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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA AS IMPLICAÇÕES DO “ATO DE CUIDAR” CONFORME RELATOS DE CUIDADORES DE PESSOAS COM A DOENÇA DE ALZHEIMER VANESSA EVANGELISTA Itajaí SC, 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

AS IMPLICAÇÕES DO “ATO DE CUIDAR” CONFORME RELATOS

DE CUIDADORES DE PESSOAS COM A DOENÇA DE ALZHEIMER

VANESSA EVANGELISTA

Itajaí SC, 2009

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VANESSA EVANGELISTA

AS IMPLICAÇÕES DO “ATO DE CUIDAR” CONFORME RELATOS

DE CUIDADORES DE PESSOAS COM A DOENÇA DE ALZHEIMER

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do titulo de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí Orientador: Prof. Msc. Kátia Simone Ploner.

Itajaí SC, 2009

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Dedico este trabalho ao meu avô , José Wintter, pela pessoa maravilhosa, a quem eu sempre me orgulhei e que foi meu grande inspirador para a realização deste estudo. Hoje tenho comigo as lembranças e muitas saudades, te amo meu avô! Não posso vê-lo mais posso senti-lo.

3

AGRADECIMENTOS

A minha orientadora Kátia S. Ploner, que com toda sua sabedoria nunca se cansou

de me ensinar e orientar, sempre com muita paciência, carinho e dedicação fez com

que este trabalho se tornasse possível

Agradeço aos Profesores Eduardo José Legal e Juliana Sandri, que gentilmente

aceitaram participar da minha banca examinadora e compartilhar seus

conhecimentos, desde a correção do meu pré-projeto.

Aos meus familiares principalmente a minha mãe Roseli, que com todo seu amor e

incentivo me deu forças para que eu continuase, sempre apoiando nas minhas

decisões.

Ao meu pai que sempre explicitou que os estudos veêm em primeiro lugar, enquanto

esteve ao meu lado acreditou e me incentivou no meu sonho de ser uma Psicóloga.

Você está nos meus pensamentos. Saudades…

As minhas colegas de curso, que sempre tiveram paciência para me ouvir e

compreender.

E principalmente a Deus, por ter colocado estas pessoas em minha vida.

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SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................................... 5 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 6 2 EMBASAMENTO TEÓRICO ................................................................................... 8 2.1 A doença de Alzheimer ......................................................................................... 8 2.2 O cuidador ........................................................................................................... 11 3 ASPECTOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 16 3.1 Amostra / sujeitos / participantes da pesquisa .................................................... 16 3.2 Instrumentos de coleta de dados ........................................................................ 17 3.3 Coleta dos dados ................................................................................................ 17 3.4 Análise dos dados ............................................................................................... 18 3.5 Procedimentos éticos .......................................................................................... 19 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................................... 20 4.1 Motivos que levaram o indivíduo a ser o cuidador principal da pessoa com D.A.20 4.2 As mudanças na vida de um cuidador ................................................................ 22 4.2.1 Mudança na organização familiar: a inversão de papéis .................................. 24 4.3 Sentimentos ........................................................................................................ 25 4.4 Valores, crenças, religiosidade do cuidador ........................................................ 27 4.5 Dificuldades no ato de cuidar .............................................................................. 28 4.6 Dificuldades no ato de cuidar: dependência da pessoa com Alzheimer .............. 30 4.7 Dificuldades no ato de cuidar: falta de apoio para com o cuidador principal ....... 31 4.8 Concepções sobre cuidado e D.A ....................................................................... 33 4.9 As orientações que o cuidador possui sobre o ato de cuidar .............................. 36 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 39 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 42 7 APÊNDICES ......................................................................................................... 46 7.1 Apêndice ............................................................................................................ 47 7.2 Apêndice ............................................................................................................. 48

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AS IMPLICAÇÕES DO “ATO DE CUIDAR” CONFORME RELATOS DE CUIDADORES DE PESSOAS COM A DOENÇA DE ALZHEIMER

Orientadora: Kátia Simone Ploner Defesa: Junho de 2009

Resumo : A Doença de Alzheimer (DA) é responsável por 60% de casos de doenças cognitivas em idosos, ocorrendo com maior frequência nas pessoas com 60 anos ou mais. Com a evolução da doença o paciente com a D.A torna-se muito dependente de outra pessoa. Há uma expectativa generalizada de que os idosos sejam amparados pelas suas famílias, principalmente por seus cônjuges, filhos ou por outros membros da família e, ainda como última hipótese, um cuidador profissional. É comum que a responsabilidade no ato de cuidar de um idoso fique somente para uma pessoa, “eleito” o cuidador principal, o que acaba por alterar toda a sua vida. A partir destes pressupostos buscou-se investigar as implicações no ato de cuidar conforme relatos de cuidadores de pessoas com a Doença de Alzheimer e os motivos que levaram este indivíduo a ser o cuidador principal, as mudanças, na organização familiar, pessoal e profissional, seus sentimentos, valores, crenças e concepções sobre cuidado e D.A e se o cuidador tem algum auxilio no ato de cuidar e onde obteve. O método de pesquisa utilizado foi qualitativo, através de entrevistas individuais semi-estruturada, realizadas com cinco cuidadoras de pessoas com a D.A, com idades entre 31 e 60 anos. Os dados foram analisados através da Análise de Conteúdo (MORAES, 1999). Como resultado, considerou-se que os cuidadores assumem esta responsabilidade por serem as únicas pessoas disponíveis; a organização familiar, pessoal e profissional é modificada em decorrência da atitude de cuidar da pessoa com D.A; quanto aos aspectos emocionais observou-se diversos sentimentos envolvidos com o ato de cuidar, como o amor e a raiva; as crenças apareceram relacionadas ao poder do amor e a doença teve como causa a perda do cônjuge. Constatou-se a falta de informações sobre a D.A e sobre o ato de cuidar e a falta de tempo que estas cuidadoras têm para frequentar grupos de apoio. Em relação ao enfrentamento, a religião surge na importância de ter fé em Deus, para ter forças neste momento difícil que estão passando. Palavras-chave: doença de Alzheimer; idoso; cuidadores. Sub-Área de concentração (CNPq): 7.07.05.01-1 - Relações Interpessoais Membros da Banca

Prof. Eduardo José Legal Professor convidado

Prof.ª Juliana Vieira de Araújo Sandri Professora convidada

Prof.ª Kátia Simone Ploner

Professora Orientadora

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1 INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso de Psicologia tem como tema a

Doença de Alzheimer (D.A) no contexto familiar, que foi escolhido pelo fato de que a

acadêmica já teve um caso desta doença na sua família e tem conhecimento dos

problemas que esta doença acarreta, como a alteração de todo o cotidiano da

família e, principalmente, do cuidador principal. Além disso, justifica-se o estudo

desta temática pelo fato de que a Doença de Alzheimer é a doença cognitiva mais

comum entre os idosos, que segundo Pivetta (2008) corresponde por 60% dos

casos.

A Doença de Alzheimer conhecida internacionalmente pela sigla D.A, é um

distúrbio cerebral degenerativo que afeta a memória, o raciocínio e a comunicação

das pessoas. É caracterizada como uma síndrome clínica de deterioração das

funções corticais superiores, incluindo memória, pensamento, orientação,

compreensão, cálculo, capacidade de aprendizagem, linguagem e julgamento,

afetando desta forma o desempenho social do indivíduo (COHEN, 1995).

Para Cayton, Warner e Grahan (2000), à medida que a doença avança, os

indivíduos necessitam, cada vez mais, de cuidados e de supervisão nas tarefas que

antes realizavam rotineiramente, sendo que a dependência tanto física quanto

mental logo se torna uma realidade, uma vez que as suas capacidades cognitivas se

tornam altamente comprometidas.

A experiência de cuidar de uma pessoa que está perdendo suas capacidades

cognitivas pode trazer sentimentos variados. As dificuldades e limitações de se

cuidar de uma pessoa com a Doença de Alzheimer são inúmeras, sejam elas por

falta de recursos sociais ou pela falta de apoio de seus familiares. Gera-se desta

forma, sentimentos de desamparo, angústias e, muitas vezes, este cuidador

necessita de um suporte social para cuidar de si próprio, para então poder

proporcionar o cuidado que a pessoa com D.A necessita (NÉRI; SOMMERHALDER,

2002).

Para a Doença de Alzheimer não existe cura ainda, contudo, é possível ajudar

as pessoas de inúmeras formas, através de medicamentos que tornem o processo

mais lento ou trabalhando de forma interdisciplinar para que a pessoa conserve por

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mais tempo suas capacidades e consiga passar este período com menos sofrimento

possível. A ajuda está relacionada com apoio às famílias e cuidador, para orientá-los

sobre a própria doença e ajudá-los a compreender suas consequências. Nesse

contexto, o papel da psicologia é de suma importância, pois pode contribuir no

psicodiagnóstico, orientações à família e cuidador. A intervenção junto a familiares é

tão relevante quanto ao atendimento do paciente, pois a família e, principalmente, o

cuidador precisa se reestruturar para realizar o cuidado.

Desta forma, o presente estudo tem como questão problema as implicações

do ato de cuidar de uma pessoa com D.A. e o objetivo geral é investigar essas

implicações em cuidadores de uma pessoa com a Doença de Alzheimer.

Além disso, a presente pesquisa tem como objetivos específicos:

− levantar os motivos que levaram este indivíduo a ser o cuidador principal.

− Identificar as mudanças, na organização familiar, pessoal e profissional.

− Descrever os sentimentos, valores, crenças implicados no ato de cuidar.

− Analisar os conceitos sobre cuidados, cuidador e D.A.

− Verificar se o cuidador tem algum auxílio para prestar estes cuidados e

como obtém este auxílio.

Vale ressaltar o significado da palavra implicações, que segundo o dicionário

Aurélio (1999), “é um estado de uma pessoa implicada em algum processo.

Complicação, enredo”.

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2 EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1 A Doença de Alzheimer

A Doença de Alzheimer recebeu este nome em homenagem ao seu

descobridor, o Dr. Alois Alzheimer, um neurologista alemão (1864-1915), que, em

1906, observou alterações no tecido cerebral de uma mulher que consideravam ter

morrido por uma doença mental rara. Nos dias atuais, sabe-se que estas mudanças

anormais no tecido cerebral são características inerentes da Doença de Alzheimer

(COHEN, 1995; CAYTON; WARNER; GRAHAM, 2000).

Cohen (1995) define a Doença de Alzheimer (D.A) como um distúrbio cerebral

degenerativo que afeta a memória, o raciocínio e a comunicação das pessoas. É

caracterizada como uma síndrome clínica de deterioração das funções corticais

superiores, incluindo memória, pensamento, orientação, compreensão, cálculo,

capacidade de aprendizagem, linguagem e julgamento. Ela ocorre afetando o

pensamento e com severidade suficiente para interferir nas funções sociais e

ocupacionais do indivíduo.

Através dos estudos do Dr. Alzheimer, o interesse e as curiosidades

científicas sobre a D.A se intensificaram. Porém, no período das descobertas do Dr.

Alzheimer até meados dos anos 70, esta doença passou por uma fase de

invisibilidade pública, pois esta nova visão de doença separada do envelhecimento

normal, não se encaixava nos paradigmas dominantes daquela época. Contudo,

com os avanços nos estudos e de novos achados científicos no século XIX que

diferenciavam a velhice normal da demência, duas mudanças principais ocorreram.

No domínio público chegou-se a um consenso de que eram necessárias políticas

para minimizar os problemas do envelhecimento. E no campo científico houve uma

nova compreensão ao separar as doenças da idade avançada do processo normal

do envelhecimento (LEIBING, 1999).

Vários autores como Cayton, Warner e Graham (2000) e Cefalu e Grossberg

(2002), argumentam que a doença de Alzheimer é caracterizada por três estágios

principais:

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- Estágio Inicial: o estágio inicial da doença é frequentemente negligenciado e

incorretamente considerado como “processo normal do envelhecimento”. Como o

desenvolvimento da doença é gradual, fica difícil identificar exatamente o seu início.

Neste estágio, a pessoa pode apresentar dificuldades com linguagem, desorientação

de tempo e espaço, dificuldades para tomar decisões, dificuldades para lembrar

fatos recentes, perda de iniciativa e motivação, sinais de depressão, perda de

interesse nos hobbies e outras atividades.

- Estágio Intermediário: com o progresso da doença, os problemas se tornam

mais evidentes e restritivos. O portador da D.A tem dificuldades com as atividades

do dia-a-dia, além de esquecimento de fatos recentes e nomes das pessoas; maior

dificuldade em administrar a casa ou negócios; necessita de assistência na higiene

pessoal; maior dificuldade na comunicação verbal; apresenta problemas de vagância

(andar sem parar) e alterações de humor e de comportamento como agitação,

agressividade (que pode ser física e/ou verbal), delírios (acredita que está sendo

roubado, que é traído pelo cônjuge, etc.), apatia, depressão, ansiedade, desinibição

(despir-se em público, indiscrições sexuais, linguagem maliciosa, etc).

- Estágio Avançado: a dependência se torna mais severa, os distúrbios de

memória são mais acentuados e o aspecto físico da doença se torna mais aparente.

O portador da D.A pode apresentar dificuldades para alimentar-se de forma

independente, não reconhecer familiares, amigos e objetos conhecidos, dificuldade

em entender o que acontece ao seu redor, dificuldade de locomoção, incontinência

urinária e fecal, precisando de auxílio constante (CAYTON; WARNER; GRAHAM,

2000; CEFALU; GROSSBERG, 2002).

Segundo Pivetta (2008) a Doença de Alzheimer é a principal causa de

demência entre os idosos, correspondendo por 60% dos casos. Demência é uma

síndrome caracterizada por declínio de memória associado a déficit de pelo menos

outra função cognitiva (linguagem, gnosias, praxias ou funções executivas) com

intensidade suficiente para interferir no desempenho social ou profissional do

indivíduo. O diagnóstico de demência exige, necessariamente, a ocorrência de

comprometimento da memória embora essa função possa estar relativamente

preservada nas fases iniciais de algumas formas de demência (CARAMELLI;

BARBOSA, 2002).

A Doença de Alzheimer é uma desordem neurodegenerativa progressiva

manifestada por deterioração da memória associada a declínio neurofuncional,

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distúrbios comportamentais e sintomas psíquicos. A D.A tem uma etiologia

heterogênea com várias possíveis causas, incluindo suscetibilidade genética,

alterações metabólicas, processamento anormal de proteínas, déficits de

neurotransmissores (FUENTES; SLACHEVSKY, 2005).

A memória antiga, contendo fatos ocorridos há muitos anos na vida do

indivíduo com a D.A, tende a ser preservada no princípio, assim como os atos

automáticos (CAOVILLA; CANINEU, 2002).

É difícil a luta contra a doença de Alzheimer, visto que do momento em que

surgem as lesões iniciais no cérebro até o aparecimento dos primeiros sintomas

clínicos da perda de cognição, mais de uma década pode ter transcorrido. O

diagnóstico final da D.A ainda é possível apenas através de uma autópsia do

cérebro para procurar as alterações anatômicas típicas da doença. Clinicamente,

antes da realização da autópsia, é impossível ter 100% de certeza de que um idoso

sofre de Alzheimer (PIVETTA, 2008).

Na doença de Alzheimer há deficiência de um neurotransmissor chamado

acetilcolina. A acetilcolina é uma substancia química que existe naturalmente no

cérebro, onde é continuamente produzida e eliminada. A acetilcolina é um

neurotransmissor, um componente químico que possibilita às células nervosas do

cérebro enviar mensagens umas às outras. No cérebro normal, o volume total de

acetilcolina permanece geralmente constante, já no cérebro de muitos pacientes

com a Doença de Alzheimer é encontrada uma quantidade reduzida desta

substância (CAYTON, WARNER, GRANHAM, 2000)

Segundo Downey (2008) os medicamentos utilizados na terapia atual sobre

D.A agem melhorando os sintomas comportamentais, psíquicos e de perda de

memória causados pelo avanço da demência. A falta de comprovação das causas

que levam ao desenvolvimento da doença de Alzheimer e muitos mecanismos ainda

não elucidados na progressão da doença dificultam o desenvolvimento de um

fármaco que consiga alterar o curso da doença. Uma vez que os inibidores de

colinesterases e a memantina não promovem a cura e somente reduzem as

alterações causadas após o início da doença.

De acordo com o mesmo autor os tratamentos atuais para D.A nos estágios

leves a moderados consistem na inibição das enzimas acetilcolinesterase e

butilcolinesterase responsáveis pelos mecanismos de metabolização da acetilcolina.

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Os inibidores de colinesterases utilizados para o tratamento de DA são rivastigmina,

donepezil e galantamina.

A rivastigmina é um composto do fenilcarbamato que promove inibição dupla

das enzimas acetilcolinesterase e butilcolinesterase, seletivamente relativa no

cérebro sendo esse efeito dose-dependente. Donepezil é um inibidor reversível da

enzima acetilcolinesterase. Galantamina é um inibidor reversível e competitivo da

acetilcolinesterase com pequena atividade inibitória da butilcolinesterase e por um

mecanismo de modulação alostérica, estimula a ação intrínseca da acetilcolina sobre

os receptores nicotínicos. A galantamina se une a uma subunidade do receptor

nicotínico facilitando o transporte de íons e incrementando assim a resposta da

acetilcolina (DOWNEY, 2008).

2.2 O Cuidador

O cuidador, segundo Franca (2004), é a pessoa que prevê as necessidades

físicas e emocionais de um doente ou de um desabilitado. Para o autor, qualquer

pessoa pode se tornar cuidador, gradativamente, com a evolução e piora da doença,

ou repentinamente, com o aparecimento de um diagnóstico grave.

Para Wanderbroocke (2002) designa-se cuidador ou cuidador principal,

aquele indivíduo que está em maior contato com o doente, dando o suporte físico-

emocional nos cuidados que a doença necessita. Este cuidador geralmente é um

parente próximo (cônjuge, filho (a), neto (a), etc) ou um cuidador profissional. A

designação de cuidador parece obedecer a regras relativas a quatro fatores:

parentesco (com frequência maior para os cônjuges, antecedendo sempre a

presença de algum filho); gênero (com predominância para a mulher); proximidade

física (quem vive com a pessoa que requer cuidados); proximidade afetiva (relação

conjugal e entre pais e filhos).

O cuidar envolve relacionamentos interpessoais que tem origem no

sentimento de ajuda e de confiança mútua. Para Schulze (1997) o cuidar pode ser

considerado um processo composto por ações que incluem identificação da

necessidade da pessoa, seleção e implementação da ação e critérios para a

obtenção do resultado.

Para Papaléo Neto (1996) cuidar é o ato de assistir alguém ou prestar-lhe

serviços quando necessita. É uma atividade complexa, com dimensões éticas,

12

psicológicas, sociais, demográficas e que também tem seus aspectos clínicos,

técnicos e comunitários.

Estudos realizados mostraram que estes cuidadores, em sua maioria, são

mulheres que por questões culturais, de gênero e emocionais, são quem se

encarregam deste cuidado (NÉRI; SOMMERHALDER, 2002).

De acordo com Coelho e Diniz (2005) o papel da mulher, na família, é

marcada pelas tradições culturais e pelas imagens femininas transmitidas de

geração a geração. Tradicionalmente as mulheres foram consideradas as principais

responsáveis pela manutenção das relações familiares e por todos os cuidados de

seus membros, sejam eles marido, filhos, pais, sogros, netos e qualquer outro

enfermo ou dependente. As mulheres ingressam, cada vez mais, no mercado de

trabalho, e cuidar de uma pessoa enferma pode aumentar suas atribuições

cotidianas, porém muitas vezes, elas não encontram o suporte familiar necessário

para o desenvolvimento deste papel.

A mulher cuidadora tem de assumir o cuidado mesmo quando trabalha fora. As consequências para ela são a diminuição das atividades de lazer e de oportunidades para a vida social. Caso não assuma, torna-se alvo de pressão social e familiar, da qual surgem conflitos e geralmente ocasionando o sentimento de culpa (NÉRI; SOMMERHALDER, 2002, p. 25).

Segundo Leal (2001) para que uma pessoa esteja apta a cuidar, deve ter

disponibilidade para tanto, como firmeza nas atitudes, abnegação para colocar a

necessidade do outro em primeiro lugar, ter capacidade de tomar medidas

preventivas, adequação e cuidados com higiene, alimentação, vestuário, medicação,

e tratamento. É importante possibilitar ao cuidador a escolha de aceitar ou não essa

responsabilidade de acompanhar diariamente este indivíduo, avaliando se terá

condições de prosseguir com a sua vida e trabalho, apesar de que muitas vezes, por

questões financeiras, o cuidador não ter escolha, e além de cuidar ele tem que dar

conta de outras obrigações cotidianas. A experiência de se tornar um cuidador pode

vir a gerar mudanças radicais na vida de uma pessoa, pois exige de quem cuida a

execução de tarefas complexas, delicadas e com o sofrimento.

O cuidador pode apresentar um alto nível de ansiedade, tanto pelo sentimento

de sobrecarga quanto por constatar que a sua estrutura familiar está sendo afetada

pela modificação dos papéis sociais. Ele é cotidianamente testado em sua

capacidade de discernimento e adaptação à nova realidade, que pode exigir

13

dedicação, responsabilidade, paciência e, mesmo, abnegação. Assume um

compromisso que transcende uma relação de troca. Aceita o desafio de cuidar de

outra pessoa, sem ter qualquer garantia de retribuição, geralmente é invadido por

grande carga emocional, podendo gerar sentimentos ambivalentes em relação ao

idoso, testando seus limites psicológicos e sua postura de enfrentamento perante a

vida (LUZARDO; GORINI; SILVA, 2006).

Segundo Santos (2004) a função de cuidar de um idoso com D.A não é papel

assumido por um curto período de tempo e com perspectivas de melhora, pois a

maioria dos casos o idoso poderá viver até 20 anos em situação de crescente

dependência, precisando de atenção contínua nas 24 horas do dia.

O ato de cuidar de uma pessoa por vários anos é um processo que traz como

consequência o desgaste de saúde, físico e mental que, por conseguinte, causa em

muitos cuidadores um alto grau de estresse e depressão. A sobrecarga ocasionada

pela sobreposição de tarefas, responsabilidades e, em alguns casos, relações

familiares conturbadas tensas devido a pouca ajuda dos seus membros, são outros

fatores que comprometem o bem estar físico, psicológico e emocional de muitos

cuidadores (SANTOS, 2004).

A literatura gerontológica tem caracterizado cuidadores de várias formas,

classificando-os de acordo com o vínculo entre cuidador e paciente, tipos de

cuidados prestados e frequência nos cuidados. Embora sejam diferenciados

didaticamente através de denominações diversas, tais como remunerado, voluntário,

leigo, profissional, familiar, primário e secundário, é importante ressaltar que na

prática essas categorias não são excludentes e, em alguns casos, se

complementam (LEMOS; GAZZOLA; RAMOS, 2006).

Muitos autores dão ênfase à distinção entre cuidador primário e secundário,

considerando a frequência dos cuidados e o grau de envolvimento, como Mendes

(1998) que afirma que o cuidador principal ou primário é aquele que tem total ou

maior responsabilidade pelos cuidados prestados ao idoso dependente e o cuidador

secundário seriam os familiares, voluntários e profissionais que prestam atividades

complementares às do cuidador primário.

Para Santos (2004), há um crescimento da parcela da população

caracterizada como cuidadores de pessoas com a D.A, envolvidos em situação de

dependência. A autora destaca a necessidade de se pensar em modalidades de

suporte social que possam contribuir para um melhor enfrentamento das dificuldades

14

e que possibilitem o desenvolvimento de melhor qualidade de vida para todos.

“Se o cuidador tiver informações sobre a doença para então se organizar em

seu dia-a-dia, o sofrimento passa a não ser tão intenso, proporcionando assim a

qualidade de vida de ambos” (NÉRI; SOMMERHALDER, 2002, p.21).

O apoio social e familiar é fundamental para que estes cuidadores e os

familiares se mostram fortes e gratificados perante as consequências da doença. O

apoio social pode ser definido como o conforto, a assistência e/ou informação que

alguém recebe de contatos sociais formais e informais (FRANCA, 2004).

As redes de apoio informal são caracterizadas pelo cuidado de pessoas da

mesma geração, como o cônjuge, amigos, entre outros, ou pelo cuidado dos

próprios filhos. As redes de apoio formais, como hospitais, consultórios médicos,

casas de repouso, asilos, etc.

Quanto mais diversificadas, organizadas, eficientes e bem distribuídas forem

às redes de apoio, mais garantidas serão a qualidade de vida para o idoso e para o

cuidador (NÉRI; SOMMERHALDER, 2002).

O apoio social está diretamente associado por sistemas e/ou pessoas

significativas disponíveis que proporcionam apoio e reforço às estratégias de

enfrentamento do indivíduo diante das situações de vida. O apoio social pode ser

dividido em apoio disponível, percebido ou recebido, podendo ser classificado

também como emocional (expressões de conforto e cuidado), informacional

(informações e orientações) ou instrumental (provisão de recursos, serviços e

solução de problemas) (BRITO; KOLLER, 1999 apud PICCININI et al., 2002). Estes

apoios sociais são importantes para o asseguramento de uma qualidade de vida que

possa gerar benefícios para os familiares e cuidadores, como a ABRAz (Associação

Brasileira de Alzheimer) que tem como missão “divulgar a doença e lutar por uma

melhor qualidade de vida para o idoso e de seus familiares” .

O cuidador sem suporte é o futuro paciente, pois a pessoa torna-se cuidadora

no processo de cuidar, iniciando com uma ajuda e não consegue mais sair desse

papel. Quanto mais o cuidador se envolve, mais os não cuidadores se desvencilham,

muitas vezes pelas ameaças que este tipo de trabalho pode conter, resultando num

comprometimento sem fim, mudança na vida pessoal, readaptação da casa ou

mesmo mudança de casa, desarmonia familiar como consequência do papel de

cuidador, peso das tarefas, adoecimento devido às exigências do trabalho e às

15

características do paciente que podem estressar o cuidador, insegurança quanto a

procedimentos e prescrições da equipe, responsabilidade por

equipamentos/medicamentos, falta de paciência/segurança nos procedimentos de

enfermagens, ausência de informações sobre a doença, de ajuda prática, de

treinamento, de apoio físico, psicológico e financeiro e, finalmente, não gozar de

saúde pessoal para enfrentar a rotina exigida (LEAL, 2001).

Para os autores Herzberg (2003) e Leal (2001), os familiares ficam tão

envolvidos com as necessidades da pessoa doente, que acabam esquecendo as

necessidades pessoais de quem se predispõe a cuidar. Portanto, o cuidador

necessita eventualmente sair da rotina, visando suprir estas necessidades pessoais

para poder oferecer melhores serviços a pessoa vítima de DA.

16

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

O presente estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa descritiva e

exploratória, de cunho qualitativo, realizada com os cuidadores de pessoas com a

Doença de Alzheimer. Para Martins e Bicudo (2005, p. 23), a pesquisa qualitativa

“(...) busca uma compreensão particular daquilo que estuda. A generalização é

abandonada e o foco da sua atenção é centralizado no específico, no peculiar, no

individual, almejando sempre a compreensão e não a explicação dos fenômenos

estudados”.

3.1 Amostra/ Sujeitos/ Participantes da pesquisa

Para que o tema investigado seja analisado em sua complexidade e

particularidades, os entrevistados foram selecionados obedecendo os princípios de

inclusão, conforme os critérios prescritos por Kude (1997), a saber:

− O entrevistado deve ser o cuidador principal da pessoa com a Doença de

Alzheimer.

− O paciente deve ter o diagnóstico de Alzheimer há mais de seis meses, pois

a pesquisa tem como um dos objetivos identificar as mudanças na vida do

cuidador.

− Cuidador e paciente não devem participar de grupos de apoio.

Desta forma, participaram da presente pesquisa cinco cuidadoras de

pacientes com Alzheimer, com idades entre 31 e 60 anos, todas do sexo feminino.

Quanto ao grau de parentesco, observou-se que três entrevistadas são filhas

do(a) paciente, uma é nora e uma é cuidadora profissional. Para fazer parte da

pesquisa, os participantes assentiram seu envolvimento através do esclarecimento

das condições e mediante assinatura de um Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (apêndice 2).

O quadro 1 apresenta a descrição dos participantes da pesquisa, com dados

referentes ao sexo, idade, relação com o portador da D.A, profissão e município. A

escolha por nome de deusas gregas partiu da pesquisadora, levando em

consideração o sigilo, anonimato e respeito para com os participantes.

17

Quadro 1: Identificação dos participantes da pesquisa.

Cuidador Sexo Idade (Anos)

Estado Civil Filhos Parentesco Profissão

Tempo que é

cuidadora Município

Afrodite Feminino 31 Solteira - Nenhum Cuidadora Profissional

3 anos Balneário Camboriú

Ártemis Feminino 45 Casada 02 Nora Dona de

Casa 7 anos

Itajaí

Atenas Feminino 59 Casada 03 Filha Psicóloga 9 anos Joinville

Hebe Feminino 50 Viúva - Filha Professora

(aposentada) 9 anos

Itajaí

Hera Feminino 60 Casada 02 Filha Diretora de

Escola (aposentada)

12 anos Itajaí

Fonte: entrevistas realizadas com cuidadores da região de Itajaí e Joinville (ago/set, 2008).

3.2 Instrumento de coleta de dados

Nas pesquisas qualitativas, a entrevista mostra-se como uma ferramenta útil

no trabalho de compreensão da realidade dos sujeitos pesquisados. Para este

estudo utilizou-se a entrevista semi-estruturada dirigida ao cuidador da pessoa com

D.A (apêndice 1), pois segundo Laville e Dionne (1999) esta modalidade de

instrumento apresenta uma série de perguntas abertas que são feitas oralmente em

uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de

esclarecimento. Esta técnica permite ao entrevistador aprofundar temas mais

relevantes e levantar novas ideias.

Segundo Triviños (1987), a entrevista semi-estruturada é um método que

considera a participação do sujeito como um dos elementos do seu fazer científico.

Ao mesmo tempo valoriza a presença do investigador e oferece toda liberdade e

espontaneidade necessária ao informante a respeito de seu pensamento e

experiência dentro do foco colocado pelo investigador, enriquecendo a pesquisa.

Este roteiro de entrevista foi submetido a um pré-teste (entrevista piloto) com um

cuidador principal, conhecido da acadêmica para saber da pertinência e se estava

adequado para alcançar os objetivos propostos. Essa entrevista piloto não foi

utilizada para análise dos dados.

3.3 Coleta dos Dados

O projeto para realização desta pesquisa foi submetido ao comitê de ética e

18

aprovado em maio de 2008, sob número 0089.0.223.000-08.

Os entrevistados que fazem parte desta pesquisa foram indicados por

familiares, amigos e colegas universitários e após passarem pelos critérios de

seleção, todos foram contatados com a finalidade de informar sobre os objetivos da

pesquisa e agendar o horário e local para a entrevista, que acabaram ocorrendo nas

cidade de Itajaí, Balneário Camboriú e Joinville, conforme a disponibilidade das

entrevistadas

Após as devidas apresentações pessoais, foi novamente explicado os

objetivos e procedimentos da pesquisa e, não havendo dúvidas, a pesquisadora

apresentou o termo de consentimento livre e esclarecido (apêndice 2). As entrevistas

tiveram duração aproximada de 30 à 50 minutos, todas realizadas na própria

residência de cada cuidador.

Todas as entrevistas foram gravadas em fitas de áudio e, posteriormente,

transcritas, a fim de preservar a fidedignidade das respostas para posterior análise.

3.4 Análise dos Dados

Os dados obtidos na presente pesquisa foram analisados através do método

de análise de conteúdo que, segundo Moraes (1999), é utilizada para descrever e

interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. É também definida

como uma interpretação pessoal por parte do pesquisador com relação à percepção

que tem dos dados, pois não é possível uma leitura neutra, o pesquisador

naturalmente se posiciona a respeito do que lê (MORAES, 1999).

Moraes (1999) sugere que a realização da análise dos dados é constituída de

cinco etapas, sendo elas:

− Preparação: Identificar as diferentes amostras de informação a serem

analisadas e iniciar o processo de codificação dos materiais;

− Unitarização: Reler todos os materiais e identificar neles as unidades de

análise;

− Categorização: É um procedimento de agrupar dados, considerando a

parte comum entre eles, de forma a sintetizá-los.

− Descrição: É o momento de expressar os significados captados e intuídos

nas mensagens analisadas e é produzido um texto-síntese repleto de

citações originais das entrevistas;

19

− Interpretação: Toda leitura de um texto constitui-se uma interpretação.

Neste caso, o pesquisador o faz não só sobre conteúdos manifestos, mas

também latentes, sejam eles ocultados consciente ou inconscientemente

pelos autores.

3.5 Procedimentos éticos

A presente pesquisa foi realizada dentro das normas do Conselho de Ética

em Pesquisa, consciente de que tais procedimentos são imprescindíveis para o seu

sucesso.

Esta pesquisa foi baseada nas normas da Resolução 196/96 do Conselho

Nacional de Saúde (www.univali.br), que correspondem às exigências referentes à

ética nas pesquisas com seres humanos, respeitando os seguintes itens:

− Assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;

− Acesso livre dos participantes às informações que foram coletadas, assim

como aos resultados obtidos;

− Respeito em relação à recusa do participante para ser entrevistado;

− Manter o sigilo sobre os fatos revelados dos sujeitos entrevistados;

− Garantia de não ocorrência de danos ou prejuízos pela participação na

pesquisa,

− Esclarecer aos participantes sobre os procedimentos e métodos utilizados;

− Procurar não induzir aos participantes às respostas e dar o tempo

necessário para que pense nela sem ser pressionado;

− Estabelecer uma relação profissional pesquisadora/entrevistados.

− Devolutiva aos participantes que manifestaram interesse após a entrevista,

por e-mail ou CD do trabalho concluído.

20

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Após a realização das entrevistas e a análise dos dados coletados, foi

construído um sistema de categorias que possibilitou o seu melhor entendimento.

Estas categorias foi o resultado dos fatores em comum surgidos nos relatos e

englobam os seus pontos principais, sendo justificadas através de bases teóricas do

respectivo assunto.

As falas das entrevistadas estarão destacadas em itálico e negrito, com a

finalidade de uma apresentação, análise e compreensão mais clara e objetiva.

A seguir todas as categorias e subcategorias serão discutidas com o

referencial teórico pesquisado.

4.1. Motivos que levaram o indivíduo a ser o cuida dor principal da pessoa com

D.A.

Como já apresentado na metodologia, todas as entrevistadas são do sexo

feminino, três entrevistadas são filhas do(a) paciente, uma é nora e uma é cuidadora

profissional. Este resultado da pesquisa vem de encontro com a literatura

pesquisada, pois estudos realizados mostraram que estes cuidadores, em sua

maioria, são mulheres que por questões culturais, de gênero e emocionais, são

quem se encarregam deste cuidado, podendo ser a esposa, filha, irmã, neta ou

cuidadoras profissionais (COELHO; DINIZ, 2005).

Segundo Menezes (1994) geralmente a função de cuidador é assumida por

uma única pessoa, denominada cuidador principal, seja por instinto, vontade,

disponibilidade ou capacidade. Este assume tarefas de cuidado atendendo às

necessidades do idoso e responsabilizando-se por elas.

Como a própria palavra sugere, cuida-dor é também aquele que cuida da dor,

conforme enfatiza Franca (2004), que além de cuidar do paciente acometido por

uma doença, torna-se alvo de todos aqueles que o cercam, inclusive a própria

família. Fica também a encargo do cuidador suportar as exigências que lhe são

impostas pelo meio familiar, pela doença e por si mesmo.

21

As participantes da presente pesquisa se apresentam como cuidadoras, por

serem as únicas pessoas, disponíveis para cuidar da pessoa que está com a

Doença de Alzheimer, como no relato de Atenas (59 anos) “(...) a minha irmã mais

velha que cuidava da minha mãe faleceu e os outros irmãos disseram que não

cuidariam, eu não tive outra opção, passei a ser a cuidadora”.

Artêmis (45 anos) relata “foi uma conversa em família, como eu não

trabalhava fora, e os outros filhos não podiam, não tinha outra opção além de

mim”. Artêmis (45 anos) é nora da pessoa que cuida e como não trabalhava fora e

morava em uma casa de aluguel com o marido e os dois filhos, resolveu aceitar ser

cuidadora do pai do marido e assim se mudou para a casa do sogro.

Hera (60 anos) e Hebe (50 anos), respectivamente, com relação à mãe com a

Doença de Alzheimer expõem: “não foi escolha minha cuidar da minha mãe, foi

imposto esta função a mim” e “(...) como fiquei viúva e não tinha filhos voltei

a morar com meus pais, depois que meu pai morreu, c omo eu morava com a

minha mãe, eu passei a ser cuidadora, não foi por e scolha minha não tinha

outra opção”

Assumir o fato de ser o responsável pelo cuidado não é uma opção, porque

em geral, o cuidador não toma a decisão de cuidar, mas esta se define na

indisponibilidade de outros possíveis cuidadores para cuidar e, quanto mais o

cuidador se envolve, mais os não cuidadores se desvencilham do cuidado, uma vez

assumido, o cuidado dificilmente é transferível (KARSCH, 1998).

Por imposição ou escolha, o cuidador é aquele que põe a necessidade do outro em primeiro lugar. Geralmente é tão pressionado por necessidades imediatas, que se esquece de si mesmo e é modesto em suas demandas. Dir-se-ia que “não tem escolha”. É relutante em falar sobre suas dificuldades e não quer parecer desleal á pessoa da qual cuida (LEAL, 2000 s/p)

Ao comentar como se tornou cuidadora, Afrodite (31 anos) que é cuidadora

profissional, comenta: “(...) sou do Paraná, há três anos vim visitar minha mãe

que mora em Santa Catarina e conheci M. (filha da pessoa com D.A), ela me

disse que precisava de alguém para cuidar da mãe de la, pois nenhum filho

podia cuidar, e como eu precisava de emprego, passe i a ser cuidadora”.

Afrodite (31 anos) salientou que sua intenção não era ficar por muito tempo sendo

cuidadora, porém começou a se apegar e ter um afeto muito grande pela pessoa

que cuida.

22

O cuidar se apresenta como uma manifestação de afeto, pois como diria o poeta, “quem ama, cuida”, e a concepção popular de amar remete a essa forma de compromisso com o outro. Na língua portuguesa cuidar denota “aplicar a atenção; o pensamento; ter cuidado com os outros e consigo mesmo; tratar de assistir”, dentre outros sinônimos (FERREIRA, 1999, p.589).

A D.A invade o cotidiano do doente e da família e muito mais intensamente,

daquele que é “eleito” cuida-dor. Eleição esta que, na grande maioria das vezes, é

feita de maneira inconsciente (FRANCA, 2004). Segundo a mesma autora o grupo

familiar coloca um membro que se deixa colocar, no lugar de cuidar-dor, às vezes as

circunstâncias habitacionais, econômicas, ou a personalidade da pessoa,

contribuem para esta escolha.

Percebeu-se a escolha por circunstâncias econômicas no depoimento de

Atenas (59 anos) “como minha condição financeira é um pouco melhor qu e dos

meus irmãos, e todos dizem que eu tenho muita paciê ncia, eu fui eleita a

cuidadora da minha mãe”. A paciência foi ainda citada por, Artêmis (45 anos) “(...)

precisava alguém com muita paciência e que tivesse saúde suficiente para

correr o dia todo” .

Conforme Ungerson (1987), Lewis e Meredith (1988) apud Mendes (1995) a

aceitação de ser cuidador se dá, geralmente, num processo que pode ser explicado

como uma forma de “impulso” inicial e ou de slipping into it (escorregar para dentro),

ou seja, em princípio, a pessoa, num ato espontâneo e impulsivo assume o cuidar

ou, sem perceber, vai assumindo pequenos cuidados e quando percebe já é o

cuidador principal, estando totalmente comprometido.

Neste processo essas cuidadoras passam por diferentes mudanças em suas

vidas, abordadas a seguir.

4.2 As Mudanças na vida de um cuidador

As entrevistadas foram solicitadas a dar seu depoimento sobre a sua rotina de

antes e depois que passaram a ser cuidadoras, salientando as mudanças que

ocorreram na sua vida familiar, profissional e pessoal decorrentes de serem

cuidadoras. Verificou-se que todas tiveram mudanças, tanto nas suas vidas

pessoais, profissionais e na organização familiar.

23

Na fala de Atenas (59 anos) pode-se perceber as mudanças profissionais e

familiares proporcionadas pelo ato de cuidar quando expõe: “mudou todo meu lado

profissional, na organização familiar, no lado pess oal, com certeza, e isto é

muito claro, por exemplo: encontros com os amigos e u e meu marido

passamos a diminuir e atualmente não temos, mas con tato algum”, e

acrescenta “eu era profissional de muitíssimas horas de trabal ho, trabalhava

inclusive aos sábados e às vezes aos domingos”. Para esta cuidadora, sua vida

agora é organizada em função da vida de sua mãe e isto pode ser percebido quando

Atenas (59 anos) tece o comentário “o foco da minha vida era minha profissão, e

a partir da chegada da minha mãe mudou tudo, agora minha mãe é o centro da

minha vida, adaptei todos os meus horários em funçã o de cuidar dela”.

Esta cuidadora é Psicóloga, tem uma clínica, ministrava palestras e

congressos por todo o Brasil, mais depois que passou a ser cuidadora da sua mãe,

abdicou de dar suas palestras e congressos e passou a diminuir o número de

clientes adaptando seus horários em função de sua mãe, quando precisa ir para sua

clínica é a sua empregada doméstica que cuida de sua mãe.

A falta de tempo e a diminuição da vida social são fatores que afetam a vida

particular dos cuidadores porque eles deixam de cuidar de si para cuidar do idoso,

diminuindo a frequência ou mesmo anulando atividades que lhe proporcionavam

prazer (NÉRI; SOMMERHALDER, 2002).

As mudanças na organização familiar, profissional, pessoal decorrentes de

ser cuidador também podem ser evidenciadas nas falas de Hera (60 anos) e Hebe

(50 anos) que tem suas mães com a Doença de Alzheimer.

Hera (60 anos) revela que a sua vida mudou completamente em todos os

âmbitos: “eu era diretora de um colégio e me aposentei para cuidar da minha

mãe, se não estaria trabalhando até hoje”. Apesar de seu trabalho lhe propiciar

satisfação e distração a cuidadora decide se aposentar para se dedicar

exclusivamente a sua mãe: “eu ia prestar um concurso para a prefeitura, mas

não deu (...), todos os planos da minha vida eu abd iquei para cuidar da minha

mãe”. Através deste discurso, ficou evidenciada a mudança na vida de Hera (60

anos) que se aposentou para se dedicar integralmente a sua mãe.

Segundo Campos (1995) a doença muitas vezes impede o doente e o

cuidador de trabalhar, ou se divertir, ou também os tira do convívio social.

Situação semelhante foi relatada por Hebe (50 anos), que relatou: “eu tive

24

que escolher entre trabalhar e cuidar da minha mãe optei em cuidar da minha

mãe”, a cuidadora salienta “agora só cuido dela, não faço, mas nada além disso ,

deixei a minha vida de lado, não tenho vida social, e nem sei se conseguiria

ter, estou sempre exausta, cansada tanto fisicament e como

psicologicamente”.

É muito difícil aos cuidadores que sofrem o impacto emocional de terem de

cuidar de uma pessoa com Alzheimer, manterem uma vida social fora das suas

responsabilidades. Não só por muitas vezes se sentirem fisicamente esgotados mais

provavelmente por estarem abalados emocionalmente para considerarem a hipótese

de estar com outras pessoas ou continuarem a ter os seus hobbies (LUZARDO;

GORINI; SILVA, 2006).

Neste sentido as cuidadoras Artêmis (45 anos) e Afrodite (31 anos) relatam

que o ato de cuidar mudou radicalmente suas vidas, Artêmis (45 anos) relata que:

“depois que passei a ser cuidadora, passei a não te r mais vida própria”.

Afrodite (31 anos) dá um depoimento semelhante dizendo: “minha vida está

parada, não é mais como antes”.

Para Franca (2004), a doença de Alzheimer altera a rotina familiar do

cuidador, modifica o espaço físico e temporal e tonteia fortemente o psiquismo.

Ser cuidador por um período muito extenso pode acarretar a pessoa uma

sobrecarga de responsabilidades que poucas pessoas estão preparadas para

assumir, o que pode comprometer a qualidade de vida tanto do cuidador como do

doente. Essa sobrecarga também pode ser emocional, na inversão de papéis dentro

da família.

4.2.1 Mudança na organização familiar: a inversão d e papéis

Das três entrevistadas que são filhas do(a) paciente, duas ressaltaram sobre

a inversão de papéis entre mães e filhos, tão comuns no ato de cuidar, onde

relatam que se sentem como se fossem as mães e as suas mães, neste momento,

seriam suas filhas.

Nessa relação de cuidados, a intensidade do zelo parece definir o caráter e

a função social de cada integrante. A inversão de papéis é observada no discurso

de Hebe (50 anos) quando comenta: “(...) antes da Doença de Alzheimer eu era

filha depois da Doença de Alzheimer eu passei a ser mãe da minha mãe,

25

inverteram-se os papéis”.

Tal atitude, comum a alguns filhos em relação aos pais idosos, acaba

convertendo-os em “menores dependentes”, reduzindo suas perspectivas de

desenvolvimento em razão do desvelo excessivo, no limite da superproteção

(NÉRI; SOMMERHALDER, 2002).

Hebe (50 anos) ainda salienta: “antes do Alzheimer da minha mãe eu era

dependente dela, no sentido de proteção, cuidados, atualmente com a doença

bem agravada ela é que é totalmente dependente de m im”

Em relação ao cotidiano dos cuidadores, Caldas (2001) referencia Witmer

(1990) que afirma que à medida que a pessoa vai demenciando, há uma mudança

de papéis nos membros da família. Se o doente é um dos pais, os filhos adultos

assumem o papel de decidir e tomar as responsabilidades dos pais.

A cuidadora Atenas (59 anos) relata que saiu de casa cedo, indo estudar em

outra cidade. Sentia uma “carência” da mãe que agora está sendo suprida por

cuidar dela, porém salienta que a situação é diferente “mudou a relação, porque

eu é que sou a cuidadora, se inverteu os papéis, el a é que é minha filha”.

Na próxima categoria serão apontados através dos depoimentos das

cuidadores os sentimentos envolvidos no ato de cuidar de uma pessoa com

Alzheimer.

4.3 Sentimentos envolvidos no ato de cuidar

Diversos sentimentos foram apontados nos relatos de todas as entrevistadas

como, por exemplo a tristeza de ver a pessoa naquele estado na qual se encontra

totalmente diferente da pessoa que era antes da doença, o pesar, a não aceitação

da doença, a saudade, o remorso, o arrependimento, a culpa, a raiva, a pena, o

medo, a revolta, a ansiedade, o sofrimento, a insegurança, o desespero e a

sensação de colocar-se no lugar do outro. Por outro lado, também frisaram

sentimentos bons que surgiram, como amor, carinho, gratidão, respeito, ternura, fé e

preocupação.

Segundo Mendes (1995), ao cuidar de um ente próximo que se torna

dependente, há uma turbulência de sentimentos: amor, pena, alívio, culpa e, até

mesmo, revolta pela dependência do outro e essa dependência pode interferir no

cotidiano do cuidador fazendo com que o mesmo deixe de realizar projetos.

26

Neste aspecto, Artêmis (45 anos) afirmou: “às vezes eu tenho pena, as

vezes carinho já chegou momentos de eu ter muita ra iva e ficar com muita

revolta, desespero mesmo, porque ele fica muito tei moso” . Esta cuidadora ainda

afirma que: “(...) dá a impressão que ele está fazendo de propó sito e na verdade

não é depois a gente cai em si, então eu me sinto c ulpada, porque ele não está

fazendo de propósito é da doença, ele faz sem saber o que está fazendo”.

A culpa é uma expressão utilizada geralmente para descrever uma variedade

de sentimentos ou emoções, que podem incluir o lamentar-se. O cuidador de pessoa

com D.A muitas vezes se sente culpado por ter sido ríspido com o doente, mesmo

muito depois de a pessoa com a doença ter esquecido o fato. É muito natural perder,

por vezes, a paciência (LEAL, 2001).

A cuidadora Hebe (50 anos) relata que nunca, nem na pior fase da Doença de

Alzheimer teve algum sentimento negativo, como pena, raiva, revolta, desespero em

relação à doença de sua mãe, pelo contrário “nunca tive sentimentos ruins, tipo

raiva, pena, só sentimentos bons como muito amor, m uito carinho, muita

gratidão, porque ela é meiga, carinhosa, eu abraço, beijo ela constantemente, e

o fundamental nunca perdi a esperança da recuperaçã o da minha mãe, e

sempre passei energias positivas para ela”.

Na fala de duas cuidadoras foi relatado que já pensaram em contratar uma

cuidadora profissional para auxiliá-las no ato de cuidar, porém não foram adiante

com a idéia pelo fato de acreditarem que uma cuidadora profissional não tem

paciência, por não ser familiar. Também referem temer não ter sentimentos bons

envolvidos, pela hipótese das cuidadoras profissionais estariam pensando somente

no dinheiro.

Estes depoimentos são totalmente contrários ao depoimento de Afrodite (31

anos) que é uma cuidadora profissional, e relata gostar da paciente que cuida como

se fosse sua avó: “(...) nem sei explicar o que sinto pela vó, pois a vó se tornou

essencial na minha vida, a considero como uma pesso a da minha família, mais

especificamente como minha vó” e ainda afirma: “me apeguei demais com ela,

tenho muito amor, muito carinho, igual tenho por um ente querido” . Esta

cuidadora, ainda relatou que não tinha a intenção de ser cuidadora por muito tempo,

mas que agora, porém, criou um laço muito forte com a pessoa que cuida, e relata

que não tem coragem de ir embora, “só irei embora, o dia que a vó já não mais

estiver entre nós, e o que me restará será muita sa udade, pois através do ato

27

de cuidar aprendi a amar a vó”.

Para Franca (2004) não existem fórmulas para lidar com os vários

sentimentos que vão surgindo, contudo, reconhecer o que sente e tentar

compreender as razões por que sente poderá ajudar muito os cuidadores.

Portanto, pode-se verificar através dos depoimentos que cada pessoa vive e

reage as situações de forma diferente, sendo que os seus sentimentos são únicos

para si.

Serão abordados a seguir, os valores, crenças e a religiosidade do cuidador

em relação ao ato de cuidar.

4.4 Valores, crenças, religiosidade do cuidador em relação ao ato de cuidar

Diante dos desafios a serem enfrentados no ato de cuidador de uma pessoa

com a D.A, cada sistema familiar cria suas próprias demandas e maneiras de cuidar

e os seus recursos emocionais resultam de um complexo entrecruzamento de

fatores, tais como crenças e valores (COELHO; DINIZ, 2005; FALCÃO, 2006).

O sistema de crenças tem a função adaptativa, ajudam os indivíduos a

definir e a compreender o mundo e a si mesmos, a formar atitudes e a se

posicionarem diante das situações vividas no dia-a-dia (NERI; YASSUDA, 2005,

apud ROKEACH, 1981). As crenças e valores que surgiram foram o poder do amor

e a doença ter como causa a perda do cônjuge.

Atenas (59 anos) expõe que: “o cuidado, o amor, o carinho que a gente

deu para minha mãe, fez com que esta doença progred isse tão lentamente,

pois pela literatura, pelas estatísticas é uma doen ça muito rápida e as fases

desta doença para a minha mãe não foi assim” . Para esta cuidadora, o fato da

doença de sua mãe não ter progredido rapidamente deve-se por sua mãe receber

muito amor, muito carinho, muita atenção.

Outras duas entrevistadas relatam que o motivo da Doença de Alzheimer ter

surgido nas mulheres, é uma fuga para superar a perda de seus cônjuges. Hebe

(50 anos) afirma que: “a Doença de Alzheimer apareceu na minha mãe depois

que o meu pai faleceu, eu acredito que foi uma fuja que ela arranjou para não

sofrer, a perda do seu grande amor”.

Segundo Resende (2001) apud Neri; Yassuda (2005) crenças e atitudes

incluem categorias como hipóteses, decisões, inferências, valores, intenções,

28

ideologias, normas, e são afetadas pelas experiências vividas, pensadas ou

resultantes do contato com outras pessoas ou produto desse contato. Para as

autoras, a crença leva a pessoa a comportar-se de certa forma, baseada no que

acredita.

A religiosidade surge na importância de ter fé. Neste sentido, duas

cuidadoras buscam em Deus e na sua fé coragem para enfrentar esta situação tão

difícil. Hera (60 anos) relata que: “o fundamental para ser cuidadora é ter uma

aceitação daquilo que estas fazendo, eu tenho muit a fé, tenho muito Deus na

minha vida, sou uma pessoa muito religiosa”. Em concordância com o

depoimento de Hera (60 anos), Atenas (59 anos) comenta: “já tinha muita fé em

Deus, e depois da doença na minha mãe me apeguei ai nda mais em Deus e na

minha religião, só assim para ter a aceitação de to da esta situação”.

Para Neri; Yassuda (2005) , a religião e as crenças religiosas, auxiliam as

pessoas no enfrentamento de doenças graves.

Segundo Mendes (1995), fatores psico-sociais interferem na forma dos

sentimentos dos cuidadores serem objetivados no cotidiano do cuidador e do idoso

sendo comum a busca de valores religiosos, como suporte para aceitação deste

cotidiano e dos sentimentos que afloram.

A religiosidade atua como um mediador na percepção de ônus e benefício

do papel de cuidar, uma vez que a fé e os preceitos religiosos favorecem a

capacidade de superar os sentimentos negativos (Sommerhalder; Neri, 2002). É

neste cotidiano que as entrevistadas identificam as dificuldades no ato de cuidar.

4.5 Dificuldades no ato de cuidar

Pode-se verificar pelos relatos que as cuidadoras têm diferentes dificuldades

no ato de cuidar, como a perda da memória apresentada pela pessoa com

Alzheimer, a fuga, é comum em pessoas com Alzheimer tendo que ter neste

momento a atenção redobrada do cuidador, a comunicação, pois dependendo da

pessoa com a D.A ela vai gradativamente ficando mais calada, a teimosia, a

coordenação motora e o peso da pessoa quando já acamada ou imobilizada.

Duas dificuldades foram relatadas por todas as entrevistadas: a falta de apoio

no ato de cuidar, e a dependência do paciente para com o cuidador, que serão

abordados em subcategorias.

29

Na fala de Hebe (50 anos) podem-se perceber as dificuldades no ato de

cuidar quando a mesma frisa: “tenho muitas dificuldades no ato de cuidar, na

primeira fase do Alzheimer era mais complicado, poi s ela, fugia, era teimosa,

agressiva, agora que ela está mais calma, e impossi bilitada porque, agora está

na cadeira de rodas”. A cuidadora ainda salienta, o peso como uma dificuldade

quando relata: “o peso dela é muito complicado, minha mãe tem 90 q uilos, eu

tenho levantar ela, dar banho, tudo sozinha”.

Afrodite (31 anos) também traz a questão do peso como uma dificuldade

quando expõe: “o peso dela é uma dificuldade, porque ela tem o do bro do meu

peso, e eu tenho que erguer ela”. Esta cuidadora ainda relata outras dificuldades

no seu depoimento, “(...) a coordenação motora, ela anda com muita dif iculdade,

a comunicação, ela só fala quando quer, tem dias qu e eu pergunto as coisas

ela não fala nada, e tem dias que ela fala sem para r”.

Artêmis (45 anos) expôs como dificuldades a coordenação motora e o

comportamento do sogro quando relata: “tem dias que ele não quer andar, ele

tranca as pernas, não quer comer, ele tranca a boca , tenho que vestir ele, ele

não colabora”.

O cuidar inicialmente abrange atividades simples que se limita a ajudar na

realização de atividades da vida diária, como ajudar no vestir-se ou a servir de apoio

para andar na rua, mas podem, gradativamente, ir se complexificando e exigindo do

cuidador conhecimento e habilidades para o exercício do cuidar de acordo com as

necessidades físicas do idoso (FRANCA, 2004). Atenas (59 anos) observa isso: “(...)

tem que estar sempre observando as dificuldades que vão aparecendo”.

O exercício de cuidar do idoso doente com Alzheimer é um aprendizado

constante, baseado nas necessidades físicas e biológicas e de acordo com o nível

de dependência do idoso. Na maioria das vezes se torna difícil, pela inexperiência

do cuidador, atender as demandas que vão surgindo no transcorrer do processo do

cuidar e que necessitam ser aprendidas no enfrentamento do cotidiano (COELHO,

DINIZ, 2005).

Ao cuidador é apresentada a necessidade de incorporar a nova realidade ao

seu cotidiano, muitas vezes árdua e desgastante, conforme o que o idoso doente

apresenta e conviver com ela. Neste sentido será abordado como subcategoria

uma das dificuldades no ato de cuidar, mencionada por todas as cuidadoras, a

dependência da pessoa com Alzheimer.

30

4.6 Dificuldades no ato de cuidar: dependência da p essoa com Alzheimer

Os depoimentos apontaram a questão da dependência da pessoa com D.A

para com o cuidador, constatou-se em todas as entrevistas que o doente é muito

dependente de seu cuidador.

Sobre dependência Leite (1995) diz que esta significa uma condição do

idoso a qual se caracteriza por degenerescência decorrente de doenças crônicas

ou de outras patologias, que lhe ameaçam a integridade física, social e econômica,

diminuindo ou impedindo a capacidade do indivíduo para atender suas

necessidades.

Nos relatos de três cuidadoras é feito a comparação do idoso com a Doença

de Alzheimer com um bebê, onde relatam que cuidam desses idosos igual

cuidariam de um bebê.

Na fala de Artêmis (45 anos) pode-se perceber esta comparação, quando a

mesma afirma que “é um bebê que eu tenho dentro de casa, ele (referindo-se ao

sogro que cuida) é totalmente dependente igual á um bebê de colo”.

Comentário semelhante é feito pela cuidadora Atenas (59 anos), quando fala

de sua mãe, “(...) é como se ela estivesse no estágio de crianç a, eu canto

canções de ninar para ela dormir, eu brinco com ela , brincadeiras de crianças

mesmo, ela é dependente igualzinho a um bebê”.

Segundo Baltes; Silverberg (1995), dependência significa um estado em que

a pessoa é incapaz de existir de maneira satisfatória sem a ajuda de outrem e a

autonomia é a capacidade do indivíduo em manter seu poder de decisão.

Quando o idoso com a Doença de Alzheimer passa a ser totalmente

dependente do outro, tarefas que antes não eram tão penosas, como dar comida,

banho, levar ao banheiro, ficam extremamente complicadas, pois o cuidador muitas

vezes já não tem mais a cooperação, do idoso, que na maioria dos casos ficam

teimosos. Isto pode ser percebido na fala de Artêmis (45 anos) quando relata: “(...)

se eu dou comida ele come, se eu dou banho ele toma , se eu não o tirar da

cama pela manhã ele fica o dia inteiro urinado na c ama, se eu der água ele

toma se não ele passa sede, eu tenho que adivinhar as coisas”. Outra

cuidadora relata: “quando minha mãe vai fazer “cocô”, eu tenho que li mpar

ela, caso contrário ela se suja todinha, se limpa n as paredes, nas toalhas, no

31

chão, porque ela não sabe o que está fazendo, e ain da fala que não esta

suja”.

Tomar algumas incumbências do idoso, como, por exemplo, pagar as suas

contas ou preparar sua comida, dar banho, levar ao banheiro, simboliza para

aquele que cuida o conjunto de coisas negativas que vem acontecendo. Ocupar-se

dessas tarefas pode ser extremamente penoso e dar lugar a conflitos

(GUERREIRO, 2001).

Hera (60 anos) e Afrodite (31 anos) expõem a questão da dependência,

sendo de vinte quatro horas por dia, principalmente quando frisam: “tenho que

cuidar dela 24 horas por dia, pois ela depende de mim para tudo, para comer,

se vestir, para ir ao banheiro, enfim para tudo, qu ando vou dormir tenho que

ficar com um olho aberto outro fechado, para cuidar dela” ; Afrodite (31 anos)

também frisa esta situação: “(...) é dependência total, eu fico literalmente 24

horas por dia, cuidando da vó , até dormir na mesma cama que ela eu durmo”.

Dentre as alterações que conduzem o idoso a dependência destaca-se

aquelas relacionadas ao adoecimento, as quais por suas características de

cronicidade geram situações que necessitam da presença de outro por longos

períodos.

A atividade do cuidar de um idoso doente e dependente no domicílio dá se

no espaço onde parte significativa da vida é vivida, no qual o conhecimento e a

memória de fatos e de relações íntimas são importantes tanto para o cuidador

como para quem é cuidado.

Neste ambiente segundo Karsch (1998), os cuidados têm suas

peculiaridades. São regulados por relações subjetivas e afetivas, construídas numa

história comum e pessoal. Os cuidados implementados têm a finalidade de

preservar a vida de seus membros para alcançar o desenvolvimento pleno de suas

potencialidades, de acordo com suas próprias possibilidades e as condições do

meio onde ela vive (ELSEN et al. 2002).

A próxima subcategoria irá expor outra dificuldade no ato de cuidar

explicitada por todas as cuidadoras, a falta de apoio.

4.7 Dificuldades no ato de cuidar: falta de apoio p ara com o cuidador principal.

Em relação às dificuldades no ato de cuidar, todas as entrevistadas

32

mencionaram a falta de apoio, principalmente dentro do contexto familiar para lidar

com a situação que o cuidador experiência no seu cotidiano.

Pode-se constatar no depoimento de Atenas (59 anos) a necessidade de

apoio familiar, “(...) sinto falta da participação, de apoio mesmo, dos me us oito

irmãos, para me ajudar a cuidar da nossa mãe, quando digo a judar a cuidar

me refiro principalmente a presença deles para conv ersarmos sobre a

situação que a nossa mãe se encontra”. Complementando o depoimento de

Atenas (59 anos) “(...) a função de cuidar da minha mãe, ficou somen te para

um filho, e este filho sou eu!” No relato de Hera (60 anos) também é evidenciado

a falta de apoio dos irmãos, quando expõe “a função de cuidar ficou somente

para mim, meus irmãos nunca se oferecem para me aju dar a cuidar”.

A cuidadora Hebe (50 anos) relatou que não tem apoio voluntário dos irmãos

para cuidar de sua mãe, tendo que “negociar” com os irmãos para algum deles

cuidar de sua mãe quando ela precisa se ausentar “(...) quando eu tenho que me

ausentar, preciso com antecedência e literalmente n egociar com algum dos

meus irmãos para cuidar da minha mãe”. Hebe (50 anos) ainda acrescentou,

“(...) além de ter que negociar para alguém ficar c om a minha mãe, tenho que

ficar implorando me humilhando mesmo, para alguém v ir”.

Para Santos (2004) a falta de apoio familiar estaria associada à dificuldade

de se compreender a doença, sendo que uma vez reconhecida à doença o

segundo passo a ser dado é a discussão intrafamiliar sobre o encaminhamento que

se dará à situação. É também nesse espaço que se estabelece uma rede complexa

de interações, negociações e tomadas de decisões sobre a busca de suportes no

percurso da doença.

De acordo com Néri e Sommerhalder (2002), existindo apoio no ato de

cuidar, a sobrecarga do cuidador diminui. O que se verifica nos depoimentos é que

este fator se tornou negativo por haver uma sobrecarga de tarefas sem o apoio da

família.

No depoimento de Artêmis (45 anos), quando ressalta a falta de apoio no

ato de cuidar, a cuidadora frisa que a responsabilidade maior de cuidar do sogro

com a Doença de Alzheimer é sua, pois assumiu este compromisso perante a

família de seu marido, “eu assumi o compromisso de cuidar dos meus sogros,

e sabia das dificuldades que eu enfrentaria em cuid ar do meu sogro com

Alzheimer, e se assumi isto, é meu dever cuidar, nã o gosto de ficar pedindo

33

ajuda, evito!”

Dever é definido como se ter obrigação ou necessidade de; ser devedor de; aquilo a que se está obrigado por lei, pela moral, pelos costumes, incumbência ou obrigação; sendo que obrigação é definida como dever; imposição; tarefa necessária; compromisso; motivo de reconhecimento; favor; serviço; preceito (FERREIRA, 1999 pg. 589).

Assim, quando o cuidadora se refere a seu dever ou a sua obrigação, pode-

se considerar que este está se referindo a uma obrigação moral determinada,

expressa em uma regra de ação, que nesse caso é o cuidar.

Neste sentido Afrodite (31 anos) frisa “(...) tenho a obrigação de cuidar,

não posso pedir ajuda, e nem ficar reclamando, pois assumi este

compromisso de cuidar”.

Mendes (1995) reforça a idéia de que os cuidadores entendem a atividade

de cuidar como um dever moral decorrente das relações pessoais e familiares

inscritas na esfera doméstica, visto que muitos cuidadores não se viam como tais

e, a partir do momento que necessitam desempenhar tal papel, o assumem como

uma exigência decorrente do viver em família.

Sobre as concepções de cuidado e do que é a Doença de Alzheimer das

entrevistadas será abordado a próxima categoria.

4.8 Concepções sobre cuidado e D.A.

O processo de cuidar é algo muito complexo que envolve tanto o fazer quanto

o analisar, o refletir e o aprender com as dificuldades e as facilidades dessa

experiência. O cuidar de uma pessoa com a Doença de Alzheimer é quase sempre

querer fazer mais o melhor do que está sendo feito. É criar, inovar e buscar a

superação das dificuldades visando ao bem-estar do doente. É reconhecer os limites

pessoais e aprender a ter paciência e tolerância para com os limites do portador. É

confiar nas suas potencialidades para ser cuidador de ter humildade e coragem para

aprender a cada dia (SANTOS, 2004).

A tarefa de cuidar do idoso doente é um aprendizado constante, baseado nas

necessidades físicas e biológicas e de acordo com o nível de dependência do idoso.

Na maioria das vezes se torna difícil, pela inexperiência do cuidador, atender as

demandas que vão surgindo no transcorrer do processo do cuidar e que necessitam

34

ser aprendidas no enfrentamento do cotidiano. O relato de Hera (60 anos) corrobora

neste sentido “(...) cuidar é ter que se dedicar integralmente a outra pessoa, no

começo eu me sentia totalmente despreparada para cu idar da minha mãe com

esta doença, mais eu tinha que enfrentar, e com a e volução da doença cada

vez fica mais difícil, mas aprendi a cuidar na prát ica, no dia-a-dia”. Hera (60

anos) ainda frisa “(...) para cuidar, tem que ter muita paciência, to lerância, muito

amor, muito carinho, muita vontade, porque não é fá cil”

De acordo com Sarti (1993) as maneiras de cuidar variam de acordo com os

padrões culturais e se relacionam com as necessidades de cada indivíduo.

Atenas (59 anos) relatou que o termo cuidar é muito amplo, que cuidar

abrange vários aspectos “o termo cuidar é muito mais amplo que dar

alimentação, cuidar para não haver acidentes (...), cuidar da higiene, cuidar é

mais que isto, cuidar é presta atenção na saúde del a, perceber como ela

ultrapassa cada fase da doença, é dar carinho, segu rança, amor, a concepção

que eu tenho sobre cuidar é todo este conjunto aí”

Para Karsch (1998), os cuidados têm suas peculiaridades. São regulados por

relações subjetivas e afetivas, construídas numa história comum e pessoal.

Verificou-se em todas as entrevistas que cuidadoras sentem-se

sobrecarregados pela demanda de cuidados e, também, por terem que realizar

tarefas que até então eram atividades pessoais do idoso, como dar banho, levar

banheiro, dar o remédio, dar a comida e que agora, com a evolução da doença, tem

de ser executada pelo cuidador. Neste sentido, Artêmis (45 anos) fala “cuidar é dar

banho, trocar a fralda, botar na cama, dar comida, sendo que a comida dele

tem que ser diferente, tem que cuidar o que ele pod e comer ou não, é dar os

remédios nas horas certas, dar na boca mesmo, porqu e se não cuidar ele joga

fora, isto são cuidados básicos, que tem que fazer mesmo”. Artêmis (45 anos)

ainda salienta “cuidar é estar de corpo e alma, ali com a pessoa, é brincar com

ele, brincar igual criança, é sentar no chão, canta r, dançar, é ficar noites sem

dormir, isto que é cuidar”.

As tarefas do cuidador estão principalmente relacionadas à preparação de

uma alimentação, muitas vezes, diferenciada, administração de medicamentos,

estabelecimento de uma rotina para exercícios e atividades de conforto que incluem

efetuar a higiene pessoal, pentear o cabelo, escovar os dentes, cortar as unhas,

fazer a toalete, vestir, despir, locomover de um lugar para outro, subir escadas,

35

sentar, levantar, deitar, entre outras (MENDES, 1995; KARSCH, 1998). Ser cuidador

de um idoso doente e dependente seja ele parcial ou total, é uma atividade

absorvente que preenche o dia, e às vezes, à noite da pessoa que assume cuidar,

pois o cotidiano é o espaço do imediato em que os indivíduos devem operar as

atividades através do saber prático (MENDES, 1995).

Assim, ao cuidador é apresentada a necessidade de incorporar a nova

realidade ao seu cotidiano, muitas vezes árdua e desgastante, conforme a evolução

da doença do idoso.

Em relação à concepção que as cuidadores têm da Doença de Alzheimer

todas as cuidadoras frisaram ser uma doença horrível, triste, uma doença cruel tanto

para a pessoa com a doença, para a família e principalmente para aquele que é o

cuidador principal. Este fator é evidenciado na fala de Afrodite (31 anos) quando

relata “ (...) é uma doença muito complicada, ao mesmo tempo muito triste e

cruel, quando digo cruel, é pelo fato que a pessoa com a doença muda

completamente. Este discurso é semelhante ao relato de Artêmis (45 anos) “(...) é

uma doença horrível, horrível, horrível, é cruel co m o ser humano, ele não sabe

o que está acontecendo ao seu redor, o mundo pode e star se acabando, e ele

vai estar sem entender nada, perde a noção das cois as”.

A cuidadora Atenas (59 anos) também refere-se à Doença de Alzheimer de

uma forma muito negativa quando explicita “ a D.A é uma doença muito triste,

porque a pessoa perde sua identidade, vai aos pouco s perdendo suas

relações, vai perdendo sua orientação”.

As pessoas que tem a Doença de Alzheimer perdem, gradativamente, sua

orientação de tempo e espaço. Um sintoma maior é o de que esquecem o que

acabaram de dizer ou fazer, embora sua memória de eventos passados possa

permanecer clara por uns tempos. Assim que a doença progride, as pessoas perdem

a noção de sua condição (CAYTON; WARNER; GRAHAM, 2000).

Hera (60 anos) afirma que considera a D.A pior que qualquer câncer “(...) a

Doença de Alzheimer é pior que qualquer câncer, o c âncer a pessoa tem

consciência da situação que se encontra, no Alzheim er não, a pessoa perde a

consciência até de que é um ser - humano.

Speechley e Rosenfield (2000) definem o câncer como um conjunto de

doenças que tem em comum o crescimento desordenado das células que invadem

tecidos e órgãos, causando um inchaço ou tumor, podendo espalhar-se para outras

36

partes do corpo. Estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis,

determinando a formação de tumores ou neoplasias malignas. Diante da definição

do que é um câncer, e percebendo a gravidade do mesmo, verifica-se o quanto a

Doença de Alzheimer na concepção da cuidadora Hera (60 anos) é grave, quando a

mesma faz esta comparação.

Todas as cuidadoras mostraram ter conhecimento de que a D.A não tem cura,

porém relataram que através de tratamentos e uso de medicamentos a evolução da

doença se torna mais lento. Hebe (50 anos) afirma “(...) eu tenho a consciência

que o Alzheimer não tem cura, sei que a minha mãe p ode ficar muito tempo

ainda com esta doença, que somente através dos trat amentos que ela faz, e

dos medicamentos que ela toma a doença vai ficar ma is lenta, olha é muito

difícil lutar contra esta doença”.

A Doença de Alzheimer é neurodegenerativa sem uma única causa e sem

cura, cujas lesões cerebrais levam à morte progressiva de neurônios e a perda

crescente da memória e posteriormente de outras funções cognitivas. É difícil a luta

contra o Alzheimer, visto que sua progressão pode ser silenciosa. O Alzheimer é

realmente a doença cognitiva mais comum entre os idosos, respondendo por cerca

de 60% dos casos (PIVETTA, 2008).

Diante desta doença tão avassaladora, o cuidador necessita de informações,

orientações sobre como proceder com o idoso com Alzheimer, este assunto será

abordado na próxima categoria, às informações/orientações que o cuidador possui

sobre o ato de cuidar e onde obteve.

4.9 As orientações que o cuidador possui sobre o at o de cuidar

Exceto Atenas (59 anos), que é formada em Psicologia, e que pode através

da faculdade ter conhecimento sobre o assunto, as demais entrevistadas não

possuem informações mais profundas sobre a Doença de Alzheimer e sobre o ato

de cuidar, apenas tem conhecimento básico/superficial, quando, por exemplo, passa

alguma reportagem na televisão, através de dúvidas tiradas com o médico, pela

internet, ou por livros.

Segundo os discursos de quatro entrevistadas, o conhecimento sobre como

cuidar de uma pessoa com a Doença de Alzheimer é através de dúvidas tiradas com

o médico, através da televisão, de livros, e também por experiência própria. No

37

depoimento de Afrodite (31 anos): “depois que eu passei a ser cuidadora, percebi

a necessidade de me inteirar mais sobre a doença so bre como cuidar de uma

pessoa com Alzheimer, sempre que passa na TV presto bastante atenção,

procuro ler revistas e livros sobre o assunto (...) .”. Afrodite (31 anos)

complementa: “procurei me informar para não cuidar da vó errado, pois tendo

conhecimento da doença, saberei como agir no ato de cuidar”.

Segundo Mendes (1995) um fator de grande ajuda e que deve ser feito de

imediato é buscar informação. Procurar ter pleno conhecimento da doença aprender

a conviver com ela e com o portador, melhorando a sua própria qualidade de vida e

a dele. Absorver, “devorar” toda e qualquer informação a respeito da doença, não só

no que tange ao estágio inicial, mas também toda a sua evolução, embora de

perspectiva bastante sombria. Inteirar-se da verdade sem exageros ou amenizações.

Embora muitas vezes não se tenha o apoio dos demais membros da família, o ideal

é que todos os seus membros se inteirem desse conhecimento.

A cuidadora Atenas (59 anos) que além do que já sabia sobre a Doença de

Alzheimer, depois do diagnóstico da mãe, foi se inteirar mais ainda sobre o assunto

quando frisa: “fui a congressos, palestras, e lá eu vi pessoas que falaram sobre

Alzheimer e eu fui para me inteirar, me atualizar”.

Para Santos (2004) há um crescimento da parcela da população

caracterizada como cuidadores e portadores de D.A, envolvidos em situação de

dependência. A autora destaca a necessidade de se pensar em modalidades de

suporte social que possam contribuir para um melhor enfrentamento das

dificuldades e que possibilitem o desenvolvimento de melhor qualidade de vida

para todos.

Perguntado as entrevistadas se elas já participaram ou tem algum

conhecimento de grupos de apoio para cuidadores, todas relataram que já tiveram

conhecimento de grupos de apoios a cuidadores de uma pessoa com a Doença de

Alzheimer, através do médico ou de conhecidos, porém afirmaram que tem vontade

e percebem a necessidade de participarem, mais não vão por não terem com quem

deixar os idosos que cuidam.

Dessa forma Artêmis (45 anos) alega que vê a necessidade de procurar

ajuda, porém o que lhe falta é tempo, “(...) eu seria muito ignorante se falasse

que eu não preciso de apoio, preciso sim, já pensei em procurar um

psicólogo, de participar de um grupo de apoio para cuidadores de um

38

portador da Doença de Alzheimer, porque sei que têm , mais o que me falta é

tempo, não posso deixar ele sozinho”, o mesmo ocorre na fala de Afrodite (31

anos) “(...) soube de grupos de apoios para cuidadores, a través do médico,

tenho consciência que me ajudaria bastante, mais nã o tenho tempo para

frequentar um grupo”.

O apoio social e familiar mostra-se fundamental para que estes cuidadores e

familiares se mostrem fortes e gratificados perante as consequências da doença. O

apoio social pode ser definido como o conforto, a assistência e/ou informação que

alguém recebe de contatos sociais formais e informais (FRANCA, 2004).

Houve um consenso entre as entrevistadas quando relataram que todos os

cuidadores precisam ter cuidados, para não serem os próximos doentes. O

comentário de Atenas (59 anos) exemplifica “(...) todos os cuidadores precisam

ser cuidados, pois quando a pessoa passa a ser cuid ador do outro, sem

perceber se coloca em segundo plano, e posteriormen te começa a ficar

fragilizado diante das dificuldades e da evolução d a doença”.

“Se o cuidador tiver informações sobre a doença para então se organizar em

seu dia-a-dia, o sofrimento passa a não ser tão intenso, proporcionando assim a

qualidade de vida de ambos” (NÉRI; SOMMERHALDER, 2002, p.21). Iniciativas como estudar, discutir e divulgar sobre o que é a D.A e seu impacto

no cuidador podem auxiliar as famílias para melhoria da qualidade de vida.

39

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo investigar as implicações no “ato de

cuidar” em cuidadores de pessoas com a Doença de Alzheimer, bem como

identificar os motivos que levaram este indivíduo a ser o cuidador principal, as

mudanças que ocorreram na organização familiar, pessoal e profissional

proporcionadas pelo ato de cuidar, os sentimentos, valores, crenças, a concepção

sobre cuidado e sobre a Doença de Alzheimer deste cuidador e levantar se o

cuidador tem algum auxílio para cuidadores e como o obtém.

A pesquisa apontou que todos os entrevistados eram do sexo feminino, sendo

que quatro eram membros da família e apenas uma era cuidadora profissional. Estes

dados coletados são relevantes, pois tanto o sexo como o fato de ser familiar, não

eram critérios para inclusão do presente estudo. Estas informações ratificam a

literatura consultada, que afirma que a maioria dos cuidadores são do sexo feminino

e são familiares do paciente e somente quando nenhum familiar se apresenta para

ser o cuidador, esta tarefa é repassada para um cuidador profissional.

Os indivíduos que assumem o papel de cuidadores são os únicos disponíveis

para cuidar da pessoa que está com a Doença de Alzheimer e quanto mais este

cuidador se envolve, mais os demais familiares se afastam desta tarefa,

sobrecarregando o cuidador principal, fato este que também aparece na bibliografia

pesquisada.

Quanto as mudanças na organização familiar, na vida pessoal, profissional do

indivíduo que passou a ser o cuidador da pessoa com D.A, o estudo revelou que

existe a ausência de compromissos com seus familiares e também a inversão de

papéis e a impossibilidade de conciliar o seu trabalho com o ato de cuidar. Desta

forma, os cuidadores acabam se afastando do trabalho, abdicam de objetivos

pessoais, diminuem parcial ou totalmente de uma vida social, afastando-se do

convívio com amigos, festas e compromissos.

A literatura aponta a turbulência de sentimentos que afloram nos cuidadores

nesta tarefa tão complexa que é o ato de cuidar, sentimentos que vão do amor e

gratidão até a raiva e pena. Cada cuidador reage as situações vivenciadas de

formas diferentes e estes sentimentos são únicos para cada um.

As crenças também foram observadas durante a pesquisa, uma vez que as

40

cuidadoras afirmaram que o amor e o carinho da família fizessem com que a

evolução da doença, no idoso, fosse mais lenta e, por outro lado, o surgimento da

doença deveu-se ao fato do idoso ter perdido seu cônjuge e a doença aparecendo

como fuga para não ter o sofrimento da perda.

A religiosidade também foi ressaltada nas falas das cuidadoras, pois a fé e a

crença em Deus agem como um suporte para enfrentar os momentos de

dificuldades, ajudando o cuidador espiritualmente para continuar cuidando.

Esta pesquisa, portanto, confirmou todas as informações encontradas na

literatura, evidenciando as dificuldades enfrentadas pelas cuidadoras ao cuidar de

um idoso que, muitas vezes, encontra-se acamado e imobilizado. As dificuldades

para o cuidador vão sempre aumentando, pois tarefas que antes não eram tão

difíceis, passam a ser complicadas na medida em que o idoso vai envelhecendo e a

doença vai evoluindo, ao ponto de não haver mais nem a colaboração do próprio

doente, que se torna gradativamente mas dependente.

Entre as principais dificuldades apontadas pelas entrevistadas estão a perda

da memória gradativa do idoso, a fuga do doente, exigindo à atenção redobrada do

cuidador, a teimosia, a coordenação motora e o peso do doente, que muitas vezes é

maior do que o do cuidador. Todas estas dificuldades se tornam maiores devido à

falta de apoio no ato de cuidar.

A tarefa de cuidar de uma pessoa com a Doença de Alzheimer é um

aprendizado constante, em que as concepções que os cuidadores têm sobre

cuidados vão modificando conforme os estágios da doença. O cuidador que

inicialmente é inexperiente com a prática do dia-a-dia, vai aprendendo a enfrentar as

dificuldades que vão surgindo. Pode-se observar que, para todas as cuidadoras, o

termo cuidar é muito amplo, abrangendo vários âmbitos, que além dos cuidados

básicos, o cuidador tem que ter muita paciência e boa vontade, pois sem estes

quesitos se torna muito difícil e quase impossível o ato de cuidar.

Devido a Doença de Alzheimer ser uma doença neurodegenerativa, cujas

lesões cerebrais levam à morte progressiva de neurônios, a perda da memória, e de

outras funções cognitivas, todas as entrevistadas frisaram que esta doença é muito

triste, muito cruel tanto para o doente como para a família e para o cuidador

principal. Neste sentido, constatou-se que isto vem ao encontro com a literatura,

quando ressalta que esta doença atinge a todos os envolvidos num raio bem amplo.

Todas as cuidadoras, com exceção de uma que é Psicóloga e tem

41

conhecimento mais profundo sobre a Doença de Alzheimer, possuem apenas um

conhecimento superficial e empírico sobre o tema, adquirido através da televisão,

revistas, livros, pelo médico e/ou pela internet.

As cuidadoras afirmam que já tiveram conhecimento de grupos de apoios à

cuidadores de pessoas com a Doença de Alzheimer, através do médico ou de

conhecidos, relatam que tem vontade e percebem a necessidade de participarem,

mas não vão por não terem tempo e nem com quem deixar os idosos que elas

cuidam.

Com base nas informações apresentadas, conclui-se que o ato de cuidar é

abrir mão de si em detrimento do outro; é reorganizar sua vida em vários âmbitos,

em função da vida do outro; é minimizar o sofrimento do outro sem se dar conta

dos seus próprios sentimentos, que vão se diversificando a todo o momento; é na

maioria, dos casos, estar sozinho, tendo que aprender na prática como cuidar de

uma pessoa com a Doença de Alzheimer. Sem perceber, o cuidador se coloca de

“lado”, abdicando de seus planos e sonhos para se dedicar integralmente ao

doente. Neste contexto, o papel da psicologia é de fundamental importância, pois

pode contribuir no psicodiagnóstico, orientações à família e cuidador.

Diante de todos os depoimentos emocionados das cuidadoras a

pesquisadora ficou sensibilizada e ao mesmo tempo compreendendo tudo que foi

relatado pelas entrevistadas, pelo fato de ter vivenciado dentro do seu contexto

familiar todas as dificuldades de cuidar de um idoso com a Doença de Alzheimer.

Fica a sugestão para a realização de novas pesquisas sobre esta temática,

abordando também estratégias de auxilio ao idoso e ao cuidador.

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6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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46

7 APÊNDICES

47

APÊNDICE 1

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Iniciais: Sexo:

Idade: Cidade:

Escolaridade: Estado Civil:

Filhos: Quantos:

Parentesco com o portador da doença de Alzheimer:

1. Quanto você recebeu a notícia do diagnóstico do seu familiar? Como foi? E por quem

(médicos, enfermeiros, ect)? Há quanto tempo? 2. Quais motivos te levaram a ser o cuidador principal? 3. Pode me contar um pouco sobre a história de como isso ocorreu? 4. O que é cuidar para você? 5. Quais os sentimentos relacionados com o ato de cuidar desta pessoa? 6. Como era sua rotina antes de ser cuidador? E como é agora, o que modificou? 7. E em relação ao seu trabalho (profissão) o ato de cuidar provocou alguma alteração?

Quais? 8. O que você pensa sobre a D.A? 9. Antes de você ter este caso na família tinha conhecimento sobre a doença de

Alzheimer? O que pensava sobre? 10. Quais os principais problemas enfrentados ao cuidar de um portador de D.A? 11. Como era antes seu relacionamento com o portador de D.A e depois do diagnóstico? 12. Como, está o relacionamento dos seus familiares mais próximos? (filhos, cônjuge,

irmãos). E com a pessoa que tem D.A.? 13. O que você considera importante na relação com a pessoa com D.A? Como se sente

em relação à ela (ele)? 14. Quais as informações que possui sobre a D.A? 15. Você recebe ou tem conhecimento de algum auxílio para cuidadores? De quem? De

que forma? 16. Acredita que necessita de mais apoio? Se sim, para que? 17. Tem mais alguma consideração a fazer?

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APÊNDICE 2

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é a sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado (a) de forma alguma. INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Título do Projeto: Implicações do ato de cuidar de um portador de D.A. Pesquisador Responsável: Kátia Simone Ploner Telefone de contato: (47)3341-79-35 - 96096020 - sala 305 – e-mail: [email protected] Pesquisadores Participantes: Vanessa Evangelista Telefones para contato: (47)3346-55-04 – 99557287 – e-mail: [email protected] Este estudo tem como objetivo investigar ato de cuidar de portadores da doença de Alzheimer (D.A.). É um estudo qualitativo utilizando o método da entrevista face a face gravada em fita K7 através de um roteiro de perguntas semi-estruturadas. Não há risco algum ao cuidador participante. O benefício deste estudo está na possibilidade de promover melhor apoio a estes cuidadores na medida em que se conhece o contexto criado por ter um familiar com demência de Alzheimer, sentimentos provocados, necessidades, histórias de vida, rotinas. Com isso, é possível fornecer mais subsídios para que a Psicologia desenvolva estratégias mais adequadas para atuar junto a este público. O retorno dos resultados será feito mediante a entrega de uma cópia do trabalho final para os cuidadores pesquisados que demonstrem interesse em obtê-lo. Os dados serão coletados no período de julho a agosto de 2008. Pelo fato de a pesquisa ter única e exclusivamente interesse científico, a mesma foi aceita espontaneamente pelo (a) senhor (a), que, no entanto, poderá desistir a qualquer momento da mesma, inclusive sem nenhum motivo, bastando para isso informar, da maneira que achar mais conveniente, a sua desistência, também não haverá nenhum risco de prejuízo e/ou desconforto para o senhor (a). Por ser voluntário sem interesse financeiro, o (a) senhor (a) não terá direito a nenhuma remuneração. Os dados referentes ao senhor (a) serão sigilosos e privados, e a divulgação do resultado visará apenas mostrar os possíveis benefícios obtidos pela pesquisa em questão, sendo que o (a) senhor (a) poderá solicitar informações durante todas as fases desta pesquisa, inclusive após a publicação da mesma. Nome do Pesquisador: Vanessa Evangelista Assinatura do Pesquisador:__________________________________________ CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO Eu, , RG , CPF abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento. Local e data: Nome: Assinatura do Sujeito ou Responsável: Telefone para contato: