acórdãos sta acórdão do supremo tribunal administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo,...

17
Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 0713/14 Data do Acordão: 02-07-2014 Tribunal: 2 SECÇÃO Relator: PEDRO DELGADO Descritores: RECLAMAÇÃO DE ACTO PRATICADO PELO ÓRGÃO DA EXECUÇÃO FISCAL INUTILIDADE SUPERVENIENTE DA LIDE Sumário: I – A inutilidade superveniente da lide ocorre quando, por facto ocorrido na pendência da instância, a solução do litígio deixe de ter todo o interesse e utilidade, conduzindo, por isso, à extinção da instância (art.º 287º, al. e), do Código de Processo Civil). II – Tendo sido proferida decisão expressa do órgão de execução fiscal indeferindo o pedido de dispensa prestação de garantia requerido pelo responsável subsidiário contra quem foi revertida a execução, com o fundamento de que não estavam verificadas nem provadas as condições previstas para tal dispensa, e tendo este reclamado nos termos do artº 276º do Código de Procedimento e Processo Tributário de tal indeferimento, subsiste a utilidade objectiva de tal lide mesmo que, posteriormente o processo de execução fiscal venha a ser suspenso com fundamento em “excussão- reversão”, porquanto o responsável subsidiário mantém interesse na contestação daquela decisão de indeferimento, sob pena da mesma se consolidar no processo. Nº Convencional: JSTA000P17754 Nº do Documento: SA2201407020713 Data de Entrada: 17-06-2014 Recorrente: FAZENDA PÚBLICA Recorrido 1: A... Votação: UNANIMIDADE Aditamento: Texto Integral Texto Integral: Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo 1 – O Representante da Fazenda Pública recorreu para o Tribunal Central Administrativo Norte da decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto de 31-12-2013, que julgou procedente a reclamação apresentada por A…………., com os demais sinais dos autos, contra a decisão do Chefe de Finanças Adjunto do serviço de Finanças de Vila do Conde que lhe indeferiu o pedido de dispensa de prestação de garantia com vista à suspensão do processo de execução fiscal nº 1902201001040995. Página 1 de 17 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo 21-07-2014 http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Upload: others

Post on 22-Jul-2020

5 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal AdministrativoProcesso: 0713/14Data do Acordão: 02-07-2014Tribunal: 2 SECÇÃORelator: PEDRO DELGADODescritores: RECLAMAÇÃO DE ACTO PRATICADO PELO ÓRGÃO DA EXECUÇÃO

FISCALINUTILIDADE SUPERVENIENTE DA LIDE

Sumário: I – A inutilidade superveniente da lide ocorre quando, por facto ocorrido na pendência da instância, a solução do litígio deixe de ter todo o interesse e utilidade, conduzindo, por isso, à extinção da instância (art.º 287º, al. e), do Código de Processo Civil).II – Tendo sido proferida decisão expressa do órgão de execução fiscal indeferindo o pedido de dispensa prestação de garantia requerido pelo responsável subsidiário contra quem foi revertida a execução, com o fundamento de que não estavam verificadas nem provadas as condições previstas para tal dispensa, e tendo este reclamado nos termos do artº 276º do Código de Procedimento e Processo Tributário de tal indeferimento, subsiste a utilidade objectiva de tal lide mesmo que, posteriormente o processo de execução fiscal venha a ser suspenso com fundamento em “excussão-reversão”, porquanto o responsável subsidiário mantém interesse na contestação daquela decisão de indeferimento, sob pena da mesma se consolidar no processo.

Nº Convencional: JSTA000P17754Nº do Documento: SA2201407020713Data de Entrada: 17-06-2014Recorrente: FAZENDA PÚBLICARecorrido 1: A...Votação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo

1 – O Representante da Fazenda Pública recorreu para o Tribunal Central Administrativo Norte da decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto de 31-12-2013, que julgou procedente a reclamação apresentada por A…………., com os demais sinais dos autos, contra a decisão do Chefe de Finanças Adjunto do serviço de Finanças de Vila do Conde que lhe indeferiu o pedido de dispensa de prestação de garantia com vista à suspensão do processo de execução fiscal nº 1902201001040995.

Página 1 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 2: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

Termina as suas alegações de recurso, formulando as seguintes conclusões:«A. Vem o presente recurso interposto da douta sentença que julgou procedente a reclamação de atos do órgão de execução fiscal interposta, nos termos do disposto no art. 276.º do CPPT, do despacho proferido em 2013-05-09, pelo chefe de finanças do Serviço de Finanças de Vila do Conde (OEF), no âmbito do processo de execução fiscal (PEF) n.º 1902201001040995 e apensos, que ali corre termos e, que indeferiu o pedido de dispensa de prestação de garantia,B. tendo, por sua vez, julgado improcedente a exceção dilatória (inominada) da falta de interesse processual ou interesse em agir por parte do reclamante, apresentada pela Representação da Fazenda Pública (RFP) e, não verificada a suscitada questão da inutilidade superveniente da lide.C. Ressalvado o devido respeito com o que desta forma foi decidido, não se conforma a Fazenda Pública, sendo outro o seu entendimento, já que considera que a Douta Sentença sob recurso padece de erro de julgamento de facto e de direito.D. Pela sentença recorrida foram considerados provados, os seguintes factos, que não terão sido adequadamente ponderados aquando da improcedência da excepção: O Reclamante foi declarado insolvente em 2010-12-14 A F…………… foi declarado insolvente em 2012-10-22 O despacho de reversão foi lavrado em 2012-12-11 O despacho reclamado foi o de indeferimento do pedido de dispensa de prestação de garantia.E. Entende a Fazenda Pública, ao contrário do doutamente decidido na sentença recorrida, que não só é possível à AT reverter dívidas tributárias de empresas contra os seus responsáveis subsidiários, após a referida empresa ter sido declarada insolvente, como existe mesmo, uma obrigação legal para o fazer, pois,F. por força do art. 23°, n.º 7 da LGT, “o dever de reversão previsto no n.º 3 deste artigo é extensível às situações em que seja solicitada a avocação de processos referida no n.º 2 do artigo 181° do CPPT, só se procedendo ao envio dos mesmos a tribunal após despacho do órgão da execução fiscal, sem prejuízo da adopção das medidas cautelares aplicáveis.(sublinhado nosso).G. Ou seja, declarada a insolvência da F…………., deve o OEF apreciar a possibilidade de reversão das dívidas

Página 2 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 3: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

tributárias, perante os indícios de insuficiência de bens penhoráveis que emergem da referida declaração de insolvência, existindo portanto, a obrigação legal para a AT de verificar os pressupostos legais de que depende a reversão contra os responsáveis subsidiários [cfr. art. 24°, n.º 1, da Lei Geral Tributária (LGT)],H. não podendo o OEF, ainda assim, praticar atos coercivos (penhoras e vendas de bens do responsável subsidiário), sem que tenha ocorrido a excussão do património da F……………., nos termos do art. 23°, n.º 2 da LGT.I. O dever de avaliar a possibilidade legal de reversão decorre, não da avocação dos processos executivos (que pode inclusivamente não ocorrer), mas sim do conhecimento oficial/oficioso da insolvência da F……………, contribuindo, assim, a AT para a efetiva salvaguarda dos princípios da igualdade entre todos os contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários.J. Por outro lado, também não se concorda com a douta sentença, “Na sua contestação a Fazenda Pública (a fls. 241) referiu que em face da declaração de insolvência do aqui Requerente o Processo de Execução Fiscal havia sido suspenso, o que reiterou (a fls. 276 ss.) dizendo (…) por à data da apresentação da Reclamação o processo de execução fiscal estar já suspenso em virtude da sua insolvência, bem como da insolvência da sociedade devedora originária.” (sublinhado nosso),K. uma vez que a Fazenda Pública, na contestação que fez, nunca defendeu que o referido PEF estava suspenso pela declaração de insolvência do Reclamante, mas sim da F……………., até porque, tal como resulta dos Autos e considerados provados na sentença de que se recorre, tendo sido o Reclamante declarado insolvente em 2010-12-14, mas apenas revertido nos Autos da presente execução fiscal em 2012-12-11,L. nunca em 2012-11-03 (data do averbamento da suspensão por declaração de falência na tramitação processual), poderiam ter sido suspensos por efeito da declaração de insolvência do Reclamante, porqueM. nesta data, ele ainda não “existia” para os Autos da presente execução fiscal, na qualidade de executado por reversão, sendo esta (reversão), condição para aquela (suspensão por insolvência do Reclamante) ocorrer.N. Também não se concorda que se retire do requerimento a fls. 276 ss., o sentido explanado na conclusão J da presente, tal como o fez a douta sentença,

Página 3 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 4: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

pois, o que a Fazenda Pública defendeu, foi exatamente o contrário,O. no que diz respeito à produção dos efeitos de suspensão da insolvência do Reclamante nos processos executivos onde ele é executado (originário ou subsidiário): “os efeitos suspensivos em processos executivos oriundos da sua insolvência, só se iriam fazer sentir após a reversão das dívidas da F…………. contra si e, após a liquidação desta”.P. Por outro lado, sempre se diga que, mesmo que a F…………… não tivesse sido declarada insolvente ou, já tivesse sido encerrado o referido processo de insolvência e, portanto, o PEF em causa não estivesse suspenso por esse motivo, sempre os referidos autos de execução fiscal estariam suspensos, relativamente ao aqui reclamante, por dois motivos que resultam da aplicação da lei, a saber,Q. por um lado, ao abrigo da declaração de insolvência de 2010-12-14, nos termos do art. 100.º do CIRE, com trânsito em julgado da sentença, muito antes da declaração de insolvência da F……………. e, da reversão efetuada e,R. por outro lado, ao abrigo, do já aqui aflorado art. 23°, n.º 2 da LGT “sem prejuízo do benefício da excussão”, tal como o foram, como se constata ao consultar a tramitação processual do referido PEF, junta à contestação da presente reclamação.S. Assim, nos presentes Autos, ao contrário do que foi doutamente decidido na sentença recorrida, entende a Fazenda Pública que, caso os Autos não estivessem suspensos pela declaração de insolvência da F………….., nunca o reclamante estaria concretamente sujeito a atos tributários tendentes à cobrança coerciva das dívidas, pois,T. beneficiaria, por direito próprio, da suspensão dos presentes autos de execução fiscal relativamente a ele (privativa, portanto), da sua declaração de insolvência e, não já da suspensão por excussão — reversão, porque anterior a esta,U. razão pela qual, entende a Fazenda Pública que o Reclamante não possui interesse processual ou interesse em agir na presente reclamação.V. Paradoxalmente, como já defendido, esta suspensão também só seria possível porque a reversão foi efetuada nos presentes autos de execução fiscal contra o Reclamante, pois, ele só ‘existe’ para o PEF, a partir do momento que adquire a posição de revertido,W. sendo a partir daquele momento em que os autos de

Página 4 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 5: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

execução fiscal em causa, poderiam ficar suspensos por declaração de insolvência de pessoa singular, muito embora tenha acontecido em data anterior, como foi o caso em apreço.X. Pelo exposto, entende a Fazenda Pública que como o propósito do Reclamante foi a suspensão da presente execução fiscal, encontrando-se esta, à data da presente Reclamação, suspensa por declaração de insolvência da F………….. e, que mesmo faltando este motivo, a execução fiscal estaria sempre suspensa, como vimos, pela declaração de insolvência do próprio Reclamante, afigura-se-nos ocorrer inutilidade superveniente da lide que determina a extinção da presente instância, nos termos do art. 277, alínea e) do novo Código de Processo Civil (CPC), aplicável ex vi art. 2°, alínea e) do CPPT.Y. Padece assim a douta sentença sob recurso de erro de julgamento de facto e de direito, porquanto fez errónea interpretação dos factos e aplicação do disposto nas normas legais aplicáveis in casu, por força do art. 23°, n.º 2 e 7 e, do art. 24° ambos da LGT, do art. 100º do CIRE e, do art. 277, alínea e) do CPC.»

2 – O recorrido, A…………….. apresentou as suas contra alegações, concluindo da seguinte forma:«A) Decorre dos elementos vertidos nos autos que o processo de execução fiscal foi suspenso no dia 03/11/2012, sendo o motivo de tal suspensão, o de “suspensão por declaração de falência” (print junto como documento n.°1 com a contestação)B) Sucede porém, que independentemente de tal suspensão, e após a declaração de insolvência da sociedade executada originaria (declarada insolvente no dia 22/10/2012), foi o PEF revertido contra o reclamante, para cobrança das dividas ali ainda em execução.C) Reversão que se fundou, essencialmente, na circunstancia de aquela sociedade ter sido declarada insolvente e de ser insuficiente o seu património para a satisfação da divida exequenda.D) Sendo que, na sequência daquele despacho de reversão foi o reclamante citado para a execução fiscal, na qualidade de revertido.E) E não obstante o reclamante ter referido, no requerimento que dirigiu ao chefe do serviço de finanças de Vila do Conde, requerendo a dispensa de prestação de garantia com vista á suspensão da execução fiscal, que ter sido declarado insolvente por sentença transitada em julgado e ter sido todo o seu património apreendido para a

Página 5 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 6: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

massa insolvente, dizendo não ter meios económicos que lhe possibilitassem a constituição de uma garantia bancária ou caução, nem ter bens suscetíveis de penhora sobre os quais pudessem ser constituída hipoteca voluntária ou penhor, foi ainda assim indeferido tal pedido através do despacho aqui reclamado.F) Temos assim, que não obstante figure no print junto como documento n.º 1 com a contestação referente à tramitação do PEF, o de “Suspensão por declaração de falência”, o mesmo prosseguiu com a reversão da execução contra o reclamante.G) Sendo que figura ainda naquele mesmo print, que o PEF somente foi suspenso em 23/07/2013, sendo o motivo de tal suspensão, o de “suspensão por excussão — reversão”, como tal indicado na respectiva tramitação.H) Temos assim, que à data em que foi deduzida a reclamação (27/05/2013), o PEF não se encontrava suspenso.I) Sendo que o OEF também não o veio a suspender com fundamento na declaração de insolvência do reclamante (declaração que havia sido efetuada por sentença de 14/12/2012).J) Pelo que, tendo sido proferida pelo OEF a decisão de indeferimento (nos termos e com os fundamentos em que o foi), que recaiu sobre o requerimento de dispensa que o reclamante lhe havia dirigido aquando da oposição à execução para que foi citado na qualidade de revertido, que deduziu, e não a acatando, por entender, que a mesma incorre em vícios motivadores da sua anulação, tem de considerar-se que o reclamante possui legitimidade para a presente reclamação.K) Como também, tem de entender-se que detinha à data da dedução da presente reclamação interesse em agir, já que o PEF não se encontrava suspenso.L) Pelo que, se pretendia afastar da ordem jurídica o despacho de indeferimento que recaiu sobre o seu pedido de dispensa de garantia com vista à suspensão da execução fiscal na pendência do processo de oposição à execução que instaurou, afastando por conseguinte, também os seus efeitos, tinha, como fez, que deduzir a reclamação prevista no artigo 276° ss do CPPT.M) Não se pode assim, concluir, pela falta de interesse processual ou interesse em agir do reclamante.N) Não padece portanto a douta sentença de qualquer erro de julgamento de facto e de direito, nos termos pretendidos pela Fazenda Pública.»

Página 6 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 7: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

3 – Por Acórdão de 30.04.2014, a fls. 393/400, Tribunal Central Administrativo Norte, veio declarar-se incompetente em razão da hierarquia para conhecer do recurso, com o fundamento de que este versa exclusivamente matéria de direito, cabendo tal competência à secção de Contencioso Tributário deste Supremo Tribunal Administrativo, perante a qual veio o recorrente suscitar o presente recurso.

4 – O Exmº Magistrado do Ministério Público emitiu parecer no sentido do não provimento do recurso, sustentando, em síntese, que o efeito suspensivo da execução fiscal não prejudica o conhecimento do pedido de dispensa de prestação de garantia apresentado pelo responsável subsidiário. Mais sustenta que o órgão de execução fiscal não baseou a sua decisão de indeferimento na perda de interesse na apreciação do pedido de dispensa de prestação de garantia em face de uma eventual suspensão da execução fiscal, mas sim numa alegada falta de requisitos legais da dispensa, sendo esse acto administrativo lesivo dos interesses do responsável subsidiário e aqui recorrido que está em causa nos autos de reclamação dirigido ao tribunal.Assim conclui que, independentemente de o processo de execução fiscal ter sido sustado na sequência da sua eventual avocação pelo tribunal onde corre termos o processo de insolvência, o responsável subsidiário mantém interesse na contestação daquela decisão de indeferimento, sob pena da mesma se consolidar no processo.

5 - Com dispensa de vistos, dada a natureza urgente do processo, cumpre apreciar e decidir.

6 - Em sede factual apurou-se em primeira instância a seguinte matéria de facto:1. O Processo de Execução Fiscal nº 1902201001040995 e apensos foi instaurado no Serviço de Finanças de Vila do Conde em 07/07/2010 contra a executada originária a sociedade B………………., LDA., NIPC …………. (cfr. fls. 74-75 ss. dos autos)2. A sociedade B………………, LDA., NIPC …………., executada originária naquele Processo de Execução Fiscal e apensos foi declarada insolvente por sentença de 22/10/2012 (junta sob Doc. n°3 com a Petição Inicial, a fls. 37 ss. dos autos), proferida no Proc° nº 1100/12.0TYVNG

Página 7 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 8: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

do Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia. (cfr. Doc. n°3 com a Petição Inicial, a fls. 37ss. dos autos)3. Por despacho de 11/12/2012 do Chefe do Serviço de Finanças de Vila do Conde (constante de fls. 180 ss. dos autos), foi o Processo de Execução Fiscal nº 1902201001040995 e apensos revertido contra o aqui Reclamante A…………….., NIF ………… (e bem assim contra C…………….., NIF ………….), após a sua audiência prévia, para cobrança das dívidas ali ainda em execução no montante de 1.864,20 €, referentes a IRS do ano de 2010 (retenção na fonte) e coimas fiscais, fundada, entre o demais (nos termos vertidos naquele despacho), na circunstância de a sociedade devedora originária ter sido declara insolvente sendo insuficiente o seu património para satisfação da dívida exequenda. (cfr. fls. 75 ss. e fls. 180 ss. dos autos)4. Citado, como revertido, para a execução fiscal (através do oficio de fls. 187, que lhe foi remetido por correio registado com aviso de receção que se mostra assinado em 17/12/2012, por terceira pessoa («……….. ...») o aqui Reclamante deduziu Oposição à execução fiscal. (cfr. fls. 184-186 dos autos e Informação de fls. 211 dos autos)5. O aqui Reclamante solicitou ao Chefe do Serviço de Finanças de Vila do Conde (através do requerimento remetido por correio eletrónico em 13/02/2013, constante de fls. 199 ss. dos autos), a dispensa de prestação de garantia com vista à suspensão da execução fiscal, nos termos do disposto no artigo 52° nº 4 da LGT, pelas razões que ali expôs. (cfr. fls. 199 ss. dos autos e Informação de fls. 211 dos autos)6. Naquele seu requerimento (constante de fls. 199 ss. dos autos) o aqui Reclamante sustentou não ter meios económicos que lhe possibilitassem a constituição de garantia bancária ou caução, nem ter bens suscetíveis de penhora sobre os quais pudessem ser constituída hipoteca voluntária ou penhor, referindo entre o demais ter sido declarado insolvente por sentença transitada em julgado (no Processo que indicou), ter sido todo o seu património apreendido para a massa insolvente; não auferir qualquer rendimento; não ter responsabilidade na insuficiência/inexistência de bens por não ter procedido a qualquer dissipação de património, com carácter fraudulenta. (cfr. fls. 199 ss. dos autos)7. Com aquele requerimento referiu juntar cinco (5) documentos. (cfr. fls. 199 ss. dos autos)8. Através do ofício nº 4858/1902-30 de 09/05/2013 (constante de fls. 229 dos autos), foi o aqui Reclamante

Página 8 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 9: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

notificado do despacho de 09/05/2013 da Chefe do Serviço de Finanças (junto sob Doc. nº 1 com a Petição Inicial, a fls. 29 ss. dos autos) pelo qual foi indeferido o pedido de dispensa de prestação de garantia, despacho cujo teor é o seguinte:A concessão de dispensa da prestação de garantia pelos serviços da Administração tributária para efeitos de suspensão da execução fiscal quando tenha sido apresentada oposição à execução, depende da verificação dos Pressupostos constantes dos art° 52°, nºs 1, 2 e 4 da Lei Geral Tributaria, e art° 169° do Código de Procedimento e de Processo Tributário, e tem como condição o seguinte:A prestação de garantia deve ser causa de prejuízo irreparável para o executado;- Deve verificar-se a manifesta falta de meios económicos, revelada pela insuficiência de bens penhoráveis para o pagamento da dívida exequenda e acrescidos;- E, em qualquer dos casos, torna-se necessário que o executado não seja responsável pela situação de insuficiência ou inexistência de bens,Além disso cabe sempre ao executado o ónus da prova dos factos constitutivos dos seus direitos, conforme art.º 74° nº 1 da LGT, e art.º 342° do Código Civil.De acordo com informação prestada verifica-se que o executado tem registados em seu nome vários imóveis, no ano de 2011 obteve rendimentos da categoria A e da categoria F, e consta ainda como administrador de várias sociedades.Face ao exposto, e porque não estão verificadas nem provadas as condições prevista para a dispensa da prestação de garantia, conforme dispõe os art°s 52° da LGT e 169° do CPPT, indefiro o pedido.Esta decisão foi sancionada pela Direcção de Finanças do Porto.(cfr. fls. 299 ss. dos autos e Doc. n°1 com a Petição Inicial, a fls. 29 ss. dos autos)9. Aquele despacho assentou na Informação de 25/02/2013 do Serviço de Finanças de Vila do Conde (constante de fls. 226 ss. dos autos), na qual é vertido o seguinte:1 — Contra o requerente e por despacho de reversão de 1112.2012, pende a dívida exequenda no valor de € 1.864,20, do processo executivo n.º 1902201001040995 e apensos, cuja devedora original é B…………….., Lda, NIPC- …………….2 — Por ter apresentado oposição judicial a que coube o

Página 9 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 10: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

n.º 1902201309000119, e com a finalidade de suspender o processo executivo acima identificado, veio a mandatária do revertido A……………., nif-………., requerer a dispensa da prestação de garantia por manifesta falta de meios económicos revelada pela insuficiência de bens penhoráveis, e de meios económicos que lhe possibilitem constituir uma garantia bancária ou caução, para garantir o pagamento da dívida exequenda e acrescidos.3 — O executado por reversão, aqui requerente, foi declarado insolvente, por decisão já transitada em julgado, e proferida no processo n.º 3363/10.6TBVCD, todo o seu património foi apreendido para a massa insolvente, encontrando-se em fase de liquidação, não auferindo quaisquer rendimentos.4 — O requerente não é responsável pela insuficiência/inexistência de bens, pois que não procedeu a qualquer dissipação do património com carácter fraudulento, e a apresentação à insolvência ocorreu em data anterior ao vencimento da dívida ora executada.5 — Também a devedora originária B……………, foi declarada insolvente, por sentença proferida a 22.10.2012, no processo n.º 1100/1 2.0TYVNG-2.° Juízo, onde a Fazenda Nacional é detentora do maior crédito, e os bens que integram a massa insolvente têm valor suficiente para liquidar a dívida revertida.6— Consultadas as diversas bases de dados, ao nosso dispor, pelo nif - ………….., de A……………., verifica-se o seguinte:O requerente é proprietário de 11 prédios urbanos, nos concelhos de Vila do Conde e Póvoa de Varzim, Já avaliados nos termos do IMI, e 1 prédio rústico, no concelho de Vila do Conde, conforme tabela seguinte:

No ano de 2011 e segundo o mencionado na declaração mod. 3 de IRS/2011, o requerente teve rendimentos de

Página 10 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 11: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

trabalho dependente (categoria A), no montante de € 6. 016.02 e recebeu rendas (categoria F), no valor de € 2.280,00, referentes ao artigo matricial urbano nº 1764, da freguesia de Vila Chã.Segundo a base de dados do MGIT – visão do contribuinte ………….., verifica-se que o aqui requerente, é administrador/gerente das sociedades: B…………….., e da D………………. S.A. (cfr. fls. 299 ss e 226 ss)10. Previamente àquele despacho de indeferimento o requerimento de pedido de dispensa de prestação de garantia foi remetido à Divisão de Gestão da Dívida Executiva da Direção de Finanças do Porto (a coberto do ofício nº 2301/1902-30, de 27/02/2013, constante de fls. 214 dos autos) que emitiu a Informação de 25/03/2013 no sentido do indeferimento do pedido de dispensa (constante de fls. 223 ss. dos autos), sancionada com o despacho de concordância de 29/04/2013 do respetivo Chefe de Divisão, referido no despacho de indeferimento objeto da presente Reclamação (cfr. fls. 214 e fls. 223 ss., fls. 299 ss. e Doc. n.º com a Petição Inicial, a fls. 29 ss. dos autos)11. A Petição Inicial da presente Reclamação foi remetida ao Serviço de Finanças de Vila do Conde por correio registado em 28/05/2013. (cfr. fls. 5 e fls. 6 ss. dos autos)12. O aqui Reclamante A……………., NIF …………., foi declarado insolvente por sentença de 14/12/2012 (junta com a Petição Inicial a fls. 62 ss. dos autos) proferida no Proc° nº 3363/12.6TBVCD do Tribunal Judicial de Vila do Conde. (cfr. Doc. nº 5 com a Petição Inicial, a fls. 52 ss. dos autos)13. Por sentença de 14/10/2011 (junta sob Doc. nº 5 com a Petição Inicial, a fls. 52 ss. dos autos) proferida no Proc° nº 3363/12.6TBVCD-B do Tribunal Judicial de Vila do Conde, foi qualificada como fortuita a insolvência do aqui Reclamante A…………….., NIF …………... (cfr. Doc. n°5 com a Petição Inicial, a fls. 52 ss. dos autos)14. O Processo de Execução Fiscal e apensos foi suspenso em 03/11/2012, sendo o motivo de tal suspensão, o de «suspensão por declaração de falência» (F102), como tal indicado na respetiva tramitação (cujo print foi junto sob Doc. nº 1 com a Contestação, a fls. 247). (cfr. Doc. n.º 1 com a Contestação, a fls. 247 dos autos)15. O Processo de Execução Fiscal e apensos foi suspenso em 23/07/2013, sendo o motivo de tal suspensão, o de «suspensão por excussão — reversão (………….)» (H024), como tal indicado na respetiva tramitação (cujo print foi junto sob Doc. n°1 com a

Página 11 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 12: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

Contestação, a fls. 247). (cfr. Doc. nº 1 com a Contestação, a fls. 247 dos autos)16. A sociedade E……………., LDA., foi declarada insolvente por sentença de 08/11/2011 (Junta sob Doc. nº 4 com a Petição Inicial, a fls. 49 ss. dos autos), proferida no Proc° nº 323/10.0TYVNG-E do Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia. (cfr. Doc. n°4 com a Petição Inicial, a fls. 49 ss. dos autos).

7. Do objecto do recurso

Em face das conclusões que delimitam o objecto do recurso, segundo o estatuído nos artigos 635º nº4 e 639º nº1 do CPC, a questão a apreciar e a decidir no presente recurso consiste em saber se pelo facto de o processo de execução fiscal ficar suspenso, na sequência da declaração de insolvência da executada originária, o responsável subsidiário, entretanto chamado à execução fiscal ao abrigo das disposições conjugadas dos artigos 23°, n°2 e 7, e 24°, ambos da LGT, mantém ou não interesse processual em ver apreciada pelo tribunal a decisão de indeferimento do pedido de dispensa de prestação de garantia para efeitos de suspensão da execução fiscal.A sentença recorrida considerou que não obstante o Reclamante ter referido, no requerimento que dirigiu em 13/02/2013 ao Chefe do Serviço de Finanças de Vila do Conde, requerendo a dispensa de prestação de garantia, que havia sido declarado insolvente por sentença transitada em julgado e que todo o seu património havia sido apreendido para a massa insolvente, alegando não ter meios económicos que lhe possibilitassem a constituição de garantia bancária ou caução, nem ter bens susceptíveis de penhora, foi ainda assim indeferido tal pedido através do despacho aqui reclamado. Pelo que tendo sido proferida pelo órgão de execução fiscal a decisão de indeferimento (nos termos e com os fundamentos em que o foi) que recaiu sobre o requerimento de dispensa que o Reclamante lhe havia dirigido, e não acatando o reclamante tal decisão, por entender, como pugnava na Petição Inicial, que a mesma incorria em vícios motivadores da sua anulação, havia de considerar-se que o Reclamante possuía legitimidade para a presente Reclamação.Ponderou também a sentença recorrida que o reclamante tinha interesse em agir à data da dedução da presente Reclamação, já que o Processo de Execução Fiscal que

Página 12 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 13: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

contra ele foi revertido para cobrança das identificadas dívidas fiscais da sociedade originária, ali em cobrança, não se encontrava suspenso e que não se podia assim concluir pela aventada inutilidade superveniente da lide.

É contra o assim decidido que se insurge a Fazenda Pública alegando que a instância devia ter sido extinta com base na inutilidade da lide. Para tanto alega a Recorrente que o reclamante e aqui recorrido não possui interesse processual ou interesse em agir na reclamação, uma vez que o processo de execução fiscal se encontra suspenso na sequência da declaração de insolvência da executada originária e o efeito pretendido com a dispensa da prestação de garantia é a suspensão da execução fiscal.E conclui assim que foram violadas as disposições conjugadas dos artigos 23°, n°2 e 7, e 24°, ambos da LGT, do artigo 100° do CIRE e do artigo 277°, alínea e) do CPC.

8.

Entendemos, porém, que carece de razão.Como é sabido a inutilidade superveniente da lide ocorre quando, por facto ocorrido na pendência da instância, a solução do litígio deixe de ter todo o interesse e utilidade,conduzindo, por isso, à extinção da instância (art.º 287º, al. e), do Código de Processo Civil).A inutilidade ou impossibilidade superveniente da lide dá-se quando, por facto ocorrido na pendência da instância, a pretensão do autor não se pode manter, por virtude do desaparecimento dos sujeitos ou do objecto do processo, ou se encontra fora do esquema da providência pretendida. Num e noutro caso, a solução do litígio deixa de interessar – além, por impossibilidade de atingir o resultado visado; aqui, por ele já ter sido atingido por outro meio - José Lebre de Freitas, João Redinha, Rui Pinto, Código de Processo Civil anotado, vol 1, anotação 3 ao art. 287.º, pág. 512.No caso em apreço resulta do probatório que o processo de execução fiscal foi suspenso em 03.11.2012, na sequência da declaração de falência da executada originária (ponto 14 do probatório) e, de novo, em 23.07.2013, após a reversão da execução contra o responsável subsidiário e aqui recorrido (ponto 15 do probatório).Entretanto em 11.12.2012 foi o processo de execução fiscal revertido contra o recorrido e em 17.12.2012 foi o mesmo citado como revertido (pontos 3 e 4 do probatório).

Página 13 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 14: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

De harmonia com o disposto no nº 3 do artigo 23º da LGT, o processo de execução fiscal fica suspenso desde o termo do prazo de oposição até à completa excussão do património do executado, sem prejuízo da possibilidade de adopção das medidas cautelares adequadas nos termos da lei.Porém, como bem nota o Ministério Público neste Supremo Tribunal Administrativo, tal efeito suspensivo da execução fiscal não prejudica o conhecimento do pedido de dispensa de prestação de garantia apresentado pelo responsável subsidiário. Aliás foi isso mesmo que sucedeu pois que, como resulta do probatório, tendo o recorrido solicitado a dispensa de prestação de garantia em 13.02.2013, o órgão de execução fiscal indeferiu tal pedido, por despacho de 09.05.2013, com o fundamento de que não estavam verificadas nem provadas as condições previstas para tal dispensa, nomeadamente por considerar que, de acordo com informação prestada pelos serviços, o executado tinha registados em seu nome vários imóveis, no ano de 2011 obteve rendimentos da categoria A e da categoria F, e ainda constava como administrador de várias sociedades.Naquele seu requerimento (constante de fls. 199 ss. dos autos) o recorrido sustentou não ter meios económicos que lhe possibilitassem a constituição de garantia bancária ou caução, nem ter bens susceptíveis de penhora sobre os quais pudesse ser constituída hipoteca voluntária ou penhor, referindo entre o demais ter sido declarado insolvente por sentença transitada em julgado (no processo que indicou), ter sido todo o seu património apreendido para a massa insolvente; não auferir qualquer rendimento; não ter responsabilidade na insuficiência/inexistência de bens por não ter procedido a qualquer dissipação de património, com carácter fraudulenta. (cfr. fls. 199 ss. dos autos)

Note-se, como bem recorda o Ministério Público, que o órgão de execução fiscal não fundamentou a sua decisão de indeferimento na perda de interesse na apreciação do pedido em face de uma eventual suspensão da execução fiscal pendente contra a devedora originária, mas sim numa alegada falta de requisitos legais da dispensa, nomeadamente por entender que não se verificava a manifesta falta de meios económicos revelada pela falta de bens penhoráveis para o pagamento da dívida exequenda e acrescidos.

Página 14 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 15: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

Ou seja a Administração Fiscal, que em 09.05.2013 indeferiu o pedido de dispensa prestação de garantia, por entender que não se verificava a manifesta falta de meios económicos revelada pela falta de bens penhoráveis para o pagamento da dívida exequenda e acrescidos, pese embora estivesse bem ciente de que nessa data já havia sido declarada a insolvência do recorrido e da devedora originária – cf. probatório, pontos 5 e 6 - vem agora invocar, em sede de recurso, como já invocou em sede de reclamação, a declaração de insolvência da executada originária para sustentar a inutilidade superveniente da lide de reclamação de actos do órgão de execução fiscal deduzida pelo recorrido, na sequência de tal indeferimento.Ora, perante tal actuação da Administração Fiscal lesiva para os interesses do responsável subsidiário e ora recorrido, forçoso é concluir que houve legitima reacção processual do mesmo, mediante reclamação prevista no artº 276º do Código de Procedimento e Processo Tributário, subsistindo, ao contrário do que defende a recorrente, a utilidade objectiva de tal lide. Efectivamente decorre do artigo 276º do Código de Procedimento e Processo Tributário que são susceptíveis de reclamação para o tribunal tributário de 1.ª instância, as decisões proferidas pelo órgão da execução fiscal e outras autoridades da administração tributária que no processo afectem os direitos e interesses legítimos do executado. Também o artº 97º, nº 1 do mesmo diploma legal prevê, como parte integrante do chamado processo judicial tributário, o recurso, no próprio processo, dos actospraticados na execução fiscal. E o artº 103º, nº 2 da Lei Geral Tributária garante aos interessados o direito de reclamação para o juiz da execução fiscal dos actos materialmente administrativos praticados por órgãos da administração tributária, nos termos do número anterior.Do ponto de vista orgânico, os actos susceptíveis de reclamação serão, pois, aqueles que se exteriorizem mediante decisões proferidas pelo órgão de execução fiscal e outras autoridades da Administração Tributária e, do ponto de vista material, devem ser actos que afectem os direitos e interesses legítimos do executado ( Neste

sentido Joaquim Freitas Rocha, Lições de Procedimento e

Processo tributário, 4ª edição, pag. 357. ). Ora, como bem se sublinhou na decisão recorrida, se o responsável subsidiário pretendia afastar da ordem jurídica o despacho de indeferimento que recaiu sobre o seu

Página 15 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 16: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

pedido de dispensa de prestação de garantia com vista à suspensão da execução fiscal na pendência do processo de Oposição à execução que instaurou, afastando, por conseguinte, também os seus efeitos, tinha, como fez, que deduzir a Reclamação prevista no artigo 276° ss. do CPTT, sob pena de tal decisão se consolidar no processo. Acresce que, como também se evidencia na decisão sindicada e resulta dos autos, não obstante figure no print junto sob doc. n° 1 com a contestação (a fls. 247) referente à tramitação do processo de execução fiscal que o mesmo foi suspenso em 03/11/2012, sendo o motivo de tal suspensão, o de «suspensão por declaração de falência» (averbamento F102), o mesmo prosseguiu com a reversão da execução contra os responsáveis subsidiários, entre eles o recorrido, tendo este então sido citado para a execução fiscal.Por outro lado figura ainda naquele mesmo print, referente à tramitação do processo de execução fiscal, que Processo de Execução Fiscal (e apensos) foi suspenso em 23/07/2013, sendo o motivo de tal suspensão, o de «suspensão por excussão — reversão (…………….)» (H024), como tal indicado na respectiva tramitação.Ou seja, ao contrário do referido pela recorrente, à data em que foi deduzida a Reclamação (28/05/2013) o Processo de Execução Fiscal não se encontrava suspenso.Ainda assim a circunstância de a execução fiscal ter sido suspensa em 23/07/2013, já após a dedução da Reclamação, pelo motivo acima referido, não retira utilidade à Reclamação, nem a toma impossível por falta de objecto. Com efeito, e como vimos, o responsável subsidiário mantém interesse na contestação daquela decisão de indeferimento, sob pena da mesma se consolidar no processo.

A sentença recorrida, que assim decidiu, não merece censura pelo que improcedem as alegações de recurso.

9. Decisão:Termos em que, face ao exposto, acordam os juízes da Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo em negar provimento ao recurso e, em consequência, confirmar a sentença recorrida.

Custas pela Fazenda Pública.

Página 16 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...

Page 17: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · contribuintes e, ao mesmo tempo, protege o interesse público de cobrança dos créditos tributários. J. Por outro

Lisboa, 2 de Julho de 2014. – Pedro Delgado (relator) – Fonseca Carvalho – Isabel Marques da Silva.

Página 17 de 17Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

21-07-2014http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/ac9337182e81f948...