caderno advogados ed 24

8
São Paulo, SP - Março de 2009 - Edição 24 ÍNDICE Artigos 07 Editorial 02 Entrevista Especial 03 Radar 05 Imagem 02 Tributário 06 Análise 07 Mesa Redonda 08 ARTIGOS pg. 03 - 04 pg. 07 pg. 07 pg. 05 pg. 06 pg. 07 pg. 06 O TRT de São Paulo já emiu uma primeira decisão considerando a necessidade de participação dos Sindicatos nas demissões colevas. O Caderno Advogados abre espaço para opinião de especialistas no setor para traçarmos um panorama sobre a atuação sindical nas presentes demissões colevas. pg. 08 JOSÉ AUGUSTO RODRIGUES JÚNIOR Dispensa em massa gera prejuízo a empresários TERCEIRO SETOR A INCIDÊNCIA DA CRISE ECONÔMICA FLEXIBILIZAR A LEGISLAÇÃO TRABALHISTA? O DIA EM QUE CHÁVES RIU POR ÚLTIMO O SPED E OS REFLEXOS TRIBUTÁRIOS EM 2009 ANÁLISE Os Advogados Rubens Naves e Maria Laura Canineu analisam, com profundidade, as perspecvas do terceiro setor diante dos reflexos da economia mundial. Parndo da premissa que pode haver uma retração dos patrocínios, doações e repasses de recursos e, em consequência disso, diminuição de receita e revogação de benecios. Neste cenário, muitas organizações preferem segurar o que têm a invesr em novas oportunidades. Assim, as empresas repensam suas polícas de desnação de recursos, o que significa menor financiamento para o “setor voluntário”. Os especialistas, autores do argo, conhecem a fundo o perfil das organizações que compõem as fontes do terceiro setor e, portanto, as reações sobre esse momento. Comparando ao que acontece em países como Inglaterra, França, Alemanha e outros países da Europa Oriental onde o financiamento das organizações é feito em grande parte com recursos repassados pelo próprio Estado. Em países como o Brasil não funciona bem assim. DEMISSÕES COLETIVAS E A PARTICIPAÇÃO DOS SINDICATOS BRAZIL: THE EMERGING GIANT Este foi o tulo da palestra que o advogado Noronha Goyos Júnior, sócio sênior do Noronha Advogados, proferiu para um seleto grupo de parcipantes, os membros do World Affairs Council of Conneccut e líderes da comunidade brasileira, no início deste mês na cidade de Harord, EUA. NOMES DE PESO REFORÇAM O DPJ O Conselho Nacional de Jusça convidou os mais expressivos nomes da área jurídica e acadêmica para aperfeiçoar as pesquisas do De- partamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ) responsável, entre outros estudos, pelo levantamento “Jusça em Números”. EXPORTAÇÃO DE ESPECIALISTAS O governo de Angola pretende construir um milhão de casas para a população de baixa renda. Para isso, criou uma equipe de especialistas, organizada pelo Ministério da Habitação e Meio Ambiente de Angola, para traçar um diagnósco sobre a legislação e as polícas públicas do país. RADAR pg. 02 TRIBUTÁRIO Fernando Rizzolo é Advogado, Pós Graduado em Direito Processual Maria Lúcia Benhame Artur Henrique (CUT) A obra de Ignácio de Loyola Brandão “Não Verás País Nenhum”, de grande repercussão na década de 80, é a in- dicação da advogada Cibele Crisna. O livro aventura-se, com sucesso, em um futuro apocalípco, certamente com influências de George Orwell (“1984”). A obra significante para os dias atuais é reavaliada pela advoga- da sob uma nova óca. EU RECOMENDO Rodrigo Corrêa Mathias Duarte NOVIDADES DA MP 499 Monica Cilene Anastácio NOVAS REGRAS DIFICULTAM O CRÉDITO TRIBUTÁRIO FATO NOVO Eduardo Pragmácio Filho A sobrevivência e a sustentabilidade do terceiro setor demandarão maior profissionalismo para sua sobrevivência O advogado trabalhista José Augusto Rodrigues Júnior, fundador do escritório Rodrigues Jr. Advogados, faz uma avaliação precisa deste momento e alerta os em- presários para que não tomem medidas drásticas sem antes passar por uma série de tentativas mais brandas de resolver a questão.

Upload: caderno-advogados

Post on 31-Mar-2016

220 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Caderno Advogados Edição 24

TRANSCRIPT

Page 1: Caderno Advogados Ed 24

São Paulo, SP - Março de 2009 - Edição 24

índiceArtigos 07Editorial 02Entrevista Especial 03 Radar 05

Imagem 02 Tributário 06Análise 07Mesa Redonda 08

ARTIGOS

pg. 03 - 04

pg. 07

pg. 07

pg. 05

pg. 06

pg. 07

pg. 06

O TRT de São Paulo já emitiu uma primeira decisão considerando a necessidade de participação dos Sindicatos nas demissões coletivas. O Caderno Advogados abre espaço para opinião de especialistas no setor para traçarmos um panorama sobre a atuação sindical nas presentes demissões coletivas. pg. 08

JOSÉ AUGUSTO RODRIGUES JÚNIOR

Dispensa em massa gera prejuízo a empresários

TERCEIRO SETORA INCIDÊNCIA DA CRISE ECONÔMICA

flexIbIlIzAR A leGISlAçãO TRAbAlhISTA?

O DIA eM QUe ChÁVeS RIU POR ÚlTIMO

O SPeD e OS ReflexOS TRIbUTÁRIOS eM 2009

ANÁlISe

Os Advogados Rubens Naves e Maria Laura Canineu analisam, com profundidade, as perspectivas

do terceiro setor diante dos reflexos da economia mundial. Partindo da premissa que pode

haver uma retração dos patrocínios, doações e repasses de recursos e, em consequência disso,

diminuição de receita e revogação de benefícios. Neste cenário, muitas organizações preferem

segurar o que têm a investir em novas oportunidades.

Assim, as empresas repensam suas políticas de destinação de recursos, o que significa menor

financiamento para o “setor voluntário”. Os especialistas, autores do artigo, conhecem a fundo

o perfil das organizações que compõem as fontes do terceiro setor e, portanto, as reações sobre

esse momento. Comparando ao que acontece em países como Inglaterra, França, Alemanha e

outros países da Europa Oriental onde o financiamento das organizações é feito em grande parte

com recursos repassados pelo próprio Estado. Em países como o Brasil não funciona bem assim.

DEMISSÕES COLETIVAS E A PARTICIPAÇÃO DOS SINDICATOS

BRAZIL: THE EMERGING GIANT

Este foi o título da palestra que o advogado Noronha Goyos Júnior, sócio sênior do Noronha Advogados, proferiu para um seleto grupo de participantes, os membros do World Affairs Council of Connecticut e líderes da comunidade brasileira, no início deste mês na cidade de Hartford, EUA.

NOMES DE PESO REFORÇAM O DPJO Conselho Nacional de Justiça convidou os mais expressivos nomes da área jurídica e acadêmica para aperfeiçoar as pesquisas do De-partamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ) responsável, entre outros estudos, pelo levantamento “Justiça em Números”.

EXPORTAÇÃO DE ESPECIALISTASO governo de Angola pretende construir um milhão de casas para a população de baixa renda. Para isso, criou uma equipe de especialistas, organizada pelo Ministério da Habitação e Meio Ambiente de Angola, para traçar um diagnóstico sobre a legislação e as políticas públicas do país.

RADAR

pg. 02

TRIBUTÁRIO

Fernando Rizzolo é Advogado, Pós Graduado em Direito Processual

Maria lúcia benhameArtur henrique (CUT)

A obra de Ignácio de Loyola Brandão

“Não Verás País Nenhum”, de grande

repercussão na década de 80, é a in-

dicação da advogada Cibele Cristina.

O livro aventura-se, com sucesso, em

um futuro apocalíptico, certamente

com influências de George Orwell

(“1984”). A obra significante para os

dias atuais é reavaliada pela advoga-

da sob uma nova ótica.

EU RECOMENDO

Rodrigo Corrêa Mathias Duarte

NOVIDADeS DA MP 499Monica Cilene Anastácio

NOVAS ReGRAS DIfICUlTAMO CRéDITO TRIbUTÁRIO

FATO NOVO

Eduardo Pragmácio Filho

A sobrevivência e a sustentabilidade do terceiro setor demandarão maior profissionalismo para sua sobrevivência

O advogado trabalhista José Augusto Rodrigues Júnior, fundador do escritório Rodrigues Jr. Advogados, faz uma avaliação precisa deste momento e alerta os em-presários para que não tomem medidas drásticas sem

antes passar por uma série de tentativas mais brandas de resolver a questão.

Page 2: Caderno Advogados Ed 24

São Paulo, Março de 2009 - Edição 24 - PÁGINA 02 - www.cadernoadvogados.com.br

Jornalista ResponsávelSilvia TorreglossaMtb: 28167/[email protected]

Editor ExecutivoAdriano [email protected]

Diretor ComercialCarlos Araú[email protected]

EstagiárioRogério [email protected]

Editor FotografiaGenésio [email protected]

ImpressãoGráfica e Editora Ponto a PontoR. Ester Rombenso, 361, centro ,Osasco - São Paulo - SP

Expediente: CADERNO ADVOGADOS Colaboradores:Cibele Crisitna MarconRodrigo Corrêa Mathias DuarteMônica Cilene AnastácioFernando RizzoloMaria Laura CanineuRubens NavesEduardo Pragmácio FilhoCaderno Advogados é uma publicação quinzenal da Caderno Único Soluções Editoriais, CNPJ n.º 05.900.548/0001-13Tel.: 11 3774 9134 - 5017 7690End. R. Pitangueiras, 62 Cj 12Pça da Árvore, São Paulo, SP

Eu REcomEndoEditoRial

imagEm

APELAÇÃO AMÉRICA

No metrô de Nova York advogados apelam para a publicidade para angariar clientes hispânicos. O carro chefe é o valor do divórcio de $399.

A área trabalhista tomou de assalto a presente edição. A grande re-percussão da imprensa nacional diante das demissões em massa fez emergir vários assuntos adormecidos. Desde a flexibilização das leis

trabalhistas até os incentivos tributários do presente governo às empresas. Convidamos José Augusto Rodrigues Júnior, sócio do escritório Rodrigues Jr. Advogados, para avaliar a presente situação sob o prisma de um advogado militante. Na sua entrevista destaca os principais problemas da demissão em massa e suas repercussões em toda a economia. Com ar de otimismo em seu discurso Rodrigues Jr. nos baliza com cinco passos para a readequação das empresas diante de tal cenário.

A tônica da reforma sindical foi o tema da posse do novo presidente do Tri-bunal Superior do Trabalho, o ministro Milton de Moura, e gerou debate na comunidade jurídica. Desta forma, sugerido pela advogada Maria Lúcia Benhame formamos a Mesa Redonda sob o tema: Demissões Coletivas e a Participação dos Sindicatos. Foram ouvidos advogados de peso como a própria fomentadora do debate e o advogado Miguel Calmon, a juíza Ivani Contini Bramante, o Ministro do Trabalho e Emprego Carlos Lupi, o sindi-calista Paulinho da Força e o presidente da CUT Artur Henrique. Tais opiniões distintas e relevantes nos traça um panorama do assunto e as diversas cor-rentes de pensamento.

Reforça o tema o artigo Flexibilização das Leis Trabalhistas de Eduardo Prag-mácio Filho, que defende a manutenção da lei porém com uma importante reflexão sobre o papel do sindicato na atualidade propondo, em suma, o fim das raízes corporativistas do sindicalismo brasileiro.

A atual edição conta com uma página especial de artigos tributários que analisam a questão do SPED e seus primeiros reflexos no ano de 2009 escrito por Rodrigo Corrêa Mathias Duarte e as mais recentes inovações da MP 499 destacadas pela advogada Mônica Cilene Anastácio.

Por outra linha, o advogado Rubens Naves nos ressalta um aspecto novo da repercussão da crise econômica: o Terceiro Setor. Em um artigo sucinto dis-corre sobre os impactos e perspectivas sob uma ótica ampla como um alerta aos empresários e ao Estado.

Boa Leitura

Adriano Miranda - Editor Executivo

BRASIL: OuTROS CAMINhOS DIvERSOS OLhARESEDITORA: MELhORAMENTOS, 2006

Não apenas um table-book mas um referencial tra-balho de organização de textos e imagens em um formato visual. Fruto de uma parceria da NA3 Comu-nicação Estratégica e a Empresa das Artes o livro foi realizado por meio da Lei Rounet.

No mercado editorial é com muita dificuldade que encontramos um livro com um conteúdo tão direcio-nado em um formato visual. Brasil: Outros caminhos diversos olhares retrata o encanto natural do Brasil, despertando uma relação afetiva com as imagens.

O livro é dividido em regiões (Sul, Sudeste , Centro Oeste, Nordeste e Norte) e conta com os expressivos fotógrafos Fábio Knoll, Marcello Lourenço e Zig Koch entre outros.

Em uma edição bilingue o livro foi patrocinado pela empresa Localiza como material promocional, em uma concepção de uma comunicação estratégi-ca que atendesse à necessidade do cliente. O Editor Fábio Ávila alterna tex-tos com uma subjetividade ímpar que nos transporta aos locais de forma sensorial, livre de vícios turísticos e de professores de geografia.

Uma preocupação com as paletas de cores preenchem as páginas e mostra a tonalidade principal de cada região. Em um registro que parte do abstrato ao mais concreto o percurso das imagens ora nos orienta ao entendimento de uma região apenas com um detalhe de tecido (Pernambuco) até uma distante panorâmica (Rio Amazonas).

Assim como as grandes obras do renascimento surgiram da encomenda Brasil: Outros caminhos diversos olhares é fruto de uma estratégia de co-municação porém com um forte conteúdo artístico e cultural que certa-mente gerou muito mais que elogios.

NÃO vERÁS PAÍS NENhuM - Ignácio de Loyola Brandão

Costumeiramente escritor de contos infanto-juvenis, Ignácio de Loyola Brandão aventura-se, com sucesso, em seara diversa nesse “memorial descritivo” futurístico e apocalíptico, certamente com origens em literatura de George Orwell, que também visualizou um futuro caótico, político e eco-logicamente, em seu livro 1984.

Nesse romance, o qual tive o prazer de adquirir a 5ª edição (1982) em um sebo, existe uma profusão de personagens e acon-tecimentos que às vezes parecem impossíveis e por demais surreais quando por vezes nada mais são do que acontecimentos quase co-tidianos da atualidade.

A narrativa descreve a sociedade tolhida, tendo exaurido as reser-vas naturais da terra, a segrega-ção desmotivada entre os que são considerados sãos e os fisicamente doentes graças a fatores genéticos consequenciais do próprio com-portamento humano em relação ao distrato do ambiente em que vive e deveria manter. A existência

de barreiras físicas entre as pessoas, causa sensação aflitiva, e a narrativa nos conduz a uma vertiginosa impressão de que o sol está sempre em nosso encalço. A água torna-se elemento mais valioso que moeda em espécie, e os alimentos não passam de vestígios do que hoje temos à disposição.

Choca ainda a possibilidade do surgimento de um grande deserto amazônico, como narrado no livro, bem como a flagrante existência de uma burocracia exacerbada onde o sistema é hierarquizado de tal forma, onde os compor-tamentos humanos passam a ser padronizados como engrenagens de uma máquina – o Estado.

DRA. CIBELE CRISTINA MARCON MARTIN, advogada associada da Gregori Capano Advogados Associados

Page 3: Caderno Advogados Ed 24

São Paulo, Março de 2009 - Edição 24 - PÁGINA 3 - www.cadernoadvogados.com.br

JOSÉ AUGUSTO RODRIGUES JR

“.”

Está na ordem do dia o tema crise, quan-do se ouve esta palavra todos entram num estado de alerta e surgem várias questões inerentes a situação. O fantasma do desem-prego começa a assombrar todas as classes de trabalhadores e todos os cargos, até os altos executivos temem ficar à deriva neste momento tão delicado da economia mundi-al.

As empresas, por sua vez, na tentativa desesperada de cortar gastos e enxugar a máquina administrativa, pensam em demis-sões coletivas como a solução mais rápida e certeira.

A dispensa em massa sempre gera muito desconforto, revolta, insatisfação e muito prejuízo para ambas as partes.

A todo o momento vemos reportagens, aná-lises, depoimentos sobre como o ex-fun-cionário sofre mediante tal situação tanto pela ótica financeira como psicológica, afe-tiva, pois o desemprego gera um abatimento radical na auto-estima.

O advogado trabalhista José Augusto Rodri-gues Júnior, fundador do escritório Rodrigues Jr. Advogados, faz uma avaliação precisa deste momento e alerta os empresários para que não tomem medidas drásticas sem an-tes passar por uma série de tentativas mais brandas de resolver a questão.

As empresas, num mo-

mento de afobação,

estão descartando mão-

de-obra num primeiro

evento, disponibilizando

no mercado pessoas

extremamente qualifi-

cadas e magoadas que

evidentemente vão pro-

curar o judiciário

Demissão Coletiva -o último remédio

Silvia Torreglossa, da Redação

O volume de trabalho teve um acréscimo significante no escritório Rodrigues Jr. Advogados devido a intenção das em-

presas em realizar uma dispensa coletiva, “ten-tamos demover a empresa desta opção most-rando que isso não é o melhor caminho nem para a empresa e nem para o empr-egado, quer seja no campo jurídico, quanto na própria atividade de negociação da em-presa”, ressalta Rodrigues Júnior.

Frequentemente, segundo ele, as empresas procuraram negociar com os sindicatos e chegam com uma linha inicial estratégica.

“Demissão em massa fere a imagem da em-presa, faz a empresa perder mão-de-obra especializada que já recebeu investimento de treinamento e aperfeiçoamento”, diz.

As dispensas têm de ser o último remé-dio, a última instância. “Infelizmente o empresariado vêm tomando essa decisão como primeira opção. Com isso ele só vai ter perda de qualidade, perda do próprio negócio em si, maculando a imagem da empresa”, adverte.

No campo jurídico não há uma legislação própria e específica para essa dispensa em massa, um vácuo legal se instala, “o que dá margem ao ju-diciário adotar algumas medidas que concor-dando ou não podem ser um tanto nefastas

para a empresa, em especial tribunais como o nosso da segunda região (TRT 2ª Região) que vem adotando uma política muito mais para o âmbito social que pode levar a uma postura de certa forma exagerada”, comenta.

Não se pode negar a incidên-cia da crise nas dinâmicas tra-balhistas, mas felizmente no Brasil, na opinião de Rodri-gues Júnior, não é da mesma importância que em outros países.

Evidente que vamos ter os reflexos desta instabilidade na economia mundial, mas é uma crise que pode ser contornada. “O Brasil está numa posição de certa forma confortável, quando se fala em problemas externos é evidente que não podemos também fingir que aqui não vai nos afetar, vai afetar sim,

mas não da forma como está acontecendo nos Estados Unidos.”

A maior prejudicada numa situação desta é a empresa e por con-sequência o Brasil, achar que essa dispensa é um prejuízo maior para o empregado é uma ingenuidade, porque se a empresa dis-

pensa um empregado, ele não consome

Page 4: Caderno Advogados Ed 24

São Paulo, Março de 2009 - Edição 24 - PÁGINA 04 - www.cadernoadvogados.com.br

O empresário brasileiro precisa saber que não é o custo e encargo da mão-de-obra o principal fator de insucesso financeiro de sua empresa, a redução de custos tem de começar em outras áreas e passar por todos os setores e, por fim, terminar na possibilidade de redução da mão-de-obra.

Porém, havendo a necessidade de redução do quadro de funcionários, tudo deve ser realiza-do de forma racional, articulada e com rigorosa gestão dos recursos humanos, somado a partici-pação das entidades sindicais, para haver o mín-imo de desconforto e de prejuízo para empresa e empregados.

MÃO-DE-OBRA QUALIFICADA É O MAIOR PATRIMÔNIO DA EMPRESA

A demissão em massa é uma manobra que atinge todos os níveis de profis-sionais dos operacionais aos mais técnicos e qualificados resultando na perda da expertise e sinergia, além da insatisfação destas pessoas que po-dem até deixar o país em busca de no-vas oportunidades.

Concomitante às atuais negocia-ções trabalhistas entre empresas, empregados e sindicatos, existe uma forte pressão articulada por interesses de classes com objetivo de flexibilizar os direitos trabalhistas. “É uma situa-ção bem perigosa, não é momento de se tratar disso, não vai haver a isenção e a sensatez necessárias para se de-terminar um novo modelo brasileiro”, admite.

O presente momento é de readequa-ção das empresas onde a palavra de ordem é economia e manutenção de patrimônio. Neste sentido o patrimônio mais representativo de uma empresa em um período de incertezas está no quadro de empregados.

BRASIL E EUA

A história brasileira sempre ressaltou a pujança dos Estados Unidos, relegando ao nosso país uma posição desvalorizada. “Queremos nos comparar sempre ao norte-americano, agora que eles são os piores devemos ser piores ain-da? Não se pode passar a idéia de que o Brasil é totalmente dependente deles (americanos), a economia está globalizada, nós vamos ter problemas, como já temos, não acredito que

já chegamos ao ápice da crise, pois a economia americana ainda está com alguns paliativos, mas mesmo quando chegarem ao ponto crucial esta-remos longe da força destruidora dos problemas deles”, compara .A economia brasileira está muito mais solidifi-cada enquanto os americanos, para Rodrigues Júnior, estavam numa verdadeira redoma de vidro.

NEGOCIAR É A SOLUÇÃORodrigues Júnior adverte que a curto prazo as empresas terão de recontratar essas pessoas a custos bem maiores, sem falar na possibilidade dessa readmissão ficar impossibilitada, pois a pessoa pode já ter recebido outras propostas de emprego e aceito.

Ou seja, além do custo administrativo e jurídico de uma demissão em massa a empresa ainda terá um gasto incomensurável no treinamento e adaptação de novos funcionários.

“As pessoas se esquecem também de que são exatamente essas pessoas que eles estão man-dando embora que vão consumir os produtos da empresa e em função disso além de perder o funcionário vão perder faturamento e, conse-quentemente, a qualidade da própria empresa”, comenta.

Os dirigentes das empresas precisam informar e participar aos colaboradores a sua real situação no quadro econômico atual e estudar junto com eles e com as forças sindicais uma forma mais branda para atenuar os efeitos dessa instabili-dade. A união de forças gerada pela confiança mútua pode surtir efeitos inesperados como acordos de diminuição de carga horária, diminu-ição de salário, o trabalho em casa, participação em cursos de aperfeiçoamento e tantas outras condições paliativas que não culminam numa demissão.

Assim, mesmo se a demissão for inevitável, em-presa, empregado e sindicatos sabem que foi feito todo o possível para se resgatar o potencial produtivo e financeiro da corporação. “Quando o empregado participa de todo o processo de forma transparente, no final, se acontecer de fato à demissão, ele vai saber que foi derrotado junto com a empresa, pois o empregado não é um inimigo e sim um parceiro, porque ele tem o mesmo interesse que o empresário, ele de man-ter o emprego e a empresa de manter a ativi-dade”, conclui.

.”

1º Passo Mostrar aos seus empregados a real situação, não como terrorismo, mas de forma verdadeira, para que haja um acompanhamento e a ciência de todos os interessados (empresa, empregados e sindicatos). A transpa rência é absolutamente necessária.

2º Passo Tentar equacionar e reduzir seus custos tomando por base a ma-nutenção da mão-de-obra.

3º Passo Aguardar as medidas que o governo já está tomando.

4º Passo Estudar procedimentos e fazer propostas para resolver a questão, por exemplo, redução de carga horária com redução salarial, suspensão tem-porária do contrato de trabalho, participação em cursos de aprimoramento, entre outros.

5º PassoApenas em último caso cortar mão-de-obra.

O Brasil é um país que tem agricultura, in-dústria de base e é produtor de tecnologia e que, além de tudo, está capitalizado, tanto que a economia continua em movimento, por exemplo, os empresários estrangeiros

continuam vendo negócio no Brasil

A readequação das empresas é

um processo que envolve vários

departamentos e deve ser articu-

lado racionalmente. Segundo o

advogado Rodrigues Júnior “não

é no momento da doença que vai

se pensar numa alteração fun-

damental, agora é preciso aba-

far a crise que ainda não chegou

ao ponto, especificadamente no

Brasil, desta histeria que tomou

conta do assunto”.

CINCO PASSOS PARA A READEQUAÇÃO TRABALHISTA

Page 5: Caderno Advogados Ed 24

São Paulo, Março de 2009 - Edição 24 - PÁGINA 5 - www.cadernoadvogados.com.br

RadaR

NEGÓCIO DO ANO EM DOSE DUPLA

O escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice prestou assessoria ju-rídica a duas operações vencedoras do Prêmio Deal of the Year de 2008 da publicação britânica Latin Lawyer. A premiação é composta por cinco categorias: Corporate Fi-nance (Finanças Corpora-tivas), Debt Restructuring (Reestruturação de Dívi-das), Project Finance (Financiamento de Projetos), Dis-putes (Contencioso) e M&A (Fusões e Aquisições). Embora a decisão final caiba à Latin Lawyer, especialistas em cada uma das áreas analisadas são consultados na seleção dos vencedores, em busca de opiniões acerca do impacto, do tamanho e da inovação de cada negócio.

OAB-SP PRESTA HOMENAGEMA TORON

O secretário ad-junto- geral do Conselho Federal e conselheiro fed-eral por São Paulo, Alberto Zacharias Toron será o hom-enageado durante a reunião do Con-selho Seccional. Tal homenagem é embasada na iniciativa de Toron provocar o Conselho Federal para requerer junto ao Supremo Tribunal Federal uma súmula que protege-sse as prerrogativas profissionais da classe. A provocação deu origem à Súmula Vinculante 14, que garante acesso irrestrito dos advogados aos autos dos inquéritos policiais, mesmo quando correm sob sigilo.

“É direito do advogado legalmente constituído ter acesso aos autos. Isso está na lei, no nosso Estatuto da Advocacia e faz parte das nossas prerrogativas profissionais. E, agora, está reconhecido em grau máximo pelo Judiciário desse Pais, por meio da Súmula Vinculante 14.”

PENSÃO HOMOAFETIVA

O Tribunal Regional Federal da 3ª Região – São Paulo, em decisão inédita, conce-deu no último dia 20 de janeiro, pensão estatutária de 100%, vitalícia, para com-panheiro de um ex-funcionário público federal. O caso foi acompanhado pela ad-vogada Sylvia Maria Mendonça do Amaral, especialista em Direito de Família e Direito Homoafetivo do escritório Mendonça do Amaral Advocacia.

O casal vivia em união estável homoafetiva há sete anos, quando então um deles faleceu. O companheiro sobre-vivente havia prestado assistência integral ao falecido que permaneceu doente por três anos, deixando inclusive de exercer suas atividades profissionais. A família do ex-servidor, logo após o seu óbito despe-jou o companheiro de seu familiar do imóvel no qual o casal vivia, fazendo com que seu parceiro passasse a viver em pre-cária situação financeira.

CAPTAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS

A Diálogo Social Eventos, empresa especializada em eventos focados em responsabilidade social e Terceiro Setor, com apoio da Revista Filantropia e da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), promove en-tre os dias 23 e 27 de março, na cidade de Atibaia (SP), o curso de “Imersão em Captação e Mobilização de Recur-sos”.

BENS NO EXTERIOR

O Banco Central publicou hoje a Circular 3.442 que es-tabelece o prazo de entrega da Declaração de Capitais Brasileiros no Exterior (CBE) de 2009. O prazo será de 30 de março a 29 de maio.

O advogado especialista em Direito Societário, Renato de Oliveira Valença, do Peixoto e Cury Advogados explica que “a declaração é obrigatória a pessoas físicas ou jurídicas que possuam valores de qualquer natureza, ativos em moeda, bens e direitos fora do território nacional, no mon-tante total igual ou superior a US$ 100 mil”.

Renato de Oliveira alerta que as informações devem ser corretas. “Infrações no fornecimento das informações poderão implicar multa pecuniária, além de outras san-ções”, diz o advogado.

INGLÊS JURÍDICO

A Cultura Inglesa começa 2009 com o lançamento do curso de inglês jurídico, dirigido a profissionais e estudantes de Direito. Ao frequentar as aulas, o aluno tanto aprimora suas habilidades de escrita, fala, entendimento e leitura no contexto jurídico, como pode se preparar para prestar o ILEC - International Legal English Certificate, desenvolvido pela Universidade de Cambridge em colaboração com a Translegal, empresa de assessoria linguística jurídica líder na Europa.

São duas aulas por semana ministradas ao longo de três módulos com carga horária de 53 horas. As matrículas já estão abertas. O curso é ministrado na unidade da Cultura Inglesa exclusiva para o ensino de inglês para profissionais, o The Club. www.culturainglesasp.com.br/theclub.

TRANSFER PRICING

Com o intuito de esclarecer dúvidas sobre os preços de transferência dentro da legislação do Imposto de Renda, a Trevisan Escola de Negócios oferece, neste mês, o curso intensivo “Transfer princig – incluin-do a nova portaria 222/08”, na sede da faculdade.www.trevisan.edu.br

REFORMA SINDICAL É TEMA DA POSSE DO NOVO PRESIDENTE DO TST

No início deste mês tomou posse o ministro Milton de Moura na Presidência do Tribunal Superior do Trabalho. Afirmou, no seu discurso de posse, a reformulação do modelo sindical comparando com a reforma tributária e consoante a uma nova regulação dos encargos sociais so-

bre o trabalho.

“E é neste contexto que res-surge, com redobrado vigor, a urgência de se buscar, o mais breve possível, a reformulação do modelo sindical vigente, dando-lhe maior autonomia e consequentemente maior legitimidade democrática e representatividade, elemen-tos essenciais para a negocia-ção coletiva.”

NOMES DE PESO RE-FORÇAM O DPJ

O Conselho Nacional de Justiça convidou os mais expres-sivos nomes da área jurídica e acadêmica para aperfeiçoar as pesquisas do Departamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ), responsável, entre outros estudos, pelo levantamen-to “Justiça em Números”.

O conselho é composto por Armando Castelar Pinheiro, Elizabeth Sussekind, Everardo Maciel, Mangabeira Unger, Maria Tereza Sadek, Luiz Jorge Werneck Viana, Kazuo Wa-tanabe, Yussef Said Cahali e Vladimir Passos de Freitas. Os membros do conselho foram indicados pela Presidência do CNJ e aprovados pelos conselheiros.

O Conselho Consultivo será responsável por analisar as pesquisas feitas pelo CNJ e, se for o caso, redirecioná-las. O plano do Conselho é também o de que os pesquisadores e professores façam uma interlocução natural entre os trabalhos do órgão de administração do Judiciário e a aca-demia, para aprimorar trabalhos de gestão.

O DPJ tem sete linhas de pesquisas, divididas em: estru-turas, litigiosidade, jurídico-institucional, administração ju-diciária, acesso à justiça, modelo ético-filosófico e direitos fundamentais e liberdades públicas.

18 MILHÕES DE AÇÕES EM ANDAMENTO NO JUDICIÁRIO DE SÃO PAULO

O Judiciário de São Paulo ultrapassou a marca das 18 milhões de ações em andamento, ao receber 381 mil no-vos processos no mês passado. Agora, são 18,21 milhões de casos em tramitação.

Do total de movimentações em janeiro, 207 mil foram sen-tenças, 51 mil foram cartas precatórias e 47 mil, audiên-cias. Só o Tribunal do Juri teve 158 sessões.

OAB-SP E OS NOVOS MERCADOSDE TRABALHO

A Comissão do Jovem Advogado da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, em São Paulo, vai promover o Congresso Estadual do Jovem Advoga-do, com o tema “Advocacia e os novos mercados de trabalho”. O evento acontece nos dias 30 e 31 de março, a partir das 8h, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Largo São Francisco, 95).

A palestra de encerramento será do presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, ministro Gilmar Mendes. Quem fará a palestra de abertura será o presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D’Urso.

EXPORTAÇÃO DE ESPECIALISTASO governo de Angola pretende construir um milhão de casas para a população de baixa renda. Para isso, criou uma equipe de especialistas, organizada pelo Ministério da Habitação e Meio Ambiente de Ango-la, para traçar um diagnóstico sobre a legislação e as políticas públicas do país.

O advogado Carlos Eduardo Duarte Fleury, diretor executivo do Instituto de Registro Imobiliário do Brasil, e o Pedro Cortez, sócio da área de imobiliário do Koury Lopes Advogados, estavam entre os con-vidados. Eles fizeram parte da equipe que avaliou a legislação de registros públicos do país, comparando com a legislação brasileira.

“Brazil: The Emerging Giant” (Brasil: O Gigante Emergente) foi o tema da palestra que Durval de Noronha Goyos Júnior, sócio sênior do Noronha Advogados proferiu para um seleto grupo de par-ticipantes, membros do World Affairs Council of Connecticut e líderes da comunidade brasile-ira, no início deste mês na cidade de Hartford, EUA.

O objetivo foi mostrar que o Brasil se tornou um impor-tante player da economia global. Dados como mercado consumidor, fontes de energia, produção e reservas de petróleo, recursos naturais e crescimento do parque industrial estavam entre os assuntos abordados.

Especialista em Direito Internacional, Durval de No-ronha Goyos Jr. tem forte atuação na divulgação do Brasil no exterior. Recentemente, em outubro de 2008, lançou a 2ª edição do Guia de Investimento em Portugal, em parceria com a embaixada do Bra-sil em Lisboa e com o apoio do Banco do Brasil.

NORONHA FAZ PALESTRAS NOS EUA

LIVRARIA ON LINE DO STF

A livraria virtual do STF é um site relevante para o advogado interessado nas publicações do STF. Além dos livros sobre a casa e a Revista Trimestral de Juris-prudência o site dispõe de DVD´s com gravações dos programas da TV Justiça.

PADRONIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO DE TRIBUNAIS

Assessores de imprensa, jornalistas e acadêmicos encontraram no IV Encontro dos Assessores de Comunicação Social da Justiça Federal no início do mês em Brasí-lia e discutiram a possibilidade de criação de regras de redação e a normatização de notícias nos sites do Judiciário. Estiveram presentes trocando experiências sobre a divulgação de processos na mídia os asses-sores do STJ, STF e TSE entre outros.

TÍTULO HONORIS CAUSA EM PORTUGAL

O advogado Luiz Olavo Baptista recebeu, no início do mês em Portugal, o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Lisboa. Ele é fundador do L.O. Baptis-ta Advogados, além de participar da equipe de espe-cialistas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Durante os 40 anos atuando na advocacia, também alcançou o cargo de professor titular de Direito Inter-nacional da USP.

Page 6: Caderno Advogados Ed 24

www.cadernoadvogados.com.br São Paulo, Março de 2009 - Edição 24 - PÁGINA 6 -

Mônica Cilene Anastácio*

Contribuintes podem parcelar dívidas de pequeno valor até o dia 31 de março 2009. Esta é uma das novidades fiscais introduzi-das pela edição da Medida Provisória 449, de 04 de dezembro de 2008. A MP veio tentar acalmar ânimos de empresários exaltados pela crise econômica que se vislumbrava no horizonte de 2009, trazendo algumas mudan-ças.

Verifica-se que, apesar das inúmeras dis-posições legais, a MP não traz novidades que podem, de fato, ajudar o empresário no iní-cio deste ano tão tumultuado, por crise finan-ceira, demissões em massa e total incerteza quanto ao cenário político econômico mun-dial.

A certeza, entretanto, é de que as empre-sas brasileiras merecem uma atenção bem maior do que aquela dada pelo legislador na MP, uma vez que é certo que a tormenta vai passar, mas não se sabe quando, e os efeitos dela, só o tempo para mostrar. Ainda se es-pera a reforma tributária completa, com efe-tivas mudanças para destravar a economia do país.

A MP 449 criou, por exemplo, novas obriga-ções acessórias relativas às contribuições sociais, tais como a apresentação de decla-rações, à Secretaria da Receita Federal, com informações relativas ao INSS e ao FGTS. Quanto aos débitos junto à Fazenda Nacio-nal, inscritos ou não em Dívida Ativa, venci-dos até 31 de dezembro de 2005 e que não excedam o valor de R$10.000,00, de acordo com a MP, eles podem ser pagos à vista ou parcelados, com isenção dos encargos legais. O parcelamento pode ser em até seis presta-ções mensais, com isenção da multa de mora ou de ofício e redução de 30% dos juros; em até 30 prestações mensais, com redução de 60% da multa de mora e de ofício; ou em até 60 prestações mensais, com redução de 40% da multa de mora e de ofício. As prestações mínimas correspondem ao valor de R$ 50,00 para as pessoas físicas e de R$ 100,00 para as pessoas jurídicas.

Os débitos relativos às multas isoladas deco-rrentes de descumprimento de obrigações tributárias acessórias e de infrações à legis-lação penal e eleitoral, inscritas ou não em Dívida Ativa da União, não podem ser objeto deste parcelamento.

Segundo a MP, dívidas relacionadas ao aproveitamento de créditos de IPI, relativas a fatos geradores ocorridos até 31.05.2008, inscritas ou não em Dívida Ativa da União, poderão ser pagas à vista ou parceladas, sem cobrança de encargos legais, em até seis me-ses, com isenção das multas de mora e de ofício, e com redução de 30% dos juros de mora. Há ainda a opção pelo parcelamento em até 24 meses, onde a redução das multas de mora e de ofício será de 80%, dos juros de mora de 30%.

A empresa poderá ainda optar pelo parcela-mento sem qualquer redução de multas, de juros ou de encargos legais. Nesta hipótese, o parcelamento pode ser em até 60 meses ou em até 120 meses, desde que a primeira

TRIBUTÁRIONOVIDADES DA MP 449

Órgão proíbe compensação de créditos tribu-tários com os débitos estimados de IRPJ e CSLL. Agora, empresas terão de recolher es-sas estimativas em dinheiro vivo . A recente publicação da Medida Provisória 449/08 e da Instrução Normativa 900/08 trouxe dores de cabeça para os gestores tributários das empresas nacionais. Entre as regras definidas pelas autoridades fiscais, chamam a atenção novas proibições para que o contribuinte compense seus créditos tribu-tários. “Essa medida é um verdadeiro absurdo fiscal. As empresas não poderão compensar os créditos tributários com os débitos de esti-mativas de IRPJ (Imposto de Renda de Pessoa Jurídica) e de CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido)”, afirma Amanda de Jesus, auditora-sênior da De Biasi Auditores Inde-pendentes, firma de consultoria e auditoria sediada em São José dos Campos.

“Antes dessas alterações, as empresas po-diam, em vez de recolher essas estimativas em dinheiro, compensar com outros crédi-tos. Agora, não. Terão de pagar em dinheiro vivo. Isso limita em demasia a utilização do crédito por conta das empresas. Uma das conseqüências imediatas, além do impacto no fluxo de caixa, será um acúmulo crescente e inutilizável desses créditos”, alerta a audi-tora da De Biasi. O problema é agravado pelo fato de o IRPJ e a CSLL representarem uma carga tributária elevada para a maior parte das organizações. “Imagine uma empresa que tem saldo credor de PIS, COFINS e IPI? Como vai compensar esses valores? É certo que a Receita Federal permite a restituição dos valores. Mas, na prática, essa restituição acaba demorando demais para ser r ecebida, o que é prejudicial às companhias”, comple-menta Amanda.

parcela corresponda a, no mínimo, 30% do total dos débitos consolidados e que o valor mínimo de cada prestação, em relação aos débitos consolidados, não poderá ser inferior a R$ 2.000,00.

O saldo remanescente da dívida do REFIS e PAES poderá ser pago nas mesmas condições do parcelamento dos créditos de IPI, desde que na data do novo parcelamento sejam restabelecidos os valores correspondentes ao crédito originalmente confessado com o cômputo das parcelas pagas. Vale mencionar que a opção implica desistência compulsória e definitiva dos programas (REFIS/PAES).

O legislador ainda entendeu por bem perdoar os débitos dos contribuintes com a Fazenda Nacional, inclusive aqueles com exigibilidade suspensa que, em 31.12.2007 completaram cinco anos ou mais desde seu vencimento e cujo valor total consolidado, nessa mesma data, seja igual ou inferior a R$ 10.000,00. Isso porque os custos administrativos das co-branças para débitos de pequeno valor são altos.

Outro ponto tratado na MP 449 foi a institu-ição do Regime Tributário de Transição (RTT), que trata dos ajustes tributários decorrentes dos novos métodos e critérios contábeis es-tabelecidos pela Lei 11.638/2007 e por arti-gos da medida provisória que alteram a Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas).

O RTT será aplicado provisoriamente de forma a buscar a neutralidade tributária até a entrada em vigor de lei que discipline os efeitos fiscais decorrentes dos novos méto-dos contábeis. Os contribuintes podem optar pelo RTT nos anos-calendário 2008 e 2009, mas será obrigatório a partir de 2010, inclu-sive para empresas optantes pelo lucro pre-sumido, CSLL, PIS e COFINS.

A MP trouxe ainda tratamento às subven-ções para investimento, inclusive mediante isenção ou redução de impostos, concedidas como estímulo à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos e às doa-ções. Assim, no caso das subvenções e doa-ções, a partir do reconhecimento dos efeitos da Lei 11.638/2007, a pessoa jurídica deverá reconhecer o valor da doação ou subvenção em conta do resultado pelo regime de com-petência, inclusive com observância das de-terminações da CVM e ainda se submeter a um sistema de exclusões e adições ali detal-hadas.

A MP 449 também vetou a compensação de débitos relativos ao pagamento mensal por estimativa do IRPJ e da CSLL com créditos acumulados, especialmente tratada na alteração do §3º do artigo 74 da Lei nº 9.430/96.

*Mônica Cilene Anas-tácio é advogada de direito tributário do escritório Correia da Silva Advogados

O SPED E OS rEflExOS trIbutárIOS EM 2009

“Com a implantação obrigatória

do SPED contábil em 2009 para as

empresas sujeitas ao Lucro Real,

estas sofrerão o impacto dos re-

flexos tributários de forma maior

do que podem imaginar.”

certamente as empresas que pos-suírem inconsistências quanto aos saldos das contas contábeis ou que apresentarem declara-ções tributárias que por força de raciocínio lógico diver-girem do suposto tributo que seria devido em virtude dos dados transferidos ao SPED contábil, poderão sofrer a

exigência tributária sem que a fiscalização tenha que dirigir-se à em-

presa ou sem que seja solicitado qualquer documento.

Para que seja possível melhor compreensão acerca da dimensão da questão, vale citar como exemplo dos reflexos tributários que Secretaria da Receita Federal do Brasil, re-alizando a verificação dos custos, despesas e receitas especificadas no Plano de Contas Referencial e visualizadas no SPED contábil, certamente conseguirá identificar os valores devidos quanto ao Imposto de Renda, Con-tribuição Sobre o Lucro Líquido (CSLL), Con-tribuições ao Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição ao Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Ou, mesmo que não seja o valor específico, o Fisco conseguirá chegar muito próximo do valor dos tributos devidos.

Assim, caso a empresa apresente suas de-clarações dos tributos devidos (DACON, DIPJ, DCTF etc.) com valores muito distintos dos que seriam devidos, a Receita Federal identi-ficará onde se encontra a inconsistência dos valores. Ou seja, saberá se a empresa excluiu valores do faturamento da base de cálculo, se foram aproveitados créditos em percentual considerado elevado na apuração do PIS e da Cofins não-cumulativos, se foram realizadas adições à menor, ou deduções, exclusões e compensações em valores considerados el-evados na Base de Cálculo do IRPJ e CSLL. Em uma análise mais detalhada, pelo descritivo nos livros Diário e Razão, também será pos-sível identificar custos lançados inadequada-mente, despesas custeadas não pertencentes à empresa e outros pontos que podem gerar exigências tributárias e a aplicação de penali-dades.

Reitere-se que tudo isso ocorre considerando apenas a Escrituração Contábil Digital - ECD.

Quando todas as em-presas estiverem obrigadas não apenas à Escrituração Con-tábil Digital (ECD), mas também à Escritura-ção Fiscal Digital (EFD), emissão de Nota Fiscal

Digital (NF-e), Nota Fiscal de Serviço Eletrôni-ca (NFS-e), Conhecimento de Transporte Eletrônico (CT-e), e utilizando-se do E-LALUR, certamente os reflexos tributários serão em uma dimensão muito maior do que as em-presas imaginam.

Portanto, de forma imediata, como preven-ção, é adequado que as empresas sujeitas à apuração tributária federal pelo Lucro Real se prepararem e realizem um diagnóstico, a fim de identificar quais os possíveis reflexos tribu-tários que podem vir a sofrer, regularizando a contabilidade e as apurações tributárias, ad-equando-se à nova realidade e evitando a ex-igências tributárias e penalidades que podem ser aplicadas pelos órgãos responsáveis pela administração tributária. Da mesma forma, considerando que o SPED como um todo será aos poucos implantado em todas as empre-sas, é recomendável que estas se preparem para evitar no futuro os reflexos tributários e a aplicação de penalidades.

* Rodrigo Corrêa Mathias Duarte é advogado tributarista do escritório Innocenti Advoga-dos Associados

* Rodrigo Corrêa Mathias Duarte

O Serviço Público de Escrituração Digital - SPED, que será o instrumento de controle tributário pelos entes públicos responsáveis pela arrecadação, já é exigido no âmbito contábil de algumas empresas que possuem acompanhamento econômico-tributário diferenciado desde janeiro de 2008, em vir-tude da Instrução Normativa RFB nº. 787, de 19 de novembro de 2007.

A Instrução Normativa também determina que, a partir de janeiro de 2009, todas as em-presas submetidas à apuração dos tributos federais pelo Lucro Real estão obrigadas a adotar a Escrituração Contábil Digital – ECD.

Dessa forma, as empresas obrigadas à ECD deverão transmitir ao SPED os livros: diário, razão, balancetes diários, balanços, diário com escrituração resumida, diário auxiliar e razão auxiliar. O arquivo digital deve ser elab-orado pelas empresas, utilizando-se dos seus próprios recursos, baseado em um layout de um plano de contas referencial, constante do anexo único da mencionada instrução normativa e também deve ser submetido ao Programa Validador e Assinador (PVA), que realiza a validação do conteúdo, assinatura digital, transmissão e possibilita a visualiza-ção e backup da escrituração.

Quanto à implantação do SPED contábil, es-pecula-se muito a questão da necessidade da informática quanto ao sistema que realize a integração dos dados em conformidade com o layout exigido pelo Plano de Contas Referencial.

Porém, a questão não se resume estri-tamente à informáti-ca. Existe um ponto importantíssimo ref-erente ao Plano de Contas Referencial. Este foi criado pela equipe técnica que desen-volveu o SPED contábil, visando uniformizar as informações contábeis das empresas que utilizarem a ECD. Ou seja, as empresas po-dem adotar o Plano de Contas Referencial na sua escrituração contábil ou utilizar seu próprio plano de contas. Mas, para transmitir o ECD, terão que adaptar as informações de suas contas contábeis ao Plano Referencial.

Assim, é possível observar que as informa-ções prestadas ao SPED contábil, utilizando-se o Plano de Contas Referencial, possibili-tarão aos órgãos da administração pública responsáveis pela arrecadação tributária vi-sualizar de forma consolidada as informações contábeis e financeiras da empresa, ou seja, as informações terão um padrão para que a fiscalização tributária possa ser processada por sistema digital.

Dessa maneira, com os dados consolidados de forma a permitir que o Fisco possa veri-ficar a lógica das contrapartidas e realizar o cruzamento de dados como receitas, custos, despesas, estoque e outros pontos relevantes,

NOVAS rEgrAS DIfIcultAM O créDItO trIbutárIO

FATO NOVO

Page 7: Caderno Advogados Ed 24

São Paulo, Março de 2009 - Edição 24 - PÁGINA 7 - www.cadernoadvogados.com.br

*Eduardo Pragmácio Filho mestrando em direito do trabalho pela PUC-SP e sócio do escritório Furtado, Pragmácio Filho & Ad-vogados Associados

TERCEIRO SETOR o impacto da crise financeira no terceiro setor

TRABALHISTA fLeXiBiLiZar a LeGisLaÇÃo traBaLHista?

o diA Em qUE ChávES riU Por últimoANÁLISE

* Fernando rizzolo é Advogado, Pós Graduado em direito Processual, Coordenador da Comissão de direitos e Prer-rogativas da OAB-SP, Articulista Colaborador da Agência Estado, e Editor do Blog do Rizzolo - www.blogdorizzolo.com.br

rubens Naves e maria laura Canineu*

Assombra as organizações do terceiro setor o fantasma da crise financeira, especialmente quando se deparam com as projeções para o ano de 2009. Já é tido como fato que o co-lapso econômico dos bancos, com reflexos no mercado como um todo, afetará o terceiro setor. Pode haver uma retração dos patrocínios, doações e repasses de recursos e, em conse-quência disso, diminuição de receita e revogação de benefí-cios. Nesse cenário, muitas organizações preferem se-gurar o que têm a investir em novas oportunidades.

Embora ainda não esteja claro o impacto da crise na própria economia brasileira, uma vez que vivenciamos nos últimos anos períodos promissores de crescimen-to e desenvolvimento, é possível apontar possíveis repercussões da crise no terceiro setor. O impacto imediato é justamente a crise de financiamento. A diminuição dos incentivos e retração das doações na área social, provenientes de agentes internacionais ou nacionais, é realidade imediata em épocas de crise econômica. As empresas repensam suas políticas de destinação de recursos, o que significa menor finan-ciamento para o “setor voluntário”.

Para analisar a profundidade da crise no terceiro setor é pre-ciso conhecer o perfil das organizações que o compõe em ter-mos de fontes de financiamento. Enquanto em países como a inglaterra, França, Alemanha e outros da Europa ocidental o financiamento das organizações é feito em grande parte com recursos repassados pelo próprio Estado (Salamon, Lester M. 2003. “Global Civil Society), em países como o Brasil esta não é uma afirmação tão clara.

dessa forma, o terceiro setor no “primeiro mundo” parece ficar mais sufocado em razão da crise, uma vez que, para “sal-var” o mercado e, supostamente, a sociedade, o Estado faz aplicações extraordinárias no segundo setor, desviando uma parcela considerável dos recursos que poderiam ser aplica-dos em áreas prioritárias do desenvolvimento social. Aqui,

por outro lado, a retração, se já é concreta, se dá muito me-nos pela diminuição real de recursos, especialmente públi-cos, e mais por uma “virtual” expectativa de diminuição e por uma perspectiva transplantada no consciente coletivo de que deve haver cortes e diminuição de gastos, tanto do setor público como do setor privado.

mesmo diante de uma real ou “virtual” contração de recur-sos do terceiro setor no Brasil, ainda é possível vislumbrar, no

longo prazo, um cenário no qual a demanda pelos serviços oferecidos pelas próprias organizações do terceiro setor é cada vez maior. Isso porque o mercado, afetado diretamente pela desaceleração da economia, se retrai e o terceiro setor passa a ocupar um espaço cada vez maior, utilizando-se in-clusive de recursos desprezados pelo mercado, como os re-cursos humanos, podendo significar maior profissionalização do setor.

De qualquer forma, é real o retorno de um papel mais mar-cante do Estado como regulador da economia, maior pro-tecionismo, sendo que ainda está em aberto se esse “novo Estado” optará por uma participação popular mais ou menos intensa na confecção e realização das políticas públicas. Essa redefinição do papel estratégico do Estado tem logicamente impacto imediato no terceiro setor, especialmente no que

tange à sua regulação, abrindo portas para a própria socie-dade civil organizada apontar caminhos para maior legitimi-dade do Estado e saúde do mercado, encontrando soluções inovadoras para a “ingovernabilidade” e alternativas para o desempenho de funções originalmente estatais.

Diante desse cenário, que podemos classificar como ins-tável, além da necessidade de as organizações do terceiro setor atuarem de forma cada vez mais intensa no advocacy

pelo reconhecimento da sua imprescindibilidade, outra certeza se pode ter: a sobrevivência e a sus-tentabilidade do terceiro setor demandarão maior profissionalismo. A crise de financiamento, real ou “virtual”, pode significar um verdadeiro “filtro” de entidades, sobrando as mais profissionalizadas, in-ovadoras, que detenham uma variedade de finan-ciamento, gerenciamento estratégico, mecanismos claros de transparência, accountability e controle social.

Um cenário como esse incentiva não a formação desenfreada de novas entidades, como nas últi-mas décadas, mas sim a parceria entre as organiza-ções já existentes e a formação de redes (recente

levantamento do IBGE já identificou uma desaceleração do crescimento do setor). A colaboração inerente ao setor pode significar sua própria sobrevivência. Se já não sabem, as or-ganizações terão que aprender a trabalhar em parceria para que o setor que integram não perca sua característica maior como “celeiro” de soluções inovadoras.

Eduardo Pragmácio Filho*

A crise, ao que parece, chegou de vez. Notícias de dispensa em massa de trabalhadores, concessões de férias coletivas, redução da jornada e do salário passaram a ser cotidianas. Falam até de flexibilizar a legislação trabalhista. Esse mo-mento difícil e, sobretudo, sensível, faz surgir uma série de propostas, algumas delas sem sentido e de há muito ultrapas-sadas. Todos, obviamente, ficam preocupados: empregados, empresas e governo.

A Constituição de 1988, que traz a fórmula política do Estado Democrático de Direito, já prevê a flexibilidade dos principais direitos dos trabalhadores através da negociação coletiva (CF, art. 7o, VI e XIII). Isso significa, por exemplo, que salário e jornada podem ser reduzidos, desde que seja acordado com os sindicatos.

Portanto, não há necessidade de flexibilizar a legislação tra-balhista.

o debate deve girar em torno da importância da negociação coletiva e da representatividade dos sindicatos. A reflexão

que deve ser feita envolve o questionamento da ultrapassada organização dos entes sindicais no Brasil, que não adota por inteiro a liberdade sindical pregada pela organização interna-cional do Trabalho (OIT), apesar dos avanços obtidos na Con-stituição de 1988.

Os sindicatos não estão preparados para essa tarefa difícil de negociar no momento de crise, pois não tem verdadeira-mente representatividade, quando recebem contribuições compulsórias, quando não há o pluralismo de sindicatos e quando a lei obriga a se organizarem por categoria.

Os sindicatos não se dão conta de que a solução negociada é mais legítima e eficaz, porquanto criada pelos atores sociais envolvidos, o que provoca um cumprimento espontâneo da-quilo que foi negociado, sendo os acordos e convenções co-letivas mais específicas, pontuais e, sobretudo, mais simples de se criar e modificar.

Recentemente, a Lei 11.648/2008 reconheceu as centrais sindicais e deu a elas 10% da contribuição sindical compulsória arrecadada, fato que apenas consolida o engessamento da estrutura sindical arcaica e que ainda tem profundas marcas

Ainda me lembro quando desembarquei em Caracas em setembro de 2007, a convite

de uma instituição ligada ao governo bolivariano. Fui convidado a partici-par de um seminário da Fedecamaras no Hotel Alba, um antigo hotel Hilton,

que o socialismo bolivariano havia "expropriado". A imponência do hotel permanecia, e tudo ain-da lembrava um hotel

americano na sua essência, porem podia-se observar toques de socialismo quer nos hóspedes, quer no "cuidado estatal" de uma forma geral nas dependências do hotel. Não seria honesto deixar reconhecer, que fiquei surpreso com a diversidade de opiniões sobre Chávez. O sentimento do povo oscilava entre o ódio e o amor, entre a esperança e o medo.Na época ninguém poderia imaginar que o exemplo de capital-ismo, de livre mercado, de liberalismo, do " imperialismo ameri-cano", como afirma Chavez ,fosse ruir e mergulhar em 2008 na crise das " subprimes". Até os mais experientes economistas, ou apegados e teóricos socialistas bolivarianos, traziam longos discursos sobre a natureza selvagem do liberalismo, e em con-traponto apregoavam uma participação maior do Estado como interventor e regulador do mercado, mas o que jamais poderiam imaginar, é que seus discursos, serviriam de matéria -prima para

sanar uma crise que estava por vir na América do capital. Aquela postura " estatizante bolivariana", assustava o mercado venezuelano, os empresários, a elite, e segmentos da classe mé-dia, a ponto do governo na época, restringir a moeda americana e sua circulação, evitando a evasão. Mas como nada é perfeito, e para tudo se dá um jeito, milhares de venezuelanos dos setores mais bem aquinhoados da sociedade, acreditando na propagan-da da mídia dos monopólios privados que martelava contra o “socialismo” de Hugo Chávez, um “comunista que não respeita a propriedade privada”, preferiram confiar seu dinheiro à sucursal em Caracas do banco texano Stanford, pensando que os recur-sos estariam lá mais seguros do que nos bancos venezuelanos. Foi para surpresa dos precavidos, e daqueles que imaginavam salvaguardar seu dinheiro fora do alcance de Chavismo, que neste mês a Comissão de Valores dos EUA (SEC, sigla em in-glês) denunciou o Stanford Financial Group por um esquema gigantesco de fraude que envolve cifras no valor de oito bilhões de dólares envolvendo transferência para o exterior.Infelizmente ficou enfim comprovado, que no afã de fugir do so-cialismo bolivariano, e seus discursos estatizantes, e obter uma boa rentabilidade, os vultuosos depósitos - mais de uma quarta parte dos dólares - grande parte deles ligados à oposição, acaba-ram sendo investidos em certificados de depósitos fraudulentos por parte da norte-americana Stanford, com taxas de juros sus-peitosamente altas.Tal como numa novela mexicana ou confirmando o fato de que

quem ri por último acaba rindo com mais dinheiro, o Banco Stanford faliu e levou consigo dinheiro de contas de venezuela-nos que tentavam evadir do Estado bolivariano mais de 2 bilhões de dólares.Segundo fontes da Reuters, esses venezuelanos investiram mais de 2 bilhões de dólares em suas empresas offshore, o que fez com que a Superintendência de Bancos e Outras Instituições Fi-nanceiras (SUDEBAN), interviesse na instituição com a anuência do Diretório do Banco Central da Venezuela. O governo bolivari-ano acabou tomando medidas para proteger a classe baixa e média dessa tragédia financeira de cunho cautelar.A notícia me remeteu a um breve comentário na época, de um taxista em Caracas quando lhe perguntei o que achava sobre Chavez. Ele virou a cabeça bruscamente, quase batendo-a no retrovisor e disse: " Se pudesse o pouco que tenho enviava aos EUA"; ao carro virar a esquina, vi do alto um grande "out-door" de Chavez, com uma camisa vermelha e um amplo sorriso. Hoje penso comigo indignado com a notícia: "talvez o líder bolivaria-no já previa alguma coisa, com certeza mandinga bolivariana..."

do período ditatorial em que foi idealizada.O que deve ser proposto, nesse delicado momento de crise, é uma verdadeira reflexão sobre uma reforma sindical, para contemplar por inteiro a liberdade sindical, privilegiando a negociação no âmbito das empresas, adotando a boa-fé nas negociações, o que implica o dever de negociar e o dever de informar. Essas tendências já vêm sendo adotadas no velho continente e já deveriam ter mais influências por aqui.

o sindicalismo brasileiro precisa es-quecer as raízes corporativistas e di-tatoriais de sua criação, para entrar numa nova era, em que ele represente legitimamente os interesses envolvi-dos, agindo com extrema boa-fé, sem ter medo algum de negociar.

*Rubens Naves é advogado, sócio-titular do Rubens Naves, Santos Jr. e Hesketh Associados, professor licenciado da PUC-SP, conselheiro e ex-presidente da Fundação Abrinq

*maria laura Canineu é advogada, mestre em direito do de-senvolvimento internacional e direitos humanos pela Uni-versidade de Warwick, Inglaterra, e especialista da área de Terceiro Setor do Rubens Naves, Santos Jr. e Hesketh Asso-ciados

Page 8: Caderno Advogados Ed 24

São Paulo, Março de 2009 - Edição 24 - PÁGINA 8 -www.cadernoadvogados.com.br

Mesa Redonda

Diante de um cenário de

crise econômica global, as

empresas, para se adequar, têm

demitido um grande número de

funcionários, são medidas extremas com

negociações complexas entre empresa,

empregado, sindicato e Estado.

O TRT de São Paulo já emitiu uma primeira

decisão considerando a necessidade de

participação dos Sindicatos nas

demissões coletivas.

O Caderno Advogados abre espaço para

opinião de especialistas no setor para

traçarmos um panorama do

debate atual.

deMissões Coletivas e a PaRtiCiPação dos sindiCatos

“A despedida coletiva não é proibida, mas está sujeita ao procedimento de ne-gociação coletiva. Portanto, a dispensa coletiva deve ser justificada, apoiada em motivos comprovados, de natureza téc-nica e econômicos e, ainda, deve ser bi-lateral, precedida de negociação coletiva com o sindicato, mediante adoção de cri-térios objetivos.

A greve é maneira legítima de resistên-cia às demissões unilaterais em massa, vocacionadas a exigir o direito de informação da causa do ato

demissivo massivo e o direito de negociação coletivo diante das demissões feitas de inopino, sem buscar soluções conjuntas e negociadas com sindicato. A greve, portanto, é legal e não abusiva. A empresa deu causa à greve com a conduta uni-lateral e arbitrária de dispensa em massa e ofensiva aos ditames constitucionais e legais.

A despedida individual é regida pelo Direito Individual do Trabalho, e, assim, comporta a denúncia vazia, ou seja, a empresa não está obrigada a motivar e justifi-car a dispensa, basta dispensar, homologar a rescisão e pagar as verbas rescisórias. Quanto à despedida coletiva é fato coletivo regido por princípios e regras do Direito Coletivo do Trabalho, material e proces-sual. Portanto, deve ser tratada e julgada de acordo com os princípios e regras do Direito Coletivo do Trabalho.”

Juíza Ivani Contini Bramante

“Os juízes do TRT-SP suspenderam por unanimidade em dezembro as demissões de 600 metalúrgicos da Amsted Maxion, (Osasco-SP), que fez as dispensas sem buscar uma

solução com o sindicato dos metalúrgicos daquela cidade. O Tribunal reverteu a decisão da empresa e ordenou

que a sua direção abrisse negociações com o sindi-cato. Diante desse caso, que é semelhante ao da

Embraer, acreditamos que o TRT de Campi-nas vai determinar que os funcionários

dispensados sejam reintegrados.

Em nenhum momento, fomos procura-dos para negociar. Não fomos informados previamente. As empresas poderiam ter optado por outras formas de redução de custos, como banco de horas, férias coletivas, licença remunerada. Tudo menos demissões.

A situação está brava e pode piorar. Se o governo não fizer nada agora, podemos ver as demissões chegando ao dobro do volume de 600 mil verificado no país no fim do ano passado."

Deputado Paulo Pereira da Silva (Paulinho da Força)

“Temos que ter capacidade de diálogo, de se verificar mecanismos mais eficientes que evitem demissão.

A empresa deveria tomar medidas paliati-vas como dar férias coletivas ou licença aos funcionários. Demissão deve ser o último caso. Me sinto confortável, porque não estou sozinho. Percebo que muita gente está preocupada no sentido de que nesse momento de crise não se pode prejudicar o trabalhador brasileiro, que é aquele que faz a economia crescer.”

Ministro do Trabalho e Emprego Carlos Lupi

“Em dezembro, houve que-da da utilização da capaci-

dade instalada, com demissões superando

contratações em 650 mil vagas. O Governo cria

desestímulos, taxando verbas rescisórias e

revendo ajuda dada a alguns segmentos e

outras medidas para mini-mizar os efeitos, ampliando o Seguro-Desemprego. Ora em debate, férias coletivas, licenças remuneradas, folgas decorrentes de banco de horas acumuladas no passado, redução salarial com ou sem redução da jornada e sus-pensão temporária do contrato, instrumentos de Direito Coletivo que geram resistência das centrais sindicais, embora previstos em lei. Greves não se descartam. Crescerá a troca de carteira assinada por terceirizados e coop-erados, atividades legais, mas campo fértil para a fraude. Recentemente, o TRT foi positivo, decidindo que a demissão é típica do Direito Individual, mas se feita em massa, adentra para o Coletivo. Consequentemente, impondo a participação sindical.”

Miguel Calmon – foi Procurador Federal (Contencioso Geral da Procura-doria do INSS) e atualmente é advogado militante na área trabalhista.

“Às entidade sindical de diferentes graus, do sindicato às centrais sindicais - estas so-mente profissionais, cabe a defesa dos in-teresses da categoria que representa. Não cabe ao profissional, ou ao empresário es-colher o sindicato que o represente, já que no Brasil impera a unicidade sindical. Pode parecer que tal fato não interfere no tema em questão, mas não é verdade.

Num momento de crise cabe às entidades sindicais preservar os interesses de seus as-

sociados, ouvindo-os através das as-sembléias coletivas, sem permitir

que suas ideologias impeçam a defesa dos interessados. Os diretos são da categoria, não dos sindicatos. Não se trata em

alguns casos de simplesmente reduzir direitos trabalhista, é impositiva a atuação responsável, e com visão estratégi-

ca de futuro. Deve ficar muito claro de quem é o direito negociado.

O Sindicato representa a categoria, é seu mandatário. Nesse momento de crise impõe-se uma análise muito profunda do sindicalismo brasileiro - como o sindicato vai agir: preservando direitos de seus associados ou buscando defender ideologias e in-teresses próprios?”

Maria Lúcia Ciampa Benhame Puglisi - Advoga-da com pós-graduação latu-sensu em Direito do Trabalho, pela USP. Sócia do escritório Benhame Sociedade de Advogados.

"No governo FHC sequer éramos re-cebidos. No gover-no Lula, conseguimos

construir uma política para o salário mínimo,

a correção da ta-bela do Imposto

de Renda, a le-galização das centrais e discutir o Bolsa Família. Houve ganhos para o movimento sindical.

Mas criticamos quando é preciso criticar. O governo reduziu o IPI para os carros, só que faltou cobrar a contrapartida de garantia de empregos."

Artur Henrique - Presidente da CUT