acórdãos contrato de seguro

177
Acórdãos TRC Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra Processo : 372/11.1TBACB.C1 Convenci onal: JTRC Relator: TELES PEREIRA Descrito res: CONTRATO DE SEGURO ANULABILIDADE FALSAS DECLARAÇÕES TOMADOR Data do Acordão: 12/03/2013 Votação: UNANIMIDADE Tribunal Recurso: TRIBUNAL JUDICIAL DE ALCOBAÇA – 3º JUÍZO Texto Integral : S Meio Processu al: APELAÇÃO Decisão: REVOGADA Legislaç ão Nacional : TRIBUNAL JUDICIAL DE ALCOBAÇA – 3º JUÍZO Sumário: I – No quadro legal emergente do Lei do Contrato de Seguro, aprovada pelo Decreto-Lei nº 72/2008, de 16 de Abril (LCS), a afirmação do tomador do seguro no preenchimento da proposta de ser ele, como condutor encartado há mais de 20 anos, o condutor habitual da viatura objecto do seguro, escondendo da Seguradora que o verdadeiro condutor habitual (o filho do tomador) havia obtido licença de conduzir poucos meses antes da celebração do contrato, este comportamento gera a anulabilidade desse contrato de seguro por inexactidão dolosa quanto à declaração de risco, nos termos do artigo 25º, nº 1 da LCS.

Upload: joao-mascarenhas-de-carvalho

Post on 23-Nov-2015

31 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Acrdos TRCAcrdo do Tribunal da Relao de Coimbra

Processo:372/11.1TBACB.C1

N Convencional:JTRC

Relator:TELES PEREIRA

Descritores:CONTRATO DE SEGUROANULABILIDADEFALSAS DECLARAESTOMADOR

Data do Acordo:12/03/2013

Votao:UNANIMIDADE

Tribunal Recurso:TRIBUNAL JUDICIAL DE ALCOBAA 3 JUZO

Texto Integral:S

Meio Processual:APELAO

Deciso:REVOGADA

Legislao Nacional:TRIBUNAL JUDICIAL DE ALCOBAA 3 JUZO

Sumrio:I No quadro legal emergente do Lei do Contrato de Seguro, aprovada pelo Decreto-Lei n 72/2008, de 16 de Abril (LCS), a afirmao do tomador do seguro no preenchimento da proposta de ser ele, como condutor encartado h mais de 20 anos, o condutor habitual da viatura objecto do seguro, escondendo da Seguradora que o verdadeiro condutor habitual (o filho do tomador) havia obtido licena de conduzir poucos meses antes da celebrao do contrato, este comportamento gera a anulabilidade desse contrato de seguro por inexactido dolosa quanto declarao de risco, nos termos do artigo 25, n 1 da LCS.II Essa incidncia (a falsa declarao quanto ao condutor habitual) refere-se a um elemento muito significativo para a apreciao do risco assumido pela seguradora no contrato, com incidncia na quantificao do prmio; III A referida anulabilidade actua, nos termos do artigo 25, n 1 da LCS, mediante declarao da seguradora ao tomador do seguro, sendo que isso, descobrindo a seguradora a fraude apenas posteriormente ocorrncia do sinistro, actuar, no quadro de um processo judicial instaurado contra essa seguradora, por via de excepo (invocao pela seguradora na contestao da extino do contrato por anulabilidade nesse contexto declarada); IV O disposto no artigo 22 do Decreto-Lei n 291/2007, de 21 de Agosto (Regime do Seguro Obrigatrio de Responsabilidade Civil Automvel) no impede a oponibilidade da referida anulabilidade do contrato pela seguradora aos lesados pelo acidente e, reflexamente, ao Fundo de Garantia Automvel, quando esta entidade exerce a sub-rogao decorrente de ter assumido, perante esses lesados, a responsabilidade indemnizatria emergente do referido acidente.

Deciso Texto Integral:Acordam na Seco Cvel do Tribunal da Relao de Coimbra

I A Causa

1. Em 14 de Fevereiro de 2011[1], o Fundo de Garantia Automvel (A. e Apelado nesta instncia de recurso) demandou C e M (1 e 2 RR. e aqui Apelados), sendo que, mais tarde, no quadro de uma interveno principal provocada suscitada concorrentemente pelos RR. e pelo A., acedeu aco na posio de R. (a 3 R. aqui a Apelante) a Companhia de Seguros A, S.A.. Pretende o Fundo de Garantia Automvel realizar atravs desta aco o reembolso[2] inicialmente contra os dois primeiros RR., depois tambm contra a Seguradora do valor de 5.745,81 que pagou em funo de um acidente de viao que gerou a interveno indemnizatria do Fundo por recusa de cobertura pela Seguradora 3 R.

Com efeito, esta (a Seguradora ora 3 R.), confrontada com o acidente de viao aqui em causa (ocorrido em 18/08/2009, em Alcobaa) no qual foi interveniente o veculo -IB, cuja riscos de circulao era suposto a A cobrir, ao abrigo de um contrato de seguro do qual fora tomador/segurado o 1 R., recusou a Seguradora assumir essa responsabilidade indemnizatria por ter determinado, no respectivo processo de averiguao interno subsequente participao do acidente, que o condutor do IB no momento do acidente, o 2 R., filho do 1 R., era, contra o que expressamente declarara o tomador 1 R. na celebrao do contrato, o condutor habitual daquela viatura (e, logo, o verdadeiro segurado)[3].

1.1. Os RR. originrios (os 1 e 2 RR., os RR. indicados na p.i.) contestaram a aco conjuntamente invocando, no que interessa a este recurso, a existncia e a validade do contrato de seguro e, logo, a no excluso da responsabilidade indemnizatria da Seguradora, provocando a interveno desta, na posio de R. (3 R.), nos termos do artigo 325, n 1 do Cdigo de Processo Civil (CPC)[4]. 1.2. Assim, intervindo como 3 R., excepcionou a Companhia de Seguros A a nulidade (a qualificao do desvalor em causa ser tratada nesta deciso) do contrato de seguro celebrado com o 1 R. (no qual este se declarou condutor habitual da viatura IB) por haver este prestado, aquando dessa celebrao, falsas declaraes, induzindo em erro a Seguradora quanto a um elemento essencial para o clculo do risco assumido, com reflexo no valor do prmio (o nmero de anos da habilitao para conduzir do condutor habitual)[5].

1.3. Realizou-se, enfim, o julgamento documentado a fls. 204 e ss., a culminar o qual foi proferida a Sentena de fls. 214/225 esta constitui a deciso objecto do presente recurso-, condenando a Seguradora a satisfazer ao A. o montante peticionado[6]. 1.4. Inconformada, reagiu a R. Seguradora com a presente apelao, rematando as alegaes adrede apresentadas com as concluses que aqui se transcrevem:[]

II Fundamentao 2. Relatado o essencial do iter processual que conduziu presente instncia de recurso, cumpre apreciar os fundamentos da apelao, tendo em conta que as concluses formuladas pela Apelante operaram a delimitao temtica do objecto do recurso, isto nos termos dos artigos 684, n 3 e 685-A, n 1 do CPC ou, se se entendesse aplicvel o Novo CPC, nos termos dos artigos 635, n 4 e 639 deste[7]. Assim, fora das concluses s valem, em sede de recurso, questes que se configurem como de conhecimento oficioso. Paralelamente, mesmo integrando as concluses, no h que tomar posio sobre questes prejudicadas, na sua concreta incidncia no processo, por outras antecedentemente apreciadas e decididas (di-lo, em qualquer dos casos, o artigo 660, n 2 do CPC, ou o artigo 608, n 2 do Novo CPC). E, enfim esgotando a enunciao do modelo de construo do objecto de um recurso , distinguem-se os fundamentos deste (do recurso) dos argumentos esgrimidos pelo recorrente ao longo da motivao, sendo certo que a obrigao de pronncia do Tribunal ad quem se refere queles (s questes-fundamento) e no aos diversos argumentos jurdicos convocados pelo recorrente nas alegaes.

2.1. Os factos a considerar por esta instncia, os fixados pelo Tribunal a quo factos no contestados no presente recurso , so os seguintes:[] 2.2. A nica questo colocada pelo recurso, rectius o fundamento deste, confronta-nos com a circunstncia da deciso apelada ter desatendido aqui no confronto entre a Seguradora e o Fundo de Garantia Automvel, quando este ltimo exerceu judicialmente a sub-rogao prevista no artigo 54, n 1 do DL n 291/2007[8] a invocao pela Seguradora, por via de excepo, de uma invalidade (gera esta aqui, como veremos a anulabilidade do contrato[9]) inicial, mas por ela desconhecida at ao acidente, do contrato de seguro tomado pelo 1 R. (pai do 2 R.). Com efeito, apurou-se que na formao desse contrato, no preenchimento da proposta de seguro posteriormente aceite pela 3 R., o 1 R. se declarou, falsamente, como condutor habitual da viatura IB, no intuito de beneficiar o 2 R., seu filho, com condies mais favorveis nesse seguro (concretamente com um prmio de menor valor), decorrentes de uma incidncia no verdadeira afirmada na proposta ser o condutor habitual a pessoa indicado na proposta, e ser ela encartada desde 1982 e, por isso, estatisticamente sujeita a um menor risco de sinistros a par de uma incidncia verdadeira e cuja relevncia para a Seguradora era conhecida (ou intuda) e que foi ocultada nessa mesma proposta ser o verdadeiro condutor habitual outro e tratar-se de pessoa encartada no prprio ms da celebrao do contrato de seguro[10]. A racionalidade econmica associada a este expediente intuitiva. Trata-se, to-s, de pagar menos pelo seguro, induzindo a seguradora em erro quanto aos elementos relevantes para o clculo actuarial do risco[11]. A este respeito, tenha-se presente que o [] seguro o contrato pelo qual uma parte, mediante retribuio, suporta um risco econmico da outra parte ou de terceiro, obrigando-se a dotar a contraparte ou o terceiro dos meios adequados supresso ou atenuao de consequncias negativas reais ou potenciais da verificao de um determinado facto[12]. Ora, esta lgica de transferncia de um risco integrada na economia do contrato atravs do conhecimento e da descrio do contedo exacto desse risco, ou seja, atravs da objectivao desse risco nos termos em que a seguradora aceitou assumi-lo. Da que a imputao da concretizao do risco passe pela aferio da presena, num determinado evento ou situao, dos concretos factores de risco descritivamente assumidos atravs do contrato[13]. Parecendo redundante, esta afirmao limita-se a caracterizar, na sua essncia profunda, a lgica de funcionamento de um seguro[14]. 2.2.1. Importa reter neste recurso os elementos centrais do percurso argumentativo do Tribunal a quo que conduziram deciso de responsabilizar a R. Seguradora pelo reembolso ao Fundo independentemente do desvalor que entendeu existir no contrato de seguro base desse mesmo reembolso. Ora, a este respeito, em sede de fundamentao jurdica, escreveu-se na Sentena apelada:[]Entende-se, em face do exposto, que, a tratar-se, no caso em apreo, de invalidade do seguro, tal invalidade consiste numa mera anulabilidade e no em nulidade.Estabelece ainda o artigo 14 do DL 522/85, de 31.12 (regime jurdico do seguro automvel obrigatrio) que:Para alm das excluses ou anulabilidades que sejam estabelecidas no presente diploma, a seguradora apenas pode opor aos lesados a cessao do contrato (), ou a sua resoluo ou nulidade, nos termos legais e regulamentares em vigor, desde que anteriores data do sinistro.Quer isto dizer que, nos contratos de seguro que tenham por objecto cobertura de riscos sujeitos ao regime de seguro obrigatrio de responsabilidade civil automvel, a seguradora no pode invocar perante os lesados quaisquer excluses ou anulabilidades no previstas na Lei do Seguro Obrigatrio (no DL 522/85, de 31.12), estando-lhe vedado opor-lhes qualquer anulabilidade prevista em qualquer outra lei ou norma jurdica geral ou especial.Infere-se assim do referido preceito que, no mbito do seguro obrigatrio de responsabilidade civil automvel, a seguradora no pode livrar-se da sua obrigao perante o lesado mediante a invocao de uma mera anulabilidade no prevista no DL 522/85, como o caso da consagrada no referido artigo 429 do Cdigo Comercial.E compreende-se que assim seja, uma vez que a instituio do regime do seguro obrigatrio de responsabilidade civil automvel tem em vista, como medida de relevante alcance social, a proteco directa (e clere) dos legtimos interesses e direitos das pessoas lesadas em consequncia de acidentes de viao, o que postula um seguro em que, sendo a responsabilidade, em regra, garantida pela seguradora, vigore com a mxima amplitude o princpio da inoponibilidade das excepes contratuais, do que resulta que s a nulidade, e no a anulabilidade do contrato de seguro (prevista no artigo 429 do Cdigo Comercial), possa ser oposta aos lesados em acidente de viao, nos termos do citado artigo 14 do DL 522/85.Do exposto resulta que no pode a r Seguradora opor ao autor a excepo contratual integrante de anulabilidade do contrato de seguro, mantendo-se, por conseguinte, a vinculao decorrente desse mesmo contrato, respondendo a r seguradora perante o autor pelos danos emergentes do acidente causado pelo veculo seguro, por fora do contrato celebrado com o 1 ru.Em consequncia, havero os 1 e 2 rus de necessariamente ser absolvidos do pedido contra si formulado.[] (transcrio de fls. 223/224).

Numa primeira aproximao ratio decidendi expressa pela primeira instncia nos termos acabados de transcrever, haver que reconduzir a situao ao seu enquadramento legal adequado, corrigindo a incorrecta determinao do Direito aplicvel realizada na Sentena, enquanto questo de aplicao da lei no tempo numa situao de sucesso de leis no tempo. Referimo-nos ao regime jurdico do Seguro Obrigatrio de Responsabilidade Civil Automvel aplicvel, que a Sentena, laborando em evidente erro, a referncia ao Decreto-Lei n 522/85, de 31 de Dezembro, quando s pode estar em causa o Decreto-Lei n 291/2007, de 21 de Agosto. E referimo-nos igualmente ao Regime Jurdico do Contrato de Seguro em geral, que a mesma deciso reporta ao texto do Cdigo Comercial, esquecendo j estar em causa, aqui, a chamada Lei do Contrato de Seguro (doravante LCS), aprovada pelo Decreto-Lei n 72/2008, de 16 de Abril. Ambas as referncias do Tribunal a quo resultam de lapsos, tendo presente, em qualquer dos enquadramentos, a data da celebrao do contrato de seguro que aqui est em causa: Maio de 2009. Importa ter presente, relativamente a um seguro obrigatrio de responsabilidade civil automvel celebrado em Maio de 2009, que o DL n 522/85 fora revogado pelo DL n 291/2007, de 21 de Agosto (foi revogado em 2007), e substitudo pelo regime deste constante (v. os respectivos artigos 94 e 95), aplicando-se neste caso, pois, esse DL n 291/2007. E, quanto ao regime do contrato de seguro, a LCS aprovada pelo DL n 72/2008, de 16 de Abril, que substituiu (revogou) os artigos 425 a 462 do Cdigo Comercial (artigo 6, n 2, alnea a) do DL n 72/2008), aplica-se aos contratos de seguro celebrados aps a sua entrada em vigor (aos contratos celebrados de 1 de Janeiro de 2009 em diante), como aqui sucede (v. os respectivos artigos 2, n 1 e 7), ou seja, tem aqui aplicao a LCS e no o Cdigo Comercial[15]. este, pois (concorrentemente o DL n 291/2007, de 21 de Agosto e a LCS), o adequado enquadramento legal da situao ora ajuizada. Note-se, todavia, que esta nova referenciao normativa no destri, por si s, a construo interpretativa empreendida na Sentena apelada, na assero decisria de considerar inoponvel ao Fundo de Garantia Automvel o tipo de invalidade do contrato de seguro aqui invocada pela Seguradora. Com efeito, embora consideremos incorrecta, em qualquer caso, essa assero decisria, no deixamos de observar, tambm no enquadramento legal sucessor do DL n 522/85 e do artigo 429 do Cdigo Comercial (este ltimo entendido, conforme a Sentena o entendeu, como estabelecendo uma anulabilidade e no uma nulidade), tambm neste enquadramento existem, dizamos, elementos normativos com um sentido idntico aos invocados na Sentena, os quais, por isso, tambm comportam uma construo interpretativa similar quela com a qual nos confronta a deciso da primeira instncia. o que sucede, isto relativamente ao artigo 14 do DL n 522/85[16] (a lei erradamente aplicada na Sentena), com o artigo 22 do DL n 291/2007[17] (a lei correctamente aplicvel situao). E o que sucede, desta feita como sucessor do artigo 429 do Cdigo Comercial, entendido como a Sentena apelada o entendeu (como consagrando uma anulabilidade, v. a nota 21 infra e o texto que para ela remete), com o artigo 25 da LCS[18]. 2.2.1.1. Note-se que a expressa qualificao, no artigo 25, n 1 da LCS, do incumprimento doloso dos deveres associados declarao inicial de risco como indutor da anulabilidade do seguro, consagrou o entendimento que na doutrina e na jurisprudncia eram largamente maioritrios face ao artigo 429 do Cdigo Comercial. Este ltimo, embora se referisse a nulidade do seguro na epgrafe: nulidade do seguro por inexactides e omisses; no texto: [t]oda a declarao inexacta, assim como toda a reticncia de factos ou circunstncias conhecidas pelo segurado ou por quem fez o seguro, e que teriam podido influir sobre a existncia ou condies do contrato tornam o seguro nulo era entendido (o artigo 429 do Cdigo Comercial) como estabelecendo, to-somente, uma causa de anulao do contrato[19]. A aplicao aqui a aplicabilidade do artigo 25 da LCS, resolve a questo da qualificao do desvalor induzido no contrato de seguro pela fraude protagonizada pelos 1 e 2 RR. quanto identidade do condutor habitual. Viciou esta omisso dolosa, com efeito, o contrato e viciou-o num elemento central da avaliao do risco, como acima vimos (item 2.2. supra) , gerando a anulabilidade desse mesmo contrato. 2.2.2. Opera tal incidncia a anulabilidade por omisso dolosa , como resulta do trecho final do n 1 do artigo 25 da LCS mediante declarao enviada pelo segurador ao tomador do seguro[20]. Ora, centrando-nos apenas nas incidncias do caso concreto, no qual o fundamento da anulabilidade ocorreu concomitantemente formao do contrato de seguro (est esse elemento mesmo na gnese do contrato marcando-o indelevelmente), mas s foi descoberto pela seguradora com o sinistro (quando foi confessada pelos indutores do erro no prprio procedimento de regularizao do sinistro), neste quadro de facto, dizamos, a declarao da seguradora ao tomador visando a anulabilidade aparece-nos sob a forma de excepo peremptria[21] invocada na presente aco quando a seguradora intervm em funo da atribuio a ela, pelos RR. originrios, da responsabilidade que a eles era (originariamente e em exclusivo) referida pelo A. Vale esta defesa, pois o que aqui entendemos , com o sentido de declarao ao destinatrio em vista da produo do efeito anulatrio previsto no artigo 25, n 1 da LCS. Esta forma de declarao da seguradora em vista da anulabilidade do contrato de seguro por inexactido dolosa reportada declarao inicial de risco pelo tomador, constitui uma forma habitual e adequada, que j era equacionada no regime do artigo 429 do Cdigo Comercial e do DL n 522/85, e continua a valer inteiramente no regime actual (artigo 25, n 1 da LCS e DL n 291/2007). Esta assero, referida ao regime anterior (especificamente ao artigo 14 do DL n 522/85), afirmada expressamente por Jos Alberto Vieira: [n]a prtica como a invalidade do contrato de seguro ocorre no momento da sua celebrao e no em momento posterior, a seguradora nunca v afectado o seu direito a excepcionar a nulidade (ou a anulabilidade para quem entenda ser esta a invalidade em causa) do contrato de seguro celebrado com falsas declaraes por fora do artigo 14 do DL n 522/85[22]. Assenta este entendimento numa particular caracterizao do sentido do artigo 14 da anterior lei do seguro obrigatrio de responsabilidade civil automvel, entendimento antagnico da leitura deste preceito realizada na deciso aqui recorrida, sendo que entendemos que essa outra caracterizao vale, por total paralelismo das normas e absoluta identidade de razo, para o actual artigo 22 do DL n 291/2007 (v. os textos respectivos nas notas 18 e 19 supra). A este respeito, refere Jos Alberto Vieira:[]Conclumos, afirmando que o artigo 14 do DL n 522/85 admite a oponibilidade da invalidade do contrato de seguro por falsas declaraes do tomador de seguro, mesmo quando se interpreta o artigo 429 do Cdigo Comercial no sentido de consagrar a anulabilidade do contrato de seguro.[]O artigo 14 no coarcta seguradora o direito a defender-se por invocao da invalidade do contrato de seguro ou de qualquer facto extintivo do mesmo. [O] artigo 14 veda unicamente a oponibilidade ao lesado dos fundamentos de extino ou de invalidade do contrato de seguro que sejam posteriores ao sinistro do qual resultou o seu direito de indemnizao e no estabelece que qualquer daqueles fundamentos deva ter sido judicialmente declarado como condio de oponibilidade ao lesado.[][23] (sublinhado acrescentado).

E este mesmo entendimento actualizadamente referenciado por Lus Poas ao artigo 22 do DL n 291/2007, no quadro da anulabilidade estabelecida no artigo 25, n 1 da LCS:[][O] artigo 22 visa apenas impedir a oponibilidade ao lesado das causas de extino posteriores ao sinistro, no requerendo (como requisito de oponibilidade) que as causas anteriores ao sinistro tenham sido judicialmente reconhecidas.[][24].

Mas existem argumentos adicionais que nos levam a acolher este entendimento do artigo 22 do DL n 291/2007. 2.2.2.1. Desde logo, no especial contexto da LCS (que o contexto aqui aplicvel), e significativamente dentro das disposies especiais respeitantes aos seguros obrigatrios, sublinhamos o artigo 147, colocando particular nfase no n 2 deste preceito:Artigo 147Meios de defesa1 O segurador apenas pode opor ao lesado os meios de defesa derivados do contrato de seguro ou de facto do tomador do seguro ou do segurado ocorrido anteriormente ao sinistro.2 Para efeito do nmero anterior, so nomeadamente oponveis ao lesado, como meios de defesa do segurador, a invalidade do contrato, as condies contratuais e a cessao do contrato.

Parecendo-nos clara a referenciao temporal da inexactido dolosa respeitante ao condutor habitual o desvalor com potencialidade anulatria aqui em causa ao acto de formao do contrato e, por isso, como constituindo facto anterior ao sinistro, estamos em crer que o preceito, e em especial o seu n 2, veio ultrapassar, no caso das omisses e inexactides dolosas, questes de oponibilidade geradas anteriormente LCS, concretamente no contexto do artigo 22 do DL n 291/2007[25]. 2.2.2.2. A este elemento interpretativo acrescentaramos, fornecendo igualmente um contexto sistemtico ao referido artigo 22 conforme ao entendimento aqui adoptado quanto questo da oponibilidade da anulao promovida pela seguradora, o teor do artigo 11 da chamada Aplice uniforme do seguro obrigatrio de responsabilidade civil automvel, aprovada pela Norma Regulamentar n 17/2000, de 21 de Dezembro do Instituto de Seguros de Portugal (ISP)[26], em vigor ao tempo da edio do DL n 291/2007 (entretanto substituda, como de seguida veremos, pelas Condies Gerais da Aplice de Seguro Obrigatrio de Responsabilidade Civil Automvel aprovadas pela Norma Regulamentar n 14/2008-R, de 27 de Novembro do ISP). Esta disposio (a da Aplice Uniforme), que de seguida transcreveremos, veio fornecer um especial contexto interpretativo ao artigo 22 do DL n 291/2007[27]:Artigo 11Nulidade do contrato1- Este contrato considera-se nulo e, consequentemente, no produzir quaisquer efeitos em caso de sinistro quando da parte do tomador de seguro ou do segurado tenha havido declaraes inexactas, assim como reticncias de factos ou circunstncias dele conhecidas que teriam podido influir sobre a existncia ou condies do contrato.2 Se as referidas declaraes ou reticncias tiverem sido feitas de m f, a seguradora ter direito ao prmio, sem prejuzo da nulidade do contrato nos termos do nmero anterior.

E o mesmo ocorre, reforando o entendimento aqui adoptado sobre a actuao da anulabilidade do contrato, com o regime sucedneo desta Aplice Uniforme, atravs das j mencionadas Condies Gerais da Aplice de Seguro Obrigatrio de Responsabilidade Civil Automvel aprovadas pela Norma Regulamentar n 14/2008-R, de 27 de Novembro do ISP[28], interessando aqui o teor da clusula 7 (com particular nfase no seu n 3) dessas Condies Gerais[29], enquanto clusula relativamente imperativa actuante nos contratos concretos[30]:Clusula 7Incumprimento doloso do dever de declarao inicial do risco1- Em caso de incumprimento doloso do dever referido no n. 1 da clusula anterior, o contrato anulvel mediante declarao enviada pelo segurador ao tomador do seguro. 2- No tendo ocorrido sinistro, a declarao referida no nmero anterior deve ser enviada no prazo de trs meses a contar do conhecimento daquele incumprimento. 3- O segurador no est obrigado a cobrir o sinistro que ocorra antes de ter tido conhecimento do incumprimento doloso referido no n. 1 ou no decurso do prazo previsto no nmero anterior, seguindo-se o regime geral da anulabilidade. 4- O segurador tem direito ao prmio devido at ao final do prazo referido no n. 2, salvo se tiver concorrido dolo ou negligncia grosseira do segurador ou do seu representante. 5- Em caso de dolo do tomador do seguro ou do segurado com o propsito de obter uma vantagem, o prmio devido at ao termo do contrato.

2.2.2.3. Finalmente, tambm afastando a relevncia de um argumento normalmente convocado em favor do entendimento do artigo 14 do DL n 522/85 (e do artigo 22 do DL n 291/2007) que aqui subjaz Sentena recorrida a defesa dos lesados de demoras no recebimento das indemnizaes[31], a medida de relevante alcance social a que alude a Sentena , no deixaremos de sublinhar que a interveno do Fundo de Garantia Automvel, face aos artigos 47 e ss. do DL n 291/2007, retira sentido teleolgico a este tipo de argumento, sendo que tal interveno garante aos lesados, desde logo, a efectiva adjectivao do respectivo direito indemnizao, livrando-os do estorvo da discusso dos possveis desvalores do contrato de seguro, enquanto incidncia exterior aos lesados, sendo o direito destes acautelado, como aqui sucedeu, pela interveno do Fundo de Garantia Automvel, que, mais tarde e foi tambm o que aqui sucedeu , trava com os directamente envolvidos a discusso sobre as incidncias do contrato de seguro, determinando a quem incumbe restituir ao Fundo o que este pagou entretanto[32]. 2.3. Valem as antecedentes consideraes, no seu conjunto, como afastamento da construo interpretativa que conduziu o Tribunal a quo a considerar inoponvel ao Fundo de Garantia Automvel a anulabilidade do contrato de seguro aqui em causa por declarao dolosa inexacta (falsa), com reconhecida incidncia nas condies do contrato, quanto verdadeira identidade do condutor habitual da viatura -IB, cuja circulao foi objecto do contrato de seguro celebrado entre o 1 R. e a Seguradora 4 R. Entendemos que essa anulao operou relevantemente nesta aco (por declarao da Seguradora consubstanciada na deduo de uma excepo peremptria) e que afastou o dever contratual de indemnizar os lesados (e o Fundo como sub-rogado destes), face culpa na produo do acidente por parte do 2 R. Assim, a obrigao de ressarcir o Fundo pelo que satisfez incumbe, em exclusivo, ao 2 R., como causador de um acidente no coberto por um seguro vlido[33]. Procede, pois, o recurso de apelao, devendo ser absolvida do pedido a Seguradora 3 R., ora Apelante, tal como o 1 R., devendo recair a condenao, tributria da sub-rogao do Fundo de Garantia Automvel, em exclusivo, sobre o 2 R. a este conjunto de incidncias que importa dar seguimento no pronunciamento decisrio a culminar este Acrdo. 2.4. Sumrio elaborado pelo relator:I No quadro legal emergente do Lei do Contrato de Seguro, aprovada pelo Decreto-Lei n 72/2008, de 16 de Abril (LCS), a afirmao do tomador do seguro no preenchimento da proposta de ser ele, como condutor encartado h mais de 20 anos, o condutor habitual da viatura objecto do seguro, escondendo da Seguradora que o verdadeiro condutor habitual (o filho do tomador) havia obtido licena de conduzir poucos meses antes da celebrao do contrato, este comportamento, gera a anulabilidade desse contrato de seguro por inexactido dolosa quanto declarao de risco, nos termos do artigo 25, n 1 da LCS:II Essa incidncia (a falsa declarao quanto ao condutor habitual) refere-se a um elemento muito significativo para a apreciao do risco assumido pela seguradora no contrato, com incidncia na quantificao do prmio;III A referida anulabilidade actua, nos termos do artigo 25, n 1 da LCS, mediante declarao da seguradora ao tomador do seguro, sendo que isso, descobrindo a seguradora a fraude apenas posteriormente ocorrncia do sinistro, actuar, no quadro de um processo judicial instaurado contra essa seguradora, por via de excepo (invocao pela seguradora na contestao da extino do contrato por anulabilidade nesse contexto declarada);IV O disposto no artigo 22 do Decreto-Lei n 291/2007, de 21 de Agosto (Regime do Seguro Obrigatrio de Responsabilidade Civil Automvel) no impede a oponibilidade da referida anulabilidade do contrato pela seguradora aos lesados pelo acidente e, reflexamente, ao Fundo de Garantia Automvel, quando esta entidade exerce a sub-rogao decorrente de ter assumido, perante esses lesados, a responsabilidade indemnizatria emergente do referido acidente.

III Deciso 3. Assim, na procedncia do recurso, revoga-se a Sentena apelada, absolvendo-se o 1 R., C e a 3 R. A...Seguros, S.A., do pedido formulado pelo A., condenando-se o 2 R. M, a satisfazer ao A. Fundo de Garantia Automvel a quantia de 5.745,81, acrescida dos juros de mora que, contados da data de citao do 2 R. (fls. 84), se venceram e venham a vencer at integral pagamento. As custas em ambas as instncias ficam a cargo do 2 R. M (o A., o Fundo de Garantia Automvel, tendo ficado vencido nesta apelao, goza da iseno prevista no artigo 4, n 1, alnea o) do Regulamento das Custas Processuais). Tribunal da Relao de Coimbra, recurso julgado, em audincia, na sesso desta 3 Seco Cvel realizada no dia 03/12/2013

(J. A. Teles Pereira - Relator)(Manuel Capelo)(Jacinto Meca)

[1] Trata-se da data de propositura da presente aco, marcando ela a aplicao presente instncia de recurso do regime processual originariamente decorrente do Decreto-Lei n 303/2007, de 24 de Agosto (v. os respectivos artigos 11, n 1 e 12, n 1). No se aplica aqui, desta feita por estar em causa deciso recorrida (a de fls. 214/225) anterior a 1 de Setembro de 2013, o texto do Novo Cdigo de Processo Civil, aprovado pela Lei n 41/2013, de 26 de Junho (v. os respectivos artigos 7, n 1 e 8, cfr. Antnio Santos Abrantes Geraldes, Recursos no Novo Cdigo de Processo Civil, Coimbra, 2013. p. 15). Assumimos ser discutvel se a regra do artigo 7, n 1 da Lei n 41/2013, a nica disposio do Diploma introdutrio do Novo Cdigo de Processo Civil que se refere instncia de recurso, abrange os recursos referidos a decises anteriores a 01/09/2013 aos quais j se aplicasse o regime do DL n 303/2007 processos instaurados depois de 01/01/2008 , sendo que quanto a estes, em rigor, no h qualquer regime transitrio expressamente definido, pelo que h que entender que, em tais casos, se continuar a aplicar o regime antigo, aqui sinnimo do regime originrio do DL n 303/2007, at porque, se o legislador se preocupou em definir um regime para as aces instauradas antes de 01/01/2008, no tem sentido concluir que um regime idntico tambm vale para as aces propostas depois dessa data, alm de que a tradio dos nossos Diplomas introdutrias de reformas profundas do Processo Civil tratar a instncia de recurso individualizadamente.[2] Nos termos do artigo 54, n 1 do Decreto-Lei n 291/2007, de 21 de Agosto (regime legal do seguro obrigatrio de responsabilidade civil automvel, aqui aplicvel, como adiante explicitaremos neste texto).[3] Transcrevem-se aqui os seguintes trechos da petio inicial:[]1. No dia 12 de Agosto de 2009, pelas 12:10, ocorreu um acidente de viao na E.N. 242, ao Km 49, concelho e comarca de Alcobaa, como atestam a participao de acidente de viao e declarao amigvel de acidente automvel que se juntam e aqui se do por integralmente reproduzidas. (Doc. n. 1 e Doc. n. 2).2. Nele foram intervenientes:a) O veculo -IB, um ligeiro de passageiros que se designar IB;b) O veculo -TJ, um ligeiro de passageiros, adiante designado TJ;c) O veculo -VQ, tambm ligeiro de passageiros, adiante designado VQ;d) O veculo -62, ligeiro de passageiros, adiante designado EF.3. O IB era propriedade do 1 R. e conduzido pelo seu filho, ora 2 R.[]24. Tal como resulta da descrio do acidente, o 2 R. foi o nico culpado pela sua ocorrncia.25. Concluso, alis, apresentada no relatrio de averiguao requisitado pela A SEGUROS, constante no Auto de Ocorrncia como seguradora do IB (Doc. n 3).[]34. Como j se referiu, a A SEGUROS realizou averiguao relativa ao presente acidente de viao,35. Vindo a constatar, nomeadamente pelo depoimento do prprio condutor do IB (seu presumvel segurado), que:36. O condutor habitual da viatura identificada na aplice, no o era efectivamente.37. Em consequncia, declinou a A qualquer responsabilidade na ocorrncia em apreo, no entendimento de que da falsidade das declaraes na contratao do seguro, decorria a sua nulidade. (vide Doc. n 3)38. Violavam assim os RR. o art 133 do Cdigo da Estrada, bem como o preceituado no art 4, n 1 do DL 291/2007, de 21 de Agosto.39. Os proprietrios dos veculos VQ e EF reclamaram junto do Fundo de Garantia Automvel o ressarcimento dos valores que desembolsaram em virtude do acidente,40. J que obtiveram a informao de que o veculo IB no dispunha, data do acidente, de seguro vlido e eficaz.41. Como lhe competia, por aplicao do art 48 e seguintes do citado DL 291/2007.42. O FGA pagou as indemnizaes decorrentes do acidente a que o 2 R. deu causa.[]46. Assim, despendeu o FGA um total de 5.745,81, conforme certido emitida pelo Instituto de Seguros de Portugal, em 26 de Janeiro de 2011. (Doc. n 9).47. Satisfeita a indemnizao, tem o FGA direito ao reembolso do que houver prestado a ttulo de indemnizaes e despesas, nos termos do n 1 do artigo 54 do Decreto-Lei n 291/2007 que, sob a epgrafe Sub-rogao do Fundo, determina que Satisfeita a indemnizao, o Fundo de Garantia Automvel fica sub-rogado nos direitos do lesado, tendo ainda direito ao juro de mora legal e ao reembolso das despesas que houver feito com a instruo e regularizao dos processos de sinistroe de reembolso.48. Assim, tem o A. direito a reaver a citada quantia de 5.745,81.[].[4] Dizem os 1 e 2 RR. na contestao:[]13)O Ru C, proprietrio do veculo -IB, transferiu a sua responsabilidade civil, na qualidade de tomador para a Companhia de Seguros A, S.A., por contrato de seguro titulado pela aplice n. , com incio em 19/05/2009 e vlido at 19/05/20120, conforme Recibo de Prmio, que se junta e d por integralmente reproduzido Doc. n1;14) data do acidente, o veculo -IB era conduzido pelo segundo Ru, M, filho do proprietrio e tomador do seguro.15)Com base nesta informao, a Companhia de Seguros A, veio entretanto, declinar qualquer responsabilidade na ocorrncia em apreo, no entendimento de que da falsidade das declaraes na contratao de seguro, decorria a sua nulidade (vide Doc. n3) Art 37 da P.I.[]18)[N]o qualquer declarao inexacta ou reticente que pode tornar anulvel o contrato de seguro.[]Por conseguinte;20)O facto de ter sido indicado, em contrato de seguro obrigatrio de responsabilidade civil automvel, como proprietrio e como condutor habitual pessoa diversa do segurado e tomador do seguro, no torna o contrato nulo, sendo a seguradora responsvel nos termos e limites do contrato de seguro.[].[5] Refere a Seguradora na contestao:[]1.A ora Contestante confirma que celebrou um Contrato de Seguro Obrigatrio de Responsabilidade Civil Automvel titulado pela aplice n. , com o R. C pelo sobre o veculo automvel com a matrcula -IB, conforme doc. 1 que ora se junta e cujo teor se d por integralmente reproduzido para todos os devidos e legais efeitos,2.Contudo, conforme supra referido, o contrato de seguro tinha como tomador o ora R. C,3.tendo o mesmo declarado aquando do preenchimento da proposta de seguro que era o proprietrio e condutor habitual do veiculo -IB, conforme cpia da proposta de seguro que ora se junta como doc. 2 e cujo teor se d por integralmente reproduzido para todos os devidos e legais efeitos.4.Tal declarao, como se pode ver pela anlise da mesma, foi assinada pelo prprio.5.No entanto aquando da averiguao do presente sinistro o Ru M, condutor do veculo data do acidente e filho do tomador do seguro, declarou que Mais informo que necessito do carro porque sou o condutor habitual desde incio e Abril quando o meu pai comprou o carro para eu fazer as minhas deslocaes dirias, no entanto o carro ficou em nome dele e o seguro porque tenho 19 anos e tinha acabado de tirar a carta e assim ficava mais barato, conforme cpia de declarao que ora se junta como doc. 3 e cujo teor se d por integralmente reproduzido para todos os devidos e legais efeitos.6.Acresce que o 1 Ru, pai do declaratrio 2 Ru, e tomador do seguro, confirmou as declaraes prestadas pelo seu filho, conforme cpia das declaraes que supra se juntaram.8.Pelo exposto, as declaraes prestadas pelo tomador do seguro aquando da sua celebrao foram declaraes falsas ou inexactas em relao propriedade e conduo habitual da coisa segura.9.Em decorrncia estamos perante uma inquestionvel falta de interesse no objecto seguro.10.Em face do disposto no art. 428 n. 1 do Cdigo Comercial, o contrato de seguro nulo se aquele por quem ou em nome de quem outorgado no tiver interesse na coisa segurada.[]16.Acresce a prescrio do art. 429 do Cdigo Comercial que estabelece que Toda a declarao inexacta, assim como toda a reticncia de factos ou de circunstncias conhecidas pelo segurado ou por quem fez o seguro e que poderiam ter infludo nas condies da existncia do contrato tomam o seguro nulo.17.Estabelece ainda o art. 11 da Aplice Uniforme de Seguro Obrigatrio de Responsabilidade Civil Automvel que o contrato de seguro se considera nulo e consequentemente no produzir quaisquer efeitos em caso de sinistro quando da parte do tomador de seguro tenha havido declaraes inexactas assim como reticncias de factos ou circunstncias dele conhecidas e que teriam podido influir sobre a existncia ou condies do contrato.18.Com efeito, tal nulidade justifica-se porquanto se a seguradora, no caso a ora Contestante, tivesse tido conhecimento das circunstncias que aumentam o risco no teria concludo o contrato ou exigiriam outras condies mais onerosas para o Tomador do Seguro.[]23.Nos termos supra expostos, desde j se requer a V. Exa. a declarao da nulidade ab initio do contrato de seguro de responsabilidade civil automvel titulado pela aplice n. ...[].[6] Aqui se transcreve todo o pronunciamento decisrio da aco:[] Absolver o ru C do pedido formulado; Absolver o ru M do pedido formulado; Condenar a r Companhia de Seguros A, SA, no pagamento ao autor Fundo de Garantia Automvel, da quantia de 5.745,81 (cinco mil, setecentos e quarenta e cinco euros e oitenta e um cntimos), acrescida de juros de mora, taxa legal em vigor para as obrigaes civis, contabilizados desde a data de citao da referida r nos presentes autos at efectivo e integral pagamento.[].[7] Em qualquer caso, v. o Acrdo do STJ de 03/06/2011 (Pereira da Silva), proferido no processo n 527/05.8TBVNO.C1.S1, cujo sumrio est disponvel na base do ITIJ, directamente, no seguinte endereo:http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/f9dd7bb05e5140b1802578bf00470473:Sumrio:[][O] que baliza o mbito do recurso, tal sendo, afora as de conhecimento oficioso, as questes levadas s concluses da alegao do recorrente, extradas da respectiva motivao (artigos 684. n. 3 e 690. n. 1 do CPC), defeso o conhecimento de questo no aflorada naquelas, ainda que versada no corpo alegatrio.[].[8] Que estabelece que, [s]atisfeita a indemnizao, o [Fundo] fica sub-rogado nos direitos do lesado [].[9] V. item 2.2.1.1., infra. [10] Tudo em Maio de 2009, sendo que o acidente ocorreu logo como que confirmando o sentido da extrapolao estatstica quanto ao risco acrescido representado por um recm-encartado em 12 de Agosto de 2009.[11] [D]a identificao do condutor habitual depende a anlise do risco segurvel e a aplicao de condies mais ou menos favorveis ao contrato (sobretudo quanto ao prmio). Como a relevncia da questo consabida do pblico em geral, a apetncia por condies mais vantajosas leva, com alguma frequncia, a que seja omitida a identidade do verdadeiro condutor e indicada, para esse efeito, a de outra pessoa. (Lus Poas, O Dever de Declarao Inicial do Risco no Contrato de Seguro, Coimbra, 2013, p. 685).[12] Margarida Lima Rego, Contrato de Seguro e Terceiros, Coimbra, 2010, p. 66.[13] A delimitao do universo de eventos que h-de ser abrangido pela cobertura faz-se, no drafting, segundo uma tcnica consagrada de regras e excepes em nveis sucessivos: afirmaes e negaes, seguidas de negaes parciais destas, e por vezes ainda de negaes parciais destas ltimas.Desta tcnica resulta, no primeiro nvel, uma definio bsica da cobertura de certo conjunto de eventos, chamada definio ou delimitao primria da cobertura; depois um conjunto de excluses, que especificam subconjuntos desse conjunto que no ficam abrangidos pelo contrato, e que formam a delimitao secundria; e muitas vezes preciso ainda especificar subconjuntos destes ltimos subconjuntos, que voltam a ser declarados como parte do mbito da cobertura. Tudo isto porque a linguagem comum no fornece instrumentos para delimitar mais economicamente os eventos cobertos; s pela combinao de mltiplas descries segundo certas relaes lgicas se pode chegar a uma delimitao que satisfaa razoavelmente os fins prticos da contratao (Jos Antnio Veloso, Riscos, Transferncia de Risco, Transferncia de Responsabilidade, in Estudos em Memria do Professor Doutor Jos Dias Marques, Coimbra, 2007, pp. 317/318).[14] Correspondendo essncia do contrato de seguro o assumir (remunerado) de um risco (de um risco que apresenta, fundamentalmente, uma expresso pecuniria), por referncia ocorrncia de um evento futuro e incerto, percebe-se a natureza estratgica, no processo de construo do contrato, dos elementos dos quais depende, em larga medida, a antecipao probabilstica desse risco, enquanto referencial de quantificao da remunerao devida seguradora (do prmio). O seguro, tanto numa acepo jurdica como econmica, traduz uma forma de gesto do risco (risk management), atravs da minimizao das suas consequncias. Opera por transferncia equitativa desse risco (mais propriamente das consequncias patrimoniais desse risco) de uma entidade para outra, sendo que a assuno do risco por esta ltima (a seguradora) tem como contrapartida o recebimento de um prmio, enquanto prestao fixa a cargo do transferente do risco (segurado ou tomador). O seguro expressa, para o segurado ou tomador, uma racionalidade econmica bsica: o assumir de uma pequena e previsvel perda patrimonial (o pagamento do prmio) como forma de fazer face a uma hipottica grande perda (guaranteed and known small loss to prevent a large, possibly devastating loss, v. as entradas Insurance e Risk management na verso inglesa da Wikipedia, respectivamente, nos seguintes endereos: http://en.wikipedia.org/wiki/Insurance e http://en.wikipedia.org/wiki/Risk_management). Para a seguradora, a racionalidade econmica do seguro expressa-se, por um lado, na avaliao do risco, seleccionando o assumir deste em funo da probabilidade de ocorrncia do evento e fixando o montante do prmio com a mesma base ( o processo que, na terminologia anglo-saxnica, se designa por underwriting, v., de novo na Wikipedia, http://en.wikipedia.org/wiki/Underwriting) e, por outro lado, numa poltica de investimento dos recursos obtidos atravs do percebimento dos prmios, como forma de gerar recursos acrescidos, relativamente s satisfaes decorrentes da materializao da utilidade do seguro para o segurado (a concretizao das chamadas claims).A forma de avaliao do risco pela seguradora baseia-se na Cincia Actuarial ([a]ctuarial science is the discipline that applies mathematical and statistical methods to assess risk in the insurance and finance industries, v. http://en.wikipedia.org/wiki/Actuarial_science), sendo que a avaliao probabilstica a que esta fornece uma base de trabalho assenta, fundamentalmente, no ncleo de informaes relevantes para essa operao prestados pelo segurado ou tomador seguradora, associado descrio rigorosa dos contornos do evento concretizador do risco assumido. [15] V. Lus Poas, O Dever de Declarao Inicial, cit., pp. 326/327.[16] Para alm das excluses e anulabilidades que sejam estabelecidas no presente diploma, a seguradora apenas pode opor aos lesados a cessao do contrato nos termos do n 1 do artigo anterior [refere-se alienao do veculo], ou a sua resoluo ou nulidade, nos termos legais e regulamentares em vigor, desde que anteriores data do sinistro.[17] Para alm das excluses e anulabilidades que sejam estabelecidas no presente decreto-lei, a empresa de seguros apenas pode opor aos lesados a cessao do contrato nos termos do n 1 do artigo anterior [tambm se refere alienao do veculo], ou a sua resoluo ou nulidade, nos termos legais e regulamentares em vigor, desde que anteriores data do sinistro.[18] Aqui o transcrevemos antecedido do artigo 24, n 1 para o qual o artigo 25 remete:Artigo 24Declarao inicial do risco1 O tomador do seguro ou o segurado est obrigado, antes da celebrao do contrato, a declarar com exactido todas as circunstncias que conhea e razoavelmente deva ter por significativas para a apreciao do risco pelo segurador.Artigo 25Omisses ou inexactides dolosas1 Em caso de incumprimento doloso do dever referido no n. 1 do artigo anterior, o contrato anulvel mediante declarao enviada pelo segurador ao tomador do seguro.2 No tendo ocorrido sinistro, a declarao referida no nmero anterior deve ser enviada no prazo de trs meses a contar do conhecimento daquele incumprimento.3 O segurador no est obrigado a cobrir o sinistro que ocorra antes de ter tido conhecimento do incumprimento doloso referido no n. 1 ou no decurso do prazo previsto no nmero anterior, seguindo-se o regime geral da anulabilidade.

[19] Compreendia-se que as reticncias do segurado, capazes de falsear totalmente o contrato, devessem ser sancionadas com uma invalidade. Mas no se entenderia porqu um desvio to grande em relao aos regimes do erro e do dolo artigos 252 e 254 do Cdigo Civil que remetem, mesmo nos casos mais graves, para a anulabilidade. Por isso, devia prevalecer a interpretao actualista que, no artigo 429, via uma simples anulabilidade [Antnio Menezes Cordeiro, Direito dos Seguros, Coimbra, 2013, p. 574; v. a anotao de Arnaldo da Costa Oliveira ao artigo 25 da LCS, in Lei do Contrato de Seguro anotada, 2 ed., Coimbra, 2011, pp. 155/157; cfr. Jos Alberto Vieira, O Dever de Informao do Tomador de Seguro em Contrato de Seguro Automvel, in Estudos em Memria do Professor Doutor Antnio Marques dos Santos, Vol. I, Coimbra, 2005, pp. 1007/1008, note-se que este Autor, reconhecendo ser diferente o entendimento maioritrio, entende que o artigo 429 do Cdigo Comercial consagra uma verdadeira nulidade (p. 1013)].Na jurisprudncia, entre muitos exemplos possveis, v. o Acrdo desta Relao de 21/09/2010, proferido pelo ora relator no processo n 337/08.0TBALB.C1, consultado em:http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/3300e48a0bd6b9c8802577b5004d9ce.Sumrio:[]V A consequncia, relativamente ao contrato, da existncia de desvalores no atribuveis seguradora no processo de recolha de informao conducente celebrao do contrato, enquanto elemento induzido pelo prprio beneficirio ou por quem faz o seguro atravs da prestao activa ou omissiva de informaes no conformes realidade, conduz a que o negcio assente, face seguradora, numa base falseada. VI Este desvalor acarreta a anulabilidade do contrato, no regime do Cdigo Comercial, por aplicao, terminologicamente actualizada, do artigo 429 deste Diploma.[].[20] O final do artigo 25/1 aponta a consequncia das reticncias dolosas: o contrato anulvel mediante declarao enviada pelo segurador ao tomador do contrato. Trata-se de uma anulabilidade sui generis, uma vez que ela se distancia, em diversos aspectos, do regime comum.- a anulao opera mediante declarao enviada ao tomador do seguro: pela nossa parte no aderimos, no direito civil, ideia de que a anulao exige uma aco judicial, no que traduziria uma inacreditvel benesse aos prevaricadores; de todo o modo, a expressa indicao de que (s) por uma declarao se provoca o efeito anulatrio uma especialidade (Antnio Menezes Cordeiro, Direito dos Seguros, cit., p. 584).[21] Assim [como excepes peremptrias inominadas] as nulidades ou as anulabilidades dos negcios jurdicos [] (Manuel A. Domingues de Andrade, Noes Elementares de Processo Civil, Coimbra, 1979, p. 137).[22] O Dever de Informao do Tomador de Seguro, cit., p. 1019.[23] O Dever de Informao do Tomador de Seguro, cit., pp. 1018/1019.[24] O Dever de Declarao Inicial, cit., p. 689.[25] Aderimos aqui ao particular entendimento do artigo 147 da LCS propugnado por Lus Poas: O Dever de Declarao Inicial, cit., pp. 696/698.[26] Publicada no Dirio da Repblica II Srie, n 16 de 19 de Janeiro de 2001. [27] Como indica Lus Poas, O Dever de Declarao Inicial, cit., p. 688, nota 2480.[28] V. o texto da Norma Regulamentar e das Condies Gerais no Dirio da Repblica II Srie, n 240, de 12 de Dezembro de 2008 e no stio do Instituto de Seguros de Portugal no seguinte endereo: http://www.isp.pt/winlib/cgi/winlibimg.exe?key=&doc=17713&img=2642. V., quanto aplicao ao contrato aqui em causa, celebrado em Maio de 2009, o artigo 4 da referida Norma:Artigo 4.Aplicao no tempo aos contratos celebrados a partir de 1 de Janeiro de 2009A Parte Uniforme das Condies Gerais da Aplice de Seguro Obrigatrio de Responsabilidade Civil Automvel aplica-se aos contratos celebrados a partir de 1 de Janeiro de 2009, com as condicionantes previstas nos artigos anteriores, devendo a aplice ser entregue aquando da celebrao, nos termos legais.[29] Sobre a actuao destas clusulas nos contratos, v. os comentrios complementares de Arnaldo Costa Oliveira ao artigo 13 da LCS, in Lei do Contrato de Seguro anotada, cit., pp. 70/71. [30] Vale a respeito deste tipo de imperatividade o artigo 2 da Norma Regulamentar n 14/2008-R, sendo que no existiu nas condies deste contrato o estabelecimento de regime divergente mais favorvel ao tomador:Artigo 2Substituio em concreto do previsto na Parte Uniforme1- O previsto nas clusulas preliminar, n. 4, 1. parte, e clusulas 3., n. 4, 9., n 3, 12., 14., 16., 17., n 3, 2. parte, 18., ns 2 e 8, 21., 22., 24., ns 1, 2. parte, e 2, 1. parte, 25., 29., com excepo da 2. parte do n. 2, 30., e 36. , nos termos da lei, absolutamente imperativo, no admitindo conveno em concreto em contrrio. 2- O previsto nas clusulas preliminar, n.os 4, 2. parte, 5 e 6, e clusulas 2., 3., n.os 1 a 3, 4. a 8., 9., n.os 1 e 2, 10., 13., 17., n.os 1, 1. parte, e 3, 1. parte, 18., n.os 1, 2. parte, e 3, 1. parte, 23., 24., n 2, 2. parte, 26. a 28., 29., n. 2, 2. parte, 31., 32., n. 2, 33., 34. e 35., n. 1 , nos termos da lei, relativamente imperativo, admitindo conveno em concreto mais favorvel ao tomador do seguro, segurado ou ao beneficirio da prestao de seguro, sem prejuzo do fixado no n. 4. 3- O previsto, de forma abstracta, nas clusulas 9., n. 3, 16., 17., n. 1, 18., n. 8, 30., e 35., n. 1, substituvel por indicao concreta. 4- Nos contratos relativos a seguros de grandes riscos, o previsto nas clusulas identificadas no n. 2 admite, nos termos legais, conveno em concreto em qualquer sentido, mas sem prejuzo do disposto na lei geral, nomeadamente no regime das clusulas contratuais gerais, e, bem assim, sem que da conveno possa resultar em restrio do mbito da cobertura decorrente do previsto nas clusulas 2. a 5. e 23.. 5- As disposies da Parte Uniforme no identificadas nos n.os 1 e 2 so supletivas.6- Aquando do registo das condies gerais e especiais das aplices no Instituto de Seguros de Portugal, para efeitos de superviso dos seguros obrigatrios, as empresas de seguros identificam as clusulas contratuais diversas das da Parte Uniforme.Sobre a imperatividade relativa nas normas de contratos de seguros, v. Antnio Menezes Cordeiro, Direito dos Seguros, cit. Pp. 462/464.[31] Acrdo do STJ de 18/02/2002 (Moitinho de Almeida), proferido no processo n 02B3891, consultado em:http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/ac0ad956c57d941c80256ce10035e2a6. [32] Neste sentido, referindo-se ainda ao DL 522/85 (mas depois da redaco neste introduzida pelo Decreto-Lei n 130/94, de 19 de Maio), v. Jos Alberto Vieira, O Dever de Informao do Tomador de Seguro, cit., pp. 1019/1022.[33] No ao 1 R., seu pai e testa-de-ferro no seguro, que no conduzia a viatura no momento do acidente nem utilizava o 2 R. como seu comissrio: foi no quadro da conduo habitual do IB pelo 2 R. que se deu, por culpa deste, o acidente, como resulta da matria de facto provada.

Acrdos TREAcrdo do Tribunal da Relao de vora

Processo:130/09.3TBETZ.E1

Relator:FRANCISCO MATOS

Descritores:CONTRATO DE SEGURONULIDADE DO CONTRATO DE SEGURODECLARAO INEXACTA

Data do Acordo:03/22/2012

Votao:UNANIMIDADE

Texto Integral:S

Meio Processual:APELAO

Deciso:REVOGADA A SENTENA

Sumrio:- Constituem motivo de anulabilidade do contrato de seguro as omisses e declaraes inexactas que objectivamente analisadas por um declaratrio normal colocado na posio da seguradora, sejam essenciais para a apreciao do risco por parte desta ou susceptveis de determinar uma diferente deciso sobre a proposta que lhe apresentada.- inexacta a declarao do segurado que, sofrendo de hidrocefalia, nas respostas ao questionrio, prvio a celebrao do contrato de seguro de vida, sobre o estado de sade, responde no pergunta teve ou tem qualquer doena e sim pergunta goza de boa sade.

Deciso Texto Integral:

Proc. n 130/09.3TBETZ.E1Estremoz

Acordam na 1 Seco Cvel do Tribunal da Relao de vora:

Apelante/r: F..., S.A.Apelada/autora: M., por si e em representao de seu filho menor, JC..

1.1. No Tribunal Judicial de Estremoz, intentou M. a presente aco declarativa, com processo ordinrio, contra a apelante visando a condenao desta a pagar, em sua substituio, o capital e juros em dvida nos contratos de mtuo que, em conjunto com o seu falecido marido, contraiu junto da C, as prestaes pagas aps o decesso deste, imposto de selo, comisses e demais despesas.Resumindo, sem prejuzo na essncia, alegou: Haver contrado, em conjunto com o seu marido, dois emprstimos, um no montante de 67.500,00 para compra de um imvel, outro no montante de 12.500,00, ambos a pagar em prestaes mensais.Para garantia do reembolso do capital e juros em caso de morte ou invalidez absoluta e definitiva de qualquer um dos elementos do casal, celebraram com a r dois contratos de seguro vida grupo, cuja beneficiria a C....O seu marido faleceu em 23 de Fevereiro de 2008.A r, no obstante interpelada para o efeito, no cumpriu as obrigaes decorrentes do contrato de seguro e a autora que continua a pagar, as prestaes destinadas a amortizar os emprstimos.A r contestou pugnando pela declarao de nulidade dos contratos de seguro celebrados e em consequncia pela improcedncia da aco.Resumindo, justificou:A causa do bito do falecido marido da autora foi hidrocefalia devida a sequelas de meningite de infncia. A hidrocefalia uma doena grave que tem efeitos notrios no desenvolvimento do corpo e no estado de sade geral do portador da doena ao longo da vida. O falecido no a podia ignorar.Nas propostas de seguro, quer a autora, quer o marido, responderam que gozavam de boa sade. A omisso sobre a patologia hidrocefalia foi determinante para a aceitao do seguro.Toda a declarao inexacta, assim como toda a reticncia de factos ou circunstncias conhecidas pelo segurado ou por quem fez o seguro e que teriam podido influir sobre a existncia ou condies do contrato, como o caso, tornam o seguro nulo.Razo pela qual, considera, a autora no tem o direito a que se arroga.A autora ainda respondeu afirmando que data do preenchimento das propostas de seguro, o falecido marido da autora no tinha sintomas da maleita que lhe causou a morte, nem esta se fez sentir ao longo da sua vida, daqui a inexistncia do apontado erro ou incorreco no preenchimento das propostas. Razo porque no se verifica a nulidade do contrato que a r excepciona.

1.2. Designado dia para a realizao de uma audincia preliminar e no se logrando a conciliao das partes, foi condensado o processo com factos provados e base instrutria[1]. Teve lugar a audincia de discusso e julgamento foi proferido, sem reclamaes, despacho que respondeu matria de facto includa na base instrutria[2] e depois proferida sentena[3] que julgou procedente a aco e condenou a r:a pagar C..., SA em substituio dos AA. o montante em divida nos contratos de mtuo a ttulo de capital e juros e o Imposto de Selo a calcular sobre a totalidade dos juros e comisses que venham a ser exigidos, nos termos do n 17.2 da tabela Geral do Imposto de Selo.Condeno ainda a R a pagar aos AA. todas as importncias j dispendidas e a dispender, em resultado do incumprimento dos contratos de seguro j identificados, nomeadamente todas as prestaes pagas desde a morte do JA., bem como todas as despesas realizadas e a realizar estas a liquidar em execuo de sentena.Custas pela R.[4]

1.3. desta deciso que a r, inconformada, interps o presente recurso, exarando as seguintes concluses que se transcrevem:1) A causa da morte da pessoa seguia foi "Hidrocefalia", "Sequelas de meningite na infncia" e "Hipertrofia do corao"; 2) Nos boletins de adeso ou propostas de seguros, perguntava-se quais eram os antecedentes pessoais das pessoas a segurar; e 3) A todas as perguntas foram dadas respostas negativas sobre as doenas a referidas, excepo da doena dos olhos, sobre a qual o falecido respondeu afirmativamente; 4) Sobre se gozariam de boa sade, responderam "Sim", quando podiam e deviam dizer a verdade, contando que j tivera hidrocefalia e outras patologias.5) As mesmas propostas tm impressa uma declarao, segundo a qual respondiam com verdade e completamente a todas as perguntas, conscientes de que quaisquer declaraes incompletas, inexactas ou omissas, que pudessem induzir a seguradora em erro, tomavam este contrato nulo e de nenhum efeito, qualquer que fosse a data em que a seguradora tomasse delas conhecimento;6) E ainda outra declarao, segundo a qual tomaram conhecimento que estava excluda qualquer incapacidade fsica pr-existente: Por isso no podiam ignorar a importncia das suas declaraes.7) O medico assistente do falecido, Dr. JL., emitiu um relatrio segundo o qual diz que conhecia o doente, era seu mdico desde 29 de Outubro de 1999; E que os diagnsticos principais eram a hidrocefalia aos trs meses de idade; baixa acuidade visual e obesidade; 8) Em 19/9/2005 enviou-o pala reavaliao em consulta de neurologia no Hospital de Santa Maria e voltou a consulta-lo em Janeiro e Fevereiro de 2008; 9) Caso a R tivesse conhecimento de que o falecido tinha tido hidrocefalia em beb, tinha pedido mais exames complementares antes de aceitar ou no a proposta de seguro, o que era determinante para avaliao do risco e clculo do premio do seguro.10) A R apenas soube a situao clnica do segurado atravs da certido de bito na qual o Dr P., mdico legista, que declarou que a causa da morte foi a) Hidrocefalia; b) sequelas de meningite na infncia; c) hipertrofia do corao, factos que eram do desconhecimento da seguradora. 11) So patologias crnicas e persistentes que o segurado no podia ignorar. 12) A douta sentena exprime, desde logo, uma ntida contradio entre os seus fundamentos e a deciso. Dizendo, nomeadamente, que a referida declarao inexacta ou reticente deve respeitar a factos ou circunstncias conhecidas do candidato a segurado ou tomador do seguro tais, que se fossem conhecidas da seguradora, a levariam a recusa de contratar ou a contratar em distintas condies, conforme resulta do nico do normativo em analise, a lei no exige que o candidato a segurado ou o tomador do contrato de seguro tenha agido com dolo, mas pressupe que conhea, aquando da subscrio da proposta contratual, dos factos e circunstncias a que a lei se reporta, o que verdade. 13) Mas concluiu que no est provado que o falecido tenha produzido no inqurito declarao falsa ou reticente sobre factos ou circunstncias suas conhecidas influentes sobre a existncia ou as condies do contrato de seguro, quando, est provado o contrrio de tudo isto. O segurado falecido declarou que no tinha defeito fsico, no teve nem tinha qualquer doena, o que era falso. E foi determinante para a aceitao do seguro nas condies em que foi aceite.14) Salvo o devido respeito, entendemos que a douta sentena de que se recorre nula nos termos do art 668 n1 c) do C.P.C. e violou flagrantemente o art 427 do C Comercial, em conjugao com as condies gerais da aplice, e art 429 do mesmo cdigo, em vigor na data da celebrao do contrato de seguro. Termos em que deve ser anulada a sentena recorrida e substituda por outra que absolva a R do pedido.[5] A recorrida no respondeu.O recurso foi admitido como de apelao.Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir.

2. Objecto do recurso.O objecto dos recursos delimitado pelas concluses das alegaes de recurso, como resulta do disposto nos arts. 684, n3 e 685-A, n1, ambos do Cdigo de Processo Civil (doravante CPC).Vistas estas, importa decidir se:- a sentena recorrida nula por oposio entre os fundamentos e a deciso;- invlido o contrato de seguro.

3. Fundamentao.3.1 Factos.A deciso recorrida considerou provados os seguintes factos:1) Por escritura pblica outorgada em 08/94/2005, no cartrio Notarial de Estremoz, a ora A. e seu marido, JA., compraram o prdio urbano destinado habitao prpria, inscrito na matriz da freguesia e concelho de Sousel sob o art. ; 2) Para a compra do indicado imvel, a ora Autora e o marido celebraram com a C..., S.A., um acordo denominado contrato de mtuo, atravs do qual esta entidade bancria, concedeu-lhes um emprstimo no montante de 67.500,OO; 3) Emprstimo que deveria ser pago em prestaes mensais, pelo prazo de vinte anos; 4) Por escritura pblica outorgada em 02/02/2006, no Cartrio Notarial de , em Estremoz, a ora Autora e o marido celebraram com a mesma C..., S.A., um acordo denominado contrato de mtuo com hipoteca, atravs do qual esta entidade lhe concedeu um emprstimo da quantia de 12.500,00; 5) Emprstimo que devia ser amortizado em prestaes mensais, no prazo de quinze anos; 6) Para concesso desses montantes, alm da hipoteca sobre o imvel supra descrito, a C... exigiu ora Autora e marido a celebrao de um acordo denominado contrato de seguro de vida por ambos, que garantisse o reembolso do capital mutuado e juros, em caso de morte ou invalidez absoluta e definitiva de qualquer um dos elementos do casal; 7) Por propostas de 04/02/2005 e 19/12/2005, a ora autora e marido celebraram com a F...S.A. dois acordos denominados contratos de seguro "vida grupo", titulados pelas aplices n.s 110 500 1500 e 110 500 1152 sujeitos s condies constantes de fls. 67 a 82, cujo teor damos aqui por integralmente reproduzido; 8) Contratos que tiveram o seu incio, respectivamente, em 08/04/2005 e 02/02/2006; 9) Nos quais figura como beneficiria a C...; 10) Contratos que garantem o "pagamento do capital mximo em divida em cada anuidade", em caso de morte at ao 75 anos, ou invalidez permanente por doena ou acidente, at aos 65 anos; 11) Com "excluso da invalidez resultante da miopia e suas consequncias";12) JA. morreu em 23 de Fevereiro de 2008; 13) Como causas da morte foram indicadas: "Hidrocefalia", "Sequelas de meningite na infncia" e "Hipertrofia do corao"; 14) Apesar de solicitado o pagamento do capital em dvida, a ora R no pagou; 15) A data da morte, JA. era casado com a ora Autora, tendo ambos contrado matrimnio em 10 de Abril de 2001; 16) Do seu casamento nasceu o representado da ora Autora, JC., em 13 de Janeiro de 2000; 17) Nos boletins de adeso ou propostas de seguros, de fls. 30, 32, 33 a 38, cujo teor se d aqui por reproduzido, perguntava-se quais eram os antecedentes pessoais das pessoas a segurar;18) A todas as perguntas foram dadas respostas negativas sobre as doenas a referidas, a excepo da doena dos olhos, sobre a qual o falecido respondeu afirmativamente; 19) Sobre se gozariam de boa sade, responderam "Sim"; 20) As mesmas propostas tm impressa uma declarao, segundo a qual respondiam com verdade e completamente a todas as perguntas, conscientes de que quaisquer declaraes incompletas, inexactas ou omissas, que pudessem induzir a seguradora em erro, tornavam este contrato nulo e de nenhum efeito, qualquer que fosse a data em que a seguradora tomasse delas conhecimento; 21) E ainda outra declarao, segundo a qual tomaram conhecimento que estava excluda qualquer incapacidade fsica pr-existente; 22) O mdico assistente do falecido, Dr. JL., emitiu um relatrio segundo o qual diz que conhecia o doente, era seu mdico desde 29 de Outubro de 1999; 23) E que os diagnsticos principais eram a hidrocefalia aos trs meses de idade; baixa acuidade visual e obesidade; 24) Em 19/9/2005 enviou-o para reavaliao em consulta de neurologia no Hospital de Santa Maria e voltou a consult-lo em Janeiro e Fevereiro de 2008; 25) Por conta do emprstimo supra mencionado (Al. B)) e a que foi atribudo o n. 0795.006647.085-0019, desde a morte do JA., os ora AA despenderam at esta data a quantia de 4.079,40 (2.301,26 de capital e 1.763,84 de juros e 14,30 de despesas).26) Por conta do emprstimo supra mencionado (A1. D)), ao qual foi atribudo o n. 0795.006647.085.0027, desde a morte de JA., os AA despenderam a quantia de 1,031,68 (312,65 a ttulo de amortizao de capital, 677,56 de juros e 41,47 de despesas).27) Caso a R tivesse conhecimento de que o falecido tinha tido hidrocefalia em beb, tinha pedido mais exames complementares antes de aceitar ou no a proposta de seguro.

3.2. Do direito.3.2.1. Nulidade da sentena. 1- nula a sentena quando: c) Os fundamentos estejam em oposio com a deciso;A sentena comporta, em regra, um silogismo judicirio em que a premissa maior a lei, a premissa menor so os factos que se provam no caso concreto e a concluso a deciso. Num silogismo, as premissas so os juzos que precedem a concluso e dos quais ela decorre como consequente necessrio dos antecedentes, dos quais se infere a consequncia. No silogismo judicirio as premissas, ou juzos, so os fundamentos e a concluso a deciso propriamente dita. Devendo esta inferir-se daqueles como seu consequente necessrio; a lei considera nula a sentena que no observe este mtodo dedutivo.Por regra, as coisas no so to lineares. A sentena no comporta um, mas vrios silogismos judicirios, cujas concluses funcionam como premissas de outras concluses que se interligam at deciso final. Seja como for, dever ser sempre lgica a relao entre os fundamentos e a deciso, no sentido de que esta s formalmente vlida quando racionalmente decorra daqueles.A oposio surge quando os fundamentos invocados pelo juiz conduziriam logicamente, no ao resultado expresso na deciso, mas a resultado oposto.[6]Se os fundamentos so exguos para suportar a deciso, o erro no de construo da sentena mas de julgamento. A inidoneidade dos fundamentos para conduzir deciso traduz um erro de julgamento, mas no motivo de nulidade.[7] A recorrente encontra este vcio oposio entre os fundamentos e a deciso - na sentena, se bem interpretamos o seu pensamento, na parte em que a mesma afirma que a declarao inexacta ou reticente deve respeitar a factos ou circunstncias conhecidas do candidato a segurado ou tomador do seguro tais, que se fossem conhecidas da seguradora, a levariam a recusa de contratar ou a contratar em distintas condies mas concluiu que no est provado que o falecido tenha produzido no inqurito declarao falsa ou reticente sobre factos ou circunstncias suas conhecidas influentes sobre a existncia ou as condies do contrato de seguro, quando, est provado o contrrio de tudo isto.Analisando esta arguio luz do que ficou dito, j se v que no ocorre a apontada nulidade da sentena. E no ocorre porque o erro que se aponta no traduz um vcio no raciocnio dedutivo da sentena o que poderia ocorrer caso se considerasse provado que o falecido tinha produzido declarao falsa ou reticente e ainda assim se houvesse decidido como se decidiu. O erro que a recorrente aponta consiste em se haver concludo que no est provado que o falecido tenha produzido no inqurito declarao falsa ou reticente sobre factos ou circunstncias suas conhecidas quando, est provado o contrrio de tudo isto, ora, este, a existir, no se reporta a uma qualquer oposio intrnseca entre os fundamentos e a deciso, mas sim a um erro de formulao erro de julgamento da premissa (fundamento de facto) em que a deciso se fundou.Tal erro, a existir e a seu tempo ver-se- se existe, traduz um erro de julgamento na valorao da matria de facto e no uma oposio entre os fundamentos sentena e a deciso, razo pela qual no constitui causa de nulidade da sentena.

3.2.2. Invalidade do contrato de seguro.No se questiona a qualificao do contrato exibido nos autos, como um contrato de seguro de vida, tendo como segurado o falecido marido da autora, como segurador a r e como beneficiria a C.... Contrato atravs do qual a seguradora assumiu a obrigao, mediante a retribuio a pagar pelo falecido segurado, de satisfazer o pagamento do capital em dvida, mutuante Caixa, em caso de morte ou invalidez total e permanente, por doena ou acidente.Tambm se aceita a aplicabilidade do regime previsto no art. 429 C. Comercial, onde se estabelece que:Toda a declarao inexacta, assim como toda a reticncia de factos ou circunstncias conhecidas pelo segurado ou por quem fez o seguro, e que teriam podido influir sobre a existncia ou condies do contrato tornam o seguro nulo. nico. Se da parte de quem fez as declaraes tiver havido m-f o segurador ter direito ao prmio. Como se j escreveu no Ac. STJ de 8/6/2010[8]: A declarao inexacta a afirmao errnea, que tanto pode ser dolosa (de m f) como involuntria (negligente); a declarao reticente traduz-se na omisso de factos ou circunstncias que importam para a avaliao do risco, e que devem ser do conhecimento do segurado. Sobre o segurado recai, pois, o dever de declarao do risco, pois, se no completar a declarao tendo conhecimento de factos ou circunstncias que teriam podido influir sobre a existncia ou condies do contrato, perde o direito prestao do segurador.[9]Qual bonus pater familiae observando as regras da boa f, incumbe ao segurado a obrigao de declarar o que deve conhecer, em termos de normalidade de vida e seja relevante para a apreciao do risco pelo segurador.No caso, as declaraes do segurado constam de um questionrio e foi o preenchimento e subscrio deste que constituram a declarao negocial em que a seguradora assentou contratar e fixou as respectivas condies. Foi atravs do questionrio que a seguradora fez saber ao segurado as circunstncias concretas em que se baseou para assumir o risco.[10] Questionrio, que no dizer do Ac. do STJ de 6/7/11[11], citando Moitinho de Almeida consiste numa facilitao concedida pelo segurador ao segurado, assente na probidade das informaes e na boa f deste ltimo, com vista a evitar um complexo de averiguaes e exames, no devendo redundar em prejuzo daquele. Questionrio donde consta subscrita - pelo segurado - a advertncia expressa que respondia com verdade e completamente a todas as perguntas, consciente de que quaisquer declaraes incompletas, inexactas ou omissas, que pudessem induzir a seguradora em erro, tornavam (o) contrato nulo e de nenhum efeito, qualquer que fosse a data em que a seguradora tomasse delas conhecimento.[12] Declarao genrica que os factos, em concreto demonstrados, no comprovam e, estamos em crer, infirmam.As informaes nosolgicas do falecido surgiram nos autos, por via do seu mdico assistente, com os diagnsticos principais de hidrocefalia aos trs meses de idade, baixa acuidade visual e obesidade, que o consultou em 19/9/2005, data em que o enviou para reavaliao em consulta de neurologia no Hospital de Santa Maria, voltando-o a consultar em Janeiro e Fevereiro de 2008.[13] Hidrocefalia devida ou consecutiva a sequelas de meningite na infncia que, no dia 23/2/2008, lhe viria a causar a morte[14].Nestas circunstncias tm de haver-se por inexactas afirmaes errneas a respostas do segurado assinaladas na quadrcula no pergunta do questionrio teve ou tem qualquer doena? e a assinalada na quadrcula sim pergunta goza de boa sade?; o que emerge com suficiente evidncia porquanto data da declarao - 19/12/2005 fazia exactamente trs meses que o seu mdico assistente o havia enviado para uma consulta de reavaliao na especialidade de neurologia.[15] Na terminologia mdica, como na linguagem comum, s reavaliado quem j foi avaliado. Se foi remetido, pelo seu mdico assistente, para uma consulta de reavaliao, na especialidade de neurologia com o diagnstico de hidrocefalia, trs meses antes de preencher o questionrio, denominado declarao do estado de sade, no se pode validamente sustentar, salvo melhor opinio, que no conhecia - no sabia que tinha alguma doena primeiro, j se disse, porque a consulta de reavaliao pressupe que a doena j havia sido avaliada/diagnosticada, ou seja, j era conhecida quer do mdico assistente, quer do falecido segurado; depois porque a hidrocefalia pode determinar como determinou - a morte e, como tal, s pode ser havida como uma doena e uma doena grave que o segurado, luz das regras da experincia e da normalidade da vida, no s no ignorava, como constituiria para si e para a autora, legitimamente, motivo de sria preocupao[16]. Ao marido da autora bem como a esta - era exigvel responder ao questionrio sem omisses, com rigor e objectividade, na considerao que as respostas iriam servir de base como serviram - apreciao da aceitao e condies do contrato de seguro condicionando, desde logo, a dispensa ou a realizao de exames mdicos, uma vez que a r os no exigiu em virtude do teor das referidas respostas. Porque inexactas relevam para efeitos de anulabilidade do contrato de seguro, desde que susceptveis de influir sobre a vontade de contratar ou sobre as condies do contrato. Afirmou-se, e bem, na sentena recorrida, no exactamente com as mesmas palavras, que no qualquer declarao inexacta ou reticente que possibilita a anulao do seguro, tem de se tratar de declaraes inexactas ou reticentes quanto a factos ou circunstncias conhecidas pelo segurado ou por quem fez o seguro e que teriam podido influir sobre a existncia ou as condies do contrato. o caso. Demonstrando a r, como demonstrou, que caso tivesse conhecimento de que o falecido tinha tido hidrocefalia em beb, tinha pedido mais exames complementares antes de aceitar ou no a proposta de seguro[17], estamos perante uma declarao inexacta que teria podido influir sobre a prpria existncia do contrato pois tudo dependeria, como se v, do resultado dos exames.Preenchidos, pois, se mostram os pressupostos da anulabilidade do contrato do contrato de seguro o que determina a improcedncia dos pedidos formulados pela autora.Reconhecendo-se razo recorrente, importa revogar a deciso recorrida.

Em sntese:- Constituem motivo de anulabilidade do contrato de seguro as omisses e declaraes inexactas que objectivamente analisadas por um declaratrio normal colocado na posio da seguradora, sejam essenciais para a apreciao do risco por parte desta ou susceptveis de determinar uma diferente deciso sobre a proposta que lhe apresentada.- inexacta a declarao do segurado que, sofrendo de hidrocefalia, nas respostas ao questionrio, prvio a celebrao do contrato de seguro de vida, sobre o estado de sade, responde no pergunta teve ou tem qualquer doena e sim pergunta goza de boa sade.

4. Deciso:Pelo exposto, julga-se procedente a apelao e consequentemente revoga-se a deciso recorrida e absolve-se a r do pedido.Custas, em ambas as instncias, a cargo da autora/apelada.vora, 22/3/2012Francisco Matos

Jos Antnio Penetra Lcio

Maria Alexandra Afonso de Moura Santos

__________________________________________________[1] Cfr. fls. 91 a 97.[2] Cfr. fls. 107 e 108.[3] Cfr. fls. 114 a 127.[4] Transcrio de fls. 126 e 127.[5] Trnscrio de fls. 139 a 141.[6] A. Reis, Cdigo de Processo Civil, anotado, pg. 141. [7] Cfr. Ac. STJ de 28/2/69, BMJ, 184, pg 253.[8] Proc. n 90/2002.G1.S1, in www.dgsi.pt[9] Moutinho de Almeida in O Contrato de Seguro, pgina 65.[10] Cfr. Ac. STJ de 17/10/06, Proc. 06A2852, in www. dgsi.pt[11] Proc. n 2617/03.2TBAVR.C1.S1.[12] Cfr. nmero 20 dos factos provados. [13] Cfr. nmeros 22 a 24 da matria de facto.[14] Cfr. nmero 13 da matria de facto provada e certificado de bito junto aos autos a fls. 46. [15] Cfr. nmero 17 da matria de facto, na parte em que d por reproduzido o documento de fls. 36. [16] Note-se, alis, que o segurado, com 48 anos data da morte j se encontrava reformado cfr. a referida certido de bito a fls. 46. [17] Cfr. nmero 27 dos factos provados.

Acrdos TREAcrdo do Tribunal da Relao de vora

Processo:973/07.2TBPTG.E1

Relator:BERNARDO DOMINGOS

Descritores:DECLARAES INEXACTASNULIDADE DO CONTRATO DE SEGURO

Data do Acordo:06/18/2009

Votao:UNANIMIDADE

Texto Integral:S

Meio Processual:APELAO

Deciso:CONFIRMADA A SENTENA

Sumrio:I - A minuta de seguro, preenchida e assinada pelo proponente, no dispensa, de todo, a aprovao ou aceitao da seguradora, sob pena de aquela proposta no equivaler respectiva aplice, apenas se considerando celebrado o contrato de seguro quando, decorrido o prazo legalmente previsto, aps a recepo da minuta, a seguradora no proceda notificao do proponente, comunicando-lhe a sua aceitao, recusa ou necessidade de recolher esclarecimentos essenciais avaliao do risco.II Qualquer seguradora tem ou devia ter, como declaratrio e contratante medianamente zeloso e diligente que se espera que seja, conhecimento da circunstncia inexactamente declarada sobre a propriedade de um veculo (no se concebe que uma seguradora contrate um seguro com algum sem lhe pedir a documentao identificadora do tomador de seguro, do proprietrio do veculo e do seu condutor habitual, se forem diferentes daquele e do prprio veculo seguro). Se no o faz e alm disso aceita uma proposta de seguro que est assinada por pessoa diferente da que est identificada como sendo o tomador do seguro (inexactido notria e evidente, um olhar medianamente atento) no pode com sucesso vir alegar erro ou engano para obter a anulao da aplice.III - As declaraes inexactas, sero irrelevantes e de forma alguma podem constituir causa de nulidade do contrato de seguro, se tais inexactides, forem facilmente perceptveis a um declaratrio normal, posto na posio do declaratrio real, que por desleixo ou incria sua as no detecta e corrige.

Deciso Texto Integral:Acordam os Juzes da Seco Cvel do Tribunal da Relao de vora:

Proc. N. 973/07.2TBPTG.E1Apelao2 SecoTribunal Judicial da Comarca de Portalegre -1 Juzo.

Recorrente: COMPANHIA DE SEGUROS........, S.ARecorrido: JLIO MANUEL .................... e PEDRO MIGUEL........................................,*

COMPANHIA DE SEGUROS ................... S.A., com sede na Rua............, em Lisboa, intentou contra JLIO MANUEL ...................., com domiclio no Mercado Municipal, ..........., e PEDRO MIGUEL........................................, residente na Rua Frei Amadora Arrais, n. 22, em Portalegre, a presente aco declarativa de condenao, sob a forma sumria, pedindo que os Rus sejam solidariamente condenados a pagar-lhe a quantia de 5.772,58, acrescida de juros de mora vencidos a partir da citao daqueles ou, subsidiariamente, s o co-ru Pedro.....................Alegou, em sntese, que, por fora do contrato de seguro referente viatura com a matrcula 36-01-.................... que celebrou com o 1. Ru, procedeu regularizao do sinistro ocorrido em 14.03.04, em que o referido veculo conduzido pelo 2. co-ru se despistou, tendo pago a verba de 5.485,81 com a reparao e peritagem; - que com a averiguao de um segundo sinistro ocorrido em 04.01.05, em que o mesmo veculo, tambm conduzido pelo co-ru Pedro...................., se despistou, despendeu a verba de 286,77; - que o contrato de seguro foi efectuado em nome do 1. co-ru com o intuito de o 2. co-ru, proprietrio do veculo em causa, com menos de 25 anos e carta h menos de 2 anos data em que aquele foi celebrado, poder beneficiar de um prmio menor; - que ao subscrever a aplice de seguro, o 1. co-ru teve por finalidade prejudicar a Autora e beneficiar o 2. co-ru, tendo com as declaraes ine....................ctas que conscientemente prestou obtido da Autora o pagamento dos dois sinistros; - que por esse motivo o contrato de seguro nulo pois caso tivesse sido declarado pelo co-ru Jlio.................... que era o co-ru Pedro.................... o proprietrio do veculo segurado e o seu condutor habitual, a Autora nunca aceitaria celebrar o contrato; - que tem direito repetio do indevidamente prestado porque efectuou as referidas prestaes em benefcio do 2. co-ru com a finalidade de cumprir uma obrigao que afinal no existia, tendo-se este ltimo enriquecido sem causa justificativa.Regularmente citados, os Rus apresentaram-se a contestar, invocando, desde logo, que, pese embora a propriedade do veculo ser do 2. co-ru, por lhe ter sido dado pelo 1. co-ru no incio do ano de 2004, ambos o utilizavam nas suas deslocaes, este durante o dia enquanto o 2. co-ru se encontrava a trabalhar no seu estabelecimento comercial e aquele para as aulas em horrio ps-laboral e depois das aulas para a sua residncia. Mais invocaram que, por sugesto do mediador de seguros, o 1. co-ru contratou o seguro na qualidade de tomador doseguro e segurado, pagando inclusivamente o prmio de seguro; que a Autora teve pleno conhecimento de tais factos em momento prvio aceitao da proposta de seguro porquanto foram entregues ao mediador os documentos do veculo e os documentos de identificao do 1. co-ru, agindo assim em abuso de direito, prevalecendo-se abusivamente de factos que bem conhecia aquando da outorga do contrato; que ao no assumir a reparao do veculo por virtude do 2. sinistro ocorrido, levou o 1. co-ru a pagar tal reparao apenas um ano aps, tendo tal atraso causado srios danos fsicos e psicolgicos para o 2. co-ru, concretamentecansao fsico com as deslocaes dirias em transportes pblicos e insucesso nos estudos.Concluram pela improcedncia da aco, pedindo a condenao da Autora como litigante de m f no pagamento de multa de valor no inferior a 1.500,00 e indemnizao aos Rus no montante de 1.000,00 e, em sede de reconveno, a condenao da Autora no pagamento de 5.500,00, acrescidos de juros, a ttulo de indemnizao ao 1. co-ru pelos prejuzos causados pelo incumprimento do contrato de seguro e no pagamento do montante de 1.200,00 a ttulo de indemnizao ao 2. co-ru pelos danos que lhe causou o mesmo incumprimento.Foi proferido o despacho saneador de fls. 106 e ss., organizando-se a matria de facto assente e a base instrutria em moldes que no suscitaram reclamaes das partes em litgio.Procedeu-se audincia e discusso do julgamento e fixada a matria de facto, foi proferida sentena onde se decidiu julgar totalmente improcedente o pedido da Autora e parcialmente procedente os pedidos formulados pelos Rus....*Inconformada veio a A. interpor recurso de apelao, tendo rematado as suas alegaes com as seguintes concluses: A. Tendo em conta os factos provados, verificou-se que: A A. celebrou com o R. Jlio Manuel .................... um contrato de seguro automvel. "Na declarao de sinistro efectuada pelo Ru Pedro...................., em 26.01.05, este declarou que, embora o referido veculo esteja em seu nome, foi aconselhado pelo mediador de seguros da Autora a celebrar o contrato referido em 1. dos factos provados em nome do seu pai." "Os Rus celebraram o contrato referido em 1. dos factos provados em nome do co-ru Jlio.................... para assim poderem beneficiar de um prmio menor." "Caso a Autora soubesse que o Ru Pedro.................... era o condutor habitual do veculo no teria aceite efectuar o contrato referido em 1. dos factos provados." " noite, aps as aulas, dependia de familiares, amigos e colegas para o levarem a casa." "A residncia do Ru Pedro.................... distava, na altura, vrios quilmetros da cidade onde trabalhava e estudava." O Ru Pedro.................... sofreu um cansao fsico acrescido, resultante da necessidade de se deslocar diariamente de transportes pblicos." "E sofreu cansao psicolgico em virtude de ter perdido a sua mobilidade." "Foi prejudicado nos seus estudos." B. Foi a declarao do co- Ru Pedro.................... mais os dois acidentes participados em que ele era o condutor que despoletou esta lide. C. o prprio co-ru Pedro.................... a participar declaradamente esta falta para assim poder beneficiar de um prmio mais barato. D. verdade que ele afirma que foi aconselhado pelo "mediador", contudo, a testemunha em causa Domingos Adelino Galguinho Renga nega permptrimente tal facto ao responder "no" (gravao Cd titulo 14.20081028 de 8,00 minutos a 12,00 minutos). E. verdade que declarado na proposta que o condutor habitual o co-ru Jlio e no podia ser outra declarao, dado que o co-ru Pedro no tinha licena de conduo. F. Contudo, a partir do momento em que o co-ru Pedro adquiriu a licena de conduo (26.02.04) deveria proceder alterao do contrato de aplice, pois, ele o prprio a saber que continuando o pai como condutor, ele seria beneficiado por um seguro de responsabilidade e danos prprios mais barato. Alis ele afirma expressamente esse facto na declarao que subscreveu. G. O contrato de aplice no um negcio hermtico que no se altera face modificao das circunstncias que levaram sua criao, e, salvo o devido respeito, parece ser essa a posio da sentena recorrida. H. Com o decorrer do tempo as circunstncias iniciais alteraram-se e o co-R. Pedro adquiriu a licena de conduo e iniciou a conduo do veculo que era da sua propriedade ---, pelo que deveria avisar esta alterao A.. I. Mas como ele afirmou, ele sabia que se o fizesse o prmio do seguro seria aumentado. J. Por outro lado, as testemunhas dos RR. vieram dizer sobre a utilizao do carro o seguinte: --- Ludovina Maria Lourinho.................... disse que o co-ru Pedro (seu filho) usava o veculo "para ir e vir para o trabalho ... para a escola" e a casa "a 7 ou 8 km de" Portalegre (gravao Cd titulo 08.20081028 de 8,00 minutos a 15,40 minutos); --- Ricardo Miguel Carita Batista disse que o co-ru Jlio (seu afilhado) tinha outro carro "sim, tem outro carro". L. Ficou provado que era o co-ru. Jlio que utilizava durante o dia o veculo, que o utilizava frequentemente, mas curioso que o nico R. a pedir uma indemnizao pela paralisao e transtornos pela perda do carro o co-ru. Pedro, bem como os factos constantes da sentena sob os n.s 24 a 28. M. Ora, no restam dvidas que o co-ru Pedro era o condutor habitual da viatura, tanto mais que unicamente ele a sofrer com a sua perda. N. E, estando provado que "Caso a Autora soubesse que o Ru Pedro.................... era o condutor habitual do veculo no teria aceite efectuar o contrato referido em 1. dos factos provados.", tem de se concluir pela nulidade do contrato de seguro em apreo, nos termos do Art 429 do Cd. Comercial. O. E, os factos comprovam: o co-ru obteve a licena de conduo em 26.02.04, logo em 14.03.04, passados 16 dias, fez estragos de 5.535,69 ; e em 04.01.05 teve outro acidente, cujos danos alega serem de 5.500,00 !; pelo que existem razes plausveis para a A. no aceitar este tipo de contratos. P. Quanto reconveno o Tribunal "a quo" d como provado que "o valor da reparao do veiculo foi de 5.500,00 ", mas a prova produzida no foi suficiente. Q. Com efeito, a testemunha Ludovina Maria Lourinho.................... disse sem convico "mais de cinco mil euros" (gravao Cd titulo 08.20081028 de 8,00 minutos a 15,40 minutos); e, a testemunha Alice Isabel Rodrigues Galhardo disse "perto dos 6.000,00 " (gravao Cd titulo 12.20081028 de 0,00 minutos a 4,00 minutos). R. Ora, no podem ficar provados esses danos em concreto, mas to s se provaram danos. S. Quanto aos juros, os mesmos s podem ser contados desde a notificao da reconveno, como manda a Jurisprudncia maioritria. T. Deste modo, foram, assim, violados, por manifesto erro de interpretao e aplicao os Art 429 do Cd.Comercial, 349 e 351 do Cd. Civil e Arts 659, n 3 e 668, n 1, ais. b), c) e d) do cd. Proc. Civil.*Contra-alegaram os recorridos pedindo a improcedncia do recurso.***Na perspectiva da delimitao pelo recorrente [1] , os recursos tm como mbito as questes suscitadas pelos recorrentes nas concluses das alegaes (art.s 690 e 684, n. 3 do Cd. Proc. Civil) [2] , salvo as questes de conhecimento oficioso (n. 2 in fine do art. 660 do Cd. Proc. Civil). Das concluses decorre que o objecto do recurso visa apenas a deciso jurdica ou seja a subsuno do direito aos factos. Nas concluses a recorrente parece questionar tambm um ou outro facto dado como provado. Porm no impugna a deciso de facto e no d cumprimento mnimo que seja ao disposto no art. 690-A do CPC. Assim, se as referncias feitas visavam impugnar a matria de facto, tal ir suceder porquanto a lei, nas circunstncias referidas em que no foi dado cumprimento ao disposto no art. 690-A, impe a rejeio do recurso n. 1 (promio) e n. 2 do art.690-A do CPC.Dos factos

Temos pois por definitivamente assente a factualidade que foi dada como provada na primeira instncia e que a seguinte:1. A Autora, no exerccio da sua actividade, celebrou com o Ru Jlio Manuel .................... o contrato de seguro do ramo automvel, referente viatura com matrcula 36-01-.................... (Peugeot), com a aplice n. 1112683, consubstanciado nas condies gerais e particulares juntas aos autos a fls. 99 a 104 e que aqui se do por inteiramente reproduzidas.2. O contrato mencionado no ponto anterior garantia a responsabilidade civil perante terceiros e os danos prprios do veculo.3. No mbito do contrato referido em 1., em 15.03.04, os Rus participaram um acidente de viao ocorrido em 14.03.04, pelas 20h20m, no I.P. 2, ao km n. 192,8, do concelho de Portalegre, em que foi interveniente o veculo com matrcula 36-01-.....................4. Aquando do acidente de viao referido no ponto anterior, o veculo era conduzido pelo Ru Pedro Miguel........................................ e circulava no sentido Monforte/Portalegre, tendo-se despistado.5. No cumprimento do contrato referido em 1., a Autora procedeu reparao do veculo, tendo pago a quantia de 5.535,69, aps a deduo da franquia contratual de 316,00, e bem assim a quantia de 50,12 pela peritagem do veculo.6. Em 04.01.05, os Rus participaram um acidente de viao, ocorrido nesse mesmo dia, pelas 9h15m, na E.N. n. 246-2, no sentido Reguengo-Portalegre, em que foi interveniente o veculo com matrcula 36-01-.....................7. No dia do acidente de viao referido no ponto anterior, o mencionado veculo era conduzido pelo ru Pedro...................., que se despistou.8. Com a averiguao do acidente de viao referido em 6. a Autora gastou a quantia de 286,77.9. Na declarao de sinistro efectuada pelo Ru Pedro...................., em 26.01.05, este declarou que, embora o referido veculo esteja em seu nome, foi aconselhado pelo mediador de seguros da Autora a celebrar o contr