sumários dos acórdãos supremo tribunal administrativo i

54
Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I — Tribunal pleno: Direito de reversão de bem expropriado — Princípio tempus regit actum — Inde- ferimento tácito — Recurso para o pleno da 1.ª Secção — Ac. de 24-11-2000 ..... Recurso contencioso — Alegações — Obrigatoriedade da sua apresentação pelo recorrente — Inconstitucionalidade do artigo 24.º, alínea b), da Lei de Processo nos Tribunais Administrativos (não) — Ac. de 24-11-2000 ............................... II — 1.ª Secção: Acto administrativo — Deliberação municipal de reversão — Recurso contencioso — Meio processual idóneo — Ac. de 8-11-2000 ................................................... 323 323 324

Upload: doandat

Post on 10-Jan-2017

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

374Índice BMJ 501 (2000)

Sumários dos acórdãos

Supremo Tribunal Administrativo

I — Tribunal pleno:

Direito de reversão de bem expropriado — Princípio tempus regit actum — Inde-ferimento tácito — Recurso para o pleno da 1.ª Secção — Ac. de 24-11-2000 .....

Recurso contencioso — Alegações — Obrigatoriedade da sua apresentação pelorecorrente — Inconstitucionalidade do artigo 24.º, alínea b), da Lei de Processonos Tribunais Administrativos (não) — Ac. de 24-11-2000 ...............................

II — 1.ª Secção:

Acto administrativo — Deliberação municipal de reversão — Recurso contencioso —Meio processual idóneo — Ac. de 8-11-2000 ...................................................

323

323

324

Page 2: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

375 ÍndiceBMJ 501 (2000)

Âmbito do recurso jurisdicional — Nulidade de sentença — Omissão de pronúncia —Contrato de direito privado — Acto destacável — Ac. de 9-11-2000 .................

Apreciação do ruído de estabelecimento industrial — Delimitação do âmbito do re-curso jurisdicional — Conclusões da alegação do recurso — Ac. de 23-11-2000

Cartas de condução de veículo automóvel — Amnistia — Prazo de caducidade —Ac. de 16-11-2000 ..............................................................................................

Cemitérios — Transferência de jazigo — Reposição com alterações — Motivaçãoposterior ao acto — Ac. de 15-11-2000 .............................................................

Competência do Supremo Tribunal Administrativo — Matéria relativa ao funciona-lismo público — Comandante das Forças de Segurança de Macau — Ac. de9-11-2000 ...........................................................................................................

Despejo administrativo (artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 23 465, de 18 de Janeiro de1934) — Ocupação não titulada de prédio do Estado — Usurpação de poder —Ac. de 8-11-2000 ................................................................................................

Empreitada de obras públicas — Recepção definitiva — Prazo de garantia — Auto derecepção provisória — Falsidade de documentos — Articulado superveniente —Compensação — Litigância de má fé — Ac. de 16-11-2000 ..............................

Execução de julgado — Reconstituição de carreira — Ac. de 8-11-2000 ..................Expropriação por utilidade pública — Competência — Urgência — Fundamenta-

ção — Audiência — Ac. de 28-11-2000 ............................................................Fundamentação do acto administrativo — Ac. de 28-11-2000 .................................Subsídio de desemprego — Interpretação do acto — Exercício de actividade profis-

sional — Acto revogatório da atribuição da prestação — Direito de audiência —Ac. de 22-11-2000 ..............................................................................................

Invocação de vícios — Errada qualificação — Questões que cumpre ao tribunalconhecer — Nulidade de sentença — Ac. de 15-11-2000 ..................................

Licenciamento de unidade industrial — Nulidade da sentença — Pedido de viabilidadede construção — Plano Director Municipal — Regulamento — Princípio tempusregit actum — Condição suspensiva legal — Fundamentação — Ac. de 28-11-2000

Magistrados judiciais — Vencimentos — Lei n.º 63/90, de 26 de Dezembro — Incons-titucionalidade — Ac. de 16-11-2000 .................................................................

Nulidade da sentença por falta de fundamentação — Responsabilidade civil extra-contratual — Critérios para fixação da indemnização — Ónus de alegação —Ac. de 14-11-2000 ..............................................................................................

Responsabilidade civil extracontratual da Administração — Direito de indemniza-ção — Interrupção da prescrição — Notificação para resposta no recurso con-tencioso — Princípio do contraditório — Ac. de 16-11-2000 ............................

III — 2.ª Secção:

Imposto sobre o rendimento das pessoas colectivas — Liquidação — Métodos indiciá-rios — Fundamentação e sua notificação — «Actos massa» — Ac. de 22-11-2000

Imposto sobre o rendimento das pessoas colectivas — Isenção — Pessoa colectiva deutilidade pública — Fins predominantemente científicos — Sindicabilidadecontenciosa dos actos administrativos — Exercício de poderes vinculados —Ac. de 29-11-2000 ..............................................................................................

Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares — Liquidação — Actos susceptí-veis de alterarem a situação tributária do contribuinte — N.º 1 dos artigos 64.º e65.º do Código de Processo Tributário — Notificação — Ac. de 15-11-2000 ....

324

324

325

325

326

327

327328

328329

329

329

330

331

331

332

332

332

333

Page 3: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

376Índice BMJ 501 (2000)

Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares — Deficiência — Benefício fiscal —Disfunção residual — Princípio da legalidade — Ac. de 8-11-2000 ..................

Recurso jurisdicional — Ampliação da matéria de facto — Artigos 729.º e 730.º doCódigo de Processo Civil — Direito local — Matéria de facto — Artigo 348.º doCódigo Civil — Ac. de 29-11-2000 ....................................................................

Tribunais de Segunda Instância

I — Relação de Lisboa:

Acusação — Notificação — Procedimentos — Prosseguimento do processo — Faltade notificação — Irregularidade — Ac. de 8-11-2000 .......................................

Alimentos — Ónus da prova — Ac. de 30-11-2000 ..................................................Amnistia — Lei n.º 29/99, de 12 de Maio — Ac. de 7-11-2000 ..................................Articulado superveniente — Prazo de dedução — Ac. de 23-11-2000 ......................Caixa Geral de Aposentações — Constituição de assistente — Taxa de justiça — Ac. de

9-11-2000 ...........................................................................................................Causa de pedir — Esbulho — Acção de restituição de posse — Prazo de caducidade —

Ac. de 23-11-2000..............................................................................................Condução em estado de embriaguez — Amnistia (Lei n.º 29/99) — Atenuação especial

da pena — Sanção acessória — Dispensa — Ac. de 15-11-2000 ......................Denúncia do contrato de arrendamento — Artigo 108.º do Regime do Arrendamento

Urbano — Ac. de 30-11-2000 ...........................................................................Extradição — Tribunal da Relação territorialmente competente — Ac. de 15-11-2000Faltas — Justificação — Comunicação — Prazo — Impossibilidade de comparên-

cia — Ac. de 15-11-2000 ...................................................................................Herança indivisa — Ilegitimidade de um dos herdeiros a título singular — Ac. de

23-11-2000 .........................................................................................................Herança jacente — Personalidade judiciária — Ac. de 9-11-2000 ...........................Homicídio privilegiado — Emoção violenta compreensível — Ac. de 2-11-2000 .....Nulidades insanáveis — Regime de arguição — Ac. de 21-11-2000 .........................Obras na casa arrendada — Local convencionado para pagamento da renda —

Ac. de 16-11-2000..............................................................................................Pena de prisão efectiva — Perdão — Suspensão da execução — Pena perdoada —

Regime mais favorável — Ac. de 29-11-2000 ....................................................Prisão preventiva — Prazo — Crime de tráfico de estupefacientes — Ac. de 28-11-2000Procedimento cautelar — Competência territorial — Ac. de 2-11-2000 ...................Recurso — Demandante cível — Ofendido não assistente — Legitimidade — Ac. de

30-11-2000 .........................................................................................................Regime especial para jovens — Legítima defesa — Ac. de 2-11-2000 ......................Remissão para os articulados — Nulidade de sentença — Ac. de 16-11-2000 ..........Seguro — Caução — Garantia autónoma — Ac. de 12-11-2000 ..............................Sentença — Nulidade — Excesso de pronúncia — Ac. de 15-11-2000 ......................Subida de recurso — Retenção irreparável — Ac. de 16-11-2000 ............................Tráfico de estupefacientes — Crimes exauridos ou crimes excutidos — Ac. de

2-11-2000 ...........................................................................................................Validade da queixa — Procuração — Mandatário não judicial — Ac. de 14-11-2000

333

333

334334334335

335

335

336

336336

337

337337338338

338

338339339

339339340340340341

341341

Page 4: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

377 ÍndiceBMJ 501 (2000)

II — Relação do Porto:

Acção de preferência — Registo — Ac. de 27-11-2000 ............................................Acidente de trabalho — Remição de pensões — Cálculo do capital — Ac. de

13-11-2000 .........................................................................................................Acidente de viação — Danos não patrimoniais — Bens da herança — Ac. de 2-11-2000Arrendamento rural — Denúncia — Reocupação do prédio — Ac. de 27-11-2000Arrendamento — Resolução — Alteração da estrutura externa do prédio — Ac. de

27-11-2000 .........................................................................................................Auto-estradas — Obrigações do concessionário — Acidente provocado por areia —

Culpa presumida — Ac. de 27-11-2000 ............................................................Cheque post datado — Gerente de sociedade — Indemnização civil — Ac. de 21-11-2000Cheque visado — Âmbito — Ac. de 21-11-2000 ......................................................Competência material. Alteração da incriminação — Ac. de 15-11-2000 ................Condução sob o efeito de álcool — Pena acessória — Inibição da faculdade de con-

duzir — Ac. de 29-11-2000 ...............................................................................Contrato de trabalho — Privilégios creditórios — Ac. de 21-11-2000 ....................Crime de dano — Comproprietário — Ac. de 29-11-2000 ......................................Crime de fraude sobre mercadoria — Ac. de 8-11-2000 .........................................Direito de remição — Depósito do preço — Ac. de 27-11-2000 ..............................Direito de retenção — Registo de acção — Ac. de 14-11-2000 ................................Indemnização por acidente de viação — Direito de regresso da seguradora — Tribu-

nal competente — Ac. de 2-11-2000 ..................................................................Inibição da faculdade de conduzir — Pena acessória — Início do cumprimento —

Ac. de 8-11-2000 ...............................................................................................Letra de câmbio — Desconto — Devolução da letra ao sacador — Portador legí-

timo — Ac. de 2-11-2000 ..................................................................................Obrigação em moeda estrangeira — Pagamento em moeda nacional — Ac. de

6-11-2000 ...........................................................................................................Processo executivo — Fundo de Garantia Automóvel — Subrogação — Ac. de

6-11-2000 ...........................................................................................................Processo Penal — Prova — Depoimento de co-arguido — Ac. de 29-11-2000 .......Recurso penal — Subida do recurso — Ac. de 15-11-2000 .....................................Responsabilidade pelo risco — Juros moratórios — Ac. de 27-11-2000 .................Revogação da suspensão da execução da pena — Pressupostos — Ac. de 15-11-2000Título executivo — Garantia bancária autónoma — Ac. de 2-11-2000 ....................Tribunais Administrativos — Competência — Junta Autónoma de Estradas — Acção

de indemnização — Ac. de 6-11-2000 ...............................................................Tribunal comum — Competência — Câmara municipal — Junta de freguesia —

Ac. de 7-11-2000 ...............................................................................................Tribunal de comércio — Competência — Procedimentos cautelares — Ac. de

20-11-2000 .........................................................................................................

342

342342342

343

343343343343

344344344344344345

345

345

345

345

345346346346346346

346

347

347

Page 5: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

378Índice BMJ 501 (2000)

III — Relação de Coimbra:

Acidente de trabalho — Trabalho a tempo parcial — Ac. de 15-11-2000 .................Acidente de trabalho — Condução sem carta — Ac. de 15-11-2000 .........................Cheque — Informação errónea da falta de provisão — Obrigação de indemnizar —

Danos não patrimoniais — Ac. de 7-11-2000 ...................................................Contestação extemporânea — Nulidade processual — Ac. de 7-11-2000 .................Contratos de provisão de cheques — Recusa de pagamento — Responsabilidade da

instituição bancária — Ac. de 28-11-2000 .........................................................Crime de desobediência — Entrega de licença de condução — Concessão de prazo

inferior ao legalmente estabelecido — Ac. de 22-11-2000 .................................Crime de desobediência previsto e punido no artigo 158.º, n.º 3, do Código da Estrada —

(In)aplicabilidade da sanção acessória do artigo 69.º do Código Penal — Ac. de29-11-2000 .........................................................................................................

Embargos de terceiro — Venda judicial do bem embargado —Indeferimento limi-nar — Ac. de 22-11-2000

Embargos de terceiro — Depositário judicial — Falta de legitimidade — Ac. de7-11-2000 ...........................................................................................................

Fauna cinegética — Pombos da espécie doméstica que perderam tal qualidade —Ac. de 29-11-2000..............................................................................................

Indemnização — Juros não pedidos — Ac. de 9-11-2000 .........................................Instrução indevida por inexistência de acusação — Ac. de 20-11-2000 ....................Livrança em branco — Irrevogabilidade do aval — Abuso do preenchimento —

Ac. de 14-11-2000..............................................................................................Notificação postal do mandatário — Assinatura apenas num dos talões — Ac. de

14-11-2000 .........................................................................................................Omissão de documentação das declarações oralmente prestadas em audiência —

Mera irregularidade — Ac. de 29-11-2000 .......................................................Pena de demissão — Fundamento (artigo 66.º, n.º 1, do Código Penal) — Ac. de

15-11-2000 .........................................................................................................Pena de prisão e pena acessória de proibição de conduzir — Suspensão — Ac. de

15-11-2000 .........................................................................................................Princípio do contraditório — Acção de divórcio — Regime provisório do artigo 1407.º,

n.º 7, do Código de Processo Civil — Ac. de 22-11-2000 ..................................Processo de falência — Acção de separação e restituição dos bens da massa falida —

Prazo de propositura — Ac. de 28-11-2000 ......................................................Propriedade horizontal — Omissão do título quanto à propriedade de uma zona do

prédio — Regime aplicável — Ac. de 7-11-2000 ...............................................Providência cautelar comum — Aplicação da regra do contraditório — Citação do

requerido, sendo a providência indeferida — Ac. de 14-11-2000 ......................Recurso — Concurso de infracções — Decisões transitadas — Ac. de 15-11-2000 ....Sanção acessória prevista no artigo 69.º do Código Penal — Forma de cumpri-

mento — Ac. de 29-11-2000 ..............................................................................Tiro de arma de fogo ou emprego de arma de arremesso contra alguma pessoa —

Descriminalização — Ac. de 29-11-2000 ..........................................................

348348

348349

349

349

349

349

350

350350350

350

350

351

351

351

351

351

352

352352

352

353

Page 6: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

379 ÍndiceBMJ 501 (2000)

IV — Relação de Évora:

Acidente de trabalho — Remição de pensões — Regime transitório — Ac. de 14-11-2000Acidente de trabalho — Remição de pensões — Regime transitório — Ac. de 14-11-2000Arrrendamento urbano — Resolução pelo senhorio — Residência permanente —

Comissão de serviço — Ac. de 2-11-2000 .........................................................Conflito negativo de competência — Acção de investigação de paternidade não contes-

tada — Ac. de 9-11-2000 ...................................................................................Crime de detenção de arma proibida — Arma branca com disfarce — Ac. de

7-11-2000 ...........................................................................................................Crime de homicídio por negligência — Negligência grosseira — Ac. de 7-11-2000Crime de ofensa à integridade física grave por negligência — Produto corrosivo —

Ac. de 7-11-2000 ................................................................................................Crime de poluição — Provocação de poluição sonora — Ac. de 7-11-2000 ............Defesa por excepção — Admissibilidade de réplica — Ac. de 2-11-2000 ..................Execução para entrega de coisa certa — Embargos de terceiro — Tempestividade —

Ac. de 9-11-2000 ................................................................................................Ilícito de mera ordenação social — Tribunal competente — Constitucionalidade —

Ac. de 21-11-2000 ..............................................................................................Processo comum laboral — Sanção por falta injustificada à audiência de partes —

Ac. de 7-11-2000 ................................................................................................Processo de suprimento — Suprimento de consentimento de pessoa cujo paradeiro se

desconhece — Ac. de 9-11-2000 ........................................................................Processo laboral — Arguição de nulidades de sentença — Declaração de rescisão do

contrato de trabalho emitida pelo trabalhador com a menção de que a entidadepatronal nada lhe deve — Coacção e dolo — Prova do cumprimento da obriga-ção retributiva — Ac. de 7-11-2000 ...................................................................

Recurso em processo penal — Competência — Ac. de 21-11-2000 ..........................

V — Tribunal Central Administrativo:

I — Secção do Contencioso Administrativo:

Adjunto de conservador — Substituição do conservador — Princípio da boa fé; repo-sição de remunerações — Direito de audiência — Princípio do aproveitamentodos actos administrativos — Ac. de 30-11-2000 ...............................................

Aquisição do grau de mestre por docente — Concessão da bonificação a que aludeo artigo 54.º do ECD — Princípios da justiça e da imparcialidade — Ac. de 2-11-2000 ..............................................................................................................

Concurso interno condicionado — Discricionariedade técnica do júri — Poder daentidade homologante — Ac. de 16-11-2000 .....................................................

Contrato administrativo — Rescisão convencional — Acto destacável — Sua nãoformação — Ac. de 9-11-2000 ...........................................................................

Contrato de empreitada de obra financiada por entidade pública — Âmbito de aplica-ção do Decreto-Lei n.º 59/99, de 2 de Março — Tribunal competente para apre-ciação de pedido de medida cautelar no procedimento de formação de tal con-trato — Ac. de 16-11-2000 ................................................................................

354354

354

355

355355

356356356

357

357

357

358

358358

359

360

360

360

361

Page 7: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

380Índice BMJ 501 (2000)

Despejo administrativo (artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 23 465, de 18 de Janeiro de1934) — Ocupação não titulada de prédio do Estado — Usurpação de poder —Ac. de 8-11-2000 ...............................................................................................

Pessoal dirigente — Cessação de comissão de serviço — Carreira de investigaçãocientífica — Artigo 18.º, n.os 1, alínea a), e 3, do Decreto-Lei n.º 323/89, naredacção resultante do Decreto-Lei n.º 34/93 — Ac. de 9-11-2000 ...................

Processo disciplinar — Guarda Nacional Republicana — Princípio ne bis in idem —«Desgraduação no posto» [artigos 241.º, 247.º, n.º 1, alínea c), e 243.º, n.º 1,alínea a), do Decreto-Lei n.º 265/93, de 31 de Julho (Estatuto dos Militares daGuarda Nacional Republicana)] — Dispensa de serviço [artigo 75. º do Decreto--Lei n.º 265/93 e artigo 94.º, n.os 2 e 4, do Decreto-Lei n.º 231/93, de 26 de Junho(Lei Orgânica da Guarda Nacional Republicana)] — Ac. de 23-11-2000 .........

Promoção de militares ao abrigo do artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 236/99, de 25 deJunho (diploma que aprovou o Estatuto dos Militares das Forças Armadas) —Ac. de 16-11-2000..............................................................................................

Regulamentos autónomos — Admissibilidade — Estatuto Político-Administrativo daRegião Autónoma da Madeira — Ac. de 2-11-2000 ...........................................

Nulidade da sentença [artigo 668.º, n.º 1, alínea b), do Código de Processo Civil] —(In)constitucionalidade do n.º 2 do artigo 69.º da Lei de Processo nos TribunaisAdministrativos — Acção para reconhecimento de direito ou interesse legítimo —Idoneidade do meio processual usado; Decreto-Lei n.º 81-A/96, de 21 de Junho —Resolução do Conselho de Ministros n.º 23-A/97, de 14 de Fevereiro — Carácteroficioso e obrigatório dos procedimentos administrativos aí previstos — Ac. de9-11-2000 ...........................................................................................................

II — Secção do Contencioso Tributário:

Custos de exercício — IRC — Factura — Ac. de 21-11-2000 ...................................Embargos de terceiro — Posse — Direito de retenção — Ac. de 7-11-2000 ............IRC — Liquidação — Métodos indiciários — Fundamentação e sua notificação —

«Actos massa» — Ac. de 22-11-2000 ................................................................IRC — Rendimentos de capitais — Substituição tributária — Responsabilidade —

Ac. de 7-11-2000 ...............................................................................................Impugnação judicial — Contribuição autárquica — Sujeição — Caravana/Roullote —

Ac. de 21-11-2000..............................................................................................Métodos indiciários para apuramento da matéria tributável em sede de IVA —

Amostragem — Ac. de 14-11-2000 ....................................................................Oposição — Tribunal de revista — Artigo 13.º do Código de Processo Tributário —

Responsabilidade subsidiária — Gerência de direito — Gerência de facto —Presunções — Ac. de 8-11-2000 ........................................................................

Recurso de contra-ordenação — Falta de consciência da ilicitude na não declaraçãodas gorjetas auferidas pelos empregados dos casinos como rendimentos do tra-balho dependente — Ac. de 7-11-2000 ...............................................................

Trabalhador residente na Alemanha por mais de 183 dias no ano de 1996 — IRS doano de 1996 — Convenção celebrada entre Portugal e Alemanha destinada aevitar a dupla tributação (Lei n.º 12/82, de 3 de Junho) — Ac. de 14-11-2000

Transmissão de imóvel — Tributação em IRS — Acto isolado de natureza comercial —Ac. de 21-11-2000..............................................................................................

361

362

362

363

363

364

365365

365

366

366

366

367

367

367

368

Page 8: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

SUMÁRIOS

Page 9: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

323 Supremo Tribunal AdministrativoBMJ 501 (2000)

Direito de reversão de bem expro-priado — Princípio tempus regitactum — Indeferimento tácito —Recurso para o pleno da 1.ª Secção

I — O âmbito dos poderes de cognição dopleno da 1.ª Secção, quando decide em segundograu de jurisdição cinge-se à matéria de direito(artigo 21.º, n.º 3, do Estatuto dos Tribunais Ad-ministrativos e Fiscais).

II — O princípio tempus regit actum quemanda aferir, em regra, a legalidade do actoadministrativo pela situação de facto e de direitoexistente à data da sua prolação, no caso de actoexpresso, não pode deixar de valer também paraas hipóteses de indeferimento tácito, consideran-do-se relevante para o efeito, não o momento daformulação da pretensão mas, pelo menos, omomento em que legalmente se considera for-mado aquele indeferimento tácito.

III — Assim, não pode afirmar-se a legali-dade do indeferimento tácito de pedido de rever-são apenas com base na constatação da prema-turidade da apresentação desse pedido (formu-lado em 4 de Março de 1994, 3 dias antes de secompletar o período de 2 anos de que o bene-ficiário da expropriação dispunha para aplicaro bem expropriado a fim determinante da expro-priação) pois tal pedido foi mantido actuanteperante a Administração até ao momento em que,de acordo com a lei, se considerou tacitamenteindeferido e, nesse momento, já aquele períodose havia esgotado.

Acórdão de 24 de Novembro de 2000Recurso n.º 37 649

Isabel Jovita (Relatora) — Cruz Rodrigues —Fernando Samagaio — Simões Redinha — Gouveiae Melo — Adelino Lopes.

Recurso contencioso — Alegações —Obrigatoriedade da sua apresentaçãopelo recorrente — Inconstituciona-lidade do artigo 24.º, alínea b), da Leide Processo nos Tribunais Adminis-trativos (não)

I — O artigo 67.º do Regulamento do Supre-mo Tribunal Administrativo impõe em recursosde actos da administração estadual a apresenta-ção de alegações pelo recorrente depois da res-posta ou de transcorrido o prazo para o efeito.

II — A petição de recurso não pode desempe-nhar tal função — mesmo através do princípiodo aproveitamento dos actos processuais —,ainda que contenha conclusões.

III — É que tais peças situam-se em fasesbem distintas do recurso contencioso, com fun-ções muito diversas.

IV — Na petição de recurso desenha-se alide, com indicação dos sujeito, causa de pedir epedido, vinculando-se o juiz e propiciando-seum vero exercício do contraditório.

V — Através das alegações pretendeu olegislador que o recorrente tome posição expres-sa sobre o recurso, nos seus aspectos factuais ejurídicos, após o decurso das fases do contradi-tório e da instrução, podendo aí, inclusive, redu-zir e, em certos casos, ampliar o leque dos víciosdo acto.

SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO

I

TRIBUNAL PLENO

Page 10: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

324 BMJ 501 (2000)Supremo Tribunal Administrativo

VI — Aliás, o silêncio do recorrente represen-taria nestas circunstâncias um gesto equívoco.

VII — O artigo 24.º, alínea b), da Lei deProcesso nos Tribunais Administrativos não fereo disposto no artigo 112.º, n.º 6, da Constituiçãoda República Portuguesa, ao remeter para oRegulamento do Supremo Tribunal Administra-tivo.

VIII — Na verdade, é a própria Lei de Pro-cesso nos Tribunais Administrativos que logoconsagra a força do preexistente Regulamentodo Supremo Tribunal Administrativo, que cons-titui lei em sentido formal ( Decreto-Lei n.º 267/85, de 16 de Julho).

Acórdão de 24 de Novembro de 2000Recurso n.º 44 139

Ferreira Neto (Relator) — Cruz Rodrigues —Fernando Samagaio — Azevedo Moreira — SimõesRedinha — Rui Pinheiro — Anselmo Rodrigues.

II

1.ª SECÇÃO

Acto administrativo — Deliberaçãomunicipal de reversão — Recursocontencioso — Meio processualidóneo

I — Constitui acto administrativo a delibera-ção camarária que unilateral e autoritariamentedeterminou a reversão para o património muni-cipal de lote anteriormente alienado ao recor-rente.

II — Assim sendo, o meio processual idóneopara a sua impugnação pelo particular lesado éo recurso contencioso.

Acórdão de 8 de Novembro de 2000Recurso n.º 46 142

Abel Atanásio (Relator) — Simões Oliveira —Anselmo Rodrigues.

Âmbito do recurso jurisdicional —Nulidade de sentença — Omissão depronúncia — Contrato de direitoprivado — Acto destacável

I — Deve improceder o recurso jurisdicionalinterposto de decisão do Tribunal Administra-tivo Central que rejeitou, por irrecorribilidade,o recurso contencioso de actos da Administra-ção, quando, nas conclusões da respectiva ale-gação, o recorrente volta a insistir nos vícios doacto impugnado, relativamente aos quais, porvirtude daquela rejeição liminar, não houve qual-quer pronúncia judicial.

II — Não se verifica omissão de pronúnciaprevista na alínea d) do n.º 1 do artigo 668.º doCódigo de Processo Civil se a sentença consi-dera procedente a questão prévia da irrecorribi1i-dade dos actos e rejeita o recurso e, por isso,não conhece dos vícios imputados aos referidosactos.

III — Uma deliberação camarária que cor-responde ao exercício pela Câmara Municipalde um direito contratual, não configurando oexercício de um autónomo poder administra-tivo, ainda que inserido na execução de um con-trato de direito privado, não reveste a naturezade acto administrativo destacável para efeitosde impugnação contenciosa.

Acórdão de 9 de Novembro de 2000Recurso n.º 46 454

A. Macedo Almeida (Relator) — Nuno Sal-gado — Santos Botelho.

Apreciação do ruído de estabeleci-mento industrial — Delimitação doâmbito do recurso jurisdicional —Conclusões da alegação do recurso

I — É através das conclusões da alegação dorecorrente que é delimitado objectivamente oâmbito do recurso (artigos 684.º, n.º 3, e 690.º,n.º 1, do Código de Processo Civil, aqui aplicá-vel ex vi dos artigos 1.º e 102.º da Lei de Pro-cesso nos Tribunais Administrativos), visto que

Page 11: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

325 Supremo Tribunal AdministrativoBMJ 501 (2000)

aquelas se destinam a resumir para o tribunalad quem os fundamentos daquele, ou seja, asquestões a decidir e das razões porque devemser decididas em determinado sentido, pelo quetudo o que fique para aquém de tal objectivo édeficiente ou impertinente.

II — Os recursos jurisdicionais visam modi-ficar as decisões recorridas e não criar decisõessobre matéria nova (artigos 676.º, n.º 1, e 684.º,n.º 3, do Código de Processo Civil), não sendo,assim, lícito às partes suscitar questões que nãotenham sido objecto das decisões impugnadas,pelo que o tribunal de recurso não pode pronun-ciar-se sobre questões novas não decididas nosarestos recorridos, excepto nas situações em quea lei expressamente determine o contrário ou emque a matéria é de conhecimento oficioso.

III — De acordo com o preceituado nas dis-posições combinadas dos artigos 676.º, n.º 1,660.º, n.os 2, 2.ª parte, e 3, 684.º, n.º 2, 2.ª parte,e 690.º, n.os 1 e 3, do Código de Processo Civil,aqui aplicável ex vi do artigo 102.º da Lei deProcesso nos Tribunais Administrativos, o re-curso jurisdicional tem por objecto a sentençarecorrida e não o acto administrativo de cujorecurso contencioso aquela conheceu.

IV — Deste modo, improcede o recurso juris-dicional em cujas conclusões da alegação o re-corrente, ou se limitou a reproduzir o já alegadono recurso contencioso, ou a invocar novas ques-tões não alegadas na petição inicial daquele re-curso e que, por conseguinte, nem sequer foramapreciadas na sentença recorrida, e não arguiuqualquer vício ou erro de julgamento destadecisão.

Acórdão de 23 de Novembro de 2000Recurso n.º 43 299

Nuno Salgado (Relator) — Anselmo Rodri-gues — Isabel Jovita.

Cartas de condução de veículoautomóvel — Amnistia — Prazode caducidade

I — As cartas de condução de veículo auto-móvel, quando inicialmente emitidas a favor dequem não seja titular de habilitação legal de con-duzir, têm carácter provisório e só se convertem

em definitivas após o decurso de dos dois pri-meiros anos do seu período de validade sem queao seu titular haja sido aplicada sanção de inibi-ção de conduzir (artigo 125.º, n.º 3, do Códigoda Estrada, na sua versão antes do Decreto-Lein.º 2/98, de 3 de Janeiro, e actualmente artigo122.º, n.º 4).

II — A aplicação da sanção de inibição deconduzir ao titular de carta de condução comcarácter provisório implica caducidade da res-pectiva carta (ibidem, n.º 4).

III — A caducidade referida em II mantém--se mesmo que as infracções que determinarama inibição de conduzir venham a ser posterior-mente amnistiadas.

IV — As leis de amnistia, como providênciasde excepção que são, devem interpretar-se e apli-car-se nos seus precisos termos, sem amplia-ções nem restrições que nelas não venhamexpressas, ou seja, deve fazer-se sempre nos es-tritos limites da lei que a conceder.

V — O decurso do prazo, na caducidade,extingue prematuramente a eficácia do direito ea possibilidade de o realizar, ou seja, determinaa sua resolução, o morrer do direito, que seopera, ipso jure, de maneira directa e automática.

Acórdão de 16 de Novembro de 2000Recurso n.º 45 902

Nuno Salgado (Relator) — Vaz Rebordão —Gonçalves Loureiro.

Cemitérios — Transferência dejazigo — Reposição com alterações —Motivação posterior ao acto

I — A concessão de terreno em cemitério pa-roquial para a edificação e aproveitamento deum jazigo é uma das modalidades de utilizaçãodo domínio público pelos particulares.

II — As concessões deste género apresentamum carácter de perpetuidade, por forma a que autilização dos jazigos acompanhe a continui-dade das famílias e o sentimento de piedade, res-peito e veneração que nos seus membros suces-sivos se vão actualizando.

Page 12: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

326 BMJ 501 (2000)Supremo Tribunal Administrativo

III — As razões afectivas que explicam essavocação de perpetuidade fazem com que essasconcessões persistam no caso de mudança docemitério para um outro lugar, incumbindo àAdministração realizar a transferência dos res-tos mortais e dos elementos construtivos e orna-mentais existentes no antigo cemitério.

IV — Ao realizar a transferência desses ele-mentos, a Administração pode atender a quais-quer razões de interesse público, relacionadascom imperativos sanitários, estéticos, econó-micos ou de segurança, que imponham a intro-dução de modificações na integralidade originalde um jazigo, com vista a adaptá-lo minima-mente às novas circunstâncias.

V — Se um acto administrativo determinouque a reposição de um jazigo num novo cemité-rio respeitasse a traça exterior original, mas queo seu interior apresentasse a inovação de serreconstruído em betão e ferro, e na fundamen-tação do acto que se deverá discernir se a mu-dança a introduzir na estrutura e na configura-ção do jazigo é justificada à luz dos imperativosreferidos em IV.

VI — Carecendo o acto de fundamentação,cujo vício de forma não foi arguido, não éadmissível avaliar da justificação daquela mu-dança através do alegado pela Administraçãoao longo do recurso contencioso, pois isso equi-valeria a atender a uma fundamentação poste-rior ao acto, a qual é, por natureza, irrelevante.

VII — Ignorando-se as razões em que o actofundou a imposição de alterações no jazigo, eporque ao interessado na sua anulação incum-bia demonstrar que os motivos do acto eraminjustificáveis, tem de se concluir pela não veri-ficação de erro nos pressupostos de direito, de-rivado da ilegitimidade dessas razões.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Recurso n.º 46 025

Madeira dos Santos (Relator) — Abel Ataná-sio— Cruz Rodrigues (vencido).

Competência do Supremo TribunalAdministrativo — Matéria relativa aofuncionalismo público — Coman-dante das Forças de Segurança deMacau

I — Cabe ao Supremo Tribunal Administra-tivo, pela Secção do Contencioso Administra-tivo, nos termos do artigo 26.º, n.º 1, alínea c),do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fis-cais, a competência para o conhecimento do re-curso contencioso interposto do despacho doSecretário de Estado da Presidência do Conse-lho de Ministros que indeferiu requerimento dorecorrente a pedir que lhe fosse processado epago o subsídio de reintegração dos titulares decargos políticos, previsto no artigo 31.º da Lein.º 4/85, de 9 de Abril, a que se julga com direito,em virtude de ter exercido as funções de coman-dante-geral das Forças de Segurança de Macau,cargo legalmente equiparado ao de secretário--adjunto do Governo.

II — Na pretensão do recorrente, tal como amesma se mostra configurada na petição de re-curso, está em causa o direito a uma remunera-ção devida aos titulares de cargos políticos, apósa cessação destes e por causa do exercício des-ses cargos, pelo que a apreciação da referidapretensão em nada interfere com a relação jurí-dica de emprego que ele detinha enquanto mili-tar de carreira, antes depende, exclusivamente,da verificação ou não de determinados pressu-postos de todo alheios à referida relação de em-prego ou ao estatuto jurídico da função pública.

III — Só é lesivo e contenciosamente recorrível(artigos 25.º, n.º 1, da Lei de Processo nos Tri-bunais Administrativos e 268.º, n.º 4, da Consti-tuição da República Portuguesa) o acto adminis-trativo que contenha uma decisão final da Admi-nistração, definindo a situação jurídica concretado interessado.

Acórdão de 9 de Novembro de 2000Recurso n.º 45 617

Pais Borges (Relator) — Macedo de Almeida —João Cordeiro.

Page 13: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

327 Supremo Tribunal AdministrativoBMJ 501 (2000)

Despejo administrativo (artigo 8.º doDecreto-Lei n.º 23 465, de 18 deJaneiro de 1934) — Ocupação nãotitulada de prédio do Estado — Usur-pação de poder

I — Não pode ser nulo, por usurpação depoder, o acto administrativo que, fundando-seem norma vigente e conforme à Constituição,exercite uma conduta cuja autoria seja atribuídaà Administração por esse mesmo preceito.

II — Assim, e ao abrigo do disposto no ar-tigo 8.º do Decreto-Lei n.º 23 465, a Administra-ção não necessita de recorrer aos tribunaiscomuns para exigir a devolução ao Estado deum seu prédio ocupado sem título, podendo im-por essa entrega autoritariamente, ainda que aocupação surgisse na sequência da caducidadede um contrato de arrendamento primitiva-mente celebrado entre particulares.

III — O direito a novo arrendamento, pre-visto nos artigos 90.º e seguintes do Regime doArrendamento Urbano, não se aplica aos arren-damentos de prédios do Estado, dado o dispostono artigo 5.º, n.º 2, alínea a), do mesmo diploma.

IV — O artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 507-A/79, de 24 de Dezembro, estabelece que «são nu-los e de nenhum efeito» os contratos de arrenda-mento de bens imóveis do domínio privado doEstado que não sejam precedidos de autoriza-ção do director-geral do Património e que senão realizem mediante hasta pública, salvo oscasos especiais em que o Ministro das Finanças,dispensando a hasta pública, fixe a importânciada renda ou indique o critério do seu cálculo.

V — Ocorrida, por morte do locatário, a ca-ducidade do arrendamento de um prédio do Es-tado, a sua ocupação por quem com aquelehabitara não se mostra titulada, por via de ale-gados direitos ao arrendamento ou a um novoarrendamento, se a Administração, sabedoradaquele óbito, se limitou a aceitar da ocupanteas rendas relativas ao imóvel.

VI — Assim, a ordem de desocupação doprédio, dirigida a essa ocupante, não enfermoude erro num seu pressuposto de direito ao consi-derar que a detenção do prédio carecia de títuloque a legitimasse.

Acórdão de 8 de Novembro de 2000Recurso n.º 46 098

Madeira dos Santos (Relator) — Cruz Rodri-gues — Abel Atanásio.

Empreitada de obras públicas —Recepção definitiva — Prazo degarantia — Auto de recepção provi-sória — Falsidade de documentos —Articulado superveniente — Com-pensação — Litigância de má fé

I — Os articulados supervenientes destinam--se à aquisição dos factos posteriores, ou de co-nhecimento posterior, ao encerramento da fasedos articulados que interessem aos fundamen-tos da acção ou da defesa, não à prova e con-traprova de factos anteriormente alegados.

II — As normas de contagem do período degarantia resultantes dos artigos 191.º, n.º 4, e193.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 48 871, de 19 deFevereiro de 1969, tinham natureza supletiva,podendo ser afastadas pelo estipulado na escri-tura e nos elementos para que esta remeta, desig-nadamente o caderno de encargos.

III — O incidente de falsidade regulado noartigos 360.º e seguintes do Código de ProcessoCivil, na redacção anterior à reforma intro-duzida pelo Decreto-Lei n.º 329-A/95, de 12 deDezembro, e Decreto-Lei n.º 180/96, de 25 deSetembro, só era admissível no âmbito da forçaprobatória plena do documento arguido defalso.

IV — A declaração contida no auto de recep-ção provisória de que as obras se encontramexecutadas em conformidade com as cláusulascontratuais encerra um mero juízo pessoal, su-jeito ao princípio da livre apreciação pelo juiz,nos termos do artigo 371.º, n.º 1, 2.ª parte, doCódigo Civil.

V — O decaimento em incidente de falsidade,cuja dedução ficou a dever-se a um erro de in-terpretação jurídica e não a propósitos dilatóriosou de alteração dos factos, não justifica a conde-nação do requerente em multa como litigante demá fé.

Acórdão de 16 de Novembro de 2000Processo n.º 45 713

Vítor Gomes (Relator) — Pais Borges — NunoSalgado.

Page 14: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

328 BMJ 501 (2000)Supremo Tribunal Administrativo

Execução de julgado — Recons-tituição de carreira

I — A execução dos julgados anulatórios con-siste na extracção das consequências da ilegali-dade detectada, repondo-se a ordem jurídicaferida pelo acto anulado de modo a reconstituir,com actualidade, a situação que hipoteticamenteexistiria se, na vez do acto ilegal, tivesse sidopraticado um acto legal.

II — Se o acto anulado afectou o normal de-senvolvimento da carreira de um funcionário,impõe-se reconstituí-la, reassumindo-se tudo oque nela seguramente ocorreria, na hipótese daordem jurídica nunca ter sido violada.

III — A reconstituição da carreira de umafuncionária que foi excluída de um concurso porentão carecer, devido ao acto anulado, da cate-goria indispensável para concorrer, não podeprescindir da consideração de que, não fora oacto ilegal, ela seria admitida ao dito concurso.

IV — Nesse género de casos, e como a sim-ples admissão a um concurso não garante quenele se logre êxito, pode a carreira dos funcioná-rios reconstituir-se através da sua candidaturaa um concurso similar futuro, atribuindo-se aoeventual provimento efeitos retrotraídos à datados provimentos resultantes do concurso ante-rior.

V — A solução dita em IV é impossível seentretanto a funcionária se aposentou, pelo quea situação de aposentação constitui, nessaparte, uma causa legítima de inexecução do jul-gado anulatório.

Acórdão de 8 de Novembro de 2000Processo n.º 28 127-A

J. A. Madeira dos Santos (Relator) — CruzRodrigues — Abel Atanásio.

Expropriação por utilidade pública —Competência — Urgência —Fundamentação — Audiência

I — Inscrevendo-se o procedimento comvista à declaração de utilidade pública da expro-priação de certos terrenos no âmbito das compe-tências e atribuições cometidas à DGOTDU,

integrada no Ministério do Planeamento e daAdministração do Território, que, por força don.º 1 do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 23/96, de20 de Março, passou a estar integrado no Mi-nistério do Equipamento, do Planeamento e daAdministração do Território, compete ao res-pectivo ministro a apreciação final do processoexpropriativo (cfr. artigo 11.º do Código dasExpropriações).

II — Quando no artigo 11.º do Código dasExpropriações se alude a ministro, não se pre-tende tomar qualquer posição quanto à questãoda divisão de competências entre o ministro e osecretário de Estado, antes sim definir que é com-petente para a prática do acto em causa o órgãosuperior do «departamento competente para aapreciação final do processo», como o própriotexto do citado artigo 11.º logo o inculca, peloque tendo o Ministro do Equipamento, do Plane-amento e da Administração do Território dele-gado no Secretário de Estado da AdministraçãoLocal e do Ordenamento do Território compe-tência para despachar os assuntos relativos aoCódigo das Expropriações, deve concluir-se queo acto expropriativo praticado pelo Secretáriode Estado da Administração Local e do Ordena-mento do Território não se mostra inquinado dovício de incompetência.

III — Não é impeditivo da atribuição do ca-rácter de urgência à expropriação para obrasde interesse público, a que se refere o artigo 13.ºdo Código das Expropriações, o facto de o pro-jecto relativo às mesmas obras ter já alguns anos,desde que a urgência na execução da obra a queo terreno expropriado se destina e os respecti-vos fins de interesse público se mostrem expres-samente enunciados (e justificados) na infor-mação em que se baseou o acto, bem como nou-tros elementos procedimentais.

IV — Não deve proceder a violação do prin-cípio da proporcionalidade se na informação emque se baseou o A. C. I., a Administração põe emevidência a necessidade e utilidade da expro-priação em causa para a prossecução do inte-resse público visado com a realização da obrarespectiva, e se o recorrente não demonstrarque relativamente à solução corporizada no acto(a qual está em consonância com o previsto noPROT — Algarve e PDM de Faro), aquele inte-resse público seria igualmente satisfeito com o

Page 15: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

329 Supremo Tribunal AdministrativoBMJ 501 (2000)

mesmo grau de eficácia e adequação com a rea-lização da obra noutro local.

V — Tendo em vista as disposições conju-gadas da alínea h) do n.º 2 do artigo 12.º, n.º 4do artigo 13.º e do artigo 14.º, e o que decorredo n.º 1 do artigo 2.º, todos do Código das Ex-propriações, e dado que como justificação dopedido de declaração de utilidade pública ur-gente da expropriação do terreno em causa fo-ram invocadas circunstâncias (nomeadamentea necessidade imperiosa da execução da obra aque o prédio expropriando se destinava) demons-trativas do carácter urgente da expropriação,tendo em vista o disposto na alínea a) do n.º 1 doartigo 103.º do Código do Procedimento Admi-nistrativo, fica a Administração habilitada a pra-ticar o aludido acto sem audiência prévia dointeressado.

VI — O acto mostra-se fundamentado defacto e de direito se na informação em que sebaseou foram enunciados de forma clara econgruente os motivos e finalidades da expro-priação e a necessidade da mesma, bem como oquadro normativo ao abrigo do qual foi levadaa efeito.

Acórdão de 28 de Novembro de 2000Recurso n.º 44 600

João Belchior (Relator) — Simões Redinha —Rosendo José.

Fundamentação do acto administrativo

Está fundamentado o despacho de vereadorde câmara municipal que, no uso de poderesdelegados, ordena a demolição de uma paredepor ter sido construída sem licença e tapar oacesso às traseiras de uma moradia confinante,independentemente de se entrar a conhecer se foiou não bem exercida a faculdade conferida peloartigo 167.º do Regulamento Geral das Edi-ficações Urbanas, de apreciar se a construçãoseria susceptível de satisfazer as regras do ur-banismo e da construção (matéria de fundo).

Acórdão de 28 de Novembro de 2000Processo n.º 46 452

Rosendo José (Relator) — Marques Borges —Simões Redinha.

Subsídio de desemprego — Inter-pretação do acto — Exercício deactividade profissional — Acto revo-gatório da atribuição da prestação —Direito de audiência

I — Não tem direito à protecção social resul-tante de uma situação de desemprego quem exer-cer uma actividade profissional, seja por contaprópria, seja por conta de outrem, independen-temente da exacta qualidade formal que sirva desuporte a esse exercício.

II — O acto administrativo que revogou umaanterior atribuição de um subsídio de desem-prego por se haver constatado que a beneficiáriatrabalhava numa empresa, de que até era sóciae gerente, teve por básico fundamento a convic-ção de que ela exercia uma actividade profis-sional.

III — Se esse acto foi atacado porque a liga-ção da beneficiária à empresa não seria de umcerto tipo, mas de um outro, esse ataque apenascriticou o que acessoriamente fortalecia a con-vicção de que o acto partiu, sem pôr verdadeira-mente em causa o fundamental dessa convicção.

IV — Não há que reabrir a instrução, parainquirição de testemunhas oferecidas pela inte-ressada aquando do exercício do seu direito deaudiência, se ela, nessa ocasião, apenas susci-tou questões de direito.

V — O artigo 15.º, n.º 1, do Decreto-Lein.º 133/88, de 20 de Abril, prevê que os actosadministrativos de atribuição de prestações noâmbito dos regimes de segurança social sejamsusceptíveis de revogação nos termos gerais.

Acórdão de 22 de Novembro de 2000Recurso n.º 46 285

Madeira dos Santos (Relator) — Cruz Rodri-gues — Abel Atanásio.

Invocação de vícios — Errada qua-lificação — Questões que cumpre aotribunal conhecer — Nulidade desentença

I — O tribunal deve, em regra, conhecer detodas as questões submetidas à sua apreciação,

Page 16: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

330 BMJ 501 (2000)Supremo Tribunal Administrativo

nos termos do n.º 2 do artigo 660.º do Código deProcesso Civil.

II — Tais questões são as que se apresentamexpostas na petição mediante a invocação de fac-tos e de razões de direito que fundamentam orecurso e que constituem os concretos motivosde ilegalidade que preenchem a respectivacausa de pedir.

III — A actividade de caracterização de taismotivos, de ilegalidade, isto é, a qualificação dovício imputado ao acto objecto do recurso, inte-gra-se na área de liberdade de julgamento que éreconhecida ao tribunal por força do dispostono artigo 664.º do Código de Processo Civil.

IV — O tribunal deve conhecer dos motivosde ilegalidade alegados pelo recorrente comofundamento do recurso ainda que aqueles seapresentem incorrectamente qualificados comointegradores de determinado vício.

V — Padece de nulidade por omissão de pro-núncia a sentença que, aderindo embora à qua-lificação jurídica de determinado vício formuladapelo recorrente, se haja efectivamente desviadoda análise que lhe competia fazer quanto a de-terminado motivo de ilegalidade expressamenteinvocado.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Recurso n.º 46 665

Pamplona de Oliveira (Relator) — Madeira dosSantos — Anselmo Rodrigues.

Licenciamento de unidade indus-trial — Nulidade da sentença —Pedido de viabilidade de construção —Plano Director Municipal — Regula-mento — Princípio tempus regit ac-tum — Condição suspensiva legal —Fundamentação

I — Nos termos do disposto no artigo 668.º,n.º 1, alínea d), em conjugação com o n.º 2 doartigo 660.º, ambos do Código de Processo Ci-vil, aqui aplicável ex vi do artigo 102.º da Lei deProcesso nos Tribunais Administrativos, o juiznão pode ocupar-se senão das «questões» sus-

citadas pelas partes, salvo se a lei lhe permitirou impuser o conhecimento oficioso de outras e,embora deva resolver todas essas questões, ouseja, as que suscitam a apreciação quer a causade pedir apresentada quer o pedido formulado,todavia, não é obrigado, em relação a cada umadelas, a apreciar todos os argumentos ou ra-zões aduzidas pelos litigantes na defesa dos seuspontos de vista.

II — A falta de motivação a que alude a alí-nea b) do n.º 1 do artigo 668.º do Código deProcesso Civil é a total omissão dos fundamen-tos de facto ou dos fundamentos de direito emque assenta a decisão; uma especificação dessamatéria apenas incompleta ou deficiente não afec-ta o valor legal da sentença.

III — O licenciamento de unidade industrialpela Câmara Municipal é precedida de um outrolicenciamento industrial referido nos artigos 8.ºe 9.º do citado Decreto-Lei n.º 109/91, de 15 deMarço, e 22.º do Decreto-Lei n.º 166/70, de 15de Abril, ao tempo em vigor.

IV — O deferimento do pedido de viabilidadede construção de unidade industrial feito por umacâmara municipal, no âmbito da vigência doDecreto-Lei n.º 166/70, apenas assumirá a na-tureza de acto opinativo, insusceptível nessaqualidade de impugnação contenciosa e de cria-dor de direitos subjectivos na esfera jurídica dointeressado.

V — As disposições normativas de um planodirector municipal assumem a natureza de umregulamento administrativo e não de um actoadministrativo geral, já que se apresentam comas notas características das normas jurídicas,que são a generalidade e a abstracção.

VI — Não havendo direitos adquiridos a sal-vaguardar, não existe o limite imposto ao exercí-cio do poder regulamentar pelo princípio geraldo respeito pelos direitos adquiridos, situado namesma posição hierárquica das leis, que impõemque os regulamentos não podem, em princípio,dispor retroactivamente e assim regular inova-toriamente determinada matéria e aplicar-se aosprocessos de licenciamento pendentes.

VII — A legalidade dos pressupostos dosactos administrativos deve ser apreciada comreferência à situação factual e jurídica existenteà data da sua prática de acordo com o princípiotempus repit actum.

Page 17: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

331 Supremo Tribunal AdministrativoBMJ 501 (2000)

VIII — Sendo adicionadas pela autoridaderecorrida condições suspensivas legais ao actoadministrativo, tais condições não funcionamcomo cláusulas acessórias do acto, mas antescomo elementos integrantes da sua validade.

IX — A fundamentação é um conceito rela-tivo, sendo em face das circunstâncias concretase com apelo ao tipo legal do acto que se há-deapurar da sua clareza, congruência e suficiên-cia, mediante a indagação sobre se um destina-tário normal, colocado na posição do real des-tinatário do acto, em face da fundamentaçãoaduzida, ou seja, perante o itinerário cognoscitivoe valorativo constante daquele acto, se poderiaaperceber das razões do decidido em ordem aficar habilitado a defender conscientemente osseus direitos e interesses legítimos, isto é, a aca-tar a decisão se a considerar justa e legal, ou asua defesa cabal, lançando mão dos meios con-tenciosos ao seu alcance, no caso contrário.

X — A lei admite (n.º 2, in fine, do artigo 1.ºdo citado Decreto-Lei n.º 256-A/77 e n.º 2, infine, do artigo 125.º do Código do ProcedimentoAdministrativo), além da fundamentação no pró-prio acto, a chamada fundamentação por refe-rência ou remissão (per relationem), que, paraser válida, tem de consistir numa declaraçãoexpressa e inequívoca de concordância com an-terior parecer, informação ou proposta, queconstituirão, neste caso, parte integrante do res-pectivo acto.

Acórdão de 28 de Novembro de 2000Recurso n.º 46 396

Nuno Salgado (Relator) — Vaz Rebordão —Gonçalves Loureiro.

Magistrados judiciais — Venci-mentos — Lei n.º 63/90, de 26 deDezembro — Inconstitucionalidade

A norma constante do artigo 1.º, n.º 2, da Lein.º 63/90, de 26 de Dezembro, em conjugaçãocom a norma do n.º 1 do mesmo artigo, é incons-titucional, na medida em que elimina as diferen-ciações de vencimentos entre categorias demagistrados judiciais por violação das normas

conjugadas dos artigos 13.º, 59.º, n.º 1, e 210.º,n.os 1, 3 e 4, da Constituição.

Acórdão de 16 de Novembro de 2000Recurso n.º 32 415

Santos Botelho (Relator) — Alves Barata —Pais Borges.

Nulidade da sentença por falta defundamentação — Responsabilidadecivil extracontratual — Critériospara fixação da indemnização — Ónusde alegação

I — Para que se verifique a nulidade previstano artigo 668.º, n.º 1, alínea b), do Código deProcesso Civil «não basta que a justificação dadecisão seja deficiente, incompleta, não convin-cente, é preciso que haja falta absoluta, emboraeste se possa referir só aos fundamentos de factoou só aos fundamentos de direito», sendo que,no que tange aos fundamentos de direito, apenasse torna essencial que se mencionem os princí-pios, as regras, as normas em que a sentença seapoia, não sendo necessária a especificação dasdisposições legais que fundamentam a decisão,só constituindo tal nulidade a omissão de funda-mentos de facto ou de direito susceptíveis de jus-tificar racionalmente a decisão e não incom-preensão ou mediocridade da fundamentação.

II — Tendo a sentença, com invocação dosprincípios e preceitos legais aplicáveis, operadoa quantificação dos danos devidos a título deindemnização, cabe aos recorrentes, em cum-primento do ónus de alegação, indicar os fun-damentos por que pede a alteração da decisão(n.º 1 do artigo 690.º do Código de ProcessoCivil), concretamente aduzindo elementos quepossam suportar decisão diferente.

III — Por outro lado, não tendo os autoresna petição inicial ao proceder à quantificaçãodos danos e fixação das indemnizações devidasoperado qualquer individualização dos mesmosdanos e indemnizações correspondentes (sendoque em sede de contestação o réu não curou dese preocupar com tal modus petendi, limitando--se a afirmar serem as indemnizações pedidasmanifestamente exageradas), e não demons-

Page 18: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

332 BMJ 501 (2000)Supremo Tribunal Administrativo

trando o réu o infundado do quantum indemni-zatório apurado, não pode censurar-se a sen-tença por não haver procedido a tal individua-lização.

Acórdão de 14 de Novembro de 2000Recurso n.º 46 046

João Belchior (Relator) — Simões Redinha —Rosendo José.

Responsabilidade civil extracontra-tual da Administração — Direito deindemnização — Interrupção daprescrição — Notificação pararesposta no recurso contencioso —Princípio do contraditório

I — A defesa do contraditório não passa pelaexplanação obrigatória da motivação e criticaaduzida pelas partes, bastando que a estas sejadada oportunidade para defenderem os seus pon-tos de vista e contrariarem os da outra parte.

Garantida essa possibilidade, não tem ojulgador que relatar as posições das partes e arespectiva argumentação, mas apenas tomar umadecisão sobre as questões enunciadas que sejamobjecto de controvérsia, optando por uma dasposições em confronto, com a devida e necessá-ria fundamentação.

II — A notificação da entidade recorrida pararesponder no recurso contencioso de anulaçãode acto administrativo interrompe a prescriçãodo direito de indemnização que se baseie nesseacto (artigo 323.º, n.º 1, do Código Civil), prazoque voltará a correr com o trânsito em julgadoda decisão proferida nesse recurso contencioso(artigos 326.º e 327.º, n.º 1, do Código Civil).

III — É irrelevante, para o efeito, a sorte dorecurso contencioso interposto, exigindo-se, tão--só, para efeitos de interrupção da prescrição,que o autor baseie o pedido de indemnização noacto que impugnou contenciosamente, dele fa-zendo decorrer os prejuízos cujo ressarcimentopeticiona na acção.

Acórdão de 16 de Novembro de 2000Recurso n.º 45 235

Pais Borges (Relator) — Macedo de Almeida —João Cordeiro.

III

2.ª SECÇÃO

Imposto sobre o rendimento daspessoas colectivas — Liquidação —Métodos indiciários — Fundamen-tação e sua notificação — «Actosmassa»

I — A fundamentação de um acto tributário,que visa esclarecer o seu destinatário das ra-zões que levaram a administração fiscal à suaprática, não se confunde com a sua notificação,sendo que esta, ainda que irregular, não contendecom a legalidade daquele.

II — A liquidação em IRC, porque feita cente-nas de milhares de vezes em cada ano, constitui«um acto massa» e, porque assim é, tudo acon-selha a que não se exija de tais actos o mesmorigor formal que se deve exigir dos outros actosadministrativos que se destinam a situações es-pecíficas individualizadas.

III — Deste modo, e desde que seja clara aidentificação da entidade que praticou o acto eque o modo como essa prática ocorreu não setraduz em qualquer diminuição de garantias docontribuinte deve concluir-se pela sua legali-dade.

Acórdão de 22 de Novembro de 2000Recurso n.º 25 389

Costa Reis (Relator) — Brandão de Pinho —Vítor Meira.

Imposto sobre o rendimento das pes-soas colectivas — Isenção — Pessoacolectiva de utilidade pública — Finspredominantemente científicos —Sindicabilidade contenciosa dos actosadministrativos — Exercício de pode-res vinculados

I — Podem beneficiar da isenção de IRC pre-vista na alínea a) do n.º 1 do artigo 9.º do CIRCas pessoas colectivas de utilidade pública quetenham fins predominantemente científicos.

II — Podem beneficiar desta isenção pessoascolectivas de utilidade pública que tenham porfins primaciais actividades científicas de qual-quer natureza, incluindo de divulgação científica,

Page 19: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

333 Supremo Tribunal AdministrativoBMJ 501 (2000)

não se restringindo a isenção às que tenhamactividades próprias de investigação científica.

III — O que é relevante para que se concluaque as pessoas colectivas de utilidade públicavisam predominantemente fins científicos, paraefeitos da norma em apreço, é que as activida-des de natureza comercial ou industrial a querespeita a isenção de IRC sejam meramente aces-sórias dos fins científicos, designadamente queos proventos obtidos no seu exercício se desti-nem a ser utilizados na satisfação desses finscientíficos.

IV — O direito ao recurso contencioso dequaisquer actos administrativos lesivos, asse-gurado no n.º 4 do artigo 268.º da Constituição,só pode ser restringido relativamente a actosque, por sua natureza, não permitam controlojurisdicional, designadamente aqueles em queesteja em causa a gestão de interesses públicosconflituantes que caiba à Administração ponde-rar, o que não é o caso dos actos do Governo emmatéria de reconhecimento das isenções referi-das, que tem pressupostos integralmente fixadosna lei.

Acórdão de 29 de Novembro de 2000Processo n.º 25 580

Jorge de Sousa (Relator) — Ernâni Figuei-redo — Almeida Lopes.

Imposto sobre o rendimento daspessoas singulares — Liquidação —Actos susceptíveis de alterarem asituação tributária do contribuinte —N.º 1 dos artigos 64.º e 65.º do Códigode Processo Tributário — Notificação

Deve considerar-se acto susceptível de alte-rar a situação tributária do contribuinte, peloque deve ser notificado por carta registada, comaviso de recepção, uma liquidação adicional deIRS, não obstante aquele já ter sido notificado,por igual modo, da alteração da respectiva ma-téria colectável — n.º 1 dos artigos 64.º e 65.º doCódigo de Processo Tributário.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Recurso n.º 25 233

Brandão de Pinho (Relator) — Lúcio Barbosa —António Pimpão.

Imposto sobre o rendimento daspessoas singulares — Deficiência —Benefício fiscal — Disfunção resi-dual — Princípio da legalidade

I — O Decreto-Lei n.º 202/96, de 23 de Outu-bro, introduziu um novo regime na avaliação daincapacidade para efeito de acesso a benefíciosfiscais.

II — Este diploma passou a dar relevância àdisfunção funcional, ou seja, a uma disfunçãoresidual após a aplicação dos respectivos meiosde correcção.

III — Assim, a partir da sua entrada em vi-gor, o coeficiente de incapacidade deve corres-ponder a essa disfunção.

IV — A actividade da administração fiscalestá subordinada ao princípio da legalidade, peloque deve ela pautar a sua actividade de acordocom as leis contemporâneas da decisão.

Acórdão de 8 de Novembro de 2000Recurso n.º 25 485

Lúcio Barbosa (Relator) — Fonseca Limão —Baeta Queiroz.

Recurso jurisdicional — Ampliaçãoda matéria de facto — Artigos 729.º e730.º do Código de Processo Civil —Direito local — Matéria de facto —Artigo 348.º do Código Civil

I — Se a decisão de facto não constituir basesuficiente para a decisão de direito, deve aquelaser ampliada de modo a permitir esta.

II — A existência e conhecimento do direitolocal — no caso, regulamento aprovado emassembleia municipal e publicitado editalmente,conforme alegação do recorrente — constituimatéria de facto — artigo 348.º do Código Ci-vil —, cuja fixação está vedada ao Supremo Tri-bunal Administrativo, nos termos do artigo 21.º,n.º 4, do Estatuto dos Tribunais Administrativose Fiscais.

Acórdão de 29 de Novembro de 2000Recurso n.º 25 385

Brandão de Pinho (Relator) — Lúcio Barbosa —António Pimpão.

Page 20: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

334Relação de Lisboa BMJ 501 (2000)

Acusação — Notificação — Pro-cedimentos — Prosseguimento doprocesso — Falta de notificação —Irregularidade

I — Da conjugação dos artigos 283.º, n.os 5 e6, e 277.º, n.º 3, do Código de Processo Penal de1998, decorre que a acusação do MinistérioPúblico é comunicada ao arguido mediante con-tacto pessoal ou via postal, devendo no entantoprosseguir o processo quando os procedimen-tos de notificação se tenham revelado ineficazes.

II — Da simples leitura dos apontados pre-ceitos resulta claro que o processo só deve pros-seguir sem a comunicação da acusação aoarguido quando os procedimentos de notifica-ção (no plural) se tenham revelado ineficazes,sendo que tais procedimentos são dois: o con-tacto pessoal ou a via postal.

III — Assim, muito embora a lei faculte, emalternativa, dois métodos possíveis de comuni-cação, só o esgotamento de ambos, sem sucesso,pode fazer prosseguir o processo nos termos daparte final do artigo 283.º, n.º 5, do Código deProcesso Penal de 1998.

IV — A omissão de notificação ao arguido daacusação do Ministério Público, ou porque senão fez essa diligência, ou porque não se esgota-ram os meios legais previstos para a obter, nãoé uma nulidade relativa, constituindo antes umamera irregularidade do processo, consoante adisciplina do artigo 123.º do Código de Pro-cesso Penal, a qual pode ser mandada repararoficiosamente no momento em que da mesma se

tomar conhecimento, por ser susceptível de afec-tar o valor do acto praticado.

Acórdão de 8 de Novembro de 2000Recurso n.º 8242/2000 — 3.ª Secção

José Vaz dos Santos Carvalho (Relator) — JoãoManuel Villaverde e Silva Cotrim Mendes —António Rodrigues Simão.

Alimentos — Ónus da prova

Decorrendo do artigo 2004.º, n.º1, do CódigoCivil ser a possibilidade de o obrigado prestaralimentos, a par da necessidade do alimen-tando, facto constitutivo do direito do autor, ésobre ele que impende o ónus de o provar, nostermos do artigo 342.º, n.º 1, do mesmo diploma.

Acórdão de 30 de Novembro de 2000Recurso n.º 6936/2000 — 2.ª Secção

João Cordeiro Dias (Relator) — Lino AugustoPinto — António Proença Fouto.

Amnistia — Lei n.º 29/99, de 12 deMaio

Há que aplicar o perdão da Lei n.º 29/99, de12 de Agosto «[...] quanto às penas de prisão emque o arguido foi condenado pelo crime de sub-tracção de documento, dois crimes de falsifica-ção de selo e cinco crimes de falsificação de

TRIBUNAIS DE SEGUNDA INSTÂNCIA

I

RELAÇÃO DE LISBOA

Page 21: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

335 Relação de LisboaBMJ 401 (2000)

cheques, porque com tais normas criminais nãose tutelam direitos, liberdades e garantias pes-soais de cidadãos, mas sim a titularidade dosdocumentos, a genuinidade e autenticidade dosselos de modo a garantir a origem e o seu uso noacto ou acção que autenticam, bem como confe-rir e preservar fidelidade à circulação dos che-ques como títulos de crédito e meio de paga-mento».

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso n.º 7938/2000 — 5.ª Secção

Manuel Cabral Amaral (Relator) — ArmindoMarques Leitão — Isabel Celeste Alves Pais Mar-tins.

Articulado superveniente — Prazode dedução

Nos termos do n.º 3, alínea a), do Código deProcesso Civil, resultante da reforma introduzidapelo Decreto-Lei n.º 329-A/95, de 12 de Dezem-bro, a dedução de articulado superveniente refe-rente a factos ocorridos ou conhecidos dorequerente até ao encerramento da audiênciapreliminar pode ocorrer até ao mesmo encerra-mento.

Acórdão de 23 de Novembro de 2000Recurso n.º 9015/2000 — 8.ª Secção

João Moreira Camilo (Relator) — Maria RuthPereira Garcez — Jorge Paixão Pires.

Caixa Geral de Aposentações —Constituição de assistente — Taxade justiça

A Caixa Geral de Aposentações quando re-quer a sua constituição como assistente não estáisenta de pagamento de taxa de justiça, por-quanto:

— O artigo 156.º, n.º 1, do Decreto-Lein.º 694/ 70, de 31 de Dezembro, que lhe concediaessa isenção, foi revogada pelo artigo 5.º doDecreto-Lei n.º 118/85, de 19 de Abril;

— O artigo 75.º do Código das Custas Judi-ciais que enumera as entidades isentas do paga-mento de custas criminais não inclui a recor-rente; e

— O artigo 2.º, n.º 1, alínea g), do Código dasCustas Judiciais apenas isenta aquela entidadenos processos de natureza cível.

Acórdão de 9 de Novembro de 2000Recurso n.º 2713/2000 — 9.ª Secção

Cid Orlando Melo Pinto Geraldo (Relator) —António Alexandre Trigo Mesquita — Maria daLuz Neto da Silva Baptista.

Causa de pedir — Esbulho — Acçãode restituição de posse — Prazo decaducidade

I — A causa de pedir consubstancia-se nosfactos concretos produtores dos efeitos jurídicosprevistos nas pertinentes normas de direito subs-tantivo atinentes à tutela jurídica pretendida peloautor ou pelo réu reconvinte.

II — No âmbito das acções de posse, as ex-pressões possui «publicamente», «pacifica-mente» e «de boa fé» consubstanciam-se em con-ceitos de direito e, consequentemente, não cons-tituem a pertinente vertente fáctica da causa depedir.

III — O conceito de esbulho tem o sentidojurídico de acto em virtude do qual uma pessoaé despojada, contra a sua vontade, de uma coisaque está na sua posse.

IV — Como o prazo de caducidade do direitode acção de restituição de posse começa na datado esbulho ou do seu conhecimento, se o réunegar veementemente o esbulho e, não obstante,afirmar que, de qualquer modo, caducara o di-reito de acção, a conclusão é a de que a defesapor excepção foi formulada a título subsidiário.

V — Se os factos do esbulho não estão assen-tes na altura da fase da condensação, não podeo juiz conhecer do mérito da excepção peremp-tória.

Acórdão de 23 de Novembro de 2000Recurso n.º 9389/2000 — 6.ª Secção

Salvador Pereira Nunes da Costa (Relator) —Urbano Aquiles Lopes Dias — António FernandoSilva Sousa Grandão.

Page 22: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

336Relação de Lisboa BMJ 501 (2000)

Condução em estado de embriaguez —Amnistia (Lei n.º 29/99) — Atenuaçãoespecial da pena — Sanção acessó-ria — Dispensa

I — O crime de condução em estado de em-briaguez, previsto e punido pelo artigo 292.º doCódigo Penal, não foi abrangido pela amnistiadecretada pelo artigo 7.º da Lei n.º 29/99, de 12de Maio, atento o disposto no seu artigo 2.º,n.º 1, alínea c).

II — Por não ocorrerem, manifestamente,quaisquer circunstâncias excepcionais que, deforma acentuada, diminuam a ilicitude do facto,a culpa do agente ou a necessidade da penamostram-se de todo afastados os pressupostosde que depende a aplicação ao caso do institutoda atenuação especial da pena a que se reportao artigo 72.º do Código Penal.

III — O agente do aludido crime de conduçãoem estado de embriaguez deve também ser san-cionado com a pena acessória de proibição deconduzir, nos termos do artigo 69.º do CódigoPenal, pena esta da qual não poderá, em casoalgum, ser dispensado.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Recurso n.º 6679/2000 — 3.ª Secção

Mário Armando Correia Miranda Jones (Rela-tor) — Maria Teresa Féria Gonçalves de Almeida —Adelino da Silva Salvado.

Denúncia do contrato de arrenda-mento — Artigo 108.º do Regime doArrendamento Urbano

I — A necessidade de denúncia de contrato dearrendamento por parte do senhorio envolveuma situação de carência motivada por con-dicionalismo relevante segundo a experiênciacomum.

II — Ocorre a referida situação de carênciado casal de emigrantes económicos no estran-geiro, ele desempregado e ela doméstica, que

pretendem regressar à casa locada em Portu-gal, logo que livre fique de pessoas e bens, paranela passarem o resto da vida, o que é mais quedesejo porque se traduz em decisão de retorno.

III — A exigência prevista no artigo 108.º doRegime do Arrendamento Urbano de anterio-ridade da posição de proprietário em relação àde senhorio visa obstar à aquisição do direito depropriedade do prédio arrendado sob motiva-ção do exercício de denúncia.

IV — A excepção às limitações do direito dedenúncia a que se reporta o artigo 108.º do Re-gime do Arrendamento Urbano não obsta ofacto de o senhorio haver celebrado o contratode arrendamento em causa com base na traditiodecorrente de contrato-promessa a que se se-guiu, oito meses depois, o contrato de compra evenda.

Acórdão de 30 de Novembro de 2000Recurso n.º 9710/2000 — 6.ª Secção

Salvador Pereira Nunes da Costa (Relator) —Urbano Aquiles Lopes Dias — António FernandoSilva Sousa Grandão.

Extradição — Tribunal da Relaçãoterritorialmente competente

I — É competente para o processo judicial deextradição o tribunal da Relação em cujo distritojudicial residir ou se encontrar a pessoa recla-mada ao tempo do pedido, entendendo-se aquipor «pedido» o acto pelo qual o país requerentefaz saber às autoridades portuguesas o seu inte-resse pela extradição, designadamente pela emis-são e posterior cumprimento de mandados decaptura internacionais e não o tribunal da Rela-ção em que o Ministério Público apresenta opedido formal de extradição, uma vez finda afase administrativa.

II — Tal interpretação do artigo 49.º, n.º 1,da Lei n.º 144/99, de 31 de Agosto, flui do enten-dimento correcto a dar à palavra «pedido» nãosó nesse preceito como nos artigos 48.º e 50.ºdesta lei, sendo certo que violaria o princípio daestabilidade da instância e do juiz natural ainterpretação segundo a qual, mudando o extra-

Page 23: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

337 Relação de LisboaBMJ 401 (2000)

ditando de residência entre a fase administra-tiva e a judicial, seria esta a levar em conta paracompetência territorial.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Processo n.º 7921/2000 — 3.ª Secção

José Vaz dos Santos Carvalho (Relator) — JoãoManuel Villaverde e Silva Cotrim Mendes —António Rodrigues Simão.

Faltas — Justificação — Comu-nicação — Prazo — Impossibilidadede comparência

I — O regime legal de justificação de faltasenunciado no artigo 117.º, n.os 2 e 3, do Códigode Processo Penal não abrange todo o leque desituações possíveis que aparentemente preten-deu regular.

II — Não está designadamente previsto o casode impossibilidade de comparecimento impre-visível que ocorra numa situação em que ofaltoso não disponha de meios ou não esteja emcondições de proceder sequer àquela comunica-ção até ao dia e hora designados para a práticado acto.

III — Em tais situações tem de se aceitar quequer a comunicação, quer a justificação sejamapresentadas depois do dia e hora designadospara a prática do acto.

IV — Assim, é de dar por justificada a falta àaudiência de julgamento se o faltoso, meia horadepois do momento designado para a práticado acto para que foi notificado, fez juntar aoprocesso um requerimento a pedir essa justifi-cação, no qual explicava que não tinha podidochegar a horas dado que um pneu do carro ondese fazia transportar para o tribunal rebentara,devido a um furo.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Recurso n.º 6408/2000 — 3.ª Secção

João Manuel Villaverde e Silva Cotrim Mendes(Relator) — António Rodrigues Simão — CarlosAugusto Santos Sousa.

Herança indivisa — Ilegitimidade deum dos herdeiros a título singular

I — No quadro da herança indivisa, fora dassituações de legitimidade ad causam do cabeça--de-casal e de cada um dos herdeiros no queconcerne à petição da herança, os direitos rela-tivos à herança só podem ser exercidos conjun-tamente por todos os herdeiros.

II — No caso de pluralidade de herdeiros, oherdeiro, a título singular, não tem legitimidadead causam para intentar acção tendente à decla-ração de caducidade do contrato de arrenda-mento celebrado pelo de cujus e, a títulosubsi-diário, à sua resolução.

Acórdão de 23 de Novembro de 2000Recurso n.º 9624/2000 — 6.ª Secção

Salvador Pereira Nunes da Costa (Relator) —Urbano Aquiles Lopes Dias — António FernandoSilva Sousa Grandão.

Herança jacente — Personalidadejudiciária

I — Os sucessíveis só podem ser considera-dos sucessores do de cujus se, na sequência dorespectivo chamamento, aceitarem a herança porele deixada.

II — Há herança jacente quando os sucesso-res do seu autor ainda a não tenham aceitado,tácita ou expressamente, e não houver sido de-clarada vaga para o Estado.

III — A herança jacente tem personalidadejudiciária enquanto não for aceite ou repudiadapor todos os sucessíveis do seu autor ou decla-rada vaga para o Estado.

Acórdão de 9 de Novembro de 2000Recurso n.º 8843/2000 — 6.ª Secção

Salvador Pereira Nunes da Costa (Relator) —Urbano Aquiles Lopes Dias — António FernandoSilva Sousa Grandão.

Page 24: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

338Relação de Lisboa BMJ 501 (2000)

Homicídio privilegiado — Emoçãoviolenta compreensível

No homicídio privilegiado não basta que severifique um estado de emoção violenta, é pre-ciso ainda que esta seja compreensível.

O que se provou foi que o arguido e a vítimase desentenderam, certamente por razões rela-cionadas com a prática de actos homossexuais,e que na sequência desse desentendimento o ar-guido começou a agredir a vítima, provocando--lhe lesões descritas que lhe causaram a morte.

Não se vislumbra aqui qualquer proporçãoentre a conduta do agente e o factor determinanteda emoção deste, traduzida na razoabilidade hu-mana do seu descontrolo face à violência exercidasobre a vítima.

Acórdão de 2 de Novembro de 2000Recurso n.º 6482/2000 — 9.ª Secção

Alberto Manuel Gonçalves Mendes (Relator) —Maria Margarida Andrade Vieira de Almeida —Nuno Melo Gomes da Silva.

Nulidades insanáveis — Regime dearguição

De acordo com o disposto no artigo 119.º doCódigo de Processo Penal, o conhecimento dasnulidades insanáveis não pode ter lugar a todo otempo, mas apenas enquanto durar o procedi-mento, isto é, enquanto permanecer a relaçãoprocessual, não podendo pois, e ao contrário doque defende o recorrente, serem declaradas umavez transitada em julgado a decisão final.

Acórdão de 21 de Novembro de 2000Recurso n.º 8567/2000 — 5.ª Secção

Armindo Marques Leitão (Relator) — IsabelCeleste Alves Pais Martins — Martinho Martinsde Almeida Cruz.

Obras na casa arrendada — Localconvencionado para pagamento darenda

I — Não alteram substancialmente a disposi-ção interna da casa arrendada as obras que nãoimpliquem modificação profunda da sua fisio-nomia em termos de ficar desfigurada, desca-racterizada ou com nova distribuição ou planifi-cação.

II — Não são deteriorações consideráveis dacasa arrendada as que são inerentes a uma pru-dente utilização, nem envolvam nível despropor-cionado, face à sua extensão ou custo de repa-ração, no confronto com o valor e ou dimensãodo locado.

III — Não é liberatório o depósito da rendana Caixa Geral de Depósitos a pretexto de oarrendatário fazer cessar a mora resultante doseu pagamento no dia contratualmente estipu-lado.

IV — Convencionado o pagamento da rendaem estabelecimento bancário e tendo o arrenda-tário lá procedido ao pagamento da renda emrelação a determinado mês, não obstante lá nãoestar disponível o respectivo recibo, não é libe-ratório o depósito na Caixa Geral de Depósitosda renda relativa ao mês seguinte com funda-mento na recusa da entrega do recibo, se o ar-rendatário, antes disso, não ofereceu a renda nolocal convencionado.

Acórdão de 16 de Novembro de 2000Recurso n.º 9195/2000 — 6.ª Secção

Salvador Pereira Nunes da Costa (Relator) —Urbano Aquiles Lopes Dias — António FernandoSilva Sousa Grandão.

Pena de prisão efectiva — Perdão —Suspensão da execução — Penaperdoada — Regime mais favorável

I — Tendo o arguido sido condenado na penade 9 meses de prisão suspensa na sua execução,é de desatender a sua pretensão no sentido dever antes aplicada a pena de prisão efectiva,embora perdoada nos termos da Lei n.º 29/99,de 12 de Maio.

Page 25: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

339 Relação de LisboaBMJ 401 (2000)

II — É que entre a pena de prisão efectivaperdoada e a de prisão suspensa na sua exe-cução, esta última é a mais favorável ao agente,sendo que a pretendida aplicação da primeiraredundaria, clara, inequívoca e frontalmentenuma situação de reformatio in pejus, proibidapelo disposto no artigo 409.º do Código de Pro-cesso Penal.

Acórdão de 29 de Novembro de 2000Recurso n.º 8059/99 — 3.ª Secção

Álvaro Dias dos Santos (Relator) — José Vazdos Santos Carvalho — João Manuel Villaverde eSilva Cotrim Mendes.

Prisão preventiva — Prazo — Crimede tráfico de estupefacientes

Nos processos por crime de tráfico de estupe-facientes, os prazos de prisão preventiva sãoope legis os fixados no artigo 215.º do Código deProcesso Penal, não havendo necessidade dodespacho judicial a fixá-los e sem dependênciada declaração da excepcional complexidade doprocesso.

Acórdão de 28 de Novembro de 2000Recurso n.º 9774/2000 — 5.ª Secção

Maria Margarida Blasco Telles de Abreu (Rela-tora) — Paulo Gaspar de Almeida — José MarcelinoFranco de Sá.

Procedimento cautelar — Competên-cia territorial

A providência cautelar não especificada emque se pretende acautelar um direito decorrentede um contrato no qual foi fixada a cláusula doforo da comarca de Lisboa para as questõesemergentes do mesmo contrato deve ser instau-rada no tribunal da mesma comarca, sob penade incompetência territorial, nos termos das dis-

posições combinadas dos artigos 83.º, n.º 1, alí-nea c), e 100.º, n.os 1 e 3, do Código de ProcessoCivil.

Acórdão de 2 de Novembro de 2000Recurso n.º 8356/2000 — 8.ª Secção

João Moreira Camilo (Relator) — Maria RuthPereira Garcez — Jorge Paixão Pires.

Recurso — Demandante cível —Ofendido não assistente — Legiti-midade

I — O demandante civil não assistente noprocesso crime carece de legitimidade para re-correr da sentença proferida na sua parte penal,mesmo que esta porventura afecte a sua preten-são cível.

II — É de rejeitar, pois, o recurso quanto aoaspecto penal da causa se o recorrente, sendoembora demandante civil, se não tiver consti-tuído assistente.

Acórdão de 30 de Novembro de 2000Recurso n.º 6988/2000 — 3.ª Secção

Mário Armando Correia Miranda Jones (Rela-tor) — Armindo dos Santos Monteiro — MariaTeresa Féria Gonçalves de Almeida.

Regime especial para jovens —Legítima defesa

A legislação especial aplicável aos maioresde 16 anos e menores de 21, referida no artigo9.º do Código Penal, consta do Decreto-Lein.º 401/82, de 23 de Setembro, e assenta na ideiade que o jovem delinquente é merecedor de umtratamento penal especializado, não só porque asua capacidade de ressocialização é mais fácil,por se encontrar no limiar da maturidade, comoainda porque se deve evitar, em princípio, umtratamento estigmatizante.

É hoje pacífico o entendimento de que esteregime especial não tem carácter de obrigatorie-dade e de que o tribunal não está dispensado de

Page 26: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

340Relação de Lisboa BMJ 501 (2000)

considerar a pertinência ou inconveniência dasua aplicação.

Por isso a decisão deve justificar a posiçãoadaptada, ainda que esta seja no sentido da suanão aplicação.

Porém, se o juiz concluir pela aplicação emconcreto de uma pena ou medida não estigma-tizante, esta justificação expressa é dispensável.Com efeito, sempre que o juiz encontre dentro doCódigo Penal uma pena ou medida ajustada,mais reeducadora do que sancionadora, mos-tra-se desnecessário justificar a aplicabilidadeou não do referido regime.

Os requisitos da legítima defesa do Códigoactual não são substancialmente diferentes dosexigidos pelo velho diploma.

Acórdão de 2 de Novembro de 2000Recurso n.º 6488/2000 — 9.ª Secção

Cid Orlando Melo Pinto Geraldo (Relator) —António Alexandre Trigo Mesquita — Maria daLuz Neto da Silva Baptista.

Remissão para os articulados —Nulidade de sentença

Fora do quadro previsto no artigo 784.º doCódigo de Processo Civil, é nula, por falta deespecificação dos fundamentos de facto, nos ter-mos do artigo 668.º, n.º 1, alínea b), do mesmodiploma, a sentença que se limita a remeter paraos artigos da petição.

Acórdão de 16 de Novembro de 2000Recurso n.º 6659/2000 — 2.ª Secção

João Cordeiro Dias (Relator) — Lino AugustoPinto — António Proença Fouto.

Seguro — Caução — Garantia autó-noma

I — Constando das condições particularesque a apólice respeitava a «seguro de cauçãodirecta», que o capital seguro correspondia àsrendas trimestrais fixadas em contrato de loca-ção financeira e de carta posteriormente en-

viada pela seguradora à beneficiária, que o paga-mento lhe seria efectuado à primeira interpela-ção sem qualquer formalidade, em prazo deter-minado, assumida foi uma obrigação autónoma,on first demand, à primeira interpelação.

II — Assim, interpelada para pagar, não po-dia a seguradora opor à beneficiária quaisquermeios de defesa baseados na relação fundamen-tal (o contrato de locação financeira) estabelecidaentre a beneficiária e o tomador, salvo ocorrên-cia de abuso ou fraude manifestos, de que a se-guradora tivesse prova inequívoca no momentoda interpelação.

Acórdão de 12 de Novembro de 2000Recurso n.º 3819/2000 — 2.ª Secção

João Cordeiro Dias (Relator) — Lino AugustoPinto — António Proença Fouto.

Sentença — Nulidade — Excesso depronúncia

I — A acusação limita o objecto do julga-mento, constituindo a vinculação temática dojulgador e assegurando que o arguido condena-do pelos factos dela constantes jamais o poderáser, de novo, por eles.

II — É nula a sentença, por excesso de pro-núncia e nos termos do artigo 379.º, n.º 1, alí-nea c), do Código de Processo Penal, no seg-mento em que nela se condenou o arguido pelaprática de um crime de injúrias pelo qual ele nãofora acusado, nem o poderia ter sido porquanto,tratando-se de um crime de natureza particular,o queixoso nem sequer se constituiu assistente.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Recurso n.º 4022/2000 — 3.ª Secção

Armindo dos Santos Monteiro (Relator) —Mário Armando Correia Miranda Jones — JoséVaz dos Santos Carvalho.

Page 27: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

341 Relação de LisboaBMJ 401 (2000)

Subida de recurso — Retenção irre-parável

I — Não cabe na previsão do n.º 2 do artigo407.º do Código de Processo Penal — subidaimediata por a sua retenção o tornar absoluta-mente inútil — o recurso de despacho que, antesdo julgamento, ordenou a junção de gravações esuas transcrições de entrevistas efectuadas pelaarguida.

II — A fixação daquele regime pressupõe queda retenção resulte a inoperância total, ou seja,que com a demora da subida se esgote o efeitoútil que através do recurso se procurava obter.

III — No caso, o que pode vir a suceder coma eventual procedência do recurso é que a ad-missão dos documentos e gravações venha aser julgada nula, como pretendem os recorren-tes, não podendo, por conseguinte, ser utiliza-dos como meio de prova, não se verificando,assim, uma situação de perda irreparável com aretenção do recurso.

Acórdão de 16 de Novembro de 2000Recurso n.º 7104/2000 — 9.ª Secção

Cid Orlando Melo Pinto Geraldo (Relator) —António Alexandre Trigo Mesquita — Maria daLuz Neto da Silva Baptista.

Tráfico de estupefacientes — Crimesexauridos ou crimes excutidos

O crime de tráfico de estupefacientes é umcrime exaurido (ou, noutra terminologia, «cri-me excutido»), designação que significa ilícitoscriminais que ficam consumados através de um

só acto de execução, ainda que sem chegar àrealização completa e integral do tipo legal cor-respondente.

Acórdão de 2 de Novembro de 2000Recurso n.º 2909/2000 — 9.ª Secção

António Manuel Almeida Semedo (Relator) —João Manuel Crespo Goes Pinheiro — José AbelSilveira Ventura.

Validade da queixa — Procuração —Mandatário não judicial

I — Ao mandato que confere poderes ao man-datário não judicial, para apresentar queixas--crime, por crimes de furto que ocorram nosestabelecimentos de hipermercado de que a quei-xosa seja proprietária, não são exigíveis pode-res especificados.

II — A queixa apresentada nesses termosacautela suficientemente a vontade do lesado e éválida á luz do disposto no artigo 49.º n.º 3, doCódigo de Processo Penal.

III — Sendo válida a queixa, o MinistérioPúblico tem legitimidade para deduzir a acusa-ção, termos em que se revoga o despacho recor-rido, o qual deve substituir-se por outro quereconheça ao Ministério Público a referida legi-timidade.

Acórdão de 14 de Novembro de 2000Recurso n.º 2924/2000 — 5.ª Secção

Celestino Augusto de Sousa Nogueira (Rela-tor) — Paula Gaspar de Almeida — José MarcelinoFranco de Sá.

Page 28: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

342 BMJ 501 (2000)Relação do Porto

II

RELAÇÃO DO PORTO

Acção de preferência — Registo

Não sendo a acção de preferência uma acçãode anulação, mas uma mera acção de substitui-ção, não resulta da respectiva procedência o can-celamento do registo ou registos, podendo oautor obter registo a seu favor por meio deaverbamento.

Acórdão de 27 de Novembro de 2000Recurso n.º 0051242

Paiva Gonçalves (Relator) — Marques Pei-xoto — Lázaro de Faria.

Acidente de trabalho — Remição depensões — Cálculo do capital

As tabelas da Portaria n.º 11/2000, de 13 deJaneiro, são aplicáveis ao cálculo do capital daremição das pensões efectuado após a entradaem vigor daquele diploma, ainda que o acidentede trabalho seja anterior.

Acórdão de 13 de Novembro de 2000Recurso n.º 0011100

Sousa Peixoto (Relator) — Carlos Travessa —Cipriano Silva (vencido).

Acidente de viação — Danos nãopatrimoniais — Bens da herança

É transmissível mortis causa, integrando aherança a partilhar, a da indemnização pordanos não patrimoniais decorrentes das doressofridas pela vítima em resultado do acidente deviação, mas já não o montante respeitante àperda do direito à vida, que surge com o própriodecesso, sendo adquirido originariamente pelosfamiliares.

Acórdão de 2 de Novembro de 2000Recurso n.º 0031257

Viriato Bernardo (Relator) — João Bernardo —Pires Condesso (vencido, por considerar que aindemnização pelo dano da morte integra igual-mente herança da vítima).

Arrendamento rural — Denúncia —Reocupação do prédio

I — Quando o senhorio denuncie o contratode arrendamento rural com fundamento em quepretende o prédio para o poder explorar direc-tamente, não é admissível a oposição do arren-datário.

II — O arrendatário tem direito a reocupar oprédio e a obter indemnização pelos danos quesofreu com aquela denúncia, se, no decurso doscinco anos subsequentes, o senhorio o não vier

Page 29: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

343 Relação do PortoBMJ 501 (2000)

a cultivar directamente ou lhe vier a dar outrodestino que não esse.

Acórdão de 27 de Novembro de 2000Recurso n.º 0050509

Pinto Ferreira (Relator) — Caimôto Jâcome —Macedo Domingues.

Arrendamento — Resolução — Alte-ração da estrutura externa do prédio

É ilícita e legitima o despejo, a construçãonão autorizada dum anexo com a área de 100 m2

e altura de 3 a 4 m, levada a efeito com tijolosargamassados com cimento e telhado comlusalite, o qual é visível da rua e incompatívelcom a linha arquitectónica do conjunto locado,que compreende uma varanda, sobranceira àrua, enquadrada por jardim e uma piscina.

Acórdão de 27 de Novembro de 2000Recurso n.º 0050791

Amélia Ribeiro (Relatora) — Brazão Car-valho — Ribeiro Almeida.

Auto-estradas — Obrigações doconcessionário — Acidente provo-cado por areia — Culpa presumida

I — O concessionário duma auto-estradaconstitui-se na obrigação de assegurar aosutentes boas condições de segurança e comodi-dade, o que o obriga a remover todos os objec-tos que, pelas suas características, ponham emcausa as condições de circulação.

II — Presume-se a culpa do concessionáriose este não alegar, nem provar, que diligencioupela retirada da faixa de circulação de areia quedeu causa a um acidente de viação.

Acórdão de 27 de Novembro de 2000Recurso n.º 0051060

Macedo Domingues (Relator) — JoaquimEvangelista — Amélia Ribeiro.

Cheque post datado — Gerente desociedade — Indemnização civil

O arguido que, como gerente duma socie-dade comercial, em representação e no interessedesta, emitiu um cheque sem provisão pós da-tado, conduta que foi discriminalizada, deve serabsolvido do pedido civil contra si formulado,pois só o património social responde pelas dívi-das da sociedade.

Acórdão de 21 de Novembro de 2000Recurso n.º 0050777

Antas de Barros (Relator) — Cândido Lemos —Armindo Costa.

Cheque visado — Âmbito

A aposição dum visto no cheque tem por ob-jectivo certificar que o sacador tem fundos dis-poníveis para o respectivo pagamento e que aquantia visada fica bloqueada com vista a essefim, não assegurando que, posteriormente, o che-que não possa vir a ser falsificado.

Acórdão de 21 de Novembro de 2000Recurso n.º 0021235

Lemos Jorge (Relator) — Pelayo Gonçalves —Rapazote Fernandes.

Competência material — Alteração daincriminação

I — Para efeitos de atribuição de competên-cia ao tribunal singular ou ao colectivo, a opçãopelo regime mais favorável ao arguido apenaspode ser feita em sede de julgamento, uma vezque cada um dos regimes em confronto há-deser avaliado na sua globalidade e não apenasna vertente da pena em si mesma.

II — A competência para o julgamento deinfracção punível à data da sua prática com pri-são até 10 anos e actualmente punível com pri-

Page 30: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

344 BMJ 501 (2000)Relação do Porto

são até cinco anos deve, apesar da alteração dalei, ser atribuída ao tribunal colectivo.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Recurso n.º 0010403

Marques Salgueiro (Relator) — Costa Mortá-gua — Matos Manso.

Condução sob o efeito de álcool —Pena acessória — Inibição da facul-dade de conduzir

I — Ao arguido punido pelo crime do artigo292.º do Código Penal (condução em estado deembriaguez), deverá ser aplicada a pena aces-sória de proibição de condução de veículosmotorizados, estabelecida no artigo 69.º do Có-digo Penal.

II — O facto do arguido não ser possuidor delicença de condenação não constitui óbice a umatal condenação.

Acórdão de 29 de Novembro de 2000Recurso n.º 0040692

Manso Raínho (Relator) — Pedro Antunes —Neves Magalhães.

Contrato de trabalho — Privilégioscreditórios

O artigo 12.º, n.º 1, da Lei n.º 17/86, de 14 deJunho, que estabelece privilégios creditórios(mobiliário geral e imobiliário geral), para oscréditos emergentes de contrato de trabalho, com-preende não apenas os créditos resultantes defalta de pagamento dos salários, mas tambémos provenientes das indemnizações determina-das pela rescisão do contrato de trabalho.

Acórdão de 21 de Novembro de 2000Recurso n.º 0020943

Marques de Castilho (Relator) — Teresa Mon-tenegro — Fernando Beça.

Crime de dano — Comproprietário

Tendo o comproprietário direito sobre umaquota ideal não determinada de um objecto, des-truindo esse objecto destrói algo que, sendo par-cialmente próprio, é também alheio, o que ésuficiente para integrar o elemento «coisa alheia»do crime de dano, previsto no artigo 212.º doCódigo Penal.

Acórdão de 29 de Novembro de 2000Recurso n.º 0010891

Esteves Marques (Relator) — Clemente Lima —Baião Papão.

Crime de fraude sobre mercadoria

A existência nas respectivas caixas de baca-lhau com peso por unidade inferior ao da quali-dade «graúdo» e «especial», como tal referidonos letreiros com afixação dos preços, integra,não o crime de especulação, mas o crime defraude sobre mercadoria, uma vez que nãoexiste limitação relativa ao preço da sua comer-cialização.

Acórdão de 8 de Novembro de 2000Recurso n.º 0010473

Nazaré Saraiva (Relatora) — Esteves Mar-ques — Clemente Lima.

Direito de remição — Depósito dopreço

O titular do direito de remição de bens vendi-dos ou adjudicados em processo de execuçãoque quiser exercer o seu direito tem de procederao imediato depósito do preço, solicitando asguias para o respectivo depósito, bem como parao das custas prováveis.

Acórdão de 27 de Novembro de 2000Recurso n.º 0051063

António Gonçalves (Relator) — Fonseca Ra-mos — Cunha Barbosa.

Page 31: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

345 Relação do PortoBMJ 501 (2000)

Direito de retenção — Registo deacção

A acção que visa o reconhecimento do direitode retenção sobre uma fracção de prédio ur-bano não está sujeita a registo.

Acórdão de 14 de Novembro de 2000Recurso n.º 0020879

Antas de Barros (Relator) — Cândido Lemos —Armindo Costa.

Indemnização por acidente de viação —Direito de regresso da seguradora —Tribunal competente

O tribunal do domicílio do réu é o territorial-mente competente para a acção com vista aoexercício do direito de regresso, nos termos doartigo 19.º, alínea c), do Decreto-Lei n.º 522/85,de 31 de Dezembro, proposta pela seguradoracontra o condutor do veículo causador do aci-dente.

Acórdão de 2 de Novembro de 2000Recurso n.º 0031210

João Vaz (Relator) — Teles de Meneses — MárioFernandes.

Inibição da faculdade de conduzir —Pena acessória — Início do cumpri-mento

Entregue pelo condenado, na secretaria dotribunal, para cumprimento da pena acessóriade proibição de condução de veículos motoriza-dos, a licença de condução, antes do trânsito emjulgado da sentença, e aceite pela secretaria talentrega, é nessa data que se inicia o cumpri-mento de tal pena.

Acórdão de 8 de Novembro de 2000Recurso n.º 0011238

Francisco Marcolino (Relator) — Nazaré Sa-raiva — Esteves Marques.

Letra de câmbio — Desconto — Devo-lução da letra ao sacador — Portadorlegítimo

Descontada uma letra e não paga peloaceitante na data do vencimento, o que originoua devolução ao sacador, cobrando-lhe o que foidescontado, é este último portador legítimo daletra para efeitos da respectiva execução.

Acórdão de 2 de Novembro de 2000Recurso n.º 0031283

Telles de Meneses (Relator) — Mário Fernan-des — Leonel Serôdio.

Obrigação em moeda estrangeira —Pagamento em moeda nacional

Nas obrigações em moeda estrangeira, a fa-culdade prevista no artigo 558.º, n.º 1, do Có-digo Civil é própria do devedor, não podendo ocredor exigir pagamento da dívida em moedanacional.

Acórdão de 6 de Novembro de 2000Recurso n.º 005999

Pinto Ferreira (Relator) — Caimôto Jâcome —Macedo Domingues.

Processo executivo — Fundo deGarantia Automóvel — Subrogação

O Fundo de Garantia Automóvel, ao pagar aindemnização por falta de seguro obrigatório,fica subrogado nos direitos do lesado, podendodemandar o lesante em processo executivo, ocor-rendo um desvio à regra de legitimidade a quese refere o artigo 56.º, n.º 1, do Código de Pro-cesso Civil.

Acórdão de 6 de Novembro de 2000Recurso n.º 0051067

Pinto Ferreira (Relator) — Caimôto Jâcome —Macedo Domingues.

Page 32: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

346 BMJ 501 (2000)Relação do Porto

Processo Penal — Prova — Depoi-mento de co-arguido

Não estabelecendo a lei regras especiais devaloração para o depoimento do co-arguido,pode o mesmo, se apreciado pelo tribunal se-gundo as regras da experiência e livre convic-ção, servir de fundamento para se considerardemonstrada determinada factualidade pratica-da por outro dos arguidos.

Acórdão de 29 de Novembro de 2000Recurso n.º 0011006

Clemente Lima (Relator) — Baião Papão —Correia de Paiva.

Recurso penal — Subida do recurso

O recurso interposto do despacho que nãojulgou prescrito o crime sobe nos próprios au-tos, com aquele que venha a ser interposto dadecisão que ponha termo à causa.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Recurso n.º 0040978

Dias Cabral (Relator) — Pinto Monteiro —Agostinho Freitas.

Responsabilidade pelo risco — Jurosmoratórios

A fixação, no limite máximo legal, da indem-nização resultante de acidente de viação, noscasos em que não haja culpa do responsável,não obsta a que sejam devidos juros legaismoratórios a partir da citação.

Acórdão de 27 de Novembro de 2000Recurso n.º 0051160

Couto Pereira (Relator) — Santos Carvalho —Ferreira de Sousa.

Revogação da suspensão da execuçãoda pena — Pressupostos

De harmonia com o preceituado no artigo56.º, n.º 1, alínea b), do Código Penal de 1995, arevogação da suspensão de execução da penapor cometimento de novo crime pode ocorrerquer o crime seja doloso, quer negligente,centrando-se a questão apenas no especial im-pacto da infracção na obtenção das finalidadesque estavam na base da suspensão.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Recurso n.º 0010762

Nazaré Saraiva (Relator) — Esteves Marques —Clemente Lima.

Título executivo — Garantia bancáriaautónoma

Uma garantia bancária autónoma é título exe-cutivo, não sendo lícito ao Banco opor aobeneficiário as excepções resultantes do con-trato-base.

Acórdão de 2 de Novembro de 2000Recurso n.º 0031148

Leonel Serôdio (Relator) — Norberto Bran-dão — Manuel Ramalho.

Tribunais Administrativos — Com-petência — Junta Autónoma de Estra-das — Acção de indemnização

São os tribunais administrativos — e não ostribunais comuns — os materialmente compe-tentes para conhecer da acção proposta contraa Junta Autónoma de Estradas por indemniza-ção por acidente de viação decorrente da faltade sinalização dum buraco no pavimento dumaestrada nacional, em virtude de a conservaçãodas estradas e sua sinalização se inscrever nosfins públicos que àquele organismo, por lei, lhecompete prosseguir.

Acórdão de 6 de Novembro de 2000Recurso n.º 0051168

Aníbal Jerónimo (Relator) — António Gonçal-ves — Fonseca Ramos.

Page 33: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

347 Relação do PortoBMJ 501 (2000)

Tribunal comum — Competência —Câmara municipal — Junta de fre-guesia

É da competência dos tribunais comuns aacção proposta contra uma Câmara e umaJunta de Freguesia, na qual os autores pedem oreconhecimento do seu direito de propriedadesobre um prédio rústico, a reposição deste noestado anterior às obras que os réus nele reali-zaram para alargamento dum caminho públicoe a condenação destes ao pagamento duma in-demnização.

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso n.º 0021410

Afonso Correia (Relator) — Lemos Jorge —Pelayo Gonçalves.

Tribunal de comércio — Competên-cia — Procedimentos cautelares

O tribunal de comércio é competente paraconhecer dos procedimentos cautelares préviosàs acções que sejam da sua competência.

Acórdão de 20 de Novembro de 2000Recurso n.º 0050889

Joaquim Evangelista (Relator) — Brazão deCarvalho — Ribeiro de Almeida.

Page 34: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

348 BMJ 501 (2000)Relação de Coimbra

III

RELAÇÃO DE COIMBRA

Acidente de trabalho — Trabalho atempo parcial

Atenta a noção de contrato de trabalho plas-mada no artigo 1.º da lei do contrato de trabalho(Decreto-Lei n.º 49 408, de 24 de Novembro de1969) não é o quantum da remuneração nem ofacto de a prestação de trabalho ser a tempoparcial e de a trabalhadora prestar também ser-viço para outras pessoas em outros momentosque descaracteriza como sendo acidente de tra-balho aquele que ocorre quando a sinistradatrabalhava, remuneradamente, para um dospatrões e sob as ordens, direcção e fiscalizaçãodeste.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Processo n.º 191/2000

Fernandes da Silva (Relator) — BordaloLema — Serra Leitão.

Acidente de trabalho — Conduçãosem carta

A condução sem carta por parte do trabalha-dor, só por si, não constitui elemento descarac-terizador do acidente como reparável à luz dodisposto na alínea b) do n.º 1 da base VI da Lein.º 2127.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Processo n.º 1620/2000

Bordalo Lema (Relator) — Fernandes daSilva — Serra Leitão.

Cheque — Informação errónea dafalta de provisão — Obrigação deindemnizar — Danos não patrimo-niais

I — A falta de cumprimento, por parte de umbanco, do seu dever de informar os Serviços deCompensação do bastante provisionamento daconta de um seu depositante e de efectuar o pa-gamento do cheque por este emitido faz presu-mir a culpa daquele por falta da activação dotítulo e que originou a sua devolução, com ofundamento erróneo de falta de provisão.

II — Provando-se que o autor ficou afectadona sua credibilidade junto das alfândegas e queuma sua delegação, a partir da data da devolu-ção do cheque, deixou de lhe facultar o paga-mento de quaisquer quantias, através de chequesnão visados, o que tudo redundou em prejuízoda sua reputação, justifica-se a tutela do seu di-reito e, por consequência, a obrigação de in-demnizar, por parte do Banco réu.

III — Considerando a exclusividade da culpado Banco depositário e a mediana antijuri-dicidade dos factos cometidos, em sede de pru-dente arbítrio e de criteriosa ponderação dasrealidades da vida, entende-se como ajustadofixar a extensão desses danos em 650 000$00,nos termos do artigo 496.º, n.os 1 e 3, do CódigoCivil.

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso n.º 2234/2000

Hélder Roque (Relator) — Távora Vítor —Nunes Ribeiro.

Page 35: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

349 Relação de CoimbraBMJ 501 (2000)

Contestação extemporânea —Nulidade processual

Não constitui nulidade processual e antes, sim,mera irregularidade a apresentação de contes-tação que, embora extemporâneo, observou umaexpressa notificação do Tribunal, no cumpri-mento de um despacho que transitou em julgado.

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso n.º 435/2000

Coelho de Matos (Relator) — Custódio Costa —Ferreira de Barros.

Contratos de provisão de cheques —Recusa de pagamento — Respon-sabilidade da instituição bancária

I — Face ao disposto no artigo 32.º da LeiUniforme sobre o Cheque, o Banco sacado nãopode recusar, com fundamento na sua revoga-ção pelo sacador, o pagamento de um chequeapresentado no prazo legal de oito dias.

II — Se o fizer, a instituição bancária torna--se responsável perante o portador do dito che-que dos danos ou prejuízos que lhe cause, à luzda responsabilidade civil por factos lícitos, combase no estatuído na 2.ª parte do artigo14.º doDecreto-Lei n.º 13 004, de 12 de Janeiro de 1927.

Acórdão de 28 de Novembro de 2000Recurso nº 2181/2000

Garcia Calejo (Relator) — Gil Roque — TomásBarateiro.

Crime de desobediência — Entregade licença de condução — Concessãode prazo inferior ao legalmente esta-belecido

A concessão pela autoridade ordenante de umprazo inferior ao legalmente estabelecido para aentrega de licença de condução na Delegação

Distrital de Viação com vista ao cumprimentoda medida de inibição de conduzir consubstanciauma ilegalidade substancial da ordem, não lhesendo devida obediência.

Acórdão de 22 de Novembro de 2000Recurso n.º 2952/2000

Maria do Rosário (Relatora) — Rosa MariaCoelho — Almeida Ribeiro.

Crime de desobediência previsto epunido no artigo 158.º, n.º 3, doCódigo da Estrada — (In)aplicabi-lidade da sanção acessória do artigo69.º do Código Penal

O crime de desobediência previsto e punidono artigo 158.º, n.º 3, do Código da Estrada nãoé subsumível à previsão do artigo 69.º, n.º 1, doCódigo Penal, não lhe sendo por isso aplicável asanção acessória de proibição de conduzir.

Acórdão de 29 de Novembro de 2000Recurso n.º 2379/2000

Rosa Maria Coelho (Relatora) — Almeida Ri-beiro — Maio Macário — Renato de Sousa.

Embargos de terceiro — Venda judi-cial do bem embargado —Indefe-rimento liminar

São intempestivos e, por isso, devem serliminarmente indeferidos, nos termos do artigo354.º do Código de Processo Civil, os embargosde terceiro que hajam sido deduzidos após avenda judicial do bem, ainda que corra termos opedido de anulação dessa mesma venda.

Acórdão de 22 de Novembro de 2000Recurso n.º 2310/2000

Maria Regina Rosa (Relatora) — Hélder Al-meida — Soares Ramos.

Page 36: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

350 BMJ 501 (2000)Relação de Coimbra

Embargos de terceiro — Depositáriojudicial — Falta de legitimidade

I — O depositário judicial de equipamentofabril (em virtude de penhoras executadas emexecuções fiscais) não tem legitimidade paraembargar de terceiro diligência que ordena aentrega do prédio onde se encontra o equipa-mento fabril.

II — Efectivamente, o depositário judicial nãoé possuidor e, na hipótese referida, nem há in-compatibilidade entre a sua condição (de depo-sitário de móveis) e a diligência de entregaordenada.

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso n.º 1463/2000

Nuno Cameira (Relator) — Ernesto Calejo —Gil Roque.

Fauna cinegética — Pombos daespécie doméstica que perderam talqualidade

Os pombos que se encontrem em estado deliberdade natural constituem fauna cinegética e,por isso, tutelada pela lei da caça.

Acórdão de 29 de Novembro de 2000Recurso n.º 2365/2000

João Trindade (Relator) — António Marinho —Barreto do Carmo — Renato de Sousa.

Indemnização — Juros não pedidos

Por estarmos nesse capítulo no domínio dosdireitos disponíveis, se os não pediu o autor, nãopode o tribunal, com fundamento no artigo 69.ºdo Código de Processo do Trabalho, arbitraroficiosamente juros de mora relativamente aovalor da indemnização.

Acórdão de 9 de Novembro de 2000Processo n.º 478/2000

Bordalo Lema (Relator) — Fernandes daSilva — Serra Leitão.

Instrução indevida por inexistência deacusação

A admissão e realização de instrução inde-vida, por inexistência de acusação não supre aomissão desta, pelo que, carecendo assim deobjecto, só poderá levar a decisão de não pro-núncia.

Acórdão de 20 de Novembro de 2000Recurso n.º 2868/2000

Serafim Alexandre (Relator) — Félix de Al-meida— Germano da Fonseca.

Livrança em branco — Irrevoga-bilidade do aval — Abuso do preen-chimento

I — O aval torna-se irrevogável a partir domomento em que o título entre na posse do legí-timo portador.

II — É irrelevante que o Banco, tomador dalivrança em branco, a tenha preenchido quandoo avalista já não era sócio da sociedade subs-critora.

III — Não constitui abuso de direito o factode o Banco continuar a conceder crédito à subs-critora da livrança quando eram visíveis as suasdificuldades e preencher depois a livrançaquando o avalista já não era sócio da subscritora.

Acórdão de 14 de Novembro de 2000Recurso nº 595/2000

Nunes Ribeiro (Relator) — Maria ReginaRosa — Hélder Almeida.

Notificação postal do mandatário —Assinatura apenas num dos talões

A entrega de carta registada para notifica-ção, juntamente com um pacote de 6 registos,estando a assinatura do mandatário aposta numdos talões, com referência ao número total deregistos entregues nessa data, constitui sufi-

Page 37: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

351 Relação de CoimbraBMJ 501 (2000)

ciente garantia da certeza da entrega da cartaao seu destinatário.

Acórdão de 14 de Novembro de 2000Recurso n.º 1187/2000

Cardoso de Albuquerque (Relator) — EduardoAntunes — Nuno Cameira.

Omissão de documentação dasdeclarações oralmente prestadas emaudiência — Mera irregularidade

A falta ou omissão de documentação das de-clarações prestadas oralmente em audiênciaconstitui mera irregularidade que só determinaa invalidade do acto a que se refere (audiênciade discussão e julgamento) se tempestivamentearguida. E na medida em que o valor desse actotambém não é por ela afectado, vedada está igual-mente a sua reparação oficiosa nos termos doartigo 123.º, n.º 2, do Código de Processo Penal.

Acórdão de 29 de Novembro de 2000Recurso n.º 2860/2000

Oliveira Mendes (Relator) — João Trindade —António Marinho.

Pena de demissão — Fundamento(artigo 66.º, n.º 1, do Código Penal)

A pena de demissão só tem lugar nos termosdo artigo 66.º, n.º 1, do Código Penal relativa-mente a crime cuja pena concretamente aplicada(e não abstractamente considerada) seja supe-rior a 3 anos de prisão.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Recurso n.º 1613/2000

Ferreira Dinis (Relator) — Santos Cabral —Oliveira Mendes.

Pena de prisão e pena acessória deproibição de conduzir — Suspensão

A pena acessória de proibição de conduzir— artigo 69.º, n.º 1, alínea b), do Código Penal —terá, tal como a pena principal de prisão, de sersuspensa na sua execução.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Recurso n.º 2265/2000

Ferreira Dinis (Relator) — Santos Cabral —Oliveira Mendes — Renato de Sousa.

Princípio do contraditório — Acçãode divórcio — Regime provisório doartigo 1407.º, n.º 7, do Código deProcesso Civil

O procedimento processual previsto no ar-tigo 1407.º, n.º 7, do Código de Processo Civilpara a fixação do regime provisório de alimen-tos, de regulação do poder paternal e de utiliza-ção da casa de morada de família, admitindoembora a oficiosidade do Tribunal, não dis-pensa, em obediência ao princípio geral do ar-tigo 3.º, n.º 1, do Código de Processo Civil, o pré-vio cumprimento do princípio do contraditório.

Acórdão de 22 de Novembro de 2000Recurso n.º 2221/2000

Quintela Proença (Relator) — Serra Baptista —Soares Ramos.

Processo de falência — Acção deseparação e restituição dos bens damassa falida — Prazo de propositura

I — A disciplina contida no n.º 2 do artigo205.º do Código dos Processos Especiais de Re-cuperação da Empresa e de Falência é aplicávelà acção de restituição e separação de bens damassa falida a que se alude no n.º 1 daquelecitado normativo legal.

II — Nesses termos, tal acção terá que serproposta, sob pena de caducidade do respectivo

Page 38: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

352 BMJ 501 (2000)Relação de Coimbra

direito que se pretenda com ela fazer valer, noprazo de um ano subsequente ao trânsito emjulgado da sentença de declaração de falência.

Acórdão de 28 de Novembro de 2000Recurso nº 1640/2000

Hélder Almeida (Relator) — Araújo Ferreira —Coelho de Matos.

Propriedade horizontal — Omissãodo título quanto à propriedade de umazona do prédio — Regime aplicável

I — Sendo o título constitutivo da proprie-dade horizontal omisso sobre a propriedade dedeterminada zona do prédio, haverá que recor-rer às regras definidas na lei (artigo 1421.º doCódigo Civil) para determinar tal propriedade,nomeadamente se ela é parte comum do prédio(e, como tal, de todos os condóminos) ou pri-vada de algum deles.

II — Desde que as entradas, vestíbulos, es-cadas e corredores de um prédio constituído emregime de propriedade horizontal sejam de usoou passagem de dois ou mais condóminos, taisespaços terão que ser, necessariamente, consi-derados comuns a todos os restantes condó-minos.

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso nº 2534/2000

Garcia Calejo (Relator) — Gil Roque — TomásBarateiro.

Providência cautelar comum — Apli-cação da regra do contraditório —Citação do requerido, sendo a pro-vidência indeferida

I — No procedimento cautelar comum, valecomo regra a audição da requerida e como ex-cepção a sua falta.

II — Quando entenda que deve funcionar aexcepção, o juiz deve fazê-lo mediante decisãoexpressa e fundamentada.

III — O requerido deve ser citado para ostermos do recurso contra o despacho que nãodecretou a providência e em que não foi previa-mente ouvido.

Acórdão de 14 de Novembro de 2000Recurso nº 1765/2000

Silva Freitas (Relator) — Pires da Rosa —Quintela Proença (vencido).

Recurso — Concurso de infrac-ções — Decisões transitadas

O concurso de infracções a que faz referênciaa alínea f) do artigo 400.º do Código de Pro-cesso Penal prende-se apenas e tão-só com deci-sões não transitadas, referentes ao mesmo pro-cesso.

Acórdão de 15 de Novembro de 2000Recurso n.º 1258/2000

João Trindade (Relator) — António Marinho —Barreto do Carmo.

Sanção acessória prevista no artigo69.º do Código Penal — Forma decumprimento

Por respeito ao referido princípio de unidadedo sistema, a sanção acessória prevista no ar-tigo 69.º do Código Penal deve também ser cum-prida em dias seguidos e não interpolados ouaos fins-de-semana.

Acórdão de 29 de Novembro de 2000Recurso n.º 2383/2000

Serafim Alexandre (Relator) — Félix Al-meida — Germano Fonseca — Renato de Sousa.

Page 39: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

353 Relação de CoimbraBMJ 501 (2000)

Tiro de arma de fogo ou emprego dearma de arremesso contra algumapessoa — Descriminalização

Com a revisão operada pelo Decreto-Lein.º 48/95, de 15 de Março (que suprimiu a re-dacção originária do artigo 152.º, n.º 1, sem queoutra com o mesmo sentido, conteúdo e âmbitohaja sido incluída na lei substantiva penal), per-deram pois dignidade e protecção penal, isto é,

deixaram de constituir facto típico, o simples oumero tiro de arma de fogo contra alguma pes-soa e o simples ou mero emprego de arma dearremesso contra alguma pessoa.

Acórdão de 29 de Novembro de 2000Recurso n.º 2945/2000

Oliveira Mendes (Relator) — João Trindade —António Marinho.

Page 40: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

354 BMJ 501 (2000)Relação de Évora

IV

RELAÇÃO DE ÉVORA

Acidente de trabalho — Remição depensões — Regime transitório

I — No âmbito do regime transitório deremição de pensões, foi intenção do legisladorinstituir um regime faseado de remições, torna-das obrigatórias por força do artigo 41.º, n.º 2,alínea a), da Lei n.º 100/97, de 13 de Setembro,fazendo-o com referência aos valores máximosanuais fixados no quadro do artigo 74.º do De-creto-Lei n.º 143/99, de 30 de Abril, na redacçãoque lhe foi dada pelo artigo 2.º do Decreto-Lein.º 382-A/99, de 22 de Setembro; se assim nãofosse, ficaria carecido de sentido prático essemesmo quadro e os períodos anuais nele inscri-tos, cada um deles referido a um montante máxi-mo de pensão anual.

II — Estando em causa uma pensão anual de137 424$00, a mesma apenas será remível apósDezembro de 2001 e sê-lo-á obrigatoriamente,devendo ser concretizada, de forma oficiosa, atéDezembro do ano seguinte.

Acórdão de 14 de Novembro de 2000Recurso social n.º 1408/2000

Alexandre Baptista Coelho (Relator) — AcácioAndré Proença — António Gonçalves da Rocha.

Acidente de trabalho — Remição depensões — Regime transitório

I — O regime transitório de remição de pen-sões face ao novo regime jurídico dos acidentesde trabalho instituído pela Lei n.º 100/97, de 13

de Setembro, apenas se aplica às pensões que jáestavam em pagamento em 1 de Janeiro de 2000,que são aquelas que nesta data já estavam fixa-das por decisão judicial transitada em julgado.

II — E às pensões por acidentes anteriores a1 de Janeiro de 2000, mas que nesta data aindanão estavam em pagamento, por ainda não seencontrarem fixadas por decisão já transitadaem julgado, aplica-se o regime geral da nova lei,ou seja, são remíveis face aos princípios queagora enformam o novo regime de remição depensões.

Acórdão de 14 de Novembro de 2000Recurso social n.º 1410/2000

António Gonçalves da Rocha (Relator) — Ale-xandre Baptista Coelho — Acácio André Proença.

Arrrendamento urbano — Resoluçãopelo senhorio — Residência perma-nente — Comissão de serviço

I — Residência permanente é a residênciahabitual, estável e duradoura e não acidental,transitória ou temporária, aquela onde estácentrada a vida doméstica e familiar.

II — A renovação de comissão de serviçonão integra a excepção prevista no artigo 64.º,n.º 2, alinea b), do Regime do ArrendamentoUrbano.

Acórdão de 2 de Novembro de 2000Recurso cível n.º 630/2000

Artur Mota Miranda (Relator) — José Rodriguesdos Santos — António de Almeida Simões.

Page 41: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

355 Relação de ÉvoraBMJ 501 (2000)

Conflito negativo de competência —Acção de investigação de paternidadenão contestada

I — Com a redacção dada ao artigo 646.ºdo Código de Processo Civil pelo Decreto-Lein.º 375-A/99, de 20 de Setembro, não se preten-deu modificar a competência do juiz presidentedo colectivo, retirando-lhe a que lhe era atri-buída para as hipóteses previstas no n.º 2 da-quele artigo e limitando-a aos casos de falta derequerimento das partes, antes se ampliou a suacompetência — aos casos de inadmissibilidadelegal de intervenção de colectivo aditaram-se oscasos de falta de requerimento das partes —reduzindo-se apenas a intervenção do colectivo.

II — Assim, em acção de investigação de pa-ternidade não contestada, compete ao juiz de cír-culo o julgamento da matéria de facto e a prolaçãoda sentença final.

Acórdão de 9 de Novembro de 2000Processo n.º 906/2000

Artur Mota Miranda (Relator) — José Rodriguesdos Santos — António de Almeida Simões.

Crime de detenção de arma proibida —Arma branca com disfarce

I — A natureza proibida de uma arma estána perigosidade inerente à própria arma, tendoesta de estar incluída nas elencadas como proi-bidas pela lei.

II — No que respeita às armas brancas, sóas armas brancas com disfarce cabem na previ-são de armas proibidas elencadas no artigo 3.º,n.º 1 , alínea f), do Decreto-Lei n.º 207-A/75, de17 de Abril.

III — Arma branca com disfarce é aquelaque oculta a sua verdadeira natureza e finalida-de, dissimulando o seu real poder vulnerante,sob a forma de um objecto distinto e com dife-rente utilização (por exemplo, uma caneta ou umisqueiro que têm inserida uma lâmina) ou queapresenta um artifício ou mecanismo que a dis-simula de modo a não se mostrar como tal, ocul-tando as suas dimensões e características (por

exemplo, uma navalha não vulgar, original, depunho articulado, não rapidamente identificadacomo navalha quando fechada sob o seu punhoarticulado).

IV — Uma navalha designada normalmentecomo navalha de ponta e mola não é, assim,uma arma branca com disfarce, nem pode serqualificada como instrumento sem aplicaçãodefinida, pelo que não cabe na previsão do ar-tigo 275.º, n.º 3, do Código Penal, referido aoartigo 3.º, n.º 1, alínea f), do Decreto-Lein.º 207-A/75, de 17 de Abril.

V — Mas ainda que se considere ser umanavalha de ponta e mola um instrumento semaplicação definida (pois que confere ao seuutilizador uma multiplicidade de funções), sendosusceptível de ser utilizada como arma letal deagressão, será apenas arma proibida desde queo portador não apresente uma explicação quefuncione como justificação da posse, a qual nãopode atentar contra o interesse protegido pelanorma incriminadora.

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso penal n.º 788/2000

Ana Fernandes Grácio (Relatora) — MariaFilomena Lima — Maria Margarida Martins —António Ferreira Neto.

Crime de homicídio por negligên-cia — Negligência grosseira

I — A negligência grosseira que qualifica ocrime de homicídio por negligência existe, emcasos de acidente de viação, quando o condutornão põe na condução uma actuação prudente eantes se esquece dos mais elementares deveresde precaução e prudência, revelando ligeireza etemeridade.

II — O arguido agiu com negligência gros-seira ao conduzir com velocidade excessiva numaestrada aberta ao tráfico de veículos lentos, no-meadamente de tracção animal, que aquele co-nhecia, a uma hora do dia (17.30 horas) e nummês do ano (Fevereiro) em que a altura do solpode, de forma mais ou menos prolongada, cau-sar encandeamentos, fenômeno natural previ-

Page 42: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

356 BMJ 501 (2000)Relação de Évora

sível e conhecido do arguido, que todos os diasde trabalho percorria a estrada, pelo que o mes-mo, não reduzindo a marcha ao limite da pru-dência imposta pela lei, aderiu aos efeitos desseencandeamento, sem se preocupar com o quepudesse acontecer, tendo a sua conduta a marcamanifesta da negligência grosseira.

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso penal n.º 275/2000

Orlando Martins Afonso (Relator) — José deSousa Magalhães — Fernando de Carvalho Go-mes — António Ferreira Neto.

Crime de ofensa à integridade físicagrave por negligência — Produtocorrosivo

I — Havendo o arguido, proprietário e res-ponsável pela exploração de um estabeleci-mento de restaurante, colocado um líquido for-temente alcalino e corrosivo, destinado a má-quinas de lavar louça, em garrafa de vidrotransparente, sem qualquer indicação do seuconteúdo e em local próximo de outras garrafascontendo produtos consumíveis no referido res-taurante, não obstante tal líquido ser incolor eter, por isso, semelhança com a água, o que omesmo bem sabia, actuou com manifesta faltade cuidado e atenção à gestão normal de umestabelecimento, pondo em perigo a vida dosseus utentes.

II — Tal factualídade integra o conceito deomissão de um dever objectivo de cuidado e,porque previsível e possível o resultado — in-gestão daquele líquido pelo ofendido a quem foifornecido como água, com ofensa grave à suaintegridade física — a adequação causal da con-duta imputável ao arguido ao acontecer do eventolesivo que veio a ocorrer.

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso penal n.º 933/2000

Pires da Graça — Manuel Cipriano Nabais —António Ferreira Neto.

Crime de poluição — Provocação depoluição sonora

I — Tendo a autoridade administrativa com-petente prescrito e definido o limite do valor acús-tico a partir do qual, de acordo com o Decreto-Lein.º 251/87, de 24 de Junho, se verificaria o crimede poluição por produção de poluição sonora,com a inerente lesão do respectivo componenteambiental, advertindo a arguida da susceptibili-dade de, com a sua conduta, incorrer no refe-rido crime, mostram-se preenchidos todos oselementos objectivos constitutivos do tipo, bemcomo a condição objectiva de punibilidade refe-rida na parte final do n.º 3 do artigo 279.º doCódigo Penal.

II — Não sendo exigível que a autoridadeadministrativa houvesse determinado a suspen-são da emissão poluente ou da actividade que aproduzia para que se preenchesse a referidacondição objectiva de punibilidade, nem sendoexigível a indicação expressa das penas emcausa, antes sendo bastante a advertência efec-tuada — cominação de que a violação do supra-mencionado limite implicaria a consequênciapenal de incorrer na prática do crime de polui-ção, previsto e punido pelo artigo 279.º do Có-digo Penal.

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso penal n.º 1100/2000

Maria Filomena Lima (Relatora) — MariaMargarida Martins — Luís Mendonça Freitas —António Ferreira Neto.

Defesa por excepção — Admissibili-dade de réplica

I — Em acção fundada em incumprimentode contrato-promessa, peticionando o autor— promitente-comprador — a condenação doréu — promitente-vendedor — no cumprimentodesse contrato, este defende-se por excepção pe-remptória se invoca a sua superveniente ilegi-timidade substantiva para a respectiva cele-bração.

II — De igual modo, defende-se por excep-ção, também peremptória, se alega que a eficá-

Page 43: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

357 Relação de ÉvoraBMJ 501 (2000)

cia desse contrato-promessa ficou dependentede qualquer condição convencionada entre aspartes, ainda que a verificação dessa condiçãodependesse apenas de uma delas.

III — Como tal, poderia o autor replicar aessas excepções.

Acórdão de 2 de Novembro de 2000Recurso cível n.º 893/2000

Femando da Conceição Bento (Relator) —Maria Alexandra Santos — João Gonçalves Mar-ques.

Execução para entrega de coisacerta — Embargos de terceiro —Tempestividade

I — A entrega judicial feita ao abrigo do ar-tigo 930.º do Código de Processo Civil con-substancia o acto de entrega previsto no n.º 1 doartigo 351.º do mesmo Código (ou a diligênciaofensiva de que fala o n.º 2 do seu artigo 353.º)e, pelo menos para efeitos deste último preceito,não pode ser equiparada à venda judicial ou àadjudicação de que aí se fala.

II — Assim, não há impedimento à deduçãode embargos após a entrega judicial alegada-mente ofensiva da posse ou de outro direito pas-sível de defesa por embargos, não sendo essasituação, só por si, geradora da intempestivi-dade dos mesmos.

Acórdão de 9 de Novembro de 2000Recurso cível n.º 1803/2000

Mário Manuel Pereira (Relator) — José BorgesSoeiro — Maria Laura Leonardo.

Ilícito de mera ordenação social —Tribunal competente — Constitu-cionalidade

I — Nunca esteve no pensamento do legisla-dor, mesmo constitucional, integrar na expres-são «julgamento das acções e recursos conten-ciosos que tenham por objecto dirimir os litígiosemergentes das relações jurídicas administra-

tivas» as infracções contra-ordenacionais, umavez que tal expressão se encontra direccionadaactividade de gestão pública dos órgãos da Ad-ministração, nas suas relações entre si e com osparticulares e não aplicação de um direito puni-tivo do Estado em função de uma violação deinteresses de ordem social.

II — A Constituição da República Portu-guesa, ao estabelecer uma ordem de tribunaisadministrativos e fiscais com as competênciasdefinidas no seu artigo 212.º, n.º 3, não afastoudos tribunais comuns a possibilidade de apre-ciação de matérias de natureza administrativa,sobretudo quando está em causa a actividadepunitiva do Estado, por violação de valores ouinteresses de criação ou manutenção de uma dadaordem social, ou seja, pela existência de ilícitosde mera ordenação social.

Acórdão de 21 de Novembro de 2000Recurso penal n.º 1147/2000

Orlando Martins Afonso (Relator) — José deSousa Magalhães — Fernando de Carvalho Go-mes — António Ferreira Neto.

Processo comum laboral — Sançãopor falta injustificada à audiência departes

Em processo declarativo comum laboral(Código de Processo do Trabalho de 1999), fal-tando uma das partes injustificadamente à au-diência de partes, mas tendo da diligênciaresultado a solução amigável do litígio — acor-do total sobre o objecto do litígio homologadonos seus precisos termos — através da inter-venção de mandatário judicial munido dos ne-cessários poderes, não é razoável, nem tal terásido pretendido pelo legislador, tratar a partefaltosa como litigante de má fé para efeitos desancionamento daquela falta com multa (artigo54.º, n.º 5, do Código de Processo do Trabalho).

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso social n.º 1409/2000

Acácio André Proença (Relator) — AntónioGonçalves Rocha — Alexandre Baptista Coelho.

Page 44: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

358 BMJ 501 (2000)Relação de Évora

Processo de suprimento — Supri-mento de consentimento de pessoacujo paradeiro se desconhece

I — Sendo requerido o suprimento judicialdo consentimento de pessoa ausente em parteincerta e não estando a ausência judicialmenteverificada, há lugar à citação edital do reque-rido, nos termos das disposições combinadasdos artigos 1426.º, n.º 2, e 1425.º, n.º 1, do Có-digo de Processo Civil.

II — Não sendo indicados, por alegado des-conhecimento, procurador, curador, cônjuge ouparentes do ausente, nem sendo estes oficiosa-mente localizados, os autos podem prosseguir,citando-se unicamente o Ministério Público.

Acórdão de 9 de Novembro de 2000Recurso cível n.º 737/2000

Luís Fernando Garcia (Relator) — José de Oli-veira Lobo — Mário Manuel Pereira.

Processo laboral — Arguição denulidades de sentença — Declaraçãode rescisão do contrato de trabalhoemitida pelo trabalhador com a mençãode que a entidade patronal nada lhedeve — Coacção e dolo — Prova documprimento da obrigação retributiva

I — Em processo laboral a arguição de nuli-dades de sentença apenas na alegação de re-curso e não no requerimento de interposição derecurso acarreta que não se conheça de tal ar-guição, por extemporânea.

II — A simples sugestão ao trabalhador pelaentidade patronal para que se demita e se res-ponsabilize pelo pagamento de quantias de quese tinha apropriado não envolve coacção moralou dolo na emissão pelo trabalhador de umadeclaração escrita de rescisão do contrato queemitiu após aquela sugestão, não podendo taldeclaração ser interpretada como constituindo

uma decisão da própria entidade patronal nosentido de pôr termo ao contrato.

III — No que respeita à obrigação retribu-tiva, ao trabalhador compete demonstrar o seudireito e, caso tenha havido pagamento, à enti-dade patronal cabe alegá-lo e prová-lo.

IV — A declaração do trabalhador insertano documento rescisório do contrato de que aentidade patronal não lhe deve qualquer valornão vale como renúncia ou remissão de qual-quer crédito; pode, eventualmente, valer comoquitação, mas para o efeito tem a entidade pa-tronal que alegar o pagamento, de que aqueledocumento serviria de prova.

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso social n.º 1304/2000

Acácio André Proença (Relator) — AntónioGonçalves da Rocha — Alexandre Ferreira BaptistaCoelho.

Recurso em processo penal — Com-petência

I — Sendo a decisão recorrida um acórdãofinal proferido pelo tribunal colectivo e visandoo recurso exclusivamente o reexame de matériade direito, carece o Tribunal da Relação de com-petência para o conhecimento do objecto do re-curso, não estando na disponibilidade das partesa possibilidade de recorrer para a Relação oupara o Supremo Tribunal de Justiça, consoantemelhor lhes aprouver.

II — Assim, há que declarar a incompetênciado Tribunal da Relação e ordenar a consequenteremessa dos autos ao Supremo Tribunal deJustíça, por ser o competente [artigos 33.º, n.º 1,e 432.º, alínea d), ambos do Código de ProcessoPenal].

Acórdão de 21 de Novembro de 2000Recurso penal n.º 1149/2000

Ana Fernandes Grácio (Relatora) — MariaFilomena Lima — Maria Margarida Martins.

Page 45: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

359 Tribunal Central AdministrativoBMJ 501 (2000)

Adjunto de conservador — Substi-tuição do conservador — Princípio daboa fé; reposição de remunerações —Direito de audiência — Princípio doaproveitamento dos actos adminis-trativos

I — Os adjuntos de conservador auferem90% da parte fixa (ordenado) e da parte variá-vel (participação no rendimento emolumentar)da remuneração mínima a que os conservado-res ou notários de 3.ª classe têm direito, nostermos do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 92/90,de 17 de Março.

Essa remuneração mínima é a que corres-ponde ao escalão de ingresso na 3.ª classe depessoal conservador e notário, de acordo com oartigo 10.º do Decreto-Lei n.º 131/91, de 2 deAbril.

II — A filosofia da participação emolumentarconsiste na participação no rendimento. Logo,para que o funcionário possa receber uma partedo rendimento terá que ter contribuído para ele.

A participação emolumentar representa, pois,um vencimento de exercício e, portanto, carecede exercício efectivo do cargo de uma determi-nada categoria para ser percebido.

III— Sempre que o adjunto do conservadorsubstituir o conservador exercendo exclusiva-mente as funções que ao substituído caberiam,terá direito a receber a parte fixa da remunera-

ção referida em I e a participação emolumentarpor inteiro que ao conservador coubesse, faceao disposto no artigo 56.º, n.º 1, alínea b), doDecreto-Lei n.º 519-F2/79, na redacção do De-creto-Lei n.º 256/95, de 30 de Setembro.

IV — Para se apurar da tempestividade doacto revogatório, o que conta é a data da activi-dade, isto é, da prática do acto, e não a data emque se verificou a sua notificação.

V — O princípio da boa fé, relacionado queestá sobretudo com actividade discricionária daAdministração, implica que se aja conforme aprevisão normativa (significação objectiva) e queo comportamento assente numa convicção ouconsciência de acção conforme o direito (signifi-cação subjectiva).

VI — A reposição de vencimento só não seráde determinar se, além da boa fé, o funcionáriotiver realmente prestado o serviço pelo qual foipago.

VII — O direito de audiência previsto no ar-tigo l00.º do Código do Procedimento Adminis-trativo consubstancia um direito de participaçãonas decisões que ao interessado digam respeitono âmbito de um procedimento administrativode 1.º grau e não também no quadro da impug-nação administrativa.

VIII — Apurado que um certo acto é o únicolegalmente possível, não se justifica a sua anula-ção por vício de forma em obediência a regrasde economia, utilidade, celeridade, eficácia e se-gurança das relações jurídico-administrativas,

V

TRIBUNAL CENTRAL ADMINISTRATIVO

I

SECÇÃO DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO

Page 46: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

360 BMJ 501 (2000)Tribunal Central Administrativo

razões em que se sustenta o princípio do apro-veitamento dos actos administrativos.

Acórdão de 30 de Novembro de 2000Recurso n.º 256/97

José Cândido de Pinho (Relator) — José Eduardode Oliveira Gonçalves Lopes — Carlos EvêncioFigueiredo Rodrigues de Almada Araújo.

Aquisição do grau de mestre pordocente — Concessão da bonificaçãoa que alude o artigo 54.º do ECD —Princípios da justiça e da imparcia-lidade

I — Tendo o recorrente fundamentado a suapretensão — concessão da bonificação de qua-tro anos no tempo de serviço, ao abrigo do ar-tigo 54.º, n.º 1, do ECD — no facto de ter adquiridoo grau de mestre em Arquitectura e Urbanismopelo Instituto de Arquitectura e Planeamento daUniversidade Técnica de Poznam, Polónia, masnão tendo este demonstrado que lhe foi concedi-da equivalência ou sequer reconhecida atitularidade do grau de mestre, ao abrigo doDecreto-Lei n.º 283/83, de 21 de Junho (cfr. ar-tigos 1.º e 2.º, n.º 1, 7.º a 10.º e 14.º, n.º 2), nãopoderá aquele grau ser atendível para efeitos dodisposto no artigo 54.º, n.º 1, do ECD.

II — Os princípios da justiça e da imparcia-lidade têm autonomia e relevam juridicamenteno domínio da actividade discricionária, con-fundindo-se com o princípio da legalidade noscomportamentos vinculados.

III — Daí que, situando-se a matéria em ques-tão no âmbito do poder estritamente vinculadoda Administração, não se possam considerarviolados os princípios da justiça e da imparcia-lidade.

Acórdão de 2 de Novembro de 2000Processo n.º 2039/98

Helena Maria Ferreira Lopes (Relatora) — AnaPaula Soares Leite Martins Portela — AntónioFerreira Xavier Forte.

Concurso interno condicionado —Discricionariedade técnica do júri —Poder da entidade homologante

I — A avaliação curricular, incluindo o esta-belecimento dos factores de ponderação, é umaactividade do júri que se insere na sua margemde livre apreciação ou prerrogativa de avalia-ção, chamada de discricionariedade técnica.

II — Nesta actividade também se inclui a clas-sificação das funções exercidas pelos candida-tos, por forma a integrá-las, ou não, na área emque se situa o lugar a concurso.

III — O poder da entidade homologante res-tringe-se a aspectos vinculados, a erro mani-festo, grosseiro ou à adopção de critérios osten-sivamente desajustados.

IV — Mesmo quando use tal poder, não podea entidade homologante impor um novo critério,mas simplesmente determinar a alteração doexistente, cabendo sempre ao júri, nesse caso, afixação de um novo critério apenas expurgadoda ilegalidade concreta de que padecesse o an-terior.

Acórdão de 16 de Novembro de 2000Recurso n.º 388/97

Ana Paula Soares Leite Martins Portela (Rela-tora) — José Cândido de Pinho — António deAlmeida Coelho da Cunha.

Contrato administrativo — Rescisãoconvencional — Acto destacável —Sua não formação

I — A rescisão convencional de um contratoadministrativo, efectuada ao abrigo dos artigos405.º e 406.º do EMFAR (na redacção dada peloDecreto-Lei n.º 157/92, de 31 de Julho) não cons-titui acto administrativo.

II — No âmbito de tal rescisão não se formaacto destacável se a Administração procede aocálculo unilateral da indemnização devida pelacessação antecipada do contrato, ao abrigo doDecreto-Lei n.º 34-A/90, de 24 de Janeiro.

III — Se o contraente particular discorda domontante de indemnização calculado, deve, para

Page 47: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

361 Tribunal Central AdministrativoBMJ 501 (2000)

obter os efeitos jurídicos pretendidos, socorrer--se da via da acção administrativa.

Acórdão de 9 de Novembro de 2000Processo n.º 1820/98

António de Almeida Coelho da Cunha (Rela-tor) — Carlos Evêncio Figueiredo Rodrigues deAlmada Araújo — José Cândido de Pinho.

Contrato de empreitada de obrafinanciada por entidade pública —Âmbito de aplicação do Decreto-Lein.º 59/99, de 2 de Março — Tribunalcompetente para apreciação de pedidode medida cautelar no procedimentode formação de tal contrato

I — O regime do Decreto-Lei n.º 59/99, de 2de Março (REOP), aplica-se aos contratos deempreitada que sejam financiados directamenteem mais de 50% por qualquer das entidadesreferidas no artigo 3.º daquele diploma, queelenca os donos de obras públicas (artigo 2.º,n.º 5, do Decreto-Lei n.º 59/99).

II — Está neste caso a empreitada de pavi-mentação com relva sintética de um campo defutebol, que é financiada directamente, e na suatotalidade, pelo Instituto do Desporto da RegiãoAutónoma da Madeira (instituto público),mesmo sendo dono da obra o Clube Desportivo1.º de Maio, pessoa colectiva de direito privado.

III — Tal previsão normativa deve-se à ten-dência que se vem desenvolvendo no nosso sis-tema jurídico, para equiparar nalguns aspectosos regimes de utilização de dinheiros de prove-niência pública, seja quem for que os apliquedirectamente, aos regimes de utilização dessesdinheiros pelos próprios entes públicos que osconcedem.

IV — Pertence à jurisdição administrativa(TAFA do Funchal) o conhecimento do pedido demedida cautelar destinada a suspender o proce-dimento de formação de um contrato de em-preitada como o referido em II supra, ao abrigodo disposto no artigo 2.º, n.º 2, do Decreto-Lein.º 134/98, de 15 de Maio, visto tratar-se de umcontrato de empreitada de obra pública, face ao

disposto nos artigos 3.º, 9.º e 51.º, alínea q), doEstatuto dos Tribunais Administrativos e Fis-cais e artigos 4.º e 5.º, n.º 4, do Decreto-Lein.º 134/98, de 15 de Maio.

Acórdão de 16 de Novembro de 2000Recurso jurisdicional n.º 5088/2000

Magda Espinho Geraldes (Relatora) — MárioFrederico Gonçalves Pereira — Carlos ManuelMaia Rodrigues.

Despejo administrativo (artigo 8.º doDecreto-Lei n.º 23 465, de 18 deJaneiro de 1934) — Ocupação nãotitulada de prédio do Estado — Usur-pação de poder

I — Não pode ser nulo, por usurpação depoder, o acto administrativo que, fundando-seem norma vigente e conforme à Constituição,exercite uma conduta cuja autoria seja atribuídaà Administração por esse mesmo preceito.

II — Assim, e ao abrigo do disposto no artigo8.º do Decreto-Lei n.º 23 465, a Administraçãonão necessita de recorrer aos tribunais comunspara exigir a devolução ao Estado de um seuprédio ocupado sem título, podendo impor essaentrega autoritariamente, ainda que a ocupaçãosurgisse na sequência da caducidade de umcontrato de arrendamento primitivamente cele-brado entre particulares.

III — O direito a novo arrendamento, pre-visto nos artigos 90.º e seguintes do Regime doArrendamento Urbano, não se aplica aos ar-rendamentos de prédios do Estado, dado o dis-posto no artigo 5.º, n.º 2, alínea a), do mesmodiploma.

IV — O artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 507-A/79, de 24 de Dezembro, estabelece que «são nu-los e de nenhum efeito» os contratos de arrenda-mento de bens imóveis do domínio privado doEstado que não sejam precedidos de autoriza-ção do director-geral do Património e que senão realizem mediante hasta pública, salvo oscasos especiais em que o Ministro das Finanças,dispensando a hasta pública, fixe a importânciada renda ou indique o critério do seu cálculo.

Page 48: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

362 BMJ 501 (2000)Tribunal Central Administrativo

V — Ocorrida, por morte do locacário, acaducidade do arrendamento de um prédio doEstado, a sua ocupação por quem com aquelehabitara não se mostra titulada, por via de ale-gados direitos ao arrendamento ou a um novoarrendamento, se a Administração, sabedoradaquele óbito, se limitou a aceitar da ocupanteas rendas relativas ao imóvel.

VI — Assim, a ordem de desocupação doprédio, dirigida a essa ocupante, não enfermoude erro num seu pressuposto de direito ao consi-derar que a detenção do prédio carecia de títuloque a legitimasse.

Acórdão de 8 de Novembro de 2000Recurso n.º 46 098

Madeira dos Santos (Relator) — Cruz Rodri-gues — Abel Atanásio.

Pessoal dirigente — Cessação decomissão de serviço — Carreira deinvestigação científica — Artigo 18.º,n.os 1, alínea a), e 3, do Decreto-Lein.º 323/89, na redacção resultante doDecreto-Lei n.º 34/93

I — Do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 34/93,de 13 de Fevereiro, ao prescrever que o n.º 3 doartigo 18.º do Decreto-Lei n.º 323/89, de 26 deSetembro, tinha natureza interpretativa, resultaque, desde a entrada em vigor deste último di-ploma, o regime consagrado no n.º 1, alínea a),do citado artigo 18.º, em relação aos funcioná-rios oriundos de carreiras ou corpos especiaisdependia da verificação dos requisitos especiaisde acesso previstos nas respectivas leis regula-doras, bem como das habilitações literáriasexigidas.

II — Não tem direito de ser provido na cate-goria de investigador principal do quadro doInstituto Português de Investigação Marítima oinvestigador auxiliar que, embora tenha presta-do serviço em cargo dirigente e em comissão deserviço desde 6 de Março de 1990 a 26 de Se-

tembro de 1993, não reunia os requisitos espe-ciais de acesso àquela categoria estabelecidospelo artigo 8.º do Estatuto da Carreira de In-vestigação Científica, aprovado pelo Decreto--Lei n.º 219/92, de 15 de Outubro.

Acórdão de 9 de Novembro de 2000Processo n.º 3094/99

José Francisco Fonseca da Paz (Relator) —António Bento São Pedro — Magda EspinhoGeraldes.

Processo disciplinar — Guarda Na-cional Republicana — Princípio nebis in idem — «Desgraduação noposto» [artigos 241.º, 247.º, n.º 1,alínea c), e 243.º, n.º 1, alínea a), doDecreto-Lei n.º 265/93, de 31 deJulho (Estatuto dos Militares daGuarda Nacional Republicana)] —Dispensa de serviço [artigo 75. º doDecreto-Lei n.º 265/93 e artigo 94.º,n.os 2 e 4, do Decreto-Lei n.º 231/93,de 26 de Junho (Lei Orgânica daGuarda Nacional Republicana)]

I — Da conjugação dos artigos 241.º, 247.º,n.º 1, alínea c), e 243.º, n.º 1, alínea a), do Esta-tuto dos Militares da Guarda Nacional Republi-cana resulta que a desgraduação a que se refereo primeiro daqueles preceitos é uma conse-quência necessária da exclusão dos instruendosdo curso de formação de sargentos, sendo acausa a constatação de que aqueles afinal nãopossuíam — para efeitos de admissão ao refe-rido curso — um comportamento cívico ade-quado (v. g.).

II — Em todo este procedimento o que estáem causa é o comportamento cívico dos ins-truendos (v. g.) para efeitos de se aquilatar daverificação, ou não, de uma das condições deadmissão ao curso de formação de sargentos.Constatada a não verificação daquela condição,o instruendo é excluído do concurso, nos termosda alínea c) do artigo 247.º do Estatuto dos Mi-litares da Guarda Nacional Republicana, vol-tando ao posto que detinha antes de ter com-

Page 49: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

363 Tribunal Central AdministrativoBMJ 501 (2000)

pletado, com aprovação, a primeira parte docurso de formação de sargentos (artigo 241.º doEstatuto dos Militares da Guarda NacionalRepublicana).

III — No procedimento relativo à aplicaçãoda medida de dispensa de serviço (artigos 75.ºdo Estatuto dos Militares da Guarda NacionalRepublicana e 94.º da Lei Orgânica da GuardaNacional Republicana) pode também estar emcausa o comportamento cívico do militar, ou seja,podem estar em causa factos idênticos aos apre-ciados no procedimento a que se reportam ospontos I e II deste sumário.

IV — Há, contudo, um diferença: enquanto,no procedimento relativo à aplicação da medidade dispensa de serviço, os factos são apreciadospara efeitos de aplicação, ou não, de uma medi-da sancionatória — a dispensa de serviço — jáno procedimento de que poderá resultar a des-graduação do militar, o que está em causa é aapreciação desses factos para efeitos de se sa-ber se se venfica, ou não, uma das condições deadmissão ao curso de formação de sargentos(artigos 241.º, 243.º e 247.º do Estatuto dos Mili-tares da Guarda Nacional Republicana). E sendoassim não se verifica a violação do princípio nebis in idem.

V — Tendo o recorrente sido objecto de am-bos os procedimentos, por ter apresentado nasua unidade um certificado de habilitações «for-jado», e tendo este sido excluído do curso deformação de sargentos com a inerente desgra-duação [alínea c) do n.º 1 do artigo 247.º doEstatuto dos Militares da Guarda Nacional Re-publicana e artigos 241.º e 243.º, n.º 1, alínea a),do mesmo diploma], bem como sido-lhe apli-cada a medida sancionatória de dispensa de ser-viço (artigo 75.º do Estatuto dos Militares daGuarda Nacional Republicana e artigo 94.º,n.os 2 e 4, da Lei Orgânica da Guarda NacionalRepublicana), não se verifica, pelas razões cons-tantes no ponto III deste sumário, a violação doprincípio ne bis in idem.

Acórdão de 23 de Novembro de 2000Processo n.º 1190/98

Helena Maria Ferreira Lopes (Relatora) — AnaPaula Soares Leite Martins Portela — AntónioFerreira Xavier Forte.

Promoção de militares ao abrigo doartigo 10.º do Decreto-Lei n.º 236/99,de 25 de Junho (diploma que aprovouo Estatuto dos Militares das ForçasArmadas)

I — Da interpretação conjugada dos n.os 1 e2 do artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 236/99 com oartigo 175.º do Estatuto dos Militares das For-ças Armadas (cfr. também os artigos 191.º e54.º do referido Estatuto) é de concluir que, daprevisão do n.º 1 do artigo 10.º do Decreto-Lein.º 236/99, estão excluídos todos os militaresque não estejam no activo.

II — Estando o recorrente — capitão-tenente(SE) — na situação de reserva desde momentoanterior à entrada em vigor do Decreto-Lein.º 236/99, não pode este ser promovido aoposto de capitão-de-fragata, nos termos do n.º 1do citado artigo 10.º

Acórdão de 16 de Novembro de 2000Processo n.º 3800/99

Helena Maria Ferreira Lopes (Relatora) — AnaPaula Soares Leite Martins Portela — AntónioFerreira Xavier Forte.

Regulamentos autónomos — Admis-sibilidade — Estatuto Político-Admi-nistrativo da Região Autónoma daMadeira

I — Em face do disposto no anterior artigo115.º, n.º 7 (e actual 112.º, n.º 8), da Constitui-ção só são admissíveis regulamentos autónomosquando baseados numa lei anterior expressa-mente habilitante em termos objectivos e subjec-tivos.

II — A alínea d) do artigo 49.º da Lei n.º 13/91, de 5 de Junho (Estatuto Político-Administra-tivo da Região Autónoma da Madeira), não con-tém os requisitos mínimos de lei habilitante daPortaria n.º 107/96, de 19 de Julho, na medidaem que não prevê a regulamentação da matérianela concretamente regulada.

Acórdão de 2 de Novembro de 2000Processo n.º 210/97

António de Almeida Coelho da Cunha (Rela-tor) — Carlos Evêncio Figueiredo Rodrigues deAlmada Araújo — José Cândido de Pinho.

Page 50: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

364 BMJ 501 (2000)Tribunal Central Administrativo

Nulidade da sentença [artigo 668.º,n.º 1, alínea b), do Código de ProcessoCivil] — (In)constitucionalidade don.º 2 do artigo 69.º da Lei de Processonos Tribunais Administrativos —Acção para reconhecimento de direitoou interesse legítimo — Idoneidadedo meio processual usado; Decreto--Lei n.º 81-A/96, de 21 de Junho —Resolução do Conselho de Ministrosn.º 23-A/97, de 14 de Fevereiro —Carácter oficioso e obrigatório dosprocedimentos administrativos aíprevistos

I — Não enferma da nulidade prevista noartigo 668.º, n.º 1, alínea b), do Código de Pro-cesso Civil a decisão que, embora sem obedecerao esquema do artigo 659.º, n.º 2, do mesmoCódigo, não deixou de apontar factos que en-quadram os fundamentos da decisão.

II — Sempre que a tutela do direito a que ointeressado se arroga possa ser efectivamenteassegurada pela interposição do recurso con-tencioso, a acção para reconhecimento de direitoou interesse legítimo não é o meio processualidóneo para atingir aquele fim.

III — A norma constante do n.º 2 do artigo69.º da Lei de Processo nos Tribunais Adminis-trativos, desde que interpretada no sentido pro-posto (n.º II deste sumário), não viola o dispostonos artigos 268.º, n.º 3, 268.º, n.º 4, e 268.º,n.º 5, todos da Constituição (versões de 1982,1989 e 1997, respectivamente).

IV — O Decreto-Lei n.º 81-A/96, de 21 deJunho, e a Resolução do Conselho de Ministrosn.º 23-A/97, de 14 de Fevereiro, vieram estabe-lecer um regime excepcional para regularizar asituação jurídica do pessoal que, em situaçãoirregular, satisfazia necessidades permanentesdos serviços da Administração Pública.

V — A finalidade dos procedimentos estabe-lecidos nestas medidas legislativas é a de «repora legalidade num Estado de direito democráticoe de tornar mais saudável a política de pessoalda função pública» (vide preâmbulo do Decreto--Lei n.º 81-A/96). Daí que, por imperativo legalos procedimentos administrativos aí previstostenham carácter oficioso e obrigatório.

VI — E tratando-se de procedimentos oficio-sos em que, naturalmente, impera o interessepúblico, a lei não prevê expressamente, naque-les procedimentos, a intervenção dos agentes acontratar.

VII — O n.º 5 da Resolução do Conselho deMinistros n.º 23-A/97, de 14 de Fevereiro, pre-vê, no entanto, a possibilidade de o pessoal quenão tenha sido objecto de pedido de celebraçãode contrato «recorrer dessa situação para oSecretário de Estado da Administração Pública,no prazo de 10 dias a contar da data da afixaçãodas listas nominativas em cada local de traba-lho, a ter lugar, obrigatoriamente, até 31 de Marçode 1997».

VIII — Este «recurso» para o Secretário deEstado da Administração Pública não confi-gura, no entanto, um «recurso administrativo»,nos termos dos artigos 158.º e seguintes do Có-digo do Procedimento Administrativo nem um«requerimento» que implique a prática de umacto administrativo por parte da entidade paraquem se «recorre».

IX — Na verdade, a resolução do Conselhode Ministros, sendo um mero diploma regula-mentar, não cria, nem pretendeu criar, uma novainstância de decisão. Do «recurso» previsto non.º 5 da resolução, o interessado apenas poderáesperar que o Secretário de Estado da Adminis-tração Pública desencadeie oficiosamente dili-gências no sentido de conseguir a resolução dasua «situação». E isto porque sempre teria quehaver um pedido dos serviços e do ministro datutela para a autorização da sua contrataçãopor despacho conjunto do Ministro das Finan-ças e do ministro que tiver a seu cargo a funçãopública.

X — Em todo este procedimento, podemos,pois, concluir que o acto administrativo princi-pal é a autorização ministerial conjunta para acelebração do contrato.

XI — Há, contudo, um outro acto adminis-trativo que define a situação jurídica do interes-sado em termos de autoridade. É esse acto odespacho do dirigente máximo do serviço (ar-tigo 6.º do Decreto-Lei n.º 81-A/96, de 21 deJunho) pelo qual se reconhece que o pessoal emserviço não desempenha funções que corres-pondem a necessidades permanentes dos servi-ços. Trata-se de um acto final do procedimento

Page 51: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

365 Tribunal Central AdministrativoBMJ 501 (2000)

para o pessoal em causa, na medida em quedefine em termos de autoridade a sua não inclu-são na lista nominativa a afixar no local de tra-balho (cfr. n.º 5 da Resolução do Conselho deMinistros n.º 23-A/97). Estaríamos, aqui, peran-te uma verificação ou avaliação constitutiva, ouseja, perante um verdadeiro acto administrativo.

XII — Tendo a recorrente (autora) lançadomão da acção para reconhecimento de direitoou interesse legítimo, a fim de ver reconhecido odireito de que se arroga em ser readmitida aoserviço da recorrida (ré) com a categoria quepossuía em 10 de Janeiro de 1996, ao abrigo

Custos de exercício — IRC — Fac-tura

Nos termos do artigo 23.º do CIRC, só seconsideram custos do exercício, os que compro-vadamente foram indispensáveis para a rea-lização dos proveitos ou ganhos ou para amanutenção da fonte produtora.

Embora não observando todos os requisitosdo artigo 35.º do CIVA, a factura pode, aindaassim, relevar para efeitos de IRC, nomeada-mente quando a realização efectiva do custo fi-cou provada por outro meio de prova legalmenteadmissível.

Acórdão de 21 de Novembro de 2000Recurso n.º 3360/2000

Joaquim Casimiro Gonçalves (Relator) — Joséda Ascensão Nunes Lopes — José Gomes Correia.

Embargos de terceiro — Posse —Direito de retenção

I — Quando o promitente-comprador obtéma entrega da coisa prometida comprar à dataem que efectua o contrato-promessa de comprae venda, ou em data anterior à da escritura pú-blica, apenas adquire o corpus possessório, pas-sando a ser um mero detentor, não dispondo de

posse nem de outra situação merecedora de tu-tela possessória.

II — Os embargos de terceiro, intentados pelopromitente-comprador, neste caso, estão conde-nados ao fracasso.

III — O direito de retenção incidente sobrefracção autónoma em que houve tradição parao promitente-comprador confere a este o direitodo seu crédito, resultante de incumprimento im-putável à outra parte, ser pago, com preferênciasobre os demais credores, mesmo que o registoda hipoteca seja mais antigo.

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso n.º 3863/2000

Eugênio Martinho Sequeira (Relator) — MariaCristina Gallego dos Santos — José Carlos deAlmeida Lucas Martins.

IRC — Liquidação — Métodos indi-ciários — Fundamentação e sua noti-ficação — «Actos massa»

I — A fundamentação de um acto tributário,que visa esclarecer o seu destinatário das ra-zões que levaram a administração fiscal à suaprática, não se confunde com a sua notificação,sendo que esta, ainda que irregular, não contendecom a legalidade daquele.

do Decreto-Lei n.º 81-A/96, de 21 de Junho, enão resultando do processo instrutor qualqueracto administrativo (cfr. ponto II do sumário) deque a autora pudesse interpor recurso conten-cioso, terá forçosamente que se concluir que omeio processual usado é o meio adequado à de-fesa dos seus direitos.

Acórdão de 9 de Novembro de 2000Processo n.º 3882/2000

Helena Maria Ferreira Lopes (Relatora) — AnaPaula Soares Leite Martins Portela —AntónioFerreira Xavier Forte.

I I

SECÇÃO DO CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO

Page 52: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

366 BMJ 501 (2000)Tribunal Central Administrativo

II — A liquidação em IRC, porque feita cente-nas de milhares de vezes em cada ano, constitui«um acto massa» e, porque assim é, tudo acon-selha a que não se exija de tais actos o mesmorigor formal que se deve exigir dos outros actosadministrativos que se destinam a situações es-pecíficas individualizadas.

III — Deste modo, e desde que seja clara aidentificação da entidade que praticou o acto eque o modo como essa prática ocorreu não setraduz em qualquer diminuição de garantias docontribuinte deve concluir-se pela sua legali-dade.

Acórdão de 22 de Novembro de 2000Recurso n.º 25 389

Costa Reis (Relator) — Brandão de Pinho —Vítor Meira.

IRC — Rendimentos de capitais —Substituição tributária — Responsa-bilidade

I — A entidade substituta que não tenha pro-cedido a legal retenção do IRC é responsável atítulo subsidiário pelo imposto devido — con-forme se alcança da redacção dada pelo De-creto-Lei n.º 267/91, de 6 de Agosto, ao n.º 2 doartigo 96.º do Código do IRS (aplicável ao IRC,por remissão do n.º 6 do artigo 75.º do Códigodo IRC).

II — Nesta hipótese, o devedor origináriosubstituído, titular do rendimento tributável, é oresponsável principal.

III — A liquidação de IRC, na medida em quenão se conforme com estes ditames, padece deilegalidade, determinante da sua anulação.

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso n.º 295/97

Jorge Lino Ribeiro Alves de Sousa (Relator) —Eugénio Martinho Sequeira — José Carlos deAlmeida Lucas Martins.

Impugnação judicial — Contribuiçãoautárquica — Sujeição — Caravana/Roullote

I — O conceito de prédio para efeitos de inci-dência da contribuição autárquica é mais vastoque face ao Código Civil, abrangendo os móveispor natureza, quando afectos a fins não transi-tórios.

II — Uma caravana/roullote instalada numparque de campismo durante mais de dez anos,sempre no mesmo local e sempre destinada aomesmo fim — de habitação durante o Verão parao gozo do período de férias do seu proprietá-rio — não se pode considerar afecta a um fimtransitório, preenchendo todos os requisitos desujeição a contribuição autárquica.

Acórdão de 21 de Novembro de 2000Recurso n.º 2685/99

Eugênio Martinho Sequeira (Relator) — Antó-nio Francisco de Almeida Calhau — José Maria daFonseca Carvalho.

Métodos indiciários para apuramentoda matéria tributável em sede deIVA — Amostragem

I — A utilização da amostragem para efeitosde determinação da matéria tributável para efei-tos de IVA, por métodos indiciários, implica queas amostras utilizadas sejam reflexo da popula-ção donde são retiradas, devendo ser justificadaa razão da escolha das amostras.

II — Não pode aceitar-se como válida umaamostragem que pretende determinar a margemde lucro, utilizando amostras aleatoriamenteescolhidas e sem que elas reflictam o preço e asquantidades dos produtos que constituem o vo-lume de negócios do contribuinte, e se limita asomar o lucro obtido em cada uma dessas amos-tras, dividindo o total pelo número de amostras.

Acórdão de 14 de Novembro de 2000Recurso n.º 3395/2000

João António Valente Torrão (Relator) — JoséCarlos de Almeida Lucas Martins — Joaquim Pe-reira Gameiro.

Page 53: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

367 Tribunal Central AdministrativoBMJ 501 (2000)

Oposição — Tribunal de revista —Artigo 13.º do Código de ProcessoTributário — Responsabilidade sub-sidiária — Gerência de direito —Gerência de facto — Presunções

I — O Supremo Tribunal Administrativo,como tribunal de revista, nos processos inicial-mente julgados pelos tribunais tributários de1.ª instância e relativamente à fixação da maté-ria factual, tem unicamente os poderes que lhesão conferidos pelo artigo 722.º, n.º 2, do Có-digo de Processo Civil.

II — Não há qualquer disposição legal queconfira ao julgador a possibilidade de presumiro exercício da gerência de facto fundado apenasna prova da gerência de direito e, sendo assim,não se pode concluir que o revertido é gerente defacto só porque se considerou que este não lo-grou provar esse não exercício.

III — Deste modo, e sendo obrigatório umjuízo claro acerca daquela gerência, este só sepode fundar na prova efectivamente produzida edeve resultar do conjunto dos factos que foramdemonstrados.

Acórdão de 8 de Novembro de 2000Recurso n.º 24 890

Costa Reis (Relator) — Brandão de Pinho —Vítor Meira.

Recurso de contra-ordenação — Faltade consciência da ilicitude na nãodeclaração das gorjetas auferidaspelos empregados dos casinos comorendimentos do trabalho dependente

I — Do artigo 17.º do Código Penal, ao textuarque «age sem culpa quem actuar sem consciên-cia da ilicitude do facto, se o erro lhe não forcensurável», decorre a possibilidade de uma faltade consciência da ilicitude não censurável que severificará sempre que o engano ou erro da cons-ciência ética, que se exprime no facto, não sefundamente em qualidade desvaliosa e juridica-mente censurável da personalidade do agente.

II — Sobre a rectitude da conduta e ou dadesculpabilidade do erro quanto à obrigato-

riedade da declaração das gorjetas dos empre-gados dos casinos como rendimentos do traba-lho aponta o arguido e é aceitável à luz dosprincípios expostos, o apoio da doutrina expres-sa pelos juristas universitários, bem como dealguma jurisprudência tirada sobre tal matéria,que manifestamente afasta a culpa do arguido(mesmo na forma de negligência cuja presunçãoé ilidida pelo valor científico dos juristas que sepronunciaram já pela inconstitucionalidade).

Acórdão de 7 de Novembro de 2000Recurso n.º 2254/99

José Gomes Correia (Relator) — JoaquimCasimiro Gonçalves — José da Ascensão NunesLopes.

Trabalhador residente na Alemanhapor mais de 183 dias no ano de 1996 —IRS do ano de 1996 — Convençãocelebrada entre Portugal e Alemanhadestinada a evitar a dupla tributação(Lei n.º 12/82, de 3 de Junho)

I — De acordo com a Convenção celebradaentre o Estado Português e a República Federalda Alemanha e aprovada, para ratificação, pelaLei n.º 12/82, de 3 de Junho, os rendimentosobtidos de um emprego por um residente de umdos Estados contratantes, emprego esse exer-cido nesse Estado, são tributados nesse Estado.

II — Sendo o recorrido residente na Alema-nha por mais de 183 dias no ano de 1996, alitendo a sua habitação permanente e ali tendosido tributado pelos rendimentos de emprego aliexercido, não pode o Estado Português tributaros mesmos rendimentos em sede de IRS desseano, mesmo tendo o recorrente em Portugal oseu agregado familiar que aqui auferiu rendi-mentos sujeitos a IRS.

Acórdão de 14 de Novembro de 2000Recurso n.º 3991/2000

João António Valente Torrão (Relator) — JoséCarlos de Almeida Lucas Martins — Joaquim Pe-reira Gameiro.

Page 54: Sumários dos acórdãos Supremo Tribunal Administrativo I

368 BMJ 501 (2000)Tribunal Central Administrativo

Transmissão de imóvel — Tributaçãoem IRS — Acto isolado de naturezacomercial

I — Há lugar a tributação em IRS, na catego-ria G sobre mais-valias, se o bem imóvel trans-mitido não foi adquirido para revenda, pois seassim for, o ganho assume a configuração delucro imputável a um acto isolado de comércio,sendo então tributado em IRS pela categoria C.

II — A configuração do acto isolado de natu-reza comercial exige que o particular actue se-gundo o regime de empresa, por associação de

dois ou mais factores de produção, em ordem àobtenção de um rendimento que, isoladamente,nenhum dos factores poderia produzir e à seme-lhança da actividade comercial de mediação en-tre a oferta e a procura e de acrescentamento devalores às coisas adquiridas para tal fim.

Acórdão de 21 de Novembro de 2000Recurso n.º 2695/99

Maria Cristina Gallego dos Santos (Relatora) —João António Valente Torrão — Joaquim CasimiroGonçalves.