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Planeamento de uma Avaliação Situacional Na Área da Promoção e Proteção da Saúde - Atividade 3 - ANA MARGARIDA, N.º1885 MÓDULO 14| FISIOTERAPIA NA PROMOÇÃO E PROTEÇÃO DA SAÚDE UNIDADE CURRICULAR| ESTUDOS DE CASO II RESPONSÁVEL DO MÓDULO| PROF. MARGARIDA SEQUEIRA 2011/2012

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Planeamento de uma Avaliação Situacional

Na Área da Promoção e Proteção da Saúde

- Atividade 3 -

ANA MARGARIDA, N.º1885

MÓDULO 14| FISIOTERAPIA NA PROMOÇÃO E PROTEÇÃO DA SAÚDE

UNIDADE CURRICULAR| ESTUDOS DE CASO II

RESPONSÁVEL DO MÓDULO| PROF. MARGARIDA SEQUEIRA

2011/2012

Avaliação Situacional na Área da Promoção e Proteção da Saúde

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Avaliação Situacional na Área da Promoção e Proteção da Saúde

O século XXI é caraterizado pelas alterações comportamentais ao nível da atividade física

e da alimentação, traduzindo-se em grandes modificações na sociedade e nas suas

consequências na saúde, assim a obesidade é uma das epidemias dos países

desenvolvidos que pode afetar todas as idades, estratos económicos e sociais, raças e

continentes e pode derivar de influências sociais, culturais ou comportamentais

(Heyward, 2010; Antures & Moreira, 2011; Dehghan, Akhtar-Danesh, Merchant, 2005).

Por ser uma área de grande impacto e consequências transversais a diferentes sectores, a

escolha da área a abordar no âmbito da promoção e proteção da saúde foi a obesidade. A

obesidade é uma doença crónica multifatorial onde a reserva natural de massa gorda

aumenta e é representativa de determinados riscos quando associada com a altura, a

idade e o sexo, apresentando múltiplas consequências e onde o seu impacto é tão

elevado que a OMS a considerou a epidemia do século XXI (DGS, 2005; ACSM 2006). A

obesidade é determinada através da avaliação de parâmetros antropométricos como o

Índice de Massa Corporal (IMC), o perímetro de cintura, que irão ser descritos

posteriormente. Para o IMC, o indivíduo apresenta excesso de peso quando apresenta

valores entre 25-29.9 kg/m2 e obesidade quando apresenta valores ≥30 kg/m2 (DGS,

2005). Esta epidemia resulta de um desequilíbrio entre energia ingerida e o gasto

energético do organismo, que quando a energia ingerida é maior ocorre uma acumulação

e deposição de lípidos, aumentando assim a percentagem de massa gorda do organismo

(Scottish Intercollegiate Guidelines Network, 2010; DGS, 2005; Heyward, 2010). Além da

origem ambiental, a obesidade também pode ter origem genética, existindo uma pré-

disposição à obesidade em patologias como o Síndrome de Down e o Síndroma Bardel-

Biedle (American Academy of Pediatrics, 2006; DGS, 2005).

Esta condição está a ter uma evolução tão crescente que se acredita que em 2025, 50%

da população mundial será obesa e é a segunda condição prevenível com maior causa de

morte (DGS, 2005). Além disso, a obesidade está realmente a ter um impacto substancial

nas crianças e é agora a doença pediátrica mais comum a nível mundial. A prevalência de

crianças e adolescentes (entre os 6 e os 19 anos) em risco de excesso de peso no Canadá

e nos Estados Unidos da América (EUA) ronda entre 29 e 35% (DGS, 2005). Portugal é o 5º

país da região europeia com maior prevalência de obesidade infantil e o continente e a

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região autónoma da madeira, segundo Antures & Moreira (2011) são as regiões que

apresentam números acima dos 30% de crianças com excesso de peso e obesidade (Rito,

Paixão, Carvalho, Ramos, 2010), o que não difere dos números dos EUA e do Canadá.

Segundo o estudo de Rito, Paixão, Carvalho, Ramos (2010), em Portugal, a obesidade

infantil tem tido uma evolução crescente nas últimas duas décadas e 60% das crianças

obesas serão adultos obesos, evidenciando assim a importância de se intervir nesta área.

Em todo o Mundo existem cerca de 22 milhões de crianças com menos de 5 anos e 155

milhões em idade escolar que têm excesso de peso significativo (BMA, 2005 citado por

Ávila, 2008) Segundo Coelho, Sousa, Laranjo, Monteiro, Bragança & Carreiro (2008) em

Portugal 31,5% das crianças com idades entre 6-9 anos apresentam excesso de peso e

obesidade. Também na Região Autónoma dos Açores, o número de crianças com excesso

de peso ou obesas é preocupante, sendo que a prevalência de excesso de peso e

obesidade, em crianças dos 6 aos 10 anos é 21,6% e 15% respetivamente, mostrando

valores equiparáveis aos do continente (Maia & Lopes, 2007 citado por Ávila, 2008) Num

estudo onde foi avaliado a incidência do excesso de peso e da obesidade em alunos desde

o ensino pré-escolar ao terceiro ciclo de escolaridade, sendo que o primeiro ciclo de

escolaridade (idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos) era o que apresentava

maiores valores de excesso de peso (20%) e obesidade (13.6%) (Coelho, Sousa, Laranjo,

Monteiro, Bragança & Carreiro, 2008). “Estes dados parecem sugerir que esta situação

apresenta uma tendência para agravamento, com atingimento de crianças cada vez mais

jovens e, consequentemente, com maior risco de complicações” e por isso a população

escolhida são crianças açorianas com excesso de peso e obesas, matriculadas no

primeiro ciclo no ano letivo 2012/2013 com idades compreendidas entre os 6 e os 10

anos, no concelho de Angra do Heroísmo na Ilha Terceira, pois neste momento são as

idades que são compreendidas até ao 4º ano.

A evolução da obesidade deve-se essencialmente a alterações nos hábitos alimentares e

na prática de atividade física pois a alimentação saudável está a ser substituída por

alimentos pré-confecionados, de consumo rápido, com elevado teor calórico, ricos em

ácidos gordos saturados como as fastfood (Coelho, Sousa, Laranjo, Monteiro, Bragança &

Carreiro, 2008; Heyward, 2010). Em relação à prática de atividade física, devido ao avanço

da tecnologia, os jovens estão a tornar-se cada vez mais sedentários devido à variedade

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de entretenimento que podem ter acesso sem sair do sofá (computadores, consolas,

televisões, etc.), conduzindo-os assim à inatividade e à prática de estilos de vida

sedentários (Coelho, Sousa, Laranjo, Monteiro, Bragança & Carreiro, 2008). Esta alteração

foi verificada num estudo português realizado pelos mesmos autores que demonstrou

que 33.5% dos adolescentes considerava ter atividade física insuficiente e 8.5%

apresentavam critérios de sedentarismo. No âmbito do entretenimento, a tecnologia está

a contribuir para a manutenção dos comportamentos sedentários, pois os computadores

e as consolas já são portáteis e podem ser levados para todo o lado, e as brincadeiras de

recreio que incluíam alguma atividade física estão a ser substituídas pelas consolas e

telemóveis. Para além disso, a falta de instalações, parques, ginásios e segurança faz com

os pais consideram as opções disponíveis e por isso a prática de atividade física das

crianças é afetada (n.d., n.d.). Os indivíduos com níveis corporais de massa gorda

elevados ou extremos estão mais expostos a fatores de risco associados, a esperanças

médias de vida menores e a uma qualidade de vida menor (Coelho, Sousa, Laranjo,

Monteiro, Bragança & Carreiro, 2008). As consequências da obesidade são tão acrescidas

que podem envolver quase todos os sistemas do corpo, como o sistema músculo-

esquelético, cardíaco e reprodutor. Indivíduos obesos têm um risco acrescido de vir a

desenvolver doenças cardiovasculares, dislipidémia, hipertensão arterial, intolerância à

lactose, resistência à insulina, doença pulmonar obstrutiva, osteoartrite e alguns tipos de

cancro (Heyward, 2010; Coelho, Sousa, Laranjo, Monteiro, Bragança & Carreiro, 2008). A

síndrome metabólica é o conjunto de fatores de risco endógenos que aumentam o risco

de desenvolver aterosclerose, doenças cardiovasculares e diabetes miellitus tipo dois

(Ehrman, Gordon, Visich & Keteyian, 2009). Fatores de risco como o perímetro

abdominal, a pressão arterial, os níveis de glucose, os níveis de colesterol e de

triglicerídeos, quando elevados aumentam o risco de desenvolver síndrome metabólica

(Ehrman, Gordon, Visich & Keteyian, 2009). Um fator a considerar é que os fatores de

risco associados à síndrome metabólica são as consequências da obesidade e por isso é

necessário um cuidado acrescido com esses valores na gestão da obesidade (Ehrman,

Gordon, Visich & Keteyian, 2009).

Além das consequências mencionadas, ainda são descritas na literatura consequências

como a discriminação, o isolamento social e a baixa autoestima aumentando assim a

Avaliação Situacional na Área da Promoção e Proteção da Saúde

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tendência para o insucesso escolar (Rito, Paixão, Carvalho, Ramos, 2010; Canadian

Physiotherapy Association, 2007; Stice, Shaw & Marti, 2006; DGS, 2007). O grau de

obesidade parece ter uma relação direta com o insucesso escolar pois crianças obesas

parecem apresentar dificuldades na aprendizagem (Rito, Paixão, Carvalho, Ramos 2010;

Canadian Physiotherapy Association, 2007; Stice, Shaw & Marti, 2006; DGS, 2007). Além

disso, as dificuldades na aprendizagem, na interação social, na integração escolar podem

ainda condicionar o desenvolvimento psico-motor das crianças e adolescentes (DGS,

2007).

As consequências da obesidade são tão vastas que consomem 2.8% do gasto anual na

área da saúde (DGS, 2005; Rito, Paixão, Carvalho, Ramos 2010). Considerando as

limitações apresentadas pelos indivíduos como dispneia, fadiga em esforço, fraqueza

muscular, dores articulares, incontinência urinária, e dificuldade na locomoção, os

fisioterapeutas são profissionais indicados para selecionar estratégias mais adequadas

para a população em questão e coordenar e supervisionar programas de combate à

obesidade (ACSM, 2006). Devido ao seu conhecimento de biomecânica, de anatomo-

fisiologia e de prescrição de exercício, os fisioterapeutas têm uma vasta gama de

competências que podem oferecer para combater esta epidemia (Canadian Association

Physiotherapy, 2007; Robalo & Silva, 2005). Além disso são capazes de avaliar, prescrever

e supervisionar o programa para que as suas consequências sejam diminutas e a

qualidade de vida seja promovida. Não obstante e considerando as competências já

descritas, o fisioterapeuta pode colaborar numa equipa multidisciplinar para enriquecer

um programa de gestão da obesidade uma vez que esta é prevenível (Canadian

Association Physiotherapy, 2007; Robalo & Silva, 2005).

Segundo Cosi Portugal 2008, aos 6 anos ocorre um grande período de grande crescimento

da gordura corporal e por isso torna-se relevante desenvolver estratégias nesta

população que permitam a prevenção e redução da obesidade (Spear, 2007). Por isso é

fundamental a existência de programas de promoção de prevenção da saúde no âmbito

da obesidade pois previnem hábitos e estilos de vida sedentários, diminuem fatores de

risco e o risco de outras condições associadas. É importante perceber ainda que as

“intervenções preventivas têm demonstrado que 1 euro gasto na promoção da saúde,

hoje, representa um ganho de 14 euros em serviços de saúde, amanhã” (DGS, 2006). O

Avaliação Situacional na Área da Promoção e Proteção da Saúde

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desenvolvimento de um programa nesta área permite criar condições para a apreensão

de comportamentos salutogénicos quer a nível da alimentação, quer a nível da prática da

atividade física e esses comportamentos podem ser transportados ao longo da vida

(Heyward, 2010). Estas condições são mais fáceis de criar nas escolas pois é o local onde

encontramos o conjunto total das crianças e onde a prevenção da obesidade deve ter um

papel principal (Coelho, Sousa, Laranjo, Monteiro, Bragança & Carreiro, 2008). As escolas

são ainda locais onde é possível ter à disposição fatores como, infraestruturas, e

professores de educação física e onde é permitido o contato com muitas crianças de

idade escolar durante muitas horas durante o dia, durante a maior parte do ano (Spear,

2007).

A evidência mostra que na população juvenil escolar alterações na alimentação são

efetivas por si só, em reduzir as taxas de excesso de peso e obesidade (Heyward, 2010).

No entanto, são as intervenções que incluem alterações comportamentais que atuam na

nutrição e na atividade física as que parecem ter mais sucesso quando se trata de

promover um estilo de vida salutogénico a longo prazo (Heyward, 2010). Para isso,

segundo Spear (2007), é mais acessível reduzir a ingestão de calorias controlando a

alimentação do que aumentar a atividade física e que a redução de comportamentos

sedentários como o número de horas passadas a ver televisão promove a prevenção da

obesidade. Muitas dessas estratégias passam por controlar a ingestão de calorias ou

manter uma alimentação saudável e variada, esta estratégia é muitas vezes conseguida

na evidência através da cantina da escola e dos pais em casa (Spear, 2007). Além disso, os

pais são modelos a seguir pelas crianças e podem incorporar atividade física agradável

nas atividades familiares e podem monitorizar e intervir nos comportamentos sedentários

dos seus filhos (Spear, 2007). Algumas das preocupações dos pais podem ser ao nível da

alimentação, pois pensa-se que uma alimentação saudável é sinónimo de maior gasto

económico e nem sempre é verdade (n.d., n.d.). Muitos artigos podem estar em

promoção e uma ida ao mercado com vendedores biológicos e locais é uma boa opção. A

prática de atividade física não é tempo perdido, mas sim ganho de qualidade de vida.

Uma simples atividade de família como um piquenique pode incluir uma alimentação

saudável e a atividade física que as crianças necessitam e é uma boa forma de envolver a

família em todo o processo. Em relação às crianças as atividade já mencionadas são

Avaliação Situacional na Área da Promoção e Proteção da Saúde

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atividades que automaticamente estas procuram quando estão livres das “máquinas de

entretenimento” e são adequadas às competências recomendadas para a sua idade e

para o desenvolvimento de skills motores, sociais e psicológicos (n.d., n.d.). Promover a

prática de atividade física nas crianças é fundamental pois previne-se a obesidade e a

resistência à insulina, além disso, crianças inativas, têm uma maior probabilidade de

serem adultos sedentários e assim uma maior exposição a fatores de risco como a

dislipidémia, a diabetes, a hipertensão arterial e doenças cardiovasculares (Spear, 2007).

A prática da atividade física tem como intuito reduzir o grau de sedentarismo, mas esta só

acontece se existir alteração comportamental e estes diminuírem (Bushman (ed), 2011) e,

em crianças e adolescentes tem um papel preponderante para a aquisição de

comportamentos salutogénicos para a idade adulta, impedindo assim, o ganho de peso e

os riscos associados à obesidade (Bushman (ed), 2011). Segundo o mesmo autor, para

crianças entre os 6 e os 10 anos, comportamentos sedentários como jogar consola e ver

televisão não devem ultrapassar os 60 minutos diários. Para as crianças e adolescentes, a

prática de atividade física visando a perca de peso deve consistir em 60 minutos de

atividade moderada a intensa diária (Heyward, 2010). A prática da atividade física por si

só não é na sua maioria responsável pela perda de peso, no entanto, sem ela, não é

possível manter essa alteração a longo prazo (Heyward, 2010) e por isso esta deve incluir

atividades que permitam às crianças desenvolver força, flexibilidade e capacidade

cardiorespiratória, ao mesmo tempo que desenvolvem capacidades motoras, sociais e

psicológicas. Essas atividades podem ser estruturadas como os jogos coletivos, de mimica,

jogos que envolvam criatividade, ritmo e padrões de movimento ou não estruturados

como as atividades que decorrem no recreio como escalada, jogos com bolas, apanhada,

saltar à macaca, caça ao tesouro, etc. A Academia Americana de Pediatria citado por

Spear (2011) recomenda 30 minutos de atividade moderada a intensa durante as horas

passadas na escola pois acredita-se que as crianças obesas necessitem de começar com

períodos de tempo mais curtos e então, aumentar o nível de atividade física consoante os

ganhos do programa. No entanto se o objetivo for perda de peso a Direção Geral de

Saúde (DGS) recomenda pelo menos 60 minutos de atividade moderada a intensa diária.

As práticas utilizadas na escola, são um modelo para as crianças e por isso a escola facilita

a adoção de comportamentos saudáveis pois podem incluir a componente educacional e

física. Para os adolescentes, a prática da atividade física diminui a probabilidade de virem

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a fumar e promove a integração social e desenvolvimento de capacidades sociais e nas

crianças melhora o desempenho académico (DGS, 2007).

Considerando a informação acima analisada, a finalidade desta análise seria conhecer a

prevalência e a incidência do excesso de peso e obesidade na população definida e

compará-la com estudos de coorte com população do continente da mesma idade de

forma a averiguar a tendência da obesidade em Angra do Heroísmo. Os objetivos passam

por conhecer os dados antropométricos da população definida, conhecer os hábitos

alimentários na escola e em casa, qual a prática atividade física e comportamentos

sedentários em casa.

Seria convocada uma reunião de esclarecimento com os diretores das escolas básicas do

conselho de Angra do Heroísmo para discutir qual o objetivo do estudo e quais as

estratégias a implementar para que pudessem tomar uma decisão com base na

informação que lhes foi fornecida. O objetivo seria também averiguar o seu interesse em

incluir as crianças da sua escola no estudo e por fim averigua o número de crianças

inscritas. Após acordo com os diretores das escolas, iria ser convocada uma reunião de

esclarecimento aos pais com os mesmos objetivos que a anterior, com o intuito também

de preencher um consentimento informado com autorização a participar no estudo e

para análise dos dados recolhidos. O questionário descrito adiante irá ser preenchido

numa reunião com os alunos divididos por escolas e por anos com a presença de um

encarregado de educação para auxiliar a criança no preenchimento. Estas reuniões iriam

ser realizadas nas respetivas escola após autorização da diretora.

Considerando toda a evidência analisada e a população escolhida, as questões formuladas

vão de encontro ao que foi encontrado na literatura.

Caracterizar a população face aos dados sociodemográficos. Através de um

questionário a ser preenchido pelas crianças com a ajuda dos pais que incluía

questões como local de residência, idade, sexo, peso, altura e perímetro de

cintura (que seria medido pelo fisioterapeuta no local, no final do preenchimento

do questionário).

Avaliação Situacional na Área da Promoção e Proteção da Saúde

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O local de residência pode determinar a obesidade pois quanto mais urbana a zona de

residência, maior a prevalência de obesidade e por isso deve ser verificado se este fato

está presente na população (DGS, 2005).Esta informação é fundamental para conseguir

classificar a criança quando ao IMC e ao perímetro abdominal pois é a partir desta

informação que a população é selecionada mas também que se conhece o grau de risco

da mesma (Bushman (ed), 2011). A obesidade é definida através da percentagem de

massa gorda relativamente ao peso corporal. Esta é definida através do Índice de Massa

Corporal (IMC) que relacionada a altura com o peso e a respetiva idade (peso em kg a

dividir pela idade em centímetros ao quadrado) (Bushman (ed), 2011). O IMC é

recomendado para avaliar e classificar excesso de peso e obesidade, no entanto não

descrimina as percentagens da composição corporal, no entanto tem uma relação direta

com os fatores de risco associados com a obesidade (Ehrman, Gordon, Visich, Keteyian,

2009; Bushman (ed), 2011). No que reporta às crianças o IMC é definido em relação à

idade e é chamado de percentil pois analisa o processo de crescimento e de maturação

de cada indivíduo considerando a variabilidade inter e intra-indivídual (Portal da Saúde,

2005). Assim em valores de percentil, considerando tabelas de referência, a sua

interpretação deve considerar valores iguais ou superiores 85 e inferiores a 95 indicando

pré-obesidade (IMC ≥85 e <95 percentil) e valores iguais ou superiores a 95 indicando

obesidade (IMC ≥95 percentil) (Portal da Saúde, 2005). Os valores do perímetro de cintura

também têm uma relação direta com fatores e risco pois a quantidade de massa gorda

que se acumula na cintura determina o grau de risco para desenvolver doenças

cardiovasculares (Bushman (ed), 2011; DGS 2005). Uma vez que a obesidade visceral está

associada a complicações metabólicas, como a diabetes tipo 2 e a dislipidémia e doenças

cardiovasculares, como a hipertensão arterial, a doença coronária e a doença vascular

cerebral é fundamental avaliar o risco destas crianças (DGS 2005). A medição do

perímetro da cintura é feita utilizando uma fita métrica, no ponto médio entre o rebordo

inferior da costela e a crista ilíaca, avaliando, assim a obesidade abdominal (DGS, 2005).

Nos adultos, um perímetro de cintura ≥ 88 cm na mulher, e ≥ 102 cm no homem,

representa um risco muito aumentado para desenvolver as comorbilidades abaixo

descritas (DGS, 2005). Este valor é fundamental pois, juntamente com o IMC permite

avaliar as comorbilidades que podem ser diabetes tipo 2, dislipidémia, hipertensão

arterial, disfunção endotelial, síndrome do ovário poliquístico, doença coronária, doença

Avaliação Situacional na Área da Promoção e Proteção da Saúde

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vascular cerebral e morte, sendo que a associação a estas doenças está dependente da

gordura intra-abdominal e não da gordura total do corpo (DGS, 2005: Heyward, 2010).

Para as crianças, não foram encontrados valores validados para a população portuguesa.

(Retirado de Fernández, Redden, Petrobelli, Allison (2004), sem autorização.)

Caraterizar a população quanto aos hábitos alimentares. Incluir no questionário

questões acerca de em média, quantas vezes por semana comem verduras,

cereais, peixe, fruta, lacticínios, carne, guloseimas, bolos, etc., em casa e na

escola.

Esta questão permite avaliar as escolhas realizadas pelos pais, pela escola e também pela

criança. É fundamental averiguar se as proporções correspondem às esperadas para

crianças da mesma idade. Esta é também uma forma de analisar que proporções são

necessárias alterar em relação à ingestão calórica e gasto energético, para a obesidade

possa ser gerida. Uma dieta hiperenergética, com excesso de lípidos e de hidratos de

carbono assim como sedentarismo, levam à acumulação de excesso de massa gorda (DGS,

2005). Evidência sugere que é necessário avaliar os hábitos alimentares, os hábitos de

atividade física e comportamentos sedentários pois podem estar a contribuir para o

aumento do peso (Spear, 2007).

Avaliação Situacional na Área da Promoção e Proteção da Saúde

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Caraterizar a população em relação à prática de atividade física. Saber se a

praticam, e se sim qual a modalidade e durante tempo por semana. Outra questão

importante a constatar no questionário é porque não praticam pois é fundamental

conhecer as barreiras que as crianças e os pais se deparam para que possam ser

ultrapassadas.

Segundo Stice, Shaw & Marti (2006), apenas 10% das crianças que são obesas procuram

tratamento, o que torna fundamental a avaliação dos risco e o conhecimento dos fatores

de risco a que a criança pode estar sujeita, sem ela não é possível delinear uma

intervenção. Mais concretamente é fundamental constatar que à medida que a idade das

crianças avança, a prática de atividade física diminui e que ainda, no geral, mais de

metade da população portuguesa não pratica atividade física regular contribuindo assim

para o excesso de peso e obesidade (DGS, 2005).

Caraterizar a população face ao número de horas passadas a ver televisão e a

jogar consola/computador por dia.

Identificar e caraterizar os comportamentos sedentários da população são parâmetros

fundamentais de avaliar para determinar a prevalência da obesidade, sendo que mais

horas passadas a ver televisão, a jogar jogos eletrónicos ou de computador, maior é a

prevalência de excesso de peso e obesidade (DGS, 2005).

Caraterizar a população face à presença de fatores de risco. Através do

questionário, as crianças e os pais irão identificar a presença de possíveis fatores

de risco doenças cardiovasculares, dislipidémia, hipertensão arterial, intolerância

à lactose, resistência à insulina, doença pulmonar obstrutiva, osteoartrite e

doenças genéticas (com predisposição para a obesidade) como que aumentam a

probabilidade da criança ter excesso de peso e obesidade.

Como já foi mencionado os indivíduos que estão mais expostos a fatores de risco

associados podem vir a desenvolver síndrome metabólica e estar sujeitos a esperanças

médias de vida menores e a uma qualidade de vida menor (Coelho, Sousa, Laranjo,

Monteiro, Bragança & Carreiro, 2008).

Avaliação Situacional na Área da Promoção e Proteção da Saúde

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Caraterizar a população face à presença de sintomas como dispneia, fadiga em

esforço, fraqueza muscular, dores articulares, incontinência urinária, e dificuldade

na locomoção. Esta questão estaria presente no questionário e é especialmente

direcionada para a as crianças, estas devem identificar se já experienciaram

alguma desta sintomatologia.

A identificação destes sintomas permite ao investigador adequar as estratégias e

objetivos do programa à população, mas também conhecer qual a sintomatologia

mais comum (ACSM, 2006).

Caraterizar a população face à possível relação entre obesidade e insucesso

escolar. Esta questão estará presente no questionário, mas é direcionada aos pais,

e será analisada através da média das notas do ano letivo anterior.

O grau de obesidade parece ter uma relação direta com o insucesso escolar pois crianças

obesas parecem apresentar dificuldades na aprendizagem (Rito, Paixão, Carvalho, Ramos,

2010; Canadian Physiotherapy Association, 2007; Stice, Shaw & Marti, 2006; DGS, 2007).

É fundamental avaliar esta relação pois esta condição de saúde pode estar a afetar a

aprendizagem das crianças.

Caracterizar a população com excesso de peso e obesa em relação à presença de

consequências sociais da obesidade como o isolamento, a discriminação e a baixa

autoestima. Esta questão estará presente no questionário e será preenchida com

a ajuda dos pais.

A interação social, a integração escolar podem ainda condicionar o desenvolvimento

psico-motor das crianças e adolescentes (DGS, 2007). Por isso, consequências como o

isolamento social e a baixa autoestima relacionadas com a obesidade podem ser

preveníveis.

Caraterizar a população face à possível relação entre grau de escolaridade dos pais

e obesidade das crianças. Esta questão estará constatada no questionário e é

direcionada aos pais onde se procura saber qual o grau de escolaridade dos pais

das crianças com excesso de peso e obesidade.

Avaliação Situacional na Área da Promoção e Proteção da Saúde

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Pretende-se averiguar se o grau de instrução dos pais, isto é se menor grau de instrução

dos pais é sinónimo de maior prevalência de excesso de peso e obesidade pois segundo

DGS (2005) esta relação já foi verificada. Caso se verifique é fundamental intervir na

educação dos pais destas crianças, pois a ausência de conhecimento nesta área está a pôr

em risco a saúde das crianças, com consequências astronómicas a longo prazo.

Caraterizar a população face à possível relação entre obesidade dos pais e

obesidade das crianças através do questionário onde ambos os pais irão incluir a

altura e peso de forma a calcular o IMC.

O papel dos fatores genéticos na génese da obesidade é fundamental. Por isso, é

essencial considerar que os genes envolvidos no aumento de peso podem aumentar a

suscetibilidade das crianças face ao risco para desenvolver obesidade (DGS, 2005). A

obesidade tem, assim, tendência familiar, vendo-se, com frequência, crianças obesas

filhas de pais obesos, principalmente quando a este fator é acrescido fatores de risco

ambientais.

Com a resposta a estas questões acredita-se que será possível identificar a incidência e

prevalência das crianças açorianas com excesso de peso e obesas, matriculadas no

primeiro ciclo no ano letivo 2012/2013 com idades compreendidas entre os 6 e os 10

anos, no concelho de Angra do Heroísmo na Ilha Terceira, bem como identificar quais os

fatores de risco e sintomas presentes, avaliar relações como obesidade e hábitos

alimentares, obesidade e atividade física, obesidade e insucesso escolar, obesidade

infantil e obesidade dos pais, obesidade e comportamentos sedentários, obesidade e

locais de residência urbanos e finalmente barreiras à prática da atividade física.

Avaliação Situacional na Área da Promoção e Proteção da Saúde

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Bibliografia

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