jovens egressos do sistema prisional de...

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JOVENS EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL DE TOLEDO/PR (1984-2009): VULNERABILIDADES E CONTRADIÇÕES NA FORMULAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA JUVENTUDE Emerson Cristofoli 1 Rosana Katia Nazzari 2 Franciele de Souza 3 INTRODUÇÃO: O Brasil possui cerca de 41 milhões de jovens entre 18 a 29 anos (IBGE, 2010), representando 21.81% da população brasileira. São eles, os cidadãos que no futuro serão responsáveis pelo desenvolvimento social e econômico do país. No que diz respeito às políticas públicas voltadas para este grupo e aos conflitos urbanos que tais vivenciam, o jovem é um segmento importante na construção do tecido social. As ações decorrentes das políticas públicas de juventude no Brasil evidenciam diferentes práticas desenvolvidas e questões problemáticas. Uma fração significativa desses jovens vive em condições de vulnerabilidade social, que conforme Abramovay (2002, p.09): “(...) é o resultado negativo da relação entre a disponibilidade dos recursos materiais ou simbólicos dos atores, sejam eles indivíduos ou grupos, e o acesso à estrutura de oportunidades sociais, econômicas, culturais que provêm do Estado, do mercado e da sociedade”. Segmentos vulneráveis da sociedade, como jovens oriundos de famílias com laços frágeis de inserção na sociedade, com baixos índices de escolaridade e moradores de áreas urbanas com risco social eminente, por não acessarem serviços básicos e essenciais como saúde e educação, estarão expostos ao risco social e, conseqüentemente, a marginalidade. Trabalhar na perspectiva da vulnerabilidade social implica entender a facilidade que alguns indivíduos têm em vivenciar o processo de criminalização, ou seja, é estar disponível a apreender o delito como produção social. O declínio das oportunidades de formação e de trabalho sobre o expressivo contingente de jovens brasileiros tem ocasionado o envolvimento com a violência e consequentemente com a criminalidade. Tal contingente de jovens é vítima de situações sociais precárias, não 1 Cientista Social, Mestrando em Ciências Sociais na Unioeste Campus de Toledo e Coordenador do Programa Proegresso de Toledo. E-mail: [email protected]. 2 Pós-doutora em Educação pela Unisinos, Doutora em Ciência Política, docente, pesquisadora e líder do Grupo de Pesquisa sobre Comportamento Político GPCP da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE. E-mail:[email protected]. 3 Acadêmica do Curso de Serviço Social da Unioeste Campus de Toledo. E-mail: [email protected]

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JOVENS EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL DE TOLEDO/PR (1984-2009):

VULNERABILIDADES E CONTRADIÇÕES NA FORMULAÇÃO DAS

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA JUVENTUDE

Emerson Cristofoli1

Rosana Katia Nazzari2

Franciele de Souza3

INTRODUÇÃO: O Brasil possui cerca de 41 milhões de jovens entre 18 a 29 anos

(IBGE, 2010), representando 21.81% da população brasileira. São eles, os cidadãos que

no futuro serão responsáveis pelo desenvolvimento social e econômico do país. No que

diz respeito às políticas públicas voltadas para este grupo e aos conflitos urbanos que tais

vivenciam, o jovem é um segmento importante na construção do tecido social. As ações

decorrentes das políticas públicas de juventude no Brasil evidenciam diferentes práticas

desenvolvidas e questões problemáticas. Uma fração significativa desses jovens vive em

condições de vulnerabilidade social, que conforme Abramovay (2002, p.09): “(...) é o

resultado negativo da relação entre a disponibilidade dos recursos materiais ou

simbólicos dos atores, sejam eles indivíduos ou grupos, e o acesso à estrutura de

oportunidades sociais, econômicas, culturais que provêm do Estado, do mercado e da

sociedade”. Segmentos vulneráveis da sociedade, como jovens oriundos de famílias com

laços frágeis de inserção na sociedade, com baixos índices de escolaridade e moradores

de áreas urbanas com risco social eminente, por não acessarem serviços básicos e

essenciais como saúde e educação, estarão expostos ao risco social e, conseqüentemente,

a marginalidade. Trabalhar na perspectiva da vulnerabilidade social implica entender a

facilidade que alguns indivíduos têm em vivenciar o processo de criminalização, ou seja,

é estar disponível a apreender o delito como produção social. O declínio das

oportunidades de formação e de trabalho sobre o expressivo contingente de jovens

brasileiros tem ocasionado o envolvimento com a violência e consequentemente com a

criminalidade. Tal contingente de jovens é vítima de situações sociais precárias, não

1 Cientista Social, Mestrando em Ciências Sociais na Unioeste – Campus de Toledo e Coordenador do

Programa Proegresso de Toledo. E-mail: [email protected]. 2 Pós-doutora em Educação pela Unisinos, Doutora em Ciência Política, docente, pesquisadora e líder do

Grupo de Pesquisa sobre Comportamento Político – GPCP da Universidade Estadual do Oeste do Paraná

- UNIOESTE. E-mail:[email protected]. 3 Acadêmica do Curso de Serviço Social da Unioeste – Campus de Toledo. E-mail:

[email protected]

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possuem as condições materiais básicas para suprir suas necessidades, e, portanto, para

garantir a construção da cidadania. Diante deste cenário, a violência e criminalidade se

expandem para os municípios do interior. O Município de Toledo/Pr esta na 120ª posição

do ranking nacional de mortes violentas (homicídios, suicídios e acidentes de transito) os

dados apresentados são para jovens entre 15 e 24 anos e demonstram que durante o

intervalo dos anos 2006 e 2008 ocorrem 68 mortes, conforme o “Mapa da Violência

2011” pesquisa realizada pelo sociólogo Waiselfisz. Observa-se que, a violência sofrida

pelos jovens é desencadeada pela vulnerabilidade social e ausência de acesso às

estruturas de oportunidades. Neste sentido, destaca-se que, a interiorização da violência

vem conjuntamente com déficit de segurança na fronteira do interior do país, que servem

de corredor para o narcotráfico, contrabando e armas que entram no país por essas

fronteiras.

OBJETIVOS: - Apresentar teoricamente a problematização sobre a Vulnerabilidade das

Juventudes; - Explanar sobre os problemas e contradições na formulação das políticas

públicas; - Demonstrar qual é o perfil sócio-econômico e criminal entre jovens de 18 a

29 anos atendidos pelo Programa Proegresso Comarca de Toledo período de 1984 a

2009;

METODOLOGIA: A metodologia utilizada para realização deste artigo foi dividida em

duas partes. A primeira parte foi reflexivo-teórica, pesquisamos as políticas públicas

relacionadas ao público jovem, a meta foi verificar como são executadas as políticas para

a juventude, para isto foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre assuntos como:

Políticas Públicas, Vulnerabilidade Social, Criminalidade, Violência e Juventude. A

segunda parte foi realização uma pesquisa/analise quantitativa junto aos dados do

Catalogo Jurídico do Programa Proegresso Comarca de Toledo que, contém dados

relacionados com egressos atendidos pelo Proegresso no período de 1984 a 2009. A meta

foi selecionar e verificar os dados econômicos, sociais e criminais com referência a

jovens entre 18 e 29 anos atendidos pelo Programa, ou seja, 730 usuários, sendo 54

mulheres e 676 homens.

RESULTADOS: Vulnerabilidade das Juventudes: A categoria juventude como etapa

especifica do desenvolvimento humano, inserida entre infância e idade adulta, é fato

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relativamente recente4 da humanidade. Podemos relacioná-la com a industrialização,

enquanto produto das condições e demandas sociais por ela imposta, tendo em vista a

generalização do trabalho assalariado e o surgimento de novas instituições sociais.

A concepção de juventude como “momento de transição de um ciclo de vida” está

associada ao modo como a Sociologia funcionalista a categorizou para fins de análise –

como o momento da integração social, quando os jovens se tornam membros da sociedade.

Como a juventude é pensada como um processo de desenvolvimento social e pessoal de

capacidades e ajustes aos papéis adultos, são as falhas nesse desenvolvimento e os ajustes

que se constituem em temas de preocupação social (ABRAMO, 1997 p. 29)

A discussão acerca da temática “juventude” abrange uma complexa gama de percepções,

sendo que nosso foco é recorrer a alguns elementos que sejam capazes de conduzir a

uma melhor forma de compreendê-la enquanto fenômeno social, em sua complexidade e

múltiplas expressões. Desta forma, pautaremos em que medida a violência5 perpassa a

juventude como etapa da vida e se expressa como um fator determinante da

vulnerabilidade juvenil. O conceito de vulnerabilidade social caracteriza-se por um

complexo campo conceitual, constituído por diferentes concepções e dimensões que

pode voltar-se para o enfoque econômico, ambiental, de saúde, de direitos, entre tantos

outros. Neste sentido, “A violência tem uma estreita relação com o jovem em

vulnerabilidade social, seja pela condição de vítima ou pela condição de ator”

(ROCHA, 2007, p. 40). Cabe salientar que não se pretende aqui restringir a relação no

binômio juventude/violência, mas mostrar que, como condição peculiar da etapa da vida,

ela acaba sendo mais intensa. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2009,

p. 3) São Paulo e Rio de Janeiro não são os lugares mais violentos para os jovens

brasileiros, em pesquisa que envolveu os 266 municípios brasileiros com mais de 100

mil habitantes, estas aparecem em 192º lugar e 64º lugar respectivamente. A violência

revelada por meio do Índice de Vulnerabilidade Juvenil – IJC (UNESCO, 2010)

diagnosticou o grau de exposição de jovens de 12 a 29 anos. O índice de vulnerabilidade

juvenil envolve dados socioeconômicos (homicídios, escolaridade, acesso ao mercado de

trabalho, renda e moradia, entre outros). Assim, a violência não é só crime, engloba

4 Alguns pesquisadores que estudam o tema: Elias (1994); Abramo (1994); Peralva (1997); Groppo

(2000). 5 O conceito de violência é muito amplo e variado, tal qual as suas formas de manifestação. De acordo

com a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), violência é “o uso intencional de força ou de

poder físico, na forma real ou de ameaça, contra si mesmo, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou

comunidade, que resulta, ou tem grandes chances de resultar em ferimentos, morte, danos psicológicos,

subdesenvolvimento ou privação”.

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fatores tais como: ausência de escola, pobreza, desigualdade, acidente de trânsito. O

estudo: “Mapa da Violência 2010 – Anatomia dos Homicídios no Brasil”, realizado pelo

sociólogo Waiselfisz, do Instituto Sangari que, se baseia em dados do Sistema de

Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, demonstrou que desde

1980 a violência vem crescendo entre os jovens brasileiros. Se a cada 100 mil jovens 30

deles morriam por homicídio em 1980, o número saltou para 50,1 em 2007. Ao

considerar a violência como um dos condicionantes da vulnerabilidade juvenil, pretende-

se, acima de tudo, pontuar no debate um entrave para o desenvolvimento saudável da

juventude no Brasil. As drogas, a violência e o desemprego passaram a ser considerados

os problemas e as vulnerabilidades sociais máximas de nosso tempo.

Diante deste quadro, várias políticas de compensação social foram criadas. Ainda que

nenhuma destas políticas tenha sido catalogada como “exclusivamente para jovens”, o

foco e a prioridade principal delas foram, especialmente, os jovens oriundos de setores

“excluídos”, que apresentavam condutas consideradas delinqüentes. (KERBAUY, 2005,

p. 199)

Porém, cabe ressaltar que a problemática da violência não está no jovem, mas no

contexto social a que está inserido, caracterizado por profundas desigualdades sociais,

pelo individualismo exacerbado e pela fragilidade do Estado na garantia da segurança

pública. Diante desta problematização das condições históricas e sociais do jovem

brasileiro, há outras singularidades que merecem atenção. Os dados, levantados pela

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2008, demonstram que um quarto

(1/4) dos brasileiros entre 18 e 29 anos não conseguiu nem mesmo completar o ensino

fundamental. São quase nove milhões de jovens sem escolaridade básica. Desses, 816

mil são analfabetos. A maior parte dos jovens que não concluíram o ensino fundamental

está nas cidades, onde o acesso à escola deveria ser mais fácil. São 6,4 milhões. Os

outros 2,6 milhões estão em zona rurais. Na outra ponta, apenas 12,4% dos jovens de 18

a 24 anos - cerca de 4,5 milhões - estão na universidade, nível de escolaridade que

deveriam ter. Atualmente, sete milhões de brasileiros entre 18 e 24 anos não estudam

nem trabalham, de acordo com a Pnad. São jovens que têm dificuldade de encontrar

emprego porque não têm escolaridade mínima, mas também não continuam estudando

porque a idade os empurra para o trabalho. De 100 jovens brasileiros que ingressaram no

mercado de trabalho de 1995 a 2005, apenas 45 encontraram algum tipo de ocupação e

55 ficaram desempregados. Além disso, o número de jovens desocupados mais que

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dobrou nesses dez anos, saltando de 2,1 milhões para 4,4 milhões. A conclusão é de

Pochmann, professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos

Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), ambos da Universidade Estadual de

Campinas (Unicamp), que concluiu em de março (2007) o estudo Situação do jovem no

mercado de trabalho no Brasil: um balanço dos últimos dez anos. Pochmann aponta que,

nos dez anos analisados, o desemprego cresceu mais para os jovens do que para as

demais faixas etárias. Em 2005, a quantidade de jovens desempregados era 107%

superior à de 1995, enquanto o desemprego para a população economicamente ativa

restante do país foi 90% superior. Conforme o texto “Juventude, Violência e

Vulnerabilidade Social na América Latina”:

“O acesso negado dos jovens a processos básicos como os analisados restringe a

capacidade de formação, uso e reprodução dos recursos materiais e simbólicos; torna-se

fonte de vulnerabilidade, contribuindo para precária integração desses jovens às

estruturas de oportunidades, quer provenientes do Estado, do mercado ou da sociedade.

Ademais, diversas modalidades de separação do espaço e das oportunidades sociais, que

incluem segregação residencial, a separação dos espaços públicos de sociabilidade e a

segmentação dos serviços básicos – em especial, da educação – concorrem para ampliar

a situação de desigualdades sociais e a segregação de muitos jovens. (UNESCO, 2002.

P.49)”

Analisando os dados do Sistema Integrado de Informações Penitenciárias – INFOPEN –

e sem considerar um exagero, poderíamos supor que muito do investimento de Políticas

públicas para juventude esta relacionada com a construção de presídios. Conforme o

INFOPEN (2010), cerca de 490 mil homens e mulheres estão no Regime Fechado. Deste

contingente o INFOPEN apresenta dados sobre faixa etária somente de presos no

Sistema Penitenciário sendo, 240.465 de jovens entre 18 e 29 anos representando

54,54% da população carcerária. A partir da associação da vulnerabilidade com a

desigualdade social e a segregação juvenil, tem-se conseguido esclarecer cenários das

complexas nuances da relação juventude e violência.

Contradições na formulação das políticas públicas: O processo de elaboração das

políticas públicas voltadas para juventude pressupõe romper com a própria compreensão

do que está estabelecido sobre a juventude. O debate sobre o tema esta pautado na

instabilidade gerada pelas significativas mudanças na contemporaneidade, sobretudo, no

que se refere ao mercado de trabalho e ao aumento crescente da violência. A partir de

1990 as iniciativas foram massivas no que tange à proteção à infância. No entanto, ao

que se refere à juventude de forma mais ampla, percebe-se um vazio, pois o Estatuto da

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Criança e do Adolescente - ECA - faz um recorte etário, deixando à margem os jovens

adultos. Depois do ano 2000 o tema da juventude foi enfim inserido na agenda pública,

no Brasil, especialmente no reconhecimento de problemas que mais diretamente afetam

os jovens: saúde, violência e desemprego. Neste período destaca-se a expansão das

possibilidades de acesso ao sistema escolar e aos projetos voltados para segmentos

específicos (jovens excluídos ou em „risco social‟). “É evidente a ausência de canais de

interlocução com os próprios jovens, destinatários de algumas das propostas, mas

jamais tidos como parceiros relevantes no seu desenho, implementação e avaliação”

(SPOSITO, 2003, p. 66). A depender do contexto sócio-político e econômico do qual se

originam, os jovens são considerados perigosos, marginais, alienados, irresponsáveis,

desinteressados ou desmotivados, e cada vez mais relacionados à violência e aos desvios

de conduta. Diante desta concepção equivocada, os programas governamentais

procuraram apenas minimizar a potencial ameaça que os jovens parecem representar

para a sociedade. O conjunto das ações políticas para jovens, ainda exprime a idéia

básica de superação dos problemas vividos pelos jovens, sua situação de vulnerabilidade

e, portanto, a meta fixada incide sobre o combate aos problemas de desemprego,

violência e drogas. É necessário desconstruir os mitos relacionados à juventude tomada

como “alienada e apática”. Não podemos reduzir a compreensão do envolvimento do

jovem com a violência e a criminalidade aos aspectos macro-sociais nem tampouco às

questões do individuo, como as condutas de risco que propiciam sua marginalização e

exclusão. A questão repousa principalmente sobre os fenômenos de constituição das

políticas públicas que não estão evidenciando que a juventude enquanto fase da vida, em

sua pluralidade é atravessada por aspectos culturais, sociais, econômicos e étnicos

distintos, pois considera a juventude como um todo homogêneo. São raros os canais

democráticos que assegurem espaços de debates e participação para a formulação,

acompanhamento e avaliação dessas políticas. Os jovens cada vez mais se organizam em

grupos e demandam participação política. Há necessidade, portanto de que os gestores

levem em consideração a participação dos jovens para a elaboração de políticas; isso

porque eles não são meros “beneficiários passivos” e sim sujeitos políticos que pensam

sobre suas demandas. Entre essas demandas da juventude, muitas envolvem o mundo do

trabalho, sua dificuldade de adentrá-lo, a falta de qualificação para conseguir o emprego.

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Uma pesquisa realizada pelo IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e

Econômicos) em 2005 nas regiões metropolitanas do país e no Distrito Federal apontou

que essas políticas de bem-estar para a juventude levam em consideração o perfil sócio-

econômico dos jovens, observando o agravamento das condições de vidas que incidem

diretamente no aumento da sensação de insegurança no presente e nas incertezas quanto

ao futuro destes próprios jovens, portanto, os entraves da vida cotidiana devem ser

levados em conta para a formulação de tais políticas que visam o estimulo a participação

da juventude. Estímulo este que só opera através de investimento na educação e

qualificação destes jovens. Desta forma, uma juventude condenada a uma formação

educacional e profissional inadequada a sua realidade fica passível de envolvimento com

a violência e a criminalidade, sobrevivendo do subemprego em uma condição de sub-

cidadania. Essas considerações remetem para um eixo importante de problemas na

concepção, na implementação e na avaliação das políticas. É preciso avançar para além

das doutrinas de segurança pública e de assistência social no trato com as políticas

públicas orientadas para os jovens. “O Estado precisa pensar os jovens enquanto

cidadãos portadores de direitos e com potenciais contribuições para o conjunto da

sociedade” (CUNHA 2008, p. 121). Sem negligenciar as inúmeras dificuldades de

ampliação das dotações orçamentárias para as políticas públicas sociais, admite-se que o

desafio maior é, contudo, inscrever as políticas de juventude em uma pauta ampliada de

direitos públicos de caráter universalista. Essas orientações devem pressupor os jovens

como sujeitos dotados de autonomia e como interlocutores ativos na formulação,

execução e avaliação das políticas a eles destinadas. Para tanto, torna-se necessário

romper com a setorização das políticas de juventude, romper com a visão estigmatizada

ou utilitarista da condição juvenil, estimular uma melhor relação entre a sociedade civil e

os jovens, promovendo a participação dos jovens na construção de sua cidadania.

Os jovens de 18 a 29 anos atendidos pelo Programa Proegresso Comarca de Toledo

período de 1984 a 2009: O Programa Proegresso é uma instituição de natureza pública

que presta serviços de acompanhamento técnico junto ao indivíduo que sofreu uma

sanção penal e cumpre pena em regime aberto, livramento condicional, SURSIS,

trabalho externo, liberdade vigiada, prestação de serviços à comunidade (PSC), ou

aquele que condenado permanece nas cadeias públicas das comarcas. Em Toledo, o

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Programa Proegresso foi implantado em 16 de fevereiro de 1984. São 27 anos

desenvolvendo ações junto aos egressos, apenados e familiares no Município e Região.

Atualmente, sob a coordenação da UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do

Paraná, o Programa presta atendimento à aproximadamente 210 egressos e apenados,

oriundos ou não do sistema penitenciário. Os objetivos do programa são: Proporcionar

ao apenado e egresso atendimento individual, assistência jurídica e psicossocial, e

oportunizar a formação profissional; Realizar o encaminhamento, acompanhamento e

fiscalização da Prestação de Serviço à Comunidade; Desenvolver ações com a família do

apenado e egresso no sentido da não reincidência criminal; Inserir a comunidade na

participação e busca dos direitos civis, políticos e sociais do apenado e egresso;

Possibilitar ao benificiário a identificação dos problemas sociais, para que assuma uma

postura crítica e busque alternativas mediante a participação junto à comunidade para a

resolução dos mesmos. Conforme o Catalogo do Acervo Juridico do Programa

Proegresso da Comarca de Toledo – 1984/2009 - (DEIMILING, CRISTOFOLI), o

Proegresso atendeu 16156 egressos e apenados de Toledo e Região (beneficiários

oriundos ou não do sistema penitenciário). Notamos que a faixa etária de 18 á 29 anos

corresponde a 45,38% do total de atendidos no período, ou seja 730 usuários, sendo 54

mulheres e 676 homens.

Figura 1 – Quantidade dos egressos e apenados atendidos pelo Proegresso 1984/2009 (%)

Fonte: (DEIMLING; CRISTOFOLI, 2010)

6 Sendo que os registros no Catalogo do Acervo Jurídico em alguns casos não contem todas as

informações dos beneficiários, esta ausência de dados ocorreu em virtude de não conter a informação na

ficha de entrevista do egresso ou apenado no registro de entrada do beneficiário ao Programa Proegresso.

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Sobre a questão da faixa etária de 18 a 29 anos podemos relacionada-la a maturidade,

que por sua vez está pautada a diferentes aspectos, não só vinculados a características

pessoais, mas ao contexto e às relações sociais estabelecidas. Assim, percebe-se uma

inserção social mais precoce em jovens de classes populares, seja no que se refere à vida

sexual, à inserção em atividade produtiva, à gravidez precoce, ao envolvimento com o

crime ou ao consumo de drogas. O que é definido como adultização precoce, ou

processo acelerado de adultização (Zaluar, 2002; UNESCO,2004).

De acordo com os dados apresentados com a figura (02) podemos observar que dos 376

casos captados pelo Catalogo do Acervo Jurídico do Proegresso referentes ao grau de

instrução que, a escolaridade dos beneficiários do Programa Pró-Egresso é assim

apreendida: 31,64 % têm o ensino fundamental incompleto; 9,04 % têm o ensino

fundamental completo; 19,68% com ensino médio completo; 33,51 % ensino médio

incompleto; 0,53% com o ensino superior completo e 3,72 % incompleto, 1,59 % são

classificados como sem escolaridade, ou seja, não sabem ler nem escrever.

Figura 02 – Escolaridade de jovens (homens e mulheres) de 18 a 29 atendidos pelo Proegresso 1984/2009 (%)

E s colaridade

1 5

31

100

66

114

2

123

19

812

2

0

20

40

60

80

100

120

alfabetiz

ado

analfabeto

Fundamental

Fundamental Inc.

Médio

Médio Inc.

S uperior

S uperior In

c.

Fonte: (DEIMLING; CRISTOFOLI, 2010)

A vulnerabilidade social, a partir dos anos 90, não trilha somente os estratos mais

baixos ou abaixo da linha da pobreza; ela é advinda do desemprego e de um capital

educacional de poucos anos de estudo. Mas, ao nos reportarmos à história brasileira,

verificamos fatalmente que, desde os primórdios, a educação foi voltada para uma

classe, a dos abastados. A parcela sem recursos sempre foi relegada à condição de

detentora de baixa qualificação educacional. (SILVA 2010, p 32)

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Conforme os dados apresentados na figura (03), podemos observar que os crimes com

maior recorrência entre o público jovem são: tráfico e consumo de drogas com 16,08%

dos casos, furto com 14,78%, roubo 6,7%, lesão corporal com 4,40%, direção perigosa

de veiculo em via pública com 4,28%, dirigir sem habilitação com 4,1% , receptação

com 4,0% e vale destacar os casos de homicídio com 2,9% dos casos.

Figura 03 – Crimes e delitos cometidos por jovens (homens e mulheres) de 18 a 29 atendidos pelo Proegresso 1984/2009 (%)

C rimes124

34

5 914

23

2 5 616

4 5

114

52

313

3

31

125 4 5

11

32

137

2025

33

17

3 6 3 3

21

513

1 2 1 19

1 1 1 1 1

15

0

20

40

60

80

100

120

140

TR ÁF ICO D

E DR OG

AS

LE S ÃO C

OR POR AL

C R IME D

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Fonte: (DEIMLING; CRISTOFOLI, 2010)

O crime é um fato social, pois: [...] criminalidade e desvio não denotam qualidades

naturais, mas culturais, uma vez que resultam de processos de definição que se

desenvolvem no interior do mecanismo ideológico, pelo qual tem lugar a reprodução da

realidade social (BARATTA, 2002, p. 218). Enfim, pensar sobre a responsabilidade de

todos na produção do fenômeno da “criminalização da juventude”, fenômeno que tanto

assusta, ameaça, limita e inquieta, uma vez que fala de um contexto, aos quais todos,

desejem ou não, fazem parte, é pensar o crime como um fato social. (RAMOS 2007, p.

32)

Figura 04 – Profissão de homens de 18 a 29 anos atendidos pelo Proegresso 1984/2009 (%)

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Fonte: (DEIMLING; CRISTOFOLI, 2010)

As figuras 04 e 05 demonstram as profissões que os jovens egressos declaram durante a

entrevista inicial, podemos observar que entre os homens7 23,69% estavam

desempregados, 20,65% não souberam informam qual era sua profissão, 7,8

trabalhavam com serviço gerais, 6,5% atuavam como servente de pedreiro. Entre as

mulheres destacamos que 30,61% declaram não saber qual era sua profissão, 22,44%

estavam desempregadas, 14,28% do lar e 8,1% trabalhavam com diaristas ou

domesticas.

Figura 05 – Profissão de mulheres de 18 a 29 anos atendidos pelo Proegresso 1984/2009 (%)

Fonte: (DEIMLING; CRISTOFOLI, 2010)

7 Correspondente a um (1) profissional por área:Agente de aeroporto, auxiliar geral, armador, atendente, aux. de

cozinha, aux. de enfermagem, borracheiro, cabeleireiro, caminhoneiro, catador de papel, comunicação, visual,

consultor, corretor de imóveis, cozinheiro, diretor comercial, entregador, estofador, extrusor, farmacêutico,

filetador de peixes, frentista, gesseiro, impressor gráfico, instalador de tela, jardineiro, jornaleiro, latoeiro,

lixador, marceneiro, montador de aviários, oficce boy, operador de caldeira, padeiro, peão de rodeio, pecuarista,

pintor de faixas, pintor de moveis, piscicultor, polidor de veículos, responsável por aviário, serralheiro, técnico

em laboratório, técnico de som, tratorista, vidraceiro.

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Ao considerarmos o indicador profissão, podemos sugerir que estes jovens atendidos

pelo Proegresso iniciam a passagem da infância para a juventude precocemente, pois

necessitam estar ocupados, seja no mercado formal ou informal, em ocupações lícitas ou

ilícitas, sem necessariamente vivenciarem a juventude. Estes assumem papéis adultos e

adentram no mercado de trabalho em ocupações desfavoráveis frente aos jovens de

camadas ditas “superiores”. (SILVA 2010, p. 27)

Dentre as dificuldades enfrentadas pelos jovens, o acesso a postos de trabalho é

apontado como particularmente critico, sendo o índice de desemprego entre eles muito

superior ao índice entre adultos. A defasagem existente entre as condições educativas,

expectativas de realização e expectativas de inserção no mercado de trabalho explicitam

algumas das dificuldades enfrentadas pela maioria dos jovens (UNESCO, 2004). Os

jovens entre 18 e 29 anos atendidos pelo programa proegresso entre os anos 1984/2009

é um tema a ser apresentado e debatido. Neste sentido, a violência dos jovens deve ser

entendida no contexto de tensões e contradições que a juventude enfrenta. A violência

surge das brechas em oportunidades que separam uns jovens de outros no acesso à

educação e ao emprego de qualidade, redes de relações, condições ambientais e capital

cultural, entre outros. Quanto mais difusos os canais consagrados de integração e

mobilidade social, mais se apaga a fronteira que separa o legal do ilegal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Uma coisa é fato: os jovens têm mais disposição do que

qualquer outro setor social para comprometer-se com causas nobres, com ideais, com

desafios coletivos. Eles nasceram num Brasil concreto, dos anos 1980 e 1990, imerso

em um processo histórico diferente daquelas décadas anteriores, em um mundo que, nas

últimas décadas, sofreu transformações de enorme envergadura nos campos político,

econômico, tecnológico, cultural e social. Perceber a juventude como dimensão

heterogênea torna-se fundamental para quem vislumbra contribuir com um futuro

melhor para eles. O momento atual é histórico e muito indicado para renovar a

discussão sobre a juventude e passar de clichês a dados objetivos e análises profundas.

No campo social, a sociedade está colocando no centro da agenda pública a necessidade

de priorizar de uma vez a luta contra a pobreza e contra a desigualdade, que tem entre

suas vítimas preferenciais os jovens. Tudo isso se reflete nos setores jovens da

população. Os "trajetos de vida" são totalmente diferentes segundo o estrato social a que

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pertencem. Os setores de estratos altos podem aspirar a ter níveis de educação, saúde,

trabalho e moradia semelhantes aos de jovens de países desenvolvidos. Por outro lado,

os jovens mais pobres vêem sua vida drasticamente marcada pela falta de oportunidades

oferecidas pela sociedade. Devem começar a trabalhar com uma idade precoce, suas

possibilidades de cursar estudos primários e secundários são limitadas, correm riscos

significativos na saúde, não possuem rede de relações sociais que possa impulsioná-los,

não há crédito para eles, sua inserção no mercado de trabalho é muito problemática,

dificilmente conseguem sair da situação de privação de suas famílias. Não deixar

esvaziarem-se os sonhos da juventude e os seus anseios por um mundo melhor equivale

a orientar, incentivar e socializá-la para o envolvimento na esfera pública. Diante disso,

torna-se fundamental a existência de políticas públicas visando promover a prevenção

da marginalização e da exclusão de parcela da população jovem no Brasil, ou seja,

como uma proposta de prevenção e de qualidade que se preocupe efetivamente com a

integração dos jovens e com a ampliação de oportunidades de reinserção social. Neste

sentido é preciso que se compreenda a criminalidade inserida no contexto da pobreza e

desigualdade social, como resultado de um processo que envolve a classe trabalhadora e

que está diretamente ligada aos processos de produção da riqueza na sociedade

burguesa. Porém não estamos dizendo que apenas os pobres praticam atividades

consideradas ilícitas, o que queremos explicitar é que por ser uma população excluída

de todas as formas de acesso a riqueza socialmente produzida, eles acabam se tornando

mais vulneráveis à criminalidade, sendo penalizados e estereotipados. Segundo Reynol

(2008, p. 1), as políticas envelhecem e precisam ser renovadas. Estes fatos

contemporâneos instigaram uma nova reflexão sobre o diferencial do conceito de

juventude. No Brasil, sobretudo desde os anos 80 – com o estabelecimento do Estatuto

da Criança e do Adolescente – fala-se mais em adolescentes do que em jovens. Dessa

forma, as políticas públicas correntes, trabalham com um limite etário que chega apenas

aos 18 anos, e têm dado maior ênfase à proteção e a tutela e menor espaço para a

liberdade e a emancipação da juventude. Notadamente, os jovens devem ser pensados

como atores com os quais é possível estabelecer uma relação dialógica, pois a

complexidade do tema violência requer ampliação dos espaços de discussões e

pesquisas. A violência juvenil tem uma relação estreita com a exclusão social, tanto em

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agressores como em vítimas (Kliksberg, 2007; Rodríguez, 2005). A relação entre

violência e contexto se alimenta e retroalimenta de tal forma, que os ambientes de

violência, (seja social, territorial ou familiar) propiciam resoluções violentas nos jovens.

Neste contexto, a juventude popular urbana é vítima e algoz. Os custos econômicos e

sociais da violência tendem a se ampliar mais do que o custo efetivo dos programas de

prevenção ou de reinserção de jovens agressores ou vítimas da violência. Quanto mais

cedo se investir num indivíduo, mais possibilidades haverá de prevenir as condutas

violentas durante a idade adulta (OMS, 2003; Banco Mundial, 2003 e 2005;

Schweinhart, 2005; Levitt, 1998). O investimento preventivo e integral na juventude em

situação de risco social tem efeitos complementares na redução da pobreza, no

fortalecimento do capital social e na prevenção de externalidades negativas,

contribuindo para reforçar os direitos de justiça social e os direitos humanos em geral

(Schneidman,1996).

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