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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
UM ESTUDO SOBRE O AMOR: Diálogos entre Sigmund Freud e
Erich Fromm
DANIEL DAVID DALFOVO
Itajaí, (SC) 2009
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DANIEL DAVID DALFOVO
UM ESTUDO SOBRE O AMOR: diálogos entre Sigmund Freud e
Erich Fromm
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do titulo de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí
Orientadora: Profa. Dra. Josiane da Silva Delvan da Silva.
Itajaí SC, 2009
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2
Dedico o presente trabalho àqueles que se
aventuram na descoberta do saber e do
autoconhecimento. Também aos que se
empenham no desenvolvimento da arte de amar.
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AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos se estendem a todos que direta ou indiretamente
contribuíram em minha caminhada e na construção do conhecimento até a
concretização do presente trabalho de conclusão de curso.
Agradeço primeiramente aos meus pais por me proporcionarem a
oportunidade de realização do curso de psicologia, bem como me incentivarem na
busca pelo conhecimento.
A todos os professores que fizeram parte da construção e da apropriação
do conhecimento psicológico ao longo do curso.
Ao Prof. Msc. Aurino Ramos Filho, pelas enriquecedoras conversas durante
a elaboração do projeto do presente trabalho.
À Profa. Dra. Josiane da Silva Delvan da Silva, por me orientar e incentivar
no desenvolvimento dessa pesquisa, ajudando-me a superar as dificuldades nela
encontradas.
À Profa. Msc. Daisy Ligia Santos Domingues e ao Prof. Msc. Evandro
Fernandes Alves, pela disponibilidade e gentileza ao aceitarem o convite para
fazerem parte da banca avaliadora, podendo assim contribuir para a melhoria
deste trabalho.
E aos meus amigos e colegas de curso que durante muitas horas de
conversa e discutições, possibilitaram uma rica troca de conhecimentos ao longo
do curso.
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SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................ 5
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 6
2 EMBASAMENTO TEÓRICO ............................................................................... 9
2.1 Breve biografia de Sigmund Freud ........................................................ 9
2.2 Breve biografia de Erich Fromm ........................................................... 12
2.3 O conceito de amor em Sigmund Freud .............................................. 14
2.4 O conceito de amor em Erich Fromm .................................................. 17
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 22
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................ 25
4.1 Diferenças e semelhanças entre Freud e Fromm na concepção do
amor....................................................................................................................... 25
4.2 A perspectiva dos estudos atuais sobre o amor .................................. 31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 37
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 40
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TÍTULO DA MONOGRAFIA
Orientador: Josiane da Silva Delvan da Silva Defesa: Novembro de 2009.
Resumo: O presente trabalho de conclusão de curso teve como objetivo geral investigar o amor na abordagem
psicanalítica a partir de Sigmund Freud e Erich Fromm, buscando desenvolver diálogos entre estes dois autores a cerca do amor, pontuando as aproximações e os distanciamentos conceituais identificados através da
leitura e análise de suas obras, como primeiro objetivo específico. O segundo objetivo específico foi verificar
como o amor é conceituado nas publicações atuais. O tipo de pesquisa escolhida para atender os objetivos do
estudo foi a bibliográfica de abordagem qualitativa. A análise da literatura nos indicou que Fromm concebe o
amor como uma arte, ou seja, como uma atitude perante a vida, que não terá, dessa forma, caráter de
exclusividade. Ao contrário da percepção de Freud acerca do tema, que identifica este como o depósito da
libido em um objeto, associando-o a aspectos pulsionais que estão a serviço de um ideal narcísico perdido. Ao
analisarmos os estudos atuais acerca do amor, percebemos que a configuração dos vínculos afetivo-amorosos
vem sofrendo grandes transformações na atualidade, na qual a lógica consumista – uso e descarte - tem-se
aplicado também às relações amorosas, valorizando-se a troca rápida de parceiros acima da manutenção dos
relacionamentos. Deste modo, vivemos numa sociedade em que as relações são líquidas e os laços amorosos são fracos. Estas mudanças tiveram impacto também na clínica psicanalítica, sendo que a mesma tem a
transferência como peça fundamental para sua realização, ou seja, necessita de um vínculo duradouro em que
o analisando deposita sua libido e confiança na figura do analista, que só assim poderá direcionar essa libido
possibilitando o processo psicanalítico.
Palavras-chave:.amor, psicanálise, transferência, relações amorosas.
Sub-Área de concentração – 7.07.01.01-6 - História, Teorias e Sistemas em Psicologia. Membros da Banca
______________________________________ Prof
a. Msc. Daisy Ligia Santos Domingues
______________________________________ Prof. Msc. Evandro Fernandes Alves
________________________________________
Profa. Dr
a. Josiane da Silva Delvan da Silva
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1 INTRODUÇÃO
A escolha deste tema deu-se devido à importância que o amor tem na vida
das pessoas enquanto experiência humana elementar, sendo este buscado e
expresso por meio das relações cotidianas, bem como através de músicas, filmes
e livros. O amor, então, faz parte da vida das pessoas e é força atuante na
sociedade.
As formas de relacionar-se, inclusive amorosamente, sofreram e continuam
sofrendo grandes transformações em nosso tempo, principalmente com o advento
das novas tecnologias. Estamos vivendo numa sociedade marcada pelo
consumismo, por uma cultura de narcisismo em que se valoriza o individualismo e
onde as relações são fluidas e os laços afetivos fracos.
Existem diversas formas de concepção do amor, porém nesse trabalho
tomaremos como base Sigmund Freud e Erich Fromm, buscando explorar suas
concepções acerca do tema, sendo que esse também tem grande relevância na
teoria psicanalítica.
O amor na clínica psicanalítica também é chamado de transferência e é
peça fundamental para que o processo terapêutico psicanalítico possa acontecer.
Ele unifica o laço entre o paciente e o analista, que através da potência do amor
explora o inconsciente do primeiro, dando possibilidade de o tratamento acontecer
(BRITO; BESSET, 2008).
Porém Freud, através de sua metapsicologia do amor, enfatiza o caráter
repetitivo e regressivo deste, dizendo que por sua natureza narcísica, o amor
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7
aspira um reencontro impossível com os primeiros objetos introjetados da criança
(LEJARRAGA, 2002).
A partir da leitura da obra “A arte de amar” de Erich Fromm (1991), nos
deparamos com uma concepção de amor ímpar, na qual o amor é visto como uma
arte, que precisa ser aprendida na teoria e desenvolvida na prática, necessitando
de conhecimento, disciplina e esforço, entre outras coisas, como em qualquer arte,
para que se possa obter êxito em sua prática, até que se torne algo natural no ser
humano.
Percebemos que o amor para Freud era peça fundamental na compreensão
dos casos clínicos da doença de sua época – a histeria (PAZ, 2009). Nos tempos
de Fromm (1991), este foi visto como um fenômeno em desintegração, mas de
extrema importância na vida e na saúde das pessoas. Nos dias atuais, o amor
continua sendo tema importantíssimo para a compreensão dos seres humanos e
seus relacionamentos afetivos, pois a queixa de dificuldades de relacionamento na
vida das pessoas é cada vez mais freqüente (RIOS, 2008).
O presente trabalho de conclusão de curso consiste em uma pesquisa
bibliográfica e tem como objetivo geral investigar o amor na abordagem
psicanalítica a partir de Sigmund Freud e Erich Fromm, buscando desenvolver
diálogos entre estes dois autores a cerca do amor, pontuando as aproximações e
os distanciamentos conceituais identificados através da leitura e análise de suas
obras.
Em seu livro “A arte de amar”, Fromm (1991) desenvolve um capítulo com o
título “O amor e sua desintegração na sociedade ocidental contemporânea”, em
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que discorre acerca do tema por meio de uma visão dialética entre psicanálise e
marxismo, da sociedade de sua época1.
Partindo dessa análise feita por Fromm sobre o amor no contexto de sua
época, pensamos ser de grande relevância para nossa pesquisa analisar
igualmente como se dá o amor na atualidade, tendo visto que, o fenômeno do
amor e sua concepção, sofrem mudanças de acordo com as mudanças no
contexto sócio-histórico-cultural (GUEDES; ASSUNÇÃO, 2006). Assim traçamos
nosso segundo objetivo específico que é verificar como o amor é conceituado nas
publicações atuais.
Diante disto, convidamos o leitor a pensar sobre a relevância da temática
do amor na formação e atuação de psicólogos como promotores de saúde e
qualidade de vida. Esperamos deste modo, que as explanações sobre o amor,
possibilitem seu maior conhecimento, ajudando na quebra do tabu sobre o tema
no meio científico, bem como contribua para o desenvolvimento de novos
trabalhos.
1 O livro “A arte de amar” teve sua primeira edição em 1956.
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2 EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1 Breve biografia de Sigmund Freud
Os seguintes apontamentos biográficos estão fundamentados na obra
“Freud: uma vida para nosso tempo” (1989), de Peter Gay2, que é um grande
historiador e estudioso da vida de Freud, sendo que sua obra caracteriza-se como
a mais completa sobre a vida desse grande homem que ousou pensar
radicalmente a cultura ocidental.
Sigmund Freud nasceu em 06 de maio de 1856, na pequena vila de
Freiberg, na Morávia. Primogênito de outros sete filhos advindos do terceiro
casamento do comerciante de tecidos judeu Jacob Freud com Amalia
Nathansohn, uma jovem e bela mulher que era vinte anos mais jovem que seu
marido.
Jacob e Amalia eram pobres e moravam numa peça de uma modesta casa
alugada onde Freud nasceu. Em 1859 mudaram-se para Leipzig e, no ano
seguinte, foram morar em Viena, na Áustria. Apesar de Freud expressar
fortemente seu desgosto por Viena, foi ali que ele se instalou e ficou.
Freud desde sua adolescência já demonstrava grande atração pela leitura e
brilhantismo nos estudos – características reforçadas pelos pais que prediziam
grandes conquistas para seu futuro - tendo sido durante sete anos o primeiro
aluno da classe na escola que freqüentou de 1865 a 1873.
2 Nascido em Berlim em 1923, é professor de história na universidade de Yale.
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Nesse mesmo ano, Freud iniciou seus estudos universitários no curso de
medicina da faculdade de Viena, tendo mudado sua opção de curso que uns anos
antes havia sido pelo curso de direito. Freud demonstrava-se muito curioso pelos
mistérios da vida humana, tendo sido um grande admirador de Charles Darwin3.
Por meio da atração pelas ciências naturais que Freud decidiu-se por estudar
medicina.
Embora Freud tenha iniciado sua vida acadêmica com apenas 17 anos,
terminou-a em 1881, quando já tinha 25 anos. Devido a sua imensa curiosidade e
suas preocupações com a pesquisa, bem como um ano de serviço militar
obrigatório, Freud não se formou no prazo usual de cinco anos. Durante seus anos
de universitário dedicou-se bastante à filosofia tendo Ludwig Feuerbach4 como
seu filósofo mais admirado.
No período entre 1876 e 1882, Freud trabalhou no laboratório de fisiologia
de Ernest Brücke5, desenvolvendo pesquisas e desvendando os quebra-cabeças
do sistema nervoso humano juntamente com seu adorado mestre. Foi através do
círculo de Brücke, figura importantíssima na vida de Freud, que este veio a
conhecer um amigo cuja participação seria decisiva na formação da psicanálise,
Josef Breuer6.
Em 1882 Freud deixa de trabalhar com Brücke, por necessidades
financeiras, e passa a assumir um posto subalterno no Hospital Geral de Viena -
onde ficou três por anos -, depois de ter-se apaixonado e noivado com Martha
3 (1809 – 1882). Naturalista inglês que desenvolveu a teoria da evolução das espécies.
4 (1804 – 1872). Filósofo alemão, foi aluno de Hegel.
5 (1819 – 1892). Grande neurologista Alemão.
6 (1842 – 1925). Médico e fisiologista vienense, escreveu dois livros em parceria com Freud.
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11
Bernays7. Ficaram noivos por quatro anos, vindo a casar-se apenas em 1886,
devido às impossibilidades financeiras.
Em 1885, Freud consegue uma bolsa de seis meses para Paris, onde
conhece Jean Martin Charcot8, com quem se impressionou diante de seções de
sugestão hipnótica em que o paciente era curado de paralisias histéricas, e por
quem passou a ter também grande admiração. A hipnose não era nova para Freud
nessa época, mas era impressionante e gratificante ver como Charcot confirmava
sua eficácia, condenada pela comunidade médica.
Por anos, Freud e Breuer desenvolveram uma importante amizade e
discutiam os casos dos pacientes de Breuer. Ele então adota os métodos de
Breuer – a hipnose e a catarse – no tratamento de seus pacientes. Porém,
insatisfeito com a hipnose como método, desenvolve a técnica mais significativa
da psicanálise – a livre associação.
Em 1895 foram publicados os “Estudos sobre a histeria”, embora seu
primeiro caso relatado – o histórico encontro de Breuer e “Anna O.” – tem data de
1880. O que levou Freud mais de uma vez a atribuir a paternidade da Psicanálise
a Breuer.
Em 1900 foi publicado o livro “A interpretação dos sonhos”, que se mostrou
a princípio de pouco interesse geral, tendo vendido apenas 351 exemplares.
Somente em sua segunda edição lançada em 1909, teve maior repercussão.
Freud passou a vida inteira desenvolvendo, ampliando e elucidando a
psicanálise, tentando construir, para esta, uma estrutura que sobrevivesse a seu
7 (1861 – 1951). Esposa e mãe de seis filhos de Freud: Mathilde, Jean-Martin, Oliver, Ernest,
Sophie e Anna. 8 (1825 – 1893). Grande hipnólogo francês.
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12
tempo, desejando, sobretudo, impedir a distorção e o uso incorreto da teoria
psicanalítica. Suas obras completas compõem-se de vinte e quatro volumes, entre
elas “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905) e “O mal estar na
civilização” (1930), caracterizam-se como alguns de seus textos mais importantes.
Em 1938, devido à invasão nazista à Áustria, Freud refugiou-se na
Inglaterra, lugar em que veio a falecer um ano mais tarde, em 23 de setembro de
1939, aos 83 anos. Ele sofria de um câncer da boca que foi descoberto em 1923,
tendo sido submetido a trinta e três cirurgias bucais. Após muitos anos de
sofrimento, Freud foi submetido a três injeções de morfina aplicadas por seu
médico particular, dando fim à vida do grande criador da teoria psicanalítica.
2.2 Breve biografia de Erich Fromm
Erich Pinchas Fromm nasceu em 23 de março de 1900 na cidade de
Frankfurt, na Alemanha e morreu em 18 de março de 1980, em Muralto, na Suíça.
Era filho único de pais judeus ortodoxos e teve uma família com um padrão
sociocultural razoável. Seu pai, Naphali Fromm, era um pequeno comerciante de
vinho e professor de iniciação ao judaísmo, e sua mãe Rosa Krause era dona de
casa (FUNK, 2000).
De acordo com este mesmo autor9, Fromm iniciou sua vida acadêmica
estudando Jurisprudência na Universidade de Frankfurt, mas mudou-se para
9 Dr. Rainer Funk foi escolhido por Erich Fromm para ser seu assistente pessoal, tendo acesso à
suas correspondências, à revisão e à atualização das suas obras devido a relação de cunho profissional e pessoal que os dois tiveram desde 1974. Até hoje é o executor literário das obras de Fromm.
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13
Heidelberg em 1919 para estudar filosofia, onde teve aulas de psicologia social
com Alfred Weber10 e formou-se doutor em 1922. Posteriormente, Fromm
especializou-se em psicanálise pelo Instituto de Psicanálise de Berlim.
Durante seus estudos conheceu a psicanalista e judia ortodoxa Frieda
Reichmann11, com quem se submeteu à analise e de quem tornou-se amigo.
Quando perceberam que a relação estava passando dos limites terapêuticos,
decidiram parar a psicoterapia para dar início a um relacionamento mais íntimo.
Eles se casaram em 1926, mas seu casamento perdurou por apenas cinco anos,
sendo que após o divórcio permaneceram amigos por toda a vida (TOLOMELLI,
2005).
Segundo essa mesma autora, outra figura importante durante o período de
Fromm em Heidelberg foi Georg Groddeck12, que teve uma enorme influência
sobre a sua visão teórica e prática terapêutica. Groddeck, a princípio, era amigo
de Frieda e através disso, Fromm foi se aproximando cada vez mais dele. Para
Fromm, Groddeck era um analista original, verdadeiro, corajoso e gentil com seus
pacientes e se diferenciava dos outros psicanalistas tendo uma postura humana e
sensata. Foi a partir desse encontro com Groddeck que Fromm começou a
desenvolver suas criticas à psicanálise ortodoxa.
Em 1929, um grupo de psicanalistas organizou-se na cidade de Frankfurt
buscando estudar e propor a aproximação da Sociologia com a Psicanálise, grupo
esse que Fromm acompanhou desde o início com uma visão particular. Para ele, o
indivíduo só existe como um ser relacional, portanto sua abordagem se baseia
10
(1868 – 1958). Economista, sociólogo e teórico da cultura alemão. Irmão de Max Weber 11
(1889 – 1957). Psicanalista alemã. 12
(1866 – 1934). Médico e analista alemão.
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14
numa análise dinâmica das forças políticas, econômicas e psicológicas em jogo na
sociedade, tendo sido desenvolvida através de uma dialética Psicanálise x
Marxismo (FROMM, 1978).
A partir de 1930, começou a consolidar-se e ser mais reconhecido
profissionalmente, principalmente por causa de suas idéias sócio-psicológicas.
Em 1934, após a ascensão de Adolf Hitler ao poder, Fromm deixou a
Alemanha nazista, migrando para os Estados Unidos da América onde foi
professor em várias universidades, inclusive no México (TOLOMELLI, 2005).
Fromm foi denominado neo-freudiano, verbalista e culturalista, bem como
psicanalista humanista, classificações por ele rejeitadas, pois nunca teve a
intenção de criar uma nova escola dissidente da Psicanálise, e sim de desenvolver
e aperfeiçoar a teoria criada por Sigmund Freud (FROMM, 1992).
Tem publicada uma vasta obra. Seus livros, entre eles “A arte de amar”
(1991), passaram a se ater a questões humanistas e atraíram a atenção de
profissionais de vários campos como Sociologia, Filosofia e Teologia.
2.3 O conceito de amor em Sigmund Freud
O termo “amor” não foi definido como um conceito na obra de Freud, pois
esse foi utilizado por ele de diferentes formas de acordo com as articulações e o
momento em que estava em sua construção histórica (PAZ, 2009). A seguir
faremos um esforço objetivando identificar a percepção de Freud acerca do tema.
Com base no estudo realizado por Paz (2009), as primeiras referências de
Freud ao fenômeno amoroso são encontradas em seus relatos clínicos de casos
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de histeria, em que o autor vê amor como sinônimo de sexualidade. Dos estudos
sobre a histeria, Freud tira importantes conclusões com relação ao lugar do amor
na neurose histérica, observando que um ponto em comum entre essas pacientes
é a excessiva busca de amor, que na infância era intensamente despendido a elas
por seus pais, sendo que o traço principal de suas pacientes histéricas é que elas
são insaciáveis por amor. Freud reconheceu na neurose a presença de uma ânsia
de amor que nesse momento, para ele, era equivalente à ânsia sexual.
Ao identificar um determinante infantil tanto à neurose quanto ao amor,
Freud elabora seu conceito de amor de transferência, concluindo que o amor
consiste na tentativa de reedição das primeiras relações amorosas infantis
registradas, caracterizando-se por um deposito da libido em um objeto específico.
Assim, surge também o conceito de transferência como peça decisiva no
trabalho analítico, em que o analista é substituto das figuras parentais do paciente
e é depositário de seu investimento libidinal. Caberá então ao analista, seguir o
caminho dessa libido, utilizando-se dessa confiança depositada, pelo paciente,
nele, para o desenvolvimento do trabalho analítico (BRITO; BESSET, 2008).
A relação analítica possibilitará dessa forma, a atualização das relações
infantis do paciente, que revelará na fala ou no comportamento, as dificuldades de
seu desenvolvimento emocional. Assim, o setting terapêutico se dispõe a ser o
lugar, no tempo e no espaço, onde as manifestações das fases anteriores são
permitidas e desejadas, objetivando que essas sejam trabalhadas (FERREIRA,
2006). O trabalho da análise será, dessa forma, o de desvendar a escolha objetal
infantil do analisando e as fantasias tecidas acerca dessa escolha (SPELLER,
2001).
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16
Em 1905 nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1996), Freud
pontua que o primeiro e mais importante vinculo sexual dá-se no contato do bebê
com a mãe durante a amamentação em que a mãe com suas expressões de
ternura, desperta a pulsão sexual de seu filho e mais tarde qualquer busca
amorosa é a busca desse primeiro objeto de amor. Ainda nessa obra, o autor
diferencia a parcialidade da relação objetal que se da pela pulsão, do amor –
ainda que ambos estejam fortemente ligados – vendo o amor como uma
supervalorização objetal que proporciona uma idéia de globalidade ou unidade do
objeto.
No seu texto “Sobre o narcisismo: uma introdução”, Freud (1969), traz o
amor estreitamente ligado ao ideal narcísico, sendo esse o meio pelo qual o
sujeito tenta reencontrar seu narcisismo primário – fase essa em que o eu é o
reservatório da libido, sendo investido de todos os ideais parentais e perfeição – e
toda a sua onipotência perdida. Tendo visto isso, Freud propôs dois tipos de
escolhas objetais possíveis: a anaclítica ou de ligação, e a narcísica.
Na escolha objetal anaclítica o sujeito buscará um substituto para seus
primeiros objetos sexuais, no caso as suas figuras parentais, que são as pessoas
que se preocupam com sua alimentação, cuidado e proteção. No tipo narcísico de
escolha objetal, o individuo toma como modelo seus próprios “eus” e escolhe seu
objeto de desejo por ver nesse objeto: o que ele próprio é; o que ele próprio foi; o
que ele gostaria de ser; alguém que foi uma vez parte dela mesma. O último
modelo diz respeito à mulher com relação a um filho, que ao gerar esse, passa a
amá-lo de forma narcísica por esse um dia ter sido uma parte dela (FREUD,
1969). Não há uma separação precisa entre os dois modos de escolha objetal,
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17
mas diferentes medidas, tendências e inclinações em cada sujeito, sendo que os
dois se mantém em funcionamento ao longo de sua vida (RIOS, 2008).
Em sua carta a Einstein, quando Freud (FREUD, 1988) propõe um conflito
entre as forças Eros e Thanatos, este define Eros como instintos humanos
eróticos ou sexuais, que tendem a preservar e a unir, e Thanatos como instintos
que tendem a destruir e a matar. Mais adiante Freud faz uma relação de Eros e
Thanatos com a popular oposição entre amor e ódio. Aqui mais uma vez podemos
encontrar o amor relacionado com pulsão e com a unicidade, sendo que para
Freud, é através do amor entre dois seres humanos que Eros revela o seu intuito
que é, de mais de um, fazer um único, ou seja, sua força para unificar (FREUD,
1988).
Desta forma, podemos identificar que Freud apresenta o conceito de amor
marcado por uma tensão, estando esse em determinados momentos ligado a
aspectos do ego e seu ideal narcísico, e em outros momentos ligado a pulsão.
2.4 O conceito de amor em Erich Fromm
Os apontamentos que seguem foram elaborados a partir da leitura e análise
da obra A arte de Amar (1991), considerada fundamental, pois apresenta as
reflexões do autor sobre o tema em questão. Neste tópico, serão apresentados
conceitos centrais sobre a definição de amor e suas formas, para uma melhor
compreensão.
Segundo Erich Fromm, o amor não é, necessariamente, uma relação com
uma pessoa específica, mas uma orientação de caráter que determina a relação
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18
de alguém com o mundo. Para ele a palavra “amor” não deve ser utilizada para
qualquer tipo de união interpessoal. Considerando-se que essa união pode ser
obtida de diversos modos, essa palavra deve ser reservada somente para um tipo
especifico de união: a união madura que existe sob condição da preservação da
integridade própria, ou seja, a união com a preservação da individualidade de
ambos os amantes.
Para Fromm, o amor em sua forma madura, é uma atividade, uma
expressão de produtividade e não um afeto passivo, podendo esse caráter ativo
do amor ser descrito primordialmente em dar e não em receber. Segundo ele
afirma, a base da nossa necessidade de amar está na experiência de separação e
na necessidade resultante de superar a ansiedade dessa experiência pela
experiência da união. Além disso, existem alguns elementos básicos comuns a
todas as formas de amor, são eles: cuidado, responsabilidade, respeito e
conhecimento, e apenas com essas qualidades o amor pode ser considerado
maduro.
Fromm utiliza o amor de mãe para filho como exemplo mais explícito de que
o amor implica em cuidado. “Amor é preocupação ativa pela vida e crescimento
daquilo que amamos” (1991, p.38). Portanto, para ele, não se pode ter amor
sincero por alguém sem que por esse se tenha cuidado. Cuidado e preocupação
implicam em outro aspecto do amor, o da responsabilidade. Essa foi vista por
Fromm, em seu verdadeiro sentido, como um ato inteiramente voluntário de estar
pronto a responder pelas necessidades, físicas ou psíquicas, expressas ou não,
do ser amado.
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19
A responsabilidade poderia facilmente corromper-se em dominação ou em
possessividade se não fosse o terceiro aspecto do amor: o respeito, que o autor
explica como sendo a capacidade de o amante ver o amado, tal como este é,
conhecendo sua singularidade e não fazendo deste, objeto de seu uso próprio.
O respeito só existe com base na liberdade e não na dominação,
entretanto, respeitar uma pessoa não é possível sem conhecê-la. Esse
conhecimento que se caracteriza como um aspecto do amor é aquele que,
segundo Fromm, penetra no âmago do ser amado, apenas sendo possível quando
o amante consegue transcender a preocupação por si mesmo passando a ver o
outro nos próprios termos deste.
Fromm nos traz ainda diversas formas de amor, entre elas: amor fraterno,
amor materno, amor erótico, amor próprio e amor de Deus.
O amor fraterno é o mais fundamental e alicerça todos os outros tipos. Esse
abrange todas as qualidades acima citadas com relação a todo e qualquer ser
humano, caracterizando-se pela falta de exclusividade. Esse amor baseia-se na
experiência de que todos somos um, assim sendo denominado de amor entre
iguais.
O amor materno caracteriza-se como uma afirmação incondicional da vida
do filho e de suas necessidades. Nesse caso, a mãe, além de suprir as
necessidades fisiológicas da criança, por exemplo, dar-lhe leite, terá a função de
instalar na criança o que Fromm chamou de “amor pela vida”, sendo que esse
estando presente na mãe será certamente passado para o filho. A vivência desse
amor terá profundo efeito sobre a personalidade do filho, sendo possível distinguir
em crianças e adultos, pessoas que só receberam leite, de pessoas que
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20
receberam leite e amor. Essa relação mãe-filho é, ao contrário do amor fraterno,
desigual, por ser uma relação onde um necessita de toda ajuda que o outro dá,
tendo assim um caráter altruísta.
O amor erótico, diferente dos dois tipos anteriores, é o anseio de fusão
completa, de união com outra pessoa, por tanto é exclusivo e caracteriza-se como
a forma mais enganosa de amor que existe. Confunde-se muitas vezes com o que
Fromm chamou de “cair” enamorado, ou apaixonar-se, que é uma experiência de
súbita intimidade e tem, por sua própria natureza, vida curta. Pode também ser
confundido pelo que o autor chamou de “egoísmo a dois”, que são duas pessoas
“amando-se” uma a outra, sem sentirem amor por mais ninguém, pois essas duas
pessoas se identificam mutuamente e resolvem o problema da separação
ampliando em dois o singular individual. A condição para que o amor erótico seja
real, é que ele também seja amor fraterno, apenas excluindo os outros no sentido
de fusão erótica. “O amor erótico é exclusivo, mas ama na outra pessoa toda a
humanidade, tudo quanto vive.” (1991, p. 71).
Para ele, o amor próprio é conjuntivo ao amor fraterno – o amor que
antecede qualquer outra forma de amor – portanto, sendo que não existe conceito
de homem em que uma pessoa não esteja incluída, se essa não amar a si
mesma, não será capaz de amar a qualquer outro ser.
Fromm traz ainda a forma religiosa do amor, que ele chamou de amor de
Deus, representando – em qualquer religião, seja ela teísta ou ateísta – o bem
mais desejável. O caráter desse amor vai estar diretamente ligado ao peso dos
aspectos matriarcais ou patriarcais de cada religião, sendo que o homem projetará
esses aspectos para determinar esse amor. O aspecto patriarcal fará com que o
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21
homem ame a Deus como um pai, que é justo e estrito, que me pune e
recompensa e que poderá o eleger como seu filho favorito, mas que para isso,
esse terá que fazer por merecer. O aspecto matriarcal o fará amar a Deus como
uma mãe que o ama incondicionalmente, não importando que ele erre ou tenha
pecados, pois esse sempre o redimirá e o perdoará. Portanto, para Fromm, o
amor de Deus não pode ser separado do amor pelos pais, sendo que, seu grau de
maturidade nos vínculos com as figuras materna e paterna determinará o
desenvolvimento de seu amor por Deus.
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22
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
O presente trabalho teve como procedimento metodológico, a pesquisa
bibliográfica, desenvolvida a partir do material já elaborado sobre o tema,
constituído principalmente de livros e artigos científicos.
Conforme pontuado por Martins e Pinto (2001, p.41), “a pesquisa
bibliográfica procura explicar e discutir um tema com base em referencias teóricas
publicadas em livros, revistas, periódicos, etc. Busca conhecer e analisar
determinado tema”.
Buscou-se, portanto, por meio deste tipo de pesquisa, atingir os objetivos
propostos nesse trabalho, ou seja, investigar o amor na abordagem psicanalítica a
partir de Freud e Fromm, bem como identificar as semelhanças e diferenças
conceituais sobre o amor na concepção desses dois autores, e também verificar
como o amor é conceituado nas publicações atuais.
3.1 COLETA DE DADOS
Para a realização da presente pesquisa, foram utilizados os seguintes
procedimentos:
a. Inicialmente foi feito um levantamento bibliográfico das obras de Erich
Fromm, bem como das de Sigmund Freud, disponíveis na Biblioteca Setorial da
UNIVALI. Também se buscou artigos, monografias e dissertações nas bases de
dados científicas como, SCHOOLAR GOOGLE, SCIELO e LILACS, a partir das
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seguintes palavras-chave: amor, Freud, psicanálise e Eros. Foram encontrados, a
partir dessas palavras-chave, onze artigos e uma dissertação. A busca deste
material utilizou como critério de seleção publicações dos últimos 10 anos.
Porém, nessa primeira etapa encontramos dificuldades para encontrar
publicações sobre o amor na perspectiva de Erich Fromm. Ao utilizarmos
palavras-chave como: amor, Erich Fromm e psicanálise; não encontramos
nenhuma publicação, tendo buscado também em inglês e espanhol além do
português. Desta forma, tomamos por base em nossa pesquisa, sobre o amor
para Erich Fromm, o livro de sua autoria, que consideramos chave para a
compreensão do tema, chamado “A arte de amar” (1991).
b. Em um segundo momento, com o material já coletado, foram realizadas
leituras explanatórias dos artigos e livros encontrados. A leitura exploratória
ocorreu de maneira direcionada ao material útil para a pesquisa, sendo realizada
através da leitura dos resumos, palavras-chave e auxílio do referencial
bibliográfico. Dos onze artigos encontrados foram utilizados apenas seis,
juntamente com uma dissertação sobre o amor em Freud, a qual deu grande base
a nossa pesquisa.
c. Após a seleção desse material foi realizada a leitura analítica do mesmo,
que “tem como finalidade ordenar e sumariar as informações contidas nas fontes
de forma que possibilitem a obtenção de respostas ao problema da pesquisa.” Gil
(1991, p. 54).
d. Posteriormente à leitura analítica, foi realizada uma leitura interpretativa,
que Gil (1991) define como a última etapa de realização da pesquisa, porém a
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mais complexa, pois busca relacionar os significados aos resultados obtidos na
leitura analítica.
A partir da leitura analítica, foram definidas categorias nas quais os dados
encontrados foram organizados. Estas categorias foram definidas à posteriori e
são: a) as diferenças e semelhanças entre Freud e Fromm com relação à
concepção de amor; e b) a perspectiva dos estudos atuais sobre o amor.
A partir desses procedimentos, iniciou-se a análise dos dados coletados
nas fontes bibliográficas disponíveis. Esta análise será apresentada no capítulo
seguinte.
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4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 Diferenças e semelhanças entre Freud e Fromm na concepção do
amor
Nesta categoria procuraremos esclarecer como Freud e Erich Fromm
apresentam suas idéias sobre o amor. Apesar de este tema ter sido de grande
importância na obra de ambos os autores, foi visto por cada um deles de maneira
diferente, porém com alguns pontos em comum. Destacaremos a seguir as
principais diferenças e semelhanças na concepção de amor entre os autores,
buscando facilitar uma comparação entre os conceitos de amor.
Freud é herdeiro de uma visão de amor comum ao final do século passado,
na qual a imagem de amor é indissociável do amor romântico (LEJARRAGA,
2002). Para compreendermos melhor essa concepção de amor romântico, nos
remeteremos a Platão, que através do discurso de Aristófanes, recorre a um
antigo mito.
Segundo esse mito, há tempos atrás, teriam existido seres esféricos que
eram formados por dois homens, duas mulheres ou um homem e uma mulher, e
em um dado momento, esses seres foram divididos pelos deuses, tornando-se
então, de um, dois. Assim, a partir dessa divisão, cada metade sai em busca da
outra, objetivando obter novamente sua completude perdida, retornando a seu
estado original, onde eram um ser único e perfeito (BRITO; BESSET, 2008).
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Desta forma, Freud parte de uma visão romântica de amor, quando nos
aponta esse como uma tentativa de reedição da felicidade perdida na fase do
narcisismo primário, visto que o amor romântico baseia-se na busca do objeto
ideal que irá complementar o sujeito (PAZ, 2009).
Porém, em “O mal estar da civilização”, Freud (1988) afirma ser impossível
um encontro absoluto entre sujeito e objeto, estando assim, essa busca amorosa,
fadada ao fracasso. Para Freud então, crer na possibilidade de tornar-se um só
com um parceiro é tido como “ilusão amorosa”, e “é justamente pela falta e pela
ilusão amorosa que é possível o surgimento da transferência” (BRITO; BESSET,
2008, p. 694), sendo essa, a busca no objeto amoroso de algo que falta no
amante (SPELLER, 2001).
Erich Fromm (1991) esclarece que o desejo de fusão interpessoal é o mais
poderoso desejo do homem, sendo a separação, fonte de intensa ansiedade.
Além disso, esta também da origem ao sentimento de culpa e a vergonha. Para
explicar isso, Fromm recorreu ao mito bíblico de Adão e Eva.
Segundo sua visão sobre o mito: depois de Adão e Eva terem
desobedecido – pois não há bem nem mal se não houver a liberdade de
desobedecer – comendo o fruto da árvore do conhecimento “do bem e do mal”,
tornaram-se humanos, emancipando-se da harmonia animal original com a
natureza. Assim, ficaram conscientes de si mesmos e cada um do outro, passando
a ter a consciência de que eram separados e de sua diferença. Porém, ao
perceberem sua separação, permaneceram estranhos um para o outro, porque
ainda não haviam aprendido a amar. Isso, de acordo com Fromm (1991) foi fonte
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de sua vergonha e culpa, e não o fato de estarem expostos seus órgãos genitais,
como foi interpretado literalmente por muitas pessoas.
Sendo assim, para Fromm (1991, p. 18), “A consciência da separação
humana, sem a reunião pelo amor, é a fonte da vergonha. É ao mesmo tempo, a
fonte da culpa e da ansiedade”.
Essa fusão real, ou essa reunião pelo amor, só pode dar-se através do
amor maduro. Para ele, qualquer tentativa de amar está fadada a falhar se esse
amor não tiver uma orientação produtiva, ou seja, se não for desenvolvido no ser
humano através de uma atitude ativa, certamente falhará.
Quando esclarece que o amor é uma atividade, Fromm, na mesma obra já
citada, se refere a um ato de liberdade do homem, em que esse é senhor de seu
afeto através da consciência. Discordando assim da concepção de Freud, Fromm
pontua que o amor – em sua forma madura, ou produtiva – nunca se pode dar
através de uma compulsão, nesse caso a compulsão a repetição, que é
inconsciente e busca reeditar a experiência simbiótica da fase narcisista primária
através da transferência.
Em contraste com o amor maduro ou ativo, está a forma passiva do amor,
denominada por Fromm de união simbiótica. Nessa forma imatura de união,
ambos os parceiros vivem num estado de co-dependência psíquica. A união
simbiótica dar-se-á com um dos parceiros na posição de submissão, ou
masoquismo e outro numa posição de dominação, ou sadismo.
Nessa forma de união, a pessoa masoquista busca superar sentimento de
isolamento tornando-se parte dominada da outra pessoa que a guia e a protege,
não necessitando com isso tomar decisões, assim evitando assumir qualquer risco
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que isso acarrete. Por outro lado, a pessoa dominadora, ou sádica, busca escapar
de sua solidão fazendo da outra pessoa uma parcela de si mesma, explorando,
ferindo, ordenado, humilhando. Em nível psíquico, nessa forma de união, a pessoa
dominadora depende tanto da pessoa submissa quanto o inverso, gerando assim
uma união sado-masoquista.
Fromm afirma que “Em contraste com a união simbiótica, o amor
amadurecido é união sob condição de preservar a integridade própria, a própria
individualidade” (1991, p. 32).
Surge assim mais uma discordância de Fromm, com relação às idéias de
Freud, quando o primeiro desenvolve seu conceito de amor próprio. Freud
concebe o amor próprio como sendo idêntico ao narcisismo. Em sua visão, o amor
é a manifestação da libido que se volta para os outros, ou se volta para a própria
pessoa. Assim sendo, amor e amor próprio são mutuamente exclusivos, ou seja,
quanto mais houver de um, menos haverá do outro. Diferentemente de Freud,
Fromm não vê o amor próprio como um vício e sim como uma virtude13. Para o
autor este é diferente do narcisismo, sendo que este lhe atribui o papel oposto do
egoísmo, dizendo que o egoísmo é causado pela falta de amor próprio, sendo o
segundo precedente e primordial para qualquer outro tipo de amor.
Nesse sentido, Fromm define o amor como um “erguimento” e não como
uma “queda” 14. Sendo assim, para ele a paixão é uma forma passiva de amor, na
qual a pessoa é escrava de seus afetos, não exercendo poder sobre esses,
13
A virtude é uma qualidade positiva do indivíduo que faz com que este aja de forma a fazer o bem para si e para os outros. O vício é o seu antônimo. 14
Apaixonar-se em inglês se escreve fall in love, que em sua tradução literal significa cair no amor.
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29
agindo, portanto, como um paciente e não como um “ator” perante seus próprios
afetos.
Freud, através do conceito de idealização, como supervalorização de todas
as características de um objeto amado, distingue amor de apaixonamento,
definido o segundo como mais cego do que no caso do amor normal. Os dois
permanecem ligados e a diferença entre eles se mantém confusa ao longo de sua
obra, sendo que muitas vezes o autor utilizou a expressão “paixão amorosa”, o
que demonstra essa ligação entre os conceitos, muitas vezes podendo ser vista
como indistinção (PAZ, 2009).
Lejarraga, com relação à visão de Freud sobre o apaixonamento e o amor,
define o objeto da paixão como exclusivo, não havendo espaço para outros
objetos na vida de um apaixonado. O que é uma grande ameaça de sofrimento,
pois isso gera uma grande dependência do objeto pelo apaixonado, exercendo
nesse caso, o objeto, grande poder sobre a vida do apaixonado. Já no amor
haveria espaço para outros investimentos além do objeto de amor (apud PAZ,
2009).
Podemos dizer assim que a maneira com que Freud define o amor é tida na
visão de Fromm como paixão, ou amor imaturo, visto que esse, na visão de Freud,
está ligado a aspectos inconscientes, sendo assim, não são controlados pelo
sujeito, mas sim o controlam, sendo o indivíduo afetado pela compulsão à
repetição, buscando através da transferência um reencontro com os primeiros
objetos perdidos e uma plenitude inalcançável.
Isto pode ser percebido com clareza quando, em crítica a metapsicologia do
amor de Freud centrada no narcisismo, Fromm (1991, p.144) diz:
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30
A capacidade de amar depende da capacidade de emergir do narcisismo e da fixação incestuosa à mãe e ao clã; depende de nossa capacidade de crescer, de desenvolver uma orientação produtiva em nossas relações para com o mundo e para conosco mesmos.
Portanto, podemos afirmar que a principal diferença na concepção de Freud
e de Erich Fromm do amor é que, para Freud esse tem um caráter regressivo e
repetitivo (LEJARRAGA, 2002), sendo que para Fromm pode-se considerar que
tem um caráter ativo e produtivo.
Para ambos os autores o amor foi tema de grande importância, porém, para
Freud este está ligado a um inconsciente libidinal, sustentado por uma energia
sexual, sempre em busca de um objeto inexistente. Já para Fromm (1981) esse é
tido como uma função de ego que deve ser desenvolvida até que se torne madura,
uma conduta que se deve ter perante a vida, não tendo característica de
exclusividade. Isso pode ser identificado quando Fromm define as várias formas
de amor: fraterno, materno, erótico, próprio e de Deus; sendo que estes estão
ligados entre si (FROMM, 1991).
Tendo identificado os pontos discordantes entre esses dois autores acerca
da temática do amor, devemos pontuar que ambos concordam que o amor é o
viés para o crescimento e desenvolvimento humano, sendo que para Freud essa
relação dar-se-á de forma satisfatória unicamente no processo psicanalítico, em
que o analista tomará um caminho cujo não existe na vida real para o seu
desenvolvimento (FERREIRA, 2006), enquanto que, para Fromm (1991), este
deverá acontecer nas relações cotidianas não se limitando apenas ao setting
terapêutico e sim tomado como uma atitude perante a vida, uma arte que deve ser
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31
desenvolvida a cada dia, o que foi chamado por ele de psicanálise trans-
terapêutica.
4.2 A perspectiva dos estudos atuais sobre o amor
Nesta categoria procuraremos explorar o amor nas publicações atuais,
buscando analisar a perspectiva dos artigos publicados entre 2002 a 2009 sobre o
amor. Para que possamos compreender isto, é necessário que contextualizemos o
momento histórico contemporâneo, pois sendo o amor um produto cultural, terá
diferenças na forma em que é concebido, tendo estreita relação com os valores
culturais de cada época (GUEDES e ASSUNÇÃO, 2006).
Rios (2008) discute o amor na contemporaneidade definindo o mundo em
que vivemos como “Os tempos de narciso”. Segundo ela (apud Costa, 2004), o
individualismo que nasceu com o modernismo15 está cada vez mais concretizado
no mundo contemporâneo, onde as pessoas não se vêem mais como
pertencentes a grandes coletivos sociais, mas sim a identidades particulares.
Desenvolvendo assim, práticas que não sustentam a alteridade16, o que faz com
que os sujeitos fiquem cada vez mais voltados para si mesmos.
Nessa sociedade, o “eu” passou a ser instância superior, tendo o outro
passado a ser neutro ou esvaziado. Sendo assim, tornou-se prioritário afirmar que
cada um se basta por si, o que reafirma a maneira atual de amar, parecendo que o
amor em relação ao outro sucumbe ao amor de si (GUEDES; ASSUNÇÃO, 2006).
15
Período histórico iniciado em 1922. 16
Aqui significando a valorização das experiências do outro na relação interpessoal.
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Brito e Besset (2008), apoiadas nas elaborações de Zygmunt Bauman17
sobre o “Amor Líquido” (2004) e “Vida Líquida” (2007), afirmam que, vivemos
atualmente numa sociedade marcada pelo consumismo, onde nada escapa a
lógica da troca incessante de mercadorias que permeia nossa vida
contemporânea, nem os relacionamentos. Assim sendo, nos dias de hoje, o
investimento libidinal não deve ficar preso a determinado objeto por muito tempo,
para que possa ser rapidamente substituído.
De acordo com as autoras, na medida em que o amor também passa a ser
regido pelas leis de mercado, esse toma uma roupagem líquida, onde as trocas
afetivas são consideradas como investimentos. Essa lógica não se baseia no
acúmulo de bens, como no período histórico moderno, mas em seu uso e
descarte, onde o valor da novidade está acima do valor da permanência. Sendo
assim, a busca pela quantidade e a velocidade na troca de parceiro prevalece
sobre a manutenção do relacionamento, fazendo com que qualquer decepção seja
suficiente para o descarte do parceiro e a troca por um novo.
Sendo assim, Guedes e Assunção (2006) destacam a falência das
habilidades para formar e manter relações afetivas, dizendo que, cada vez mais as
pessoas buscam tornarem-se auto-suficientes, como forma de proteger-se do
outro, cultivando a si mesmas. Nessa forma de pensar, o importante é não abrir
mão da independência e liberdade para não sofrer quando o outro for embora.
Num mundo em que se busca a todo o momento o máximo prazer e
diversão na fuga desesperada de qualquer sofrimento, os relacionamentos
amorosos, que necessitam de esforço e energia para a sua manutenção, estão em
17
Sociólogo polonês nascido em 1925, possui dezesseis livros publicados no Brasil.
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crise. As pessoas preferem se afundar nas dores do vazio de si mesmas para
evitar as dores de amores pelos outros. Preferindo assim fazer seus investimentos
libidinais em diferentes parceiros, o que é mais fácil do que trabalhar na
manutenção de um relacionamento (RIOS, 2008).
Além disso, para Guedes e Assunção, na sociedade contemporânea, as
opções de escolha do sujeito, inclusive no campo dos relacionamentos, são
variadas e a perspectiva é de um processo mutante, exageradamente rápido e
geralmente com objetivos inalcançáveis, o que não dá tempo para uma
elaboração adequada das escolhas. Tendo que abrir mão de uma opção para
escolher outra, o sujeito nunca se sente satisfeito com o que escolheu pensando
ter feito sempre a escolha errada.
Ainda segundo os autores, essa idéia de individualismo e auto-suficiência é
reforçada pelo aumento dos mecanismos tecnológicos que tornam a vida das
pessoas mais cômodas dentro de suas casas e que possibilitam o contato a
distância, inclusive no que se refere aos relacionamentos afetivos. Sendo assim,
cada pessoa, ilhada em seu quarto pode ter contato virtual com o mundo todo, o
que certamente é uma grande mudança na maneira de relacionar-se com o outro,
inclusive amorosamente.
Assim sendo, no mundo contemporâneo, cada vez mais tem-se opções de
entretenimento solitário, por meio dos adventos tecnológicos, principalmente os de
informação como a TV e a internet, que também são importantes contribuições
para a formação da identidade das pessoas, bem como dos modelos de
relacionamento.
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Filmes e novelas são grandes influenciadores e divulgadores de modelos
de parceiros adequados, ditando estereótipos que são buscados
inconscientemente pelas pessoas. A parceira perfeita, de acordo com os autores
já citados, precisa ser bela, magra, rica, nova e saudável; e o parceiro perfeito
precisa ser forte, rico, sedutor, bem-sucedido, novo e saudável. Essa
determinação de um padrão estético contribui, na vida real, para a idealização um
relacionamento e de um parceiro, praticamente inalcançável.
Essa supervalorização estética é geradora de um mercado de cirurgias
plásticas, remédios para emagrecimento, produtos de beleza, mas também de um
vazio causado por uma cultura onde o valor da novidade está acima do valor da
permanência (BRITO; BESSET, 2008). Assim sendo, nunca se está satisfeito com
a própria aparência, sendo que uma incerteza constante se apresenta diante da
velocidade das trocas de parceiros afetivos.
Nesse contexto são geradas pessoas impulsivo-compulsivas, ansiosas,
deprimidas, e dependentes de analgésicos, sempre inseguras diante de tanta
incerteza (GUEDES; ASSUNÇÃO, 2006).
Outro grande fator contribuinte para mudança da configuração dos
relacionamentos amorosos no mundo contemporâneo, ainda segundo esses
autores, é a crescente inserção da mulher no mercado de trabalho, o que favorece
a luta por direitos iguais aos dos homens, gerando autonomia financeira e
emocional. Sendo assim, os relacionamentos tomaram um caráter de igualdade e
reciprocidade, não mais sendo desproporcionais nas relações de poder. Dessa
forma, os papéis sociais – de homem e mulher – estão cada vez menos
delimitados, tornando-se cada vez mais parecidos.
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Tendo visto o contexto atual, e a forma com que as relações e os
relacionamentos afetivos nele se dão, Brito e Besset (2008) analisam como essa
cultura do homem sem vínculos afetará a prática psicanalítica, tomando por
princípio que, o vínculo entre o paciente e o terapeuta, é imprescindível para que a
psicanálise possa acontecer.
Esse relacionamento paciente-terapeuta, de acordo com as autoras, deve
dar-se de uma maneira dissimétrica, pois na clínica psicanalítica, há duas
posições diferentes a serem ocupadas. Assim, no contexto de um tratamento há
um sujeito e um objeto; aquele que ama e o seu objeto de amor, ou de sua
confiança – visto que aqui o amor é visto como transferência.
Podemos perceber que essa forma de relacionamento, fundamental para
que ocorra a psicanálise, é o contrário da igualdade e reciprocidade que se busca
num relacionamento atual que é regido por uma simetria.
Outro sentimento que está presente na sociedade sem vínculos é a
desconfiança. Segundo as autoras, esta é gerada pela incerteza constante, em
função da velocidade com que as mudanças se produzem. Assim, numa
sociedade em que desconfiar torna-se comum, os relacionamentos passam a
configurar-se de maneira diferente, e o vinculo terapêutico – que está embasado
na confiança e é fundamental para a clínica psicanalítica – dessa forma, também
ficará comprometido.
A velocidade das mudanças, já citada acima também tem influência direta
sobre o processo terapêutico, tendo visto que as pessoas buscam cada vez
formas de tratamentos mais rápidos, pois num mundo onde as relações são
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fluidas e as pessoas vistas como objetos consumíveis e descartáveis, manter um
relacionamento com o analista durante alguns anos torna-se muito difícil.
Assim sendo, segundo as autoras, a prática psicanalítica está cada vez
mais comprometida no mundo do amor líquido, devido à dificuldade de
estabelecimento de vínculos. Os objetos de depósito da libido mudam
rapidamente tornando-se dessa forma impossível que o analista seja depositário
da libido do paciente, podendo direcionar essa a fim de guiar o processo
psicanalítico.
Apesar desse olhar das autoras sobre as questões transferenciais na
atualidade e suas implicações na clínica psicanalítica, é possível que se lance um
olhar diferenciado sobre esta mesma questão. Levando-se em consideração a
falta de vínculos concretos e duradouros no mundo atual, essa falta pode fazer
com que o vínculo terapêutico estabeleça-se de maneira mais forte na clínica
psicanalítica, como forma de compensação de algo que não se encontra mais na
vida cotidiana.
Tendo visto isso, podemos perceber que o amor e as formas de amar e se
relacionar afetivamente configuram-se, em nossa sociedade, de uma maneira
diferente das épocas de Freud e Erich Fromm. Pode-se dizer que o amor
romântico está em colapso, sendo que as ilusões caem rapidamente provocando
um vazio narcísico, e que o amor hoje em dia precisa conviver com a
individualidade.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O amor é tema de grande importância na vida humana e foi considerado
tema de fundamental importância nas obras de grandes autores da teoria
psicanalítica como Sigmund Freud e Erich Fromm. Dessa forma, deve ser digno
de proporcional importância para a psicologia, que é a ciência que estuda o
comportamento humano, pois amar é uma ação humana. Muita coisa mudou
desde o tempo desses autores e, da mesma forma houve transformações no que
diz respeito ao amor. Este continua sendo um tema atual, muito presente no
cotidiano das pessoas, porém com características diferentes no que diz respeito a
configuração das relações afetivo-amorosas e as formas de vivenciar o amor.
Num diálogo entre Freud e Fromm acerca da temática do amor,
identificamos muito mais pontos discrepantes do que de aproximação. Apesar de
Fromm ter-se baseado nas idéias de Freud ao desenvolver as suas, este as fez
através de uma dialética com as idéias marxistas, levando assim também em
consideração os fatores sociais que exercem tensões sobre o ser humano além
dos pulsionais. Assim sendo, Fromm concebe o amor como uma arte, ou seja,
como uma atitude perante a vida, que não terá, dessa forma, caráter de
exclusividade. Ao contrário da percepção de Freud acerca do tema, que identifica
esse como o depósito da libido em um objeto, associando-o muito mais a aspectos
pulsionais que estão a serviço de um ideal narcísico perdido, do que ao
desenvolvimento de potencialidade e amadurecimento de ego.
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Assim sendo, para Freud, qualquer vínculo amoroso caracteriza-se por uma
tentativa de reedição das primeiras experiências infantis da pessoa, estando a
busca amorosa fadada ao fracasso, devido a impossibilidade desse reencontro
acontecer. Ao passo que para Fromm o amor é a única experiência sadia e
satisfatória para a existência humana, sendo apenas através do desenvolvimento
e da realização deste que o ser humano poderá ter uma existência plena.
Ao analisarmos os estudos atuais acerca do amor, percebemos que a
configuração dos vínculos afetivo-amorosos vem sofrendo grandes
transformações na atualidade, na qual a lógica consumista – uso e descarte - tem-
se aplicado também às relações amorosas, valorizando-se a troca rápida de
parceiros acima da manutenção dos relacionamentos. Desse modo, vivemos
numa sociedade em que as relações são líquidas e os laços amorosos são fracos.
Os adventos tecnológicos, como a TV e a internet, também contribuíram
para a mudança na configuração dos relacionamentos interpessoais, criando
novas formas de relacionar-se e fortalecendo o individualismo como valor de
nossa sociedade - os tempos de narciso. A fuga da dor, a desconfiança, e a
simetria nos relacionamentos também são valores muito presentes em nossa
sociedade.
Todas essas mudanças tiveram impacto também na clínica psicanalítica,
tendo visto que a mesma tem a transferência como peça fundamental para sua
realização, ou seja, necessita de um vínculo duradouro em que o analisando
deposita sua libido e confiança na figura do analista, que só assim poderá
direcionar essa libido possibilitando o processo psicanalítico.
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Pensamos ser importante destacarmos as dificuldades e limitações de
nossa pesquisa. Ao escolhermos o amor como tema do presente trabalho de
conclusão de curso, identificamos dificuldade em encontrar artigos e livros sobre o
assunto. O mesmo se deu com relação ao autor Erich Fromm, escolhido como
base para nosso trabalho. Ao buscarmos artigos que explanassem acerca de sua
perspectiva sobre o amor, nos deparamos com a escassez de publicações deste
autor sobre o tema. Dessa forma nos mantivemos restritos ao livro “A Arte de
Amar” (1991), tendo o utilizado como grande base para o entendimento e a
conceituação do amor segundo Erich Fromm, e o diálogo proposto entre ele e
Sigmund Freud.
Diante disso, pensamos que o amor é tema de suma importância em
psicologia, especificamente para a psicanálise, abordagem escolhida para
fundamentar a elaboração deste trabalho. Julgamos que o desenvolvimento de
novos estudos sobre o amor com base nos mesmos autores aqui utilizados, bem
como o esforço para o desenvolvimento de novos diálogos entre outros autores
sobre a temática são importantes para a ampliação da discussão deste tema no
meio acadêmico.
É também importante que se busque uma aproximação da temática
voltando-as para as demandas oriundas do contexto social, tendo visto as
diversas mudanças que aconteceram e continuam acontecendo na configuração
das relações afetivo-amorosas, as quais poderiam se beneficiar das discussões
sobre o amor elaboradas pela ciência psicológica.
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