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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL Por: BRUNO DA SILVA SOARES Orientador Prof. JORGE TADEU VIEIRA LOURENÇO Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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Page 1: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · as primeiras leis ambientais do brasil 21 a polÍtica nacional do meio ambiente – um marco da polÍtica pÚblica ambiental brasileira

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

Por: BRUNO DA SILVA SOARES

Orientador

Prof. JORGE TADEU VIEIRA LOURENÇO

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

Apresentação de monografia à AVM

Faculdade Integrada como requisito

parcial para obtenção do grau de

especialista em Sistema de Gestão

Integrada

Por: . Bruno da Silva Soares.

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AGRADECIMENTOS

....aos amigos e parentes, colegas de

classe que caminharam juntos nessa jornada......

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RESUMO

Antes da Conferência de Estocolmo não havia no Brasil uma política ambiental que

se alinha desenvolvimento sócio econômico com a preservação do meio ambiente. Foi a

partir dessa conferência que o Brasil criou mecanismos em forma de leis para a

preservação ambiental. Esse trabalho buscou mostrar que o Brasil somente após pressão

criou instrumentos legais para um crescimento industrial que ao mesmo tempo pudesse

atender as questões ambientais, visto que nos países economicamente desenvolvidos

caminhavam a passos largos, que essas medidas causaram profundos impactos nas

organizações, que tentavam alinhar o crescimento industrial com a preservação ambiental

e quais foram as consequências diretas de não atender as questões ambientais.

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METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido por pesquisa bibliográfica baseada em livros

especializados em gestão ambiental, sites governamentais, artigos de revistas.

Foram pesquisadas obras dos autores Rildo Pereira Barbosa, Mari Elizabete

Bernardini Seiffert, Antônio Carlos Freitas Gusmão e Luiz Carlos de Martini.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO 1 - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A POLUIÇÃO 10

RELAÇÃO DO HOMEM, MEIO AMBIENTE E O PROCESSO

PRODUTIVO 10

AS DISCURSÕES DO SÉCULO XX 12

A CONFERÊNCIA DE ESTOCOLMO 14

O BRASIL NA CONFERÊNCIA DE ESTOCOLMO 15

OS RESULTADOS DA CONFERÊNCIA 17

CAPÍTULO 2 - POLÍTICA PÚBLICA AMBIENTAL BRASILEIRA 20

AS PRIMEIRAS LEIS AMBIENTAIS DO BRASIL 21

A POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – UM MARCO DA

POLÍTICA PÚBLICA AMBIENTAL BRASILEIRA 23

MEIO AMBIENTE E CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL 26

LEI DE CRIMES AMBIENTAIS 27

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CAPÍTULO 3 – POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS 32

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDO E

SEU CARÁTER DEMOCRÁTICO 32

PRNS INSTRUMENTOS SOCIOAMBIENTAIS: COLETA SELETIVA,

RECICLAGEM E LOGÍSTICA DE REVERSA 34

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E

RESPONSABILIDADE PÓS-CONSUMO 36

POLÍTICA DE RESÍDUOS SÓLIDOS E O INVÉS

SOCIAL: INCLUSÃO DOS CATADORES 37

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ÍNDICE 44

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INTRODUÇÃO

Assim como todos os países que viveram o crescimento industrial advindo da

Revolução Industrial, o Brasil também sofreu com os inúmeros problemas causados pela

industrialização e o crescimento demográfico. Os países desenvolvidos já discutiam

soluções para unir a preservação e o consumo consciente ao desenvolvimento industrial e

tecnológico.

Em 1972, na Conferência de Estocolmo as nações juntamente com representantes

da sociedade civil se reuniram para discutir o futuro do planeta e as medidas para conter

a degradação ambiental. A decepcionante participação do Brasil na conferência, marcado

pela pressão dos países desenvolvidos ocasionou ao país a criação de mecanismos em

forma de lei.

Abordaremos a reação do Brasil às pressões e quais foram as medidas tomadas

para resolver as questões ambientais.

As regulamentações das leis ambientais no país e a busca por alinhar o

crescimento industrial com a preservação do meio ambiente, criando normas e condições

para a instalação e produção industrial.

Estudaremos como estas leis evoluíram ao longo dos anos e os impactos

significativos sobre as organizações.

Anteriormente a Conferencia de Estocolmo, não havia no Brasil uma política

ambiental alinhada ao desenvolvimento sócio econômico e a preservação do meio

ambiente. A partir da conferência foram criados mecanismos em forma de leis para

preservação ambiental.

Esse trabalho mostrará que o Brasil ainda permanecia atrasado às questões

ambientais, sendo pressionado a criar mecanismos para um crescimento industrial que

ao mesmo tempo pudesse atender as questões ambientais. Visto que, os países

economicamente desenvolvidos caminhavam a passos largos, tais medidas causaram

impactos profundos nas organizações, que tentavam alinhar o crescimento industrial à

preservação ambiental e quais seriam as consequências diretas em não atender essas

questões.

A metodologia foi realizada por pesquisa bibliográfica baseada em livros

especializados em gestão ambiental, sites governamentais, artigos de revistas.

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O capitulo um aborda o crescimento industrial advindo das novas tecnologias

criadas a partir da Revolução Industrial, suas consequências ao meio ambiente, a reação

da sociedade civil aos impactos causados e o papel do Brasil em meio a toda discussão.

O segundo capítulo focará na política pública brasileira, as primeiras leis

ambientais no país e as principais mudanças que causaram significativos impactos nas

questões ambientais.

O terceiro e último capítulo discuti a Política Nacional de Resíduos Sólidos, as

políticas pós consumo e o papel da sociedade na gestão dos resíduos gerados nas

atividades domésticas e industriais.

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CAPÍTULO 1

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A POLUIÇÃO

A degradação em uma totalidade abundante de recursos, lá no século VXIII, com a

Revolução Industrial, fez do homem um inimigo natural em seu meio, pois através das

práticas do sistema capitalista em formar empresas de lucros, afetou a natureza de forma

agressiva e sem controle. A Revolução Industrial, através da qual os países mais

desenvolvidos passaram a explorar os recursos naturais e a encarar a natureza com as

suas fontes de energia e matérias-primas como sendo inesgotáveis, foram produzidos por

suas indústrias, cidades e atividades agrícolas, dejetos que causaram ao longo dos anos

impactos ambientais, muitos deles de abrangência globais gravíssimos.

RELAÇÃO DO HOMEM, MEIO AMBIENTE E O PROCESSO

PRODUTIVO

O primeiro ponto de transformação trazido pela Revolução Industrial, com reflexos

no meio ambiente, foi à relação entre o homem e a natureza. O progresso trazido pelas

máquinas fez emergir um novo conceito de progresso, no qual a aceleração é valorizada,

bem como a capacidade humana de se sobrepor aos ambientes naturais. Inúmeras

florestas devastadas em todos os continentes para os mais diversos fins, dos rios

assoreados e da perda de fertilidade de muitas áreas.

Por muito tempo o homem pensou que os recursos naturais eram inesgotáveis e

autos renováveis, praticando o extrativismo predatório, visando obter matérias prima para

fabricação de produtos manufaturados, obtenção de energia para o funcionamento das

máquinas movidas a vapor (avanço tecnológico trazida da revolução industrial), gerou

grandes consequências para o meio ambiente. A queima da lenha e do carvão mineral

utilizado para aquecer a água e “fabricar” vapor. A queima do carvão mineral despejava

na atmosfera das cidades industriais europeias, toneladas de poluentes. A partir deste

momento, o ser humano teve que conviver com o ar poluído e com todos os prejuízos

advindos deste ‘progresso’.

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Isso não apenas porque a indústria é a principal responsável pelo lançamento de

poluentes no meio ambiente, mas também porque a Revolução Industrial representou a

consolidação e a consolidação do capitalismo, sistema socioeconômico dominante hoje

no espaço mundial. E o capitalismo, que tem na indústria a sua atividade econômica de

vanguarda, acarreta urbanização, com grandes concentrações humanas em algumas

cidades. A própria aglomeração urbana já é por si só uma fonte de poluição, pois implica

numerosos problemas ambientais, como o acúmulo de lixo, o enorme volume de esgotos.

Os resíduos lançados no ar, nos lagos, rios, mares e aterros locais irregulares

pelas indústrias poluíram tanto o meio ambiente ao longo dos anos, que acabaram por

provocar sérios problemas de saúde para as pessoas e afetaram o ambiente do local,

muitos deles somente foi se perceber os efeitos devastadores ao longo dos anos, e isso

começou a chamar atenção da sociedade. Alguns setores se conscientizavam da

importância de valorizar áreas naturais.

Iniciou se, portanto, a partir do início do século XIX, uma luta pela preservação de

áreas consideradas selvagens ou menos alteradas, que deveriam ser utilizadas pela

população. Mas somente no final do XIX foram criados os instrumentos legais de defesa e

proteção da vida selvagem e de preservação e/ou conservação de áreas naturais. Vários

tratados internacionais enfocaram esta questão, com destaque para o: Tratado

internacional para proteção dos pássaros das florestas e das áreas agrícolas, de 1868; a

Convenção de Londres para proteção de animais selvagens, pássaros e peixes na África,

de 1900; a convenção relativa à proteção dos pássaros úteis à agricultura, de 1902; e, o

Tratado sobre a proteção da foca peluda do Pacífico Norte, entre o Canadá e Estados

Unidos, de 1911.

A Grã-Bretanha aprovou, em 1863, a primeira lei de amplo espectro contra a

poluição do Ar. Naquela oportunidade foi criado o órgão de controle da poluição

atmosférica e foram formados grupos protecionistas da atmosfera privados.

A crescente consciência de uma responsabilidade moral relacionada à proteção

dos recursos naturais, associada a uma construção social idealista da natureza, ganhou

importância o movimento de preservar regiões percebidas como selvagens ou primitivas.

Nesse contexto, foi criado, em 1872, o primeiro parque nacional do mundo, o Parque de

Yellowstone e, em 1890 o Parque Nacional de Yosemite, ambos nos Estados Unidos.

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Objetivo da criação dessas áreas foi a proteção da vida selvagem, que estaria sendo

ameaçada pela urbanização e indústria.

A primeira metade do século XX também não foi um período propicio à

preservação dos recursos naturais. As duas grandes guerras mundiais provocaram

pesados danos ambientais. A segunda, particularmente, foi marcada pela destruição

nunca vista antes, pela exploração intensiva dos recursos para produzir armas e pelo

lançamento das bombas incendiarias e atômicas.

A expansão dos meios de produção, com a implementação do modelo de

produção em grande escala nos países industrializados, provocou um aumento no

lançamento de substancias poluente sem que se considerassem os impactos negativos

decorrentes, no curto, médio e longo prazo.

AS DISCURSÕES DO SÉCULO XX

Desde o início do século XX, várias reuniões internacionais já focavam o debate

sobre a relação entre os humanos e o seu meio ambiente. Esforços foram realizados por

diversos segmentos da sociedade civil.

A década de 1940 foi marcada por debates de proteção da natureza. Diversas

reuniões foram realizadas, com o objetivo de discutir a proposta de criação de uma

organização internacional de proteção da natureza e preparar uma conferência científica

das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização de Recursos Naturais. A conferência

de 1948, é considerada a primeira grande reunião de caráter ambiental em escala

mundial. Nesse mesmo ano como consequência desse encontro, foi criada a União

Internacional para a Conservação da Natureza – IUCN.

Os anos 1950 foram marcados por uma grande expansão mundial da atividade

econômica. O modelo de crescimento adotado após a segunda guerra mundial logo se

revelou como um agente de quebra do equilíbrio ecológico, o que gerou um, em termos

econômicos, um desequilíbrio da alocação de recursos e, em termos sociais, da

distribuição do bem-estar.

Três aspectos diretamente associados a esse modelo de produção e consumo se

destacaram, neste período, como ameaças ao equilíbrio ecológico:

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• O aumento de lançamentos de resíduos nos diversos meios receptores

(atmosfera, água superficiais e subterrâneas e solos), cuja a capacidade de assimilação é

fixa, não levando em conta a mudança climática a longo prazo;

• A diversificação e mobilidade dos poluentes (novos tipos de poluição

aparecem, tais como as emissões de dióxido de enxofre, o lançamento de

hidrocarbonetos no mar; resíduos de embalagens);

• A diminuição da capacidade de absorção dos meios receptores.

Adoção de um tecnológico baseado no pressuposto de que os recursos naturais

são inesgotáveis é também um aspecto importante a ser considerado neste processo

sistemático e intenso de degradação ambiental, que contribui para escassez dos recursos

naturais. A deterioração e o uso excessivo dos bens ambientais nas atividades de

produção e consumo provocam escassez dos mesmos e tende a levar a conflitos de uso.

O menosprezo pelo meio ambiente, que foi um ponto marcante durante toda a

industrialização dos séculos XIX e XX, não é uma característica exclusiva do sistema

capitalista. Os países do bloco soviéticos, que durante várias décadas ao longo do século

XX implantaram sistemas de produção e de infraestrutura segundo princípios socialistas

também protagonizaram grandes desequilíbrios ecológicos.

Nas décadas de 1950 e 1960, preocupações crescentes quanto às incertezas do

futuro foram despertadas por um conjunto de fatores: resultados de estudo científicos, que

alertavam a sociedade sobre graves problemas ambientais decorrentes dos modelos de

desenvolvimento adotados; desastres ambientais, que provocaram a morte e danos à

saúde de milhares de pessoas em diferentes países; e publicação de obras relevantes

sobre os problemas ambientais resultante das atividades humanas.

Dentre os desastres ambientais merecem destaquem:

• O fenômeno de inversão térmica, em Londres, provocando uma

concentração de poluentes que matou cerca de quatro mil pessoas em apenas cinco dias

em dezembro de 1952;

• Uma maré alta, ocasionando a morte de mais de 1.400 pessoas na Holanda

em 1953;

• A contaminação da bacia de Minamata no Japão por lançamento de

resíduos industriais à base de mercúrio, provocando elevado número de mortos estimado

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em 1.800, ao longo dos anos; a empresa Chisso, responsável pelo desastre, foi

condenada a indenizar 10.000 pessoas;

• O vazamento do petroleiro Torrey Canion, na costa britânica, lançado

119.000 toneladas de petróleo bruto, que se estenderam numa mancha de maré negra

por centenas de quilômetros, contaminando a costa da França e da Inglaterra e

provocando perdas biológicas incalculáveis, em 1967; e

• Tragédia do Mar de Aral, que apesar do nome, o mar do Aral, na Ásia, era

um lago, em 1950, ele era o quarto maior do mundo, com 66 mil km2, mas, nos anos 60,

a URSS desviou os rios que alimentavam, Amu Daria e Sir Daria, para irrigar plantações

de algodão. O volume d’água diminuiu, mas o sal ficou prejudicando o solo e matando os

peixes; Além de afetar os ribeirinhos, que viviam da pesca, a alta salinidade exterminou

cerca de 80% das espécies animais, para piorar, o uso de agrotóxicos nas plantações

poluiu o solo e inviabilizou a agricultura de subsistência.

A década de 1960 foi marcada também por vários acontecimentos de cunho

ambiental, dentre os quais se destaca a realização da Conferência sobre a Biosfera, em

Paris, em 1968. Este evento tratou dos aspectos científicos da conservação da biosfera e

da cooperação internacional em pesquisa ecológica. Foram debatidos também temas

como a perda da qualidade do meio ambiente nos países industrializados, como

consequência da poluição industrial. A conferência propôs a criação do Programa Homem

e Biosfera (MaB), lançado em 1971, no âmbito da UNESCO, cujo como objetivo seria o

estudo das relações da humanidade como o seu meio ambiente. Neste mesmo ano, a

Assembleia Geral das Nações Unidas convoca uma Conferência sobre o Meio Ambiente

Humano, a realizar-se em 1972, em Estocolmo.

A CONFERÊNCIA DE ESTOCOLMO

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, também

conhecida como Conferência de Estocolmo, iniciada em cinco de junho de 1972, marcou

uma etapa muito importante na ecopolítica internacional, a participação de 1.500

delegados de 113 países, 40 organizações intergovernamentais, 600 observadores e 250

organizações não governamentais. Como a questão ambiental ainda não ocupava o

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primeiro plano das preocupações dos grandes países, apenas dois chefes de Estados

compareceram na reunião: Indira Ganghi, pela Índia e Olof Palme, pela Suécia.

A Conferencia de Estocolmo foi motivada por quatro questões principais:

• Aumento e importância da comunidade científica, que começavam a

questionar sobre o futuro do planeta, as mudanças climáticas e sobre a quantidade e

qualidade da água.

• Aumento da exposição, pela mídia, de desastres ambientais (marés negras,

desaparecimento de territórios selvagens, modificações na paisagem), gerando um maior

questionamento da sociedade acerca das causas e soluções para tais desastres.

• Crescimento desenfreado da economia, e consequentemente das cidades,

sendo que estas cresceram sem nenhum planejamento para o futuro.

• Outros problemas ambientais, como chuvas-ácidas, poluição do Mar Báltico,

grandes quantidades de metais pesados e pesticidas.

Com isso, a Conferência de Estocolmo visou buscar uma solução para tais

problemas, criando um novo pensamento, tanto para os Estados, quanto para a

sociedade: o problema existe, e precisamos agir.

Os Estados buscavam soluções técnicas para os problemas de poluição

decorrentes da industrialização, do crescimento demográfico e da urbanização, e

estimular a cooperação internacional no equacionamento da poluição do ar, da água e do

solo, para evitar que os países em desenvolvimento repetissem os mesmos erros dos

desenvolvidos. Para os países em desenvolvimento, entretanto, tais preocupações

pareciam dispensáveis, enquanto não fossem resolvidos os problemas da pobreza e da

má distribuição de renda no mundo.

O BRASIL NA CONFERÊNCIA DE ESTOCOLMO

Brasil teve grandes participações em encontros internacionais sobre a educação

ambiental, até mesmo por atuar dentro do sistema das nações unidas. Visto que o Brasil

contém recursos interessantes aos olhos dos demais países, é alvo de constante atenção,

por suas grandes reservas de água potável, assim como por abranger grande parte da

biodiversidade do planeta. A partir de Estocolmo, surge a questão se o Brasil seria capaz

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de preservar seu patrimônio, levando a uma preocupação com a economia e com

possíveis estratégias de desenvolvimento sustentável do país.

No período da conferência o Brasil encontrava-se teoricamente em um momento

econômico bom, período este em que se passava por repressão política. Assim como em

outros governos autoritários, havia uma preocupação quanto aos movimentos voltados

para o meio ambiente, visto que não se sabia com certeza as consequências que tais

repercussões poderiam trazer a economia destes países, bem como a política já que as

maiorias dos grupos ambientalistas eram de esquerda. Porém, não havia opressões dos

países da Europa Ocidental e EUA sobre o regime vivido nos países em desenvolvimento

no que dizia respeito aos direitos humano e meio ambiente, ao contrário, suas opressões

eram voltadas somente para a segurança, modernização e crescimento desses países.

Dentro desse contexto uma preocupação natural havia por parte do governo

brasileiro da época, de que suas atitudes autoritárias virassem alvo de críticas pelos

demais países presentes na conferência. Mas como já dito, o Brasil por suas reservas

sempre foi alvo de constante atenção, e procurou deixar claro seu posicionamento nessa

conferência, quanto à “culpa” das poluições serem preferivelmente dos países

desenvolvidos por terem suas maiores indústrias, querendo estabelecer uma relação de

forma que não houvesse uma distinção de países que podem poluir e os que não podem

somente pela presença de maior industrialização. Porém, esse posicionamento não

excluiu a possibilidade e responsabilidade do Brasil perante todos os seus recursos, tendo

o país que lançar mão de políticas ambientais proposta por essa conferência.

Tal posição fez com que Brasil assumisse a posição de liderança dos países em

desenvolvimento e defendeu que:

• Nos países pobres, a poluição era o subdesenvolvimento e o bem-estar era

sinônimo de superação da miséria;

• O desenvolvimento poderia continuar de forma predatória sem que se desse

prioridade para mitigar as agressões a natureza;

• O problema ambiental fora inventado pelas grandes potências, para conter a

expansão do parque industrial dos países em desenvolvimentos;

• A miséria seria erradicada com difusão do crescimento econômico de acordo

com a teoria do bolo: cresce primeiro para depois repartir; e

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• A explosão demográfica não era um problema (face à oposição da Igreja

Catolica aos programas de controle da natalidade e à preocupação geopolítica de

ocupação de espaços vazios defendida pelos militares).

A delegação expressava a sua preocupação:

• De que as recomendações sobre a política ambiental que poderiam sair da

conferencia teriam efeitos restritivos para o necessário processo de industrialização dos

países desenvolvidos;

• Com a possibilidade de imposição de barreiras não tarifárias às exportações

dos países em desenvolvimento pelos países desenvolvidos, em função da adoção de

critérios ambientais; e

• Com a sua capacidade de absorção dos custos inerentes à adoção de

medidas de proteção ao meio ambiente na estrutura de preços dos produtos.

Em protesto estendeu uma faixa com os dizeres: “Bem-vindos à poluição, estamos

abertos a ela. O Brasil é um país que não tem restrições, temos várias cidades que

receberiam de braços abertos a sua poluição, porque nós queremos empregos, dólares

para o nosso desenvolvimento”. Essa faixa é famosa, pois, reflete o pensamento da

época de todos terem o direito de crescer economicamente mesmo que às custas de

grande degradação ambiental. Não se pode esquecer que o Brasil estava em pleno

milagre econômico.

Era notório uma grande divergência entre a posição dos países ricos, preocupados

com a poluição urbano-industrial e a diminuição da qualidade de vida, e a posição dos

países pobres, que desejavam o crescimento econômico a qualquer custo, mesmo com a

degradação ambiental.

OS RESULTADOS DA CONFERÊNCIA

Como resultados da Conferência, vários textos foram aprovados: uma Declaração

sobre Meio Ambiente; um Plano de Ação; uma Resolução sobre as disposições

institucionais e financeiras; a escolha do dia Mundial do meio ambiente (5 de junho) e

uma Resolução sobre as experiências com armas nucleares.

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A Declaração de Estocolmo compreende um preâmbulo com sete pontos e 26

princípios que, apesar de não terem valor jurídico direto, podem ser considerados

princípios declaratórios de caráter incitativo e com alcance moral, político, operacional e

que contribuíram para a aceitação de certos princípios como regras ordinárias.

Nos itens 1 e 2 da Declaração de Estocolmo fica consagrado que: o homem é

responsável pelo meio ambiente, e este lhe oferece o sustento material e a possibilidade

de evoluir de forma moral, social e espiritual. Ao longo da evolução humana, o homem se

tornou capaz de transformar o meio ambiente da maneira que achar conveniente, e por

isso a manutenção dos meios ambientes naturais e artificiais é essencial para a real

fruição dos direitos humanos fundamentais, bem como o desenvolvimento econômico de

todos os povos. Já o item 3 diz que: a capacidade do ser humano em transformar o que o

cerca carrega consigo a responsabilidade de saber usá-la, visto que quaisquer

transformações podem trazer benefícios e desenvolvimentos, ou causar danos ao próprio

ser humano e ao meio ambiente. Quando esses danos ocorrem, o seu rastro de

destruição é visível, como a degradação das fontes de recursos naturais, a poluição do ar

e da água, os desequilíbrios ambientais, e todos estes afetam a saúde física, mental e

social do homem.

O quarto item convenciona que: para ocorrer um desenvolvimento socioeconômico,

nos países em desenvolvimento, são necessárias medidas que amenizem as

discrepâncias sociais, sem deixar de se preocupar com as questões ambientais.

Enquanto que os países industrializados têm por responsabilidade diminuir as diferenças

com os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Este ponto também afirma que

nesses países os problemas ambientais estão ligados ao desenvolvimento de novas

tecnologias a aos processos de industrialização.

O quinto item trata que: o crescimento populacional gera problemas ao meio

ambiente, e por isso devem-se criar medidas a fim de evitar tais problemas ou que

ocorram em menor gravidade. Dentre tudo existente no planeta, os seres humanos são os

mais valiosos, pois são capazes de progredir socialmente, criar riqueza social,

desenvolver a ciência e tecnologia, assim transformando o meio ambiente.

Por fim, os dois últimos itens, sexto e sétimo, dizem que: o homem deve ter

atenção às consequências de seus atos no meio ambiente. O ser humano é capaz de

causar danos imensos e irreversíveis ao meio ambiente, mas também é capaz de criar

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condições sadias de vida. Por isso o homem deve estar em harmonia com a natureza,

para que possa se desenvolver socioeconomicamente e de maneira que mantenha o bem

estar e a qualidade de vida. Diz ainda que: a responsabilidade pelas mudanças e pela

manutenção de um meio ambiente saudável é de todos, agindo em um esforço comum.

Cabe aos poderes do Estado a criação de leis e normas para a preservação e o

melhoramento do meio ambiente humano, mas cabe a todos os deveres de que estas leis

e normas sejam exercidas.

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CAPITULO 2

POLÍTICA PÚBLICA AMBIENTAL BRASILEIRA

A preocupação com a preservação do meio ambiente é recente na história da

humanidade, realidade está também no Brasil. Com o acontecimento de catástrofes e

problemas ambientais, os organismos internacionais passaram a exigir uma nova postura,

sendo marcante a atuação da Organização das Nações Unidas (ONU) que em 1972

organizou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano. A partir

dessa Conferência, com a elaboração da declaração de princípios (Declaração de

Estocolmo), os problemas ambientais receberam tratamentos diferentes, tendo

repercussão no Brasil.

Há pouco a legislação nacional sofreu um forte impacto com o surgimento de novas

leis e, em especial, da Lei 6.938/81, conhecida como Lei da Política Nacional do Meio

Ambiente, que reconhece juridicamente o meio ambiente como um direito próprio e

autônomo e terminou com as preocupações pontuais, centradas em problemas

específicos inerentes às questões ambientais de vizinhança, propriedade, ocupação do

solo, utilização dos recursos minerais e apropriação das florestas etc. A partir desse

momento, iniciou-se no Brasil uma Política Nacional do Meio Ambiente que estabeleceu

princípios, diretrizes e instrumentos para a proteção ambiental.

Sob a influência de paradigmas internacionais, o Brasil avança e, na Constituição

de 1988, criou-se o elemento normativo que faltava para considerar o Direito Ambiental

uma ciência autônoma dentro do ordenamento jurídico brasileiro, a exemplo do que já

ocorria em outros países.

Com o surgimento da Lei de Crimes Ambientais, a legislação ambiental no que toca

à proteção ao meio ambiente é centralizada. As penas agora têm uniformização e

gradação adequadas e as infrações são claramente definidas. Contrário ao que ocorria no

passado, a lei definiu a responsabilidade das pessoas jurídicas, permitindo que grandes

empresas sejam responsabilizadas criminalmente pelos danos que seus

empreendimentos possam causar à natureza.

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AS PRIMEIRAS LEIS AMBIENTAIS DO BRASIL

O poder público no Brasil começa a se preocupar com o meio ambiente na década

de 30. Não que antes não houvesse nada a respeito, mas as poucas iniciativas que

existiam até então, além de pouco significativas em termos práticos, se alcançavam

algum efeito sobre o meio ambiente era pela via indireta, quase sempre subalterna a

outros interesses. Por exemplo: as ordenações portuguesas que proibiram o corte do pau-

brasil não podem ser vista como leis ambientais, pois seu objetivo era assegurar o

monopólio das madeiras de tinturaria estabelecido pela Coroa Portuguesa em 1502,

propósito que durou até a independência do Brasil. Essas ordens eram diferentes das

medidas criadas na Europa nos séculos XVII para proteger os remanescentes de florestas

nativas e promover seu replantio, consideradas o início da gestão ambiental. A criação do

Jardim Botânico no Rio de Janeiro em 1810 também não pode ser considerada uma

iniciativa ambiental. Os jardins botânicos criados a partir do século XVI decorrem da

preocupação dos biólogos viajantes em proteger as espécies nativas. No Brasil objetivo

de D.João VI foi utilizar o Jardim Botânico para cultivo de especiarias das Indias Orientais

e da Ásia para suprir o mercado português.

Até o início do século XX, o campo político e institucional brasileiro não se

sensibilizava com os problemas ambientais, os problemas existiam e também aqueles

que os assinalavam. A abundância de terras férteis e de outros recursos naturais, que foi

dita de forma grandiosa na carta de Pedro Vaz de Caminha ao rei de Portugal, tornou se

uma espécie de dogma que impedia enxergar a destruição que vinha ocorrendo desde os

primeiros anos da colonização. A degradação de uma área não era considerada um

problema ambiental pela classe política, pois sempre havia outras a ocupar com o

trabalho escravo. As denúncias de mau uso dos recursos naturais não encontravam apoio

nos meios políticos da época, embora muitos denunciantes fossem políticos ilustres,

como José Bonifácio, Joaquim Nabuco e André Rebouças. Nenhuma legislação

explicitamente ambiental teve origem nas muitas denúncias desses políticos, que podem

ser considerados os precursores dos movimentos ambientalistas nacionais, e que já nas

suas origens apresentavam um pensamento socioambiental dada pela luta contra a

escravatura, a monocultura e o latifúndio.

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Somente quando o Brasil começa a dar passos firmes em direção à

industrialização que se inicia o esboço de uma política ambiental. A adesão do Brasil aos

acordos ambientais multilaterais das primeiras décadas do século XX, praticamente não

gerou nenhuma repercussão digna de ordem interna no país. Tomando como critério a

eficácia da ação pública e não apenas a geração de leis, pode se apontar a década de

1930 como o início de uma política ambiental efetiva.

Uma data de referencia é o ano de 1934, quando foram promulgados os seguintes

documentos relativos à gestão de recursos naturais: Código de Caça e Pesca, Código

Florestal, Código de Minas e Código de Águas. Outras iniciativas governamentais

importantes desse período foram: a criação do Parque Nacional do Itatiaia, o primeiro do

Brasil e a organização do patrimônio histórico e artístico nacional. As políticas públicas

dessa primeira fase procuram alcançar efeitos sobre os recursos naturais por meio de

gestões setoriais (água, florestas, mineração etc.), para as quais foram criados órgãos

especifico, como o Departamento Nacional de Recursos Minerais, Departamento Nacional

de Águas e Energia Elétrica, entre outros. Os problemas relativos à poluição só seriam

sentidos em meados da década de 1960, quando o processo industrial já havia se

consolidado. Até meados da década de 1970 a poluição industrial ainda era vista como

sinal de progresso e por isso muito bem vinda para muitos políticos e cidadãos.

A segunda fase da política pública ambiental tem inicio com a Conferencia de

Estocolmo de 1972, quando as preocupações ambientais se tornam mais intensas,

embora nessa ocasião o governo militar brasileiro não tenha reconhecido a gravidade dos

problemas ambientais e defendeu sua ideia de desenvolvimento econômico, na verdade

um mal desenvolvimento em razão da ausência de preocupações com o meio ambiente e

a distribuição de renda. Porém, os estragos ambientais mais do que evidentes e a

colocação dos problemas ambientais em dimensões planetárias exigiram do Poder

Público uma nova postura. Em 1973, o Executivo Federal cria a Secretaria Especial do

Meio Ambiente e diversos estados criam suas exigências ambientais especializadas,

como a Cetesb, no Estado de São Paulo, em 1973, e a Feema, em 1975, no Estado do

Rio de Janeiro.

A legislação federal sobre a matéria ambiental nessa segunda fase procurava

atender problemas específicos, dentro de uma abordagem segmentada do meio

ambiente. Os problemas ambientais eram percebidos e tratados de modo isolado e

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localizado, repartindo o meio ambiente em solo, ar e água, e mantendo a divisão dos

recursos naturais: água, florestas, recursos minerais e outros. Só no inicio da década de

1980 é que passariam a ser considerados problemas generalizados e interdependente

que deveriam ser tratados mediante políticas integradas.

A POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – UM

MARCO DA POLÍTICA PÚBLICA AMBIENTAL BRASILEIRA

Em 1981, inicia se a fase denominada gestão integrada de recursos. Foram criados

a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981,

regulamentada em 1983) e o Ministério de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, em

1985, o qual tem por funções a definição das políticas e a coordenação das atividades

governamentais na área ambiental.

Ela representa uma mudança importante no tratamento das questões ambientais,

na medida em que procura integrar as ações governamentais dentro de uma abordagem

sistêmica. Essa lei tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade

ambiental propícia à vida, visando assegurar condições de desenvolvimento

socioeconômico, os interesses da segurança nacional e a proteção da dignidade humana.

O meio ambiente é considerado um patrimônio público e deve ser protegido tendo em

vista o uso coletivo. Com isso, retira-se do meio ambiente a característica de um recurso

livre acesso.

As principais inovações da Lei n° 6.938/81 são em nível institucional, sendo elas: a

criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão consultivo e

deliberativo, diretamente vinculado ao Presidente da República, onde, apesar de limitada,

a participação pública nas decisões é contemplada; a criação do Sistema Nacional de

Meio Ambiente (SISNAMA), que tem por instância superior o CONAMA e inclui órgãos

colegiados e executivos que se ocupam da gestão da qualidade ambiental, integrando os

três níveis de governo (federal, estadual e municipal).

Essa lei configura-se como um elemento inovador também por adotar como

estratégia a responsabilização do Estado por suas ações no ambiente, o qual passa a ser

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obrigado a seguir os princípios da legislação ambiental, assim como as atividades

privadas já eram.

Também adota instrumentos para viabilizar sua aplicação, dentre os quais

podemos destacar: o zoneamento ambiental, a avaliação de impactos ambientais, o

Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental e as

penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas

necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental, essa importante

questão, pois, criou o conceito de responsabilidade objetiva do poluidor. Este que fica

obrigado, independente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados

ao meio ambiente e a terceiros afetados por suas atividades.

O princípio do poluidor pagador também está disposto no 4º, VII:

"A imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar

os danos causados, e ao usuário, de contribuição pela utilização de recursos ambientais

com fins econômicos".

Na Constituição Brasileira, o princípio do poluidor-pagador encontra guarida no §2º

do artigo 225, nos seguintes termos: "Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado

a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo

órgão público competente, na forma da lei"..

O conceitos apresentado na Política Nacional do Meio Ambiente, verifica se que o

princípio do poluidor pagador não se refere apenas aquele que causa ou poderá causar

poluição, mas sim aquele que causa ou poderá causar degradação ambiental, enquanto

conceito mais abrangente.

Embora aprovada em 1981, sua implementação só deslanchou efetivamente ao

final dessa década, principalmente a partir da promulgação da Constituição da República

Federativa do Brasil em 1988.

De acordo com a Lei 6.938/1981, são instrumentos da Política Nacional do Meio

Ambiente:

1. O estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

2. O zoneamento ambiental;

3. A avaliação de impactos ambientais;

4. O licenciamento e a revisão de atividades efetivas ou potencialmente

poluidoras;

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5. Os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou

absorção de tecnologias, voltados para melhoria da qualidade ambiental;

6. A criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder

Público federal, estadual e municipal;

7. O sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

8. O Cadastro Técnico Federal de Atividades e instrumentos de defesa

ambiental;

9. As penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das

medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental;

10. A instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente a ser divulgado

anualmente pelo Ibama;

11. A garantia da prestação de informações relativas ao meio ambiente,

obrigando-se o poder público a produzi-las, quando inexistente;

12. O Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou

utilizadoras de recursos ambientais

13. Instrumentos econômicos como concessão florestal, servidão ambiental,

seguro ambiental e outros.

Segundo a tipologia de instrumento de política ambiental apresentada acima, os

instrumentos 1, 2, 3, 4, 6 e 9 são tipicamente de comando e controle; os instrumentos 7,

8, 10, 11 e 12 são de caráter administrativo ligados às atividades dos próprios agentes

públicos; o 5 e 8 são instrumentos econômicos que podem ser efetivar nas formas de

incentivos fiscais, financiamentos subsidiados e outros benefícios transferidos aos

particulares. Ou seja, os instrumentos de política pública mais contemplados pela Lei

6.938/1981 são os de comando e controle e os administrativos ligados às atividades dos

agentes públicos.

É importante resaltar que a abordagem estratégica proposta na Política Nacional

de Meio Ambiente é praticamente a mesma adotada na Constituição de 1988, em seu

Capítulo IV – Do Meio Ambiente.

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MEIO AMBIENTE E CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL

A Constituição Federal de 1988 representou um avanço considerável em matéria

ambiental. Ela estabeleceu a defesa do meio ambiente como um principio a serem

observados para as atividades econômicas em geral e incorporou o conceito de

desenvolvimento sustentável no Capitulo IV, dedicado ao Meio Ambiente.

De acordo com a Constituição, “todos têm o direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

vida, impondo-se Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para

as presentes e futuras gerações”.

A redação desse artigo foi profundamente influenciado pelo relatório da Comissão

Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Nosso futuro comum, divulgado em

1987, período em que o Congresso Nacional elaborava a Constituição Federal de 1988.

Por isso, pode-se afirmar que se trata de uma constituição socioambiental.

Além de um capítulo especifico para o meio ambiente, a atual Constituição Federal

ampliou os mecanismos de defesa, conferindo a qualquer cidadão o direito de propor

ação popular para proteger o meio ambiente e o patrimônio histórico e cultural, e a

autonomia do Ministério Público na defesa de questões socioambientais. Muitos textos

legais anteriores à Constituição de 1988 foram recepcionados por eles a citada Lei

6.938/1981 e a Lei 7.347 de 14/07/1985 (Disciplina a ação civil pública de

responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos

de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências.).

Outras inovações importantes: estabeleceu uma distribuição melhor da competência para

legislar sobre a matéria ambiental entre os entes da federação brasileira; estabeleceu o

respeito ao meio ambiente e o aproveitamento racional dos recursos como um dos

requisitos dos requisitos para caracterizar a função social da propriedade rural; incluiu os

sítios ecológicos como elemento do patrimônio cultural; e estabeleceu disposições em

defesa de grupos vulneráveis, como povos indígenas, crianças, idosos e deficientes

físicos.

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LEI DE CRIMES AMBIENTAIS

A lei 9.605/98, conhecida como a Lei de Crimes Ambientais ou Lei da Natureza,

regulamentada pelo Decreto 6.514/08 dispõe sobre as sanções penais e administrativas

de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Nos termos desse decreto, a infração

administrativa ambiental é considerada com toda ação ou omissão que viole as regras

jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. Foram

estabelecidas as penalizações por infrações – definidas como crime ambientais – contra

danos causados à fauna, à flora, que gerem a poluição e outros danos ambientais, como

também infrações administrativas contra órgãos ambientais e aquelas cometidas

exclusivamente em unidades de conservação.

As ações que podem causar poluição de qualquer poluição de qualquer natureza

em níveis que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que

provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da biodiversidade,

incorrem em multas, cujos valores podem variar entre cinco mil e cinquenta milhões de

reais. Tal tipo de multa também pode ser aplicada a diversas outras situações, como no

caso das seguintes ações:

• Tornar uma área urbana ou rural imprópria para ocupação humana;

• Causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que

momentânea, dos habitantes das áreas afetadas ou que provoque, de forma recorrente,

problemas no aparelho respiratório e no olfato;

• Causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do

abastecimento público de água a uma comunidade;

• Lançar resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detrito, óleos ou

substancias oleosas em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou atos

normativos; e não adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de

precaução ou contenção, em caso de risco ou de dano ambiental grave ou irreversível.

Essa lei amplia a caracterização dos crimes ambientais e consolida outros crimes

ambientais e consolida outros crimes que eram objetos de outras leis, como os códigos de

caça, pesca e florestal. Matar animais continua sendo crime, exceto para saciar a fome do

agente ou da sua família; os maus tratos, as experiências dolorosas ou cruéis, o

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desmatamento não autorizado, a fabricação, venda, transporte ou soltura de balões, hoje

são crimes que sujeitam o infrator à prisão¹. Uma de suas maiores novidades, a

responsabilidade penal das empresas, é a regulamentação de um ditame constitucional,

no caso, o § 3º do art. 225. Apesar das polêmicas acirradas entre os juristas sobre a

pessoa jurídica poder ou não praticar crimes, o fato é que os congressistas constituintes

de 1988 entenderam que ela pode delinquir, e se cometer delitos estará sujeita às penas

a este cominadas, além de outras sanções no âmbito civil e administrativo.

A responsabilidade da pessoa jurídica não exclui a das pessoas físicas, autora,

coautoras e partícipes do mesmo fato. A pessoa física está sujeira as penas previstas

pela Lei de Crimes Ambientais são aplicadas conforme a gravidade da infração: quanto

mais reprovável a conduta, mais severa a punição. Ela pode ser privativa de liberdade,

onde o sujeito condenado deverá cumprir sua pena em regime penitenciário; restritiva de

direitos, quando for aplicada ao sujeito -- em substituição à prisão -- penalidades como a

prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos, suspensão de

atividades, prestação pecuniária e recolhimento domiciliar; ou multa.

A pessoa jurídica infratora, uma empresa que viola um direito ambiental, não pode

ter sua liberdade restringida da mesma forma que uma pessoa comum, mas é sujeita a

penalizações. Além de multas, as pessoas jurídicas estão sujeitas às penas restritivas de

direitos e prestação de serviços à comunidade, que podem ser aplicadas de maneira

isolada, cumulativa ou alternada. As penas restritivas de direito podem ser: suspensão

parcial ou total de atividades; interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;

e proibição de contratar com o Poder Público por um período de três anos, bem como

dele obter subsídios, subvenções ou doações.

De acordo com a lei os crimes ambientais são classificados em cinco tipos

diferentes:

Contra a fauna (arts. 29 a 37): São as agressões cometidas contra animais

silvestres, nativos ou em rota migratória, como a caça, pesca, transporte e a

comercialização sem autorização; os maus-tratos; a realização experiências dolorosas ou

cruéis com animais quando existe outro meio, independente do fim. Também estão

incluídas as agressões aos habitats naturais dos animais, como a modificação,

danificação ou destruição de seu ninho, abrigo ou criadouro natural. A introdução de

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espécimes animal estrangeiras no país sem a devida autorização também é considerado

crime ambiental, assim como a morte de espécimes devido à poluição.

Contra a flora (art. 38 a 53): Causar destruição ou dano a vegetação de Áreas de

Preservação Permanente, em qualquer estágio, ou a Unidades de Conservação; provocar

incêndio em mata ou floresta ou fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam

provocá-lo em qualquer área; extração, corte, aquisição, venda, exposição para fins

comerciais de madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal sem a devida

autorização ou em desacordo com esta; extrair de florestas de domínio público ou de

preservação permanente pedra, areia, cal ou qualquer espécie de mineral; impedir ou

dificultar a regeneração natural de qualquer forma de vegetação; destruir, danificar, lesar

ou maltratar plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada

alheia; comercializar ou utilizar motosserras sem a devida autorização.

Poluição e outros crimes ambientais (art. 54 a 61): Todas as atividades

humanas produzem poluentes (lixo, resíduos, e afins), no entanto, apenas será

considerado crime ambiental passível de penalização a poluição acima dos limites

estabelecidos por lei. Além desta, também é criminosa a poluição que provoque ou possa

provocar danos à saúde humana, mortandade de animais e destruição significativa da

flora. Assim como, aquela que torne locais impróprios para uso ou ocupação humana, a

poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público e a não

adoção de medidas preventivas em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.

São considerados crimes ambientais a pesquisa, lavra ou extração de recursos

minerais sem autorização ou em desacordo com a obtida e a não-recuperação da área

explorada; a produção, processamento, embalagem, importação, exportação,

comercialização, fornecimento, transporte, armazenamento, guarda, abandono ou uso de

substâncias tóxicas, perigosas ou nocivas a saúde humana ou em desacordo com as leis;

a operação de empreendimentos de potencial poluidor sem licença ambiental ou em

desacordo com esta; também se encaixam nesta categoria de crime ambiental a

disseminação de doenças, pragas ou espécies que possam causar dano à agricultura, à

pecuária, à fauna, à flora e aos ecossistemas.

Contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (art. 62 a 65): Ambiente é

um conceito amplo, que não se limita aos elementos naturais (solo, ar, água, flora, fauna).

Na verdade, o meio ambiente é a interação destes, com elementos artificiais -- aqueles

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formados pelo espaço urbano construído e alterado pelo homem -- e culturais que, juntos,

propiciam um desenvolvimento equilibrado da vida. Desta forma, a violação da ordem

urbana e/ou da cultura também configura um crime ambiental.

Contra a administração ambiental (art. 66 a 69): São as condutas que dificultam ou

impedem que o Poder Público exerça a sua função fiscalizadora e protetora do meio

ambiente, seja ela praticada por particulares ou por funcionários do próprio Poder Público.

Comete crime ambiental o funcionário público que faz afirmação falsa ou enganosa, omitir

a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de

autorização ou de licenciamento ambiental; Ou aquele que concede licença, autorização

ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou

serviços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público. Também comete

crime ambiental a pessoa que deixar de cumprir obrigação de relevante interesse

ambiental, quando tem o dever legal ou contratual de fazê-la, ou que dificulta a ação

fiscalizadora sobre o meio ambiente.

Infrações Administrativas

São infrações administrativas quaisquer ações ou omissões que violem regras

jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. A Lei de

Crimes Ambientais disciplinou as infrações administrativas em seus arts. 70 a 76, e foi

regulamentada pelo Dec. 6.514/08.

O Poder Público, no exercício do poder fiscalizador, ao lavrar o auto de infração e

de apreensão, indicará a multa prevista para a conduta, bem como, se for o caso, as

demais sanções estabelecidas no decreto, pela análise da gravidade dos fatos, dos

antecedentes e da situação econômica do infrator. A aplicação de sanções

administrativas não impede a penalização por crimes ambientais, se também forem

aplicáveis ao caso.

Qualquer pessoa, ao tomar conhecimento de alguma infração ambiental, poderá

apresentar representação às autoridades integrantes do Sistema Nacional do Meio

Ambiente (SISNAMA). A autoridade ambiental não tem escolha: uma vez ciente, deverá

promover imediatamente a apuração da infração ambiental sob pena de

corresponsabilidade.

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Balões

Dentre os crimes contra a flora, um dos mais notórios é a soltura de balões. Diante

dos grandes riscos e prejuízos que os balões juninos podem provocar, especialmente na

época da seca, o que antes era só contravenção (delito de pouca importância), agora é

crime. O art. 42 estabelece que fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam

provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação é crime com pena de um

a três anos de detenção e/ou multa. Conforme o art. 59 do Dec. 6.514/08, a multa é de 1

mil a 10 mil reais por balão.

Todos os incisos e parágrafos do artigo 225 da Constituição Federal estão

regulados por lei, algumas anteriores a ela, mas que foram por ela recepcionada por não

colidirem com suas disposições e princípios.

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CAPÍTULO 3

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A lei 12.305/2010, que tramitou por mais de 20 anos no Congresso Nacional até

ser aprovada, instituiu a Política Nacional de Resíduos Solidos – PNRS que, por sua vez

regulamentada pelo decreto federal nº 7.404/2010. Esse decreto contempla os seguintes

tópicos: comitê interministerial, cuja finalidade é apoiar a Política Nacional de Resíduos

Sólidos; responsabilidades dos geradores de resíduos sólidos e do poder público; coleta

seletiva; logística reversa; diretrizes aplicáveis à gestão e ao gerenciamento dos resíduos

sólidos; participação dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis; plano de

resíduos sólidos elaborados pelo poder público; planos de gerenciamento de resíduos

sólidos elaborados pelos grandes geradores; resíduos perigosos; Sistema Nacional de

Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos – SINIR; educação ambiental para

gestão dos resíduos sólidos; condições de acesso a recursos e instrumentos econômicos.

Coerente com a tendência moderna de integração de diferentes eixos temáticos de

políticas públicas a PNRS tem como o seu primeiro objetivo a proteção da saúde pública

e da qualidade ambiental (art. 7 inc.I).

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDO E SEU

CARÁTER DEMOCRÁTICO

As políticas públicas sempre foram marcadas por decisões centralizadas no

âmbito federal, cujo envolvimento não passava de troca de favores entre as instâncias

locais, regionais e federais, sem qualquer ação coordenada ou integrada entre os órgãos

públicos.

A Constituição Federal de 1988 constituiu um marco fundamental na instituição do

regime democrático e de cooperação entre políticos.

O processo de democratização permitiu que nos anos noventa as políticas

públicas ganhassem novos contornos, principalmente, nos governos locais, porque

passaram a realizar parcerias com a sociedade civil, em direção à concretização de suas

políticas. No âmbito das questões ambientais, a idéia de participação, de parceria e de

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compartilhamento é essencial para a proteção do meio ambiente até mesmo, diante do

que determina a Constituição Federal no artigo 225, caput no qual expressamente

menciona que: é dever do Poder Público e da Coletividade preservar e defender o meio

ambiente. Resumindo, quer nos dizer que somos igualmente responsáveis pelo equilíbrio

ambiental para a sadia qualidade vida das presentes e futuras gerações.

Com PNRS foram dados passos largos ao inserir a gestão compartilhada para o

gerenciamento do lixo, tendo em vista que apenas de forma integrada será minimizado as

dificuldades no tratamento e destinação dos resíduos. Além disso, a nova política

compreende objetivos claros e viáveis, como: reduzir a quantidade e a nocividade dos

resíduos; fomentar seu desenvolvimento, a utilização e a produção de bens e serviços

com menor potencial de geração de resíduos em todo o ciclo da vida; estimular a

reutilização de produtos e a ampliação de mercados para produtos reciclados direta e

indiretamente; criar condições para o desenvolvimento de tecnologia que favoreçam o

gerenciamento adequado de resíduos; implementar programas de educação ambiental e

incentivar a criação de cooperativas de trabalhadores autônomos.

A PNRS ao destacar a responsabilização dos produtores, fabricantes e

importadores, tendo em vista que muitos não cumpriam as normas impostas pelas

Resoluções do CONAMA, alegando que só a lei poderia obrigar e prescrever regras de

condutas, taxando-as de normas inconstitucionais. Diante desse quadro, a aprovação da

lei nacional de política de resíduos esvazia tais discussões, uma vez que dispõe sobre

condutas reguladas pelas resoluções do CONAMA.

Os municípios na PNRS exercem um papel fundamental na implementação das

políticas e programas de gerenciamento de resíduos sólido, pois foram obrigados a

erradicar as áreas insalubres (lixões e aterros sanitários clandestinos) no prazo de 4 anos,

até agosto de 2014, mas uma projeto aprovado no senado prorrogou com datas que

variam de 2018 a 2021, implementar a coleta seletiva de lixo reciclável nas residências,

além de implantar sistemas de compostagem para resíduos orgânicos, o que reduzirá

grande parte de lixo dispostos em lixões ou aterros, trazendo benefícios ambientais e

econômicos. Prevê ainda, soluções conjuntas entre os governos municipais e estaduais

na elaboração de um plano de resíduos sólidos, com diagnósticos e metas para redução

do lixo, identificando os principais geradores de resíduos e calculando os gastos público

para que sejam melhor desempenhados nesse setor.

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E no âmbito do governo federal a lei impôs como obrigação a elaboração de um

plano nacional para o período de duas décadas, atualizado a cada quatro anos,

coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente. E mais, dispõe, sobre normas para acesso

a recursos federais e formas de fiscalização.

PRNS INSTRUMENTOS SOCIOAMBIENTAIS: COLETA

SELETIVA, RECICLAGEM E LOGÍSTICA DE REVERSA

A grande geração de resíduos são decorrentes de inúmeros fatores ligados à

produção em massa, consumo insustentável, falta de estruturas suficientes para dar

destinação adequada, restrições orçamentárias, altos investimentos para implantação de

programas, construção de aterros sanitários, usinas de compostagem ou de

incineradores, falta de tecnologias e mão-de-obra qualificada, com medidas elaboradas

somente de forma pontual.

A PNRS foi um instrumento avançado e inovador para gerenciar o lixo urbano, que

segundo a própria lei há diferenças entre resíduo sólido e rejeito. Considerando como

resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades

humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se

está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos

em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede

pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou

economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. E rejeitos como:

resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e

recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não

apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada.

Essa diferenciação permite concluir que o primeiro tem valor, sendo possível sua

reciclagem e voltar à cadeia produtiva, enquanto o segundo inexiste forma de

reaproveitamento, o que demandará a construção de mais aterros sanitários para

destinação adequada. Com isso, assume real importância o investimento e o incentivo no

sistema de coleta seletiva, na reciclagem e na logística de reversa.

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Os ganhos com a reciclagem é a diminuição da quantidade de lixo a ser aterrada,

preserva os recursos naturais, reduz os impactos ambientais, promove a geração de

empregos diretos e indiretos.

A logística de reversa é outro ponto a ser destacado na PNRS como um dos

instrumentos de implementação de ações pelas empresas, com a finalidade de recuperar

materiais após o consumo, dando continuidade ao seu ciclo de vida como insumo para

novos produtos. Cabe às indústrias, lojas, supermercados, distribuidores, importadores e

comercio em geral fomentar a logística reversa. Na lei a logística de reversa ela se aplica

para os agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas, embalagens

em geral e produtos eletroeletrônicos e seus componentes, como geladeiras, televisores,

celulares, computadores impressoras.

Esse instrumento visa um crescimento no mercado de reciclagem, tornando mais

vantajoso, além de viabilizar o aumento de tecnologia e investimento privados. Com a

implantação de logística de reversa advirão muitos benefícios, como maior absorção dos

materiais separados do lixo, resultando em menor quantidade de disposição em aterros,

proporcionando mais renda às pessoas que sobrevivem da catação.

Os fabricantes têm o compromisso de investir em embalagens e produtos mais

facilmente recicláveis ou com menor impacto ambiental, planejando desde o projeto até o

descarte final. O setor produtivo deve informar os consumidores sobre as formas da não

geração, como reciclar e dispor os resíduos, e como promover as ações previstas no

artigo 33 da nova legislação. Ou seja, o consumidor deve ser conscientizado para o

descarte correto de computadores, celulares, eletroeletrônicos, e outros aparelhos com

apoio dos lojistas e fabricantes. Essa responsabilidade pelo clico de vida do produto

também se concretiza na iniciativa privada quando utiliza uma produção mais limpa,

proporcionando uma menor quantidade de resíduos, fabricando produtos mais duráveis,

reutilizáveis ou recicláveis, bem como também procedendo à rotulagem dos produtos,

informando o consumidor sobre os impactos no meio ambiente quando despejados em

locais inadequados.

A sociedade por sua vez, deve agir com responsabilidade socioambiental quando

optar por produtos recicláveis, participar des programas de coleta seletiva e dá a

destinação adequada aos produtos, após o seu consumo. E o Poder Público proporcionar

meios para divulgar informações, incentivar e fomentar a participação ampla da

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coletividade, além de utilizar os instrumentos urbanísticos disponíveis, realizando a

licitações sustentáveis e parcerias com a sociedade civil.

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E

RESPONSABILIDADE PÓS-CONSUMO

A Política Nacional de Resíduos Sólidos vem intensificar e concretizar a

responsabilidade socioambiental dos empreendedores quanto ao cuidado com o todos os

ciclos do produto, a fim de causar o mínimo de impacto ao meio ambiente. Nos termos da

Lei 12.305/2010 e o Decreto n. 7404/2010, os fabricantes, importadores, distribuidores,

comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de

manejo de resíduos sólidos são responsáveis pelo ciclo de vida dos produtos.

Aqueles que estão voltados simplesmente para as responsabilidades decorrentes

das suas atividades econômicas, tendo como objetivo somente o lucro, que acredita que

sua participação enquanto agentes econômicos é suficientes, na medida em que cumpre

com seus encargos fiscais, com oferta de empregos, com a produção de bons produtos e

serviços, sem se importar com outras externalidades, a exemplo do meio ambiente,

passaram a ser conduzidos a uma outra reflexão, decorrente de vários questionamentos

feitos pela sociedade, como o papel negativo gerado pela empresa sobre o meio

ambiente e a coletividade, suas responsabilidades perante as demais questões sociais,

políticas e ambientais.

O uso de novas tecnologias permite que as empresas tenham um crescimento

econômico sem causarem desequilíbrio ambiental e sem precisarem elevar seus custos,

pois muitas vezes, basta substituir as matérias-primas por outras de baixa poluição, ou

que os resíduos sejam tratados e reaproveitados no próprio processo produtivo.

Hoje, muitos empresários percebem que poluir e devastar o meio ambiente resulta

em um custo muito maior do que produzir de modo ecologicamente corretos, passando a

inserir em suas atividades a implantação de um sistema de gestão ambiental, a fim de um

controle maior sobre os seus processos de produção.

Segundo o Programa da Organização das Nações Unidas (ONU) o consumo

sustentável para o meio ambiente é definido como: o fornecimento de serviços e produtos

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que atendem às necessidades básicas, proporcionando uma melhor qualidade de vida

enquanto minimizam o uso dos recursos naturais e materiais tóxicos como também a

produção de resíduos e a emissão de poluentes no ciclo de vida do serviço ou do produto,

tendo em vista não colocar em risco as necessidades das futuras gerações.

A responsabilidade pós-consumo para os consumidores será cobrada quando

estabelecido sistema de coleta seletiva pelo plano municipal ou quando instituído sistema

de logística de reversa. Ademais, é importante ressaltar que para a responsabilização do

consumidor também será indispensável a ampla informação, direito que não poderá ser

negado, conforme os princípios garantidos Constituição Federal e no Código de Defesa

do Consumidor. O acesso à informação, portanto, é fundamental para que os

consumidores possam realizar o consumo sustentável e exercer as escolhas mais

corretas, bem como para que possam ser responsabilizados quanto à destinação

inadequada dos resíduos que tenham gerado.

POLÍTICA DE RESÍDUOS SÓLIDOS E O INVÉS SOCIAL:

INCLUSÃO DOS CATADORES

Nos termos da PNRS colocar o catador organizado em cooperativas ou

associações, é sem dúvida grande desafio, principalmente, mobilizar os catadores e

capacitá-los e aparelhar as cooperativas para propiciar melhores condições de vida. Os

catadores são considerados um dos maiores colaboradores nos programas de

reciclagem.

A catação em lixão representa uma opção de vida para milhares de brasileiros, pois

devido à crise econômica e falta de empregos muitas pessoas acabaram aderindo à

função de catador. Outros, por sua vez, nunca conheceram outra forma de viver, tendo

sido criado em barracos em volta do lixo, o que torna um desafio político e social

promover o fechamento de um lixão, em virtudes das comunidades que vivem em seu

entorno.

Os catadores atuam em determinado trecho da cidade, outros catam diuturnamente

em lixões, sendo conhecidos como catadores de lixo. Os que puxam carrinhos pelas ruas

e levam para os sucateiros, chamam-se de catadores individuais. E os catadores

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organizados, trabalham em cooperativas, associações, ONGs ou OSCIPs. Embora, essa

categoria tenha conquistado certo reconhecimento da sociedade, o fato é que durante

muitos anos foram discriminados, pelo próprio poder público, que tinha os catadores como

pessoas que apenas provocavam desordem nas ruas da cidade, uma vez que utilizavam

os espaços públicos para a guarda de materiais coletados.

A valorização dos serviços prestados pelos catadores vem ocorrendo

gradativamente, a exemplo da criação em 1998 do Fórum Nacional Lixo e Cidadania,

constituído por várias instituições, que tinham como um dos objetivos principais retirar as

crianças do trabalho no lixo e colocá-las na escola, aumentar a renda de famílias que

vivem da catação e erradicar os lixões. No ano de 2002 houve o reconhecimento pelo

Ministério do trabalho e Emprego da Categoria profissional Catadores de Matérias

Recicláveis.

O desafio é buscar soluções adequadas, na qual promova a inclusão social dos

catadores e de suas famílias, com melhores salários, dignidade e respeito perante toda a

sociedade. O Município, enquanto principal gestor dos resíduos sólido, exerce um papel

fundamental que é o acompanhamento das atividades desenvolvidas pelos catadores,

pois só com o apoio institucional do poder público, essa categoria poderá se organizar e

conseguir se manter no mercado de trabalho.

O poder público pode auxiliar as organizações de catadores oferecendo-lhe apoio

administrativo e contábil; serviços de assistentes sociais; implantação de programas de

recuperação de dependentes químicos, uma vez que entre os catadores há grande

incidência de droga e álcool; fornecimento de uniformes e equipamento de proteção

individual, para evitar o contato direito com o lixo e exposição a agentes nocivos à sua

saúde; implantação de cursos de alfabetização para eles e seus filhos, e ainda,

implantação de programas de educação ambiental.

Essas ações e tantas outras são fundamentais para propiciar condições para que

os próprios catadores sejam capacitados a formarem organizações, e dentro delas

possam exercer todas as funções de forma independente e com autonomia.

Além disso, como os catadores estão acostumados a trabalhar de forma

independente, sem horário e subordinação, precisam de um tempo para se acostumar

com ideia de serem associados em grupo. Daí a necessidade do poder público e outras

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entidades acompanharem todo o processo de formação do grupo e oferecer os cursos e

atividades pertinentes para que a organização possa ter sucesso.

No âmbito federal foi editado o Decreto Federal nº 5.940 de 25/10/2006, que

instituiu a separação dos resíduos recicláveis descartes pelos órgãos e entidades da

administração pública federal direta e indireta, determinando que a sua destinação seja

para as associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis.

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CONCLUSÃO

Não está errado ao afirmar que foi a partir da revolução industrial que a poluição

passou a constituir um problema para a humanidade. É lógico que já existiam exemplos

de poluição anteriormente, em alguns casos até famosos (no Império Romano, por

exemplo). Mas o grau de poluição aumentou muito com a industrialização e urbanização,

e a sua escala deixou de ser local para se tornar planetária.

Também não podemos negar que a mesma trouxe inúmeros progressos para a

humanidade, mesmo que isso tenha custado à extração de forma predatória dos recursos

naturais, talvez esse seja o alto preço que pagamos pelo progresso.

Na verdade, o ser humano somente se preocupa com o meio ambiente a partir do

momento que ele começa a se sentir prejudicado, ignorando a ideia de preservar os

recursos naturais, como por exemplo, a poluição do ar, da água potável, das florestas que

antes abrigavam animais que serviam como caça e/ou plantio de alimentos. E foi a partir

dessas preocupações que surgiram as primeiras discussões sobre o assunto. Mas o

homem negava a aceitar que os recursos poderiam se esgotar, que alguns danos eram

irreversíveis, muitas das vezes causando tragédias, levando a morte pessoas e animais.

A partir da década de 50, quando a sociedade alcançou significativo progresso no

campo industrial e aliado a esse desenvolvimento apareceu o problema da poluição, o

mundo percebeu que necessitava de uma salvaguarda para a natureza e para o meio

ambiente e que deveria, de alguma maneira, atacar as atividades produtivas, basicamente

em relação a poluição provocada por elas. Até então não havia preocupação em relação

ao controle da poluição proveniente das atividades industriais. Produzir cada vez mais,

gerar mais empregos, prosperidade era o que interessava.

Nosso país por possuir a maior reserva de recursos naturais no mundo deveria

ser o exemplo de conservação do meio ambiente, algo que foi provado o contrário no

início da criação dos parques industriais. Havia o pensamento que a poluição era o

sinônimo de que o progresso estava chegando, quando na verdade houve uma pressão

dos países desenvolvidos para que algo fosse feito antes que seja tarde demais. No

Brasil, o meio ambiente não se sobrepunha à necessidade socioeconômica. Ainda era o

tempo da ideia do desenvolvimento a qualquer custo ambiental.

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As conferencias ambientais foram necessárias e importantes como instrumento

de diálogo, de definição de orientações e de política comuns. Os textos resultantes destas

conferências contêm os valores, normas, princípios e ações que servem de referência à

implementação de uma governança global.

A melhor resposta brasileira para o mundo seria a de criar os nossos mecanismos

com as lições aprendidas em Estocolmo e com as experiências de outros países.

Criamos leis, mecanismo e controles que serviram de exemplo para outras

nações, introduzimos na nossa Constituição Federal um capitulo para falar do meio

ambiente.

Hoje ouve-se dizer que a legislação ambiental brasileira é muito boa, completa e

avançada, o que falta é a aplicação e fiscalização eficazes por parte dos órgãos

governamentais encarregados de executa-las. De fato, o Brasil apresenta uma legislação

bastante extensa atualmente, mas centrada de modo enfático sobre instrumentos de

comando controle. Os instrumentos de comando e controle são fundamentais, pois

obrigam as empresas a adotarem providencias para controlar a poluição, mas tendem a

induzir um comportamento acomodado após o cumprimento das exigências legais, caso

estas não sejam atualizados com frequência. Além disso, uma política centrada em

instrumentos de regulamentação direta gera sobrecarga de trabalhos sobre os órgãos de

controle, que, mesmo quando bem aparelhados para cumprir suas funções, sempre

estarão aquém das necessidades de fiscalização.

A questão ambiental é coletiva, difusa e muito dinâmica, novos ilícitos surgem

com frequência e a sociedade precisa com frequência, criar e alterar dispositivos para

regulá-los. Hoje se a atividade é altamente poluente e imprescindível, a sociedade tem

que se acostumara viver sem ela, mudar fundamentos e processos, pois qualquer

beneficio que traga, será muito menor do que o dano ambiental que poderá causar. O

meio ambiente merece atenção especial de todos, sob pena, em futuro muito próximo, de

estar irremediavelmente comprometido, com consequências irreversíveis ao próprio ser

humano.

.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AZEVÊDO, Rodrigo Jorge; LACERDA, Mariangela Garcia de; DELMANTO Fabio

Machado de Almeida. As leis federais mais importantes de proteção ao meio

ambiente comentadas. Rio de Janeiro: Renovar.

BARBIERI, José Carlos. Gestão Ambiental Empresarial - Conceitos, Modelos e

Instrumentos. Brasil. Ed Saraiva.

BARBOSA, Rildo Pereira; IBRAHIN, Francini Imene Dias. Resíduos Sólidos -

Impactos, Manejo e Gestão Ambiental. Brasil. Ed Saraiva.

BRASIL. Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do

Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação.

______. Lei 9.605 de 12/02/1998 – Dispõe Sobre sansões penais e administrativas

derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (Lei dos Crimes

Ambientais).

______. Lei 12.305 de 02/08/2010 – Institui a Política de Resíduos Sólidos.

BURSZTYN, Maria Augusta; BURSZTYN, Marcel. Fundamentos de Política e

Gestão Ambiental – Caminhos Para Sustentabilidade. Ed Garamond.

DIAS, Reinaldo. Gestão Ambiental: Responsabilidade Social e Sustentabilidade. Ed

Atlas.

GUSMÃO, Antonio Carlos Freitas de; DE MARTINI Luiz Carlos. Gestão Ambiental

na Indústria. Ed SMS Digital.

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43

MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE. Declaração Da Conferência Da Onu No

Ambiente Humano. Disponivel em www.mma.gov.br Acesso em 18 de agosto de

2015.

SEIFFERT, Mari Elizabete Bernardini. Sistemas de Gestão Ambiental (SGA-ISO

14001): Melhoria Contínua e Produção Mais Limpa na Prática e Experiências de 24

Empresas. Brasil. Ed Atlas.

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INDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

RESUMO 4

METODOLOGIA 5

SUMÁRIO 6

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO 1

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A POLUIÇÃO 10

RELAÇÃO DO HOMEM, MEIO AMBIENTE E O

PROCESSO PRODUTIVO 10

AS DISCURSÕES DO SÉCULO XX 12

A CONFERÊNCIA DE ESTOCOLMO 14

O BRASIL NA CONFERÊNCIA DE ESTOCOLMO 15

OS RESULTADOS DA CONFERÊNCIA 17

CAPÍTULO 2

POLÍTICA PÚBLICA AMBIENTAL BRASILEIRA 20

AS PRIMEIRAS LEIS AMBIENTAIS DO BRASIL 21

A POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – UM MARCO DA

POLÍTICA PÚBLICA AMBIENTAL BRASILEIRA 23

MEIO AMBIENTE E CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL 26

LEI DE CRIMES AMBIENTAIS 27

CAPÍTULO 3

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS 32

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDO E

SEU CARÁTER DEMOCRÁTICO 32

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PRNS INSTRUMENTOS SOCIOAMBIENTAIS:

COLETA SELETIVA, RECICLAGEM E

LOGÍSTICA DE REVERSA 34

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E

RESPONSABILIDADE PÓS-CONSUMO 34

POLÍTICA DE RESÍDUOS SÓLIDOS E O INVÉS

SOCIAL: INCLUSÃO DOS CATADORES 36

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ÍNDICE 44