acórdãos stj _ direito internacional publico

69
Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça Processo: 832/07.9TBVVD.L2.S2 Nº Convencional: 1ª SECÇÃO Relator: GREGÓRIO SILVA JESUS Descritores: HERANÇA TESTAMENTO DIREITO INTERNACIONAL LEI APLICÁVEL NORMA DE CONFLITOS CONSULADO VALIDADE FRAUDE À LEI ORDEM PÚBLICA Data do Acordão: 18/06/2013 Votação: UNANIMIDADE Texto Integral: S Privacidade: 1 Meio Processual: REVISTA Decisão: CONCEDIDA A REVISTA Área Temática: DIREITO CIVIL - LEIS, SUA INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO - DIREITO DAS SUCESSÕES / SUCESSÃO LEGITIMÁRIA / SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA / FORMA DO TESTAMENTO / REVOGAÇÃO DO TESTAMENTO E DISPOSIÇÃO TESTAMENTÁRIA. DIREITO DO NOTARIADO - ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS NOTARIAIS / COMPETÊNCIA FUNCIONAL / ATRIBUIÇÕES DOS NOTÁRIOS. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO- CONFLITOS DE LEIS / NORMAS DE CONFLITOS. DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS E CONSULARES. Doutrina: - Antunes Varela e Pires de Lima, Código Civil Anotado, Vol. I, 4.ª ed., pp. 69, 99, 101; Vol. VI, 1998, p. 356. - Antunes Varela, em anotação ao Acórdão do STJ, de 21/03/85l, Revista de Legislação e Jurisprudência, Ano 123.º, pp. 122 a 128, e 144 a 148. - Baptista Machado, Lições de Direito Internacional Privado, 3.ª ed., 1995, pp. 434, 438/439. - Domingos Carvalho de Sá, Do Inventário – Descrever, Avaliar e Partir, 3.ª ed., 1998, pp. 93 a 95. – Eduardo Correia Baptista, Direito Internacional Público, volume II, 2004, p. 141. - Ferrer Correia, Direito Internacional Privado - Alguns Problemas, 2.ª reimpressão, Coimbra, 1991, pp. 203; Lições de Direito Internacional Privado,

Upload: sonia-ribeiro

Post on 18-Dec-2015

37 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

fraude a lei

TRANSCRIPT

Acrdos STJAcrdo do Supremo Tribunal de Justia

Processo:832/07.9TBVVD.L2.S2

N Convencional:1 SECO

Relator:GREGRIO SILVA JESUS

Descritores:HERANATESTAMENTODIREITO INTERNACIONALLEI APLICVELNORMA DE CONFLITOSCONSULADOVALIDADEFRAUDE LEIORDEM PBLICA

Data do Acordo:18/06/2013

Votao:UNANIMIDADE

Texto Integral:S

Privacidade:1

Meio Processual:REVISTA

Deciso:CONCEDIDA A REVISTA

rea Temtica:DIREITO CIVIL - LEIS, SUA INTERPRETAO E APLICAO - DIREITO DAS SUCESSES / SUCESSO LEGITIMRIA / SUCESSO TESTAMENTRIA / FORMA DO TESTAMENTO / REVOGAO DO TESTAMENTO E DISPOSIO TESTAMENTRIA.DIREITO DO NOTARIADO - ORGANIZAO DOS SERVIOS NOTARIAIS / COMPETNCIA FUNCIONAL / ATRIBUIES DOS NOTRIOS.DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO- CONFLITOS DE LEIS / NORMAS DE CONFLITOS.DIREITO INTERNACIONAL PBLICO - RELAES DIPLOMTICAS E CONSULARES.

Doutrina:- Antunes Varela e Pires de Lima, Cdigo Civil Anotado, Vol. I, 4. ed., pp. 69, 99, 101; Vol. VI, 1998, p. 356.- Antunes Varela, em anotao ao Acrdo do STJ, de 21/03/85l, Revista de Legislao e Jurisprudncia, Ano 123., pp. 122 a 128, e 144 a 148.- Baptista Machado, Lies de Direito Internacional Privado, 3. ed., 1995, pp. 434, 438/439.- Domingos Carvalho de S, Do Inventrio Descrever, Avaliar e Partir, 3. ed., 1998, pp. 93 a 95. Eduardo Correia Baptista, Direito Internacional Pblico, volume II, 2004, p. 141.- Ferrer Correia, Direito Internacional Privado - Alguns Problemas, 2. reimpresso, Coimbra, 1991, pp. 203; Lies de Direito Internacional Privado, 1973, pp. 581, 582, 587.- Guilherme de Oliveira, Temas de Direito da Famlia, Testamento Olgrafo Acrdo do Supremo Tribunal de Justia, de 12 de Maio de 1992 (Anotao), 1999, pgs. 180/182, e Revista de Legislao e Jurisprudncia, Ano 125., pgs. 309/316.- Inocncio Galvo Telles, Direito das Sucesses - Noes Fundamentais, 6. ed., 1996, pp. 332/333.- Jorge Duarte Pinheiro, Legado em Substituio da Legtima, 1996, p. 230.- Lopes Cardoso, Partilhas Judiciais (Teoria e Prtica), 4. ed., 1990, pp. 461 a 463.- Lus Carvalho Fernandes, Lies de Direito das Sucesses, 1999, pp. 401, 414.- Lus de Lima Pinheiro, Direito Internacional Privado Introduo e Direito de Conflitos (Parte Geral), 2. ed., 2008, pp. 498 e 499/506; Direito Internacional Privado Direito de Conflitos Parte Especial, Volume II, 3. edio refundida, 2009 pp. 545/547.- Margarida dOliveira Martins, Direito Diplomtico e Consular, Tratado de Direito Administrativo Especial, Volume V, pp. 219, 223.- Marques dos Santos, Parecer publicado na Colectnea de Jurisprudncia Acrdos do STJ, 1995, Tomo II, pp. 6-10.- Mota Pinto, Teoria Geral do Direito Civil, 3 ed., p. 551.- Oliveira Ascenso, Direito Civil Sucesses, 4. ed., 1989, pp. 28 e 29, 80.- Rodrigues Bastos, Notas ao Cdigo Civil, Vol. I, 1987, p. 102.- Vasco Taborda Ferreira, Sistema do Direito Internacional Privado segundo a Lei e a Jurisprudncia, 1957, p. 130.

Legislao Nacional:CDIGO CIVIL (CC): - ARTIGOS 21., 22., 25., 31., N.1 E N.2, 35., N.1, 62., 64., 65., 2025., 2026., 2156., 2159., 2162., N.1, 2179., N1, 2187., N.1 E N.2, 2205., 2206., N.1,2223., 2311., 2312., 2313., N. 1.CDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC): - ARTIGO 664..CDIGO DO NOTARIADO APROVADO PELO DL N. 207/95, DE 14/08: - ARTIGO 4., N. 2, AL. A).DECRETO-LEI N. 4.657, DE 04/09/1942 LEI DE INTRODUO S NORMAS DE DIREITO BRASILEIRO: - ARTIGO 10..DECRETO-LEI N 183/72, DE 30/05: - ARTIGO 5., AL. A).DECRETO-LEI N 303/2007, DE 24-8: - ARTIGOS 11., 12..DECRETO-LEI N 48295, DE 27/03/68.

Legislao Estrangeira:CDIGO CIVIL BRASILEIRO (CCB): - ARTIGO 1846..

Referncias Internacionais:CONVENO SOBRE RELAES DIPLOMTICAS, CELEBRADA EM VIENA EM 18/04/61.CONVENO SOBRE RELAES CONSULARES, CONCLUDA EM VIENA EM 24/04/63.

Jurisprudncia Nacional:ACRDOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIA:-DE 12/05/1992;-DE 27/09/1994, COLECTNEA DE JURISPRUDNCIA, ACRDOS DO STJ, ANO II, TOMO III, PP. 71 A 73;-DE 12/10/2006, PROC. N. 06B3254, DISPONVEL EM WWW.DGSI.PT ;-DE 19/02/2008, PROC. N. 07A4790, DISPONVEL EM WWW.DGSI.PT ;-DE 23/10/2008, PROC. N. 07B4545 DISPONVEL EM WWW.DGSI.PT ;-DE 29/05/2012, PROC. N. 137/06.2TVLSB.L1.S1, DISPONVEL EM WWW.DGSI.PT ;-DE 16/10/2012, PROC. N. 991/10.3TBTVD-B.L1.S1, DISPONVEL EM WWW.DGSI.PT .

Sumrio :I - Em face de uma situao jurdico-privada internacional, que pe em contacto duas ordens jurdicas diversas, h que aplicar as normas de conflitos de leis, de acordo com os princpios do Direito Internacional Privado (DIP) portugus, a fim de indagar, designadamente, qual a lei aplicvel para decidir a questo da validade de um testamento feito por uma cidad portuguesa, residente em Portugal, no Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, em Lisboa, referente ao seu patrimnio sito neste pas.II - O legislador portugus manda aplicar sucesso por morte a lei pessoal do autor da sucesso ao tempo do falecimento deste cf. arts. 25. e 62. do CC , sendo essa lei pessoal, segundo o art. 31., n. 1, do CC, a lei da nacionalidade do indivduo.III - A lei nacional do autor da sucesso regula tudo o que respeita ao fenmeno sucessrio, incluindo a vocao dos sucessveis e a devoluo da herana.IV - Considerando, em concreto, que a me da 1. autora e da r tinha, ao tempo do seu decesso, exclusivamente a nacionalidade portuguesa, a lei portuguesa a aplicvel ao envolvente fenmeno sucessrio dele derivado, designadamente no que se reporta validade formal do testamento cf. arts. 25., 31., n. 1, 62. e 65. do CC.V - O art. 65., n. 1, do CC contempla uma pluralidade de leis substantivas potencialmente aplicveis forma das disposies por morte incluindo aquelas que so objecto de testamento , sob a motivao de favorecimento da sua validade formal. O n. 2 do mesmo preceito prev um limite referida pluralidade, no caso de a lei pessoal do autor da herana exigir, em relao s disposiesmortis causa, determinada forma, ainda que elas ocorram no estrangeiro, sob pena de nulidade.VI - O art. 2223. do CC refere-se forma externa exigida para o testamento lavrado por cidado portugus em pas estrangeiro, adoptando uma soluo que respeita o princpio de que a lei do lugar onde o acto se realiza que compete regular a sua forma externa (locus regit actum), no prescindindo que o testamento revista o carcter solene que a lei portuguesa exige.VII - Num testamento em que ficou exarado: () respeitando o disposto no Artigo 1846 do Cdigo Civil Brasileiro, ou seja, a parte legtima de suas filhas, e, podendo, portanto, dispor da metade de seu patrimnio, a chamada parte disponvel, pelo presente testamento, a Outorgante Testadora, quer e determina que aps o seu falecimento a parte disponvel do seu patrimnio no Brasil () fiquem para sua filha (), por demais evidente que a falecida/testadora procurou sujeitar o seu patrimnio e futuro acervo hereditrio existente no Brasil, s disposies do direito interno brasileiro.VIII - O facto da testadora ter elaborado trs testamentos, em momentos temporais distintos, , em abstracto, perfeitamente legal, uma vez que o testador, at ao ltimo momento da sua vida, livre de o revogar, e, assim, afastar quaisquer sucessveis nele designados, nada impedindo na lei que uma pessoa faa vrios testamentos, podendo revogar ou no expressamente o(s) anterior(es) se e na medida em que com aquele(s) for incompatvel.IX - A fraude lei (em DIP) pode distinguir-se, por um lado, na manipulao do elemento de conexo e, por outro lado, na internacionalizao fictcia de uma situao interna: no primeiro caso, para afastar a lei normalmente competente, o agente da fraude vai modelar o contedo do elemento de conexo; no segundo caso, para afastar o Direito material vigente na ordem jurdica interna, que o exclusivamente aplicvel a uma situao interna, estabelece-se uma conexo com um Estado estrangeiro, por forma a desencadear a aplicao do Direito estrangeiro.X - Os elementos da fraude lei (em DIP) so dois: um elemento objectivo e um elemento subjectivo. O primeiro (elemento objectivo) traduz-se na manipulao com xito do elemento de conexo ou na internacionalizao fictcia de uma situao interna; o segundo (elemento subjectivo) consiste na vontade dolosa de afastar a aplicao de uma norma imperativa que seria normalmente aplicvel, incidindo o dolo sobre a modelao do contedo concreto do elemento de conexo ou sobre a internacionalizao fictcia da situao interna.XI - Um cidado portugus, residente em Portugal, que se desloque a um pas estrangeiro ou a um consulado de um pas estrangeiro em Portugal, para a lavrar testamento segundo a lei desse Estado (in casu, o direito material brasileiro), com essa atitude afronta directamente com a sua lei pessoal, a portuguesa, que a reguladora da sua sucesso por morte.XII - Ao recorrer a essa via, a testadora conseguiria efectuar uma deixa testamentria correspondente a do seu patrimnio existente no Brasil a favor de uma das suas filhas, luz do art. 1846. do CCB, ludibriando a sua lei pessoal, a portuguesa, em que a quota disponvel , neste caso, de 1/3, uma vez que a legtima equivale a 2/3 da herana, sendo essa a poro intangvel de que o testador jamais pode dispor, por estar legalmente destinada aos seus herdeiros legitimrios,ex vidos arts. 2159., n. 2, e 2156. ambos do CC, que constituem normas imperativas.XIII - A fraude,in casu, traduziu-se na circunstncia de a falecida, conhecedora da lei aplicvel sua sucesso em Portugal, e do facto da sua quota disponvel, nessa eventualidade, ser inferior que a lei brasileira lhe permitia dispor por fora da legtima prevista num e noutro ordenamento jurdico , ter-se deslocado resolutamente ao Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, em Lisboa, para a, submetendo-se lei brasileira, procurareximir-seao regime legal da sucesso legitimria mais rigoroso do Estado portugus.XIV - No o facto da lei brasileira contemplar uma legtima de dos bens da herana, enquanto que a lei portuguesa,in casu, contempla uma legtima de 2/3, que converte a situao num caso de violao da ordem pblica internacional, susceptvel de cair na alada do art. 22. do CC.

Deciso Texto Integral: Recurso de Revista n 832/07.9TBVVD.L2.S2[1]

Acordam no Supremo Tribunal de Justia

I RELATRIOAAe maridoBB,residentes na ..., ..., ..., intentaram a presente aco declarativa com processo comum ordinrio demandandoCC,residente na Rua ..., n . ., Lisboa, peticionando a condenao desta a ver declarada a anulao ou a nulidade formal do testamento que a falecida me de ambas, DD, efectuou no Consulado-Geral do Brasil em Lisboa, em 23/06/2005Alegaram, para tanto, em sntese, que a 1. autora a filha mais velha, sendo ela e a r as nicas filhas da falecida, e que o referido testamento nulo e invlido porquanto a me era cidad exclusivamente portuguesa, sempre residiu em Portugal, e nunca foi ao Brasil.A lei aplicvel sucesso por morte a lei pessoal do autor da sucesso que no caso a portuguesa (arts. 62. e 31., n. 1, ambos do Cdigo Civil CC). No testamento brasileiro a me das autora e r, deixou 1/2 dos bens sitos no Brasil r, aproveitando a quota disponvel de 1/2 da lei brasileira (art. 1789. do Cdigo Civil Brasileiro, Lei 10.406 de 10/01/2002 CCB), o que contraria a legtima de 2/3 da lei portuguesa.Por fora do princpio da universalidade da herana, os tribunais portugueses so competentes para a partilha de bens de portugueses mesmo que situados no estrangeiro.A falecida s podia fazer testamento de forma vlida num cartrio notarial portugus, a no ser que se encontrasse acidentalmente num pas estrangeiro, caso em que poderia fazer o testamento num consulado portugus (art. 4., n. 2, al a), do Cdigo do Notariado CN).Em matria de forma das disposies por morte rege o art. 65., n. 1, do CC, que estabelece uma conexo alternativa, mas ela no aplicvel ao caso; a lei brasileira no permite que um consulado brasileiro lavre testamentos de portugueses residentes em Portugal.A lei brasileira (art. 1785. do CCB) diz que a sucesso se abre no lugar do ltimo domiclio do falecido; a admitir-se a validade do testamento brasileiro, estar-se-ia perante dois testamentos e duas disposies de quotas disponveis, uma eficaz num inventrio a realizar em Portugal para os bens portugueses e a outra a utilizar num inventrio a realizar no Brasil para os bens brasileiros.Contestou a r, excepcionando a ilegitimidade da autora enquanto cabea-de-casal da herana e a incompetncia territorial do tribunal e, por obscuro nos termos em que foi formulado, pediu que tudo o que consta do pedido para alm do que acima foi consignado seja considerado como no escrito.Por outro lado, impugnou os factos alegados pelos autores e os efeitos que eles querem retirar dos no impugnados, entendendo que: no h qualquer violao do disposto nos arts. 62. do CC, e 4., n. 2, al. a), do CN; nem incompetncia do consulado brasileiro para a celebrao do testamento; nem violao da legtima; nem ocorre competncia exclusiva dos tribunais portugueses para a aco do inventrio.A r acrescenta que aceita que a lei portuguesa a competente para o clculo da legtima e que considera que a deixa testamentria s em concreto que poder vir a ser tida como inoficiosa, o que se ter de apurar em sede de inventrio.Os autores replicaram, defendendo a improcedncia das excepes deduzidas (cf. fls. 110 a 117).Foi decidida a incompetncia territorial do Tribunal de ... no sentido defendido pela r, passando a aco a ser tramitada pelas Varas Cveis de Lisboa (cf. fls. 125 e verso).Depois de ultrapassados alguns incidentes, no despacho saneador a r foi absolvida da instncia por ineptido da petio inicial (cf. fls. 188 a 190), deciso revogada por acrdo da Relao de Lisboa datado de 22/04/10 que ordenou o prosseguimento dos autos (cf. fls. 235 a 245), e aps uma audincia preliminar, considerando-se que o processo o permitia sem necessidade de mais provas, foi proferida sentena que julgou a aco parcialmente procedente, declarando-se ineficaz o testamento efectuado pela falecida DD, elaborado em 23/06/2005 no Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, e condenando-se a r no reconhecimento dessa ineficcia (cf. fls. 277 a 289).Inconformada, apelou a r, e a Relao de Lisboa acordou, por maioria, em 23/11/11, em julgar o tribunal portugus internacionalmente incompetente para conhecer do pleito, absolvendo a r da instncia (cf. fls. 362 a 374), deciso que acabou por ser revogada por Acrdo deste STJ, de 19/06/12 (cf. fls. 454 a 460), declarando a competncia do tribunal portugus e determinando a baixa do processo Relao para conhecimento da apelao.Nesta sequncia foi proferido o acrdo da Relao sob recurso, de 25/10/12, que, por unanimidade, julgou procedente a apelao revogando a sentena do tribunal de 1. Instncia e, em sua substituio, julgou a aco improcedente e absolveu a r do pedido (cf. fls. 474 a 482).Mantendo a sua discordncia, os autores interpem, agora, recurso de revista, para este Supremo Tribunal, concluindo, assim, as suas alegaes (cf. fls. 493 a 498 verso):1. - A cidados (exclusivamente) portugueses, como o caso dos presentes autos, e estando o testador em Portugal, s e exclusivamente os Notrios portugueses so capazes de fazer e/ou de celebrar os seus testamentos.2. - O Acrdo recorrido fundamentou-se, maxime, na validade e na eficcia do testamento brasileiro, ora em apreo, da Me de A. e R. nestes autos, remetendo para o Inventrio a questo de saber se a disposio testamentria inoficiosa ou no... Ora,3. - A inoficiosidade de um testamento (e at, antes dessa "questo", a "validade" de um testamento e, depois desta, a sua "eficcia"...) no definida nem tratada, como consabido pacificamente, na prova sumria de um processo de Inventrio; mas, antes, num processo autnomo (e at, sempre que possvel, "prvio" ao Inventrio)!...4. - Como que, num "vulgar" Inventrio, se vai tratar de uma hipottica inoficiosidade, "ainda por cima" adveniente de um testamento brasileiro, "espertamente" celebrado, contra a lei portuguesa, por uma cidad exclusivamente portuguesa, residente no Porto, e que, nem como simples "turista", havia sequer, alguma vez, ido ao Brasil?! ...5. - Do entendimento, expresso no Acrdo recorrido, discordamos total e frontalmente, pois que viola as disposies da lei portuguesa quer quanto s "sucesses", quer quanto "forma" e quer quanto "substncia" (do testamento). Entretanto,6. - Desde j, em 1. lugar e por mera economia processual, d-se aqui, como inteiramente reproduzido tudo o que at presente data foi por ns alegado e apresentado nos autos, mormente a p.i. bem como todos os documentos juntos, nomeadamente o "Manual Consular Brasileiro", bem como todos os Acrdos, a que se fez referncia nos vrios articulados...7. Efectivamente, dispe a alnea a), do art. 64., do Cd. Civil, que cabe lei pessoal do autor da Herana ao tempo da declarao, ou seja, ao tempo da realizao do testamento regular, a saber: a) - a interpretao das respectivas clusulas e disposies, salvo se houver referncia expressa ou implcita a outra lei; Ora,8. - O testamento da finada D. DD, me da A. e da R., faz referncia ao artigo 1846. do Cd. Civil brasileiro, no qual se dispe que a legtima de metade dos bens do de cujus; e tal disposio contrria ao disposto no art. 2159., do nosso Cd. Civil, que considera a legtima dos filhos em 2/3 (dois-teros) da Herana do de cujus9. - O texto do "testamento brasileiro" da finada D. DD, feito no Consulado-Geral do Brasil, em Lisboa, diz expressamente que ...."podendo, portanto, dispor da metade do seu patrimnio, a chamada parte disponvel..." Assim, temos, concretamente, a vontade da testadora de se submeter lei brasileira, ou seja, usufruir da quota disponvel da lei brasileira que, como vimos, superior quota disponvel existente no Cdigo Civil Portugus. Ora, ao querer, como quis, submeter-se lei brasileira, a testadora pretendeu fugir ao imperativo da lei portuguesa e remeter-se para a lei brasileira, que poderia dar mais valores R, ora e aqui Recorrida, como, de facto, o fez !Da que,10. - O testamento em apreo retrata uma fraude lei, prevista pelo art. 21. do Cd. Civil, pois que a Finada, ao querer que o seu testamento fosse regido pelo art. 1846., do Cd. Civil brasileiro, quis criar uma situao de direito fraudulenta a meno quele preceito brasileiro , para "fugir" aplicao da sua lei pessoal a lei portuguesa.11. - Fez, assim, a douta Sentena da 1." Instncia, uma aplicao correcta da Lei situao de facto, ao contrrio do douto Acrdo agora em recurso.12. - Alis, muito se admiram e estranham as contas aritmticas, que o Sr. Desembargador-Relator a quo se deu ao trabalho de fazer, e s concluses a que chegou, pois que se tivesse lido bem a relao de bens, doados R., ora Recorrida, teria compreendido que esta est mais que beneficiada, mesmo sem o testamento ora em anlise.13. - Como consta dos autos e do Manual Consular Brasileiro, os consulados do Brasil no Exterior, ser melhor dizer-se no estrangeiro alis, como os consulados portugueses no estrangeiro , s podem exercer funes de Notrio para os cidados brasileiros (para os seus cidados que se encontrem no estrangeiro...) e nunca para os estrangeiros, nomeadamente para os portugueses residentes em Portugal, como era o caso da testadora (falecida me de A. e R.).Efectivamente,14. - Por muitas contas de matemtica que se possam fazer, (metade) de uma unidade sempre superior a 1/3 (um-tero) da mesma unidade e temos de realizar que a Herana da finada uma nica "unidade"!... E matria assente, pacificamente, que a falecida testadora, D. DD, era cidad exclusivamente portuguesa, residente em Portugal (e que, alis, nunca tinha ido ao Brasil, mesmo como simples "turista"...) e que a lei que regula a sua sucesso a lei portuguesa; e a esta ltima que tm de se submeter os seus herdeiros (a A. e a R.), as quais, por sua vez, tambm so cidads exclusivamente portuguesas.Alis,15. - Se a referida Finada no quisesse valer-se da quota disponvel brasileira, no havia razo para ela no ter usado a faculdade de deixar R., aqui Recorrida, tudo o que pretendia no seu testamento (portugus) de 19 de Maio de 2005, em que, ao contrrio, at "soube" retirar a pessoa do seu Marido... Honni soit qui mal y pense !16. - A douta Sentena da 1. Instncia analisou muito bem o testamento "brasileiro" ora em crise e verificou precisamente esta "anomalia", no comportamento da testadora, anomalia essa que facilmente comprovada pela duplicao de testamentos... num lapso de tempo de (apenas...) cerca de 1 (um) ms !... Tambm, de estranhar que a finada testadora teve de ir, j velha, do Porto, onde residia normalmente (h dcadas...), para Lisboa (para a casa da R., ora Recorrida), para poder fazer tal testamento brasileiro, tendo at se identificado, neste ltimo, como residente na casa da R., aqui Recorrida, quando a referida finada sempre residiu at morrer na cidade do Porto... Tal comportamento da Finada faz constatar uma vontade deliberada dela fugir s disposies legais portuguesas, em matria de sucesses, e querer reger a sua sucesso por uma outra Lei, que, como j se viu, consignava uma quota disponvel de valor superior da lei portuguesa.17. - No nosso direito de conflitos o instituto da fraude lei constitui um instrumento de justia da conexo e um limite tico colocado autonomia privada na modelao do contedo concreto dos elementos de conexo, como ensina Lus de Lima Pinheiro, in "Direito Internacional Privado"- vol. I - pgs. 385. Efectivamente, a aludida testadora no conseguiu a final defraudar a lei portuguesa, porque o seu decesso foi muito prximo tentativa de defraudao: o testamento de 23 de Junho/2005 e o decesso de 13 de Setembro/2005...18. - Outro aspecto, muito importante de referir e que foi afastado pelo douto Acrdo recorrido, a defesa da legtima de um filho. Como bem analisou e estudou a douta Sentena da 1. Instncia (que ora e aqui se pretende fazer revigorar, para todos os devidos e legais efeitos...) e como os AA., ora e aqui Recorrentes, articularam na sua p.i., de Fls., o fim da presente aco foi, e , a defesa da legtima da signatria, a qual, com tantos e tantos testamentos de sua Me, injusta e seriamente afectada. Na verdade,19. - Se vamos atender aos testamentos, a R., ora Recorrida, teria uma quota disponvel pelo testamento de 19 de Maio de 2005 e outra quota disponvel pelo testamento brasileiro, o feito no Consulado-Geral do Brasil, em Lisboa, ora em crise, ou seja, haveria uma deixa testamentria de (trs-quartas) partes da Herana da finada Me (de A. e R.)... E, se esta situao no consubstancia uma descarada fraude lei e uma ofensa da ordem pblica internacional, ento no se sabe que situao consubstanciar uma violao de ordem pblica internacional...20. - E, no se diga que a referida testadora quis revogar os seus testamentos anteriores (portugueses), pois que o que a testadora quis dizer que revogava os testamentos anteriormente feitos para os bens do Brasil efectivamente, a mesma testadora j havia feito testamento para os bens do Brasil em que deixava a sua quota disponvel aos seus 4 (quatro) netos... Ora, a R., ora e aqui Recorrida, s perante a presente aco que veio dizer que apenas queria a quota disponvel portuguesa, pois que, anteriormente e em famlia, sempre disse que tinha direito s duas e, como tal, queria proceder. E, por fim, o douto Acrdo recorrido violou frontalmente o disposto nos Arts. 21., 22., 64., 65., 2159. e 2186., todos do nosso Cdigo Civil.No foram oferecidas contra-alegaes.Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

O objecto do recurso acha-se delimitado pelas concluses das respectivas alegaes, salvo as questes de conhecimento oficioso, nos termos dos artigos 684., n 3 e 690., n 1, do Cdigo de Processo Civil[2] por diante CPC.So as seguintes as questes que importa apreciar e decidir, indelevelmente imbrincadas, e que sero tratadas em conjunto:a) Validade (ou invalidade) formal do testamento pblico realizado pela falecida me da 1. autora e da r, em 23/06/2005, no Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, em Lisboa.b) Verificao da eventual ocorrncia de fraude lei e/ou de violao da ordem pblica na feitura daquele testamento.

II-FUNDAMENTAODE FACTOVem fixada das instncias a seguinte matria de facto:I. Autora e r so as nicas filhas de EE e DD (1).II. DD apenas teve a nacionalidade portuguesa e sempre residiu em Portugal, tendo nascido em //19 na freguesia e concelho de , sendo filha de FF e HH (5).III. E veio a casar em //19 com EE (falecido em //20), tendo falecido em ..//20, tendo residncia habitual h dcadas na Rua ..., n. , na freguesia de , no Porto (6).IV. A falecida efectuou em 09/03/1994, no extinto 6. Cartrio Notarial do Porto, o testamento cuja certido se encontra a fls. 178 a 181 dos autos e nos exactos termos em que a consta, que so, entre o mais, o seguinte:Institui herdeiro da quota disponvel aquele seu marido [...]; se, porm, este lhe no sobreviver, ento institui herdeira da mesma quota disponvel sua filha CC [...] (2).V. Efectuou igualmente em 17/05/2005, no 4. Cartrio Notarial do Porto, o testamento cuja certido se encontra a fls. 182 a 184 dos autos e nos exactos termos em que a consta, que so, entre o mais, o seguinte:Institui herdeiro da quota disponvel da sua herana, sua filha, CC [...] (3).VI. Efectuou ainda em 23/06/2005, no Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, em Lisboa, o testamento pblico cuja cpia certificada se encontra a fls. 185/186 dos autos e nos exactos termos em que a consta, que so, entre o mais, o seguinte:[...] perante mim [...] Cnsul-Geral, compareceu como outorgante testadora, DD [...]. E [...] pela outorgante [...] me foi dito, [...] que de sua livre e espontnea vontade, decide fazer o seu testamento e disposio de ltima vontade, revogatria de qualquer outro anterior feito, como de facto, pela presente escritura e na melhor forma de direito, ora o faz, declarando o seguinte: [...] que de acordo com o acima exposto e respeitando o disposto no art. 1846 do CCB, ou seja, a parte legtima de suas filhas, e, podendo, portanto, dispor da metade do seu patrimnio, a chamada parte disponvel, pelo presente testamento, a outorgante testadora quer e determina que aps o seu falecimento a parte disponvel de seu patrimnio no Brasil, ou seja, 1/3 (hum tero) dos prdios e respectivos terrenos situados na Rua n e , bem como todos e quaisquer bens mveis, imveis, semoventes, conta-correntes, poupanas, aplicaes financeiras, aces e outros, fiquem para a sua filha CC [...]. Assim o disse na presena das [duas] testemunhas, do que dou f [...]. Certifico e dou f, por haverem sido fielmente observadas todas as solenidades e formalidades especificadas no art. 1864 do CCB. Em f do que escrevi e assino em pblico com a outorgante testadora, e as testemunhas, e fao selar com o selo de armas deste Consulado-Geral do Brasil em Lisboa (4).VII. No Manual de Servio Consular e Jurdico, da Subsecretaria-Geral das Comunidades Brasileiras no Exterior do Ministrio das Relaes Exteriores do Brasil consta, nomeadamente:Capitulo 2., Seco l., 2.1.7, As funes consulares so: [...] e) prestar ajuda e assistncia aos nacionais, pessoas fsicas ou jurdicas do Estado que envia; f) agir na qualidade de notrio e oficial de registro civil e exercer funes similares, assim como outras de carter administrativo, sempre que no contrariem as leis e regulamentos do Estado receptor (7).VIII. Consta ainda no Capitulo 4., Seco l., 4.1.5, Somente os brasileiros e os portadores de carteira Registro Nacional de Estrangeiros RNE vlida podem valer-se dos servios de natureza notarial e de registro civil prestados pelas Reparties Consulares brasileiras, com exceo do reconhecimento de firmas de tabelies estrangeiros, de portadores decarteira Registro Nacional de Estrangeiros-RNE vlida e da autenticao de documentos expedidos por rgos oficiais na jurisdio do Posto (8).DE DIREITOA)Validade (ou invalidade) formal do testamento pblico realizado pela falecida me da 1. autora e da r, em 23/06/2005, no Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, em Lisboa.O pedido da presente aco e que, ao cabo e ao resto, motiva a interposio deste recurso de revista, ponderando a soluo suportada pelo acrdo recorrido , consiste, essencialmente, na obteno da anulao ou declarao de nulidade do testamento que DD, a falecida me da 1. autora e da r, efectuou no Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, em Lisboa, em 23/06/2005, nomeadamente por ter sido lavrado contra a lei e em fraude lei ao pretender dispor do valor de duas diferentes quotas disponveis: a portuguesa e a brasileira.As instncias decidiram em sentidos diametralmente opostos, como facilmente se alcana da leitura das respectivas decises.Para a 1. Instncia, a situao descrita configura um caso de ineficcia daquele testamento (e no de nulidade ou de anulabilidade), na ordem jurdica portuguesa, quer por conformar, por um lado, uma situao de fraude lei art. 21. do CC , quer por se traduzir, por outro lado, na violao das normas de proteco conferidas aos herdeiros legitimrios nacionais cf. arts. 2159., n. 2, e 2156., ambos do CC , as quais plasmam um princpio de ordem pblica internacional art. 22. do CC (cf. fls. 277 a 289).Para a Relao, diversamente, no sendo aquele testamento nulo por qualquer vcio formal, nem ocorrendo obstculos formais sua eficcia em Portugal, igualmente no se regista qualquer situao de violao dos dispositivos insertos nos arts. 21. e/ou 22. do CC, sendo certo que a lei substantiva aplicvel sucesso da falecida me das 1. autora e da r a lei portuguesa seja segundo as normas de conflitos portuguesas arts. 25., 31., n. 1, e 62., todos do CC , como de acordo com as normas de conflitos brasileiras art. 10. do Decreto-Lei n. 4.657, de 04/09/1942 Lei de Introduo s normas de Direito Brasileiro.Refere-se no acrdo recorrido, alm do mais, a propsito da (eventual) ofensa legtima (segundo a lei portuguesa), que ()quer os tribunais do Brasil (em eventual inventrio que l seja instaurado), quer o tribunal portugus (no inventrio que j est instaurado), vo aplicar, quanto legtima, as regras das sucesses do direito portugus, o qual dispe, neste caso de existncia de duas filhas, no sobrevivendo cnjuge testadora, que a legtima de dois teros (art. 2159 do CC).E, mais adiante: Qual a consequncia de a testadora ter feito uma disposio que faz referncia lei brasileira, em que a parte indisponvel de apenas ? (Art. 1.845 do CCB: So herdeiros necessrios os descendentes, os ascendentes e o cnjuge. Art. 1.846 do CCB: Pertence aos herdeiros necessrios, de pleno direito, a metade dos bens da herana, constituindo a legtima).A consequncia apenas a de, se tal deixa se concretizar numa ofensa legtima, ou seja, numa liberalidade inoficiosa, ela ter de ser reduzida, se o outro herdeiro o requerer, em tanto quanto for necessrio para que a legtima seja preenchida (arts. 2168 a 2170, ambos do CC e o direito brasileiro tem disposies paralelas nos arts. 1.966 a 1.968 do CCB)(cf. fls. 478 verso, pg. 10 do acrdo).Em consonncia considerou-se que ()no h razo para, neste momento (neste processo), se falar de um testamento que ofende a legtima.Caso se apure, em inventrio cuja relao ter de englobar todos os bens da herana (inclusive os situados no Brasil, ao menos para se calcular a legtima) que o testamento se traduz numa liberalidade inoficiosa (numa ofensa legtima) ento, a requerimento da filha prejudicada, ter-se- de proceder reduo da liberalidade (cf. fls. 479, pg. 11 do acrdo).A seguir, a propsito do art. 21. do CC (Fraude lei), refere-se no acrdo sob recurso, ()a situao dos autos no se subsume [a]o art. 21 do CC porque com o facto de a falecida ter ido testar no Consulado do Brasil no criou nenhuma situao de facto que evitasse a aplicao da lei portuguesa. O que resulta claramente do que j se disse atrs, pois que a lei aplicvel ( sucesso) continua a ser a lei portuguesa.() O art. 21 do CC aplicar-se-ia, sim, se a falecida se tivesse tornado brasileira para poder ter uma quota disponvel maior. A sim, ela teria criado uma situao que levaria ao afastamento da lei portuguesa que, se no o tivesse feito, seria a lei aplicvel (idem, fls. 479).Por fim, em breve aluso ao art. 22. do CC (Ordem pblica) afastou a aplicao da norma em apreo, sem se alongar em grandes consideraes, rechaando, basicamente, a invocao, por banda da recorrente, e da prpria sentena, de algumas decises de tribunais superiores (cf. fls. 480 e verso, pgs. 13 e 14 do acrdo).Por tudo isso, decidiu o acrdo recorrido, a final:() julga-se o recurso procedente e revoga-se a deciso recorrida e em sua substituio julga-se a aco improcedente e absolve-se a r do pedido (cf. fls. 482, pg. 17 do acrdo).Com o devido respeito, o acrdo recorrido afigura-se-nos algo complexo na sua formulao, estrutura e desenvolvimento, e a soluo final a que chega no se antolha, de todo, a mais adequada e conforme legislao aplicvel, como se ir demonstrar subsequentemente.Sempre se adianta que o caso apreciado tem contornos assaz curiosos e no muito debatidos nos tribunais superiores: deparamo-nos com uma situao em que foram outorgados, sucessivamente, por uma mesma pessoa, de nacionalidade portuguesa e residente em Portugal, trs testamentos, os dois primeiros em Cartrios Notariais portugueses concretamente em 09/03/1994 e 17/05/2005 e o terceiro, e ltimo, no Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, sito em Lisboa, transcorrido pouco mais de um ms relativamente ao segundo testamento especificamente em 23/06/2005 atinente aos bens da testadora sitos naquele pas e com referncia lei brasileira.Situamo-nos, pois, perante uma situao jurdico-privada internacional, que pe em contacto duas ordens jurdicas diversas a portuguesa e a brasileira , havendo que aplicar as normas de conflitos de leis, de acordo com os princpios do Direito Internacional Privado (DIP) portugus, a fim de indagar qual a lei aplicvel para decidir, desde logo, a questo da validade do ltimo testamento feito por DD (falecida me da 1. autora e da r), no Consulado-Geral do Brasil, em Lisboa.Recorda-se, antes de avanar, que o STJ no est vinculado por qualquer qualificao jurdica antes operada pelas instncias, sendo livre nessa tarefa,ex vido estatudo no art. 664. do CPC, tratando-se a questodecidendade matria de carcter eminentemente de direito.Em termos gerais, no mbito do direito interno material, a qualificao jurdica a operao pela qual se procura definir o tipo ou categoria jurdica que a norma contempla, consistindo em procurar determinar, de entre as vrias normas, qual aquela que estabelece o regime ou disciplina jurdica adequada situao factual apresentada para resolver.No mbito do DIP, por seu turno, a qualificao assume uma dupla acepo: a) numa acepo lata, resolve os problemas de interpretao e aplicao da norma de conflitos que dizem respeito aos conceitos tcnico-jurdicos utilizados na sua previso; b) numa acepo restrita, a qualificao, por sua vez, tradicionalmente concebida como a operao pela qual se subsume uma situao da vida, ou um seu aspecto, no conceito tcnico-jurdico utilizado para delimitar o objecto da remisso.[3]A qualificao em DIP tem de ter em conta dois nveis o do Direito material e o do Direito de Conflitos e a pluralidade de ordens jurdicas em presena.[4]In casu, cumpre proceder determinao da lei aplicvel, perante as normas de conflitos do ordenamento jurdico portugus, s sucesses por morte e, mais especificamente, sucesso testamentria.De acordo com Baptista Machado: Pelo que respeita determinao do estatuto sucessrio bsico ou estatuto sucessriotout court, deve partir-se da considerao que hoje prevalece por quase toda a parte, no plano do direito material, a ideia de que a devoluo de todos os elementos da herana deve ser submetida s mesmas regras, de acordo com a noo romanista de que a sucesso opera a transmisso de uma universalidade jurdica. Mas nem sempre assim foi: nos direitos germnicos e no direito anglo-americano a sucesso nos mveis era submetida a regras diferentes daquelas que presidiam sucesso nos imveis, mesmo no plano do direito material. E isto que ainda hoje sucede em alguns dos Estados que compem os USA.[5]Na mesma linha, Lus de Lima Pinheiro explicita: A tradio estatutria, apesar de algumas hesitaes, saldou-se por um fracionamento da sucesso por morte entre sucesso imobiliria, submetida lex rei sitae, e sucesso mobiliria, regida pela lei do domiclio do autor da sucesso. Estas solues so ainda hoje seguidas por vrios sistemas nacionais, como o caso do francs, ingls e dos EUA. Diferentemente, Savigny defendeu a unidade da lei aplicvel sucesso, mediante a aplicao da lei pessoal do autor da sucesso, que era na sua construo a lei do domiclio. Esta concepo evita as dificuldades do fracionamento quanto repartio do passivo da herana e traduz, ao nvel do Direito de Conflitos, o princpio romanstico da universalidade da sucesso. A aplicao da lei pessoal ao conjunto da sucesso tambm corresponde proeminncia dos interesses do autor da sucesso e da respectiva famlia nesta matria.[6]Vasco Taborda Ferreira sustentava, tambm, que: A lei competente a lei nacional dode cujus aplicvel, em princpio, a todas as fases do fenmeno sucessrio. Admitimos, com a melhor doutrina, que o direito portugus consagra o princpio da unidade e universalidade da herana.[7]Coerentemente, o legislador portugus seguiu, nos arts. 25. e 62. do CC, esta concepo, mandando aplicar sucesso por morte a lei pessoal do autor da sucesso ao tempo do falecimento deste, sendo essa lei pessoal, segundo o art. 31., n. 1, do CC, a lei da nacionalidade do indivduo.Seguindo, novamente, Lus de Lima Pinheiro: Esta regra aplicvel tanto sucesso legal, legtima ou legitimria, como sucesso voluntria, em que os herdeiros podem ser institudos por testamento ou por pacto sucessrio.[8] sabido que a sucessomortis causadistingue-se em sucesso legal e sucesso voluntria, conforme o ttulo ou fonte da vocao seja a lei ou o negcio jurdico cf. art. 2026. do CC.[9]Especificamente, da conjugao da morte do autor da sucesso com um facto designativo no negocial certas situaes jurdicas a que a lei atribui relevncia, como o vnculo do casamento ou de parentesco ou com um facto designativo negocial a prpria vontade expressa pelo autor da sucesso, dentro dos limites legais, num testamento ou contrato , resulta, para determinadas pessoas, a atribuio do direito potestativo de aceitar ou repudiar a sucesso (ius delationis) nos direitos e obrigaes dode cuiusque no se extinguem por morte deste art. 2025. do CC.Detendo-nos na sucesso voluntria esta compreende duas espcies, a sucesso testamentria arts. 2179. e segs. e a sucesso contratual art. 2028. -, consoante a declarao de vontade unilateral ou bilateral, sendo certo que o testamento negcio jurdico unilateral pelo qual uma pessoa dispe dos seus bens para depois da sua morte , a modalidade que maior relevncia assume na sucesso voluntria.Na situao analisada, o testamento, cuja invalidade pedida nestes autos, foi celebrado, como j antes se frisou, no Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, em Lisboa, havendo que atentar no que dispe, desde logo, o DL n. 48295, de 27/03/68, que aprovou para adeso a Conveno sobre Relaes Diplomticas, celebrada em Viena em 18/04/61.Os postos consulares so servios de natureza administrativa de um Estado instalados noutro, atravs dos quais so realizadas tarefas que no essencial visam a proteco dos interesses do Estado que envia e dos seus nacionais. Um Consulado forma, por conseguinte, uma representao de um Estado estrangeiro, constituindo os actos que ele pratica, quer se insiram noius imperii, quer no plano do direito privado, actos do prprio Estado representado.[10]Segundo o regulamentado pelo art. 5., al. a), da Conveno sobre Relaes Consulares, concluda em Viena em 24/04/63, aprovada, para adeso, pelo DL n. 183/72, de 30/05, as funes consulares consistem (no que aqui releva considerar) em: a) Proteger no Estado receptor os interesses do Estado que envia e dos seus nacionais, pessoas singulares ou colectivas, dentro dos limites permitidos pelo direito internacional; f) Agir na qualidade de notrio de conservador do registo civil e exercer funes similares, assim como certas funes de carcter administrativo, desde que no contrariem as leis e os regulamentos do Estado receptor; e g) Salvaguardar os interesses dos nacionais, pessoas fsicas ou jurdicas, do Estado que envia, nos casos de sucesso verificados no territrio do Estado receptor, de acordo com as leis e os regulamentos do Estado receptor.[11]De resto, como resulta do elenco dos factos provados, no Manual de Servio Consular e Jurdico, da Subsecretaria-Geral das Comunidades Brasileiras no Exterior do Ministrio das Relaes Exteriores do Brasil, consta, nomeadamente: Capitulo 2., Seco l., 2.1.7, As funes consulares so: [...] e) prestar ajuda e assistncia aos nacionais, pessoas fsicas ou jurdicas do Estado que envia; f) agir na qualidade de notrio e oficial de registro civil e exercer funes similares, assim como outras de carter administrativo, sempre que no contrariem as leis e regulamentos do Estado receptor. Mais constando, no Capitulo 4., Seco l., 4.1.5, que: Somente os brasileiros e os portadores de carteira Registro Nacional de Estrangeiros RNE vlida podem valer-se dos servios de natureza notarial e de registro civil prestados pelas Reparties Consulares brasileiras, com exceo do reconhecimento de firmas de tabelies estrangeiros, de portadores de carteira Registro Nacional de Estrangeiros-RNE vlida e da autenticao de documentos expedidos por rgos oficiais na jurisdio do Posto.Acresce, de outra banda, que segundo o art. 4., n. 2, al. a), do Cdigo do Notariado portugus aprovado pelo DL n. 207/95, de 14/08 compete ao notrio, em especial, lavrar testamentos pblicos, instrumentos de aprovao, depsito e abertura de testamentos cerrados e de testamentos internacionais.[12] assim altamente duvidoso que o Cnsul brasileiro tivesse competncia para praticar o acto que praticou, embora esse aspecto no venha questionado, directamente, nas concluses desta revista, no nos cabendo imiscuir em tal conspecto, sendo correctas as consideraes da sentena da 1. Instncia ao exarar que apenas poderemos apreciar a eficcia do acto para efeitos da sua aplicabilidade no nosso pas e no a sua validade intrnseca absoluta (nulidade ou anulabilidade), o que caber aos rgos jurisdicionais do Estado onde foi praticado o mesmo (fls. 286).[13]Fechado este parntesis, acentua-se que em matria de sucesso voluntria como explica Baptista Machado , e tendo em conta a possvel mudana da lei pessoal do autor da sucesso, temos que considerar dois estatutos: o estatuto sucessrio primrio, a que chamaremos simplesmente estatuto da sucesso, e o outro, pelo qual se regem certas questes relativas validade das disposies por morte a que chamaremosbrevitatis causa,estatuto da disposio. E, continua o mesmo autor, reportando-se ao testamento, que formalmente, o testamento se apresenta como negcio jurdico completo logo aps a sua celebrao. Substancialmente, porm, ele s se torna tal com a morte do testador: s neste momento ele se torna juridicamente eficiente, s neste momento as disposies nele contidas se tornam como que juridicamente relevantes.[14]Isto mesmo corroborado por Lus de Lima Pinheiro: Relativamente validade substancial das disposies por morte trata-se de um estatuto suspenso, visto que pode mudar a lei pessoal entre a celebrao do acto e a morte. S data da abertura da sucesso se pode determinar a lei aplicvel e saber ao certo se a disposio por morte ou no vlida. Naturalmente ser irrelevante a mudana da lei pessoal caso se verifiquem os pressupostos da fraude lei.[15]Por conseguinte, a questo do estabelecimento da lei (substantiva) aplicvel validade ou invalidade do testamento, tratando-se de uma situao que pe em contacto as ordens jurdicas portuguesa e a brasileira ter-se- de resolver, mngua da existncia de qualquer conveno internacional em contrrio, vinculativa da Repblica Portuguesa, no quadro das normas de DIP do ordenamento jurdico portugus que antes se indicaram.Ou seja, a lei nacional do autor da sucesso regula tudo o que respeita ao fenmeno sucessrio, incluindo a vocao dos sucessveis e a devoluo da herana.[16]Do art. 64. do CC atinente interpretao das disposies testamentrias; falta e vcios da vontade deflui que a lei pessoal do autor da herana ao tempo da declarao que regula: a) A interpretao das respectivas clusulas e disposies, salvo se houver referncia expressa ou implcita a outra lei; b) A falta e vcios da vontade; c) A admissibilidade de testamentos de mo comum ou de pactos sucessrios, sem prejuzo, quanto a estes, do disposto no art. 53..[17]No que tange forma das disposies por morte, expressa o art. 65. do CC, que essas disposies, bem como a sua revogao ou modificao, sero vlidas, quanto forma, se corresponderem s prescries da lei do lugar onde o acto for celebrado, ou s da lei pessoal do autor da herana, quer no momento da declarao, quer no momento da morte, ou ainda s prescries da lei para que remeta a norma de conflitos da lei local (n. 1). Se, porm, a lei pessoal do autor da herana no momento da declarao exigir, sob pena de nulidade ou ineficcia, a observncia de determinada forma, ainda que o acto seja praticado no estrangeiro, ser a exigncia respeitada (n. 2).A lei prev, neste preceito legal, uma pluralidade de leis substantivas potencialmente aplicveis forma das disposies por morte, incluindo aquelas que so objecto de testamento, sob a motivao de favorecimento da sua validade formal. O limite referida pluralidade ocorre no caso de a lei pessoal do autor da herana exigir, em relao s disposiesmortis causa, ainda que elas ocorram no estrangeiro, sob pena de nulidade, determinada forma.[18]Acerca deste normativo, Marques dos Santos escreveu: Em matria de forma das disposies por morte, o artigo 65., n. 1, do Cdigo Civil Portugus estabelece assim umaconexo alternativa, nos termos da qual o testamento ser formalmente vlido se corresponder s prescries deuma qualquer das quatro leis a indicadas: a) lei do lugar onde o acto for celebrado; b) lei pessoal do autor da herana no momento da declarao c) lei pessoal do autor da herana no momento da morte; d) lei para que remeta a norma de conflitos da lei local, isto , da lei indicada em a), se, por hiptese, ela se no considerar competente.H aqui, consabidamente uma ntida preocupao dejustia material, uma ideia defavor negotii(aquifavor testamenti), na acepo defavor validitatis, tendente a favorecer a validade formal das disposies por morte, segundo o princpiout res magis valeant quam pereant.[19]Ora, como a me das 1. autora e da r, DD, tinha, ao tempo do seu decesso, exclusivamente a nacionalidade portuguesa, a lei portuguesa a aplicvel ao envolvente fenmeno sucessrio dele derivado, tal como j antes ficou demonstrado, designadamente no que se reporta validade formal do testamento cf., arts. 25., 31., n. 1, 62. e 65. do CC.O art. 65., n. 1, do CC, como se v, salvaguarda a aplicao, no que concerne a matria de forma e de formalidades, da lei da nacionalidade do autor da sucesso aqui, evidentemente, a lei portuguesa , constituindo o testamento o acto unilateral e revogvel pelo qual uma pessoa dispe, para depois da (sua) morte, de todos os seus bens ou de parte deles art. 2179., n. 1, do CC.Quanto forma exigida, a lei portuguesa estabelece, por um lado, que o testamento pblico ou cerrado, o primeiro escrito pelo notrio no seu livro de notas, e o ltimo o escrito e assinado pelo testador ou por outra pessoa a seu rogo (ou escrito por outra pessoa a rogo do testador e por este assinado), e, por outro, que o testamento cerrado deve ser aprovado por notrio nos termos da lei do notariado, sob pena de nulidade art. 2206., n. 1, do CC. Por fim, o testamento feito por cidado portugus em pas estrangeiro com observncia da lei estrangeira competente s produz efeitos em Portugal se tiver sido respeitada uma forma solene na sua feitura ou aprovao art. 2223. do CC.Dimana do narrado que existem exigncias de forma que no se confundem com os requisitos de ndole substantiva atinentes ao contedo do testamento- conducentes, designadamente, afirmao dos concretos direitos dos interessados no processo de inventrio, e que, estando em causa um testamento lavrado no estrangeiro, tais exigncias e requisitos devem igualmente verificar-se.[20]Assim, os testamentos feitos por portugueses no estrangeiro s produzem efeitos em Portugal se tiver sido observada a forma solene na sua feitura ou aprovao, como antes afirmmos. Esse carcter solene, que a lei exige do acto testamentrio, traduz-se na interveno da entidade dotada de f pblica, seja na elaborao da disposio de ltima vontade, seja na aprovao por mera delibao das disposies lavradas pelo declarante , por conseguinte, a interveno do oficial pblico com funes notariais que constitui a marca de gua de autenticidade e solenidade exigida nos arts. 65. e 2223. do CC.[21]De resto e embora tal referncia no seja necessria perante o DIP portugus aplicvel[22], de acentuar que a prpria norma de conflitos do direito brasileiro milita inequivocamente pela aplicao da lei portuguesa, tal qual decorre do art. 10. do Decreto-Lei n. 4.657, de 04/09/1942 Lei de Introduo s normas de Direito Brasileiro , que contempla a regra geral de que a lei competente para regular as sucesses por morte a lei do domiclio que a pessoa tinha ao falecer, a qual se aplica aos seus bens qualquer que seja a sua natureza e situao.[23]Como se disse j, o art. 2223. do CC portugus refere-se forma externa exigida para o testamento lavrado por cidado portugus em pas estrangeiro. A soluo adoptada no preceito respeita o velho princpio de que a lei do lugar onde o acto se realiza que compete regular a sua forma externa (locus regit actum).Assim, como requisito mnimo de obedincia s leis do pas onde o testamento se destina a produzir efeitos, no se prescindiu da necessidade dele respeitar o carcter solene que a lei portuguesa exige.Por conseguinte, luz do art. 65., n. 1, do CC, que remete, pois, para a lei portuguesa, o testamento analisado , em princpio, vlido, quanto forma, por corresponder a uma das modalidades formais de celebrao previstas no direito portugus: o testamento pblico (art. 2205. do CC).[24]/[25]Por fim, de harmonia com Guilherme de Oliveira, de cuja posio nos aproximamos, ainda no se encontrou uma soluo inequvoca para a questo de saber quais so as exigncias formais que a lei impe aos cidados portugueses que queiram fazer testamento no estrangeiro, de acordo com a lei local.E, continua: O Cdigo de 1966 ocupou-se do problema nos arts. 65. e 2223., mas sem ter logrado terminar toda a discusso. O art. 2223. condiciona a eficcia do testamento feito por um portugus no estrangeiro, e de acordo com a lei estrangeira, circunstncia de ter sido observada uma forma solene na sua feitura ou aprovao.Acabando por concluir: Inclino-me para pensar que o legislador ditou o art. 2223. no apenas para evitar a eficcia de algum raro testamento oral, mas sim para impor sistematicamente a exigncia portuguesa da utilizao de forma escrita com a interveno de um notrio ou oficial equivalente.[26]Destarte, porque o testamento em apreo teve interveno de entidade dotada de f pblica (sem prejuzo do que se assinalou supra), no padece de qualquer invalidade formal, perante o estatudo no art. 2223. do CC.B)Verificao da eventual ocorrncia de fraude lei e/ou de violao da ordem pblica na feitura daquele testamento.Questo diversa, porm, a da eficcia daquele testamento no ordenamento jurdico portugus, ponderando o seu contedo substancial.A interpretao do testamento, de acordo com as normas de conflitos aqui invocveis, deve fazer-se segundo a regra de direito portugus aplicvel cf. art. 64., al. a) (e, tambm, art. 35., n. 1), do CC , dispondo o art. 2187., n. 1: Na interpretao das disposies testamentrias observar-se- o que parecer mais ajustado com a vontade do testador, conforme o contexto do testamento.Assim, ao interpretar-se um testamento deve procurar-se, em primeira linha, o apuramento da vontade real e contempornea do testador, de harmonia com o texto ou contexto do testamento e a prova complementar ou extrnseca que puder obter-se desde que o resultado encontre no contexto do testamento analisado um mnimo de correspondncia, ainda que imperfeitamente expressa, proibindo o n. 2 daquele preceito legal que, com o recurso a prova complementar do testamento, se ultrapasse o processo de interpretao, para operar o que seria verdadeira alterao ou modificao informal do prprio testamento.Isto dito, por demais evidente que a falecida, ao outorgar o testamento que aqui se debate, procurou sujeitar o seu patrimnio e futuro acervo hereditrio existente no Brasil s disposies do direito interno brasileiro. isso que emerge, sem margem para quaisquer dvidas, do segmento principal daquele testamento, onde ficou consignado: ()respeitando o disposto no Artigo 1846 do Cdigo Civil Brasileiro, ou seja, a parte legtima de suas filhas, e, podendo, portanto, dispor da metade de seu patrimnio, a chamada parte disponvel, pelo presente testamento, a Outorgante Testadora, quer e determina que aps o seu falecimento a parte disponvel do seu patrimnio no Brasil, ou seja, 1/3 (hum tero) dos prdios e respectivos terrenos situados na Rua ... n. e .., bem como todos e quaisquer bens mveis, imoveis, semoventes, conta-correntes, poupanas, aplicaes financeiras, aces e outros, fiquem para sua filha CC().Cumpre clarificar que o facto da testadora ter elaborado trs testamentos, em momentos temporais distintos, , em abstracto, perfeitamente legal; na verdade, o testador, at ao ltimo momento da sua vida, livre de revogar o testamento e, assim, afastar quaisquer sucessveis nele designados.[27]Nestes termos, nada impede na lei que uma pessoa faa vrios testamentos, podendo revogar ou no expressamente o(s) anterior(es) se e na medida em que com aquele for incompatvel cf., em especial, os arts. 2311., 2312. e 2313., n. 1, do CC.Contudo, importa atentar na circunstncia da testadora, que sempre foi de nacionalidade portuguesa, no tendo qualquer relao com o Brasil a no ser a circunstncia de ser proprietria de alguns bens sitos naquele pas , ter-se deslocado deliberadamente ao Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, para exarar o testamento de 23/06/2005, pretendendo com aquele testamento que fosse aplicada a lei brasileira, quanto aos bens ali situados, de modo a dispor de uma maior quota disponvel do que seria permitida pela sua lei pessoal, aqui aplicvel cf. os j citados arts. 25., 62. e 31., n. 1, do CC.Com efeito, e como se viu aprofundadamente, da primeira parte do art. 62. decorre que lei pessoal do autor da sucesso que cabe regular no s a vocao sucessria e a devoluo da herana, como tudo o que diz respeito ao fenmeno sucessrio (s pelo que respeita capacidade de disposio, interpretao, falta e vcios da vontade e forma dos testamentos, os artigos seguintes estabelecem alguns esclarecimentos ou aditamentos).[28]Na sentena da 1. Instncia aduziu-se que a situao em anlise subsumvel figura da fraude lei, proclamada no art. 21. do CC; diversamente, no Acrdo sob recurso afastou-se a sua ocorrncia.Para a doutrina clssica, de acordo com as palavras de Ferrer Correia, a hiptese de fraude lei consiste em para se furtar a determinada proibio ou prescrio da lei competente, um indivduo faz surgir a situao de facto ou de direito que torna automaticamente aplicvel outra lei.[29]Enuncia o mesmo autor que tanto o instrumento da fraude, como o objecto da fraude so normas de conflitos de leis. O objecto da fraude a norma de DIP (ou a parte da norma, j que as regras de conflitos designam a respectiva consequncia jurdica por forma genrica) que designava como competente a lei de que o interessado pretendeu evadir-se. O instrumento da fraude, a norma ou a parte da norma de DIP que passou a designar como aplicvel outra lei: a lei que o interessado pretendeu acolher-se.[30]Concretiza Lus de Lima Pinheiro: No Direito de Conflitos Internacional Privado [a fraude lei] trata-se geralmente de alcanar o resultado que a norma proibitiva visa evitar, mas a manobra defraudatria consiste no afastamento da lei que contm essa norma proibitiva, na fuga de uma ordem jurdica para outra.Por outro, lado, continua, quanto tipologia da fraude Lei em Direito de Conflitos podemos distinguir a manipulao do elemento de conexo e a internacionalizao fictcia de uma situao interna. No primeiro caso, para afastar a lei normalmente competente, o agente da fraude vai modelar o contedo do elemento de conexo. () No segundo caso, para afastar o Direito material vigente na ordem jurdica interna, que o exclusivamente aplicvel a uma situao interna, estabelece-se uma conexo com um Estado estrangeiro, por forma a desencadear a aplicao do Direito estrangeiro.[31]Os elementos da fraude lei so, consequentemente, dois: um elemento objectivo e um elemento subjectivo.O elemento objectivo consiste na manipulao com xito do elemento de conexo ou na internacionalizao fictcia de uma situao interna; o elemento subjectivo (ou volitivo), consiste na vontade de afastar a aplicao de uma norma imperativa que seria normalmente aplicvel. necessrio dolo, no h fraude por negligncia. O dolo incide sobre a modelao do contedo concreto do elemento de conexo ou sobre a internacionalizao fictcia da situao interna.[32]Concorda-se, por isso, com a deciso da 1. Instncia, ao apelar aplicao do instituto da fraude lei, plasmado no art. 21. do CC (cf. fls. 288), pois no se pode deixar de considerar que foi esta a situao que se analisa, uma vez que a testadora nenhuma relao tinha com o Brasil, a no ser possuir a alguns bens, o que no assume relevncia de conexo que justifique qualquer excepo aplicao da lei portuguesa, mormente por via do n. 2 do art. 31. do CC.Com efeito, inaceitvel que um cidado portugus, residente em Portugal, se desloque a um pas estrangeiro ou a um consulado de um pas estrangeiro em Portugal, para a lavrar testamento segundo a lei desse Estado (elemento objectivo), porquanto essa atitude voluntria e intencional (elemento subjectivo) afronta directamente com a sua lei pessoal, a portuguesa, que a reguladora da sua sucesso por morte.[33]Na verdade, ao recorrer a esta via, a testadora conseguiria dispor de uma deixa testamentria correspondente a do seu patrimnio existente no Brasil, a favor da aqui r, luz do art. 1846. do CCB[34], ludibriando a sua lei pessoal, a portuguesa, em que a quota disponvel , no caso vertente, de 1/3, uma vez que a legtima equivale a 2/3 da herana, sendo essa a poro intangvel de que o testador jamais pode dispor, por estar legalmente destinada aos seus herdeiros legitimrios,ex vidos arts. 2159., n. 2, e 2156. ambos do CC.Aduz Jorge Duarte Pinheiro: A legtima uma quota da herana, como resulta dos arts. 2158. a 2161. (o legitimrio tem o direito a dois teros, metade ou um tero da herana). E uma quota da herana automaticamente deferida por lei no momento da morte dode cuius, como decorre do art. 2178. - o legitimrio chamado herana antes da propositura da aco de reduo e da existncia de uma vocao legitimria autnoma. O legitimrio , enquanto tal, chamado herana independentemente da vontade do autor da sucesso. Se este deixa quele em testamento uma quota da herana, imputvel na legtima, no lhe atribui a legtima; a legtima atribuda por lei. Ode cuiusconcede-lhe algo mais: a possibilidade de adquirir a qualidade de herdeiro testamentrio. O sucessvel legitimrio pode vir a deter simultaneamente dois ttulos o de herdeiro legitimrio e o de herdeiro testamentrio.[35]Distanciamo-nos, por conseguinte, da posio sufragada no acrdo recorrido,maximequando a se fez exarar que a situao dos autos no se subsume no art. 21. do CC porque com o facto de a falecida ter ido testar no Consulado do Brasil no criou nenhuma situao de facto que evitasse a aplicao da lei portuguesa. O que resulta claramente do que j se disse atrs, pois que a lei aplicvel ( sucesso) continua ser a lei portuguesa ().O art. 21. do CC aplicar-se-ia, sim, se a falecida se tivesse tornado brasileira para poder ter uma quota disponvel maior. A sim, ela teria criado uma situao que levaria ao afastamento da lei portuguesa que, se no o tivesse feito, seria aplicvel (fls. 479).Salvo o devido respeito, esta soluo no a correcta.Como se sublinhou anteriormente, a fraude,in casu, traduziu-se na circunstncia de a falecida, conhecedora da lei aplicvel sua sucesso em Portugal, e do facto da sua quota disponvel, nessa eventualidade, ser inferior que a lei brasileira lhe permitia dispor por fora da legtima prevista num e noutro ordenamento jurdico , ter-se deslocado resolutamente ao Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, em Lisboa, para a, submetendo-se lei brasileira, procurarescaparao regime legal da sucesso legitimria mais rigoroso do Estado portugus (em comparao com o do CC Brasileiro). nisso que se manifesta a fraude lei, a qual, notoriamente, se registou na situao estimada, estando preenchidos os elementos objectivo e subjectivo que a caracterizam.Por seu turno, a consequncia da fraude lei, em DIP, consiste em no se tomar conhecimento da conexo fraudulentamente criada, sendo, ento, aplicados os preceitos materiais a que o interessado se pretendia evadir.[36]Por conseguinte, sendo irrelevante a manipulao do elemento de conexo ou a internacionalizao fictcia com intuito fraudulento a sano da fraude consiste em aplicar a lei normalmente aplicvel .Ou seja, na prtica, a sano da fraude consiste na aplicao da lei portuguesa, que obriga reduo da deixa testamentria, aos limites ali aclamados cf. o j mencionado art. 2159., n. 2, do CC: No havendo cnjuge sobrevivo, a legtima dos filhos de metade ou dois teros da herana, conforme exista um s filho ou existam dois ou mais vigorando o testamento no demais que ali se exarou.[37]Acresce que no correcto dizer-se, como indicado no acrdo recorrido, que no h razo para, neste momento (neste processo), se falar de um testamento que ofende a legtima (fls. 479).[38]Com efeito, uma coisa o clculo da legtima, a efectuar, em concreto, de acordo com a regra constante do art. 2162., n. 1, do CC Para o clculo da legtima deve atender-se ao valor dos bens existentes no patrimnio do autor da sucesso data da sua morte, ao valor dos bens doados, s despesas sujeitas a colao e s dvidas da herana , e coisa diversa definir-se num testamento, em abstracto, o valor de uma quota disponvel que contende com o valor da legtima, nos moldes que antes se enunciaram: o que releva, em sntese, que, face da lei portuguesa, que constitui norma absolutamente imperativa, a testadora jamais poderia dispor, naquele testamento, de do seu patrimnio existente no Brasil, porquanto aquela quota afronta o regime jurdico vigente no ordenamento jurdico portugus e infringe, em concreto, o estatudo no art. 2159., n. 2, do CC (no sendo de recorrer ao preceituado no art. 1846. do CCB, por inaplicvel).Por ltimo, como se comeou por escrever neste acrdo, e j antes sustentmos no nosso Acrdo de 16/10/12[39], h um princpio de unidade e universalidade da herana que impe que todos os bens dela constantes, situados em territrio nacional ou no estrangeiro, devem ser considerados na partilha a efectuar, por forma a que possam ser cumpridas as regras da sucesso.Isso implica, evidentemente, em sede de inventrio, a relacionao de todos os bens da herana, seja qual for o local onde eles se encontrem no pas ou no estrangeiro , ou a sua natureza. Como, ento, escrevemos: O respeito pelos princpios da unidade e da universalidade beneficiam os interessados, s ele assegura o princpio igualitrio que deve presidir partilha, e no se justifica que os mesmos devam ceder perante as razes invocadas de hipotticas dificuldades de eficcia da partilha efectuada em tribunal portugus, eventuais demoras no cumprimento das cartas rogatrias ou diferentes critrios de avaliao dos imveis nos dois pases em causa.[40]Alis, esta orientao foi abertamente amparada por Antunes Varela, em anotao ao Acrdo do STJ, de 21/03/85, ao apontar: Sabendo-se () que a lei substantiva aplicvel sucesso do finado, de acordo com a opo do direito portugus, a sua lei nacional (arts. 62. e 31., n. 1, do Cdigo Civil) e no se ignorando, alm disso, que o art. 2162. do Cdigo Civil, ao regular o clculo da legtima, manda atender, logo cabea, em perfeita coerncia com aratiodo seu instituto, ao valor dos bens existentes no patrimnio do autor da sucesso data da sua morte (onde quer que eles se encontrem situados), no h dvida nenhuma de que, na determinao da quota disponvel, bem como do correlativo apuramento da legtima da nica descendente dode cuius, o tribunal necessita de ter em conta o valor dos bens integradores da herana existentes no Brasil.[41]Destarte, seria totalmente ilgico admitir a existncia de um testamento em que se contempla, em expressa aluso ao art. 1846. do CC Brasileiro, uma quota disponvel de dos bens dode cuiusexistentes no Brasil (ao lado de um testamento que subsiste em Portugal lavrado um ms antes, concretamente em 17/05/2005, no 4. Cartrio Notarial do Porto fazendo aluso quota disponvel (de 1/3) sobre os bens existentes em territrio nacional), porquanto tal disposio testamentria contraria frontalmente o prescrito no art. 2159. do CC, ao prever que a legtima dos filhos de 2/3 da herana, com o argumento arrevesado de que s em sede de inventrio se ir calcular (em concreto) o valor da legtima para efeito de eventual reduo de inoficiosidades.A terminar, umas brevssimas palavras a respeito da ordem pblica internacional.[42]A ordem pblica internacional do Estado portugus um dos princpios fundamentais estruturantes da presena de Portugal no concerto das naes. E nesse princpio, seguramente, se encontra aquele que quer salvaguardar para os filhos, ao menos, uma parte da herana de seus pais.Decorre do art. 22., n. 1, do CC, que no so aplicveis os preceitos da lei estrangeira indicados pela norma de conflitos, quando essa aplicao envolva ofensa de princpios fundamentais da ordem pblica internacional do Estado portugus. Isto , no sero empregveis normativos da lei estrangeira que sejam contrrios quele conjunto de princpios fundamentais, subjacentes ao sistema jurdico, que o Estado e a sociedade esto substancialmente interessados em que prevaleam e que tm uma acuidade to forte que devem prevalecer sobre as convenes privadas.[43]O que interessa, para saber se houve ou no violao da ordem pblica internacional, no so os princpios consagrados na lei estrangeira que servem de base deciso, mas o resultado da aplicao da lei estrangeira ao caso concreto.[44]In casu, no se antoja que ocorra qualquer violao de princpios fundamentais da ordem pblica internacional do Estado Portugus que imponha o recurso norma preconizada no art. 22., n. 1, do CC.Desde logo, a circunstncia da legtima no ter fundamento constitucional constitui um indcio relevante no sentido de que no constitui um princpio fundamental da ordem jurdica portuguesa.Aps debater a polmica entre o direito legtima e a liberdade de testar, Oliveira Ascenso, focando-se no Direito portugus, tece as seguintes consideraes:Na hiptese normal, de coexistncia dos dois sistemas, o campo reservado a cada um pode variar em limites amplssimos.Se se puser todo o realce na realizao de finalidades prprias do autor da herana, a proteco dos membros do agregado familiar pode descer at um direito a alimentos custa da herana ou do herdeiro.Se pelo contrrio se acentuarem os fins familiares, a realizao de outros fins pode ficar muito restringida. Pode nomeadamente, num ponto de vista tcnico, tornar-se obrigatria a forma do legado para a prossecuo destes objectivos, s podendo ser herdeiros aqueles que estejam ligados ao autor da sucesso por vnculos familiares. luz da ordem constitucional portuguesa praticamente todas as opes so possveis. No difcil retirar do artigo 61., n. 1, uma garantia constitucional da sucesso voluntria. Mas ressalvados estes limites, ficam abertas ao legislador ordinrio as vias mais dspares de soluo.De todo o modo, realiza-se atravs do sistema sucessrio a proteco da famlia. Havendo legtima, como entre ns se verifica, ela destinada a essa finalidade.Mesmo no havendo legtima, ou na parte que pela legtima no abrangida, no se deve pensar que as consideraes familiares se tornam indiferentes. A garantia de uma continuidade familiar continua a ser uma das motivaes mais fortes que se pe ao legislador. Pensou-se, porm, ser mais conveniente atribuir ao de cuius a escolha definitiva; deixando-se ainda o esquema supletivo da sucesso legtima, como que a lembrar a ordem que ao legislador pareceu a mais adequada.O Decreto-Lei n. 496/77, de 25 de Novembro, marcado pela hostilidade famlia de sangue. Muitas das alteraes traduzem-se portanto no agravamento da situao desta. Deixa de haver tambm qualquer proteco sucessria da famlia legtima. E leva-se para alm de toda a razoabilidade a tutela sucessria do cnjuge sobrevivo.[45]Louvando-nos nestes ensinamentos, apenas acrescentaremos que, nessa medida, no o facto da lei brasileira contemplar uma legtima de 1/2 dos bens da herana, enquanto que a lei portuguesa,in casu, contempla uma legtima de 2/3, que converte a situao num caso de violao da ordem pblica internacional, susceptvelde cairna alada do art. 22. do CC.Por conseguinte, o recurso ir proceder, mas apenas e to s, por se considerar que ocorre, na situao vertente, um episdio de fraude lei, nos precisos termos a que antes aludimos.

Sumariando:- Em face de uma situao jurdico-privada internacional, que pe em contacto duas ordens jurdicas diversas, h que aplicar as normas de conflitos de leis, de acordo com os princpios do Direito Internacional Privado (DIP) portugus, a fim de indagar, designadamente, qual a lei aplicvel para decidir a questo da validade de um testamento feito por uma cidad portuguesa, residente em Portugal, no Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, em Lisboa, referente ao seu patrimnio sito neste pas.- O legislador portugus manda aplicar sucesso por morte a lei pessoal do autor da sucesso ao tempo do falecimento deste cf. arts. 25. e 62. do CC , sendo essa lei pessoal, segundo o art. 31., n. 1, do CC, a lei da nacionalidade do indivduo.- A lei nacional do autor da sucesso regula tudo o que respeita ao fenmeno sucessrio, incluindo a vocao dos sucessveis e a devoluo da herana.- Considerando, em concreto, que a me da 1. autora e da r tinha, ao tempo do seu decesso, exclusivamente a nacionalidade portuguesa, a lei portuguesa a aplicvel ao envolvente fenmeno sucessrio dele derivado, designadamente no que se reporta validade formal do testamento cf. arts. 25., 31., n. 1, 62. e 65. do CC.- O art. 65., n. 1, do CC contempla uma pluralidade de leis substantivas potencialmente aplicveis forma das disposies por morte incluindo aquelas que so objecto de testamento , sob a motivao de favorecimento da sua validade formal. O n. 2 do mesmo preceito prev um limite referida pluralidade, no caso de a lei pessoal do autor da herana exigir, em relao s disposiesmortis causa, determinada forma, ainda que elas ocorram no estrangeiro, sob pena de nulidade.- O art. 2223. do CC refere-se forma externa exigida para o testamento lavrado por cidado portugus em pas estrangeiro, adoptando uma soluo que respeita o princpio de que a lei do lugar onde o acto se realiza que compete regular a sua forma externa (locus regit actum), no prescindindo que o testamento revista o carcter solene que a lei portuguesa exige.- Num testamento em que ficou exarado: ()respeitando o disposto no Artigo 1846 do Cdigo Civil Brasileiro, ou seja, a parte legtima de suas filhas, e, podendo, portanto, dispor da metade de seu patrimnio, a chamada parte disponvel, pelo presente testamento, a Outorgante Testadora, quer e determina que aps o seu falecimento a parte disponvel do seu patrimnio no Brasil () fiquem para sua filha (), por demais evidente que a falecida/testadora procurou sujeitar o seu patrimnio e futuro acervo hereditrio existente no Brasil, s disposies do direito interno brasileiro.- O facto da testadora ter elaborado trs testamentos, em momentos temporais distintos, , em abstracto, perfeitamente legal, uma vez que o testador, at ao ltimo momento da sua vida, livre de o revogar, e, assim, afastar quaisquer sucessveis nele designados, nada impedindo na lei que uma pessoa faa vrios testamentos, podendo revogar ou no expressamente o(s) anterior(es) se e na medida em que com aquele(s) for incompatvel.- A fraude lei (em DIP) pode distinguir-se, por um lado, na manipulao do elemento de conexo e, por outro lado, na internacionalizao fictcia de uma situao interna: no primeiro caso, para afastar a lei normalmente competente, o agente da fraude vai modelar o contedo do elemento de conexo; no segundo caso, para afastar o Direito material vigente na ordem jurdica interna, que o exclusivamente aplicvel a uma situao interna, estabelece-se uma conexo com um Estado estrangeiro, por forma a desencadear a aplicao do Direito estrangeiro.- Os elementos da fraude lei (em DIP) so dois: um elemento objectivo e um elemento subjectivo. O primeiro (elemento objectivo) traduz-se na manipulao com xito do elemento de conexo ou na internacionalizao fictcia de uma situao interna; o segundo (elemento subjectivo) consiste na vontade dolosa de afastar a aplicao de uma norma imperativa que seria normalmente aplicvel, incidindo o dolo sobre a modelao do contedo concreto do elemento de conexo ou sobre a internacionalizao fictcia da situao interna.- Um cidado portugus, residente em Portugal, que se desloque a um pas estrangeiro ou a um consulado de um pas estrangeiro em Portugal, para a lavrar testamento segundo a lei desse Estado (in casu, o direito material brasileiro), com essa atitude afronta directamente a sua lei pessoal, a portuguesa, que a reguladora da sua sucesso por morte.- Ao recorrer a essa via, a testadora conseguiria efectuar uma deixa testamentria correspondente a 1/2 do seu patrimnio existente no Brasil a favor de uma das suas filhas, luz do art. 1846. do CCB, ludibriando a sua lei pessoal, a portuguesa, em que a quota disponvel , neste caso, de 1/3, uma vez que a legtima equivale a 2/3 da herana, sendo essa a poro intangvel de que o testador jamais pode dispor, por estar legalmente destinada aos seus herdeiros legitimrios,ex vidos arts. 2159., n. 2, e 2156. ambos do CC, que constituem normas imperativas.- A fraude,in casu, traduziu-se na circunstncia de a falecida, conhecedora da lei aplicvel sua sucesso em Portugal, e do facto da sua quota disponvel, nessa eventualidade, ser inferior que a lei brasileira lhe permitia dispor por fora da legtima prevista num e noutro ordenamento jurdico , ter-se deslocado resolutamente ao Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, em Lisboa, para a, submetendo-se lei brasileira, procurareximir-seao regime legal da sucesso legitimria mais rigoroso do Estado portugus.- No o facto da lei brasileira contemplar uma legtima de 1/2 dos bens da herana, enquanto que a lei portuguesa,in casu, contempla uma legtima de 2/3, que converte a situao num caso de violao da ordem pblica internacional, susceptvelde cairna alada do art. 22. do CC.

III-DECISOPelos motivos, acordam os Juzes no Supremo Tribunal de Justia em conceder revista, revogar o acrdo recorrido, e declarar a ineficcia parcial do testamento efectuado pela falecida DD, em 23/06/2005, no Consulado-Geral da Repblica Federativa do Brasil, em Lisboa, na parte em que disps de 1/2 do seu patrimnio no Brasil, reduzindo aquela quota disponvel a 1/3 daquele patrimnio.As custas, nas instncias e no recurso, a cargo da r.Lisboa, 18 de Junho de 2013Gregrio Silva Jesus (Relator)Martins de SousaGabriel Catarino________________________[1]Relator:Gregrio Silva Jesus -Adjuntos: ConselheirosMartins de SousaeGabriel Catarino.[2]Considerando que a aco foi intentada em 6/07/07, ao recurso aplicvel o regime processual anterior ao Decreto-Lei n 303/2007, de 24 de Agosto (arts 11 e 12 deste diploma) a que pertencero igualmente os normativos por diante citados.[3]Lus de Lima Pinheiro,Direito Internacional Privado, Vol. I, 2008, 2. ed., pg. 506. Como clarifica o mesmo autor, o objecto da remisso so situaes da vida ou aspectos de situaes da vida transnacional. Esse objecto delimitado pelos conceitos de estado, capacidade, relaes de famlia, sucesses por morte, obrigaes contratuais, direitos reais, etc.[4]Idem, Lus de Lima Pinheiro, op. cit., loc. cit..[5]Lies de Direito Internacional Privado, 3. ed., 1995, pg. 434.[6]Direito Internacional Privado Direito de Conflitos Parte Especial, Volume II, 3. edio refundida, 2009 pgs. 545/546.[7]Sistema do Direito Internacional Privado segundo a Lei e a Jurisprudncia, 1957, pg. 130.[8]Op. cit. (nota 6), pg. 546.[9]A sucesso legal cf. art. 2027. do CC distingue-se, ainda, em sucesso legtima arts. 2131. e segs. e sucesso legitimria arts. 2156. e segs. , consoante deferida por uma norma supletiva ou por uma norma imperativa, isto , com a possibilidade de ser ou no afastada por vontade do falecido.[10]A questo da feitura do testamento pblico de 23/06/2005, como se v, bule, em parte, com o designado Direito Diplomtico, que corresponde, em traos gerais, ao exerccio de um dos atributos essenciais da soberania e da independncia das naes o direito de legao que grosso modo consiste na faculdade de se fazer representar no exterior por agentes diplomticos e consulares, e com o Direito Consular, que se traduz no conjunto de normas jurdicas, qualquer que seja a sua fonte, que regulam as relaes consulares, e, em particular, a instituio consular e seus agentes cf. Margarida dOliveira Martins,Direito Diplomtico e Consular, Tratado de Direito Administrativo Especial, Volume V, pg. 219. A mesma autora expende que o Direito Diplomtico e Consular intersectam pois com o Direito Administrativo, na medida em que integra normas jurdicas que se aplicam organizao da administrao pblica estadual directa central perifrica, no domnio externo, bem com a actividade administrativa exercida no plano externo e ainda aos funcionrios e agentes destacados para o exerccio de funes externas do Estado (pg. 223).[11]Como sabido, o Direito Internacional Pblico comum (consuetudinrio) contempla imunidades de jurisdio civil em relao aos Estados estrangeiros, s organizaes internacionais e aos agentes diplomticos, enquanto ao servio de um Estado estrangeiro (no em relao s misses diplomticas). A imunidade jurisdicional dos Estados estrangeiros constitui um corolrio do princpio da igualdade soberana, em virtude do qual, em princpio, nenhum Estado pode julgar os actos de um outro ou mesmo de um dos seus rgos superiores,maxime, por intermdio de um dos seus tribunais, sem o consentimento deste Eduardo Correia Baptista,Direito Internacional Pblico, volume II, 2004, pg. 141. Para maiores desenvolvimentos, cf. o Acrdo do STJ, de 29/05/2012, Proc. n. 137/06.2TVLSB.L1.S1, disponvel no ITIJ.[12]Resulta do art. 56. do DL n. 71/2009, de 31/03, que aprova o Regulamento Consular (Portugus), que os titulares de postos consulares, os cnsules-gerais-adjuntos e cnsules-adjuntos por aqueles expressamente autorizados tm competncia para a prtica de actos notariais relativos a portugueses que se encontrem no estrangeiro ou que devam produzir os seus efeitos em Portugal. Por sua vez, o art. 55. clarifica que os titulares dos postos consulares e os encarregados das seces consulares so rgos especiais da funo notarial.[13]So assim absolutamente incuas as consideraes feitas a este propsito no acrdo recorrido, a pgs. 6 a 8, correspondentes s fls. 476 verso a 477 verso, referentes questo da nulidade do testamento brasileiro.[14]Op. cit., pgs. 438/439.[15]Op. cit. (nota 6), pg. 546.[16]Estando em contacto a ordem jurdica nacional com uma ordem jurdica estrangeira, segundo as normas de conflitos consagradas no nosso Cdigo Civil, emerge dos arts. 62. a 65. que a lei portuguesa que regula a sucesso por morte, designadamente quanto s classes sucessveis arts. 62. e 2133. -, quanto capacidade de disposio por morte arts. 63. e 2188. e segs. , quanto interpretao das disposiesmortis causae falta e vcios da vontade arts. 64., 2188., 2199. e segs. , e quanto forma daquelas disposies arts. 65. e 2204. e segs..[17]Acompanhando Rodrigues Bastos, em anotao a este preceito: Teve-se em conta que quanto falta e vcios de vontade tais disposies so formuladas para proteco da pessoa do disponente, e da que seja aplicvel a sua lei pessoal. Quanto interpretao do testamento adoptou-se a mesma soluo, agora com o fundamento de que os critrios a seguir para a investigao da vontade testatria no podero ser outros seno os da legislao a que o testador estava sujeito e pelos quais provavelmente se guiou no momento em que fez a disposio cf.Notas ao Cdigo Civil, Vol. I, 1987, pg. 102.[18]Cf., no mesmo sentido, o Acrdo deste Supremo Tribunal de 12/10/06, Proc. n. 06B3254, no ITIJ.[19]Parecer publicado na Colectnea de Jurisprudncia Acrdos do STJ, 1995, Tomo II, pgs. 6-10.[20]Esto assim banidas da ordem jurdica portuguesa formas histricas de testamento, que por vezes ainda surgem em ordens jurdicas estrangeiras. o caso do testamentonuncupativo, ou seja, do testamento verbal, baseado no mero consentimento do autor da sucesso. ainda, e sobretudo, o caso do testamentoholgrafo, ou seja, do testamento escrito, e porventura datado e assinado, pelo testador, sem observncia de qualquer outra formalidade cf. Oliveira Ascenso,Direito Civil Sucesses, 4. ed., 1989, pg. 80.[21]Cf. Pires de Lima e Antunes Varela, Cdigo Civil Anotado, Vol. I, 4. ed., pg. 101, e Vol. VI, 1998, pg. 356, e Inocncio Galvo Telles,Direito das Sucesses - Noes Fundamentais, 6. ed., 1996, pgs. 332/333.[22]De acordo com o preceituado no art. 16. do CC, a referncia das normas de conflitos a qualquer lei estrangeira determina apenas, na falta de preceito em contrrio, a aplicao do direito interno dessa lei. Da anlise deste artigo parece poder concluir-se que nele se optou por um sistema de simples referncia material. Ou seja, trata-se de uma pura designao (vocao) do direito material da lei estrangeira - como pura referncia material ouSachnormverweisung cf. Ferrer Correia,Direito Internacional Privado - Alguns Problemas, 2. reimpresso, Coimbra, 1991, pg. 203. Como se escreveu no Acrdo do STJ, de 27/09/1994 cf. Colectnea de Jurisprudncia, Acrdos do STJ, Ano II, Tomo III, pgs. 71 a 73 a referncia feita pela norma de conflitos lei estrangeira tem apenas em vista as normas materiais deste, e no tambm as suas normas de conflitos. Assim se evita uma situao de jogo de espelhos oucirculus inextricabilis, se todos os sistemas jurdicos em presena adoptassem a referncia global ao direito estrangeiro.[23]Dispe aquela norma de direito brasileiro: A sucesso por morte ou por ausncia obedece lei do pas em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situao dos bens. 1. A sucesso de bens de estrangeiros, situados no Pas, ser regulada pela lei brasileira em benefcio do cnjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que no lhes seja mais favorvel a lei pessoal do de cujus. 2. A lei do domiclio do herdeiro ou legatrio regula a capacidade para sucederdiploma acedido emhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657.htm.[24]Como diz Lus Carvalho Fernandes: A modalidade mais corrente de testamento, na realidade das relaes sociais, o testamento pblico. Caracteriza-se este, como decorre do art. 2205., por ser escrito pelo notrio, em livro prprio, muito embora esse funcionrio pblico deva seguir, na elaborao do testamento, a vontade que, no acto, lhe seja manifestada pelo testador cf.Lies de Direito das Sucesses, 1999, pg. 414.[25]Citando, uma vez mais, Marques dos Santos: Esta norma [art. 2205. do CC], bem como as demais normas do Cdigo do Notariado, relativas ao testamento pblico, so aplicveis por fora do art. 65., n. 1, do Cdigo Civil Portugus, pois elas integram o regime do instituto visado na regra de conflitos que atribui competncia lei portuguesa (cf. art. 15. do Cdigo Civil Portugus) isto , por se tratar de normas relativas forma das disposies por morte e por a lei portuguesa ser competente para regular esta questo jurdica por fora do art. 65., n 1 do Cdigo Civil Portugus- op. cit., pg. 7.[26]Cf.Temas de Direito da Famlia, Testamento Olgrafo Acrdo do Supremo Tribunal de Justia, de 12 de Maio de 1992 (Anotao), 1999, pgs. 180/182, e Revista de Legislao e Jurisprudncia, Ano 125., pgs. 309/316.[27]Lus Carvalho Fernandes, op. cit., pg. 401.[28]Cf. Antunes Varela e Pires de Lima, Cdigo Civil Anotado, Vol. I, 4. ed,, pg. 99.[29]Lies de Direito Internacional Privado,1973, pg. 581.[30]Op. cit.,pg. 582.[31]Direito Internacional Privado Introduo e Direito de Conflitos (Parte Geral), 2. ed., 2008, pgs. 498 e 499.[32]Cf., novamente, Lus de Lima Pinheiro, op. cit., pgs. 500 e 501.[33]Em sentido anlogo, embora a situao de facto tenha algumas variaes, cf. o Acrdo do STJ, de 12/05/92, mencionado na nota 26.[34]Recorda-se que resulta do CCB: Art. 1.845 So herdeiros necessrios os descendentes, os ascendentes e o cnjuge. Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessrios, de pleno direito, a metade dos bens da herana, constituindo a legtima.[35]Legado em Substituio da Legtima, 1996, pg. 230.[36]Ferrer Correia, op. cit., pg. 587.[37]A quota indisponvel, segundo o regime consagrado nos arts. 2158. a 2161. do CC, vai de 1/3 a 2/3 da herana: de 1/3 quando os herdeiros legitimrios chamados sejam apenas ascendentes do segundo grau e seguintes; de 1/2 quando ao autor da sucesso sobrevivam s os progenitores, apenas um deles, um nico filho ou somente o cnjuge; ser de 2/3 nas demais hipteses existncia de vrios filhos, concurso de cnjuge com parentes na linha recta.[38]Continuando depois o acrdo que: Caso se apure, em inventrio cuja relao de bens ter de englobar todos os bens da herana (inclusive os situados no Brasil, ao menos para se calcular a legtima) que o testamento se traduz numa liberalidade inoficiosa (numa ofensa legtima) ento, a requerimento da filha prejudicada, ter-se- de proceder reduo da liberalidade.[39]Proc. n. 991/10.3TBTVD-B.L1.S1, disponvel no ITIJ. No sentido da soluo a pugnada, cf., igualmente, o Acrdo do STJ de 23/10/08, Proc. n. 07B4545.[40]Esta , de resto, a posio unnime da melhor doutrina nacional, de que se citam, a ttulo de exemplo, Lus de Lima Pinheiro,op. cit (nota 6), pg. 547; Lopes Cardoso,Partilhas Judiciais (Teoria e Prtica), 4. ed., 1990, pgs. 461 a 463; Domingos Carvalho de S,Do Inventrio Descrever, Avaliar e Partir, 3. ed., 1998, pgs. 93 a 95.[41]Revista de Legislao e Jurisprudncia, Ano 123., pgs. 122 a 128, e 144 a 148 (a citao das pgs. 146/147).[42]Explanou-se no Acrdo do STJ de 19/02/2008, Proc. n. 07A4790, no ITIJ: So de ordem pblica as leis relativas existncia do Estado e essencialmente divergentes (divergncia profunda) da lei estrangeira normalmente competente para regular a respectiva relao jurdica, as quais devem ser leis rigorosamente imperativas e que consagram interesses superiores do Estado. E os interesses que esto aqui em causa so os princpios fundamentais da ordem jurdica portuguesa.[43]Mota Pinto,Teoria Geral do Direito Civil, 3 ed., pg. 551.[44]Pires de Lima e Antunes Varela, op. cit., Vol. I, pg. 69.[45]Direito Civil Sucesses, 4. ed., 1989, pgs. 28 e 29.