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AUTORITARISMO E DITADURAS EM ÁFRICA
Fernanda Paravidino França
Fernanda Pereira dos Santos
Renata da Silva Rangel
Valdeci Silva I. Junior
Introdução
Com o objetivo de fazer uma análise sucinta acerca do autoritarismo e das ditaduras
presentes no continente africano em um cenário conturbado do século XX, marcado
pelas independências de muitos estados neste continente, e pelas influências exógenas
decorrentes do cenário de Guerra Fria, o historiador M’Bokolo faz uma análise cultural
acerca desse período histórico apresentando tal continente com um papel ativo nesse
processo.
De acordo com M’Bokolo, historiador africano congolês, o ano de 1960 foi um marco
para a África, pois fora o momento em que o resto do mundo presenciava dezoito
colônias da Europa na África conquistarem a soberania e o reconhecimento
internacional, indo de encontro ao discurso proclamado de que os “africanos” não
possuíam capacidade de se autogovernarem e precisassem ficar sob a tutela européia.
Ainda de acordo com o historiador, Kwame Nkrumah teve uma participação essencial
nesse processo.
“O mais ativo nesta via, Kwame Nkrumah, escolheu o dia preciso da acessão da
Gold Coast à soberania para declarar, perante os numerosos visitantes estrangeiros
presentes, que “a independência do Gana não tem sentido se não estiver associada à
libertação total da África”. (M’Bokolo, p. 631,2011)
Nos movimentos de independência que ocorreram por todo continente africano, pós-
segunda Guerra Mundial, mas, sobretudo no contexto da Guerra Fria, os estados
africanos se encontravam diante do dilema ligado a soberania dos povos e princípio de
autodeterminação. A questão da soberania colocava em jogo diversas etnias que no
momento da partilha da África eram deslocadas em suas fronteiras e se viam misturadas
a outras tantas etnias, línguas e identidades múltiplas o que ocasionou muitos conflitos
ideológicos e militares.
Apesar da retirada ou abandono das colônias africanas por parte das potências europeias
arrasadas com a guerra, o que se observa nas forças políticas africanas é uma constante
pressão para se posicionar ou do lado capitalista mais representado pelos EUA ou o
bloco socialista soviético, o fato é que tal tomada de decisão desagradava à grande
maioria dos africanos, desejosos de ver uma África independente em suas ações e com
uma ruptura total com o colonialismo europeu e viam no alinhamento a um destes lados,
forte interferência tanto interna como externa nestes estados.
Nesse sentido, muitos Estados se posicionaram seja de um lado seja do outro, no
entanto havia um grupo que se manifestou de forma a defender o não alinhamento nesse
conflito e que fora fortemente atacado. Este acordo fora afirmado com a Conferência de
Bandung que contou com a presença de apenas cinco estados, demonstrando que urgia a
necessidade da inserção dos estados num mundo novo principalmente marcado pela
globalização.
O regime de Nkruma fora o mais atacado devido acolher e treinar militarmente
“combatentes da paz”, além da imprensa ter um papel de oposição ao que se chamou de
“neocolonialismo” ou “imperialismo”, ao denunciar a submissão da maioria dos Estados
membros da OUA a esses sistemas servindo como um meio de controle das massas
desse Estado.
No caso do Congo, por exemplo, este se via ainda controlado nos planos político e
econômico pelas potências ocidentais, ainda que independente, pois era uma área
estratégica devido ter rios que passavam por outros estados africanos, possuíam muitas
etnias que se estendiam aos territórios vizinhos, além disso, era rico em produtos
minerais. Nesse sentido, era uma área estratégica muito cobiçada pelos líderes de outros
locais do mundo.
Assim, o cenário pós-independência era de instabilidade e inúmeras tentativas de
organizar-se política e economicamente o continente que era deveras heterogêneo,
poderíamos citar muitas conferências como a de Addis Adeba que por meio de uma
pesada máquina burocrática desejava organizar os estados, o que se mostrou ineficaz, o
OUA foi mais um exemplo de tentativa de fazer perenizar os estados e os regimes
instalados na África e ainda com a participação da ONU na organização dos estados os
desacordos eram frequentes.
De acordo com Cardoso (1992), a África se viu imersa em uma frente
anticolonialista em uma crise de identidade em que o patriotismo foi uma forma
encontrada frente a unidades territoriais jovens e com rivalidades étnicas que
possibilitou o afloramento de um senso de identidade nacional. O pan africanismo na
verdade já vinha ocupando espaço neste contexto de unificação e identidade africana.
Numa perspectiva marxista, Cardoso defende que havia uma burguesia cônscia da
fraqueza de sua base econômica e que busca fazer uso de seu poder a fim de fortalecer-
se economicamente pelo uso da corrupção pelo aparelho do estado controlando a mais
valia, acarretando assim o uso do poder pela ação política. Sempre pondo em risco a
formação democrática, no caso africano desenvolvendo estados autoritários de base
militarista.
Partidarismo, Autoritarismo e Golpes de Estado em África.
Segundo o autor Elikia M’Bokolo, no fim do período de colonização, começam
a surgir o que viriam a ser os primeiros partidos políticos. Mas, segundo
BRAGA(2005), neste período ainda não se pode falar concretamente “partido”, pois
estes ainda não eram permitidos, já que não era desejável que opositores da ocupação
se organizassem e tivessem voz. M’KOBOLO(2011) afirma que os poderes coloniais
eram muito hábeis quando se tratava de dividir e enfraquecer esses partidos, causando a
multiplicação de partidos, mas que no momento da independência, alguns movimentos
nacionalistas apareciam como partido único.
O modelo estado-nação empregado pela colonização aos países africanos acabou
ocasionando o desequilíbrio nas ordens sociais e unidades políticas existentes, o que
mais tarde, em conjunto com outros fatores, viriam a causar o surgimento de regimes
autoritários.
A ruína das colônias ia fortalecendo esses partidos e estes iam herdando o poder
estatal e segundo BRAGA(2005),
“[...] Os partidos assumem assim, mais uma característica paradoxal,
traduzida pelo facto de a sua praxis alicerçar-se numa modernidade
importada, tanto através dos seus líderes, como pelas elites que lhes
asseguravam o poder (quando estas usufruíam de um significativo legado
metropolitano).” (BRAGA, p. 65, 2005)
Segundo M’BOKOLO (2011), os países independentes herdaram tanto as
estruturas políticas e sociais, como também seu caráter repressivo. “[...] apesar das
concessões feitas aos africanos a partir da Segunda Guerra Mundial, [...] as relações
entre o Estado e a sociedade estavam associadas a um autoritarismo persistente, apenas
temperado aqui e ali por uma dose de paternalismo[...] (M’BOKOLO, p.655, 2011).
Desta forma, o autor afirma que essas relações irão piorar ainda mais depois das novas
funções econômicas e sociais assumidas pelo Estado do “plano de desenvolvimento” do
pós-guerra.
Contudo, M’KOBOLO (2011) diz que a política evolui de forma que os partidos
únicos ganharam espaço, mas não sem violência. O autor afirma que os caminhos que
levaram a África aos regimes de partido único seguiram inúmeros caminhos, desde a
fusão de pequenos partidos, de grupos opositores ao partido dominante e até mesmo a
complôs e assassinatos de políticos.
Em meados de 1960, ainda existiam Estados onde ainda o pluralismo partidário
resistia, como Serra Leoa, Madagascar e Libéria, entre outros. Mas logo, os golpes de
estado diminuiriam esse número, pois, segundo M’BOKOLO (2011), se tornariam mais
cada vez mais constantes. No período de 1960 a 1975, houveram 20 tentativas de golpe
abortadas e o exércitos tomaram o poder em mais de 15 países. Segundo o autor, na
maioria das vezes, uma “[...] vez no poder, os militares suscitavam por seu turno a
criação de um partido único, alinhando assim os regimes militares pelos regimes civis
de partido único.”(M’BAKOLO, p.661, 2011)
M’KOBOLO (2011) atesta que havia diferença entre os regimes nos Estados,
que seriam mais na natureza do partido do que na ideologia.
“[...] Na maior parte das vezes, deu-se preferência à fórmula do partido de
que todos os cidadãos eram membros por definição e automaticamente.
Encarregado de designar os candidatos às eleições – candidatos únicos e
necessariamente eleitos -, o partido reconhecia no entanto no seu seio,
“militantes” aos quais cabiam os cargos mais importantes e os benefícios de
toda a ordem que acompanhavam esse cargos. Raros foram os partidos que
procuraram evitara deriva clientelista e negociata” (M’KOBOLO, p.661,
2015)
O caso da Guiné Equatorial foi analisada por VAZ (2013), onde ele afirma que o
país se tornou independente da Espanha em 1968, onde seu primeiro presidente
Francisco Macías Nguema com seu discurso anti-espanhóis, afugentou a maioria da
população espanhola até março de 1969. Seu regime impunha grande violência, além de
executar 12 ministros, o número de mortes de execuções chegava a 50.000 e os exílios,
a 150.000. A economia do país estava devastada quando em 1979, o sobrinho de Macías
o derruba e assume o poder, instituindo mais um regime repressivo e violento.
Segundo VAZ (2013), o contexto histórico acabou suscitando num país que não
respeita os direitos e liberdade de seus cidadãos.
“[...]A Guiné Equatorial é uma República Presidencial. O poder executivo
cabe ao Presidente, que é o Chefe de Estado e que tem a seu cargo a
nomeação do Primeiro-Ministro. O Presidente é eleito para mandatos de 7
anos, renováveis ilimitadamente, por sistema maioritário. O poder legislativo
é da responsabilidade da Câmara dos Representantes do Povo, eleita por
mandatos de cinco anos, enquanto o poder judicial é assegurado pelo
Supremo Tribunal, cujos membros são nomeados e removidos pelo
Presidente.”(VAZ, p.627, 2013)
Entre os anos de 1989 e 1992, inúmeros Estados adotaram o multipartidarismo,
adotando eleições pluralistas e após a Conferência Nacional e o advento de homens com
novas ideias. O pluralismo político foi reafirmado como regra nos Estados Africanos.
Pan-africanismo e as Reformas Propostas por Kwame N’Krumah
Para melhor compreendermos as políticas e, mais do que isso, os discursos
adotados pelos regimes autoritários e a construção do partidarismo na África, como foi
colocado posteriormente, a análise das apropriações de alguns termos para acatá-los ou
refutá-los torna-se essencialmente necessária.
O Pan-africanismo, movimento surgido desde o fim do XIX, de forma oficial
em 1900, na primeira “Conferência dos povos de cor”, que, inicialmente, tinha um
carácter mais como “projeto de libertação”, consequentemente, tornou-se um “projeto
de integração” da África.
Como considera Marcio Paim, a priori, “era apenas uma reduzida manifestação
de solidariedade restrita às populações de ascendência africana nas Antilhas Britânicas e
dos Estados Unidos” (PAIM, 2014, p.88).
Marcus Mosiah Garvey (1887-1940), jamaicano, visionário ele teve papel
indispensável na formação do axioma “pan-africanismo”. É notável uma peculiaridade
pois, Garvey “nunca pôs os pés na África”. No entanto, ele “conseguiu levar as
populações africanas da diáspora a ideia de que o continente africano [...] fora a origem
e o lar de uma civilização grandiosa e voltaria a sê-lo novamente”. (PAIM, 2014, p.98).
Influenciado por essa mentalidade, que o antigo estudante de pós-graduação
em História e Filosofia, nos Estados Unidos e, posteriormente primeiro ministro e
presidente da Costa de Ouro (na atual Gana), surge Kawame N’Krumah.
N’Krumah fez seus estudos em escolas e seminários católicos. A partir de 1943
passou a palestrar em igrejas presbiterianas negras na Filadélfia e em Nova York,
também se lançou na militância socialista. Como intelectual e membro da política
africana, Kawame, participou não somente da elaboração teórica, como também, da
implantação do pan-africanismo sociliasta.
Seu projeto está bem reluzente no seu livro “A luta de classes em África”:
O objetivo principal dos revolucionários do mundo negro
deve ser a libertação e a unificação totais da África sob a direção de
um governo pan-africano socialista. É um objetivo que satisfará as
aspirações dos povos africanos em todo o mundo. (KWAME, 1977,
p.107)
Desde 1947, N’Krumah passou a militar veementemente pela concretização de
suas ideias socialistas, sendo preso e, posteriormente, tornando-se líder do movimento
de libertação da Costa de Ouro. Em 1957, a onda de protestos que comandou, teve
como fim a libertação da Costa de Ouro. Como presidente, promulgou em 1960 a
Constituição transformando Gana em República.
Em 1966, enquanto visitava o Vietnã do Norte e a China, o seu governo acabou
sendo desmembrando. Kwame lançou mão de seu “prestígio social” em sua estratégia
de união africana (M’BOKOLO 2011, p.633).
Aos olhos do historiador, não deve existir “santos súbitos”1. Kawame
N’Krumah, dentro do contexto da Guerra Fria, estava alinhado ao Bloco Soviético, o
que explica (não justifica) os bloqueios que o ser governo sofreu por parte de países
alinhados ao Bloco Americano. Ele também se utilizava de suas redes para pertuar-se no
poder.
A antiga Costa de Ouro ou, pelo menos, o seu governo, assimilava as ideias
socialistas num projeto da “África para os africanos”, nesse caso em concreto, todo o
orbe deveria se reunir em torno do fator “raça negra”.
O processo de democratização em África
Segundo M’BOKOLO (2011) novas ideias surgidas com a Conferência Nacional
pretendiam trazer novos debates em torno dos fundamentos jurídicos, políticos e sociais,
com destaque para os preparativos para uma transição para a democracia. A
Conferência também serviu para contestar as formas de governo, práticas violentas e
antiéticas, buscando identificar os responsáveis para que não pudessem retornar ao
poder.
O autor afirma que as novas tendências deram a mulher um novo lugar para as
mulheres nas instituições estatais, a liberação da imprensa e meios de comunicação em
massa ajudaram a contribuir para a formação da opinião pública. O modelo de Estado
centralizado também foi questionado e atribuídos restritamente aos regimes despóticos,
tornando a descentralização, o modelo almejado a ser seguido.
Em meio a renovação, M’BOKOLO (2011) sustenta que a efervescência de
mudanças encontraram muita oposição pelo caminho. Os responsáveis pelos regimes
anteriores, através de manobras, conseguiram retomar o poder.
“[...] Os permanentes golpes de Estado persistentes e as rebeliões inesperadas
multiplicavam as zonas de insegurança, nas quais a questão do pluralismo
político e da democratização deixavam de aparecer na ordem do dia e a partir
das quais se difundiam “modelos” alternativos de “senhores de guerra”[...]
hábeis em apagar os efeitos da “transição democrática”, ou restaurar, sem
alarde, ao abrigo de violências extremas, as formas ou os estilos dos anteriores
regimes despóticos.(M’KOBOLO, p.675, 2011)
1 Expressão comumente usada no vocabulário popular católico, para designar uma pessoa que após sua
morte é aclamada, popularmente, de imediato, como sendo santa(o).
NÓBREGA(2010) analisa que a queda da União Soviética proporcionou a
abertura para as mudanças na África. “[...]Com este colapso, os regimes autoritários
africanos perderam a capacidade de usar a rivalidade Este-Oeste que, até então,
mantivera ininterrupto o fluxo de fundos internacionais ao dispor das suas
elites.”(NÓBREGA, p.130, 2010)
Segundo NÓBREGA(2010), a situação se complicou para os regimes
autoritários quando estes deixaram de receber apoio dos fundos internacionais que os
sustentavam no poder.
“[...] não é possível compreender o fenómeno democrático em África sem
partir do entendimento de que este é o resultado de um processo, ainda em
definição, que combina ideias, valores e instituições democráticas ocidentais
com os preexistentes nas sociedades africanas.” (NÓBREGA, p. 131, 2010)
Referências bibliográficas:
BRAGA, Manuel Maria. . Os partidos políticos africanos no virar do milénio : um ensaio
preliminar / Manuel Maria Braga. - Lisboa : ISCTE, Centro de Estudos Africanos, [2005]. -
p. 53-77.
Disponível em: < https://cea.revues.org/1066#quotation> Acessado em:15/10/2015
CARDOSO, Carlos, Militarismo e Crise Econômica em África. África: Revista do Centro de
Estudos Africanos, USP,São Paulo,14- 15 (1): 119,142\ 1992.
KWAME Nkrumah. A Luta de classes em África. Lisboa: Livraria Sá da Costa editora, 1977.
M’BOKOLO, Elikia; África Negra História e civilizações – Tomo II (Do século XIX aos
nossos dias), EDUFBA, p 629 – 711.
NÓBREGA, Álvaro. .A democracia em África. OBSERVARE. Universidade Autónoma de
Lisboa. 2010
Disponível em: < http://www.janusonline.pt/popups2010/2010_3_2_7.pdf>
Acessado em: 14/10/2015
PAIM, Márcio. Pan-africanismo: tendências políticas, Nkrumah e a crítica do livro Na Casa De
Meu Pai. In: Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana Ano
VII, NºXIII, Julho/2014.
Disponível em:<http://www.revistas.usp.br/sankofa/article/viewFile/88952/91815>
Acessado em: 14/10/15
VAZ, rodrigo. . Regimes autoritários em áfrica: o caso da Guiné Equatorial. European
Scientific Journal. ESJ June 2013 /special/ edition No.1
Disponível em: <http://eujournal.org/index.php/esj/article/view/1295/1304>
Acessado em:15/10/2015