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PUBLICAÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL: DESTAQUE PARA OS EXAMES E RANKINGS Ana Lúcia Marran Marianne Pereira de Souza 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo analisar as publicações dos grupos de pesquisa cadastrados no Diretório do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que têm como foco de estudo a avaliação da educação superior. Para tanto, optou-se pela seleção dos trabalhos produzidos pelos líderes dos referidos grupos e publicados na revista Avaliação: Revista da Avaliação da Educação. A pesquisa acerca da temática em questão justifica-se uma vez que a avaliação assumiu um papel de centralidade nas políticas para a educação superior brasileira, tornando-se um dos eixos estruturantes das políticas educativas contemporâneas vinculadas às mudanças econômicas e políticas mais amplas (CATANI; DOURADO; OLIVEIRA, 2003; DIAS SOBRINHO, 2003). A seleção dos artigos ocorreu por amostragem intencional baseada no critério de visibilidade na área de estudo, o que justificou a escolha dos trabalhos desenvolvidos por líderes de grupos de pesquisa do CNPq e publicados em uma revista científica de circulação nacional e que trata especificamente da educação superior. Durante a pesquisa, utilizou-se como critério inicial de seleção a palavra-chave “avaliação da educação superior” para a busca no banco de dados do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil do CNPq, realizada em outubro de 2010. Como resultados da busca, foram encontrados os nomes de 34 grupos que pesquisavam esta temática. Em seguida foram levantados os nomes dos líderes de cada grupo, bem como, os seus 1 Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e-mail: [email protected]

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PUBLICAÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO

BRASIL: DESTAQUE PARA OS EXAMES E RANKINGS

Ana Lúcia Marran

Marianne Pereira de Souza1

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo analisar as publicações dos grupos de

pesquisa cadastrados no Diretório do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico

e Tecnológico (CNPq) que têm como foco de estudo a avaliação da educação superior.

Para tanto, optou-se pela seleção dos trabalhos produzidos pelos líderes dos referidos

grupos e publicados na revista Avaliação: Revista da Avaliação da Educação.

A pesquisa acerca da temática em questão justifica-se uma vez que a avaliação

assumiu um papel de centralidade nas políticas para a educação superior brasileira,

tornando-se um dos eixos estruturantes das políticas educativas contemporâneas

vinculadas às mudanças econômicas e políticas mais amplas (CATANI; DOURADO;

OLIVEIRA, 2003; DIAS SOBRINHO, 2003).

A seleção dos artigos ocorreu por amostragem intencional baseada no critério

de visibilidade na área de estudo, o que justificou a escolha dos trabalhos desenvolvidos

por líderes de grupos de pesquisa do CNPq e publicados em uma revista científica de

circulação nacional e que trata especificamente da educação superior.

Durante a pesquisa, utilizou-se como critério inicial de seleção a palavra-chave

“avaliação da educação superior” para a busca no banco de dados do Diretório dos

Grupos de Pesquisa no Brasil do CNPq, realizada em outubro de 2010. Como resultados

da busca, foram encontrados os nomes de 34 grupos que pesquisavam esta temática. Em

seguida foram levantados os nomes dos líderes de cada grupo, bem como, os seus

1 Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

(UEMS)

e-mail: [email protected]

2

currículos cadastrados na plataforma lattes, onde foram verificados os registros de suas

publicações na Revista citada.

A revista Avaliação é publicada desde 1996 pela Rede de Avaliação

Institucional da Educação Superior (RAIES) com o subtítulo Revista de Rede de

Avaliação da Educação Superior e, a partir de 2007, em parceria com a Universidade de

Sorocaba (UNISO), com alteração no subtítulo para Revista da Avaliação da Educação

Superior. Publica prioritariamente trabalhos relacionados aos temas da "avaliação da

educação superior", "avaliação" e "educação superior", em português ou em espanhol.

Considerando que, desde 2007, é possível acessar os artigos completos

publicados pela Revista no site de busca Scientific Electronic Library Online (Scielo), o

período privilegiado para este trabalho compreende junho de 2007 a junho de 2010.

Para a análise dos trabalhos foram utilizados tanto procedimentos quantitativos,

a partir da estatística descritiva, quanto qualitativos, pela análise global dos dados.

Este trabalho está organizado em 04 seções, a saber. A primeira seção se refere

ao Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) e aos principais

documentos, em vigor, referentes a esta avaliação no Brasil. Para tanto, são

apresentadas algumas críticas da literatura da área sobre o assunto. Na segunda, são

apresentados os resultados das pesquisas com as principais características encontradas

na análise das publicações. A terceira seção destaca a temática com maior incidência de

discussão nos trabalhos, a presença dos exames e dos rankings no contexto do SINAES.

E finalmente nas conclusões são apontadas algumas reflexões acerca dos artigos

analisados.

O SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

(SINAES)

A obrigatoriedade de um processo regular de avaliação para a educação superior

foi determinada pela Lei nº 9.394, aprovada em dezembro de 1996, que estabeleceu as

Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Assim, o art. 9º da referida lei definiu como

uma das incumbências da União “assegurar o processo nacional de avaliação das

instituições que oferecem esse nível de ensino”.

Nesse sentido, O SINAES, aprovado por meio da Lei nº 10.861, de 14 de abril

3

de 2004, foi criado com o objetivo de assegurar o processo de avaliação das instituições

de educação superior, dos cursos de graduação e do desempenho acadêmico de seus

estudantes (BRASIL, 2004a)

O documento referente ao SINAES enfatiza as ações combinadas de avaliação

interna e externa, propõe a integração entre diversos instrumentos e momentos de

aplicação, tendo como base e eixo estruturante uma concepção global de avaliação e de

Educação Superior. Para RISTOFF; GIOLO (2006), o SINAES apresenta uma

concepção que integra as metodologias, os momentos, os espaços e os instrumentos de

avaliação e de informação, o que o caracteriza como diferente das práticas

anteriormente existentes

O SINAES é composto por três processos de avaliação: a avaliação das

instituições, a avaliação dos cursos e a avaliação dos estudantes e, a sua

operacionalização está sob a responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

A Portaria nº 2.051, de 9 de julho de 2004, regulamentou os procedimentos de

avaliação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior definindo, entre

outras coisas, as competências da Comissão Nacional de Avaliação da Educação

Superior (CONAES), órgão colegiado de coordenação e supervisão. Em agosto do

mesmo ano, a CONAES publicou, as Diretrizes para a Avaliação das Instituições de

Educação Superior.

Posteriormente, foi divulgado um documento intitulado “Orientações Gerais

para o Roteiro da Auto-Avaliação das Instituições”, destinado às Comissões Próprias de

Avaliação (CPAs), focalizando as etapas de desenvolvimento da auto-avaliação das

instituições e oferecendo possibilidades e caminhos para a construção de processos

próprios de auto-avaliação institucional.

O desenvolvimento da avaliação das instituições de educação superior tem por

objetivo identificar o perfil e o significado de sua atuação, por meio de atividades,

cursos, programas, projetos e setores, considerando as diferentes dimensões

institucionais. Esta avaliação é desenvolvida em duas etapas: a auto-avaliação,

coordenada pela Comissão Própria de Avaliação (CPA) da instituição e a avaliação

externa (BRASIL, 2004a).

A CPA, constituída pelas instituições, tem como atribuições a condução dos

4

processos de avaliação internos da instituição, a sistematização e a prestação das

informações solicitadas pelo INEP. O seu caráter formativo deve permitir o

aperfeiçoamento, tanto pessoal (dos docentes, discentes e técnico-administrativos)

quanto institucional, pelo fato de colocar todos os atores em um processo de reflexão e

autoconsciência, devendo inclusive inserir a participação da comunidade externa

usuária. (CONAES, 2004b)

Os resultados da auto-avaliação são submetidos ao olhar externo de

especialistas de áreas/cursos, de planejamento e de gestão da educação superior, na

perspectiva de uma avaliação externa das propostas e das práticas desenvolvidas. A

avaliação externa é composta de duas etapas: a visita dos avaliadores à instituição e a

elaboração de relatório de avaliação institucional (CONAES, 2004b).

A avaliação dos cursos de graduação tem por objetivo identificar as condições

de ensino oferecidas aos estudantes, em especial as relativas ao perfil do corpo docente,

às instalações físicas e à organização didático-pedagógica. O período de realização desta

avaliação depende do processo de reconhecimento e da renovação desse

reconhecimento, a que estão sujeitos os cursos da instituição. Uma equipe

multidisciplinar de especialistas das respectivas áreas é responsável por avaliar os

cursos, juntamente com um avaliador institucional, que atribuirão conceitos ordenados

em uma escala com 5 (cinco) níveis.

Já a avaliação do desempenho dos estudantes é realizada pelo SINAES por

meio do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE).

No ano de 2005, foi criado o Indicador de Diferença entre os Desempenhos

Observado e Esperado (IDD), que tem como objetivo trazer às instituições informações

comparativas dos desempenhos de seus estudantes concluintes em relação aos

resultados obtidos, em média, pelas demais instituições cujos perfis de seus estudantes

ingressantes são semelhantes. Em relação ao referido indicador, Araújo (2009) destaca

que,

Embora gerado para verificar o conhecimento agregado pelo

curso de graduação, a aplicação do IDD, desconsidera

aspectos específicos da aprendizagem, pois o confronto entre

os resultados obtidos no início do curso não se dá,

necessariamente, com os resultados dos mesmos sujeitos, no

final do curso. (Araújo, 2009, p. 171)

5

Em 9 de maio de 2006, foi instituído o Decreto Federal n.º 5.773, que dispõe

sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de

educação superior e cursos superiores de graduação e seqüenciais no sistema federal de

ensino. Este documento, conhecido como “Decreto-Ponte”, define no art. 1º, parágrafo

3º, que “A avaliação realizada pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação

Superior - SINAES constituirá referencial básico para os processos de regulação e

supervisão da educação superior, a fim de promover a melhoria de sua qualidade”.

Em 2008, foram criados indicadores no contexto da educação superior brasileira,

com a pretensão de elaborar rankings das melhores Instituições de Ensino Superior

(IES) do país: o Conceito Preliminar de Curso (CPC)2 e o Índice Geral de Cursos da

Instituição de Educação Superior (IGC)3.

A inserção de índices e a supervalorização do ENADE na composição do

SINAES têm suscitado diversas críticas da literatura da área acerca das mudanças

ocorridas durante a implementação do Sistema.

Para Sguissardi (2008), a instalação de dois novos indicadores no contexto da

educação superior brasileira tem o objetivo de obter apenas um produto final. Desta

forma, o SINAES passou a conter a possibilidade de ranqueamentos diversos

(AMARAL, 2009), já que os conceitos obtidos pelo atual ENADE ganharam muito

mais notoriedade e centralidade do que a auto-avaliação.

Assim, conforme expõe Maués (2010), a avaliação apresentada como

democrática, formativa e emancipatória cedeu lugar a uma concepção de avaliação que

serve de instrumento de regulação e controle, para ajustar esse nível de ensino à lógica

do capital. Aquilo que deveria ser uma referência para a qualidade da educação superior

foi utilizado pelo mercado educacional como diferencial mercadológico (ABREU JR,

2009).

RESULTADOS

O levantamento realizado possibilitou o acesso a 18 artigos, publicados por

líderes de 11 grupos de pesquisa. Cabe mencionar que embora o site do Diretório do

2 Instituído pela Portaria Normativa nº 4 de 5 de agosto de 2008.

3 Instituído pela Portaria Normativa nº 12 de 5 de setembro de 2008.

6

CNPQ indique 34 grupos como resultantes da busca, 05 destes grupos não mencionaram

a avaliação como foco de suas pesquisas no formulário específico do Diretório.

Dos 18 trabalhos encontrados, 12 foram produzidos individualmente, enquanto

06 foram construídos em co-autoria. Dentre estes últimos, somente 01 contou com a

participação de três líderes de diferentes grupos de pesquisa em sua autoria.

Destaca-se que 61 % dos artigos foram publicados no ano de 2008, o que

corresponde a 11 de um total de 18 trabalhos. Em 2007, foram publicados 03 trabalhos e

nos anos de 2009 e 2010, dois em cada ano. A distribuição dos estudos de acordo com

os anos de publicação é apresentada no gráfico a seguir:

11%

11%

61%

17%

2010

2009

2008

2007

Gráfico 1- Distribuição dos artigos por anos de publicação.

É necessário ressaltar que, do total de trabalhos encontrados, 10 artigos foram

produzidos por pesquisadores da região sudeste, 07 da região sul e apenas 01 da região

centro-oeste. Observa-se a concentração de publicações na região sudeste e sul, o que é

coerente com a concentração de instituições que oferecem cursos de pós-graduação em

nível de mestrado e doutorado nessas regiões do Brasil.

Na leitura dos artigos foi possível identificar que 05 são frutos de pesquisas e 02

são relatos de experiência. Não foi possível identificar a metodologia utilizada por 11

desses trabalhos, ou seja, a maior parte deles.

Para a sistematização dos dados, os trabalhos foram divididos em três categorias:

Política de Educação Superior, Formação Universitária e Avaliação da Educação

Superior, na qual foram enquadrados 15 artigos. Dado o número de artigos presentes

7

nesta ultima categoria, optou-se em dividi-los em subcategorias, distribuídos conforme

a Tabela 1.

A partir dos dados da Tabela, observa-se que a primeira categoria apresentada,

“Política de Educação Superior”, apresenta apenas 01 trabalho publicado. Na discussão

sobre o tema o estudo aborda o panorama geral da educação brasileira destacando as

principais mudanças que ocorreram a partir de 1995, entre elas a nova LDB, a expansão

da educação superior por meio, principalmente, das instituições privadas e as políticas

de inclusão desenvolvidas no período.

Tabela 1 – Distribuição dos artigos por categoria e subcategorias

CATEGORIAS QUANTIDADE DE ARTIGOS

Política de Educação Superior 1

Formação Universitária e Oferta

de Cursos

2

Avaliação da Educação Superior 15

Subcategorias

História 2

Concepções da Avaliação 2

Auto-avaliação institucional 4

Avaliação institucional externa 1

Estudantes e a Avaliação 1

Exames e Rankings 5

Na segunda categoria, “Formação Universitária e Oferta de Cursos”, foram

enquadrados 02 trabalhos. Dentre os destaques dos trabalhos estão: as concepções e

influências na formação universitária no Brasil, com ênfase para a influência do

mercado; perfil de instituições, oferta de ensino, pesquisa e extensão; projetos, produtos

e tecnologias das IES com objetivo de subsidiar ações dos órgãos governamentais

responsáveis pela educação.

Na categoria “Avaliação da Educação Superior”, foco desta pesquisa, os

trabalhos, de uma forma geral, abordam as principais políticas de avaliação e as

transformações da educação superior brasileira por meio de um panorama histórico, da

descrição do processo de avaliação atual e da discussão acerca da implementação aos

8

SINAES. As evidências encontradas em cada subcategoria indicada na Tabela 1 são

apresentadas abaixo:

- História da Avaliação da Educação Superior: dois dos trabalhos publicados

descrevem aspectos históricos da avaliação da educação superior no Brasil. Em um

artigo, são apresentados e analisados os documentos do PARU4, CNRES

5, GERES

6 e

PAUIB7. Para isso são detectados os tópicos desses documentos que fazem parte da

avaliação nos anos 1990 e 2000.

Já no outro artigo são explicitados os avanços e retrocessos da avaliação desse

nível de ensino no Brasil nas políticas dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luis

Inácio Lula da Silva. O trabalho indica uma série de mudanças ocorridas na educação

superior, dentre elas, a criação do SINAES que pretende articular a ação de regulação

com a dimensão de emancipação das IES.

- Auto-Avaliação Institucional: os 04 trabalhos classificados na subcategoria

enfatizam as experiências auto-avaliativas, principalmente, de instituições públicas.

Entretanto, um deles analisa a participação da comunidade acadêmica no processo de

auto-avaliação, a partir da proposta do SINAES, de uma IES privada. O trabalho busca

conhecer a importância deste processo para acadêmicos, professores e técnicos

administrativos e descobrir quais os meios de comunicação mais os sensibiliza.

O processo de auto-avaliação de uma IES estadual é relatado em um dos artigos

que destaca a importância da sensibilização da população universitária trazendo,

inclusive, algumas das estratégias utilizadas para isso, como a criação de grupos de

avaliação local nas unidades universitárias. Apresenta todas as etapas desta auto-

avaliação, desde a criação da CPA até a elaboração do primeiro relatório da auto-

avaliação, bem como, as reflexões provocadas por este.

Além desses, com o objetivo de avaliar o significado desse modelo de atividade

de avaliação, um dos estudos enfatiza, especificamente, as CPAs das universidades

federais brasileiras.

4 “Programa de Avaliação da Reforma Universitária” (1983),

5 “Relatório da Comissão Nacional de Reformulação da Educação Superior “Uma Nova Política para a

Educação Superior Brasileira” (1985) 6 “Relatório do Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior” (1986)

7 Documento da Comissão Nacional de Avaliação do Ensino Superior “Programa de Avaliação

Institucional das Universidades Brasileiras” (1993).

9

- Avaliação Institucional Externa: o artigo expõe a temática contextualizando

o processo de avaliação com destaque para a avaliação externa e evidenciando a

importância da visita in loco prevista no SINAES e se referindo a esta fase como a de

maior relevância no processo de avaliação. O autor sustenta a necessidade e a

possibilidade de se organizar uma estrutura para avaliação da educação superior

utilizando o SINAES com mesmo rigor que a Capes tem com os cursos de pós-

graduação.

- Estudantes e a Avaliação: o único trabalho indicado nesta subcategoria avalia

a influência dos programas de avaliação expressos em resultados de exames nacionais

nos movimentos e nas ações estudantis. Para isso, aborda os conceitos e estudos sobre

estudante universitário e apresenta um histórico do movimento estudantil no Brasil.

Considerando que a subcategoria “Exames e Rankings” possui o maior número

de artigos, destaca-se a seguir o que estes trabalhos discutem acerca da temática.

OS EXAMES E O RANQUEAMENTO NA AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO

SUPERIOR BRASILEIRA

Os 05 trabalhos classificados nesta subcategoria chamam a atenção para dois

elementos que compõem o SINAES: a avaliação do desempenho dos estudantes e a

avaliação de cursos.

Desta forma, um dos artigos expõe o trabalho da Comissão Assessora de

Avaliação da área de Pedagogia, no ano de 2005. Esta Comissão, composta por

representantes de instituições de educação superior, públicas e privadas, presentes nas

cinco regiões geográficas do país, foi incumbida de propor diretrizes, objetivos e outras

especificações para a construção dos instrumentos aplicados aos participantes do

ENADE do mesmo ano.

Após descrever as etapas do trabalho realizado pela referida Comissão, o artigo,

escrito em co-autoria no ano de 2008, avalia os instrumentos construídos para a prova e

discute o processo de avaliação. Ao fazer ponderações acerca do SINAES, os autores

apontam os avanços do ENADE em relação ao anterior – o Exame Nacional de Cursos

(ENC) - conhecido como “Provão”. Dentre esses avanços está a característica do

Sistema que congrega princípios como o diagnóstico, a auto-formação, a ênfase no

10

processo de construção da informação e na perspectiva de crescimento e transformação

institucional.

Embora o trabalho ressalte o caráter formativo da proposta contida nos

dispositivos legais que criam e regulamentam o SINAES, os autores apontam alguns

questionamentos que deveriam ser realizados pelas instituições em relação aos dados

indicados nos resultados, dentre eles: o que se fará com os diagnósticos desenvolvidos?

Quem será o responsável direto pelas alterações consideradas necessárias? Qual será o

lugar do governo no encaminhamento das melhorias necessárias, tanto no caso das IES

públicas quanto no caso das IES privadas?

Na discussão do surgimento dos IGC e do CPC, um dos trabalhos ressalta

negativamente o “super-dimensionamento” do ENADE nos referidos indicadores, uma

vez que entre as críticas ao “Provão” estava justamente o fato do mesmo considerar

apenas os resultados dos exames dos alunos.

No artigo, são assinalados os limites do ENADE, já que este Exame não permite

a comparabilidade dos resultados entre os avaliados em um mesmo ano e não permite,

ainda, a comparação entre o mesmo curso avaliado a cada três anos. Além disso, chama

a atenção para o terceiro elemento do SINAES – a avaliação de curso – que apareceria

de forma distorcia no CPC. Segundo a autora do trabalho,

Embora alguns estudos sobre o SINAES mostrem a evidência de um

modelo de avaliação em transformação e não definitivo, o novo

índice e seus conceitos preliminares parecem levar-nos novamente ao

tempo dos rankings, das avaliações mercadológicas e simplificações

midiáticas, mais próximos de uma visibilidade publicitária do que da

verdade da avaliação da qualidade. (Barreyro, 2008, p. 867)

Nesta mesma direção, outro trabalho, publicado em 2009, descreve os processos

de funcionamento do SINAES e faz críticas ao fato de se coletar a maioria dos dados

utilizados para avaliação das IES, no processo do ENADE.

O artigo destaca as mudanças ocorridas no Ministério da Educação a partir de

2005, dentre estas, a criação, em 2008, de indicadores que favorecem o ranqueamento

das IES no país. Essas mudanças representam um equívoco em termos de aplicabilidade

do SINAES, pois um único pilar do Sistema passa a ser utilizado como o definidor de

qualidade da educação superior oferecida pelas IES.

11

Assim, a utilização dos dados do ENADE com a finalidade de marketing e

disputas entre as IES transgrediram a implementação do SINAES, já que em uma

avaliação formativa, característica da avaliação institucional, “o produto passa a ser

apenas um componente do complexo processo da avaliação” (POLIDORI, 2009, p. 11).

Dois dos trabalhos pesquisados foram publicados pelo mesmo autor, um em

2008 e o outro em 2010. De uma forma geral os artigos, assim como os dois últimos

apresentados, fazem críticas à recente prática de avaliação adotada no Brasil,

desenvolvidas com ênfase na regulação, por meio da hegemonia dos exames nacionais e

pela influência dos interesses neoliberais na busca da eficiência e da eficácia.

O primeiro trabalho discute os conceitos de qualidade, avaliação e acreditação,

além de criticar as recentes práticas de avaliação adotadas pelo INEP no Brasil. O outro

artigo tem como objetivo estabelecer um eixo entre as principais políticas de avaliação e

as transformações da educação superior brasileira, concebidas e praticadas a partir de

1995, destacando alguns dos efeitos sobre o ensino de graduação. Sinaliza os principais

instrumentos de avaliação praticados no Brasil, com ênfase no Provão e no ENADE, e

faz considerações sobre os exames gerais ou de larga escala, com intuito também de

apontar suas interferências no ensino.

Para Dias Sobrinho (2010), o SINAES está reduzido a índices, processo que

possibilita a utilização dos dados obtidos para fins de marketing e ranking,

principalmente entre as IES privadas. As mudanças ocorridas na implementação do

SINAES significam uma alteração radical do paradigma de avaliação: da produção de

significados e reflexão sobre os valores do conhecimento e da formação, para o

controle, a seleção, a classificação em escalas numéricas. A qualidade, desta forma,

seria resultante do ENADE, mais o IDD e o índice de insumos (opinião dos alunos

sobre plano de curso e condições de infra-estrutura), cuja responsabilidade caberia

totalmente ao estudante.

CONCLUSÕES

A partir dos artigos publicados na Revista Avaliação, é possível perceber as

tendências das pesquisas realizadas pelos líderes dos grupos de pesquisa que enfocam a

avaliação da educação superior. No entanto, o pequeno número de publicações dos

12

líderes em co-autoria com outros membros, já que a maioria dos trabalhos foi publicada

por apenas um autor, não permite afirmar que os trabalhos são resultados de pesquisas

realizadas pelos grupos levantados.

Dentre as características apontadas, ressalta-se a escassez de informações sobre

a metodologia utilizada para a realização dos estudos, o que dificulta a classificação dos

trabalhos. Além disso, um grande número de artigos faz uma abordagem mais teórica

das temáticas.

Já, em relação às categorias e subcategorias elencadas percebe-se que a maior

parte dos trabalhos discute o processo de implementação do SINAES e os seus

desdobramentos, o que é justificável pelo período privilegiado pela pesquisa. Neste

sentido, é possível inferir que o ano de 2008 apresenta o maior número de publicações

em conseqüência dos relatórios das auto-avaliações institucionais realizadas e,

principalmente, da criação, no mesmo ano, dos indicadores IGC e CPC, conforme

abordado.

O conjunto de trabalhos analisados, corroborando com as publicações dos

demais autores da área, indicam a forte presença do mercado como elemento de

regulação nas políticas avaliativas brasileiras, em detrimento das necessidades ou

escolhas da comunidade acadêmica, inclusive no SINAES, caracterizado como diferente

das práticas anteriormente existentes. Assim, destacam que a falta de continuidade das

práticas e mecanismos avaliativos, a minimização do caráter formativo da auto-

avaliação institucional para a retomada da ênfase na avaliação do desempenho dos

estudantes e a ênfase na regulação surgem como determinantes das dificuldades

enfrentadas por parte do Estado brasileiro para a implementação do SINAES.

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