engels a situacao da classe trabalhadora na inglaterra

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  • 8/3/2019 ENGELS a Situacao Da Classe Trabalhadora Na Inglaterra

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    E48sEngels, Friedrich, 1820-1895A situa9?o da classe trabalhadora na lnglaterra I Friedrich Engels; traducao B. A Schumann ;supervisao, apresentacao e notasJosePaulo Netto. - [Edicao revista].- SaoPaulo: Boitempo, 2010.388p. : il. -(Mundo do trabalho ; Colecao Marx-Engels)

    CIP-BRASIL.CATALOGA

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    Friedrich Engels

    se desenvolveu mais tarde com a conquista de mercados externos e com 0alargamento do cornercio,nao incidia sensivelmente sobre 0 salario. A issose somava um constante crescimento da demanda do mercado interne, aolado de um diminuto aumento populacional, 0 que permitia ocupar todosos trabalhadores que, ademais, nao concorriam ativamente entre si, dadoseu isolamento no campo. Por outra parte, 0 tecelao as vezes podia eco-nomizar e arrendar um pequeno pedaco de terra, que cuItivava nas horaslivres, escolhidas segundo sua vontade, posto que elemesmo determinava 0tempo e a duracao de seu trabalho, E verdade que era um pobre campones,que lavrava a terra com pouco cuidado e sem grande proveito; mas nao eraum proletario: tinha - como dizem osingleses- um pe na sua terra patria,possuia uma habitacao e situava-se num escalao social acima do modernooperario Ingles.Assim, os trabalhadores sobreviviam suportavelmente e levavam uma

    vida honesta e tranquila, piedosa e honrada; sua situacao material era bernsuperior a de seus sucessores: nao precisavam matar-se de trabalhar, naofaziam mais do que desejavam e, no entanto, ganhavam para cobrir suasnecessidades e dispunham de tempo para urn trabalho sadie em seu jar-dim ou em seu campo, trabalho que para eles era uma forma de descanso;e podiam, ainda, participar com seus vizinhos de passatempos e distra-coes - jogos que contribuiam para a manutencao de sua saude e para 0revigoramento de seucorpo. Emsua maioria, eram pessoas de compleicaorobusta, fisicamente em pouco ou nada diversas de seus vizinhos campo-nios. Seus filhos cresciam respirando 0 ar puro do campo e,se tinham deajudar os pais, faziam-no ocasionalmente, [amais numa jornada de traba-lho de oito ou doze horas.E facil adivinhar 0 carater moral e intelectual dessa classe. Afastadosdas cidades, nelas praticamente nao entravam porque entregavam, me-diante 0pagamento de seu trabalho, 0 fioe 0 tecido a agentes itinerantes -demodo que, velhos moradores das proximidades das cidades, nunca ha-viam ido a elas, ate 0 momenta em que as maquinas os despojaram deseu ganha-pao, obrigando-os a procurar trabalho na ci~. Seu nivel in-telectual e moral era 0da gente do campo, a qual, de resto, estavam gerale diretamente ligados atraves de seus pequenos arrendamentos. Tambernrespeitavam 0 e sq u ir e' - 0 mais importante proprietario de terras da re-

    A s i tu a cdo da c l as s e i raba lhadora na l ngl a te r ra

    giao - como seu superior natural, pediam-lhe conselhos, submetiam-Ihesuas pequenas querelas e prestavam-Ihe todas as honras inerentes a essarelacao patriarcal. Eram gente "respeitavel" e bons pais de familia, viviamsegundo a moral porque nao tinham ocasiao de ser irnorais, ja que nasirnediacoes nao havia bordeis e 0 dono da taberna onde eventualmentesaciavam a sede era tambem urn homem respeitavel e,na maior parte dasvezes, urn grande arrendatario que fazia questao de ter boa cerveja, demanter as coisas em ordem e de deitar cedo. Tinham osfilhos em casa du-rante todo 0 tempo e inculcavam-lhes a obediencia e 0 temor a Deus; essasrelacoes patriarcais subsistiam ate 0casamento dos filhos- osjovens cres-,ciam com seus amigos de infanciaem idilica intimidade e simplicidade ateque se casassem, e mesmo que as relacoes sexuais antes do matrimonioocorressem comurnente, so eram legitimadas quando reconhecidas pelasduas partes e quando as subsequentes nupcias punham as coisas em seulugar. Em suma, os trabalhadores industriais ingleses dessa epoca viviame pensavam como sevive e sepensa ainda aqui e acola naAlemanha, isola-dos e retirados, sem vida intelectual e levando uma existencia sem sobres-saltos. Raramente sabiam ler e, menos ainda, escrever, iam regularmentea igreja, nao faziam politica, nao conspiravam, nao refletiarn, apreciavamatividades ffsicas,escutavam com a tradicional devocao a leitura da Bibliae, em sua singela humildade, tinham boas relacoes com as classes maisaltas da sociedade. Por isso mesmo, estavam intelectualmente mortos, vi-viam exclusivamente para seus interesses privados e mesquinhos, para 0tear e para a gleba e ignoravam tudo acerca do grandioso movimento que,mais alem, sacudia a humanidade. Sentiam-se a vontade em sua quietaexistencia vegetativa e. sem a revolucao industrial, jamais teriam abando-nado essa existencia, decerto comoda e romantica, mas indigna de urn serhumano. De fato, nao eram verdadeiramente seres humanos: eram rna-quinas de trabalho a service dos poucos aristocratas que ate entao haviamdirigido a hist6ria; a revolucao industrial apenas levou tudo isso as suasconsequencias extremas, completando a transformacao dos trabalhadoresem puras e simples maquinas e arrancando-lhes das maos os ultimos res-tos de atividade autonoma - mas, precisarnente por isso, incitando-os apensar e a exigir uma condicao humana. Sena Franca foi a politica, na In-glaterra foi a revolucao industrial e 0movimento global da sociedade bur-guesa que submergiram no vortice da historia as ultimas classes ate entaomergulhadas na apatia em face dos interesses gerais da humanidade.

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    A primeira invencao que trans formou profundamente a s ituacao dostrabalhadores ingleses foi a jenny' , construida em 1764 pelo tecelao JamesHargreaves", de Stanhill, junto de Blackburn, no Lancashire do Norte'. Essamaquina foi 0 antepassado rudimentar da mule , inventada mais tarde; fun-cionava manualmente, mas, aoinves de urn 56fuso, como na roda comumde fiar a mao, tinha dezesseis ou dezoito, acionados por urn so operario,Dessa forma, tornou-se possivel produzir muito mais fio: se antes urn tece-lao ocupava sempre tres fiandeiras, nao contava nunca com fio suficiente etinha de esperar para ser abastecido, agora havia mais fio do que 0numerodos trabalhadores ocupados podia processar. A demand a de tecido, de res-to em aumento, cresceu ainda mais grac;as a reducao de seu preco, provoca-da pela diminuicao dos custos de producao do fio devida a nova maquina:houve necessidade de mais tecel6es e seus salaries aumentaram. Podendoganhar mais trabalhando em seu tear , a pouco e pouco 0 tecelao abando-.nou suas ocupacoes agricolas e dedicou-se inteiramente a tecelagern. Nessaepoca, uma famil ia de quatro adultos e duas criancas , com uma jornadade dez horas, chegava a ganhar quatro libras esterlinas por semana, equi-valentes a vinte e oito ta leres" na cotacao prussiana atual, e a te mais , se osneg6cios corriam bern e se havia procura de trabalho - nao era infrequenteurn tecelao ganhar semanalmente duas libras esterlinas. Gradativamente, aclasse dos tecel6es-agricultores foi desaparecendo, sendo de todo absorvidana classe emergente dos exclusivamente tecel6es, que viviam apenas de seusalario e nao possuiam propriedade, nem sequer a ilusao de propriedadeque 0 trabalho agricola confere - tornaram-se, pois, proleiarios (wo rk i ng men ) .A isso se juntou a destruicao da antiga relacao entre fiandeiros e tecel6es.Ate entao, na medida em que era possivel, 0 fio era fiado e tecido sob urn

    a A partir de 1738registram-se na Ing la te rra con tinuos progressos na mecan izacao da fia -~ao ,de enorme importanc ia para 0desenvolvimento do capitalismo. James Hargreaves,por vol ta de 1764, const r6i a sp i nn ing j enny (nome com que homenage ou s ua f il ha,Jenny), que e urn avanco na fiacao, embora acionada rnanualmente. Depois de varie sape rfeicoamentos das ide ia s de Lewis Pau l, tes tadas desde 1738, Richa rd Arkwright ,e nt re 1 769 e 1771, pa ss a a ut il iza r a forca h id ra ul ica numa maqu in a d e f ia r, a throstle.Em 1779, Samue l Crompton constro i uma maquina que combina as carac te rist icas dasp i nn ing j enny e da throstle, a mule j enny (ou, abreviadamente, mule) . Finalmente, em1825, Richard Robert cria a fiadora automatica (sel fact ing mule ou selfactor). 0 lei te r v e-r if icara que asda tas que Engels ass inala para as invencoes mecan icas nem sempre saoexatas (cf., infra, nota 1 ,p . 51).

    b Hargreaves faleceu em 1778.c No original, Engels grafou erradamente 0 toponimio: Standhill, ao inves de Stanhill.d Antiga unidade rnone ta ria a lema .

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    III

    A s ii ua c so d a c la s se t ra b al ha d or a na I ng la te rr a

    mesmo teto; agora, ja que tanto a jenny quanto 0 tear exigiam mao robusta,os homens tambem sepuseram a fiar efamilias inteiras passaram a viver ex-clusivamente disso, enquanto outras, forcadas a abandonar a velha e arcaicaroda de fiar e sem meios para comprar uma jenny, tiveram de sobreviverapenas com 0 que seu chefe ganhava no tear. Foi dessa mane ira que se ini-ciou a divisao do trabalho entre fiacao e tecelagem, que seria levada ao grauextremo na industria posterior.Simultaneamente ao prole tar iado indus tr ia l que se desenvolvia com essa

    primeira maquina, todavia muito imperfeita, ela mesma tambem originavaa formacao do p ro le t ar i ado ru ra l . Havia, ate entao, urn grande numero de.pequenos proprietaries rurais, os chamados yeomen, cuja vida transcorriana mesma tranquilidade e apatia de seus vizinhos, os teceI6es-agricultores.Cul tivavam seu pequeno pedaco de terra do mesmo modo descuidado earcaico que seus pais e opunham-se a qualquer inovacao com sua peculiarteimos ia de seres que, escravos do habito, nada al teram no decurso de ge-racoes. Entre eles, existiam tambern muitos pequenos arrendatarios, nao nosentido atual da palavra, mas gente que, por forca de costume antigo ou atitulo de renda hereditaria, recebera dos pais ou av6s urn pequeno pedacode terra e que nele se es tabelecera tao solidamente como se se tratasse depropriedade sua. Na medida em que, entao, os operarios industriais aban-donavam a agricultura, inumeros terrenos tornaram-se disponiveis e nelesseinstalou a nova classe dos grandes arrendaiarios , quealugavam cinquenta,cern, duzentos ou maisacres - os tenants-at-will, arrendatarios cujo contratopodia ser anulado anualrnente e que, mediante melhores metodos agrico-las e exploracao em larga escala , souberam aumentar a produtividade daterra. Podiam vender seus produtos a precos mais baixos que os do peque-no yeoman, que nao t inha outra al ternativa senao vender sua terra - que janao 0sustentava - e adquirir uma jenny ou urn tear ou empregar-se comojornaleiro, proletario agricola, de urn grande arrendatario, Sua tradicionalindolencia e 0 trato negligente que oferecia ao seu pedaco de terra, tracesque herdara de seus antepassados e dos quais nao pudera livrar-se, nao lhedeixaram outra escolha quando se viu obrigado a concorrer com pessoasque cultivavam 0 solo segundo principios mais racionais e com todas asvantagens oferecidas pela grande lavoura e pelo investirnento de capitaisna melhoria da terra.o movimento cia industria, porem, nao se deteve. Alguns capitalis tascomecaram a instalar jennys em grandes predios e a adona-las por j o r c a hi -drdulica, 0que lhes permitiu reduzir 0numero de operarios e vender 0 fio a

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    preco menor que os fiandeiros isolados, que movimentavam manualmentesuas maquinas. A jenny foi sucessivamente aperfeicoada, de tal modo queas maquinas logo se tomavam antiquadas, devendo ser transformadas oumesmo abandonadas - e se0capitalista podia subsistir commaquinas obso-letas,grac;asao emprego da forcahidraulica, em lange prazo isso era impos-sivel para 0fiandeiro isolado. 0 sistema fabril, queja estava assim surgindo,recebeu urn novo impulso com a s p inn ing t h ro s tl e , inventada em 1767 porRichard Arkwright, urn barbeiro de Preston, no Lancashire do Norte. Essamaquina, comumente chamada em alernao Keiienstuhl", e, ao lade da rna-quina a vapor, a mais importante invencao mecanica do seculo XVIII.Foiconstruida combase em principios inteiramente novos e concebida para seracionada por f or ra mo tr iz m e ci in ic a. Associando as caracteristicas da jenny eda Kettenstuhl, Samuel Crompton, de Firwood (Lancashire), criou em 1785 amule e como,no mesmo periodo, Arkwright inventou asmaquinas de cardarefiar, 0sistemafabriltomou-se 0unico vigente na fiacao do algodao. Grada-tivamente iniciou-se, commodificacoes insignificantes, a.adaptacao dessasmaquinas Iifiacao da lae,mais tarde, Iide linho (na primeira decada do nos-soseculo), de modo que tambern aise reduziu 0 trabalho manual. Mas issonao foi tudo: nos ultimos anos do seculopassado, 0 doutor Cartwright, urnparoco rural, inventou 0 t ear medin ico e j a em 1804 0 aperfeicoara a pontode concorrer comsucesso comos teceloesmanuais. A importancia de todasessas maquinas foi duplicada com a maq uin a a v ap or de JamesWatt, inven-tada em 1764 e utilizada, a partir de 1785, para acionar asmaquinas de fiar.Com essas invencoes, desde entao aperfeicoadas ana a ano, decidiu-

    se nos principais setores da industria inglesa a v it 6r ia d o t ra ba lh o me cd ni cos ab re a t ra ba lh a m an ua l e toda a sua historia recente nos revela como ostrabalhadores manuais foram sucessivamente deslocados de suas posicoespelas maquinas. As consequencias disso foram, por urn lado, uma rapidareducao dos pre

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    habitantes . Igualmente, a fabri cacao de ar tigos de a lgodao em Not tinghame Derby recebeu urn primeiro impulse com a reducao do pre

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    [ardas em 1820 para 51 milh6es em 1833. Asfiacoesde linho, em 1835, so-mavam 347, com 33 mil operarios, metade das quais na Escociameridional,mais de 60 no WestRiding do Yorkshire (Leeds e arredores), 25 em Belfast(Irlanda) e 0 resto no Dorsetshire e no Lancashire. A tecelagem seprocessana Esc6ciameridional e emdiversos pontos da Inglaterra, mas especialmen-te na Irlanda.Com 0 mesmo sucesso, os ingleses se dedicaram a p re p ar ac ii o d a s ed a.

    Recebiam da Europa meridional e da Asia 0material ja fiado e 0 trabalhoessencialconsistia em dobar e teceros fiosfinos (tramage). Ate 1824, as altastaxas alfandegarias sobre a seda bruta (quatro shillings por libra) travaramsignificativamente a industria inglesa da seda, que, por causa dos direitosprotetores, s6 dispunha de seu mercado interne e do de suas colonias. En-tao, as taxas de importacao foram reduzidas a urn penny e de imediato 0numero de fabricas aumentou notavelmente: em urn ano, 0 numero de do-badouras passou de 780 mil para 1,18 milhao e, embora a crisecomercialde 1825 tenha paralisado por urn momento esse ramo industrial, em 1827 aproducao saltava para urn nivel nunca alcancado antes,porque ahabilidadee a experiencia dos inglesesno dominio da mecanica asseguravam as suasmaquinas de torcedura do fio a suprema ciasobre os equipamentos de seusconcorrentes. Em1835, 0Imperio Britanico possuia 263 fabricas de torcedu-ra, com 30 mil operarios, a maior parte das quais localizadas no Cheshire(Macclesfield,Congleton e arredores), em Manchester e no Somersetshire.Ademais, havia ainda muitas fabricasque tratavam osresiduos de seda doscasulos, que serve para fabricar urn artigo especial - 0s pu ns il k - , que osingleses fomecem as tecelagens de Paris e deLyon.A tecelagemdessa sedaassim torcida e fiada efetua-se particularmente na Esc6cia(Paisleyetc.) e emLondres (Spitalfields),mas tambem emManchester e outros lugares.o gigantesco desenvolvimento da industria inglesa desde 1760, porem,nao se limitou it fabricacao de tecidos. Uma vez desencadeado, 0 impulsedo setor textil expandiu-se para todos os ramos da atividade industrial euma serie de invencoes, sem maiores conex6es comos ramos ja menciona-dos, ganhou mais importancia por ser contemporanea desse movimentogeral. Demonstrada na pratica a enorme significacao do emprego da for-ca mecanica na industria, buscaram-se meios para utiliza-la em todos ossetores e para explora-la em proveito de seus diversosinventores e fabri-cantes; alem disso, a demanda de maquinas, combustiveis e material detransformacao multiplicou a atividade de uma massa de operarios e deindustrias. Foi com amaquina a vapor que secomecou a valorizar as gran-

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    A situaciio da c l as s e t r aba lhadora na Ing la t er r a

    des j az id a s d e c a rv ii o da Inglaterra. A fabr icar; iio de mdquinas inicia-se e, comela, surge urn novo interesse pelas m i na s d e f e rr o, que forneciam a materia--prima para as maquinas. 0 crescimento do consumo da la estimulou acriacao de cameiros na Inglaterra e 0aumento da importacao de Hi , linhoe seda levou ao desenvolvimento da frota comercial inglesa.Foi sobretudo a p roduc ii o d e f e r ro que cresceu. Ate entao, as ricas minas

    de ferro inglesas eram pouco exploradas; 0 mineral do ferro era semprefundido com carvao vegetal, que - em virtude da expansao da agricultu-ra e da devastacao dos bosques - tomava-se cada vez mais caro e escasso;somente no seculo passado comecou-se a empregar para esse fim 0 carvaomineral (coke) e em 1780 descobriu-se urn novo rnetodo para transformarferro fundido com carvaomineral em ferro tarnbern utilizavel para a forja(antes so empregado como ferro fundido). Com essemetodo, que consisteem extrair 0 carvao misturado com 0 ferro no processo da fusao e que osingleseschamam de puddling, abriu-se todo urn novo campo Iiproducao in-glesa de ferro. Foram construidos altos-fomos cinquenta vezes maiores queos precedentes, simplificou-se a fusao do mineral com a ajuda de foles dear quente e assim foipossivel produzirferro a urn prec;otao baixo que umagrande quantidade de objetos,antes fabricados commadeira ou pedra, pas-sou a ser feitacom ferro.Em 1788, Thomas Paine, 0 celebre democrata, construiu no Yorkshire a

    primeira ponte de ferro', a que se seguiram inumeras outras, de tal modoque atualmente quase todas aspontes, sobretudo as ferroviarias, saode fer-ro fundido e em Londres ate existe uma ponte (ade Southwark) sobre 0Tamisa fabricada comessematerial; 0uso do ferro esta se generalizando naproducao de pilares e de suportes para maquinas etc.e, com a introducaoda iluminacao a gas e asferrovias, abriram-se novos espac;ospara producaoinglesa de ferro. Gradualmente, pregos e parafusos passaram a serproduzi-dos por maquinas: em 1760, Huntsman, de Sheffield,descobriu urn metodode fundir acoque economizou muito trabalho, perrnitindo a fabricacao denovos produtos a prec;osmaisbaixos;assim,gra

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    c;aodeBirmingham passou de 73 mil (em1801) para 200 mil habitantes (em1844), a de Sheffield de 46 mil (em 1801) para 110 mil (em 1844) e 0consumode carvao, apenas nesta ultima cidade, chegava, em 1836, a 515 mil tone-ladas. Em 1805, foram exportadas 4,3 mil toneladas de produtos de ferroe 4,6 mil toneladas de ferro bruto: em 1834, essas cifras foram, respectiva-mente, 16,2 mil e 107 mil: a extracao de ferro, que em 1740 totalizava 17 miltoneladas, em 1834 chegava a quase 700 mil.Apenas a fusao do ferro brutoconsome anualmente mais de 3milhoes de toneladas decarvao e enotavelaimportancia que asm in as d e caroiio (hulha) adquirirarn no curso dosultirnossessenta anos. Hoje,todas asjazidas carboniferas da lnglaterra e da Escociaestao sendo exploradas e asminas de Northumberland eDurham, somenteelas, produzem mais de 5milh6es de toneladas para exportacao, ocupandoentre 40 mil e 50 mil operarios. De acordo com0 Du rh am Ch ro n ic le a, nessesdois condados estavam sendo exploradas:em 1753 14 minas de carvaoem 1800 .40 minas de carvaoem 1836 76 minas de carvaoem 1843 130 minas de carvao.Hoje,todas as minas vern sendo exploradas mais intensivamente. Simi-

    lar aurnento de exploracao registra-se nas minas de esianho, cobre e chumbo;ao lado da expansao da produciio d e o i dro , surgiu urn novo ramo industrialrelativo a ceramica, que adquiriu importancia grac;asaos esforcos de JosiahWedgwood que, por volta de 1763, assentou sobre bases cientificas todaa producao de vasilhames, introduziu urn gosto mais refinado e criou asceramicas do Staffordshire do Norte, uma regiao de 8milhas inglesas qua-dradas que, outrora lima area deserta, hoje esta coalhada de fabricas e dehabitacoes, onde vivem mais de 60 mil pessoas.Todas as atividades estao envolvidas nesse movimento vertiginoso.

    Tambem a agricultura foi sacudida - e nao s6porque, como vimos paginasatras, a propriedade da terra passou para as maos de outros possuidorese cultivadores, mas por outras razoes. Os grandes fazendeiros investiramcapital na melhoria dos solos, destruirarn os pequenos muros divisorios

    , 0 semanario Dur ham Chr on i cl e, S und e rl a nd T im es and Da rl in g to n and S to c kt o n Ga z et te foifund ado em 1820 e , nos anos qua rent a do secu lo XIX, ti nha uma ori ent acao li ber al . Osdados c it ados por Engel s f or am extr ai dos da edi cao de 28 de j unho de 1844.

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    inuteis, drenaram e adubaram a terra, utilizaram instrumentos melhoreseintroduzirarn a rotacao sistematica das culturas ( c rop i ng by ro ta t io n ). Tam-bern eles foram auxiliados pelo progresso das ciencias:sirHumphrey Davyaplicou comexito a quimica a agricultura e 0desenvolvimento da mecanicatrouxe-lhes urn sem-numero de vantagens. Adernais, em consequencia doaumento da populacao, a demanda por produtos agricolas cresceu tantoque, entre 1760 e 1836, foram aproveitadas 6.840.540 jeiras inglesas"de ter-ras ate entao incultas - e,apesar disso, a Inglaterra passou de exportador aimportador de trigo.Operosidade semelhante verificou-se na ampliacao das comunicacoes.

    Na Inglaterra e no Pais de Gales, entre 1818 e 1829, construiram-se mil mi-lhas inglesas de estradas, comlargura obrigat6ria de 60 pes e praticamentetodas as antigas estradas foram restauradas conforme 0 novo sistema deMacAdam. Na Escocia,a partir de 1803, as autoridades responsaveis pelosservices de obras publicae fizeram construir 900 milhas de estradas e maisde mil pontes, 0 que permitiu, em pouco tempo, por a populacao das terrasal tas (Highlands) em contato com a civilizacao.Ate entao, essas populacoesse dedicavam em geral a caca e ao contrabando; tornaram-se agricultorese artesaos laboriosos e; embora se tenham criado escolas para conservar alingua e os costumes galico-celtas, ambos estao em rapido processo de ex-tincao em face do contato com a civilizacao inglesa. 0 mesmo tern ocorridona Irlartda: entre os condados de Cork, Limerick e Kerry, estendia-se umaregiao praticamente deserta e sem vias de acesso, 0 que a tornava refugiode malfeitores e a principal cidadela da nacionalidade celtico-irlandesa naIrlanda meridional: agora, esta cortada por estradas, possibilitando que acivilizacaopenetre nessa area selvagem. 0 conjunto do Imperio Britanico-particularmente a Inglaterra, que ha sessenta anos tinha pessimas estradas,tao ruins quanto as da Alemanha e da Franca - esta hoje coberto por umaexcelente rede de estradas, obra da industria privada, como quase tudo naInglaterra, porque 0Estado pouco ou nada fez nesse dominio.Antes de 1755, praticamente nao havia canais na Inglaterra. Naqueleano, abriu-se 0 canal.de Sankey Brook a St. Helens, no Lancashire" e, em

    1759, James Brindley construiu 0primeiro canal importante, 0do duque deBridgewater, que liga Manchester e as minas da regiao a foz doMersey e,em Barton, passa, atraves de urn aqueduto, sobre 0 rio Irwell. A rede de

    a Medida agrar ia que var ia de 19 a 36hectares .b Aberto 11navcgacao, de fato, em 1757.

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    canais ingleses , que Brind ley foi 0 primeiro a valorizar, data dessa epoca. Apartir de entao, foram construidos canais em todas as direcoes e os rios tor-naram-se navegaveis, Apenas na Inglaterra, contam-se hoje 2,2 mil milhasde cana is e 1 ,8 mi l milha s de rios navegave is : cons truiu-se na Escoc ia 0 canalde Caledonia , que corta 0 pais de lade a lado, e tarnbem na Irlanda abriram--se varies outros. Esses empreendimentos tambem sao, como as ferroviase as estradas, quase todos obras de particulares e de companhias privadas.

    As fe rrovias foram iniciada s ma is recentemente. A pr ime ira importan tefoi a de Liverpool a Manchester, inaugurada em 1830; desde entao, todasas grandes cidades estao ligadas por ferrovias: Londres a Southampton,Brighton, Dover , Colchester, Cambridge, Exeter (via Bristol) e Birmingham;Birmingham a Gloucester, Liverpool, Lancaster (via Newton e Wigan e viaManchester e Bolton) e, tambem, a Leeds (via Manchester e Ha lifax e via Lei-ces te r, De rby e She ff ie ld); e Leeds a Hull e Newcas tle (v ia York) . Em const ru-c;:ao e projetadas, ha ainda muitas ferrovias de menor importancia que, embreve, permitirao ir de Edimburgo a Londre s em urn so dia.o vapor, assim como revolucionou as comunicacoes em terra, deu umanova relevancia a navegacao. 0 primeiro barco a vapor navegou 0Hudson,na America do Norte, em 1807; no Impe rio Bri tanico , 0 inicio foi em 1811, comurn barco no Clyde - de sde entao, ma is de 600 foram construidos na Inglater-ra e , em 1836 , mais de 500 estavam em a tividade nos portos bri tanicos ,

    Em resumo, essa e a historia da industria inglesa nos ultimos sessen-ta anos - uma historia que nao tern equivalente nos anais da humanida-de. Ha sessenta ou oitenta anos, a Inglaterra era urn pais como todos osoutros, com pequenas cidades, industrias diminutas e elementares e umapopulacso rural dispersa, mas relativamente importante; agora, e urn paisimpar, com uma capital de 2,5 milhoes de habitantes', imensas cidades in-dustriais, uma industria que fornece produtos para 0 mundo todo e quefabric a quase tudo com a ajuda das maquinas mais complexas, com umapopulacao densa, laboriosa e inteligente, cujas duas tercas partes estaoocupa das na industria" e constituem classes completamente diversas dasanteriores. Agora, a Inglaterra e uma nacao em tudo diferente, com outroscostumes e com necessidades nova s. A revolucao industrial teve para a In-glaterra a mesma irnportancia que a revolucao politica teve para a Franca e

    a 0 censo de 1841indicava 1.949.277habitantes.b Nas edicoes norte-americana e inglesa de 1887e 1892,le-se: "ocupadas na industria eno comercio".

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    A s it ua c do d a c la ss e t ra b al ha d or a n a I ng la te rr a

    a filos6fica para a Alemanha-, e a distancia que separa a Inglaterra de 1760da Inglaterra de 1844 e pelo menos tao grande quanta aquela que separa aFranca do Antigo Regime da Franca da Revolucao de [ulho", 0 fruto maisimpor tante dessa revolucao indus trial , pore rn , e 0proletariado ingles.

    J a observamos que 0proletariado nasce com a introducao das maquinas,A veloz expansao da industria determinou a demanda de mais braces: ossalaries aumentaram e, em consequencia, batalhoes de trabalhadores dasregioes agricolas emigraram para as cidades - a populacao cresceu rapi-damente e quase todo 0 acrescimo ocorreu na classe dos proletarios, Mes-mo na Irlanda - onde apenas no principia do seculo XVTII reinou certa or-dem -, a populacao, mais que dizimada pel a barbarie inglesa nas a gitacoesdo passado, aumentou rapidainente, em particular a partir do momenta emque 0 desenvolvimento industrial comecou a atrair para a Inglaterra umamultidao de irlandeses. Surgiram assim as grandes cidades industriais ecomerciais do Imperio Britanico, onde pelo menos tres quartos da popu-lac ao fazem parte da c lasse operaria e cuja pequena burguesia se constituide comerciantes e de pouquissimos artesaos. Adquirindo importancia aoconverter instrumentos em maquinas e oficinas em fabricas, a nova indus-tria transformou a classe media trabalhadora em proletariado e os grande s

    a A reuoluciio filos6fica a que se refere Engels e aquela que, realizada no ambito do idea-lismo pela obra de Hegel e, mediada pela intervencaode Feuerbach, encontrara seupleno desenvolvimento no materialismo hist6rico. Quase quatro decades depois deescrever estas paginas, Engels sintetizou ernpoucas palavras a "revolucao filosofica"que, para a Alemanha, significou 0pensamento hegeliano: "Da mesma forma que,atraves da grande industria, da livre concorrencia e do mercado mundial, aburguesiaIiqiiida na pratica todas as instituicoes estaveis, consagradas por uma veneravel an-tigiiidade, essa filosofia dialetica poefirn a todas asideias deuma verdade absolutae definitiva e a urn consequente estagio absoluto da humanidade. Diante dela, nada edefinitive, absolute, sagrado; ela faz ressaltar 0 que ha de transit6r io ern tudo 0 queexiste; e s6deixa depe0processo ininterrupto do vir-a-ser e do perecer, urna ascensaoinfinita do inferior ao superior, cujo mero reflexo no cerebro pensante e essa pr6priafilosofia. E verdade que ela terntambem seu aspecto conservador quando reconhece alegitimidade de determinadas forrnas sociais e de conhecimento, para sua epoca e sobsuas circunstancias: mas naovai alem disso. 0 conservantismo dessaconcepcao e rela-tivo; seu carater revolucionario e absolute, e e a unica coisa absoluta que ela deixa depe" ("Ludwig Feuerbach e0firn da filosofia classica alerna", ernKarl Marx e FriedrichEngels, Ob ras e s co lh id a s em tres volumes [Riode Janeiro, Vitoria, 1963, v. 3] p. 173).

    b Trata-se da revolucao dejulho de 1830, que pos abaixo0 regime dos Bourbons e inau-gurou a monarquia constitucional de Luis Filipe Jose de Orleans, apoiada pela altaburguesia; entre 0 fimdo Antigo Regime (a ordem centrada na monarquia absolutista--feudal anterior 11Revolucao de1789) e a chamada Revolucao de[ulho, a Francaexperi-mentou 0periodo revolucionario, 0imperio napoleonico e a restauracao dosBourbons.59

  • 8/3/2019 ENGELS a Situacao Da Classe Trabalhadora Na Inglaterra

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    Friedr ich Engels

    negoc iantes em indus tr ia is; a ss im como a pequena c lasse media foi e limina-da e a populacao foi reduz ida a contraposicao ent re operar ios e capit ali st as,o mesmo oco rreu fo ra do seto r industr ial em sentido estrito, no artesanatoe no comercio: aos antigos mestres e companheiro s suceder am os grandescapit al ist as e opera rios , os qua is nao te rn perspec tivas de se elevarem acimade sua classe; 0 a rt esanato indus tr ia li zou-se , a div is ao do t raba lho foi int ro-duzida rig id amente e os pequenos artesaos que nao pod iam concorrer co rnos gran des estabelec imentos indust ri ai s foram lancados as f il ei ra s da clas sedos proletarios. Ao mesmo tempo, corn a supressao do antigo artesanato ecom 0 an iquilamento da pequena burguesia, desapar eceu par a 0 operarioqua lquer poss ib il idade de tomar-se burgues . Ate entao , s empre lhe res tavaa chance de inst al ar -s e e rn a lgum lugar como mes tre a rt esao e talvez contra-t ar companhe iros ; agora , corn osmes tres suplantados pelos indust ri ai s, corna neces sidade de gran des capit ai s para tocar qua lquer inici ativa autonoma,o proletariado tomou-se uma classe real e estavel da populacao , enquantoantes nao era muitas vezes mais que urn estag io de tran sicao para a burgue-sia. Agor a, quem quer que nasca operario nao tern ou tr a altemativa senao ade v iver como p roletario ao longo de sua existencia. Ago ra, po rtanto, pelaprimeira vez, 0 prole ta ri ado encont ra -s e e rn condicoes de empreender mo-vimentos autonomos.

    Fo i assim que se constitu iu essa enorrne massa de operarios que povoaatualmente todo 0Imper io Br it anico e cuja s ituacao soc ia l se imp6e cada diamais a a tencao do mundo c ivil izado.

    A situacao da classe tr abalhadora, isto e, a situacao da imensa maio riado povo ingles, coloca 0 problema: 0 que farao esses milh6es de despossui -dos que consomem hoje 0 que ganharam ontern, cujas invencoes e t raba lhofizeram a grandeza da Inglaterra, que a cada dia se tornaram mais cons-cientes de sua for ca e exigem cada vez mais energicamente a par ticipacaonasvantagen s que proporcionam as in stituicoes sociais? Esse problema seconverteu, desde 0 Reform Billa, na questao nacional: todos os debates par-lamentares de algum relevo podem ser reduzidos a ele e embora a classemedia inglesa a inda nao 0 que ira confessa r, embora procure evi ta -lo e fazerpas sar s eus propr ios interesses par ti cula res como osverdadei ros problemas

    a Tra ta -se da lei de 7 de junho de 1832, que reformou 0 sistema eleitoral Ingles, suprimin-do de fato 0monop61io parlamentar da a ristoc racia e abrindo it burguesia industriala s p or ta s d o Par lamento. 0 p ro le ta ri ado e a pe qu ena burgu esi a pe rmane ceram poucorepresentados porque, segundo 0 novo si st ema ce ns it ar io, s6 t in ham di re it o a vo to.aqueJes que pagavam anualmente mais de 10 libras de impos to .

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    As it uat ;: ii o da c la s se i rabal hado ra na Ingl at e rr a

    da nacao , esses exped ien tes de nada lhe servem. A cada sessao parlamen-tar , a classe operaria ganha terrene, o s interesses da cJasse media perdemimportancia e, embora esta ultima seja a principal - senao a unica - forcano parlamento, a derradeira sessao de 1844 nao foi mais que urn longo de-bate sobre as condicoes de vida dos operarios (lei sobre os pobres, lei so-b re as fabricas, lei sobre as relacoes entre senho res e empregados)", ThomasDuncombe, representante da classe operaria na Camara dos Comuns, foia grande personalidade dessa sessao, ao passo que a classe media liberal(com sua mocao sobre a supressao das leis sobre os cereais) e a classe me-dia radical (cor n sua proposta de recusar os imposto s) desempenharam urnpapel miseravel, Ate mesmo as d iscuss6es sobre a Irlanda nao passaram, nofundo, de debates sobre a situ acao do pro letariado irlandes e sobre os meio sde melho ra-la. Mas ja e tempo de a classe media inglesa f azer concess6es aosoperario s - que ja nao pedern, exigem e ameacam =, porque ern breve podeser tarde demais.

    Apesar disso, a classe media ing lesa, em particular a classe industr ialque se en riquece diretamente corn a miser ia dos operarios, n ada quer saberdes sa miser ia, E la , que se sente for te , representante da nacao, envergonha--se de revelar aos olhos do mundo a chaga da Ing laterra; nao quer confessarque se o s operarios sao miseraveis, cabe a ela, classe proprietaria, classe in-du strial, a responsabilidade moral por essa miseria. Dai 0 ar ir onico que osingleses cul tos - e apenas e les, ou se ja , a c lasse media , como sao conhec idosno continente - assumem quando se corneca a falar da situacao dos opera-rios; dai a completa ignorancia, por parte da dasse media, sob re tudo 0 queconceme aos operarios: d ai as co lo ssais tolices que p ronuncia essa dasseld entro e f ora do parlamento, quando se discute a cond icao do proletariado;dai a indiferenca sorridente corn que vive num terreno minado, que pode

    , Es sa se ss ao p ar lamentar de 1844 s era ob je to , mai s ad ia nt e, d e ou tr as o bs erva coe s deEng el s. A legi sl aca o sobre os pob re s - P o or L a w (cham ada tambern de "Lei dos Po-bres ") - su rg iu em 1601, em 19de de ze rn bro, p el as maos d a rainh a E li za be th ou I sa be l I(1533-1603), formuJada sobre qua tro prine ip ios: a ) a obrigacao do socorro aos necessi-tados ; b ) a ass is tenc ia pelo traba lho; c ) 0 impos to cobrado para 0 socorro aos pobres,e d) a r es pon sa bi Ii da de d as pa r6 quias pe la a ss is te nc ia d e so cor ro s e d e t rab alho; em1834, so fr eu notav el r efor rn ul ac ao po r meio d a ch amada "nova l ei d os pob re s" (defato, edi tou-se nao uma N ew P o or L a w [Nova Lei dos Pobres] , mas urn Po o rL awAmen d -m e nt A ct [Ato de a lteracao da Lei dos Pobresl), adequando-a a exigenc ies burguesas ,com for te r epres sa o sobre o s pobres c on siderados a ptos p ara 0trabalho - recorde-seque , de sd e 1697 , j a e x ist iam na Ing la ter ra a s t em id as workhouses (casas de trabalho):t ambem em 1834 c riou -s e a R o ya l C o mm is si on o n t he P o or L aw (Comissao Real para aLei dos Pobres).

    ( ; 1

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    F r ie d ri ch Eng el s

    desmoronar a qualquer momento e cujo desmoronamento e tao certo quan-to uma lei maternatica ou mecanica; dai 0 fato inacreditavel de os inglesesnao possuirem ate agora uma obra exaustiva sobre a situacao de seus ope-rarios - embora se saiba que ha anos a estudem e andem it sua volta. Mas eigualmente dai que provem a profunda c6lera de toda a classe operaria, deGlasgow a Londres, contra os ricos que a exploram sistematicamente e queem seguida a abandonam it pr6pria sorte, c6lera que embreve - quase 0po-demos calcular - devera explodir numa revolucao diante da qual a primeiraRevolucao Francesa e 1794' serao uma brincadeira de criancas.

    Engels refere-se 11ditadura jacobina.62