de conve-niência e oportunidades é informado por critérios políticos pertinentes à qualificação profissional do estrangeiro requerente, a sua disponibilidade para residir durante algum tempo exclusivamente em algumas áreas dos

territórios brasileiro e não em outras.38

36 BRASIL, op. cit., 2009. 37 Id., 38 WENDPAP, op. cit., p.199.

25

Esta concessão deixa de ser discricionária e passa a ser vinculada quando

houver casamento entre um estrangeiro com brasileiro. É o brasileiro que impõe à

União, o seu poder de constituir relação afetiva com estrangeiro e trazê-lo para a

morada no Brasil.39

2.3.5 Visto de cortesia, oficial e diplomático

O visto de cortesia provém do convite específico de autoridades brasileiras à

autoridades estrangeiras.

O visto oficial é concedido ao estrangeiro que estiver em missão oficial e aos

funcionários de organizações internacionais.

O visto diplomático é destinado às autoridades diplomáticas estrangeiras

autorizadas junto ao governo.

A lei não estabelece normas de caráter especial para a concessão, prorro-

gação ou dispensa destas três formas de visto por ser o Ministério das Relações

Exteriores o órgão responsável para tanto.

Ao portador do passaporte diplomático, não necessariamente deverá ser

concedido visto diplomático, uma vez que o que determina a espécie do seu visto é

a finalidade da viagem.

Quanto ao exercício de atividade remunerada exercida pelo portador de um

desses tipos de visto, dispõe o artigo 104 do Estatuto do Estrangeiro:

Art. 104. O portador de visto de cortesia, oficial ou diplomático só poderá exercer atividade remunerada em favor do Estado estrangeiro, organização ou agência internacional de caráter intergovernamental a cujo serviço se encontre no País, ou do Governo ou de entidade brasileiros, mediante

39 WENDPAP, op. cit., p.200.

26

instrumento internacional firmado com outro Governo que encerre cláusula específica sobre o assunto. (Renumerado pela Lei n.

o 6.964, de 09/12/81)

§ 1.o O serviçal com visto de cortesia só poderá exercer atividade remunerada a

serviço particular de titular de visto de cortesia, oficial ou diplomático.

§ 2.o A missão, organização ou pessoa, a cujo serviço, se encontra o

serviçal, fica responsável pela sua saída do território nacional, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data em que cessar o vínculo empregatício, sob pena de deportação do mesmo.

§ 3.o Ao titular de quaisquer dos vistos referidos neste artigo não se aplica o

disposto na legislação trabalhista brasileira.40

As três formas de visto anteriores, também estão sujeitas as condições do

artigo 7.o do Estatuto e, sobretudo, de análise do Ministério das Relações Exteriores.

40 BRASIL, op. cit., 2009.

27

3 FORMAS DE EXCLUSÃO DO ESTRANGEIRO

Caso a permanência do estrangeiro no Brasil se torne nociva a ordem pública

ou à segurança nacional, podem ser cessados os efeitos dos vistos concedidos.

Dessa maneira, existem três formas de retirada compulsória do estrangeiro

do território nacional: a deportação, a expulsão e a extradição.

3.1 DEPORTAÇÃO

A deportação é o remédio jurídico para o caso de alguma infração adminis-

trativa por parte do estrangeiro, tal como o ingresso clandestino, a permanência no

país depois de expirado o prazo deferido ou o exercício de atividade incompatível

com aquela que foi deferida para a sua estada.

Para José Francisco Rezek:

A deportação é uma forma de exclusão, do território nacional, daquele estrangeiro que aqui se encontre após uma entrada irregular – geralmente clandestina –, ou cuja estada tenha-se tornado irregular – quase sempre por excesso de prazo, ou por exercício de trabalho remunerado, no caso do turista. Cuida-se de exclusão por iniciativa das autoridades locais, sem envolvimento da cúpula do governo: no Brasil, policiais federais tem competência para promover a deportação de estrangeiros, quando entendam que não é o caso de regularizar sua documentação. A medida não é exatamente punitiva, nem deixa seqüelas. O deportado pode retornar ao país desde o momento em que se tenha provido de documentação

regular para o ingresso.41

Quanto aos prazos, para a entrada irregular no território, o prazo será de três

dias a partir da ciência do fato. No caso de a estadia ter-se tornado irregular, prazo

será de oito dias, também a partir da ciência do fato.42

41 REZEK, op. cit., p.200. 42 SILVA, op. cit., p.223.

28

É unânime entre os juristas, o alerta para a diferenciação entre a deportação

e o impedimento, que ocorre ainda na fronteira, porto ou aeroporto, quando houver

falta de justo título para ingressar no Brasil.

O impedimento, previsto no art. 26 do Estatuto do Estrangeiro, só é possível

porque a concessão de visto nada mais é do que expectativa de direito, não

configura direito adquirido.

Sobre o tema, Rosane e Friedmann Wendpap ensinam:

A concessão do visto em repartição consular brasileira no exterior não atribui ao estrangeiro o direito de ingressar. A rigor, essa autorização (usualmente válido por prazo extenso) gera a expectativa de direito. Por isso, no momento que o estrangeiro se apresenta em um dos pontos de ingresso – portos, aeroportos, fronteiras secas – a autoridade policial, com base nos critérios determinados pelo Poder Executivo da União, decide se o

estrangeiro efetivamente ingressará no Brasil ou será impedido.43

Segundo o artigo 67, §1 do Estatuto do Estrangeiro, será deportado também

o estrangeiro que infringir o disposto nos artigos 21, §2, 24, 37, §2, 98 a 101, 104,

§§1 ou 2 ou o artigo 105.

O indivíduo somente será deportado, caso não se retire espontaneamente

após o recebimento da notificação pela autoridade competente.

No caso de ocorrer a deportação, o deportado será entregue ao último

Estado em que esteve antes de receber a medida de retirada compulsória, ou ainda,

poderá ser acolhido por qualquer outro país que lhe ofertar asilo territorial.

Novamente quanto ao prazo, determina o artigo 98 e incisos do Decreto n

86.715 de 10 de dezembro de 1.981:

Art. 98 - Nos casos de entrada ou estada irregular, o estrangeiro, notificado pelo Departamento de Polícia Federal, deverá retirar-se do território nacional:

I - no prazo improrrogável de oito dias, por infração ao disposto nos artigos 18, 21, § 2.

o, 24, 26, § 1º, 37, § 2.

o, 64, 98 a 101, §§ 1.

o ou 2.

o do artigo

104 ou artigos 105 e 125, Il da Lei n.o 6.815, de 19 de agosto de 1980;

43 WENDPAP, op. cit., p.200.

29

II - no prazo improrrogável de três dias, no caso de entrada irregular, quando não configurado o dolo.

§ 1.o - Descumpridos os prazos fixados neste artigo, o Departamento de

Polícia Federal promoverá a imediata deportação do estrangeiro.

§ 2.o Desde que conveniente aos interesses nacionais, a deportação far-se-

á independentemente da fixação dos prazos de que tratam os incisos I e II

deste artigo.44

De acordo com o Estatuto do Estrangeiro, artigo 63: "Não será admitida a

deportação se implicar em extradição não admitida pela lei brasileira. (Renumerado

pela Lei n 6.964 – 1981)."45

3.2 EXPULSÃO

A expulsão é um direito do Estado como forma de excluir de seu território um

indivíduo que represente perigo ao país. É dever do Estado, proporcionar todas as

formas de defesa permitidas, ao indivíduo que pretende expulsar, baseado em

motivos que justifiquem tal ato.

No entendimento de José Francisco Rezek:

Exclusão do estrangeiro por iniciativa das autoridades locais, e sem destino determinado – embora só o Estado patrial do expulso tenha o dever de recebê-lo quando indesejado alhures. Seus pressupostos são mais graves, e sua conseqüência é a impossibilidade – em princípio – do retorno do expulso ao país. É passível de expulsão no Brasil, o estrangeiro que sofra condenação criminal de variada ordem, "ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais. A expulsão pressupõe um inquérito que tem curso no âmbito do Ministério da Justiça, e ao longo do qual se assegura ao estrangeiro o direito de defesa. Ao ministro incumbe decidir, afinal, sobre a expulsão e materializá-la por meio de portaria. Só a edição de uma portaria

futura, revogando a primeira, faculta ao expulso o retorno ao Brasil.46

44 BRASIL. Decreto-Lei n.

o 86.715, de 10 de dezembro de 1.981. Regulamenta a Lei n.

o 6.815, de 19

de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, cria o Conselho Nacional de Imigração e dá outras providências. Secretaria Nacional de Justiça – Departamento de Estrangeiros. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/EstrangeiroWEB/decreto86715.htm#Art.66 II>. Acesso em: 27 set. 2011.

45 BRASIL, op. cit., 2009. 46 REZEK, op. cit., p.201.

30

Normalmente, os atos que motivam a expulsão são: atentar contra a ordem

social ou política, a segurança nacional, a moralidade pública ou a economia popular;

realizar fraudes com o intuito de conseguir sua entrada ou permanência no Estado;

não se retrair do país quando passível de deportação, mendicidade ou vagabundagem;

e o ato de desrespeitar proibição expressamente prevista a estrangeiros.

A expulsão não pode ser considerada uma pena, uma vez que é um ato

administrativo de alta política, fundado no direito de defesa do Estado.47

O ato de expulsar um alienígena do Brasil é um poder discricionário do

Estado e deve ser formalizado exclusivamente pelo Presidente da República através

de decreto, sendo passível de revogação nessas mesmas condições.

É importante ressaltar quanto ao processo. Nas palavras de Silva:

A expulsão ocorre em processo sumário, que, no caso de crime contra a segurança nacional deve durar 15 (quinze) dias. Caso seja decidida a expul-são, antes que a pessoa saia do país, deverá ser assinado decreto pelo Presidente da República. Ressalte-se que, caso haja pedido da parte, há período de reconsideração por parte do presidente, dentro de 10 (dez) dias após a decisão do processo e também após a publicação do decreto. Caso

a decisão não seja reconsiderada, dá-se a expulsão.48

Conforme observado, ao Poder Judiciário cabe apenas a análise dos requisitos

legais do processo, enquanto que o mérito é de competência do Poder Executivo.

Os recursos cabíveis são o habeas corpus e o mandado de segurança.

No sentido de proteger o instituto da família, o artigo 75 do Estatuto do

Estrangeiro assim dispõe:

Art. 75. Não se procederá à expulsão: (Renumerado e alterado pela Lei n.o

6.964, de 09/12/81)

I - se implicar extradição inadmitida pela lei brasileira; ou (Incluído incisos, alíneas e §§ pela Lei n.

o 6.964, de 09/12/81)

II - quando o estrangeiro tiver:

47 DOLINGER, op. cit., p.181. 48 SILVA, op. cit., p.227-228.

31

a) Cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de fato ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado há mais de 5 (cinco) anos; ou

b) filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa economicamente.

§ 1º não constituem impedimento à expulsão a adoção ou o reconhecimento de filho brasileiro supervenientes ao fato que o motivar.

§ 2º Verificados o abandono do filho, o divórcio ou a separação, de fato ou

de direito, a expulsão poderá efetivar-se a qualquer tempo.49

Sobre o tema, Rosane e Friedmann Wendpap ensinam:

A constituição de família no Brasil obstará a expulsão enquanto mantidos vínculos efetivos com cônjuges e descendentes. Também não ocorrerá a expulsão caso ela funcione como uma extradição não admitida pela lei

brasileira.50

Por fim, o Código Penal classifica como crime o reingresso no território bra-

sileiro, do estrangeiro expulso, atribuindo-lhe pena de reclusão de um a quatro anos,

sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena.

3.3 EXTRADIÇÃO

A extradição, em poucas palavras, é a entrega de um indivíduo acusado de

ter cometido um crime ou em virtude deste já ter sido condenado, ao Estado que

possui competência para julgá-lo e/ou puni-lo.

Nas palavras de José Francisco Rezek:

Extradição é a entrega por um Estado a outro, e a pedido deste, de pessoa que em seu território deva responder a processo penal ou cumprir pena. Cuida-se de uma relação executiva, com envolvimento judiciário de ambos os lados: o governo requerente da extradição só toma essa iniciativa em razão da existência do processo penal – findo ou em curso – ante sua Justiça; e o governo do Estado requerido (ou Estado "de asilo", na linguagem imprópria de alguns autores de expressão inglesa) não goza, em

49 BRASIL, op. cit., 2009. 50 WENDPAP, op. cit., p.201.

32

geral, de uma prerrogativa de decidir sobre o atendimento do pedido senão depois de um pronunciamento da Justiça local. A extradição pressupõe sempre um processo penal: ela não serve para a recuperação forçada do devedor relapso ou do chefe de família que emigra para desertar dos seus

deveres de sustento da prole.51

Trata-se de uma faculdade do país conceder a extradição, conforme disposto

no artigo 76 do Estatuto do Estrangeiro.

Para que haja a extradição, é necessário que exista um tratado entre os dois

países envolvidos que determine a entrega do extraditando. Não havendo esse

tratado, a extradição se dará mediante uma promessa de reciprocidade, que passará

pela análise do judiciário local no tocante a sua validade.

Nos ensinamentos de José Francisco Rezek:

Assim não havendo tratado, a reciprocidade opera como base jurídica da extradição quando um Estado submete a outro um pedido extradicional a ser examinado à luz do direito interno desse último, prometendo acolher, no futuro, pedidos que transitem em sentido inverso, e processá-los na confor-

midade de seu próprio direito interno.52

Não será concedida a extradição pela lei brasileira nos casos dispostos nos

incisos do artigo 77 do Estatuto do Estrangeiro:

Art. 77. Não se concederá a extradição quando: (Renumerado pela Lei n.o

6.964, de 09/12/81)

I - se tratar de brasileiro, salvo se a aquisição dessa nacionalidade verificar-se após o fato que motivar o pedido;

II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente;

III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando;

IV - a lei brasileira impuser ao crime a pena de prisão igual ou inferior a 1 (um) ano;

V - o extraditando estiver a responder a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido;

VI - estiver extinta a punibilidade pela prescrição segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente;

VII - o fato constituir crime político; e

VIII - o extraditando houver de responder, no Estado requerente, perante Tribunal ou Juízo de exceção.

51 REZEK, op. cit., p.202. 52 Id., p.203.

33

§ 1.o A exceção do item VII não impedirá a extradição quando o fato

constituir, principalmente, infração da lei penal comum, ou quando o crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato principal.

§ 2.o Caberá, exclusivamente, ao Supremo Tribunal Federal, a apreciação do

caráter da infração.

§ 3.o O Supremo Tribunal Federal poderá deixar de considerar crimes

políticos os atentados contra Chefes de Estado ou quaisquer autoridades, bem assim os atos de anarquismo, terrorismo, sabotagem, seqüestro de pessoa, ou que importem propaganda de guerra ou de processos violentos

para subverter a ordem política ou social.53

Afora os procedimentos extradicionais comuns, existe ainda, a extradição

supletiva que ocorre quando, no decorrer do processo de extradição, o Estado

descobre que o extraditando cometeu outros crimes que não foram descritos no

pedido de extradição e pede ao Estado concedente que permita que seja julgado

também por estes outros crimes.

O Brasil, como na maioria dos países, exceto a Grã- Bretanha, não extradita

os seus nacionais, salvo pelo disposto no artigo 5, inciso LI da Constituição da

República que permite a extradição do brasileiro nacionalizado, desde que o crime

tenha sido praticado antes da sua naturalização ou ainda, quando for comprovado o

envolvimento em tráfico ilícito de drogas, hipótese esta que se aplica a extradição

independentemente do envolvimento ter sido antes ou depois da naturalização.54

Na classificação de Luis Ivani de Amorim Araújo, a extradição pode ser classi-

ficada em: "ativa (em relação ao Estado que a requer) e passiva (em relação ao Estado

que a outorga), instrutória (requerida visando submeter o indivíduo a julgamento) e

executória (objetivando que o indivíduo cumpra a pena a que foi condenado)".55

Para a análise da extradição, há de se levar em consideração dois princípios: o

da especialidade – o extraditado não pode ser julgado por crime que não esteja inserido

53 BRASIL, op. cit., 2009. 54 WENDPAP, op. cit., p.202. 55 ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. Rio de Janeiro: Forense,

2002. p.93-94.

34

no pedido original; e o da dupla incriminação – para haver extradição, o delito deve

estar previsto na legislação de todos os países interessados.

Existe ainda o princípio do Non Bis in Idem, pelo qual, não ocorrerá extradição

de pessoa quando esta já tiver sido julgada por tribunal nacional e considerada

inocente por decisão transitada em julgado.

No Brasil, o processo de extradição é encaminhado para o Supremo Tribunal

Federal, que pode conceder ou não a extradição; em caso positivo, é consumada

materialmente a extradição. No caso de promessa de reciprocidade, o governo deve

utilizar seu poder de aceitação ou recusa da promessa antes do envolvimento

do judiciário.

É importante ressaltar que caso haja omissão do Estado requerente em

fornecer as garantias condicionantes da entrega ou a negligência na retirada do

extraditando do solo pátrio em sessenta dias, não ocorrerá a extradição.

O prazo supracitado tem respaldo legal no artigo 87 do Estatuto do Estran-

geiro, este por sua vez, no artigo 91, prevê outras hipóteses em que não será

efetivada a extradição:

Art. 91. Não será efetivada a entrega sem que o Estado requerente assuma o compromisso: (Renumerado pela Lei n.

o 6.964, de 09/12/81)

I - de não ser o extraditando preso nem processado por fatos anteriores ao pedido;

II - de computar o tempo de prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição;

III - de comutar em pena privativa de liberdade a pena corporal ou de morte, ressalvados, quanto à última, os casos em que a lei brasileira permitir a sua aplicação;

IV - de não ser o extraditando entregue, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o reclame; e

V - de não considerar qualquer motivo político, para agravar a pena.56

56 BRASIL, op. cit., 2009.

35

Quanto à relação familiar, não impede esta, que seja feita a extradição, de

acordo com a Súmula 421 do Supremo Tribunal Federal: "Não impede a extradição

a circunstância de ser o extraditando casado com brasileira ou ter filho brasileiro".57

Assim sendo, é possível concluir que a extradição é um ato de soberania a

fim de manter a boa cooperação internacional entre as nações.

57 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n.

o 421. In: Vade Mecum. 7.ed. ver., ampl. E atual. São

Paulo: Saraiva 2009. p.1.781.

36

4 O ASILO POLÍTICO

Dentre todas as formas de admissão de estrangeiros no Brasil, o asilo político

certamente merece destaque especial pela sua importância como medida protetora

de direitos individuais.

A concessão do asilo político é um dos princípios que regem as relações

internacionais da República Federativa do Brasil, ante a sua previsão constitucional

no artigo 4, inciso X.

Segundo José Francisco Rezek:

Asilo político é o acolhimento, pelo Estado, de estrangeiro perseguido alhures – geralmente, mas não necessariamente, em seu próprio país patrial – por causa de dissidência política, de delitos de opinião, ou por crimes que, relacionados com a segurança do Estado, não configuram

quebra do direito penal comum.58

O referido instituto funciona como uma antítese à extradição, uma vez que

acolhe, ao invés de devolver, o acusado de cometimento de crime político, isto

porque numa ótica geral, os atos humanos reprováveis presentes em legislação

penal, parecem reprováveis em toda parte, e assim sendo, os Estados se ajudam

mutuamente na figura da extradição.

Tal regra, não é válida no caso da criminalidade política, pelo fato de a

afronta ter sido contra uma forma de autoridade assentada sobre uma ideologia ou

metodologia capaz de suscitar confronto além dos limites da oposição regular num

Estado democrático, e não contra um bem juridicamente reconhecido como a vida

ou o patrimônio.59

58 REZEK, op. cit., p.221. 59 Id., p.222.

37

A história do asilo político começa no Egito, na Grécia e em Roma sob a forma

religiosa. Os templos religiosos concediam asilo a qualquer criminoso. Com o cristia-

nismo, a igreja também adotou este instituto ante a inviolabilidade da Igreja, porém, em

decorrência de crimes cometidos nas redondezas eclesiásticas, a Igreja excluiu essa

categoria de asilo. No entanto, o asilo político que conhecemos hoje, se consolidou com

a Revolução Francesa, no sentido de fornecer asilo para crimes políticos.

É direito de qualquer indivíduo perseguido por motivos políticos, procurar

asilo em qualquer Estado, estes, entretanto, não são obrigados a concedê-los.

É possível dividir o asilo político por dois aspectos: o territorial e o diplomático.

4.1 ASILO TERRITORIAL

É asilo político puro e simples. Por motivos de dissidência política e/ou

delitos de opinião o Estado acolhe e protege um indivíduo dentro do seu território, no

entanto, seus direitos e deveres serão os mesmos concedidos aos outros

estrangeiros, inclusive, quanto às obrigações fiscais.

O asilo é um direito do Estado, e como tal, somente será concedido quando

for conveniente.

Aos que gozam do asilo territorial, é concedido o nome de ‘refugiados’ e

sobre a sua condição, dispõem os artigos 28 e 29 do Estatuto do Estrangeiro:

Art. 28. O estrangeiro admitido no território nacional na condição de asilado político ficará sujeito, além dos deveres que lhe forem impostos pelo Direito Internacional, a cumprir as disposições da legislação vigente e as que o Governo brasileiro lhe fixar.

Art. 29. O asilado não poderá sair do País sem prévia autorização do Governo brasileiro.

Parágrafo único. A inobservância do disposto neste artigo importará na

renúncia ao asilo e impedirá o reingresso nessa condição.60

60 BRASIL, op. cit., 2009.

38

Põe fim ao asilo territorial: a naturalização no Estado que o abrigou; ao cessar

o motivo do refúgio, ou; por iniciativa o próprio refugiado.

4.2 ASILO DIPLOMÁTICO

É conhecido como uma forma provisória do asilo político. Costumeiramente

praticado apenas na América Latina onde foi bastante popular no século XIX.

Caracteriza-se pela exceção à plenitude da competência que o Estado

exerce sobre o seu território e exalta a soberania de outrem.61

José Francisco Rezek ressalta que:

Os pressupostos do asilo diplomático são, em última análise, os mesmos do asilo territorial: a natureza política dos delitos atribuídos ao fugitivo, e a atualidade da persecução – chamada nos textos convencionais, de estado de urgência. Os locais onde esse asilo pode dar-se são as missões diplomáticas – não as repartições consulares – e, por extensão, os imóveis residenciais cobertos pela inviolabilidade nos termos da convenção de Viena de 1.961; e ainda, segundo o costume, os navios de guerra porventura acostados ao litoral. A autoridade asilante – via de regra o embaixador – examinará a ocorrência dos dois pressupostos referidos e, se os entender presentes, reclamará da autoridade local um salvo-conduto, com que o asilado possa deixar em condições de segurança o Estado territorial para encontrar abrigo

definitivo no Estado que se dispõe a recebê-lo.[destaques do autor]62

É vedado à ONU e os organismos regionalizados, conceder asilo em

suas sedes.

Ainda, tal modalidade de asilo deve ser concedida apenas em situações com

caráter de urgência, mas sem a dispensa da autoridade asilante.

Encerra-se o asilo diplomático; com a desistência do pedido de abrigo; pela

entrega do indivíduo como delinqüente comum ao Estado local; pela fuga do asilado,

ou; com a saída deste, do Estado.

61 REZEK, op. cit., p.222. 62 Id., p.224.

39

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Posteriormente ao estudo apresentado, foi possível compreender a definição

do estrangeiro ou "extraneus", e a sua relação legal com o Estado brasileiro. Relação

esta que começou a centenas de anos com a descoberta do nosso território pelos

ditos estrangeiros, mas que, efetivamente teve início a pouco mais de duzentos anos

com a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil.

Dada a largada para a imigração, inicialmente majorativamente portuguesa,

ocorreram marcos imigratórios importantes; o primeiro com o vácuo deixado pelos

escravos após a abolição, e o segundo em 1.930 quando no auge da crise econômica

mundial foram criadas medidas protecionistas aos trabalhadores nacionais. Claramente

percebeu-se que a vinda de todos esses estrangeiros para o Brasil, só fez enri-

quecer a nossa cultura e principalmente o desenvolvimento social da população.

Quiçá pelo Brasil possuir grande formação estrangeira, evidenciou-se que o

povo que aqui vive e que aqui viveu sempre ostentou a fama de grande hospita-

lidade, seja para com aqueles que vem para morar ou simplesmente visitar, uma vez

que não se deve oferecer a um estrangeiro tratamento diverso daquele que almeja-

se receber em território distante do nosso.

O alienígena situado dentro do território brasileiro e em dia com todas as

exigências legais, possui uma gama de direitos inerentes à sua proteção e garantias

individuais, contudo, também está sujeito aos mesmos deveres e as mesmas leis

que os nacionais.

Para o estrangeiro que decida tornar-se um brasileiro, existe a possibilidade

da naturalização, onde, observado uma série de requisitos e exigências legais,

poderá, após o processo, receber quase todos os direitos que os que aqui nasceram

possuem, ressalvado o exercício de determinadas funções públicas arroladas na

Constituição da República.

40

No entanto, aos estrangeiros que não pretendam adquirir a nacionalidade

brasileira, mas que queiram ou precisem adentrar aqui, existem variados títulos de

ingresso, chamados de vistos, que podem servir para uma simples passagem pelo

nosso território, até a estadia permanente, havendo, gradativamente mais exigências

conforme a intenção forasteira.

Seja qual for o intuito do estrangeiro em entrar no país ou nacionalizar-se,

todos os atos são discricionários do Estado, o que significa que mesmo atendendo a

todos os requisitos previstos em lei, o Poder Executivo poderá negar o pedido de

nacionalização ou visto.

Mais adiante, observou-se que quando a permanência de um estrangeiro

torna-se indesejada pelo Estado, este poderá utilizar-se de alguns recursos para o

suprimento do fato. Variando do simples impedimento do estrangeiro em entrar no

Brasil, passando pela deportação até a gravíssima expulsão (de acordo com a

gravidade do cometido), ou na extradição quando for justo. Tais medidas exaltam a

discricionariedade do Estado que não possui o encargo de suportar aqueles que

representam qualquer tipo de nocividade à ordem publica e/ou a segurança nacional.

Após a leitura de todo o trabalho, é possível perceber a importância da Lei

6.815/80, o tão mencionado Estatuto do Estrangeiro. Essa legislação é fundamental

na regulamentação do objeto do presente estudo.

Finalmente é possível concluir que a situação jurídica do estrangeiro no

Brasil, desde que legal e de boa-fé, é importantíssima para a coletividade como um

todo e que tal relação só pode resultar em frutos positivos para a sociedade. Há de

se exaltar também que os direitos garantidos aos estrangeiros não representam

qualquer prejuízo aos naturais, até mesmo sendo factível acreditar que mereçam ser

estreitadas e aperfeiçoadas.

41

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