a questÃo agrÁria e o movimento dos trabalhadores rurais...

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A QUESTÃO AGRÁRIA E O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM-TERRA: UM ESTUDO ACERCA DO ASSENTAMENTO VITÓRIA EM LINDOESTE, PARANÁ Marilene Alves da Costa Tolomeotti 1 Ineiva Terezinha Kreutz Louzada 2 INTRODUÇÃO Entender o embate, enfrentamento e processo de organização histórica dos trabalhadores rurais contra a concentração de terras e o avanço extensivo e intensivo do capitalismo no campo significa problematizar o contexto sócio-histórico, político e econômico da realidade social como determinante no processo de exclusão e expropriação dos trabalhadores rurais, que tem na terra sua referência para a construção de um modo de vida, de sustento, de construção das suas relações sociais, culturais, políticas e econômicas que lhe são próprias. Considerando a amplitude das determinações que envolvem a temática da questão agrária e o processo de organização dos trabalhadores rurais sem-terra, foram definidos que, além dos estudos bibliográficos (revisão da literatura) sobre a questão agrária, reforma agrária, conflitos no campo, movimentos sociais e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), esta pesquisa teria ainda como base empírica, um assentamento de reforma agrária oriundo da organização do MST para melhor apreender o processo de constituição de um assentamento; aspectos acerca da história dos trabalhadores rurais; o referencial teórico-político do MST e as condições de vida, trabalho e renda após a constituição do assentamento. Por isso, a importância do Assentamento Vitória, localizado no município de Lindoeste, Estado do Paraná, como campo empírico desta pesquisa. Foram definidos como objetivos problematizar a questão agrária brasileira, considerando o avanço do capitalismo no campo e suas conseqüências para os 1 Assistente Social da APAE de Capitão Leonidas Marques. Graduada em Serviço Social na UNIOESTE/Toledo, em 2010. Endereço: Rua Clodoaldo Ursulano, 715, Bairo Santa Felicidade, Cascavel. CEP 85803-450. Telefone: (45) 9129-1183. E-mail: [email protected] 2 Professora Orientadora. Docente do Curso de Serviço Social da UNIOESTE, Campus de Toledo Paraná. Membro do Grupo de Pesquisa “Fundamentos do Serviço Social: Trabalho e Questão Social”.. Telefone (45)8402-3592. E-mail: [email protected]

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A QUESTÃO AGRÁRIA E O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES

RURAIS SEM-TERRA: UM ESTUDO ACERCA DO ASSENTAMENTO

VITÓRIA EM LINDOESTE, PARANÁ

Marilene Alves da Costa Tolomeotti

1

Ineiva Terezinha Kreutz Louzada2

INTRODUÇÃO

Entender o embate, enfrentamento e processo de organização histórica dos

trabalhadores rurais contra a concentração de terras e o avanço extensivo e intensivo do

capitalismo no campo significa problematizar o contexto sócio-histórico, político e

econômico da realidade social como determinante no processo de exclusão e

expropriação dos trabalhadores rurais, que tem na terra sua referência para a construção

de um modo de vida, de sustento, de construção das suas relações sociais, culturais,

políticas e econômicas que lhe são próprias.

Considerando a amplitude das determinações que envolvem a temática da

questão agrária e o processo de organização dos trabalhadores rurais sem-terra, foram

definidos que, além dos estudos bibliográficos (revisão da literatura) sobre a questão

agrária, reforma agrária, conflitos no campo, movimentos sociais e Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), esta pesquisa teria ainda como base empírica,

um assentamento de reforma agrária oriundo da organização do MST para melhor

apreender o processo de constituição de um assentamento; aspectos acerca da história

dos trabalhadores rurais; o referencial teórico-político do MST e as condições de vida,

trabalho e renda após a constituição do assentamento. Por isso, a importância do

Assentamento Vitória, localizado no município de Lindoeste, Estado do Paraná, como

campo empírico desta pesquisa.

Foram definidos como objetivos problematizar a questão agrária brasileira,

considerando o avanço do capitalismo no campo e suas conseqüências para os

1 Assistente Social da APAE de Capitão Leonidas Marques. Graduada em Serviço Social na

UNIOESTE/Toledo, em 2010. Endereço: Rua Clodoaldo Ursulano, 715, Bairo Santa Felicidade,

Cascavel. CEP 85803-450. Telefone: (45) 9129-1183. E-mail: [email protected] 2 Professora Orientadora. Docente do Curso de Serviço Social da UNIOESTE, Campus de Toledo –

Paraná. Membro do Grupo de Pesquisa “Fundamentos do Serviço Social: Trabalho e Questão Social”..

Telefone (45)8402-3592. E-mail: [email protected]

trabalhadores rurais; discutir as determinações que motivaram o surgimento do

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e analisar as condições de vida

e trabalho das famílias de trabalhadores rurais do Assentamento Vitória, localizado no

município de Lindoeste, Estado do Paraná.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

A trajetória da pesquisa requer diferentes momentos que se complementam.

Neste sentido, a revisão da literatura, a pesquisa empírica, a tabulação e análise dos

dados não podem ser entendidas como momentos fragmentados ou dissociados, uma

vez que, apreender a complexidade da realidade social exige a processualidade no ato de

pesquisar. Destaca-se, também, a centralidade dos sujeitos na pesquisa social,

entendendo que esta deve ter a preocupação com projetos emancipatórios dos sujeitos

pesquisados. Para Borguignon (2008), o grande desafio para o pesquisador que se

preocupa com a centralidade do sujeito enquanto condição ontológica e não como

estratégia metodológica de pesquisa, é possibilitar, através da pesquisa, maior

visibilidade ao sujeito, à sua experiência e ao seu conhecimento, buscando no coletivo e

na troca de saberes alternativas de superação das condições de privação e exclusão

social.

A presente pesquisa caracteriza-se pela abordagem qualitativa do objeto3. O

universo da pesquisa se compõe pelas 147 famílias residentes no Assentamento Vitória

e foram definidos os seguintes critérios de seleção da amostra: 1º) a composição da

amostra é de 10% do universo, isto é, 15 famílias; 2º) famílias que residem no

assentamento desde o início da ocupação; 3º) famílias moradoras nas margens da

estrada para facilitar o acesso da pesquisadora, em virtude da distância entre uma casa e;

4º) um representante da família para responder a pesquisa empírica, independente de sua

composição numérica. Optou-se pela entrevista semi-estruturada como instrumento de

coleta de dados empíricos, que foi gravada e posteriormente transcrita. Considerando a

3 De acordo com Minayo, a pesquisa qualitativa “[...] responde a questões muito particulares, [...] trabalha

com o universo de significados, motivações, aspirações, crenças, atitudes, o que corresponde a um

espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à

operacionalização de variáveis”. (MINAYO 1994, p.21-22).

ética na pesquisa, todos os entrevistados, após a leitura e concordância, assinaram o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias, ficando uma com o

entrevistado e outra via com a pesquisadora. Para não revelar a identidade, os

formulários de entrevista dos participantes desta pesquisa receberam o código de

identificação como E1, E2, E3 até E15 e as respostas foram transcritas em itálico para

melhor identificar a fala dos respondentes. Quanto o procedimento relativo a análise dos

dados qualitativos optou-se, neste artigo, pela apresentação e análise das principais

categorias presentes nas respostas dos entrevistados.

CONSIDERAÇÕES ACERCA DA QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL

A concentração de terras é uma das maiores cicatrizes do nosso país, onde

poucos latifúndios possuem a maior parte das terras do Brasil. As conseqüências desta

concentração se expressam através da pobreza no campo, desrespeitos aos direitos

sociais, êxodo rural, exploração da força de trabalho4 e trabalho informal5.

De acordo com Moreira e Sene (2010), o problema fundiário do país remonta a

1530, com a criação das capitanias hereditárias e do sistema de sesmarias. Aí nascia o

latifúndio. De 1500 a 1822, todas as terras brasileiras pertenciam à Coroa portuguesa.

Sua ocupação começou com doações ou cessões do direito de uso, feitas em nome de

pessoas de conveniência do rei. Entre 1822 e 1850 vigorou no Brasil o sistema de posse

livre de terras devolutas e o trabalho escravo. Em 1850, como conseqüência do aumento

da área cultivada com café e da vigência da Lei Eusébio de Queirós que proibia o tráfico

de escravos, a mão-de-obra a ser constituída por imigrantes europeus. Também no

mesmo ano o governo criou a Lei de Terras, com o claro intuito de garantir o

4 [...] “O capitalista não procede a nenhum roubo ou furto ao contratar o trabalhador para uma jornada de

oito horas- paga-lhe, mediante o salário, o valor da força de trabalho (isto é, o valor da soma dos valores

necessários à produção/reprodução do trabalhador). Entretanto durante a jornada, a força de trabalho

produz mais valor que o valor requerido para tal reprodução; é desse valor excedente (mais-valia) que o

capitalista se apropria sem nenhum custo ou despesa. [...] No caso do trabalhador assalariado, o

excedente lhe é extraído sem o recurso da violência extra-econômica; o contrato de trabalho implica que o

trabalho do trabalhador pertença ao capitalista”(NETTO e BRAZ, 2006 p. 106-107). 5 “[...], a subproletarização do trabalho, presente nas formas de trabalhos precário, parcial, temporário,

subcontratado “terceirizado”, vinculado a “economia informal”, entre outras modalidades existentes [...],

essas categorias de trabalhadores tem em comum a precariedade do emprego e da remuneração; a

desregulamentação das condições de trabalho em relação às normas legais vigentes ou acordadas ou a

conseqüente regressão dos direitos sociais, bem como a ausência de proteção e expressão sindicais,

configurando um a tendência à individualização externa da relação salarial” (ANTUNES, 1997 p.44).

fornecimento de mão-de-obra barata aos latifúndios e impedir o acesso dos imigrantes à

propriedade.

A Carta Magna de 1946, especialmente o Artigo 156 instituiu, pela primeira vez

no Brasil, a lei que poderia promover a fixação do homem no campo, o acesso e a

permanência a terra. A mesma Constituição, em seu artigo 141, § 16 também se refere

ao direito à propriedade. (BRASIL, Constituição Federal de 1946). Entretanto, a elite da

nascente da burguesia industrial aliada à oligarquia rural impõe um novo modelo

econômico, chamado de „Industrialização Dependente6‟, que subordina a agricultura à

indústria e reservou aos trabalhadores rurais determinadas funções, como fornecer mão-

de-obra barata à indústria, cumprir com papel de pressionar para baixo os salários e

produzir alimentos a preços baixos para a cidade.

A década de 1960 apresenta, no contexto brasileiro, uma agricultura

modernizada, capitalista e um setor camponês completamente subordinado aos

interesses do capital industrial. Para Martins (1984, p. 21-22), o golpe militar de 1964

teve, entre outras finalidades, a de impedir o crescimento das lutas sociais no campo e o

fortalecimento político dos trabalhadores rurais que ingressavam no cenário político

com bandeiras de luta que articulavam democracia, reforma agrária, direitos sociais. O

Estatuto da Terra - Lei n°4.504 de 30 de novembro de 1964 - é conhecida como a

primeira lei brasileira que trata da reforma agrária mas que, tornado lei pelo regime

militar, era lei morta. Os militares não permitiram sequer que do Estatuto saísse um

Plano Nacional de Reforma Agrária.

A partir dos anos de 1970, com a chamada Revolução Verde7, ocorreu a política

estatal de preços mínimos, créditos a juros baixos ou negativos para investimentos,

eliminação de impostos para aquisições de máquinas, subsídios para compra de

insumos, pesquisa por institutos públicos sobre variedades de sementes e assistência

6 De acordo com Stedile, “É um conceito derivado do fato de a industrialização ser realizada sem

rompimento com a dependência econômica aos países centrais desenvolvidos e sem rompimento com a

oligarquia rural, origem das novas elites dominantes”. (STEDILE, 2005, p.30). 7A Revolução Verde (expressão criada em 1966 por William Gown em uma Conferência em

Washington), é a mecanização no campo aliada à fertilização do solo, uso de sementes modificadas nos

laboratórios, utilização de agrotóxicos, fertilizantes, implementos agrícolas e máquinas e tinha o discurso

de aumentar a produção agrícola e acabar com a fome mundial. Esse programa foi financiado pelo grupo

Rockefeller, sediado em Nova Iorque, que expandiu seu mercado consumidor, fortalecendo a corporação

com vendas de verdadeiros pacotes de insumos agrícolas, principalmente para países em

desenvolvimento. A „Revolução Verde” beneficiou, principalmente, as empresas transnacionais

responsáveis pela venda de insumos agrícolas”. (CERQUEIRA, 2010, s.p).

técnica para a grande propriedade. No entender de Gorender (apud MOREIRA 2009, p.

44), esses incentivos levaram a valorização das terras que passaram a ser usadas para a

produção e, especialmente, para a especulação fundiária. Azevedo e Ulzafar (2004, p.9)

argumentam que enquanto a especulação fundiária limitou a fronteira agrícola, a

modernização agroindustrial desenvolveu uma agricultura de alta tecnologia dependente

de consideráveis investimentos o que resultou na fragilização da pequena produção

agrícola familiar, empurrando uma grande massa humana em direção as cidades.

No período da transição democrática, os movimentos sociais foram de suma

importância na articulação/proposição de demandas constitucionais e, dentre estas, a

reforma agrária. No final da década de 1985 foi elaborado o Plano Nacional de Reforma

Agrária (PNRA) e, durante sua tramitação, o PNRA foi totalmente alterado da versão

inicial que beneficiava posseiros, parceiros, arrendatários, assalariados rurais e

minifundiários. A alteração teve participação direta, sob forma de pressão junto ao

Congresso Nacional, dos representantes da União Democrática Ruralista (UDR), a

quem não interessava a aplicação da reforma agrária e criou-se um clima de oposição à

reforma agrária e o Plano foi abandonado no ano seguinte.

Ainda no contexto das décadas de 1980 e 1990, o ajuste neoliberal8 impõe uma

série de perdas de direitos sociais que resultam, dentre outros, na “a informalidade do

trabalho, o desemprego, o subemprego, a desproteção trabalhista” (SOARES, 2002, p.

12). Nesta conjuntura neoliberal as conseqüências afetam, também, os trabalhadores

rurais, acirrando ainda mais a expropriação9 e a concentração de terras. Pode-se afirmar

que “o caráter da modernização está dado pelo sentido comum do agravamento das

desigualdades e de produção de excludência”. (SOARES, 2002, p.18). Esta afirmação

pode ser comprovada com os números que mostram que a situação no campo não

8 No contexto neoliberal, a contradição acumulação/legitimação [marca do sistema capitalista] se coloca e

se resolve em termos diferentes daqueles do estado de Bem-Estar Keynesiano. A partir da „naturalização‟

das desigualdades, o modelo devolve o conflito para o seio de uma sociedade fragmentada, onde os

„atores‟ se individualizam, ao mesmo tempo em que os sujeitos coletivos perdem a identidade. Muda,

portanto, a orientação da política social: nem consumos coletivos, nem direitos sociais, mas assistência

focalizada para aqueles com „menor capacidade de pressão‟ ou os mais „humildes‟ ou, ainda os mais

„pobres dentre os pobres‟. (SOARES, 2002, p. 73). 9 Para Fontes (2010), “a expropriação capitalista não é uma relação entre „coisas‟ [como a terra], nem

entre pessoas e coisas [ainda que os envolva], mas uma relação social, distribuição social em classe,

através da qual os trabalhadores são permanentemente incapacitados de assegurar sua plena existência”

(FONTES, 2010, s.p.)

alterou sua configuração sócio-histórica de conflitos, mesmo vinte anos depois de

promulgada a Constituição Federal de 1988, conforme dados de 2008 e 2009

apresentados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT):

TABELA 1- CONFLITOS NO CAMPO 2008-2009

INDICADORES BRASILEIROS 2008 2009

Conflitos no campo por terra 751 854

Assassinatos no campo 28 25

Tentativas de assassinato 44 62

Ameaças de morte 90 143

Números de presos 168 204

Pessoas torturadas 6 71

Número de famílias expulsas 1.841 1.884

Número de famílias despejadas 9.077 12.388

Casas e roças destruídas 163% 233%

Famílias ameaçadas p/ pistoleiros 6.963 9.031

Ocupações de terra 252 290

Número de acampamentos 40 36

Número de pessoas envolvidas 2.755 4.176

Média de famílias por acampamento 68 116

FONTE: CPT Nacional, 2010

Quanto à concentração de terras no Brasil, o Censo Agropecuário divulgado em

30 de setembro de 2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,

2009) mostra que a concentração de terras persiste, assim como as desigualdades

regionais comprovadas pelo Índice de Gini10

da estrutura agrária brasileira.

O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM-TERRA (MST)

A trajetória do MST só pode ser entendida e explicada no processo de

modernização e avanço do capitalista no campo, especialmente a partir da década de

1980 quando a força de trabalho humano é substituída por um novo instrumental - a

tecnologia, a mecanização - e, deste modo, não deixa muitas ou nenhuma opção de

trabalho para muitas famílias de trabalhadores rurais. Esta dinâmica agrária,

subordinada ao capitalismo internacional, contribuiu e impôs uma subordinação dos

trabalhadores rurais ao capitalismo agrário que substitui o trabalho vivo pelo trabalho

10

Quanto mais perto esse índice está de um (01), maior a concentração de terras e os dados mostram um

agravamento da concentração de terras nos últimos 10 anos. O Censo do IBGE (2006) mostrou um Gini

de 0,872 para a estrutura agrária brasileira, superior aos índices apurados nos anos de 1985 (0,857) e 1995

(0,856).

morto11

e que contribuiu, também, para a concentração de terras no Brasil. Para lutar

por seus meios de produção, de existência e reforma agrária, recusando-se a

proletarização e migração forçada para a cidade e outros Estados constitui-se, no início

dos anos 1980, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que teve

como matriz o Acampamento da Encruzilhada Natalino, em Ronda Alta/RS, o

Movimento dos Agricultores Sem-Terra do Oeste do Paraná (MASTRO) e Movimento

dos Agricultores Sem-Terra do Sudoeste do Paraná (MASTERS)12

. Ocorreu também

nessa época, no ano de 1986, a ocupação da Fazenda Vitória no município de

Lindoeste/PR, que resultou no assentamento com o mesmo nome da então Fazenda e

que é o campo empírico desta pesquisa.

O MST é, sem dúvida, uma importante organização dos trabalhadores rurais e a

amplitude de sua luta é conhecida pelas diversas manifestações cotidiana dos sem-terra:

ocupações de terra; enfrentamento aos latifundiários e às diversas formas de violência

contra os sem-terra; acampamentos, protestos, ocupações de prédios públicos às

intermináveis negociações com o governo; luta pela garantia dos direitos sociais,

etc.(FERNANDES, 2001, p.37). Desta articulação e organização aconteceram, a partir

de 1981 quando a CPT promoveu debates com as diversas lideranças que lutavam pela

terra no país, dois eventos fundamentais na formação do MST: o Encontro Regional do

Sul que ocorreu no ano de 1982, na cidade de Medianeira/PR e o Seminário de Goiânia,

que ocorreu em 1982, na cidade de Goiânia/GO, que construíram as bases para o

Encontro Nacional dos Trabalhadores Sem-Terra, realizado em janeiro de 1984, na

cidade de Cascavel/PR com a participação de trabalhadores rurais, posseiros, meeiros,

pequenos agricultores, migrantes, atingidos por barragens, sindicalistas, igrejas e

diversas entidades de classe de 14 Estados do país. (MORISSAWA, 2001).

Fruto deste Encontro Nacional ocorreu, em janeiro de 1985, na cidade de

Curitiba/PR, o I Congresso Nacional do MST, com 1.500 participantes de todo país.

11

Para Antunes, “o trabalho vivo são as ações e atitudes desenvolvidas pelo homem, inicialmente de

forma braçal, porém com a evolução dos meios de produção , o trabalho vivo passou a ser de natureza

intelectual orgânica, que supervisiona coordena,porém foi substituído pelo trabalho morto, máquinas”.

(ANTUNES, 1997, p. 47). 12

O movimento obteve apoio da Igreja Católica e Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, da

Comissão Pastoral da Terra (CPT), Federação Sindical, Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e de parte

da sociedade civil que apoiou a luta dos trabalhadores do Acampamento da Encruzilhada Natalino/RS, do

MASTRO/PR e MASTERS/PR.

Definiu-se que os Congressos Nacionais aconteceriam de cinco em cinco anos e que

estes se propõe a pensar as elaborações coletivas, as lutas e projetos do MST13

. A

maneira como o MST criou estratégias ao longo de sua existência como formas de luta

podem ser identificadas através de lemas oficiais do movimento.

TABELA 2 – LEMAS OFICIAIS DO MST PERÍODO LEMA

1979 a 1984 “Terra para quem nela trabalha”

1984 “Terra não se ganha, se conquista”

1985 a 1988 “Sem Reforma Agrária não há democracia”

1986 “Ocupação é a única solução”

1989 a 1994 “Ocupar, Resistir, Produzir”

1995 a 2000 “Reforma agrária: uma luta de todos”

2000 a 2005 “Por um Brasil sem latifúndio”

2007 a 2009 “Reforma Agrária: por Justiça Social e Soberania Popular”

2010 “Lutar não é crime”

FONTE: AUED e GRADE, 2001, p. 19 e MST, 2010.

A bandeira, que se tornou símbolo do MST, foi aprovada no 4º Encontro

Nacional, em 1987 e está presente em todos os acampamentos e assentamentos, em

todas as mobilizações e lutas, eventos de estudos, nas comemorações e festas, que

identifica a participação do MST.

FIGURA 1 – BANDEIRA DO MST

Cor vermelha: representa o sangue que corre em nossas veias e a disposição de

lutar pela Reforma Agrária e pela transformação da sociedade; Cor branca:

representa a paz pela qual lutamos e que somente será conquistada quando houver

justiça social para todos; Cor verde: representa a esperança de vitória a cada

latifúndio que conquistamos; Cor preta: representa o nosso luto e a nossa

homenagem a todos os trabalhadores e trabalhadoras que tombaram, lutando pela

nova sociedade; Mapa do Brasil: representa que o MST está organizado

nacionalmente e que a luta pela Reforma Agrária deve chegar a todo o país;

Trabalhador e trabalhadora: representa a necessidade da luta ser feita por

mulheres e homens, pelas famílias inteiras; Facão: representa as nossas

ferramentas de trabalho, de luta e de resistência

FONTE: MST, 2010.

A reforma agrária, para o MST, deve garantir acesso a terra para “todos os que

nela trabalham como os trabalhadores rurais, povos indígenas, ribeirinhos, seringueiros,

geraiszeiros e quilombolas”. (MST, 2010, s.p). É estabelecer um limite máximo ao

tamanho da propriedade de terra, como forma de garantir sua utilização social e

13

O II Congresso Nacional ocorreu em 1990; o III Congresso Nacional em 1995; o IV Congresso

Nacional foi realizado em 2000; em 2005 ocorreu o V Congresso Nacional e o VI Congresso Nacional do

MST ocorreu em 2010.

racional. A reforma agrária não se apresenta, exclusivamente, como uma proposta de

(re)assentamento dos trabalhadores sem-terra, ou seja, a reforma agrária não pode ser

confundida com um título de terra: existe um luta política que defende um projeto de

sociedade que garanta os direitos sociais para toda a população. (MST, 2010). Neste

sentido, os assentamentos de reforma agrária não são apenas lugares de produção e

trabalho. Significa espaços, para além do geográfico, onde as famílias de trabalhadores

rurais produzem suas condições objetivas e subjetivas de existência, como é o caso

também das famílias de trabalhadores rurais do Assentamento Vitória.

ASSENTAMENTO VITÓRIA: RESULTADOS DA PESQUISA

A Fazenda Vitória, com área de 2.248 hectares, foi desapropriada pelo Decreto

Federal n° 92.256 de 30 de Dezembro de 198514

. Entre ocupações, despejos,

reintegração de posse e desapropriação, só em abril de 1987 efetivou-se,

definitivamente, o Assentamento Vitória (antiga Fazenda Vitória), localizado no

município de Lindoeste, Estado do Paraná. Às famílias couberam lotes entre 8 hectares

a 18 hectares, sendo o assentamento composto por 147 propriedades rurais. O

Assentamento possui 06 igrejas (03 são da Igreja Católica, 01 da Igreja Congregação

Cristã, 01 da Igreja Deus é Amor e 01 da Igreja Assembléia de Deus); salão

comunitário, campo de futebol, quadra esportiva da escola, cancha de bocha, rios e

cachoeiras. Em relação à educação, no assentamento existem duas escolas: a) Escola

Rural Municipal Otavio Tozo, onde são ministradas as aulas do Ensino Fundamental de

1ª a 4ª série (50 alunos matriculados) e a Educação de Jovens e Adultos (08 alunos

matriculados; b) Escola Estadual Santa Luzia com Ensino Fundamental de 5ª a 8ª (68

alunos matriculados), Ensino Médio (46 alunos) e 20 alunos matriculados no EJA (5° a

8° série).

Quanto à caracterização dos 15 sujeitos da pesquisa que responderam a

entrevista, 08 foram mulheres e 07 homens. Do total, 13 entrevistados moram desde o

início no assentamento, um reside há 23 anos e outro há 15 anos A faixa etária dos

14

Decreto nº 92256, de 30 de dezembro de 1985. Declara de interesse social, para fins de desapropriação,

o imóvel rural denominado 'Fazenda Vitoria', situado no município de Cascavel, no Estado do Paraná, e

compreendido como área prioritária para fins de reforma agrária, fixada pelo decreto 69.411, de 22 de

outubro de 1971, alterado pelos decretos 78.422, assinado pelo então presidente da república do Brasil, o

presidente José Sarney. (BRASIL, Diário Oficial da União, 1985).

participantes da pesquisa está entre 46 a 60 anos de idade e todos são filhos de

agricultores. Dos entrevistados, 13 são casados ou relação estável; 01 é divorciado e 01

é solteiro e todos possuem filhos (a média é de três por família). Sobre o grau de

escolaridade, 06 entrevistados possuem Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série incompleta,

04 possuem Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série incompleta, 02 tem Ensino Médio

completo, 01 entrevistado tem o Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série completa, 01 é

analfabeto e 01 possui Ensino Superior.

Quanto ao Estado de nascimento, 08 assentados nasceram no Estado do Paraná,

06 em Santa Catarina e 01 trabalhador rural nasceu no Estado do Rio Grande do Sul.

Todos são filhos de pequenos agricultores e destas famílias, 09 eram arrendatários, 04

trabalhavam em terras de propriedade familiar e 01 era empregado rural. No que se

refere aos motivos da decisão em participar do MST, em todas as respostas foi possível

observar que o direito a terra, o desemprego, a exclusão social, a pobreza, a

possibilidade de melhorar as condições de vida foram fundantes na decisão. Este dado

possibilita afirmar que os participantes da pesquisa são cidadãos que tiveram seus

direitos negados ou destituídos e entenderam ser, pela via da organização15

, o embate,

enfrentamento e luta pelos direitos sociais.

Em relação ao significado do MST – segundo bloco de perguntas - obteve-se,

nas respostas dados como: o MST é “forte e organizado”, que “balança a estrutura dos

latifundiários”, tem a “união de muitos” para negociar, “consegue”, através da

organização e participação, alcançar os objetivos de luta pela “reforma agrária” e

“posse da terra”. Sobre a participação em acampamentos e ocupações de terras no

período que antecedeu o assentamento, dez entrevistados disseram que participaram de

ocupações de terra e cinco não, porém, todos participaram em acampamentos do MST,

geralmente localizados na beira das rodovias ou na entrada de fazendas16

. O tempo de

permanência nos acampamentos foi variável: dois entrevistados permaneceram até três

15

De acordo com Gohn (2010), o MST é um ator político porque atribui qualidades aos seus atores

sociais que fazem parte de suas bases, inserindo-os num plano que vai além do acesso a terra, que é a luta

pela democracia, pela igualdade, contra a exclusão, por isso, “ele perturba a lógica e a ordem das relações

demarcadas na sociedade. [O MST] é um agente de tensão contínua, tem uma face inovadora e outra

perturbadora da ordem dominante”. (GOHN, 2010, p. 145). 16

Quanto aos lugares onde ficaram acampados, as respostas indicaram as seguintes localidades em que

tinham acampamentos do MST: Salto do Lontra, Catanduvas, Vitória, Cajati, Pio X, Curitiba, Ibema,

Barros, Marmeleiro, Cascavel e Beira de Estrada.

anos, nove permaneceram de um a dois anos e três ficaram menos de um ano. As

condições de vida nestes ambientes de acampamento, para dez dos entrevistados, era

péssima, sem estrutura, nenhum saneamento básico e falta condições de higiene Três

responderam que era regular e um disse que era ruim.

Sobre o aprendizado durante a ocupação e acampamento, os entrevistados

afirmaram que aprenderam “muitas coisas e de várias formas”, “através da experiência

de vida coletiva”, através das “relações”, dos “conflitos”, das ”imposições” e da

“necessidade de ceder em certos momentos” para conseguir um objetivo maior.

Entende-se que a aprendizagem – seja ela política, social, cultural - ocorre em todos os

espaços e circunstâncias, aonde a prática dos valores vai sendo construída, tomando

forma e revelando uma identificação quanto a luta17

. Na questão que se refere à

formação política no MST, dez dos entrevistados responderam que participaram da

formação política e cinco não participaram. Dos quinze entrevistados, oito exercem

algum cargo de liderança: três são “coordenadores” de grupos, um está na “direção

política de brigada”, três estão na “organização do movimento” e um está na “comissão

de compras da associação”.

Quanto ao terceiro bloco de perguntas, que trata da vida e do trabalho no

Assentamento Vitória, os seguintes dados da pesquisa empírica foram: o tamanho das

propriedades rurais no assentamento varia entre 08 a 18 hectares, assim distribuído por

causa do relevo irregular da terra, sendo que os que ficaram com lotes em locais mais

irregulares ficaram com uma área maior. Sobre a intenção ou não de vender ou

abandonar sua terra, doze disseram que não tem intenção de deixar ou vender seu lote e

dois responderam que já pensaram nessa possibilidade. A produção nas propriedades

baseia-se na agricultura familiar, onde produzem para o consumo próprio e o excedente

da produção é vendido para gerar renda familiar. A maior fonte de renda é o gado de

17

O que a Escola Florestan Fernandes17

defende em seu Caderno de Formação - n°6 (2009) é que a

convivência vai além do espaço geográfico e cultural, é espaço de relações, tensões e aprendizagem no

sentido de formação política, moral e ética. A convivência, própria a aprendizagem, requer respeito,

trabalho, cooperação, organização política, imaginação e disponibilidade. Esses valores desenvolvem-se a

cada passo, não se inventam os caminhos, mas se utiliza recursos e esforços para se tornar um ser melhor

dentro de uma práxis militante. Neste sentido, a convivência social no processo de ocupação ou

acampamento fortalece o trabalhador rural para lutar, conquistar espaços, entender a história, as

desigualdades sociais, a concentração das riquezas, a manipulação política, a exclusão social no Brasil.

leite, mas também existe a criação de gado de corte e de suínos, plantio de mandioca,

milho, soja, hortaliças, frutas. A renda familiar média é de 2 salários mínimos18

.

O trabalho desenvolvido nas propriedades é familiar19

, contando com a

participação do pai, mãe, filhos e genros, o que caracteriza a agricultura familiar20

, e os

dados confirmam a unidade familiar e seu valor social no assentamento. O trabalho

coletivo é a política almejada pelo MST por entender que é uma forma para aumentar a

produção, a produtividade e a oportunidade de ascensão, tanto econômica quanto social

dos assentados e uma estratégia de enfrentamento do agronegócio. No que se refere ao

trabalho coletivo no assentamento, a pesquisa demonstrou que existe uma divisão em

relação ao entendimento sobre o trabalho individual e o coletivo, considerando que a

maioria (13 entrevistados) prefere o trabalho individual, circunscrito no âmbito da

família e somente dois entrevistados preferem o trabalho coletivo. As justificas pelo

trabalho individual foram: “diferenças de idéias”, de “mentalidade”, pois “é complexo

se chegar a um acordo” para por em prática uma “ação”. Disseram que no coletivo há

“muita discussão”, “rolo”, “preocupação”, já que toda a iniciativa precisa do consenso

de todos e que para a maioria acaba por “atrasar o trabalho”.

Em relação ao trabalho coletivo, ficou evidente na fala dos pesquisados que

“existe uma falta de compreensão e conhecimento para realizar esse modo de produção

coletivo” que poderia ser viável na opinião de alguns, se todos comungassem dos

mesmos objetivos. Para três assentados “não há mais união no grupo” como no início e

nem “vontade para o trabalho coletivo”. O mesmo acontece em relação à venda ou

comercialização da produção excedente, onde todos os entrevistados responderam que

18

O salário mínimo brasileiro, no mês de Outubro de 2010- época da realização da pesquisa empírica -

foi de R$ 510,00. 19

O trabalho realizado no assentamento é parte constitutiva do sujeito social e, como afirmam Netto e

Braz (2006) , o trabalho vai além da fonte de riqueza material ou meio de conquista de instrumentos de

produção, pois é através dele que o homem se humanizou, se organizou em sociedade, transformando a

natureza e a si mesmo. 20

Existem desafios já que a agricultura familiar também está subordinada ao agronegócio, às grandes

empresas rurais que mantém o monopólio de determinadas produções agrícolas, como é o caso do leite,

suínos, soja e milho, por isso, a agricultura familiar só se viabiliza a partir de uma “economia solidária,

combinada ao uso de novas tecnologias e diversificação dos meios tradicionais de produção. As formas

coletivas de produção e comercialização se apresentam como uma alternativa concreta, através da prática

da cooperação, associativismo e parceria”. (BRASIL, 2008, p. 73).

preferem fazer a comercialização baseada no modelo individual/familiar e diretamente

com o comprador dos produtos.

Quando questionados sobre a mudança (ou não) na qualidade de vida da família

após o assentamento, todos afirmaram que a vida mudou muito e “para melhor”.

Afirmam ainda que a transformação foi “radical” e que quem “não tinha nada e passou

a ter uma propriedade de terra, casa para morar, animais para criar e muito espaço

para plantar”. Também argumentaram que “o trabalho é sossegado, é a garantia do

sustento da família tirado da terra conquistada”, e isso é uma “satisfação pessoal e do

grupo”.

Também se buscou saber se o Assentamento Vitória ainda tem vínculos com o

MST e apóia o movimento e todos responderam que “sim, ainda tem vínculo com o

MST, tanto em prol do assentamento, ou na articulação estadual e em nível nacional,

ou ainda, para apoiar e se posicionar em favor de outros acampados”. Sempre que

“tem reunião eles participam e quando há necessidade de viagens para que sejam feitas

negociações, existe contribuição financeira”. Também recebem do MST apoio técnico

agrícola e “se sentem comprometidos com o MST”, pois lhes são “gratos pela conquista

da propriedade e há uma consciência histórica de pertencimento ao Movimento”.

Sobre o maior desafio enfrentado por morar no assentamento, o mais

evidenciado foi o “preconceito e a discriminação da sociedade em relação a eles”.

Também abordaram a “falta de estrutura e saneamento básico inicial e a falta de

documento que oficializa a posse da terra”, o que gera insegurança nas famílias. A

maior conquista das famílias, desde o período que entraram no MST até a efetivação do

Assentamento Vitória, foi o “direito a propriedade rural, ou seja, a terra tão sonhada

para cultivar e produzir o sustento da família”. Também relataram, em segundo lugar, o

acesso a “saúde”, “educação”, “infra-estrutura” e, o próprio “trabalho” com

“formação do sujeito social e político”. Informaram que tem jovens do assentamento

que tiveram oportunidade de fazer curso graduação em medicina ou na área da educação

o que é para os trabalhadores rurais pesquisados, a certeza, a confiança e a conquista do

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra ou de sua própria luta pelos direitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Discutir a questão agrária significa, necessariamente, discutir a concentração de

terras, reforma agrária, movimentos sociais rurais, em especial o MST e assentamentos

rurais. São discussões que tem, de um lado, a oligarquia agrária que defende o

agronegócio, a „modernização‟ no campo, o cultivo extensivo de lavouras para

exportação, o uso de tecnologia, equipamentos, produção e produtividade exigidas pelas

relações capitalistas de produção e, conseqüentemente, a defesa do latifúndio, da

concentração de terras. Tudo isto com um custo social muito alto, que gera migrações

do campo para a cidade, desemprego, exploração e expropriação dos trabalhadores

rurais, ou seja, a miséria humana. Por outro lado, encontra-se a capacidade organizativa

e política destes trabalhadores rurais em enfrentar, propor e lutar por um projeto

societário mais justo, equitativo, com a distribuição das riquezas socialmente produzidas

e, neste contexto, a luta pelos direitos humanos: o direito a vida, ao trabalho, saúde,

terra, moradia, renda, assistência social, educação, e reforma agrária, por exemplo. Daí

a importância do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra que, com

dificuldades de toda ordem provaram a urgência, necessidade, importância e

possibilidade de conquistas, dentre esta, o acesso e permanência na terra, a constituição

dos assentamentos e a viabilidade sim da reforma agrária no Brasil.

O debate em torno da Reforma Agrária surgiu nos meios políticos - por

caminhos forjados pelos trabalhadores e movimentos sociais - como tensionador dos

conflitos de camponeses que exigiam seu espaço de terra e de trabalho. O Assentamento

Vitória resulta da organização e luta do MST em torno da reforma agrária e é possível

afirmar a urgência e viabilidade da Reforma Agrária no Brasil. Mudam-se as formas e

contextos de luta, contudo, o objetivo maior está relacionado à permanência e acesso a

terra, contra a proletarização, expropriação e exploração dos trabalhadores rurais.

Portanto, os movimentos sociais rurais são diferentes quanto às atividades sócio-

políticas, organizativas, composição social, liderança e duração, mas tem em comum e

como referência a luta pela terra e a garantia dos direitos sociais.

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