jornal porto académico (fap) #04 (29março2001)

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Quinta-feira, 29 de Março de 20011Este suplemento é parte integrante da Edição n· 301 de"O Comércio do Porto" Náo pode ser vendido separadamente No passado, ainda recente, os protestos dos estudantes do Ensino Superior pauta- vam-se por uma resposta de "retaguarda" a problemas de vanguarda educativ a. Hoje, as palavras de ordem dos estudantes ser- vem para reclamar, mais do que por condi- ções, pelo direito a uma educação para a cidadania. É por isso que nas praças, onde os vimos descer e nas estátuas onde os vimos escalar, os "slogans" soaram a panfletos verbais, cujo eco entoa a "persistência da memória" para uma geração que não está perdida, apesar de ser vítima de um esque- cimento educativooSim, essa a quem os nos- sos govemantes pedirão comas num furu- ro que já não dista muito. Talvez por isso. esta edição do Porto Aca- dérnico, no culminar da(s) contesração( ões) versada(s) no país, seja dedicada às razões pelas quais os estudantes do "Superior", descartados do baralho da política educati- va de António Guterres, se mobilizaram para mostrar o seu trunfo: O ás de copas, neste ritual de contrapor à tão badalada paixão, o símbolo de um amor não correspondido, As palavras de Hugo Neto, presidente da FAP,traduzem o espírito de combate à inér- cia e reorganizam as prioridades num lacó- nico: "Não Paramos!", pois, então, quanto à educação. ficamos por aqui. que o melhor é seguir em frente para as páginas 2 e 3.

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escalar, os"slogans" soaram apanfletos verbais,cujoecoentoaa"persistência da versada(s)nopaís,sejadedicadaàsrazões pelasquaisos estudantes do"Superior", nico: "Não Paramos!", pois, então, quanto àeducação. ficamos poraqui.queomelhor é seguiremfrenteparaaspáginas2e3. sos govemantes pedirão comas numfuru- osvimos descerenasestátuasondeosvimos vam-se poruma resposta de"retaguarda" a memória" paraumageração que nãoestá descartados dobaralhodapolítica educati-

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Page 1: Jornal Porto Académico (FAP) #04 (29março2001)

Quinta-feira, 29 de Março de 20011Este suplemento é parte integrante da Edição n· 301 de"O Comércio do Porto" Náo pode ser vendido separadamente

No passado, ainda recente, os protestosdos estudantes do Ensino Superior pauta-vam-se por uma resposta de "retaguarda" a

problemas de vanguarda educativ a. Hoje,as palavras de ordem dos estudantes ser-vem para reclamar, mais do que por condi-ções, pelo direito a uma educação para acidadania. É por isso que nas praças, ondeos vimos descer e nas estátuas onde os vimos

escalar, os "slogans" soaram a panfletosverbais, cujo eco entoa a "persistência damemória" para uma geração que não está

perdida, apesar de ser vítima de um esque-cimento educativooSim, essa a quem os nos-sos govemantes pedirão comas num furu-

ro que já não dista muito.Talvez por isso. esta edição do Porto Aca-

dérnico, no culminar da(s) contesração( ões)

versada(s) no país, seja dedicada às razõespelas quais os estudantes do "Superior",descartados do baralho da política educati-

va de António Guterres, se mobilizaram para

mostrar o seu trunfo: O ás de copas, nesteritual de contrapor à tão badalada paixão,o símbolo de um amor não correspondido,As palavras de Hugo Neto, presidente daFAP,traduzem o espírito de combate à inér-cia e reorganizam as prioridades num lacó-nico: "Não Paramos!", pois, então, quanto

à educação. ficamos por aqui. que o melhor

é seguir em frente para as páginas 2 e 3.

Page 2: Jornal Porto Académico (FAP) #04 (29março2001)

- ,

'%~~~@jf}~ Quinta-feira I 29 de Março de 2001

o decurso dasacções de contes-tação que têm vin-do a ocorrer emdiversos pontos dopaís e que mobili-

zaram, nos últimos tempos, os estu-dantes de todas as instituições detodos os graus de Ensino, vai seguir-se um novo capítulo daquilo que pode-ria denominar-se por "200 I Odisseiano Ensino Superior".

De facto, há muito que estavamplaneadas diversas iniciativas que

prometiam abalar as estiuturas edu-cativas. E os resultados não vão tàr-dar a aparecer face à capacidade demobilização que tem-vindo a serdemonstrada.de Norte a.Sul do país,pelas diferentes Academias. -

Os protestos agendados para Lis-boa e Porto, cujo lema foi "Educaçãoesquecida, geração perdida", tiverampor base a defesa de reivindicaçõestidas como as mais prementes. Naverdade, os estudantes do EnsinoSuperior não querem ser wna cartafora do baralho da política de Edu-

cação do Governo de Antônio Guter-res, mas antes uma prioridade. Con-tudo, a geografia das academias temrevelado as diferenças para além dacartilha reivindicativa comum.

No Porto, o denominador comwndas acções não oculta algumas dasespecificidades ao nível das carên-das com que as faculdades se deba-tem e que constituíram O vector essen-cial da adesão incondicional às jornadasde contestação.

Questões candentes como a empre-gabilidade, a acção social, o (in)suces-

so, a insegurança junto dos estabele-cimentos de Ensino Superior, a ausên-cia e degradação de instalações, carên-cias de meios tecnológicos de apoioe de aprendizagem, deram O motepara as jornadas de contestação quesob O signo da "Educação esquecida,geração perdida" têm vindo a decor-rer um 'pouto por todo O país e queculminaram naquele que pode ser ape-lidado, à laia do famoso quadro deDali, como o dia da "persistência damemória", por conseguinte, um "28de Março" a afirmar-se como um dianacional comemorativo da educação,ou numa toada bem mais realista, aodia comemorativo dainexistência daeducação, sem que para isso seja reco-nhecido pelas mais diversas instân-cias.

Problema que se acentua para os alu-nos que frequentam a Faculdade deCiências do Porto, que numa enu-meração exaustiva das carênciasdaquele estabelecimento de ensino ecom intuito de mobilizar os estu-dantes pam as jomadas de lut( o)a lan-çava a taxativa questão: "Não hácan-tina. A culpa é tua?".

A propósito da ausência de umacantina nu Pólo do Campo Alegre,será de lembrar que o número deestu-dantes privados de urna refeição con-digna e a preço módico ascende a 12mil. Como muito bem lembrava umórgão da imprensa escrita, há umasemana atrás, a cantina mais próxi-ma, dista aproximadamente três qui-lómetros, fica junto à reitoria. Por

.isso, o universo dos alunos dos cur-sos de Letras, Arquitectura, Direito,Ciências da Educação, Psicologia eCiências, tarda em ver concretizadosos anseios que evitem a imensa ginás-tica financeira e os transtornos dasdesíocaçõcs feitas à cantina da rei-toria, em pleno inverno.

Razões de igual calibre prendem-secom o estado das .insralações e equi-pamentos, que poderiam passar pela"melhoria das instalações físicas deaulas teóricas e laboratórios", comosustenta Gil Faria, dirigente associa-tivo da Faculdade de Medicina, e quepode constituir um diagnóstico parasoluções de compromisso no pre-sente, uma vez que apesar da sub-sistência do problema, aquele res-ponsável' deixou uma ressalva de

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DEFICIÊNCIASESTRUTURAISAFECTAM MlLHARES

À redacção do "Porto Acadérni-cc" tem vindo a chegar. provenien-tes das Associações de Estudantesfiliadas na FAP, algumas das razõespelas quais os responsáveis estudan-tis do ensino superior se sentem defrau-dados pelo apanágio da política gover-nativa da tão badalada "paixão".

Para os estudantes da Faculdadede Economia do Porto, a tónica rei-vindicativa tem forçosamente de con-tinuar a passar pela "melhoria da qua-lidade das refeições servidas 'nacantina", como sublinha Hugo Rua,um dos responsáveis associativos.

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reconhecimento pelo trabalho já rea-lizado. Por isso, adicionou às afir-mações anteriores "apesar do esfor-ço que tem sido feito pela Faculdade".O que de resto é sintomático, e tra-duz a ideia recorrente, de que mui-tas das reivindicações poderiam sersatisfeitas, bastaria que para isso serecorresse menos do que é comum aargumentos de engenharia financei-ra e mais à boa vontade.

Para os futuros "farmacêuticos",O ênfase segue O mesmo "niapasãomusical" que se traduz num "adá-gio", especialmente dirigido, paraevocar a diminuta voíumema das ins-talações. Segundo o testemunho obti-do junto de Luís Miguel Lourenço,presidente da associação de estu-dantes, há um binómio que está lon-ge de satisfazer as pretensões dos alu-nos e que se caracteriza pelo factodas actuais instalações da Faculda-de de Fannácia não serem suficien-tes para albergar o número de alunosque frequentam o curso de CiênciasFarmacêuticas, ao que aquele res-ponsável associativo acrescentou"assim como para o volume de tra-balho (...) realizado dentro dos seuslaboratõrios".

Contudo o rol de queixas con-verge de igual modo para a interde-pendência destes problemas, uma vezque como será lógico depreender: aquestão das instalações arrasta porinerência a da qualidade do ensino.Tal como Gil Faria discorre sobre ocaso particular do ensino e aprendi-1.agem em medicina: "Sem a melho-ria das instalações e sem o estatutode hospital universitário ou afiliaçãode hospitais, não haverá nem espa-ço nem docentes, para ensinar devi-damente todos os alunos", o mesmopressuposto é enunciado, por HugoRua, instado a pronunciar-se sobre onível qualitativo instituição que fre-quenta, resumiu de forma lacónica"as instalações são insuficientes",isto para além de considerar em idên-tico tom que o sistema inforrnáticodaquela faculdade é também "pre-cário e insuficiente para a satisfaçãodas necessidades dos estudantes",salientou.A redundância das opiniõesé legitimada por Luís Miguel Lou-renço que parece corroborar do nexode causalidade acima apontado:"Afalta de instalações também afecta oevoluir científico da Faculdade", eaproveita para reforçar "as novasabordagens e perspectivas educa-cionais não podem ser promovidasdevido à falta de infra-estruturas".

Quinta-feira I~ de Março de 2001

ACÇÃO SOCIALOU ''POLÍTICA DE BOLSO(A)VAZIO(A)'!"

A acção social é outro dos deno-minadores comuns a esta pugna estu-dantil. O baralho desdobrável alusi-voà manifeslllÇãornrional e distribuídocomo material de promoção e divul-gação do protesto faz referência àcontradição dos preceitos constitu-cionais, segundo os quais a acçãosocial escolar deveria estar consa-grada ,.no direito à igualdade de opor-tunidades de acesso, frequência esucesso escolar, pela superação dedesigualdades económicas, sociais eculturais". Na verdade, o panorama,neste capítulo, dista muito das ambi-

ções constitucionais, e é ainda maisdesolador com as reclamações a ver-sarem quer a escassez do número debolsas atribuídas, quer a exigênciade um pagamento atempado das queforam concedidas. O recurso a "mala-barismos econõmicos para fazer faceàs necessidades do dia-dia", tal comoreferem os responsáveis da Associa-ção de Estudantes, parece ser práti-

.ca comum na Faculdade de Letras.Mas seriarisível senão redutor,dizer-se que a esse exercício apenas recor-rem os alunos daquela faculdade,quando se sabe que esta problemáti-ca não escolhe estabelecimentos deEnsino Superior.

Eis que surgiu uma oportunida-de que os próprios dirigentes asso-cíatívos afectos ao Ensino Particu-lar e Cooperativo não enjeitaram.Estas jornadas de protesto servem,de forma pragmática, para a adop-ção de formulas concretas tendo emvista a resolução de lacunas exis-tentes nesta tipologiade Ensino Supe-rior. Uma dessas medidas, a nego-ciar a breve trecho, passa peloestabelecimento "de um contratoentre o estudante e a instituição, quevisa sobretudo ressalvar os direitosdos alunos", facilmenteverificãvel,segundo José Alberto Rodrigues,Representante da Federação Nacio-nal das Associações de Estudantesdo Ensino Superior Particular e C0o-perativo, "na medida em que a taxade natalidade tem vindo a aumen-tar, logo haverá uma diminuição deentradas no Ensino Privado". Porconseguinte, e para fazer face a umeventual aumento drástico do valorda propina, justificou aquele diri-gente que "para as instituições seauto-financiarem teria de existir umcontrato em que o estudante saberáquanto terá de pagar à entrada e àsaída do curso".

"No reino das iscas", perdão, oassunto é mesmo sério, no âmbitodos "ISCA' S" - Institutos Superio-res de Contabilidade e Administra-ção, o azimute reivindicativo tem pormissão alertar para a afirmação e cre-dibilização do curso, nwna tónica detornar tangível, aos alunos destes Ins-titutos que estão sediados no Porto,em Lisboa, Aveiro e Coimbra, urnaascensão ao estatuto de Técnicos Ofi-ciais de Contas. Raul Duro, da Asso-ciação de Estudantes do ISCAP, con-sidera "que muitos outros têm acessoao estatuto", mas a ajuizar pelas suaspalavras é urgente estabelecer nor-mativos de qualificação para quempretenda ser integrado na Câmarados Técnicos Oficiais de Contas. Deresto, "todos teriam de fazer um exa-me", sublinhou.

A extensão do rastilho reside pre-cisamente na afinidade entre as espe-cificidades dos problemas com quecada estudante convive no respecti-vo estabelecimento de ensino supe-rior e as ilações que se retiram e quequase sempre se configuram comogeneraJizações.O que se poderia pen-sar ser um caso isolado é tão somen-te um problema do colectivo. Porisso. nem uma "chuva reaccionária"conseguiu estragar a qualidade dapólvora I

JoÁo FERNANDO AREZES

/" '"

Editorial

Do enterrado"não pagamos"ao entusiástico"não paramos"

Na minha opinião, dia 28de Março ficará na história daAcademia do Porto. Este diaserá uma marca no Associati-vismo, não pelo número deestudantes que estiveram narua na manifestação nacional,não pelo impacto que causa-ram, mas sobretudo pela mudan-ça de discurso e de atitude.

Da gasta mensagem do "nãopagamos" passamos para umamensagem de aposta no futu-

. ro dos jovens e do país exi-gindo que a educação seja colo-cada no topo das prioridadespolíticas e orna aposta efecti-va na recuperação do atrasoestrutural, De uma postura apa-rentemente pouco construtivaque desagradava a opiniãopública, os estudantes tema-ram passar uma outra imagem.de força, de convicção mastambém de responsabilidade.

Vários desafios ficam fei-tos ao Governo: estudos sobreo insucesso escolar, a passa-gem das bolsas de 10 para I Imeses, o aumento da bolsamínima, o aumento do mime-ro de cantinas e residência, uma

alteração de toda a política definanciamento, estudos sobrea empregabilidade dos recém-licenciados, dignificação doEnsino Poli técnico e respon-sabilização do Estado perante

~ os estudantes do Particular eCooperativo, etc.

l Ficou também feita uma.Ilpromessa, a de que os estu-

dantes intensificarão os seusprotestos quer através de mani-

li-festaçôes ou acções simbóli-as, quer mesmo através da

:f~riaçãO de um possível Movi-mente Cívico para um Partidoda Educação.

Pode-se dizer depois de cen-renas de estudantes percorre-rem as ruas do Porto, sob con-dições climatéricas adversas,convictos de que se estavam amanifestar em nome de toda aSociedade Porruguesa contri-buindo para o seu despertar etendo interpretado esta inicia-

tiva como um pequeno passonuma contestação generaliza-'da até uma alteração profundade toda a política educariva. Dojá enterrado "não pagamos"passamos a ouvir e a ter umentusiástico "não paramos"!

HUGoNÉTO

'- ..•.•. .."d!)

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Quinta-feira I 29 de Março de 200l

~ ENTREVISTA A .... CARVALHO GUERRA, REITOR~DA H~IVERSI[)A'PE CATÓLICA DO PÇ)RTO

«o Ensina Suparior 110 pode viver. dl-trllllll em-Portllll»

Carvalho Guerra e~plicaao Porto Académico o porquê dos males do Ensino Superior, diz o que está mal e apresenta soluções. Da entrevista,depreende-se que, no fundo, o que Portugal precisa é de gente mais apaixonada pela educação.

Carvalho Guerra: ·Ob~iamenteque não era o financiamento deEstado quemantinha de pé a Uni-versidade Católica, nunca foi nempoderia ser, na medida emque os financiamentos do EstadoPortuguês são entre 7 a 10% docusto do aluno na UniversidadePública.

Em relação a nós e ao orça,rnento da própria UniversidadeCatólica, ao todo era inferior a10% do orçamento, portanto, esta-mos a falar de um valor que eudiria relativamente reduzido de.700 mil contos em relação aoorçamento normal que ultrapas-

sava já 6,7 milhões decontos em

toda

Previsões para a Cató-lica, para o Ensinoem Portugal, o bome o mau ensino. Tudo

. questões esrniuçadaspor Carvalho Guer-

ra. Do vasto curriculum que 9 rei-tor da Católica apresenta perde-se a conta dos cargos que assumiupodendo-se resumir numa frase:vasta experiência de alguém que.aos 68 anos, nunca deixou de terolhos postos no futuro.

a Universidade Católica.Há uma corrente forte de pro-

fessores dentro da Universidadeque achava que, dada a reduçãodo financiamento, era melhor nãoaceitar nada para se poder criti-

. car se assim o quisessem. Eu nãosou defensor dessa política. Seuma Universidade pública, pri-vada ou semipública, corno é ocaso da Católica, faz, e faz bemo Ensiná Superior; O tratamentodado pelo Estado deve ser igual,põrque os pais dos alunos· paiscatólicos ou sem serem católicos- pois temos muitos estudantesque os pais nem sequer são pra-ticantes e, quiçá, nem sequer serãocatólicos. Querem os' seus filhosna üniversidade Católica. porqueesta funciona, porque esta ensi-na, porque esta está a ensinar

bem.

mos a falar de nada do outro rnun-do. Nos Estados Unidos. as melho-res Universidades são Universi-dades privadas. Por essa Europafora, os Estados pagam Universi-dades privadas, desde que o ensi-no tenha a qualidade igual ao ensi-no público. Há faculdades más eUniversidades más em Portugal,quer públicas quer privadas. Nãovenham dizer que o erro está sónas privadas, mas eu não me assu-mo como Universidade privada,é como Universidade serni-públi-ca, por isso estou em Conselho de

- Reitores, por isso estou ao ladodo Estado e fomos a primeira acriar Universidades que oneramprofundamente o orçamento doEstado-O Estado sabe muito bemquanto lhes custam os conserva-tórios.

Nós criamos uma Escola deMusica única em Portugal. que éuma Escola das Artes que integraa música e património, que inte-gra a Arte e património, que inte-gra a conservação e restauro, ete.Tudo isto num tronco comum quedá três ou quatro licenciaturas, éuma Escola única.

Somos os únicos que temosuma Microbiologia em Portugalcomo Licenciatura. Fomos os pri-meiros a criar uma Faculdade deDireito no Norte, os primeiros acriar uma Faculdade de Gestão noNorte, os primeiros a criar umaFaculdade de Engenharia no Nor-te.

Se estarnos a prestar um ser-viço público, que é reconhecidopelo Presidente da República. Dr,Jorge Sampaio que acha que aUniversidade Católica é um caso

à parte, pelo Pre-sidente

da República que saiu, Dr, MárioSoares, que acha que a Universi-dade Católica é um caso à parte.Ainda ontem Maria de Jesus Bar-roso na Semana de Teologia odizia, frontalmente. Perante estasituação, não creio que o Estadopossa dizer que é privilégio aju-dar uma Un~ Ilrsidade que, sen-do algo deficitária em alguns cur-sos, os mantém como serviçopúblico.

Se estamos a prestar um ser-viço público, é ao Governo quecompete dizer se é privilégio dar7 ou 8% daquilo que lhe custa apública.

Portanto, pelas reacções quetenho visto, eu quero pensar queesta situação será de novo revis-ta. até porque. pelo principio dasubsidariedade, não é apenas umprincipio que se aplique como pri-vilégio. É algo que tem haver coma doutrina social da J greja e temhaver com a doutrina social notodo da sociedade em relação aoEstado.

PA - A ij;scola de Artes é umprojecto inovador. Há novos pro-jectos para o Centro Regional?Qual o seu desenvolvimento?

CG· Temos tido muita caute-la e é bom que isso também fiquemuito claro. Durante 39, anos ser-vi a Universidade Pública e pas-sei pur ela, desde aluno até Vice-reitor da Universidade, e creio quenão me poderão acusar de não terdado tudo para o desenvolvimento.Na brincadeira costumo dizer quesó vim fazer coisas fora da Uni-versidade pública quando me dei-xaram fazer na Universidade Públi-ca.

Não vamos abrir muitas maislicenciaturas, porque nós quere-mos uma Uni versidade pequena.O Centro Regional da Universi-dade Católica, no Porto. está pen-sado para não ultrapassar os cin-co mil alunos e já estamos quasea atingi-los.

Vamos parar por aí e estar mui-to atentos. O mundo de hoje nãoé O mundo do século XV ou XIXcom aquela loucura de criação deUniversidade.

A Espanha do século XV aoX VII, abriu mais de dez Univer-sidades, e nós, em Portugal, man-tivemos, até ao século XX. uma

Porto Académico: Que pre-visões taz para o futuro da Uni-versidade Católica em funçãoda dimíuuição dotil/al/cill\l."m to deEstado·t

PA - Mas as públicasnão fnncionam?

CG - Não estou adizer que as públi-

cas não funcionam,mas estou a garan-tir que esta fun-ciona bem, os paispodem querer tercá os fi lhos e têm

todo o direito,pois pagam osseus impostos.E porque é

que aqui nãohaveriam de tero apoio do Esta-

do se os outrostêm. Não esta-

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Quinta-feira I 29 de Março de 2001

depois, mais duas: Porto e Lisboa.Começamos a surgir com Uni-

versidades espalhadas pelo país enós vimos a enorme vantagem nis-so, já depois do segundo quarteldo século XX: estamos a falar em«mil novecentos e carquejas». Nãoestá em causa o número de Licen-ciaturas, está em causa a qualida-de dessas licenciaturas, a área des-sas licenciaturas, a adaptação dessaslicenciaturas aos novos tempos,

Mas não me compete abrir ounão mais cursos, Apenas propo-nho ao Conselho de Reitores novaslicenciaturas. De entre as que aEscola das Artes tem a funcionar,é natural que vá aparecendo umaou outra, pois faz parte do próprioconteúdo, mas não esquecer quecada licenciatura que abrimos naUniversidade Católica, anda duran-te seis a sete anos a ser estudada.

PA - O Professor consideraque a avaliação deveria ser fei-ta não por pares nacionais maspor pares Estrangeiros?

CG - Por pares Estrangeiros oupor pares nacionais isentos, e hámuita gente isenta neste país. Nãose podem fazer avaliações compessoas que, à partida, acham quetudo o que é privado é mau e tudoO que é público é bom.

Vamos hoje à noite ouvir o Pro-fessor Adriano Moreira falar sobrecomo vai o ensino em Portugal,estou ansioso por ouvi-lo e aoMário Pinto a comentar.

De facto, em Portugal, a ava-liação é algo extremamente impor-tante que resultou em investiga-ção. Enquanto a investigação eraavaliada apenas pelos pares nacio-nais, nós tivemos muita dificul-dade em pôr de pé um projecto deinvestigação de dimensão, pelomenos europeia.A partir do momen-to que as avaliações passaram aser feitas por professores altamenteconceituados, quer portugueses noestrangeiro que fizeram parte demuitos desses júris, quer de estran-geiros que- eram amigos de Portu-gal e quiseram ajudá-los, eu nãotenho a menor duvida que o saltona investigação foi enorme. Por-quanto se diz que este centro é exce-lente, e já é a segunda vez que seestão a fazer essas avaliações, por-que houve ~m engano na primeiraavaliação. ele é mesmo excelente.Porque publica revistas qUi:> são eXJX-

lentes, porque é conceituado dosoutros pares no estrangeiro, Se sãoboas, sejam públicas ou privadas,ou sejam serni-publicas, que lhespague por serem boas para com issoserem melhores.

Creio que é isso que o engenheiroGuterres, como primeiro ministro,disse quando ganhou a primeira can-didatura do Governo e foi nomea-do pela primeira vez. Era isso queele dizia, o seu amor à educação eraa mudança na educação em Portu-gal.

PA - Mas ainda ficou muitopor fazer'?

CG - No campo da investiga-

ção não tenho duvidas em dizerque o Ministro das Ciência e Tec-nologia fez essa mudança e fê-la corajosamente. Eu estou mui-to à vontade, porque trabalhei noINIC, o IAC, isto para dizer queenorme salto se deu no tempo deMendes Mourão e, depois, no tem-po de Mariano Gago como pre-sidente da Junta e agora como'Ministro da Ciência e Tecnologiacom o orçamento capaz paru ;a investigação e com a criaçãodos laboratórios associados doEstado.

Não tenho qualquer duvida queestão a ser dados todos os passosmuito seguros e muito avantaja-dos na promoção da inv-estigaçãocientífica em Portugal.

Nenhuma duvida em relação aisso. O caminho em relação aoensino deve ser um caminho ondejá temos Faculdades de um nívelabsolutamente ind iscutfve l , denível Europeu.

Há licenciaturas, em Portugal,que têm hoje um nível elevado, eestou a referir-me a algumas Uni-versidades Públicas (não vou citarnomes). várias Universidades çomalguns cursos espectacularmentebons, outras menos-boas 'e outrasse calhar más, ainda' não houvefoi a coragem de ;llguns senho-res Reitores para corrigirás másou fecha-las. É ri que vai ter que.acontecer, quando não houverdinheiro vão ter de concentrarcomo estão a concentrar algumaspri vadas, se calhar vamos ter deconcentrar algumas públicas,

PA ~ Relativamente a essa

questão, não será o caminho queestamos a seguir no sentido dedeixar o mercado funcionar, nega-tivo'! Falta coragem política parao encerramento das que têmmenos qualidade'?

CG - Não sei se é só isso. Seme perguntam se vai bem o Ensi-no em Portugal, eu não sei res-ponder a essa pergunta directa-mente', mas ponho algumas questõesde pé de uma gravidade espanto-sa oaso esses problemas não sejamsolucionados. Primeiro problêmado Ensino Superior emPortugal:ainda não está definido claramenteo que é Politécnico e o queé uni-versitário. É essencial que se façaessa clara distinção e não há sobre-posição de valores de um sobre ooutro. O Politécnica tem o-seucaminho e o Universitário tem oseu caminho. Definam claramen-te o que cabe a um e a outro, eassumido isso, julgo que se dei-xarmos o mercado decidir prova-velmente encontrar-se-é claramenteuma solução para decidir o que éinvestigação,Douloramento e car-reina Acadérnica.no Poli técnico, e\, qüe é-ihvesngação.Doutora-mente e carreira Acadêmica noIJn~""r!\Ífárió. . .

'E quanto aos financiamen-tos?

CG - E é preciso assumir osfinanciamentos relativos a um casoe a outro, Há vários modelos naEuropa, basta ver qual o que seadapta melhor ao caso de Portu-

gal, depois disso, é preciso ter em mar de entre todos os países Euro-conta sea explosão do ensino Públi- peus, comando com os Açores eco, em Portugal, com a abertura a Madeira.de pólos e centros ou pequenos O que é que temos feito? Qua-politécnicas ou pequenas uni ver- se nada, muito pouco e não é por-sidades se adequa à qualidade de que várias pessoas não andem con-ensino que, supostamente, tem que tínuarnente a falar disto, e eu souinformar o ensino Universitário e uma delas. Mas há outras que têrn .o ensino Politécnico. levantado o problema. .

Há professores, há garantia de Há aqui qualquer coisa que nãouma qualidade europeia e inter- joga certo. Abrimos e sobrepomosnacional para esses cursos. Se não cursos em áreas que, se calhar, jáhá, então, não se abrem. temos excesso de licenciados, e

O que não é público, mas tem não abrimos cursos em áreas que..qualidade, financia-se e ajuda-se, sejam extraordinariamente impor-

mas, depois, não se comecem a tantes para o desenvolvimento do.abrir "cursinhos" em volta. Não país, Citei-o caso dos vinhos e citeihá espaço para t,uques" O Ensino o caso do mar e, há vinte anos,superior não pode' viver de truques não hav ia nada no sector têxti 1..em. Portugal. " d.' >, FQiMlnho.e Guimarães quem abri-

Por outro lado, vamos ver qu~","" ram a primeira coisa séria, a nívelsão as áreas que em Portugal devem de turismo e a nível de muitasser privilegiadas, porque intima- outras coisas que serão necessá-mente ligado ao país real. Dou dois rias. É·à tal mudança deste últi-exemplos violentos: um, graças a mo século que ternos que estarDeus, creio que já está colmata- atentos, noutras .áreas, tambémdo. Há cerca de 20 anos, ninguém não vale a pena estar só a-bater noem Portugal tinha na Universida- país.de conhecimentos profundos sobre Na área da comunicação, POJ'-

a capacidade de produção de vinhos. tugal fez um esforço importantfs-Portugal é detentor de alguns dos simo e há áreas em.que tenho.rnoti-melhores vinhos mundiais, a come- vo de orgulho; de alegria-e motivoçar pelo Porto, mas podemos ir até de grande jubilo .por todos nós.ao vinho verde e até outros. Não Por Maria da,Luz Ovelheirohavia nada em Portugal. . Desiaq/Je çitaçãoi -

Mas o exemplo mais gritante, «O que na",é públicoe tem qua-mais doloroso para mim é não Ter lidade, financie-se e ajude-se, mas,visto ainda nenhuma universida- depois, 'não se .cornecem a' abrirde a dedicar-se ao problema do "cursinhos" em volta» .mar numa atitude concertada, deValença até ao Algarve. E nós temoso maior potencial, .porque somosdetentores da maior quantidade de ' ~.,

ANA DUQUEE MARIA DA hUZ

OVEI!.HEIRO

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Quinta-feira I 29 de Março de 2001

ARTIGO DE OPINIÃO

Batida partillada«Estando a um mês do grande "stress" que é

a Queima das fitas para um dirigente assocíatí-vo disposto a ajudar, dei comigo a pensar nela,assim mais ou menos, em jeito de antecipação

Nesta minha qualidade, compete-me contri-buir para o sucesso da maior Queima das Fitasdo pais e ultimamente tenha sido atormentadopela dúvida: «quem impulsiona a Queima dasFitas? Quem a faz existir? Quem permite que elasobreviva?» Está claro que a Queima são os estu-dantes, mas quem é que lhes proporciona TUDOO que acontece nessa semana?

À primeira vista, a resposta é clara, que o digaeu ... Como dirigente associati vo! Tomo comoexemplo o meu caso pessoal: este ano, vou serfitado, estando na minha condição de fitado,supostamente, presto vassalagem a uns senho-res mais velhos, supostamente mais sábios, supos-tamente responsáveis por estas lides académi-caso No entanto, são raras as alturas, durante apreparação da Queima, e mesmo durante a Quei-ma em si. em que lhes ponho a vista em cima.Têm, habitualmente, alturas muito próprias paraaparecerem, sempre que há possibilidade de umritual gastronómico e etílico patrocinado. Poroutro lado, como presidente do AEICBAS, aodar o meu melhor pelo suporte físico da Quei-ma, respondo a uma entidade totalmente dife-

«Os que SUpostametTts, são OSresponsáveis por estas lides académicas,apenas fazem corpo presente e colhem da

queima os frutos q/IBlhes interessam,talvez com a lIaga iluslJo de que a sua

opinião conta (...)>>

rente e em tudo independente da primeira (oupelo menos, eu assim penso).

Assim, quando me encontro fitado e estou aajudar, como associarivo, a entidade responsá-vel pelo suporte físico, tem um problema: quemé que manda?

Os que supostamente, são os responsáveis porestas lides acadêmicas, apenas fazem corpo pre-sente e colhem da Queima os trutas que lhes inte-ressam, talvez com a vaga ilusão de que a suaopinião conta, mas onde tudo lhes passa ao lado.ou quem perde noites e noites para proporcionaraos universitários do Porto a melhor semana doano?

Mais grave ainda, se apesar de todos os esfor-ços o sucesso for ensombrado, a quem se pedemresponsabilidades? Aos senhores de preto ou aquem veste a camisola do trabalho? Por fim, ficomesmo baralhado quando me apercebo que essessenhores de preto, supostamente responsáveispelas lides académicas, necessitam de estar auto-rizados a circular no espaço da Queima.

A autorização é (claro!) proporcionada pelosuporte físico ...

A questão põem-se!l!»

ANTÓNIO AUGUSTO FERNANDESPRESIDENTE DA AEICBAS

~ O QUE SUGERE. ..LUís HENRIQUE PEREIRA*

1-rota doa ,a'rdal« •..•Afinal, quantos de n6s ainda não conhecemos com algum pormenor

os espaços verdes que temos ao dispor •••»

Não, não é de vinhos que lbes falo, mas pode-ria muito bem ser ... talvez- numa outra altura.Para já, aproveito esta oportunidade para lhesfalar doutros verdes: os espaços, alguns dospoucos que ainda existem e que, escondidospor vezes, povoam discretamente a imensa cida-de. É só talvez no meio do trânsito ou na infer-nízação diária das tarcfes laborais, que nos lem-bramos das aldeias dos recantos dos verdes edo tranquilo ... Ora o que vos proponho, carosamigos e leitores, é um esforço de oxigenaçãoda mente, da memória e do espírito. .

Afinal, quantos de nós ainda não conhece-mos com algum pormenor os espaços verdesque temos ao dispor. São então duas as pro-postas que lhes faço. Duas visitas sõ, ou emcompanhia dos que nos merecem. Comecemos,por exemplo, pelos jardins do Palácio de Cris-tal. Esses mesmos que todos nós conhecemostalvez só através das bonitas e recheadas fes-tas académicas ... Ali respira-se, embora comalgum barulho citadino, harmonia entre O Homeme a Natureza. É um belo espaço para caminharpensando ... é um belo espaço para recuar notempo e revi ver momentos fortes, momentosfelizes, alguns dos momentos despreocupadosque todos vivemos durante as nossas vidas. Éimenso o património vegetal ... o romântico tem

aqui um cheiro a absoluto e verdadeiro. Pararpara pensar, parar para ver, parar para obser-var. fotografar. filmar, no fundo parar parareter.

Depois da visita ao verde, proponho tam-bém uma passagem, embora que rápida, pelarecente biblioteca Almeida Garretl.

No mesmo, ou então num outro dia, pro-ponho uma outra visita: um passeio a 'Pé pelolugar maravilhoso que une o Douro ao Atlân-tico: o jardim do Passeio Alegre. Demorouvinte anos a ser construído ... é bom, muitobom mesmo, lá ir. sem encontrar dornin-gueiros pela frente, por isso, uma tarde ouuma manhã de semana, será, neste caso, ·aaltura mais aconselhada. Para além do valorvegetal, há aqui também um importante patri-mónio arquitectónico ... o chafariz por exem-plo, que veio para aqui, depois de ter sidoretirado do convento de S. Francisco, ouentão o pequeno chalé romântico.

Podem dizer que «este gajo veio para aquisugerir, afinal, aquilo que todos já conhe-cem» ... É capaz de não ser bem assim. Se sou-berem, ou quiserem, pintar ou desenhar, levemapetrechos simples ... A vista e o belo vão entrarna memória de uma forma bem diferente detodas as outras .. Acreditem.

=Luís Henrique Pereira é jornalista na RTPtendo já passado pela Rádio Renascença e pelaRádio Press. Uma outra [aceta que lhe é sobe-jamente conhecida como responsável por gran-des tertúlias é o seu lado de imitador.

«A tragédia de Entre-os-Rios é uma boa metáfora des-ta atitude mental: procura-se os corpos à superfície maseles estão afinal bem fundoe bem longe. inacessíveis aovoluntarismo de uns e aovoyeurismo de outros.»

Miguel Sousa TavaresPúblico, de Março

«Ninguém viu qualquertelevisão inglesa, face a desas-tres igualmente traurnati-zantes, como os que atingi-ram os caminhos-de-ferro, afazer algo de vagamentesemelhante. Aliás. nem sequeras televisões tabl6ide do ter-ceiro mundo que. por exem-plo, na América latina têmtodos os dias abundantes pre-textos, fazem o mesmo quefez a TV!.»

Pacheco PereiraPúblico, de Março

«O Estado não quer saberde n6s»

M. Amado de Oliveira24 Horas, de Março

«Os estudantes universi-tários estão na rua, mobili-zando alguma rapaziada parauma "jornada de luta" em

protesto contra a má situa-'ião do Ensino em Portugal.Diferente da matriz ideoló-gica e profundamente dema-gógica que comandava a "jor-nada de luta" contra aspropinas nos tempos doGoverno de Cavaco Silva, aquestão agora tem a ver com"as condições" da escola -mais do que com "as condi-ções" do Ensino.»

Francisco José ViegasJornal de Notícias,

22 de Março

«Vivemos num triste paísda balda, em que pais e filhoslançam mão de atestadosmédicos para não irem a exa-mes e há médicos que lhesfazem a vontade. Vamos terum lindo enrerro.»

Vasco Graça MouraDiário de Notícias,

2Jde Março

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Page 7: Jornal Porto Académico (FAP) #04 (29março2001)

Quinta-feira I 29 de Março de 2001

ACADEMIA DO PORTO

BÁMOS ÀS FESTASACADÉMICAS'?

Voltando à zona da Ribeira, mas agora umpouco mais acima, na rua de S. João, acoisajátem cariz mais académico. Aí estão os baresque todas as associações de estudantes esco-lhem para festejar qualquer evento. E quandose diz qualquer é mesmo assim, porque qual-quer evento é pretexto para festa no «Acade-

Plrtl. na IIIIId'l tldaltas!

OPorto, ao que dizem, não écida-de que nos apaixone à primeiraVista., É preciso passar pelaspedras e calçadas, sujas e gas-tas, conhecer as gentes e a vidaque ali se respira, conhecer

bem o Douro, para que se queira lá voltar. Paraque se queira lá ficar. AAcademia desde sem-pre viveu a braços com esta cidade e morre deamores por ela. O Douro está lá com a regataacadémica, a foz está lá com a Queima dasFitas, todos os estudantes já palmilharam pelaribeira e sabem como é bom ter a cidade a seuspés, eles próprios rendidos a ela.

Para comer e beber como um reizinho nor-tenho O melhor caminho vai dar à Ribeira. Porlã, encontram-se as tasquinhas mais típicas comos petiscos que são de encher os olhos e a bar-riga Lembre-se o «Porta Larga», a «Filha daMãe Preta», o «Mercearia», só par.:!.quem tivera bolsa um pouco mais recheada, mas para quea tem mais leve O melhor é a «Lojinha dos Mer-cadores». A nossa recomendação vai para o«BZZZ», Nunca está às moscas, mesmo que unome assim o sugira e, por isso. é bom que sechegue cedo não vá a casa estar cheia como écostume. Se a sorte vos tiver batido à porta do«BlZZ» e os lugares estiverem à vossa espe-ra, peçam uns cogumelos salteados, um prati-nho de moelas, W1S queijinhos picantes ou umasgarnbas ao alho. Afiem o dente que isto não seficará por aqui de certeza. A regar existem osbons vinhos, mas a especialidade da casa resi-de na sangria daquela que nem se dá conta. Sóquando «um gajo» se levanta é que ela sobe.

Fado também há por lá não ficando a deverem nada ao lisboeta bairrista. O do Porto nas-ceu na ribeira mesmo ao lado da ponte Luís I,aquela que o Eiffell, o da torre, desenhou parao rio Douro.

E como nem só de fado reza a história dacidade, ali mesmo na ribeira, o som tambémpode ser de «house». O «Meia Cave» propor-ciona noites alternativas para quem quiser expe-cimentar um ambiente diferente. Ou o «Aniki-bôbô», bar que vai beber o nome ao filme deManuel de Oliveira, e que também se dedicaao alternativo.

Se não for noite, mas sim dia, o roteiro exi-ge uma passagem pelo «Café do Cais» um localbem agradável para tomar uma bica à Porto.com uma das melhores vistas da cidade: o rio.

Como qualquer rio que vai desaguar a umafoz, O Douro encontra-se com o Atlântico nazona mais «inx da cidade. É por lá que andamas tias e restantes familiares de um «jet set»com sotaque e é por lá também que se podemencontrar das esplanadas mais bonitas comlugar na primeira fila virado para o mar.

mia», «Ribeirinhas ou no «Be». Basta ser sema-na de praxe, Queima da Fitas ou outra semanaqualquer que o mais certo é encontrarem-seestes bares cheios «à pinha» de malta das facul-dades.

Se a escolha for para orna noite mais cal-ma com uma pitada de cultura ou humor à mis-tura, à quarta-feira passem pelo Púcaros bar eaí deixem a alma passear pelas letras do Amó-nia Gedeão, Femando Pessoa, José Régio, MárioCesariny, João Habitualmente, Paulo Camposdos Reis, Eugénio de Andrade, Antero Mon-teiro e com alguma sorte, ou azar, ainda devedar tempo para ouvir um tal de Saint Pierre dela Buraque. É a noite de poesia que encontrarival às quintas feiras. Nessa noite, no Púcaros,o tema são as anedotas. Várias são as peque-nas estrelas que ali se revelaram e que já «ane-dotam» noutros poisos, mas a casa está sem-pre a abarrotar de malta nova e menos nova.

Quanto aos eventos puramente acadérnicossão muitos e difíceis de enumerar numa aca-demia que conta com um sem número de asso-ciações de esrudantes. Destaca-se os Festivaisde Tunas, os Saraus Culturais. as Festas daGaragem da Porrucalense, o Campo de FériasDesportivas, o Campo de Neve, o Campo deMontanha e muito mais. Todos a gritarem omesmo: Bibó Porto, carago!

QUElMA DAS FITAS DO PORTQEsta é sem dúvida uma das maiores Quei-

mas do país. Durante uma semana, a FAP (Fede-ração Académica do Porto) organiza para todosos estudantes uma festa sem igual. Os concer-tos contam com nomes do top da música rockinternacional e portuguesa. As barraquinhasalinhadas oferecem bebidas a preço da chuvae também essa lá está muitas vezes a abrilhan-tar, Pelo menos, ali ninguém leva secas. Levam"shot's", cachorros quentes, matraquilhos umatenda discoteca e muita lama DOS sapatos.

Só para terem uma pequena ideia, no anopassado, a primeira noite de Queima no Portocontou com cerca de 35 mil pessoas,

Ah! Onde é que fica? No chamado Quei-módromo, antiga feira popular, lá para os ladosdo parque da cidade.

FRANCESINHASSeria impossível ir ao Porto e nem sequer

ouvir falar das francesinhas, Este petisco típi-co é servido em quase todos os restaurantes ousnacks da cidade, mas não se fiem os senhoresque todas são iguais. Há francesinhas boas, máse «come-se assim come-se assado».

O mais recente local é o «Francesinhas eCompanhia», e um dos mais emblemáticos éo «Capa Negra». O primeiro fica na zona daAlfândega e o segundo no Campo.Alegre.

O segredo do molho quecobre duas fatiasde pão de forma com queljo.Jínguíça.e um bife,está tão bem guardado que já nem a Lúcia selembra dele. E ninguém crê que o Papa o várevelar na sua próxima visita a Fátima, não váacontecer como da última vez e a malta ter umadesilusão.

POR ANA DUQUE

Page 8: Jornal Porto Académico (FAP) #04 (29março2001)

I Quinta-feira I 29 de Março de 2001

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Ri mos Caltas Bom IIVI formallpós onze ediçõesdo Festivallnter-céltico organiza-dos pela "Mundoda Canção", a Cul-rurpono chamou a

si a produção do evento, que o mes-mo é dizer muda-se a montra, masfica o armazém. Os ritmos celtas vãocontinuar a agitar a Invicta gra<;as aum novo formato que dá pelo nomede "Noites Cenas".

Na sua primeira edição, a realizarnos próximos dias 6, 7 e 8 de Abril,no Coliseu, as hostilidades vão serabertas com a voz de João Afonso,desde logo. uma sexta-feira que pro-mete. O sobrinho de Zeca Afonsonão renega as influências do tio, mastem conferido à sua carreira umamatriz pessoal. O músico portuguêsque farã uma incursão pelo seu últi-mo trabalho "Barco Voador", cujaadesão ainda mais a norte, na vizi-nha Galiza se tem revelado esclare-cedorado potencial do jovem músi-co. deixa a antever o valor daquiloque pode ser classificado por "con-junto de ternas de um viaia!lte do seutempo t>do seu mundo"_

Os «repetentes" MUZllicás, que

passearam a sua classe no lntercélti-co de 1994, voltam a exame: certa-mente para nos brindarem com o per-fume da música celta de leste, se éque na actualidade os conceitos geo-gráficos ainda fazem sentido. Os hún-garos constituem uma banda forma-da por elementos com formaçãoclássica, mas a opção do conjuntoacabou por ditar um tributo às raizesétnicas, - não sem o risco político queessa medida poderia acarretar. Talvezpor isso, não seja de admirar que orepertório que até nós vão trazer cons-tirua um tracejado na memória.

O evento "Noites Celtas", quetem como extensão de denomina-ção "Noites Duplas" e "Noites deLua Cheia", conta na segunda noi-te com a prestação de Susana Sei-vane, uma galega endiabrada, quedomestica com mestria o instrumentoque a Galiza elegeu para seu patri-mónio: a gaita de foles. Desde detenra idade, Susana contactou comos ambientes musicais, aliás no seioda família há nomes respeitáveis, épor isso vaticínio do Porto Acadé-mi.co que a noite vai alternar entreas diatribes celtas e as paisagensmusicais mais melódicas.

No que diz respeito aos Oyster-band, que farão o rodapé da noite,embora venham das Ilhas britânicassó trazem uma música "afectuosa"para nos contagiar. Sabendo-se queo público maioritariamente nortenho,ao qual se tem vindo a juntar umnumeroso clã de peregrinos galegos,se caracteriza pela exigência, massimultaneamente, mediante o pro-pósito da satisfação dos anseios vai-se transfigurando em plena adesãoao que escuta, os Oysterband, vãopor isso constituir wn tónioode dan-

mação extra-currícular com palestras no Salão. de Alunos da FMUP

19 de Abril2001 às 21 horas- Tertúlias da AEF-MUP, na Ordem dos médicos, com um convi-dadoAE FAÇULDADE DE FARMÁÇIA UP:

21,22 e 23 de Abril de 2001- Acção de Forma-ção "Espectrofotometria. deserwolvída peloGabinete de Ensino e Formação (GEti)

26 de Abiil de 2001·Sessão de G.Ímima em Fafmácía

3 de Abril de 2001- Acção de forrnaçãs sobresaúde Pública: .A tuberculose.

AEINS11Tl!Jro SUpERIORl>E {;ONFABILlDA'DER ADMl,NIsrnçAo BO'P@RifOl

2 a 6 de Abêil2001- Inter Iscas Porto 2001. noPavilhão Rosa Mota

ça e de terapia musical face à reco-nhecida aliança que exercitam entrea "grande música com a inteligênciadas letras, às vezes cheias de poesia".

O quarto crescente transformar-se-á em lua cheia, durante a noite deDomingo, com a presença de "drui-das musicais" oriundos de Itália eque dão pelo nome de Tendachent,descendem de uma referência incon-torriável da música tradicional tran-salpina, os La Ciapa Rusa, Na ver-dade, uma parcela significati va dobaú nwsical dos tendachent passa por

uma "revisão da matéria dada" pre-cisamente pelos La Ciapa Rusa, aque se adiciona uma "aprendizagemde novos conhecimentos" pelos "alu-nos" que passam agora a figurar comos consagrados Maurizio Martinot-ri, Bruno Raiteri e Devis Longo. Peran-te a renovação dos músicos. o objec-tivo perseguido é uma execuçãoharmónica entre os melhores clássi-cos da banda paternal e uma novaroupagem dos arranjos.

O final de festa ficou reservadopara a aferição da maturidade dosThe Meu They couln 't Hang. ApÓSum período sabãtico, regressaram àslides em 19%, apostam na mesclade sonoridades provenientes quer daIrlanda como da Grã-Bretanha, fac-to de resto comprovado através dasgravações ao longo da carreira dogrupo. Da postura em estúdio às pres-raçõesao vivo vai o ['15$0 de um anão,Os The Men They couln 't Hangsão conhecidos por vencer com rela-tiva facilidade esta fasquia. Da expec-tativa já não se livram, eles e as "Noi-tes Celtas", parafraseando o adágio:festival mono, festival posto!

JOÃo FElINANDO AREZES

~ A ACADEMIA RECOMENDA

X CAMPO UNIVERSITÁK10 DE FÉRIASDESPORTNAS EMTAVIRA

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c amo já vem sen-do hábito, e "ohábito pode fazero longe", a Fede-ração Acadérnicado Porto está a

promover no litoral algarvio, emPedras D' El Rei. Concelho deTavira, o "X Campo Universitá-rio de Férias Desportivas 2001 ".

A iniciativa vai decorrer entreos dias 20 a 2S de Abril, nesteperíodo, vão praticar-se diver-sas modalidades desportivas:desde futebol e voleibol de praia,à canoagem, passando pelo streetBasket ao Paimball, estes dia,vão também proporcionar aosparticipantes actividades comoescalada, sobretudo a "noctur-na", bem como aeróbiea "mati-nal" que vem a preceito paraminimizar os efeitos dos cha-mados desportos "by night".

Para o efeito está reservado umcomboio especial que estabele-cerá a ligação a Tavira e retomo

ao Pano. Os interessados deveminscrever-se nas respectivas Asso-ciações de Estudantes, após teremformado equipas mistas de /O ele-mentos, constituídas por 5 rapa-zes e igual número de raparigas.O valor a liquidar por elemento.na altura da inscrição, é de dezas-seis mil escudos a que se adicio-na a entrega de- um cheque de cau-ção de vinte mil escudos paraevitar embaraços de última horano regresso. Convém não esque-cer duas coisas: a primeira, tra-duz-se nos cerca de 1000 estu-dantes do ensino superior quefazem jus ao espírito académicoao participarem; a segunda é queo limite de inscrições vai até aodia 6 de Abril, que o mesmo édizer "é para ontem!". Ah .. .já ago-ra, o S. Pedro não foi convidado,o melhor é nem sequer pensar,senão "penso, logo desisto!", entãoserá melhor que não penses.

JoÁo FERNANDo AREZES

AE FACm,.DADE PE MEl>ICINA UP:5Abril 2001 às 2Ih30m- Espectáculo «Tuna e

amigos», inserido no X Antversãno da tuna deMedicina do Porto

4, 18.., 25 de I\.btil, às ;1.6 hor~- Ciêlpde For-

A.E ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÁODO PORTO:

29 de Março 2001 às 22 horas- Festa da CAPHOP(demonstrações de Capoeira e de Hip Hop]

30 de M",r.~o 2001 às ~lh30m- Encontro deçunas da ~ESEP

__ ~Agenda PORTO '20011 DE A.l!RIL Orquestra Metropolitana de Lisboa

Direcção de Miguel Graça MouraLocal: Rívoli Teatro Municipal

5,6;7E 8 DE ABRIL Noites CeltasLO('II: Colíseu li Rivoli Teatro Municipal

22 DE A.l!RIL Jogos de S_[orge-Peíra MedievalLocal: Terreiro da Sé, Praça da Ribeira e outros espaços públicos

Ficha Têcnka Dltectot: Hugo Neto; Director-Adjunto: Fra.n.cisCo Lopes; Redacção: João Femand08Arezes e Ana.Duque; Colaboradores: Maria âa Luz Gvélliejm, Antómo AUguSIO Fernargícs e Luís HenriquePtreJia; Forograjia: Moil1Ji\l~ e Comércio ao feno; Grafi.ma e PrOdltçãO; O Comercio QQ Porto

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