hoje macau 27 mar 2015 #3300

24
PAVILHÃO DE MONG HA As promessas por cumprir MARIA ROSÁRIO PEDREIRA O autor tornou- -se numa peça de marketing AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 SEXTA-FEIRA 27 DE MARÇO DE 2015 ANO XIV Nº 3300 hojemacau Universidades insensíveis ENSINO SUPERIOR DEFICIENTES DENUNCIAM DISCRIMINAÇÃO São casos lamentáveis de estudantes portadores de deficiências ligeiras que não conseguem encontrar lugar nas universidades de Macau. Por causa de exigências que não têm em consideração as situações especiais destas pessoas. A RAEM ainda não é para todos. O DIA EM QUE SÓNIA CHAN SUBIU AO HEMICICLO LAG 2015 PÁGINAS 4-5 É PRECISO moderar o aumento de visitantes sem que isso represente uma descida dos números. Para solucionar o paradoxo, é pedida a atenção do Governo. EXCESSO DE TURISTAS? IFT responde nim REPORTAGEM PÁGINAS 2-3 POLÍTICA PÁGINA 6 ENTREVISTA CENTRAIS SOCIEDADE PÁGINA 7 ‘‘

Upload: jornal-hoje-macau

Post on 08-Apr-2016

224 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Hoje Macau N.º3300 de 27 de Março de 2015

TRANSCRIPT

Page 1: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

Pavilhão de mong haas promessas por cumprir

maria rosário Pedreira o autor tornou--se numa peçade marketing

AgênciA comerciAl Pico • 28721006

Pub

Director carlos morais josé www.hojemacau.com.mo Mop$10 s e x ta - f e i r a 2 7 D e m a r ç o D e 2 0 1 5 • a N o x i V • N º 3 3 0 0

homossexuais Portugueses Podem casar em macau

hojemacau

universidades insensíveis

ensino suPerior deficientes denunciam discriminação

São casos lamentáveis de estudantes portadores de deficiências ligeiras que não conseguem encontrar lugar nas universidades de Macau.

Por causa de exigências que não têm em consideração as situações especiais destas pessoas. A RAEM ainda não é para todos.

o dia em que sónia chan subiu ao

hemiciclo lag 2015 págiNas 4-5

É preciso moderar o aumentode visitantes sem que isso represente

uma descida dos números. Parasolucionar o paradoxo, é pedida

a atenção do Governo.

excesso de turistas?ift responde nim

reportageM páginas 2-3

política págiNa 6

entrevista ceNtrais

sociedade págiNa 7

‘‘

Page 2: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

lhou que seguisse os estudos na MUST - devido à sua deficiência, lamenta que, após entrada na uni-versidade, tenha sentido “falta de apoio e compreensão”. Faltas que alteraram a vida do jovem, como o próprio diz ao HM.

Pesos e medidas Nerissa Lau explica que, compa-rando com os anos anteriores, mais deficientes surdos conseguiram ter oportunidade para frequentar estudos superiores. Contudo, a res-ponsável diz que os dados podem ser preocupantes.

“Actualmente, mais de 90% dos estudantes das escolas se-cundárias escolhem continuar no ensino superior. Mas, já em 2012, as Nações Unidas, segundo a Con-venção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, deram opiniões a Macau, tendo demonstrado preocupação relativamente à baixa taxa de matrículas de estudantes de deficiência no ensino superior de Macau”, nota. “E é verdade. A proporção é muito pouca, já que uma parte dos surdos com idades entre os 28 e os 30 anos perdem oportunidades para frequentar o ensino superior. A educação para as pessoas surdas em Macau só começou nos anos 1960 e, até aos anos 1980, ainda faltavam escolas secundárias que aceitassem alunos surdos. Ainda assim, as que havia, ensinavam principalmente língua gestual e, como não podiam falar, não tinham condições para ir para o ensino superior.”

Para Nerissa, contudo, as pes-soas esquecem-se que os surdos “também têm capacidades para falar”, desde que sejam acompa-nhados desde infância e que, em alguns casos, tenham aparelhos auditivos, sendo que até podem “estudar em escolas normais”.

Uma das grandes dificuldades para as pessoas portadoras de deficiência no ensino superior, contudo, é precisamente a vida nas instituições de ensino. Segunda a responsável pela Associação de Surdos, por exemplo, os exames de acesso têm medidas e critérios dife-rentes em cada uma das instituições do ensino superior em Macau. E a falta de formação dos próprios responsáveis pela inscrição destes alunos também faz mossa.

“Alguns candidatos referem que, mesmo avisando o pessoal das instituições nos exames escritos de que não conseguem ouvir, o pessoal não sabe como ajudá-los e

Chao Seng

Hoi Long

Ivy KuokIvy Kuok

2 hoje macau sexta-feira 27.3.2015reportagem

Flora [email protected]

o direito de estudar é de todos. Ou, pelo menos, assim o diz o Governo de Macau.

Contudo, se actualmente a taxa de matrículas de estudantes que saem das escolas secundárias para as universidades atinge os 90% todos os anos, apenas uma ínfima percentagem destes é portador de deficiências. O problema, como asseguram alguns estudantes ao HM, reside principalmente na falta de apoio das próprias instituições.

Segundo informações for-necidas ao HM pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), apenas 14 portadores de deficiência ingressaram no ensino superior no ano lectivo de 2013/2014 - seis entraram na Universidade de Macau (UM), três no Instituto Politécnico de Macau (IPM) e cinco na Univer-sidade São José (USJ). Ainda que estes números possam não ser precisos – uma vez que, devido à Lei de Protecção de Dados Pessoais, as instituições não podem confirmar concretamen-te quantos estudantes possuem deficiências -, este ano lectivo contou com mais cinco alunos do que no ano anterior. Mas, nem todos entraram.

É o que diz a directora da Associação de Surdos de Macau, Nerissa Lau, que diz que a sua associação conta com mais de 400 membros, sendo que menos de dez surdos conseguiram receber – ou estão a receber actualmente - edu-cação no ensino superior.

“Apenas 30 a 40 membros estão a estudar, sendo que cerca de dez têm idade adequada para frequentar o ensino superior. Alguns ainda se preparam para se inscrever, outros já se licencia-

Portadores de deficiências ligeiras Pedem critérios unificados Para acesso à universidade

O direitO de ser igualÀs vezes até passam nos examesde acesso, mas as universidadesrejeitam-nos devido às suas deficiências. Não vêem ou não ouvem e queixam-se de que, apesar de terem capacidades, não têm apoios para frequentar o ensino superior. Apenas 14 estudantes portadores de deficiência estão em universidades. As Nações Unidas, associações e estudantes de Macau confirmam a situação de faltade coordenação entre instituiçõese Governo, até porque, muitas vezes,a falta de uma aparência deficienteimpede que os jovens tenham apoios

ram, mas há uma parte que não consegue acabar o curso, por não conseguir adequar-se ao ambiente proporcionado [pelas instituições], tendo regressado ao trabalho”, diz a responsável ao HM.

exemPlos que doem Chao Seng é um dos exemplos de estudantes que dizem ter sido obrigados a deixar a universidade. Com 21 anos da idade, e agora ex-aluno da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), Chao só conseguia escu-tar a 20% antes de ser submetido a uma operação, que lhe permitiu implantar cócleas artificiais nas duas orelhas. Agora, consegue ouvir sons que tenha entre 50 a 60 decibéis.

Chao estudou Tecnologias da Informática, mas para o estudante, ainda que a área não fosse difícil, a disciplina de inglês estragou-lhe a vida. Não na parte escrita, mas naquela que obrigava ao uso do sentido que não funcionava bem no corpo do jovem.

“Correu bem no primeiro ano, mas a partir do segundo ano da licenciatura tive disciplinas de Inglês escrito e oral. O Inglês es-crito, para mim, não representava problema, mas não tive capacidade para conseguir falar bem, devido à deficiência. Pedi ao Gabinete para os Assuntos dos Estudantes da MUST que me mudasse de disci-plina, mas só me deixavam passar para o último nível [da disciplina] se passasse o nível básico. Não tive outra escolha, tive de deixar os estudos de que gostava tanto em Abril de 2014.”

A desistência obrigatória do ensino superior “magoou” Chao Seng. O estudante, que foi isen-tado do exame oral pelos exa-minadores da Escola Secundária Luso-Chinesa de Luís Gonzaga Gomes – que foi quem aconse-

Page 3: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

os exames orais não se conseguem coadunar às deficiências dos alu-nos”, diz Nerissa.

Sem excepçõeSIvy Kuok tem uma aparência nor-mal. Só ela - e quem a conhece - sabe que a bonita jovem perdeu 80% da sua capacidade visual quando tinha 15 anos. Actualmente, está a estudar Gestão Empresarial e frequenta o segundo ano da área na USJ.

Antes disso, contudo, viu-se obrigada a mudar três vezes de escolas secundárias, por não aceitar que a colocação numa turma com outros portadores de deficiência – todos com deficiências diferentes – fosse a forma mais adequada para aprender, visto as necessida-des serem diferentes. Ivy preferiu estudar numa escola normal e só o conseguiu porque deixou de lado as escolas subsidiadas pelo Governo e pagou para entrar numa escola nocturna. Foi a primeira estudante com deficiência da escola, mas conseguiu entrar na universidade.

Mas, no acesso ao ensino supe-rior só a USJ a aceitou. Foi nesta instituição que foi permitido que fizesse apenas o exame oral para entrar, mesmo que Ivy tivesse aceite fazer o exame escrito, ain-da que com a ajuda de “uma lupa electrónica”. Todos os exames de acesso da UM e do IPM impedem os alunos de levar produtos elec-trónicos. E não foi aberta qualquer excepção no caso da jovem.

“Já na candidatura há obstáculos para os deficientes visuais. E isto sem contar com a própria frequência do ensino superior”, desabafa.

Mas, se Ivy consegue, hoje, escrever é porque conseguiu obter conhecimentos antes dos 15 anos. A jovem sabe que muitos deficien- Nerissa Lau

3 reportagemhoje macau sexta-feira 27.3.2015

Portadores de deficiências ligeiras Pedem critérios unificados Para acesso à universidade

O direitO de ser igualtes visuais reprovam nas escolas porque não tiveram a felicidade de, um dia, conseguir aprender.

Na universidade, a coordenação com os colegas e os professores permite a Ivy que corra bem. “Quan-do ingresso nas novas disciplinas, explico aos professores que preciso que as matérias sejam enviadas para o meu próprio computador, que tem um sistema especial. Os professores permitem que faça projectos e até exames à minha maneira.”

Ivy, que é também tesoureira da Associação de Promoção dos Direi-tos de Deficientes Visuais de Macau, aponta que, de acordo com os cartões de registo de avaliação de deficiência pelo Instituto de Acção Social (IAS), foram registados mais de mil defi-cientes visuais no território. Destes, apenas seis conseguiram entrar ou frequentar o ensino superior.

“Algumas instituições são teimo-sas, obrigam a passar as disciplinas obrigatórias, o que não é justo para as pessoas com necessidades especiais.”

Não é só dentro das salas de aula que existem dificuldades e, por isso, Ivy espera ainda que as universidades e institutos de ensino superior possam adicionar um emissor no campus, por exemplo, para que os deficientes visuais usem telemóveis para verifi-car a localização das salas de aula, um sistema muito melhor do que os chamados azulejos “seeing-eye”, onde o estudante tem de apalpar a parede para chegar ao destino.

medidaS preciSam-SeChris Leong, técnico de audiome-tria da Associação de Surdos, diz

ao HM que adoraria que o território seguisse o exemplo de Taiwan, onde as instituições universitárias, dizem, têm um centro de recursos para os estudantes com deficiência, onde são fornecidos dispositivos de auxílio, tais como máquinas de sistemas de dados através de rádio ou até assistentes para ajudar a tirar notas nas aulas.

Em resposta ao HM, o GAES assegurou que existem ins-talações específicas para os estudantes com necessidades especiais, como os corredores sem barreiras, casas de banho, elevadores, placas em Braille, estacionamento para cadeiras de rodas, entre outras. A UM e o IPM asseguram ainda que também vão ser implementadas entidades especiais para estes estudantes e que as políticas e instalações vão ser revistas de forma “periódica”.

Mas aqui, em Macau, os estudan-tes garantem que as solicitações têm de ser feitas directamente às institui-ções, não havendo uma coordenação entre o Governo e as universidades.

“Não consigo ver esses disposi-tivos de auxílio em Macau, embora, nos últimos anos, as instituições te-nham mostrado mais preocupações com estas necessidades. Contudo, tomam medidas de forma diferente uns dos outros e apenas fazem o que conseguem perceber que falta. De facto, alguns estudantes podem ser ignorados pela aparência, que não mostra que são deficientes”, explica Nerissa Lau.

A responsável sugere que o

GAES unifique os processos e critérios de inscrição no ensino superior, incluindo as instalações complementares e os apoios. Um departamento especializado para tratar dos assuntos dos deficientes também é preciso, salienta.

Se éS diferente... A directora da Associação de Surdos apontou ainda que existem casos de portadores de deficiência que passaram nos exames, mas ainda assim não são admitidos depois por causa das deficiência.

“Como o Regime de Ensino Superior está a ser revisto, deve ser implementado um regime de zero rejeição, onde se esclarece que a inscrição em instituições do ensino superior tem de aceitar os que passam nos exames e onde se reservem vagas e ofereçam bolsas. Os deficientes podem também ser talentos?”, questiona.

A líder da Associação de Surdos confirma a afirmação do colega: “em Taiwan, dá-se prioridade aos estudantes portadores de deficiên-cia para que possam estudar no ensino superior, porque acredita-se que a oportunidade de estudo pode alterar a vida deles”, realça. Em Macau, as universidades apenas dão prioridade a estudantes ditos normais e só depois aos portado-res de deficiência. Mas eles não são cidadãos de segunda classe e, aproveitando as vantagens deles, podem trabalhar bem e em cargos altos, não apenas em trabalhos como de lavador de pratos ou empregada de limpeza.”

Chao Seng é prova disso: o jovem, que depois da desistência forçada dos estudos se viu quase em depressão, conseguiu um emprego como assistente de projecto no City of Dreams, trabalhando na sua área preferida – a informática.

SorteS e azareSHoi Long é também surda e, ao HM, confirma o que foi dito por Nerissa Lau. Com 31 anos, a jovem estu-dou na Universidade de Desporto de Pequim e agora trabalha como técnica-adjunta de equipamentos de desporto no Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e é uma atleta de Triatlo bem conhecida em Macau.

Ao candidatar-se ao ensino su-perior, apercebeu-se que o exame unificado do interior da China não aceita estudantes portadores de deficiências, mas o examinador só soube que Hoi era surda depois de a jovem fazer o exame escrito ter mostrado que as suas notas correspondem aos requisitos do exame. O instituto lá aceitou “dar oportunidade”.

Já na escola secundária, os pro-fessores disseram à mãe da jovem que ela nunca iria conseguir estudar no ensino superior. Hoi Long não desistiu e seguiu o seu sonho na área desportiva. Durante a vida

na capital do país, não conseguia ouvir o que os professores diziam, já que estes falavam mandarim e ela apenas sabe ler os lábios em cantonês. Mas, insistiu e conse-guiu tirar notas. Teve “sorte” em não ter muitos exames orais, mas admite que a universidade não tinha quaisquer recursos de estudo ou docentes especiais para surdos, pelo que tudo dependeu muito da capacidade dela. Era pouco fala-dora em Pequim e só comunicava com os colegas através da escrita.

Hoi é agora um caso de su-cesso, mas a muito custo. Voltou a Macau à procura de emprego, tentou candidatar-se a companhias privadas mas estas não responde-ram. Candidatou-se ao cargo de técnica-adjunta no IACM, passou no exame escrito com nota alta, mas na parte oral, quando os examinadores pediram para fazer uma apresentação pessoal, ela não conseguia comunicar bem. Os exa-minadores não acreditavam na sua capacidade, mas a vaga – à falta de melhores candidatos – acabou por ser preenchida por si.

Nos primeiros dois anos de trabalho no IACM, o chefe pedia a Hoi para tirar notas em reuniões, algo que para uma pessoa surda é impossível. Hoi Long passou, então, a supervisionar piscinas, algo que, confessa, a aborreceu.

Dois anos depois, o IACM deu--lhe outros trabalhos adequados à sua deficiência. Envia emails, trata das queixas de cidadãos e faz concursos públicos para compras de equipamentos.

O GAES defende que im-plementa um mecanismo de comunicação constante com as instituições, negociando o direito ao estudo dos portadores de defi-ciência, assim como a melhoria do ambiente. Ainda assim, na voz daqueles que passam pelos pro-blemas, há ainda muito a fazer.

“Como o Regimede Ensino Superior está a ser revisto,deve ser implementado um regime de zero rejeição, onde se esclarece que a inscrição em instituições doensino superiortem de aceitar osque passam nos exames e onde se reservem vagas”Narissa lau Presidente da associação de surdos

“Algumas instituições são teimosas, obrigam a passar as disciplinas obrigatórias, o que não é justo para as pessoas com necessidades especiais.”ivy KuOK estudante invisual

Page 4: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

gcs

4 hoje macau sexta-feira 27.3.2015lag 2015

Leonor Sá [email protected]

N os dias reservados para a apresentação das Linhas de Acção Go-vernativa (LAG) deste

ano da pasta de Administração e Justiça, sónia Chan, secretária responsável pela tutela anuncia que a reestruturação dos serviços públicos e a revisão de leis é prio-ridade na lista de afazeres.

No que à reestruturação diz respeito, Chan indica que, em primeiro lugar, estará a Direcção dos serviços para os Assuntos de Justiça. “Vamos reorganizar a DsAJ e estes vão ser os primeiros trabalhos a ser desenvolvidos. A reestruturação é um trabalho difícil e complexo porque impli-ca muitas funções e instalações, bem como legislação”, apontou a secretária.

De acordo com a dirigente, há muito em jogo quando se fala de efectivação da reforma ad-ministrativa, uma vez que inclui a mudança obrigatória de uma série de questões. “o Governo irá controlar progressivamente a dimensão dos funcionários públi-cos, concretizando o objectivo da

A reestruturaçãodos serviços públicos continua a ser prioridade máxima parasónia Chan. A atenção estávirada primeiropara a DsAJ. Asecretária anunciou ainda a revisão,este ano, daLei de Bases Judiciárias,há muitopedida por vários deputados

AdministrAção e JustiçA Sónia Chan ColoCa reeStruturação da dSaJ em primeiro lugar

“trabalho difícil e complexo”

dSaJ contratação de peSSoaL Será neceSSária SapF “racionaLizarnão é reduzir”Durante a sua intervenção, Kou Hoi In referiu o velho lema de que “racionalizar não é reduzir” para lembrar a necessidade premente de reformular os serviços públicos, frisando que o aumento poderá ser feito na qualidade – através da formação – e a redução, na quantidade. “o mais importante não é despedir pessoas, mas sim exercer um controlo quanto a uma quantia. Tem que haver um controlo do número de funcionários que têm diferentes contratos”, defendeu o deputado. Um outros membro do hemiciclo referiu a necessidade de ser dado mais poder ao IACM. “É preciso dar mais poder ao IACM (...) ou então pode-se criar um grupo interno no IACM para tratar do caso das licenças”, esclareceu.

De acordo com sónia Chan, deverá ser criado um grupo de trabalho específico para lidar com a totalidade de leis em revisão, de forma a que apenas um determinado número de pessoas fique encarregue disso mesmo. No entanto, houve quem tenha defendido um menor gasto do erário público. “As despesas com o pessoal continuam a aumentar e a equipa de funcionários tem que alargar em conformidade, mas a

sociedade acaba por questionar qual a base científica ou racionalidade para as acções do Governo”, disse Ho Ion sang. É necessário, de acordo com o membro do hemiciclo, evitar o “empolamento excessivo da máquina” da Administração. A falta de coordenação entre serviços e a sobreposição de funções e atrasos são três dos problemas referidos pelo deputado. “Há falta de articulação no sistema de responsabilização” critérios

mal explicados e esclarecidos. Há falta de procedimentos para a responsabilização. “A população tem criticado que o regime existe apenas em papel”, queixa-se o mesmo deputado. Com Ho concorda Kou Hoi In, que refere a existência de “problemas que continuam por resolver desde a transferência de soberania”, exemplificando com a racionalização dos quadros e a simplificação administrativa.

Page 5: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

5 lag2015hoje macau sexta-feira 27.3.2015

Leonor Sá [email protected]

a grande novidade das LAG da tutela de Sónia Chan, Secretária para a Admins-

tração e Justiça, para este ano é a tão aguardada revisão da Lei de Bases da Organização Judiciária, que deputados como Melinda Chan, José Pereira Coutinho ou Au Kam San têm vindo a reivindi-car. O anúncio, feito em primeira mão pela própria Secretária, sur-giu como resposta à pergunta de Melinda Chan, ainda que nem se enquadre nas LAG.

“A Lei de Bases da Organiza-ção Judiciária já está a ser revista e já chegámos a um consenso. Embora a revisão não esteja contemplada no nosso calendário para ser apresentada este ano, o trabalho já foi iniciado”, revelou Sónia Chan.

Esta não será, no entanto, a única lei alvo de revisão. Para já sabe-se que estão em cima da mesa o regulamento que legisla o serviço de táxis no território, bem como outros referentes à proibição de fumar e às habita-

e M cima da mesa estiveram ainda questões relacionadas com o preço de produtos ali-

mentares, a falta de locais de venda de produtos frescos, o aumento da qualidade de medidas de segurança alimentar e, finalmente, o licencia-mento de lojas, estabelecimentos de comida e restaurantes. No que diz respeito à reestruturação e alarga-mentos dos mercados municipais da Mitra e do Patane, Sónia Chan, Secretária para a Administração e Justiça, assegurou que esta acção terá lugar “em breve”, pelo que vai ajudar a colmatar a necessidade da população. “Vamos acelerar os trabalhos de apreciação das plantas para alargar os mercados”, assegu-rou o director do IACM.

A afirmação surge na sequência do anúncio deste alargamento pelo Chefe do Executivo, nas LAG da passada segunda-feira.

AdministrAção e JustiçA Sónia Chan ColoCa reeStruturação da dSaJ em primeiro lugar

“trabalho difícil e complexo”racionalização de quadros e sim-plificação administrativa”, referiu Sónia Chan no seu discurso inicial das LAG.

Durante o mesmo discurso, a governante frisou a importância de passagem de funções do Instituto para os Assuntos Cívicos e Muni-cipais para o Instituto do Desporto e o Instituto Cultural. Outra das medidas para o primeiro mandato da Secretária está relacionado com a optimização dos trabalhos desempenhados pelos funcionários públicos e pelos departamentos do Governo.

“Só nas funções desportivas, estão envolvidas oito leis ou re-gulamentos. De acordo com as estatísticas dos SAPF, o número de funcionários até final de 2014 era de 31240”, informa Sónia Chan. No fundo, quer chegar-se a um conceito de harmonização inter-departamental.

“O Governo irá continuar a optimizar os procedimentos ad-ministrativos de gestão interna do Governo, reduzindo etapas desnecessárias, melhorando a eficiência da gestão e funciona-mento”, acrescentou Sónia Chan na sessão de apresentação das LAG para este ano.

A reforma da Administração Pública está na linha da frente há já vários anos, mas, tal como ante-riormente, não foram anunciados muitos pormenores acerca desta intenção de Sónia Chan. Contudo, uma coisa é certa: se alguma vez se falou na abolição dos regimes de contratação além-quadro e de assalariamento, ontem Sónia Chan afastou essa hipótese, fri-sando que não se trata de uma prioridade. “Será seu intuito eli-minar isto?”, perguntou Melinda Chan à Secretária da pasta de Administração e Justiça. “Neste momento, não temos intenção de eliminar esse tipo de contratos”, assegurou Chan.

ÓrgãoS MunicipaiSuMa eSpécie de conSeLhoS conSuLtivoS

A ideia de criar órgãos municipais, que foi referida por Chui Sai On na sua apresentação das LAG para este ano, na passada segunda-feira, foi igualmente focada ontem. A ser efectivada, esta espécie de “regresso” ao tempo da Administração lusa prevê a existência de organismos consultivos que respondem directamente à Secretaria da Administração e Justiça e não têm qualquer poder político. Antes da decisão final será ainda lançada uma consulta pública para apurar a opinião da sociedade sobre esta ideia. O resultado das

conversações só deverá ser anunciado em 2017. Até lá, o debate vai continuar. Quanto à criação das entidades municipais (…), sabemos que este é encarregue pelo Governo para disponibilizar serviços de entretenimento e recreativos e pode ajudar a transformar numa plataforma”, explicou Sónia Chan.

PrometidAs mAis medidAs de segurAnçA AlimentAr

Tudo pela nossa genteQuando ao Mercado Abastece-

dor – que serve apenas revendedo-res e importadores –, Sónia Chan referiu que também aquela infra--estrutura deverá ser aumentada de forma a possibilitar a entrada de mais vendedores. A medida deverá também servir para ajudar na estabilização do preço de pro-dutos frescos e vivos, que, refere a população, está inflacionado. Outra das novidades prende-se com a promessa de um estudo sobre a eventual abertura de um estabelecimento de venda de pro-dutos frescos na zona no NAPE, que não dispõe de qualquer local de venda destes bens.

No que diz respeito à segurança alimentar e inspecção dos produ-tos, foram vários os deputados que colocaram questões acerca disto, justificando a necessidade de melhorar o nível das inspecções com os mais recentes escândalos alimentares. Depois de vários in-cidentes terem tido lugar em 2014, Alex Vong, presidente do IACM, veio demonstrar que aquela secre-taria está empenhada em impedir que estes voltem a ter lugar.

“Os nossos alimentos são maioritariamente importados e (...) também há inspecção naquilo que circula no mercado, como ani-mais vivos”, explicou Alex Vong.

Outra das novidades passa por, de acordo com Alex Vong, lançar 28 novos padrões de segurança alimentar.

O assunto do licenciamento de novos espaços de compra e venda alimentar – incluindo estabeleci-mento de comes e bebes, restauran-tes e lojas – foi igualmente focado. Houve quem sugerisse a criação de um mecanismo que facilitasse a aprovação, num espaço de tem-po mais curto, das licenças. Alex Vong respondeu ao hemiciclo com números, de forma a comprovar que várias aprovações foram feitas dentro do prazo inscrito na lei. “O IACM é o responsável pelo licenciamento de alguns serviços. Foram autorizadas 174 licenças no ano passado (...) e 69 pedidos conseguiram ser atendidos dentro de 49 dias úteis, tendo 65 pedidos excedido o tempo”, disse. - L.S.M.

lei de BAses JudiciáriAs revisão chegA finAlmente

O que todos queriam

e-governMent aLex vong proMete MeLhorarperforMance de pLataforMaAlex Vong defendeu ontem que a plataforma e-government já se encontra em funcionamento e tem servido para resolver uma série de coisas. No entanto, os deputados têm algumas dúvidas quanto a isso, acrescentado sugestões para a utilização deste modelo como alternativa à necessidade dos cidadãos recorreram a vários serviços públicos para resolver um simples assunto. “O Executivo tem que ter o Governo electrónico como principal preocupação”, defendeu a deputada Kwan Tsui Hang, adepta deste sistema, cujo pleno funcionamento está há vários anos por acontecer. Este é outro dos objectivos do gabinete de Sónia Chan, que espera conseguir arranjar mais instalações para isso mesmo. Embora tenham surgido várias críticas respeitantes à falta de funcionamento do sistema de internet do Executivo, o director dos Serviços de Administração e Função Pública, Kou Peng Kuan, assegurou ontem que o serviço governamental de tratamento de problemas está já a funcionar, nomeadamente no que toca à emissão de documentos. “Temos vindo a activar este mecanismo e as pessoas já começam a poder obter [certidões] por meio electrónico.

ções económicas. Além disso, Sónia Chan disse ainda ponderar a revisão de códigos nucleares, como são o de Processo Civil e Penal. A questão da revisão legislativa foi um dos pontos

que mais polémica gerou na sessão de ontem.

“Esperamos que através deste plano possamos melhor promover os nossos trabalhos (…) e já tive, de facto, contacto com muitas

associações e concluí que há realmente leis e regulamentos que devem ser revistos”, confessou ontem a Secretária.

Cheung Lap Kwan foi o primeiro a fazer uso da palavra, frisando, como alguns outros membros do hemiciclo, a neces-sidade de revisão de uma série de diplomas. “De facto, muitas leis já estão desactualizadas”, começou Cheung por dizer. O deputado refere o Código Penal como exemplo, justificando que não faz jus aos novos tempos.

Ella Lei também surge como defensora da revisão de várias leis, mas exige a criação de um plano específico. “Não temos sequer um calendário para saber o plano legislativo [do Executivo] e o Go-verno comprometeu-se a acelerar estes trabalhos, mas parece-me que essas promessas nunca foram honradas”, lamentou Ella Lei.

Page 6: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

política

gonç

alo

lobo

pin

heir

o

6 hoje macau sexta-feira 27.3.2015

Flora [email protected]

o deputado Ho Ion Sang critica o facto de o pro-jecto de reconstrução do pavilhão e da habi-

tação social de Mong-Há, que estava prevista estar concluído no início do ano de 2014, ter sido prorrogado pelo Governo. A obra, além de ter falhado a data de conclusão, ainda se mantém suspenso.

Numa interpelação escrita, Ho Ion Sang recorda que estava previsto no relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) do ano passa-do que o projecto da reconstrução do estádio e da habitação social de Mong-Há ficassem concluídas em 2014. Contudo, o projecto foi pror-rogado mais um ano, mantendo-se, contudo, em situação de suspensão. Ou seja, a conclusão das obras não tem data definida.

Considera o deputado que a di-mensão de espaços e equipamentos desportivos em Macau é limitado por falta de recursos de terrenos, pelo que a suspensão do projecto em Mong--Há, para além de ter aumentado o orçamento do projecto, tem também influência nos benefícios sociais e económicos.

Ho Ion Sang questiona, por isso, o Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-Estruturas (GDI) quais as razões para a autorização de prorro-gação do projecto. Ho Ion Sang quer ainda saber se existe um calendário para a conclusão das obras e para a sua abertura.

Por último, é necessário saber qual o valor do excesso de despesas do projecto, defende ainda o depu-tados dos Kai Fong. Ho Ion Sang pede que sejam tornadas públicas as respectivas informações para que a sociedade tome conhecimento e supervisione. É também importante saber se existe um regime de res-ponsabilização para o responsável em causa, defende.

LAG Chan Hongdesiludida

Imobiliário Falta de oferta pode aumentar preços

O sector imobiliário de Macau considera que o

relatório das Linhas de Ac-ção Governativa (LAG), ao mencionar apenas medidas para a habitação pública, pode influenciar o preço das casas no mercado privado. O facto de não mencionar as ofertas das casas no privado, considera o presidente da Associação dos Empresários do Sector Imobiliário de Macau, Ung Choi Kun, em conjugação com medidas novas para a habitação pública pode ter impacto no sector. “As actuais medidas que visam aos preços dema-siado elevados do imobiliário já não conseguem resolver os problemas críticos do mer-cado privado, ou seja, há um desequilíbrio entre a oferta e a necessidade de imóveis. Tem que se aumentar as ofertas pri-vadas, pelo que se deve acelerar os processos administrativos, evitando que haja aumentos do preços”, frisa.

Jogo IACM quer clareza no que é publicidade ilegal

MEMbrOS do Conselho Consultivo do Instituto

para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) sugerem que seja melhor esclarecida a definição de publicidade ilegal ao Jogo, de forma a compreen-der se é ilegal a publicidade que surge no exterior de prédios, bem como em táxis. recorde-se que o IACM já penalizou cerca de 60 publicidades ilegais e enviou cartas para 43 estabelecimentos com negócios de publicidade, alertando-os para a ilegalidade. Contudo, o vogal do Conselho, Mok Chi Wai, queixa-se de falta de definições claras. “Todas as publicidades de Jogo que não são das seis operadoras já são ilegais? A autoridade deve escla-recer melhor a definição dessas publicidades.” Outro membro, Ieng Sai Hou, referiu que existem publicidades no exterior de táxis e que estes carros foram avisados sobre a ilegalidade pela Direc-ção dos Serviços de Economia (DSE), ainda que já tivessem recebido aprovação do IACM.

Mong-Há DeputaDo critica prorrogação De pavilhão e habitação social

onde está o que nos prometeram?

a presidente da Associação de Educação de Macau, Chan Hong, considera que

o relatório das Linhas de Acção Go-vernativa (LAG) para este ano não menciona muito a área de educação. A também deputada espera que haja mais informações sobre a “vila de escolas” prometida para a zona A dos novos aterros, bem como um melhor planeamento de vagas e de ajuda às escolas sem espaço suficiente.

De acordo com o Jornal Ou Mun, Chan Hong considera que o Governo não compreende bem as necessidades de vagas nas

creches e escolas de cada zona de habitação, pelo que pede que haja melhor planeamento.

Ainda que se tenha de esperar por Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, para saber mais pormenores desta área, a deputada esperava mais do Chefe do Executivo, como por exemplo o anúncio de um mecanismo constante de atribuição de recursos da parte do Governo, de forma a que as escolas possam planear melhor as actividades, uma vez que, ao dependerem apenas dos recursos

que têm sem saber quanto vão receber, têm dificuldade em planear a longo prazo. “Acho que é necessário construir um mecanismo de financiamento para educação pública”, disse o Secretário.

“Os terrenos desocupados que vão ser reavidos podem ser consi-derados como locais de construção para escolas, já que, actualmente, existem 17 escolas que estão insta-ladas em prédios. O Governo deve implementar um calendário para a melhoria do ambiente educativo das escolas”, concluiu. - F.F.

Page 7: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

tiag

o al

cânt

ara

7sociedadehoje macau sexta-feira 27.3.2015

Fil ipa araú[email protected]

o Estudo de Capacida-de de Acolhimento Turístico de Macau, da responsabilidade

do Instituto de Formação Turística (IFT) é claro: apesar do território ter capacidade para receber mais turistas, segundo as estimativas, é necessário que o Governo tenha atenção. É preciso moderar o aumento do número de visitantes,

IFT Recomenda modeRação no cRescimento de tuRistas

Meu querido mês de AgostoUma distribuição dos visitantes de Macau durante o ano e a cooperação com os agentes activos do território para uma melhor calendarização e organização de eventos é o que o defende o relatório do IFT sobre o estudo da capacidade de acolhimento turístico de Macau

mas também é preciso que este não decresça sem controlo.

Numa apresentação de pouco mais de meia hora, Leonardo Dioko, director do Centro de Estudos de Turismo (ITRC, na sigla inglesa), defendeu que “os números [relativos ao turismo] mudaram, mas também Macau mudou”. Em declarações à imprensa no final da apresentação do estudo, o director afirmou que a “capacidade [de receber turistas] não é um conceito fixo” e que ao longo dos anos se tem verificado que “apesar do turismo ter crescido em Macau também a sua capacidade de recepção cresceu”.

Recorde-se que os número de visitantes, no ano passado, atingiu os 31 milhões. Números estes que fizeram com que Alexis Tam, Secretário para o Assuntos Sociais e Cultura, afirmasse que “se conti-nuasse a crescer seria impossível” Macau receber mais turistas. O Secretário chegou mesmo a dizer que seria impossível continuar com este aumento e que o Governo iria entrar em conversações com o Governo Central Chinês para en-contrar a melhor solução. Durante as suas afirmações públicas Alexis Tam afirmou haver a possibilidade de limitar a entrada de visitas,

declaração esta que causou algum mau estar social. Dias depois, o próprio Secretário esclareceu que tudo estaria em aberto e não exis-tia – como ainda não existe até à data – qualquer decisão, no entanto, era importante referir que é preciso distribuir o os visitantes durante todo o ano e não só nas semana douradas ou épocas festivas.

O estudo agora avançado pelo IFT explica que Macau efectiva-mente tem capacidade para receber mais turistas. As estimativas do documento mostram que, em 2014, Macau poderia ter recebido entre 32 milhões até cerca de 34 milhões de visitantes.

Em análise esteve a capacidade de suporte social, assim como a capacidade física do território, ou seja, a satisfação da experiência para residentes e para visitantes, que engloba a qualidade de vida e, no segundo caso, a capacidade das infra-estruturas, tais como táxis, autocarros e hotéis.

Um de cada vezLeonardo Dioko explicou ainda que o atraso na construção dos grandes empreendimentos turísticos é um claro sinal para Macau “abran-dar” e consequentemente “gerir

muito bem” a questão dos turistas. Dioko defende que a “capacidade [de Macau] tem-se ajustado por si própria” e que a construção de mais hotéis está a aumentar a capacidade de acolhimento de Macau, mas ao longo dos anos, diz, “notamos que tem existido um desaceleramento” dessa capacidade e que se atingiu, de certa forma, “um ponto de satu-ração”, pelo que tanto os residentes, como os visitantes começam a “ter experiências negativas”.

“Há construções que se têm atrasado e basta um pequeno atraso para causar grandes perturbações aos residentes e visitantes”, diz o director, que argumenta ainda que é necessário um equilíbrio necessário para o bem estar, tanto dos turistas como dos residentes.

O número de visitas “não pode ser muito baixo, mas também não pode ser muito alto”, defende ainda o estudo do IFT. Para isso, recomenda a instituição, os turistas devem ser convencidos a visitar o território durante outras alturas ao longo do ano.

“[O número de visitantes] devia ser distribuído de forma mais igualitária ao longo do ano”, argumenta Dioko.

Por fim, defende o IFT, é preciso

ainda que os serviços e o Governo cooperem entre si. O IFT sugere uma calendarização de eventos organiza-do pelas entidades em Macau: “em diferentes horários”, mais distribuí-dos e em “lugares mais afastados dos pontos turísticos”.

OUve O qUe te digORelativamente às recomendações que o Instituto lança, o IFT vai ao encontro da posição do Governo na necessidade de controlo de visitantes, distribuindo-os por todo o ano, aconselhando ainda o Executivo a expandir os serviços e infra-estruturas, assim como a criação de novas áreas de interesse turístico e uma aposta na maior di-versificação de oferta aos turistas.

Questionado sobre a possibi-lidade de limite ou até fim dos vistos individuais, Dioko considera que esta é uma medida radical e desnecessária.

“Não é cortar de forma radical, todos são livres para vir [a Macau]. O que podemos fazer são acções de promoção e comunicação para influenciar os visitantes sobre a melhor altura para virem. Ao pla-near e coordenar todos os eventos turísticos seremos capazes de gerir o número de visitantes.”

Page 8: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

8 sociedade hoje macau sexta-feira 27.3.2015

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 198/AI/2015-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor YU ZEQUN, portador do Salvo-Conduto de Dupla Viagem da R.P.C. n.° W67543xxx , que na sequência do Auto de Notícia n.° 54/DI-AI/2013, levantado pela DST a 26.05.2013, e por despacho da signatária de 28.11.2014, exarado no Relatório n.° 916/DI/2014, de 17.11.2014, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues n.° 426, Edf. Ving Tai, 6.° andar E, Macau. -----------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito sobre a matéria constante daquele auto de notícia, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------A matéria constante daquele auto de notícia constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 18 de Março de 2015.

A Directora dos Serviços,Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 199/AI/2015-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor YU ZEQUN, portador do Salvo-Conduto de Dupla Viagem da R.P.C. n.° W67543xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 54.1/DI-AI/2013, levantado pela DST a 26.05.2013, e por despacho da signatária de 28.11.2014, exarado no Relatório n.° 917/DI/2014, de 17.11.2014, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório, por suspeita de angariar pessoas com vista ao seu alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues n.° 426, Edf. Ving Tai, 6.° andar E, Macau. --------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito sobre a matéria constante daquele auto de notícia, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------A matéria constante daquele auto de notícia constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 2 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 18 de Março de 2015.

A Directora dos Serviços,Maria Helena de Senna Fernandes

pub

A enviada especial da ONU para as Alterações Cli-máticas, Gro Harlem Brundtland, disse ontem

em Macau que os padrões de de-senvolvimento do Delta do Rio das Pérolas vão ter “um efeito à escala global” em termos ambientais.

“Aqui, no Delta do Rio das Pérolas, estamos perante uma emergente megacidade de quase 60 milhões de pessoas, caracterizada pelo Banco Mundial como a maior área urbana do mundo, em termos de população e dimensão. Os pa-drões de desenvolvimento do Delta do Rio das Pérolas vão afectar não só os milhões que vivem na região,

O volume de marfim apreen-dido em Macau manteve--se baixo nos últimos anos

e desde Janeiro não foi realizada qualquer apreensão no território, informaram as autoridades, refe-rindo que “a grande procura está no interior da China”. Contudo, o responsável pela Câmara de Comércio Africana em Macau diz-se preocupado pelo facto de não ser proibido importar marfim esculpido para o território.

“Estou um pouco preocupa-

San Miu comprado pelo Dairy FarmO supermercado San Miu foi comprado pelo grupo The Dairy Farm Company, que tem agora em seu comando 15 supermercados de grande superfície. O grupo de Hong Kong, criado no século XIX por um cirurgião escocês, Patrick Manson, e outros sócios, decidiu criar a rede Dairy Farm com o intuito de “melhorar a vida da comunidade da região vizinha”. O grupo conta com mais de 6100 lojas, entre supermercados, hipermercados, lojas de conveniência, de saúde e beleza e ainda restaurantes. Durante o ano de 2014, o grupo ultrapassou os 13 mil milhões de dólares americanos em vendas.

Rio das péRolas ONU Fala eM eFeITOS à eSCala glObal

um alto preço a pagarO desenvolvimento do Delta do Rio das Pérolas vai trazer grandes impactos no ambiente, defende a especialista Gro Harlem Brundtland, considerada a “mão do desenvolvimento sustentável”

como criar um impacto à escala global para o futuro da humanidade e sua relação com o planeta Terra”, afirmou Gro Harlem Brundtland.

A enviada especial da ONU para as Alterações Climáticas falava na abertura do MIECF (Fó-rum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau), que decorre até sábado.

Descrita como a “mãe do desenvolvimento sustentável”, a também antiga primeira-ministra da Noruega lembrou que o Mi-nistério do Ambiente da China reportou que o Delta do Rio das Pérolas “é a área mais poluída, ao nível da água e do ar”.

“Paralelamente, contudo, fui informada que sete das dez cidades com melhor qualidade do ar na China estão localizadas no Delta do Rio das Pérolas, segundo relatórios de Janeiro deste ano”, acrescentou.

Em concreto sobre a região administrativa especial chinesa, Gro Harlem Brundtland decla-rou: “Não há dúvida de que há grandes desafios, e que políticas claras precisam de ser colocadas em prática em Macau, com vista a alcançar o objetivo já traçado de uma cidade verde de baixo carbono”.

A mesma responsável descre-veu a água, alimentação e energia como “componentes essenciais do desenvolvimento sustentável” e sublinhou a “necessidade de planeamento urbano”.

“Muitas cidades, incluindo aqui na Ásia, estão a trabalhar ardua-mente para promover um futuro sustentável”, acrescentou.

“Felizmente, hoje em dia há uma competição em curso para mostrar iniciativas e resultados para melhores cidades, na área dos transportes públicos, soluções de energia e práticas de construção”, sublinhou.

Gro Harlem Brundtland referiu ainda que durante muito tempo foi colocada a tónica exclusivamente no financiamento público, defen-dendo também o envolvimento do sector privado. - lusa/HM

MaRfiM Responsável pReocupado coM tRáfico de escultuRas

Com todos os dentes de forado, porque se os contrabandistas descobrem que não é proibido [importar marfim esculpido] em Macau, então a região pode ser usada como rota [para o tráfico]”, sublinhou.

Questionada pela Lusa sobre um eventual aumento do contra-bando, a secretaria para a Segu-rança disse “não ter comentários”.

Francis Nwachukwu destaca pela positiva a proibição de Pequim durante um ano da importação de marfim esculpido na China, uma

medida que “pode ser simbólica”, mas está “na direcção certa”, por-que “cria uma consciencialização nos caçadores furtivos de que os governos estão a tentar combater o comércio ilegal”.

“O primeiro passo foi dado. É bem-vindo por causa da caça furtiva. Para tornar a medida mais efectiva deveria haver uma colaboração mais estreita com os governos das duas regiões admi-nistrativas especiais”, acrescentou o responsável nigeriano, vincando

que para alcançar melhores resul-tados “Macau e Hong Kong deve-riam também impor a proibição”.

“Estes animais estão a ca-minhar para a extinção, por isso Macau devia seguir a mesma me-dida e não deixar alternativas aos caçadores furtivos. Por exemplo, se eles não conseguirem entrar pela China, então vão procurar rotas alternativas para levar [o marfim esculpido] para o interior da China: através de Hong Kong ou de Macau”, salientou.

Como já tinha sido adiantado pelo HM, o maior volume alguma vez apreendido em Macau remon-ta a 2008, quando os serviços aduaneiros da região confiscaram 528,65 quilogramas de marfim em

bruto, “em rota de Macau para o interior da China por barco”.

Já em 2014 foram apreendi-dos 39,4 quilogramas de marfim em bruto, e no ano anterior 50,2 quilogramas em três operações realizadas em meados de Julho.

O presidente da Câmara de Comércio Africana em Macau, Francis Nwachukwu, admite, em declarações à agência Lusa, que a grande procura esteja no mercado do interior da China.

“Acreditamos que Macau é um mercado inexistente para o consumo doméstico, e por isso não é uma região de destino”, afirmaram ainda os Serviços de Alfândega de Macau em resposta à agência Lusa.

Page 9: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

9 sociedadehoje macau sexta-feira 27.3.2015

pub

O co-fundador de uma empre-sa chinesa de transacções de

‘bitcoin’ defendeu, em Ma-cau, que a moeda virtual tem potencial de utilização no território, nomeadamente na indústria do Jogo.

“Macau é um destino internacional para o jogo na Ásia. A pataca não é am-plamente reconhecida, nem muito popular fora de Macau. O dólar de Hong Kong tem mais influência. Por isso é muito simples: a ‘bitcoin’ pode permitir aos viajantes e visitantes de Macau, especial-mente para a indústria do Jogo, um meio de transferir os seus fundos, independentemente dos seus países de origem, para virem jogar nos casinos”, disse Bobby Lee.

“Eles vêm para Macau jogar. Em vez de trazerem as moedas locais, podem trazer as ‘bitcoins’”, afir-mou o empresário, exem-

O Instituto Politéc-nico de Macau apresentou ontem

a licenciatura em Relações Comerciais China-Países Lusófonos que se destina a apoiar os investidores chineses no espaço da lusofonia.

“Trata-se de uma for-mação superior claramente inovadora, socialmente relevante que contribui para a criação de condi-

Exercício de mapeamento de destroçosMacau, China, Hong Kong e Singapura reuniram-se no território, com investigadores locais e técnicos, num exercício de mapeamento de destroços. O exercício, que aconteceu na quarta e quinta-feira passadas, simulou o embate de uma aeronave em Coloane, devido à falha técnica de um motor, depois de ter descolado do Aeroporto Internacional de Macau. Depois dos trabalhos de busca e salvamento, a equipa local realizou o mapeamento dos destroços e preparou a documentação necessária, realizando a plotagem e análise de dados. “O treino em mapeamento foi o primeiro deste tipo de treinos a ser realizado pela Autoridade de Aviação Civil (AACM) com a participação de entidades estrangeiras”, explica o comunicado da AACM. No simulacro estiveram envolvidas 30 pessoas, que operaram com uma série de equipamentos de mapeamento e de gravação de vídeo, designadamente o Sistema de Posicionamento Global, o equipamento de medição de laser e infra-vermelhos, o digitalizador 3D e o veículo aéreo não tripulado.

Bitcoin POteNCIAl uSO NOS CASINOS De MACAu

A moeda que vem do frioBobby Lee defende que a ‘bitcoin’ poderia substituir o dólarde Hong Kong nos casinos de Macau

iPM LAnçAdo oficiALMente curso de reLAções entre chinA e PLP

Em português nos entendemos

plificando que o sistema segue o mesmo funcio-namento para clientes do interior da China, Filipinas ou Tailândia.

O co-fundador e director executivo da BTC China falava aos jornalistas à mar-gem de uma apresentação intitulada, na qual defendeu as mais-valias da moeda digital criada há seis anos.

Bobby Lee estima que um milhão de pessoas use

‘bitcoins’ na China. Com um universo de clientes maiorita-riamente chinês, mas também de outros países, a BTC China não consegue precisar o uso da moeda digital: “Sim, vende-mos ‘bitcoins’ às pessoas, mas não sabemos para que é que elas as usam. Se é para virem jogar em Macau, se para com-prar computadores na Dell, ou se fazem algo com elas”, admitiu o director-executivo.

Em Junho do ano passa-

do, a imprensa local noticiou a entrada em funcionamento da primeira máquina de venda automática de moeda virtual, instalada numa loja de um casino da Sands Chi-na, mas a operadora negou ter conhecimento da exis-tência do quiosque, segundo informações reproduzidas na Rádio Macau.

Questionado sobre even-tuais receios da indústria do jogo relativamente às ‘bit-coins’, Bobby Lee respondeu que essa é “uma assunção pessoal” e que a confirmar-se poderia ser justificada com a possibilidade de “a indústria do jogo receber pressão dos reguladores para não tocarem nas ‘bitcoins’”.

“Todas as transacções com ‘bitcoins’ são muito transparentes”, afirmou durante a palestra.

Já sobre os riscos de associação à lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo – os quais têm

sido referidos pelos bancos centrais e autoridades mo-netárias de alguns países e territórios, incluindo Macau – Bobby Lee respondeu que esses problemas acontecem “com ou sem ‘bitcoins’”.

“Para resolver esse pro-blema é preciso apanhar os criminosos. A ‘bitcoin’ já existe. (…) Culpar algo que já foi inventado não é útil”, observou.

“Penso que devíamos colocar a nossa energia em fornecer melhor regulação. Obviamente que financiar terrorismo é mau, mas como é que se pára o financiamento de terrorismo? A forma de o parar é apanhar os terroristas, não é desligar a rede de pa-gamentos online”, adiantou.

O empresário disse ainda que a “‘bitcoin’ é utilizada por um nicho de mercado porque a maioria das pes-soas não percebem a sua essência” e porque envolve sistemas que precisam de ser desenvolvidos.

Nesse sentido, compa-rou o uso da moeda digital ao do correio electrónico: “A maioria dos utilizadores só começou a usar o email dez anos após a sua criação, no final dos anos 1990. A maior parte das pessoas não tem ‘bitcoin’ ainda, mas, talvez nos próximos cinco a dez anos, esta venha a tornar-se mais popular”, concluiu. - LusA/hM

ções objectivas ao reforço da afirmação de Macau enquanto plataforma para o desenvolvimento das relações comerciais entre a China e os Países Lusófo-nos”, disse a coordenadora do programa de estudos, Aurélia Almeida.

Com a criação deste curso, o Politécnico de Macau “procura contri-buir para dar resposta às necessidades de formação

de quadros altamente qua-lificados, capazes de apoiar os agentes económicos da China e de Macau no estabelecimento e desen-volvimento de relações comerciais com os países de língua portuguesa”.

Os licenciados deverão “adquirir conhecimentos e competências no domínio da língua portuguesa e, ao mesmo tempo, da econo-mia, do comércio e das regras legais aplicáveis à actividade comercial e industrial nos países lusó-fonos”, salientou Aurélia Almeida.

A par da apresentação do curso, que contou com a presença do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, foi também lançado o manual “Português Global”, um

meio de ensino “especi-ficamente concebido para apoiar o ensino do portu-guês a estudantes chineses do ensino superior”, desta-cou Carlos André do Cen-tro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Politécnico de Macau e que terá um papel importante também no novo projecto.

Para o presidente do Instituto Politécnico de Macau, Lei Heong Iok, o lançamento do curso - para o qual a partir de hoje estão abertas inscrições de candidatura e cujas aulas irão arrancar em Agosto, no próximo ano lectivo - é mais um “contributo” do estabelecimento não só para o ensino em portu-guês, como para a afirma-ção de Macau no “papel de plataforma”.

Page 10: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

10 publicidade hoje macau sexta-feira 27.3.2015

Assine-oTelefone 28752401 | fax 28752405

e-mail [email protected]

www.hojemacau.com.mo

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 72/2015-----Não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o Senhor GARETH ROBERTS, explorador do estabelecimento do bar “THE HOLE IN THE WALL”, situado na澳門孫逸仙大馬路1381號帝景苑地下P舖, que na sequência do Auto de Notícia n.° 014/B/2013-P°.225.48, levantado pelo CPSP em 09.07.2013, e por despacho da signatária de 17.12.2014, exarado no Relatório n.° 969/DI/2014, de 09.12.2014, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório. ------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 5 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito sobre a matéria constante daquele auto de notícia, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em Direito conforme o disposto no n.° 3 do artigo 95.° do Decreto-Lei n.° 16/96/M, de 1 de Abril. ----------------------------------------------A matéria constante daquele auto de notícia constitui infracção ao artigo 30.° do Decreto-Lei n.° 16/96/M, de 1 de Abril –“Os estabelecimentos hoteleiros e similares só podem abrir ao público após a emissão da licença respectiva.”, punível com encerramento imediato do estabelecimento e multa de $30,000.00 (trinta mil patacas), nos termos do n.° 1 e da alínea b) do n.° 2 do artigo 67.° do citado diploma; em conformidade com o disposto no n.° 3 do artigo 67.° do mesmo diploma, a multa é elevada para o dobro quando não haja sido dado cumprimento ao disposto no artigo 14.° .---------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo poderá ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau. -----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 17 de Março de 2015.

A Directora dos Serviços,Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 200/AI/2015-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor ZHOU JIANCHONG, portador do Salvo-Conduto de dupla viagem da R.P.C. n.° W72284xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 2/DI-AI/2014, levantado pela DST a 07.01.2014, e por despacho da signatária de 30.01.2015, exarado no Relatório n.° 35/DI/2015, de 21.01.2015, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 761, Edf. Chung Yu, 17.° andar C. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito sobre a matéria constante daquele auto de notícia, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------A matéria constante daquele auto de notícia constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 18 de Março de 2015.

A Directora dos Serviços,Maria Helena de Senna Fernandes

Page 11: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

11chinahoje macau sexta-feira 27.3.2015

O banco de desenvol-vimento de infra--estruturas proposto pela China terá sede

em Pequim, afirmou Shi Yaobin, vice-ministro de Finanças chinês, em um comunicado. Segundo Shi, os membros do Banco Asiático de Investimento chegaram a um acordo inicial sobre o local do principal escritório da instituição.

A necessidade de outros escri-tórios vai depender da evolução das operações do banco, afirmou Shi. O presidente da Indonésia, Joko Widodo, havia comentado que gostaria que a sede do banco fosse no seu país.

O novo banco terá foco no de-senvolvimento de infra-estruturas em países asiáticos. A China tem tentado aumentar esses investi-mentos nos mercados emergentes, especialmente na Ásia, para ajudar a expandir o comércio.

Shi não quis comentar se Pequim deu poder de veto sobre as decisões do banco em troca de apoio de potenciais membros europeus e disse apenas que a China nunca procurou o poder de veto no banco. Segundo o vice--ministro, a estrutura accionista do banco ainda está em nego-ciação, mas haverá diferentes arranjos para membros asiáticos e não asiáticos.

A China tem afirmado que o banco terá 35 membros até o fim deste mês e Shi disse que o número final de países fundadores

O exército chinês levou a cabo manobras militares com fogo real na fronteira

do país asiático com o norte da Bir-mânia, numa zona onde persistem os conflitos entre os rebeldes de minoria kokang e as forças armadas birmanesas.

Segundo o canal militar da emissora de televisão estatal chine-sa, CCTV, uma brigada do exército da província de Yunnan, que faz fronteira com a Birmânia, levou a cabo “recentemente” manobras nocturnas de grande escala com fogo real nas montanhas, de modo a provar que as tropas “estão prontas para combater de noite”.

As imagens mostram soldados equipados com lança-chamas rea-

O consórcio chinês Fosun, proprietário da Caixa--Seguros, em Portugal,

anunciou ontem um aumento de 24,2% dos lucros em 2014, para 6.854 milhões de yuan.

Na área seguradora, assumida como “a mais importante” do grupo e “um motor decisivo para o seu futuro crescimento”, os lucros somaram 1.149 milhões de yuan, um aumento de 119,4% em relação a 2013, assinala o relatório anual do Fosun.

A compra de 80% do capital da Caixa-Seguros em 2013, por cerca de 1.000 milhões de euros, é evocada no relatório como “uma das mais importantes aquisições” do grupo em toda a sua história.

Banco da China Lucros cresceram 8%

OS resultados do Banco da China, que tem actividade

em Portugal e tem sido dado como um dos interessados na compra do Novo Banco, voltaram a crescer no ano passado, mas a um ritmo inferior ao de 2013. O banco comunicou que os lucros aumentaram 8,22% em 2014, para 177.198 milhões de yuans. Em 2013, os lucros tinham subido 12,35%.

Os resultados reflectem um abrandamento da economia chine-sa e, em comunicado, o presidente do banco, Tian Guoli, afirmou que a instituição “vai dar passos proac-tivos para abraçar o ‘novo normal’ de crescimento económico”, usan-do uma expressão que tem sido usada na China para descrever a actual conjuntura económica. Já o presidente executivo do banco, Chen Siqing, adiantou que o banco tem o plano “de aderir à tendência de internacionalização que se está a desenvolver” e de acelerar o processo de “procurar qualidade em vez de tamanho”.

No comunicado de apresen-tação de resultados, o Banco da China disse ainda ter aumentado as provisões face aos empréstimos domésticos que concedeu.

O Banco da China, que é o quarto maior naquele país em termos de activos, abriu uma de-legação em Lisboa há dois anos. Agora, tem surgido na imprensa como fazendo parte da lista de potenciais compradores do Novo Banco, um rol onde constam também duas outras entidades chinesas: o grupo Fosun, dono da seguradora Fidelidade e da Luz Saúde, e o Anbang Insurance Group.

Sede do Banco aSiático de inveStimento Será em Pequim

Bola ao centroChina conseguiu a sede da instituição que poderá desempenhar o papel do FMI na Ásia.

Exército rEaliza manoBras com fogo rEal

Birmânia avisadalucros do grupo fosun aumEntaram 24,2%

Império seguroConstituída por três compa-

nhias (Fidelidade, Multicare e Cares), a Caixa-Seguros repre-senta cerca de 30% do mercado segurador português.

O Fosun tem também par-ticipações em companhias de seguros na China continental, Estados Unidos e Hong Kong, e investe igualmente nos sectores da saúde, imobiliário, turismo e indústria farmacêutica.

No fim de 2014, os seus activos no domínio dos seguros excediam 113.085 milhões de yuan, representando mais de um terço (34,8%) do total do grupo, assinala também o relatório.

Fundado em Xangai, no início da década de 1990, o Fosun é consi-

derado um dos mais lucrativos con-sórcios privados chineses. O presi-dente do grupo, Guo Guangchang, de 48 anos, conhecido como “o Warren Buffet da China”, é um dos mais ricos investidores chineses, com uma fortuna pessoal avaliada em 4.500 milhões de dólares.

Em Portugal, o Fusun já com-prou também a antiga Espírito Santo Saúde, actual Luz Saúde, por 480 milhões de euros, e é apontado como um dos candida-tos à compra do Novo Banco.

lizando, de noite, vários exercícios debaixo de intenso fogo de artilha-ria, mas não foram revelados mais pormenores sobre estas operações, como a data em que aconteceram.

As manobras militares do Exér-cito de Libertação Popular chinês acontecem depois de a China denun-ciar este mês que aviões de guerra birmaneses tinham entrado no seu espaço aéreo e foram responsáveis por uma bomba que matou cinco pes-soas em Lincang, a oeste de Yunnan.

A Birmânia negou as acusações e, em troca, sugeriu que o ataque foi da responsabilidade dos rebel-des kokang, apesar de analistas considerarem que estes não estão suficientemente equipados para lançar bombas à distância.

da instituição não será anunciado antes de Abril. O vice-ministro saudou a decisão da Austrália e da Coreia do Sul de se juntarem ao banco e disse que EUA e Japão estão a negociar uma possível participação.

Inicialmente os EUA opuseram--se ao plano por desconfiarem da necessidade de mais uma instituição de desenvolvimento, mas recente-mente tem mudado de postura, face ao número de países aliados que apoiaram a ideia - como o Reino

Unido, Alemanha, França e Itália.Shi afirmou que o banco será criado até o fim deste ano. De acordo com informações do Wall Street Journal, o banco está perto de atingir a meta de US$ 100 mil milhões em capital registado.

Page 12: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

gonç

alo

lobo

pin

heir

o

12 hoje macau sexta-feira 27.3.2015entrevista

AndreiA SofiA [email protected]

Li no seu blogue que nunca tinha estado em Macau. Que balanço faz do Rota das Letras e deste território? Julgo que não vinha iludida. Esperava mais ou menos en-contrar aquilo que encontrei, que era no fundo uma pequena parte de tradição portuguesa que ainda persiste e que é uma parte bastante significativa do que foi a presença portuguesa aqui. E por outro lado o que era o crescimento desenfreado desde que houve a abertura na China, de uma arquitectura diferente, muito mais luxuosa, tipo Las Vegas. Aquilo que foi a maior surpresa foi o que fica entre essas duas coisas: as rui-nhas, os templos, as comidas. Aquilo que é ainda verdadei-ramente de Macau e chinês e não é artificial e a experiência portuguesa. Relativamente ao Festival fiquei bem impressio-nada, estava bem organizado, as pessoas são simpáticas. A única coisa que [lamentei] é que certas pessoas que estão neste território, portuguesas, não tenham aparecido.

Sentiu que a adesão foi pouca? Senti, sobretudo porque fui à Escola Portuguesa de Macau (EPM) e perguntei-me onde

“Se calhar não teria talento para ser mãe”

A conversa fez--se à hora de almoço com um cigarro entre os dedos. Poetisa, mas sobretudo editora na Leya, responsável por muitos dos novos nomes que se lêem em Portugal, Maria do Rosário Pedreira espera vir a lançar um novo livro de poemas, sem data marcada. Como editora, fala da existênciade uma censuranão oficialem Portugal

Maria do rosário Pedreira escritora e editora na Leya

“o ensino básico e secundário tornou os alunos imbecis”estavam os pais de todas aquelas crianças, para não irem ouvir os escritores por-tugueses. Foi a única surpresa um bocadinho decepcionante. Quando vamos ao Brasil, a uma universidade, todos os portugueses aparecem logo e aqui não senti isso. Há uma elite interessada na cultura e literatura, mas as outras pes-soas parece que vieram só para fazer dinheiro. Penso que este território também teria a cres-cer com pessoas que quisessem fazer coisas na área da cultura.

Actualmente há festivais literários em todo o mun-do. A literatura pensa-se e discute-se de forma diferen-te. Esse é o caminho certo?Acho que, durante muito tempo, o escritor era alguém que vivia fechado num quartinho a escre-ver e nós não o víamos. A partir do momento em que o livro também é um negócio, para se tornar uma grande indústria, o escritor passou a ter um grande papel e teve de se mostrar. Faz parte do seu sucesso o contacto com o público. Em Portugal, o escritor tem de ir a bibliotecas, estar com o seu público. Os festivais internacionais são parte dessa exibição que não é um exibicionismo.

É marketing literário.Pode não ser, mas é a única forma de chegar ao leitor. Porque ter apenas a presença em livraria... Cada vez mais há escritores. Em Portugal, há uns tempos atrás, publicavam-se 40 livros por dia e é impossível separar o trigo do joio. As capas numa livraria são todas colori-das e é muito difícil distinguir aquilo que tem qualidade e que não tem. É preciso promover o bom que se está a fazer, porque o mau promove-se sozinho.

Hoje publicam-se menos livros em Portugal? Há cada vez mais desafios no merca-do editorial português?Publicam-se menos porque houve uma crise que serviu para ensinar que se estava a publicar desenfreadamente e sem crité-rio. Há males que vêm por bem e hoje publica-se cerca de 20% menos do que se publicava em 2007. O facto de se ter baixado

o número de novidades fez com que se pudesse trabalhar melhor os livros de fundo, que devem estar sempre disponíveis, os clássicos, as coisas que são essenciais ao conhecimento e à cultura dos portugueses.

É responsável por muitos novos nomes que têm vindo a surgir no mercado. Depois da morte de Saramago e de

Publicou em 2012 o livro “Poesia Reunida”. Vai voltar a lançar um novo livro de poemas?Espero que sim mas não tenho nenhuma data. Sou de produção literária bastante lenta e entre 1996 e hoje só escrevi quatro pequenos livros de poesia. A minha poesia foi sempre um bocadinho terapêutica e correspondeu a momentos especialmente negros da minha vida. O que interessa é que eu produza o que faz sentido para o leitor. Como tenho a deformação profissional de ser editora, só me faz sentido fazer um livro que tenha princípio, meio e fim.

Quando lemos a sua poesia, vemo-la a si? É sobretudo uma poesia feminina, não sei se concorda. A minha poesia, o feminino, é discutível, porque uma vez escrevi um livro sob pseudónimo e um membro do júri disse: “sei muito bem de quem é este livro e é de um homem”. É feminino, sou mulher e escrevo como mulher. Se me vê a mim lá? O sentimento que surge no texto é meu e, se escrevo sobre o abandono ou perda, eu sofri-os. Mas tento construir certas narrativas em que o sentimento está lá, mas eu não. E dou o exemplo: há um poema que fala sobre a perda

de um filho,e eu nunca tive filhos, pelo que não tenho capacidade para sentir essa dor.

Escreveu sobre isso?Não, porque não foi uma mágoa, nem sequer uma decisão: casei com 44 anos e já não tinha idade para ter filhos. O meu marido já tinha um filho e não senti essa pulsão maternal. Não sei porquê, mas eventualmente porque os meus pais também não tiveram um bom casamento. Não sei sequer se daria uma boa educadora. Deus fez o seu papel, e se calhar não daria uma boa mãe. Se calhar não teria talento para ser mãe.

uma série de outros autores, como olha para a literatura portuguesa que se faz hoje em dia? Estamos numa fase muito criativa. Durante um tempo, a geração dos anos 80 ainda era herdeira daquela geração que escrevia contra o regime. E depois entrámos na geração dos escritores que já nasceram em democracia, o que permi-

tiu uma grande diversidade. Há uma grande variedade em Portugal neste momento e, por os escritores serem todos tão diferentes, têm todos o seu público.

Que características encon-tra neles? Têm ousadia, vontade de fazer diferente, de se separarem dos vultos que temos?

Page 13: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

13hoje macau sexta-feira 27.3.2015 entrevista

“Se calhar não teria talento para ser mãe”

“Durante muito tempo, o escritor era alguém que vivia fechado num quartinho a escrever e nós não o víamos. A partir do momento em que o livro também é um negócio, para se tornar uma grande indústria, o escritor passou a ter um grande papel e teve de se mostrar”

Maria do rosário Pedreira escritora e editora na Leya

“o ensino básico e secundário tornou os alunos imbecis”

pub

Penso que somos todos her-deiros dos grandes escritores que apareceram e em alguns é fácil detectar alguma admiração por um escritor anterior. Mas não fazem de propósito para serem diferen-tes, nasceram sim num mundo diferente, com a internet, a globalização. Hoje temos uma geração mais anglo-saxónica e há uma maior influência americana e inglesa em alguns autores. Hoje Portugal é um país mais europeu, estamos numa fase má e estamos com medo que se regresse a esta censura, que não sendo oficial se percebe que está no ar. E esse tipo de realidade vai fazer com que alguns escritores escrevam contra aquilo que se está a passar.

Essa censura também pode ser do ponto de vista econó-mico, de travar publicações e trazer constrangimentos ao mercado?

Do ponto de vista editorial é verdade. Desde que [os livros] se tornaram numa indústria e não numa actividade mais parecida com a arte, o que está em causa é a receita. Muitas editoras na Europa que foram compradas por grandes grupos, raramente são detidas por pessoas que têm a ver com a literatura.

E isso é grave.Acho que sim. O que acontece é que o que impera é a receita. A liberdade do editor para fazer o que gostaria é menor. Mas há sempre as pequeninas editoras de nicho, que não querem ser milionárias e que podem fazer coisas bastante interessantes. Penso que há um equilíbrio entre o best--seller, como as “50 Sombras de Grey”, e a literatura, que é feita para uma elite. Até certo ponto é possível fazer o que interessa, vendendo o que não interessa.

Gosta do nome best-seller? Nem sempre é sinónimo de qualidade.Normalmente não é. Eu trabalho no outro extremo, da qualidade e do que acho que contribui para a forma-ção humana e em termos de conhecimento. São esses livros que mudam a vida das pessoas. Tive sorte e em 2010 fui convidada para trabalhar só nessa área (descoberta no-vos autores). E são esses que fazem a história da literatura. O [José] Saramago morreu e vamos ouvir falar nele muito tempo, mas outros escritores morrerão. A literatura tem de se renovar e achei interessante poder criar um novo tipo de literatura.

A Leya deixou de publicar Saramago. Há dias um ar-tigo em Portugal falava da falta de investimento nas obras do Lobo Antunes. As editoras estão a tratar bem os clássicos? Considero que sim. Em Por-tugal há uma espécie de má vontade com a Leya. Sempre que faz coisas boas ninguém diz nada e quando há algo de mal todos batem na Leya. E isso custa-me um bocadinho. Mas acho que se o Saramago fosse vivo nunca teria saído da Leya. Não penso nunca que tenha sido maltratado e penso que isso teve a ver com ques-tões ligadas à filha e à viúva do Saramago e à sua Funda-ção. Tem a ver com dinheiro: para manter uma fundação e a casa de Lanzarote é preciso dinheiro e os livros acabaram com a morte do autor. Tenho pena, porque era o ex-líbris da editora, mas nunca senti que

o Saramago estivesse infeliz onde estava. Quanto ao artigo do Lobo Antunes, tem várias imprecisões. E falamos de um autor que é extremamente di-fícil para muitas pessoas, que publica todos os anos.

Massificou-se?Não, nunca se massificou. O Lobo Antunes foi sempre um autor complicado e a quali-dade dele vem daí. E com a democratização do ensino, cresceu o número de leitores, mas não para essas coisas, para coisas mais simples. Há muitos alunos hoje nas universidades que não são capazes de ler Lobo Antunes.

Mas considera então que as editoras têm estratégias para os clássicos.Os seus próprios editores é que têm de lidar com os seus autores. A função das administrações é gerir um grande grupo e não

almoçar com os autores. Não penso que os autores sejam mal-tratados. Penso que houve uma coisa que se passou nos últimos anos, no mundo inteiro e como o autor se tornou numa peça de marketing, também quer ganhar mais dinheiro. O escritor hoje é um profissional, quer ser só escritor, e também faz algumas exigências que não eram feitas.

Disse que há alunos que não têm capacidade para ler os clássicos. Não é grave o ca-minho que o ensino superior tem vindo a tomar?Não é do ensino superior, é a confusão terrível de gerações que sofreram as reformas da educação no básico e secun-dário. Isso faz com que sejam alunos cada vez mais básicos e fracos nas universidades. Não penso que o ensino universi-tário seja pior do que era, os alunos é que talvez pioraram. Durante anos o ensino básico e secundário tornou os alunos imbecis, infantilizou-os. O problema foi a seguir ao 25 de Abril retirar tudo o que fosse demasiado disciplinar para não se confundir com a auto-ridade do regime. Entrámos um pouco no caos e confusão e vai ser difícil recuperar.

“Fui à Escola Portuguesa de Macau (EPM) e perguntei-me onde estavam os pais de todas aquelas crianças, para não irem ouvir os escritores portugueses. Foi a única surpresa um bocadinho decepcionante”

Page 14: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

14 hoje macau sexta-feira 27.3.2015

harte

s, l

etra

s e

idei

as

H á duas personagens por-tuguesas com o mesmo nome e ambas terão nas-cido em Freixo de Espada

à Cinta, Trás-os-Montes. Jorge álvares, o Feitor e Jorge álvares, o Capitão, an-daram no século XVI pelas costas da China e por tal, a confusão que ocorre muitas vezes.

Mas quem eram estes freixenistas?Jorge álvares, referenciado como

um dos primeiros europeus a navegar até à China numa viagem de 1513, era escrivão por mercê do capitão de Mala-ca e um modesto armador de um junco.

Já o Jorge álvares de 1548 foi um abastado mercador e capitão de um na-vio, homem do mar dominado pelo es-pírito de aventura. Foi amigo do Padre Francisco Xavier e Fernão Mendes Pinto a ele se refere na Peregrinação “Eu com outros 26 companheiros nos fomos para Malaca, onde, depois que chegamos, me detive eu um mês somente, e me tornei a embarcar para o Japão com um Jorge ál-vares, natural de Freixo de Espada Cinta, que em uma nau de Simão de Mello, ca-pitão da fortaleza, ia para lá de veniaga.”

Sobre ambos, pouco se sabe. Desco-nhecesse a data dos seus nascimentos e quando vieram para a ásia.

Foi com a chegada dos portugueses a Malaca em 1509 que se estabeleceram os primeiros contactos com os chineses e dois anos depois, após a conquista desta praça por Afonso de Albuquer-que, ficou aberto o Oceano Pacífico ao comércio luso-chinês.

A primeirA viAgem à ChinA do feitor

Foi com Jorge álvares, um dos primeiros portugueses a chegar por mar às costas da China, que se deu início à procura dos apetecíveis produtos chineses. Estas preciosas mercadorias raramente conse-guiam chegar até ao extremo Ocidente da placa euro-asiática e por isso, a grande curiosidade que aí havia, desde imemorá-veis tempos, sobre esse grande país.

O historiador João Paulo Costa diz que a primeira referência a Jorge álvares é do ano de 1511, quando este foi escri-vão da nau S. João da Rumessa durante a viagem de Cananor para Goa.

Nas “Cartas dos Cativos de Cantão” de Cristóvão Vieira e Vasco Calvot e trazida para a História dos dias de hoje por Rui Manuel Loureiro, em 1513 che-garam a Malaca juncos chineses e um

JORGE ÁLVARES,FEITOR E ESCRIVÃO

Page 15: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

15 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 27.3.2015

José simões moraistexto e foto

deles transportou até Tamão, em Junho desse ano, Jorge Álvares, feitor da mer-cadoria e mais dois portugueses. Já no ano anterior, 1512, houvera uma tenta-tiva falhada para num junco muçulma-no enviar à China alguns portugueses, comandados por João Viegas e com o escrivão Jorge Álvares.

Assim, em 1513, com lugar compra-do em Pegu (hoje em Myanmar), o feitor Jorge Álvares vai por Malaca até à China. Esta empresa foi a meias entre a Coroa portuguesa e o Bendara de Malaca, Nina Chatu. A viagem de Malaca era organi-zada sob costumes e direito marítimo malaio, como ocorreu até 1515/17 e só depois passou a haver escrivães portugue-ses nos navios que carregavam fazendas da Coroa que, portanto, estabeleceram os costumes e direitos portugueses, como refere Luiz Filipe Thomaz.

Jorge Álvares chegou a Lin Tin (Ta-mão) e lá terá deixado um Padrão, como refere uma carta do Capitão Jorge de Albuquerque (sobrinho de Afonso de Albuquerque). Aliás foi este capitão que fez Jorge Álvares escrivão do Rei para as coisas do Japão, por ter ido à China como “feitor de um junco de Vossa Alte-za e pôs um marco por Vossa Alteza; foi muito bem recebido; os chineses folgam com nossa companhia”.

Já o Capitão de Malaca, Rui Brito Pantalim escreveu em 6 de Janeiro de 1514 ao Rei D. Manuel, comunicando ter enviado um junco à China, carrega-do de pimenta, na companhia de ou-tros juncos chineses. Com esses juncos seguiram cinco portugueses, dos quais dois no junco pertencente ao Rei de Portugal, sendo um feitor e outro escri-vão. Numa outra carta, esta com a data do dia seguinte, 7 de Janeiro de 1514, Tomé Pires escreveu também de Mala-ca a comunicar ao Rei de Portugal que um junco de Sua Majestade, comanda-do por Jorge Álvares, seguiu com outros para a China, a fim de buscar mercado-rias, sendo as despesas compartilhadas, em partes iguais, entre El-Rei e o Ben-dara Nina Chatu. Os outros, da carta de Tomé Pires, eram dez portugueses se-gundo Castanheda, mas Gaspar Correia referiu serem trinta.

Levavam pimenta de Samatra para comerciar com os chineses e no regres-so trouxeram produtos como porcelanas, sedas e almíscar, que negociaram em Ma-laca.

Esta foi a primeira, das três viagens à China realizadas por Jorge Álvares. Tendo ele em Junho de 1513 chegado a Lin Tin, no Delta do Rio das Pérolas, entre Macau e a ilha de Lantao, estava acompanhado pelo filho e levava um padrão. Em Lin Tin colocou o padrão com as armas portuguesas, como refere

o cronista João de Barros e junto ao qual sepultou o filho, que aí terá morrido.

Na China, Álvares ficou até Abril ou Maio de 1514 quando regressou a Ma-laca, onde Jorge de Albuquerque o fez escrivão. Referenciada por Liu Zhijuan, autor de “The Story of Silk”, (Foreign Languages Press, 2006, China), encon-tra-se uma túnica de seda enviada em 1514 desde Guangzhou (Cantão) para o Rei D. Manuel I. A ser verdade, pois não encontramos registos de tal, permi-te a hipótese de ter sido Jorge Álvares o portador de tão exótica prenda.

Jorge Álvares retorna a lin tin

As informações sobre as outras duas via-gens à China de Jorge Álvares são es-cassas e muitas vezes contraditórias. Se há quem considere que na sua segunda viagem, Jorge Álvares partiu com Fernão Peres de Andrade, outros dizem ter segui-do ele com Simão Andrade, quando este foi à China para recolher o embaixador português Tomé Pires. No entanto, a data de 17 de Junho de 1517, em que ocorreu

a segunda viagem à China de Jorge Álva-res, corresponde à saída de Malaca da fro-ta do Capitão Fernão Peres de Andrade. Esta frota, enviada pelo Governador da Índia Lopo Soares de Albergaria, acom-panhava Tomé Pires até Cantão, para daí seguir com a embaixada portuguesa ao encontro do Imperador Ming Zheng De (1505-21). Tal embaixada, a primeira efectuada à China e que levava como em-baixador o boticário e naturalista Tomé Pires, partira de Cochim em Janeiro, ou em Abril de 1516, segundo António Gal-vão. “A frota tocou primeiro em Pasem, porto no Nordeste de Samatra, onde se lhe devia juntar a nau do mercador Joannes Impole (Giovanni da Empoli), florentino ao serviço de Portugal, que lá estava carregando pimenta. Mas, como o navio de Empoli se incendiou, perdendo--se a carga, considerada essencial para a viagem da China, Andrade decidiu que, depois de tocar em Malaca, iria primeiro a Bengala.” Jaime Cortesão.

No entanto, o Capitão de Malaca, Jorge de Brito, pediu a Fernão Peres de Andrade para seguir imediatamente para a China, pois estava preocupado com a demora de Rafael Perestrelo que, no ano

“Eu com outros 26 companhEiros nos fomos para malaca,ondE, dEpois quE chEgamos, mE dEtivE Eu um mês somEntE, E mE tornEi a Embarcar para o Japão com um JorgE ÁlvarEs, naturaldE frEixo dE Espada cinta” fErnão mEndEs pinto pErEgrinação

anterior, tinha lá ido num junco, com ou-tro português. Rafael Perestrelo partira em 1515 para a China levando sessenta ou oitenta bares de pimenta para aí co-merciar e um ano depois, ainda não tinha regressado. Contrariado, porque a mon-ção ia já muito adiantada, Fernão Peres de Andrade fez-se à vela em 12 de Agosto de 1516, na nau Santa Bárbara, com Ma-nuel Falcão noutra nau, António Lobo Falcão numa caravela e Duarte Coelho num junco. A frota encontrou tão mau tempo ao largo da costa da Cochinchina que os navios quase se perderam, tendo Andrade regressado a Malaca em meados de Setembro. Aí encontrou Perestrelo, de regresso da China, com grande proveito. Em Dezembro foi a Pasem carregar pi-menta, a fim de seguir para a China logo que a monção o permitisse, voltou a Ma-laca em Maio, e em Junho fez-se de novo à vela, com uma esquadra de oito navios.

A esquadra chegou à ilha Tamão, Tu-mon ou da Veniaga (moderna Lin Tin), mais ou menos a meio da entrada do Rio Cantão, em 15 de Agosto de 1517. Aí ficou uns longos catorze meses à espera

da embaixada portuguesa, mas esta ainda aguardava em Cantão para seguir cami-nho.

Embora João de Barros diga que fica-ram sete portugueses com Tomé Pires, Cristóvão Vieira informa que “a gente que ficou em companhia de Tomé Pires” foram Duarte Fernandes, Francisco de Budoia, Cristóvão de Almeida, Pedro de Faria e Jorge Álvares, todos portugueses e “eu, Cristóvão Vieira, pérseo de Ormuz, doze moços servidores e cinco jurubaças” (intérpretes). “Apesar de os governadores de Cantão terem comunicado a Fernão Peres de Andrade, em 1518, que a em-baixada fora aceite pela Corte Imperial, Tomé Pires aguardou quinze meses em Cantão.” Gonçalo Mesquitela.

Duarte Coelho foi enviado pelo ca-pitão-mor D. Jorge de Mascarenhas para Malaca com a informação de o embai-xador Tomé Pires ter sido bem recebido em Cantão. Mas ao chegar a Malaca em Março de 1518, Duarte Coelho logo en-viou Jorge Álvares num junco para avisar Fernão Peres de Andrade, que a praça es-tava a ser atacada pelo Rei de Bintão. Este rei viera estabelecer-se na margem do Rio de Muar, a poucas léguas da praça, de

onde por terra e por mar lançava ataques sucessivos à praça e por tal, os navios sob o comando de Fernão Peres largaram de Tamau em Setembro de 1518, chegando no mês seguinte a Malaca.

Sendo assim, Jorge Álvares regres-sou a Malaca com Duarte Coelho e pela terceira vez seguiu para Lin Tin a avisar Fernão Peres de Andrade do ataque do Rei de Bintão. Voltou para Malaca com o capitão da armada já que, como refere João Paulo Costa, “um documento de 10 de Outubro de 1518 refere Jorge Álvares como o ‘homem de armas’, conhecedor da língua malaia, que traduziu três cartas enviadas por reis das Molucas ao gover-nador da Índia.”

E continuando com Gonçalo Mes-quitela, “É assim que, à sua chegada a Tamão, Simão de Andrade, em Agosto de 1519, ainda encontra todos em Can-tão.” A embaixada de Tomé Pires só em 23 de Janeiro de 1520 é que iniciou a viagem até Nanjing onde se encontrava então o imperador, nessa altura o Impe-rador Zheng De (1505-21).

A esquadra, que largara de Cochim para Malaca em Abril de 1519, era co-mandada por Simão de Andrade, irmão de Fernão Peres, sendo constituída para além da sua nau, outros juncos comandados por Jorge Botelho, Álvaro Fuzeiro, Jorge Álva-res e Francisco Rodrigues (o cartógrafo), segundo refere Mesquitela. No entanto, Jorge Álvares ficou retido em Malaca por o seu junco ter aberto um veio de água, só conseguindo partir para a China no ano seguinte, com Diogo Couto. Simão de Andrade chegou a Tamau em Agosto de 1519 e aí se instalou mas, devido à sua prepotência destruiria o trabalho pacien-temente realizado por Fernão Andrade, criando uma situação muito embaraçosa na China para todos os portugueses.

Jorge Álvares terá voltado a Malaca a 23 de Janeiro de 1520, tendo-se distin-guido nas lutas contra o Rei de Bintão.

A última viagem de Jorge Álvares à China ocorreu a 1521. “Jorge Álvares, ligado aos interesses regionais, perma-neceu sempre na Ásia Oriental até à sua morte.” João Paulo Oliveira e Costa. “No ano de 1521, as águas de Cantão só foram visitadas por mercadores privados e pelos navios da feitoria de Malaca.”

Em 1521 Jorge Álvares foi mandado mais uma vez de Malaca à China, vol-tando a Lin Tin. Aí faleceu por doença a 8 de Julho de 1521, sendo sepultado ao lado do seu filho e junto ao padrão, pelo seu grande amigo Duarte Coelho, que aí chegara onze dias antes.

Se para a História, Jorge Álvares foi por três vezes à China, no que acima se lê muita dessa informação poderá estar er-rada, mas aqui deixamos registado tudo o que encontramos sobre esta personagem.

Page 16: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

16 hoje macau sexta-feira 27.3.2015h

O s verdadeiros mestres do teatro encontram--se facilmente longe do palco. E não estão geralmente interessados no teatro que seja como uma máquina para replicar conven-

ções e reproduzir lugares comuns. Eles procuram encon-trar a fonte da palpitação, as correntes vitais que tendem a evitar as salas de espectáculo e as multidões de pessoas prontas a copiar um qualquer mundo. Copiamos, em vez de criarmos mundos focados ou mesmo dependentes do debate com o público, cultivando emoções que ultrapas-sam a superficialidade. É que, na realidade, nada revela melhor as paixões escondidas do que o teatro.

sou muitas vezes levado pela prosa para reflectir. Pen-so frequentemente nos escritores que há quase um século descreveram profeticamente, mas também com parcimó-nia, o declínio dos deuses europeus, o crepúsculo que mer-gulhou a nossa civilização numa escuridão de que ainda

A suA visão comum do inevitável fimdo mundo - não do plAnetA mAs do modelo dAs relAções humAnAs - e dA ordem sociAl e suA decAdênciA, é hoje em diA dolorosAmente sentidA por todos nós. por nós, que vivemos neste pós fim do mundo

KRZYSZTOF WARLIKOWSKIKrzysztof Warlikowski é um dos mais importantes encenadores europeus da sua geração. Nasceu na Polónia. Em colaboração com a cenógrafa Malgorzata szczesniak, cria imagens teatrais excecionais. O seu trabalho leva os seus actores a atingir os estratos mais profundos da sua criatividade. Criou novas formas de encenar shakespeare, e interpretações subversivas das tragédias gregas, mas é também conhecido pelas suas encenações de autores contemporâneos. A sua produção de “Cleansed” de sarah Kane em 2002 no Festival de Avignon e no Festival de Teatro das Américas em Montreal foi muito bem recebida. Este foi um momento decisivo para a sua afirmação internacional. A partir de 2008 é o Diretor Artístico do Nowy Teatre (Novo Teatro) em Varsóvia. Aí dirigiu várias peças adaptadas, trabalhando atualmente na adaptação teatral de “A la recherche du temps perdu” de Marcel Proust. Em Varsóvia, Warlikowski criou uma visão pessoal do papel e lugar do teatro na sociedade, chamando os espetadores para o debate. O seu mote para o teatro passou a ser: “Escapar ao teatro”. As produções de teatro de Warlikowski passaram já pelos maiores festivais. Mas o seu trabalho inclui também a ópera, onde é considerado também revolucionário. Krzysztof Warlikowski tem  recebido inúmeros prémios, na Polónia e em muitos países estrangeiros. Em 2013 recebeu em França a distinção de “Commandeur des Arts et Lettres”.

Krzysztof WarliKoWsKi

MensageMdo dIa

MUndIaLdo TeaTRo

2015

não recuperou. Estou a pensar em Franz Kafka, Thomas Mann e Marcel Proust. Presentemente também incluiria Maxwell Coetzee nesse grupo de profetas.

A sua visão comum do inevitável fim do mundo - não do planeta mas do modelo das relações humanas - e da or-dem social e sua decadência, é hoje em dia dolorosamente sentida por todos nós. Por nós, que vivemos neste pós fim do mundo. Que vivemos em confronto com crimes e conflitos que deflagram diariamente por todo o lado com uma velocidade superior à capacidade ubíqua dos pró-prios meios de comunicação. Estes fogos rapidamente se esgotam e desaparecem das notícias, para sempre. E nós sentimo-nos abandonados, assustados e enclausurados. Não somos já capazes de construir torres, e os muros que esforçadamente levantámos deixam de nos proteger - pelo contrário, requerem eles próprios protecção e cuidados que consomem grande parte da nossa energia vital. Per-demos a força que nos permite vislumbrar para lá dos por-tões, para lá dos muros. E essa devia ser a razão de existir do teatro  e é aí que devia encontrar a sua força. O canto íntimo que é proibido devassar.

“A lenda procura explicar aquilo que não pode ser explica-do. Está ancorada na verdade, e deve acabar no inexplicável” - é assim que Kafka descreveu a transformação da lenda de Prometeu. Acredito profundamente que estas mesmas pala-vras deviam descrever o teatro. E é este tipo de teatro, aquele que está ancorado na verdade e encontra o seu fim no inexpli-cável, que eu desejo a todos os que nele trabalham, os que se encontram no palco e os que constituem o público, e isto eu desejo de todo o meu coração.

Page 17: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

17 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 27.3.2015

N ão lhe tinha nenhum respeito, como não tenho a ninguém que não conhe-ça pessoalmente e que não

o mereça para além disso. Mas, já algo desmemoriado, lembro-me que recu-sou um prémio institucional em 1994, porque teria de o receber das mãos da canalha. No que me diz respeito, isso

Lorde Gin

HH

1

My heart is no longer at the tableBest taste my own teethGone with the wolves

Wolf spiceSung out of sight

Delete deleteDelete the light

2

once I was in the starved orchestra pitBut not starved enoughFor things to fallFrom the sky

3

Where does darkness clearly stand?Which is to say:Where does its score not crumble?

4

Starved enough to eat paperAnd sip on words

5

Wolf is a verbA windA windWolf of pigs

6

Flesh, the pure pigDreaming of constellations

Closed circuit television stitched To the infancy of midnight

It knows there isNo time outside time spentAgainst an ideaKnows that

The song of the wolfShores the houseSeeking no banquet other than fear in fists of mudor architecture in the meat of clay

7

Reading prodigal script of hunger & thirst We dine in the woodsDig ceremoniously But not too deepLeaping acrossThe length of the builder’s sleep

…/…

When heart is goneAnd table is goneStill we are found dawn dwelling Brewing a tea of fingernailsToasting towardThe suspected positionOf the incoming flash

selou o negócio. Apesar de ter dúvidas sobre a sua poesia, fiquei impressiona-do. E, repito, a sua poesia nunca me impressionou.

Em 1997, ou 1998, numa visi-ta a Lisboa, alguém que trabalhava próximo de Hermínio Monteiro na editora Assírio & Alvim disse-me que Herr Belto Hélder tinha lido um meu

manuscripto de poemas e o reco-mendara à editora para publicação. Porque tudo mudou, tal nunca veio a acontecer.

Nunca conheci a pessoa. Nem me incomodei em a conhecer nas muitas possibilidades que tive. Burro eu, bur-ro.

Alguns dos poemas nesse manus-

crito acabariam por surgir num livro publicado pelo Instituto Camões em 1999/2000, num título chamado A Car-ne do Rosto. Essa publicação envergo-nha-me de alguma maneira e, para me aproveitar de um cadáver ainda fresco, daqui, lhe envio um poema, já de há alguns anos, numa outra porca língua, na qual quase só escrevo:

SEVEN STARS DINNER WITH DIGESTIF

Rui Cascais Parada, Bangkok, June 2010

Page 18: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

Jogos

18 desporto hoje macau sexta-feira 27.3.2015

olimpíadas de InvernoChina promete não censurar Internet

A candidatura de Pequim às Olimpía-das de Inverno de 2022 prometeu

que, se escolhida, não vai sujeitar ao atletas à mesma censura na Internet que é aplicada aos cidadãos chineses, sendo possível aceder às páginas na Vila Olímpica.

A porta-voz da candidatura, Wang Hui, deixou esta promessa numa conferência de imprensa que coin-cidiu com a visita a Pequim de uma comissão de avaliação do Comité Olímpico Internacional. A porta-voz minimizou, no entanto, a importância do bloqueio a algumas páginas, ar-gumentado que os cidadãos chineses são pouco afectados. “Toda a gente fala do Facebook e do Twitter, mas as pessoas que conheço não gostam de usá-los”, assegurou, acrescentando que os 650 milhões de internautas chineses preferem redes sociais chine-sas como o WeChat ou o Weibo. Nos Jogos Olímpicos de Verão de Pequim em 2008, a capital chinesa também prometeu inicialmente uma abertura da Internet para os participantes, mas esta não foi total e algumas páginas permaneceram inacessíveis a atletas e jornalistas do mundo todo.

NBA Hornetse Cllipers na ChinaOs Charlotte Hornets e os Los Angeles Clippers vão disputar em Outubro jogos de exibição em Shenzhen e Shanghai, na China, anunciou hoje a Liga norte-americana de basquetebol profissional (NBA). O primeiro encontro de sempre da NBA a ter lugar na cidade situada na fronteira com Hong Kong realiza-se a 11 de outubro, na Universidade de Shenzhen, e está integrado nos jogos da pré-temporada de 2015/16. Três dias depois, as duas equipas voltam a encontrar-se, em Shanghai. Com os jogos de 2015, a NBA passa a contar 24 jogos disputados na China, prosseguindo a sua incursão em força num mercado em que se estimam que 300 milhões de pessoas pratiquem basquetebol. Em 2014/15, a NBA realizou jogos da fase regular em Londres e na Cidade do México e encontros da pré-temporada na Alemanha, Turquia, Brasil e China.

M usTAFá, líder da Juve Leo que se encontra detido preventivamente

acusado de vários crimes junta-mente com Paulo Pereira Cris-tóvão, publicou no Facebook um

Sporting Líder da Juve Leo promete dizer oS nomeS

Mustafá e o trombonecomunicado onde refere quem, na sua opinião, são os verdadeiros culpados de toda a situação.

“O problema que tive foi um problema pessoal, nunca foi um problema de claque. Não admito que ninguém ponha em causa o meu amor e lealdade para com o sporting e Juventude Leonina. sempre defendi a claque como ninguém, batalhei como um guerreiro. [...] A minha maior de-silusão foi que, passados dois dias da minha detenção, organizaram reuniões no sporting para pedir uma nova direcção e acabar com os bairros sociais na juventude leo-nina e preocupadas com a história da juventude leonina”, escreveu.

De seguida, Mustafá explicou como tudo se terá passado, num “golpe” que envolveu uma em-presa de segurança e elementos ligados à extrema direita

“O sporting desde o início dis-se sempre que estava com a actual direcção da juventude leonina, não ficando satisfeito passado alguns dias foram contratar uma empresa de segurança juntamente com

elementos da extrema direita para fazer um golpe de estado à claque onde mudaram as fechaduras se-questraram as pessoas dentro da sede mas não foi possível devido à nossa grandeza e união. Isto era um plano A ... O plano B era quando conseguissem o poder, entravam os grupos que estavam por trás disto. Mais elementos da extrema direita, CAsuAL (os senhores de preto que fugiram no Dragão) e alguns elementos da Velha Guarda e VETs, de referir alguns elementos, porque nem todos compactam com essa cobardia”.

O responsável da claque leo-nina prometeu ainda desvendar as identidades de quem acusa: “Por trás deste plano estão mais 100 pessoas. Brevemente iremos marcar uma reunião com todos os sócios onde irei entregar uma lista com os nomes das pessoas envolvidas. Hoje em dia tudo se sabe! Quem contratou esta empresa de segurança era um candidato para as eleições do sporting”.

Gonçalo lobo [email protected]

A selecção de sub-23 de Macau chegou anteon-tem à Malásia para dis-putar a pré-eliminatória

de qualificação para o Campeonato Asiático de futebol da categoria que se disputará em 2016.

• Hoje (27.03 pelas 16h) japão vs. Macau

• DoMingo (29.03 pelas 16:30h) Malásia vs. Macau

• Terça-feira (31.03 pelas 17h) Vietname vs. Macau

A selecçãode sub-23de Macau está pronta para evoluir na pré-eliminatória de qualificação para o Campeonato Asiático de 2016. O seleccionador Joseph Tam defende que com concentração,tudo é possível

Sub-23 QUALifiCAçãO pArA CAMpEONATO ASiáTiCO COMEçA HOjE

Concentração e mentalidade

O seleccionador da RAEM, Joseph Tam, falou ao HM e defendeu que a concentração e a mentalidade forte são dois aspectos a ter em conta para fazer boas prestações. “Penso que os meus jogadores estão com a atitude certa. Estamos fortes mentalmente.”

A qualificação não se apresenta fácil, mas Joseph Tam acredita que “uma boa defesa” é meio caminho andado para bons jogos. “Aqui na Malásia vamos treinar muito o aspecto táctico. Isso é muito

importante. Tenho transmitido aos meus jogadores que, estando 100% concentrados, e defendendo muito bem podemos ter sorte nos

(estádio Shah alam, Kuala Lumpur, Malásia)

contra-ataques. A nossa passagem à fase seguinte não é fácil mas temos esperança.”

Mas mais do que a qualifi-

cação, o timoneiro da Flor de Lótus acredita que o que está em jogo é a experiência de jogar com outros países. “Vai ser duro, admito. Eles estão com vontade de mostrar serviço e acredito que vão fazer coisas bonitas. Mais do que vencer, o que importa é a aprendizagem e experiência que os meus jogadores vão ganhar com esta competição. Penso que isso é que irá trazer bons frutos para o futuro do futebol de Macau e das suas selecções.”

Os pupilos de Joseph Tam en-trarão em campo hoje, no Estádio shah Alam, pelas 16h (hora em Kuala Lumpur), contra o Japão. Dois dias depois, pelas 16:30h defrontarão a equipa da casa, a Malásia, e no dia 31, pelas 17h, será a vez de esgrimir forças contra o Vietname.

fuTeboL na PáScoaCom esta competição ao nível da selecção jovem, a Liga de Elite pára mais um fim-de-semana e só volta a competir no fim-de--semana de Páscoa. A oitava jornada abre com o jogo entre Chuac Lun e Polícia, na sexta--feira, dia 3 de Abril, pelas 19h. Depois segue-se, sábado, dia 4, Chao Pak Kei vs. Benfica, às 19h, e Ka I vs. sub-23, às 21h. No domingo, dia 5, os encontros agendados são sporting vs. Casa de Portugal, às 19h, e, por último, o Lai Chi vs. Monte Carlo, às 21h. Todos os jogos serão disputados do Estádio da Taipa.

Page 19: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

19(f)utilidadeshoje macau sexta-feira 27.3.2015

HojeRota das LetRas – Rota das escoLas, com Wang anyi e Wong Bik-Wancolégio santa Rosa de Lima, 10h00

Rota das LetRas – “escReveR paRa o neW yoRk times: a voz de muRong Xuecun nos eua”edifício do antigo tribunal, 18h00

apResentação de LivRos: pRémios noveLa de macau edifício do antigo tribunal, 19h30

apResentação da oBRa “macau no QuaRteL de oitocentos”, de JoRge aRRimaR sede da casa de portugal em macau, 18h00Entrada livre

conceRto da oRQuestRa de macau “oBcecado com BeetHoven”teatro d. pedro v, 20h00Bilhetes entre as 80 e as 100 patacas

amanhãRota das LetRas – escRitoRes gouRmet: cozinHa macaense e poRtuguesa em macauedifício do antigo tribunal, 15h00

Rota da LetRas - Lançamento do LivRo “RegRa de tRês – iii LivRo de contos e outRos escRitos do FestivaL LiteRáRio de macau”edifício do antigo tribunal, 16h30

Rota das LetRas – RetRatando cidades: Xangai e macau na LiteRatuRaedifício do antigo tribunal, 18h00

domingoRota das LetRas - sessão de cinema: “FiLme do desassossego”, de João BoteLHocinema alegria, 16h00Bilhetes a 30 patacas

Rota das LetRas – sessão de cinema: “os maias”, de João BoteLHo cinema alegria, 20h00Bilhetes a 30 patacas

diariamenteRota das LetRas - FeiRa do LivRo (até 29/03)edifício do antigo tribunal Entrada livre

eXposição “vaLQuíRia”, de Joana vasconceLos mgm macauEntrada livre

eXposição “niHonga contempoRânea”,de aRLinda FRota Fundação Rui cunhaEntrada livre

eXposição de sândaLo veRmeLHo (até 22/03)grande praça, mgmEntrada livre

tempo períodos de chuva min 17 max 23 hum 70 -98% • euro 8.7 baht 0.2 yuan 1.2

João Corvo fonte da inveja

C i n e m acineteatro

Sala 1cinderella [a]Filme de: kenneth Branaghcom: Lily James, Richard madden, cate Blanchett14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Sala 2the divergent SerieS: inSurgent [c]Filme de: Robert schwentecom: shailene Woodley, theo James, kate Winslet14.30, 16.45, 21.30

the divergent SerieS: inSurgent [3d] [c]Filme de: Robert schwentecom: shailene Woodley, theo James, kate Winslet19.15

Sala 3loSt and love [a](FaLado em mandaRim)(com Legenda em cHinês e ingLês)Filme de: peng sanyuancom: andy Lau tak-wah, Jing Boran, sandra ng kwan yue14.30, 16.30, 21.30

run all night[c]Filme de: Jaume collet-serracom: Liam neeson,Joel kinnaman, common ed Harris19.30

O que fazer esta semana?

Não há bola redonda nem campo que não seja inclinado.

AcontEcEu HojE 27 de maRço

Maior acidente da história da aviação• A 27 de Março, recordam-se as vítimas de um dos maiores acidentes da história da aviação, que ocorreu em Espanha, em 1977, na Ilha de Tenerife. Morreram 583 pessoas, num desastre que começou com um atentado bombista falhado, em Las palmas. o desastre aéreo de tenerife ocorreu num domingo, no Aeroporto de Los Rodeos, no Arquipélago das Canárias. Dois aviões Boeing 747, um da KLM e o outro da Pan Am, chocaram na pista daquele aeroporto, provocando a morte de 583 pessoas, ferindo outras 61. O acidente começa na ilha vizinha de Gran Canária, no Aeroporto de Las Palmas. Duas bombas explodem naquele aeroporto, o que provocou o encerramento da gare durante duas horas, sendo que o tráfego aéreo foi desviado de Las Palmas para Los Rodeos. Numa zona propícia a nevoeiros – e numa altura em que a Europa era destino de diversos turistas –, depressa o aeroporto de Los Rodeos ficou lotado, com todas as pistas ocupadas. Os dois Jumbo, de grande porte, tinham de descolar, para libertar a pista. Os controladores aéreos desdobravam-se em indicações, numa rara movimentação. O avião da KLM transportava 249 passageiros, além de um comandante impaciente, que pretendia descolar. O da Pan Am tinha a bordo mais 378 pessoas, além das tripulações, perto de esgotar as horas de voo permitidas. Já com imenso nevoeiro na pista, o avião da KLM recebe instruções para voar, sendo que o da Pan Am se seguiria. Mas uma cadeia de eventos provoca um choque entre os dois Boeing, no momento da descolagem. O 747 da PanAm é atingido de lado pelo trem de aterragem do Jumbo holandês, o que provoca um enorme incêndio e a morte de 583 pessoas. O desastre de Tenerife ficará para sempre na história e a vida daqueles passageiros não se perdeu em vão, já que os procedimentos evitaram que outros desastre semelhantes ocorressem.a 27 de março, assinalam-se outros factos históricos, como a subida ao trono de carlos i, rei de inglaterra, escócia e irlanda, em 1625, reivindicando também o título de Rei da França.Já em 1973, neste dia, marlon Brando recusa receber o Óscar de melhor actor, no filme ‘O Padrinho’, por discordar do tratamento dado pelo cinema, televisão e pelo seu país aos índios sioux.assinala-se a 27 de março o dia mundial do teatro e, em portugal, o dia do dador de sangue.

a jovem americana Hazel Grace Lancaster sofre com cancro da tiróide e a depressão começa a fazer parte da sua vida. Pelo menos, até conhecer augustus Water, quem também perdeu uma perna por causa de cancro, mas ao contrário da nova amiga, é um rapaz alegre e com confiança na vida. Numa fase da vida em que buscam por coisas diferentes, os dois jovens não são perfeitos, mas encontraram-se num mundo com de-feitos, onde conseguem tornar-se duas “estrelas” que trazem um novo brilho ao mundo. as obras do autor

John Green mereceram elogios de vários meios de comunicação dos es-tados Unidos. Tanto, que o livro foi já adaptado ao cinema. - Flora Fong

U m L i v r o H o J e“tHE FAult in our StArS”

(joHn GrEEn, 2012)

Page 20: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

FELL

INI,

AMAR

CORD

20 hoje macau sexta-feira 27.3.2015

contramãoIsabel [email protected]

P orque é suposto que assim seja, porque se espera de quem escreve sobre política que escre-va sobre política, aqui vai: este texto é sobre as Linhas de Acção Governativa e é bem provável que seja pouco interessante. Não que falte importância ao momento – sou do entendimento de que a apresentação dos gran-

des planos do executivo deve ser recebida com a devida vénia. o problema é meu: depois de anos de relatórios que se repetem, porque as medidas ficaram por implementar, já me custa distinguir o novo do velho, o espectacular do modestinho. e nunca tive paciência para exercícios comparativos.

Da passagem de Chui Sai on pela As-sembleia Legislativa pouco tenho a registar, o que não surpreende. Chui Sai on é um novo Chefe do executivo, mas é igual ao do ano passado, apesar de ser o seu sucessor. quanto às medidas, que deixaram descon-tentes os mais atentos que eu – esperançados que estavam em soluções concretas para os problemas muito pouco filosóficos do povo –, não são melhores nem piores do que as

Ontem ouvi falar, a dada altura, do trabalho dos topógrafos. E a seguir alguém se lembrou das casas de banho dos mercados públicos. Hoje à tarde há mais. Às tantas precisamos de uma junta de freguesia

A junta de freguesia

que esperava. São de papel, com toda a importância que o papel tem e com toda a importância que podem deixar de ter, se dele não saírem.

No capítulo das novidades, a mais in-teressante é, sem dúvida, a criação de um órgão municipal sem poder político, uma ideia que os deputados da chamada ala pró--democrática têm vindo a defender há alguns anos. quando cheguei a Macau ainda havia câmaras, provisórias, mas desse tempo não guardo grande memória – assisti de longe e sem grande consciência política local aos três meses finais da existência desses órgãos e de perto à criação do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais.

ontem, na Assembleia Legislativa, na sua estreia em debates deste género, a nova Secretária para a Administração e Justiça

(por sinal bem mais directa nas respostas do que a antecessora), deixou uma ideia do que será este órgão municipal sem poder político: terá como funções servir a popu-lação, “designadamente nos domínios da cultura, recreio e salubridade pública, bem como dar pareceres de carácter consultivo ao Governo”. Sónia Chan garantiu que se vai tentar evitar a sobreposição de funções. Fiquei com dúvidas sobre para que servirá, no futuro, o Instituto para os Assuntos Cí-vicos e Municipais.

Não sei quem se lembrou, mais de uma década depois do fim das câmaras municipais provisórias, de trazer à agenda política uma ideia que tanto agrada aos que mais torcem o nariz ao sistema. Não sei também o que levou o Governo a inscrever esta tarefa no rol dos trabalhos a executar. E vou ficar sem

saber – Chui Sai on não explicou, apesar de questionado sobre as intenções do executivo. De qualquer modo, é um processo que valerá a pena acompanhar. Bem de perto.

outra ideia com que fico destas Li-nhas de Acção Governativa é a ideia muito asiática de que os locais têm de ser protegidos como se fossem seres sem qualidades para competir com o resto do mundo. Compreendo as preocupações de quem, sendo representante do sector laboral local, sai em defesa dos direitos dos residentes em matéria de trabalho, porque há almas pouco escrupulosas que se aproveitam da pobreza alheia para a tornarem mais extensa. Acontece que os direitos dos residentes não se asseguram enxotando quem, cá vivendo, não tem direito à residência. os direitos dos re-sidentes garantem-se procurando formas de os direitos laborais serem iguais para todos: se a cor do cartão de identificação for irrelevante para efeitos de regalias e condições laborais, os residentes não vão ser trocados por quem não é de cá.

Mas o Chefe do executivo e boa parte da população não pensam assim. Vai daí, Chui Sai on anunciou que o Governo já anda em negociações com as grandes empresas para que, depois de dada a devida formação, os trabalhadores locais tenham acesso a cargos mais importantes e mais bem pagos. É a chamada progressão na carreira com a ajuda do irmão mais velho. Mais curiosa ainda foi a afirmação que se seguiu a esta explicação do Chefe do executivo: Chui Sai on levantou a possibilidade de existirem dúvidas sobre aqueles que, não tendo sido residentes um dia, conquistaram entretanto o direito a um bilhete de identidade de residente. Nesses casos, diz o líder do Governo, há que re-flectir. Pois que lhe digo que a reflexão está feita – consta da Lei Básica, leitura que se aconselha vivamente.

Porque as Linhas de Acção Governativa são um momento solene partilhado com os deputados, não podia deixar de, passadas duas tardes de debate na Assembleia, escre-ver sobre o que ali se diz. e o que ali se diz é estranho: a cada oito minutos, mais coisa menos coisa, muda o interveniente, e a cada mudança de orador corresponde uma radical alteração de noção política. ora um fala da responsabilização de quem tem cargos políti-cos, ora outro fala de infiltrações de água em edifícios. Depois vem um preocupado com a Lei de Bases de organização Judiciária, mas o outro a seguir quer saber do estado dos parques públicos. ontem ouvi falar, a dada altura, do trabalho dos topógrafos. e a seguir alguém se lembrou das casas de banho dos mercados públicos. Hoje à tarde há mais.

Às tantas precisamos de uma junta de freguesia. e de um Governo que, na esqui-zofrenia de uma cidade de luxo que rende milhões com gente enfiada em cubículos mi-seráveis, se lembre de resolver os pequenos problemas. Para que, para o ano, isto seja mais política.

opinião

Page 21: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

um gr i to no desertopaul chan wai chi*

Tentando sobreviver debaixo da cúpula

Chai

Jing

, Und

er T

he d

ome

21 opiniãohoje macau sexta-feira 27.3.2015

*Ex-deputado e membroda Associação Novo Macau Democrático

R ecentemente, o docu-mentário “Under the Dome”*, sobre a poluição atmosférica na china, tem dado muito que falar. cai Jing, um antigo jornalista da cctV, decidiu produzir este documentário por conta própria, de modo a investigar as razões que fizeram com que a sua filha

desenvolvesse um tumor benigno. Para além disto, a vontade de proporcionar um futuro mais saudável às gerações futuras foi também uma forte motivação para se dedicar a este empreendimento.

macau não é muito afectado pela polui-ção atmosférica proveniente do continente, mas a sociedade local enfrenta problemas bem mais graves do que a qualidade do ar, como por exemplo a situação do trânsito na RAem.

Durante o programa de domingo que a tDm transmite a partir do Fórum de macau, várias convidados ofereceram as suas recomendações sobre como melhor controlar o aumento do número de veícu-los no território. mas as suas intervenções não ofereceram nenhuma ideia original, limitando-se estes a repetir opiniões já manifestadas por outros no passado. A Direcção dos Serviços para os Assuntos de tráfego (DSAt) está a par da gravidade da situação, mas até agora não tomou medidas para lidar com o problema nem se sabe

O governo tem a responsabilidade de administrar a cidade da melhor maneira possível, enquanto que os deputados têm de se esforçar mais em fiscalizar a administração pública, ao invés de tentar agradar aos eleitores sem contudo apresentarem nenhuma medida concreta

quando esta repartição poderá vir a ter a audácia de o fazer.

Quando o contracto do Auto-Silo da nam Van (Pak Wu) expirou há uns anos atrás, a DSAt sugeriu que os parques de estacionamento reservados aí localizados passassem a ser espaços de aluguer mensal. todavia, a ideia foi mal recebida por um grupo influente e a DSAT viu-se obrigada a mudar de curso, chegando mesmo a ad-mitir que a sugestão era imprópria antes de abandonar a ideia por completo. não nos podemos também esquecer da proposta para aumentar as tarifas dos parques de es-tacionamento, ideia que tem sido discutida há já uma série de anos mas que nunca foi concretizada. Outra iniciativa embargada há anos é o aumento da taxa de importa-ção para veículos, apesar de a política que oferece descontos nos impostos dos carros ecológicos já ter sido implementada há muito tempo. Quando o governo tem o comércio como o foco principal das suas políticas e a sociedade se encontra envolta

numa aura de populismo, não há maneira de implementar nenhuma medida que vise restringir o número de carros nas estradas.

Apesar do grande aparato presenciado no Fórum de macau nesse domingo, no dia seguinte verificou-se um acidente de viação muito grave, tendo um motociclista e o seu passageiro vindo mesmo a falecer. ninguém tem intenção de se envolver num acidente, mas os factores que originaram este desastre não são possíveis de evitar. nos últimos anos, as obras na ilha da taipa decorrem sem interrupção. Isto origina frequentes desvios nas estradas, além de acabar por fazer com que o asfalto fique áspero e danificado, o que por sua vez dá azo a uma maior incidência de acidentes de viação. mas o factor mais preocupante é a enorme quantidade de veí-culos nas estradas de macau e a má gestão dos transportes públicos e serviços afins.

mas ao mesmo tempo é necessário admitir que a cidade é pequena e que já atingimos os limites no que toca à capacidade de suportar mais serviços urbanos. A cidade cresce de uma

maneira desenfreada enquanto se persegue o desenvolvimento de uma maneira cega, e tudo isto resulta na degradação da cidade e das suas gentes. O governo tem a responsabilidade de administrar a cidade da melhor maneira possível, enquanto que os deputados têm de se esforçar mais em fiscalizar a administra-ção pública, ao invés de tentar agradar aos eleitores sem contudo apresentarem nenhuma medida concreta. mesmo assim, os cidadãos não podem se acomodar enquanto esperam que a situação chegue a um nível insuportável visto deixarem as decisões nas mãos de outros. O ideal seria que procurassem a satisfação dos seus direitos cívicos ao mesmo tempo que se encarregam das suas responsabilidades como residentes da RAem. Quero assim dizer que têm de explorar todas as vias legais, tal como o ex-jornalista que financiou o seu próprio documentário.

A população deve exercer os seus direitos na procura da realização dos seus interesses privados e não esperar que outros se encar-reguem de o fazer pois o destino de cada um está nas suas próprias mãos.

*“Under the dome” é um documentário de 2015, produzido por Chai Jing, um ex-jornalista da CCTV, sobre a poluição atmosférica na China

Page 22: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

Stna

ley

Kubr

icK,

Fea

r an

d de

Sire

22 opinião hoje macau sexta-feira 27.3.2015

Propriedade Fábrica de notícias, lda Director carlos Morais José Editores Joana Freitas; José c. Mendes Redacção andreia Sofia Silva; Filipa araújo; Flora Fong; leonor Sá Machado Colaboradores antónio Falcão; antónio Graça de abreu; Gonçalo lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João belchior (Pequim); Michel reis; rui cascais; Sérgio Fonseca Colunistas antónio conceição Júnior; arnaldo Gonçalves; david chan; Fernando Vinhais Guedes; isabel castro; Jorge rodrigues Simão; leocardo; Paul chan Wai chi; Paula bicho Cartoonista Steph Grafismo edite ribeiro(estagiária); Paulo borges Ilustração rui rasquinho Agências lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; lusa; GcS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão tipografia Welfare Morada calçada de Santo agostinho, n.º 19, centro comercial nam yue, 6.º andar a, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

E m 1983 visitei pela prime-rira vez a Alemanha. Tinha lido muitas histórias sobre a Segunda Guerra mundial (no sótão da minha avó havia revistas e jornais da época) e por isso ia a fim de olhar bem nos olhos dos alemães e ver o que tinham de diferente, que tipo de pessoas havia

podido cometer todos aqueles horríveis morticínios. mas, olhando e reolhando, não vi ninguém diferente de mim. As pessoas eram simpáticas, vendo-me de mapa na mão perguntavam se precisava de alguma coisa... O único comportamento desagradável a que assisti foi o de um homem que ralhou com certa aspereza com uma criança. Um homem alto, moreno, de barbas pretas, que não parecia alemão.

No ano de 2015 visitei pela 1ª vez o Vietname. Um país que no final dos anos 60 e início dos de 70 havia sido uma bandeira para todo o “povo” de esquerda, por estar fazendo frente aos “imperialistas americanos” – que viriam a vencer em 1975, depois de já haverem vencido os franceses – potência colonial – em 1956. Confesso que nessa visita já não ia tanto focado em entender porque o povo do Vietname era diferente...mas não deixei de os olhar. Vi pessoas pacíficas, humildes (sem ser servis), por vezes com um travo de tristeza no olhar. Vi também paisagens verdes e calmas, nas quais parecia impos-sível terem-se verificado as cenas atrozes de “Apocalipse Now”.

Em Espanha travou-se entre 1936 e 1939 uma feroz guerra civil entre “Nacio-nalistas”, chefiados pelo general Franco (uma aliança de monárquicos, católicos tradicionalistas, defensores da propriedade privada e partidários de uma Espanha Uni-da) e “Rojos” (uma amálgama por vezes conflituosa de comunistas, socialistas, anti-clericais, anarquistas e independen-tistas catalães). A guerra causou perto de meio milhão de mortos, feridas graves no tecido social, e acabou com a vitória dos franquistas. Hoje os espanhóis preferem beber cerveja ou chocolate, e assistir a jogos de futebol.

Em resumo: a guerra não é feita por mons-tros, mas por homens como nós – apenas que numa situação difícil ou embriagados pela propaganda.

A PREPARAção DA GuERRA Embora o homem, sobretudo no sexo mas-culino, exista um “gene belicoso”, a adre-nalina por ele gerada é gasta, em condições normais, em jogos de rugby ou de futebol, aceleradelas de automóvel, e gritarias das claques nos jogos de futebol – e até por vezes por borracheiras ou “xutos”, para ver quem “aguenta mais”. Para fazer um povo entrar em guerra é preciso recorrer a estímulos mais fortes – instilar o medo no grupo, fazendo pensar às pessoas que estão sendo atacadas. Em alternativa que somos

cale-se esta confusão cante-se a visão da paz

António MAnuel de PAulA SArAivA

os melhores. E finalmente - usando a No-vilíngua (1) “Guerra é Paz” -que a Guerra é para fazer a paz (2).

A quEM InTERESSAM AS GuERRAS A quem não interessam as guerras todos sabemos. Ao homem comum, ao soldado, às viúvas e aos órfãos, e até à cultura e à natureza, pois muitas obras testemunhas do engenho e criatividade humana são destruídas e campos florestas e rios são envenenados. Devem então interessar a alguém: aos políticos vaidosos – como mussolini que, depois de conquistada a Etiópia, bradava “l’Etiopia è italiana.!”- e aos que querem fazer esquecer os males

do próprio país criando uma “frente unida” face ao “inimigo exterior”. E, sobretudo, aos fabricantes e vendedores de armas, e aos bancos que emprestam dinheiro aos governos para pagar essas aventuras – es-tando um país em guerra não é altura de poupar (lembre-se como o governo dos Estados Unidos não pára de se endividar) – dinheiro que depois toda a população terá de pagar.

ToRnAR A GuERRA ASSéPTICAmas a guerra também provoca asco e medo – e assim nos países onde a contestação se pode exprimir mais abertamente houve que recorrer a expedientes para a tornar mais aceitável: o serviço militar passou de obrigatório para voluntário – com o que já ninguém se pode queixar de que “o meni-no da sua mãe” “jaz morto e arrefece”(3): morreu porque voluntariamente escolheu uma profissão de risco. Em segundo lugar deram às mulheres o “direito” de também ir à guerra, transformando a fonte da vida no albergue da morte. Em terceiro, graças ao seu avanço tecnológico, transformaram a guerra num jogo de computador (de que os drones são o exemplo mais conhecido) –

A guerra não é feitapor monstros, mas por homens como nós – apenas que numa situaçãodifícil, ou embriagados pela propaganda

assim já ninguém perde as pestanas no calor das bombas, nem fica com a farda salpicada de sangue.

o APóS-GuERRASe voltarmos agora a nossa atenção para a situação actual de países que estiveram en-volvidos em grandes conflitos, poderemos, agora já com certo distanciamento histórico, percebermos quem “de facto” ganhou as guerras. Assim:- Na Espanha Franco venceu a guerra civil. mas será que a Espanha das alargadas auto-nomias, da “movida”, da droga às escancaras nas cidades e das liberdades dadas às mino-rias sexuais seria a que Franco idealizou?- No Vietname os vietcongs venceram os ame-ricanos. mas será que as extensas privatizações a que o Governo do Vietname está levando a cabo — embora o nome oficial do país continua a ser “República Socialista do Vietname” e o partido dirigente tenha na sua bandeira a foice e o martelo — seriam o tipo de reformas pelas quais os vietcongs lutaram?- Os “Aliados” venceram a 2ª Guerra Mundial . Mas será que os alemães ficaram inimigos dos franceses? Ou que os japoneses ficaram inimigos dos americanos?

CAnTE-SE A vISão DA PAzA resposta a todas estas perguntas mostra que – malgrado as guerras – a História segue o seu curso. mostra ainda que, não obstante os crimes praticados por uma e outra parte, os povos, as pessoas concretas, querem dar-se as mãos – isto é, que o homem, a par do “gene belicoso” tem outro que o faz aspirar pela Paz e pela Amizade. Um gene mais poderoso do que o primeiro – a prova é que estamos vivos.

Surge então inevitável a pergunta – mas sendo assim… que sentido fazem as guerras? Não seria preferível que estas nem sequer houvessem começado?

Por isso, num mundo confuso, quando tantos cantam a canção da guerra — cante-mos nós a Canção da Paz (4).

(1) na obra “1984” George Orwell os ditadores impõem/distorcem o significado das palavras para assim melhor condicionarem os súbditos – é a “novilíngua”.(2) “i promise you that this will be the final war – the war to finish with all wars”. (Woodrow Wilson, Presidente dos eua , a propósito da 1ª Grande Guerra).(3) do conhecido poema de Fernando Pessoa “O menino da sua mãe”.(4) cale-se esta confusão/ cante-se a visão da Paz são versos pertencentes a um extenso poema de luís de camões.

Page 23: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

hoje macau sexta-feira 27.3.2015 23Perfil

Leonor Sá [email protected]

c ésar Ferreira é de Vila real, cidade situada no norte de Portugal. Decidiu embarcar na aventura do programa

InovContacto porque, tal como tantos outros jovens que por cá se estabeleceram, queria ter uma experiência fora do país luso. a vontade, essa, deriva das más condições que assolam Portugal desde 2009.

a crise económica obrigou a uma vaga de emigração da qual César agora também faz parte. O bichinho pela vivência no estrangei-ro começou aos vinte e poucos anos, quando, depois de uma experiência de intercâmbio ainda em criança, foi até à Eslováquia fazer um ano do mestrado em Engenharia Civil. Licenciado na mesma área, gosta do que faz e prepara-se para ficar por aqui por tempo indeterminado.

“Não tenho nenhum plano a longo prazo, mas a ideia é ficar aqui por mais uns tempos”, confessa ao HM.

Parece contente com o que faz, já que con-seguiu, em poucos anos, ter três experiências diferentes no campo profissional. Macau é, para o jovem de 31 anos, um local prolífico para a sua área. “O que aqui se faz são obras de grande envergadura e que não se fazem em mais lado nenhum”, assegura César.

Como exemplo, fala do projecto em que está actualmente envolvido, tido como a estrutura mais cara do mundo. “Quando tive a oportunidade de trabalhar na quarta maior construtora do mundo [Leighton], não hesitei”, conta.

Pessoas atentas“sempre me dei bem com os locais e acho importante dizer que sempre me trata-ram muito bem, a querer saber se estava confortável, como estava a minha vida fora do trabalho”, explica César, quando questionado sobre o choque cultural de sair da terra de Camões e aterrar do outro lado do mundo. a comunicação em termos profissionais faz-se bem, aponta, mas não esquece as vezes em que o inglês não chega e são os desenhos e a linguagem corporal que salvam o dia.

Por cá, o choque cultural sente-se “sem-pre”, frisa, mas confessa que a adaptação por estes lados foi “mais fácil” do que prova-velmente seria noutros locais. Mas porquê? a resposta é simples. “aqui há sempre oportunidades de nos juntarmos a outros portugueses, uma coisa que na Eslováquia não acontecia, já para não esquecer o facto de se falar português”, diz. No entanto, e como nada é como realmente imaginamos, a verdade é que César esperava, ao receber a

notícia do seu destino, que por cá se falasse mais em Língua Portuguesa.

CliChés forasaudades. Não há quem não as tenha. No entanto, César não se fica por aquilo a que chama de “clichés”. A sardinha grelhada, os santos Populares, aquele bar da praia ou a discoteca das férias de Verão não são elementos que o engenheiro considere serem decisivos para um regresso permanente a Vila real.

“Não sou nada de ter saudades desse tipo de coisas, tipo o bacalhau com natas ou a esplanada da praia, mas é óbvio que a família e os amigos fazem realmente falta”. seja sorte de principiante ou não, a verdade é que César Ferreira tem tido a visita de vários amigos e familiares desde que por cá vive.

“Felizmente tenho tido casa cheia várias vezes e, nestes dois anos, vieram uns seis amigos meus cá”, refere. Costumam vir para passear e aproveitam para ver outras cidades e países, mas nunca sem passar pelo território.

Fora os amigos que vão e vêm, o jovem engenheiro, que trabalha quase sempre mais de dez horas por dia, acredita que é possível ter uma vida bastante ocupada. “Quando saio do trabalho e ainda tenho tempo, opto por ir beber um copo com alguns amigos, encontrar-me com pessoal português e even-

tualmente ir a uma ‘happy hour’”, começa o engenheiro por explicar. “Isto não é assim tão mau como alguns querem pintar”, atira César, referindo-se ao rol de queixas que vários emigrantes locais têm por hábito lembrar a toda a hora.

Vindo da Universidade de Trás-os-Mon-tes e alto Douro (UTaD), sem esquecer a passagem pela Eslováquia e a visita a mais de 25 países, César Ferreira tenciona ficar pela Ásia por mais alguns anos, se tudo continuar, a nível profissional, a correr de vento em popa. Nem tudo é perfeito e o jovem sente que faltam esplanadas, mas principalmente um bom plano de circulação dos transportes públicos.

“é perfeitamente possível, numa cidade deste tamanho, de pôr a circular só autocarros eléctricos porque nunca precisam de andar mais do que determinado tempo”, explica. César sente-se integrado mas não está, tal como tantos outros, acomodado à região. Como tantos outros, sabe que a cidade é pequena e tudo se faz por estes lados. Quando não está com os amigos ou a passear pelas zonas antigas da cidade, César opta por exercitar o corpo e a alma. “Às vezes faço um bocado de corrida, squash e ginásio nos tempos livres”, frisa. Enquanto cidade inegavelmente “única”, o jovem emigrante argumenta que “a escala é uma questão de perspectiva”.

céSar Ferreira, engenheiro civiL

“isto não é assim tão maucomo alguns querem Pintar”

Page 24: Hoje Macau 27 MAR 2015 #3300

hoje macau sexta-feira 27.3.2015pu

b

cartoon por Stephff

N a quarta-feira o “The New York Times” já tinha avançado que um dos pilotos teria ficado

trancado fora do cockpit momen-tos antes da queda, sendo que esta manhã as autoridades confirmaram que foi o comandante quem ficou do lado de fora. “Foi o co-piloto que carregou no botão para descer” revelou esta manhã o responsável francês. Os dados indicam que “o co-piloto tinha vontade de destruir o

Tudo indica que a queda do avião da GermanwinGs foi um acTo suicida

Houve “vontade de destruir o avião”

preparem-se para grandes alteraçõesno facebook

avião”. Perante estas informações, as autoridades assumem, actual-mente, que a queda do a320 foi um acto suicida.

Agora, a conclusão está a saber--se oficialmente dois dias depois do despenhamento. a “leitura” da caixa negra deu a conhecer 30 dos 40 minutos de voo.

“Ouve-se o comandante que prepara a aterragem e a resposta do co-piloto parece lacónica. En-tão ouve-se o comandante a dizer

ao co-piloto que tome o comando e ouve-se uma cadeira a ser em-purrada para trás e uma porta que se fecha. Leva-nos a pensar que o comandante se ausentou”, revela-ram esta quinta-feira as autoridades francesas.

“Quando está sozinho, o co--piloto manipula os botões, de forma deliberada, para fazer descer o avião. Ouve-se o comandante a pedir para entrar na cabina. Ouve--se um ruído de respiração humana

dentro da cabina. Isso significa que [o co-piloto] estava vivo. A priori respirava normalmente, não como alguém que tem um enfarte.”

E um oficial superior alemão dirá que a pessoa que está a bater à porta do cockpit do airbus fá-lo primeiro levemente e começa a aumentar a intensidade quando não obtém qualquer resposta do interior. Às tantas bate de tal ma-neira que parece querer “deitar a porta abaixo”.

O co-piloto Andreas Lubitz, alemão de 28 anos, entrou para a Germanwings dois meses antes do “acidente” do avião da LAM. Tinha agora apenas 630 horas de voo. Se-gundo alguns dos seus conhecidos já interrogados pelos “media”, não se lhe conhecia quaisquer proble-mas, apenas o sonho de voar.

As primeiras investigações à queda do airbus nos Alpes, verifi-cada 40 minutos depois de levantar voo de Barcelona, indicam que teve a “intenção de destruir o avião”. Todavia, não se apurou ainda o porquê dessa intenção.

No caso do co-piloto alemão, desconhece-se ainda se este teria as razões que a razão desconhece para provocar a sua morte e a de mais 149 pessoas.

Herberto HelderA poesia e o vinhoo conhecido poeta e tradutor chinês de português, Yao Jingming, enalteceu a “grande qualidade da poesia” de Herberto Helder e lamentou que a obra do poeta, falecido na segunda-feira, não esteja traduzida na china. “Herberto Helder é um grande poeta, mas a sua poesia, com versos muito longos, é difícil de passar para a língua chinesa”, disse Yao Jingming à agência Lusa. Yao Jingming, 57 anos, radicado há duas décadas em macau, é considerado um dos intelectuais chineses que melhor conhece a poesia portuguesa, tendo já traduzido, entre outros, eugénio de andrade, ruy cinatti e sophia de mello Breyner andresen. “as duas melhores exportações de Portugal são a poesia e o vinho”, afirmou. a morte de Herberto Helder foi também noticiada na china, pela agência oficial Xinhua. Herberto Helder “era considerado um dos maiores poetas portugueses do século XX” e “recusou receber o prestigiado Prémio Pessoa em 1994”, assinala a Xinhua.

Asteróide passa hoje muito pertoda Terra um asteróide de 11 metros de diâmetro deverá passar perto da Terra na noite desta sexta-feira. a rocha espacial, chamada de 2012 BX34, chegará à cerca de 60.000 km da Terra, menos de um quinto de nossa distância até a lua. este deve ser o objecto espacial que chegou mais próximo da Terra desde Julho do ano passado. os cientistas garantem que não há motivo para preocupação. em entrevista à BBc, o director do centro de Planetas menores, Gareth williams, afirmou que esta é uma das 20 maiores aproximações já registadas, mas está suficientemente longe e não há absolutamente nenhuma hipótese do asteróide bater na Terra. a rocha espacial não poderá ser vista a olho nu, mas astrónomos de todo o mundo já estão a preparar os seus telescópios para apreciarem o evento.