hoje macau 15 mar 2013 #2811

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ SEXTA-FEIRA 15 DE MARÇO DE 2013 ANO XII Nº 2812 PUB PAPA FRANCISCO I QUEM É JORGE BERGOGLIO? CENTRAIS PUB URBANISMO Brasileiro diz que modelo de Macau é um grande risco PÁGINAS 14 E 15 PATRIMÓNIO Centro histórico afecta propriedades PÁGINA 4 HONG KONG Jornal pergunta se leitores querem alçada britânica PÁGINA 7 PUB VENHAM MAIS CINCO (SÉCULOS) Ter para ler David Chow tem a ideia de fazer uma cidade chinesa em Portugal, mas o projecto ainda está na gaveta. O empresário quer mudar mentalidades e para já concentra todas as suas forças na praça manuelina anunciada para a Ilha da Montanha. “Considero que é minha respon- sabilidade fazer algo pelos portugueses”, disse ao Hoje Macau no dia em que terminou a Assembleia Nacional Popular, em Pequim. Em relação ao cargo na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, Chow é peremptório: “Este lugar dá-me o privilégio de servir de correio, para transmitir mensagens.” PÁGINAS 2 E 3 PUB h Fazer por Portugal David Chow quer Chinatown em terras lusas e cultura portuguesa na China CHINA NOSSA MARIA ONDINA BRAGA MOP$10 MUITO NUBLADO MIN 17 MAX 23 HUM 60-90% EURO 10.1 BAHT 0.2 YUAN 1.2 ROTA DAS LETRAS MACAU E BRASIL PENSAM FESTIVAL LITERÁRIO PÁGINA 16

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Edição do jornal Hoje Macau N.º 2812 de 15 de Março de 2013

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Page 1: Hoje Macau 15 MAR 2013  #2811

AgênciA comerciAl Pico • 28721006 D irector carlos morais josé • sexta-feira 15 de março de 2013 • Ano Xii • nº 2812

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PaPa francisco i

Quem éJorge

Bergoglio? centrais

pub

urBanismo

Brasileiro diz que modelo de Macau é um grande risco

Páginas 14 e 15

Património

Centro histórico afecta propriedades

Página 4

Hong Kong

Jornal pergunta se leitores querem alçada britânica

Página 7

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Venham mais cinco (séculos)

Ter para ler

David Chow tem a ideia de fazer uma cidade chinesa em Portugal, mas o projecto ainda está na gaveta. O empresário quer mudar mentalidades e para já concentra todas as suas forças na praça manuelina anunciada para a Ilha da Montanha. “Considero que é minha respon-sabilidade fazer algo pelos portugueses”, disse ao Hoje Macau no dia em que terminou a Assembleia Nacional Popular, em Pequim. Em relação ao cargo na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, Chow é peremptório: “Este lugar dá-me o privilégio de servir de correio, para transmitir mensagens.” Páginas 2 e 3

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hFazer por portugalDavid chow quer chinatown em terras lusase cultura portuguesa na china

cHina nossa

• Maria ondina Braga

mop$10

muito nuBlado min 17 max 23 Hum 60-90% • euro 10.1 BaHt 0.2 yuan 1.2

rota das letras

macau e Brasil Pensam festival

literário Página 16

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sexta-feira 15.3.2013política2 www.hojemacau.com.mo

Joana Freitas, em Pequim [email protected]

Mais do que um cargo político, a presença de David Chow

como delegado na Confe-rência Consultiva Política do Povo Chinês (CPPCC) vai servir como elo de ligação para eventuais grandes ne-gócios. a ideia é defendida pelo próprio empresário de Macau que, numa entre-vista conjunta em Pequim, explica que há ainda muitas possibilidades em aberto não só para Portugal e países de língua portuguesa, como para quem queira entrar na China. E deixar a China entrar. “Este lugar dá-me o privilégio de servir de correio, para trans-mitir mensagens.”

Chow admite ter boas relações “pessoais” com os embaixadores dos mais diversos países em Pequim e, agora que se estreia como delegado na CPPCC, tem como colegas ministros e directores. A fluidez das comunicações entre ambas as partes, diz, pode ser mais rápida e, por conseguinte, trazer oportunidades de negócios. “sendo um priva-do, posso colocar questões

stanlEy Ho, o magnata do jogo de Macau, deixou a sua

marca também em Pequim. no centro da capital, ergue-se o Ma-cau Center, um centro comercial que se assemelha ao território, pelo menos no que diz respeito às lojas de marca.

O edifício de mais de dez andares, onde esteve o Hoje Macau, está incluído no hotel Hilton, mas, apesar do nome, não oferece produtos de Macau ou informação sobre o terri-tório. ao invés disso, o com-plexo tem marcas de produtos luxuosos e andares dedicados a escritórios. situado no coração de Pequim, o Macau Center

junta a bandeira da China a de Macau, na entrada.

não muito distante deste edifício, também o hotel le-gendale, este construído pelo empresário da RaEM David Chow, apresenta o ‘Macau’, um restaurante de comida chinesa, que oferece algumas iguarias do território.

ainda por abrir, na mesma zona, o Centro Comercial Bei-jing aPM, tem também Macau no directório das lojas que apre-senta. no tipo de comida que vai servir, o ‘Macau Kitchen’ vende – para já apenas na publicidade – os típicos zhu pa pao e pastéis de nata. - J.F.

Pequim contacom vários locais alusivos à RAEM

O nome de Macau na capital

Cargo de Chow na CCPPC também serve de “elo de ligação” para negócios

Um posto, duas funções

a ambas as partes e posso conhecer, com alguma an-tecedência, toda a política chinesa. se tiver que tratar de um assunto com algum ministro posso fazê-lo

porque somos colegas e a mensagem passa com mais fluidez. Com isto, consigo resolver questões de ambas as partes e fazer despoletar um negócio. tal como posso

saber o que posso fazer em benefício do meu país.”

O empresário foi home-nageado em Pequim pela estreia na CCPPC. Uma ideia que partiu de alguns

embaixadores dos países lusófonos na capital chi-nesa, mas que reuniu mais de 50 diplomatas de outras embaixadas. A confiança, por isso, não falta a David

Chow. “Porque é que tantos países e não só os de língua portuguesa estão na minha festa de homenagem? Por-que também eles preten-dem ter um relacionamento estreito com a China.”

Também a China, diz Chow, necessita de par-ceiros comerciais, depois de se ter aberto ao mundo nos últimos 30 anos. Mas, não basta haver dinheiro. O empresário assegura ser importante “perceber onde está o futuro consumidor” e admite que também o gigante oriental quer sair de si próprio para investir no exterior. “Daí ser ne-cessário mais gente, [mais países]. se o investimento for em grupo, criam-se mais vantagens. não basta ter dinheiro, tem de ser ter capacidade e dinamismo. se o sistema velho é já um sucesso, então tem de se criar um novo, não parar. Daí os contactos que me fazem não serem só porque tenho dinheiro, mas porque confiam em mim.”

Chow mostra-se con-fiante em eventuais negó-cios dentro e fora da China, mas assegura que estes têm de ser de longo-prazo. “Que interessa a um país ter mais ou menos um hotel? ama-nhã posso vendê-lo.”

importante é, relembra David Chow, que os em-presários de Macau saibam a política direccional do seu país, de forma a saberem investir na área certa. – J.F.

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hoje

mac

au

3políticasexta-feira 15.3.2013 www.hojemacau.com.mo

Joana Freitas, em Pequim [email protected]

“Eu invisto no meu país, mas se o mercado é pequeno posso vender noutra parte.” A ideia

é defendida por David Chow, em-presário de Macau, que assume ter um projecto para Portugal: “gostaria um dia de construir uma Chinatown em Portugal. Em vez de um China Hotel, uma cidade. Isto é uma troca comercial, mas também cultural.”

No dia em que foi homenageado por ter entrado para a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), o dono da Doca dos Pescadores da RAEM, assegurou ter começado “a fase exploratória” para a eventual construção de uma Chinatown em terras lusitanas. Numa entrevista conjunta em Pequim, na qual o Hoje Macau teve presente a convite do empresário, falou no desejo de investir fora da Ásia e num país que, jura, ama. “Já vi a lei de imigração e direito à residência por investimento. Se calhar, com algumas adaptações, um dia pode vir a ser possível ter uma cidade chinesa lá. Mas isso, não é um trabalho para uma pessoa só, é para uma empresa ou conjunto de investidores.”

Instado a falar sobre a recente parceria de negócios entre o seu país e Portugal, David Chow acredita Portugal deve ter um papel mais principal e a cultura e a língua lusófona são demasiado importantes, até porque o empre-sário considera que, se não houve mais avanços, foi por falta de entendimento. No sentido literal. “Portugal parou em Macau. Quan-tas empresa portuguesas estão na China? São poucas, eu acho. Mas não está tarde, só que houve uma falha no aspecto da promoção da língua, fez-se pouco pela difusão da língua.” Além disso, afirma, há mentalidades a serem mudadas.

Tem a ideia de fazer uma cidade chinesa algures em Portugal, mas o projecto ainda não saiu sequer da gaveta. David Chow assegura querer mudar mentalidades em Portugal, mas para já, está mais preocupado em conseguir construir na Ilha da Montanha a praça manuelina anunciada o ano passado. Uma ideia que, assegura, “é uma responsabilidade política”

David Chow pode criar Chinatown em Portugale quer cultura portuguesa na China

“É minha responsabilidade fazer algo pelos portugueses”

“Portugal, desde longa data, que, de Macau, só conhece o senhor Stanley Ho. Eu quero mudar isso.”

O projecto, contudo, não pode ser levado a cabo sozinho. Sem pudor, David Chow brinca com o facto de “ter dinheiro”, mas afirma que “com mais 20 ou 30 pessoas”, as coisas podem ser maiores.

O tradicionalismo, no entanto, com que tantas vezes a China é criticada, não acontece apenas no continente. Para Chow, também em Portugal se sente o mesmo pro-blema. “Já não estamos na era de Camões, tem de haver mais aber-tura. Não devemos apostar num ou noutro sistema, mas numa relação de cooperação. Desenvolver em conjunto negócios que beneficiem ambos. A China não quer tirar nada [a Portugal]. Quer partilhar.”

AlmA lusA nA ChinA Ao mesmo tempo que a ideia da Chinatown em Portugal começa a ser uma hipótese, David Chow apresenta o outro lado da moeda. Depois de ter sido já anunciada a construção de uma praça ao estilo manuelino na Ilha da Montanha – onde as empresas de Macau vão poder desenvolver negócios -, o empresário explica o porquê de ter escolhido uma extensão de Macau para expandir a cultura lusitana. “Primeiro, amo Portugal. Podem dizer que minto, mas amo a vossa cultura e os portugueses. Além disso, sinto que é minha responsabi-lidade política. O meu primeiro pote de ouro foi apoiado pelo Governo português [em Macau] e eu tenho que fazer alguma coisa, construir a plataforma que prometi.”

David Chow afirma que não basta “falar, falar e falar”, mas que tem de se começar com algo nítido. “Eu apoio e exploro a vossa cultura na China, para dizer ao mundo que a cultura é negócio e é política. E apoio, ao mesmo tempo, as ideias da China”, que quer ampliar as relações com os países de língua portuguesa e, sobretudo, com Portugal. “É minha responsabilidade fazer algo pelos portugueses na China.”

Apesar de ainda estar à espera de autorização para o projecto que contou com mais investidores, o empresário da Doca dos Pesca-dores mostra-se confiante com o apoio do Governo Central, no li-cenciamento do projecto. “Porque não? É bom para a China, é bom para Portugal e é bom para Macau.”

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4 política sexta-feira 15.3.2013www.hojemacau.com.mo

Andreia Sofia [email protected]

É como equilibrar os dois lados de uma balança. Os deputados chegaram à fase em que vão discutir

as delimitações feitas ao centro histórico de Macau e as zonas de protecção, e que constam na proposta de lei da salvaguarda do património cultural, actualmente

Cecília [email protected]

O deputado Ung Choi Kun, eleito pela via directa,

defende que o Executivo deve criar uma secretaria do turis-mo ao invés de existir apenas a Direcção dos Serviços de Turismo (DST). Tal entidade deveria incluir áreas como o trânsito, o transporte aéreo, os serviços hoteleiros e o sector do jogo. Tal iria acontecer “em vez de existir uma divisão entre os assuntos de tráfego e a área financeira, por exemplo, poderia existir cooperação”.

Esta ideia consta de um comunicado enviado ontem para as redacções, onde o deputado prossegue com mais opiniões sobre o funcionamento da Adminis-tração Pública.

Para o deputado, da área do imobiliário, o Governo da RAEM poderia retirar ensi-namentos da experiência do Governo Central, que recen-temente anunciou a proposta

O consulado geral de Portugal em Macau

lançou ontem a nova página na Internet do posto con-sular disponível em http://cgportugal.org/ e em que os utentes podem obter as informações em português e chinês de todos os actos consulares.

A nova página, lançada no dia em que o actual cônsul português, Manuel Cansado de Carvalho, abandona o território, sendo substituído a partir de 28 de Abril por Vítor Sereno, possui liga-ções em português e chinês para um conjunto variado de actos consulares como a inscrição, obtenção do car-tão de cidadão, registo civil

O debate sobre a proposta de lei da salvaguarda do património já chegou à questão da preservação do centro histórico. Segundo Cheang Chi Keong, este promete ser “um tema quente de discussão” por ser algo “sujeito a muitas restrições” e por “afectar as propriedades de muitos residentes”

Tema continua a ser hoje discutido pelos deputados

Preservar centro histórico“afecta propriedades”

Deputado fala numa “estrutura cheia” na Função Pública

Ung Choi Kun quer ver criada uma secretaria de turismo

Consulado de Portugallançou página na Internet

em português e chinês

Novidades bilinguesde reforma institucional e de

transformação das funções do Conselho de Estado. A proposta é de redução, de 27 departamentos para 25. “Embora a eficácia admi-nistrativa tenha melhorado um pouco, existe uma estru-tura cheia da Administração Pública, com ampliações e uma descentralização. Com a evolução da situação eco-nómica e social de Macau, as funções dos departamentos e secretarias necessitam de uma nova reintegração e divisão.”

OS exemPLOSUng Choi Kun fala de vários departamentos como exem-plo de funções e responsa-bilidades públicas que estão no sitio errado. Da parte da Capitania dos Portos (CP), há funções que deveriam pertencer ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Munici-pais (IACM), aos Serviços de Alfândega ou aos Assun-tos de Tráfego (DSAT).

Nessa situação, a “CP poderia ter menos depar-tamentos, aumentar a sua eficácia e, ao mesmo tempo, poupar dinheiro”. O depu-tado fala ainda do Gabinete para o Desenvolvimento das Infra-estruturas, bem como do Gabinete para as Infra--estruturas de Transportes como outro exemplo a ne-cessitar de uma reintegração.

No sector da educação, Ung Choi Kun defende um reforço do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior

(GAES). “Se no futuro o sistema de ensino superior sofrer mudanças ao nível da legislação, a capacidade de dedicação ao sector, es-pecialmente na coordenação governativa e na supervisão, precisam de ser reforçada.”

Para além das sobrepo-sições de funções referidas, o deputado considera que na tutela da secretária Florinda Chan, tanto a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), como a Direcção dos Serviços de Reforma Jurídica e de Direi-to Internacional, poderiam ter funções reunificadas. Na área da Economia e Finanças, o exemplo dá-se com a possível ligação entre os Serviços para os Assun-tos Laborais (DSAL) e o Gabinete para os Recursos Humanos, que têm “funções semelhantes”. “É necessário analisar uma forma razoável de configuração ou reorga-nização de funções”, aponta o deputado.

e nacionalidade, passaporte, viagem de menores, vistos, notariado, certificados e, entre outros, recenseamento militar.

Além de disponibilizar também contactos consula-res, a nova página permite, sem grandes inconvenientes para os utentes do posto, obter todas as informações necessárias de documentos obrigatórios para renovação ou obtenção de documentos.

A página promove tam-bém o denominado “golden residence permit”, o visto que mediante um investi-mento de 500.000 euros e uma estada anual de uma semana, permite obter o direito de residência em Portugal.

De acordo com a infor-mação disponível na própria página, esta foi criada para facilitar “o acesso aos ser-viços do consulado”. - Lusa

a ser analisada pela 3.ª comissão permanente da Assembleia Le-gislativa (AL). Contudo, também estão em causa questões com prioridades privadas.

Segundo o deputado Cheang Chi Keong, que preside à comis-são, trata-se de um “tema quente de discussão”, mesmo que “haja uma ideia predominante”. “No anexo à proposta de lei estão de-limitadas as zonas de protecção. Estas estão sujeitas a muitas res-trições, como por exemplo a cota altimétrica, que não pode exceder demasiada altura. É um problema que vamos discutir hoje, e que tem a ver com a preservação do centro histórico.”

Tal “vai afectar as propriedades de muitos residentes”. “Temos de proteger as propriedades privadas e preservar o património. Há que

ver a questão sob vários prismas”, acrescentou Cheang Chi Keong.

DePutADOS queremCOnSuLtAS ObrIgAtórIASOutro dos pontos que esteve ontem em cima da mesa na AL, cujo de-bate não chegou ainda a nenhuma conclusão, prende-se com os pedidos de classificação histórica para determinado local, depois da proposta de lei já estar em vigor. Os deputados defendem que quando

é o Governo ou os departamentos públicos a fazerem o pedido, deve existir uma consulta pública. Se-gundo os assessores jurídicos, entre o pedido apresentado e a recolha de opiniões “há uma ligação íntima”. “A lei diz que pode ser objecto (de consulta pública), mas a comissão entende que aqui devia ser ‘deve ser objecto’, porque é um artigo que está associado à ideia de uma consulta pública facultativa. Quando a iniciativa é apresentada

pelo próprio proprietário, é ou não sujeito a consulta? Mas quando é o Governo a tomar essa iniciativa, deve haver uma consulta pública, e de certeza que tem de ouvir as opiniões do conselho do patrimó-nio cultural”, explicou Cheang Chi Keong.

Quanto às entidades que propõem a classificação histó-rica do local, ainda não estão definidas, garantiu o deputado. Para já, consta o próprio Gover-no e os departamentos públicos relacionados, como o Instituto Cultural (IC) ou o Instituto para os Assuntos Cívicos e Munici-pais (IACM). Os proprietários privados também poderão estar na lista. O que ainda não se sabe é se o conselho do património cultural também terá esse direito de pedir uma classificação.

Sobre este ponto, Cheang Chi Keong lembrou que ainda não se sabe se o painel será mais aberto, ou mais restringido. E explicou os porquês. “Muitas pessoas podem apresentar uma proposta e não se coadunar com a realidade de Ma-cau. Todos invocam que se trata da memória, mas quando é apertado de mais, afasta a participação do público. Há prós e contras, para ver se há necessidade de alargar essa extensão.”

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sexta-feira 15.3.2013 www.hojemacau.com.mo 5sociedade

Cecília [email protected]

Uma reportagem publicada na edi-ção de ontem do jornal chinês Ou

mun dá conta de uma ligeira quebra no sector hoteleiro a seguir ao ano Novo Chinês. Com aproximadamente mais dois mil quartos disponíveis, a procura não tem, contudo, sido muito, segundo contam responsáveis de hotéis ao jor-nal. Estes referem que, como antes das férias da Páscoa não costuma haver muitas reservas, a taxa de ocupação sofreu uma quebra de 10% em relação ao ano passado.

Quanto aos preços dos quartos, também sofreram uma descida entre 5 a 10%, segundo as mesmas figuras do sector.

Segundo dados recentes da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), no ano passado a oferta de quartos, nos cerca de 100 hotéis e pensões, su-biu quase 16,6% face a 2011. No inicio deste ano surgiram mais dois mil quartos, pelo que a oferta de alojamento atingiu as seis mil camas.

Segundo um responsável de um hotel, comparando com o aumento significativo das camas de hotel, o número de turistas não sofreu um aumento tão grande. Para ele, o aumento do número de quartos veio aliviar a procura, mas trouxe maior competição ao sector.

“Este mês a taxa de ocu-pação nos hotéis tradicionais é de apenas 60 ou 70%, e todos

maiS de 300 empresas de 20 países e regiões vão

aproveitar o Fórum de Coope-ração ambiental, que arranca na próxima semana em macau, para procurarem captar parcei-ros para mais de 500 projectos de investimento, disse ontem fonte da organização. “Já foram recebidas inscrições de mais de 300 expositores oriundos de 20 países ou regiões, bem como de cerca de 120 delegações e, para efeitos de bolsas de contactos, foram recebidos mais de 500 projectos de investimento e de agentes comerciais de produtos ambientais”, referiu à agência Lusa a Direcção dos Serviços

Miguel Senna Fernandes falou da casamata de ColoaneDepois das declarações do Governo sobre a casamata de Coloane, que deverá ganhar um edifício habitacional com cerca de 30 andares, o canal chinês da Rádio Macau convidou o macaense e jurista Miguel de Senna Fernandes para explicar os documentos que comprovam o lado histórico da zona. Jaime Carion, director dos Serviços de Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) já tinha referido que a terra pertence a privados desde 1903. Mas surgiram duvidas quanto às datas, dado que os portugueses apenas se estabeleceram em 1910 e construíram um monumento que simbolizou a ocupação oficial de Coloane. Miguel Senna Fernandes explicou que os portugueses já consideravam a terra como sendo sua, muito antes da declaração oficial de colonização. De acordo com os documentos históricos, os portugueses fizeram nessa altura grandes projectos de construção, como escolas ou posto de correios. Também criaram um mecanismo de regulação para o registo de habitações e pagamento de impostos. - C.L.

Responsáveis falam de menos 10% na taxa de ocupação hoteleira

As quebras turísticas a seguir ao Ano Novo Chinês

Taxade ocupação de 82,9%em Janeiro Os 100 hotéis e pensões em actividade em Macau registaram, em Janeiro, uma taxa de ocupação média de 82,9%, mais 3,8 pontos percentuais face ao mesmo mês do ano passado. De acordo com os Serviços de Estatística e Censos, 832.543 pessoas hospedaram-se em hotéis e pensões em Janeiro, quando foram contabilizadas 100 unidades de alojamento com 26.027 quartos, a maioria (63,8%) em hotéis de cinco estrelas, com uma taxa de ocupação média de 84,9%. O número de quartos registou um aumento de 16,5% face a Janeiro de 2012. A maioria dos hóspedes dos hotéis e pensões de Macau era, em Janeiro, proveniente da China continental (60,3%) e de Hong Kong (14,5%), tendo permanecido uma média de 1,4 noites, menos 0,13 noites face ao mesmo mês do ano passado. O número de hóspedes dos hotéis de Macau em Janeiro representou 70,1% dos cerca de 2,3 milhões de turistas que o território recebeu nesse mês face aos 59,1% verificados no mês homólogo do ano passado.

Mais de 500 projectos serão promovidosno Fórum de Cooperação Ambiental de Macau

miECF está à portade Protecção ambiental de macau.

Dedicada ao tema “Desen-volvimento Sustentável das Cidades - Rumo a Um Futuro Verde”, a 6.ª edição do Fórum e Exposição internacional de Cooperação ambiental (miE-CF, na sigla inglesa) terá lugar entre os dias 21 e 23 de março no empreendimento Venetian.

O certame, organizado pelo Governo de macau com o apoio dos ministérios chineses da Ciência e Tecnologia e da Protecção ambiental, pretende “servir de plataforma de desen-volvimento da indústria ambien-tal entre a região do Delta do Rio

das Pérolas - sul da China - e o mercado internacional”.

O Fórum contará este ano com uma área de mais de 16 mil metros quadrados, onde estarão mais de 300 expositores a promover os seus projectos e

produtos ligados à eficiência energética, energias renováveis, eco-construção, eco-tráfego, gestão de resíduos e fontes de água e serviços ambientais, entre outras.

O evento contará com a realização de nove fóruns de-dicados a temas como turismo sustentável e políticas do am-biente e dois workshops sobre financiamento de projectos de eficiência energética e cidades centradas na água, e terá um dia de entrada livre para o público em geral com o objectivo de promover a consciencialização para a protecção ambiental.

No ano passado, o certame contou com a participação de 398 empresas de 28 países e regiões e de oito mil pessoas de 53 países e regiões, tendo sido realizadas 702 sessões de contacto que resultaram na assinatura de 35 protocolos de cooperação. - Lusa

os hotéis no Cotai, bem como hotéis e pensões em macau e na Taipa estão a fazer promo-ções para atrair mais turistas.” ainda ao Ou mun, o mesmo responsável disse que como a maioria dos visitantes no

período da Páscoa são de Hong Kong, preferem ficar hospedados na zona do Cotai.

No lado da restauração, a ligeira quebra de visitantes também se fez sentir. Yeung Wen San, presidente da

associação de Pequenas e médias Empresas de Restau-ração de macau, frisou que os residentes se tornaram, por estes dias, os principais clientes dos restaurantes locais. O responsável con-

sidera que a indústria deve continuar a fazer uma op-timização permanente dos serviços e acrescentar mais “características de operacio-nalização”, por forma a “au-mentar a competitividade”.

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sexta-feira 15.3.2013publicidade6 www.hojemacau.com.mo

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7sexta-feira 15.3.2013 www.hojemacau.com.mo nacional

Andreia Sofia [email protected]

Se Margaret Tatcher es-tivesse actualmente no governo do Reino Uni-do, ficaria, decerto, feliz

por ver recompensados os seus esforços na Guerra das Malvinas: um inquérito feito recentemente mostrou que os habitantes das Ilhas Falkland se sentem quase 99,8% britânicos, e não querem, de maneira nenhuma, ser argentinos.

Foi este o resultado de um inquérito feito na região, cujos resultados foram tornados públicos no passado dia 10. E foi este mesmo inquérito que deu origem a uma iniciativa semelhante em Hong Kong. Contudo, não tem carácter de referendo e é um jornal que a faz, o South China Morning Post.

Foi este diário da região vizi-nha que resolveu lançar o debate e questionar os residentes se votariam “sim” para que Hong Kong se tornasse novamente um território ultramarino do Reino Unido. Até ao momento, 91% dos votantes online dizem que sim, 9% diz que não.

Na edição online do jornal, encontra-se a explicação da inicia-tiva, que começou via Twitter no passado dia 12. “Quando 99,8% dos habitantes das Falkland vota-ram para permanecerem como um

Inquérito nas ilhas Falkland inspirou acção do South China Morning Post

E se Hong Kong voltasse a ter alçada britânica?

um certo sentimento “anti-Pequim”, evidenciados “pelo aparecimento de protestos com a bandeira colonial”.

O jornal dá conta de um co-mentário que faz referência a uma “massiva nostalgia de melhores tempos e de um Governo mais correcto. Não penso ter visto uma bandeira da China colocada em qualquer lugar de Hong Kong, excepto num local para bandeiras”.

Recentemente, por ocasião do encontro anual da Assembleia Popular Nacional (APN), o aviso à região vizinha fez-se ouvir. Yu Zhengsheng, membro do comité permanente, pediu mais “patriotis-mo” às duas regiões, tendo frisado que Macau e Hong Kong “não são independentes”. “Patriotismo, amor à pátria, unidade, o espírito de união entre os próprios delegados e outras forças tradicionais que tam-bém existem em Hong Kong e que devem remar na mesma direcção.”

território britânico, não poderiam imaginar que iriam originar baru-lho do outro lado do mundo, em Hong Kong. Com a acção posta em movimento, o SCMP.com decidiu ver o que os outros pensavam e

pub

ANÚNCIO [N.º50/2013]

Nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro:

Nome N.º do boletimde candidatura

Nome N.º do boletimde candidatura

NG TSZ SHING 54152 CHAN FONG KUAN 70633KOK MAN VAI 56622 LAI CHI IAN 80621WONG CHEONG SENG ALIÁS LOK WA CHAM 82030WONG WENG SAN 61597 WONG KAM UN 83888

PAULO KONG ALIÁS DA SILVA BERNARDO 86601

KONG VENG HONG 63422 PUN SIN MAN 98067

CHAN WAI TONG 66711 IEONG LAI I 102323

SI WAI CHI 70613 CHAN KEI KEI 113950 Por causa dos representantes dos agregados familiares acima mencionados não comparecerem no este Instituto para escolha de habitação após a emissão da segunda convocação, as respectivas candidaturas serão excluídas na lista geral, de acordo com os termos da alínea 2) do n.º 5 do artigo 60.º da Lei n.º 10/2011 (Lei da habitação económica) e alínea a) do artigo 14.º do Regulamento de Acesso à Compra de Habitações Construídas no Regime de Contrato de Desenvolvimento para a Habitação, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 26/95/M, de 26 de Junho, revisto pelo Regulamento Administrativo n.º 25/2002. Tendo este Instituto publicado um anúncio na imprensa de língua chinesa e língua portuguesa, no dia 7 de Fevereiro de 2013, a solicitar aos interessados acima mencionados para apresentarem por escrito as suas contestações pelos factos acima referidos no prazo de 10 (dez) dias a contar da data de publicação do referido anúncio, mas não fizeram a entrega das suas contestações dentro do prazo indicado, assim como da decisão do despacho do signatário, exarado na Informação n.º0621/DAHP/DAH/2013, as respectivas candidaturas foram excluídas da lista geral de espera. E de acordo com o disposto no n.º 21 do Despacho n.º 09/IH/2012, revisto pelo Despacho n.º 20/IH/2012, publicado no Boletim Oficial da RAEM, n.º 25, II Série, de 20 de Junho de 2012 e no artigo 155.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, cabem recurso hierárquico necessário da respectiva decisão adminstrativa, ao Presidente deste Instituto, no prazo de 30(trinta) dias a contar da data de publicação do presente anúncio, o recurso hierárquico tem efeito suspensivo.

O Chefe do Departamento de Assuntos de Habitação Pública, Subst.º Chan Wa Keong 12 de Março de 2013

ANÚNCIO [N.º49/2013]

Nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro:

Nome N.º do boletimde candidatura

Nome N.º do boletimde candidatura

LOI LAI MEI 26470 CHAN WENG CHONG ALIÁSNG FO LIT 33961 VICENTE DE PAULO CHAN 89999LEONG WENG IN 63390 NG WAN FAI 96120CHAO CHIT MENG 75842 MAK WAI CHI 97436

LAU LEE LEE VERONICA 77234 LEI MAN FAI 103247

KUOK SIN I 77960 CRISTINA LEONG 108298

SIO NGAI WAN 81428 KUOK WAI MAN 117121

NG MENG WA 85947

Por causa dos representantes dos agregados familiares acima mencionados não comparecerem no este Instituto para escolha de habitação após a emissão da segunda convocação, as respectivas candidaturas serão excluídas na lista geral, de acordo com os termos da alínea 2) do n.º 5 do artigo 60.º da Lei n.º 10/2011 (Lei da habitação económica) e alínea a) do artigo 14.º do Regulamento de Acesso à Compra de Habitações Construídas no Regime de Contrato de Desenvolvimento para a Habitação, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 26/95/M, de 26 de Junho, revisto pelo Regulamento Administrativo n.º 25/2002.

De acordo com os artigos 93.º e 94.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, devem apresentar, por escrito, as suas contestações e todas as provas testemunhais, materiais, documentais ou as demais provas, no prazo de 10 dias, a contar da data de publicação do presente anúncio. Se não apresentarem as contestações no prazo fixado, considerando as desistências do respectivo direito e não aceitação das contestações entregues fora do prazo fixado. No caso de dúvidas, poderão dirigir-se ao IH, sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, Macau, durante as horas de expediente, ou contactar Sr. Wong, através o tel. n.º 2859 4875 (Ext. 586), para consulta do processo.

O Chefe do Departamento de Assuntos de Habitação Pública, Subst.º Chan Wa Keong 11 de Março de 2013

postou uma pergunta parecida às 12h55. A formulação da questão foi feita de forma cuidadosa, o que é importante referir, para que não se pense que o voto no sim representa uma votação de um residente de

Hong Kong. Será então incorrecto pensar, por exemplo, que 80% dos residentes de Hong Kong querem voltar a ter as leis inglesas.”

embora apontem que não há um carácter científico no debate e que a iniciativa é “pela diversão”, sendo que cada voto corresponde a um endereço de IP, as respostas têm sido afirmativas. “O gráfico não conta toda a história”, aponta o jornal. Contudo, até às sete da tarde de ontem, 3,966 pessoas tinham votado sim, enquanto 373 votaram não. Nas redes sociais, surgiram 1400 “likes” no Facebook e 123 tweets.

SEntimEntoS “Anti-PEquim”Quais as razões para tantos votos afirmativos, com desejos de regres-sar aos tempos colonialistas pré-1997? Os comentários no Facebook e no Twitter expressam, segundo o SCMP, sentimentos de nostalgia e de

No inicio desta semana o diário de língua inglesa de Hong Kong lançou um desafio aos leitores, através da sua edição online e das redes sociais: “Iriam os residentes de Hong Kong votar para que o território passasse a ser britânico, caso tivessem essa opção?” Até ao momento, há 91% de respostas positivas

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sexta-feira 15.3.2013www.hojemacau.com.mo

O novo secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC), Xi Jin-ping, assumiu ontem o

cargo de Presidente da República, completando um processo de su-cessão política que ocorre apenas uma vez por década.

Como os seus dois últimos antecessores (Jiang Zemin e Hu Jintao), Xi Jinping deverá enca-beçar a liderança chinesa durante os próximos dez anos.

A China, entretanto, deverá tornar-se uma “sociedade mode-radamente próspera”, o objectivo prometido pelo XVIII Congresso do PCC, que elegeu Xi Jinping como o líder da nova geração, em Setembro passado.

Xi Jinping foi eleito pela Assembleia Nacional Popular, o supremo órgão do poder de Estado, segundo a Constituição, composto por cerca de 3.000 delegados.

Dos 2.956 delegados que par-ticiparam no escrutínio apenas um votou contra e três abstiveram-se.

Depois de anunciado o resulta-do, Xi Jinping inclinou-se diante da assistência que o aplaudia, e, a seguir, cumprimentou o antecessor, Hu Jintao, sentado ao seu lado na tribuna do Grande Palácio do Povo, em Pequim.

Filho do general Xi Zhongxun, antigo vice-primeiro-ministro, Xi Jinping nasceu em 1959 e é casado com uma popular cantora, Peng Liyuan.

Ontem de manhã, os delegados à Assembleia Nacional Popular elegeram também o novo vice--presidente, Li Yuanchao, que obteve 96% dos votos - menos 3,8 pontos percentuais do que Xi

O Presidente norte-ame-ricano Barack Obama

congratulou-se ontem com a disposição da China, único aliado de peso da Coreia do Norte, em rever a sua posição face a Pyongyang, que insiste nas suas ameaças em matéria nuclear.

Em entrevista difundida esta quarta-feira pela cadeia televisiva norte-americana ABC, Obama afirmou que as últimas ameaças norte--coreanas não são “neces-sariamente” mais perigosas que as anteriores.

No entanto, o Presidente dos EUA considerou ser “prometedor” que China, aliado histórico da Coreia do Norte, possa rever a sua atitude. “Começamos a sen-

tir que [os chineses] estão a rever a sua posição e dizem ‘Sabem porquê? Tudo isto está em vias de se tornar incontrolável’”, afirmou.

A China manifestou a sua “firme oposição” ao terceiro ensaio nuclear efectuado em Fevereiro por Pyongyang, mas absteve-se de uma condenação imediata, como sucedeu com as restantes potências envolvidas nas negociações.

No entanto, e numa rara decisão, Pequim votou na semana passada no Conse-lho de Segurança da ONU a favor de novas sanções contra a Coreia do Norte. “Assim, estamos a dirigir--nos para uma situação onde poderemos obrigar a Coreia

do Norte a mudar de atitude”, admitiu Obama.

O chefe da Casa Branca apelou ainda aos norte-core-anos para terminarem com o clima de confrontação, sob o risco de assistirem a uma “reacção” dos Estados Uni-dos e dos restantes países que participam nas negociações sobre o programa nuclear da Coreia do Norte, onde tam-bém se incluem a Coreia do Sul, Rússia, China e Japão.

A tensão regressou a esta região há vários dias, após o regime de Pyongyang ter denunciado o armistício de 1953, acenado com a ameaça de um “guerra termonuclear” e advertido que os Estados Unidos se expunham a um “ataque nuclear preventivo”.

China entrou na Era Xi Jinping, completando um singular processo de sucessão política

Cadeiras ocupadas

Obama congratula-se com “revisão” da posição da China face à Coreia do Norte

Atitude “prometedora”

Jinping. O nome do novo vice--presidente chinês, considerado um reformista, só começou a ser dado como certo há três dias, nomeadamente na imprensa de Hong Kong. Antes, Liu Yunshan, o “número cinco” da hierarquia comunista, era apontado como o mais provável candidato ao car-go. Li Yuanchao não faz parte do

Comité Permanente do Politburo do PCC, a cúpula do poder na China, composta apenas por sete elementos.

O antigo vice-primeiro-mi-nistro e novo “número três” da hierarquia comunista chinesa, Zhang Dejiang, também foi eleito ontem presidente da Assembleia Nacional Popular (parlamento).

Zhang Dejiang foi eleito com 99,6 % dos votos.

Dos 2.961 delegados presen-tes, apenas 5 votaram contra e 4 abstiveram-se.

A Assembleia Nacional Popu-lar, com cerca de 3.000 delegados de todas as províncias do país, é, segundo a Constituição, “o supre-mo órgão do poder de Estado”.

Zhang Dejiang, nascido em 1946, sucede a Wu Bangguo, de 72 anos, que completou o segundo e último mandato no cargo.

No 18.º Congresso do Partido Comunista Chinês, realizado há cerca de três meses, Zhang Dejing entrou para o Comité Permanente do Politburo.

Foi a segunda transferência pacífica de poderes em 63 anos de governação comunista.

De acordo com a prática adoptada nos últimos vintes anos, o mandato dos titulares dos principais órgãos do Estado é de cinco anos e só pode ser renovado uma vez.

Este processo de sucessão, instituído na década de 1990, é considerado pelos responsáveis chineses “o mais importante su-cesso político da China dos últi-mos tempos, com grande impacto em todo o país e na governação mundial”.

Ainda esta semana, os delega-dos à Assembleia Nacional Popular vão também escolher o próximo primeiro-ministro.

Li Keqiang, o “número 2” da hierarquia do PCC, a seguir a Xi Jingping, deverá assumir o cargo, sucedendo a Wen Jiabao.

A China é já a segunda maior economia mundial, mas dada a sua elevada população, o valor do Produto Interno Bruto per capita, estimado em menos de cerca de 47.000 patacas, é inferior ao de alguns países africanos.

Cerca de 100 milhões de chineses (7,5% da população) vivem ainda abaixo da “linha de pobreza”, com menos de cerca de 3000 patacas.

8 nacional

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sexta-feira 15.3.2013 www.hojemacau.com.mo 9região

A China felicitou ontem o cardeal argentino Jorge Bergoglio pela sua

eleição como papa e exortou o Vaticano a tomar “medidas práticas e flexíveis” para melhorar as relações com Pequim. “Esperamos que, sob a liderança de um novo papa, o Vaticano crie condições para melhorar as relações com a China e remova gradualmente os obstáculos (ao estabelecimento de relações)”, disse a porta-voz do ministério chinês dos negócios Estrangeiros, Hua Chunying.

A China não tem relações diplomá-ticas com a Santa Sé, o único Estado europeu que continua a reconhecer o antigo Governo da “Republica da China (sem o adjectivo “popular”), que se refugiou na ilha de Taiwan após a guerra civil no continente, em 1949. “Felicitamos o cardeal Bergoglio pela sua eleição como novo papa”, disse a porta-voz do MNE.

Hu Chunying reafirmou que “a China é sincera quanto ao desejo de melhorar as relações com o Vaticano”, mas segundo dois “princípios básicos”

e “imutáveis”. “O Vaticano deve cortar os chamados laços diplomáticos com Taiwan e reconhecer o Governo da Republica Popular da China como o único Governo legítimo de toda a China” e “não deve interferir nos assuntos internos da China, a pretexto da religião”, precisou.

A Igreja Católica Patriótica Chine-sa, a única autorizada pelo Governo, com cerca de cinco a seis milhões de fiéis - 0,5% da população - é indepen-dente do Vaticano.

Há uma outra igreja católica na Chi-na, designada por igreja clandestina, que se mantém ligada à Santa Sé e que terá tantos fiéis como a outra.

Apesar das divergências políticas, nomeadamente quanto ao poder de nomear bispos, os católicos das duas igrejas encaram o papa como O repre-sentante de Deus na terra.

O actual bispo de Pequim, Li Shan, ordenado em 2007, sem prévia apro-vação do papa, já foi reconhecido pela Santa Sé.

O líder norte-coreano Kim Jong-un liderou exercí-

cios de artilharia dirigidos a ilhas da Coreia do Sul, revelou a agência da Coreia do Norte KCNA num novo capítulo da escalada belicista do regime.

Os exercícios, cuja data não foi especificada ainda que peritos indiquem terem sido realizados quarta-feira, simularam a destruição das instalações militares das ilhas de Baengnyeong e Ye-onpyeong, refere o despacho da KCNA.

Ambas as ilhas da Coreia do Sul referidas fazem fron-teira com a Coreia do Norte sendo que Yeonpyeong já foi bombardeada por Pyon-gyang em 2010, num ataque que provocou quatro mortos, dois dos quais civis.

A notícia da agência da Coreia do Norte refere também que os exercícios

O número de casos de suicídio motivados por

problemas económicos ou financeiros caiu no Japão em 2012 para 5.219 casos, o que traduz 18,5% menos do que em 2011, revelou ontem a polícia nipónica.

A queda, acrescentaram fontes citadas pela agência Kyodo, ficou a dever-se a medidas governamentais destinadas a solucionar pro-blemas de dívidas ou de usura.

Em 2012, o número de suicídio fixou-se, pela pri-

meira vez nos últimos 15 anos, abaixo dos 30.000 ca-sos, caindo 9,4% face a 2011.

Das 27.766 pessoas que puseram termo á vida, 19.273 eram homens, um número que ficou, pela primeira vez desde 1997, abaixo dos 20.000 casos.

Entre os principais mo-tivos para o suicídio a po-lícia atribui a problemas de saúde a maior parte dos casos – 13.629 – seguindo-se problemas económicos e os problemas familiares.

As autoridades japone-sas verificaram, no entanto, uma subida de 28% nos ca-sos de violência doméstica para um total recorde de 43.950 casos.

Nos últimos anos, o Governo japonês lançou uma série de campanhas de defesa da vida que incluí-ram ajudas de cerca de 800 milhões de patacas nos últi-mos três anos para promo-ver consultas e assistência psicológica às pessoas que necessitam.

Parlamento do Japão aprova nomeações para liderança do banco centralA câmara baixa do parlamento do Japão aprovou ontem os nomes propostos pelo governo para a liderança do banco central, esperando-se que sejam agora ratificados pela câmara alta esta sexta-feira. O primeiro-ministro nipónico, Shinzo Abe, propôs o nome de Haruhiko Kuroda para o cargo de governador do Banco do Japão (BOJ), o qual apresentou, entretanto, a sua demissão como líder do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD), com efeitos a partir do próximo dia 18. A câmara baixa do parlamento japonês aprovou também os vice-presidentes Kikuo Iwata e Hiroshi Nakaso. A nova equipa deverá assumir a liderança do BOJ na próxima semana. A ser aprovado o seu nome, Kuroda, 68 anos, que defende, como Governo, uma política monetária mais agressiva, vai suceder Masaaki Shirakawa à frente do banco central do Japão.

China exorta nova liderançado Vaticano a melhorar relações com Pequim

Ultrapassar obstáculosLíder norte-coreano coordenou

exercícios militares dirigidos à Coreia do Sul

Tensão alta

Casos de suicídio no Japãopor motivos financeiros caíram 18,5%

Medidas eficazes

dirigidos por Kim Jong-un foram realizados com fogo real e serviram para testar a capacidade das baterias de artilharia numa situação real de combate.

A tensão na península coreana tem vindo a crescer nas últimas semanas, nome-adamente depois da Coreia do Norte ter realizado o seu terceiro teste nuclear, conde-

nado pela comunidade inter-nacional e que levou a que as Nações Unidas aumentassem as sanções ao país.

Por outro lado, Seul e Washington, , que possui 28.500 soldados estaciona-dos na Coreia do Sul, estão a realizar dois exercícios militares conjuntos, fazendo Pyongyang subir o tom das ameaças ao seu vizinho.

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sexta-feira 15.3.2013entrevista10 www.hojemacau.com.mo

Helder [email protected]

A primeira mulher moçambicana a publicar roman-ce. Prefere chamar

histórias de vida ou, quem sabe, África no feminino. Este, é o resumo de uma entrevista cheia de sorrisos, risos e gargalhadas. Paulina Chiziane deixou por Macau, pela terceira vez, um, rasto de luz própria. Ela é a mágica e terna claridade das palavras que nos vêm da África de mil lutas e de mil cores.

Há um momento, uma oca-sião, que a levou a descobrir o gosto imenso de escrever?Naturalmente, por gostar de ler e de escrever. Mas quem me emocionou para a escrita foram dois grandes, a Florbela Espanca, uma grande senhora que escrevia maravilhosa-mente. Do Brasil, o nosso Jorge Amado.

Quer dizer que muito cedo começou a ler esses autores?Para dizer a verdade, os livros do Jorge Amado eu roubava (gargalhada) numa livraria a caminho da escola, no bair-ro Alto-Maé, onde nós, as meninas pouco mais do que crianças, passávamos e de vez em quando tirávamos umas coisitas. (gargalhada)

Uma loja de um senhor indiano que estava sempre sentado?Esse mesmo! (gargalhadas) O senhor realmente passava a vida sentado, se calhar para nos dar a magna oportunida-de de iniciarmos hábitos de leitura (risos).

Andámos a fazer as mesmas malandrices no mesmo local (gargalhada)Pois é. (risos) Então, o Jorge Amado cai-me nas mãos por roubo (nova gargalhada). Eu, uma criança, não fazia ideia quem era Jorge Amado, tirei um livro para ler, mais nada. Mas gostei da história e, nas vezes seguintes, fazia questão em roubar, indecentemente (risos), mais livros daquele autor. Só mais tarde, com mais informação, eu percebi que Jorge Amado não era um escritor qualquer. As pessoas estranhavam como é que

Paulina Chiziane, escritora moçambicana

“No imaginário, África e China estão em pé de igualdade”eu já conhecia alguns livros dele, sem imaginarem que eu conhecera a sua escrita em circunstâncias meio infelizes. (gargalhada)

O que mais a impressionou nessa escrita?Aquelas histórias dos capitães da areia, do que se passava nos campos do café, dos escravos. Veja: para uma rapariga negra, naquela época, ler uma histó-ria que falava dos negros, dos mestiços, desse mundo, dos sofrimentos, foi um fascínio. Obviamente que muito mais tarde é que eu entendi toda a profundidade daqueles livros de Jorge Amado.

Quanto a Florbela Espanca?Os poemas de Florbela Es-panca conheci oficialmente na escola, faziam parte da matéria. Adorava.

A loja do senhor indiano no Alto-Maé não tinha à venda essa autora.(Gargalhada) Pois, não havia! De tanto eu gostar dos poemas de Florbela Espanca, fui atrás do livro.

As tais ocasiões que a esti-mularam a escrever como acto de prazer.De tanto ler, comecei a sentir maior fluidez na escrita. Para escrever cartas de amor eu não sentia dificuldade (risos). Durante um certo tempo eu funcionei como secretária de amor das minhas colegas. Eu escrevia muitas cartas para os namorados delas, a pedido das minhas colegas e amigas (gargalhadas). São segredos aqui da velha (risos). Esse acto de escrever para o outro, e esses outros acharem que a escrita era boa, foi descoberto na sala de aulas. A professora de português dizia que eu tinha redacções que diziam alguma coisa, que o meu imaginário era muito mais preenchido do que as outras, etc. Mas eu não era a melhor aluna de português. Na realidade, na língua portuguesa eu era péssima, só que conseguia transmitir mensagens. Pos-suía um vocabulário, tinha qualquer coisa dentro de mim, então a professora dizia: tens de aprender mais a gramática!

Era a professora a incentivá--la, provavelmente.

Por certo. Mandava-me es-tudar mais a gramática, mas ia-me dizendo: as tuas pala-vras têm alma! Eu sabia lá o que era a alma (risos). Mais tarde, eu fui reflectindo e dizia para comigo: mas por-quê a minha professora acha que as minhas palavras têm alma? Apesar de estarem mal estruturadas. Acredito hoje que essa observação tinha a ver com todo esse manancial de leituras rou-badas por mim quando era uma rapariguinha (risos). O facto é que essa leituras construíram em mim alguma coisa. Fui fazendo as minhas paisagens mentais do Brasil, por causa daqueles livros do Jorge Amado. A imagem do Brasil que eu ainda retenho até hoje, apesar de já ter viajado para lá, é o Brasil dos “Capitães da Areia” que ele escreveu nos anos 30 do século passado.

Gente do cinema pretende adaptar para a sétima arte um ou outro livro seu...Sim, têm falado comigo, até agora ainda não aconteceu. Fi-quei doente algum tempo, por isso não pude vir a Macau o ano passado, talvez essa ideia do cinema vá para a frente.

Foi grave o seu estado de saúde...Posso dizer que foi de bas-tante gravidade, um género de esgotamento mental sério. Tive de desligar-me de tudo, começando logo pelo telemó-vel até à paragem na escrita, tudo parou. Estou naquela fase em que, quanto a escrever, apenas de vez em quando. Mas agora me sinto bem e estou retomando calmamente o contacto com as coisas.

Para regressar à sua disci-plina quando escreve?Sou terrivelmente disciplina-da quando percebo que estou a escrever e devo ir em frente. Quase não paro de escrever, tenho o meu ritual de trabalho, ou seja escrevo a partir das 23 horas até mais ou menos duas da manhã, porque tenho de acordar cedo para ir ao traba-lho, pois não vivo da literatura. Agora, como estou no período em que não trabalho, escrevo até às cinco da manhã. Mesmo na comida, mesmo na bebida, sou muito rigorosa.

Isolamento...À noite já é um isolamento. Se adormeço pelas cinco da manhã, quem vem às 10 ou 11 horas não me apanha porque estou a dormir.

As histórias que conta, para além da própria criativida-de como autora, vai buscá--las a acontecimentos que vê, que ouve...São as histórias das pessoas com quem convivo, que encontro, no autocarro, os vizinhos, há sempre qualquer coisa que me desperta a aten-ção. Nos livros que escrevo, há um ponto de partida, o resto é perseguir a história até às últimas consequências.

Muitas vezes a sua escrita identifica-se com relatos de reportagem.É quase isso.

Uma mulher que escreve e fala das mulheres.Que fazer (sorriso prolonga-do). Elas adoram, estou do seu lado, não necessariamente como feminista. Como sabe, há uma significava parte de Moçambique cuja cultura base é matriarcal, a mulher tem poder. Não penso no dito feminismo universal, ou seja

lá o que for. Quando vivi na Zambézia, por exemplo, esta-va numa sociedade matriarcal. Não vou atrás de uma moda ou de uma bandeira, vou atrás das histórias de vivências das mulheres moçambicanas.

Histórias como filmes.É quase isso.

Relatos de rituais, de singu-laridades várias, de questões sociais fortes como a poliga-mia são histórias das vidas.Histórias de vida são. Há sem-pre um ponto que tudo despo-leta; a partir desse ponto, eu vou perseguindo as histórias reais, andando como quem não quer nada, sem gravador sequer; às vezes sento-me no sítio mais incrível, onde ninguém me conhece, e fico ali ouvindo histórias das con-versas à minha volta, muitas vezes histórias de mulheres. Por vezes pago umas cervejas para continuar a ouvir.

O seu livro mais recente foi lançado em Maputo em Dezembro do ano passado e, segundo as notícias, está relacionado com a doença que a afligiu.Certo, esse é o mais recente. Chama-se “Na Mão de Deus”;

fala um pouco de mim, da minha experiência nesse momento difícil, mas vai mais longe, procura, pesquisa outras histórias de vida entre pessoas que têm perturbações mentais. É um livro maravi-lhoso, desculpa dizer isto.

Viveu uma fase muito com-plicada quando esteve do-ente.Saí deste mundo, vivi noutro! (gargalhada). O meu interna-mento durou uma semana, o tratamento durou três anos.

Acerca desse título, é reli-giosa?Existe em Moçambique uma crença dizendo que as pesso-as com perturbações mentais foram assediadas pelo diabo. Aí eu disse: eu?, nem pensar, estou na mão de Deus, fiquem lá na vossa vida que eu estou na minha. Esse livro foi uma espécie de resposta a uma situação real que vivi. Ago-ra estamos conversando os dois, normalmente, achando piada a muitas coisas, estou bem... mas naquela altura eu observava o mundo do qual eu tinha feito parte, pelo lado de fora, como que uma visão cósmica. Quando as pessoas chegavam ao pé de mim com

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11entrevistasexta-feira 15.3.2013 www.hojemacau.com.mo

Paulina Chiziane, escritora moçambicana

“No imaginário, África e China estão em pé de igualdade”pena, chorando, lamentando, aquelas coisas todas, sem perceberem, claro, o que se passava comigo, dizia--lhes: deixem-me em paz, eu simplesmente viajei. Era natural que as pessoas não en-tendessem coisas estranhas como essa minha viagem. Eu via o mundo a partir de um ponto muito alto. Era capaz de lhes dizer assim, por exemplo: Helder, tu tens um problema na vida que é a, b, c ou d. E as pessoas diziam: o que estás para aí a dizer? Ela está maluca. No dia seguinte acontecia exactamente o que eu lhes dissera antecipa-damente. Foi uma fase em que não fui compreendida. O psiquiatra achava que era extrema loucura, ele lá sabe, estudou para isso (risos). A família ficou muito confusa, mas eu estava muito serena do outro lado do mundo.

Que processo a tratou?A combinação dos dois. O dr. Calane da Silva, escritor moçambicano, quando soube da minha situação, pediu para me levarem urgentemente até ele. Sobre o que eu tinha, ele dizia que era uma deslocação do corpo para o espírito, uma transmigração. A combinação entre o tratamento médico e o tratamento espírita é que resultou, trazendo-me um equilíbrio maior.

Neste momento, faz uma pausa literária total?Faço pequenos artigos para jornais ou revistas, quando me solicitam, venho a Ma-cau e virei sempre que me convidarem (risos), Macau eu adoro! Por enquanto é assim que preencho os dias.

O mundo anda muito agi-tado, aumenta o número de refugiados, de carenciados, as pessoas protestam cada vez mais contra os direitos que lhes são retirados, o fos-so entre muito ricos e pobres é tremendo. Os políticos, os decisores, não deviam ser mais cultos, ler mais?Mas quem são os políticos, de onde eles vêm? Muitas vezes vêm exactamente da classe que não lê, vêm do chão.

Mas vir do chão é bom.Sim, é bom, mas os políticos vêm de um chão que não lê. O

que podemos esperar quando assim é?

Faltam políticas de estímulo à leitura?Falta tudo. No caso do meu País, é muito mais grave: para além da falta de política de estímulo à leitura, há falta de circulação do livro cujo preço é muito alto.

Sendo o livro caro, não existindo estímulos à leitura, o que faz quem deseje ler os autores moçambicanos, por exemplo a Paulina Chiziane?Muito simples, pega num livro e vai ali fazer fotocópia...(risos). Fotocópias não do livro todo, mas de partes; eu fico sem jeito para dizer alguma coisa porque os estudantes precisam de ler, mas não têm dinheiro, nem para copiar o livro todo, ficam com umas partes, que é mais grave ainda, é uma dor.

Como autora não protesta?Nunca protestei, mas eu quero protestar! Temos agora um or-ganismo que trata dos direitos autorais. Há campanhas nas rádios, jornais e televisões para mentalizar as pessoas a não utilizar o produto cultural sem autorização e sem pagar os devidos direitos. Daqui até produzir resultados é um grande passo.

Como aprenderam no terre-no aqueles que vivem ou vi-veram em diferentes países de língua oficial portuguesa, há muitas línguas portu-guesas espalhadas pelo mundo. Inclusivamente, em Moçambique há várias línguas portuguesas, o que é uma verdadeira riqueza.Realmente é assim. Nasci em Gaza, vivi na zona de Mapu-to, em Nampula, também na Zambézia. Se há alguma coisa que eu tenho tantas saudades é do português macua, lá do norte, da província de Cabo Delgado. O português macua tem mais charme. Tenho umas histórias muito engraçadas sobre isso (garagalhada). Eu conto, mas sugiro que não escreva. (pausa na entrevista)

(gargalhadas da entrevistada e do entrevistador)

Como sente a Língua Por-tuguesa, uma escritora

com actividade literária em português, cuja língua mãe é o chope que se fala a sul, em quase toda a província de Gaza?Eu fui socializada na língua portuguesa. Há uma infância de chope, depois vou à rua falo ronga, e começo a ser socializada no mundo da cultura em língua portuguesa. Então, não há que gostar, faz parte de mim. Não gostar da língua portuguesa é não gostar de mim mesma. A língua por-tuguesa e eu, acho que somos dois seres indissociáveis, não consigo ver-me de outra maneira.

Quando fala para dentro de si, em que língua o faz?Isso é interessante. Quando me encontro numa ocasião social ou cultural, eu estou na língua portuguesa. Tenho muito mais tempo de contacto com esta língua com que es-tamos os dois a falar, do que com a minha língua materna, o chope. Mas no momento religioso, íntimo, naquele momento de aflição, até mes-mo no momento de prazer, desde que sejam situações de grande intensidade e da minha profunda intimidade, o português não entra.

O que lhe diz Macau que já conhece desde os anos 90 do século passado?De repente parece-me que Macau é o centro do mundo. Chego aqui encontro as pesso-as mais variadas e diferentes. Nestas iniciativas, como a que agora venho, a Rota das Letras, há conferências com pessoas de três ou quatro línguas dife-rentes, isto é uma experiência extraordinária. A ligação, aqui no Oriente, de todos estes povos, é muito enriquecedor, os povos precisam de se cru-zar em algum ponto, até para perspectivar outros sonhos. Em Macau, sendo diferente da China continental, e no caso geral, o Oriente, apesar de tão evoluído, possui mui-tas coisas comuns connosco, Moçambique, que também está no Oriente africano. A ligação destes povos com os mitos, as crenças, muitas vezes me fazem lembrar África. Nos livros chineses que li, verifico que os temas abordados, a forma como tratam os assuntos das suas tradições, fazem-me lembrar as aldeias mais remo-tas da minha terra. É claro que estamos num mundo em que África é muito pobre e a China é muito rica. Podem pensar que as tradições deles são supe-riores às nossas. Não são. Em termos de imaginário, estamos no mesmo pé de igualdade.

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sexta-feira 15.3.2013www.hojemacau.com.mo12

“O Deus do futebol é argentino, e agora também o papa”. Foi desta forma que o futebolista Diego Maradona reagiu à eleição do cardeal Jorge Bergoglio, argentino, como o novo líder da Igreja Católica. O agora Francisco I vem de uma região onde existe maior número de católicos e a atenção de todos está colocada neste homem de 76 anos, até da parte de homossexuais e membros de outras religiões

Andreia Sofia Silva*[email protected]

No Vaticano, o fumo branco saiu na tarde de quarta--feira, pouco passava das 18 horas. À mesma hora,

no Dubai, Diego Maradona, o melhor futebolista de todos os tempos, reagia com euforia à eleição de um novo Papa vindo do seu país. A Argentina acabava de lançar o seu segundo astro ao mundo. “o Deus do futebol é argentino, e agora também o Papa”, disse, citado pela agência Lusa, acrescentando que espera poder vir a encontrar-se com Jorge Bergoglio, à semelhança do que aconteceu nos tempos em que João Paulo II coman-dava os destinos da Igreja Católica, uma “emoção inesquecível”.

Maradona falou a partir do Dubai, onde neste momento trabalha como assessor de empresas organizadoras de espectáculos desportivos, tendo tornado público o seu comentário atra-vés do seu advogado Angelo Pisani.

Depois de semanas de especu-lações e de fumo negro saído da chaminé do Vaticano, em Itália, finalmente saiu fumo branco. A decisão estava tomada.

o conclave, constituído por 115 cardeais, acabava de escolher o car-deal jesuíta Jorge Mário Bergoglio, de 76 anos, como o sucessor de Bento XVI. A partir desse momento, tornou-se Francisco I e o 266º Papa da Igreja Católica.

De imediato falou aos fiéis, que estavam reunidos na Praça de São Pedro, no Vaticano. Pediu “fraterni-dade” na Igreja e disse que vai rezar pelo seu antecessor.

Muitos nomes já tinham sido apontados como eventuais suces-sores, tais como o do cardeal do Gana Peter Turkson. Caso fosse eleito, seria o primeiro Papa negro da história. Contudo, acabaria por

A América Latina, região de onde é oriundo o papa Francisco I, é a que tem mais católicos no mundo, cerca de 28%. Antes desta escolha, muitos acalentavam a esperança de ver eleger um papa de fora da Europa. A América Latina surgia como candidata natural, tendo em conta que tem 48% dos católicos do mundo e uma Igreja com quase cinco séculos de história. Em declarações recentes à agência Lusa, vários religiosos referiram que a América Latina tem um catolicismo muito diferente do europeu. O padre Ramon Casallas, que durante 15 anos foi missionário naquela sub-região, destaca que na América Latina há um “catolicismo muito popular”. “O povo tem uma fé com muitas devoções, a santos, romarias, peregrinações”, exemplificou, considerando positivo

um papa proveniente da América do Sul porque resultaria num catolicismo mais assente nas bases, “mais pela linha dos pobres”. Por seu lado, o bispo de Lamego e presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização, António Couto, destacou o facto de naquela região se viver “um cristianismo a partir das casas, que entra dentro das casas”. “Talvez estejamos a precisar disso aqui na Europa - levar o cristianismo para as famílias - e a América Latina tem-se especializado nesse domínio.” O padre Tony Neves, provincial dos missionários Espiritanos, recordou que a Igreja na América Latina teve um crescimento muito grande durante todo o século XX e o que tinha a crescer já cresceu, ao contrário da igreja africana. “Em contrapartida, está a amadurecer

Jorge Bergoglio, sucessor de Bento XVI, é Francisco I

Um papa que vem do país de Maradona

igreja católica

ser escolhido um jesuíta de 76 anos, o que surpreendeu, por ser um dos velhos do colégio cardinalício. Não foi o primeiro Papa negro, mas será o primeiro Papa latino-americano.

“UM eStilo de vidA SiMpleS”os líderes mundiais elogiaram a eleição do papa, que escolheu o

nome numa homenagem a São Francisco, com o Presidente dos Estados Unidos, Barack obama, a afirmar tratar-se de “um defensor dos pobres e dos mais vulneráveis, que vai continuar a transmitir uma mensagem de amor e de compaixão”.

A presidente da Argentina, Cristi-na Kirchner, desejou ao compatriota

“uma missão pastoral produtiva”. o presidente português, Aníbal Cavaco Silva, saudou o novo papa e lembrou que o cardeal-arcebispo de Buenos Aires é “o pastor de uma vastíssima comunidade, na qual se encontram inúmeros portugueses”.

Em comunicado, o Governo português desejou que o novo pon-

tificado seja de esperança, de paz e de intervenção activa da Igreja Católica nas “grandes questões” actuais.

A Conferência Episcopal Por-tuguesa (CEP) considerou que a escolha de um papa do continente americano mostra a universalidade da Igreja. Quanto ao novo líder dos

América Latina, uma região católica por excelência

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O PaPa vistO de MacauO bispo de Macau considera que o novo Papa vai assumir a missão de renovar a Igreja, como os jesuítas no século XVI, podendo, com o espírito de São Francisco de Assis, promover uma amizade com a China. “Pensamos que este papa seria, pelo seu carácter e virtudes, um bom promotor desta unidade, amizade e fraternidade com a China”, disse o bispo José Lai à agência Lusa.As relações entre a China e a Santa Sé estão cortadas desde a tomada do poder pelo Partido Comunista Chinês (PCC), em 1949, por o Vaticano manter relações diplomáticas com Taiwan, que Pequim considera uma província da China, além de não reconhecer a Igreja Católica Patriótica Chinesa. Macau e Hong Kong são os únicos locais na China onde a autoridade papal na Igreja Católica Romana é aceite.O argentino Jorge Mario Bergoglio, o novo papa Francisco, é o primeiro

Sumo Pontífice jesuíta, o que leva o bispo de Macau a acreditar que a escolha prende-se com a necessidade de renovação da Igreja. “Talvez o espírito santo tenha chamado agora um papa jesuíta para fazer outra obra como a da Companhia de Jesus, no século XVI”, disse, acrescentando que Bergoglio “deve saber que muitos jesuítas entraram e fizeram muito boas obras na China”. Já o padre jesuíta Luís Sequeira destacou a dupla novidade da eleição do primeiro papa da Companhia de Jesus e da América Latina, num momento de necessidade “de criatividade e dinamismo apostólico na igreja”. “Deixou-me surpreso ser um companheiro meu, jesuíta, porque é a primeira vez que um jesuíta é eleito papa, mas por outro lado, não é tão surpresa, pelo facto de eu sentir a inclinação de que viesse um papa da América Latina”, disse à agência Lusa,

destacando que, “depois do [Concílio] Vaticano II, esta parte do mundo assumiu de uma maneira muito forte uma orientação para a simplicidade de vida dos pobres”. “Ele não é conhecido, mas é um homem que já chamava a atenção. Por exemplo, terá renunciado a viver no palácio episcopal e vivia num apartamento mais pobre. Com frequência o viam a apanhar o autocarro. E, ao mesmo tempo, também é filho de um operário e creio que encarna muito da dimensão e simplicidade de vida que provavelmente a igreja está a precisar”, acrescentou. Para o padre Luís Sequeira, a escolha do nome Francisco também “identifica a personalidade e visão de vida” do novo papa, já que Francisco de Assis “é o santo da simplicidade, da fraternidade, e inclusive da ecologia, e fez uma grande transformação na igreja no século XIII”.

13sexta-feira 15.3.2013 www.hojemacau.com.mo

muito”, disse, admitindo que o rápido crescimento daquela Igreja tenha facilitado a entrada de algumas seitas. O missionário Ramon Casallas sublinhou também que a América Latina “já tem uma tradição católica de praticamente cinco séculos”, o que seria uma vantagem face à Igreja africana, que tem “um cristianismo muito jovem, de 150 anos”. Segundo o anuário pontifício divulgado em 2012 por Bento XVI, a África e a Ásia/Pacífico foram as únicas regiões onde aumentou a percentagem de católicos no total das populações face ao ano anterior. Na América do Sul, a proporção caiu de 28,54 para 28,34% e na Europa baixou de 24,05% para 23,83 %, enquanto na África aumentou de 15,15% para 15,55% e no sudeste da Ásia passou de 10,41% para 10,87%.

Jorge Bergoglio, sucessor de Bento XVI, é Francisco I

Um papa que vem do país de MaradonaAnglicanos, Justin Welby, disse esperar “caminhar e trabalhar em conjunto para edificar o legado con-sistente dos predecessores”.

O presidente de Cuba, Raúl Castro, felicitou o cardeal argentino, emitindo ainda um “testemunho” da mais elevada e distinta consi-deração pelo facto de ser um papa

“da Companhia de Jesus” a liderar a Igreja católica.

Já o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirmou que a escolha dos 115 cardeais na capela Sistina “tinha alargado a perspectiva da Igreja” e elogiou a coragem de “atravessarem o Oceano”.

Um especialista em questões re-ligiosas no jornal Clarin, de Buenos Aires, afirmou que, como João Paulo II, Bergoglio é “um conservador a nível da doutrina, mas progressista nas questões sociais”.

A Companhia de Jesus em Espanha assegurou que o novo papa Francisco sempre manteve um estilo de vida “simples” e com “grande preocupação social”. Esta eleição também foi vista como o reconhecimento do crescimento da fé católica na América Latina, que tem o maior número de católicos no mundo, em contraste com o declínio do catolicismo na Europa, o bastião tradicional.

ExpEctativas ElEvadasSe o mundo católico espera que Fran-cisco I continue o trabalho dos seus antecessores, outros grupos mostram maior “desalento” por esta escolha.

Umas das opiniões menos positi-vas foi apresentada pela Associação Rumos Novos – Homossexuais Ca-tólicos. “Neste momento de alegria para todos nós católicos, não podemos deixar de partilhar o nosso profundo desalento pela escolha do cardeal argentino Jorge Bergoglio para papa. Enquanto homossexuais católicos, não nos podemos esquecer das inúmeras posições públicas e no seio da igreja do cardeal Bergoglio”, afirmaram em comunicado citado pela Lusa.

Os homossexuais católicos recor-dam que o novo papa, Francisco I, se referiu ao casamento entre pessoas do mesmo sexo como sendo “um plano de Satanás para enganar os filhos de Deus” e às pretensões dos fiéis homossexuais católicos como a “destruição do plano de Deus”.

Já o líder religioso da comuni-dade islâmica em Portugal, Sheik Munir, espera que Francisco I impul-sione o diálogo inter-religioso, mas admitiu que tinha a expectativa que o novo papa fosse africano, porque poderia criar mais diálogo entre muçulmanos e católicos.

Face a este ponto, Sheik Munir disse que as expectativas da comuni-dade muçulmana “são bem claras” em relação ao novo papa dos católicos. “Esperamos que o espírito do diálo-go inter-religioso se mantenha, que a abertura que os anteriores papas tiveram se mantenha, e desejamos que sua santidade tenha sucesso, que tudo lhe corra bem e seja abençoado por Deus”, desejou o líder muçulmano.

Sheik Munir admitiu que a esco-lha do cardeal arcebispo argentino foi uma surpresa, já que tinha alguma expectativa que o novo papa fosse africano. “Provavelmente, um papa africano poderia criar mais diálogo entre muçulmanos e cristãos em África.” - *com Lusa

América Latina, uma região católica por excelência

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mac

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sexta-feira 15.3.2013rota das letras14 www.hojemacau.com.mo

Rita Marques [email protected]

No meio de “uma ce-nografia que não tem significado cultural”, como denomina os

hotéis-casino no COTAI, Mauro Munhoz falou ao Hoje Macau e a à Rádio Macau da maneira desregulada como os prédios se sobrepõem em Macau em função do lucro dos casinos. “Um vazio, uma casca, uma forma sem alma” é como Macau se está a tornar a nível urbanístico num momento em que não olha para as dife-rentes dimensões da evolução de Macau, explica o responsável pelo projecto de requalificação urbano e cultural de Paraty, no Brasil, e director-geral da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP). Mas o convidado para o Rota das Letras expressa optimismo: “As outras dimensões da sociedade vão exigir estar na produção do território.”

O Mauro é arquitecto. Como se proporcionou esta entrada no mundo literário?A arquitectura é uma das artes. Acho que existe uma coisa muito importante da integração entre as artes. Acho que todas as artes têm de estar muito sintonizadas porque os desafios são os mesmos. Eu me envolvi com um projecto de qualificação urbana em Paraty e esse projecto tinha os mesmos obstáculos que se ponham para você desenvolver a arquitectura, a pintura, a literatura, a música. Para que pudéssemos trazer para moradores e visitantes, uma experiência em que o resultado pudesse ser compreendido de uma maneira prática e implementada, a gente teve de sair da arquitectura e urbanismo, que tem esses ciclos longos de vinte anos. A gente teve de ir para a área de produção cultural que tem ciclos curtos de um ano. Mas tem a mesma filo-sofia. O mesmo pensamento está gerando esses dois projectos. Se o evento literário dá visibilidade e traz resultados imediatos, ele dá visibilidade para essa onda mais profunda e demorada que é a área do território e da infra-estrutura urbana do território. Por outro lado, essa ligação dá densidade e pro-fundidade para o evento literário. Então é um casamento perfeito.

Como vê o urbanismo por toda a Macau?Acho que é um grande risco esse modelo que Macau está seguindo. Porque a gente observa na hora que a gente vê esse desenvolvimento que é muito mono direccionado. E esse tipo de coisas vemos pela experiência internacional e ao lon-go dos séculos que não traz coisas muito boas. A hora que a gente pensa a evolução do território, você tem que analisar dimensões mais

Mauro Munhoz, arquitecto e director-geral da FLIP, analisa o desenvolvimento urbanístico da cidade

“Acho que é um grande risco esse modelo que Macau está seguindo”

diversificadas. O que está dando as directrizes em Macau é uma linha muito monodireccional e esse tipo de coisas não cria cidades boas.

Está-se a relegar a arquitectura menos ficcional e mais artifi-cial? Está a pôr-se um travão na evolução urbanística natural da cidade?Qualquer coisa que você for fazer tem uma atitude que é muito im-portante. Você tem que tomar muito cuidado de não achar as soluções fáceis. As primeiras ideias que vêm à mente. Você tem que investir e entender o problema de uma ma-neira mais profunda. É como se fosse uma receita que você tem de usar mais ingredientes. Você tem

que ser capaz de entender uma porção maior das questões que estão subjacentes nesse problema ou território. E quando você decide por soluções que levem em conta só uma dimensão, esse território não vai ser sustentável. Não vai resolver.

Observando de uma forma crua e limitada, em termos de dias no território, nesta primeira visita como é que vê o futuro de Macau?As outras dimensões dessa so-ciedade e dessa cultura, elas vão emergir e vão exigir a respeito a elas. E vão exigir que estejam in-cluídas na produção do território. Foi sempre assim na história. E aqui vai ser igual.

Ouvimos agora, antes desta entre-vista, a possibilidade de ser criado um festival literário juntando ar-tistas de Brasil e Macau, além de públicos diversos. Como se podem captar públicos tão distintos?Como é que se forma o público para esse festival? Acho que essa

é a pergunta mais importante. É realmente uma questão que não é fácil de ser respondida mas acho que precisa de se analisar um pouco. Tem de se começar uma conversa com os vários grupos, os públicos possíveis. Os colecti-vos têm voz. Qualquer grupo está constantemente manifestando a sua cultura. Quem está escutando essa manifestação? Como é que se escuta essa manifestação desse público potencial que esse evento cultural pode ter. Como se ouve esse colectivo? Essas são as per-guntas que têm de ser feitas?

Ou seja, perceber se este é um público mais interessado na vertente literária ou noutras exposições culturais - música, cinema, por exemplo - que se relacionam com a literatura?Eu acho que para construir esse público será necessário dissolver a fronteira entre o erudito e o popular. É importante que se possa fazer um projecto cultural que converse com todos os grupos. A música acredito que seja interessante na integração de um público mais diferenciado.

A ideia será criar um pólo in-ternacional, captando públicos mais orientais?Sim, daí que a imprensa e, prin-cipalmente, a rádio têm um papel importante que é começar com experiências mais permanentes e mais baratas, com realização

acho que é um grande risco esse modelo que macau está seguindo. Porque a gente observa na hora que a gente vê esse desenvolvimento que é muito mono direccionado.

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15sexta-feira 15.3.2013 www.hojemacau.com.mo

Culturalmente acho que a gente tem uma certa miopia, todos nós: chineses, portugueses, brasileiros. E ingleses, também. A dimensão económica historicamente teve uma preponderância muito grande. E isto não é uma coisa universal. Mas nem sempre foi assim. Acho que a dimensão cultural tem uma importância tão grande como a económica. Mas está convencio-nado que a cultura é uma questão subsidiária, menos importante. Eu não acredito nisso. Acho que é igualmente importante.

Há um debate que tem sido travado ao longo deste festival, que é a dicotomia entre consumo

cultural e cultura enquanto co-nhecimento. Como se posiciona?É preciso separar o que é produto cultural e manifestação cultural. Esse é um dos problemas de quan-do você tem uma visão de mundo com a economia de maneira arti-ficialmente sobrevalorizada aonde você só vê o resultado. Você só vê o produto cultural e você faz todas as operações através dessa leitura. Se você faz isso, as manifestações culturais. O que é? É aquilo que se produz da base par ao topo. E isso está para todo o mundo. Até se existisse um imperador para todo mundo, ele também tem manifesta-ções culturais. Acho que valorizar essa dimensão da manifestação

cultural é essencial para que o produto cultural tenha qualidade.

Este seria um produto mais vocacionado para massas e não de elite?Certamente. Acho que isso é de-sejável. é muito importante que a gente tenha uma acção que seja democrática e aberta. Mas o que estou falando, ela sufoca o próprio produto cultural de elite.

Do pouco que conheceu Macau até ao momento, vendo este cenário e pressão do dinheiro, continua a ser optimista?Continuo. Evidente que antes de vir a Macau a gente sabia pela imprensa e internet que era isso que acontecia em Macau. Me surpreendeu a quantidade de manifestação cultural que eu vi em Macau. Na hora que você vai para os bairros comerciais, os bazares chineses ou mesmo tudo isso que está acontecendo no

festival literário, tantas pessoas de língua portuguesa pensando estas relações de maneira mais apro-fundada e interessante. Como o próprio património de pedra e cal que ainda existe em Macau. Quer dizer, a minha impressão foi assim um pouco: “puxa vida, até que não se destruiu assim tanto”.

Há pouco falou das questões he-gemónicas e à mesa [de almoço do Rota das Letras] disse-nos que devíamos trabalhar como uma equipa no mundo lusófono. Como é que seria essa parceria?Quando a gente fala da dimensão cultural, a autoridade é o mais importante. A cultura só existe quando há troca entre eu e o ou-tro. O outro tem uma importância muito grande. Então acho que é nesse sentido que a gente fala de time. O que é o time? A gente só vai construir alguma coisa que faça sentido, só vai ganhar o jogo, se a gente tiver a capacidade de ser cria-tivo e podermos inventar alguma coisa. Mas a partir da questão de ler e perceber quem está ao nosso lado. Não existem bons escritores. Existem pessoas que aprenderam a ler com qualidade. E elas leram outros escritores. O outro, que às vezes é de uma outra época, de um século que já passou. E esse escritor que escreveu muito bem no século passado. Escreveu muito bem porque leu outros escritores que precederam. Então a cultura, ela está sempre relacionada com a possibilidade de você desenvolver uma sensibilidade para interpretar o outro. E o outro enxerga outras coisas. Diversifica o repertório. Você passa a enxergar os objectos como quem possa dar uma volta de 360º em volta dele. Enxergar a mesma coisa através de lentes diferentes. A cultura só se resolve nesse espírito de time.

Falou-se muito dos projectos culturais e educativos a nível de rede de bibliotecas, nomea-damente no Brasil. Entre países lusófonos, poderia ser dada essa ajuda a países onde o livro não chegou à maioria da população, como em Angola e Moçambique?Acho que esse é um projecto muito interessante entre os países de lín-gua portuguesa. Tem muito para ser feito. Está muito embrionário. Do pouquinho que se investe nisso, é surpreendente o retorno. Do ponto de vista institucional, Angola e Moçambique talvez não tenham tido oportunidade de empreender projectos dessa dimensão mas projectos com qualidade, que não seja uma coisa para inglês ver. Não importa o tamanho do projecto, pode ser extremamente pequeno, localizado numa única escola pú-blica de uma cidadezinha pequena. Se você vai lá e faz um projecto que seja verdadeiramente consistente na área de incentivo à leitura, é impressionante o resultado que dá.

imediata. E que se comecem essas experiências agora para que daqui a dois anos se realize um festival que tenha público. O maior desafio é a formação do público chinês para esta festa porque mesmo em Macau este festival precisa atrair a população chinesa. Tem de estar interessada nesse evento cultural.

De que forma se poderia captar a atenção deste público para a cultura lusófona?Fiquei imaginando... Eu acho que a cultura portuguesa tem experiências que foram acumuladas ao fim destes cinco últimos séculos são extrema-mente valiosas. As pessoas só se envolvem ou aprendem coisas que elas têm necessidade, de que têm desejo. Então isso talvez seja uma chave. O que é que a cultura portu-guesa pode oferecer para os chineses de Macau? Eu acredito que tenha muita coisa. Vai ser é um grande desafio o problema da linguagem. Talvez as novos média - a internet, a música, a própria tecnologia - talvez sejam meios onde se possa criar uma comunicação com esses grupos.

Como tem sido esta visita ao último lugar - mais distante e mais duradouro - do império português ultramarino? Como é saber que a língua ainda aqui permanece?É uma coisa sensacional. Acho que a língua portuguesa pode ser a partir de agora. O que é que pode ter de valor no sentido de voc~e preservar? Qual a importância? Acho que é justamente é o que tem plasmado nessa cultura, de todas as experiências e de integração dessas diferentes culturas. O facto dos portugueses terem saído e terem estabelecido todas essas relações geográficas e históricas ao longo desses cinco séculos acho que traz para a língua portuguesa, um repertório e uma riqueza que hoje passa a ter uma importância muito grande do ponto de vista cultural.

Como vê a lógica de hegemonia do português no espaço da lu-sofonia?Acho que os portugueses são extre-mamente interessantes. Ao longo de toda essa época o português estabeleceu relações culturais, económicas, de hegemonia muito singulares em todos os lugares. Nós somos um produto interessantíssi-mo dessa experiência portuguesa. O Brasil foi muito singular porque os portugueses, singulares que são, decidiram em determinado momento mudar a própria coroa. O próprio poder monárquico em 1808 foi para o Brasil. Acho que é a única monarquia que se estabeleceu num território americano. Acho que esta experiência foi muito pouco compreendida.

Como é que a lógica económica pode ser superada nas questões hegemónicas?

Culturalmente acho que a gente tem uma certa miopia, todos nós: chineses, portugueses, brasileiros. E ingleses, também. A dimensão económica historicamente teve uma preponderância muito grande. E isto não é uma coisa universal.

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sexta-feira 15.3.2013rota das letras16 www.hojemacau.com.mo

Rita Marques [email protected]

Augusto Rodrigues, director de comuni-cação empresarial da CPFL Energia, é a cara

à frente do CPFL Cultura, um programa de debates, exposições, cinema e performances teatrais que nasceu em 2003 em Campinas mas expandiu-se para outras seis cidades brasileiras. A empresa que patro-cinou esta ideia também ajudou financeiramente a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP). Por essa razão, veio até Macau, no âmbito da Rota das Letras, e ganhou aqui uma nova visão: criar um género de festival literário entre o Brasil e Macau. Para tal, diz, já entrou em conversações com o Instituto Cultural (IC). “seria um único programa de três, quatro ou cinco dias na cidade de são Paulo e Macau. Começámos a conversar so-bre isso ontem [terça-feira com Yao Jing Ming] e quer dizer, pensamos em três frentes. Trazer para cá cinco ou seis ou sete jovens ficcionistas brasileiros e poetas brasileiros. (...) uma frente na música popular, quem está hoje dando as cartas na música popular brasileira. Em terceiro lugar, cineastas brasileiros. Então trazer um festival de cinema

InsERIdA no festival Rota das Letras, mas

num registo um pouco diferente. É assim que se pode apresentar a expo-sição “Beyond Words” (Além das Palavras), que abriu ontem ao público no edifício do antigo tribu-nal, na avenida da Praia grande. Ao todo são 23 trabalhos de um punhado de mais de 20 artistas. A

novidade é o ponto princi-pal desta iniciativa, como contou ao Hoje Macau a curadora da exposição, Alice Kok.

“todos eles são tra-balhos novos, que nunca foram expostos em Ma-cau antes. Este é um dos pontos especiais nesta exposição. E é também um dos pontos mais de-safiantes, porque tivemos

de criar, para além do tema das palavras, que todos os artistas tivessem a sua própria identidade em termos de ferramentas e da arte. Aqui temos o lado direito e esquerdo, e no esquerdo temos mais pinturas e instalações silenciosas. do lado di-reito temos mais vídeos e fotografias, bem como esculturas e instalações

com mais ruído”, conta, enquanto aponta para os corredores.

da paleta de artistas constam nomes chineses e portugueses, como é o caso de Rui Rasquinho, ilustra-dor. Mas também lá estão Yunni Cláudia Dan ou Kei Wong, que o ano passado lançou o seu primeiro livro de fotografias.

Esses, refere Alice

Kok, “não são completa-mente iniciantes”.

“Queria mostrar algo novo porque Macau é um lugar muito pequeno. Vamos às exposições e conhecemos o grupo de artistas, são quase sempre os mesmos, e fazem trabalhos muito semelhantes. desta vez eu decidi tentar encontrar jo-vens artistas que pudessem fazer algo novo.” - A.S.S.

Festival Literário Macau-Brasil pensado entre Augusto Rodrigues e Yao Jing Ming

A cultura a cruzar oceanosAinda não tem formas mas algumas alavancas. Na cabeça de Augusto Rodrigues, responsável pela instituição CPFL Cultura, surge um novo projecto de dinâmica cultural que junta Brasil e Macau. A ideia agradou a Yao Jing Ming, vice-presidente do Instituto Cutural (IC). Por isso, agora pensa-se de que forma pode crescer com o apoio de Governo ou, eventualmente, de empresas brasileiras e chinesas

Exposição está patente no edifício do antigo tribunal

“Além das Palavras”, a arte

brasileiro. A mesma de cá. Cineastas chineses e de Macau, ficcionistas e poetas e depois a música”, explica o empresário, ontem num almoço proporcionado pela organização do Rota das Letras.

Por meio de Yao Jing Ming, o Instituto Cultural mostra-se dis-ponível. Mas a ideia, acrescenta Augusto Rodrigues, é ter o apoio do governo, local e central. E, de outro modo, do governo brasileiro. “o Instituto que presido acho que tem capacidade para organizar isso.

do ponto de vista operativo, seria Instituto Cultural e Instituto CPFL. Com a promoção da secretaria de Cultura do Estado de são Paulo e de Macau”, explica. “Mas a gente vê como muito importante a par-ticipação da China e do governo chinês. Então talvez a embaixada da China pudesse colocar em Pe-quim, não tenho certeza.”

Caso não haja um apoio total institucional, Augusto Rodrigues pensa já noutras soluções de finan-ciamento. “Feito o projecto se o

governo tem condições de manter OK. Se há necessidade de buscar patrocínios, tem de buscar grandes empresas que têm interesses nesse tipo de cooperação. no caso do Brasil a minha empresa é pequena mas a Petrobras, por exemplo, patrocina tudo. Eu digo que tenho 20 milhões de reais para gastar, a Petrobras tem 500”, garante.

O desafio, explica, é “incorporar a meninada” neste projecto. Interessar a novos públicos, mais jovens, por todo o mundo mas, especificamente,

chineses, brasileiros e lusofonia. Mauro Munhoz, director-geral da FLIP, complementa a ideia com uma mensagem que já é passada no Brasil através do Café Filosófico CPFL, com transmissão na tV Cultura. “É importante para isso um financiamento para um programa permanente. o importante é que nos 365 dias antes do dia do evento se faça um programa permanente. Preparar as crianças e adolescentes chineses para poderem fruírem os programas desses dias literários.”

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17sexta-feira 15.3.2013 www.hojemacau.com.mo cultura

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A aparição de Mi-chelle Obama, em transmissão via satélite, para

anunciar Argo como Melhor Filme na última cerimónia dos Óscares, em Fevereiro, não foi vista simplesmente com surpresa pelos espec-tadores e com desconfiança pelos americanos que se opõem a Barack Obama. A presença da primeira-dama distinguindo o filme de Ben Affleck, que romanceia a história de uma missão da CIA incumbida do salva-mento de seis diplomatas americanos durante a cha-mada “crise dos reféns”, em Teerão, ano 1979, terá sido, para as autoridades iranianas, a gota de água.

Terça-feira, ficámos a

O ex-ministro das Obras Públicas Mário Lino vai estar novamente na ribalta,

mas desta vez a representar e a cantar, também no papel de engenheiro, numa peça de teatro que tem estreia marcada para sexta-feira, em Cascais. Esta não é a primeira vez que antigo ministro do Governo socialista de José Sócrates sobe aos palcos, já que a veia da representação e a experiência em teatro surgiram ainda nos tempos do liceu.

Nada do Outro Mundo é o nome da peça que vai estar em cena no Teatro Maria Helena Torrado, mas é também a forma como Mário Lino encara o novo desafio. “É preciso que a pessoa sinta interesse e se sinta à vontade em fazê-lo”, afirmou o ex-governante à agência Lusa, depois de um ensaio da peça para os jornalistas.

Igual a si próprio, a personagem que Mário Lino interpreta é um engenheiro civil que vai fazer a manutenção e vistoria das obras numa ponte, onde se centra toda a ação da peça. Além de representar, Mário Lino vai também cantar, uma tarefa mais difícil, mas que não o assustou. “Cantar tem mais dificuldade, porque obriga a estar certo no tom e no ritmo, mas faz-se”, disse

Decorar a letra da música foi outra grande dificuldade, o que não acontece-ria se tivesse de cantar a Grândola Vila Morena. “Lá isso é verdade. Aqui tive de aprender e decorar nove estrofes, foi mais complicado”, assentiu, entre risos. O antigo ministro considera ainda que “a

política e o teatro não são comparáveis” e que “cada um tem a sua dificuldade e requer empenho”.

Encenada por Paulo Matos, que também representa a personagem principal, com Vítor Emanuel, Nada do Outro Mundo é constituída por duas peças - O Suicida e O Segurança -, ligadas por uma mudança de ambiente cenográfico, coreografada e diri-gida pelo engenheiro de obras Mário Lino.

O conjunto resulta de uma adaptação livre de Paulo Matos das duas obras do drama-turgo francês Guy Foissy, que se distinguiu pelo humor negro. A ideia de convidar o ex-ministro das Obras Públicas, para fazer uma personagem igual a si mesmo, surgiu pelo desejo manifestado por Mário Lino de regressar aos palcos. “O engenheiro traz a realidade dos nossos dias para dentro de cena”, afirmou Paulo Matos, que disse ainda estar a ser “muito divertido e um verdadeiro prazer” trabalhar com Mário Lino.

Nada do Outro Mundo vai estar em cena nos dias 15,16,17, 22,23,24 de Março, no Teatro Maria Helena Torrado, em Cascais.

Peça vai estar em cenano Teatro maria Helena Torrado, em Cascais.

Ex-ministro Mário Lino sobe ao palco

Segundo o regime iraniano, Argo descreve os iranianos como “irracionais, dementes e diabólicos”

irão quer processar Hollywoodsaber que o Irão tenciona processar realizadores e pro-dutores de Hollywood que acusa de distorcer de forma discriminatória a imagem do país e seus habitantes. E, num desenvolvimento com o seu quê de hollywoodesco, o processo foi entregue pelo regime iraniano a Isabelle Countant-Peyre, advogada francesa casada desde 2001 com Ilich Ramirez Sánchez, que o mundo conhece como Carlos, “o Chacal”, o terro-rista que desde 1975 cumpre pena de prisão perpétua em França pelo assassinato de dois polícias e um in-formador. “Irei defender o Irão contra filmes que têm sido feitos por Hollywood para distorcer a imagem do país, como Argo”, afirmou

a advogada, convertida ao Islão pouco antes do seu ca-samento, citada pela agência noticiosa iraniana Isna.

Isabelle Countant-Peyre falava durante uma confe-rência realizada no Cine-ma Palestina, em Teerão, segunda-feira. Foi orga-nizada pelo Ministério da Cultura e Orientação Islâ-mica do Irão sob o título O Embuste de Hollywood. “Argo foi feito por três produtores de Hollywood e a República Islâmica do Irão vai processar todos os que estejam activos no exer-cício anti-Irão, incluindo realizadores e produtores”, afirmou o secretário-geral da conferência, Mohammad Lesani, citado pelo agência iraniana Mehr. A CNN citava

terça-feira as objecções das autoridades de Teerão a Argo: “O filme ‘iranófobo’ americano tenta descrever os iranianos como descontrola-dos, irracionais, dementes e diabólicos, enquanto, por outro lado, os agentes da CIA são representados como heroicamente patriotas”.

O filme, que não foi exibido comercialmente no país mas foi visto pelos representantes do regime em algumas sessões privadas (e pelos cidadãos que tenham comprado as cópias-piratas em circulação por todo o território), representa, se-gundo aqueles, “um ataque propagandístico contra a nação e contra toda a Huma-nidade”. Em declarações ao Guardian, Omid Memarian, jornalista residente em Nova Iorque que tem desenvolvi-do trabalhos sobre o cinema iraniano, afirma que “o facto de Michelle Obama ter en-tregado o Óscar aumentou as suspeitas [do regime] do envolvimento de políticos na criação de filmes deste tipo, que considera anti-Irão ou, mais precisamente, anti--república islâmica”.

Hollywood já estava há muito na mira do Governo de Mahmoud Ahmadinejad. Em 2009, o regime exortou um grupo de realizadores e actores americanos de visita a Teerão, no qual que se encontrava, por exemplo, Annette Benning, a pedir desculpa por obras alega-damente insultuosas como 300, filme inspirado na BD de Frank Miller que narra a batalha, em 480 a.C., entre os espartanos liderados por Leónidas e os persas guiados pelo rei Xerxes. 300 é visto como um insulto à memória histórica da nação, pela for-ma como são representados os persas. Para além dele, também O Wrestler, o filme do renascimento de Mickey Rourke, é considerado uma afronta ao Irão, neste caso pela presença de um lutador que sobe ao ringue como “O Ayatola”.

Recuando mais no tem-po, encontramos ainda Rap-to em Teerão, estreado em 1991 e cuja narrativa, a de uma americana casada com um iraniano, que sofre todo o tipo de violência e discrimi-nações quando emigra para

o país do marido, também provoca incómodo às auto-ridades iranianas. “Fazendo pouco das tradições e costu-mes iranianos, o filme retrata um casal que vive feliz nos Estados Unidos. Assim que viaja para o Irão, o marido transforma-se inesperada-mente de um homem bem formado e muitíssimo culto num animal rústico que força a mulher a ficar no país”, lia-se terça-feira no site da Press TV, canal noticioso iraniano de língua inglesa, detido pelo Estado.

Para Isabelle Coutant--Pierre, tais filmes mostram como “Hollywood está a usar o cinema para propagar o pânico global relativa-mente ao Irão”. Cita-a a agência noticiosa Fars: “O acto de interpor um processo judicial é em si importante, porque pode fomentar o interesse e a discussão entre os povos do mundo, até que possam distinguir entre o que é verdade e o que são mentiras. O diálogo criado por Hollywood não pode ter apenas um sentido.”

Mesmo antes do proces-so judicial, o Irão já estava a preparar uma contra-ofensi-va, usando as mesmas armas de Hollywood. The General Staff é anunciado pela Press TV como a resposta a Argo. Contará a história de 20 re-féns americanos entregues aos Estados Unidos pelos re-volucionários iranianos, em 1979. Será financiado pelo Estado iraniano e realizado por Ataollah Salmanian. Entrará na fase de produção em 2014.

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sexta-feira 15.3.2013vida18

A partícula que o CERN anunciou ter encon-trado a 4 de Julho de 2012 está a ganhar

cada vez mais definição aos olhos dos cientistas do Labora-tório Europeu de Física de Par-tículas. Todos os dados apontam para que seja, de facto, o bosão de Higgs teorizado no Modelo Padrão – a partícula subatómi-ca responsável por dar massa a todas as outras partículas –, anuncia um comunicado publi-cado nesta quinta-feira.

Rolf Heuer, director-geral do CERN, explicou o que se passava aquando o anúncio da descoberta, no ano passado. “É como se ti-véssemos acabado de avistar uma pessoa ao longe”, salientou Heuer em Julho. “Para sabermos se é o nosso melhor amigo ou o seu gé-meo, vamos ter de nos aproximar.”

Na altura, o CMS e o ATLAS

NASA afirma que o planeta Marte já foi propício à vida A amostra de solo marciano, recolhida pelo Curiosity no passado mês de Fevereiro, contém enxofre, azoto, hidrogénio, oxigénio, fósforo e carbono – alguns dos ingredientes indispensáveis à vida –, anunciou a agência espacial norte-americana NASA em comunicado. “A pergunta fundamental nesta missão é a de saber se Marte poderá ter possuído um ambiente habitável”, disse Michael Meyer, responsável científico pelo programa de exploração de Marte da NASA, citado pelo mesmo documento. “E pelo que sabemos agora, a resposta é sim”. A amostra analisada provém de um veio de rocha sedimentar de grãos finos, de cor cinzenta, que contrasta com a rocha avermelhada da paisagem marciana. Foi recolhida perto do antigo leito de um rio, na cratera Gale, e agora analisada por dois equipamentos do Curiosity: o instrumento de química e mineralogia e o instrumento de análise de amostras de Marte. “O leque de ingredientes químicos que identificámos na amostra é impressionante e sugere associações, por exemplo de sulfatos e sulfuretos, que indicam uma potencial fonte de energia para microrganismos”, disse por seu lado Paul Mahaffy, responsável da NASA pelos instrumentos de recolhas de amostras do robô. Quanto a John Grotzinger, cientista da NASA e do Instituto de Tecnologia da Califórnia, acrescenta: “Caracterizámos um muito antigo, mas curiosamente novo, ‘Marte cinzento’, onde as condições foram em tempos favoráveis à vida”.

AVISOCOBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL

www.hojemacau.com.mo

CERN Experiências estão paradas até, pelo menos, final de 2014

Convencidos de terem encontrado o bosão de Higgs

duas equipas a acontecer em Genebra.

Uma característica do bosão de Higgs postulada pelo Mode-lo Padrão é ser uma partícula escalar, ou seja, não gira sobre si própria. Outra é ter uma paridade positiva. Estas duas características têm vindo a ser testadas e comprovadas com os dados obtidos nos últimos dois anos. Além disso, as interacções observadas entre a nova partícula descoberta e as outras partículas também indicam que é o bosão de Higgs do Modelo Padrão.

As equipas vão continuar a analisar os dados para estudar melhor a partícula encontrada em 2012. As experiências no grande acelerador de partículas estão, para já, interditas. O LHC fechou para obras em Fevereiro e só irá reabrir no final de 2014 ou no início de 2015.

– as duas experiências feitas por equipas independentes que pro-curavam pelo bosão de Higgs utilizando o LHC, o maior ace-lerador de partículas do mundo

– descobriram uma partícula com uma massa de cerca de 125 GeV (gigaelectrão-volts), que parecia apresentar o com-portamento do bosão de Higgs.

Desde aí, as duas equipas continuaram a analisar dados. Questionava-se se a partícula encontrada era, de facto, o bosão de Higgs ou um tipo de bosão de Higgs que poderia abrir portas para outro tipo de física que es-tava para lá do Modelo Padrão. “Os resultados preliminares com a informação completa do ano de 2012 são magníficos e para mim é claro que estamos a lidar com o bosão de Higgs, apesar de ainda termos um longo caminho para sabermos que tipo de bosão de Higgs se trata”, diz Joe Incandela, responsável máximo pela experiência CMS, num comunicado do CERN, após uma reunião entre as

1. Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, encontra-se terminado, e, que de acordo com o artigo 3.º da Lei n.º 8/91/M de 29 de Julho, conjugado com o artigo 2.º e o artigo 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que, deverão os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes.

Localização dos terrenos:- Avenida de Venceslau de Morais, n.os 1 a 7K, Rua Um do Bairro da Areia Preta, n.ºs 1 a 54, Rua

Dois do Bairro da Areia Preta, n.ºs 2 a 50, Rua Quatro do Bairro da Areia Preta, n.ºs 34 a 42, Rua Cinco do Bairro da Areia Preta, n.ºs 36 a 36B e Rua Sete do Bairro da Areia Preta, n.ºs 6 a 10A, em Macau, (Edifício Kam Heng);

- Rua Dois do Bairro da Areia Preta, n.ºs 1 a 39, Rua Três do Bairro da Areia Preta, n.ºs 2 a 40, Rua Sete do Bairro da Areia Preta, n.ºs 12 a 28D, Rua Quatro do Bairro da Areia Preta, n.ºs 2 a 28 e Estrada Marginal do Hipódromo, n.ºs 30 a 36 A, em Macau, (Edifício Man Lei Lau);

- Estrada Marginal do Hipódromo, n.ºs 56 a 68, em Macau, (Edifício Industrial Lei Cheong);- Rua Dois do Bairro da Areia Preta, n.ºs 41 a 67, Rua Quatro do Bairro da Areia Preta, n.ºs 1 a 27,

Rua Três do Bairro da Areia Preta, n.ºs 39 a 68, Rua Cinco do Bairro da Areia Preta, n.ºs 2 a 28 e Estrada Marginal do Hipódromo, n.ºs 36B a 52, em Macau, (Edifício San Mei On);

- Rua Um do Bairro da Areia Preta, n.ºs 49 a 75, Rua Dois do Bairro da Areia Preta, n.ºs 52 a 76, Rua Quatro do Bairro da Areia Preta, n.ºs 29 a 33 e Rua Cinco do Bairro da Areia Preta, n.ºs 30 a 34, em Macau, (Edifício Man Fung Lau);

- Rua Cinco do Bairro da Areia Preta, n.ºs 1 a 1 A e Estrada Marginal do Hipódromo, n.º 54, em Macau, (Edifício Industrial Man Fung);

- Rua Seis do Bairro da Areia Preta, n.ºs 7 a 13, em Macau, (Edifício Industrial Veng Cheong);- Rua Seis do Bairro da Areia Preta, n.º 25 e Estrada Marginal do Hipódromo, n.º 138, em Macau;- Estrada Marginal do Hipódromo, n.ºs 70 a 76, em Macau, (Edifício Fu Po Garden);- Rua Seis do Bairro da Areia Preta, n.ºs 18 a 22, em Macau, (Edifício Industrial Hap Si).

2. Agradecemos aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam ao Núcleo da Contribuição Predial e Renda, situado no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Atendimento da Taipa, para levantamento da guia de pagamento M/B, destinada ao respectivo pagamento nas Recebedorias dos referidos locais.

3. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, proceder-se-á à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada.

Aos, 27 de Fevereiro de 2013. A Directora dos Serviços de Finanças, Vitória da Conceição

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PrinciPais Transferências

19sexta-feira 15.3.2013 www.hojemacau.com.mo desporto

AnúncioHM - 2ª vez 15-3-13

Divórcio Litigioso cV1-12-0061-cDL 1º Juízo cível

Autor: Loi SEAK in, casado, de nacionalidade chinesa, residente em Macau, “Rua de Marques de Oliveira n.º17, Edf. San Heng, 5 andar E, Macau”--------------------------------------------------------------Ré: cHEonG UT MEi, casada, de nacionalidade chinesa, com última residência conhecida em Macau “Rua de Marques de Oliveira n.º 17, Edf. San Heng, 5 andar E, Macau” ora ausente em parte incerta.-------

***-----FAZ-SE SABER que pelo Tribunal Judicial de Base da RAEM, correm éditos de TRinTA DiAS, contados a partir da segunda e última publicação do anúncio, citando a ré cHEonG UT MEi acima identificada, para no prazo de TRinTA DiAS, findo dos éditos, contestar, querendo, a petição inicial dos autos de divórcio litigioso acima indicados, apresentada pelo autor, na qual o mesmo pede que seja decretado o divórcio entre ele e a ré, tudo como melhor consta da petição inicial, cujo duplicado se encontra nesta Secretaria à sua disposição, sendo obrigatória a constituição de advogado, nos termos do artigo 74º do Código Processo Civil.----------------------------A ré é expressamente advertido de que a falta de contestação não importa o reconhecimento dos factos articulados pelo autor e o referido processo seguirá os seus termos à sua revelia.-----------------

Arqto. Manuel Vicente

FALEciMEnTo

A família informa familares e amigos do falecimento de MANUEL C. M. VICENTE ocorrido no dia 9 de Março, aos 78 anos de idade, em Lisboa.

No dia 16 de Março Sábado, pelas 18 horas, será realizada na Sé Catedral uma missa do 7o dia em sua memória.

A familia agradece anteciparamente a presença de todos os amigos e conhecidos.

Sérgio [email protected]

É já este fim-de-sema-na que o “Grande Circo” assenta ar-raiais em Melbour-

ne, na Austrália, para o habi-tual arranque de temporada. Uma vez mais, o campeão em título Sebastian Vettel, que foi apenas o terceiro piloto da história da Fórmula 1 a vencer três campeonatos consecutivos, é sem dúvida o homem a bater.

E a concorrência não terá a vida fácil, pois o novo Red Bull-Renault, projectado pelo mago Adrian Newey, mostrou no defeso que é uma máquina capaz de dar asas ao seu piloto principal. Os problemas de fiabilidade que o ano passado abalaram a estrutura de que um dia pertenceu à Ford e à Jaguar foram, aparentemente, ati-rados para trás das costas. Eclipsado por Vettel nas úl-timas épocas, Mark Webber joga este ano o seu futuro na Red Bull e poucos acreditam que o australiano irá baixar os braços sem ir à luta. Contudo, o passado recente diz-nos que dificilmente será um candidato ao título e é em Vettel que a marca de bebidas energéticas apostará no final.

A Ferrari, com Fernan-do Alonso à cabeça, e o brasileiro Felipe Massa a prometer que merece toda a confiança depositada pela “Scuderia”, mostrou nos sempre inconclusivos testes de Inverno que é talvez quem esteja mais próximo da favorita Red Bull. Com um carro ni-tidamente inferior em 2012, Alonso, em quem a Ferrari concentrará toda a sua devoção, lutou pelo título até à última corrida e o novo carro, saído do túnel de vento da Toyota, em vez do problemático de Maranello, já mostrou ser mais eficiente que o seu antecessor.

Lewis Hamilton pro-tagonizou a transferência da temporada, ao trocar o

Temporada 2013 da Fórmula 1 arranca este fim-de-semana

Vettel é o mais favorito

lugar na Mclaren pelo mais exigente na Mercedes--Benz, ocupando o lugar do reformado pela segunda vez Michael Schumacher. Hamilton sai da sua zona de conforto para encontrar na marca de Estugarda o alemão Nico Rosberg. Amigos de longa data, Hamilton e Rosberg foram companheiros de equipa há treze anos no Karting, e nem um, nem outro, algu-ma vez se deixaram superar pelos seus companheiros de equipa. A relação entre ambos será seguida atenta-mente pelos media, assim como a gestão da nova administração da equipa agora liderada por Toto Wolff que estará o ano todo sobre imensa pressão dos accionistas do construtor da estrelinha que pedem resultados e com urgência.

A Mclaren perdeu o seu filho pródigo, mas contratou para o seu lugar o impetuoso mexicano Sérgio Perez, que com ele trouxe os impor-tantes pesos da Telmex e

sangue novo à equipa. Jen-son Button dá estabilidade a uma formação que nos testes de pré-temporada passou

• LewisHamilton(MclarenparaaMercedes)

• SergioPerez(SauberparaaMclaren)

• NicoHulkenberg(ForceIndiaparaaSauber)

• AdrianSutil(SemequipaparaaForceIndia)

• BrunoSenna(WilliamsparaaAstonMartin/24hLeMans)

por algumas dificuldades e demorou demasiado tempo a reagir a sérios problemas na suspensão dianteira do

seu novo monolugar. Em Melbourne, os carros ingle-ses até podem ser os mais rápidos, mas hoje, a horas do arranque da nova temporada, o seu verdadeiro valor é uma incógnita.

Sem a dimensão finan-ceira das suas principais rivais, a Lotus vai outra vez apostar no papel de “out-sider”. O terceiro lugar o ano passado do regressado Kimi Raikkonen levantou a moral em Enstone e se o irreverente “Iceman”, ajudado pelo lesto mas trapalhão, Romain Grosje-an, estiver nos seus dias, a Lotus poderá ter uma séria palavra a dizer na luta pelos lugares do pódio. Tudo isto na teoria faz sentido, mas o ano passado os pneus Pirelli, trocaram, a bem do espectáculo, a volta às equipas e seus estrategas, tornando novamente a Fór-mula 1 num espectáculo

imprevisível. Se este ano o mesmo acontecer, não é de estranhar ver também nos lugares da frente pilotos como Nico Hulkenberg, Adrian Sutil, Paul Di Resta ou o venezuelano Pastor Maldonado, o afilhado que Hugo Chávez colocou na Williams.

De olho na Toro roSSoA Toro Rosso poderia muito bem passar despercebida na grelha de partida, no entanto a equipa-B da Red Bull será seguida com especial atenção pelos fãs portu-gueses. Daniel Ricciardo e Jean-Eric Vergne iniciarão a temporada com a sombra de António Félix da Costa e se porventura não mostrarem que estão à altura do desa-fio, dizem os entendidos, que o vencedor do Grande Prémio de Macau de F3 de 2012 é um sério candidato a uma promoção a meio da época. Com a mesma fé de ver um dos seus subir à liga restrita dos pilotos de Grande Prémio, estarão os adeptos chineses que este ano terão Ma Qing Hua como piloto de reserva da Caterham.

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sexta-feira 15.3.2013www.hojemacau.com.mofutilidades20

Sudoku [ ] Cruzadas

[ ] CinemaCineteatro | PUB

SoluçõeS do problema

HORIZONTAIS: 1-ADERI. DARES. 2-BETERRABAL. 3-A. AGE. RES. A. 4-DO. INDEX. CM. 5-APA. ERMITOA. 6-NABO. A. MEAR. 7-ACARIMA. RIR. 8-DA. ADAGA. SA. 9-O. UDA. ITA. D. 10-PRODITORIO. 11-ATIRE. ALIAR.VERTICAIS: 1-ABADANADO. A. 2-DE. OPACA. PT. 3-ETA. ABA. URI. 4-REGI. ORADOR. 5-IRENE. IDADE. 6-R. DRAMA. I. 7-DAREM. AGITA. 8-ABEXIM. ATOL. 9-RAS. TER. ARI. 10-EL. COAIS. IA. 11-S. AMARRADOR.

REGRAS |Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição

SOLUçãO DO PROBLEMADO DIA ANTERIOR

Aqui há gato

HORIZONTAIS: 1-Concordei, uni-Me. Entregares. 2-Campo de beterrabas. 3-Pratica na qualidade de agente. Cerce, raso, 4-Mágoa. O dedo indicador. Centímetro. (abrev.). 5-Pá, espádua. Mulher que cuida de uma ermida. 6-Idiota, palerma (Fig.). Dividir ao meio. 7-Espécie de macaco, semelhante ao saguim. Zombar. 8-Oferece. Arma branca curta, um pouco maior que o punhal. Sociedade Anónima (abrev.). 9-Graúda (Ant.). Pedra, rochedo (Bras.). 10-Traiçoeiro. 11-Dê tiros. Alicançar.

VERTICAIS: 1-Abaçando. 2-Conceda. Turva, que não é transparente. Platina (s.q.). 3-Letra grega. Vertente. Cantão da Suíça. 4-Reinei. O que discursa em público. 5-Nome de mulher. Anos de vida. 6-Peça dramática. 7-Produzem. Vibra, abana. 8-Relativo ou pertencente a Abissíma. Ilha de coral. 9-Chefe político na Etiópia. Obter, alcançar. Nome de homem. 10-Artigo antigo. Joeirais. Distava. 11-Que amarra.

Sala 1mama [c]Um filme de: Andy MuschiettiCom: Jessica Chastain, Nikolaj Coster-Waldau14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Sala 2parker [c]Um filme de: Taylor HackfordCom: Jason Statham, Jennifer Lopez14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Sala 3oZ: the great and powerful [3d] [b]Um filme de: Sam RaimiCom: James Franco, Rachel Weisz, Michelle Williams, Mila kunis14.30, 16.45, 19.15, 21.30 MAMA

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Pu Yi

CASAS CArAS, Governo inComPeTenTenunca é demais falar dos preços da habitação em macau. Continuam a subir a cada mês atingindo valores obscenos. Começam a perder-se faces e a noção do ridículo, tudo porque esta gente gosta de ser gananciosa.A título de exemplo, e perdoem-me qualquer laivo de publicidade, uma casa com dois quartos no riviera, na Barra, podia ser alugada há cinco meses por 8500 patacas. esta semana, a mesma casa, já marcava 12000 patacas. onde é que está o bom senso no meio disto tudo? esta gente anda doida – tal como nas notas do zodíaco -, criam especulações de mercado que não se compreendem. Se a procura fosse imensa – o que sinceramente, eu duvido -, podia compreender-se que os preços pudessem aumentar mas não desta forma. Quando eu nasci, em 2010, uma casa de três quartos – excluindo pardieiros - podia ser alugada por cinco a seis mil patacas. Agora, esse valor apenas serve para alugar T1, a cair de podres na Areia Preta ou nos Bairros Antigos do centro de macau.e o Governo, o que faz? nada. Há interesses que mostram o caminho da inoperância, para que todos possam ganhar. Gente da China continental, pessoal de Hong Kong e os mais ricos de macau metem ao bolso o dinheiro fácil. e as gentes de macau? Lixam-se.este Governo movido sabe-se lá porquê e por quem, pouco faz para mudar o rumo dos acontecimentos. É um conluio com a bênção de Dom Chui Sai on e comparsas.o mais engraçado é que não se sabe até quando é que a economia de macau pode aguentar esta especulação, injusta e mentirosa. Acho que nem o jogo poderá sarar as mazelas criadas pela especulação imobiliária.As pessoas têm cada vez menos capacidade para alugar ou comprar casa, porque estas almas pensantes acham que podem brincar com o preço de casas podres, que nem nos acabamentos conseguem justificar o seu valor. Triste, senhor Chui. miau...

O TempO envelhece Depressa • António TabucchiTodas as personagens deste livro parecem estar empenhadas numa confrontação com o Tempo: o tempo dos acontecimentos que viveram ou estão a viver e o tempo da memória ou da consciência. mas é como se uma tempestade de areia se tivesse levantado nas suas clepsidras: o tempo foge e detém-se, gira sobre si próprio, esconde-se, reaparece a pedir contas. Do passado emergem estranhos fantasmas, as coisas que antigamente eram incompatíveis agora parecem harmonizar-se, as versões oficiais e os destinos individuais não coincidem. Um ex-agente da defunta república Democrática Alemã que durante anos espiou Bertold Brecht, vagueia sem destino por Berlim até ir ter ao túmulo do escritor para lhe confiar um segredo. Numa localidade de férias da ex-Jugoslávia, um oficial italiano da onU que durante a guerra do Kosovo sofreu as radiações do urânio empobrecido ensina a uma miúda a arte de ler o futuro nas nuvens. Um homem que engana a sua solidão contando histórias a si próprio torna-se protagonista de uma aventura que inventara numa noite de insónia. Sensível às convulsões da História recente, Antonio Tabucchi mede-se com o nosso Tempo «desnorteado», em que se os ponteiros do relógio da nossa consciência parecem indicar uma hora diferente daquela que vivemos.

peregrinaçãO De enmanuel Jhesus • Pedro Rosa MendesComo fez com o mapa Cor-de-rosa em Baía dos Tigres, Pedro rosa mendes reinventa, nesta “Peregrinação de Enmanuel Jhesus”, um espaço nobre da literatura portuguesa, de Fernão mendes Pinto a ruy Cinatti: o arquipélago malaio, imenso território de aventura, onde as caravelas chegaram há exactamente 500 anos. Passagens de História, memórias políticas, cadernos da guerrilha, tratados breves de diplomacia, debates teológicos, cenas de artes marciais, cartografia antiga, observações de botânica, notas de geologia, ritos de sagração, sortes tauromáquicas, até um fado perdido (por Amália?) lá em «outramar»: abundantes são os tesouros que nos acompanham nesta viagem. Uma vertigem de per-sonagens desfilam e falam a várias vozes. O resultado é um romance em diário de bordo, uma ficção de portulano, «suma accidental em que da conta de mvitas e mvito estranhas cousas que vio e ouvio nos reynos do Achém, Çamatra, Sunda, Jaua, Flores y Servião y Bellos, que vulgarmente se chamam Timor, homde nace o sandollo».

TdM13:00 TDM News - Repetição13:30 Telejornal + 360º (diferido)14:45 RTPi Directo19:00 TDM Talk Show (Repetição)19:30 Vingança20:30 Telejornal21:20 ler + ler melhor21:30 Cenas de Um Casamento22:10 Escrito nas Estrelas23:00 TDM News23:30 Resumo Liga Europa23:45 Liga Europa: Bordeaux – Benfica (Repetição)01:20 Telejornal – Repetição02:00 RTPi Directo

INFORMAçãO TDMRTPi 8215:00 Telejornal Madeira15:35 Percursos16:30 AntiCrise17:00 Bom Dia Portugal18:00 Sexta às 9 18:30 Feitos ao Bife20:10 Depois do Adeus21:00 Jornal da Tarde22:15 O Preço Certo23:05 ler +, ler melhor23:15 Portugal no Coração

30 - FOX Sports13:00 Thailand Open Day 1 Highlights14:00 (LIVE) Thailand Open Day 218:00 ABL Crossover 201318:30 Total Rugby19:00 The Football Review 2012-2013 19:30 (LIVE) FOX SPORTS Central20:00 (LIVE) Asean Basketball League 2013 Saigon Heat vs. Westports Malaysia Dragons22:00 FOX SPORTS Central22:30 Football Asia 2012/1323:00 Smash 201323:30 Global Football 2012/13

31 - STAR Sports13:00 FIM Mx1 & Mx2 World Championship 2013 - Highlights

13:25 (LIVE) FIA F1 World Championship - Practice Session 2 Australian Grand Prix 15:00 FIM Mx2 World Championship 201316:00 FIM Mx1 & Mx2 Super Final World Championship 201317:00 Hot Water 2012/1318:00 FIA F1 World Championship - Practice Session 1 & 2 Australian Grand Prix21:00 Game 201221:30 (LIVE) Score Tonight 201322:00 Formula Friday22:30 Game 201223:00 FIA F1 World Championship - Practice Session 2 Australian Grand Prix

40 - FOX Movies12:55 One For The Money14:30 Conan The Barbarian16:20 Transporter: The Series17:10 Perfect Stranger19:00 Home Alone 221:00 Cars 222:50 In Time00:40 Transporter: The Series

41 - HBO13:00 Green Lantern 15:00 Nick Of Time 16:35 Larry Crowne 18:15 My Best Friend’S Wedding 20:00 Thor22:00 S.W.A.T.00:00 Paranormal Activity 3

42 - Cinemax11:15 Inception13:45 Black Rain16:00 The Spy With A Cold Nose17:30 Invader19:00 Into The Sun 20:45 Epad On Max21:00 Banshee 23:00 Spartacus: Vengeance 00:55 Meeting Evil

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21sexta-feira 15.3.2013 www.hojemacau.com.mo opinião

oi num colégio de freiras que decidi que os moldes em que se vivia (e vive) o catolicismo não me serviam. o nome dela era Rosa e fazia o oposto do que pregava. Sair do co-légio, deixar a catequese e não ir à

missa aos domingos foi a primeira grande decisão que tomei na vida e a primeira grande guerra doméstica, numa família onde o cato-licismo se vivia também através dos rituais.

A verdade é que os rituais sempre me entediaram, enquanto elemento activo – o que não significa que, do ponto de vista do observador, não me despertem grande curiosidade. o ritual tem uma componente política forte que esconde as componentes políticas igualmente fortes que não é suposto serem visíveis. os hábitos ocultam os corpos, os seres que moram naqueles hábitos. Rosa fazia o oposto do que pregava, mas nunca deixei de querer saber a razão das vestes e o que estava na origem do paradoxo entre ser e querer (sem êxito) parecer.

Depois passaram-se várias mãos cheias de anos e vim para aqui, para esta espécie de China onde também há hábitos e – porque as há em todo o mundo, com vestes ou sem – uma Rosa ou outra, que diz uma coisa e faz o contrário. Nesta espécie de China também se cumprem os rituais em que não me ape-tece participar – quero apenas observar. E cumprem-se também outros rituais – esses sem hábitos, mas igualmente com estranhos códigos de entendimento – que estão numa dimensão aparentemente oposta. Mas a

contramãoIsabel [email protected]

O mais importante está por conquistar – falta uma dose de liberdade à China que Xi Jinping não vai trazer, assim como Jorge Mario Bergoglio não vai libertar as almas que ameaçam ser eternamente penadas. A teoria e a prática de Rosa são tramadas, porque são inquestionáveis

Teoria e prática de Rosa

política chinesa também esconde os corpos, os seres que moram naquela forma de viver a política. Religião e política apresentam-se inquestionáveis.

Esta semana, no espaço de menos de 12 horas, Jorge Mario Bergoglio foi dormir Papa e Xi Jinping foi almoçar Presidente. Um terá sido ficado surpreendido com o que lhe aconteceu; o outro há muito que se preparava para assumir o poder. Ambos têm a seu cargo as expectativas de vários milhões de almas para gerir, sendo que

partilham algumas destas almas, em número impossível de precisar.

É difícil imaginar estes dois homens a partilharem um chá um dia destes e a discutirem as grandes questões mundiais, apesar das tais almas que têm em comum e das preocupações idênticas que lhes atra-vessarão o pensamento. igreja Católica e China estão de costas voltadas e não acredito numa mudança de postura física num futuro próximo. Ambas são demasiado políticas para perceberem que, no ano da graça de

2013, isto das almas é muito simples: trata--se só de uma questão de liberdade. ou, se preferirmos, de libertação.

A igreja Católica chegou ao século XXi com fortes problemas para resolver. Não fez as actualizações do sistema que devia ter feito para sobreviver a tempos em que a noção de culpa não basta, no mundo mais desenvolvido, para travar a sucessão de pecados. No mundo menos desenvolvido, a culpa também não é dissuasora, mas in-fluencia decisões e formas de vida que não batem certo com os dias que correm e – estou em crer – também não vão ao encontro do que se apregoa. Mais uma vez, a teoria e prática de Rosa.

A China chegou ao século XXi com fortes problemas para resolver. Também não fez os updates que devia, e perdeu anos numa esfera de poder e loucura em que a culpa não teve voto na matéria, mas em que culpados não faltaram. Ressuscitou lentamente para o mundo já eu tinha nascido – o que, em termos históricos, é pouco tempo – e rapidamente, muito rapidamente, surpreendeu os outros com feitos e conquistas enaltecidos por uns e temidos por uns quantos. Mas o mais im-portante está por conquistar – falta uma dose de liberdade à China que Xi Jinping não vai trazer, assim como Jorge Mario Bergoglio não vai libertar as almas que ameaçam ser eterna-mente penadas. A teoria e a prática de Rosa são tramadas, porque são inquestionáveis.

Queira Pequim que eu me engane. Queira Deus também.

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sexta-feira 15.3.2013www.hojemacau.com.mo22 opinião

Elsa lo

unca apanhei SIDa. nunca precisei de me atirar de uma ponte para saber que deve doer e muito. nem nunca snifei cocaína para imaginar que devo gostar e não é pouco.

Mas viver em Macau é isso. É como apa-nhar SIDa duas vezes. Primeiro estranha-se depois entranha-se e tem que se desentranhar à força para não criar crosta.

É um processo caótico de integração e desintegração permanentes, uma viagem de comboio numa rota, que ora ascende ora des-cende, à velocidade concêntrica da roleta russa.

Isto não é viver Macau, é viver EM Ma-cau, o que é diferente. cidade das Luzes, sem o ser. Disneylândia de adultos para vender. Gente que joga sem amanhã, suando sangue pela testa. Prostitutas esvaindo-se pelas pare-des embaciadas e homens babando fetiches mais ou menos envergonhados.

Viver em Macau é como andar descalço no fio da navalha, é como espreitar o abismo de pernas pró ar.

E depois existimos nós, os portugueses que aqui estamos, mais ou menos a prazo há 500 anos. conheço macaenses, chineses, portugueses das nova e velha guardas e sempre fui muito bem recebida por todos.

O que mais me custou, no início, não foi o verbo. Também não foi adaptar-me a uma realidade bem diferente da minha que já é

A verdade é que penso que este nosso “regresso” a Macau, além de ter um background obviamente histórico, serviria, supostamente, um outro propósito mais pragmático, dentro da lógica da Lei Básica – “um país, dois sistemas”

Viver em Macau é como apanhar SIDa duas vezes

multicultural. O que me assustou, aqui no Delta das Pérolas, não foram nem macaenses, nem chineses: foram os “nossos”.

a nossa comunidade em Macau é que deixa muito a desejar, a começar pelo termo “comunidade” que nem sequer tem aplicação literal. arrumamo-nos (ou arrumam-nos) em guetos, logo que chegamos e assim permanecemos como se fossemos sardinha enlatada. Há o gueto dos jornalistas, dos ar-quitectos, dos engenheiros, dos médicos, dos professores, dos “contactos”, dos juristas, dos advogados, dos alternativos, etc., etc..

Viver em Macau é isso. É pormo-nos a jeito para sermos criticados, fazermos o que temos a fazer independentemente disso, bem sabendo que alguém, algures, por alguma razão, mais cedo ou mais tarde, nos vai “cair em cima”... E às vezes dói.

Viver em Macau é como apanhar SIDa duas vezes. apanhas, proteges-te e “On Fait nos Jeux” até que alguém nos diga “Rien ne vas plus!”...

E depois começa uma nova madrugada, um novo dia e percorre-se tudo uma, outra e todas as vezes, de um lado pró outro em rodopio…

a verdade é que penso que este nosso “regresso” a Macau, além de ter um ba-ckground obviamente histórico, serviria, supostamente, um outro propósito mais pragmático, dentro da lógica da Lei Bá-sica – “um país, dois sistemas”. Mas não nos vejo neste papel, nem agora, nem nos tempos que se avizinham...

Vejo os recém-chegados ingleses, americanos, entre outros, os quais, pese embora o “interesseirismo”, sempre se mantêm fiéis aos seus e à sua pátria. Nós negligenciamos o que é nosso, aqui como lá, sempre mais a torto que a direito.

Podemos ser milionários em experiên-cia no que toca a leis, andaimes, jornais, bisturis e currículos escolares, mas a dar o exemplo somos, de facto, pobres... paupérrimos!

E é uma pena!...

N

conheci pessoas interessantes em quais-quer desses grupos e por isso os interroguei e me questionei acerca deste “apartheid intra--luso”... nunca obtive resposta satisfatória nem esgares de preocupação, até porque a crítica estava ali à mão de semear e dava menos trabalho aos neurónios!

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23opiniãosexta-feira 15.3.2013 www.hojemacau.com.mo

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Sobre as eleições

A razão pela qual “as más moedas tiram as boas moedas de circulação” é porque as últimas são muito poucas. Para haver eleições democráticas o voto de cada um é crucial. Para Macau ter um futuro melhor, os cidadãos do território deviam estar sentados nas margens da futura Assembleia Legislativa

um gr i to no desertoPaul Chan Wai Chi*

processo eleitoral faz parte da vida em democracia enquanto o sufrágio universal significa que cada cidadão pode exercer os seus direitos cívicos de forma justa, seja concorrendo às eleições, seja

escolhendo aqueles que pensa melhor de-fenderem os interesses e direitos da socie-dade como um todo. Nos antigos regimes feudais o poder era hereditário, tal como no actual regime comunista da Coreia do Norte, logo não existem eleições de “uma pessoa, um voto”.

Olhando retrospectivamente para Ma-cau, a Revolução dos Cravos, em Portugal, foi fazendo com que Macau se afastasse gradualmente da autoridade colonial. Por necessidades de ordem política, durante a descolonização portuguesa, Macau foi o único território que ficou sob a adminis-tração de Portugal. Foi nessa altura que as eleições democráticas foram introduzidas no território e que Macau passou a praticar eleições directas, antes de Hong Kong. Se dizem que o povo de Macau tem uma cultura eleitoral pobre, estão a cometer um insulto à história. As razões para a apatia política da população prendem-se com o facto de que durante o processo de transferência de Ma-cau para a China tudo era pré-estabelecido e não passava de uma representação. Os actos conspirativos dos funcionários do governo na cena política fizeram nascer associações

que a longo prazo acabaram por dominar o desenvolvimento social e fazer com que Macau seja hoje como uma piscina de água estagnada. A composição da Assembleia Legislativa, por assentos de eleição directa, indirecta e por nomeações, faz com que muitas propostas de lei importantes para a melhoria das condições de vida da população e para o desenvolvimento democrático, não sejam aprovadas. Um sistema político fecha-do e atrasado, juntamente com a falta de um controlo eficaz, resulta numa administração do partido do governo cada vez mais afastada das necessidades da população e com uma maior tendência para beneficiar as minorias. O poder corrompe, e o poder absoluto cor-rompe completamente. Este poder corruptivo nasce da falta de democracia no seio do

sistema político. As próximas eleições para a Assembleia Legislativa estão marcadas para o próximo dia 15 de Setembro. O número de lugares de deputados eleitos pela via 2+2 subirá para 14. Mas continuarão a ser menos de metade do total (12 deputados eleitos por via indirecta e sete legisladores nomeados), o que quer dizer que os legisladores eleitos directamente não irão ter uma vida fácil na próxima Assembleia Legislativa.

À medida que as eleições se aproximam os candidatos têm de dar o seu melhor. Quan-to à eleição indirecta, quando olhamos para o número de reconhecidas pessoa colectiva/associação e para o número de nomeados, é de crer que não haverá nenhuma contro-vérsia significativa. A única possibilidade é haver um espectáculo de competição para um ou dois lugares. Quanto aos nomeados, uma vez que são apontados pelo Chefe do Executivo, não tenho grandes esperanças que sejam amplamente representativos. Quanto ao sector mais aberto e liberal dos deputados eleitos directamente, e tendo como base a distribuição das fontes dos votos das últimas eleições, o cenário não é nada famoso. Para além disso, a campanha eleitoral ainda não começou e já muitos dos media não oficiais subsidiados, começaram a atacar a “frente democrática”. A utilização de ferramentas públicas como uma plataforma privada tem causado enorme e drástica turbulência na cena eleitoral.

Quando os grupos que concorrem às eleições são tratados de forma injusta e com falta de lealdade a melhor resposta é fazer uma boa campanha eleitoral. O dia 12 de Março assinala o aniversário da morte do líder revolucionário, Dr. Sun Yat-sen, que dedicou toda a sua vida à causa revolucioná-ria. Até no seu testamento se pode constatar a sua obsessão na busca pela liberdade e pela igualdade. Sun Yat-sen sabia muito bem que para alcançar aquilo que procurava é neces-sário ter o apoio das massas e trabalhar lado a lado com elas. Do mesmo modo, a actual Assembleia Legislativa tem de apelar ao apoio do povo na luta pela liberdade e pela igualdade, como a única forma de dar um novo horizonte a Macau no futuro.

A razão pela qual “as más moedas tiram as boas moedas de circulação” é porque as últimas são muito poucas. Para haver eleições democráticas o voto de cada um é crucial. Para Macau ter um futuro melhor, os cidadãos do território deviam estar sen-tados nas margens da futura Assembleia Legislativa.

*Deputado e membroda Associação Novo Macau Democrático

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sexta-feira 15.3.2013www.hojemacau.com.mo

car toonpor Steff

Sporting venceu Ponte 48 pela margem mínima

Mais uma voltinha, mais uma vitória

Governo regional vai ajudar famíliasO presidente do Governo dos Açores Vasco Cordeiro afirmou esta quinta-feira que os serviços regionais de apoio social e à habitação estão no terreno para ajudar as famílias afectadas pela derrocada desta madrugada, no Faial da Terra, na ilha de S. Miguel. Este deslizamento de terras no lugar de Burguete soterrou três casas e matou três pessoas. As cerca de dez famílias afectadas estão provisoriamente alojadas na Casa do Povo do Faial da Terra, para onde foram levadas esta madrugada, por volta das 2h (hora local). Segundo Vasco Cordeiro o Laboratório Regional de Engenharia Civil está a avaliar a zona e as construções e de acordo com esta avaliação “serão tomadas as decisões em conformidade”.

Homem fez três reféns numa escolaUm homem entrou ontem numa escola da cidade de Astrakan, no sul da Rússia, fazendo três reféns. Segundo a Reuters, o sequestrador, alegadamente munido com uma bomba, está barricado com três reféns - duas jovens e um agente de segurança da escola - depois de ter libertado um professor. Segundo o porta-voz da polícia Dmitry Beryozin, o indivíduo tem um saco de papel nas mãos que identifica como contendo explosivos.

Sevens de Portugal no torneio de Hong KongA Selecção portuguesa de râguebi de 7 chega segunda-feira a Hong Kong para disputar, entre 23 e 25 de Março, o torneio de Sevens da antiga colónia britânica, onde quer fazer pontos no circuito mundial. “Faltam três jornadas para o final do circuito mundial e queremos, nestes três torneios, fazer o máximo de pontos possível para recuperar posições e evitar o torneio de qualificação”, disse à agência Lusa Rodrigo Alves, responsável pela formação portuguesa. Rodrigo Alves lembrou que Portugal “tem tido um ano difícil”, mas espera “fazer um bom resultado em Hong Kong”, embora reconheça que parte para a antiga colónia britânica “com uma equipa jovem, mas ambiciosa”. “Estamos preparados e queremos lutar por um bom lugar, mas, não sendo fácil, não é impossível. O circuito mundial está muito competitivo e tudo pode acontecer”, disse. Portugal integra o lote de 16 formações - as 15 do circuito mundial mais Hong Kong - que disputam o torneio principal. O grupo de Portugal integra ainda as formações de Samoa, Inglaterra e Escócia.

Buraco “engole” jogador de golfeUm jogador de golfe teve um susto de morte quando foi “engolido” por uma cratera que se abriu no campo onde estava, no Estado do Illinois, nos Estados Unidos. O homem, Mark Mihal, de 43 anos, estava a jogar golfe quando o chão que pisava se abateu, caindo de uma altura de mais cinco metros. O caso foi registado numa região onde o solo é rico em rochas de calcário que podem dissolver-se com a água da chuva, o que originou o problema. A vítima, que apenas ficou com um ombro deslocado na sequência da queda, contou que teve medo porque não sabia onde ia cair.

Advogado causa polémica ao falar dos sem-abrigoAs declarações de um advogado espanhol que afirmou que “os sem-abrigo não são seres humanos, são cancros”, estão a causar polémica em Espanha. Segundo o El Mundo, o advogado em causa, Angel Pelluz, representa um de cinco neonazis acusados de espancar e deixar em coma um sem-abrigo de 30 anos, em Madrid, em Maio de 2009. Esta quarta-feira, durante a Audiância Provincial de Madrid enquanto defendia o seu cliente que se declarou inocente, Angel Pelluz, afirmou que a mera existência de pessoas sem-abrigo é “uma provocação”, considerando que se tratam de “parasitas da sociedade” que não querem “fazer nada” e que causam “repulsa”. As pessoas que vivem na rua “não têm trabalho na vida. São cancros da sociedade. E os cancros não se tratam com paninhos quentes, extirpam-se”, sublinhou. “Não estou a dizer que se eliminem, mas que se afastem da sociedade”, acrescentou, Angel Pelluz. O Ministério Público espanhol, pede uma pena de 10 anos de prisão para os neonazis que atacaram o sem-abrigo que sofreu um traumatismo craniano e hemorragias que o deixaram em estado de coma. Após 541 dias no hospital, o mendigo apresenta actualmente, quatro anos depois, tem uma incapacidade de 60 por cento.

novo PaPa

Marco [email protected]

aceitam-Se apostas: haverá quem consi-ga travar o Sporting clube de macau esta

temporada? os leões do território derrotaram ao início da noite de ontem a exigente formação do Ponte 48 por uma bola a zero e preservaram, ao fim de noventa minutos de nervos e emoções fortes, a liderança isolada do cam-peonato de Futebol da ii Divisão.

Fiel à filosofia de jogo apre-sentada na esmagadora maioria dos encontros disputados até ao momento, a formação orientada por João maria Pegado assumiu desde cedo o controlo da partida e só não marcou porque o poste da baliza adversária impediu

por duas ocasiões que um leão madrugado rugisse com maior eficácia. O treinador do Sporting não esperava facilidades frente a uma formação que tem feito boa figura nos relvados do terri-tório e o Ponte 48 correspondeu aos piores receios do jovem técnico: “Sabíamos que íamos defrontar uma equipa exigente, mas não estava à espera de tantas dificuldades.”, admite Pegado. “o Ponte 48 mostrou grande capacidade de se orga-nizar dentro das quatro linhas e uma vontade férrea de vencer. Deixaram tudo em campo e a partir de determinada altura obrigaram o Sporting a correr atrás do resultado. tivemos o azar de enviar algumas bolas ao poste na primeira parte e a felicidade de resolver o jogo

a nosso favor, já na recta final do encontro”, explica o jovem treinador leonino.

o único golo do desafio foi apontado por Leandro Fer-nandes, a menos de um quarto de hora do final do tempo regulamentar. o triunfo ontem alcançado pelo onze verde e branco foi o oitavo consecutivo na presente edição do campe-onato de Futebol da ii Divisão. os leões só conheceram o travo amargo da derrota na primeira ronda da competição, quando perderam pela margem mínima com o Lai chi. Líder isolado da classificação, o Sporting Clube de Macau está um jogo mais perto de conseguir alcançar os objectivos a que se propõe. o principal passa por garantir um lugar entre os grandes do futebol de macau, mas a pos-sibilidade de garantir a subida e o estatuto de campeão é algo que não desagrada a João maria Pegado: “Queremos conservar até ao final a vantagem de que dispomos neste momento, de forma a garantir não apenas a subida à Liga de elite, mas também a conquista da segunda divisão. o grupo está a trabalhar para a subida e não equaciona qualquer outra possibilidade, mas os jogos que temos pela frente não se adivinham fáceis e a posição que o Sporting vai manter será sempre de uma certa prudência”, acautela o treinador dos leões do território.