alzheimer
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17 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 25 de janeiro de 2015
» PALOMA OLIVETO
É uma pergunta que quasesempre fica sem resposta.Você gostaria de saber quetem uma doença degene-
rativa e incurável, que só se ma-nifestará daqui a 10 anos? Nemos cientistas que pesquisam otratamento do Alzheimer têmopinião fechada. Enquanto al-guns acham que ainda é cedo pa-ra surpreender os pacientes comesse diagnóstico, outros apostamna identificação do problema empessoas mais velhas que come-çam a apresentar os primeiros si-nais. A justificativa é que, comtempo hábil, é possível fazer in-tervenções para amenizar e mes-mo retardar os sintomas associa-dos a esse mal.
Embora o Alzheimer não te-nha sido decifrado por completo,nos últimos cinco anos as pes-quisas avançaram significativa-mente. Hoje, já é certo o papel deduas proteínas na degeneraçãodo cérebro: a tau e a beta-amiloi-de. No primeiro caso, o que mataas células são emaranhados defios que se formam dentro do ór-gão devido a alterações na estru-tura da tau. Quando saudável, a
Primeiros sinais do
AlzheimerCientistasavançamnacriaçãodeexamesquedetectamadoençaantesdeosprimeiros sintomasaparecerem.Oobjetivo é iniciaro tratamentomaiscedo, amenizando,assim, asconsequênciasdomaldegenerativo
proteína, semelhante a trilhos detrem, organiza o transporte celu-lar cerebral. Mas, por motivosdesconhecidos, ela começa a seembolar, o que destrói os neurô-nios. Já a beta-amiloide é umasubstância normalmente descar-tada pelo líquido cefalorraqui-diano, que circula do cérebro pa-ra a coluna espinhal. Contudo,um distúrbio também ainda sobinvestigação faz com que ela seacumule, formando placas tóxi-cas e nocivas.
Os cientistas lutam para en-tender o que desencadeia os doisprocessos. Há algumas pistas esabe-se que fatores hereditários,problemas vasculares e obesida-de favorecem o surgimento domal. Mas, mesmo sem conhecera raiz do Alzheimer, o avanço daspesquisas permite, hoje, identifi-car essas alterações pré-clínicas,que surgem muito antes de ossintomas mais consistentes apa-recerem. Além de técnicas deimagem, exames de sangue e of-talmológicos, que indicam a pre-sença de biomarcadores, testescognitivos cada vez mais apri-morados são capazes de diag-nosticar a doença. Essas ferra-mentas ainda estão sob estudo esó se aplicam no universo restri-to das pesquisas científicas. A ex-pectativa, porém, é de que boaparte delas estejam disponíveisem breve nos consultórios.
“O diagnóstico preciso e pre-coce é benéfico por diversas ra-zões”, diz Guy M. McKhann, neu-rocientista da Faculdade de Me-
dicina da Universidade JohnsHopkins e um dos autores
das diretrizes adotadas pe-los médicos americanos
para a detecção da doen-ça. “Existe tratamento
para os sintomas, co-mo depressão, ansie-
dade e perda de me-mória. Começar es-se tratamento ce-do pode ajudar apreservar as fun-
ções mentais e ce-rebrais por algum
tempo, embora oprocesso por trás
da doença ain-da não possa
ser alterado”,afirma.
Não invasivosMcKhann enumera outros
motivos: ajudar o paciente e a fa-mília a planejar o futuro, tomardecisões financeiras, legais e ma-teriais, e desenvolver uma redede apoio. “Há uma outra razãobem prática também. O diagnós-tico precoce pode fornecer umagrande oportunidade para aspessoas com a doença se envol-verem em estudos científicos,nos quais testamos a segurança ea efetividade de uma medicaçãoou de outra intervenção.”
Atualmente, os médicos dãoo parecer sobre a doença a par-tir de exames clínicos, que ava-liam mudança de comporta-mento e alterações cognitivaspara encaixar o paciente emuma dessas duas categorias: de-ficiência cognitiva moderadadevido à doença de Alzheimerou demência. No primeiro caso,estão presentes as mudanças namemória e nas capacidades depensamento já perceptíveis emensuráveis. Porém, a ativida-de cotidiana ainda não foi total-mente comprometida. Na de-mência, contudo, o pacienteexibe os sinais clássicos doAlzheimer, como não reconhe-cer mais as pessoas e perder ahabilidade de executar tarefassimples, como se alimentar.
Os testes que estão sendopesquisados visam detectar adoença em uma fase que, hoje,ainda não é contemplada pelasdiretrizes disponíveis. Trata-sedo Alzheimer pré-clínico,quando o mal não se manifestapor sinais claros. Nesse mo-mento, porém, já é possível vi-sualizar os emaranhados daproteína tau ou detectar, nosangue ou em amostras do lí-quido cefalorraquidiano, quan-tidades anormais da beta-ami-loide. Esses métodos já vêmsendo utilizados nos estudoscientíficos, mas os pesquisado-res também querem encontrarmeios não invasivos, simples eseguros para, em um exame derotina, notarem sinais precocesdo Alzheimer. Enquanto o PETscan ainda é um método caro eindisponível em muitos luga-res, a análise do líquido se dápela punção lombar, quando
uma agulha é inserida entreduas vértebras.
“Essa doença é uma epidemiacrescente e, em face disso, háuma pressão muito grande paratestes simplificados que identifi-quem os riscos muito antes queo processo da doença siga seucurso”, afirma Heather Snyder,diretora de operações médicas ecientíficas da Associação deAlzheimer. “Isso é especialmen-te verdadeiro à medida que ospesquisadores se concentramem novos tratamentos que con-sigam retardar o progresso dadoença”, opina.
Um dos métodos investiga-dos hoje foi apresentado no anopassado na conferência interna-cional da organização, realizadaem Copenhague (Dinamarca).Dois estudos mostraram que aperda acentuada da capacidadede sentir odores está significati-vamente associada à progressãoda doença. Isso porque a defi-ciência pode, nesse caso, ser umindicativo da morte de célulascerebrais que fazem o papel dereconhecimento olfativo.
A associação foi feita por pes-quisadores da Faculdade de Saú-de Pública de Harvard, que in-vestigaram 215 pacientes idososaparentemente saudáveis. Essaspessoas, contudo, já apresenta-vam pequenos problemas deperda da habilidade e, nos exa-mes laboratoriais, verificou-seque tinham depósito de beta-amiloide. Os pesquisadores tam-bém mediram o tamanho deduas importantes estruturasexistentes nos lobos temporais.
De fato, eles descobriramque os indivíduos com maioresníveis de proteína amiloide nocérebro são aqueles com me-nor capacidade de identifica-ção de odores e pior desempe-nho nos testes cognitivos e dememória. De acordo com JohnH. Growdon, um dos autores doestudo, o exame, por ora, poderáajudar a identificar candidatosem potencial para as pesquisasclínicas de Alzheimer. “É um re-sultado promissor, mas temosque nos aprofundar mais nos es-tudos para saber como o testeolfativo poderá ser utilizado nosconsultórios para a detecção ini-cial da doença”, diz.