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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 0934/14 Data do Acordão: 01-10-2014 Tribunal: 2 SECÇÃO Relator: ISABEL MARQUES DA SILVA Descritores: RECLAMAÇÃO DE ACTO PRATICADO PELO ÓRGÃO DA EXECUÇÃO FISCAL OMISSÃO DE PRONÚNCIA CASO JULGADO PRESCRIÇÃO Sumário: I – Não incorre em nulidade por omissão de pronúncia a sentença que não conhece da prescrição de dívidas que foram pagas voluntariamente pelos executados. II – Estando decidida, por decisão transitada em julgado, a não anulação da venda executiva, em razão de arguidas nulidades e irregularidades da citação e do processo executivo, verifica-se, no que respeita a tais questões, excepção de caso julgado, justificativa do não conhecimento, nessa parte, do pedido. III – A interrupção da prescrição decorrente da citação dos executados inutiliza para a prescrição todo o tempo até então decorrido e determina que novo prazo não comece a correr até ao termo do processo executivo, salvo em caso de paragem do processo executivo por mais de um ano por facto não imputável ao contribuinte que tenha ocorrido e se tenha completado antes de 1 de Janeiro de 2007. Nº Convencional: JSTA000P18005 Nº do Documento: SA2201410010934 Data de Entrada: 24-07-2014 Recorrente: A... E MULHER Recorrido 1: AUTORIDADE TRIBUTÁRIA E ADUANEIRA Votação: UNANIMIDADE Aditamento: Texto Integral Texto Integral: Acordam na Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo: - Relatório - 1 – A………………… e mulher, B…………………, com os sinais dos autos, recorrem para este Supremo Tribunal da sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Penafiel, de 6 de Junho de 2014, que julgou improcedente a reclamação por eles deduzida contra o despacho do Chefe do Serviço de Finanças de Amarante, de 3 de Dezembro de 2007, proferido no âmbito do processo de execução fiscal n.º 1759199901011545 e apensos, apresentando para tal as seguintes conclusões: Página 1 de 19 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo 13-10-2014 http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/0b4181bfce43362b...

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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal AdministrativoProcesso: 0934/14Data do Acordão: 01-10-2014Tribunal: 2 SECÇÃORelator: ISABEL MARQUES DA SILVADescritores: RECLAMAÇÃO DE ACTO PRATICADO PELO ÓRGÃO DA EXECUÇÃO

FISCALOMISSÃO DE PRONÚNCIACASO JULGADOPRESCRIÇÃO

Sumário: I – Não incorre em nulidade por omissão de pronúncia a sentença que não conhece da prescrição de dívidas que foram pagas voluntariamente pelos executados. II – Estando decidida, por decisão transitada em julgado, a não anulação da venda executiva, em razão de arguidas nulidades e irregularidades da citação e do processo executivo, verifica-se, no que respeita a tais questões, excepção de caso julgado, justificativa do não conhecimento, nessa parte, do pedido.III – A interrupção da prescrição decorrente da citação dos executados inutiliza para a prescrição todo o tempo até então decorrido e determina que novo prazo não comece a correr até ao termo do processo executivo, salvo em caso de paragem do processo executivo por mais de um ano por facto não imputável ao contribuinte que tenha ocorrido e se tenha completado antes de 1 de Janeiro de 2007.

Nº Convencional: JSTA000P18005Nº do Documento: SA2201410010934Data de Entrada: 24-07-2014Recorrente: A... E MULHERRecorrido 1: AUTORIDADE TRIBUTÁRIA E ADUANEIRAVotação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: Acordam na Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo:

- Relatório -

1 – A………………… e mulher, B…………………, com os sinais dos autos, recorrem para este Supremo Tribunal da sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Penafiel, de 6 de Junho de 2014, que julgou improcedente a reclamação por eles deduzida contra o despacho do Chefe do Serviço de Finanças de Amarante, de 3 de Dezembro de 2007, proferido no âmbito do processo de execução fiscal n.º 1759199901011545 e apensos, apresentando para tal as seguintes conclusões:

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I – O presente reclamação deu entrada em 24.01.2008, tendo-se então requerido:

a) o reconhecimento e declaração da prescrição de todas as dívidas tributárias em sede de IRS em causa nos autos e, as de contribuição autárquica respeitantes aos anos de 1996, 1007 e 1998, revogando-se o despacho ora reclamado;

b) a anulação da venda efectuada, designadamente por prescrição das dívidas tributárias em causa;

c) a anulação da venda efectuada, designadamente por preterição de formalidades essenciais supra indicadas;

d) o levantamento das penhoras efectuadas e a extinção da execução, por prescrição das dívidas.

II – O Tribunal a quo decidiu não poder pronunciar-se sobre a questão da prescrição da dívida de contribuições autárquicas por ter sido decretada a extinção da execução pelo pagamento quanto a esta parte (dívida de CA), acarretando a inutilidade superveniente da lide.

III – Quanto à anulação da venda, o Tribunal a quo entendeu que se verificava a excepção do caso julgado.

IV – Quanto á questão da prescrição das alegadas dívidas, o tribunal a quo pronunciou-se sobre a questão de fundo, decidindo pela inexistência de prescrição.

V – Ao contrário do decidido pelo Tribunal a quo, a FP pronunciou-se quanto ao pedido de verificação da prescrição das dívidas de CA, pelo que o Tribunal recorrido não podia deixar de conhecer do mérito da questão.

VI – Com efeito, o despacho do Chefe do Serviço de Finanças refere: «Quanto às dívidas de Contribuição Autárquica, declaro extinta a execução por pagamento».

VII – A decisão do Órgão de Execução de não conhecer de uma questão que lhe foi colocada, ou seja, de não se pronunciar quanto à prescrição da CA é, indubitavelmente, uma decisão.

VII – (sic) Consequentemente, o Tribunal a quo podia e devia ter-se pronunciado sobre a questão da prescrição peticionada pelos recorrentes.

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VIII – Ao não ter procedido desse modo, a douta sentença recorrida encontra-se ferida de nulidade por omissão de pronúncia.

IX – A douta sentença recorrida entendeu haver caso julgado quanto à questão da anulação da venda.

X – Os recorrentes entendem não se verificar a excepção de caso julgado porque esta questão foi formulada pelos recorrentes antes da data do trânsito em julgado e nos precisos moldes em que ela foi “sugerida” pelo douto Acórdão que foi proferido pelo TCAN na acção de anulação da venda (processo n.º 79/08.7BEPNF).

XI – Inexiste identidade de causa de pedir porque no processo n.º 79/08.7BEPNF a causa de pedir era a verificação da prescrição no processo de anulação da venda e, ali, ficou decidido que “A prescrição consumada em momento posterior ao prazo para deduzir oposição previsto na alínea a) do n.º 1 do artigo 203.º do CPPT não constitui facto superveniente susceptível de abrir novo prazo de oposição àquele previsto na alínea a) do do n.º 1 do artigo 203.º do CPPT.”.

XII – Quanto à verificação da prescrição, entendemos, secundando a opinião sufragada na sentença recorrida, que os prazos são os do CPT e LGT, 10 e 8 anos, respectivamente.

XIII – Não se concorda contudo com a apreciação do Tribunal a quo quando entende que não ocorreu a prescrição dos tributos em análise.

XIV – Estabelecia o n.º 3 do artigo 34.º do CPT que a instauração da execução interrompia a prescrição.

XV – Porém, o n.º 2 do artigo 49.º da LGT na redacção dada pelo DL n.º 398/98, de 17/12, (em vigor à data dos factos) estabelecia que “A paragem do processo por período superior a um ano por facto não imputável ao sujeito passivo faz cessar o efeito previsto no número anterior, somando-se, neste caso, o tempo que decorrer após esse período ao que tiver decorrido até à data da autuação”.

XVI – tendo presente o disposto no artigo 12.º do Código Civil mostram-se incorrectos os cálculos determinados

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pelo Tribunal a quo quanto às datas da ocorrência do prazo prescricional.

XVII – O prazo de prescrição dos tributos referentes aos anos de 1993, 1994, 1995, 1996 e 1997 iniciou-se, respectivamente, nos meses de Janeiro de 1994, 1995, 1996, 1997 e 1998.

XVIII – Aquando da instauração da reclamação pelos aqui recorrentes – 26.11.2007 – os prazos de prescrição dos aludidos tributos já havia ocorrido pelo menos em relação aos anos tributários de 1993, 1994, 1995 e 1996.

XIX – Assim, mal andou o Tribunal a quo quando entendeu decidir pela não prescrição dos tributos dos autos.

Termos em que deve a douta sentença recorrida ser revogada e, em substituição do tribunal recorrido, dar-se integral provimento à reclamação apresentada ao Órgão de Execução Fiscal em 24.01.2008, com o que se fará Justiça.

2 – Não foram apresentadas contra-alegações.

3 – A Excelentíssima Procuradora-Geral Adjunta junto deste Tribunal remeteu para o parecer do Ministério Público em 1.ª instância, acompanhando na íntegra a argumentação ali expendida, concluindo no sentido do não provimento do recurso e emitiu o parecer de fls. 75 e 76 dos autos, concluindo no sentido da manutenção da sentença recorrida (cfr. parecer a fls. 187 dos autos).

Com dispensa de vistos, dada a natureza urgente do processo, vêm os autos à conferência.

- Fundamentação -

4 – Questões a decidir

São as de saber se a sentença recorrida enferma de nulidade por omissão de pronúncia ao não se ter pronunciado sobre a prescrição das dívidas de Contribuição Autárquica e se incorreu em erro de julgamento ao julgar verificada a excepção de caso julgado no que respeita à anulação da venda e ao julgar não prescritas as dívidas de IRS exequendas.

5 – Matéria de facto

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Na sentença objecto do presente recurso foram dados como provados os seguintes factos:

1.º No dia 12.07.1999 foi instaurado no serviço de Finanças de Amarante o PEF n.º 1759199901011545, contra os ora reclamantes, por dívidas de IRS dos anos de 1993 a 1997, no valor até à data de €54.579,40.

2.º Em 23.07.1999, foi enviada citação postal para o domicílio fiscal dos ora reclamantes constante do cadastro do serviço de finanças de Amarante.

3.º A carta registada com aviso de recepção foi devolvida ao serviço de finanças de Amarante com a anotação “O referido destinatário encontra-se ausente no estrangeiro”.

4.º Em cumprimento do despacho de 22.09.1999, foi efectuada a penhora de dois prédios urbanos inscritos na matriz em nome dos reclamantes, inscritos sob os artigos 104 e 562 da freguesia de ……………, concelho de Amarante.

5.º Por despacho de 22.09.1999 do chefe de finanças de Amarante foi ordenada a realização da citação edital do executado/reclamante por se encontrar ausente no estrangeiro, nos termos do disposto no art. 276.º do CPT.

6.º Em 29.09.1999 foi o executado/reclamante citado por se encontrar ausente no estrangeiro, nos termos do disposto no art. 276.º do CPT.

7.º Em 30.09.1999, foi solicitada a afixação de editais às juntas de freguesia de …………….. e ………………., ambas do concelho de Amarante.

8.º Em 20.10.1999, o ora reclamante marido, através do seu mandatário, apresentou no serviço de finanças de Amarante um requerimento no qual se identificava da seguinte forma: A…………………., casado, residente em ……….., …………….., …………… – 4600 Amarante”.

9.º No referido documento alegou que teve “conhecimento da citação edital, emitida por essa Repartição de finanças, em 29.09.99 e ínsita a fls. 12 do processo em referência”.

10.º Não concordando com a tramitação seguida no processo executivo, requereu informação onde solicitou se certificasse o cumprimento do art. 273.º, do CPT e sobre

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as disposições legais em que se teria baseado a correção da penhora.

11.º Em 29.10.1999, foi proferido despacho nos seguintes termos:

“…1º - Após a instauração da execução, foi remetida carta postal, registada, com AR, a qual foi devolvida pelos CTT, com a nota de que o executado se acha ausente no estrangeiro.

2º - A situação enquadra-se no disposto no artigo 276.º n.º 2 do CPT, que manda proceder à citação por meio de éditos.

3º - Porém, o n.º 7 do mesmo artigo 276º do CPT, diz-nos que só haverá citação por meio de éditos após ter sido efectuada a penhora de bens do executado.

4º - Como se conclui, foram cumpridas as formalidades legais, nada mais havendo a dizer quanto às questões levantadas.

Notifique-se …”

12.º Em 02.11.1999 o reclamante foi notificado do teor do antecedente despacho.

13.º Em 10.11.1999, foi apresentado recurso judicial, nos termos do disposto no art. 355.º n.º 1, do CPT, contra o referido despacho.

14.º O qual se encontra a correr termos neste TAFP sob o n.º 181/14.6BEPNF.

15.º Em 15.01.1999, pelo ofício n.º 229, foi prestada informação aos ora reclamantes para que, face às suas alegações de que teriam residência em França, preenchessem e devolvessem as fichas de alteração/mudança de residência que, com essa notificação, lhes eram remetidas, para posterior tratamento com vista à alteração de morada no cadastro do número fiscal de contribuinte e nomeação de representante fiscal em Portugal.

16.º Pelo mesmo ofício, foram-lhe remetidas as notas de cobrança do IRS, dos anos de 1993 a 1997.

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17.º Estas mesmas notas de cobrança, não tendo sido pagas no prazo legal, deram origem ao PEF subjacente aos presentes autos.

18.º O executado/reclamante deduziu oposição á execução fiscal (Proc.n.º 119/99), em 12.11.1999, à qual foi negado provimento por não ser o meio próprio.

19.º Não se conformando com a sentença, interpôs recurso para o Supremo Tribunal Administrativo.

20.º Tendo sido negado provimento ao recurso e confirmada a sentença recorrida, por Acórdão de 20.06.2001.

21.º A executada/reclamante foi citada pessoalmente em 07.08.2001, no âmbito do mesmo processo de execução fiscal.

22.º Tendo apresentado oposição à execução fiscal em 06.09.2001 (Proc. n.º 56/2001, TFPRT.32).

23.º Oposição que foi julgada improcedente.

24.º Tendo o processo dado entrada no Serviço de Finanças de Amarante em 20 de Dezembro de 2005, após trânsito em julgado.

25.º Por despacho de 06.01.2006, foi designado o dia 30 de Março, pelas 10:00 horas, para venda dos bens penhorados, por meio de propostas em carta fechada.

26.º O Ilustre Mandatário dos executados e os executados (ora reclamantes), foram notificados do dia e hora em que teria lugar a venda dos bens penhorados.

27.º De acordo com o auto de venda por proposta em carta fechada, elaborado no dia 30.03.2006, foi aceite a única proposta apresentada pela sociedade “C……………………, Lda.”, no valor total de €150.000,00.

28.º em virtude, desta proponente não ter depositado o preço, apesar de notificada para o efeito, por despacho de 22.05.2006, foi executada nos próprios autos pelo valor do depósito não efetuado.

29.º Tendo em conta que a proponente “C……………………, Lda.”, não efetuou o pagamento do preço e de lhe terem sido localizados e penhorados bens

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de valor manifestamente inferior, por despacho de 12.04.2007, foi determinado que se procedesse a nova venda, nos termos do disposto no art. 898.º do CPC.

30.º Em 12.04.2007, procedeu-se a pedido de avaliação, nos termos do art. 250.º, do CPPT, dos prédios penhorados nos presentes autos.

31.º Por despacho de 16.10.2007, foi designado o dia 28.11.2007, pelas 10:00 horas, para a venda do prédio urbano sito no lugar do ………….., freguesia de ……………, concelho de Amarante, inscrito na matriz predial sob o artigo 562.

32.º A avaliação do prédio inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 104, da freguesia de ……………, concelho de Amarante, só ficou concluída em 02.05.2008.

33.º No entanto, por despacho de 31.05.2013, foi levantada a penhora efetuada sobre este artigo.

34.º Em 26.11.2007, pelos executados, ora reclamantes, foi requerido que fosse reconhecida e declarada a prescrição de todas as dívidas tributárias em sede de IRS e de Contribuição autárquica dos anos de 1996 a 1998 e dada sem efeito a venda designada, por prescrição e por preterição das formalidades essenciais para a venda.

35.º AT entendeu em 27.11.2007, que não se verificava a prescrição das dívidas de IRS.

36.º Por despacho de 03.12.2007, não foi declarada a prescrição das dívidas.

37.º Para além do PEF supra identificado, os ora reclamantes no petitório referem também os processos de execução n.º 1759200101017721 e n.º 1759200201007777, instaurados por dívidas de Contribuição Autárquica dos anos de 1996 a 1999.

38.º Estes dois processos foram declarados extintos em 03.12.2007, por pagamento efetuado em 27.11.2007.

39.º No dia e hora designados para a venda, ou seja, no dia 28.11.2007, pelas 19:00 horas, o chefe do serviço de finanças de Amarante procedeu à abertura das sete propostas apresentadas, tendo-se verificado que a proposta de valor mais elevado, no montante de €60.000,00, foi apresentada pelos ora reclamantes.

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40.º Após o pagamento integral do preço e de satisfeitas as obrigações fiscais inerentes à transmissão, por despacho de 28.11.2007, foi adjudicado o imóvel em causa aos adquirentes D……………….. e E………………..

41.º Em 03.12.2007, o ora reclamante, apresentou um pedido de anulação de venda, que correu termos no TAF de Penafiel sob o n.º 79/08.7BEPNF, o qual foi objecto de decisão de improcedência, em primeira instância, por sentença de 23.07.2010 e em sede de recurso, por Acórdão do TCAN, de 29.09.2011 e do Tribunal Constitucional, já transitadas em julgado.

42.º Foi negado provimento ao recurso interposto pelos ora reclamantes, por oposição de acórdãos, previsto no art. 284.º, n.º 3, do CPPT, quer por decisão proferida no TCAN, quer no Tribunal Constitucional, sendo que esta última data de 27.03.2013.

43.º O incidente de anulação de venda foi devolvido ao serviço de finanças de Amarante em 04.07.2013.

44.º os ora reclamantes foram notificados, por notificações expedidas em 17.07.2013, para procederem à entrega das chaves do imóvel aos adquirentes, assim como deste ato foi dado conhecimento ao Ilustre Mandatário dos mesmos.

45.º O serviço de finanças de Amarante notificou os reclamantes, em 19.07.2013, para procederem à entrega das chaves aos adquirentes do imóvel.

46.º Sobre o mesmo processo de execução fiscal, corre termos neste TAFP o processo de reclamação de atos do órgão de execução fiscal n.º 181/14.6BEPNF, ao qual se encontram apensos o incidente de Anulação de Venda n.º 79/08.7BEPNF e apenso n.º 79/08.7BEPNF-A e os processos de Oposição à execução fiscal n.º 119/99, n.º 56/2011.TFPRT.32 e n.º 79/2002.TFPRT.22.

47.º Também relacionada com o PEF em causa nos presentes autos, foi apresentada pelos ora reclamantes, em 11.09.2013, a reclamação de atos do órgão de execução fiscal, a qual foi distribuída neste TAFP sob o n.º 24/14.0BEPNF, tendo a mesma sido julgada improcedente por sentença de 06.03.2014.

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48.º A presente petição de reclamação deu entrada em 24.01.2008 – cfr. doc. de fls. 96 dos docs. apensos a este processo.

49.º Através da qual pedem os reclamantes a revogação do despacho reclamado, o qual não declarou a prescrição da dívida de IRS, nem qualquer irregularidade na venda (como havia sido requerido pelos ora reclamantes em 28.11.2007) da autoria do chefe do serviço de finanças de Amarante a fls. 92 do apenso, datado de 03.12.2007.

“DESPACHO

Com referência ao requerimento apresentado pelo executado em 27 de Novembro de 2007, decido o seguinte:

Concordo com a informação prestada em 27 de Novembro de 2007, não declaro a prescrição da dívida de IRS.

Não verifico no processo qualquer irregularidade nas formalidades da venda.

Quanto às dívidas de contribuição autárquica, declaro extinta a execução por pagamento.

Amarante, 03 de Dezembro de 2007

O Chefe de Finanças, “ – cf. doc. de fls. 92 dos docs. apensos a este processo.

50.º O qual lhes foi notificado em 10.01.2008 – cf. docs. de fls. 93 e 94 dos autos.

6 – Apreciando.

6.1 Da alegada omissão de pronúncia da sentença recorrida por não ter conhecido da prescrição das dívidas de Contribuição Autárquica

Alegam os recorrentes (cfr. conclusões V a VIII das suas alegações de recurso) que a sentença recorrida enferma de nulidade por omissão de pronúncia porquanto não conheceu de uma questão que lhe foi colocada, (…) a questão da prescrição da CA peticionada pelos recorrentes que podia e devia ter conhecido.

A Meritíssima Juíza “a quo”, no seu despacho de fls. 184 dos autos, sustentou que contrariamente ao alegado pelos

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recorrentes, a decisão objecto de recurso não padece da alegada falta de pronúncia, não merecendo reparo.

Vejamos.

Nos termos do n.º 1 do artigo 125.º do Código de Procedimento e de Processo Tributário (CPPT) e da primeira parte da alínea d) do n.º 1 do artigo 615.º do Código de Processo Civil (CPC), constitui causa de nulidade da sentença, entre outras, a falta de pronúncia sobre questões que o juiz deva apreciar, considerando-se como tais, nos termos do n.º 2 do artigo 608.º do CPC, aplicável ex vi da alínea e) do artigo 2.º do CPPT, todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação, excetuadas aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras.

Na sentença recorrida, no que respeita à invocada prescrição das dívidas de Contribuição Autárquica, consignou-se que (sentença recorrida, a fls. 131 dos autos):

“O despacho reclamado, relativamente à dívida de contribuição autárquica, declarou extinta a execução da mesma nessa parte e não conheceu da sua prescrição.

Pelo que, por falta de decisão sobre a prescrição da dívida de CA, não poderá o Tribunal emitir pronúncia sobre essa questão, pois a extinção da execução, relativamente a essa parte, provoca a inutilidade superveniente do pedido formulado”.

Decorre do transcrito segmento da decisão recorrida que a não pronúncia sobre a invocada prescrição das dívidas de Contribuição Autárquica encontra-se justificada em razão da falta de decisão administrativa sobre a questão e bem assim na extinção da execução (por pagamento), determinante da inutilidade superveniente do pedido formulado.

Os motivos invocados para a não pronúncia do tribunal “a quo” - se não justificativos do não conhecimento da questão – poderão conduzir a erro de julgamento da sentença recorrida, mas a sua invocação conduz a que a sentença se não tenha por ferida de nulidade por omissão de pronúncia.

Improcede, pois, a arguida nulidade.

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E também não há erro de julgamento no não conhecimento da prescrição.

Não pela razão invocada na sentença de a Administração não se ter sobre ela pronunciado, pois que a prescrição, como a duplicação de colecta, é de conhecimento oficioso pelo juiz se o órgão de execução fiscal que anteriormente tenha intervindo o não tiver feito (cfr. o artigo 175.º do CPPT). Antes porque, como consta do n.º 38 do probatório fixado, as dívidas terão sido pagas em 27/11/2007, supõe-se que voluntariamente, pois a venda executiva teve lugar no dia seguinte (cfr. o n.º 40.º do probatório).

Ora, sendo paga voluntariamente uma dívida prescrita, não há lugar à repetição do indevido, pois as dívidas prescritas constituem obrigações naturais que, embora não possam ser coercivamente exigidas, o seu pagamento constitui um dever de justiça (cfr. os artigos 304.º, n.º 2 e 402.º a 404.º do Código Civil).

Por esta razão, que não pelas invocadas, não tinha o tribunal “a quo” de conhecer da prescrição das dívidas de contribuição autárquica, não tendo incorrido em erro de julgamento no seu não conhecimento.

6.2 Do alegado erro de julgamento da sentença recorrida quanto à verificação da excepção de caso julgado no que respeita à anulação da venda

No que respeita ao pedido de anulação da venda a sentença recorrida julgou procedente a excepção de caso julgado invocada pela Fazenda Pública na sua contestação, salvo quanto à questão da prescrição das dívidas de IRS, que o Tribunal não conheceu no entendimento de que não era fundamento de anulação da venda (cfr. sentença recorrida, a fls. 132 a 134 dos autos).

Alegam, porém, os recorrentes que não se verifica a excepção de caso julgado porque esta questão foi formulada pelos recorrentes antes da data do trânsito em julgado e nos precisos moldes em que ela foi “sugerida” pelo douto Acórdão que foi proferido pelo TCAN na acção de anulação da venda (processo n.º 79/08.7BEPNF), inexistindo identidade de causa de pedir porque no processo n.º 79/08.7BEPNF a causa de pedir era a verificação da prescrição no processo de anulação da venda e, ali, ficou decidido que “A prescrição consumada em momento posterior ao prazo para deduzir oposição

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previsto na alínea a) do n.º 1 do artigo 203.º do CPPT não constitui facto superveniente susceptível de abrir novo prazo de oposição àquele previsto na alínea a) do do n.º 1 do artigo 203.º do CPPT.” (cfr. conclusões X e XI das alegações de recurso).

Vejamos.

Consta do n.º 41.º do probatório fixado que “Em 03.12.2007, o ora reclamante, apresentou um pedido de anulação de venda, que correu termos no TAF de Penafiel sob o n.º 79/08.7BEPNF, o qual foi objecto de decisão de improcedência, em primeira instância, por sentença de 23.07.2010 e em sede de recurso, por Acórdão do TCAN, de 29.09.2011 e do Tribunal Constitucional, já transitadas em julgado”.

Ora, é juridicamente irrelevante a alegação dos recorrentes de que não se verifica a excepção de caso julgado porque esta questão foi formulada pelos recorrentes antes da data do trânsito em julgado.

Para que se verifique a excepção de caso julgado o que releva é que a repetição da causa se verifique depois de a primeira causa ter sido decidida por sentença que já não admite recurso ordinário (cfr. a parte final do n.º 1 do artigo 580.º do CPC), não sendo necessário que o “caso julgado” seja anterior à propositura da segunda acção. Releva, pois, o momento da decisão, que não o da propositura da acção, para efeitos de verificação da excepção de caso julgado.

Alegam ainda os recorrentes que não haveria entre as causas identidade de causa de pedir porque no processo n.º 79/08.7BEPNF a causa de pedir era a verificação da prescrição no processo de anulação da venda e, ali, ficou decidido que “A prescrição consumada em momento posterior ao prazo para deduzir oposição previsto na alínea a) do n.º 1 do artigo 203.º do CPPT não constitui facto superveniente susceptível de abrir novo prazo de oposição àquele previsto na alínea a) do do n.º 1 do artigo 203.º do CPPT”.

Ora, consultadas a sentença e o Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte proferidos no processo de anulação da venda (a fls. 514 a 707 do apenso junto aos presentes autos contendo os documentos extraídos do processo de anulação da venda n.º 79/08.7BEPNF) resulta

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evidente que na reclamação que está na origem dos presentes autos se invocaram nulidades e irregularidades da citação e do processo executivo que foram já apreciadas naquele processo, havendo quanto a tais questões “caso julgado”.

É certo que também a prescrição das dívidas de IRS foi ali invocada, mas porque sobre tal questão não foi emitida pronúncia - no entendimento, em 1.ª instância, que tal invocação era intempestiva; no entendimento, do TCA-Norte, de que a prescrição consumada em momento posterior ao prazo para deduzir oposição não constituía, por si, fundamento de anulação da venda -, não se formou, sobre ela, caso julgado, como bem decidido.

Nada há, pois, a censurar à sentença recorrida quando julgou procedente a excepção de caso julgado salvo quanto à questão da prescrição.

6.3 Da alegada prescrição das dívidas exequendas de IRS

A sentença recorrida, apreciando a questão da invocada prescrição das dívidas exequendas de IRS relativas aos anos de 1993 a 1997, julgou-as não prescritas à data do despacho reclamado.

Considerou a sentença recorrida que o prazo de prescrição aplicável à dívida de 1993, por aplicação do disposto no artigo 297.º n.º 1 do Código Civil, era o de 10 anos, previsto no CPT, prazo este que se iniciou em 1/1/1994, se interrompeu com a entrada do PEF, ocorrida em 12.07.1999, começando nessa data a correr novo prazo de prescrição, nos termos do art. 326.º, n.º 1, do CC, pelo que, neste caso, a prescrição ocorreria em 12.07.2009, ou seja, à data do despacho reclamado (03.12.2007), não se encontrava prescrita a dívida de IRS(cfr. sentença recorrida, a fls. 134 a 136 dos autos).

Alegam, porém, os recorrentes que tendo presente o disposto no artigo 12.º do Código Civil mostram-se incorrectos os cálculos determinados pelo Tribunal a quo quanto às datas da ocorrência do prazo prescricional, porquanto o n.º 2 do artigo 49.º da LGT na redacção dada pelo DL n.º 398/98, de 17/12, (em vigor à data dos factos) estabelecia que “A paragem do processo por período superior a um ano por facto não imputável ao sujeito passivo faz cessar o efeito previsto no número anterior, somando-se, neste caso, o tempo que decorrer após esse

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período ao que tiver decorrido até à data da autuação”, pugnando por que aquando da instauração da reclamação pelos aqui recorrentes – 26.11.2007 – os prazos de prescrição dos aludidos tributos já havia ocorrido pelo menos em relação aos anos tributários de 1993, 1994, 1995 e 1996.

Vejamos.

Importa, em primeiro lugar, determinar qual o prazo de prescrição aplicável às dívidas exequendas de IRS cuja prescrição é invocada – se o de 10 anos, previsto no n.º 1 do artigo 34.º Código de Processo Tributário (CPT), em vigor à data dos factos tributários; se o de 8 anos, previsto n.º 1 do artigo 48.º da Lei Geral Tributária (LGT), contado desde a data da entrada m vigor da referida Lei (ou seja, desde 1 de Janeiro de 1999, nos termos do artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 398/98, de 17 de Dezembro –, para o que haverá que determinar, em face do disposto no n.º 1 do artigo 297.º do Código Civil (aplicável ex vi do disposto no n.º 1 do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 398/98), se à data da entrada em vigor da LGT faltava, em concreto, menos de 8 anos para, segundo a lei antiga, o prazo se completar (caso em que continuaria a ser aplicável o prazo de 10 anos previsto no CPT).

As dívidas em causa respeitam a IRS dos anos de 1993, 1994, 1995, 1996 e 1997, sendo que, nos termos do n.º 2 do artigo 34.º do CPT, a contagem dos prazos de prescrição se fazia do início do ano seguinte àquele em que tiver ocorrido o tributário, ou seja, respectivamente, desde 1 de Janeiro de 1994, 1 de Janeiro de 1995, 1 de Janeiro de 1996, 1 de Janeiro de 1997 e 1 de Janeiro de 1998.

De acordo com o probatório fixado na sentença recorrida nenhum facto interruptivo ou suspensivo da prescrição ocorreu na vigência do CPT - pois a própria instauração da execução é já posterior à entrada em vigor da LGT (cfr. o n.º 1 do probatório fixado) –, daí que, na vigência do CPT, tais prazos tenham corrido ininterruptamente.

Assim, contando ininterruptamente os prazos de 10 anos, teríamos que, à data de 1 de Janeiro de 1999, tinham decorrido os seguintes prazos de prescrição:

- IRS de 1993: 5 anos, faltando outros 5 para o prazo se concluir segundo a lei antiga;

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- IRS de 1994: 4 anos, faltando 6 anos para o prazo se concluir segundo a lei antiga;

- IRS de 1995: 3 anos, faltando 7 anos para o prazo se concluir segundo a lei antiga;

- IRS de 1996: 2 anos, faltando 8 anos para o prazo se concluir segundo a lei antiga;

- IRS de 1997: 1 ano, faltando 9 anos para o prazo se concluir segundo a lei antiga.

Por aplicação do disposto no n.º 1 do artigo 297.º do Código Civil temos, pois, como aplicável à prescrição das dívidas de IRS dos anos de 1993, 1994 e 1995 o prazo de 10 anos previsto no CPT (pois à data da entrada em vigor da LGT faltavam menos de 8 anos para o prazo de prescrição contado segundo a lei antiga se concluir) e às dívidas de IRS dos anos de 1996 e 1997 o prazo de 8 anos previsto na LGT (porque para estas não faltava segundo a lei antiga menos tempo para o prazo se completar, razão pela qual é aplicável o prazo de oito anos previsto na LGT, contado desde o dia 1 de Janeiro de 1999, e não o de dez anos do CPT).

Definidos os prazos de prescrição aplicáveis, vejamos agora se ocorreu a prescrição das dívidas exequendas, para o que terá de tomar-se em conta as vicissitudes sofridas no seu decurso resultantes da verificação de causas de interrupção ou suspensão da prescrição, havendo que considerar, a este propósito, como aplicáveis as previstas na lei em vigor à data da respectiva ocorrência, ex vi do disposto no n.º 2 do artigo 12.º do Código Civil, bem como que, até à entrada em vigor da Lei n.º 53-A/2006, de 29 de Dezembro, a paragem do processo por período superior a um ano por facto não imputável ao sujeito passivo fazia cessar o efeito interruptivo, transmutando-o em efeito meramente suspensivo (cfr. o n.º 2 do artigo 49.º da LGT, na redacção anterior à Lei n.º 53-A/2006, de 29 de Dezembro) e bem assim que não existia limitação legal ao número de causas de interrupção da prescrição atendíveis no cômputo do prazo (pois que tal limitação - a uma, relevando a mais antiga - só veio a ser introduzida por força daquela lei, ao conferir nova redacção ao n.º 3 do artigo 49.º da LGT).

Dos factos elencados no probatório o primeiro com relevo para o cômputo do prazo de prescrição é a citação (edital)

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do executado marido, ocorrida em 29 de Setembro de 1999 (cfr. o n.º 6.º do probatório fixado), pois que a instauração da execução, que era causa de interrupção da prescrição prevista no n.º 3 do artigo 34.º da LGT, com a entrada em vigor da LGT deixou de o ser (cfr. o artigo 49.º da LGT, na sua redacção originária), vindo esse efeito interruptivo a ser atribuído à citação do executado com a Lei n.º 100/99, de 26 de Julho, que deu nova redacção ao n.º 1 do artigo 49.º da LGT.

Assim, à data de 29 de Setembro de 1999 (citação do executado), interromperam-se todos os prazos de prescrição em curso, o que inutilizou para a prescrição todo tempo até então decorrido.

Parece resultar do probatório que o processo executivo esteve, porém, parado, por facto não imputável ao contribuinte, desde 30 de Setembro de 1999 (cfr. o n.º 7 do probatório fixado) até à data da citação pessoal da executada mulher, ocorrida em 7 de Agosto de 2001 (cfr. o n.º 21 do probatório), sendo que, à data, a paragem do processo por período superior a um ano por facto não imputável ao sujeito passivo fazia cessar o efeito interruptivo, transmutando-o em efeito meramente suspensivo (cfr. o n.º 2 do artigo 49.º da LGT, na redacção anterior à que lhe veio a ser conferida pela Lei n.º 53.º-A/2006, de 29 de Dezembro).

Assim, completado um ano de paragem do processo executivo – ou seja, em 30 de Setembro de 2000 -, os prazos de prescrição recomeçaram a correr, somando-se o tempo decorrido até à interrupção, àquele que decorreu após essa data.

Sucede, porém, que os prazos de prescrição de novo em curso se voltaram a interromper com a citação da executada em 7 de Agosto de 2001 – sem que, entretanto, nenhum deles se tenha completado -, o que de novo inutilizou para a prescrição todo tempo até então decorrido.

Entre 7 de Agosto de 2001, data da citação da executada mulher, e 6 de Janeiro de 2006 (data do despacho que designou o dia 30 de Março de 2006 para venda dos bens penhorados – cfr. o n.º 25 do probatório), não há notícia no probatório de terem sido realizadas diligências no processo executivo. Sucede, porém, que tal terá sucedido em virtude da dedução de oposição à execução pela

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executada mulher (cfr. o n.º 22 do probatório fixado), que, porque a dívida se encontrava garantida por penhora (cfr. o n.º 4 do probatório fixado), determinou a suspensão da execução fiscal até ao trânsito em julgado da decisão, ocorrida em 20 de Dezembro de 2005 (cfr. o n.º 24 do probatório fixado).

Ora, embora a dedução da oposição, estando garantida a dívida, não fosse, ao tempo, facto suspensivo da prescrição (pois só passou a sê-lo com a Lei n.º 53.º-A/2006, de 29 de Dezembro, que deu nova redacção ao n.º 4 do artigo 49.º da LGT), certo é que a paragem do processo executivo na pendência do processo de oposição foi determinada por facto imputável à executada, razão pela qual não há lugar, durante esse período, à aplicação do n.º 2 do artigo 49.º da LGT.

Ora, após a entrada do processo de oposição depois do trânsito em julgado no Serviço de Finanças de Amarante (em 20/12/2005 – cfr. o n.º 24.º do probatório) e o dia 1 de Janeiro de 2007 (data da entrada em vigor da Lei n.º 53.º-A/2006, de 29 de Dezembro, que revogou o n.º 2 do artigo 49.º da LGT) o processo executivo não esteve parado por mais de um ano (cfr. os n.ºs 25.º a 29.º do probatório fixado), sendo que, a partir desta data, tal paragem passou a ser irrelevante (salvo se a prescrição se tivesse completado até então, o que não sucedeu no caso dos autos).

Daí que, com a citação da executada (em 7 de agosto de 2001), se interromperam todos os prazos de prescrição então em curso, prazos esses que não recomeçaram a sua contagem em virtude do efeito duradouro da interrupção da prescrição decorrente da citação do executado (cfr. o n.º 1 do artigo 327.º do Código Civil).

Não estavam, pois, prescritas as dívidas de IRS exequendas à data do despacho reclamado. Na realidade, mercê da interrupção da prescrição ocorrida com a citação da executada, que inutilizou para a prescrição todo o tempo decorrido, até ao termo do processo executivo não há prescrição relevante a computar.

A sentença recorrida, que julgou não prescritas as dívidas exequendas de IRS, não merece, pois, censura.

Improcedem, deste modo, as alegações dos recorrentes.

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– Decisão –

7 – Termos em que, face ao exposto, acordam os juízes da Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo em negar provimento ao recurso, confirmando a sentença recorrida.

Custas pelos recorrentes.

Lisboa, 1 de Outubro de 2014. – Isabel Marques da Silva(relatora) – Pedro Delgado – Fonseca Carvalho.

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