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1 RELATÓRIO DE PESQUISA ESTUDO SOBRE INSTITUIÇÕES E SERVIÇOS DE SAÚDE NA REGIÃO OESTE DO PARANÁ Maria Lucia Frizon Rizzotto (coordenadora) Thais Zanella (bolsista IC) 1. RETROSPECTIVA HISTORICA DA REGIAO OESTE A Região Oeste do Paraná localiza-se a cerca de 500 km da capital e, do ponto de vista da administração do setor de saúde, está dividida em três Regionais de Saúde - RS, a 9. ª com 09 Municípios, a 10.ª com 25 e a 20.ª Regional de Saúde com 18 municípios. Esta região possui uma população de 1.222.351 habitantes, segundo dados do IBGE de 2004. O inicio do processo de colonização data do primeiro século de descobrimento do Brasil, quando os portugueses começaram a invadir a região com o intuito de explorar os recursos naturais e principalmente capturarem índios para serem levados sob o regime escravo para trabalharem em São Paulo e Minas Gerais. Por volta de 1610 a 1630 ocorreram muitas disputas em torno das terras e da captura e venda de índios no Oeste do Paraná, estas disputas geralmente ocorriam entre espanhóis e portugueses. Após esse período inicial a região foi esquecida até mais ou menos 1730 quando se inicia um novo movimento no sul do país, denominado “tropeirismo”, que segundo Sperança (1992, p.16) “consistia na aquisição de grandes quantidades de muladas em terras do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina e no transporte do gado pelas tropas até São Paulo, em viagens que duravam até três meses através da Estrada de Laguna”. Inicialmente o tropeirismo tinha como finalidade transportar as tropas de São Paulo às pastagens do Sul. Ao mesmo tempo, esse movimento constituiu-se em um importante movimento de colonização da Região Oeste, com o deslocamento dos tropeiros que também se dedicavam a outras atividades comerciais, como o comércio de gêneros alimentícios e tecidos, criando novos pousos e acampamentos. Um desses “pousos” daria origem à futura cidade de Cascavel.

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RELATÓRIO DE PESQUISA

ESTUDO SOBRE INSTITUIÇÕES E SERVIÇOS DE SAÚDE NA

REGIÃO OESTE DO PARANÁ

Maria Lucia Frizon Rizzotto (coordenadora) Thais Zanella (bolsista IC)

1. RETROSPECTIVA HISTORICA DA REGIAO OESTE

A Região Oeste do Paraná localiza-se a cerca de 500 km da capital e, do

ponto de vista da administração do setor de saúde, está dividida em três

Regionais de Saúde - RS, a 9. ª com 09 Municípios, a 10.ª com 25 e a 20.ª

Regional de Saúde com 18 municípios. Esta região possui uma população de

1.222.351 habitantes, segundo dados do IBGE de 2004.

O inicio do processo de colonização data do primeiro século de

descobrimento do Brasil, quando os portugueses começaram a invadir a região

com o intuito de explorar os recursos naturais e principalmente capturarem índios

para serem levados sob o regime escravo para trabalharem em São Paulo e

Minas Gerais.

Por volta de 1610 a 1630 ocorreram muitas disputas em torno das terras e

da captura e venda de índios no Oeste do Paraná, estas disputas geralmente

ocorriam entre espanhóis e portugueses.

Após esse período inicial a região foi esquecida até mais ou menos 1730

quando se inicia um novo movimento no sul do país, denominado “tropeirismo”,

que segundo Sperança (1992, p.16) “consistia na aquisição de grandes

quantidades de muladas em terras do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina e

no transporte do gado pelas tropas até São Paulo, em viagens que duravam até

três meses através da Estrada de Laguna”. Inicialmente o tropeirismo tinha como

finalidade transportar as tropas de São Paulo às pastagens do Sul. Ao mesmo

tempo, esse movimento constituiu-se em um importante movimento de

colonização da Região Oeste, com o deslocamento dos tropeiros que também se

dedicavam a outras atividades comerciais, como o comércio de gêneros

alimentícios e tecidos, criando novos pousos e acampamentos. Um desses

“pousos” daria origem à futura cidade de Cascavel.

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O Paraná é um ponto de passagem no caminho de Sorocaba. E por isso teve no tropeirismo uma função específica: preparar o gado aqui para a venda em melhores condições em Sorocaba. O gado vinha cansado da longa caminhada, do Rio Grande do Sul até aqui. Refeito, sua cotação subia na feira de Sorocaba. Os filhos do Paraná foram também tropeiros e comerciantes. Iam ao Rio Grande do Sul, compravam o gado traziam a tropa e vendiam em Sorocaba. Num certo período todo mundo vivia do tropeirismo. Inclusive os médicos, pois os primeiros médicos do Paraná viviam emprestando dinheiro para os tropeiros. Quer dizer, o Paraná também financiava as atividades (SPERANÇA, 1992, p.17).

A emancipação política do Paraná ocorreu em 29 de agosto de 1853,

quando se criou a Província do Paraná, através da Lei 704, desmembrando o

Paraná de São Paulo. Sob a presidência de Manoel Marcondes de Sá, a primeira

Câmara Municipal de Nossa Senhora de Belém tomou posse em nove de abril de

1853, o que contribuiu, ao lado de outros fatores políticos como o fato de se tratar

de uma região fronteiriça e a importância do comércio com os países do Prata,

para que Dom Pedro II criasse a Província do Paraná, antes conhecida como

Quinta Comarca de São Paulo. A instalação da nova unidade provincial brasileira

ocorreu em 19 de dezembro de 1853, com uma população de 62.258 habitantes.

Por conta da guerra civil Argentina, de 1857, o Brasil decidiu reiniciar as

discussões a respeito dos limites das fronteiras. Estas discussões continuaram

até 1881, quando a Argentina finalmente expôs ao Brasil a sua interpretação

acerca dos Tratados de Madri (1750) e de Santo Ildefonso (1770). Esta

interpretação gerou agitações, não sendo aceita pelo governo brasileiro, que

passou a implementar algumas estratégicas para garantir a posse da área, como

iniciar a construção da Ferrovia Paranaguá - Curitiba e a navegação de parte do

rio Iguaçu, bem como a instalação das Colônias Militares, previstas desde antes

da Guerra do Paraguai.

A partir de 1881 a Argentina denominou a região compreendida entre os

rios Paraná, Uruguai e Iguaçu como “Gobernación de Misiones”. O resultado

dessa atitude foi novas tensões no local, o que levou à criação de uma comissão

mista para estudar o caso. Novas interpretações argentinas sobre os rios foram

dadas, e em 1889, em Buenos Aires, foi celebrado o Tratado de Arbitramento

Internacional. O árbitro foi o então presidente dos Estados Unidos, Grover

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Stephen Cleveland, que em seis de fevereiro de 1895, encerrou a questão, dando

sentença favorável ao Brasil. Este conflito ficou conhecido como Questão de

Palmas, e foi decisivo para a criação da Colônia Militar de Foz do Iguaçu.

A Colônia Militar foi implantada em novembro de 1889, derivando de ações

da Comissão Estratégica rumo ao Oeste (1887-1888), que tinha como princípio

tomar posse da região em nome do Brasil. Tentou-se montar uma estrutura social

mínima com postos de suprimentos, que incluíam alimentos, armamentos e até

um local para atendimento médico. A agricultura também foi estimulada na

colônia, onde se plantava milho, feijão, mandioca, banana, cana-de-açúcar e café,

bem como o beneficiamento destes gêneros, produzindo a farinha de mandioca,

cachaça, entre outros.

A Colônia Militar foi importante para a abertura e conservação de uma via

de comunicação entre Foz do Iguaçu e Guarapuava, esta estrada, mesmo em

péssimas condições, proporcionou uma rota de migração para a população que

se deslocava a partir dos campos de Guarapuava. Esta população estabelecia

suas posses e iniciava o plantio de suas roças, contribuindo assim para o

povoamento da região.

No final do século XIX, o governo imperial passou a fornecer grandes

concessões de terras a diversas companhias estrangeiras com a finalidade de

colonizar o extremo-oeste, bem como construir estradas de ferro. Com esta nova

lei de terras abriu-se margem à cobiça dos exploradores estrangeiros,

especialmente argentinos e ingleses que depredaram o local, extraindo erva-mate

e cortando madeira.

Outro fato importante foi o comércio estabelecido no local com os países

do Prata, visto o distanciamento geográfico existente entre a Colônia e o resto do

Brasil. Com o tempo estes países começaram a ser hostil com relação a este

comércio, cobrando preços exorbitantes ou mesmo nem vendendo seus gêneros.

Isto levou a população da Colônia a adotar um sistema de contrabando, o que

estimulou o Ministério da Guerra, em 1912, a extinguir a Colônia Militar e entregar

a área à administração do Estado.

A construção de estradas continuava ocorrendo no resto do país, sempre

objetivando a ocupação do vasto território brasileiro. Em novembro de 1889 foi

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construída a Estrada de Ferro Itararé – Santa Maria, ligando São Paulo ao Rio

Grande do Sul, tendo sido financiada por capital belga e francês.

No inicio de século XX, a economia do Paraná passava por uma séria

crise, visto que as atividades econômicas predominantes estavam em

decadência, com uma população numericamente insuficiente para acelerar a

organização e a ocupação de seu território, e sendo dominado por uma elite

oligárquica dos Campos Gerais, que via na venda de glebas da fronteira as

companhias estrangeiras uma alternativa de aumento na fraca arrecadação do

Estado, esta região passou a ser explorada por estas empresas.

Em poucas décadas, a margem brasileira do rio Paraná estava ocupada

por centenas de obrages1, com seus portos particulares de embarque e povoada

por milhares de trabalhadores. A mão-de-obra abundante e barata era buscada

no Paraguai, Corrientes e Missiones. Esses trabalhadores eram chamados de

“mensus”.

Os mensus saiam todos os dias, exceto aos domingos, em busca do mate.

À medida que aumentavam as distâncias, eram instituídos os pousos, pontos

referenciais, ligados por picadas, e que serviam como depósito de erva e abrigo,

durante a noite, para homens e animais de carga.

Os entrepostos para a coleta de erva-mate e as sedes administrativas das companhias (obrages) fizeram surgir alguns povoados promissores, como Guaíra, que passou a receber a primeira estrada de ferro da região; Lopeí, que em 1924, devido à Revolução Paulista, recebeu um posto telegráfico; e Central Barthe, que com o fim do ciclo do mate e o início da fase da madeira, passou a ter a sua importância relatada, conhecida como Central Lupion (SPERANÇA, 1992, p. 35).

Um dos pousos criado pelas obrages se deu às margens do Ribeirão da

Cascavel, tendo origem na invernada de animais da empresa Argentina Domingos

Barthe. Posteriormente passou por ele uma estrada rústica, construída por

Augusto Gomes de Oliveira, usada para fins comerciais, ligados à companhia

Argentina Nuñes y Gibaja. A partir daí outras trilhas começaram a surgir, ligando

1A obrage era uma propriedade ou um sistema de exploração de erva mate e madeira existente

nas matas subtropicais, em território argentino e paraguaio. O interesse fundamental de um obragero era a extração de erva mate nativa e madeira em toros (WACHOWICZ, Ruy, C. Obrageros, mensus e colonos. Curitiba, Vicentina, 1982: 15).

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este pouso a várias obrages, e tornando-se ponto de crescente movimentação de

empregados das obrages, colonos em trânsito, expedições demandando à

Colônia Militar e as passagens quinzenais de tropeiros. Surge assim a

“Encruzilhada dos Gomes”, ponto de origem da futura cidade de Cascavel.

A tentativa de fiscalização das companhias estrangeiras iniciou em 1902,

com a criação da Agência Fiscal da Foz do Iguaçu, mas esta não dispunha de

meios para fiscalizar as obrages. Em 1913 cria-se então a Coletoria de Rendas da

Foz do Iguaçu, que destacou fiscais para os principais portos do rio Iguaçu. Estes

não tinham condições de trabalho, dependendo em tudo dos obrageros, o que

continuava comprometendo a fiscalização. Em 1914 é criado o município de Foz

do Iguaçu, tendo sido implantados alguns serviços públicos que representavam o

poder do Estado no local. No entanto, isto continuou insuficiente para a efetivação

de uma fiscalização adequada e para a presença brasileira na fronteira. As

obrages continuavam dominando a região, desde a moeda até a língua falada.

A decadência das obrages se deu graças a um conjunto de alterações

internacionais e nacionais, tais como a substituição de importações adotada pela

Argentina, impedindo a exportação da erva mate paranaense e o aumento das

taxas alfandegárias, além do estímulo para a produção interna, e a diminuição do

preço da erva mate nos países platinos. Outro fator determinante para a queda

das obrages foi o fim do financiamento das companhias pelo capital inglês,

(comprometido com o fim da Primeira Guerra Mundial), e também por alterações

nacionais (a presença de militares na região e dos revoltosos à espera da Coluna

Prestes, que denunciavam o sistema de exploração adotado nestes locais).

Os obrageros tentaram investir na exploração de madeira, mas a atividade

mostrou-se pouco rentável. Começaram a fazer empréstimos, e não podendo

pagar a dívida, perdiam as terras para seus credores. As empresas estrangeiras

passaram a declinar também quando o governo da Primeira República e

posteriormente Getúlio Vargas descobriram que os objetivos de colonizar a região

por meio de concessões de terras àquelas companhias não estavam sendo

cumpridos.

As denúncias acerca da situação de abandono da região tornaram-se mais

evidentes após 1924, quando as forças governamentais comandadas pelo

General Cândido Mariano da Silva Rondon combateram os revoltosos da Coluna

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Prestes no local. As disputas se estenderam até 1925, quando as tropas paulistas

se renderam e denunciaram em nível nacional a precária situação, já que era

mínima a presença de brasileiros, constatada apenas nas margens da Rodovia

Estratégica de Catanduvas, Foz do Iguaçu, Guairá e em Santa Helena. O

nacionalismo, bandeira defendida pelo movimento tenentista encontrou

justificativa quando marchou pelo interior do Brasil e pela Região Oeste alertando

as autoridades quanto à necessidade de integração desta área à nação brasileira

(GREGORY, 2002, p. 94).

Por outro lado, a herança de destruição deixada na região após a

revolução foi importante, visto terem sido destruídas várias construções e bem-

feitorias, bem como estimulando muitas famílias a deixar o lugar. “O rescaldo de

politização deixado pela presença revolucionária seguiria marcando a região pelo

futuro. Dificilmente o oeste do Paraná teria tão presente o abandono que sofria

não fosse à elucidação proporcionada, mal (com as destruições promovidas pelos

paulistas) ou bem (com a gentileza dos soldados da Coluna Prestes) pelos

„invasores‟” (SPERANÇA, 1992, p. 90).

Estas alterações regionais têm íntima ligação com as mudanças ocorridas

no país, devido à revolução de 1930. Houve alteração do modelo econômico,

ocupação de espaços vazios pela redistribuição da população, marcha para oeste

e interligação das ilhas de desenvolvimento com a implantação de um Estado

criador das classes sociais modernas, da industrialização e das relações cidade-

campo em âmbito nacional.

Este período foi importante para a construção do município de Cascavel

como um aglomerado urbano. “Foram os poloneses, juntamente com os caboclos

guarapuavanos, os oestinos-cascavelenses pioneiros responsáveis pelo

estabelecimento das primeiras propriedades agrícolas, pecuárias, industriais e

prestadoras de serviços” (SPERANÇA, 1992, p. 99).

O engenheiro Natel de Camargo foi contratado pelo governo Federal para

realizar serviços de agrimensura na região. Como pagamento obteve áreas de

terras próximas ao rio Cascavel. Parte destas áreas havia sido transferida para

Antonio José Elias em 1922, que se estabeleceu com sua família e parentes no

local, quando de sua morte em 1928 a família retorna para a sua origem,

arrendando as áreas para José Silvério de Oliveira, o “Nhô Jeca”, que buscou a

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região, “fugindo” de Guarapuava, temendo a reação de seus adversários políticos,

por ocasião da derrota sofrida por Getúlio Vargas nas eleições de 1930, tendo em

vista que Nhô Jeca pertencia à Aliança Liberal. “A data de chegada do primeiro

carroção da família Silvério, trazendo seus pertences, marca a fundação do que

se considera a cidade de Cascavel: 28 de março de 1930” (SPERANÇA, 1992, p.

112).

Em 1930, com a tomada de poder por Getúlio Vargas, o governo

interventorial anula todas as concessões de terras feitas pelos governos Imperial

e Republicano. Desta forma, José Silvério passa de arrendatário a proprietário

das terras. Ele intensifica o processo de urbanização do povoado, construindo

residências, armazéns, e melhorando a produção agro-pastoril. Também passou

a oferecer terras àqueles pioneiros que chegavam, dividindo sua propriedade em

chácaras, na intenção de aumentar e diversificar a população local, favorecendo a

ampliação de seus negócios, especialmente as atividades produtivas de milho /

porco e exploração da madeira.

Nas décadas de 1930 e 1940 fica mais evidente que o sistema implantado

não consegue mais encontrar sustentação econômica, iniciando-se o processo de

recuperação, por parte do Estado do Paraná e de capitalistas brasileiros, do

controle da terra na região. Desta forma, o modelo agro-exportador predominante

no oeste do Paraná por longa data abre espaço para uma estrutura produtiva de

base urbano-industrial e o desenvolvimento de um novo modo de acumulação.

Se nos anos anteriores a ocupação das terras se dava de forma esparsa e

isolada pelos caboclos, a partir 1930 ela é feita em grupos e de forma solidária.

Tendo aumentado o número de caboclos e de descendentes de imigrantes que

migravam para a região, com problemáticas semelhantes, e com a experiência

histórica de colonização trazida pelos estrangeiros, percebe-se uma ocupação

mais ordenada. As propriedades passaram a serem menores compatíveis com a

capacidade de produção daquelas famílias. A intenção era que mais colonos se

juntassem, e para isso os primeiros colonos davam toda a assistência possível

para os que chegavam atraídos pelas terras e pelas possibilidades de trabalho,

formando-se os núcleos de ocupação.

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As levas de imigrantes, pelas frentes de colonização, iniciaram-se em fins

da segunda década do século XX, quando chegaram poloneses, alemães, e

italianos, vindos das regiões de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O convívio entre caboclos e colonos descendentes de imigrantes europeus representou o encontro de homens situados em diferentes estágios de civilização, isto é, em diferentes níveis culturais que determinavam o sistema de produção, a organização da propriedade, as representações, as crenças e os valores. Embora sem maiores conseqüências, nesse convívio ocorreram conflitos de origem cultural. Apenas como exemplo, os caboclos cercavam as roças e criavam os animais soltos. Os descendentes de imigrantes criavam os animais cercados e cultivavam as roças em espaços livres. Após alguns atritos com os caboclos, prevaleceu o sistema dos colonos (BARTINIK, 1982).

A colonização da região teve como conseqüência a formação de uma

sociedade baseada no predomínio da pequena propriedade rural e na

organização do espaço (urbano e rural), nos moldes do espaço colonial do sul do

Brasil colonizado por imigrantes europeus e seus descendentes.

O desenvolvimento da região teve ajuda com o fato de José Silvério ser

correligionário de Othon Mader, prefeito de Foz do Iguaçu, conhecido por sua

postura integracionalista e nacionalista. Este tinha como intenção promover uma

administração agressiva, de ocupação brasileira do território, caracterizada pela

valorização do idioma e da moeda nacional, realizando, entre outras coisas, a

distribuição de jornais de Curitiba em órgãos públicos e entidades (como o Oeste

Paraná Clube de Foz do Iguaçu e o Clube Social de Guairá) para que a

comunidade pudesse acompanhar o que ocorria no seu Estado e em seu país.

“Os planos também previam a transformação de Foz do Iguaçu em um centro

turístico internacional delineado pela Interventoria Federal do Estado, para evitar

que Getúlio Vargas criasse o indesejável Território Federal do Estado do Iguaçu,

tirando a área do controle dos paranaenses e a entregando ao interesses das

colonizadoras gaúchas” (SPERANÇA, 1992, p.104).

Ao saber do interesse de desenvolvimento regional do núcleo de José

Silvério, Othon Mader transferiu o posto telegráfico de Lopeí para Encruzilhada,

que passou a funcionar como agência do correio. Concomitantemente, ocorreu “a

criação do correio Aéreo Nacional, transformado em órgão de comando do

Transporte Aéreo da Força Aérea Brasileira (FAB)”. (SPERANÇA, 1992, p. 107).

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Fato que fez José Silvério de Oliveira reservar uma área para servir de campo de

pouso para os futuros vôos da Aeronáutica Militar. Othon Mader contribuiu

também para a autorização do Governo do Paraná na doação de terras e

instalação do município do Cascavel:

Neste período o desenvolvimento econômico da região estive relacionado à

produção de gêneros alimentícios pelos colonos e à comercialização de produtos

necessários à subsistência dos grupos de trabalhadores da Comissão de

Estradas na década de 1930. Na década de 1940, além de suprir as

necessidades da população já estabelecida começavam também outras

atividades e serviços. A iniciativa governamental também foi decisiva para a

colonização de Cascavel devido à criação do Departamento de Vendas de terras

e a sua regulamentação. Entretanto, somente com a exploração da madeira em

escala industrial, devido à urbanização de São Paulo e por causa da II Guerra

Mundial, quando a demanda da araucária era insuficiente o que favoreceu a

exportação e o consumo da madeira nacional, é que a região, especialmente

onde seriam instalados os futuros municípios de Cascavel e Toledo, começaram a

crescer e a se desenvolver novamente.

Em 14 de novembro de 1951, com a Lei Estadual 790/51, sancionada pelo

governador Munhoz da Rocha Neto, Cascavel foi elevada à categoria de

município. Mas, é apenas em 14 de dezembro de 1952, que efetivamente inicia

vida autônoma e se tem a primeira eleição para prefeito. A nova cidade abrangia

sete distritos e mais seis povoações, com uma população em torno de 404

habitantes, mostrando-se como uma referência para todos os colonos pioneiros

que se dirigiam à região.

Em 1953, juntamente com o ciclo da madeira, o café destaca-se como

produto econômico e torna-se um intermediário entre a fase inicial e a explosão

do ciclo madeireiro. Desta forma destacou-se como um produto de elevado

movimento financeiro contribuindo para o surgimento do primeiro banco de

Cascavel e para a implantação de uma unidade da Companhia Paranaense de

Silos e Armazéns (Copasa), que contribuirá para as futuras safras de cereais.

Nos anos seguintes da emancipação, Cascavel preparava-se para ter seu

território reduzido, pois em outubro de 1957 Corbélia tornava-se Distrito Judiciário

de Cascavel pela Lei 3.356, sendo o primeiro passo para os futuros

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desmembramentos do território municipal. Esse processo foi iniciado com a

criação do Distrito de Corbélia e prosseguiu com a criação do Distrito de Formosa

d‟Oeste e de outros territórios, que se desmembraram e passaram a formar a

Região Oeste do Paraná.

Esse processo resultou no Decreto 301 que entrou em vigor em 1967, na

criação da micro-Região Oeste do Paraná, cuja caracterização pela secretaria do

planejamento da Prefeitura de Cascavel era a integração da região aos demais

centros urbanos e conseqüente aprimoramento das vias de transporte.

Como já foi dito inicialmente, a agricultura era apenas para a subsistência

dos colonos que habitavam a região, mas com a decadência do ciclo da madeira

iniciou-se a segunda fase do desenvolvimento da região, nas décadas de 1960-

1980, com a formação e consolidação da economia agrícola de exportação. Foi

também a fase de modernização da produção agrícola, utilizando inovações

tecnológicas nas lavouras especializadas de soja e trigo, sendo estas

responsáveis pela transformação do espaço agrícola, pelo aumento da

produtividade e da economia modificando a realidade social e política dessa

região. Esse processo acabou trazendo profundas e graves conseqüências,

rompendo com o modelo “caboclo” e seguindo com o modelo expansionista e de

monocultura.

O início deste novo ciclo incentivou a criação de cooperativas,

necessitando desenvolver e atualizar as condições de armazenagens e transporte

dos produtos agrícolas, pois a falta de infra-estrutura estava causando grandes

perdas na produção surgindo, assim, a Cotriguaçu e mais tarde a Coopacol e a

Coopavel. Esses fatos contribuíram também para a concentração da propriedade

e o êxodo rural, acelerando a urbanização e a produção de sérios problemas

sociais como a falta de moradias e de escolas, o desemprego e subdesemprego,

as grandes diferenças de renda familiar, condições precárias de saúde, etc.

A formação e a consolidação da economia agrícola na região se deram

devido à fertilidade dos solos, o clima favorável, a facilidade de acesso aos

grandes centros comerciais do país, o crescimento do comercio local, prestação

de serviços especializados, presença de empresas públicas e privadas e o

desenvolvimento urbano. Esse conjunto de fatores contribuiu para que Cascavel

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tivesse se tornasse um importante pólo regional e a futura sede da microrregião

do Oeste do Paraná.

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2. SERVICOS DE SAUDE EXISTENTES NA REGIAO OESTE DO PARANÁ

Com relação ao desenvolvimento do setor de saúde da Região Oeste o

que ocorreu aqui não difere do restante do país, ou seja, a implantação de um

modelo de atendimento curativo, centrado no hospital e no trabalho do

profissional médico. Segundo Oliveira e Teixeira, catado por Andrade (2001),

esse modelo privilegia a prática médica curativa, individual, assistencialista e

especializada, em detrimento da saúde pública. Além disso, estimula a criação,

mediante intervenção estatal, de um complexo médico-industrial privado,

orientado para a geração de lucro. Este modelo tem em sua base um tripé, no

qual o Estado é o grande financiador do sistema e prestador de serviços à

população não integrada economicamente; o setor privado nacional como

prestador de serviços de assistência medica e o setor privado internacional como

produtor de insumos (equipamentos biomédicos e medicamentos).

Atualmente o quadro de serviços de saúde existentes nos diferentes

municípios que compõe a Região Oeste do Estado do Paraná, traduz em grande

medida as mesmas mudanças ocorridas no resto do país, as quais foram

provocadas pela implantação do SUS – Sistema Único de Saúde. As

características principais deste sistema foram propostas pelo Movimento da

Reforma Sanitária, nos anos 70 e 80, e, legitimadas pela Constituição Federal de

1988, no Capítulo II que trata da Seguridade Social.

Apesar de ainda não garantidos os direitos constitucionais referentes à

saúde, expressos nos princípios e diretrizes do SUS, mudanças ocorreram

particularmente no que se refere a ampliação do acesso aos serviços primários de

saúde, que se deu por meio do aumento de UBS – Unidades Básicas de Saúde e

de programas como o PACS – Programa dos Agentes Comunitários de Saúde e o

PSF – Programa Saúde da Família. Tais programas são dirigidos para a

população mais pobre e constituem-se como sendo de baixo custo e de alto

impacto. As ações realizadas são voltadas, sobretudo, para os aspectos de

prevenção e promoção da saúde, ou seja, ações circunscritas ao nível primário de

atenção à saúde.

A política de saúde, implementada nos anos 90 em todo o território

nacional, priorizou este nível de assistência em detrimento dos níveis secundário

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e terciário, representado, pelo fechamento de leitos hospitalares e, pela redução

da oferta de procedimentos mais complexos.

No Estado do Paraná nos últimos dez anos foram desativados cerca de 10

mil leitos hospitalares ao passo que a população aumentou em mais de 2 milhões

de habitantes. Certamente o modelo assistencial curativo, consolidado pelas

políticas postas em prática durante o regime militar, resultou na formação de uma

rede de serviços hospitalares, que em outro modelo assistencial deveria ser

redimensionada. Contudo, a implementação de uma proposta assistencial de

caráter preventivo e de promoção da saúde, em que a UBS – Unidade Básica de

Saúde se constitua na “porta de entrada do sistema”, não exclui a necessidade da

oferta de serviços especializados, ao contrário, na medida em que se amplia o

acesso aos serviços de saúde e se identificam os problemas de saúde, pode

ocorrer um aumento da demanda por outros níveis assistenciais. De acordo com

Botazzo, a UBS

como porta absorveria a demanda universal, daria resolutividade a quase 80% das intercorrências, encaminharia para serviços especializados e internações os casos de maior complexidade, acompanharia programaticamente grupos etários ou de pacientes crônicos, processaria uma vigilância em saúde em sua área de abrangência e ainda realizaria a relação política com o seu entorno. (1999, p.17)

Para dar conta dessas atribuições, tais unidades deveriam estar

preparadas do ponto de vista da infra-estrutura física, de materiais e de recursos

humanos, em quantidade e qualidade suficientes para atender as demandas da

sua área de abrangência e em face da complexidade que os problemas de saúde

estão requerendo deste nível assistencial.

Conforme o autor acima, cerca de 20% dos problemas de saúde requerem

serviços mais especializados para a sua resolução. Portanto, um sistema de

saúde que queira dar conta do princípio da integralidade, necessariamente deve

ter uma rede de serviços assistenciais que contemple todos os níveis de atenção

à saúde, sem privilegiar um detrimento do outro.

No que se refere à rede de serviços de saúde da Região Oeste, os

mesmos estão circunscritos em três Regionais de Saúde – RS, a 9.ª, 10.ª e 20.ª,

que se constituem em instância administrativa intermediárias da SESA/ISEP –

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Secretaria de Estado de Saúde do Paraná e Instituto de Saúde do Paraná. Por

meio destas regionais o Estado exerce o seu papel, “que é menos o de executar

ações e serviços de saúde e mais de apoio, cooperação técnica e investimentos

nos municípios e nos consórcios. Os municípios, isoladamente ou aglutinados em

módulos intermunicipais, devem assumir todas as ações e serviços que possam

por eles ser absorvidos”. (PARANÁ, 2004).

De acordo com os dados do Quadro 1, a Região Oeste do Paraná é

composta por 52 municípios, que possuem uma área de 23.998.952 Km2, residindo

aqui 1.222.351 pessoas. Tanto do ponto de vista do número de municípios como

do número de habitantes, a maior Regional de Saúde é a 10.ª. Porém, a maior

concentração populacional está na 9.ª RS com 0,1 hab/km2, sendo que é na 20.ª

RS que está a menor concentração habitacional com 0,03 hab/km2.

Quadros 1 – Dados populacionais e das equipes de PSF existentes na Região Oeste do Paraná

Regional de Saúde N.ºde Municípios

N.ºde Habitantes

Área (Km2) Equipes de PSF

9. ª 09 413.462 4.073.410 21

10. ª 25 486.078 11.775.294 52

20. ª 18 322.811 8.150.248 25

TOTAL 52 1.222.351 23.998.952 98

Fonte: SESA

Até a presente data a Região Oeste tem 98 equipes de saúde da família

cadastradas no Ministério da Saúde (Quadro 1), sendo que cada equipe atende

uma população de 3.500 a 4.500 usuários, ou seja, uma média de 4000 pessoas

por equipe. Sendo assim, cerca de 392.000 pessoas, que corresponde a 32,06%

da população, estão cobertas com esse programa governamental. Em todo o

Estado do Paraná existem 1.178 equipes de PSF, que dão cobertura para cerca

de 47% da população. Sendo assim, é possível afirmar que a Região Oeste está

bem abaixo da média do Estado no que se refere a quantidade de equipes de

PSF.

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Quadro 2 – Rede de serviços ambulatoriais do SUS existentes na Região Oeste do Paraná

UNIDADES DE SERVIÇOS AMBULATORIAIS DO SUS

9.ª RS 10.ª RS 20.ª RS TOTAL Dados Paraná

Posto Saúde 21 11 75 107 897

Centro de Saúde 25 75 41 141 937

Pronto Atendimento 24 Horas 10 26 13 49 606

Pronto Socorro 1 0 1 02 29

Centro de Atenção Psicossocial

2 1 - 03 22

Unidade Móvel para Atendimento Médico/Odontológico

1 1 - 02 15

Unidade Móvel para Atendimento ás Emergências e Traumas

1 1 - 02 9

Unidade de Saúde da Família 25 17 14 56 716

Outros 47 107 86 240 1848

Total 133 239 230 602 5079

FONTE: SESA

Se considerarmos como Unidades Básicas de Saúde, os Postos de Saúde,

os Centros de Saúde e as Unidades de Saúde da Família, teremos um total de

304 unidades instaladas na região, isto dá uma relação de 4.020 pessoas por

Unidade Básica de Saúde. A média do Paraná é de 3.927 pessoas por UBS.

Neste aspecto podemos dizer que a região segue o padrão do Estado, não

apresentando maiores disparidades.

Quadro 3 – Rede de serviços hospitalares da Região Oeste do Paraná

UNIDADES HOSPITALARES

9.ª RS 10.ª RS 20.ª RS TOTAL Dados Paraná

Hospital Privado 12 22 26 60 262

Hospital Público 0 3 1 04 120

Hospital Universitário 0 1 1 02 84

Hospital Filantrópico 0 1 0 01 9

Total de Hospitais 12 27 28 67 475

FONTE: SESA

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Conforme os dados do Quadro 3, a grande maioria dos hospitais existentes

na região é de natureza jurídica privada. Das 67 unidades existentes, apenas 06,

a soma dos hospitais denominados de “público” e “universitário”, que corresponde

a 8,9%, são públicos e 60 (89,5%) são privados. Em nível de Estado 25,2% das

unidades hospitalares é pública, isto sem considerar os hospitais Universitários

em que uma parte deles também é de natureza pública.

Com isso percebe-se que na região desenvolveu-se uma grande rede de

hospitais privados e pouquíssimas unidades hospitalares públicas, apontando

para a necessidade de um maior investimento governamental neste nível de

assistência.

Quadro 4 – Rede de Leitos hospitalares por especialidade da Região Oeste do Paraná

LEITOS SUS POR ESPECIALIDADE

9.ª RS 10.ª RS 20.ª RS TOTAL Dados Paraná

Leitos Clínica Cirúrgica 160 294 228 682 5.075

Leitos Obstetrícia/Ginecologia

174 206 216 596 4.264

Leitos Clínica Médica 173 477 510 1160 8.511

Leitos Pediatria 151 223 357 731 5.183

Leitos Psiquiatria 33 324 251 608 4.983

Total de leitos SUS 730 1.526 1.563 3.819 28.245

Leitos SUS / 1000 hab. 1,80 3,17 4,84 3,27 2,85

Leitos UTI Total / SUS 26 43 23 92 772

FONTE: SESA

Em relação à quantidade de leitos hospitalares, a Região conta com 3.819

leitos, dando uma média de 3,27 leitos/1000 habitantes, uma relação superior à

média estadual que é de 2,85 leitos/1000 habitantes. Contudo a distribuição dos

hospitais e consequentemente dos leitos hospitalares são desiguais entre as três

Regionais de Saúde que compõe a Região Oeste, sendo que a Regional com a

menor concentração populacional, a 20.ª, possui o maior número de hospitais (26)

e de leitos (1.563), ou seja, 4,84 leitos/1000 hab.; a 9.ª RS possui 12 hospitais e

730 leitos, uma relação de 1,80 leitos/1000 hab. e a 10ª RS com 27 hospitais e

1.526 leitos o que dá uma relação de 3,17 leitos /1000 habitantes. (Quadros 3 e 4)

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Conforme se observa no Quadro 4, em relação aos leitos de UTI, a média

estadual é de 0,77 leitos/10.000 habitantes e na Região Oeste essa relação é de

0,75, o que revela uma coerência com o padrão de distribuição dessa

especialidade no Estado, embora seja de domínio público a necessidade de

ampliação desta especialidade em todo o território nacional, em face, dentre

outras coisas, pelo aumento de mortalidade e morbidade por causas externas,

como acidentes, violência, etc.

Um aspecto que chama a atenção tanto na Região como no Estado como

um todo é o baixo número de Centros de Atenção psicossocial, 22 no Estado e 03

na Região Oeste (Quadro 2), associado ao alto número de leitos psiquiátricos,

608 na Região e 4.983 no Estado, o que dá uma média de um leito psiquiátrico

para cada duas mil pessoas (Quadro 4). Estes dados revelam a necessidade de

um maior empenho dos gestores públicos no sentido de ampliar a rede de

unidades de atendimento psicossocial a fim de que se inicie aqui, de fato, o

processo de reforma psiquiátrica, já em curso há mais de uma década em outras

partes do país.

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3. RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE – DADOS GERAIS E DA REGIÃO

OESTE DO PARANÁ

A discussão acerca dos Recursos Humanos em saúde na sua relação com

a Política de Saúde no Brasil é contemporânea da criação do Sistema Único de

Saúde. Antes disso, como informa Júnior (2002), ela era uma questão de menor

repercussão dentro do antigo INAMPS.

O mesmo autor informa que a Emenda Constitucional Nº. 29 que vinculou

recursos para a área da saúde poderia ser fator de abertura de condições para a

redefinição do papel da gestão dos recursos humanos e da capacitação

profissional nas administrações estaduais e municipais. A Emenda prevê que até

2004, os Estados deveriam vincular 12% de suas receitas e os municípios 15%.

Entretanto, nem sempre isto tem sido observado. Em pesquisas realizadas por

Junior (2002), os Estados se encontram em níveis diferenciados na destinação

dos gastos vinculados pela Emenda. Cita como exemplo o Estado do Paraná que

no ano de 2000, gastou apenas 2,4% de sua receita vinculável, se posicionando

como o Estado de pior desempenho no gasto em saúde. Assim, afirma que, para

atender a legislação, o Paraná teria que aumentar em R$ 428 milhões suas

despesas em saúde.

Quanto à questão de Recursos Humanos até recentemente tem sido de

pouca relevância nas políticas de saúde. Não são muitos os trabalhos que têm

abordado a temática. Em uma busca por tais fontes podemos citar as publicações

do Ministério da Saúde do ano de 2002 da série Formação, nos seus números 5 e

6 que tratam da “Formação Técnica em Saúde no Contexto do SUS” e “Mercado

de Trabalho em Saúde”, respectivamente. Além desse material, pode ser

consultado o conjunto de textos produzidos pelo NEPP – Núcleo de Estudos em

Políticas Públicas da UNICAMP, intitulado “Recursos Humanos em Saúde:

política, desenvolvimento e mercado de trabalho” e a publicação do Observatório

de Recursos Humanos em Saúde intitulada: “observatório de recursos humanos

em saúde: estudos e análises” publicados pela FIOCRUZ em 2003. Esta última

publicação é produto da Rede de Observatório de Recursos Humanos em Saúde

organizada pelo Ministério da Saúde, além de algumas publicações produzidas

individualmente.

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No contato com tal literatura não se observam discussões conceituais

sobre a terminologia Recursos Humanos, ou seja, como ela tem sido tomada

quando da realização das pesquisas na área.

Com o objetivo de pontuar caminhos para posteriores pesquisas pensamos

que seria necessário trazer alguma discussão do que se pode entender sobre

Recursos Humanos. Neste particular Paro (1988), afirma que na Teoria Geral da

Administração essas palavras têm sido usadas explícita ou implicitamente para se

referir à utilização de pessoas para atingir objetivos de outros. Ele salienta que ela

deve ser “entendida no sentido específico de recurso do homem e não do homem

como recurso” (PARO, 1988, p.25).

Ao tratarmos a expressão tendo o homem como recurso, estamos tomando

o mesmo de forma indiferenciada dos demais componentes da natureza inseridos

em um processo de trabalho. Assim, pensamos que em outros estudos sobre os

Recursos Humanos em saúde este aspecto conceitual seja importante balizador

da elaboração da pesquisa e análise dos dados. Isso nos coloca uma questão

importante a ser averiguada, qual seja a de como são considerados os

trabalhadores em saúde nas políticas e nos planejamentos em nossos

municípios?

Feitas estas considerações iniciais avaliamos que alguns dados do

mercado de trabalho e do emprego de forma geral podem nos localizar e

esclarecer possíveis linhas de investigação de nossa realidade local.

A literatura sobre o trabalho no Brasil informa que a partir da década de 80

assistimos a desestruturação do mercado de trabalho. Até esta década houve a

ampliação deste mercado em função do processo de industrialização que a partir

de 80 começou a regredir. Tivemos então a perda da participação do

assalariamento e abertura para as ocupações não-organizadas e para o

desemprego (POCHMANN, 2003). Para esse mesmo autor, desde 1980, o Brasil

registrou o “avanço do movimento de desestruturação do mercado de trabalho”

(POCHMANN, 2003, p.8).

Neto et al (2003) estudando o emprego por Regiões no Brasil, afirmam que

houve, de forma generalizada nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, uma

diminuição dos empregos no setor público e um aumento no setor privado, não

nas mesmas proporções de sua diminuição do setor público.

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Já nas Regiões Sul e Sudeste houve um movimento inverso com o

aumento do emprego no setor público, embora isso não tenha sido o fator de

maior relevância no aumento dos empregos, fator para o qual contribuiu em maior

proporção o setor privado, também nestas Regiões.

Assim a evolução do emprego mostra tendências regionais bem

diferenciadas como uma diminuição importante do emprego público nas regiões

menos desenvolvidas do país; a concentração de empregos públicos em Regiões

mais desenvolvidas; uma deterioração da situação do emprego formal nas

Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste em que a diminuição do emprego

público não foi acompanhada de elevação do emprego privado.

A tendência para o fim do século XX é a diminuição do emprego no setor

primário e seu aumento no setor terciário. Pochmann (2003, p.10), afirma que em

2000, de cada 10 ocupações existentes, seis eram de responsabilidade do setor

terciário, duas do setor secundário e duas do primário, enquanto que em 1980,

quatro eram do setor terciário, três do secundário e três do primário. Quanto às

relações de emprego ele registrou que,

de cada 10 empregos assalariados gerados entre 1980 e 2000, cerca de seis foram sem contrato formal e apenas quatro com contrato formal (...) Além disso, nota-se que de cada 10 ocupações geradas no mesmo período de tempo, sete foram assalariadas, sendo três com contrato formal e quatro sem contrato formal. Cerca de 30% dos postos de trabalho abertos foram, no mesmo período de tempo, por conta própria, sem remuneração e empregadores (POCHMANN, 2003, p.11-12).

Estes dados indicam mudanças importantes nas relações de trabalho,

também identificadas no setor de saúde.

Cardoso Júnior (2001) apud Silva; Costa (2002), afirmam que em relação

ao salário houve uma estagnação e desregulamentação diretamente ligada à

flexibilização das condições de uso e remuneração da força de trabalho, mudando

desta forma os marcos de proteção e assistência aos trabalhadores e as

estruturas sindicais e da justiça do trabalho.

As tendências de desestruturação e desregulamentação do mercado de

trabalho brasileiro nos anos 90 são de vital importância, pois por meio destes

artifícios começou a serem definidas a terceirização das ocupações, crescendo o

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número de trabalhadores sem registro formal de trabalho e os direitos

constitucionais antes garantidos por lei passam a ser responsabilidade tão

somente do trabalhador. Houve um aumento do desemprego e o vínculo

empregatício cada vez mais precário.

A flexibilização relacionada às condições de uso da força de trabalho

aumenta cada vez mais a jornada de trabalho com contratos abusivos e de baixa

remuneração e/ou terceirização.

A assistência ao trabalhador também foi modificada sendo que a

precariedade nas condições de proteção tornou-se alarmantes. O autor

demonstra com dados estatísticos que a remuneração dos profissionais com

trabalho informal ou sem carteira assinada e funcionários públicos é

expressivamente menor (CARDOSO JÚNIOR, 2001 apud Silva; Costa, 2002).

Tabela 1 - Rendimento médio mensal real do trabalho principal em reais dos

empregados de 10 anos de idade ou mais, segundo a categoria do emprego - Brasil 1992-2001.

Ano Militares e Estatutários

Com Carteira de Trabalho Assinada

Vínculos Outros

1992 654 552 208 1993 710 569 224 1995 927 680 311 1996 924 680 334 1997 943 686 337 1998 969 692 346 1999 940 643 322 2001 963 621 339

Fonte: IBGE. PNAD (2002) In: Silva; Costa (2002).

Como podemos verificar na tabela 1, a renda de quem trabalha

informalmente é visivelmente inferior aos que possuem vínculo empregatício. Ao

mesmo tempo em que se pensa que a ausência de vínculo seja fator

determinante da baixa remuneração observamos que mesmo aqueles

formalmente vinculados não têm recebido aumentos significativos em seus

rendimentos.

Particularizando para a classe do funcionalismo público pode-se afirmar

que está cada vez mais difícil de conseguir aumento salarial mesmo com carteira

assinada ou sendo estatutário, que garanta vida mais digna, com o mínimo de

condições de sobrevivência. As exigências de atualização por meio de

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congressos, especializações, mestrado, doutorado, entre outros tendem cada vez

mais a virem desacompanhadas de qualquer ajuda e incentivo financeiro, tanto

por parte do governo ou empresa a que se presta serviço.

Voltando ao assunto principal, a saúde, pretendemos agora contextualizar

a relação do emprego setorial na saúde com a proposta de descentralização

aprovada na Constituição Federal de 1988, que reconhece a mesma como direito

social assegurado pelo acesso universal e igualitário às ações e serviços de

saúde de promoção, prevenção e recuperação da saúde (Art.196) (SILVA;

COSTA, 2002).

Com o processo de descentralização os municípios passaram a ser

responsabilizados pela cobertura das ações de saúde, pois as instâncias Federal

e Estadual destinaram praticamente todas suas funções para a esfera municipal.

Conforme, Silva; Costa (2002, p.278),

...a Lei 8080, de setembro de 1990, ratificou as diretrizes constitucionais ao atribuir à direção municipal do Sistema Único de Saúde a competência de “planejar, organizar, controlar e avaliar as ações de saúde, e gerir e executar os serviços de saúde”, além de participar do planejamento, programação e organização da rede regionalizada e hierarquizada do Sistema Único de Saúde, em articulação com sua direção estadual (Art.18, I e II).

Isso significaria posteriormente que a gerência dos serviços de saúde

passaria a ser principalmente e/ou totalmente realizada pelos municípios, sendo

que seus recursos financeiros também deveriam ser de sua responsabilidade,

desresponsabilizando em parte a União e os Estados quase que totalmente. Este

fato fica evidente na tabela apresentada abaixo pelos mesmos autores.

Tabela 2 - Brasil - Proporção de estabelecimentos de saúde na gestão dos níveis de governo - 1981 – 1999

Ano Federal Estadual Municipal Total

1981 3764 (28%) 6890 (50%) 2961 (22%) 13615 (100%)

1988 1978 (9%) 10643 (50%) 8851 (41%) 21472 (100%)

1992 1378 (5%) 7043 (26%) 18662 (69%) 27090 (100%)

1999 628 (2%) 1930 (6%) 30404 (92%) 32982 (100)

Fonte: IBGE. MAS (1981/1988/1992/1999) In: Silva; Costa (2002, p.278).

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Esta descentralização de governo entre 1981 e 1999 levou a uma completa

desestruturação e desregulação do emprego na saúde causando manifestações

até hoje sentidas como a precariedade das relações e das condições de trabalho,

o crescimento do mercado informal, o aumento do desemprego, a estagnação dos

rendimentos médios reais e a desregulamentação.

Diante destes agravantes começa a ocorrer a precariedade do serviço

público levando a terceirização para cooperativas e empresas, além dos contratos

como autônomos, principalmente na atenção ambulatorial e nos programas de

expansão de cobertura, como o PACs (Programa de Agentes Comunitários de

Saúde) e o PSF (Programa de Saúde da Família).

A pesquisa levada a efeito pelos autores “revelou um quadro complexo em

relação à tendência de desregulamentação do emprego na economia em geral,

apenas 22% dos municípios brasileiros adotavam, em 2000, a forma contratual

estatutária típica da administração pública direta como o principal tipo de contrato

de trabalho dos médicos na atenção básica. Para os enfermeiros, esta proporção

era de 25% e, para os odontólogos, 31%. Na Região Sul a terceirização para

empresas e cooperativas no caso da classe médica é de 18% e para os

enfermeiros de 12%" (SILVA; COSTA, 2002, p.283).

Estes autores afirmam que a “oferta de emprego tornou-se em fins da

década maior para médicos e enfermeiros em razão dos novos programas de

ampliação de cobertura, como o Programa Saúde da Família (PSF). Esse cenário

ampliou seguramente o poder de barganha dos profissionais de saúde em geral, a

mobilidade neste segmento de mercado e o poder das associações de

profissionais e especialidades" (SILVA; COSTA, 2002, p.283).

Girardi e Carvalho (2003a) encontraram em suas pesquisas a partir da

RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) que 1,7 milhões de trabalhadores

estão no que chamam de núcleo do setor, ou seja, hospitais, clínicas e serviços

diagnósticos e terapêuticos.

Eles apontam que o setor público municipal merece destaque na

distribuição dos postos de trabalho no setor saúde. Ele é responsável por 24,6%

dos empregos tendo sua posição superada apenas pelos estabelecimentos

empresariais lucrativos que somam 25,6% do total de postos.

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Entre 1995 e 2000 observaram uma migração do emprego público da

esfera Federal para a municipal. O emprego público municipal cresceu mais de

50% em comparação com um crescimento de aproximadamente 20% das outras

ocupações. Os autores afirmam que estes dados corroboram a informação de que

os municípios teriam gastado em 2000 – 2001 aproximadamente 20% de suas

receitas orçamentárias com o emprego em saúde.

“Os empregos para o pessoal de enfermagem cresceu 69,4% no setor

público municipal. Para os auxiliares de enfermagem, este crescimento foi muito

acima da média das ocupações de saúde na esfera municipal, cerca de 88% ao

passo que os atendentes de enfermagem tiveram uma redução em torno de 11%”

(CARVALHO; GIRARDI, 2003a, p.27).

Não podemos negar que houve crescimento de recursos humanos no

Brasil após a implantação do PSF, porém isso não garantiu qualidade na

assistência e aumento de saúde. Uma vez que o modelo continua centrado na

doença como podemos ver claramente na Região Oeste do Paraná a qual

acompanhamos mais de perto. Em nível de Brasil o quadro encontrado a respeito

de recursos humanos são os seguintes:

TABELA 3 - número de implantação de equipes de saúde da família por município e de equipes de PSF no Brasil de 1994 a 2002.

Ano Nº de implantação por município Nº de equipes de PSF no

Brasil

1994 55 328

1995 150 724

1996 228 847

1997 567 1623

998 1134 3083

1999 1647 4254

2000 2766 8604

2001 3684 13168

2002 4071 15867

Fonte: Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica In: GIL; CERVEIRA; TORRES (2002, p.112).

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Girardi; Carvalho (2003a) discutindo as dificuldades em identificar a forma

em que estão se dando as relações de trabalho na área da saúde, uma vez que

os dados disponíveis no Ministério do Trabalho são os relativos as RAIS (Relação

Anual de Informações Sociais) e neste registro estão apenas os trabalhadores

com vínculos formais de trabalho, afirmam que a maior parte, dos

aproximadamente duzentos mil profissionais que estão vinculados ao Programa

Saúde da Família não estão empregados nem no regime CLT (Consolidação das

Leis do Trabalho), nem como Estatutários e nem sobre qualquer outra forma de

relação de emprego. “Com efeito, mais de 70% das prefeituras, por restrições

orçamentárias ou „flexibilidade gerencial‟, utilizam preferencialmente formas de

contratação de médicos e enfermeiros que não configuram relação de emprego”

(GIRARDI; CARVALHO, 2003a, P.33).

NETO et al (2003, p. 76), tratando das características regionais do

emprego em saúde, afirmam que na esfera municipal em algumas regiões “na

qual se insere o Programa Saúde da Família (PSF), produz-se uma típica

precarização do trabalho. Ao lado da ampliação da contratação de trabalhadores

de enfermagem, pratica-se a informalidade desde os enfermeiros até os agentes

de saúde”. Neste sentido, embora vejamos aumento no número de empregos,

podemos ver que as relações se flexibilizaram e, na maioria das vezes tornam-se

precarizadas.

Estes mesmos autores em outro trabalho chegam as mesmas conclusões

quando analisam a qualidade dos postos de trabalho criado pelo Programa Saúde

da Família. Para eles a “fragilidade dos vínculos de trabalho do PSF – quase 2/3

dos empregos gerados não se revestem dos graus de formalização e

institucionalidade de relações de trabalho típicas do setor público e do mercado

de trabalho privado forma – desconsideram não apenas direitos trabalhistas

consagrados como ameaçam a própria continuidade da prestação de serviços de

qualidade” (GIRARDI; CARVALHO, 2003b, p.188).

Diante destas questões, avaliamos que uma possível linha de estudo na

questão do trabalho em saúde, seria o levantamento das condições de

contratação que prevalecem em nossa região. Embora os estudos trazidos aqui

sejam um bom indicativo de como isto tem se dado, por certo em nossa região,

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muitas peculiaridades se apresentam as quais seriam importantes para o

planejamento das políticas de saúde.

A seguir apresentamos os dados sobre a distribuição dos profissionais de

saúde na Região Oeste do Paraná. Ao fazê-lo, algumas considerações iniciais

precisam ser elaboradas. Salientamos que os dados apresentados têm como

fonte o banco de dados oficial do Ministério da Saúde denominado DATSUS.

Portanto, foram elaborados a partir da distribuição dos profissionais que têm

ligação com o sistema público de saúde o que dificulta a estimativa real da

existência dos profissionais. Assim, uma primeira dificuldade seria estabelecer

uma relação real entre o número de profissionais e a população atendida, tendo

que nos abster de apresentar a relação entre o número de profissionais

preconizado pela Organização Mundial de Saúde e o número encontrado nos

dados disponíveis no referido banco de dados.

Desta forma, a análise que faremos estará limitada a alguns aspectos que,

mesmo parciais, fornecem pistas de como se encontram distribuídos estes

trabalhadores na Região.

Como pode ser verificado nas tabelas 4, 5 e 6 é possível afirmar que há

uma ausência de determinados médicos especialistas, como o pediatra e o

gineco-obstetra nos municípios com menos de 5.000 habitantes. Por outro lado,

pode-se perceber que uma categoria de profissionais de saúde é constante em

todos os municípios (tanto grandes como pequenos), a de Agentes Comunitários

de Saúde. Este dado permite afirmar que este profissional é o que tem sido

efetivamente estimulado pelas políticas públicas para a saúde na última década o

que explicaria sua existência em todos os municípios.

Quanto ao total de trabalhadores, podemos observar na tabela 7, que o

maior número de profissionais de saúde está concentrado nos Auxiliares de

Enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde, ou seja, quem efetivamente

desenvolve ações de saúde para a grande maioria da população são os

trabalhadores de nível profissionalizante e aqueles que não necessariamente têm

formação na área da saúde como os Agentes Comunitários de Saúde.

Observa-se ainda uma pequena quantidade de técnicos de enfermagem.

Este dado pode ser explicado pelo recente movimento de formação destes

profissionais em nossa região e pela possível não incorporação da elevação de

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nível escolar pelos gestores dos serviços de saúde. É sabido que haveria um

diferencial salarial na contratação de técnicos ou auxiliares de enfermagem, o que

ainda tende a direcionar a opção por estes últimos. Entretanto, mesmo aqueles

gestores que abrem a possibilidade de contratação de técnicos de enfermagem,

parecem não direcionar importante diferença salarial para estes profissionais.

Dentre os profissionais de nível superior é possível identificar a quase

ausência de alguns deles como o nutricionista e fonoaudiólogo, principalmente

nos pequenos municípios. Estes profissionais estão concentrados apenas nas

maiores cidades da região.

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Tabela 4 - Distribuição de profissionais de saúde da 20ª Regional de Saúde da Região Oeste do Paraná – 2004

Municípios População Total

Clínico Geral

Pediatra Obstetra/ Ginecologista

Auxiliar de Enfermagem

Técnico de Enfermagem

Enfermeiro ACS Assistente Social

Assis Chateaubriand

30.713 04 03 04 18 - 07 15 -

Diamante do Oeste 3.109 - - - 06 - - 01 - Entre rios do Oeste 3.491 - - - 01 - - 02 - Guairá 28.115 11 02 03 17 - 05 06 - Marechal Cândido Rondon

43.401 15 08 10 101 06 13 16 03

Maripá 5.669 02 - 05 - 02 10 - Mercedes 4.771 03 03 01 04 - 02 - Nova Santa Rosa 7.164 03 - - 14 - 02 07 - Ouro Verde do Oeste

5.171 04 - - 05 - 01 04 -

Palotina 24.372 10 02 03 20 01 05 20 03 Pato Bragado 4.259 02 01 01 05 - 01 07 01 Quatro Pontes 3.646 01 01 01 04 - 01 05 01 Santa Helena 21.152 08 01 01 44 01 06 - - São José das Palmeiras

3.496 - 01 - - - - - -

São Pedro do Iguaçu

6.727 - - - 05 - 01 05 01

Terra Roxa 19.874 06 - 15 - 02 10 - Toledo 103.046 19 14 09 90 03 27 39 06 Tupãssi 7.689 03 01 01 - - 05 16 -

Total 325.865 91 37 34 354 11 80 163 15

Fonte: DATSUS

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Tabela 4 - Distribuição de profissionais de saúde da 20ª Regional de Saúde da Região Oeste do Paraná – 2004 (continuação)

Municípios População Total

Dentista Farmacêutico /Bioquímico

Nutricionista Psicólogo Fisioterapeuta Fonoaudiólogo

Assis Chateaubriand

30.713 19 05 - 03 05 -

Diamante do Oeste 3.109 - 02 - - - - Entre rios do Oeste 3.491 - - - - - - Guairá 28.115 10 03 - 03 04 - Marechal Cândido Rondon

43.401 37 09 - 03 06 -

Maripá 5.669 02 02 - - - - Mercedes 4.771 - 01 - - - - Nova Santa Rosa 7.164 04 01 - - - - Ouro Verde do Oeste

5.171 - - - - - -

Palotina 24.372 25 05 - 01 04 - Pato Bragado 4.259 05 01 01 02 - - Quatro Pontes 3.646 03 01 - 01 - - Santa Helena 21.152 13 06 - - 01 - São José das Palmeiras

3.496 - - - - - -

São Pedro do Iguaçu

6.727 02 - - - 01 -

Terra Roxa 19.874 03 01 - 02 01 - Toledo 103.046 22 09 - 04 01 02 Tupãssi 7.689 05 02 - - - -

Total 325.865 150 48 01 19 23 02

Fonte: DATSUS

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Tabela 5 - Distribuição de profissionais de saúde da 10ª Regional de Saúde da Região Oeste do Paraná – 2004

Municípios População Total

Clínico Geral

Pediatra Obstetra/ Ginecologista

Auxiliar de Enfermagem

Técnico de Enfermagem

Enfermeiro ACS Assistente Social

Anahy 2.808 01 - - 07 - 02 08 - Boa Vista da Aparecida 7.632 06 - 01 20 - 10 33 - Braganey 5.429 - - - 05 02 05 08 - Cafelândia 12.383 05 01 03 14 01 05 13 - Campo Bonito 5.162 02 - - 06 - 01 12 - Capitão Leônidas Marques

14.987 04 01 01 18 - 04 - -

Cascavel 266.604 103 44 72 746 71 220 233 41 Catanduvas 10.666 04 01 - 10 02 03 27 - Céu Azul 10.388 01 - 01 24 - 08 26 01 Corbélia 15.608 06 01 02 27 - 06 50 - Diamante do Sul 3.312 - - - 04 - 01 09 - Espigão Alto do Iguaçu 5.141 - - - 07 - 02 07 - Formosa do Oeste 7.559 03 01 - 16 - 06 23 - Guaraniaçu 15.457 11 - 02 13 - 08 31 - Ibema 5.777 02 - 01 06 - 01 02 - Iguatu 1.948 02 - - 02 - 01 08 - Iracema do Oeste 2.736 01 01 - 03 - 01 07 - Jesuítas 8.610 04 - 01 11 - 06 32 - Lindoeste 5.956 02 - 01 11 - 04 05 - Nova América da Colina 3.377 01 - - 03 - 01 02 - Nova Aurora 12.892 04 - - 08 - 04 18 - Quedas do Iguaçu 28.114 07 03 05 38 03 05 31 01 Santa Lúcia 3.781 01 01 - 07 - 02 09 - Santa Tereza do Oeste 12.633 01 01 01 04 01 06 07 - Três Barras 10.541 02 - 01 19 - 03 15 - Vera Cruz do Oeste 8.954 03 - 01 08 - 03 13 01

Total 477.415 176 56 93 1037 80 318 584 44

Fonte: DATSUS

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Tabela 5 - Distribuição de profissionais de saúde da 10ª Regional de Saúde da Região Oeste do Paraná – 2004 (continuação) Municípios População

Total Dentista Farmacêutico

/Bioquímico Nutricionista Psicólogo Fisioterapeuta Fonoaudiólogo

Anahy 2.808 02 - - - - - Boa Vista da Aparecida 7.632 - 02 - - - - Braganey 5.429 02 - - - - - Cafelândia 12.383 04 03 01 01 - - Campo Bonito 5.162 02 - - 01 01 - Capitão Leônidas Marques

14.987 06 01 - - - -

Cascavel 266.604 112 50 11 23 50 09 Catanduvas 10.666 03 01 - - - - Céu Azul 10.388 11 05 01 02 01 01 Corbélia 15.608 04 02 - 01 - - Diamante do Sul 3.312 01 - - - - - Espigão Alto do Iguaçu 5.141 01 - - - - - Formosa do Oeste 7.559 02 03 - - - - Guaraniaçu 15.457 05 03 - 01 - - Ibema 5.777 01 01 - - - - Iguatu 1.948 01 - - - - - Iracema do Oeste 2.736 - - - - - - Jesuítas 8.610 03 01 - - - - Lindoeste 5.956 03 04 - - - - Nova América da Colina 3.377 01 - - - - - Nova Aurora 12.892 02 02 - - - - Quedas do Iguaçu 28.114 08 05 - - - - Santa Lúcia 3.781 01 01 - - - - Santa Tereza do Oeste 12.633 03 - - - 01 - Três Barras 10.541 03 01 - - - - Vera Cruz do Oeste 8.954 03 03 - 01 - -

Total 477.415 184 88 13 30 53 10

Fonte: DATSUS

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Tabela 6 - Distribuição de profissionais de saúde da 9ª Regional de Saúde da Região Oeste do Paraná – 2004 Municípios População

Total Clínico Geral

Pediatra Obstetra/ Ginecologis

ta

Auxiliar de Enfermagem

Técnico de Enfermagem

Enfermeiro ACS Assistente Social

Foz do Iguaçu 286.285 67 40 41 535 32 80 49 16 Itaipulândia 7.913 04 01 02 11 03 02 - - Matelândia 14.541 06 02 05 37 07 09 23 01 Medianeira 39.262 14 04 10 72 03 14 22 02 Missal 10.452 08 03 03 25 - 07 23 01 Ramilândia 3.926 01 01 01 04 - - 08 - Santa Terezinha de Itaipu 20.080 10 04 07 42 - 13 15 - São Miguel do Iguaçu 26.010 17 03 08 45 - 05 27 02 Serranópolis do Iguaçu 4.981 01 01 02 07 - 02 02 -

Total 413.450 128 59 79 778 45 132 169 22

Fonte: DATSUS

Tabela 6 - Distribuição de profissionais de saúde da 9ª Regional de Saúde da Região Oeste do Paraná – 2004 (continuação)

Municípios População Total

Dentista Farmacêutico /Bioquímico

Nutricionista Psicólogo Fisioterapeuta Fonoaudiólogo

Foz do Iguaçu 286.285 56 47 05 26 21 14 Itaipulândia 7.913 04 02 01 - - - Matelândia 14.541 07 04 - 01 02 - Medianeira 39.262 09 08 - 01 02 01 Missal 10.452 07 04 02 03 - - Ramilândia 3.926 03 01 - - - - Santa Terezinha de Itaipu 20.080 08 05 01 02 - - São Miguel do Iguaçu 26.010 08 06 01 02 - 01 Serranópolis do Iguaçu 4.981 02 - - 01 - -

Total 413.450 104 77 10 36 25 03

Fonte: DATSUS

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Tabela 7 – Quantidade de profissionais de saúde da 9ª, 10ª e 20ª Regionais de Saúde da Região Oeste por categoria.

Profissional

Quantidade

Clínico Geral 395 Pediatra 152 Obstetra/Ginecologista 206 Auxiliar de Enfermagem 2699 Técnico de Enfermagem 136 Enfermeiro 530 ACS 916 Assistente Social 81 Dentista 438 Farmacêutico/Bioquímico 213 Nutricionista 24 Psicólogo 85 Fisioterapeuta 101 Fonoaudiólogo 15

Fonte: DATSUS

Os dados disponíveis não nos permitem estabelecer relação com o

panorama nacional de distribuição dos trabalhadores em saúde, seja em seus

aspectos quantitativos, seja nos qualitativos como relações de emprego,

remuneração, vínculos de trabalho, entre outros. Assim, avaliamos que estas

sejam questões urgentes de pesquisa para as quais devem ser envidados

esforços para a elucidação e direcionamento das políticas públicas no que se

refere a questão dos trabalhadores do setor de saúde.

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4. PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS REGIONAIS DE SAÚDE DO OESTE DO PARANÁ

CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS

Nesta pesquisa, delimitou-se como área de estudo a Região Oeste do

Paraná, constituída pelas 9ª, 10ª e 20ª Regionais de Saúde (RS) que totalizam

uma população geral de 1.222.351 habitantes, sendo 413.462 (34%) habitantes

pertencentes à 9ª RS, cujo município-sede é Foz do Iguaçu; 486.078 (40%)

habitantes da 10ª RS, sendo Cascavel o município-sede e 322.811 (26%)

habitantes da 20ª RS com o município de Toledo como sede desta Regional.

(IBGE, 2004). Comparando-se a população da Região Oeste do Paraná com a do

Estado, as regionais de saúde estudadas constituem 12,34% da população do

Estado do Paraná (9.906.812 habitantes).

Da 9ª RS (Foz do Iguaçu) fazem parte nove municípios, com população

variando de 3.928 habitantes, em Ramilândia, e 286.285 habitantes em Foz do

Iguaçu. Os municípios pertencentes à 10ª RS (Cascavel) totalizam 25 municípios

cujas populações variam de 1.948 habitantes, em Iguatu, e 266.604 habitantes

em Cascavel, sendo que 14 municípios têm menos de 10.000 habitantes. Da 20ª

RS (Toledo) fazem parte 18 municípios com populações que variam de 3.104

habitantes, em Diamante d‟Oeste e Toledo com 103.046 habitantes. Nesta

Regional, dez municípios possuem população menor de 10.000 habitantes.

Tabela 8 - População pertencente às Regionais de Saúde do Oeste do Paraná e municípios-sede de cada regional (2004)

Regional de Saúde População total da RS

% População do município-

sede

% pop. Município-sede/RS

9ª RS – F. Iguaçu 413.462 34% 286.285 69%

10ª RS – Cascavel 486.078 40% 266.604 55%

20ª RS - Toledo 322.811 26% 103.046 32%

Total 1.222.351 100% 655.935 -

Fonte: IBGE

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INDICADORES DE MORTALIDADE

MORTALIDADE INFANTIL NAS REGIONAIS DE SAÚDE DO OESTE DO PARANÁ

A taxa de mortalidade infantil é um importante indicador das condições de

vida e de saúde de uma localidade, região ou país, assim como de desigualdades

entre localidades. Pode também contribuir para uma avaliação da disponibilidade

e acesso aos serviços e recursos relacionados à saúde, especialmente ao pré-

natal e seu acompanhamento (BRASIL, 2000).

Rouquayrol e Kerr-Pontes (1994), no entanto, alertam que o coeficiente de

mortalidade infantil deixa de ser um descritor de ordem geral e se torna

específico, ou seja, não mais contribui para avaliar o nível de saúde e o nível de

vida da comunidade, quando ações específicas são empreendidas com o único

fim de baixar o valor do coeficiente e melhorar as estatísticas sanitárias,

retirando-se a prioridade das ações de saúde de caráter geral como o

saneamento básico (destino adequado do lixo, fornecimento de água tratada e de

qualidade e em quantidade suficiente, implementação de esgotos).

O coeficiente de mortalidade infantil é uma estimativa do risco que as

crianças nascidas vivas (NV) têm de morrer antes de completar um ano de idade

(Soares et al, 2001), sendo calculado por meio da seguinte razão:

óbitos de menores de 1 ano em determinada comunidade e ano X 1.000 nascidos vivos na mesma comunidade e ano

Nas regionais de saúde estudadas, no período que compreende de 1999 a

2002, o coeficiente de mortalidade infantil apresentou redução de 19,70/1.000 NV

para 14,02/1.000 NV, sendo que a 9ª RS apresentou redução mais significativa,

diminuindo o número de óbitos infantis de 22,14/1.000 NV para 13,85/1.000 NV.

Nos anos de 1999 e 2000, as regionais do oeste do Paraná apresentavam o

coeficiente de mortalidade infantil próximos aos valores do Estado do Paraná, e

apresentaram índices menores que os estaduais nos anos 2001 e 2002 (Tabela

9).

No entanto, há indícios de que no município-sede da 10ª RS, a diminuição

do coeficiente de mortalidade infantil representou os esforços dos serviços de

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saúde na melhoria da qualidade do atendimento e não a implementação de

ações de saúde de caráter geral, conforme apontado acima durante este período,

pois a partir de 2003 observa-se a retomada dos valores iniciais da série

histórica, indicando que a variação do coeficiente de mortalidade infantil, neste

município, possivelmente esteja refletindo a assistência à saúde oferecida, já que

não ocorreram mudanças significativas nas condições gerais de vida da

população em tão curto período (Tabela 10).

Tabela 9 - Mortalidade Infantil nas Regionais de Saúde do Oeste do Paraná (1999-2002)

Regional de Saúde Coeficiente de Mortalidade Infantil/1.000 nv

1999 2000 2001 2002

9ª RS – F. Iguaçu 22,14 19,72 17,66 13,85

10ª RS – Cascavel 18,17 17,52 15,61 13,76

20ª RS - Toledo 18,75 19,78 13,19 14,46

Macro-regional 19,70 19,01 15,50 14,02

Estado Paraná 19,53 19,44 17,41 16,72

Fonte: CIDS/DSI/ISEP/SESA, GPC/ISEP/SESA, DSS/ISEP/SESA, Ministério da Saúde/DATASUS, OPS, OMS.

Tabela 10 - Mortalidade Infantil no município-sede da 10ª Regional de Saúde (1999-2003)

Município Coeficiente de Mortalidade Infantil/1.000 nv

1999 2000 2001 2002 2003

Cascavel 16,33 13,10 14,43 10,86 16,21

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde – Setor de Vigilância Epidemiológica, Cascavel - 2004.

MORTALIDADE MATERNA NAS REGIONAIS DE SAÚDE DO OESTE DO PARANÁ

O coeficiente de mortalidade materna representa o risco de óbitos por

causas ligadas à gestação, ao parto ou ao puerpério, e é um indicador da

qualidade de assistência à gestação e ao parto numa comunidade (SOARES et

al., 2001). É calculado a partir da seguinte fórmula:

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Óbitos devidos a causas ligadas a gestação, parto e puerpério X 100.000 Nascidos vivos na mesma comunidade e ano

No Paraná existe o Comitê Estadual de Prevenção de Morte Materna, com

descentralização para as regionais de saúde, cuja função é investigar todos os

óbitos de mulheres de 10 a 49 anos, com o objetivo de identificar todos os óbitos

maternos, tendo em vista que nem todos são informados na declaração de óbitos

e, verificar as circunstâncias em que tais óbitos ocorreram, propondo estratégias

para a redução dessa mortalidade.

Nas regionais de saúde da Região Oeste do Paraná, o coeficiente de

mortalidade materna apresenta significativa redução, podendo representar

avanços na qualidade da assistência ao pré-natal, parto e puerpério ou, ainda,

deficiências na notificação dos óbitos maternos. Porém, esta possibilidade deve

ser reduzida tendo em vista o trabalho realizado pelos Comitês de Prevenção de

Morte Materna em todo o estado do Paraná.

Comparados aos valores médios da macro-Região Oeste do Paraná com

os apresentados pelo Estado, a região apresenta coeficiente de mortalidade

materna menor que o geral do Estado do Paraná, apesar de algumas regionais

de saúde, em alguns períodos, apresentarem valores mais elevados que o

Paraná.

Tabela 11 - Mortalidade Materna nas regionais de saúde do oeste do Paraná (1999-2002)

Regional de

Saúde

Coeficiente de Mortalidade Materna/100.000 nv

1999 2000 2001 2002

9ª RS – F. Iguaçu

87,24 35,21 25,97 13,32

10ª RS – Cascavel

64,50 80,66 50,76 39,31

20ª RS - Toledo

74,27 74,65 99,92 61,11

Macro-regional

75,33 63,50 58,88 37,91

Estado Paraná

78,99 66,57 65,31 57,64

Fonte: CIDS/DSI/ISEP/SESA, GPC/ISEP/SESA, DSS/ISEP/SESA, Ministério da Saúde/DATASUS, OPS, OMS.

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MORTALIDADE GERAL NAS REGIONAIS DE SAÚDE DO OESTE DO PARANÁ

Este coeficiente representa o risco de óbito na comunidade, porém, não é

muito útil para comparações do nível de saúde de diferentes populações, pois

não leva em consideração a estrutura etária dessas populações, se a população

é mais idosa, é esperado que ocorra maior coeficiente de mortalidade geral que

em uma população mais jovem. É expresso por uma razão entre:

Número de óbitos em determinada comunidade e ano X 1.000 População estimada para 01 de julho do mesmo ano

Na década de 90 e início do século XXI, os coeficientes de mortalidade

geral têm apresentado poucas alterações na Região Oeste do Paraná. Na 10ª RS

a mortalidade geral tem oscilado entre 4,85/1.000 habitantes e 5,40/1.000

habitantes. Na 9ª RS este coeficiente tem apresentado valores entre 4,00 e

5,33/1.000 habitantes, neste mesmo período, enquanto na 20ª RS este indicador

tem apresentado valores pouco mais elevados, estando entre 7,85/1.000 em

1990 e 4,71/1.000 em 1991 e, mais recentemente 5,76/1.000 em 2002.

Tabela 12 - Mortalidade geral nas regionais de saúde do oeste do Paraná (1990 e 2000)

Regional de Saúde Coeficiente de Mortalidade Geral/1.000 hab.

1990 2000

9 RS – F. Iguaçu 4,00 4,79

10 RS –Cascavel 4,87 5,04

20 RS - Toledo 7,85 5,87

Fonte: Secretaria de Estado de Saúde – SESA/PR

MORTALIDADE POR DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS NAS REGIONAIS DE SAÚDE DO OESTE DO

PARANÁ

Este indicador estima o risco da população morrer por doenças infecciosas

e parasitárias (tuberculose, tétano, diarréia infecciosa, AIDS, etc.), classificadas

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atualmente no capítulo I da CID-10. Quanto mais elevado o resultado deste

coeficiente, piores as condições de vida da população estudada.

A teoria da transição epidemiológica aponta para as alterações nos

padrões de morbimortalidade, em que as causas predominantes, antes de origem

infecciosa, passam a ser as de caráter crônico-degenerativas ao longo da história

da humanidade. As principais condições que determinaram estas alterações

estão relacionadas às mudanças socioeconômicas, alterações no estilo de vida,

contribuições dos serviços de saúde e avanços das ciências da saúde e às

alterações na estrutura etária da população que tem envelhecido e, por

conseqüência, apresentando agravos à saúde típicos desta fase da vida

(PEREIRA, 1999).

Este coeficiente é calculado a partir da fórmula:

Óbitos devidos a doenças infecciosas e parasitárias X 100.000

População estimada para 01 de julho do ano e área

Na Região Oeste do Paraná, a mortalidade por doenças transmissíveis

vem diminuindo nas últimas décadas. Na 10ª RS, em 1979, o coeficiente de

mortalidade por doenças transmissíveis era de 52,66/100.000 habitantes,

enquanto que a partir da década de 90 o coeficiente caiu para 14,94/100.000, em

1994. A partir de 1996, quando a AIDS passou a fazer parte do agrupamento de

causas infecciosas e parasitárias na CID-10, este coeficiente não diminui e,

apresenta um discreto aumento artificial, em função de alterações na CID-10,

apresentando 17,73/100.000, em média, no período de 1996 a 2002.

Na 9ª RS, em 1979 o coeficiente era de 75,11/100.000, chegando a 14,12

em 1992 e permanecendo em torno de 23/100.000 hab. após o ano de 1997. Na

20ª RS, o coeficiente de mortalidade por doenças transmissíveis passou de

40,49/100.000 hab. em 1979, para uma média de 16/100.000 hab. após o ano de

1996. Porém, apresentou índices de até 60,34/100.000 em 1983.

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Tabela 13 - Mortalidade por doenças transmissíveis nas regionais de saúde do Oeste do Paraná (1979 – 2002)

Regional de Saúde

Coef. de Mortalidade por doenças transmissíveis/100.000 hab.

1979 1985 1990 1995 2002

9 RS – F. Iguaçu

75,11 40,51 17,54 17,50 20,40

10 RS –Cascavel

52,66 26,81 17,73 18,39 14,23

20 RS - Toledo

40,49 26,33 29,54 17,64 12,40

Fonte: Secretaria de Estado de Saúde do Paraná – SESA/PR

MORTALIDADE POR DOENÇAS DO APARELHO CIRCULATÓRIO NAS REGIONAIS DE SAÚDE

DO OESTE DO PARANÁ

De acordo com Lessa (1994), a mortalidade por doenças infecciosas e

parasitárias, antes predominante no Brasil, está sendo substituída, a partir da

década de 60, pelas doenças não transmissíveis, sem que aquelas perdessem

sua importância no panorama global da saúde da população. “Isso se traduz pela

convivência simultânea da população com os dois grandes grupos de doenças,

caracterizando um momento de transição epidemiológica, ou seja, coexistência

de padrões epidemiológicos ‘arcaicos’ e ‘modernos’”, afirma Lessa (1994, p.269)

citando Possas (1989).

A mortalidade por doenças do aparelho circulatório inclui as doenças

cerebrovasculares e as doenças isquêmicas do coração, estando, especialmente

as primeiras, relacionadas a hipertensão não tratada ou não controlada, uma vez

que a hipertensão é seu mais potente fator de risco, aliando-se ao tabagismo,

alcoolismo, obesidade, sedentarismo, entre outros (LESSA, 1994).

A diminuição da mortalidade por doenças transmissíveis e o aumento da

mortalidade por doenças do aparelho circulatório nas regionais de saúde do

Oeste do Paraná exemplifica a afirmação acima.

Na 9ª RS, o coeficiente de mortalidade por doenças do aparelho

circulatório aumentou de 80/100.000 hab. em 1990 para 112,57/100.000 em

2002, tendo alcançado valores de até 123,52/100.000 hab. em 1998.

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Na 10ª RS, este coeficiente passou de 120,41/100.000 hab., em 1990,

para 171,43/100.000 hab. em 2002, chegando a 178,15/100.000 hab. em 2001,

sendo que estes valores eram de 91,64/100.000 hab. no ano de 1980.

E na 20ª RS, apesar de apresentar-se mais elevado nos últimos anos, o

coeficiente não apresenta um aumento linear durante o período de 1979 até

2002, como nas demais regionais. O valor mais alto da série foi notificado em

1983, quando apresentou 339,93 óbitos por causas relacionadas ao aparelho

circulatório para o grupo de 100.000 hab., enquanto o valor mais baixo

116,46/100.000 hab. foi notificado quatro anos antes, em 1979. Na década de 90,

os valores oscilaram entre 265 e 159/100.000 hab. e, no ano 2002, o coeficiente

atingiu o valor de 217,37/100.000 hab.

Tabela 14 - Mortalidade por doenças do aparelho circulatório nas regionais de saúde do Oeste do Paraná (1979 – 2002)

Regional de Saúde

Coef. de Mortalidade por doenças do ap. circulatório/100.000 hab.

1979 1985 1990 1995 2002

9 RS – F. Iguaçu

86,08 88,34 80,00 87,84 112,57

10 RS –Cascavel

93,85 109,41 120,41 130,30 130,30

20 RS - Toledo

116,46 131,98 265,31 173,32 217,37

Fonte: Secretaria de Estado de Saúde do Paraná – SESA/PR

MORTALIDADE POR CAUSAS EXTERNAS NAS REGIONAIS DE SAÚDE DO OESTE DO PARANÁ

Este indicador também pode expressar a transição epidemiológica

apontada nos itens anteriores. Segundo Lessa (1994), apontando dados do

Banco Mundial (1991), espera-se que 74% de todos os óbitos no ano 2020 sejam

devido a doenças não-transmissíveis junto com as “causas externas”.

O aumento da mortalidade por causas externas vem ocorrendo nas

regionais de saúde do oeste do Paraná, porém, observa-se que a 9ª RS (Foz do

Iguaçu), é a região que apresenta índices mais elevados de mortalidade por estas

causas, tanto em relação às demais regionais como quando comparados aos

valores do Estado. Com exceção da 20ª RS, que apresenta valores próximos aos

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do Estado, a Região Oeste do Paraná tem observado coeficientes mais elevados

de mortalidade por causas externas que o Paraná em geral.

Tabela 15 - Mortalidade por causas externas nas regionais de saúde do oeste do Paraná (1999 – 2001).

Regional de Saúde Coef. de Mortalidade por causas externas/10.000 hab.

1999 2000 2001

9 RS – F. Iguaçu 95,95 104,11 112,70

10 RS –Cascavel 71,23 75,78 73,65

20 RS - Toledo 67,00 61,77 71,98

Estado Paraná 68,25 68,50 69,53

Fonte: CIDS/DSI/ISEP/SESA, GPC/ISEP/SESA, DSS/ISEP/SESA, Ministério da Saúde/DATASUS, OPS, OMS.

INDICADORES DE MORBIDADE

PRINCIPAIS CAUSAS DE INTERNAÇÃO EM 2003 NAS REGIONAIS DE SAÚDE DO OESTE DO

PARANÁ

No Estado do Paraná, as cinco principais causas de internações

hospitalares em 2003 foram para (1) parto normal - exclusivamente para

Hospitais Amigos da Criança; (2) tratamento psiquiátrico em hospital classe VII;

(3) parto cesariana (4) parto normal (em hospitais gerais) e (5) pneumonia em

adulto. Estes dados chamam a atenção para o problema dos transtornos mentais

e para os problemas respiratórios, tendo em vista que as demais causas são

esperadas também em populações saudáveis.

Na 9ª RS, as cinco principais causas para internação hospitalar, em 2003,

foram (1) parto normal; (2) parto cesariana; (3) curetagem pós-aborto; (4) doença

pulmonar obstrutiva crônica e (5) extirpação e supressão de lesão da pele e do

tecido. Também como no Estado, as internações para parto normal e cesariana

não devem chamar a atenção, mas, nessa regional, os serviços de saúde devem

voltar seu olhar para o problema da curetagem pós-aborto e questionar-se,

inclusive com sugestões para estudos epidemiológicos, integrando-se o serviço

com as instituições de ensino, sobre quais as circunstâncias que envolvem estes

casos, que configuram a terceira maior causa para internação hospitalar. São

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casos de abortos espontâneos ou provocados? Qual o perfil das mulheres que

tem internação por esta causa (idade, estado civil, escolaridade, condições

socioeconômicas, etc.)? Quais as condições ou fatores que estão predispondo as

gestantes desta regional a sofrerem o aborto espontaneamente ou provocados?

Qual a cobertura e impacto dos programas de planejamento familiar da rede

básica de saúde? Este problema deve suscitar inúmeros questionamentos a

respeito desta prática que, quando clandestina, tem levado inúmeras mulheres à

morte ou a conviverem com seqüelas em função da prática clandestina para o

resto da vida.

Os outros motivos para internação hospitalar também devem levantar os

mesmos questionamentos para elucidar os fatores e condições que estão

levando os habitantes da 9ª RS a sofrerem com doença pulmonar obstrutiva

crônica (DPOC)2, e lesões de pele, que podem estar intimamente relacionadas às

condições e modos de vida desses habitantes. Conhecendo estas condições e

fatores, os serviços da rede básica poderão estar refletindo sobre as

possibilidades de reverterem-se estas causas de internação hospitalar.

Na 10ª RS, além dos internamentos para parto normal (1), destacaram-se,

em 2003, os internamentos para tratamentos psiquiátricos em hospital classe VI

(2) e classe VII (3), também as DPOC (4) e a insuficiência cardíaca3 (5). Também

nesses casos poderiam ser desenvolvidos estudos epidemiológicos para

investigar as condições que predispuseram estes agravos para que os serviços

de saúde da rede básica possam atuar em medidas estratégicas que diminuam o

número de internamentos por estas causas.

Na 20ª RS a principal causa de internamento hospitalar, em 2003, foi o

tratamento psiquiátrico em hospital classe V (1), seguida das internações para

2 A DPOC é uma classificação ampla para distúrbios, inclusive bronquite crônica, bronquiectasia,

enfisema e asma. Estudos apóiam a teoria de que a DPOC é uma doença de interação genética e ambiental. O fumo, a poluição do ar e a exposição ocupacional (algodão, carvão, grãos) são importantes fatores de risco que contribuem para seu desenvolvimento, o que pode ocorrer durante um período de 20 a 30 anos (BRUNNER/SUDDART. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 7 ed. V. 2. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1994). 3 Insuficiência cardíaca, freqüentemente denominada insuficiência cardíaca congestiva, é a

incapacidade cardíaca para atender às necessidades teciduais de oxigênio e nutrientes. A hipertensão arterial sistêmica é uma das condições subjacentes que comumente causam anormalidades da função cardíaca, levando à insuficiência cardíaca (BRUNNER/SUDDART. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 7 ed. V. 2. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1994).

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parto normal (2), insuficiência cardíaca (3), crise asmática (4) e DPOC (5),

discutidas anteriormente.

INCIDÊNCIA DE DENGUE NAS REGIONAIS DE SAÚDE DO OESTE DO PARANÁ

O dengue é uma doença febril aguda, de etiologia viral e de evolução

benigna na forma clássica, e grave quando se apresenta na forma hemorrágica.

É hoje a mais importante arbovirose4 que afeta o homem e constitui-se em sério

problema de saúde pública no mundo, especialmente nos países tropicais, onde

as condições do meio favorecem o desenvolvimento e a proliferação do Aedes

aegypti, principal mosquito vetor. Entre as medidas de controle do dengue

constam:

Manejo ambiental: mudanças no meio ambiente que impeçam ou minimizem a

propagação do vetor, evitando ou destruindo os criadouros potenciais do

mosquito;

Controle químico: consiste em tratamento focal (elimina larvas), peri-focal (em

postos estratégicos de difícil acesso) e por ultra baixo volume (elimina alados).

Este último deve ter uso restrito em epidemias, como forma complementar de

interromper a transmissão de dengue, ou quando houver infestação predial acima

de 5% em áreas com circulação comprovada de vírus;

Melhoria de saneamento básico;

Participação comunitária no sentido de evitar a infestação domiciliar do Aedes,

através da redução de criadouros potenciais dos vetores (saneamento domiciliar)

(BRASIL, 1998).

O aumento dos casos de dengue em todo o país, com surtos epidêmicos

em algumas regiões, suscitou a preocupação dos serviços de saúde para a

notificação e controle deste agravo também no Paraná.

A partir dos dados apresentados pela Secretaria Estadual de Saúde, pode-

se perceber o aumento da incidência desta doença em todo o Estado, de 3,29

casos em 100.000 hab., em 1999, para 99,06/100.000 hab. em 2002. Nas

regionais de saúde chama a atenção o elevado coeficiente de incidência da 9ª

4 Arboviroses: viroses transmitidas de um hospedeiro para outro por meio de um ou mais tipos de

artrópodes (BRASIL, 1998).

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Regional de Saúde nos anos 2000 e 2002 e, os baixos valores apresentados pela

10ª Regional de Saúde, mesmo durante os períodos de surtos epidêmicos, que

pode sugerir um sistema de notificação deficiente nesta região.

Tabela 16 - Incidência de dengue nas regionais de saúde do oeste do Paraná (1999 - 2002)

Regionais de

Saúde

Incidência de dengue/100.000 hab.

1999 2000 2001 2002

9ª RS – F. Iguaçu 9,32 244,61 16,43 442,95

10ª RS – Cascavel 1,08 0,63 1,68 4,88

20ª RS - Toledo 0,62 98,71 3,41 52,1

Estado Paraná 3,29 19,35 13,28 99,06

Fonte: Secretaria de Estado de Saúde do Paraná – SESA/PR

INCIDÊNCIA DE HEPATITE A E B NAS REGIONAIS DE SAÚDE DO OESTE DO PARANÁ

As hepatites do tipo A e B são doenças transmissíveis, causadas por vírus,

sendo o vírus da hepatite A transmitido por contato interpessoal através da

contaminação fecal-oral, por alimentos contaminados principalmente a água, o

leite, vegetais e ostras contaminadas. A hepatite A é freqüente em países com

saneamento deficiente, em instituições fechadas, como berçários e creches. Nos

países subdesenvolvidos são crianças e adultos jovens os grupos mais

acometidos, já nos países desenvolvidos, esse vírus infecta preferencialmente

adultos (menos de 10% dos pacientes são crianças). Portanto as medidas de

prevenção para esta doença são o saneamento básico, tratamento adequado dos

casos com precauções para evitar a contaminação de outras pessoas com fezes

do doente (BRASIL, 1998; ROUQUAYROL, 1994).

A hepatite B é transmitida por meio do sangue e seus derivados

contaminados e pelo sêmen, portanto, transmitida sexualmente e por transfusões,

procedimentos odontológicos, cirúrgicos e hemodiálise, transmissão perinatal,

exposição percutânea (tatuagens, perfuração de orelhas, etc.) ou uso de objetos

perfuro-cortantes contaminados, como no uso de drogas injetáveis. Na população

geral, esse vírus acomete principalmente indivíduos na faixa etária de 20 a 40

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anos. A prevenção deve ser realizada utilizando-se das mesmas estratégias para

prevenção das demais doenças sexualmente transmissíveis e da AIDS: uso de

agulhas e seringas descartáveis, seleção de doadores de sangue, normas

universais de biossegurança para o tratamento de pacientes infectados e a

vacinação contra a hepatite B de crianças de 0 a 19 anos de idade, e dos grupos

de suscetíveis, incluindo os profissionais de saúde (BRASIL, 1998).

Com relação aos coeficientes de incidência nas regionais de saúde do

oeste do Paraná, a hepatite A tem apresentado valores abaixo dos encontrados

pelo Estado, mesmo na 20ª RS que é a regional que vem apresentando os

valores mais elevados para este agravo (Tabela 17).

Para a hepatite B, segundo os dados apresentados pela Secretaria de

Estado de Saúde do Paraná, a incidência vem diminuindo considerando-se os

anos de 1999 a 2002, apesar da 20ª RS apresentar uma estabilidade nas taxas,

conforme observado na Tabela 18. Contudo, os dados apresentados na Região

Oeste do Paraná, para os casos de hepatite B, comparados aos do Estado, estão

mais elevados. Este fato deve preocupar os serviços de saúde dos municípios

pertencentes às regionais de saúde do oeste do Paraná, para as ações de

imunização contra hepatite B que, como se pode observar na Tabela 19, está

diminuindo a cobertura vacinal para a vacina contra este agravo, na Região

Oeste e no Estado em geral.

Tabela 17 - Incidência de hepatite A nas regionais de saúde do oeste do Paraná (1999 – 2002)

Regionais de Saúde Incidência de hepatite A/100.000 hab.

1999 2000 2001 2002

9ª RS – F. Iguaçu 8,80 21,80 11,63 8,06

10ª RS – Cascavel 14,72 24,10 8,52 7,74

20ª RS - Toledo 20,76 18,47 17,19 8,99

Estado Paraná 37,31 79,41 44,98 19,97

Fonte: Secretaria de Estado de Saúde – Paraná.

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Tabela 18 - Incidência de hepatite B nas regionais de saúde do oeste do Paraná (1999 – 2002)

Regionais de

Saúde

Incidência de hepatite B/100.000 hab.

1999 2000 2001 2002

9ª RS – F. Iguaçu 8,80 8,31 9,86 5,54

10ª RS – Cascavel 12,77 10,97 6,17 4,19

20ª RS - Toledo 7,55 4,07 8,44 6,51

Estado Paraná 5,42 4,31 4,70 3,49

Fonte: Secretaria de Estado de Saúde – Paraná.

Tabela 19 - Cobertura vacinal contra hepatite B nas regionais de saúde do oeste do Paraná (1999 – 2002)

Regionais de

Saúde

Cobertura vacinal para hepatite B

1999 2000 2001 2002

9ª RS – F. Iguaçu 104,63% 81,73% 94,65% 87,96%

10ª RS – Cascavel 109,90% 90,41% 94,79% 85,34%

20ª RS - Toledo 103,06% 90,13% 98,85% 95,86%

Estado Paraná 105,45% 94,03% 96,64% 92,55%

Fonte: Secretaria de Estado de Saúde – Paraná.

INCIDÊNCIA DE HANSENÍASE NAS REGIONAIS DE SAÚDE DO OESTE DO PARANÁ

A hanseníase é uma doença crônica, proveniente de infecção causada

pelo Micobacterium leprae. Este bacilo tem a capacidade de infectar grande

número de indivíduos, mas poucos adoecem pela sua baixa patogenicidade. O

domicílio é apontado como importante espaço de transmissão da doença que,

apesar de ter referências desde 600 a.C. na Índia, ainda permanecem lacunas de

conhecimento quanto aos prováveis fatores de risco implicados, especialmente

aqueles relacionados ao ambiente social. A melhoria das condições de vida e o

avanço do conhecimento científico modificaram significativamente o quadro

epidemiológico desta doença no mundo (BRASIL, 1998).

Atualmente, a hanseníase é endêmica nos países subdesenvolvidos e em

desenvolvimento. O coeficiente de prevalência da hanseníase no Brasil, em 1997,

foi de 5,43 casos por 10.000 habitantes, colocando o Brasil em 2º lugar no mundo

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em número absoluto de casos (86.741 casos), sendo superado apenas pela

Índia. Ressalta-se que a meta da OMS era eliminar a hanseníase como problema

de saúde pública até o ano 2000, ou seja, atingir uma prevalência de menos de

um caso por 10.000 habitantes (BRASIL, 1998).

No Paraná, apesar da incidência (número de casos novos) não ter atingido

a meta preconizada pela OMS, este coeficiente vem diminuindo a partir do ano

2000. Com exceção da 20ª RS, a Região Oeste do Paraná vem apresentando

anualmente, desde 2000, número de casos novos (incidência) mais elevados que

o Paraná. Isto pode estar refletindo o trabalho de descentralização do diagnóstico

e tratamento desta doença para as Unidades Básicas de Saúde, com ações de

detecção precoce de casos novos pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS).

As ações de detecção de casos, tratamento específico com prevenção e

tratamento de incapacidades físicas, a vigilância dos contatos intradomiciliares,

com aplicação da vacina BCG – ID e educação em saúde são imprescindíveis

para o controle e eliminação da doença no país.

Tabela 20 - Incidência de hanseníase nas regionais de saúde do oeste do Paraná (1999 – 2002)

Regionais de Saúde Incidência de hanseníase/10.000 hab.

2000 2001 2002

9ª RS – F. Iguaçu 4,29 3,03 2,88

10ª RS – Cascavel 2,25 2,00 2,17

20ª RS - Toledo 0,81 1,89 0,00

Estado Paraná 1,77 1,64 1,53

Fonte: Secretaria de Estado de Saúde – Paraná.

INCIDÊNCIA DE TUBERCULOSE NAS REGIONAIS DE SAÚDE DO OESTE DO PARANÁ

A tuberculose continua sendo um importante problema de saúde pública,

especialmente em países em desenvolvimento. Estima-se que cerca de 1,7

bilhões de indivíduos em todo o mundo estejam infectados pelo M. tuberculosis,

correspondendo a 30% da população mundial. No Brasil, estima-se que, do total

da população, 35 a 45 milhões de pessoas estão infectadas, com

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aproximadamente 100 mil casos novos por ano, número crescente observado

após o surgimento da Aids. A associação HIV/TB constitui, nos dias atuais, um

sério problema da saúde pública, podendo levar ao aumento da morbidade e

mortalidade pela tuberculose, em muitos países (BRASIL, 1998).

O risco de adoecimento é maior nos menores de 5 anos, nos

adolescentes, adultos jovens e idosos, além das pessoas desnutridas, com

silicose, diabetes, usuários de drogas endovenosas e entre os infectados, a

probabilidade de adoecer aumenta quando apresentam a infecção pelo vírus da

imunodeficiência humana (HIV) e outras formas de imunodepressão (BRASIL,

1998).

Portanto, constitui objetivo-meio para diminuir a infecção pela tuberculose,

diminuir também estas outras condições que permitem a propagação do bacilo da

tuberculose na população, além da melhoria das condições de vida em geral.

No Paraná, a incidência de tuberculose apresenta-se estável no período

de 2000 a 2002, com aproximadamente 29 casos novos por 100.000 habitantes

em média, anualmente. Na Região Oeste do Paraná, com exceção da 9ª RS, a

média de casos novos ao ano tem estado abaixo dos valores apresentados pelo

Estado, conforme tabela abaixo.

Tabela 21 - Incidência de tuberculose nas regionais de saúde do oeste do Paraná (1999 – 2002)

Regionais de

Saúde

Incidência de tuberculose/100.000 hab.

2000 2001 2002

9ª RS – F. Iguaçu 62,40 38,90 61,40

10ª RS – Cascavel 23,60 21,30 20,90

20ª RS - Toledo 20,10 21,60 14,27

Estado Paraná 29,27 30,80 27,41

Fonte: Secretaria de Estado de Saúde – Paraná.

Faz parte das medidas de controle desta doença o diagnóstico precoce e o

tratamento adequado, a vacinação com a BCG e a quimioprofilaxia com

administração de isoniazida nos casos descritos no Guia de Vigilância

Epidemiológica (BRASIL, 1998).

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Tabela 22 - Cobertura vacinal da vacina BCG-ID nas regionais de saúde do oeste do Paraná (1999 – 2002)

Regionais de

Saúde

Cobertura vacinal da BCG

1999 2000 2001 2002

9ª RS – F. Iguaçu 154,72% 121,70% 119,86% 108,68%

10ª RS – Cascavel 96,08% 93,61% 94,07% 92,65%

20ª RS - Toledo 103,95% 97,07% 111,92% 101,52%

Estado Paraná 109,01% 104,94% 107,04% 99,36%

Fonte: Secretaria de Estado de Saúde – Paraná.

A administração da BCG diminui a incidência de formas graves de

tuberculose, como a meningite e a forma miliar. No Paraná, a cobertura vacinal

com a BCG-ID vem diminuindo após o ano de 1999 e, preocupa a cobertura

vacinal na 10ª RS estar, durante o período abordado, sempre abaixo da cobertura

geral do Estado, mesmo comparando-se às demais regionais de saúde do oeste

do Paraná (Tabela 22).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O resultado final da pesquisa, apresentada por meio deste texto e de

outros trabalhos elencados no Relatório Final e anexados ao mesmo, revelam

inúmeros aspectos da situação da Região Oeste em relação ao setor de saúde,

que podem subsidiar os gestores na formulação de políticas de saúde para a

região, sem a pretensão de ter esgotado o levantamento e as análises da

realidade regional referente a este importante setor público.

Conforme explicitado no Relatório Final, os resultados da pesquisa

apresentam algumas limitações em face da não liberação dos recursos do projeto

aprovado pela Fundação Araucária e a precarização dos registros existentes.

Contudo, acreditamos que os dados apresentados e as análises realizadas

podem se constituir em elementos a serem considerados na tomada de decisão

dos gestores públicos tanto em nível local como estadual.

Destacamos como dado significativo a disparidade na distribuição de leitos

e a reduzida existência de instituições hospitalares públicas na região em

comparação com a realidade do Estado. Quanto ao número relativamente

elevado de leitos/habitante existentes na região, pode ser indicativo de uma certa

persistência do modelo curativo, em face da proposta do SUS de dar ênfase à

promoção e prevenção da saúde.

O elevado número de UBS – Unidades Básicas de Saúde, que ocorreu na

última década não garante que tenha havido uma mudança do modelo

hegemônico de atenção à saúde, centrado no hospital, na figura do profissional

médico e no tratamento de doenças, ao contrário, pode significar uma

precarização do atendimento estimulado por uma política de simplificação da

assistência.

Mesmo o PSF – Programa Saúde da Família, que se apresenta como uma

política/estratégia de “inversão” do modelo assistencial, na Região Oeste, a

cobertura é significativamente menor que a média do Estado.

Quanto ao quadro de Recursos Humanos, a falta de registros inviabiliza

uma análise mais aprofundada, conforme já expresso no corpo do texto, o que

indica a necessidade de outras pesquisas para se obter informações mais

precisas sobre esta realidade.

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Por fim, a realidade epidemiológica, resultante das ações e serviços de

saúde oferecidos e de tendências das próprias doenças, em grande medida é

equivalente aos dados do Estado, com algumas alterações para mais ou para

menos, cujas causas foram analisadas no texto.

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