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CONTRATO DE SEGURO
1. Noções Gerais:
Da necessidade de associar-se para socorrer, prestar apoio mútuo sob a forma de
instituição de um fundo e com a finalidade de proteger pessoas dos riscos inerentes as
suas atividades, surgiu o contrato de seguro, no seu formato mais primitivo. A História
demonstra a existência do seguro nas sociedades antigas.
(...) Esclarece o citado autor Fernando Emygdio da Silva que os gregos deram largo desenvolvimento ao princípio associativo em todas as suas formas, religiosa, política, comercial, marítima- e como tal criaram, sob o nome de sinedrias, hetairos ou eranos, sociedades do tipo de socorro mútuo (GAGLIANO & PAMPLONA FILHO, 2011, p. 490).
Em Roma também há indícios historiográficos, sob a denominação de sodalita
ou collegia, que demonstravam a associação de pessoas mais necessitadas, com o intuito
de arrecadar recursos para a assistência médica dos doentes, despesas funerárias.
Segundo Pedro Alvim (1999 apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, obra citada,
p.490) na Idade Média, por meio das corporações de comerciantes, houve um grande
avanço mutualista na sociedade medieval, passando a realizar atribuições que hoje se
admitem nas operações de seguros.
Com o avanço mercantilista, o seguro ganhou força, devido aos riscos e perigos
que se sobrevinham às incursões, induzindo os comerciantes a unirem forças com
investidores para atenuar os ricos das suas atividades. Nos primórdios do século XX,
com o advento da Modernidade e seus avanços tecnológicos, a atividade securitária
passou a ser desenvolvida por grandes empresários e por sociedades empresárias
instituídas com essa finalidade.
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2. Conceito e Natureza Jurídica:
O conceito de Contrato de Seguro pode ser extraído do atual Código Civil
brasileiro, em seu artigo 757 que dispõe ser um instrumento por meio do qual “o
segurador se obriga, mediante pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do
segurado, relativo à pessoa ou coisa, contra riscos predeterminados”. Nas palavras de
Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 171) “considera-se contrato de seguro aquele pelo
qual uma das partes, denominada segurador, se obriga a garantir interesse legítimo da
outra, intitulada segurado, relativo à pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados”.
Gagliano & Pamplona Filho (ob.cit., p. 491) chamam a atenção para a característica do
contrato de seguro no sentido de “acautelar interesse do segurado, em caso de sinistro,
obrigando-se, para tanto, o segurador, ao pagamento de uma indenização cujos critérios
de mensuração são previamente estabelecidos pelas próprias partes”.
Percebe-se que o principal elemento desse tipo de contrato é o risco, que é
inerente a qualquer atividade, e que se transfere de uma parte para a outra da relação
jurídica. Em outras palavras, o risco do segurado é transferido ao segurador, que se
apresenta como uma sociedade empresarial ou cooperativa, assumindo o risco mediante
recebimento de um prêmio, que pode se dar por meio de prestações, obrigando-se a
indenizar o segurado, quando da hipótese de ocorrência do sinistro (fato aleatório,
eventual, que pode ou não ocorrer). Em caso de não ocorrência do sinistro, o segurador
continuará recebendo a quantia do segurado.
O contrato de seguro é regido por dois princípios fundamentais, segundo
ensinam Gagliano & Pamplona Filho, sendo eles: O princípio da boa-fé, que traz a ideia
de eticidade, de respeito à dignidade humana, demonstrando que as partes não devem se
conduzir de maneira desleal, de forma a frustrar a confiança recíproca. E o princípio do
mutualismo, pois só há viabilidade jurídica e econômica em face da existência de uma
base mutuária de seguro, onde haja um mínimo de segurados para dar o aporte
financeiro necessário ao andamento do sistema.
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Nesses termos, complementa Silvio Venosa:
(...) Embora o contrato de seguro seja negócio jurídico isolado e autônomo entre segurador e segurado, somente se torna viável se existe base mutuária para custeá-lo, e um amplo número de segurados. Cabem à ciência atuária o exame estatístico e o cálculo de seguros de determinado segmento social (...) O mutualismo constitui a base do seguro (VENOSA apud GAGLIANO E PAMPLONA FILHO, ob. cit., p. 495)
Depreende-se do pensamento acima que, se a base mutuária for insuficiente,
representando um déficit, o sistema estará prejudicado, pois o que o torna viável é o
número mínimo de segurados, além de uma análise de seu perfil socioeconômico para
assegurar que podem manter o pleno funcionamento desse sistema.
No que concerne a sua natureza jurídica, Flávio Tartuce (2011, p. 598) explica
que o contrato de seguro é considerado bilateral, pois envolve direitos e deveres
recíprocos, além de ser oneroso, haja vista a obrigação do segurado em pagar a quantia
estabelecida (prêmio). Tartuce o classifica como contrato consensual, pois se aperfeiçoa
com a manifestação de vontade das partes. Todavia, Gonçalves (2011, p. 172) assevera
que há entendimento contrário, pois “afirmam alguns, com base no art. 758 do Código
Civil, que ele não se aperfeiçoa com a convenção, mas somente depois de emitida a
apólice”. Todavia, observando a parte final do art. 758 que reputa perfeito o contrato
desde que haja o pagamento do prêmio, sendo a forma escrita exigida apenas “ad
probationem (como prova pré-constituída)”.
Os autores Gagliano & Pamplona Filho alertam para a existência de contrato de
adesão, comumente utilizado pelas companhias de seguros, em que a manifestação
volitiva do segurado fica limitada no momento da contratação, pois ao optar por
determinada seguradora, o cliente adere à proposta que lhe é apresentada, sem
possibilidade de mudança.
No entanto, isso não significa, obviamente, a legitimação do abuso de poder econômico, rechaçado pelo próprio sistema, que cuidou de consagrar princípios supranegociais, a exemplo da função social do contrato e da boa-fé objetiva, insculpidos não apenas no Código Civil, mas também no Código de Defesa do Consumidor, e umbilicalmente conectados ao superior (e matricial) princípio da dignidade da pessoa humana, com assento constitucional (GAGLIANO & PAMPLONA FILHO, ob. cit.., p. 496).
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A técnica de adesão, utilizada para a celebração dos contratos de seguro, deve
estar assentada nos princípios fundamentais, baseados na Constituição e em normas de
ordem pública, com o intuito de coibir possíveis abusos econômicos configurados nas
cláusulas contratuais, sob pena de torná-lo nulo.
O contrato de seguro pode ser considerado aleatório, já que o risco que ele
envolve é fator determinante do negócio, em face da ocorrência ou não do sinistro,
considerado um evento futuro e incerto que mantém relação com o próprio contrato. É o
que entendem Gagliano & Pamplona Filho (ob. cit., p. 497), afirmando se enquadrar na
modalidade emptio spei, “em que o contratante assume o risco de não vir a ganhar coisa
alguma, deixando à sorte propriamente dita o resultado da sua contratação.” Entretanto,
o autor Flávio Tartuce (2014, p. 599) ressalta que há corrente doutrinária em sentido
contrário, afirmando que este tipo de contrato é comutativo “pois o risco poderia ser
determinado por cálculos atuariais” o que traria a ideia de garantia, apesar do autor não
concordar com essa visão, pois, para ele, isso seria “antifuncional” ou mesmo
“antissocial”, já que poderia “servir a interesses escusos das seguradoras”, auferindo-
lhes vantagens excessivas. Para Tartuce o artigo 764 do Código Civil que dispõe que
“salvo disposição especial o fato de não se ter verificado o risco, em previsão do qual se
faz o seguro, não exime o segurado de pagar o prêmio”, deixa evidente a álea a que se
confere o contrato de seguro.
No que diz respeito a sua classificação como contrato formal, solene, a doutrina
também demonstra algumas divergências. Para o professor Orlando Gomes (1994 apud
MORETTI & SILVA, 1998), por considerá-lo consensual, já é bastante o consenso, o
acordo de vontades para que seja “manifestado pela forma própria”. Já Maria Helena
Diniz (1993 apud ob. cit.) afirma sê-lo um contrato formal, “sendo a forma escrita
exigência para a substância do contrato”. Posição também defendida por Silvio
Rodrigues (apud ob. cit.) que considera um contrato solene, em razão da forma escrita
necessária e prevista no Código Civil.
Além disso, pode-se classificar o contrato de seguro como típico e nominado,
pois está tipificado na legislação; de duração com execução continuada, pois se
prolonga no tempo de vigência; principal e definitivo, já que independe de qualquer
outra avença e não é preparatório de nenhum outro e personalíssimo. O seguro também
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é visto com um contrato de consumo, conforme o artigo 3º, §2º da Lei 8.078/1990, que
inclui os serviços de natureza securitária: “Serviço é qualquer atividade fornecida no
mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária,
financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista”.
3. As partes e a boa-fé objetiva
O artigo 765 do Código Civil elucida que “o segurado e o segurador são
obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e
veracidade, tanto no respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele
concernentes”. O segurado é a pessoa física ou jurídica que adere ao contrato de
prestação de serviços de uma operadora de seguros, e assume como obrigação, o dever
de pagar uma quantia, conhecida por prêmio. Já o segurador é a pessoa jurídica, que se
mostra sob a forma de sociedade anônima, sociedade mútua ou cooperativa, legalmente
autorizada pelo Executivo, que assume o risco do segurado e se obriga a pagar-lhe uma
indenização, via de regra, em dinheiro, salvo se convencionada a reposição da coisa (art.
776, CC).
A relação jurídica instituída acarreta ao segurador a assunção do risco,
obrigando-se ao pagamento da indenização ao segurado, em caso de sinistro. Todavia,
Silvio Venosa (VENOSA, 2001, apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, ob.cit., p.
501) pondera que não existe, no contrato de seguro, a figura da indenização e sim, uma
contraprestação contratual, para ele o “segurador não indeniza quando ocorre um fato
ou ato danoso, apenas cumpre o que lhe toca pela avença contratual. Ainda não é da
essência do contrato de seguro que todo o prejuízo seja ressarcido, porque, em princípio,
o segurador compromete-se a pagar apenas o valor segurado”.
Não obstante a explicação do ilustre jurista, os autores Gagliano & Pamplona
Filho (ob.cit.) discordam desse pensamento, pois apesar de haver a obrigação de
natureza contratual, isso não suprime a natureza indenizatória, “especialmente porque a
sua atividade pressupõe, exatamente, a transferência do risco de dano a ser
eventualmente experimentado pelo segurado, que busca, no seguro, a garantia de
compensação em caso de ocorrência do sinistro”. Reforçando esse pensamento, os
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autores afirmam que a natureza da indenização é compensatória também pelo fato de ser
vedado ao segurador, em caso de seguro de dano, contratar valor acima do interesse do
segurado, no momento da conclusão do contrato (art. 778 CC).
Além das figuras do segurado e do segurador, pode ocorrer também a figura do
beneficiário, que não seria propriamente parte da relação contratual e sim, um terceiro
beneficiado. É o que ocorre nos seguros de vida, em que um segurado pactua com a
seguradora em favor de uma terceira pessoa, um filho, por exemplo, o qual irá se
beneficiar patrimonialmente, fazendo jus ao recebimento da indenização.
O nosso Código Civil consagra os deveres anexos à boa-fé objetiva os quais
devem ser aplicados em toda relação jurídica contratual. A quebra de tais deveres gera
violação positiva do contrato de seguro e ainda acarreta a responsabilização de quem o
descumpriu, independentemente de culpa, conforme prevê o Enunciado nº 24 CJF/STJ.
Segundo o entendimento do STJ, na hipótese de negativa de pagamento de indenização
sem qualquer fundamento pela seguradora, fica configurado o desrespeito a boa-fé
objetiva. Considera-se uma premissa que a relação contratual deva ter como substrato o
princípio da boa-fé objetiva, assegurando um padrão de comportamento entre as partes.
Nesse contexto, o contrato de seguro é instituto jurídico que sobrevive oxigenado pela boa-fé, quer seja na sua dimensão subjetiva (individual-psicológica de cada parte, atuando sem malícia ou torpeza), quer seja na sua dimensão objetiva (pela incidência de regra ética comportamental de orientação hermenêutica e constitutiva de deveres de proteção). Mais do que qualquer outra figura contratual, por sua vulnerabilidade a fraudes, o seguro exige a observância da ética negocial, sob pena de desvirtuamento da sua própria finalidade (GAGLIANO & PAMPLONA FILHO, ob. cit., p. 513).
Em respeito a esse princípio, o segurado encontra-se obrigado a comunicar ao
segurador, assim tomar ciência do fato, qualquer incidente que possa agravar
consideravelmente o risco coberto pelo contrato, sob pena de perder a garantia, caso se
prove que houve má-fé de sua parte. Ainda sob essa perspectiva, o segurado também
deve comunicar o sinistro ao segurador, logo que o saiba, devendo tomar as
providências para atenuar as conseqüências.
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4. A apólice e o contrato de seguro
Esses dois elementos não se confundem. O contrato de seguro pode ser
considerado como o negócio, o acordo firmado entre segurado e segurador, contendo
normas, cláusulas e advertências. Já a apólice tem uma dimensão menor, irá definir os
limites do seguro pactuado, descrevendo o risco, o tempo de vigência do seguro, as
garantias, o valor do prêmio, visando tornar claro, tanto para o segurador quanto para o
segurado, as incidências do risco assumido. Podendo servir também como importante
instrumento de interpretação dos termos do contrato.
O artigo 758 do Código Civil dispõe que a apólice ou o bilhete do seguro são
documentos comprobatórios do contrato de seguro e que, na falta deles, pode ser
provado pelo pagamento do prêmio. É comum que a apólice seja enviada em momento
posterior à assinatura do contrato, com um prazo de 15 dias, porém, a partir do
momento em que fora recebida, vale como meio de prova do contrato. Em geral, os
contratos exigem a emissão da apólice, mas há alguns que podem ser celebrados sem a
sua emissão, caso em que se emite um documento mais simples, conhecido como
bilhete de seguro, a exemplo do seguro obrigatório de veículos.
Quanto à forma de emissão, as apólices ou os bilhetes de seguro podem ser:
Nominativas, que podem ser transferidas por cessão civil; à ordem, que pode ser
repassada por endosso e ao portador.
5. Espécies
5.1 Seguro de Dano:
Possui uma natureza compensatória mais nítida, no sentido de que o
segurador pagará a indenização ao segurado diante do prejuízo material sofrido. O dano
é condição sine qua non para gerar a reparação, ainda que seja uma conduta culposa ou
dolosa. Nesses termos, pode-se conceituar dano como uma lesão a interesse jurídico
tutelado, de natureza patrimonial ou não, gerado pela ação ou omissão do agente
infrator. Para ser coberto pelo seguro, o dano deverá ser indenizável. Assim, Gagliano e
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Pamplona Júnior explicam que para considerar indenizável, o dano deverá conjugar os
seguintes requisitos mínimos:
Violação de um interesse jurídico patrimonial ou extrapatrimonial de
uma pessoa física ou jurídica- Admitindo-se a viabilidade da
reparação de um dano moral, independente do dano patrimonial.
Certeza do dano: o dano deve ser certo e efetivo, para ser
indenizável. Pode ocorrer em caso de calúnia, que gera dano certo à
honra de alguém.
Subsistência do dano: o dano deve subsistir quando da sua
exigibilidade em juízo.
A professora Maria Helena Diniz (DINIZ, 2007 apud GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, ob.cit., p. 541) elenca outros requisitos para a determinação do
dano indenizável quais sejam: “a legitimidade do postulante, o nexo de causalidade e a
ausência de causas excludentes de responsabilidade”.
A doutrina tradicional costuma diferenciar dano patrimonial e dano moral. O
patrimonial diz respeito à lesão a bens e direitos do titular apreciáveis economicamente.
Com a tendência moderna à despatrimonialização do direito civil, outros bens
personalíssimos podem ser atingidos, levando a responsabilização do agente. Trata-se
da lesão ou prejuízo a direitos que não se podem mensurar comercialmente, nem
possuem conteúdo pecuniário, a exemplo dos direitos da personalidade (direito à vida, à
imagem, à honra, à integridade, etc.). O autor Carlos Alberto Bittar (BITTAR, 1993
apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, ob.cit, p. 544) qualifica como dano moral
aquele que surge de um fato violador atingindo a subjetividade, os valores e aspectos
mais íntimos da personalidade humana. Essa nova perspectiva possibilita que o seguro
de dano venha a abranger também o dano moral.
O seguro de dano tanto serve para cobrir o prejuízo sofrido pelo segurado, como
também o dano por ele causado a terceiros, quer seja material ou moral. O Código Civil
visando impedir o locupletamento ilícito, em seu artigo 781, prevê que a indenização
não poderá ultrapassar o valor do interesse segurado no momento do sinistro, e, em
nenhuma hipótese, o limite máximo da garantia fixado na apólice, exceto em caso de
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mora do segurador. Sobre este aspecto GAGLIANO & PAMPLONA FILHO (ob.cit., p.
548) analisam que o aumento da indenização não deveria se dar apenas em caso de
mora do segurador, “mas também em situações em que o valor da cobertura contratada
é inferior ao valor justo de mercado da coisa segurada”.
Maria Helena Diniz et. al. (2006, p. 411) explica que acumular seguros de um
mesmo bem, pelos mesmos riscos só é permitido no caso de o primeiro contrato de
seguro não alcançar o seu valor integral, isto é, o valor do interesse segurado ao tempo
da conclusão do contrato. Dessa maneira, a duplicidade de apólices será possível,
apenas, quando o segurado pretender atender o valor integral que não fora protegido em
sua inteireza. Por outro lado, nada impede que o segurado pactue um seguro com valor
inferior ao bem, desde que o contratante aceite e que essa informação venha destacada
no contrato de seguro, como obediência ao dever de informar advindo da boa-fé
objetiva.
Uma importante observação se faz ao deparar-se com o artigo 784 do Código
Civil no que tange aos vícios intrínsecos, sendo estes, defeitos próprios da coisa
segurada, que tanto compreendem os defeitos ocultos (vícios redibitórios) quanto os
defeitos aparentes. Esses vícios excluem a garantia quando provado que o segurado
tinha ciência do vício intrínseco, mas se omitiu de informá-lo ao segurador.
O seguro de responsabilidade civil, presente dentro da espécie seguro de dano,
opera-se quando o segurado, visando obter cobertura diante de danos que venha causar a
terceiros, culposamente, transfere sua responsabilidade civil ao segurador o qual irá
garantir o pagamento de perdas e danos devido pelo segurado ao terceiro (art. 787, CC).
Em decorrência do princípio da boa-fé, o segurado deve tão logo saiba as conseqüências
do seu ato, comunicar ao segurador, podendo ser a demora nessa comunicação, causa
desfavorável ao segurado. Caso essa demora venha agravar a dimensão do dano ou
prejuízo, acarretando efeitos mais graves ao seu direito, a empresa seguradora poderá, a
priori, eximir-se da responsabilidade, declarando a inobservância da cobertura de risco
contratada.
5.2 Seguro de Pessoa
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Nesse tipo de seguro não se verifica a natureza compensatória presente nos
seguros em geral, trata-se de uma modalidade negocial especial que busca acautelar
bens de natureza extrapatrimonial, que não são suscetíveis de valoração, estando ligado
profundamente a violação dos direitos da personalidade. Divide-se em dois tipos: seguro
de vida e seguro de acidentes pessoais.
O seguro de pessoa possui características peculiares. O Código Civil prevê a
possibilidade de o segurado pactuar com mais de uma seguradora um contrato de
mesmo interesse, não havendo, a princípio, limitação de valor.
Art. 789. Nos seguros de pessoas, o capital segurado é livremente estipulado pelo proponente, que pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou diversos seguradores.
Como o capital é estipulado livremente pelo proponente, há aqui uma
diferenciação do seguro de um bem, já que a indenização deverá corresponder a um
valor certo do dano sofrido. Em razão de o prejuízo ser abstrato, dada a proteção de
direitos personalíssimos, é assegurado a possibilidade de contratar com mais de um
segurador. Convém salientar que qualquer cláusula no sentido de efetuar pagamento em
valor reduzido do capital segurado é nula de pleno direito, por violar o princípio da
função social do contrato e a boa-fé objetiva.
Outro traço marcante do seguro de pessoa é a vedação da sub-rogação do
segurador, nos direitos e nas ações do segurado ou do beneficiário contra o causador do
sinistro. Nesse sentido, GAGLIANO & PAMPLONA (ob.cit., p. 565) afirmam que “(...)
o valor a ser pago ao beneficiário ou segurado não pode ser encarado como uma
indenização comum, mas sim como uma compensação ou consolo pela lesão ao
interesse extrapatrimonial segurado.” Isso porque o seguro de pessoa se propõe a tutelar
os direitos da personalidade, inestimáveis economicamente.
5.2.1 Seguro de Acidentes Pessoais
Tem objetivo de cobrir os danos ou prejuízos que atinjam a integridade física,
psicológica e até moral do segurado, por meio do pagamento de indenização. A morte,
resultante de um acidente pessoal, também está entre as possibilidades de pagamento
desse seguro.
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5.2.2 Seguro de vida
É considerado um tipo de contrato com estipulação em favor de terceiro, pois
aqui o segurado consigna o seguro que, havendo o sinistro, será pago em benefício de
outrem.
No dizer de CAIO MARIO, a estipulação em favor de terceiro origina-se da declaração acorde do estipulante e do promitente, com a finalidade de instituir um iuris vinculum, mas com a peculiaridade de estabelecer obrigação de o devedor prestar em benefício de uma terceira pessoa, a qual, não obstante ser estranha ao contrato, se torna credora do promitente (GAGLIANO & PAMPLONA FILHO, ob.cit. p. 567).
O estipulante é o que estabelece a obrigação, o promitente é quem irá cumprir a
obrigação e o terceiro ou beneficiário é quem irá receber a obrigação pactuada. Sob esse
entendimento, o seguro de vida tem o seu risco previsto na apólice, conforme foi
estabelecido com o segurado e que deverá ser pago pela seguradora, a título de
indenização, a uma terceira pessoa. Pode ser classificado sob duas espécies:
Seguro de vida propriamente dito: por meio do recolhimento do
prêmio, o segurado constitui capital a ser pago pela seguradora ao
beneficiário do seguro, em caso de morte do segurado.
Seguro de sobrevivência ou dotal: permite o levantamento do capital
constituído pelo segurado, em vida, em caso de “alcance de
determinado limite temporal ou em face da ocorrência de determinado
evento (GAGLIANO;PAMPLONA FILHO, ob. cit.,p. 570)”.
Art. 792. Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer motivo não prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da vocação hereditária.Parágrafo único. Na falta das pessoas indicadas neste artigo, serão beneficiários os que provarem que a morte do segurado os privou dos meios necessários à subsistência.
A legislação prevê que é livre a escolha dos beneficiários, por parte do segurado,
todavia, nos casos em que há ausência de estipulação, o código civil estabelece o
cônjuge, desde que não separado judicialmente, em posição de preferência, o que a
doutrina chama de “beneficiário subsidiário.” No caso do cônjuge ser falecido ou
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separado judicialmente, bem como na ausência de herdeiros, será beneficiários os que
provarem necessitar do segurado para sua própria subsistência, sendo dependentes dele
economicamente, por exemplo, um afilhado.
Art. 797. No seguro de vida para o caso de morte, é lícito estipular-se um prazo de carência, durante o qual o segurador não responde pela ocorrência do sinistro.Parágrafo único. No caso deste artigo o segurador é obrigado a devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada.
O artigo acima tem o intuito de proteger a figura do segurador, possibilitando
que este tenha um espaço de tempo para se organizar financeiramente, por isso, a lei
faculta que as partes estipulem um prazo de carência. Assim, nesse período, o segurador
fica isento de pagar a indenização pela ocorrência do sinistro. Somente ao final desse
período é que o beneficiário poderá exigir do segurador o cumprimento da obrigação.
5.2.3 Seguro em grupo
O art. 801 CC afirma que o seguro em grupo pode ser estabelecido por pessoa
natural ou pessoa jurídica, em favor de um grupo a que ela, de algum modo, se vincule.
Essas pessoas se propõem a assumir os riscos que todas estão correndo e figuram na
relação jurídica, como segurados e seguradores. Carlos Roberto Gonçalves
(GONÇALVES, 2002, apud GAGLIANO;PAMPLONA FILHO, ob. cit., p. 576)
explica que é um tipo de contrato celebrado “entre uma seguradora e uma grande
empresa ou associação, em benefício dos seus empregados ou associados, que
desfrutarão das vantagens da estipulação, mediante contribuição determinada e global a
ser paga pelo estipulante”.
Com a previsão legal de que o estipulante não representa o segurador perante o
grupo segurado, e é o único responsável, para com o segurador, pelo cumprimento de
todas as obrigações contratuais (art.801, §1º, CC), fica claro que ele deve ter boa
capacidade financeira para arcar com esse tipo de contrato. O § 2º do dispositivo
também prevê que a modificação da apólice dependerá da anuência expressa de três
quartos do número de segurados do grupo.
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6. Extinção do contrato
Sabe-se que a extinção do contrato se dá por três formas: resilição, resolução e
rescisão. Todas elas são aplicáveis ao contrato de seguro, entretanto, há duas
particularidades. A primeira está assentada no artigo 796, que diz:
O prêmio, no seguro de vida, será conveniado por prazo limitado, ou por toda a vida do segurado.Parágrafo único. Em qualquer hipótese, no seguro individual, o segurador não terá ação para cobrar o prêmio vencido, cuja falta de pagamento, nos prazos previstos, acarretará, conforme se estipular a resolução do contrato, com a restituição da reserva já formada, ou a redução do capital garantido proporcionalmente ao prêmio pago.
Aqui, percebe-se que os contratos de seguro podem ser estipulados por tempo
determinado, o que ocorre mais comumente e também traz a hipótese de resolução do
contrato pelo descumprimento, por parte do segurado, da obrigação de pagar o prêmio.
A segunda particularidade se refere ao artigo 796 CC, que ressalta a possibilidade de
resolução do contrato quando houver inexatidão ou omissão nas declarações do
segurado, desde que não resultante de má-fé. Nessa hipótese, o segurador terá o direito a
resolver o contrato ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio.
7. Conclusão
Considerado um contrato de adesão, é imperativo que no contrato de seguro seja
respeitada a relação de equilíbrio das normas contratuais entre segurador e seguradora,
diante das disposições legais previstas no Código Civil, sob pena de se constituírem
abusivas, ferindo o direito do segurado. Tanto o princípio da equidade deve ser
respeitado nessa relação jurídica contratual, quanto o da boa-fé objetiva e seus deveres
anexos, a fim de que não haja violação de direitos e, consequente, responsabilização da
parte infratora. Os deveres anexos são comumente invocados no Código Civil para
resguardar o padrão e a validade do contrato de seguro.
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REFERÊNCIAS
DINIZ, Maria Helena et al. Novo Código Civil Comentado. São Paulo: Saraiva, 2006.
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil- vol. 4. Tomo II: Contratos em espécie. 4ª ed. São Paulo: Saraiva 2011.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das Obrigações-parte especial: Tomo I: Contratos. 13ªed. São Paulo: Saraiva, 2011.
MORETTI, Luciana Biembengut & SILVA, Sirvaldo Saturnino. Do contrato de seguro no Direito brasileiro e a interpretação de suas cláusulas limitativas em face ao Código de Defesa do Consumidor. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/638/do-contrato-de-seguro-no-direito-brasileiro-e-a-interpretacao-de-suas-clausulas-limitativas-em-face-ao-codigo-de-defesa-do-consumidor#ixzz3SHtyLhwd. Acesso em 20/02/2015.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil- volume único. 4ª ed. São Paulo: MÉTODO, 2014 (versão e-book).