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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROBINSON CARVALHO LIMA TERMO CIRCUNSTANCIADO: Policial Militar, autoridade competente para sua lavratura Tijucas 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

ROBINSON CARVALHO LIMA

TERMO CIRCUNSTANCIADO:

Policial Militar, autoridade competente para sua lavratura

Tijucas

2009

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ROBINSON CARVALHO LIMA

TERMO CIRCUNSTANCIADO:

Policial Militar, autoridade competente para sua lavratura

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus de Tijucas. Orientador: Esp. Adilor Antônio Borges

Tijucas

2009

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ROBINSON CARVALHO LIMA

TERMO CIRCUNSTANCIADO:

Policial Militar, autoridade competente para sua lavratura

Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e

aprovada pelo Curso de Direito do Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus de Tijucas.

Direito Público/Direito Processual Penal

Tijucas, 9 de julho de 2009.

Prof. Esp. Adilor Antônio Borges

Orientador

Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas

Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

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Este é o resultado da compreensão, carinho e respeito de

Robinson Carvalho Lima.

Dedico este trabalho a Deus pelo dom da vida.

Aos meus pais, Renato Lima e Ana Carvalho Lima, pelo amor e

por terem me ensinado o caminho correto da vida.

Ao meu irmão Ricardo Carvalho Lima, pela dedicação e

Carinho.

A minha avó Delfina dias Carvalho, pela sua presença constante

em minha vida.

A minha namorada Suzilaine Faqueti, pela compreensão,

companheirismo e pelo seu amor.

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A Deus, fonte suprema de todo saber.

À minha família, pela confiança que depositaram em mim.

Ao Professor Orientador, Adilor Antonio Borges, norte seguro na orientação deste trabalho.

Aos Professores do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, campus Tijucas, que

muito contribuíram para a minha formação jurídica.

Aos que colaboraram com suas críticas e sugestões para a realização deste trabalho.

Aos colegas de classe, pelos momentos que passamos juntos e pelas experiências trocadas.

A todos que, direita ou indiretamente, contribuíram para a realização desta pesquisa.

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“Os pequenos atos que se executam são melhores que todos

aqueles grandes que se planejam”.

George C. Marshall

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí -

UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda

e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Tijucas, 9 de julho de 2009.

Robinson Carvalho Lima

Graduando

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar as disposições constitucionais e legais, a jurisprudência, bem como a doutrina pátria, no tocante à competência das Polícias Militares, na elaboração do Termo Circunstanciado. Neste sentido, inicialmente procurou-se demonstrar a Organização Policial, principiando com sua origem e conceito de Polícia, partindo para um relato histórico desta instituição; como conclusão do primeiro capítulo, buscou-se o conceito de poder de Polícia e uma descrição da legislação vigente, no que se refere às atividades de Polícia Militar do Estado de Santa Catarina. No segundo capítulo, enfatizou-se a Teoria do Crime, seus conceitos, seus sujeitos, seus objetos e as diversas classificações doutrinárias, seguindo com a apresentação de uma relação de Crimes considerados de Menor Potencial Ofensivo, previstos no Código Penal brasileiro. Posteriormente, objetivou-se destacar o Termo Circunstanciado – TC, sendo que, num primeiro momento, foi abordada a criação dos Juizados Especiais Criminais; em seguida foi dado ênfase aos Princípios que regem a Lei n. 9.099/95, os quais servem de base para o Termo Circunstanciado; dando continuidade buscou-se fazer um estudo do art. 69 da Lei n. 9.099/95, no tocante a “Expressão Autoridade Policial”, buscando estender o conceito desta expressão ao policial militar; por fim, destacou-se o Termo Circunstanciado – TC elaborado por policial militar. Palavras-chave: Termo Circunstanciado. Autoridade Policial. Policial Militar.

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ABSTRACT

This study aims to examine the constitutional and Nice provisions, case law and the doctrine homeland, on the (?) Responsibility of Military Police, in drafting the term given. In this sense, initially tried to show the police organization, start with their origin and concept of Police, a report on this historic institution, and completion of the first chapter, it was the concept of power to police and a description of existing legislation as regards the activities of the Military Police of the State of Santa Catarina. In the second chapter, emphasis was given to the Theory of Crime, its ideas, its subject, its objects and the various doctrinal classifications, followed by presenting a list of crimes considered to be of minor offensive potential, provided the Brazilian Penal Code. Subsequently, it was aimed to highlight the term circumstances - CT, which at first addressed the establishment of Special Criminal Courts and then was given emphasis to the principles governing the Law 9099/95, which forms the basis for the Expiration detailed, giving continuity sought to make a study of art.69 of Law 9099/95, regarding the "Express Police Authority, seeking to extend the term of this expression to the military police, finally, is the term circumstances - CT produced by military police. Keyword: Term Detailed. Police Authority. Military Police.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Apud Citado por

Art. Artigo

Caput Cabeça

CP Código Penal

CPM Código Penal Militar

CPP Código de Processo Penal

CRFB/1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CTB Código de Trânsito Brasileiro

Ed. Edição

In verbis Nestas palavras

LCP Lei das Contravenções Penais

n. Número

TC Termo Circunstanciado

§ Parágrafo

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LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS

Lista de categorias1 que o autor considera estratégicas à compreensão do seu trabalho, com

seus respectivos conceitos operacionais2.

Autoridade Policial “[...] Autoridade Policial é um agente administrativo que exerce atividade policial, tendo o poder de se impor a outrem nos termos da lei, conforme o consenso daqueles mesmos sobre os quais a sua autoridade é exercida, consenso esse que se resume nos poderes que lhes são atribuídos pela mesma lei, emanada do Estado em nome dos concidadãos3”.

Constituição Lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos4.

Contravenção Penal No sentido penal, a contravenção não se trata do significado fundamental do vocábulo: é a violação consciente e voluntaria a preceito de lei ou direito de outrem resultante de uma ação ou omissão5.

Crime [...] defino como todo fato humano que, propositada ou descuidadamente, lesa ou expõe a perigo bens jurídicos considerados fundamentais para a existência da coletividade e da paz social6.

Crime de Menor Potencial Ofensivo Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para efeitos desta lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois)

1 Denomina-se “categoria” a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia. Cf. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. 8. ed. Florianópolis: OAB Editora, 2003, p. 31. 2 Denomina-se “Conceito Operacional” a definição ou sentindo estabelecido para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas ao longo do presente trabalho. Cf. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito, p. 43. 3 LAZARRINI, Álvaro. Estudos de Direitos Administrativos. 2. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1999, p. 269. 4 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 36. 5 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. Atualizadores: Nagib Slaib Filho e Gláucia Carvalho. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 379. 6 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. 8. ed. rev. aum. De acordo com Leis n. 10.741/2003 (estatuto do idoso), 10.763/2003, 10.826/2003 e 10.886/2004. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 106.

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anos, cumulada ou não com multa. (redação dada pelo art. 61 da Lei n. 11.313, de 28-6-2006)7.

Juizados Especiais Art. 1º. Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, Órgãos da justiça ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal e nos territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência8.

Noticia Criminis Qualquer informação levada à Polícia, noticiando infração penal9.

Polícia Judiciária É o órgão auxiliar da justiça. Tem por finalidade investigar as ocorrências delituosas, fornecendo ao Ministério Público os elementos que permitam a propositura da ação penal10.

Polícia Militar 1. Direito Militar. Corporação policial organizada de um exército que fiscaliza os soldados. 2. Direito Administrativo. Corporação dos Estados-Membros da Federação e do Distrito Federal organizada e armada como o exercito, ao qual auxilia na qualidade de reserva, tendo a incumbência de manter a ordem e a segurança internas nessas unidades federativas11.

Termo Circunstanciado É a formalização da ocorrência policial, referente à prática de uma infração de menor potencial ofensivo, em uma peça escrita, contendo dados detalhados tais como data e hora do fato, data e hora da comunicação, local e natureza da ocorrência, nome e qualificação do condutor, com resumo de suas declarações, nome e qualificações de outras testemunhas, com resumo das declarações, se ele quiser prestá-las, indicação dos eventuais exames periciais requisitados, bem como de juntada de informes sobre a vida pregressa do autor12.

Vítima [...] sujeito passivo do crime; b) aquele contra quem se perpetrou o delito ou contravenção13.

7 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa; Comentários à Lei dos Juizados Especiais Criminais. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 26. 8 BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9099.htm>. Acesso em: 10 abr. 2009. 9 GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito: procedimento policial. Goiânia: A.B. Editora. 1987, p.33. 10 GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito: procedimento policial, p. 6. 11 DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. 2. ed. rev. atual. e aum. São Paulo: Saraiva, 2005, p.714. NUCCI, Guilherme de Souza; Leis penais e processuais penais comentadas. 2. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2007, p. 677. 13 DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico, p. 901.

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SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................................. 08

ABSTRACT ............................................................................................................................ 09 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................... 10 LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS.. .......................... 11 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15 2 ORGANIZAÇÃO POLICIAL ........................................................................................... 19 2.1 ORIGEM DO TERMO POLÍCIA...................................................................................... 19 2.2 CONCEITOS DE POLÍCIA............................................................................................... 20 2.3 POLÍCIA NA HISTÓRIA ANTIGA.................................................................................. 21 2.4 POLÍCIA NA IDADE MÉDIA .......................................................................................... 22 2.5 POLÍCIA NA ERA MODERNA E CONTEMPORÂNEA ............................................... 23 2.6 BREVE RELATO HISTÓRICO DA POLÍCIA NO BRASIL .......................................... 24 2.7 PODER DE POLÍCIA........................................................................................................ 26 2.8 A POLÍCIA MILIAR E A LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL FEDERAL VIGENTE................................................................................................................................. 27 2.9 A POLÍCIA MILIAR E A LEGISLAÇÃO CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA ............................................................................................................................. 31

3 TEORIA DO CRIME.......................................................................................................... 34 3.1 CONCEITO DE CRIME.................................................................................................... 34 3.1.1 Conceito formal ............................................................................................................... 34 3.1.2 Conceito material............................................................................................................. 35 3.1.3 Conceito analítico............................................................................................................ 35 3.2 SUJEITOS DO CRIME...................................................................................................... 36 3.2.1 Sujeito ativo..................................................................................................................... 36 3.2.2 Sujeito passivo................................................................................................................. 37 3.3 OBJETO DO CRIME......................................................................................................... 37 3.3.1 Objeto jurídico................................................................................................................. 38 3.3.2 Objeto material ................................................................................................................ 38 3.4 CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES.................................................................................... 39 3.4.1 Crime comuns.................................................................................................................. 39 3.4.2 Crime próprios................................................................................................................. 39 3.4.3 Crime de mão própria...................................................................................................... 40 3.4.4 Crime de dano.................................................................................................................. 40 3.4.5 Crime de perigo ............................................................................................................... 41 3.4.6 Crime material ................................................................................................................. 41 3.4.7 Crime formal ................................................................................................................... 42 3.4.8 Crime de mera conduta.................................................................................................... 42 3.4.9 Crime comissivo.............................................................................................................. 43 3.4.10 Crime omissivo.............................................................................................................. 43 3.4.11 Crime instantâneo.......................................................................................................... 43 3.4.12 Crime instantâneo de efeito permanente ....................................................................... 44

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3.4.13 Crime principal .............................................................................................................. 44 3.4.14 Crime acessório ............................................................................................................. 44 3.4.15 Crime simples................................................................................................................ 45 3.4.16 Crime progressivo ......................................................................................................... 45 3.4.17 Crime putativo ............................................................................................................... 45 3.4.18 Crime impossível........................................................................................................... 46 3.4.19 Crime unissubsistente.................................................................................................... 46 3.4.20 Crime plurissubsistente.................................................................................................. 46 3.4.21 Crime unissubjetivo....................................................................................................... 47 3.4.22 Crime habitual ............................................................................................................... 47 3.4.23 Crime de ação única ...................................................................................................... 47 3.4.24 Crime culposo................................................................................................................ 48 3.4.25 Crime doloso ................................................................................................................. 48 3.4.26 Crime preterdoloso ........................................................................................................ 48 3.4.27 Crime militar ................................................................................................................. 49 3.5 CRIMES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO............................................................ 49 3.5.1 Conceitos ......................................................................................................................... 49 3.5.2 Tipificação dos crimes de menor potencial ofensivo ...................................................... 50

4 TERMO CIRCUNSTANCIADO ....................................................................................... 52 4.1 CRIAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS ........................................................................ 52 4.2 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS QUE NORTEIAM OS PROCEDIMENTOS DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS .................................................................................... 53 4.2.1 Princípio da oralidade...................................................................................................... 53 4.2.2 Princípio da simplicidade ................................................................................................ 54 4.2.3 Princípio da informalidade .............................................................................................. 55 4.2.4 Princípio da economia processual ................................................................................... 55 4.2.5 Princípio da celeridade processual .................................................................................. 55 4.3 AURORIDADE POLICIAL .............................................................................................. 56 4.3.1 Conceito de Autoridade Policial no âmbito da Lei n. 9.099/95 ...................................... 56 4.4 TERMO CIRCUNSTANCIADO....................................................................................... 61 4.4.1 Definição de Termo Circunstanciado.............................................................................. 61 4.4.2 Elementos do Termo Circunstanciado............................................................................. 62 4.5 TERMO CIRCUNSTANCIADO ELABORADO POR POLICIAL MILITAR................ 63

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 72 ANEXOS ................................................................................................................................. 77 ANEXO A - Decreto n. 660 de 26 de setembro de 2007......................................................... 78

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico tem por objeto o estudo do Termo Circunstanciado –

TC, sob elaboração do Policial Militar, que é considerado pela maioria da corrente doutrinária

Autoridade Policial competente para tal mister.

A importância deste tema reside na atual discussão que gira em torno da

incompetência ou não da elaboração do TC, pelo Policial Militar, vez que alguns

doutrinadores não consideram Policial Militar, Como Autoridade Policial.

Ressalte-se que, além de ser requisito imprescindível à conclusão do curso de Direito

na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, o presente relatório monográfico também vem

colaborar para o conhecimento de um tema que, apesar de não poder ser tratado como

novidade no campo jurídico, na dimensão social-prática ainda pode ser tratado como elemento

novo e repleto de nuances a serem destacadas pelos intérpretes jurídicos, tendo em vista, que a

todo instante se lê decisões considerando constitucional a confecção do TC pelo policiais

militares.

A presente atribuição, na atualidade, encontra-se inscrito no Decreto Estadual

n.660/2007, editado pelo Governo do Estado de Santa Catarina e no Provimento 04/99 da

Corregedoria do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, vindo acompanhar outros estados da

Federação, como no caso de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

A escolha do tema é fruto do interesse pessoal do pesquisador em virtude de estar

fazendo estágio nas atividades da Polícia Civil e acompanhar as discussões a respeito do tema,

assim como para instigar novas contribuições para estes direitos na compreensão dos

fenômenos jurídico-políticos, especialmente no âmbito de atuação do Direito Processual

Penal.

Em vista do parâmetro delineado, constitui-se como objetivo geral deste trabalho

demonstrar que para fins do art. 69 da Lei n. 9.099/95 o Policial Militar é Autoridade Policial

competente para Lavratura do Termo Circunstanciado.

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O objetivo institucional da presente Monografia é a obtenção do Título de Bacharel

em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas,

campus de Tijucas.

Como objetivo específico, pretende-se demonstrar que a Polícia Militar

confeccionando TC, não está usurpando função da Policia Civil e muito menos infringindo a

artigo 144, inciso IV, §4º e §5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de

outubro de 1988.

A análise do objeto do presente estudo incidirá sobre as diretrizes teóricas propostas

por doutrinadores, nas obras pesquisadas, jurisprudências colacionadas, provimentos,

pareceres e artigos de Lei. Este será, pois, o marco teórico que norteará a reflexão a ser

realizada sobre o tema escolhido.

Não é o propósito deste trabalho discutir a inconstitucionalidade da elaboração do TC,

pelo Policial Militar, pois os grandes números de decisões do Supremo Tribunal Federal, são

contrárias aos pedidos de Autoridades Civis e Políticas demonstram praticamente o

reconhecimento de Policial Militar como Autoridade Policial com competência para tal.

Por certo não se estabelecerá um ponto final na referida discussão. Pretende-se, tão-

somente, aclarar o pensamento existente sobre o tema, circunscrevendo-o ao âmbito deste

trabalho, abrindo o caminho para futuras monografias e deixando a possibilidade para os

estudiosos de direito chegarem às próprias conclusões.

Para o desenvolvimento da presente pesquisa foram formulados os seguintes

questionamentos:

a) Policial Militar pode ser considerado Autoridade Policial?

b) É competente o policial militar para elaborar o Termo Circunstanciado - TC?

Já as hipóteses consideradas foram as seguintes:

a) Considerando-se o conceito extensivo de Autoridade Policial, conclui-se que sim: o

policial militar é Autoridade Policial;

b) Que sendo Autoridade Policial, é autoridade competente para a elaboração do

Termo Circunstanciado.

Finalmente, buscou-se nortear as hipóteses formuladas com as seguintes variáveis:

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a) Através das pesquisas efetuadas nas diversas doutrinas consultadas, conclui-se que

o conceito de Autoridade Policial para fins da Lei n. 9.099/95, engloba também o policial

militar;

b) Através das jurisprudências consultadas e colacionadas ao trabalho, conclui-se que

não é inconstitucional a elaboração do TC pelo Policial Militar, sendo assim competente para

tal função.

O relatório final da pesquisa foi estruturado em três capítulos, podendo-se, inclusive,

delineá-los como três molduras distintas, mas conexas: a primeira, atinente a Organização

Policial; a segunda, A Teoria do Crime; e, por derradeiro, Termo Circunstanciado-TC.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que, na fase de investigação foi utilizado

o método dedutivo, e, o relatório dos resultados expresso na presente monografia é composto

na base lógica dedutiva14, já que se parte de uma formulação geral do problema, buscando-se

posições científicas que os sustentem ou neguem, para que, ao final, seja apontada a

prevalência, ou não, das hipóteses elencadas.

Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as técnicas do referente, da categoria,

do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica15.

Os acordos semânticos que procuram resguardar a linha lógica do relatório da pesquisa

e respectivas categorias, por opção metodológica, estão apresentados na Lista de Categorias e

seus Conceitos Operacionais, muito embora algumas delas tenham seus conceitos mais

aprofundados no corpo da pesquisa.

A estrutura metodológica e as técnicas aplicadas nesta monografia estão em

conformidade com o padrão normativo da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)

e com as regras apresentadas no Caderno de Ensino: formação continuada, Ano 2, número 4;

assim como nas obras de Cezar Luiz Pasold, Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas

úteis ao pesquisador do Direito e Valdir Francisco Colzani, Guia para redação do trabalho

científico.

A presente monografia se encerra com as Considerações Finais, nas quais são

apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos

14 Sobre os “Métodos” e “Técnicas” nas diversas fases da pesquisa científica, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 99-125. 15 Quanto às “Técnicas” mencionadas, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 61-71, 31- 41, 45- 58, e 99-125, nesta ordem.

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estudos e das reflexões sobre a elaboração do Termo Circunstanciado –TC, pelo policial

militar, trabalho que até o começo do ano de 2008 em Santa Catariana, era exclusivo do

Delegado de Polícia.

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2 ORGANIZAÇÃO POLICIAL

Tratar-se-á neste primeiro capitulo da história e evolução da Polícia, bem como seus

conceitos e como esta organizada no estado de Santa Catarina, de acordo com a doutrina e

legislações vigentes, além de outros aspectos relevantes para atividade policial.

2.1 ORIGEM DO TERMO POLÍCIA

Ao Estado foi concebida a missão de promover o bem-estar social da Sociedade,

criando normas que garantissem a liberdade individual de cada cidadão, possibilitando um

equilíbrio harmonioso na convivência coletiva.

Todavia a busca deste equilíbrio impõe limites que visam interesses particulares,

subordinando-os aos objetivos da sociedade, sendo o particular compreendido por Estado a

reunião de homens que se dispõe a atuar em unidade de poder, com objetivo de aplicar

sanções com proporções objetivas, tendo o Estado como obrigação de impor, alterar e agir

segundo a vontade geral que expressa através de lei16.

Entre os homens não seria necessário impor limites, se o bem-comum depende-se

apenas do bom senso, mas esse equilíbrio social depende de um mecanismo que é o poder de

Polícia, sendo este nada mais do que um inibidor do arbítrio que restabelece a vontade geral

da coletividade, respeitando claro o principio da legalidade, onde o Estado deve legitimar

determinados órgãos, para que representem e estabeleçam à ordem pública, essencial a vida

em grupos.

O Estado proporciona à segurança pública e ordem social, formando uma estrutura

chamada de Polícia (do grego “politeia” – administração da cidade “polis”), como

instrumento de utilidade e que passa a ser a responsável pelas investigações das infrações

penais cometidas e pela política de disciplina e restrição empregada a serviço de um povo17.

16 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de Polícia judiciária. Florianópolis: Ed. do Autor, 1997, p. 9-10. 17 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de Polícia judiciária, p. 9-10.

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O termo Polícia na Idade Moderna chegou a compreender toda atividade da

administração pública, sendo que no inicio do século XIX a palavra Polícia passou a ter um

significado mais restrito, ficando responsável pela atividade tendente a assegurar a defesa da

comunidade dos perigos internos, representados nas ações e situações contrárias à ordem

pública e à segurança pública18.

2.2 CONCEITOS DE POLÍCIA

Como já mencionado no tópico acima, a expressão Polícia, tem origem no grego

politeia, do latim politia, com o significado de governo, de uma cidade, desta forma iremos

tratar neste tópico o conceito de Polícia, de acordo com a doutrina atual.

Lazzarini define Policia como sendo:

O conjunto de instituições, fundadas pelo Estado, para que, segundo as prescrições legais e regulamentares estabelecidas, exerçam vigilância para que se mantenham a ordem pública, a moralidade, a saúde pública e se assegure o bem-estar coletivo, garantindo-se a propriedade e outros direitos individuais19.

Prossegue o autor asseverando que “as Polícias são instituições criadas pelo Estado,

para garantir a ordem pública e proporcionar a sociedade um bem estar social20”.

Nesta mesma corrente, Gomes ensina que “A policia é a instituição estatal destinada a

manter a ordem pública, a segurança pessoal, a propriedade e assegurar os direitos

individuais21”.

Cretella Junior conceitua Polícia como sendo “a atividade exercida pelo Estado para

assegurar a Ordem Pública através de limitações impostas à liberdade coletiva e individual22”.

A Constituição Federal de 1988 foi a primeira constituição brasileira a tratar mais

detidamente das Polícias no seu art.144 caput, que versa sobre segurança pública, conforme

pode ser visto “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é

18 BOBBIO, Noberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Giafranco. Dicionário de Política. 5. ed. Trad. Carmem C. Varriale. Brasília: Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004, p. 944. 19 LAZZARINI, Álvaro. et al. Direito Administrativo da ordem pública. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 20. 20 LAZZARINI, Álvaro. et al. Direito Administrativo da ordem pública, p. 20. 21 GOMES, Armintas Vidal. Novo manual do delegado. Rio de Janeiro: Forense, 1993, p. 01. 22 CRETELLA, Junior. Lições de Direito Administrativo. São Paulo: José Bushatsky editor, 1972, p. 435.

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exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,

através dos seguintes órgãos23.

Assim Ricardo Karnikowski descreve que “No Brasil, as Polícias são órgãos do

Estado que têm a finalidade constitucional de preservar a ordem pública, a incolumidade das

pessoas e do patrimônio e na investigação e repressão dos crimes e no controle da violência

[...]24”.

2.3 POLÍCIA NA HISTÓRIA ANTIGA

Um dos primeiros faraós do Egito chamado Menés, já declarava, muito antes de

Aristóteles, ser a Polícia o principal e maior bem de um povo. Soberano de espírito público

avançado promulgou uma espécie de código para uso de seus súditos e dos magistrados sob

sua observação e mandou fazer o recenseamento de seu país, exigindo que cada um

procurasse o magistrado de sua circunscrição e lhe declarasse o nome, a profissão que exercia

e donde tirava a sua subsistência25.

Bem como apresentado acima, no inicio dos tempos já se falava em Polícia, como um

bem necessário para fiscalizar um povo. Nesse sentido descreve Silva que “os hebreus, desde

sua entrada no deserto, quando do êxodo do Egito, destacaram funcionários encarregados do

policiamento dos viveres e dos súditos26”.

Os antigos gregos tinham um processo popular de acusação ao magistrado que pedia

indícios e testemunhas dos fatos, sendo que obrigava a prestar caução para que o acusador não

desistisse do feito27.

Prossegue Hermes asseverando que:

Os institutos da Prisão Preventiva e Liberdade Provisória já eram de conhecimento dos gregos, tendo estes institutos o de objetivo restringir o direito de acusação quando determinada infração lesava mais o interesse particular do que os da Sociedade. Os romanos tiveram uma grande evolução

23 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 10 mar. 2009. 24 KARNIKOWSKI, Romeu. Abordagens sobre o que é Polícia. Disponível em: <http://www.abamfpf.com.br/palavra.php?idpagina=6>. Acesso em 17 out. 2008. 25 SILVA, José Geraldo da. O inquérito policial e a Polícia judiciária. 4. ed. Campinas: Millennium, 2002, p. 27. 26 SILVA, José Geraldo da. O inquérito policial e a Polícia judiciária, p. 27. 27 HERMES, Vieira. Formação Histórica da Polícia de São Paulo. São Paulo: SG-SSP, 1965, p. 02

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histórica passando de uma Polícia sem qualquer organização para uma Polícia repressiva e estruturada28.

A estruturação da Polícia romana veio com o reinado de Augusto César, que criou o

Proefectus vigilum, uma forma de Polícia especializada em crimes considerados perigosos na

época como: furto, roubo, escravos fugitivos, vadiagem, ladrões habituais ou reincidentes,

tendo como funções ser uma Polícia preventiva e repressiva29.

Portando, percebeu-se no estudo deste tópico, que a prática policial é muito antiga e

sua essência é a justiça e seu ideal é a manutenção da ordem pública.

2.4 POLÍCIA NA IDADE MÉDIA

Neste tópico serão estudados os acontecimentos da história da Polícia entre os anos de

395 a 1453. Thomé explica que “a Polícia espanhola estava organizada já no século XI,

através da “hermandades” que se dedicavam a perseguir os criminosos30”.

A Polícia inglesa atuava através dos “constables” no século XII. Ficaram marcados em

sua história os contos de “Robin Hood”, que mostrava a existência de ladrões de estrada, que

eram combatidos pela força policial dos feudos, comandadas pelos xerifes31.

O rei inglês João-Sem-Terra editou a “Magna Carta Liberium”, no qual se

comprometeu a respeitar as liberdades fundamentais: “nenhum homem pode ser detido, nem

encarcerado, nem atacado de forma alguma, a não ser em virtude de uma sentença regular

ditada por seus pares e segundo as leis do país32”.

Prossegue o autor33 destacando ainda que:

A organização policial portuguesa pode ser identificada no ano de 1020, baseada em documento conhecido como “Fuero de Leon”, quando D. Afonso V, Rei de Castelha, estabeleceu e implantou regras de organização policial, [...]. O Rei Fernando I, de Portugal (1367-1383), criou em 12 de setembro de 1383 o “Regimento de Quadrilheiros com objetivo de conter os assaltos nas estradas.

28 HERMES, Vieira. Formação Histórica da Polícia de São Paulo, p. 02. 29 SILVA, José Geraldo da. O inquérito policial e a Polícia judiciária, p. 29. 30 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 11. 31 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 11. 32 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 11-12. 33 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 11-12.

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Surgem no final deste período histórico as Ordenações de Processo Penal chamadas

de Afonsinas, Manoelinas (1521-1603) e Filipinas, sendo que na época do descobrimento do

Brasil a ordenação penal que estava em vigor em Portugal era Afonsina34.

2.5 POLÍCIA NA ERA MODERNA E CONTEMPORÂNEA

Leciona Ricardo Lemos Thomé que “no período da idade moderna (1453 – 1789) é o

surgimento, em 1670, do “sistema processual misto”, composto de uma investigação

preliminar e um posterior juízo contraditório, através da Ordenação Criminal de Luiz XIX35”.

Em 1791, a Assembléia Nacional da França definiu a missão da Polícia a ação da

justiça, tendo como vigilância seu principal caráter, sendo que em 1794 ouve a subdivisão da

Polícia Administrativa e Polícia Judiciária, segundo os arts 19 e 20 do Código Brumário, do

ano IV36.

Assim a Polícia Administrativa ficou com objetivo da manutenção da ordem pública,

com seu fim principal prevenir delitos e fazer executar as leis, já a Polícia Judiciária ficou

com a função da investigação dos crimes, com fim de coletar provas, para entregar aos

tribunais incumbidos de julgar37.

Silva38 destaca ainda que “Em 1808 através do Código de Instrução Criminal

Napoleônico que estabeleceu o sistema acusatório formal, logo fora disseminado em toda a

Europa e chegando a América Latina através da Venezuela”.

Na Inglaterra, a partir de 1829, policiais passaram a patrulhar as ruas de Londres em

trajes civis, para mostrar ao povo que não eram soldados, mas sim homens do povo e em 1842

alguns membros da Polícia abandonaram seus uniformes e assumiram as funções de

investigadores39.

As atribuições de Polícia judiciária, de reunir provas e de preservar o local do crime e

os indiciados serem entregues à autoridade judiciária, foram instituídas pelo Código de

processo penal suíço em 1851.

34 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 12. 35 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 12. 36 SILVA, José Geraldo da. O inquérito policial e a Polícia judiciária, p. 29-31. 37 SILVA, José Geraldo da. O inquérito policial e a Polícia judiciária, p. 29-31. 38 SILVA, José Geraldo da. O inquérito policial e a Polícia judiciária, p. 29-31. 39 SILVA, José Geraldo da. O inquérito policial e a Polícia judiciária, p. 29-31.

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Em meados de 1933, formavam-se os gangsters nos Estados Unidos da América,

quadrilhas que financiavam a prática de crimes que miravam vantagens patrimoniais foi nessa

época que se identificou pela primeira vez a expressão de Crime Organizado40.

Por fim, em 1940 na Espanha foi instituída a Cuerpo de La Guardia Civil, com a

missão policial, rural e fiscal41.

2.6 BREVE RELATO HISTÓRICO DA POLÍCIA NO BRASIL

Thomé relata que “as invasões napoleônicas no continente europeu acarretaram a

vinda da família Real portuguesa para o Brasil, fato histórico consolidado em 22 de janeiro

1808. O rápido crescimento das atividades econômicas e sociais determinou a necessidade da

organização dos serviços policiais42”.

Com essa necessidade de organizar a Polícia após a chegada da família Real ao Brasil,

foi o que acarretou um grande avanço na legislação Processual Penal brasileira, essas

evoluções podem ser vistas através dos relatos descritos por Thomé:

Alvará do Rei de Portugal, de 25 de junho de 1760 - Regulou a atividade policial preventiva e repressiva. O alvará utilizava de expressões ‘delegados de províncias’, ‘comissários constituídos nas cabeças de comarcas’, ‘réus e delito’ e ‘autuando-os em processos’.

Alvará de 15 de janeiro de 1780 - Dispôs sobre a Polícia de segurança e tranqüilidade pública e uma verdadeira Polícia.

Alvará de 10 de maio de 1808 - Criou a Intendência Geral de Polícia da Corte e do Estado do Brasil, para cumprimento de normas da legislação criminal, empregando o vocábulo “delegado” [...]. Ratificou e fez observar no Brasil os dois Alvarás editados em Portugal e referidos anteriormente43.

O citado autor destaca ainda o primeiro momento da aparição histórica da Polícia

militar, observa-se:

O primeiro registro histórico associado à Polícia Militar é datado em 13 de maio de 1809, praticamente um ano após a criação da Polícia judiciária, quando foi instituída a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia para “prover a segurança e tranqüilidade desta heróica e mui leal cidade de São

40 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 13. 41 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 13-14. 42 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 14. 43 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 15-16.

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Sebastião do Rio de Janeiro”. Muito tempo depois, o Ato Adicional à constituição, promulgado em 25 de março de 1824, instituiu a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e dos demais Estados, com características de milícia particulares dos Presidentes das Províncias. A justificativa do Príncipe Regente para criação da Divisão Militar da Guarda Real de Polícia afirmava que deveria ter possível semelhança daquela que com tão reconhecidas vantagens estabeleci em Lisboa44.

Os cargos de chefes de Polícia, Delegados e Subdelegados foram criados com a

instituição do Código de Processo Penal do Império, Lei n. 261, de 03 de dezembro de 1841

no qual tinham a competência de vigiar e prevenir os delitos e manter a segurança e a paz na

Sociedade45.

O Decreto-Lei n. 120 de 31 de janeiro de l842 regulamentou a competência da Polícia

Judiciária e a redação do art. 10 trouxe a criação da Delegacia de Polícia, nomenclatura esta

conhecida até os dias atuais46.

O autor prossegue descrevendo que o “Decreto-Lei n. 66.862/70 e os Decretos-Lei n.

667 e 1.072/69 impuseram a formação de uma Polícia civil e de uma Polícia militar, a

primeira com função de Polícia judiciária e a segunda, fardada e reserva do Exército, para

exercer o policiamento ostensivo47”.

Como dito anteriormente, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o

Art.144 - dedicou-se inteiramente a tratar da segurança pública, especificando quais os órgãos

responsáveis pela segurança e manutenção da ordem pública no Brasil, conforme se pode

observar a seguir:

Art. 144 - A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares48.

Bastos e Martins tecem alguns comentários sobre o referido art.144 da CF:

A segurança pública hospeda, no País, a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Cabe, pois, ao Estado e aos

44 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 16. 45 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 16. 46 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 16. 47 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária, p. 18. 48 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 10 mar. 2009.

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cidadãos tal tarefa, embora a responsabilidade principal seja do Estado. [...]. O segundo aspecto diz respeito à proteção da incolumidade das pessoas e de seu patrimônio. Cabe ao Estado garantir tais direitos fundamentais elencados no art. 5º caput, da Constituição, que está assim redigido: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade49.

Neste subtítulo foi abordado um breve histórico da Polícia, desde época do Brasil

Império, fazendo um acompanhamento da evolução da legislação no tocante a Polícia, até seu

marco maior que foi a Carta Magna de 1988, que em seu art.144, tratou da segurança pública

e dos órgãos responsáveis por ela.

2.7 PODER DE POLÍCIA

A Polícia trabalha com base no Princípio da Legalidade e suas ações se baseiam no

Poder de Polícia que o Estado possui para condicionar os interesses coletivos.

Moreira Neto leciona Poder de Polícia como sendo:

A primeira expressão de afirmação administrativa. Tendo surgido com o Estado de Polícia, manifestou-se logo no campo da segurança pública, para evoluindo, passar a disciplinar relação em quase todos os campos de exercício de direitos individuais, sempre que possam comprometer o interesse coletivo. Agindo como poder de Polícia, a administração limita o exercício das faculdades e direitos individuais, visando assegurar um nível aceitável de convivência social50.

O Código Tibutário Nacional em seu art.7851 conceitua poder de Polícia da seguinte

forma:

Art. 78 - Considera-se poder de Polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente a segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

49 BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 196-197. 50 MOREIRA NETO, Diogo Figueiredo de. Curso de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 45. 51 BRASIL. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L5172.htm>. Acesso em: 20 mar. 2009.

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Álvaro Lazzarini ressalta que:

[...] se a Polícia tem as possibilidades de agir, em concreto, pondo em atividade todo o aparelhamento de que dispõe isso se deve a potestas que lhe confere o poder de Polícia. O poder de Polícia é o que fundamenta o poder da Polícia. Este sem aquele seria arbitrário, verdadeira ação policial divorciada do Estado de Direito52.

Segundo Justem Filho53 “na visão clássica, o poder de Polícia era considerado como

instrumento de manutenção da ordem pública, vale dizer, da segurança, da tranqüilidade, da

saúde54”.

O mencionado autor destaca ainda que:

[...] que o poder de Polícia se orienta a realizar o princípio da dignidade da pessoa humana conduz à sua imediata aproximação com o instituto do serviço público – cuja essência se relaciona com o mesmo valor. Logo, não é possível imaginar que poder de Polícia e serviço público buscariam realizar finalidades qualitativamente diversas55.

Pode ser visto acima que o poder de Polícia nada mais é que o controle que o Estado

tem sobre qualquer bem, direito ou atividade, que possa por em risco a segurança cabendo-lhe

o dever de promover o bem-estar social.

2.8 A POLÍCIA MILIAR E A LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL FEDERAL

VIGENTE

Neste subtítulo, serão citados os principais artigos no tocante as legislações federais

vigentes a Policia Militar.

Antes de abordar as legislações não se pode esquecer-se da Emenda Constitucional n.1

de 1969, que excluiu do texto a expressão ‘segurança interna’, relatando apenas, a

manutenção da ordem pública nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, assim em 02

de julho de 1969 foi editado o Decreto-Lei n.667, que estabeleceu a definição e competência

das Polícias militares, como responsáveis exclusivos pelo policiamento ostensivo fardado.

52 LAZZARINI, Álvaro. et al. Direito Administrativo da ordem pública, p. 189. 53 JUSTEM Filho, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 396. 54 JUSTEM Filho, Marçal. Curso de Direito Administrativo, p. 396. 55 JUSTEM Filho, Marçal. Curso de Direito Administrativo, p. 397.

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Desta forma observa-se o que dispõe o artigo 1º do Decreto n. 667/69

Art. 1º - As Polícias Militares consideradas forças auxiliares, reserva do Exército, serão organizadas na conformidade deste Decreto-Lei. Parágrafo único. O Ministério do Exército exerce o controle e a coordenação das Polícias Militares, sucessivamente através dos seguintes órgãos, conforme se dispuser em regulamento: a) Estado-Maior do Exército em todo o território nacional; b) Exércitos e Comandos Militares de Áreas nas respectivas jurisdições; c) Regiões Militares nos territórios regionais56.

Com base no texto da Emenda Constitucional n.1 de 1969, o mencionado Decreto-Lei,

trouxe em seu art. 3º a expressão ‘manutenção da ordem pública’, manutenção está de

competência das Polícias Militares. Veja o que descreve o referido artigo:

Art. 3º - Instituídas para a manutenção da ordem pública e segurança interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, compete às Polícias Militares, no âmbito de suas respectivas jurisdições. a) executar com exclusividade ressalvas as missões peculiares das Forças Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela autoridade competente, a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes constituídos; b) atuar de maneira preventiva, como força de dissuasão, em locais ou áreas específicas, onde se presuma ser possível a perturbação da ordem; c) atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da ordem, precedendo o eventual emprego das Forças Armadas; d) atender à convocação, inclusive mobilização, do Governo Federal em caso de guerra externa ou para prevenir ou reprimir grave perturbação da ordem ou ameaça de sua irrupção, subordinando-se à Força Terrestre para emprego em suas atribuições específicas de polícia militar e como participante da Defesa Interna e da Defesa Territorial; e) além dos casos previstos na letra anterior, a Polícia Militar poderá ser convocada, em seu conjunto, a fim de assegurar à Corporação o nível necessário de adestramento e disciplina ou ainda para garantir o cumprimento das disposições deste Decreto-Lei, na forma que dispuser o regulamento específico. § 1º - A convocação, de conformidade com a letra e deste artigo, será efetuada sem prejuízo da competência normal da Polícia Militar de manutenção da ordem pública e de apoio às autoridades federais nas missões de Defesa Interna, na forma que dispuser regulamento específico. § 2º - No caso de convocação de acordo com o disposto na letra e deste artigo, a Polícia Militar ficará sob a supervisão direta do Estado-Maior do Exército, por intermédio da Inspetoria-Geral das Polícias Militares, e seu Comandante será nomeado pelo Governo Federal. § 3º - Durante a convocação a que se refere a letra e deste artigo, que não poderá exceder o prazo máximo de 1 (um) ano, a remuneração dos integrantes da Polícia Militar e as despesas

56 BRASIL. Decreto-Lei n. 667, de 2 de julho de 1969. Reorganiza as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del0667.htm>. Acesso em: 28 abr. 2009.

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com a sua administração continuarão a cargo do respectivo Estado-Membro57.

O Decreto-Lei n. 667/69, foi instituído para reorganizar as Polícias Militares e os

Corpos de Bombeiros Militares, tendo tratado desta matéria no seu Capítulo II, que versa

sobre a estrutura e organização. Destacam-se alguns artigos do referido Decreto-Lei, para

melhor compreensão da estrutura e organização dessas instituições.

Primeiramente o art. 5º do mencionado Decreto-Lei trata da estruturação das Polícias

Militares, observa-se o que descreve este artigo de lei:

Art. 5º - As Polícias militares serão estruturadas em órgão de direção, de execução e de apoio de acordo com as finalidades essenciais do serviço policial e as necessidades de cada Unidade da Federação. §1º Consideradas as finalidades essenciais e o imperativo de sua articulação pelo território de sua jurisdição, as Polícias Militares deverão estruturar-se em grupos policiais. Sendo essas frações os menores elementos de ação autônoma, deverão dispor de um chefe e de um número de componentes habilitados indispensáveis ao atendimento das missões básicas de Polícia. §2º De acordo com a importância da região o interesse e facilidades de comando os grupos de que trata o parágrafo anterior poderão ser reunidos, constituindo-se Pelotões, Companhias e Batalhões ou em Esquadrões e Regimento, quando se tratar de unidades montadas. §3º Os efetivos das Polícias Militares serão fixados de conformidade com critérios a serem estabelecidos em regulamento desse Decreto-lei. (incluído pelo Del nº 2010, de 12.1.1983)58.

Define o art. 6º e seus parágrafos, de que modo será exercido o comando das Polícias

Militares, conforme a seguir:

Art. 6º O Comando das Polícias Militares será exercido, em princípio, por oficial da ativa, do último posto, da própria Corporação. (Redação dada pelo Del. nº 2010, de 12.1.1983). §1º - O provimento do cargo de Comandante será feito por ato dos Governadores de Estados e de Territórios e do Distrito Federa, após ser o nome indicado aprovado pelo Ministro de Estado do Exército, observada a formação profissional do oficial para o exercício de comando. (Redação dada pelo Del. nº 2010, de 12.1.1983). §2º - O Comando das Polícias Militares poderá, também, ser exercido por General-de-Brigada da ativa do Exército ou por oficial superior combatente da ativa, preferentemente do posto de Tenente-Coronel ou Coronel, proposto ao Ministro do Exército pelos Governadores de Estado e de Territórios e do Distrito Federal. (Redação dada pelo Del. nº 2010, de 12.1.1983). §3º - O oficial do Exército será nomeado para o cargo de comandante da Polícia

57 BRASIL. Decreto-Lei n. 667, de 2 de julho de 1969. Reorganiza as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del0667.htm>. Acesso em: 28 abr. 2009. 58 BRASIL. Decreto-Lei n. 667, de 2 de julho de 1969. Reorganiza as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del0667.htm>. Acesso em: 28 abr. 2009.

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Milita, por ato do Governador da Unidade Federativa, após ser designado por Decreto do Poder Executivo, ficando a disposição do referido governo. §4º - O oficial do Exército, nomeado para o Comando da Polícia Militar, na forma do parágrafo anterior, será comissionado no mais alto posto da corporação, e sua patente for inferior a esse posto. §5º - O cargo de Comandante de Polícia Militar é considerado cargo de natureza militar, quando exercido por oficial do Exército, equivalendo, para Coronéis, como Comando de Corpo de Tropa do Exército. (Redação dada pelo Del. nº 2010, de 12.1.1983). §6º - O oficial nomeado nos termos do parágrafo terceiro, comissionado ou não, terá precedência hierárquica sobre os oficiais de igual posto da Corporação. (Redação dada pelo Del. nº 2010, de 12.1.1983). §7º - O Comandante da Polícia Militar, quando oficial do Exército, não poderá desempenhar outras funções no âmbito estadual, ainda que cumulativamente com suas funções de comandante, por prazo superior a 30 (trinta) dias. (Redação dada pelo Del. nº 2010 de, 12.1.1983)59.

O decreto 667/69 descreve em sem art. 8º a hierarquia das Polícias Militares,

dividindo-as em três classes, in verbis:

Art. 8º A hierarquia nas Polícias Militares é a seguinte: a) Oficiais de Polícia: Coronel, Tenente-Coronel, Major, Capitão, 1º Tenente, 2º Tenente; b) Praças Especiais de Polícia: Aspirante-a-Oficial, Alunos da escola de formação de Oficiais da Polícia. c) Praças de Polícia: Graduados; Subtenente, 1º Sargento, 2º Sargento, 3º Sargento, Cabo, Soldado60.

Em 30 de setembro de 1983, surge o Decreto-Lei n. 88.777 (R-200), que veio com

objetivo de estabelecer princípios e normas para a aplicação do Decreto-Lei n. 667/69.

O capítulo segundo do mencionado Decreto, traz a conceituação e a competência,

sendo que no art. 2º, em seu item 27, trata do Policiamento Ostensivo, como sendo:

Art. 2º - Para efeito do Decreto-lei nº 667, de 02 de julho de 1969 modificado pelo Decreto-lei nº 1.406, de 24 de junho de 1975, e pelo Decreto-lei nº 2.010, de 12 de janeiro de 1983, e deste Regulamento, são estabelecidos os seguintes conceitos: [...] 27) Policiamento Ostencivo: Ação policial, exclusiva das Polícias Militares em cujo emprego o homem ou a fração de tropa engajados sejam identificados de relance, quer pela farda quer pelo equipamento, ou viatura, objetivando a manutenção da ordem pública61.

59 BRASIL. Decreto-Lei n. 667, de 2 de julho de 1969. Reorganiza as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del0667.htm>. Acesso em: 28 abr. 2009. 60 BRASIL. Decreto-Lei n. 667, de 2 de julho de 1969. Reorganiza as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal, e dá outras providências. 61 BRASIL. Decreto-Lei n. 88.777, de 30 de setembro de 1983. Aprova o regulamento para as policias militares e corpos de bombeiros militares (R-200). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto/D88777.htm>. Acesso em: 15 mar. 2009.

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O item 27 também definiu os tipos de policiamento em que estas instituições devem

ser empregadas:

Art. 2º - [...]; 27) - [...] São tipos desses policiamentos, a cargo das Polícias Militares ressalvadas as missões peculiares das Forças Armadas, os seguintes: ostensivo geral, urbano e rural; de trânsito; florestal e de mananciais; rodoviário e ferroviário, nas estradas estaduais; portuário; fluvial e lacustre; de radiopatrulha terrestre e aérea; de segurança externa dos estabelecimentos penais do Estado; outros, fixados em legislação da Unidade federativa, ouvido o Estado-Maior do Exército através da Inspetoria-Geral das Polícias Militares62.

Destacam-se os ensinamentos de Álvaro Lazzarini quanto a uma competência ampla

das Polícias Militares na preservação da ordem pública:

[...] engloba inclusive competências específicas dos demais órgãos policiais, no caso de falência operacional deles, a exemplo de greves ou outras causas que os torne inoperantes, ou ainda incapazes de dar conta de suas atribuições, funcionando a Polícia Militar como um verdadeiro exército da sociedade63.

Foram abordadas neste subtítulo as legislações federais pertinentes as Polícias

Militares, no qual pode ser observado que esta instituição esta muito bem estruturada e

organizada, podendo atribuir competências do exercício de toda atividade policial de

segurança pública.

2.9 A POLÍCIA MILIAR E A LEGISLAÇÃO CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SANTA

CATARINA

Tratar-se-á neste tópico a competência da Polícia Militar, junto a Constituição

Estadual e serão abordados alguns artigos da Lei n. 6.217 de 10 de fevereiro de 1983, que

trata da organização básica da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina.

A Constituição Catarinense de 1989, obedecendo ao Principio da Autonomia dos

Estados, trouxe em seu capitulo III matéria sobre a Polícia Militar.O art.107 da referida

62 BRASIL. Decreto-Lei n. 88.777, de 30 de setembro de 1983. Aprova o regulamento para as policias militares e corpos de bombeiros militares (R-200). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto/D88777.htm>. Acesso em: 15 mar. 2009. 63 LAZZARINI, Álvaro. Da Segurança Pública na Constituição de 1988. Revista de informação Legislativa n. 104, 1989, p. 233.

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Constituição Estadual delimitou a competência da Polícia Militar de exercer Polícia ostensiva,

como pode ser observado a seguir:

Art. 107 - À Polícia Militar, órgão permanente, força auxiliar, reserva do Exército, organizada com base na hierarquia e na disciplina, subordinada ao Governador do Estado, cabe, nos limites de sua competência, além de outras atribuições estabelecidas em Lei: I - exercer a polícia ostensiva relacionada com: a) a preservação da ordem e da segurança pública; b) o radio patrulhamento terrestre, aéreo, lacustre e fluvial; c) o patrulhamento rodoviário; d) a guarda e a fiscalização das florestas e dos mananciais; e) a guarda e a fiscalização do trânsito urbano; f) a polícia judiciária militar, nos termos de lei federal; g) a proteção do meio ambiente; e h) a garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos e entidades públicas, especialmente da área fazendária, sanitária, de proteção ambiental, de uso e ocupação do solo e de patrimônio cultural [...]64.

A Lei de Organização Básica (LOB) da Polícia Militar de Santa Catarina, instituída

pela Lei n. 6.217 de 10 de fevereiro de 1983, descreve em seu art. 1º que a finalidade é a

manutenção da ordem pública na área do Estado. Neste sentido merece especial destaque o

conceito de ordem pública segundo Lazzarini:

Ordem Pública é o estado de paz social que experimenta a população, decorrente do grau de garantia individual ou coletiva propiciado pelo poder público, que envolve, além das garantias de segurança, tranqüilidade e salubridade, as noções de ordem moral, estética e econômica, independentemente de manifestações visíveis de desordem65.

A Lei n. 6.217/83 define em seu art. 2º a competência da Polícia Militar do Estado de

Santa Catarina, como pode ser visto a seguir:

Art. 2º Compete à Polícia Militar: I - executar, com exclusividade, ressalvadas as missões peculiares das Forças Armadas, o policiamento ostensivo, a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes constituídos; II - atuar de maneira preventiva, como forma de dissuasão, em locais ou áreas específicas, onde se presuma ser possível a perturbação da ordem; III – atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da ordem precedendo o eventual emprego das Forças Armadas; IV - atender à convocação do Governo Federal; em caso de guerra externa ou para prevenir ou reprimir grave subversão da ordem ou ameaça de sua irrupção, subordinando-se ao Grande Comando da Força Terrestre para emprego em suas atribuições específicas de Polícia Militar e como participante da defesa territorial; V – realizar o serviço de extinção de incêndio, simultaneamente com o de proteção e salvamento de vidas e materiais; VI – efetuar o serviço de busca e

64 BRASIL, Constituição do Estado de Santa Catarina, de 05 de outubro de 1989. Disponível em: <http://www.alesc.sc.gov.br/al/constituicao/CES_2006_45_emds_311006.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2009. 65 LAZZARINI, Álvaro. et al. Direito Administrativo da ordem pública, p. 137.

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salvamento, prestando socorros em casos de afogamento, inundação, desabamento, acidentes em geral e em caso de catástrofes ou calamidades públicas; VII – atender, mediante solicitação ou requisição de ordem judiciária, o fornecimento de força policial-militar; VII – executar missões de honra guarda e assistência policial-militar; IX – prestar serviços de guarda nas sedes dos Poderes Estaduais e da Secretaria de Segurança e Informações; X – manter a segurança externa dos estabelecimentos penais do Estado; XI – executar as atividades do Gabinete Militar do Governador do Estado, do Vice-Governador e da Secretaria de Segurança e Informações; XII – desenvolver outras atividades de natureza policial-militar66.

De acordo com o exposto na Constituição Catarinense de 1989 e a Lei n. 6.217/83,

pode evidenciar-se que a Polícia Militar do Estado de Santa Catarina possui uma competência

muito ampla, tendo autonomia para garantir a manutenção da ordem pública e o direito de ir e

vir das pessoas.

Desta forma, conclui-se o primeiro capítulo, dando seqüência ao trabalho monográfico

com o próximo capitulo no qual terá como tema a Teoria do Crime.

66 BRASIL. Lei n. 6.217, de 10 de fevereiro de 1983. Dispõe sobre a Organização Básica da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina e dá outras providências. Disponível em: <http://www.aprasc.org.br/download.php?arquivo=biblioteca/14/6217_1983_lei.doc&nome=6217_1983_lei.doc Acesso em: 25 mar. 2009.

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3 TEORIA DO CRIME

Tratar-se-á neste capítulo os conceitos de crime, seus sujeitos e objetos e suas diversas

classificações, serão abordados o conceito de Infração de Menor Potencial Ofensivo e de

Contravenção Penal; far-se-á uma relação dos crimes considerado menor potencial ofensivo

previsto no Código Penal brasileiro segundo o art. 61 da Lei n. 9.099/95, já alterado pela Lei

n. 11.313 de 28 de junho de 2006.

3.1 CONCEITO DE CRIME

Neste primeiro subtítulo, será abordado o conceito de Crime segundo legislação penal

brasileira.

A Lei de Introdução ao Código Penal brasileiro - Decreto-Lei n. 3.914, de 9 de

dezembro de 1941, em seu art. 1º define crime da seguinte maneira:

Art. 1º - Considera-se crime a infração penal a que a lei comine pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comine, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente67.

Pode-se ser observado no conceito de Crime citado, que a Lei de introdução ao código

Penal brasileiro, não traz uma definição expressa, por ele ser puramente doutrinário. Assim

surgiram vários conceitos sob aspectos diferentes, ou seja, conceitos formais, materiais e

analíticos, no qual serão analisados conforme a doutrina pátria.

3.1.1 Conceito formal

Sobre o aspecto formal Mirabete e Fabbrini afirmam que a definição de crime

“alcançam apenas um dos aspectos do fenômeno criminal, o mais aparente, que é a

67 BRASIL. Decreto-Lei n. 3.914, de 9 de dezembro de 1941. Lei de introdução do Código Penal (decreto-lei n. 2.848, de 7-12-940) e da Lei das Contravenções Penais (decreto-lei n. 3.688, de 3 outubro de 1941). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del3914.htm>. Acesso em: 20 mar. 2009.

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contradição do fato a uma norma de direito, ou seja, sua ilegalidade como fato contrário a

norma penal. Não penetram, contudo, em sua essência, em seu conteúdo, em sua matéria68”

Damásio de Jesus discorre sobre o tema conceituando crime sob o aspecto formal da

seguinte forma: “crime é um fato típico e antijurídico69”.

3.1.2 Conceito material

Sob o aspecto material, o legislador obteve-se em proteger o bem pela lei penal, tendo

o Estado à finalidade de obter o bem coletivo, mantendo a ordem, a harmonia e o equilíbrio

social, tendo ainda que velar pela paz interna, pela segurança e estabilidade coletivas diante

dos conflitos entre os interesses dos indivíduos e entre os destes e os do poder constituído.

Assim o Estado valorando os bens ou interesses individuais ou coletivos, protegeu-se através

da lei penal, passando os bens a ser juridicamente tutelados e sua proteção sendo efetuada

através da aplicação da pena70.

Ricardo Antonio Andreucci conceitua crime sobre o aspecto material da seguinte

maneira: “violação de um bem penalmente protegido71.

3.1.3 Conceito analítico

Em 1883 Carmignani dizia que ação delituosa era composta de uma força física e uma

força moral, sendo que a física estaria à ação executora do dano material do delito, e na força

moral estaria à culpabilidade, essa construção levou ao sistema bipartido do conceito de

crime, se dividindo em aspectos objetivos e subjetivos, levando o conceito analítico de crime

a se definido como sendo um fato típico, antijurídico72.

No entendimento de Fernando Capez73 o aspecto analítico é aquele que busca, sob um

prisma jurídico, estabelecer os elementos estruturais do crime. A finalidade deste enfoque é

68 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP. v. 1. 24. ed. rev. e atual. até 31 de dezembro de 2006. São Paulo: Atlas, 2007, p. 81. 69 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral. v. 1 28. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 151. 70 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 82. 71 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Curso de Direito Penal: parte geral de acordo com a Lei n. 9.714 de 25-11-1998. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999, p. 25. 72 BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 12. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 210-211. 73 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120). ed. 11. rer. atual. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 106.

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proporcionar a correta e mais justa decisão sobre a infração penal e seu autor, fazendo com

que o julgador ou intérprete desenvolva o seu raciocínio em etapas.

Sob este ângulo, crime é todo fato típico e ilícito. Dessa maneira, em primeiro lugar

deve ser observada a tipicidade da conduta. Em caso positivo, e só neste caso, verifica-se se a

mesma é ilícita ou não. Sendo o fato típico e ilícito, já surge a infração penal. A partir daí, é

só verificar se o autor foi ou não culpado pela sua prática, isto é, se deve ou não sofrer um

juízo de reprovação pelo crime que cometeu74.

3.2 SUJEITOS DO CRIME

Tratar-se-á neste tópico sobre os sujeitos ativo e passivos do crime, conforme doutrina

pátria.

3.2.1 Sujeito ativo

Na lição de Damásio de Jesus o sujeito ativo “é quem pratica o fato descrito na norma

penal incriminadora”. Só o homem possui capacidade para delinqüir. São reminiscências as

praticas de processos contra animais ou coisas por cometimento de supostas infrações75.

Para Andreucci sujeito ativo do crime “é aquele que prática o fato típico e

antijurídico76”.

Fernando Capez descreve que:

Sujeito ativo da conduta típica é a pessoa humana que prática a figura típica descrita na lei, isolada ou conjuntamente com outros autores. O conceito abrange não só aquele que pratica o núcleo da figura típica (quem mata, subtrai etc.), como também o partícipe, que colabora de alguma forma na conduta típica, sem, contudo, executar atos de conotação típica, mas que de alguma forma, subjetiva ou objetivamente, contribui para ação criminosa77.

Analisando o texto acima, observou-se que sujeito ativo no crime, é qualquer ser

humano, que prática uma figura típica e antijurídica descrita em lei, isolada ou conjuntamente,

74 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120). ed. 11. rer. atual. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 106.

75 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral, p. 165. 76 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Curso de Direito Penal: parte geral de acordo com a Lei n. 9.714 de 25-11-1998, p. 25. 77 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120). ed. 11. rer. Atual, p. 135.

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ressalvado os inimputáveis que esta prevista no Código Penal brasileiro, que são isentos de

pena e os casos que exige uma capacidade especial.

Nesse sentido observam-se os ensinamentos de Fernando Capez realçando que alguns

delitos exigem uma capacidade especial, como certa posição jurídica ou de fato. Assim, o

sujeito ativo pode, de acordo com a sua posição no processo, receber diferentes

denominações, quais sejam: “agente, indiciado, acusado, denunciado, réu, sentenciado,

condenado, recluso, detento78”.

3.2.2 Sujeito passivo

Bitencourt leciona que sujeito passivo do crime “é o titular do bem jurídico atingido

pela conduta criminosa79”.

Mirabete e Fabbrini destacam que há duas espécies de sujeito passivo:

a) sujeito passivo constante ou formal: ou seja, o Estado que, sendo titular do mandamento proibitivo, é lesado pela conduta do sujeito ativo; b) sujeito passivo eventual ou material: é o titular do interesse penalmente protegido, podendo ser o homem (art. 121), a pessoa jurídica (art 171,§ 2º, V) o Estado (crimes contra administração pública) e uma coletividade destituída de personalidade jurídica (arts. 209, 210 etc.) 80.

Finalizando, sujeito passivo do crime é o titular do bem jurídico tocado, cuja ofensa é

a essência do crime.

3.3 OBJETO DO CRIME

Será tratado neste tópico sobre objeto do crime e suas espécies que se dividem em

objeto jurídico e objeto material, para um melhor entendimento vejam abaixo o conceito, do

assunto em tela elaborado por Damásio de Jesus81 “objeto do delito é aquilo contra que se

dirige a conduta humana que o constitui. Para que seja determinado, é necessário que se

verifique o que o comportamento humano visa”.

78 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 135. 79 BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p. 231. 80 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 114. 81 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral, p. 179.

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No entendimento de Capez:

Objeto do Crime é aquilo contra que se dirige a conduta humana que o constitui; para que seja determinado, é necessário que se verifique o que o comportamento humano visa; objeto jurídico do Crime e o bem ou interesse que a norma penal tutela; objeto material é a pessoa ou coisa sobre que recai a conduta do sujeito ativo82.

De acordo com os ensinamentos de Damásio, o objeto do crime pode ser jurídico, por

exemplo, quando ocorre um homicídio que o homem é o titular do objeto jurídico (vida), ou

pode ser material quando a ação incide materialmente, o homem vivo no homicídio, a coisa

no furto etc83.

3.3.1 Objeto jurídico

Objeto jurídico do Crime é o bem jurídico, isto é, o interesse protegido pela norma

penal. É a vida, no homicídio; a integridade corporal, nas lesões corporais; o patrimônio, no

furto; a honra, na injuria; os costumes e a liberdade sexual da mulher, no estupro; a

administração publica no peculato etc84.

Prossegue o autor asseverando que a disposição dos títulos e capítulos da Parte

Especial do Código Penal obedece a um critério que leva em consideração o objeto jurídico

do crime, colocando-se em primeiro lugar os bens jurídicos mais importantes: a vida,

integridade corporal, honra, patrimônio etc85.

Para Damásio de Jesus o objeto jurídico “é o bem ou interesse que a norma penal

tutela”, ou seja, é o bem jurídico, que se constitui em tudo o que é capaz de satisfazer às

necessidades do homem, como a vida, a integridade física, a honra, o patrimônio, etc86”.

3.3.2 Objeto material

Segundo Mirabete e Fabbrini “objeto material ou substancial do crime é a pessoa ou

coisa sobre a qual recai a conduta criminosa, ou seja, aquilo que a ação delituosa atinge. Está

ele direta ou indiretamente indicado na figura penal87”

82 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 135. 83 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral, p. 179. 84 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 143. 85 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 143. 86 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral, p. 179.

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O objeto material do delito é a pessoa ou coisa sobre as quais recai a conduta do

agente. É o objeto da ação. Não se deve confundi-lo com objeto jurídico. Assim o objeto

material do homicídio é a pessoa sobre a qual recai a ação ou omissão e não a vida; no furto, é

a coisa alheia móvel sobre a qual incide a subtração o patrimônio; no estupro, a mulher e não

os costumes etc88.

3.4 CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES

Os Crimes podem ser classificados de diversas maneiras, ora porque se atenta à

gravidade do fato, ora à forma de execução, ora ao resultado.

A seguir serão demonstradas algumas das classificações previstas no ordenamento

jurídico pátrio.

3.4.1 Crime comum

Para Mirabete e Fabbrini “os crimes comuns podem ser praticados por qualquer pessoa

Ex: homicídio, furto, estelionato, entre outros89”.

3.4.2 Crime próprio

Capez ensina que “crime próprio só pode ser cometido por determinada pessoa ou

categoria de pessoas, como infanticídio (só a mãe pode ser autora) e os crimes contra

administração Pública (só funcionário público pode ser autor). Admite a autoria mediata, a

participação e a co-autoria90”.

No entendimento de Mirabete e Fabbrini crimes próprios são aqueles que “exigem ser

o agente portador de uma capacidade especial. O tipo penal limita o circulo do autor, que deve

encontrar-se em uma posição jurídica, como funcionário público (arts. 312ss do CP)91”.

87 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 116. 88 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 143. 89 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 125. 90 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 244. 91 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 125.

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3.4.3 Crime de mão própria

Segundo ensinamento de Bitencourt “crime de mão própria é aquele que só pode ser

praticado pelo agente pessoalmente, não podendo utilizar-se de interposta pessoa (falso

testemunho, adultério, prevaricação)92”

Mirabete e Fabbrini lecionam que:

Os crimes de mão própria (ou de atuação pessoal) distinguem-se dos delitos próprios porque estes são suscetíveis de ser cometidos por um numero limitado de pessoas, que podem, no entanto, valer-se de outras para executá-los, enquanto nos delitos de mão própria – embora passiveis de serem cometidos por qualquer pessoa – ninguém os pratica por intermédio de outrem. Como exemplos têm-se o de falsidade ideológica de atestado medico (art. 302) e o de falso testemunho ou falsa perícia (art. 342, CP)93.

Analisando os ensinamentos dos doutrinadores acima, observou-se que o crime de

mão própria é aquele de caráter pessoal, portanto não pode ser praticado por intermédio de

outrem.

3.4.4 Crime de dano

Crime de dano é aquele que “exige uma efetiva lesão ao bem jurídico protegido para

sua consumação (homicídio, furto, dano etc.)94”

No mesmo entendimento enfatiza Andreucci “crime de dano é o que se consuma com

a efetiva lesão do bem jurídico. Ex.: roubo, lesão corporal95”.

Seguindo na mesma corrente doutrinária Araujo discorre sobre o tema dizendo que:

[...] crime de dano “é aquilo que impede total ou parcialmente as necessidades da satisfação da necessidade humana. Como estas são mitigadas pelos bens, dano é tudo aquilo que implique, a destruição ou diminuição de um bem96.

92 BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p. 215. 93 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 125. 94 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 245. 95 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Curso de Direito Penal: parte geral de acordo com a Lei n. 9.714 de 25-11-1998, p. 27. 96 ARAUJO, Sergio Luiz Souza. Teoria Geral do Processo Penal. Belo horizonte: Del Rey, 1999, p. 55.

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3.4.5 Crime de perigo

Para Bitencourt crime de perigo “é aquele que se consuma com a simples criação do

perigo para o bem jurídico protegido, sem produzir um dano efetivo97”.

Fernando Capez destaca sobre a subdivisão dos crimes de perigo da seguinte forma:

a) crime de perigo concreto: quando a realização do tipo exige a existência de uma situação de efetivo perigo; b) crime de perigo abstrato: no qual a situação de perigo é presumida, como no caso da quadrilha ou bando, em que se pune o agente mesmo que não tenha chegado a cometer nenhum crime; c) crime de perigo individual: que é o que atinge uma pessoa ou número determinado de pessoas, como os dos arts. 130 a 137 do CP; d) crime de perigo comum ou coletivo: que é aquele que só se consuma se o perigo atingir um número indeterminado de pessoas, por exemplo, incêndio (art.250), explosão (art.251) etc.; e) crime de perigo atual: que é o que está acontecendo; f) crime de perigo iminente: isto é, que está prestes a acontecer; g) crime de perigo futuro ou imediato: que é o que pode advir da conduta, por exemplo, porte de arma de fogo, quadrilha ou bando etc.98

Portanto, segundo a doutrina crime de perigo é aquele que existe com a simples

possibilidade do dano, que possa colocar em perigo o bem jurídico protegido.

3.4.6 Crime material

O crime material ou de resultado descreve a conduta cujo resultado integra o próprio

tipo penal, isto é, para a sua consumação é indispensável a produção de um dano efetivo. O

fato se compõe da conduta humana e da modificação do mundo exterior por ela operada. A

não-ocorrência do resultado caracteriza a tentativa. Nos crimes materiais a ação e o resultado

são cronologicamente distintos (homicídio, furto)99.

Para Maggio100 crimes matérias são:

[...] aqueles que só se consumam com a produção de um de terminado resultado descrita no tipo penal independentemente da conduta, como é o caso homicídio que só se consuma com a morte; o furto com a subtração; dano com a destruição; estupro com a conjunção carnal, etc.

97 BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p. 213. 98 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 245. 99 BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p. 213-214. 100 MAGGIO, Vicente Paula Rodrigues de. Direito Penal: código penal arts. 1º a 120. São Paulo: Saraiva, 2002., p. 107.

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3.4.7 Crime formal

Crime Formal é aquele que cujo resultado se consuma com a prática da própria

conduta, independentemente da ocorrência ou não de um resultado concreto101.

Ricardo Antonio Andreucci destaca que crime formal é aquele que:

[...] não requer a realização do resultado pretendido pelo agente, embora previsto em lei, consumando-se com a prática da ação ou omissão. Ex. ameaça (que se consuma com o conhecimento pelo sujeito passivo, independentemente de sua efetiva intimidação)102.

Mirabete e Fabbrini discorrem sobre o assunto dizendo que:

[...] no crime formal não há necessidade de realização daquilo que é pretendido pelo agente, o resultado jurídico previsto no tipo ocorre ao mesmo tempo em que se desenrola a conduta, havendo separação lógica e não cronológica entre conduta e resultado103.

Crimes formais conforme a doutrina pátria são aqueles que o legislador antecipa a

consumação à sua produção, são exemplos de crimes formais: crimes contra honra, ameaça

entre outros previstos no Código Penal brasileiro.

3.4.8 Crime de mera conduta

Nos ensinamentos de Ricardo Antonio Andreucci crime de mera conduta “é aquele

que não tem resultado, onde o legislador somente descreve a conduta do sujeito ativo104”

Assevera Fernando Capez que “no crime de mera conduta o resultado naturalístico não

é apenas irrelevante. É o caso do crime de desobediência ou da violação de domicílio, em que

não existe absolutamente nenhum resultado que provoque modificação no mundo concreto105.

Mirabete e Fabbrini106 ressaltam ainda que “crime de mera conduta (ou de simples

atividade) a lei não exige qualquer resultado naturalístico, contentando-se com ação ou

omissão do agente 101 LEAL, João José. Direito Penal: parte geral. 3. ed. rer. e atual. São Paulo: Atlas, 2004, p. 67. 102 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Curso de Direito Penal: parte geral de acordo com a Lei n. 9.714 de 25-11-1998, p. 29. 103 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 123. 104 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Curso de Direito Penal: parte geral p. 29. 105 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 246.

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3.4.9 Crime comissivo

Ricardo Antonio Andreucci salienta que “crime comissivo é o que exige uma atuação

positiva do agente, consistente em uma ação107”.

Crime comissivo é aquele que o agente realiza uma ação, visando um resultado que

esta proibida pela lei penal, a maioria dos crimes previstos no Código Penal brasileiro e na

legislação vigente é constituído pelos de delitos de ação, isto é, delitos comissivos108.

3.4.10 Crime omissivo

Bitencourt destaca que há crimes omissivos próprios e impróprios.

Primeiramente se tem o crime omissivo próprio que consiste no fato de o agente deixar

de realizar determinada conduta, tendo a obrigação jurídica de fazê-lo; configura-se com a

simples abstenção da conduta devida, quando podia e devia realizá-la independentemente do

resultado. A inatividade constitui em si mesma, crime (omissão de socorro)109.

No crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão, a omissão é o meio através

do qual o agente produz um resultado. Nestes crimes, o agente responde não pela omissão

simplesmente, mas pelo resultado decorrente desta, a que estava, juridicamente, obrigado a

impedir (art. 13, parágrafo 2º, do CP)110.

Para Mirabete e Fabbrini crimes omissivos “são os que objetivamente são descritos

com uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na

transgressão da norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico111”.

3.4.11 Crime instantâneo

Ensina Capez que crime instantâneo “consuma-se em dado instante, sem continuidade

no tempo, como, por exemplo, o homicídio112” 106 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 124. 107 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Curso de Direito Penal: parte geral de acordo com a Lei n. 9.714 de 25-11-1998, p. 30. 108 BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p. 212. 109 BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p. 213. 110 BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p. 213. 111 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 119.

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No mesmo entendimento Damásio discorre sobre tema dizendo que crimes

instantâneos “são os que se completem num só momento. A consumação se dá num

determinado instante, sem continuidade temporal113”.

3.4.12 Crime instantâneo de efeito permanente

Crime instantâneo de efeito permanente conforme Mirabete e Fabbrini é aquele que

ocorre “quando, consumada a infração em dado momento, os efeitos permanecem114”

É aquele tipo de crime que depois de consumado, tem suas conseqüências perpétuas.

Na verdade já ocorreu a consumação do crime, mas mesmo assim ainda produz

conseqüências115.

3.4.13 Crime principal

Paulo Queiroz leciona que crime principal “são os crimes cuja existência, não depende

da ocorrência de qualquer outra infração penal (homicídio, lesão corporal, furto, estelionato),

uma vez que são criados autonomicamente116”.

Capez enfatiza dizendo que “crime principal existe independentemente de outros117.

3.4.14 Crime acessório

Capez assevera que crime acessório é aquele que “depende de outro crime para existir

(receptação, favorecimento pessoal, favorecimento real). A extinção da punibilidade do crime

principal não se estende ao acessório (art. 108, CP)118”

Conforme ensinam Mirabete e Fabbrini os crimes acessórios, como a denominação

indica, “sempre pressupõe a existência de uma infração penal anterior, a ele ligada pelo

dispositivo penal que, no tipo, faz referencia aquela119”.

112 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 246. 113 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral, p. 193. 114 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 119. 115 TELES, Ney Moura. Direito Penal: arts. 1º a 120. São Paulo: Atlas, 2004, p. 232. 116 QUEIROZ, Paulo. Direito Penal: parte geral. 3. ed. atual e aum. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 173. 117 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 246. 118 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 247.

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O crime de receptação (art. 180, CP), por exemplo, só existe se antes foi cometido

outro delito (furto, roubo, estelionato etc.); o mesmo ocorre nos crimes de favorecimento

pessoal (art. 348, CP), de favorecimento real (art. 349, CP), no de uso de documento falso

(art. 304, CP) etc120.

3.4.15 Crime simples

Damásio ensina que “crime simples é o que apresenta tipo penal único. Ex. delito de

homicídio (caput do art. 121, CP)121”

No mesmo sentido Capez leciona que crimes simples “são aqueles que apresentam um

tipo penal, como por exemplo o homicídio, lesões corporais122”

3.4.16 Crime progressivo

Nos ensinamentos de Damásio crime progressivo é aquele “quando o sujeito, para

alcançar a produção de um resultado mais grave, passa por outro menos grave123”

Para Maggio crimes progressivos “são aqueles, cujas etapas anteriores, também

constituem crimes de menor gravidade que acabam por eles sendo absorvidos124”.

Assim, num crime de furto, às vezes, está implícito um invasão de domicilio, como

também num homicídio, as lesões corporais acabam sempre por ele absorvidas125.

3.4.17 Crime putativo

No entendimento de Capez126 o crime putativo (imaginário ou erroneamente suposto)

ocorre que o agente pensa que cometeu uma infração penal, mas na verdade o agente realizou

um irrelevante penal, o delito putativo por erro de proibição, quando o agente pensa estar

cometendo algo injusto, mas pratica um comportamento perfeitamente normal.

119 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 125. 120 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 125. 121 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral, p. 196. 122 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 265. 123 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral, p. 196. 124 MAGGIO, Vicente Paula Rodrigues de. Direito Penal: código penal arts. 1º a 120, p. 108. 125 MAGGIO, Vicente Paula Rodrigues de. Direito Penal: código penal arts. 1º a 120, p. 108. 126 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 265.

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Nesse caso não há crime, pois o fato não infringe a norma penal. O delito putativo, na

realidade, não é uma espécie de crime, mas uma maneira de expressão para designar esses

casos de ‘não crime’127

No entendimento de Leal “delito putativo é quando o agente pensa que praticou um

crime, sendo que na verdade cometeu um fato atípico, fato este que não esta prevista em nossa

legislação penal brasileira128”.

3.4.18 Crime impossível

Crime impossível esta previsto no Código Penal brasileiro em seu art.17, no qual

prevê que não se pune a tentativa, haja vista a ineficácia do meio ou a absoluta impropriedade

do objeto, assim crime impossível também é conhecido por quase-crime, tentativa inadequada

ou idônea129.

3.4.19 Crime unissubsistente

Segundo Bitencourt crime unissubsistente “constitui-se de ato único. O processo

executivo unitário, que não admite fracionamento, coincide temporalmente com a

consumação, sendo impossível, conseqüentemente, a tentativa (injuria verbal)130”

Mirabete e Fabbrini destacam que crime unissubsistente é aquele que “realiza-se com

apenas um ato, ou seja, a conduta é uma e indivisível, como na injúria ou ameaças orais (arts.

140 e 147), o uso do documento falso (art.304) etc”. Tais crimes não permitem o

fracionamento da conduta, e é inadmissível a tentativa deles131.

3.4.20 Crime plurissubsistente

Segundo Fernando Capez o crime plurissubsistente “é aquele que exige mais de um

ato para sua realização (estelionato art.171)132”.

127 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral, p. 199. 128 LEAL, João José. Direito Penal: parte geral, p. 201. 129 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral, p. 193. 130 BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p. 214. 131 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 123. 132 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 248.

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No entendimento de Bitencourt crime plurissubsistente é aquele que sua “execução

pode desdobrar-se em vários atos sucessivos, de tal sorte que a ação e o resultado típico

separam-se espacialmente, como é o caso dos crimes materiais, que, em geral, são

plurissubsistente133”

3.4.21 Crime unissubjetivo

Mirabete e Fabbrini asseveram que crime unissubjetivo “é aquele que só pode ser

praticado pó uma só pessoa, embora nada impeça a co-autoria ou participação134”.

Bitencourt salienta que crime unissubjetivo “é aquele que pode ser praticado pelo

agente individualmente – que também admite o concurso eventual de pessoas -, constituindo a

regra geral das condutas delituosas previstas no ordenamento jurídico- penal135”.

3.4.22 Crime habitual

Capez ensina que crime habitual “é composto pela reiteração de atos que revelam um

estilo de vida do agente, por exemplo, rufianismo (art. 230, CP), exercício ilegal da medicina,

arte dentária ou farmacêutica (art.282, CP). Portanto só se consuma com a habitualidade na

conduta136”.

Os atos praticados isoladamente não possuem relevância penal, pois a sua repetição ao

longo de certo período de tempo, formando um todo, é condição indispensável para a

consumação do Crime137.

3.4.23 Crime de ação única

Mirabete e Fabbrini destacam que crime de ação única “é aquele cujo tipo penal

contém apenas uma modalidade de conduta, expressa no verbo que constitui o núcleo da

figura típica138”.

133 BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p. 214. 134 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 131. 135 BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p. 214. 136 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 249. 137 LEAL, João José. Direito Penal: parte geral, p. 202. 138 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 131.

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No entendimento de Bitencourt crime de ação única “é aquele que contém somente

uma modalidade de conduta, expressa pelo verbo núcleo do tipo (matar, subtrair)139”

3.4.24 Crime culposo

Crime culposo é quando o sujeito age dando causa ao resultado por imprudência,

negligência ou imperícia, conforme art. 18, I, II do Código Penal brasileiro140.

Culpa é o elemento normativo da conduta. A culpa é assim chamada porque sua

verificação necessita de um prévio juízo de valor, sem o qual não se sabe se ela está ou não

presente. Com os efeitos, os tipos que definem os Crimes culposos são, em geral, abertos,

portanto, neles não se descreve em que consiste o comportamento culposo. O tipo limita-se a

dizer: “se o Crime é culposo, a pena será de [...]”, não descrevendo como seria a conduta

culposa141.

3.4.25 Crime doloso

Leal destaca que crime doloso “é aquele praticado com vontade dirigida para

realização do resultado típico (a agente dispara arma de fogo com intenção de causar morte da

vítima, praticando assim um homicídio doloso)142”.

Segundo Damásio crime doloso “é quando o sujeito quer ou assume o risco de

produzir o resultado (art. 18, I, CP)143”.

3.4.26 Crime preterdoloso

Sobre o crime preterdoloso Damásio leciona ser aquele em que a ação causa um

resultado mais grave que o pretendido pelo agente. O sujeito quer um minus e a sua conduta

produz um majus, de forma que se conjugam a ação (antecedente) e a culpa no resultado

(conseqüente)144”

139 BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p. 215. 140 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral, p. 205-206. 141 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. (art. 1º a 120), p. 207. 142 LEAL, João José. Direito Penal: parte geral, p. 195. 143 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral, p. 205. 144 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral, p. 206.

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3.4.27 Crime militar

No Código Penal Militar - CPM- (Decreto-Lei n. 1.001, de 21/10/69), estão definidos

os crimes militares, que se dividem, segundo a lei, em crimes militares em tempo de paz (art.

9º, CPM) e crimes militares em tempo de guerra (art. 10º, CPM)145.

Também os crimes militares podem ser puros ou próprios (puramente militares) e

impróprios. Os primeiros são os que somente estão definidos no CPM os crimes militares

impróprios são aqueles cuja definição típica também é prevista na lei penal comum, quando

praticados nas condições estabelecidas no art. 9º, II, e no art. 10, III, do CPM146.

3.5 CRIMES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO

Neste subtítulo serão abordado o conceito de crime de menor potencial ofensivo e

Contravenção Penal e também será apresentada uma relação contendo todos os crimes

considerados de menor potencial ofensivo previsto no Código Penal brasileiro.

3.5.1 Conceitos

O conceito de crime de menor potencial ofensivo está previsto no art. 61 da Lei n.

9.099/95, alterado pela Lei n. 11.313/06, que agora tem a seguinte redação:

Art. 61 - Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa147.

Ao mesmo tempo em que a Lei n. 11.313/06 alterou o conceito da Lei n. 9.099/95,

suprimiu aquele que constava da Lei n. 10.259/01 - Lei dos Juizados Especiais Cíveis e

Criminais no âmbito da Justiça Federal. Destarte, o conceito é único para ambas as leis,

constando apenas da Lei de 1995.

145 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 126. 146 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 126. 147 BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9099.htm>. Acesso em: 10 abr. 2009.

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Quanto a definição de Contravenção penal no entender de Guimarães é a “infração

tipificada em lei, que, sendo menos grave que o crime, é apenada mais brandamente148”.

3.5.2 Tipificação dos crimes de menor potencial ofensivo

Será feita uma descrição dos Crimes de Menor Potencial Ofensivo elencado no Código

Penal brasileiro, sendo que estes crimes são os que a lei comine pena máxima não superior a

(2) dois anos, cumulada ou não com multa. São eles:

Art. 129 – Lesão corporal; Art. 129 § 6º – Lesão corporal culposa; Art. 130 – Perigo de contágio venéreo; Art. 132 – Perigo para vida de outrem; Art. 134. Caput – Exposição ou abandono de recém nascido; Art. 135 – Omissão de socorro – Art. 136 – Maus- tratos; Art. 137 – Rixa; Art. 138. – Calúnia; Art. 139 – Difamação (rito especial); Art. 140 – Injúria (rito especial); Art. 146 – Constrangimento ilegal; Art. 147 – Ameaça; Art. 150 – Violação de domicílio; Art.151 – Violação de correspondência; Art. 152. – Correspondência comercial; Art. 153 – Divulgação de segredo; Art. 154 – Violação de segredo; Art. 156 – Furto de coisa comum; Art. 161 – Alteração de Limites; Art. 163 – dano; Art.164 – Introdução de animais; Art. 165. – Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico; Art. 166 – Alteração de local especialmente protegido; Art. 169 – Apropriação de coisa havida por erro; Art. 176 – Outras fraudes; Art. Art. 179 – Fraude a execução; Art. 180 §3º – Receptação culposa; Art.184 – Violação do direito autoral; Art. 197 – Atentado contra liberdade de trabalho; Art. 198 – Atentado contra liberdade de contrato; Art. 199 – Atentado contra liberdade de associação; Art. 200 – Paralisação de trabalho seguida de violência ou perturbação de ordem; Art. 201 – Paralisação de trabalho de interesse coletivo; Art. 203 – Frustrar direito trabalhista; Art. 204 - frustração de lei sobre nacionalização do trabalho; Art. 205 – Exercício de atividade com infração de decisão administrativa; Art. 208 – Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo; Art. 209 – Impedimento ou perturbação de cerimônia funerária Art. 216 – A – Assédio sexual; Art. 233 – Ato obsceno; Art. 234 – Escrito ou objeto obsceno; Art. 235 – Bigamia; Art. 236 – Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento; Art. 237 – Conhecimento prévio de impedimento; Art. 245. – Entrega de filho menor a pessoa inidônia; Art. 246. – Abandono intelectual; Art. 247 – Abandono moral; Art. 248 – induzimento a fuga, entrega arbitrária ou sonegação de incapazes; Art. 249 – Subtração de incapazes; Art. 250. § 2º - incêndio culposo; Art. 251. § 3º - Explosão culposa; Art. 252. Parágrafo único – Uso de gás tóxico ou asfixiante modalidade culposa; Art. 253. Fabrico, fornecimento, aquisição, posse ou transporte de explosivos ou gás tóxicos ou asfixiante; Art. 256. Parágrafo único – Desabamento ou desmoronamento culposo; Art. 259. Parágrafo único – Difusão de doença ou praga culposa; Art. 261. § 3º - Atentado contra segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo modalidade culposa; Art. 262 – Atentado contra segurança de outro meio de transporte; Art. 264 – Arremesso de projétil; Art. 268. – Infração de medida sanitária preventiva; Art. 269. – Omissão de notificação de doença; Art. 270. § 2º – Envenenamento culposo de água potável ou de substância

148 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário compacto jurídico. 10. ed. São Paulo: Rideel, 2007, p. 69.

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alimentícia ou medicinal; Art. 271, parágrafo único – Corrupção ou poluição de água potável; Art. 272. § 2º - Corromper alimento com culpa; Art. 280. Parágrafo único – Medicamento em desacordo com receita médica, modalidade culposa; Art. 282. – Exercício legal da medicina, arte dentária; Art. 283. – Charlatanismo; Art. 284. – Curandeirismo; Art. 286. – Incitação ao crime; Art. 287. – Apologia de crime ou criminoso; Art. 292. – Emissão de título ou portador sem permissão legal; Art. 301 – Certidão ou atestado ideologicamente falso; Art. 302. – Falsidade de atestado médico; Art. 307 e 308. – Falsa identidade; Art. 312, § 2º – Peculato culposo; Art. 313 – B – Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações; Art. 315. – Emprego irregular de verbas ou rendas pública; Art. 317 § 2º - Corrupção passiva culposa; Art. 319. – Prevaricação; Art. 319 – A - e 320 – Condescendência criminosa; Art. 321. – Advocacia administrativa; Art. 323. – Abandono de função; Art. 324. – Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado; Art. 325. caput – Violação do sigilo funcional; Art. 326 – Violação de sigilo de proposta de concorrência; Art. 328. – Usurpação de função pública; Art. 329. – Resistência; Art. 330 – Desobediência; Art. 331. – Desacato; Art. 335. – Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência; Art. 336 – Inutilizarão de edital ou de sinal; Art. 340 – Comunicação falsa de crime; Art. 341 – Auto-acusação falsa; Art. 345 – Exercício arbitrário das próprias razões; Art. 347 - Fraude processual; Art. 348 – Favorecimento pessoal; Art. 349 – Favorecimento real; Art. 350 – Exercício arbitrário ou abuso de poder; Art. 351 Caput e § 4º - Fuga de pessoa presa ou submetida à medida de segurança; Art. 352 – Evasão mediante violência contra pessoa; Art. 354 – Motim de presos; Art. 358 – Violência ou fraude em arrematação judicial; Art. 359 – Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito; Art. 359 – A – Contratação de operação de crédito; Art. 359 – B – Inscrição de despesas não empenhadas em resto a pagar; Art. 359 – E – Prestação de garantia graciosa; Art. 359 – F – Não cancelamento de resto a pagar149.

Em face do novo diploma já tantas vezes citado, essa é a relação de crimes previstos

no Código Penal brasileiro, que são da competência dos Juizados Especiais Criminais, no

entanto não podemos esquecer-nos do Decreto- Lei n. 3.688 de 3 de outubro de 1941, que

trata das Contravenções Penais, no qual o Art.61 faz menção em seu texto legal, assim sendo,

também de competência dos Juizados, contudo não se pode deixar de citar as Legislações

específicas que em seus textos legais prevêem pena não superior a dois anos cumulado ou não

com multa, também será de competência dos Juizados Especiais Criminais150.

Diante o exposto, encerra-se o segundo capítulo, dando sequência ao terceiro e último,

que terá como tema o Termo Circunstanciado.

149 BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848 de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del2848.htm>. Acesso em: 20 mar. 2009. 150 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Criminais, p. 29.

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4 TERMO CIRCUNSTANCIADO

Tratar-se-á neste capitulo a criação dos Juizados Especiais Criminais, bem como os

Princípios que o regem e será feito uma análise da expressão Autoridade Policial no âmbito da

Lei n. 9.099/95 e, por fim a elaboração do Termo Circunstanciado.

4.1 CRIAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Inicialmente se fará um resumo histórico dos Juizados Especiais Criminais.

Antes da edição da Lei n. 9.099/95, alguns Estados como Mato Grosso do Sul e

Paraíba optaram por instituir Juizados Especiais Criminais, por intermédio de leis estaduais.

Desde o início houve dúvidas sobre a constitucionalidade dessas leis. Assim, o Supremo

Tribunal Federal decidiu que a criação dos Juizados Criminais pelos Estados dependia de Lei

Federal, sendo inconstitucional a norma estadual que outorgara competência penal a Juizados

Especiais151.

Desta forma, os legisladores, em obediência ao art. 98 da Constituição Federal de

1988, instituíram a Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, dos Juizados Cíveis e Criminais.

Ficando estabelecida a competência destes para as infrações de menor potencial ofensivo,

definindo-as como sendo, as contravenções penais e os crimes a que lei cominasse pena

máxima não superior a um ano, exceto os casos que lei previsse procedimento especial152.

Em 12 de julho de 2001 foi criada a Lei n. 10.259, que trata dos Juizados Cíveis e

Criminais no âmbito da Justiça Federal, sendo que o art. 2º, parágrafo único, alargou o

conceito de infrações de menor potencial ofensivo para contemplar os crimes a que a lei

comine pena máxima não superior a dois anos, ou multa, sujeitos ou não a procedimento

especial153.

151 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, jurisprudência, legislação. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002, 33. 152 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, jurisprudência, legislação, p. 33. 153 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, jurisprudência, legislação, p. 33.

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Embora este conceito da Lei n. 10.259/2001 dispusesse a respeito da competência da

Justiça Federal, isso acabou sendo estendido para a Justiça Estadual, tendo em vista a

revogação tácita do art. 61 da Lei n. 9.099/95, em decorrência da lei posterior de mesmo nível

hierárquico que tratou de forma diversa o mesmo objeto. Além disso, feriu o Princípio

Constitucional da Isonomia, porque poderia implicar diferenciação de tratamento penal para a

mesma espécie de infração, com base somente na competência para o julgamento154.

Assim em 28 de junho de 2006 foi criada a lei n. 11.313, que veio para unificar o

conceito de infração de menor potencial, dando uma nova redação ao art. 61 da lei n. 9.099/95

e ao art. 2º da Lei n. 10.259/2001155.

4.2 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS QUE NORTEIAM OS PROCEDIMENTOS DOS

JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

O legislador respeitando os princípios gerais do processo como: (juiz natural,

contraditório, ampla defesa, igualdade entre as partes etc.), princípios estes de aplicação

obrigatória em todas as ações penais, teve o ideal de melhoria do mecanismo processual no

que se relaciona especificamente com as causas de competência dos Juizados Especiais,

aplicando a esses procedimentos os princípios da oralidade, simplicidade, informalidade,

economia processual e celeridade dos procedimentos previstos na Lei n. 9.099/95, está-se

dando cumprimento ao dispositivo constitucional que prevê para eles um procedimento oral e

sumaríssimo art. 98, I da Constituição Federal de 1988156.

4.2.1 Princípio da oralidade

Principio da oralidade é aquele que adota a forma oral no tratamento da causa, veja os

ensinamentos de Luiz Claudio Silva:

Orienta a prática dos atos processuais nas ações de competência do Juizado Especial Criminal de forma oral, como observamos da audiência de instrução e julgamento, que é realizada oralmente, pelo sistema de gravação magnética, onde o defensor do autor dos fatos oferecerá sua defesa oral, com objetivo de contraditar a acusação para evitar o recebimento da denúncia ou da queixa-crime, de acordo com a natureza da ação, se pública ou privada, a oitiva das testemunhas de acusação e defesa e as alegações finais das partes.

154 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, jurisprudência, legislação, p. 33. 155 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, jurisprudência, legislação, p. 33. 156 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, jurisprudência, legislação, p. 33.

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Somente será lavrado o termo, o qual será assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença. Da mesma forma, é admissível oferecimento de representação criminal, queixa-crime, denúncia e interposição de embargos de declaração de forma oral, como observamos nos Arts. 75, 77 e seu § 3º, bem como no Art. 81 e seus §§ 1º e 2º, e Art. 83 § 1º, todos da Lei nº 9.099/95157.

Mirabete destaca que:

Ao impor esse critério, quis o legislador aludir não à exclusão do procedimento escrito, mas à superioridade da forma oral à escrita na condução do processo. A experiência tem demonstrado que o processo oral é o melhor e o mais de acordo com a natureza da vida moderna, como garantia de melhor decisão, fornecida com mais economia, presteza e simplicidade158.

4.2.2 Princípio da simplicidade

Com princípio da simplicidade pretende-se diminuir a massa dos materiais que são

juntados aos autos do processo sem que se prejudique o resultado da prestação jurisdicional.

Tem o objetivo minimizar a burocracia, simplificando a aplicação do direito abstrato ao caso

concreto, dando uma qualidade maior aos meios empregados para solução da lide159.

O juiz fica com a liberdade para calçar-se na razão e na ética, para a determinação de

provas, bem como a sua apreciação, podendo valer-se de indícios e presunções legais, para

sanar possíveis imperfeições da Lei, ou abrandar seu rigor160.

Desta forma, com base neste princípio, admite-se o oferecimento da peça inaugural da

Ação Penal de forma oral, a lavratura de Termo Circunstanciado, dispensando o Inquérito

Policial (art.69) e do exame de corpo de delito para o oferecimento da denúncia com admissão

da prova da materialidade do crime por laudo médico (art. 77, § 1º), não será declarada

qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo (art. 65, § 1º), a sentença é dispensado o

relatório (art.81, § 3º) e as audiências conciliatórias poderão ser presididas por um conciliador

ou juiz leigo161.

157 SILVA, Luiz Cláudio. Juizado Especial Criminal: prática e teoria do processo. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 17. 158 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação, p. 33. 159 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação, p. 33. 160 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação, p. 33. 161 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação, p. 36.

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4.2.3 Princípio da informalidade

O princípio da informalidade revela a desnecessidade da adoção no processo de

formas sacramentais, do rigor formal do processo, embora todos os atos processuais devam

ser realizados conforme a lei, em obediência ao princípio do devido processo legal, assim

deve-se argüir sobre o excessivo formalismo em que prevalece sobre os atos processuais e

sem sentido sobre maior realização da justiça, desta forma o princípio da informalidade busca

uma libertação do formalismo, para ter mais objetividade e finalidade no processo162.

4.2.4 Princípio da economia processual

O princípio da economia processual tem por objetivo buscar o máximo do resultado no

direito com o mínimo possível de atos processuais desprezando-se os inúteis. Embora isto não

signifique que eliminem atos previstos no rito processual estabelecido na lei, mas sim a

possibilidade de escolher a forma menos onerosa163.

Ada Pellegrini Grinover ensina que:

O princípio da economia processual informa praticamente todos os critérios aqui analisados, estando presente em todo o juizado, desde fase preliminar até o encerramento da causa: evita-se o inquérito; busca-se que o autor do fato e a vítima sejam desde logo encaminhados ao Juizado; pretende-se que através de acordos civis ou penais, não seja formado o processo; para acusação, prescinde-se do exame de corpo delito; as intimações devem ser feitas desde logo; o procedimento sumaríssimo resume-se a uma só audiência164.

Podem ser analisados nos aspectos destacados pela autora, que o princípio da

economia processual consiste em tornar os atos processuais mais céleres.

4.2.5 Princípio da celeridade processual

Com referência ao princípio da celeridade diz respeito à necessidade de rapidez e

agilidade no processo, com o fim de buscar a prestação jurisdicional no menor tempo

possível. No caso dos Juizados Especiais Criminais, buscando-se reduzir o tempo entre a

162 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação, p. 36. 163 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação, p. 37. 164 GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Juizados Especiais Criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 3. ed. rer. e atual. São Paulo: Editora Revistas dos Tribunais, 1999, p. 75-76.

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prática da infração penal e a solução jurisdicional, evita-se a impunidade pela porta da

prescrição e dá-se uma resposta rápida à sociedade na realização da justiça Penal. O interesse

social reclama soluções imediatas para resolver os conflitos de interesse e é uma exigência da

tranqüilidade coletiva165.

Este princípio da celeridade aliado aos outros já mencionados, agiliza o procedimento

e possibilita o alcance mais facilmente a justiça.

4.3 AUTORIDADE POLICIAL

4.3.1 Conceito de Autoridade Policial no âmbito da Lei n. 9.099/95

Com relação ao estudo do art. 69 da Lei n. 9.099/95, que traz em seu texto a expressão

Autoridade Policial, será feito uma análise de seu conceito na forma extensiva, demonstrando

que para fins da referida lei, o Policial militar poderá ser autoridade competente para lavratura

do Termo Circunstanciado.

Observa-se a redação do art. 69 da Lei n. 9.099/95

Art. 69 - A Autoridade Policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará Termo Circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com autor do fato e a vitima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários166.

Álvaro Lazarrini entende que:

[...] Autoridade Policial é um agente administrativo que exerce atividade policial, tendo o poder de se impor a outrem nos termos da lei, conforme o consenso daqueles mesmos sobre os quais a sua autoridade é exercida, consenso esse que se resume nos poderes que lhes são atribuídos pela mesma lei, emanada do Estado em nome dos concidadãos 167.

Em concordância com o texto do nobre jurista acima, vejamos os inúmeros pareceres e

decisões judiciais, sobre a matéria.

165 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação, p. 37-38. 166 BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9099.htm>. Acesso em: 10 abr. 2009. 167 LAZARRINI, Álvaro. Estudos de Direitos Administrativos, p. 269.

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No ano de 1999 aconteceu o XVII Encontro Nacionais do Colégio dos

Desembargadores Corregedores Gerais de Justiça do Brasil, neste encontro confeccionaram a

Carta de São Luís do Maranhão, onde foi registrado que:

A expressão Autoridade Policial, na melhor interpretação do art. 69 da Lei 9.099/95, é também o policial de rua, o policial militar, não constituindo, portando, atribuição exclusiva da policia judiciária a lavratura de Termo Circunstanciado 168.

No mesmo ano os Corregedores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União,

se reuniram no XVII encontro nacional do Estado do Mato Grosso e decidiram que:

[...] o significado do termo Autoridade Policial constante no art. 69, da Lei dos Juizados Especiais Criminais, não é restritivo, englobando todos os agentes integrantes dos órgãos de segurança pública identificados constitucionalmente (art. 144, CF)169.

O desembargador Francisco José Rodrigues de Oliveira Filho, usando de suas

atribuições, de Corregedor-Geral da Justiça do Estado de Santa Catarina, no ano de 1999,

elaborou o Provimento n. 04/99, que dispõe em seu art. 1º o seguinte:

Art. 1º - Esclarecer que autoridade, nos termos do art. 69 da Lei n. 9.099/95, é o agente do poder público com possibilidade de interferir na vida da pessoa natural, enquanto o qualificativo policial o servidor encarregado do policiamento preventivo ou repressivo170.

A procuradoria-geral do Estado de Santa Catarina emitiu parecer n.229/02171,

concluindo que o policial militar é autoridade competente para lavratura do Termo

Circunstanciado, pois tal peça não constitui função exclusiva da policia judiciária, tendo em

vista que dispensa qualquer investigação, vejamos o que diz o referido parecer:

A Autoridade Policial a que se refere o parágrafo único do art. 69 da lei n. 9099/95 é o policial civil ou militar, exegese esta orientada pelos princípios

168 FERREIRA. Agnaldo Edson Ramos. TCO: competência do policial militar para lavratura do TC. 02 de julho de 2007. Disponível em: <http://www.pm.se.gov.br/pm.php?var=1216246294>. Acesso em 11 maio 2009. 169 FERREIRA. Agnaldo Edson Ramos. TCO: competência do policial militar para lavratura do TC. 02 de julho de 2007. Disponível em: <http://www.pm.se.gov.br/pm.php?var=1216246294>. Acesso em 11 maio 2009. 170 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Provimento 04 de 15 de janeiro 1999. Francisco José Rodrigues de Oliveira Filho. Disponível em: http//www.tjsc.jus.br. acesso em 25 abril de 2009. 171 SANTA CATARINA. Procuradoria Geral do Estado. Parecer 229/02. Reconhece que a Autoridade Policial a que se refere o Art. 69 da Lei n. 9.099/95 é o policial civil ou militar, além de considerar que a lavratura do Termo Circunstanciado não é ato de polícia judiciária. Disponível em: <http://www.policiaesegurança.com.br/pgesc.htm>. Acesso em: 25 abr. 2009.

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da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade prescritos nos arts. 2º e 62 da citada lei e art. 98, I, da Constituição Federal.

Pode ser analisado que há vários entendimentos sobre o assunto, mas não se pode

deixar de mencionar que tal entendimento se espalha por vários Estados do Brasil, ou seja, o

Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul em Instrução Normativa n.05/04

estabeleceu que:

Para efeito do disposto no artigo 69 da Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, e nos artigos n.72 e 73 da Lei n. 1.071, de 11 de julho de 1990, entende-se por “Autoridade Policial”, o agente dos Órgãos da Segurança Pública do Estado, policial civil ou militar, que atua no policiamento ostensivo ou investigatório [...]172.

O Estado de São Paulo foi um dos pioneiros no entendimento que Autoridade Policial,

pode ser policiais militares, desta forma a nobre corte do Tribunal de Justiça de São Paulo

através do provimento 806/03 entendeu que:

Considera-se Autoridade Policial apta a tomar conhecimento da ocorrência a lavrar Termo Circunstanciado, o agente do Poder Público, investido legalmente para intervir na vida da pessoa natural, que atue no policiamento ostensivo ou investigatório173.

A Confederação Nacional do Ministério Público entendeu que: “a expressão

Autoridade Policial, prevista no art. 69 da Lei n. 9.099/95, abrange qualquer autoridade

pública que tome conhecimento da infração penal no exercício do poder de policia174”.

Andréia Cristina Fergitz175 em seu artigo jurídico descreve que:

[...] o conceito de Autoridade Policial é relativo e não absoluto, varia em conformidade com a lei e o ato a ser praticado. Não há que se dizer que o conceito de Autoridade Policial remete tão somente às Polícias civis, militares ou federais, visto que não contempla a pessoa do policial e sim a função que desempenha.

172 MATO GROSSO DO SUL. Tribunal de Justiça. Instrução Normativa n. 05 de 02 de abril de 2004. Implementa, em caráter de experiência-piloto, nas Comarcas de Campo Grande, Dourados, Corumbá e Três Lagoas, a sistematização dos Termos Circunstanciados lavrados por policiais militares a serem encaminhados aos Juizados Especiais Criminais. Disponível em: <http://www.tjms.jus.br/conteudo.php?pg=sistemas/biblioteca/legislacao_direta.php&cod=19873>. Acesso em 25 abr. 2009. 173 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Provimento n. 806/03. Disponível em: http//www.tjsp.jus.br. acesso em: 26 abril 2009. 174 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, jurisprudência, legislação, p. 88. 175 FERGITZ, Andréia Cristina. Policial Militar: autoridade competente para lavratura do termo circunstanciado. Florianópolis 13 set. 2007. Portal da Polícia Militar de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.pm.sc.gov.br/website/redir.php?site=40&act=1&id=2193>. Acesso em: 26 abr. 2009.

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Pedro Aparecido Antunes da Silva entende que:

autoridade decorre do fato de o agente ser policial civil ou militar, rodoviário ou ferroviário Federal atuante na repressão a delitos de natureza penal, comum a Polícia de ordem pública e à Polícia judiciária, devendo este policial encaminhar a ocorrência ao juizado especial, salvo aquelas de autoria desconhecida, própria da repressão imediata, que demandem encaminhamento prévio ao distrito policial para apuração e encaminhamento ao juizado competente176.

Damásio de Jesus leciona que:

[...]. A função de Polícia judiciária, que compreende toda a investigação e produção extrajudicial de provas, é conduzida por Delegado de Polícia de carreira e não policial militar. No caso da Lei n. 9099, contudo não existe função investigatória nem atividade de Polícia judiciária. A lei, em momento algum, conferiu exclusividade da lavratura do Termo Circunstanciado às autoridades policiais, em sentido estrito. Trata-se de um breve, embora circunstanciado, registro oficial da ocorrência, sem qualquer necessidade de tipificação legal do fato, bastando a probabilidade de que constitua alguma infração penal. Não é preciso qualquer tipo de formação técnico-jurídica para se efetuar esse relato. Quanto à requisição de algum exame pericial, poderá ser feita pelo representante do Ministério Público. Seria uma superposição de esforços e uma infringência à celeridade e economia processual sugerir que o policial, tendo lavrado o respectivo talão de ocorrência, fosse obrigado a encaminhá-lo para o Distrito Policial, repartição cujo trabalho se quis aliviar, a fim de que o Delegado, após um período variável de tempo, repetisse idêntico relato, em outro formulário, denominando boletim de ocorrência. O policial militar perderia tempo, tendo de se deslocar inutilmente ao Distrito. O Delegado de policia passaria a desempenhar a supérflua função de repetir registros em outro formulário. O Juizado não teria conhecimento imediato do fato177.

Prossegue o autor178 asseverando que:

A Lei n. 9.099/95, inovando a sistemática até então vigente, adotou o modelo consensual de jurisdição, já existente no ordenamento jurídico dos países mais desenvolvidos, rompendo com os tradicionais dogmas da jurisdição conflitiva seguida pelo CPP, buscando sempre a agilização da prestação jurisdicional para as infrações de diminuto potencial ofensivo, consagrou novos postulados, como a supremacia da autonomia da vontade do acusado ou suspeito, sobre princípios tidos como obrigatórios, como os da ampla defesa e do contraditório. Nessa nova sistemática, os princípios ora aplicáveis são os da informalidade, celeridade e economia processual,

176 SILVA, Pedro Aparecido Antunes da. Conceito extensivo de autoridade policial no contexto da Lei n. 9.099/95. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1171, 15 set. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8927>. Acesso em: 26 abr. 2009. 177 JESUS, Damásio Evangelista de. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 39. 178 JESUS, Damásio Evangelista de. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada, p. 42.

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levando-nos a uma releitura da expressão Autoridade Policial, para seus fins específicos.

Complementa o autor destacando ainda que:

A interpretação mais fiel ao espírito da lei, aos seus princípios e à sua finalidade, bem como a que se extrai da análise literal do texto, é a de que Autoridade Policial, para os estritos fins da Lei comentada, compreende qualquer servidor público que tenha atribuição de exercer o policiamento, preventivo ou repressivo. Se interpretarmos a lei nova sob a ótica do CPP, não resta dúvida de que Autoridade Policial é o Delegado de Polícia (arts. 4º, 6º, 7º, 13, 15, 16, 17, 23, 320, 322 etc.) Se, entretanto, a analisarmos à luz da CF e dos princípios que a informam, encontraremos conceito de maior amplitude, o que atende a finalidade do novo sistema criminal179.

Neste contexto, o conceito extensivo de Autoridade Policial se enquadra a todos os

agentes policiais responsáveis pela segurança pública, no que tange a infração de menor

potencial ofensivo, assim diante o exposto ficou claro que o policial militar atendendo o

disposto na Lei n. 9.099/95, estará proporcionando ao cidadão a certeza de que a lide será

remetida rapidamente ao Juizado Especial Criminal, obedecendo aos princípios da

simplicidade e celeridade do processo.

Mas, seguindo uma corrente contrária Mirabete leciona da seguinte forma:

[...]. O conceito de “autoridade policial” tem seus limites fixados no léxico e na própria legislação processual. Autoridade significa poder, comando, direito e jurisdição, sendo largamente aplicadas na terminologia jurídica as expressões “poder de comando de uma pessoa”, “poder de jurisdição” ou “direito” que se assegura a outrem para praticar determinados atos relativos a pessoa, coisas ou atos. É o servidor que exerce em nome próprio o poder do Estado, tomando decisões, impondo regras, dando ordens, restringindo bens jurídicos e direitos individuais, tudo no limites da lei. Não tem esse poder, portanto, os agentes públicos que são investigadores, escrivães, policiais militares, subordinados que são às autoridades respectivas. [...]. Na legislação processual comum, aliás, só são conhecidas duas espécies de autoridade: a autoridade policial, que é o Delgado de Polícia, e a autoridade judiciária, que é o juiz de Direito. [...]180.

Une-se ao pensamento de Mirabete, Guilherme de Souza Nucci181 entendendo que:

“Autoridade Policial é apenas delegado de polícia, estadual ou federal. Policiais civis ou

militares constituem agentes da autoridade policial. Portanto, o correto é que o termo

circunstanciado seja lavrado unicamente pelo delegado”.

179 JESUS, Damásio Evangelista de. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada, p. 42. 180 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, jurisprudência, legislação, p. 89. 181 NUCCI, Guilherme de Souza; Leis penais e processuais penais comentadas, p. 676.

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4.4 TERMO CIRCUNSTANCIADO

Tendo um fato definido por infração penal, surge para o Estado o jus puniendi, (direito

de punir), que só pode ser concretizado através de processo, desta forma para que seja

proposta ação penal é necessário que o Estado disponha de um mínimo de elementos que

indiquem a ocorrência do ilícito penal e de sua autoria. A ferramenta mais usada, embora não

exclusivo é o Inquérito Policial, que tem por objeto a apuração do fato criminoso e respectiva

autoria para servir a base da ação penal182.

Tendo como alicerce os princípios da informalidade, economia processual e celeridade

os Juizados Especiais Criminais, no art. 69, traz em seu texto legal que, nas causas de sua

competência, como regra se substitua a lavratura do auto de prisão em flagrante e o Inquérito

Policial pela lavratura do Termo Circunstanciado que ficara a cargo da Autoridade Policial,

mas havendo complexidade no fato, no qual necessitar de investigação para caracterização do

crime, não poderá ser elaborado o Termo Circunstanciado, devendo ser instaurado Inquérito

Policial para apurar os fatos183.

4.4.1 Definição de Termo Circunstanciado

Para Ada Pellegrini Grinover “Termo Circunstanciado nada mais é do que um boletim

de ocorrência um pouco mais detalhado184”.

Guilherme de Souza Nucci define com sendo:

É a formalização da ocorrência policial, referente à prática de uma infração de menor potencial ofensivo, em uma peça escrita, contendo dados detalhados tais como data e hora do fato, data e hora da comunicação, local e natureza da ocorrência, nome e qualificação do condutor, com resumo de suas declarações, nome e qualificações de outras testemunhas, com resumo das declarações, se ele quiser prestá-las, indicação dos eventuais exames periciais requisitados, bem como de juntada de informes sobre a vida pregressa do autor185.

Figueiredo Júnior e Lopes em comentários à Lei n. 9.099/95 definem Termo

Circunstanciado como sendo: “[...] uma peça que não precisa se revestir de formalidades

182 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, jurisprudência, legislação, p. 87. 183 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, jurisprudência, legislação, p. 87. 184 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados Especiais Criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995, p. 108. 185 NUCCI, Guilherme de Souza; Leis penais e processuais penais comentadas, p. 677.

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especiais e na qual a Autoridade Policial que tomar conhecimento de infração penal de menor

potencial ofensivo, com autor previamente identificado, registrará de forma sumária as

características do fato [...]186”.

A doutrina é predominante no que tange a definição de Termo Circunstanciado,

dispondo que trata-se de uma peça escrita ou digitada, contendo as informações necessárias

para apuração da infração penal de menor potencial ofensivo.

4.4.2 Elementos do Termo Circunstanciado

A Autoridade Policial que tomar conhecimento da infração penal de menor potencial

ofensivo deve elaborar o Termo Circunstanciado, sendo que este não exige requisitos

formalísticos, mas deve conter elementos que demonstre a existência de um ilícito penal.

Estes elementos devem ser citados de forma sumária, respondendo as seguintes questões:

quem? Que meios? O quê? Por quê? Onde? E quando? Mas isso não impede que o termo seja

preenchido nos espaços em branco de formulários impressos.

A Autoridade Policial tem o dever de constar nos autos, sempre de forma resumida

eventuais declarações de autor, vítima e testemunhas, que ocorrer versões diferentes. Deve

juntar aos autos todos os documentos relacionados à ocorrência, exemplo: algum tipo objeto

apreendido relacionado ao crime, croqui (esboço) do local da infração, especialmente nos

acidentes de trânsito, para pode fornecer os elementos para que o titular da ação penal possa

exercer o seu direito187.

Ismar Estulano Garcia descreve os campos necessários a serem preenchidos para

elaboração do Termo Circunstanciado:

a) Notícia: número da ocorrência, data, horário, ilícito, artigo, pena máxima prevista, espécie de notícia (requerimento, representação, comunicação, jornal, revista, telefonema, reclamação verbal), natureza da ação penal (pública incondicionada, pública condicionada ou privada) e noticiante (nome, local de trabalho e residência). b) Vítima: nome, alcunha, estado civil, nacionalidade, naturalidade, profissão, idade, sexo, registro geral, filiação, local de trabalho e residência. c) Autor do Fato: nome, alcunha, estado civil, nacionalidade, naturalidade, profissão, idade, sexo, registro geral, filiação, local de trabalho, residência e nome do responsável civil. d) Histórico: local do fato, data, horário, dia da semana e outros dados mais. e)

186 FIGUEIREDO JUNIOR, Joel Dias; LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 472. 187 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, jurisprudência, legislação, p. 90.

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Testemunhas: no máximo três, constando nome, estado civil, idade, profissão, local de trabalho e residência. f) Exames Requisitados: de lesão corporal, do local da ocorrência, da arma ou instrumento e outra modalidade de exame possível. g) Informações Complementares: registro de quaisquer dados que a Autoridade Policial entender serem úteis ao magistrado, bem como a relação dos documentos que seguem anexos ao TCO. h) Compromisso de Comparecimento ao Juizado Especial Criminal: na hipótese de não haver encaminhamento imediato, marcar data, horário e local, coletando-se as assinaturas do autor do fato, do responsável civil e da vítima. i) Assinaturas: noticiante e escrivão que lavrou o Termo. J) Despacho: remessa do Termo ao Juizado Especial Criminal, com assinatura da Autoridade Policial188.

O conselho Nacional dos Procuradores Gerais de Justiça decidiu na conclusão número

7 (sete) que: “o Termo Circunstanciado deverá conter, resumidamente, todas as informações

necessárias que permitam ao Ministério Público formar sua opinio delicti (opinião científica

sobre o delito) e exercer suas atribuições previstas na Lei n. 9.099/95, sendo conveniente a

expedição de recomendação pelos Procuradores-Gerais de justiça dos Estados, às respectivas

Secretarias de Segurança Pública, com o propósito de determinar o conteúdo dos termos de

ocorrência189”.

O autor já mencionado leciona que: “[...], a falta de dados, por serem desconhecidos

da autoridade, não impede a elaboração do termo de ocorrência, sendo indispensável apenas o

relato da ocorrência, com suas circunstâncias (dia, hora, local etc.) e a autoria. Há que estar

presente no relato, pelo menos, o fumus boni júris190 no que tange a existência de ilícito penal

(como um atestado ou boletim medico – art. 77, auto de exibição e apreensão etc.191”

Pode ser analisado que o Termo Circunstanciado obedece aos princípios da

informalidade e simplicidade, tendo por elemento principal o registro detalhado dos fatos,

para poder dar ao Ministério público e ao magistrado elementos para que possam identificar

autor e vítima da infração penal.

4.5 TERMO CIRCUNSTANCIADO ELABORADO POR POLICIAL MILITAR

A lavratura do Termo Circunstanciado pela Polícia Militar do Estado de Santa

Catarina teve início no ano de 1999, com a atuação especializada da Polícia Militar 188 GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito: procedimento policial, p. 35 189 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, jurisprudência, legislação, p. 91. 190 Fumus boni júris: Expressão latina que significa ‘fumaça do bom direito’, ou seja, é a presença aparente de uma situação que não foi inteiramente comprovada. Cf. CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Dicionário compacto do direito. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 56. 191 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, jurisprudência, legislação, p. 91.

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Ambiental, em parceria com o Ministério Público Estadual, nas infrações de menor potencial

ofensivo contra o meio ambiente.

A partir dos bons resultados obtidos e da ampla aceitação por parte da população e do

Poder Judiciário e do Ministério Público, começou um trabalho no Estado de Santa Catarina

de expansão da lavratura do Termo Circunstanciado para todas as unidades da Polícia Militar.

Em 26 de setembro de 2007, o então Governador do Estado de Santa Catariana, Luiz

Henrique da Silveira, assinou o Decreto n. 660, que estabelece diretriz para a integração dos

procedimentos a serem adotados pelos Órgãos da Segurança Pública, na Lavratura do Termo

Circunstanciado, o referido Decreto determina em seu art. 1º 192que o termo deva ser lavrado

na Delegacia de Polícia, caso o cidadão a esta recorra, ou no próprio local da ocorrência pelo

Policial Militar, com este ato o Governo do Estado de Santa Catarina regulamentou a matéria.

Agnaldo Edson Ramos Ferreira descreve sobre o tema o seguinte entendimento:

Na definição da competência para lavratura do Termo Circunstanciado, deve ser observada a distinção entre o procedimento comum e o estabelecido pela Lei 9099/95, para as infrações de pequeno potencial ofensivo. O Inquérito Policial e o Termo Circunstanciado possuem peculiaridades distintas, enquanto o IP busca informações precisas para identificar a infração penal e confirmar a autoria, o TC relata o histórico da ocorrência e identifica o fato e as pessoas envolvidas. A Polícia militar não está invadindo a missão constitucional da Polícia civil, pois os princípios e rito processual são diferentes. [...]. O combate à criminalidade e a impunidade exigem atuação dinâmica de todos os órgãos da Segurança Pública. A lavratura do Termo Circunstanciado por policial militar está em consonância com os princípios aplicáveis a Lei 9099/95, minimiza a burocracia e diminui a demanda da Polícia civil, ou seja, à apuração de infrações penais de maior gravidade193.

A matéria em tela, ta sendo constantemente abordada por Ações Direta de

Inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal, o partido político PSL (partido

Social Liberal) ajuizou perante a Suprema Corte Ação Direta de Inconstitucionalidade, n.

2.618-PR, questionando a competência do policial militar para lavratura de Termo

192 Art. 1º O Termo Circunstanciado deverá ser lavrado na delegacia de polícia, caso o cidadão a esta recorra, ou no próprio local da ocorrência pelo policial militar ou policial civil que a atender, devendo ser encaminhado ao Juizado Especial, nos termos do art. 69 da Lei Federal nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Cf. SANTA CATARINA. Decreto-Lei n. 660, de 26 de setembro de 2007. Estabelece diretriz para a integração dos procedimentos a serem adotados pelos órgãos da Segurança Pública, na lavratura do Termo Circunstanciado, conforme previsto no art. 69 da Lei Federal n° 9.099, de 26 de setembro de 1995. Disponível em: <http://www.feneme.org.br/painel.php?mod=topico&id=8>. Acesso em: 28 abr. 2009. 193 FERREIRA. Agnaldo Edson Ramos. TCO: competência do policial militar para lavratura do TC. 02 de julho de 2007. Disponível em: <http://www.pm.se.gov.br/pm.php?var=1216246294>. Acesso em 11 maio 2009.

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Circunstanciado, a Egrégia casa pacificaram a questão, por unanimidade, com a seguinte

decisão:

É de se concluir, pois, que a presente ação direta de constitucionalidade não pode ser conhecida. No concernente ao mérito, também, não assiste razão ao partido requerente, porquanto inexiste afronta ao art.22, inciso I, da Constituição Federal, visto que o texto impugnado não dispõe sobre direito processual ao atribuir à Autoridade Policial militar competência para lavrar Termo Circunstanciado a ser comunicado ao juizado especial. Não se vislumbra, ainda, nem mesmo afronta ao disposto nos incisos IV e V e §§ 4º e 5º, do art. 144, da Constituição Federal, em razão de não estar configurada ofensa à repartição constitucional de competências entre Polícias civis e militares, além de tratar, especificamente de segurança nacional194.

O Partido da República (PR) ajuizou perante o Supremo Tribunal Federal Ação Direta

de Inconstitucionalidade, n. 2.862-SP, contra atos normativos do Estado de São Paulo que

atribuíram à Polícia Militar a possibilidade de elaborar Termos Circunstanciados. O Ministro

Cezar Peluso em seu voto relatou que:

[...], ainda que, para argumentar, se pudesse ultrapassar o plano de estrita legalidade, não veria inconstitucionalidade alguma, uma vez que, na verdade, não se trata de ato de Polícia judiciária, mas de ato típico da chamada Polícia ostensiva e de preservação da ordem pública de que trata o § 5º do artigo 144, atos típicos do exercício da competência própria da Polícia militar, e que está em lavrar boletim de ocorrência e, em caso de flagrante, encaminhar o autor e as vítimas à autoridade, seja policial, quando seja o caso, seja judiciária, quando a Lei prevê195.

No ano de 1999, o Corregedor-Geral da Justiça do Estado de Santa Catarina, o

Desembargador Francisco José Rodrigues de Oliveira Filho usando de suas atribuições editou

o provimento 04/99, que em seu art. 2º permitiu aos Magistrados conhecerem o Termo

Circunstanciado elaborado por policial militar. Vejamos:

Art. 2º. Ressalvando o parágrafo único do art. 4º do código de processo penal, a atividade investigatória de outras autoridades administrativas, ex vi do art. 144, parágrafo 5º, da Constituição da República, nada obsta, sob o ângulo correcional, que os Exmos. Srs. Drs. Juízes de Direito ou Substitutos conheçam de “Termos Circunstanciados” realizados, cujo o trabalho tem

194 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Ação Direta de Inconstitucionalidade. ADI 2618-PR. Relator. Ministro Carlos Veloso. 12/08/04. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=ADI-AgR-AgR.SCLA.+E+2618.NUME.&base=baseAcordaos>. Acesso em: 12 maio 2009. 195 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Ação Direta de Inconstitucionalidade. ADI 2862-SP. Relator. Ministra Carmen Lúcia. Voto. Ministro Cezar Peluso. 26/03/2008. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/753628/acao-direta-de-inconstitucionalidade-adi-2862-sp-stf>. Acesso em: 12 maio 2009.

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também caráter preventivo, visando assegurar a ordem pública e impedir a prática de ilícitos penais196.

O referido provimento nos seu art. 1º já mencionada no item 4.3 e seu art. 2º, que

designaram policiais militares para lavrar Termo Circunstanciado, gerou uma Ação Direta de

Inconstitucionalidade proposta pela Associação dos Delgados de Polícia do Brasil, no qual

alegaram ofensa aos §§ 4º e 5º do art. 144 da Constituição Federal, o Ministro Eros Grau

decidiu pelo arquivamento da ADI n. 3.954-SC, argumentando que:

Não conheço da ação direta no tocante ao provimento n. 04/99 do Corregedor-Geral do Estado de Santa Catarina. O ato tem nítido caráter regulamentar. Há expressa referência ao art. 69 da Lei n. 9.099/95 e ao parágrafo único do art. 4 do CPP. Assim, eventuais excessos nela contidos configuram ilegalidade, [...]197.

Andréia Cristina Fergitz Cadete da Polícia Militar descreve em seu texto que:

Na definição da competência para lavratura do Termo Circunstanciado, deve ser observada a distinção entre procedimento comum e o estabelecido pela Lei n. 9.099/95 para a persecução das infrações de menor potencial ofensivo. Os princípios e rito processual são diferenciados. Neste contexto, Inquérito Policial e o Termo Circunstanciado possuem peculiaridades distintas, enquanto o primeiro busca informações precisas para identificar a infração penal e confirmar o possível autor, o segundo transcreve o histórico da ocorrência e identifica o fato e as pessoas envolvidas198.

A citada autora salienta ainda que: “a lavratura do Termo Circunstanciado por policial

militar está em consonância com os princípios aplicáveis a Lei n. 9.099/95, minimiza a

burocratização e diminui a demanda da Polícia civil, que poderá apresentar maior dedicação

na função essencial de Polícia judiciária, ou seja, a apuração de infrações penais de maior

gravidade199.

196 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Provimento 04 de 15 de janeiro 1999. Francisco José Rodrigues de Oliveira Filho. Disponível em: http//www.tjsc.jus.br. acesso em 25 abril de 2009. 197 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Ação Direta de Inconstitucionalidade. ADI n. 3954-SC. Relator. Ministro Eros Grau. 03/03/2009. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=(3954.NUME.%20OU%203954.DMS.)%20NAO%20S.PRES.&base=baseMonocraticas>. Acesso em: 12 maio 2009. 198 FERGITZ, Andréia Cristina. Policial Militar: autoridade competente para lavratura do termo circunstanciado. Florianópolis 13 set. 2007. Portal da Polícia Militar de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.pm.sc.gov.br/website/redir.php?site=40&act=1&id=2193>. Acesso em: 26 abr. 2009. 199 FERGITZ, Andréia Cristina. Policial Militar: autoridade competente para lavratura do termo circunstanciado. Florianópolis 13 set. 2007. Portal da Polícia Militar de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.pm.sc.gov.br/website/redir.php?site=40&act=1&id=2193>. Acesso em: 26 abr. 2009.

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É pertinente destacar que a matéria Termo Circunstanciado lavrado por policial

militar, esta pacificada por unanimidade na Corte Suprema do país, como já mostrado acima

nas ADI ajuizadas perante o Supremo Tribunal Federal, a referida matéria também já foi tema

na sexta turma do Superior Tribunal de Justiça, que em julgamento do habeas corpus n.

7.199-PR, decidiu por unanimidade que:

Nos casos de prática de infração penal de menor potencial ofensivo, a providência prevista no art. 69, da Lei n. 9.099/95, é da competência da Autoridade Policial, não consubstanciando, todavia, ilegalidade a circunstância de utilizar o Estado o contingente da Polícia militar, em face da deficiência dos quadros da Polícia civil200.

No ano de 2000 a Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná,

através do Provimento n.34, de 28 de dezembro de 2000, formulou que:

A Autoridade Policial, Civil ou Militar, que tomar conhecimento da ocorrência, lavrará Termo Circunstanciado, comunicando-se com a secretaria do juizado especial para agendamento da audiência preliminar, com intimação imediata dos envolvidos201.

Corroborando com esse entendimento, o Tribunal de Justiça de Santa Catariana em

julgamento de Habeas Corpus entendeu que:

Para procedimento penal previsto na Lei n. 9.099/95, especifico na persecução aos crimes de menor potencial ofensivo, na adequada interpretação ampliativo-sistemática da regra do art. 69, da Lei n. 9.099/95, o policial militar, como Autoridade Policial, pode lavrar Termo Circunstanciado, sem exclusão de idêntica atividade do Delegado de Polícia, ou servidor competente202

Seguindo a mesma corrente o Ministério Público do Estado de Santa Catarina,

juntamente com a Secretaria de Estado da Segurança Pública, Polícia Militar e

Superintendência da Polícia Rodoviária Federal de Santa Catariana, implantaram o Termo de

Cooperação para ações integradas contra a violência no trânsito, que no item 6, do anexo 1

esta expresso que:

200 BRASIL Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus. HC 7199-PR. Relator: Ministro Vicente Leal. 28/09/1998. Disponível em: http///www.stj.jus.br. Acesso em: 12 maio 2009. 201 PARANÁ. Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Estado do. Provimento n. 34, de 28 de dezembro de 2000. Disponível em: http://www.tj.pr.jus.br. Acesso em: 15 maio 2009. 202 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. HC 00.002909-2. Relator Desembargador Nilton Macedo Machado. 18/04/2000. Disponível em: <http://tjsc6.tj.sc.gov.br/jurisprudencia/PesquisaAvançada.do>. Acesso em: 13 maio 2009.

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Será lavrado Termo Circunstanciado – TC em todas as condutas típicas que constituírem infração penal de menor potencial ofensivo, ou seja, nos crimes em que a Lei comine pena máxima não superior a 2 (anos), ou multa (Lei Federal nº 10.259, de 12 de julho de 2001, art. 2º parágrafo único), tanto em relação as condutas previstas no CTB, quanto em relação aquelas previstas no CP, na LCP e outras leis a ser elaborado pelas Polícias civil, militar e Rodoviária Federal, as quais o encaminharão, incontinente a Juízo, após os devidos registros203.

Desta forma, esse entendimento esta criando força e se espalhando por vários Estados

do Brasil, no Rio Grande do Sul um dos Estados pioneiros nesta implantação, em uma ação

conjunta entre a Chefia de Polícia Civil e o Comandante-Geral da Brigada Militar, instituíram

a Instrução Normativa n. 01/2006204, definindo que “Todo policial, civil ou militar, é

competente para lavrar o Termo Circunstanciado previsto no artigo 69 da Lei nº 9.099, de 26

de setembro de 1995”.

A Cadete da Polícia Militar Andréia Cristina Fergitz descreve sobre as vantagens

decorrentes da lavratura do Termo Circunstanciado pelo policial militar, ou seja:

Uma das maiores preocupações da sociedade brasileira é a segurança pública. É visto que o embrião dos delitos de maior gravidade é a impunidade das infrações de menor potencial ofensivo. Neste sentido, a lavratura do Termo Circunstanciado pelo policial militar surge como uma ferramenta de cidadania, visto que só irá trazer benefícios a população205.

Salienta ainda a referida autora que as infrações penais de menor potencial ofensivo,

em razão, sobretudo da falta de efetivo nas Delegacias da Polícia Civil, deixava de ser

registrada e coibida. “Este risco passa a ser minimizado com a atuação da Polícia militar, que

possui efetivo disponível em quantidade superior e com condições de prestar um verdadeiro

atendimento em domicílio206”.

Ada Pellegrini Grinover, assevera que “[...] qualquer autoridade policial poderá ter

conhecimento do fato que poderia configurar, em tese, infração penal. Não somente a Polícia

203 SANTA CATARINA. Ministério Público. Termo de Cooperação para Implemento de Ações Integradas contra a Violência no Trânsito. 04/01/2001, item 6, do anexo 1. Disponível em: <http://www.pm.sc.gov.br>. Acesso em: 13 maio 2009. 204 RIO GRANDE DO SUL. Instrução Normativa Conjunta n. 01/2000, do Chefe de Polícia Civil e do Comandante Geral da Brigada Militar. Disponível em: <http///www.políciaesegurança.cm.br>. Acesso em: 13 maio 2009. 205 FERGITZ, Andréia Cristina. Policial Militar: autoridade competente para lavratura do termo circunstanciado. Florianópolis 13 set. 2007. Portal da Polícia Militar de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.pm.sc.gov.br/website/redir.php?site=40&act=1&id=2193>. Acesso em: 26 abr. 2009. 206 FERGITZ, Andréia Cristina. Policial Militar: autoridade competente para lavratura do termo circunstanciado. Florianópolis 13 set. 2007. Portal da Polícia Militar de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.pm.sc.gov.br/website/redir.php?site=40&act=1&id=2193>. Acesso em: 26 abr. 2009.

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Federal e Civil, que tem função institucional de Polícia Judiciária da União e dos Estados (art.

144, § 1º, inc. IV, e § 4º), mas também a Polícia Militar207”.

Seguindo um entendimento contrário, Tourinho Filho salienta o seguinte: “[...]. Na

hipótese em análise, a lei não as atribuiu à polícia militar; sendo assim, parece-nos que o

Termo Circunstanciado a que se refere o art.69 da lei em estudo é da exclusiva alçada da

polícia civil208”.

Destaca ainda o mencionado autor que:

Se pudesse ser, também, função integrante da Polícia Militar, surgiriam dois inconvenientes: no caso de o Promotor desejar maiores esclarecimentos, obviamente seriam estes requisitados daquele que tomou conhecimento da ocorrência, ou seja, o Policial Militar, o que não parece lógico. Ademais, ainda que fosse, poderia o Ministério Público exercer o controle externo da atividade policial militar, indo ao quartel saber, por exemplo, se as ocorrências atendidas foram ou não objetos de Termo Circunstanciado, tal como permitido pelo art. 129, VII, da Carta Política. Os Juízes, também, passariam a exercer as funções de corregedores da Polícia Militar, o que seria um disparate209.

Para juristas como Julio Fabbrini Mirabete, José Afonso da Silva e Evaristo de Morais

filho, acompanham o entendimento de Tourinho, afirmando que apenas a Polícia Civil pode

Desempenhar a função de Polícia Judiciária.

Já para Ismar Estulano Garcia “[...] pouco importa que o encarregado da lavratura do

termo seja policial civil, policial militar ou qualquer outro servidor público. O que importa é a

informalidade para possibilitar a celeridade, alcançando-se os objetivos pretendidos pela Lei

n. 9.099/95210”.

Não reside nenhuma dúvida que a lavratura do Termo Circunstanciado possa ser feito

por Policial Militar, pois proporciona a celeridade dos atendimentos policiais, visando um

bom atendimento ao cidadão.

Diante exposto, deu-se por encerrado o terceiro capítulo do presente trabalho

monográfico.

207 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados Especiais Criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995, p. 108. 208 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Criminais, p. 76. 209 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Criminais, p. 76. 210 GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito: procedimento policial, p. 245.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Termo Circunstanciado, desde sua implantação pela Lei 9.099/95, sempre foi

elaborado pela Polícia Civil, em vista da previsão do art. 144 parágrafo 4º da Constituição

Federal que lhe atribuí a função de Polícia Judiciária, auxiliar do Poder Judiciário.

Conforme a pesquisa bibliográfica, a necessidade de uma prestação jurisdicional mais

eficaz unida à falta de efetivo na polícia civil, levou a uma parceria entre o Ministério Público

do Estado de Santa Catarina com a Polícia Militar Ambiental, a elaborar os Termos

Circunstanciados nesta área, pela ocorrência maiúscula do cometimento de crimes.

O Termo Circunstanciado elaborado pela polícia Ambiental teve grande êxito, em face

dos ótimos resultados obtidos e da ampla aceitação por parte da comunidade e dos órgãos do

Poder Judiciário e do Ministério Público, que serviu de base para o trabalho de expansão da

lavratura do Termo Circunstanciado para toda a corporação da Polícia Militar do Estado de

Santa Catarina. Esse trabalho de expansão teve também como modelo outros Estados da

Federação, que adotaram esse sistema e tiveram grandes resultados.

Com a confecção do TC pela Polícia Militar, começou a surgir questionamento sobre a

expressão Autoridade Policial, que esta prevista no Art. 69 da Lei 9.099/95, sendo que muitos

afirmavam que o policial militar não poderia ser considerado autoridade competente para

lavratura do Termo circunstanciado, pois estava ferindo o art.144 parágrafo 4º da Constituição

Federal, que tal função só caberia ao Delegado de Polícia.

Grande maioria dos doutrinadores se posicionou dizendo que para fins do art. 69 da

Lei 9.099/95 o policial militar pode ser considerado Autoridade Policial, tendo em vista, que

o Termo Circunstanciado é uma peça escrita, contendo as declarações da vítima, autor e

Testemunhas, resumindo e um mero relato verbal posto a termo, não necessitando de nenhum

tipo de investigação.

O tema em tela foi matéria de discussão no Supremo Tribunal Federal, sendo que por

unanimidade consideraram constitucional a elaboração do Termo Circunstanciado Pela

Polícia Militar, importa destacar que a jurisprudência sobre o tema já está pacificada em

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vários Tribunais de Justiça do Brasil, evidenciando que também o policial militar é autoridade

competente para a lavratura do Termo Circunstanciado.

Assim, verifica-se, que o Termo Circunstanciado confeccionado pela Polícia Militar,

diminuirá a carga de serviço da Polícia Civil, podendo esta a se dedicar mais as ações de

polícia judiciárias que requerem investigações mais apuradas para elucidação de crimes de

maior complexidade.

Observou-se, portanto, que policial militar ao lavrar o Termo Circunstanciado atende

aos princípios da celeridade e simplicidade que estão elencados na Lei 9.099/95, vindo a

proporcionar ao cidadão uma redução da sensação de impunidade e uma certeza de que a lide

será submetida rapidamente ao Juizado Especial Criminal.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ARAUJO, Sergio Luiz Souza. Teoria Geral do Processo Penal. Belo horizonte: Del Rey, 1999.

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______. Decreto n. 660, de 26 de setembro de 2007. Estabelece diretriz para a integração dos procedimentos a serem adotados pelos órgãos da Segurança Pública, na lavratura do Termo Circunstanciado, conforme previsto no art. 69 da Lei Federal n° 9.099, de 26 de setembro de 1995. Disponível em: <http://www.feneme.org.br/painel.php?mod=topico&id=8>. Acesso em: 28 abr. 2009.

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______. Procuradoria Geral do Estado. Parecer 229/02. Reconhece que a autoridade policial a que se refere o Art. 69 da Lei n. 9.099/95 é o policial civil ou militar, além de

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considerar que a lavratura do Termo Circunstanciado não é ato de polícia judiciária. Disponível em: <http://www.policiaesegurança.com.br/pgesc.htm>. Acesso em: 25 abr. 2009.

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ANEXOS

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DECRETO No 660, de 26 de setembro de 2007 Estabelece diretriz para a integração dos procedimentos a serem adotados pelos órgãos da Segurança Pública, na lavratura do Termo Circunstanciado, conforme previsto no art. 69 da Lei Federal n° 9.099, de 26 de setembro de 1995.

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA , usando da

competência privativa que lhe confere o art. 71, incisos I e III, da Constituição do Estado,

D E C R E T A:

Art. 1º O Termo Circunstanciado deverá ser lavrado na delegacia de polícia, caso o cidadão a esta recorra, ou no próprio local da ocorrência pelo policial militar ou policial civil que a atender, devendo ser encaminhado ao Juizado Especial, nos termos do art. 69 da Lei Federal nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.

§ 1º Para os casos de infração penal de menor potencial ofensivo, cuja

lavratura do Termo Circunstanciado se revista de maior complexidade, ou que necessitem de expedição de carta precatória para posteriores diligências, as partes devem ser conduzidas à Delegacia de Polícia.

§ 2º Nos casos em que houver a necessidade de retirar do local os envolvidos

na infração penal de menor potencial ofensivo, a fim de preservar-lhes a integridade física, ou ainda objetivando a pacificação do conflito, estes devem ser conduzidos às Delegacias de Polícia ou, em caso de impedimento, a outro local adequado, ficando vedada a criação de cartório e a condução para o interior dos Quartéis da Polícia Militar, para a lavratura do Termo Circunstanciado.

§ 3º Havendo requisição de diligências complementares por parte do Poder

Judiciário ou do Ministério Público para fatos atinentes a infração penal de menor potencial ofensivo, comunicado ao Juizado por meio de Termo Circunstanciado, caberá à Polícia Civil assim proceder, salvo quando por razões técnicas a instituição requisitante o fizer diretamente à Polícia Militar.

Art. 2º A Polícia Militar lavrará Boletim de Ocorrência na modalidade de

Comunicação de Ocorrência Policial, nos casos em que não se configure a situação de flagrância, devendo encaminhar a Polícia Civil, para a devida apuração da infração penal, no primeiro dia útil após o registro.

Art. 3º O Instituto Geral de Perícias receberá as requisições de Exames

Periciais emitidas, providenciando os exames e respectivos Laudos Periciais e encaminhando para o órgão que o requisitou.

Art. 4º É vedado à Polícia Militar praticar quaisquer atos de Polícia Judiciária,

dentre os quais apuração de infrações penais, pedidos de mandados de busca e apreensão, interceptação telefônica, escuta de ambiente e representações de prisões temporárias e preventivas, bem como, cumprimento de mandados de busca e apreensão, exceto, neste caso, por determinação judicial.

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Art. 5º É vedado à Polícia Civil executar ações de polícia ostensiva de preservação da ordem pública, privativas da Polícia Militar, exceto em operações conjuntas.

Art. 6º Fica criada comissão presidida pelo Diretor de Integração e composta por 2 (dois) integrantes da Polícia Militar e 2 (dois) da Polícia Civil, indicados pelo Comandante-Geral e pelo Delegado-Geral da Polícia Civil, respectivamente, para no prazo de 60 (sessenta dias), elaborar e apresentar projeto de implantação de boletim de ocorrência e banco de dados policial unificados, regulamentado por portaria do Secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa do Cidadão.

Art. 7º Os casos omissos e conflitantes serão regulados por atos do Secretário

de Estado da Segurança Pública e Defesa do Cidadão. Art. 8º O disposto neste Decreto não se aplica aos crimes militares. Art. 9º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Florianópolis, 26 de setembro de 2007

LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA

Governador do Estado