relato das primeiras impressÕes e resultados...
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RELATO DAS PRIMEIRAS IMPRESSÕES E RESULTADOS PARCIAIS DAS
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELO PROGRAMA DE EXTENSÃO SOBRE
DROGAS NO CAMPUS DA UNIOESTE/TOLEDO
Vera Lúcia Martins1
Ane Bárbara Voidelo2
RESUMO: Trata-se, o presente trabalho, do “Programa de prevenção e ressocialização referente ao
uso de substâncias psicoativas na Unioeste, campus de Toledo” e do relato dos resultados parciais da
atividades realizadas. O programa conta com o apoio do MEC/SESU (Edital 02/2013), cuja aprovação
resultou no aporte de recursos financeiros de R$149.927,61 para a sua realização. As atividades
apresentadas têm por objetivo criar na instituição: - grupos de estudos sobre a questão das drogas, -
constituição de grupo misto (usuários e não usuários de drogas) para estudar e debater o tema em
interação com profissionais e acadêmicos que estudam a questão; - desenvolver atividades como
oficinas, seminários, palestras e mesas redondas discutindo a temática. Pretende-se também dar
continuidade às ações de prevenção, entre a comunidade acadêmica, através de parcerias com o Centro
de Testagem e Aconselhamento para DST(s) de Toledo (CTA); Conselho Municipal Antidrogas
(COMAD); Alcóolicos Anônimos (AA); Narcóticos Anônimos (NA) e os Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS). Faz parte ainda da proposta realizar o mapeamento, em Toledo e região, das
entidades públicas e privadas que atendem os usuários de drogas em situação de internamento.
PALAVRAS-CHAVE: drogas; prevenção; ressocialização; qualidade de vida.
INTRODUÇÃO
A vida em uma sociedade complexa e competitiva pode levar os indivíduos à procura
pela satisfação, ainda que passageira, de seus desejos e à busca para o alívio imediato de
situações que provocam ansiedade e medo ainda que, para tanto, tenham que recorrer a
artífícios que possam colocá-los à mercê da perda de sua própria autonomia como sujeitos.
Um dos artifícios encontrados tem sido o uso e o abuso de drogas lícitas e/ou ilícitas, tanto
para suportar as pressões inerentes a uma rotina de vida estressante e tediosa, bem como para
buscar emoções e sensações prazerosas.
1 Profa. dra. no curso de Serviço Social da Unioeste/Campus de Toledo. Coordenadora do Programa de
Prevenção e Ressocialização Referente ao Uso de Substâncias Psicoativas da Unioeste/ Campus de Toledo.
E-mail: [email protected] 2 Professora mestre no curso de Serviço Social da Unioeste/Campus de Toledo. Colaboradora colaboradora no
Programa de Prevenção e Ressocialização Referente ao Uso de Substâncias Psicoativas da Unioeste/ Campus
de Toledo. E-mail: [email protected]
2
Sabe-se que o uso e o abuso de drogas3 lícitas e/ou ilícitas apresenta repercussões em
diferentes, e concomitantes, áreas da vida das pessoas que as usam, bem como do seu entorno
social, podendo ocasionar baixo desempenho funcional, dificuldade de ensino e
aprendizagem, absenteísmo, problemas de relacionamento interpessoal, doenças físicas,
distúrbios psíquicos e sociais, desorganização familiar, criminalidade4, instabilidade
financeira, emocional entre outros.
No que diz respeito à Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Unioeste, a mesma
localiza-se na região Oeste e Sudoeste do Estado do Paraná, possuindo cinco campi, nas
cidades de Cascavel (região Oeste), Foz do Iguaçu (região Oeste), Marechal Cândido Rondon
(região Oeste), Toledo (região Oeste) e Francisco Beltrão (região Sudoeste). Por ser uma
instituição de ensino, possui alunos oriundos não só das regiões Oeste e Sudoeste do Estado
do Paraná, mas também de outras regiões do próprio Estado e também de Estados vizinhos
como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, São Paulo e mais
recentemente, no caso do campus de Toledo, do continente africano (Guiné Bissau).
A diversidade econômica, familiar, social e cultural dos estudantes da Unioeste
constitui-se num mosaico, cujo modo de vida é influenciado, para além da diversidade
mencionada, por outros fatores como a distância geográfica da família de origem e as
dificuldades de adaptação à cidade, ao ritmo dos estudos, à pressão do grupo, bem como aos
fatores psicológicos e à pouca idade dos alunos que, na sua grande maioria, são jovens recém
saídos do Ensino Médio.
Esses fatores desempenham um papel importante na forma como cada membro da
comunidade acadêmica, alunos, professores e servidores técnicos administrativos, irá
responder não só às situações de pressão (trabalho, psicológica, emocional, dificuldades
3 Nesse trabalho as drogas serão tratadas em seu conjunto (lícitas e ilícitas), mas para efeito didático tem-se
claro a seguinte distinção: 1) as chamadas “drogas lícitas”, cuja produção e circulação (consumo) são
regulamentadas por lei, sendo permitida a sua comercialização em farmácias, drogarias, bares,
supermercados, entre outros, portanto, a venda desses produtos estão sob o controle de legislação específica,
a que são exemplos: cigarro, bebidas alcoólicas, “cola de sapateiro”, alguns ansiolíticos/tranquilizantes e
inibidores de apetite, entre outros. 2) as chamadas “drogas ilícitas” como sendo aquelas não legalizadas para
o comércio de modo geral, portanto, taxativamente proibidas para o uso recreativo ou para “sustentar” a
dependência de seus usuários, a exemplo: maconha, cocaína, haxixe etc. (MARTINS, 2011). 4 Cabe destacar que drogas e crime não têm, necessariamente, uma relação direta, ainda que esse seja o
discurso pedominante numa sociedade proibitiva, conservadora e estigmatizadora.
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econômicas e de relacionamentos) com as quais se deparará, mas também na busca pelo
prazer, pela excitação, por uma maior “leveza da alma”.
A realidade tem mostrado que uma das formas encontradas para responder às diversas
situações que se apresentam no cotidiano da comunidade universitária tem sido o uso abusivo
de substâncias consideradas como drogas (cigarro, álcool, remédio para dormir, remédio para
emagrecer, ansiolíticos, maconha, cocaína, crack, etc.), havendo a probabilidade de
estudantes, docentes e técnicos administrativos já terem experimentado e/ou fazerem uso
frequente de algum tipo de droga.
A abordagem ao uso e/ou abuso de drogas na Unioeste, envolvendo pessoas que
trabalham e/ou estudam na Universidade, não é fácil de ser realizada em razão da
complexidade das situações que as envolvem (preconceitos, desconhecimento da família, falta
de estrutura da universidade para acolher e trabalhar com usuários crônicos de drogas e a
própria liberdade5 de escolha de cada indivíduo).
Em razão do exposto é que se popôs ações de abordagem ao uso e abuso de drogas na
Unioeste campus de Toledo, através do Programa de prevenção referente ao uso de
substâncias psicoativas na Unioeste.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os conceitos sobre drogas, assumidos na presente trabalho, tomam por base aqueles
apresentados por Lenz (1964) e Olmo (2009). Para Lenz, drogas e venenos são quaisquer
substâncias naturais ou sintéticas que, usadas sob certas circunstâncias, funcionam como
remédios ou venenos. Olmo, por sua vez, destaca o conceito científico apresentado pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmando que “[...] a palavra droga significa ‘toda
substância que, introduzida em um organismo vivo, pode modificar uma ou mais funções
deste’”. De acordo com Olmo, “Na linguagem cotidiana, trata-se de ‘toda substância capaz de
alterar as condições psíquicas, e às vezes físicas, do ser humano, do qual portanto pode-se
esperar qualquer coisa’. A autora, exemplificando o conceito, cita a seguinte ilustração:
“Recentemente, um jovem perguntou a seu pai, um famoso toxicólogo inglês: - Papai, o que é
5 Entende-se que a questão da liberdade está dada a todos, mas em condições determinadas econômica, política
e socialmente.
4
uma droga? – Uma droga, meu filho, é uma substância que, injetada em um cachorro, produz
uma pesquisa” (OLMO, 2009, p. 21).
Olmo ainda destaca que o termo “droga” trata-se de uma palavra “[...] sem definição,
imprecisa e de uma excessiva generalização, porque em sua caracterização não se conseguiu
diferenciar fatos das opiniões nem dos sentimentos [...]", levando a “discursos contraditórios”
que contribuem para “[...] distorcer e ocultar a realidade social da ‘droga’, mas que se
apresentam como modelos explicativos universais” (OLMO, 2009, p. 21-22).
Observa-se que os conceitos científicos sobre as drogas nem sempre são levados em
conta quando se considera a forma como as sociedades, de modo geral, as têm tratado, bem
como aos seus ususários. Essa afirmação pode ser comprovada quando se observa que o uso
lícito e/ou ilícito de drogas tem sido apontado como o responsável por mortes, violências e
diversos transtornos psíquicos e sociais. Ocorre que nessa concepção desconsidera-se um
determinante fundamental que é a questão da alta rentabilidade econômica proporcionada
pelas drogas no seu processo de produção e circulação, rentabilidade esta indispensável para a
sociedade capitalista (MARTINS, 2011).
Em relação aos prejuízos causdados pelas drogas a avaliação do Dr. Harlem
Brundtland, diretor geral da Organização Mundial da Saúde (2001), afirma que 5% das mortes
em todo mundo, entre jovens entre 15 e 29 anos são atribuídas ao uso de álcool.
No Brasil, a estatística apresentada pelo o Centro Brasileiro de Informações Sobre
Drogas Psicotrópicas (CEBRID), no período de 1988 a 1999, em relação às 726.429
internações ocorridas, aponta que 90% o foram em decorrência do uso de álcool.
No último ano de análise do CEBRID, 1999, das 44.680 internações notificadas 84,5%
ocorreram em decorrência do uso do álcool, 8,3% por múltiplos psicotrópicos, 4,6% por
cocaína, 1,3% por maconha, 0,2% por solventes, entre outros (BOLETIM CEBRID, 2001).
Esses dados mostram que as drogas lícitas são as que mais prejuízos econômicos, sociais
(incluindo a área da saúde) trazem para o Estado e para a família
Nas conclusões de outro levantamento intitulado “II Levantamento Domiciliar sobre o
uso de drogas Psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país”,
também realizado pelo CEBRID em 2005, mostrou, em relação às drogas mais conhecidas, o
seguinte resultado:
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[Ácool]: O uso na vida de álcool, nas 108 maiores cidades do País, foi de 74,6%,
porcentagem inferior a de outros países (Chile com 86,5% e EUA, 82,4%). O menor uso de
Álcool ocorreu na região Norte (53,9%) e o maior no Sudeste (80,4%). A estimativa de
dependentes de Álcool foi de 12,3% para o Brasil; no Nordeste as porcentagens atingiram
quase 14%. Em todas as regiões observaram-se mais dependentes de Álcool para o sexo
masculino.
[Maconha]: O uso na vida de Maconha, nas 108 maiores cidades, foi de 8,8%, resultado
este próximo aos da Grécia (8,9%) e Polônia (7,7%), porém abaixo dos E.U.A. (40,2%) e
Reino Unido (30,8%). A região Sudeste foi campeã em porcentagens de uso na vida
(10,3%) e teve também a maior prevalência de dependentes de Maconha com 1,4%.
[Cocaína]: A prevalência de uso na vida de Cocaína, nas 108 maiores cidades do País, foi
de 2,9%, sendo próximos à Alemanha (3,2%), porém bem inferiores aos EUA, com 14,2%,
e Chile com 5,3%. A região Sudeste foi aquela onde se verificaram as maiores orcentagens
(3,7%) e a menor, no Norte com aproximadamente 1%.
[Crack]:O uso na vida de Crack foi de 1,5% para as maiores 108 cidades do País, cerca de
duas vezes menor que no estudo americano. O uso de Merla (uma forma de cocaína)
apareceu na região Norte com 1,0%, a maior do Brasil. (II LEVANTAMENTO..., 2005).
Outros autores (DEITOS et al, 1998), por exemplo, acreditam que seja improvável que
aqueles que não experimentaram quaisquer substâncias psicoativas até os 21 anos não venham
fazê-lo.
Nesse sentido é que se considera a probabilidade dos jovens, que ingressam na
Universidade, já terem experimentado e/ou fazer uso frequente de algum tipo de droga e, da
mesma forma, em relação aos docentes e técnicos-administrativos.
Corroboram ainda as estatísticas, do uso de drogas, o levantamento realizado pelo Grupo
Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (GREA), do Instituto de Psiquiatria do Hospital de
Clínicas de São Paulo. Segundo esse levantamento cerca de 15% da população brasileira é
dependente de álcool enquanto em outros países esse percentual é em torno de 12% a 13%,
segundo o coordenador do grupo, Arthur Guerra de Andrade (SCHEINBERG, 2014 ).
Em relação ao ambiente universitário, de acordo com informações do mesmo grupo
(GREA), em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (SENAD), “[...]
órgão do governo federal responsável por coordenar a implementação da Política Nacional
sobre Drogas (PNAD) e da Política Nacional sobre o Álcool (PNA)”, no Brasil há 2.252
Instituições de Ensino Superior, e mais de 5,8 milhões de estudantes universitários. Desse
universo, quando da realização do “I Levantamento Nacional Sobre o Uso de Álcool, Tabaco
e Outras Drogas Entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras”, os dados apresentados
revelam que:
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[...] quase 49% dos universitários pesquisados6 já experimentaram alguma droga ilícita
pelo menos uma vez na vida e 80% dos entrevistados, que se declararam menores de 18
anos, afirmaram já ter consumido algum tipo de bebida alcoólica. O consumo de álcool,
tabaco e outras drogas entre os universitários é mais frequente que na população em geral, o
que reforça a necessidade de um maior conhecimento desse fenômeno para o
desenvolvimento de ações de prevenção e elaboração de políticas específicas dirigidas para
esse segmento. (I LEVANTAMENTO..., 2010).
A pesquisa realizada ainda faz a associação entre o uso de álcool e outras drogas
apontando para “[...] as implicações desse uso sobre sua saúde e desempenho acadêmico,
bem como os comportamentos de risco a ele associados, como a direção de veículos
automotores e a prática sexual desprotegida” (I LEVANTAMENTO..., 2010).
Esse percentual (49%), se comparado com o número de estudantes da Unioeste,
estimado em 15 mil alunos (dados7 de 2014) matriculados nos cursos de graduação,
especialização, mestrado e doutorado a probabilidade é que 7.350 acadêmicos fizeram ou
fazem uso de algum tipo de droga.
Segundo Paula (2001), para ingressar na realidada de uso frequente à dependência,
o(s) usuário(s) cita(m) como fatores causadores do uso indevido: pressão do grupo,
transgressão e protesto, curiosidade, escape ou fuga, busca de prazer, individualidade e
pressão social, gratificação e reforço, familiares e causas microssociais.
Particularizando a análise para o “indivíduo”, que apresenta a necessidade de pertencer
a um grupo pelas características de adicto, o mesmo identifica-se com o grupo que apresenta
essa situação tornando-se um deles e estabelecendo, a partir daí, uma relação de
interdependência.
Ocorre, porém, que em realidades como a da sociedade brasileira, e de países
economicamente mais pobres, a análise não deve recair tão e unicamente sobre o indivíduo
(incluindo aí a sua família), haja vista que a questão socioeconômica torna-se central para se
pensar esses fatores/determinantes.
6 O universo pesquisado foi de 18 mil alunos, segundo relatório publicado em:
file:///F:/PROEXT/I%20LevantamentoDrogasUniversitarios%20-%20PT-br%202010.pdf. Acesso em: 21
jun. 2014. 7 Dados publicados por Wanja Borges em Paraná. Disponível em:
<http://vestibular.mundoeducacao.com/universidades/universidade-estadual-oeste-paranaunioeste.htm>.
Acesso em 21 jun. 2014.
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Nesse sentido, a forma como a equipe do programa tem abordado a questão do uso e
do abuso de drogas tem sido sob a perspectiva de entendê-la sob uma multiplicidade de
fatores - econômicos, sociais, familiares, psicológicos, culturais, entre outros já citados no
presente artigo -, considerando que esses fatores podem podem influenciar na avaliação e na
forma de intervenção dos profissionais na questão da dependência de drogas.
Importante é destacar a avaliação feita por Jefferson (2001) em relação aos fatores
biológicos, psicológicos e socioculturais.
As diferenças biológicas na resposta ao álcool podem influenciar sua suscetibilidade. [...] as
pessoas de origem asiática, por exemplo, em geral têm uma resposta fisiológica ao álcool
que inclui rubor, taquicardia e uma sensação intensa de desconforto [...]. Essa resposta pode
explicar porque os asiáticos-americanos têm o nível mais baixo de consumo de álcool e de
problemas relacionados ao álcool dentre os principais grupos raciais e étnicos dos Estados
Unidos. (JEFFERSON, 2001, p. 535).
Quanto aos fatores psicológicos:
Alguns abusadores de substâncias têm problemas psicológicos ligados a experiências
infantis. Muitos têm histórias de abuso físico ou sexual na infância. A maioria tem baixo
auto-estima e dificuldade para expressar emoções. Esses problemas podem ter influenciado
o uso de drogas no início e a progressão para a dependência. (JEFFERSON, 2001, p. 535).
Em relação aos fatores socioculturais a autora afirma:
Diversos fatores socioculturais influenciam a opção de um indivíduo por usar drogas, bem
como as drogas e as quantidades que serão usadas. Atitudes, valores, normas e sanções
diferem de acordo com a nacionalidade, a religião, o gênero, a história familiar e o
ambiente social. A avaliação desses fatores é necessária para o entendimento da pessoa
como um todo. Combinações de fatores podem tornar uma pessoa mais suscetível ao abuso
de drogas e interferir na recuperação. (JEFFERSON, 2001, p. 535).
O entendimento de que o uso e o abuso de drogas têm múltiplas determinações retira
do campo moral o trato na questão da dependência de drogas passando-a a ser compreendida
como sendo determinada pela condição na qual o usuário e/ou dependente de drogas se
encontra, incluindo aí o seu histórico de vida, e não apenas a sua vontade para parar ou
continuar com o uso e/ou abuso de drogas.
Nesse contexto, o ambiente universitário constitui-se num espaço favorável para o
contato com as drogas em razão das circunstâncias já apresentadas: pressão do grupo,
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separação da família, adaptação ao estilo de vida universitário (tanto acadêmico, quanto
econômico e social), dificuldades de adaptação à cidade, além da pouca idade dos jovens que
ingressam na universidade.
Essa tem sido a forma como a equipe do Programa de Prevenção e Ressocialização
Referente ao Uso de Substâncias Psicoativas na Unioeste tem abordado e compreendido a
questão do uso e do abuso de drogas.
OBJETIVOS ESTABLECIDOS PARA O PROGRAMA
Geral:
- Desenvolver ações de prevenção e ressocialização referente ao uso de drogas na
Unioeste, campus de Toledo/PR.
Específicos:
- Criar grupos de discussão permanente sobre a questão do uso de de drogas.
- Realizar evento sobre ações saudáveis para a qualidade de vida.
- Criar e organizar grupos mistos (usuários e não usuários de drogas lícitas e ilícitas).
- Dar continuidade às ações de aproximação e interlocução da Unioeste/campus de
Toledo com a comunidade externa (COMAD, CTA, CAPS, entre outros parceiros).
- Realizar seminários, palestras, mesas redondas e oficinas.
- Mapear as redes de atendimento aos dependentes de drogas em Toledo e região.
- Criar um banco de dados que facilite o acesso e o encaminhamento para internação,
quando necessário e solicitado por parte do usuário de drogas, nas redes de
atendimento a esses usuários.
- Visitar instituições que trabalham com a questão da dependência de drogas em
Toledo e região.
- Avaliar as ações realizadas através do programa.
METODOLOGIA E AVALIAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO
PROGRAMA
- Treinamento da equipe - especialmente dos acadêmicos bolsistas para a execução
do programa.
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- Confecção de cartazes do programa (e de suas ações - calendário dos eventos) para
divulgação entre a comunidade acadêmica do campus de Toledo (sala de aula,
setores administrativos, sala dos professores, DCE e centros acadêmicos e outros).
- Realização de seminários, palestras, mesas redondas, evento Ações Saudáveis para
a Qualidade de Vida e oficinas durante o ano de 2014 sobre o tema.
- Organização e formação de grupo de estudos da equipe envolvida, participantes e
outros interessados.
- Organização e formação de grupos mistos, de usuários e não usuários de drogas
lícitas e ilícitas, oportunizando assim ao indivíduo a mudança de comportamento.
- Ações de divulgação do programa na mídia (rádio, tv, jornais e outros meios) para
comunidade interna e externa à Unioeste.
- Avaliação periódica das ações realizadas, através de intrumentais específicos para
cada atividade realizada.
Ressalta-se que:
- a avaliação das ações propostas para a execução do programa (envolvendo pessoas
e grupos, seja em forma de seminários, palestras, mesas redondas, oficinas ou
outras atividades definidas pela equipe, com base na demanda local) está sendo
realizada através da ponderação dos participantes ao preencherem um questionário
avaliativo o qual é tabulado e interpretado. O resultado das avaliações é discutido
pela equipe do programa para que ao longo da execução das atividades possíveis
falhas possam ser corrigidas;
- o grupo misto contará sempre com um facilitador para conduzir as discussões,
incentivando a livre expressão dos sentimentos dos participantes, não permitindo o
preconceito dos demais. O grupo funcionará com a característica de participação
aberta, com base na liberdade de escolha na participação e também para
proporcionar a livre identificação do participante com as atividades desenvolvidas e
com os demais membros do grupo visando a sua autodeterminação;
- na participação e interação dos membros dos grupos será levado em consideração
seus valores, sua filosofia e orientação de vida. A interação permitirá o
conhecimento mútuo, de alguns pontos comuns que servirão de base para
elaboração de ações coletivas (MOSCOVICI, 1996);
- a idéia diretriz que norteará a mudança de comportamento encontra-se
profundamente unida à transformação da estrutura social na qual foi possível o
surgimento da adicção;
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- no tocante às atividades (palestras, oficinas, seminários e mesas redondas)
pretende-se propiciar espaços para a socialização do conhecimento a respeito da
temática, oportunizando o compartilhamento de opiniões com ênfase no
esclarecimento de conceitos, preconceitos e redução de danos;
- as oficinas visam, como parte prática e também interativa, oportunizar aos seus
participantes a criação de vínculos com o grupo, mas também apontar para soluções
práticas no sentido do membro do grupo despertar-se e criar interesse para outras
atividades que não apenas o seu nteresse pela(s) droga(s), tais como o lazer, a
cultura e a aprendizagem, vislumbrando oportunidades para a autodeterminação do
seu comportamento, através de ações criativas que possam auxiliar na mudança do
seu comportamento em relação ao uso abusivo de drogas.
RESULTADOS PARCIAIS DAS ATIVIDADES DO PROGRAMA
O pragrama até o presente momento (junho de 2014) já realizou:
1) um encontro com os estudantes das primeiras séries dos cursos de graduação da
Unioeste, campus de Toledo, para abordar a questão das drogas, conceitos, pré-conceitos e a
discussão sobre o que são “drogas leves” e “drogas pesadas”. O total de acadêmicos que
participaram (porque foram liberados pelos seus respectivos professores) é de 109 estudantes,
cuja avaliação, por parte dos mesmos, teve um alto índice de aprovação.
Para essa atividade os bolsistas do programa realizaram algumas entrevistas junto à
comunidade acadêmica da Unioeste, por ocasião da realização do XIV Seminário de Extensão
Universitária da Unioeste (SEU). Os entrevistados(as) foram abordados(as) aleatoriamente e
solicitados(as) a contribuírem com a entrevista para a realização da atividade sobre drogas,
respondendo duas questões: 1- O que você entende por drogas? 2- Você já usou drogas?
Antes do início da entrevista foi solicitado aos participantes que assinassem o termo de
consentimento livre e esclarecido para o uso da entrevista, áudio e vídeo, durante a realização
do encontro com os primeiros anistas dos cursos de graduação do campus de Toledo. As
entrevistas não sofreram alterações no que diz respeito ao seu conteúdo, sendo suas edições
limitadas apenas ao tempo disponível para a utilização do vídeo.
2) Grupo de estudo, já em andamento. Metodologicamente é semelhante ao grupo
misto, contanto também com um facilitador para conduzir as discussões e o roteiro dos temas
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a serem discutidos; possui um calendário de reuniões estabelecido quinzenalmente; mune os
seus participantes com material de estudo (texto, legislações, etc.) previamente encaminahado
através de e-mail; incentiva a livre expressão e opiniões de seus participantes; é flexível para
acatar sugestões de temas para estudo por parte dos participantes; é flexível no processo de
condução das reuniões, sugerindo e permitindo outro(s) facilitadore(s) para conduzir(em) a(s)
reuniões; possui a característica de participação aberta, com base na liberdade de escolha de
participação e do interesse dos participantes pelas temáticas trabalhadas.
3) Aquisição de 10 máquinas fotográficas para realização da oficina de fotografia.
4) O processo, em andamento, para aquisação de um veículo VAN para o campus de
Toledo, bem como dos demais materiais necessários para a realização da oficina de
grafitagem. Ressalta-se que o veículo de transporte coletivo visa facilitar não só as ações
futuras do programa, mas também propriciar aos acadêmicos do campus uma maior facilidade
para participarem de suas atividades fora da instituição.
5) Encaminhamento de ofícios para as Secretarias de Assistência Social e de Saúde,
bem como para o COMAD, solicitando a disponibilização de dados sobre a rede de
atendimento aos usuários de drogas em Toledo.
RELAÇÃO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
O ensino, a pesquisa e a extensão, entendidos de modo indissociável, compreendem
um “[...] processo educativo, cultural e científico [...]”, que “[...] viabiliza a relação
transformadora entre universidade e sociedade [...]” (NOGUEIRA, 2000, p. 11). Nesse
sentido, as ações devem se constituir num canal de interlocução, de mediação entre a
universidade e a sociedade, contribuindo para a socialização do saber, mas também para a
efetiva participação da comunidade na vida universitária. Se entendida assim, a formação
profissional deve ultrapassar os limites da sala de aula e interagir dinamicamente com a
comunidade externa, visando a ampliação e difusão do conhecimento e da produção
científica, tecnológica, filosófica e cultural, através de atividades de ensino, pesquisa e
extensão, numa perspectiva indissociável da relação teoria e prática.
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A proposta do programa, através das ações de extensão, relaciona-se diretamente e
indissociavelmente às ações do ensino e da pesquisa, no âmbito da Universidade e da
comunidade externa, no sentido de se criar e proporcionar um espaço para a aprendizagem
dos acadêmicos, dos servidores técnicos administrativos e dos professores envolvidos com o
programa, mas também para a disseminação de informações relativas à prevenção em drogas,
à redução de danos, e também um espaço para as ações práticas do cuidado à saúde, como
exemplo, a criação da possibilidade da comunidade acadêmica realizar, gratuita e
voluntariamente a testagem sorológica para as chamadas doenças sexualmente transmissíveis.
Para tanto, serão estabelecidas ações conjuntas entre os parceiros envolvidos (CTA,
COMAD, CAPS) e os executores e os apoiadores (Unioeste) do programa e a comunidade
interna e externa à Universidade. O fim último é sensibilização, através de campanhas
educativas, sobre a importância de se desenvolver atitudes saudáveis que resultem na
qualidade de vida das pessoas, mas também desencadear a discussão, no âmbito da
Unioeste/Toledo, sobre a necessidade da prevenção e redução de danos entre os usuários de
drogas, entendendo que o usuário de drogas tem direito à vida e à saúde, portanto, é
necessário abordar a questão do ponto de vista da saúde e dos direitos humanos.
A Constituição Federal de 1988 assegura, em seu Art. 196, o direito à saúde como um
direito universal, ou seja, todos, independentemente de contribuição prévia, devem ter
assegurado o acesso gratuito à saúde: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e
recuperação”. Esse artigo da Constituição deixa claro o princípio fundamental ao qual todos
têm direito - a dignidade humana -.
O direito à saúde, portanto, à vida, mediado pelo acesso e tratamento médico e
hospitalar e aos demais meios que concorram para assegurar a dignidade da pessoa humana,
deve ser assegurado pelo Estado, através de políticas sociais, que viabilizem o cumprimento
desse direito constitucional.
Entendendo a saúde como direito de todos e dever do Estado pode-se perguntar que
papel compete também à sociedade na consecução desse direito. Ou seja, de que forma poderá
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contribuir para que o respeito à dignidade da pessoa humana seja garantida? Que mecanismos
devem ser acionados na viabilização desse direito?
A universidade, como uma instituição social, tem desempenhado um papel fundamental
em todas as áreas do saber, não só no tocante à produção do conhecimento, mas também na sua
socialização, quer seja através do ensino, da pesquisa e da extensão, sendo, direta ou
indiretamente, requisitada a dar respostas a questões e problemas próprios da vida social.
AVALIAÇÃO PELO PÚBLICO PARTICIPANTE
A avaliação, como já indicado, será realizada pelos participantes das atividades
previstas no programa, através de um instrumento avaliativo (questionário) que será aplicado
ao final de cada atividade, contendo questões que apontem para: a relevância da atividade; a
importância do tema tratado; o grau de assimilação e/ou dificuldade apresentada na atividade;
o alcance do objetivo proposto para a atividade; a metodologia aplicada a cada atividade; a
adequação do espaço físico e uso de materiais didáticos e audiovisuais; o envolvimento da
equipe e dos participantes; a contribuição da atividade para romper preconceitos; a
contribuição da atividade para o estímulo à mudança de comportamento dos participantes no
que se refere ao uso e abuso de drogas, entre outras questões que possam ser consideradas,
pela equipe e pelos participantes, como relevantes para o processo avaliativo de cada
atividade.
AVALIAÇÃO PELA EQUIPE
- Tabulação, análise, interpretação e discussão dos resultados dos instrumentos
avaliativos, aplicados ao final de cada atividade.
- Socialização, discussão e avaliação dos resultados avaliativos, aplicados aos
participantes.
- Refomulação na metodologia aplicada às atividades, quando o resultado avaliativo
dos participantes apontar para essa questão.
- Aprofundamento dos pontos positivos apontados pelos participantes do programa.
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CONCLUSÕES
Até o presente momento (abril-junho/2014) foi possível realizar, das atividades
previstas no programa, a criação de grupos de estudos sobre drogas; um encontro com os
primeiros anistas dos cursos de graduação do campus de Toledo para uma “conversa sobre
“drogas – conceitos e preconceitos –; contato com o COMAD e com as secretarias de
Assisência Social e da Saúde, solicitando a disponibilização de informações (dados) sobre a
rede de atendimetno aos usuários de drogas em Toledo; divulgação do programa através de
cartazes e internet; contato com as coordenações do COMAD e CAPS II E III.
Das atividades já desenvolvidas percebe-se um interesse bastante grande, por parte dos
parceiros contatados, visando o estreitamento e o trabalho conjunto com a equipe do
programa, situação essa evidente na participação de coordenadores de algumas instituições de
atendimento a usuários de drogas e também de membros do Conselho local (sobre drogas) no
grupo de estudo. Foi também possível perceber que na atividade desenvolvida com as
primeiras séries dos cursos de graduação do campus de Toledo, dos 109 acadêmicos
participantes, da atividade “drogas – conceitos e preconceitos”, o nível de satisfação foi
bastante alto em relação à relevância da temática proposta, bem como da sua forma de
realização.
Ressalta-se que, que essas foram as primeiras atividades desenvolvidas (a partir de
abril desse ano). Para o segundo semestre de 2014 as demais atividades já estão programadas,
quais sejam: - início das reuniões do grupo misto; realização do evento ações saudáveis para a
qualidade de vida, nos três períodos (manhã, tarde e noite), durante o qual ocorrerão
atividades como palestras, mesas redondas, distribuição de material informativo sobre drogas
e doenças sexualmente transmissíveis, coleta de sangue para sorologia de HIV/AIDS, doação
de sangue para o banco de sangue) e; - as oficinas de fotografia e grafitagem.
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