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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 01080/13 Data do Acordão: 25-03-2015 Tribunal: 2 SECÇÃO Relator: ASCENSÃO LOPES Descritores: NOTÁRIO IMPOSTO DE SELO SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA SUJEITO PASSIVO Sumário: I - O artº 28º da LGT está pensado para a retenção na fonte ou a título de pagamento por conta delineando nestes casos um regime de exclusão da responsabilidade do contribuinte substituído que pagou/entregou ao substituto o tributo em causa no caso concreto. II - Existem, no entanto, liquidações de tributos por substituição [sem retenção] que têm um campo de utilização privilegiado desde logo nas taxas devidas pela prestação de serviços públicos. E, nestas situações as regras da LGT relativas a responsabilidade em caso de substituição tributária não se podem aplicar aos casos de substituição sem retenção. III - Ocorrendo como nos autos uma situação de falta de entrega do imposto de selo por parte da sociedade substituída, por erro do substituto Notário, a única solução materialmente correcta é a de responsabilizar o substituído pelo tributo, desonerando o substituto de qualquer responsabilidade, desde que este tenha empregue na tarefa da cobrança a diligência que dele se deve esperar. IV - A liquidação adicional do imposto de selo devido no acto de uma escritura pública de venda o que não sucedeu pelo facto de o notário considerar, que havia isenção, (foi considerado que os actos de constituição de sociedade e de transferência de activos patrimoniais, estavam isentos de tributação nos termos do artigo 6.º, alínea a) do CIS deve ser exigida à sociedade outorgante da escritura que adquiriu os bens. Nº Convencional: JSTA000P18770 Nº do Documento: SA22015032501080 Data de Entrada: 14-06-2013 Recorrente: FAZENDA PÚBLICA Recorrido 1: PORTO LAZER - EMPRESA DE DESPORTO E LAZER DO MUNICÍPIO DO PORTO, E.E.M. Votação: UNANIMIDADE Aditamento: Texto Integral Texto Integral: Acordam, em conferência, nesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo Página 1 de 24 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo 20-04-2015 http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/e17f0a17034bfb2a8...

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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal AdministrativoProcesso: 01080/13Data do Acordão: 25-03-2015Tribunal: 2 SECÇÃORelator: ASCENSÃO LOPESDescritores: NOTÁRIO

IMPOSTO DE SELOSUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIASUJEITO PASSIVO

Sumário: I - O artº 28º da LGT está pensado para a retenção na fonte ou a título de pagamento por conta delineando nestes casos um regime de exclusão da responsabilidade do contribuinte substituído que pagou/entregou ao substituto o tributo em causa no caso concreto.II - Existem, no entanto, liquidações de tributos por substituição [sem retenção] que têm um campo de utilização privilegiado desde logo nas taxas devidas pela prestação de serviços públicos. E, nestas situações as regras da LGT relativas a responsabilidade em caso de substituição tributária não se podem aplicar aos casos de substituição sem retenção.III - Ocorrendo como nos autos uma situação de falta de entrega do imposto de selo por parte da sociedade substituída, por erro do substituto Notário, a única solução materialmente correcta é a de responsabilizar o substituído pelo tributo, desonerando o substituto de qualquer responsabilidade, desde que este tenha empregue na tarefa da cobrança a diligência que dele se deve esperar.IV - A liquidação adicional do imposto de selo devido no acto de uma escritura pública de venda o que não sucedeu pelo facto de o notário considerar, que havia isenção, (foi considerado que os actos de constituição de sociedade e de transferência de activos patrimoniais, estavam isentos de tributação nos termos do artigo 6.º, alínea a) do CIS deve ser exigida à sociedade outorgante da escritura que adquiriu os bens.

Nº Convencional: JSTA000P18770Nº do Documento: SA22015032501080Data de Entrada: 14-06-2013Recorrente: FAZENDA PÚBLICARecorrido 1: PORTO LAZER - EMPRESA DE DESPORTO E LAZER DO MUNICÍPIO DO

PORTO, E.E.M.Votação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: Acordam, em conferência, nesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo

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1 – RELATÓRIO

Porto Lazer — Empresa de Desporto e Lazer do Município do Porto, EEM, NIPC 507718640, com sede na Rua Bartolomeu Velho, n.º 648, no Porto, “tendo sido notificada do deferimento parcial da reclamação graciosa apresentada contra a liquidação adicional de imposto do selo n.º 2010 6430000368 e contra a liquidação de juros compensatórios n.º 2010 00001102223, deduziu impugnação judicial.

Por sentença de 27 de Dezembro de 2012, o TAF do Porto julgou procedente a impugnação e anulou o acto impugnado.

Reagiu a Fazenda Pública interpondo o presente recurso cujas alegações integram as seguintes conclusões:

A. Vem o presente recurso interposto da douta sentença, por erro na aplicação do direito, ao julgar procedente a impugnação judicial e anular o acto tributário de liquidação adicional de imposto de selo.

B. Na perspectiva da AT, ressalvado todo o respeito devido por melhor opinião, relevam para a decisão desta acção os conceitos de sujeito passivo directo e indirecto, por forma a demonstrar não ser verdade que a impugnante não é parte na relação jurídico-tributária, uma vez que a impugnante é o sujeito passivo directo na relação jurídica de imposto configurada, na qual, além do mais, se verifica uma situação de substituição tributária.

C. O sujeito passivo é a pessoa ou entidade adstrita ao cumprimento das obrigações tributárias (principal e acessórias), podendo inserir-se os sujeitos que se encontram nesta situação em categorias distintas e heterogéneas, abarcando quer o próprio sujeito que aufere um rendimento ou efectua um acto de consumo, como qualquer terceiro que está obrigado a declarar rendimentos de outrem ou a efectuar retenção na fonte ou a liquidar e entregar imposto ao Estado que outrem tem o encargo de suportar.

D. É possível efectuar as seguintes distinções analíticas, que permitem identificar mais claramente as situações envolvidas e recortar com nitidez o regime jurídico aplicável:

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> A pessoa que tem uma relação pessoal e directa com o facto tributário, em relação a quem se verifica determinado facto (v.g. a morte de um ascendente) ou é ela quem pratica determinado acto (v.g. um contrato) que constitui a base de um tributo, casos em que se utiliza a designação de “sujeito passivo directo”.> Todo um conjunto de outras pessoas que, sem terem a referida relação pessoal e directa com o facto tributário, vão ainda assim, por motivos diversos, ser chamadas ao cumprimento de obrigações tributárias (normalmente relacionadas com outros), situações em que se utiliza a designação de “sujeito passivo indirecto” ² (Segue-se de perto Joaquim Freitas da Rocha em “Apontamentos de Direito Tributário (A relação jurídica Tributária)”. publicado pela Associação de Estudantes da Universidade do Minho (Aedrum), 2009.).

E. O sujeito passivo directo é aquela pessoa ou entidade que tem uma relação pessoal e directa com o facto tributário, o sujeito passivo da relação jurídica tributária é quem tem uma conexão incindível com o respectivo facto constitutivo, em termos de se poder dizer que foi o primeiro e principal beneficiário das vantagens que a tributação visa atingir, sendo este (o sujeito passivo directo) que manifesta a capacidade contributiva que é o pressuposto da sujeição.

F. No subgrupo de “sujeitos passivos indirectos” distinguem-se três categorias — os substitutos tributários, os sucessores tributários e os responsáveis tributários — aqui interessando apenas a substituição tributária, que se verifica quando, por imposição legal, a prestação tributária vai ser entregue ao Fisco não pelo sujeito que realizou o facto tributário, mas por um terceiro que com ele mantém relações especiais e que lhe vai exigir a quantia em causa, nos termos do art. 20° da LGT.

G. Em grande parte dos casos a técnica financeira mediante a qual a substituição tributária se efectiva é a retenção na fonte, a qual significa que certos rendimentos ao serem pagos ou colocados à disposição, serão objecto de uma amputação a título de pagamento de tributo.

H. Diferentemente do considerado e induzido pelo legislador (de forma redutora), pode existir substituição tributária sem que opere por retenção na fonte, como acontece nos casos em que determinada entidade está obrigada a liquidar o imposto incidente sobre outra e

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entregá-lo ao Estado (sem reter quantia alguma).

I. Esta situação é a que se verifica no caso do imposto do selo, no âmbito do qual a liquidação deve ser efectuada pelos notários, conservadores e outras entidades, relativamente a actos em que intervenham, estando obrigados a entregar o valor respectivo ao credor tributário, conforme art. 23°, n° 1 e art. 41° do CIS.

J. É neste contexto que se situa a liquidação de imposto de selo cuja legalidade vem questionada nos presentes autos, defendendo o impugnante que não é sujeito passivo do imposto de selo, mas sim o notário, pelo que a administração tributária, tendo concluído que, por erro não havia sido efectuada a liquidação do imposto devido pela operação, não lhe pode exigir o imposto directamente, como se do sujeito passivo se tratasse.

K. Na liquidação do imposto de selo encontramo-nos perante um caso de substituição tributária que não opera por retenção na fonte, mas não é por isso que deixa de o ser, sendo o impugnante o sujeito passivo directo na relação jurídico tributária que se constituiu no momento da ocorrência do facto tributário, pelo que a liquidação impugnada deve manter-se.

Contra-alegou a ora recorrida Porto Lazer, apresentando as seguintes conclusões:

1. A parte legítima na relação jurídico-tributária em apreço é o sujeito passivo que, de acordo com a alínea a) do n.º 1 do artigo 2° do CIS, não pode deixar de ser o Notário.2. É imperioso concluir que a Administração Fiscal não podia exigir à PORTO LAZER, enquanto titular do interesse económico, o tributo que o sujeito passivo — o Notário —à revelia ou não da obrigação que sobre ele recai, não cuidou de liquidar.3. A liquidação adicional de Imposto do Selo dirigida à PORTO LAZER e aqui impugnada está ferida de invalidade, pelo que deverá a mesma ser anulada, com todas as consequências legais.4. Ao contrário do que procurou defender a Digna Representante da Fazenda Pública, é manifesto que não estamos aqui diante de um caso de substituição tributária sem retenção na fonte, nem a PORTO LAZER é um «sujeito passivo directo».

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5. No ordenamento jurídico português, e de acordo com o preceituado na lei, designadamente nos artigos 20.º e 34.º da LGT, «A substituição tributária é efectivada através do mecanismo da retenção na fonte do imposto devido» (cf. artigo 20°, n.º 2, da LGT) e «As entregas pecuniárias efectuadas por dedução nos rendimentos pagos ou postos à disposição do titular pelo substituto tributário constituem retenção na fonte» (cf. artigo 34.º da LCT).6. Ao Notário não competia deduzir uma qualquer quantia a um eventual rendimento da PORTO LAZER, pelo que a presente situação não configura, ao contrário do que alegou a Digna Representante da Fazenda Pública, uma qualquer substituição tributária.7. A interpretação/aplicação da lei que é efectuada, viola directamente a garantia constitucional de que «Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não hajam sido criados nos termos da Constituição, que tenham natureza retroactiva ou cuja liquidação e cobrança se não façam nos termos da lei», prevista no n.º 3 do artigo 103° da Constituição da República (sublinhado nosso).

Termos em que deverá negar-se provimento ao recurso apresentado, mantendo-se a douta decisão recorrida que declarou a impugnação procedente e, consequentemente, a anulação da liquidação impugnada, com todas as consequências legais.

O EMMP pronunciou-se emitindo o seguinte parecer:

1. A F. P. interpôs recurso no processo em que é impugnante “Porto Lazer”.2. Emitindo parecer:Em face do previsto nos artigos 2.º n.º 1 al. a), 3.º, 13.º n.º 4 do C.l.S., não é de excluir que a impugnante não seja ainda de considerar como sujeito passivo pelo menos no que respeita à transmissão de bens que também foi operada, apesar de genericamente se encontrar previsto na primeira referida norma ser sujeito passivo o notário e alguns outros intervenientes.Por outro lado, em face do que se encontra previsto no art. 18.º n.º 3 da L.G.T. pode ser sujeito passivo, quer o contribuinte directo, quer o substituto, quer o responsável tributário resulta ainda duvidoso que a impugnante não possa ser de considerar como contribuinte, sendo quem se encontra previsto que tenha de suportar realmente — como “encargo”, no dizer da lei — o seu pagamento.

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É certo que, segundo alguma doutrina, sendo a dívida de imposto do substituto ou responsável, o devedor principal é de entender como desonerado da obrigação.Contudo, não só a legitimidade da impugnante como responsável subsidiária resulta do previsto no art. 8.º n.º 2 do C.P.PT., como pelo menos, segundo certa doutrina contribuinte directo é ainda o beneficiário que tem ainda de suportar o imposto ¹ (J. Casalta Nabais, de Direito Fiscal, 7.ª ed. Almedina, 2012, p. 244; C.P.P.T. Anotado e Comentado, do cons. Jorge Lopes de Sousa, na 6.ª ed. 2011, Áreas Ed., vol. I, p. 117; Leite de Campos, Benjamim Rodrigues e Jorge Lopes de Sousa, em LGT Anotada e Comentada, 4.ª ed. 2012, p. 186.).Crê-se que tal é ainda assim de entender à míngua de jurisprudência conhecida que sobre a questão se tenha já expressamente pronunciado.Com efeito, a interpretação que a F.P. defende é a mais princípio da capacidade contributiva que, tal como consagrado no art. 4.º n.º 1 da L.G.T., deve levar a considerar que “os impostos assentam essencialmente na capacidade contributiva revelada, nos termos da lei”, sendo nesse aspecto de relevar ainda o que se encontra previsto no dito art. 3º.Por outro lado, é certo que, embora em data posterior aos factos veio a ser previsto no dito art. 2.º, pela Lei n.º 64-A/08, de 31-12, que, “não obstante o disposto no n.º 1, nos actos ou contratos da verba 1.1 da tabela geral, são sujeitos passivos do imposto as pessoas singulares ou colectivas para quem se transmitam os bens”.Contudo, já anteriormente se previa no art. 13.º n.º 4 do C.l.S., que outras normas do C.I.M.T. pudessem ser de aplicar, entre as quais a constante do art. 4.º al. a), segundo a qual o imposto é devido pelas pessoas singulares ou colectivas, para quem se transmitam os bens móveis.3. Concluindo:3.1 Uma interpretação segundo a qual apenas o notário pode ser sujeito passivo da relação tributária de imposto de selo, que não também o titular da relação económica, segundo resulta previsto no art. 3.º do C.I.S., que é a impugnante não é conforme ao princípio da capacidade tributária;3.2 Considerando o já ao tempo previsto no art. 13.º n.º 4 do C.I.S. e no art. 4º aI. a) do C.I.M.T., quanto à transmissão de bens, o imposto é devido pelas pessoas para quem se transmitem os bens que passou a ser previsto no art. 2.º n.º 3;

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3.3 Parece que o recurso é de proceder, sendo de revogar o decidido.

2 – FUNDAMENTAÇÃO

O Tribunal “a quo” deu como provada a seguinte factualidade:

1. Em 29.09.2006, foi celebrada escritura de constituição da empresa municipal CMPL — Porto Lazer — Empresa de Desporto e Lazer do Município do Porto, EEM, donde constava, além do mais, o seguinte:

“Que o capital social da empresa é de dois milhões e duzentos mil euros, totalmente realizado em espécie pela Câmara Municipal do Porto, nos seguintes termos:a) — transferência que neste acto faz para a empresa dos seguintes bens imóveis:- Parcela de terreno designada por “Casa do Desporto”, sita na Rua de João de Barros, freguesia da Foz do Douro, nesta cidade, (...).(...)- Parcela de terreno designada por “Complexo Desportivo Monte Aventino” sita na Rua do Monte Aventino, freguesia de Campanhã, nesta cidade, (...).(…)b) — Transferência que neste acto faz para a empresa, dos bens móveis que correspondem ao equipamento básico, equipamento administrativo e outro imobilizado corpóreo, no valor de trezentos e catorze mil quinhentos e trinta e oito, (...)(...)Que a soma do valor dos bens imóveis acima descritos e dos bens móveis que constituem o equipamento básico, equipamento administrativo e outro imobilizado corpóreo acima referido, perfaz o total de sete milhões cento e oitenta e seis mil e oitocentos e oito euros, (...)

Que o excedente do capital social realizado, no valor de quatro milhões novecentos e oitenta e seis mil oitocentos e oito euros, fica a constituir um crédito a favor do Município do Porto.

Que a entrada em espécie corresponde assim à realização de cem por cento do capital social, não sendo exigido por lei ou pelo contrato a realização de qualquer outra entrada.(...)

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O Município do Porto está isento do imposto do selo nos termos do artigo sexto, alínea a) do Código do Imposto do selo (...)”Cfr. fls. 20 a 27 dos autos

2. A impugnante sujeita a inspecção tributária, foi notificada do respectivo relatório, donde constava, além do mais, o seguinte:

“II- OBJECTIVOS, ÂMBITO E EXTENSÃO DA ACÇÃO DE INSPECÇÃO1 — Credencial e período em que decorreu a acçãoCredenciais:

Período em que decorreu a inspecção:Início: as Ordens de Serviço tiveram início nas seguintes datas, tendo sido entregue ao contribuinte cópia das mesmas, conforme determina o art. 51.º do Regime Complementar do Procedimento de Inspecção Tributária (RCPIT):• OI200901805, do ano de 2006: em 11/02/2010• OI201000429, dos anos de 2007 e 2008: em 17/02/2010• OI201001565, do ano de 2009: em 13/04/2010Fim: concluídas no dia 06/05/2010, data em que foram entregues ao contribuinte as Notas de Diligência, em cumprimento do disposto no n.º 1 do art. 61.º do RCPIT.

2— Motivo, âmbito e incidência temporal

Motivo: Situação permanente de crédito de IVA nos anos de 2006, 2007 e 2008, e pedidos de reembolso de IVA nos períodos de 200901 e 200907. A análise dos pedidos de reembolso de IVA foi iniciada em 12/01/2010, a coberto dos Despachos n.ºs DI200903526 (período de 200901) e DI200913324 (período de 200907).

Incidência Temporal: 2006, 2007, 2008 e 2009Âmbito: As Ordens de Serviço foram emitidas com âmbitos parciais: IRC e IVA(exercícios de 2006 e 2007) e IVA (exercícios de 2008 e 2009), contudo, no decurso das acções foram alterados os âmbitos para Geral (2006, 2007 e 2008) e para Parcial IVA e Retenções na fonte de IRC e de IRS (2009).

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(…)III - DESCRIÇÃO DOS FACTOS E FUNDAMENTOS DAS CORRECÇÕES MERAMENTE ARITMÉTICAS(…)11. FALTA DE ENTREGA DE IMPOSTO DO SELOEm 29/09/2006, através de escritura pública, o Município do Porto constituiu a empresa municipal Porto Lazer, com um capital social de €2.200.000,00. A realização do capital social foi efectuada através da entrega dos seguintes bens móveis e imóveis, num valor total de € 7.186.808,00:- prédio urbano 11263, freguesia 131203, atribuindo um valor de € 6.199.750,00;- prédio urbano 3265, freguesia 131205, atribuindo um valor de €672.520,00 e- bens móveis, atribuindo um valor de €314.538,00.O direito de propriedade de todos os bens (móveis e imóveis) foi transferido, na data da escritura para a Porto Lazer, e ficaram inscritos em contas de imobilizado corpóreo. A diferença entre o capital social realizado e o valor total dos bens transmitidos, de € 4.986.808,00 (€ 7.186.808,00 - € 2.200.000,00), ficou a constituir um crédito a favor do Município do Porto, contabilizado a débito numa conta 25513 — Accionistas/Sócios - Empréstimos.

Para efeitos de Imposto do Selo, é invocado na referida escritura, que “O Município do Porto está isento do imposto do selo, nos termos do artigo sexto, alínea a) do Código do Imposto do Selo”.

Ora, a isenção subjectiva invocada aplica-se ao sócio/transmitente dos bens que é o Município do Porto e não à empresa municipal, sociedade constituída e adquirente dos bens. Para efeitos de eventual aplicação desta isenção, também não releva o facto do Município do Porto participar em 100% no capital social da Porto Lazer. Efectivamente, o encargo do Imposto do Selo recai sobre o titular do interesse económico dos factos/operações, ou seja, sobre a sociedade a constituir (aI. p) do n.º 3 do art. 3.º do CIS) e o adquirente dos bens (al. a) do n.º 3 do art. 3.º do CIS), que é a Porto Lazer.

Aliás, e conforme o entendimento veiculado pela informação constante no Processo n.º 2009/4454-IVE 382, com despacho concordante de 19/03/2010, da Subdirectora-Geral dos IP que refere “o CIS (Código do Imposto do Selo), nomeadamente no seu artigo 6.° não prevê nenhuma isenção para as empresas municipais por

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sua vez a Lei nº 53-F/2006 ³ (À data dos factos em análise no presente relatório, a lei aplicável era a n.º 58/98 de 18/08.) de 29 de Dezembro, que aprova o Regime Jurídico do sector empresarial local, também não contemple nenhuma isenção em sede de imposto do selo para as referidas empresas”

Também refere aquela informação que “as empresas municipais regem-se pela Lei 53-F/2006, de 29 de Dezembro, pelos respectivos estatutos e, subsidiariamente, pelo regime empresarial do Estado e pelas normas aplicáveis às sociedades comerciais, conforme artigo 6.º da referida Lei.”

O teor deste artigo 6.º corresponde, em substância, ao artigo 3.º do anterior regime (Lei 58/98 de 18/08).

Assim, no caso em apreço, verificamos a existência de dois factos sujeitos a Imposto do Selo, nos termos do art. 1.º do CIS, previstos na Tabela Geral anexa ao respectivo Código, nas verbas 26.1. e 1.1. (versão da Lei n.º 55-B/2004, de 30/12):

Pela constituição da sociedade municipal cujo valor capital é de €2.200.000,00 (a):

Verba 26.1.: entradas de capital: constituição de uma sociedade de capitais — sobre o valor real dos bens de qualquer natureza entregues ou a entregar pelos sócios após dedução das obrigações assumidas e dos encargos suportados pela sociedade em consequência de cada entrada ………………………….0,4%

Pela aquisição dos bens imóveis, no valor restante de € 4.986.808,00, acrescido de € 451.220,00, que corresponde à determinação da matéria tributável (bens imóveis) nos termos do n.º 4 do art. 9.º do CIS (b), o que perfaz um valor total de €5.438.028,00;

Verba 1.1.: aquisição de bens: aquisição onerosa ou por doação do direito de propriedade ou de figuras parcelares desse direito sobre imóveis, bem como a resolução, invalidade ou extinção, por mútuo consenso, dos respectivos contratos — sobre o valor ……………………………………………………….0,8%

Notas:

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(a) não é feita a distinção de quais os bens que constituem a entrada de capital, pelo que consideramos a sua inclusão na verba 26.1.(b) de acordo com o n.º 4 do art. 9.° do CIS, “à tributação dos negócios jurídicos sobre bens imóveis, prevista na Tabela Geral, aplicam-se as regras de determinação da matéria tributável do Código do Imposto Municipal Sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (CIMIT)”, ou seja, pelas regras previstas no n.º 1 do art. 12.° do CIMIT. De acordo com este normativo, o valor tributável corresponde ao valor do “acto ou contrato ou sobre o valor patrimonial tributário dos imóveis consoante o que for maior”. Assim, relativamente ao prédio urbano 3265, o valor patrimonial tributário é de € 1.123.740,00, superior ao valor da escritura, de € 672.520,00, pelo que é de acrescer a diferença de € 451.220,00 (= € 1.123.740,00 - € 672.520,00). O outro imóvel (U-11263) tem um valor patrimonial tributável inferior ao valor da escritura._____________________________________________Face ao exposto, propomos a liquidação de Imposto do Selo no valor de €52.304,22, devido na data da escritura (29/09/2006), assim calculado:Verba 26.1.: €2.200.000,00*0,4% =……… € 8.800,00Verba 1.1.: de € 5.438.028,00*0,8% = ………..€43.504,22Total = … ……..€52.304,22Como já referido, o encargo do Imposto do Selo é da Porto Lazer, nos termos das alíneas a) e p) do n.º 3 do art. 3.º do CIS, relativamente às operações enquadradas nas verbas 1.1. e 26.1., respectivamente.(…)”Cfr. resulta de fls. 29 a 86, maxime fls. 36, 37, 61 a 63 dos autos

3. Na sequência do exarado no relatório que antecede, foi a impugnante notificada para proceder ao pagamento, até 19.07.2010, do imposto do selo adicionalmente liquidado no montante de € 52.304,22 acrescido de juros compensatórios no montante de € 7.526,07, perfazendo a quantia global de € 59.830,29.Cfr. resultado fls. 28 dos autos

4. Em 15.11.2010, foi expedido, sob registo, pela impugnante e dirigido ao Serviço de Finanças do Porto 2, reclamação graciosa.Cfr. resulta de fls. 3 da Reclamação Graciosa (RG) apensa

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5. Sobre a reclamação graciosa recaiu despacho de deferimento parcial “apenas na parte correspondente aos juros compensatórios, que serão de anular:”Cfr. resulta da proposta de decisão de fls. 39 a 42 e decisão de fls. 38, todas da RG apensa

6. Em 10.01.2011, o impugnante foi notificado da decisão referida em 5.Cfr. fls. 49 da RG apensa

7. Em 25.01.2011, foi expedido, sob registo, pela impugnante e dirigido à Direcção de Finanças do Porto, a presente impugnação.Cfr. resulta de fls. 3 e 91 dos presentes autos

8. Em 07.02.2011, deu entrada no Serviço de Finanças do Porto 2, recurso hierárquico apresentado pela impugnante.Cfr. carimbo aposto no rosto de fls. 1 do Recurso Hierárquico (RH) apenso

3 – DO DIREITO

O meritíssimo juiz do TAF do Porto julgou procedente a impugnação e anulou o acto impugnado, por entender que (destacam-se os trechos da sentença com maior relevância para o presente recurso):

“I. RELATÓRIOPorto Lazer — Empresa de Desporto e Lazer do Município do Porto, EEM¹ (Doravante “Porto Lazer”), NIPC 507718640, com sede na Rua Bartolomeu Velho, n.º 648, no Porto, “tendo sido notificada do deferimento parcial da reclamação graciosa apresentada contra a liquidação adicional de imposto do selo n.º 2010 6430000368 e contra a liquidação de juros compensatórios n.º 2010 00001102223, vem, nos termos dos artigos 99.º e seguintes do Código de Procedimento e de Processo Tributário (CPPT), deduzir Impugnação Judicial”.

Sustenta que na sequência de uma acção inspectiva à actividade desenvolvida pela “Porto Lazer”, foi recebida a liquidação adicional de Imposto de Selo n.° 2010 6430000368, com a qual não se conforma, por ser ilegal, uma vez que a impugnante não é sujeito passivo do imposto do selo adicionalmente liquidado (mas sim o notário).Alega a impugnante que “é forçoso concluir que a

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Administração Fiscal não pode exigir directamente ao titular do interesse económico — à PORTO LAZER — o tributo que o sujeito passivo, à revelia ou não da obrigação que sobre ele recai, não cuidou de liquidar” (cfr. artigo 21.º da petição inicial ² (Doravante PI)).Acresce que “não estamos aqui diante de um caso de substituição tributária, previsto no n.º 3 artigo 28.º da LGT” (cfr. artigo 25.º da PI).

Conclui, pois, peticionando que a presente impugnação seja julgada procedente e, consequentemente, seja anulado o acto tributário impugnado.

Liminarmente admitida, foi a Fazenda Pública notificada para, querendo, contestar, tendo vindo aos autos, pugnar pela improcedência da presente impugnação, contradizendo na íntegra os fundamentos aduzidos pelo impugnante.

Dada vista ao Digno Magistrado do Ministério Público, este emitiu o parecer inserto a fls. 105 dos autos, no qual se pronunciou pela improcedência da presente impugnação, aderindo aos fundamentos aduzidos pela Fazenda Pública na sua contestação.

Cumpre, pois, apreciar e decidir.

II. QUESTÕES DECIDENDASA questão que impera ser discutida e decidida no âmbito destes autos reporta-se a aferir se é exigível à impugnante o pagamento do imposto de selo adicionalmente liquidado pela Administração Tributária, verificado em falta no decurso de acção inspectiva levada a cabo à “Porto Lazer”.

III. SANEAMENTO PROCESSUAL(…)

IV. FUNDAMENTAÇÃO FÁCTICA(…)V. FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICAIncumbe ao Tribunal o conhecimento de todas as questões suscitadas pelas partes, e apenas destas, sem prejuízo de a lei impor ou permitir o conhecimento oficioso de outras, conforme artigo 660.º, n.º 2 Código de Processo Civil 4 (Doravante CPC) ex vi do artigo 2.º alínea e) do Código de Procedimento e de Processo Tributário 5 (Doravante CPPT).

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In casu, a impugnante veio alicerçar a sua pretensão, invocando que a liquidação adicional de imposto do selo n.° 2010 6430000368 é ilegal, porquanto a Porto Lazer não é sujeito passivo deste imposto, pelo que a Administração Tributária não poderia ter vindo exigir, directamente, o pagamento do mesmo à aqui impugnante, uma vez que não é parte na relação jurídica tributária do imposto do selo.

Apreciando e decidindo.

Acerca da incidência subjectiva, dispunha o artigo 2.º do Código do Imposto do Selo 6) (Doravante CIS), à data dos factos aqui em apreço, que é sujeito passivo do imposto o notário, relativamente aos actos, contratos e outros factos em que seja interveniente.Por outro lado, determinava o número 1 do artigo 3.º do CIS que “O imposto constitui encargo dos titulares do interesse económico”, acrescentando o n.º 3 que “considera-se titular do interesse económico:a) (...) no caso de aquisições onerosas, os adquirentes dos bens;(…)p) Na constituição de uma sociedade de capitais, a sociedade a constituir.”.Concretizando.É indubitável que os factos geradores de imposto (constituição da sociedade “Porto Lazer” e transferência de activos patrimoniais) estão verificados.É, ademais, inquestionável, que estes actos estão sujeitos (sujeição objectiva) a imposto do selo e que foram praticados perante notário.Quer isto dizer que o notário aparece aqui como sujeito passivo e que, por força do artigo 3.º, n.º 1 e 3, alíneas a) e p) do CIS, a impugnante é a titular do interesse económico, ou seja, quem, efectivamente, deverá suportar o encargo do imposto.O cerne da questão reside, pois, em aferir se o imposto do selo, verificado em falta no decurso de acção inspectiva realizada à impugnante, pode ser, directamente, exigida desta ou, ao invés, deverá ser exigido o pagamento do imposto em falta do sujeito passivo.A tónica do caso em apreço não está em quem deve suportar economicamente o imposto mas a quem pode ser exigido o pagamento do imposto.Dúvidas inexistem que quem deve suportar o encargo do imposto é a impugnante (cfr. artigo 3.º, n.º 1 e 3, alíneas a)

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Page 15: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Data … · da LGT, « A substituição tributária é efectivada através do mecanismo da retenção na fonte do imposto

e p) do CIS), porquanto o legislador pretendeu que o imposto fosse suportado pelo efectivo beneficiário, conforme salienta Casalta Nabais (In Direito Fiscal, 6.ª Edição, p. 646).Importa, pois, em ordem a solucionar o caso sub judicio, aferir sobre quem o Estado pode exigir o cumprimento da obrigação tributária de pagar o imposto do selo em causa.

Vejamos, então.

São sujeitos de uma relação jurídica tributária, nos termos do artigo 18.º da Lei Geral Tributária 7 (Doravante LGT), “a entidade de direito público titular do direito de exigir o cumprimento das obrigações tributárias, quer directamente quer através de representante” (sujeito activo) e “a pessoa singular ou colectiva, o património ou a organização de facto ou de direito que, nos termos da lei, está vinculado ao cumprimento da prestação tributária, seja como contribuinte directo, substituto ou responsável” (sujeito passivo).Simplificando.Sujeito activo é aquele que pode exigir o cumprimento de obrigações tributárias; sujeito passivo é aquele que fica adstrito ao cumprimento dessas obrigações.O sujeito passivo, por seu turno, pode ser configurado como: contribuinte directo, substituto ou responsável.Refira-se, desde já, que a impugnante não é, nos termos do artigo 18.º, n.º 3 da LGT, sujeito passivo.Desde logo, se diga que a posição da impugnante não se subsume à figura de substituto tributário.Refira-se que, da conjugação dos artigos 20.º e 28.º da LGT, respectivamente, à noção de substituição tributária e a respectiva responsabilidade, verificamos que a lei alude à substituição por retenção na fonte ou a situações de retenção a título de pagamento por conta, definidos nos artigos 33.º e 34.º da LGT.Ora, é inquestionável que não estamos perante situação de substituição tributária nos precisos termos dos artigos 20.º e 28.º da LGT.Por outro lado, a impugnante também não se enquadra no conceito de responsável tributário, à luz dos artigos 22.º e seguintes da LGT.Por fim, a impugnante também não é contribuinte directo, uma vez que, conforme salienta Casalta Nabais (ob. cit., p. 259), por contribuinte directo entende-se aquele em relação ao qual se verifica directamente e na sua esfera o desfalque patrimonial seja ou não o devedor de imposto,

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por contraposição com o contribuinte indirecto que é aquele que suporta, na sua esfera, o desfalque patrimonial mediante o fenómeno económico da repercussão do imposto (realce nosso).Atente-se que vem estatuído no artigo 18°, n.º 4 da LGT que “Não é sujeito passivo quem: a) Suporte o encargo do imposto por repercussão legal”:Ora, como vem sendo doutrinariamente referido por J. Silvério Mateus e L. Corvelo de Freitas (In Os Impostos sobre o Património Imobiliário. O Imposto do Selo, Engifisco, 2005, 557) e Casalta Nabais (Ob. cit., p. 259-260) no imposto do selo (à semelhança do que acontece nos impostos sobre o consumo) verifica-se o denominado fenómeno económico de repercussão que consiste — parafraseando Américo Fernandes Brás Carlos (In Impostos — Teoria Geral, 3.ª Edição, p. 264) — na “transferência do imposto que legalmente incide sobre um sujeito passivo, para outrem com que este tem relações económicas.”:Em ambos os casos (Imposto sobre o Valor Acrescentado 8 (Doravante IVA) e o Imposto do Selo 9 (Doravante Selo)) o imposto será suportado por quem não é sujeito passivo (consumidor final, no primeiro e titular de interesse económico, no segundo), ou seja, por quem é estranho à relação jurídico-tributária.Neste sentido, no tocante ao IVA, vide Patrícia Noiret da Cunha (In Imposto sobre o Valor Acrescentado, Ed. Instituto Superior de Gestão, 2004, pp. 83 e 84), referindo que “o imposto não incide sobre os sujeitos passivos, antes tributando os consumidores finais. Estes situam-se fora da relação jurídica tributária, apesar de lhes ser imposta a carga tributária que resulta do IVA. Os consumidores finais não são sujeitos passivos do imposto apesar de serem os destinatários últimos do tributo. De igual forma não têm de cumprir quaisquer obrigações resultantes do imposto”:Doutrina que é, ademais, corroborada, em sede de imposto do selo, por J. Silvério Mateus e L. Corvelo Freitas (ob. cit., p. 557), referindo que as pessoas elencadas no artigo 3.º do CIS, “não obstante suportarem, por repercussão, o encargo do imposto, não têm a qualidade de sujeitos passivos, não estando, consequentemente, sujeitas a qualquer obrigação de natureza fiscal”Atente-se que são os sujeitos passivos que estão adstritos à obrigação principal de pagamento de imposto do selo (isto é, à liquidação, cobrança e entrega nos cofres do Estado do imposto devido), em conformidade com os artigos 23º, n.º 1 e 41.º do CIS, mas também às obrigações

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acessórias de natureza declarativa e contabilística (cfr. artigos 52.º a 55.º, 56.º e 60.º do CIS) e, estes (sujeitos passivos) são as entidades referidas no artigo 2.º, n.º 1 do CIS, como decorre dos normativos ora citados.Aliás, o que se coaduna com o prescrito por Diogo Leite de Campos, Benjamim Silva Rodrigues e Jorge Lopes de Sousa (In Lei Geral Tributária Comentada e Anotada, 3.ª Edição, em anotação ao artigo 18º) os quais referem que entre o sujeito activo e terceiro repercutido não existe vínculo jurídico, estando, pois, perante duas distintas relações jurídicas: uma, de natureza tributária (relação jurídica de imposto), que se estabelece entre o sujeito activo enquanto credor do imposto (Estado) e o sujeito passivo (notário); uma segunda, de natureza civilística (regendo-se pelo direito privado) que se cria entre o credor (notário) e o titular do interesse económico (a impugnante).Acresce, por fim, salientar que o imposto não foi liquidado, cobrado e entregue nos cofres do Estado porquanto foi considerado que os actos de constituição de sociedade e de transferência de activos patrimoniais, estavam isentos de tributação nos termos do artigo 6.º, alínea a) do CIS.Ora, indubitavelmente, a aferição se os actos praticados perante os notários estão (ou não) sujeitos (objectiva e subjectivamente) a imposto do selo recai sobre os mesmos, o que não foi, no caso em apreço, convenientemente, asseverado.

Concluindo.Não obstante ser a impugnante quem deva suportar o encargo resultante do imposto, não é sujeito passivo.Nesta conformidade, suportará o imposto por repercussão (e não por substituição tributária, nos termos do artigo 20.º e 28.º da LGT, que está pensada para a retenção na fonte ou a título de pagamento por conta).Subjaz a estas conclusões que, não sendo a impugnante sujeito passivo (quer como contribuinte directo, substituto ou responsável), em consonância com o disposto no artigo 18.º, n.º 3 e 4 da LGT, não decorrem para a impugnante, directamente, obrigações tributárias.Aliás, as obrigações tributárias (principal, referente à liquidação, cobrança e entrega nos cofres do Estado do imposto do selo e acessórias, de natureza declarativa e contabilística) estatuídas no CIS impendem, sempre, sobre os sujeitos passivos.Quer isto dizer que a impugnante responderá, apenas, perante o notário (sujeito passivo do imposto) o que

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configurará relação jurídico-privada e não perante a Administração Tributária, conforme referem Diogo Leite de Campos, Benjamim da Silva Rodrigues e Jorge Lopes de Sousa (ob. cit., anotação ao artigo 18°).Perante o Fisco responderá o sujeito passivo de imposto, ou seja, quem deveria ter procedido à liquidação, cobrança e pagamento (cfr. artigos 2.º, alínea a); 23.º e 41.º do CIS) e que não o fez.

Ante o exposto, impõe-se a procedência da presente impugnação.

VI. DECISÃO

Face ao exposto, julga-se procedente a presente impugnação e, em consequência, anula-se o acto ora impugnado (rectius,liquidação adicional de imposto do selo n.ºs 2010 6430000368).”

DECIDINDO NESTE STA

A questão que importa esclarecer consiste em saber se devendo ser liquidado imposto de selo no acto de uma escritura pública de venda o que não sucedeu pelo facto de o notário considerar, que havia isenção, (foi considerado que os actos de constituição de sociedade e de transferência de activos patrimoniais, estavam isentos de tributação nos termos do artigo 6.º, alínea a) do CIS) a liquidação adicional, posteriormente efectuada pela Administração Fiscal, (e que não vem questionada quanto à substância da sua legalidade) deve ser exigida à sociedade outorgante da escritura que adquiriu os bens ou ao Notário. A sentença de 1ª Instância considerou que devia ser exigido o pagamento ao notário pelos seguintes motivos essenciais:Ser este o sujeito passivo do imposto de selo e não a sociedade impugnante que não o sendo apenas deveria ter suportado o imposto por repercussão e não por substituição tributária, nos termos do artigo 20.º e 28.º da LGT. No seu modo de ver a responsabilidade da sociedade impugnante perante o notário sujeito passivo do imposto configuraria relação jurídico-privada e não perante a Administração Tributária.Quid Juris?A tese da sentença recorrida colhe apoio entre outros autores na doutrina expendida por Diogo Leite Campos, Benjamim da Silva Rodrigues e Jorge Lopes de Sousa nas anotações 13 a 17 ao artº 18º da LGT Anotada e

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Comentada – 4ª edição fls. 188 a 189 Vº., consistente na ideia base e a título de uma confessada “primeira impressão” de que o repercutido do tributo não é sujeito passivo do imposto e que sendo a obrigação do repercutido uma obrigação legal ainda assim está na mão do sujeito passivo repercutir ou não o imposto na esfera jurídica daquele no âmbito de uma relação jurídica privada em que se admitiria a figura da renúncia contratual. E, daí que a sentença recorrida conclua que perante eventual inadimplemento por banda do repercutido pode o sujeito passivo exigir-lhe ou não o tributo (pois que não se trata de relação jurídica indisponível).

Mas, com diferente entendimento surpreendemos a posição doutrinária sustentada desde logo por Sérgio Vasques em Manual de Direito Fiscal, Almedina Coimbra 2011 pag. 341 (posição também sufragada por Saldanha Sanches e Casalta Nabais) onde se sustenta que embora a LGT no seu artigo 28º pareça pressupor que só há substituição tributária nos casos de retenção na fonte deve admitir-se também a substituição tributária sem retenção na fonte, sendo precisamente o caso do imposto do selo cobrado pelos notários. Permitimo-nos citar S. Vasques:(…)Uma das questões mais delicadas que este défice regulamentar suscita é a de saber se são aplicáveis à substituição sem retenção as regras de responsabilidade previstas no artº 28º da LGT para os casos de substituição tributária com retenção na fonte.A nosso ver, a resposta deve ser negativa e por duas razões fundamentais, primeiro pelas razões do princípio da legalidade, depois pelas razões da igualdade tributária.A distribuição dos encargos tributários entre substitutos e substituídos e a fixação das regras de responsabilidade associadas a estes mecanismos de intermediação respeitam directamente à incidência subjectiva dos tributos públicos, matéria em que prepondera o princípio da legalidade tributária. A Lei Geral Tributária di-lo expressamente, ao dispor no seu artigo 8º que está sujeita ao princípio da legalidade toda a matéria da incidência subjectiva dos tributos públicos, a sua liquidação é cobrança, assim como “a regulamentação das figuras da substituição e responsabilidade tributárias”. Substituição e responsabilidade integram o núcleo essencial da relação tributária, onde as exigências da segurança jurídica se mostram mais intensas e se podemos admitir que as exigências da legalidade tributária se mostrem menos rigorosas quanto a taxas e contribuições do que quanto aos

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impostos, sempre nos devemos abster de assacar a substitutos e substituídos responsabilidades que não tenham fundamento claro na lei.A análise da LGT deixa ver com clareza que a substituição tributária de que esta lei cuida é a substituição tributária com retenção na fonte que é característica dos impostos sobre o rendimento e não a substituição tributária sem retenção. O legislador deixa claro que assim é ao afirmar no artigo 20º que a substituição tributária “é efectivada pelo mecanismo da retenção na fonte do imposto devido” e é dessa substituição tributária que cuida também no artº 28º em cujas disposições se encontra sempre presente a retenção na fonte. Em boa verdade, a Lei Geral Tributária foi redigida com certa dose de miopia, concentrando-se o legislador nos impostos mais centrais ao sistema tributário e descuidando em contrapartida as taxas e contribuições que estão na sua margem, ponto bem sublinhado por Nuno de Oliveira Garcia.545 (veja-se o trabalho de Nuno de Oliveira Garcia (2010) 69-72. sublinhando que “o mecanismo da liquidação por substituição [sem retenção] tem hoje um campo de utilização privilegiado exactamente nas taxas devidas pela prestação de serviços públicos, o que parece justificar-se pelo carácter regular e contínuo destes serviços e, por isso, em princípio insusceptíveis de cessação ou interrupção, devendo essa liquidação e cobrança ser realizada de forma contínua mas também expedita, simples e regular”)É seguro que, além das hipóteses da substituição com retenção, encontramos no nosso ordenamento casos variados de substituição sem retenção, em que “a prestação tributária é exigida a pessoa diferente do contribuinte” mas nem por isso se dá a “retenção na fonte do imposto devido”, uma falha para a qual tem alertado repetidas vezes a nossa doutrina. É, no entanto, evidente, pela sua concreta origem, pela redacção que possuem e até pela sua articulação com as codificações dos impostos sobre os rendimentos que as regras da LGT relativas a responsabilidade em caso de substituição tributária não se podem aplicar aos casos de substituição sem retenção.Além disto, importa reter que, qualquer que seja o modo como se distribua a responsabilidade pela contribuição entre substituto e substituídos, ela há-de fazer-se com respeito pelo princípio da igualdade, sendo de excluir que dela resulte uma dedistribuição materialmente infundada dos encargos tributários.No que respeita às hipóteses de falta de entrega seguramente que a única solução materialmente correcta é

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também aqui a de responsabilizar exclusivamente o substituto pelo tributo, desonerando o substituído de qualquer responsabilidade. Se o substituto procede à boa cobrança do tributo em causa, juntamente com o preço dos bens ou serviços que fornece ao substituído, produz-se a oneração do contribuinte que a lei pretende, faltando o fundamento material para o responsabilizar pelo tributo quando o substituto não proceda à sua entrega à administração. A responsabilização do substituído em semelhantes casos redundaria numa dupla oneração do contribuinte que o principio da igualdade tributária não tolera e que facilmente se vê ser arbitraria quando é certo que o substituído não possui e sobre o cumprimento da sua obrigação de entrega. (546- Assim, também nos casos de substituição tributária sem retenção na fonte deve acolher-se a solução de fazer do substituto o responsável exclusivo pelas importâncias “não entregues nos cofres do Estado’ ficando o substituído “desonerado de qualquer responsabilidade no seu pagamento’ E isto não porque nestes casos se possa fazer a aplicação do art.25º da LGT mas porque esta é a única interpretação conforme à Constituição da República que podemos fazer das normas legais que criam tributos como a contribuição para o áudio-visual, as taxas de exploração da DGGE ou a TMDP, entre tantos outros).

Já no que respeita às hipóteses de falta de entrega, seguramente que a única solução materialmente correcta é também aqui a de responsabilizar o substituído pelo tributo, desonerando o substituto de qualquer responsabilidade, posto que este tenha empregue na tarefa da cobrança a diligência que dele se deve esperar. Com efeito quando o substituto não logra a boa cobrança do tributo em causa, juntamente com o preço dos bens ou serviços que fornece ao substituído, não chega produzir-se a oneração do contribuinte que visa a lei, subsistindo o fundamento material para responsabilizar o contribuinte substituído, e apenas este, pelo pagamento do tributo. A responsabilização do substituto nos casos em que este não logra a boa cobrança do tributo publico redundaria numa oneração tributária sem fundamento objectivo que o principio da igualdade tributaria não tolera, mais ainda quando o substituto possui uma capacidade de influência limitada sobre o comportamento do contribuinte substituído, de cuja cooperação depende sempre em larga medida a tarefa da boa cobrança do tributo (547 A este entendimento julgamos que se poderá fazer apenas uma ressalva,

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respeitante aos casos em que o substituto não tenha cumprido com diligência os deveres que sobre ele impendem, negligenciando as tarefas da liquidação e cobrança. Excluída esta hipótese e desde que empregues na liquidação os normais deveres de cuidado — sempre cabendo à administração a prova do contrário — não parece que o princípio da igualdade permita que seja assacado ao substituto o pagamento do tributo que não consiga cobrar).

Com tais fundamentos que se acolhem, também concordamos que não havendo na situação dos autos uma retenção na fonte o que determina que o regime previsto no artigo 28º da LGT seja inaplicável porque exclusivamente previsto para os casos de responsabilidade em caso de substituição tributária com retenção na fonte, por razões de legalidade e igualdade no caso de cobrança em falta da prestação tributária através de liquidação adicional, a única solução materialmente correcta é a de responsabilizar o substituído pelo tributo, desonerando o substituto de qualquer responsabilidade, posto que este tenha empregue na tarefa da cobrança a diligência que dele se deve esperar, pois que não chegou a produzir-se a oneração do contribuinte que é o fim visado por lei atento o seu interesse económico e a sua capacidade tributária. Cremos que seria absurdo por desproporcionado que por um erro de interpretação legal acerca de uma determinada isenção se fosse responsabilizar o substituto Notário pelo pagamento da liquidação adicional efectuada quando o proveito material e económico foi da sociedade impugnante. A única solução legal e justa, e que não passa à revelia do que parece ter sido a intenção do legislador – é a de onerar com o encargo do imposto a sociedade, e não o notário.Acolhemos as conclusões das alegações H) a K), quando ali se refere ou expressa que pode existir substituição tributária sem que opere por retenção na fonte, como acontece nos casos em que determinada entidade está obrigada a liquidar o imposto incidente sobre outra e entregá-lo ao Estado (sem reter quantia alguma). E, que esta situação é a que se verifica no caso do imposto do selo, no âmbito do qual a liquidação deve ser efectuada pelos notários, conservadores e outras entidades, relativamente a actos em que intervenham, estando obrigados a entregar o valor respectivo ao credor tributário, conforme art. 23°, nº 1 e art. 41° do CIS. Nesta liquidação

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do imposto de selo encontramo-nos perante um caso de substituição tributária que não opera por retenção na fonte, mas não é por isso que deixa de o ser, sendo o impugnante o sujeito passivo directo na relação jurídico tributária que se constituiu no momento da ocorrência do facto tributário, pelo que a liquidação impugnada deve manter-se e ser exigida directamente, à sociedade substituída como se do sujeito passivo se tratasse por ser esta que tem um interesse económico subjacente à liquidação e revela a capacidade tributária.

Preparando a decisão expressam-se as seguintes proposições:1) O artº 28º da LGT está pensado para a retenção na fonte ou a título de pagamento por conta delineando nestes casos um regime de exclusão da responsabilidade do contribuinte substituído que pagou/entregou ao substituto o tributo em causa no caso concreto.2) Existem, no entanto, liquidações de tributos por substituição [sem retenção] que têm um campo de utilização privilegiado desde logo nas taxas devidas pela prestação de serviços públicos. E, nestas situações as regras da LGT relativas a responsabilidade em caso de substituição tributária não se podem aplicar aos casos de substituição sem retenção.3) Ocorrendo como nos autos uma situação de falta de entrega do imposto de selo por parte da sociedade substituída, por erro do substituto Notário, a única solução materialmente correcta é a de responsabilizar o substituído pelo tributo, desonerando o substituto de qualquer responsabilidade, desde que este tenha empregue na tarefa da cobrança a diligência que dele se deve esperar.4) A liquidação adicional do imposto de selo devido no acto de uma escritura pública de venda o que não sucedeu pelo facto de o notário considerar, que havia isenção, (foi considerado que os actos de constituição de sociedade e de transferência de activos patrimoniais, estavam isentos de tributação nos termos do artigo 6.º, alínea a) do CIS) deve ser exigida à sociedade outorgante da escritura que adquiriu os bens.4 - DECISÃO:Pelo exposto, acordam os juízes deste STA em conceder provimento ao recurso revogando a decisão recorrida e declarando ser legal a exigência do tributo liquidado adicionalmente (imposto de selo) à sociedade impugnante, improcedendo desta forma a impugnação deduzida.

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Custas a cargo da recorrida por ter contra-alegado e decaído.Lisboa, 25 de Março de 2015. – Ascensão Lopes (relator) – Dulce Neto – Isabel Marques da Silva.

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