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A Zona PortuÆria do Rio de Janeiro: antecedentes e perspectivas.

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2

FERNANDO FERNANDES DE MELLO

Título

A Zona Portuária do Rio de Janeiro: antecedentes e perspectivas.

Dissertação de Mestrado

Orientador: Tamara Tania Egler

IPPUR. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

Março de 2003.

3

A Zona Portuária do Rio de Janeiro: antecedentes e perspectivas.

Fernando Fernandes de Mello

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Instituto

de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da

Universidade Federal do Rio de Janeiro � UFRJ, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em

Planejamento Urbano e Regional.

Orientador: Prof. Dr. Tamara Tania Egler

Doutor em Planejamento Urbano e Regional/USP.

Rio de Janeiro

2003

4

A Zona Portuária do Rio de Janeiro: antecedentes e perspectivas.

Fernando Fernandes de Mello

Dissertação submetida ao corpo docente do instituto de Pesquisa e Planejamento

Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro � UFRJ, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.

Aprovado por:

___________________________________

Prof. Tamara Tania Egler � Orientador (Doutora em Planejamento Urbano /USP)

___________________________________

Prof. Fania Fridman (Doutora em Economia Política/ Universidade de Paris VIII)

___________________________________

Prof. Mauro Kleiman (Doutor em Planejamento Urbano /USP) ___________________________________ Prof. José Almino de Alencar (Doutor em Sociologia /Universidade de Chicago)

Rio de Janeiro

Março 2003

5

Aquele abraço Esta dissertação vai para os meus filhos João e Pedro; para minha mãe e meu pai

(in memorian); para meus irmãos, Tita, Bia e Edu; e para Lia, companheira de

muitos anos.

Aproveito o espaço para agradecer e mandar aquele abraço para:

Tiara e Cida, Gusmão e Paula, amigos sempre presentes;

Saad, Duca, Walter, Augusto Ivan, Ernani e Sonia, colegas arquitetos;

professores, amigos e companheiros do IPPUR, turmas de 99 e 2000, em especial

minha orientadora Tamara, pela força;

Beth e Manoel, pela constante presença junto ao João;

Athaíde e a amiga Maria Antonia, pelo estímulo e generosidade;

Jaderson, Suzana, Lula e companheiros do Centrovida, pelas mudanças

ilimitadas;

as instituições que, de alguma forma, contribuíram para viabilizar este trabalho:

INT- Instituto Nacional de Tecnologia, Abóboda, Museu Imperial de Petrópolis, GT

do Plano Diretor do IPEC-Fiocruz e Instituto Pereira Passos.

6

� ...Ou vontade, a proposta veio de Joaquim Sassa, Ou inteligência, acrescentou

Joana Carda, Ou história, e este remate foi de José Anainço, Pedro Orce não

tinha qualquer sugestão a fazer, limitara-se a perguntar, quem julgue que isto não

é o mais fácil está muito enganado, não tem conta o número de respostas que

está a espera das perguntas.�

José Saramago.

7

Sumário 14

Introdução 16

Capítulo 1

Porto Do Rio De Janeiro: Processos Históricos

1.1 Origens da Zona Portuária 18

1.1.1 A Comissão de Melhoramentos da cidade do Rio de Janeiro 33

Capítulo 2

O Estado na Transformação da Zona Portuária

2.1 Antecedentes 41

2.2 Políticas urbanas no Porto do Rio de Janeiro

2.2.1 O porto na Reforma Pereira Passos 43

2.2.2 Década de vinte 53

2.2.3 O Plano Agache 55

2.2.4 De 1930 a 1960 57

2.2.5 O Plano Doxiadis 59

2.2.6 O Plano Urbanístico Básico do Rio de Janeiro 61

2.3 Esvaziamento e deslocamento das funções portuárias 64

17

Capítulo 3

A Ocupação Atual Do Espaço. Fundo do quintal

3.1 Caracterização � O uso social do espaço 72

3.2 A estrutura espacial e barreiras físicas e institucionais 75

3.3 Percurso Moinho Fluminense �Quarteirão Institucional

Aproximação metodológica 82

3.4 Análise dos imóveis situados na quadra institucional 86

Capítulo 4

PORTO DO RIO - O Plano de Recuperação e Revitalização da Zona Portuária

do Rio de Janeiro

4.1 O Projeto 104

4.2 Análise do Plano 108

CONCLUSÕES

Revisitando a política urbana no Rio de Janeiro. 129

Para uma política social na Zona Portuária 133

Referências Bibliográficas 135

Anexos 139

Capa: Foto aérea da Região Portuária com a delimitação da área prioritária extraída do Plano de Recuperação e Revitalização da Zona Portuária, IPP, 2001.

18

Lista das ilustrações - Capítulo 1

Figura 1: Ender,Thomas, 1817, BN. Vista da pedra da Prainha, um obstáculo à ligação pela orla

entre a Prainha e a praia do Valongo em início do século XIX. Retirado de �Saúde, Gamboa , Santo

Cristo�, p.32.

Figura 2: Plano e terreno da cidade do Rio de Janeiro, 1779, BN. A cidade velha cresceu dentro de

um quadrilátero delimitado pelos Morros do Castelo(HC), Santo Antônio(FE), São Bento(L), e

Conceição(M). No litoral noroeste estão identificados a Prainha, o Valongo, a praia de N. Sra. da

Saúde , a Gamboa, as ilhas dos Cães e dos Melões e a Bica dos Marinheiros. Retirado de �Saúde,

Gamboa, Santo Cristo�, p.20.

Figura 3: Vilhena, Luis dos Santos, 1775. Da direita para a esquerda, o mosteiro de São Bento; o

forte da Conceiçãoe o Palácio Episcopal; a marinha da cidade e atual Praça XV. A implantação das

igrejas em alguns locais ajudou a orientar o crescimento urbano. Retirado de �Saúde, Gamboa,

Santo Cristo �, p. 20.

Figura 4: Planitz, barão de 1832/38, vista do Saco da Gamboa, vendo-se ao fundo o Morro do

Livramento e á direita a elevação que se constitui no Morro da Gamboa. Retirado de �Saúde,

Gamboa ,Santo Cristo�, p.54.

Figura 5: Pustkov, Frederico, c. 1840. A praia da Saúde que recebia aterros com a construção

de novos cais e armazéns. Retirado de �Saúde, Gamboa, Santo Cristo�, p.55.

Figura 6: Fotografia de 1866, reproduzida por A. Malta. Vista do Morro da Gamboa tomada do

Morro da Providência, observando-se a imensa ocupação nas abas desses morros voltadas para

o litoral. Retirado de �Saúde, Gamboa, Santo Cristo�, p.75.

19

Figura 7: Frond, Vítor, 1858, Col. Paulo Geyer. No litoral norte da cidade � Saúde/ Gamboa/Saco

do Alferes � Concentrou-se o comércio com o interior do país. Retirado de �Saúde, Gamboa, Santo

Cristo�, p. 58.

Figura 8: Escadaria do Jardim do Valongo, em direção a R. Camerino mostrando os diversos

acessos existentes entre os morros da região. Foto do Autor, maio de 2001.

Figura 9: Ferrez, Marc, c.1903.Vista tirada do Sumaré. O Mangue e a Cidade Nova e parte de São

Cristóvão vistos do Sumaré quando se construía o Cais do Porto e se prolongava o Canal do

Mangue. Retirado de �O Rio antigo do fotógrafo Marc Ferrez�, p.184.

Lista das ilustrações - Capítulo 2

Figura 10: Avenida Rodrigues Alves, s/d., Col. Elysio Belchior. Com seus 40 metros de largura, a

Av. Rodrigues Alves, afora a Av. Francisco Bicalho, era a mais larga do Rio. Retirado de �Saúde,

Gamboa, Santo Cristo�, p.120.

Figura 11: Av. Presidente Vargas, s/d., Col. Henrique Smolka. Para a abertura deste eixo

monumental foram derrubados cerca de 500 prédios e quatro igrejas centenárias. Esta via isolou

os bairros portuários do restante da cidade. Cardoso,1987, p.133.

Figura 12: Pátio ferroviário da Enseada da Gamboa, foto do autor em maio de 2001.

20

Lista das ilustrações - Capítulo 3

Figura 13: Vista aérea da Zona Portuária, c.1960. AGCRJ. No lado direito, a curva da Rua

Sacadura Cabral, limite entre a área antiga e a aterrada. No centro, vê-se os prédios interligados

do Moinho Fluminense, a Praça da Harmonia e o prédio da Polícia Militar. Retirado de �Saúde,

Gamboa, Santo Cristo�, p. 136.

Figura 14: Ladeira da Providência, esquina com Rua Sacadura Cabral, fotografia do autor em maio

de 2001.

Figura 15: Armazéns na esquina da Rua Equador com a Av. Prof. Pereira Reis, Gamboa.

Fotografia do autor, em maio de 2001.

Figura 16: Largo da Prainha, fotografia do autor, em maio de 2001.

Figura 17: Pedra do Sal, fotografia do autor em maio de 2001.

Figura 18: Mapa da situação fundiária na Zona Portuária. Docas e Rede Ferroviária são as grandes

proprietárias das áreas na região. Retirado do Projeto de Revitalização da área portuária elaborado

pelo IPP.[2001].

Figura 19: Moinho Fluminense, fotografia do autor em maio de 2001.

Figura 20: Moinho Fluminense, fotografia do autor, maio de 2001.

Figura 21: Antigo galpão situado na esquina entre a Rua Souza e Silva e a Av. Venezuela.

Figura 22: Avenida Barão de Tefé, vendo-se ao fundo a torre da Central e à direita o Morro da

Providência, fotografia do autor em maio de 2001.

Figura 23:Vista da Av. Barão de Tefé, fotografia do autor em maio de 2001.

Figura 24: Vista do galpão pela Av. Venezuela, fotografia do autor em maio de 2001.

Figura 25: Vista da Av. Venezuela, fotografia do autor em maio de 2001.

21

Figura 26: Vista da Pró- Matre, pela Av. Venezuela, fotografia do autor em maio de 2001.

Figura 27: Edifício comercial e de serviços, na Av. Venezuela, fotografia do autor em maio de 2001.

Figura 28: Edifício de comércio e serviços na Av. Venezuela, fotografia do autor em maio de 2001.

Figura 29: Edifício da Frota Oceânica, fotografia do autor em maio de 2001.

Figura 30: Vista do edifício do IAPETC em maio de 2001, fotografia do autor em maio de 2001.

Figura 31: Vista da fachada do edifício, mostrando as péssimas condições de manutenção.

Fotografia do autor em maio de 2001.

Figura 32: Vista do Instituto Nacional de Tecnologia, fotografia do autor em maio de 2001.

Figura 33: Vista aérea do prédio da Polícia Federal, fotografia do autor , em maio de 2001.

Figura 34: Vista interna do prédio da Polícia Federal, fotografia do autor, em maio de 2001.

Figura 35: Vista do trecho com frente para a Av. Venezuela, com visão do Morro da Conceição e

ACN, fotografia do autor, em maio de 2001.

Figura 36: Vista da fachada do prédio da Receita Federal, fotografia do autor em maio de 2001

Figura 37: Vista da Av. Rodrigues Alves, fotografia do autor em maio de 2001.

Figura 38: Vista do imóvel da ONG Cidadania, mostrando ainda o estacionamento existente

na R. Coelho e Castro. Ao fundo o Hospital dos Servidores do Estado. Fotografia do autor em

maio de 2001.

22

ANEXOS:

Anexo 1: Mapa da Zona Portuária no século XIX.

Retirado de �Saúde, Gamboa, Santo Cristo�, p.38.

Anexo 2: Sistema viário atual. Retirado do Plano de Recuperação e Revitalização

da Zona Portuária, Instituto Pereira Passos, 2001.

Anexo 3: Localização dos imóveis no quarteirão institucional. Sobre planta da

cidade, restituição do levantamento aerofotogramétrico realizado em 1976,

Secretaria Municipal de Urbanismo.

Anexo 4: Vagas /estacionamentos. Contagem realizada pelo autor em abril de

2001.

Anexo 5: Propostas para ligação entre os prédios da Zona Portuária, utilizando a

linguagem arquitetônica característica das pontes sobre as ruas. Do autor.

Anexo 6: Desmontes e aterros na área central da cidade. Retirado de �Morro da

Conceição: da memória o futuro�, P22.

23

Resumo

A Zona Portuária do Rio de Janeiro: antecedentes e perspectivas.

Esta dissertação se propõe a analisar a evolução na ocupação da Zona Portuária

do Rio de Janeiro, sua articulação com o núcleo urbano e também avaliar as

intervenções realizadas pelo poder público no século XX: o Plano Agache, o Plano

Doxiadis, o PUB-RIO e a proposta atual da Prefeitura para revitalização da área.

Procuramos compreender a dinâmica dessa região, que cristalizou momentos

importantes na história da cidade, tanto no aspecto socioeconômico, como na

representação e imagem das relações sociais. O Rio de Janeiro foi a sede dos

poderes constituídos durante longo período de sua história e, o fato de possuir

uma localização privilegiada e ser importante pólo de intercâmbio comercial e

marítimo, teve com o seu porto uma relação vital.

Realizamos um percurso pela quadra cujos imóveis pertencem à União, como

resultado do processo de apropriação dos espaços provenientes dos aterros

necessários às obras de construção do porto, para se fazer uma leitura da

espacialidade atual. Analisamos a oferta de áreas no centro metropolitano,

associadas às obras públicas de porte, como os desmontes dos Morros do

Castelo e de Santo Antônio, a abertura da Av. Pres. Vargas, e o abandono da

Região Portuária como resultado desse mecanismo, associado às mudanças

tecnológicas no Porto.

24

Figura 13: Ender, Thomas, 1817, BN. Vista da pedra da Prainha, um obstáculo à ligação pela orla entre a Prainha e a praia do

Valongo em início do século XIX. Retirado de �Saúde, Gamboa, Santo Cristo.�, p.32.

INTRODUÇÃO

Para entender a formação da Zona Portuária interessa apresentar uma evolução

do processo espacial que conformou a urbanização desta parcela do território

carioca. O objetivo é caracterizar esta região como resultado do crescimento

urbano, cuja ocupação se deu paralelamente ao desenvolvimento da cidade, como

um somatório e entrelaçamento de forças e contra forças atuantes no tempo e no

espaço.

25

Pretendemos estudar as tipologias de ocupação e funções das edificações

existentes com o objetivo de se compreender as articulações dos diversos grupos

sociais no tecido urbano, e avaliar as transformações dos usos sociais do espaço.

É nosso objetivo explicitar que esta aproximação histórica não se constitui em

pesquisa inédita da história do Rio de Janeiro, mas uma revisão bibliográfica ,

acrescida de uma abordagem analítica, procedimento importante para mim na

compreensão do espaço urbano, ou seja, a diversidade de imagens físicas e

sociais, cristalizadas no presente.1

O estudo da Região Portuária, a partir da análise da evolução histórica da sua

espacialidade, pretende identificar os diversos momentos de transição

importantes, e associa-los às transformações nos processos sociais ocorridos e

cristalizados na imagem urbana do Rio de Janeiro. A utilização de fotos, mapas e

desenhos neste trabalho se propõe a reforçar o entendimento das questões

urbanas pela riqueza de informações desta linguagem gráfica.

1Vários estudos clássicos tem sido consagrados à evolução urbana do Rio de Janeiro; numa abordagem da Geografia da cidade, com Alberto Lamego( O Homem e a Guanabara), Eduardo C. Barreiros (Atlas da Evolução Urbana da cidade do Rio de Janeiro, 1965), Lysia Maria Cavalcanti Bernardes (Evolução da Paisagem Urbana do Rio de Janeiro até o início do século XX, 1959), e Maurício Abreu (Evolução Urbana do Rio de Janeiro, 1987); nos seus aspectos quase iconográficos, como os livros de João do Rio, Lima Barreto, Olavo Bilac e outros, e a leitura setorial através de análises específicas e de infra-estrurura, como Brasil Gerson (História das Ruas do Rio, 1965), Noronha Santos (Meios de Transportes do Rio de Janeiro, 1934) e Charles Dunlop (Subsídios para a história do Rio de Janeiro, 1957). Acresce-se a produção acadêmica, particularmente na região portuária com Sérgio Tadeu de Niemeyer Lamarão (Dos Trapiches ao Porto, 1991), Jaime Larry Benchimol (Pereira Passos, um Haussman Tropical, 1992.), Fania Fridman( Donos do Rio em Nome do Rei, 1999) , Elisabeth D. Cardoso e outros, além de Ferrez, Vieira Fazenda, Gastão Cruls, Vivaldo Coaracy,, Max Fleiuss e Moreira de Azevedo com uma abordagem historiográfica da recuperação de antigos documentos e crônicas da cidade.

26

O desafio proposto é realizar uma leitura da espacialidade do lugar, identificando

as áreas de propriedade da União, suas condições atuais e possibilidades de

ocupação futura por uso socialmente justo.

PORTO DO R IO DE JANEIRO, PROCESSOS HISTÓRICOS

1.1 ORIGENS DA ZONA PORTUÁRIA

Desde o início da ocupação da Baía de Guanabara e fundação da cidade do Rio

de Janeiro por Estácio de Sá em 1565, teve essa região características mais do

que propícias para a atividade econômica e portuária, devido às suas condições

climáticas e geográficas adequadas, aliadas à extrema exuberância das terras

circundantes.

Essas características já tinham conquistado os franceses com a intenção de

estabelecer aqui a França Antártica, atraídos pelas riquezas e posição estratégica

da baía. Segundo Fridman (1999; p.87): � a fundação da cidade de São Sebastião

do Rio de Janeiro(...), deveu-se, a questões de segurança e de defesa de

território, pois não havia uma política de povoamento, mas uma empresa para a

exploração das riquezas comerciais das terras conquistadas por parte da Coroa

Portuguesa.�

27

As facilidades desse trecho do litoral nos seus aspectos de exploração do

comércio, nas atividades extrativistas de madeiras, especialmente do pau brasil,

especiarias e pimentas, e animais silvestres, �tinham na baía um porto de águas

tranqüilas favorável ao seu desenvolvimento , como centro de negócios e núcleo

de articulação com a sede do poder colonial.� (Gerson,2000, p.6). A cidade nasce

como Porto.

A estabilização do povoamento a partir da dominação e pacificação dos nativos, e

seu conseqüente crescimento, aliada à doação de vastas sesmarias aos índios e

colonos nos arredores, fez com que as atividades comerciais e portuárias se

consolidassem inicialmente entre os Morros do Castelo e de São Bento, onde as

condições de sobrevivência eram mais propícias.

Esse núcleo centralizava as relações comerciais com o hinterland carioca, que

compreendia as diversas localidades situadas às margens dos trinta e três rios

que desaguam na Baía de Guanabara, além daqueles que pertenciam às zonas

rurais próximas e já se dedicavam à economia açucareira, de subsistência e às

atividades puramente extrativistas. As águas da baía foram o grande suporte para

este trânsito mercantil entre o núcleo e o seu entorno.

No mesmo período cristalizou-se a atividade portuária mais elaborada no Porto

dos Padres da Companhia, com ancoradouro, guindaste e armazéns para o sal,

óleo de peixe e outras mercadorias, protegidos por fortificações na Praia D.

Manuel, atrás da ponta do Calabouço. Ao mesmo tempo, para aí deslocava-se

28

parte do centro econômico, administrativo e religioso da futura cidade. Conforme

Santos(1968), no início do século XVII a população se fixa nesse entorno ao porto,

quando foi permitida a expansão do aldeamento ao longo do litoral.

Figura 14: Plano e terreno da cidade

do Rio de Janeiro, 1779, BN. A

cidade velha cresceu dentro de um

quadrilátero delimitado pelos Morros

do Castelo(HC), Santo Antônio(FE),

São Bento(L), e Conceição(M). No

litoral noroeste estão identificados a

Prainha, o Valongo, a praia de N.

Sra. da Saúde , a Gamboa, as ilhas

dos Cães e dos Melões e a Bica dos

Marinheiros. Retirado de � Saúde,

Gamboa, Santo Cristo�, p. 20.

Ao longo deste primeiro século, a cidade cresceu em direção do Morro de São

Bento, pelo eixo da Rua Direita (atual Primeiro de Março), conformando a futura

ocupação como um quadrilátero delimitado pelos Morros do Castelo, Santo

Antônio, Conceição e São Bento.

As proximidades da área conhecida como Prainha, atual Praça Mauá, acrescidas

das encostas do Morro da Conceição foram a expansão dos arrebaldes do núcleo

29

urbanizado do Morro do Castelo. Fridman (op.cit.) sugere que esta hipótese de

expansão refere-se ao processo de ocupação dos vazios entre as propriedades

religiosas, principalmente nos baixios dos morros, em função da importante

presença das ordens da igreja no desenvolvimento da cidade.

Dessa forma, consideramos que esta conformação intra morros foi o resultado da

primeira fase de expansão da cidade, da fundação ao final do século XVII, apesar

da pequena área no seu núcleo no Morro do Castelo ser urbanizada, e o seu

entorno ocupados de forma rarefeita.

Durante a primeira metade do século XVIII, o que hoje conhecemos por área

portuária não foi adensada, devido principalmente à sua ocupação por chácaras.

Próximas ao centro, em amplos terrenos, eram, na época, exploradas como

atividade agrícola para abastecimento do núcleo.

A transferência da capital da colônia portuguesa de Salvador para o Rio de Janeiro

em 1763, �em conseqüência do importante papel desempenhado pela cidade no

circuito das trocas no interior da economia mercantil, acelerou enormemente seu

processo de urbanização. Lagoas e brejos que dificultavam a expansão do Rio

começaram a ser dessecados�(Cardoso, et al,1987,p.27).2

30

A expansão das atividades portuárias da cidade, devido ao intenso movimento de

mercadorias e escravos a partir também da exploração das minas de ouro nas

Geraes, propiciou um início de especialização do território, na medida em que

essas atividades foram paulatinamente sendo transferidas para �as enseadas que

gozavam de bons ancoradouros, mais abrigados que os do Castelo e aonde

diversos trapiches se estabeleceram no correr do século XVIII,� (Bernardes,

1962)3. Contribuiram para esta ocupação as condições geográficas adequadas,

como a existência de encostas não muito íngremes, o que permitiu a rápida

expansão das construções urbanas nessa faixa costeira.

Segundo Noronha Santos, �muito antes de 1800 (...), no litoral entre a Prainha e a

Saúde, principiou a ter notável crescimento a edificação, instalando-se aí

depósitos e armazéns de produtos agrícolas e industriais (importados). Ocuparam-

no pela mesma época armadores e traficantes de escravos, pescadores e

embarcadiços.�4

O cais do Valongo transformou-se no pólo central do comércio de escravos a partir

da transferência do mercado da área central da cidade (R. Direita). O tráfico gerou

várias externalidades no que se refere às atividades econômicas, tais como um

sistema de transporte marítimo entre o Valongo e outros bairros, a fabricação de

2 Em seu Extractos de Manuscriptos sobre Aforamentos, Restier Gonçalves afirma que �no século XVIII, toda a região litorânea do reconcavo � desde a Prainha até São Cristóvão � estava ocupada por vastas chácaras com moradias confortáveis. Importante roças cobriam os valládos e montes � notadamente os cannaviáes de São Diogo, ainda batido pelo mar. Capellas e ermidas coroavam os outeiros�. Em �Saúde, Gamboa, Santo Cristo�, p. 25. 3 Bernardes citado por Cardoso, Elisabeth D. et al., 1987: p. 27. 4 Noronha Santos, citado por Cardoso, Elisabeth D. et al., 1987: p. 27.

31

objetos de ferro destinados a prisão e tortura dos escravos, armazéns depósitos

para os negros recém chegados da África, e até um cemitério. A lucratividade

dessa empreitada gerou também várias obras de melhoramentos urbanos como o

aterro de mangues para a ampliação das áreas secas, a abertura de ruas para

facilitação das condições de tráfego no entorno ao mercado e principalmente, a

Rua do Livramento, que ligava a Saúde a Gamboa, possibilitando a ocupação

desta nova área. 5

Com a vinda da Família Real para o Brasil e a Abertura dos Portos às Nações

Amigas, em 1808, o processo de urbanização e desenvolvimento da Saúde, da

Gamboa, do Saco do Alferes e da praia Formosa ampliou-se. Durante o século

XIX as chácaras foram sendo divididas em lotes urbanos e vários logradouros

públicos foram criados. A crescente atividade portuária do local dinamizou a

ocupação dos morros e planícies de toda a área circunvizinha, criando as

condições para a posterior formação dos três bairros vinculados à atividade

portuária: Saúde, Santo Cristo e Gamboa.

5 � O surgimento de uma certa especialização espacial das atividades econômicas e comerciais acabou empurrando, ainda no século , para o litoral da Prainha e da Saúde, algumas atividades portuárias que ainda se desenvolviam, na sua maior parte, no trecho da costa compreendido entre os Arsenais de Marinha e de Guerra�. Cardoso, Elisabeth D. et al.,1987, p. 27.

32

Figura 15: Vilhena, Luis dos Santos, 1775. Da direita para a esquerda, o mosteiro de São Bento; o forte da Conceiçãoe o Palácio

Episcopal; a marinha da cidade e atual Praça XV. A implantação das igrejas em alguns locais ajudou a orientar o crescimento urbano.

Retirado de �Saúde, Gamboa, Santo Cristo.� p. 20.

Da fundação da cidade até o momento, podemos perceber o processo de

crescimento urbano. No início, a partir da necessidade de sobrevivência física: de

defesa do território e de subsistência. A partir dos primeiros momentos da

colonização e do crescimento econômico e populacional, surge a necessidade

constante de apropriação de novos espaços. Esta apropriação se dá de várias

formas, em função dos arranjos sociais correntes em cada momento histórico. Na

Zona Portuária, desde os primeiros movimentos urbanos, apreende-se que sua

articulação com o núcleo é de uma área destinada a comportar usos mais

periféricos, de características menos nobres, ou seja, vinculados à questão da

escravidão e seus desdobramentos, aos depósitos de mercadorias, às tabernas e

oficinas, aos trapiches e atividades ligadas ao porto, e a uma população também

periférica e marginalizada porém fundamental ao processo de manutenção e

crescimento da cidade.

8

Tornado ilegal o tráfico de escravos ainda na primeira metade do século XIX, o

Valonguinho, o Valongo e a Gamboa adquiriram as mesmas características

portuárias da Prainha, com seus armazéns e seus trapiches de exportação e

importação.

Figura 16: Planitz, barão de, 1832/38. Vista do Saco da Gamboa, vendo-se ao fundo o Morro do Livramento e à direita a elevação que se constitui no Morro da Gamboa. Retirado de � Saúde, Gamboa, Santo Cristo.�, p.54. O adensamento populacional e o crescimento das atividades econômicas gerou

desdobramentos nos mecanismos de ocupação, como as divisões das sesmarias

em chácaras, depois em lotes, com as construções de chalés, �em busca dos

bons ares � e posteriormente, transformando-se em cortiços e casas de cômodos,

abrigando uma população cada vez maior, com condições higiênicas cada vez

mais problemáticas. O porto esteve sempre ligado à insalubridade da cidade ,

como porta de acesso das freqüentes epidemias que por aqui chegavam.

Outro momento de transformação importante nos aspectos de urbanização e

ocupação deu-se com o desenvolvimento nos embarcadouros do litoral que se

9

estendiam da Prainha à Gamboa, graças à instalação dos armazéns para a

exportação de café. Os antigos ocupantes foram sendo despejados ao mesmo

tempo em que as pontes de atracação construídas no século anterior eram

substituídas por grandes armazéns, feitos sobre áreas aterradas, com a

colaboração de proprietários na execução das obras, em contrapartida à utilização

dos terrenos resultante desses aterros.6

Figura 17: Pustkov, Frederico, c. 1840. A praia da Saúde que recebia aterros com a construção de novos cais e armazéns. Retirado de � Saúde, Gamboa, Santo Cristo.�, p. 55.

Nesse período, as atividades industriais como fundição, serralheiras, ferragens e

artefatos de vidro, além das madeireiras e serrarias começam a caracterizar esse

espaço como de suporte industrial às atividades portuárias e urbanas, atingindo

uma dimensão mais que local, vista a crescente expansão urbana da cidade. 7

Sua articulação com o núcleo se dá pelas sucessivas aberturas de novas ruas,

alargamentos, subdivisão das chácaras em lotes com seus respectivos novos

6 A iniciativa oficial promoveu vários benefícios à expansão da cidade, como abertura de novas ruas e iluminação pública. O desenvolvimento da cidade, em função de novas articulações entre os bairros, também estimulou essa ocupação. 7 Segundo Noronha Santos, �muito antes de 1800(...), no litoral entre a Prainha e a Saúde, principiou a ter notável crescimento a edificação, instalando-se aí depósitos e armazéns de produtos agrícolas e industriais (Importados). Ocuparam-no pela mesma época armadores e traficantes de escravos, pescadores e embarcadiços� Apud Cardoso,1987, P. 29.

10

arruamentos, aterros e paralelamente, a inclusão de novas frentes de expansão

urbanas, principalmente no eixo do mangal de São Diogo (atual Av. Pres. Vargas)

e nos meados do século XIX, a Avenida Beira Mar em direção à zona sul. A cidade

continua seu processo de expansão, e experimenta um grande crescimento.

Outros edifícios na região portuária e ferroviária reforçam essa tendência de

diversidade de usos, como o Colégio Pedro II, na Rua Larga de S. Joaquim,

negócios de cocheira e depósito de carros, entre outros.

.

11

Os loteamentos realizados na época das chácaras situadas nos morros, já

indicavam uma tendência à ampliação dos espaços adequadas a moradias,

sendo estes bairros cada vez mais procurados devido a variáveis como

proximidade com o centro, salubridade e �boa vista�. Foram dessa forma

assumindo as feições que apresentam hoje, com sua ocupação em encostas,

ladeiras em degraus e becos.

Figura 18: Fotografia de 1866, reproduzida por A. Malta. Vista do Morro da Gamboa tomada do Morro da Providência, observando-se a imensa ocupação nas abas desses morros voltadas para o litoral. Retirado de �Saúde, Gamboa, Santo Cristo� p.75

Um exemplo da diversidade de acontecimentos na área é citado por Gerson: �foi

no Valongo (...), que em 1843 saltou, de uma galeota de toldo de damasco verde e

ouro, a princesa da casa reinante de Nápoles, Teresa Cristina de Bourbon, para

casar com o jovem Pedro II. Para isso foi transformado por Grandjean de Montigny

na primeira praça monumental d o Rio, a antiga Municipal, agora Barão de Tefé. O

12

cortejo encaminhou-se para o Paço pela Rua do Valongo logo denominada da

Imperatriz e por último do Camerino�.8

Figura 19: Frond, Vítor, 1858, Col. Paulo Geyer. No litoral norte da cidade � Saúde/ Gamboa/Saco do Alferes � Concentrou-se o

comércio com o interior do país. Retirado de �Saúde, Gamboa, Santo Cristo�, p. 58.

Em torno de 1850, foi inaugurada a praça da Harmonia (atual Praça Coronel

Assunção), e nas proximidades instalou-se o segundo Mercado Municipal da

cidade; o primeiro era no largo do Paço. Este fato demonstra a potencialidade das

atividades econômicas locais, aliadas à diversidade nos usos e ocupações das

populações desses bairros. Aparentemente a cidade passava por processos

diversos de ocupação e hierarquização do espaço a partir do movimento portuário

e estes acontecimentos servem para caracterizar a importância dessa região no

contexto da estrutura urbana como um todo. Estas características perduraram

8 Ao tempo do vice-rei, Marques do Lavradio(1769-1779), informa Bernardes, �os brejos praianos do Valongo foram dessecados com a abertura de uma rua espaçosa em lugar da azinhaga por onde passavam para as suas chácaras os habitantes da Saúde, Gamboa e Saco do Alferes�. Citado por Cardoso, Op. Cit. p 28.

13

durante a segunda metade do século XIX, consolidando a espacialidade da Zona

Portuária da cidade do Rio de Janeiro.

Conforme Kessel:

�o ano de 1851, logo após a extinção do tráfico, pode ser

considerado como o ponto de inflexão a partir do qual se estruturam

as condições para a aceleração do progresso técnico e a expansão

econômica do país, com a fundação de sociedades anônimas, do

segundo Banco do Brasil, a inauguração da primeira linha telegráfica

e da primeira estrada de ferro, marcando a ascensão de novas

estruturas tecnológicas e econômicas que vão beneficiar os

financistas e engenheiros preparados para enfrentar os novos

tempos. Estas mudanças estão estreitamente ligadas às

transformações ocorridas na economia internacional, em fase de

expansão impulsionada pelas novas técnicas de construção,

comunicação e transportes; e articulam-se com a importância que vai

adquirindo o engenheiro em contraposição ao bacharel burocrata,

funcionário do Estado oligárquico e patriarcal.� ( Kessel,2001, p.26).

Este momento coincide com uma série de propostas de diversos grupos

capitalistas para melhorias e novos projetos portuários com cais, molhes,

armazéns, aterros, maquinarias para carga e descarga, etc.

14

Em 1852, criou-se uma primeira comissão para estudo do alinhamento entre os

cais da Marinha e de Guerra, para construção da Doca da Alfândega. Desta

comissão fazia parte como diretor das obras o engenheiro André Rebouças, que

recomendou a ampliação dos seus 644m iniciais para um cais de 5600m. Esta

nova doca seria construídas nas enseadas da Saúde e Gamboa, incluindo a

instalação de um ramal ferroviário da ferrovia D. Pedro II e de um dique de

reparação de navios. Segundo Cardoso (Op. cit., p.82),� Em 1870 foi autorizada a

organização das Docas D. Pedro II. Em 1871 foram inauguradas as obras.�

A obra foi concluída em 1875, limitada �ao cais entre o beco da pedra do Sal e a

Praça Municipal, hoje barão de Tefé, com 160m de extensão, a duas pontes de

madeira encimadas por galpões e ao armazém n° 5, com três pavimentos.�

O crescimento constante das atividades portuárias, em função do incremento do

volume de negócios no Rio de Janeiro, repercutiu fortemente na urbanização das

regiões próximas (Campo de Sant�Anna), devido às necessidades de

desapropriações decorrentes da implantação das linhas ferroviárias em direção

aos sertões cariocas e fluminenses. Os acessos entre o porto e a ferrovia se

davam principalmente pela R. Camerino e R. de S. Diogo, contornando o Morro

da Providência, antes da abertura do caminho de Santa Teresa, atual Marquês de

Sapucaí e R. da América. Essas vias de ligação transformaram-se em ruas

comerciais e também de apoio ao tráfego das carroças que faziam o percurso

entre os terminais ferroviário e marítimo, com oficinas de construção e consertos

de carros, e de certo modo ampliando o uso residencial de renda mais baixa com

os cortiços, as vilas, estalagens e casa de cômodo. As pedreiras existentes nos

15

morros haviam sido suporte para toda essa operação urbana, e desde o início dos

aterros e construções, acompanhavam essa dinâmica de expansão além de

fornecer pedras de cantaria para as edificações na época.

Figura 20: Escadaria do Jardim do Valongo, em direção a R. Camerino

mostrando os diversos acessos existentes entre os morros da região. Foto do

Autor, maio de 2001.

Para melhor entendimento das

transformações ocorridas nesse espaço

urbano, é importante observar o percurso

entre o atual terminal ferroviário e a Praça

Mauá, respectivamente pelas Ruas Barão

de São Félix, Camerino e Sacadura Cabral.

A tipologia urbana, no que se refere aos lotes e edificações é bastante

semelhante, inclusive compartilham do fato dessas ruas serem todas nos

sopés dos Morros da Providência e da Conceição. Acreditamos que esse

trecho realmente tenha sido utilizado por muito tempo no transporte de

mercadorias entre os terminais marítimo e ferroviário, conforme análise

anterior, pois até hoje se apresenta como importante via de ligação entre essas

duas regiões da cidade.

16

No período entre 1850 e 1875 são apresentados vários projetos para intervenção

em toda a orla da cidade, sendo mais intenso este movimento em duas frentes: no

cais da Alfândega e nos prolongamentos a partir do largo da Prainha na direção da

Gamboa. Os mecanismos de financiamento destas obras passavam pela

constituição de Companhias que, a partir de projetos de melhorias e de

infraestrutura urbanas, negociavam concessões com o Poder Público para

exploração por um determinado período, remunerando os investidores, na época

chamados capitalistas, frequentemente pessoas próximas aos estamentos

decisórios, ou vinculadas a instituições financeiras internacionais, como bancos e

seguradoras. Além dos grupos privados interessados nestes mecanismos, havia

dentro do próprio governo questões relativas à melhor forma de se gerirem os

investimentos públicos, conforme Lamarão 9.

Dessa forma não eram incomuns alguns embates entre grupos como o de André

Rebouças e o do engenheiro Henry Law, em 1858, na concepção técnica das

obras de construção do cais da Alfândega, no centro da cidade.10

1.1.1 A Comissão de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro

Em 1874, foi nomeada pelo ministro do Império João Alfredo Correia de Oliveira a

Comissão de Melhoramentos da Cidade, integrada pelos engenheiros Jerônimo

9 LAMARÃO, op.cit. p.77. 10 � Somente nos primeiros anos da década de 1870 foram apresentadas pelo menos sete propostas de obras portuárias, todas voltadas para a vertente marítima central, entre os arsenais de Marinha e de Guerra.�. Op. cit., p. 77 .

17

Morais Jardim, Marcelino Ramos da Silva e Francisco Pereira Passos. Dentre as

onze questões tratadas como propostas, estava a portuária. No entanto, o

entendimento da referida comissão designava o Canal do Mangue como eixo dos

melhoramentos projetados, considerado como vetor de expansão na direção da

Cidade Nova, acrescido dos bairros de São Cristóvão, Engenho Velho e Andaraí.

O Canal deveria ser desobstruído e recuperado. A orla nas encostas do Morro de

São Diogo havia se transformado em pântanos em função do processo de

ocupação da cidade e da ausência de coleta de lixo e esgotos, e deveria ser

aterrado.

Para melhor entendermos as ligações existentes entre estes atores urbanos e

suas articulações nos vários momentos da cidade e do seu desenvolvimento

urbano, cito Kessel,11:

� O início do envolvimento de Carlos Sampaio com a remodelação

urbana do Rio de Janeiro veio em 1887, quando foi convidado pelo

engenheiro Luís Raphael Vieira Souto, detentor de uma concessão

de 1879, para executar o projeto de arrasamento do morro do

Senado, cuja terra seria utilizada para aterrar a extensa área

compreendida entre o morro de são Diogo e o morro da Gamboa,

unindo ao continente as ilhas dos Melões e das Moças e fazendo

desaparecer as praias Formosa, das Palmeiras e o Saco do Alferes.�

18

Figura 21: Ferrez, Marc, c.1903.Vista tirada do Sumaré. O Mangue e a Cidade Nova e parte de São Cristóvão vistos do Sumaré

quando se construía o Cais do Porto e se prolongava o Canal do Mangue. Retirado de O Rio antigo do fotógrafo Marc Ferrez. 1984

É importante salientar que, apesar de Vieira Souto concordar com a necessidade

de se �sanear a cidade, sufocada pelas epidemias,� foi o maior crítico dos planos

alinhavados pela Comissão, principalmente com relação à área prioritária para

implantação - a região do Mangue e não a região central da cidade. As críticas

foram impressas no Jornal do Commercio no final de 1875 e também referiam-se

aos aspectos sanitários, estéticos e nas dimensões e escala das obras.

Parte destas críticas foram absorvidas nos desdobramentos dos projetos, sendo o

de maior relevância a modificação na extensão do cais entre a ilha das Moças e

São Cristóvão. Segundo Lamarão(1991, p.27):

11 Op. cit. p. 27. Carlos Sampaio seria o prefeito da cidade quando do desmonte do Morro do Castelo, e realização das obras para as comemorações do centenário da Independência.

19

� ...Do grandioso esquema de obras propostas pela comissão,

naquilo, que teria constituído o primeiro plano urbanístico do Rio de

Janeiro, pouco ou quase nada foi levado à prática, pelo menos a

curto prazo. Apenas o ramal ferroviário e a estação marítima tiveram

seguimento, por iniciativa do próprio Pereira Passos, embora

construídos num outro trecho da costa e com um outro tipo de

vinculação à ferrovia. Quanto à Vieira Souto, seu projeto acabou

sendo aprovado anos depois.(...) A autorização, contudo, acabou não

redundando em nada de concreto�

Neste final do século XIX, a evolução urbana do Rio de Janeiro tem como vetor

importante do seu processo a implantação de sistema de transporte coletivo

através de bondes e trens, qualificando o espaço da cidade nas zonas sul e

suburbana, incorporando e reestruturando as áreas da periferia do núcleo

histórico.

Algumas imagens urbanas se apresentam neste momento. O Rio de Janeiro

mantinha características da estrutura fundiária colonial, com casas e sobrados

construídos sobre lotes compridos e estreitos, em ruas desalinhadas, quase sem

infraestrutura sanitária e com grande número de cortiços e casas de cômodos. O

crescimento da população era vertiginoso, tendo praticamente dobrado de 1870 a

1890, chegando a meio milhão de habitantes, e a mais de 810.000 em 1906.

20

Como grande parte desse contingente orbitava em torno do núcleo central, as

condições eram extremamente insalubres.12

Ao mesmo tempo, a dinâmica urbana, nos seus aspectos de vitalidade comercial e

empório de toda uma região, proporcionava as oportunidades de trabalho para a

população local e a migrante, aumentando as dificuldades de habitação e de

saneamento. Segundo Cardoso (1987, p. 91),�o desenvolvimento de toda uma

ampla gama de atividades econômicas na área provocou o interesse em ocupar

terras até então inutilizáveis.�

A incorporação de novos sítios à área urbana se dá pela expansão dos sistemas

de transportes e intensificação dos aterros, principalmente no saco de São Diogo

(Cidade Nova), e nos bairros do Catumbi, Estácio e Andaraí, na expansão dos

trilhos dos bondes.

Este foi um período de grandes modificações na cidade como um todo e

particularmente na Região portuária, com a concretização de projetos de inserção

urbana em parte de espaços anteriormente afastados da trama viária central.

Podemos citar a evolução nos sistemas de transportes coletivos, com o

crescimento nas linhas de bonde e incorporação dos espaços adjacentes aos

bairros do Porto, como a Vila Guarani na Praia Formosa e os projetos de abertura

de túneis para ligação entre as docas e o sistema ferroviário.

12 �Em 1870, a febre amarela voltou a fustigar o Rio de Janeiro, causando 1118 óbitos. Em 1873 e 1876, ocorreram duas epidemias (...),com 3659 e 3476 mortes respectivamente. Reacenderam-se as discussões em torno

21

A maior parte destes terrenos estava edificada por construções destinadas às

classes trabalhadoras. Segundo Benchimol,� Até as reformas urbanas executadas

no início do século XX, a crise habitacional esteve sempre radicada nos limites da

cidade velha e suas imediações � ou a área central do Rio de Janeiro � onde

habitava e residia grande parte da classe trabalhadora.�(1990, p. 28).

Fisicamente, na leitura do espaço edificado observamos que a cidade desenvolve

um arruamento e os lotes na periferia do centro histórico, com um padrão de

ocupação bastante semelhante, na Zona Portuária, passando pelo Catumbi, Lapa,

Glória e Catete. É o Rio de Janeiro �a pé�, com suas fachadas em cantaria de

pedra, afastadas ou não nas divisas, eventualmente com alguns sobrados e

chalés entremeados por vilas e avenidas. Este padrão se repetiria nos vetores de

expansão para a Zona Norte e Sul da cidade, paralelamente à implantação do

sistema de bondes.13 Ainda hoje existem bons exemplos desta tipologia urbana

nestes bairros, reforçando a percepção do processo de crescimento entrelaçado

com as dinâmicas urbanas de ocupação do espaço.14

Conforme Abreu(1997, p.41):

do saneamento da capital.� Benchimol, op cit, p.137. 13 BENCHIMOL, 1990, p. 239-243. 14 Alguns imóveis desta tipologia, dependendo do bairro onde se encontram, possuem alto valor imobiliário pelas características de singulariedade dos métodos construtivos, e qualidade do espaço e arquitetura interna, além da flexibilidade na ocupação por novos usos. O projeto do �Corredor Cultural� , na área do SAARA, estimulou a preservação destes imóveis como um exemplo de revitalização em área com tendências à esvaziamento.

22

�Os vestígios desse tipo de ocupação são visíveis até hoje nas áreas

que conseguiram sobreviver às cirurgias urbanas. São prédios

estreitos e muito profundos, �onde a iluminação é feita através de

clarabóias e áreas internas, sempre de frente para a rua e colados

uns aos outros�, em tudo revelando a preocupação de aproveitar

intensamente o espaço próximo ao centro, numa época em que,

devido á inexistência de transportes coletivos rápidos, a cidade

praticamente andava a pé.�15

Resumindo, o período de transição da Monarquia para a República foi de enormes

impactos quanto à questão da crise habitacional, de circulação de mercadorias e

pessoas, de esgotamento do modelo escravista e seus desdobramentos, em

suma, um momento importante para a cidade.

As administrações no início do século XX, notadamente a de Pereira Passos teve

papel fundamental na construção do novo desenho da cidade e determinou a

forma preponderante que o Estado assumiria daí em diante na intervenção e

renovação desses espaços e, simbolicamente, fez esta transição ser mais do que

a simples reforma, transformando-a em paradigma do papel da municipalidade na

gestão da coisa pública. Vale notar que a maior parcela das reformas era no

15 Abreu, M. op. cit. p 41, apud Soares, Maria Therezinha Segadas. Fisionomia e Estrutura do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Geografia 27(3), julho/setembro.1965,p.360.

23

âmbito do Governo Federal, mas foi incorporada como sendo a Reforma Pereira

Passos.16

Desde o início do século XX, durante quase vinte anos, o Rio de Janeiro

experimentou um processo de modernização e crescimento através de um

conjunto de obras que se caracterizou por uma intensa relação entre os serviços

públicos e o capital externo. Essa modernização, que incluiu um novo sistema de

transportes públicos, com a implantação de ônibus e bondes elétricos, gerou uma

necessidade de remodelação formal da cidade para se adequar aos novos

padrões socioeconômicos da época.

16 A Prefeitura era cargo de confiança do Governo Federal, através de nomeação, sem necessidade de eleições, confirmando a sintonia existente entre as duas esferas de governo.

24

Capítulo 2

O Estado na Transformação da Zona Portuária

2.1 Antecedentes

O objetivo deste capítulo é apresentar um resumo de propostas existentes para a

cidade do Rio de Janeiro e seus desdobramentos na Zona Portuária,

principalmente aqueles que tiveram dimensões mais que locais, assumindo um

aspecto de Plano Diretor. Foram selecionados os planos encomendados pelo

setor público, e o objetivo desta leitura é compreender a visão da administração

sobre este trecho da cidade, as propostas existentes na época de feitura destes

planos, e as ferramentas de intervenção elencadas.

Segundo Vera Rezende(1982, p.31):

�o Plano Diretor está vinculado ao planejamento racional ou

compreensivo e, portanto, pressupõe um conhecimento completo do

objeto de estudo e uma implementação perfeita por parte dos órgãos

executores do plano(...).O objetivo é que o objeto seja totalmente

reduzido a leis e teorias, para que não aconteçam surpresas e o

planejamento alcance os seus objetivos. Além disso qualquer

comportamento que não se enquadre nas leis estabelecidas vai ser

considerado um desvio dotado de irracionalidade.�

25

Um plano como esse programa alterações desejadas nos usos dos espaços e do

equipamentos urbanos sempre visando alcançar a cidade ideal, sem problemas de

habitação e congestionamento de trânsito. Supõe, também, que as vidas dos

habitantes da cidade são determinadas pelo entorno físico e, no seu determinismo

físico, acredita ser capaz de modificar o homem através da transformação do

ambiente. O plano diretor procura fazer crer que a cidade é um conjunto de

construções e usos do solo que podem ser arranjados e rearranjados, através de

planejamento, sem levar em conta os determinantes políticos, sociais e

econômicos. Seu objetivo maior seria reorganizar o espaço urbano e minimizar os

conflitos. Há, no entanto, contradições nesta elaboração conceitual, na medida em

que a alocação de recursos por parte do Poder Público consolida e enfatiza

desigualdades sociais que se cristalizam nas diversas ocupações do espaço

urbano.

Continuando, à página 32:

�As comunidades ou unidades em que é dividida a cidade não

refletem áreas organizadas naturalmente por grupos sociais e, como

conseqüência, muitas vezes é ignorada a formação espontânea de

bairros existentes. Os processos comuns de mudança como �invasão

e sucessão� são também deixados de lado na tentativa de ignorar a

mobilidade residencial e, se possível, controlá-la.�

Esta aproximação do que é um plano diretor, traduz de forma clara a prática de

planejamento que os órgãos públicos imprimem às cidades, sob o aspecto da

26

intervenção física no espaço urbano, que pode ser lido nos grandes projetos e

ações cirúrgicas implantadas no primeiro quarto do século XX. Já não são mais as

articulações entre o poder público e os capitais na questão das concessões de

serviços urbanos, mas uma ação de expectativas orientadas para determinados

objetivos .

O Estado propõe ações que qualificam o espaço, selecionando e segregando

estamentos sociais em detrimento de outros grupos, contribuindo para a

conformação da cidade e de sua dinâmica, através de uma ação de intervenção

física que prioriza a construção do espaço urbano.

2.2 POLÍTICAS URBANAS NO PORTO DO RIO DE JANEIRO

2.2.1 O porto na Reforma Pereira Passos

Como vimos anteriormente, na virada do século o Rio de Janeiro vivenciava

profundas mudanças sociais, políticas e econômicas. A cidade passava por

intensa crise habitacional devido ao insuficiente numero de moradias disponíveis

no mercado para as camadas de baixa renda oriundas do meio rural, devido à

abolição da escravatura, e atraídas pelo processo de industrialização e

crescimento da cidade, incluindo aí o setor informal de trabalho. Além da questão

�onde morar ?�, era um grande problema o �como morar ?�, dadas as péssimas

condições de higiene e salubridade dos bairros cariocas, principalmente aqueles

27

ligados à região portuária. Pelo porto chegavam as grandes epidemias e havia a

necessidade de implantação de medidas de saneamento e �higienização� da

área.17

A história da Zona Portuária atual se confunde com a primeira renovação urbana

de porte do Rio de Janeiro. No contexto das reformas realizadas pelo Prefeito

Pereira Passos no início do século XX, o novo porto foi construído pelo Governo

Federal entre 1903 e 1910, como parte importante da intervenção física e

urbanística implementada. Desse plano faziam parte a criação da Avenida Central,

a Avenida Francisco Bicalho e o canal do Mangue, e pela Administração Municipal

a ligação da Zona Sul ao Centro pela Avenida Beira Mar, a integração de

Copacabana ao espaço urbano pela abertura dos túneis Novo e do Pasmado, a

Avenida Mem de Sá com o término do desmonte do morro do Senado, além de

obras menores e complementares como o alargamento, para 17 m, das ruas Frei

Caneca, Assembléia, Uruguaiana, Carioca, e Visc. De Rio Branco; para 24 m, as

17 Em 1900, o Rio se convulsiona com as greves dos trabalhadores em calçados, cocheiros e estivadores contra a carestia da vida. Segundo Darcy Ribeiro, como sempre, a polícia do lado dos patrões e porrada na turma. RIBEIRO, Darcy.1985, p. 18. �Neste mesmo ano, o Governo Federal cria no Rio de Janeiro o Instituto Soroterápico - futuro Oswaldo Cruz, vulgo �Manguinhos� � destinado a realizar pesquisas de biologia médica, preparar vacinas e realizar estudos de epidemiologia. Seu diretor, célebre sanitarista, criador do �exército de mata- mosquitos�, contou com a colaboração de grandes cientistas, como Carlos Chagas, Rocha Lima, Miguel Couto, Adolfo Lutz, H.B. de Aragão e Arthur Neiva.� �Em 1903, Oswaldo Cruz, nomeado diretor-geral da saúde pública do Rio de Janeiro, se entrega à tarefa gigantesca de sanear a cidade. Era tempo. Sucessivos surtos epidêmicos de cólera matam milhares de pessoas anualmente; a febre amarela apavora a população e os navios estrangeiros se negavam a parar no porto do Rio de Janeiro; a varíola arrasava, matando e enfeiando. (RIBEIRO, D. op.cit., ítem 65). � A criação deste Instituto terá grande impacto nos acontecimentos urbanos na década seguinte. Podemos citar a crescente disposição das autoridades da administração da cidade em intervir no tecido urbano com a justificativa de ventilar e desobstruir o núcleo histórico.

28

ruas Estreita de S. Joaquim e Visc. de Inhaúma, e, para 14 m, a Rua Mariz e

Barros.18

Os pontos mais importantes da reforma, nos aspectos de intervenção física do

espaço, objetivavam o saneamento básico, o reordenamento e ampliação da

estrutura de transportes da cidade, a drenagem de águas pluviais e o

reaproveitamento do solo urbano, e nas questões administrativas, investimentos

na educação pública, ampliação no atendimento médico e melhoramentos dos

serviços a cargo da Prefeitura.

�O monumental projeto de renovação voltava-se prioritariamente

para as zonas antigas e centrais da cidade, constituindo-se o novo

porto no eixo gerador do conjunto de melhoramentos. Além das obras

de modernização do porto, a cidade foi sacudida pelo alargamento,

pelo prolongamento e pela abertura de novas ruas em áreas

densamente ocupadas, que implicaram a demolição de cerca de

2.000 prédios e o desalojamento de dezenas de milhares de

pessoas.�(Cardoso,1987, p.100).

A característica importante da proposta do novo porto, é o fato de ser um aterro

executado como projeto de intervenção urbana, o que definiu sua tipologia de

ocupação e das estruturas viária e fundiária. A faixa de solo criada com o aterro

18 Segundo Abreu, ...�alargaram-se também as ruas Treze de Maio, Acre, Camerino, Sete de Setembro, São José, Ramalho Ortigão, e muitas outras. Note-se que , na maioria dos casos, a prefeitura desapropriava mais prédios do que aqueles necessários para o alargamento das ruas . Visava com isto a venda dos terrenos remanescentes (e

29

destinado à construção do cais do porto foi utilizada para a implantação de

edificações com atividades ligadas direta ou indiretamente ao porto com uso

mercantil e industrial.19

Complementando esta intervenção, foram construídas duas largas avenidas

interligadas: a Rodrigues Alves, ao longo do cais, e a Francisco Bicalho, às

margens do canal. Este desenho urbano, em processos distintos quanto à sua

forma e processo resultou na imagem contrastante existente até hoje, delimitada

claramente pela R. Sacadura Cabral20 , de um lado a cidade dos morros e dos

lotes estreitos e do outro com o projeto cartesiano de loteamento e arruamento

dos aterros. O financiamento das obras, através de empréstimos ingleses

diretamente à União, transformou as áreas aterradas em propriedades públicas

cedidas por concessão, para atividades privadas ou institucionais.

Segundo Benchimol,

�..., a modernização do porto pelo governo federal foi, de certo modo,

o �eixo� das reformas urbanas empreendidas na capital. Decorria de

uma contradição básica � econômica e material � na esfera da

circulação: a estrutura portuária existente não correspondia mais às

agora valorizados) após o término das obras, ressarcindo-se assim de grande parte dos seus custos.� Op. Cit.pag.61. 19 Mapas em anexo. 20 �O projeto de melhoramentos para a área preservava os equipamentos existentes: o Trapiche Mauá (Prainha), as Docas Pedro II, a Estação Marítima da Ferroviária, o Moinho Fluminense e o Inglês com seus cais, um dique do Lóide Brasileiro junto ao Morro da Saúde e um cais de 160 m na Gamboa.� Cardoso, op.cit.,1987.

30

exigências do capital, no que concernia ao volume, à composição e à

velocidade do movimento de importação-exportação de mercadorias

(entre as quais, para efeito desta análise, inclui-se a mercadoria

�força de trabalho�, trazida pelos imigrantes estrangeiros).21

No conjunto das reformas empreendidas por Passos, e como elemento de ligação

entre a orla da zona sul e o porto, realizou-se a abertura da Avenida Central. Foi,

por sua vez, a obra mais importantes em termos de melhoramentos urbanísticos,

para transformar a antiga e doente urbe colonial numa metrópole moderna e

cosmopolita, símbolo de uma �cidade civilizada�, imagem construída da capital da

república. Com efeito, o rápido crescimento da economia do país, e, em

particular, do Rio de Janeiro, aliado à intensificação das atividades de produção,

circulação e integração da economia no contexto capitalista internacional, exigiam

uma urbanização que deveria condizer com o novo movimento de organização

social pelo qual passava o país. A reforma Passos, com seus principais

desdobramentos no centro histórico, teve dois eixos de intervenção: o controle da

circulação e o controle urbanístico.22

Segundo Neves(1996), o controle da circulação,

� que visava a melhoria das comunicações internas e externas da

cidade, materializou-se na construção do novo porto (necessário a

todo o processo de exportação e importação de mercadorias) e na

21 op. cit. p. 239.

31

abertura e alargamento de eixos urbanos internos que modificaram os

gradientes de acessibilidade de diversas partes da cidade,

estimulando a desconcentração urbana, que solucionariam o

problema logístico do controle da área central.� 23

O controle urbanístico, por sua vez, ocorreu através de normatizações � leis,

regimentos, regulamentos, editais, e portarias, sem a participação do poder

legislativo, pois Passos governou sobre decretos que regulamentavam a questão

da construção habitacional e a proibição de melhorias e reformas nos cortiços

existentes.

O Estado como agente responsável pela gestão do urbano vem para valorizar as

necessidades de utilização do espaço pelos setores capitalistas. Podemos ler

essa representação na construção da Avenida Central, onde observamos um

processo de expropriação e segregação de setores sociais populares em

benefício de outros grupos de origem empresarial, principalmente na questão do

local de moradia.

Podemos considerar o período Passos como transformador da forma urbana

carioca, pois esta assumiu uma espacialidade inteiramente nova e favorável às

especificidades econômicas e políticas da época. Foi também um exemplo de

intervenção maciça por parte do Estado sobre o urbano, e caracterizou um

22 O tempo necessário para se descarregar um navio por batéis, transportar as mercadorias até os trapiches, e daí até os locais de comércio em carroças, por ruas mal conservadas e estreitas, com freqüentes acidentes, foi um dos motivos levantados pelos jornais e pela administração pública para justificar as reformas.

32

momento de intensa mobilidade social, devido ao fato de que grande número de

cortiços foram demolidos nos processos de alargamento das ruas do centro da

cidade, forçando a população a mudar-se para os subúrbios, pois não cabia mais

nas áreas agora valorizadas. É importante ressaltar que este processo de

exclusão aumentou a ocupação dos morros na periferia do centro histórico

(Providência, São Carlos, Santo Antônio e outros), por uma forma de habitação

popular característica do crescimento urbano deste século, e que hoje preenche

um terço da cidade que é a favela.24

O PORTO.

No discurso de posse de Rodrigues Alves em 1902, foi anunciada a importância

das questões ligadas ao porto, sendo definidas no orçamento de 1903 verbas para

os melhoramentos propostos.

Desde o final do século XIX, estava clara a necessidade de se investir na nova

imagem da cidade, em função de seu crescimento populacional significativo e dos

desdobramentos daí decorrentes. A República, o fim da escravidão, as levas

sucessivas de migrantes estrangeiros vieram acompanhadas de novos valores e

23 NEVES, Luis. Vazios urbanos na II R.ª, área central do Rio de Janeiro: identificação e decodificação. 24 Segundo diversas fontes, a favela da Providência foi formada nos últimos anos do século XIX. Parte de sua população era formada por soldados que combateram em Canudos, e parte, provavelmente, oriundas dos cortiços demolidos, como o Cabeça de Porco, em 1883. Esse cortiço era talvez o maior do Rio de Janeiro, com uma população de 4000 pessoas, e situava-se onde é hoje a entrada do Tunel João Ricardo. O nome �favela� refere-se a leguminosa existente nas áreas do sertão baiano e também nas encostas da Providência.

33

novos modos de vida. As propostas de renovação, através de medidas de impacto

implementadas com grande rapidez elaboradas pelos Governos municipal e

federal modificaram de maneira intensa os espaços da cidade.

A renovação, como citada anteriormente, envolveu as zonas antigas e centrais do

Rio, priorizando a área portuária como um dos pontos focais dos melhoramentos.

As obras, acrescidas da abertura da Avenida Central, ficaram a cargo do governo

federal, e as demais, de complementação do sistema viário, sob a

responsabilidade do município.

Segundo Sérgio Lamarão, a proliferação dos trapiches na Saúde e Gamboa,

acabou por definir esta localização como a mais adequada à construção do porto,

em detrimento do trecho compreendido entre os dois arsenais.

O projeto elaborado pela Comissão de Obras do Porto utilizou aquele

desenvolvido pela Empresa de Melhoramentos do Brasil em 1875. Seria um cais

contínuo desde o Arsenal de Marinha até a Ponta do Cajú, dividido em duas

seções: a primeira, até a ilha das Moças, para o serviço de navegação

internacional, ou de longo curso, e a segunda, da ilha das Moças até a ponta do

Cajú, chamado de cais sanitário, para as embarcações de cabotagem. Houve, no

entanto, modificações no traçado, retificando o alinhamento previsto inicialmente,

que acompanhava as sinuosidades do litoral. A modificação estabelecida implicou

em inúmeras demolições dos imóveis aí situados, além da ampliação nas áreas de

aterro das enseadas aí localizadas. A terra destinada a estes trabalhos foi

34

proveniente do arrasamento do morro do Senado, onde abriram-se diversas ruas,

e de parte do morro do Castelo, para a abertura da Avenida Central.

Figura 220: Avenida Rodrigues Alves, s/d., Col. Elysio Belchior. Com seus 40 metros de largura, a Av. Rodrigues Alves, afora a Av. Francisco Bicalho, era a mais larga do Rio. Retirado de �Saúde.Gamboa,Santo Cristo�, p.120.

Entre o cais projetado e a orla da praia, a distância variava entre

aproximadamente 25 e 400 metros, sendo que a faixa de 100 metros de largura a

partir do cais seria ocupada da seguinte forma:

.25 metros para o cais onde seria a atracação e para os guindastes elétricos e os

trilhos da Central do Brasil e Melhoramentos;

.25 metros para 17 grandes armazéns, casa de máquinas, guardamoria e edifícios

administrativos;

.50 metros para uma avenida (Av. do cais ou Rodrigues Alves), com construções

dando de frente para o mar.

Segundo Benchimol(1987, p.224):

35

�em novembro de 1906, ao fim do mandato

de Rodrigues Alves, inaugurou-se o

primeiro trecho do cais do porto, com 500m

de extensão, compreendendo parte da

Gamboa e a embocadura do canal do

Mangue. Em fins de 1907, estavam

concluídos 1465m de cais, mas só o

primeiro trecho possuía armazéns

provisórios para o serviço de cabotagem, no

qual o pessoal seria adestrado no manejo

dos aparelhos antes de passar ao serviço

da navegação internacional, sob a

fiscalização da Alfândega. A orla da Saúde

e da Prainha continuava repleta de pontes

de desembarque , que só poderiam ser

demolidas depois que boa parte do cais

estivesse pronta. A Walker prometia

entregar os 500m subsequentes até 31 de

dezembro de 1907, e o conjunto das obras,

em 1910.�

É importante salientar que , apesar das grandes dimensões das obras realizadas,

e dos inúmeros desdobramentos e impactos urbanos gerados, já em 1907 o

volume de mercadorias ultrapassava em 50% a estimativa original. Havia a

36

necessidade de expansão da linha de cais a partir do canal do Mangue em direção

ao Cajú. Apesar das constantes ameaças de colapso do sistema portuário, a

execução da segunda etapa das obras somente aconteceu em 1924, com

aproximadamente 1500m de extensão. O Porto do Rio de Janeiro foi inaugurado

oficialmente em 20 de julho de 1910 pelo presidente Afonso Pena, com 2700m em

vez dos 3500m projetados, restando o trecho entre o Arsenal de Guerra e as

Docas Nacionais, concluídas em 1911.

2.2.2 Década de vinte

Desde o início do século XX, durante quase vinte anos, o Rio de Janeiro

experimentou um processo de modernização e crescimento através de um

conjunto de obras que se caracterizou por uma intensa relação entre os serviços

públicos e o capital externo. Essa modernização, que incluiu um novo sistema de

transportes públicos, com a implantação de ônibus e bondes elétricos, gerou uma

necessidade de remodelação formal da cidade para se adequar aos novos

padrões socioeconômicos da época.

O Rio de Janeiro era então uma metrópole. Sua população com mais de um

milhão de habitantes, era atendida por 417 km de linhas de bondes e contava com

4.415 automóveis. Kessel(p.19), cita: �Dispunha de 50 cinemas, 9 teatros, 20

circos móveis e lia 24 jornais diários -14 matutinos e 10 vespertinos - além de 20

revistas semanais e 17 mensais. O intenso movimento comercial e financeiro era

atendido por 44 bancos e 46 companhias de navegação.�

37

Havia , na época, um intenso debate a respeito das comemorações dos cem anos

da nação, a se realizar em 1922. Por um lado, a administração procurava, com o

apoio da população, restabelecer o equilíbrio financeiro das contas municipais, e

por outro, eram cobradas iniciativas e eventos com o objetivo de se dotar o Rio de

Janeiro de �melhoramentos necessários�, para que a comemoração do centenário

se fizesse numa capital limpa, saneada , de bom aspecto, conforme noticiava o

Correio da Manhã (Kessel, op. cit., p.19).

Esta questão foi surpreendentemente solucionada com a demissão do prefeito Sá

Freire, defensor da primeira proposta, ou seja, a de equilibrar as finanças, e a

posse de seu substituto Carlos Sampaio, que convidou um antigo colaborador, o

eng. Vieira Souto para ser consultor técnico da prefeitura. Podemos resumir seu

período de dois anos como o responsável pelo desmonte do morro do Castelo, e a

realização da Exposição Internacional como parte dos eventos comemorativos do

centenário da Independência. Ambas as propostas conjugar-se-iam, com o

lançamento das terras provenientes do desmonte do morro ser utilizado em um

aterro que ia da ponta do Calabouço até a praia do Russel, local onde se realizaria

a exposição.

Um aspecto importante na espacialidade da região portuária se refere à dimensão

das obras realizadas por Pereira Passos. A implantação do cais, acrescidas das

áreas aterradas, com seu arruamento e loteamento, e a construção de armazéns e

38

indústrias, foram ocupados de forma progressiva, e de certa maneira, desde a

sua ocupação, caracterizada como uma região de usos consolidados. Após a

série de investimentos realizados, e a compreensão por parte das classes

dominantes do processo econômico vinculado ao comércio exterior, não seria

factível a transformação de usos e atividades nessa área, provavelmente sem um

desgaste socioeconômico considerável.

2.2.3 O Plano Agache

Na segunda metade da década de vinte, na Administração Prado Júnior, houve a

contratação, por parte da Prefeitura do Distrito Federal, do urbanista francês Alfred

Agache no período de 1926 a 1930, para elaboração de plano de intervenção

física, cujas características seriam, conforme suas próprias palavras, �de

remodelação, extensão e embelezamento�, para atendimento das expectativas

burguesas do modelo de cidade europeu, vinculado à idéia de eficiência,

funcionalidade e padrões estéticos, inspirados na École de Beaux -Arts de Paris.

O conceito predominante do urbanismo, ou melhor, dos projetos de intervenções

no espaço urbano, fazia uma analogia do espaço da cidade com um organismo

biológico, em particular o humano. Segundo Agache, os três males que afetavam

a nossa metrópole eram - � respiração, circulação e digestão.�

Conforme Cardoso (2000, p.126):

39

�A comparação permite estabelecer as �semelhanças que apoiam a

analogia: a cidade forma um todo, uma unidade (o corpo), composto

de partes específicas (os órgãos ) que se articulam: cada parte,

diferenciada das outras, cumprindo uma função que lhe é própria e

contribuindo para manter o funcionamento do todo. A noção de

organismo permite ainda articular a vida social com o espaço físico

como uma totalidade indissociável.�

As questões da cidade eram diagnosticadas como patologias urbanas, e sua

funcionalidade seria alterada com o propósito de se restabelecer seu equilíbrio.

Em suas proposições, a intenção é de ordenamento da cidade, utilizando

principalmente o zoneamento e a legislação urbanística. As duas funções que

definiam primordialmente a cidade eram: a político administrativa, como capital da

república, e a econômica, como Porto e mercado comercial e industrial. Ainda

segundo Rezende (op. cit., p.44), a função econômica no Rio de Janeiro era

considerada crescente, à medida em que o país se industrializava.

Os objetivos expressos no plano eram:

- Assegurar a existência de certos elementos funcionais e reparti-los da melhor

forma � Zoning

- Traçar a rede de vias, de modo a por esses elementos em relação rápida e fácil

entre eles e com o resto da cidade, e satisfazer as exigências quantitativas da

circulação estabelecida(rede urbana).

40

- Assegurar a moradia confortável e agradável às diferentes categorias de

habitantes da cidade.

- Estabelecer os regulamentos de edificação de modo a satisfazer interesses

gerais (política de construção).

Como resultado destas propostas, a região portuária teve suas funções já

consolidadas e espaços confirmados e determinados, acrescidos de outras

atividades vinculadas a elementos de intercâmbio, grandes negócios e

abastecimento. Por ser um plano estruturalmente centralizado, e em função das

setorizações desenvolvidas nas regulamentações de zoneamento, o centro da

cidade teve maior detalhamento de proposições.

2.2.4 De 1930 a 1960

A partir de 1930, houve um período de grandes modificações na estrutura política

e social brasileira. Seus reflexos na espacialidade urbana podem ser pensados a

partir do crescimento e adensamento das regiões mais afastadas do centro, sem a

correspondente melhora nas condições de transporte coletivo, o que somente

ocorreria no final da década de 30. Outro aspecto importante, refere-se à reserva

imobiliária das áreas suburbanas, com a regulamentação edilícia restritiva, em

função das questões de saneamento e saúde públicos, fazendo com que a

cidade, por um lado, ocupasse áreas além dos limites do Distrito Federal. Por

41

outro lado, há uma contradição quando essa população busca a proximidade dos

centros de trabalho, e procura terrenos em morros, áreas públicas e mangues,

sem condições adequadas ao mercado imobiliário formal e os ocupa

irregularmente, dando continuidade ao processo crescente de favelização na

cidade. Segundo Abreu (1997, p.95), � o deslocamento das indústrias em direção

ao subúrbio e o desenvolvimento da zona sul descentralizaram, entretanto, as

fontes de emprego e, com elas, também as favelas.�

De certa forma, a evolução do espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro se dá

desta maneira contraditória. Fisicamente, há uma segregação espacial definida

pela ocupação das classes mais abastadas na zona sul e norte, e classes mais

pobres nos subúrbios. Politicamente, foi um período populista, com subsídios

concedidos aos serviços públicos e construção de grandes conjuntos habitacionais

nas áreas suburbanas, através dos Institutos de Aposentadorias e Pensão, os

IAP�s.

Até o início da década de 50, houve um crescimento urbano espetacular25, com a

inserção de espaços periféricos na estrutura urbana da cidade. O adensamento

nas zonas sul e norte, aliados ao aumento no número de veículos e necessidades

de viagens intraurbanas transformam as questões da cidade em um problema

rodoviário. Esta década e a de 60 desenvolve uma �febre viária�, cujas

conseqüencias são, principalmente, uma grande transformação na estrutura de

circulação da cidade. Era o momento de se alterarem os padrões de

42

acessibilidade ao centro metropolitano, com a retomada das práticas de cirurgias

urbanas. Note-se que a cidade havia sofrido recentemente o processo de abertura

da Av. Presidente Vargas, e ainda não havia ocupado os espaços remanescentes

das demolições dos morros do Castelo e de Santo Antônio.

2.2.5 O Plano Doxiadis

Em 1960, com a criação do Estado da Guanabara, é eleito para primeiro

governador Carlos F. W. Lacerda. Em 1963 contrata a firma Doxiadis Associates

para desenvolvimento de plano urbanístico (1963-1965),com características de

�eficiência�, e não mais de beleza como o modelo anterior da década de vinte.

Constitui-se também um típico plano diretor, altamente técnico, elaborado com

sofisticados instrumentos de análises e projeções. Semelhante a outros planos da

época, examina a situação da cidade, faz projeções e a compara a um modelo

ideal que, no seu caso, é funcional e definido em comunidades hierarquizadas,

visando uma descentralização de funções urbanas. Propõe a implementação de

uma Secretaria de Desenvolvimento Urbano, em substituição `a CEDUG

(Comissão Executiva do Desenvolvimento Urbano da Guanabara). Na época, a

descontinuidade da máquina administrativa faz com que nem o plano, nem a

proposta da secretaria sejam executadas.

No entanto, algumas de suas propostas, notadamente as relacionadas ao sistema

viário do estado da Guanabara, através das linhas Policrômicas, vieram a ser

25 O IBGE estima a população em 1930 em torno de 1.400.000 pessoas, e em 1950, segundo o Censo, 2.500.000.

43

implantadas. É curioso observar que a proposta do Plano Agache é revivida em

seus aspectos de circulação, inclusive nos seus termos...as montanhas que

separam os diversos bairros estão a exigir que se as perfurem por meio de

túneis...(Kessel,op.cit,.p.111).

O impacto desta política rodoviária aliada à industrialização brasileira, cujo carro

chefe foi a automobilística, provavelmente conformou todo o processo de

urbanização e ocupação espacial recente.

Na Região Portuária, o sistema viário implantado foi articulado à malha rodoviária

do antigo estado da Guanabara através de duas obras de impactos significativos:

a própria construção do elevado da Av. Perimetral faz parte destas

recomendações, assim como a linha Lilás, que é o prolongamento do túnel

Catumbi �Laranjeiras até a Av. Rodrigues Alves, no Cais do Porto. Na construção

do elevado da Av. Perimetral, a proposta viária ligava o Aterro do Flamengo (zona

sul) à Av. Brasil passando sobre a Zona portuária. Posteriormente essa ligação

ampliou-se com a construção da Ponte Rio Niteroi, a linha Vermelha desde o

Tunel Rebouças, e sua continuação paralela a própria Av. Brasil, com articulações

ao sistema de rodovias Federais, como a via Dutra e a Rodovia Washington Luis.

Localmente, ocorreu uma segregação espacial, resultado de vários fatores.

Podemos citar, como fator externo à área, o crescimento e expansão da Área

Central de Negócios, do aumento significativo nos processos de adensamento em

direção às zonas sul e norte, com a incorporação do vetor de expansão da zona

oeste - Barra da Tijuca e Jacarepaguá, e como fator interno à própria área, o seu

44

esvaziamento econômico devido à alterações relevantes nos processos

tecnológicos de operações portuárias com a utilização do sistema de conteiners, o

deslocamento e transferência de atividades industriais e a expansão dos terminais

portuários em direção à ponta do Caju, em busca de espaços descobertos para

movimentação deste novo sistema portuário.

2.2.6 O Plano Urbanístico Básico da Cidade, o PUB-RIO.

Em 1975, foram unificados os antigos estados do Rio e da Guanabara, e, grandes

obras viárias urbanas realizadas, como a Ponte Rio �Niterói, o sistema do Metrô,

Elevado da Av. Paulo de Frontin, Auto - Estrada Lagoa - Barra. Por conta das

crescentes questões espaciais referentes ao modelo econômico vigente, foram

implantadas as nove regiões metropolitanas, incluindo a do Rio de Janeiro, que

englobava treze municípios, caracterizando o crescimento da urbanização

brasileira, refletido no seu desigual padrão de ocupação do território. Ao mesmo

tempo que a periferia se espalhava, o núcleo se adensava de maneira excessiva,

principalmente devido à concentração de infraestrutura e serviços urbanos.

O Governo Federal possuía as políticas urbanas expressas nos Planos de

Desenvolvimento, nas comissões de Transportes, Habitação e Infraestrutura,

ideologicamente orientados para a questão da integração e do desenvolvimento,

buscando promover, conforme expresso no II PND, � o fortalecimento e a

estruturação do sistema urbano nacional e dos subsistemas regionais�, na

tentativa de se eliminarem alguns desequilíbrios, mediante o fortalecimento de

45

cidades de porte médio e objetivando o controle das cidades do Rio e São Paulo,

para que não se tornassem megalópoles incontroláveis, pois eram grandes focos

de migração nacionais.

Neste momento, não havendo grandes conflitos de intenções aparentes nas três

esferas de administração � federal, estadual e municipal, ainda sob a ótica da

institucionalização das regiões metropolitanas, é elaborado o PUB-RIO, Plano

Urbanístico Básico da Cidade. É um plano de diretrizes, incluindo aspectos

administrativos quando subdivide a cidade em seis áreas de planejamento, com

características diversas, a serem tratadas de modo específico. Diferentemente dos

planos anteriores, é elaborado por profissionais e técnicos brasileiros, o que é

positivo para o plano, em função da leitura e apreensão das informações da

cidade e de sua realidade não estar afeita a ótica externa. Foi elaborado em

tempo curto, de outubro de 1976 a maio de 1977, o que reduziu sua capacidade

de diagnosticar com mais profundidade, principalmente nas questões relacionadas

a projeções de população, renda e emprego.26

Cabe citar uma das primeiras tentativas de participação da população no processo

de planejamento através de pesquisa de opinião pública, para identificação de

problemas de cada área, onde foram expressas as questões de falta de segurança

e saneamento.

26 REZENDE, Vera, op. cit., p 68.

46

Os objetivos gerais do plano são físicos, embora procure abordar as questões

econômicas e sociais. De alguma forma, vincula-se ao planejamento

metropolitano, quando cita como objetivo expresso: � Fortalecer a posição atual da

cidade, como pólo da Região Metropolitana, nas economias regional e nacional,

através da organização conveniente da estrutura urbana e promovendo ambiente

de maior produtividade e bem-estar social de seus habitantes.� 27 O plano busca

criar uma estrutura espacial que permita um desenvolvimento social e econômico.

As metas fixadas a partir desse objetivo, onde se percebe a integração vertical do

plano são:

. aperfeiçoar o desenvolvimento do planejamento municipal,

. aumentar a eficiência das estruturas que abrigam as diferentes funções urbanas

e atividades de produção,

. integrar as ações da administração municipal aos planos dos demais níveis de

governo.

Como pode ser visto, essas proposições, além das orientações gerais com relação

a administração e gestão da cidade, pouco explicita com relação à área portuária.

A subdivisão da cidade em AP�s, Áreas de Planejamento perdura até hoje, e a

vocação e tendência da Região portuária foi mantida, com exceção do processo

industrial local que foi esvaziado e transferido para as periferias urbanas e distritos

industriais localizados na região metropolitana e outros estados. Na época,

durante as crises do petróleo, e a necessidade constante de exportação, foram

27 PLANO URBANÍSTICO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO.

47

expandidos os espaços e serviços portuários no Caju, sob a Ponte Rio Niterói, e,

mais recentemente, nos terminais da baía de Sepetiba.

2.3 Esvaziamento e deslocamento das funções portuárias.

O início do século XX caracterizou uma transformação no padrão de intervenção

do Estado sobre o urbano, deixando de ser indireta, através de controles,

regulamentos e concessões de serviços para agir diretamente através das obras

públicas. O resultado pode ser percebido na forma e aparência, como também no

conteúdo, pelos novos usos e ocupações no espaço por classes sociais

diferenciadas. Segundo Abreu, �(...)o Estado veio a acelerar o processo de

estratificação espacial que já era característico da cidade desde o século XIX,

contribuindo para a consolidação de uma estrutura núcleo - periferia que perdura

até hoje�.28

As primeiras décadas foram de grande expansão da malha urbana da cidade,

tanto em direção à Zona Sul, nos bairros da orla, como nos subúrbios. Ao

contrário do que sucedera nas áreas nobres da cidade, o crescimento dos bairros

suburbanos conformou uma área de habitação proletária, sem, no entanto, apoio

do Estado ou das concessionárias de serviços públicos.

Na nossa área de estudo, o projeto e execução das obras do porto do Rio de

Janeiro sofreram algumas modificações em função do movimento comercial

48

superar em quase o dobro as estimativas previstas. Dessa forma, os primeiros

3.500 metros de cais foram inaugurados em 1911, com a eliminação do dique da

Saúde e retificação do cais no trecho, e o restante das obras, do Mangue ao Cajú

em 1924.29

Podemos afirmar, que no período Rodrigues Alves - Pereira Passos é que foram

efetivamente definidas as funções principais da zona portuária e do seu entorno

imediato, mantendo as características edilícias e de ocupação que perduram até

hoje, como os depósitos e armazéns, infraestrutura viária adequada ao grande

volume de cargas, e atividades de apoio ao transporte marítimo. A função do

Estado de intervir no espaço urbano com objetivos de dar suporte às ações

capitalistas, refletiu na divisão social do espaço urbano, e de certa forma legitimou

o modelo público de ação.

Nas décadas seguintes, o processo de ocupação da área aterrada se deu

lentamente, com as construções, principalmente fábricas e oficinas sendo

erguidas e acentuando o caráter de espaço de trabalho popular da área do porto.

É importante frisar que a modernização das relações no âmbito do trabalho se

deu paralelamente ao processo de intervenção física da área. A criação das

primeiras organizações sindicais, com manifestações políticas, greves e comícios

operários ocorreram na região e praça Mauá no início do século.

28 ABREU, M. op.cit., p.73. 29 REIS, J. 1977., calcula o custo total destas obras em 12,5 milhões de libras ouro.

49

A caracterização da Zona Portuária como industrial se firmou no decorrer do

século XX, aumentando a presença operária nas várias atividades desenvolvidas

nesta região. Esta população ocupou os bairros com modalidades diversas de

moradias, como as vilas, avenidas, e o marcante conjunto habitacional dos

marítimos, a vila Portuária.

Com o crescimento da cidade, estes bairros foram sendo isolados devido às

intervenções urbanísticas promovidas pelo poder público, caracterizando uma

segregação espacial que, no entanto, manteve algumas de suas tradições

culturais preservadas.30 Esta região se caracterizou por uma estabilidade edilícia,

em se tratando de morfologia urbana, com pouca renovação em seus aspectos

mais importantes. Rabha(1985) observou que o entorno imediato à área objeto de

intervenção, ou seja, os bairros assentados nos morros desde o da Conceição até

o de S. Diogo, e alguns bolsões nas áreas planas mantiveram-se relativamente

30 No período de 1911 a 1922, a administração portuária esteve sob o controle de capitais privados, de origem francesa, representados pela Compagnie du Port de Rio de Janeiro. A Partir de 1923, passou a ser administrado por um órgão federal, a Companhia Brasileira de Exploração de Portos. Institucionalmente, com o advento da Lei nº 190, de 16/01/36, foi constituída a autarquia federal Administração do Porto do Rio de Janeiro, que recebeu as instalações portuárias em transferência do Departamento Nacional de Portos e Navegação, vinculado ao Ministério da Viação e Obras Públicas. Em 09/07/73, nos termos do Decreto nº 72.439, era criada a Companhia Docas da Guanabara, cuja razão social foi alterada, a partir de 1975, para Companhia Docas do Rio de Janeiro. Atualmente, em decorrência da aplicação da Lei nº 8.630, de 25/02/93, as atividades de operação portuária foram gradualmente transferidas, por intermédio de contratos de arrendamento de áreas, a empresas do setor privado, constituídas para atuar sob a forma de Terminais Portuários, em moldes semelhantes aos verificados nos principais portos europeus.

50

estáveis, não apresentando muitas mudanças morfológicas, ou mesmo em sua

tipologia arquitetônica. Aponta algumas razões para o que caracteriza como

�cristalização�: infra-estrutura e condições topográficas desvantajosas, incerteza

do futuro devido aos Projetos Aprovados de Alinhamento de grandes eixos viários,

os vetores de crescimento que passaram por sobre a área, e o próprio complexo

perfil fundiário dos pequenos lotes. A autora observa, ainda, que a população até

hoje depende bastante das atividades do porto, mesmo historicamente, ocupando

um espaço estratégico e de forte identidade coletiva, pontilhando a sua evolução

com lutas comuns.31

Na década de 40,a cidade do Rio de Janeiro foi objeto de nova intervenção urbana

de grande porte no que se refere ao sistema viário e de transportes, com a

abertura da Av. Presidente Vargas. Este eixo foi projetado com o objetivo de ser o

novo vetor de expansão do centro e corredor de transportes, sendo necessária

para a sua execução a demolição de inúmeros quarteirões densamente ocupados,

reforçando o papel do estado como agente de intervenção orientada. Conforme

analisado anteriormente, ainda hoje encontram-se terrenos vagos nas

proximidades da Av. Rio Branco.

31 Apud RIO, Vicente Del. op. cit. p. 27.

51

Figura 11: Avenida Presidente Vargas, s/d., Col. Henrique Smolka. Para a abertura deste eixo monumental foram derrubados cerca de

500 prédios e quatro igrejas centenárias. Esta via isolou os bairros portuários do restante da cidade. Cardoso,1987, p

133.

A já citada construção da ligação entre a Av. Rodrigues Alves e Laranjeiras,

passando pelo Catumbi e cruzando a Av. Presidente Vargas, ao invés de facilitar

um processo de reintegração das áreas portuárias ao novo eixo de expansão,

passou a funcionar como mais um fator de isolamento, na medida em que

concentrou grande número de linhas de ônibus vindas da Baixada fluminense em

direção ao centro nas imediações da estação da EFCB. Dessa forma, a região

portuária até hoje é suporte para a estrutura de transportes de toda a área central,

e, no entanto não se beneficia deste fato.

Na década de 70, outra obra foi realizada, sendo esta a que provavelmente tenha

desqualificado mais intensamente a área de estudo, a construção da Av.

Perimetral, via elevada que atravessa toda a zona portuária desde antes do

52

gasômetro, na Av. Francisco Bicalho, até as imediações do Aeroporto Santos

Dumont.

Percebe-se claramente nas imagens apresentadas, os fatores que reforçaram os

mecanismos de segregação urbana na região. Os bairros afastaram-se do núcleo

histórico da cidade pelas barreiras viárias, sendo uma pela via expressa elevada,

com apenas dois acessos à região do porto, e a outra pela desestruturação

causada com a implantação da Avenida Presidente Vargas e esvaziamento dos

bairros no entorno à praça da República e a Pequena Africa.

Com o desenvolvimento da atividade portuária no que se refere à modernização

dos processos tecnológicos, de gestão, administrativos, nos consideráveis

aumentos nos volumes de cargas e especialização dos terminais, essa região foi

sendo esvaziada das atividades econômicas vinculadas diretamente ao porto,

cujos desdobramentos no espaço urbano foram sua progressiva estagnação e

cristalização da imagem de abandono e depauperação.

Desde a década de 70, a implantação de sistemas de esteiras rolantes e

conteiners, modificou a tipologia de espaços necessários e tornou as instalações

portuárias cobertas ultrapassadas. A movimentação de carga ocorre mais em

locais abertos, como na expansão existente no Cajú, ou, dependendo do tipo de

carga, no caso dos minérios, no novo porto de Sepetiba.

53

Figura 12: Estação Marítima da Central, pátio ferroviário da Enseada da Gamboa, foto do autor em maio /2001

Em entrevista com o corpo técnico das Docas, foi citado o congestionamento dos

acessos ao porto e a impossibilidade de se manter a exportação dos minérios por

via ferroviária nessa região central da cidade do Rio de Janeiro, devido ao trânsito

rodoviário.

Cabe assinalar, no entanto, a crescente movimentação entre os movimentos

sociais locais, como os sindicatos e associações de moradores no sentido de

buscar alternativas a esse esvaziamento na dinâmica portuária.

As propostas atuais remetem ao desenvolvimento do transporte de cabotagem,

com uma maior articulação entre os portos nacionais.

54

Capítulo 3 A OCUPAÇÃO ATUAL DO ESPAÇO - Fundo de Quintal

3.1 - O uso social do espaço

Figura 13: Vista aérea da Zona Portuária, c.1960. AGCRJ. No lado direito, a curva da Rua Sacadura Cabral, limite entre a área

antiga e a aterrada. No centro, vê-se os prédios interligados do Moinho Fluminense, a Praça da Harmonia e o prédio da Polícia Militar.

Retirado de �Saúde, Gamboa, Santo Cristo�, p. 136.

A Zona Portuária do Rio de Janeiro situa-se na costa leste do Município, e está

limitada ao norte pela Baía de Guanabara e ao sul pelos morros de S. Bento, da

Conceição, do Livramento e da Providência. Esses morros são ocupados pelos

bairros da Saúde, Santo Cristo e Gamboa, cujas características urbanas foram

preservadas a partir da lei municipal 971/87 (projeto Sagas), pela sua relevância

nos aspectos históricos, arquitetônicos e culturais do conjunto edificado.

Institucionalmente, a nível municipal, junto aos bairros do Caju e São Cristóvão

conformam a primeira Região Administrativa.

55

A área da Zona Portuária pode ser subdividida em duas sub-áreas bastante

distintas, em função das obras realizadas na cidade no início do século, pela

administração Pereira Passos e pelo governo federal: a modernização do porto

construído a partir de 1903 com seus armazéns situados em grandes lotes

ortogonais, e as áreas no sopé dos Morros da Saúde, Gamboa, Santo Cristo,

nos logradouros que definiam a orla marítima - Ruas Sacadura Cabral e do

Livramento, com as atividades industriais e comerciais ocupando a estrutura e

tipologia urbana da cidade �colonial�, com seus lotes estreitos e longos, suas

construções assobradadas e sua mescla de atividades econômicas e sociais.

Figura 234: Ladeira da Providência, esquina com

Rua Sacadura Cabral, fotografia do autor em maio

de 2001

A existência de grande número de imóveis da União vazios, sub-utilizados ou

mesmo abandonados nas áreas resultantes das obras do aterro, nos permite

propor uma análise desse trecho e realizar uma avaliação destas edificações,

através de critérios de localização, possibilidades de utilização, acessibilidade

espacial e articulação com os projetos existentes para a região, principalmente o

56

novo Projeto de Revitalização da Zona Portuária em elaboração e parcial

implantação pela Prefeitura da Cidade.

Como expresso na introdução, o desafio proposto é realizar a leitura da

espacialidade do lugar, reconhecendo as áreas de propriedade da União, suas

condições atuais e possibilidades de ocupação futura por uso socialmente justo. O

processo de ocupação do aterro como um todo pode ser compreendido pelo

estudo sobre um trecho da zona portuária, no caso, próxima a Praça Mauá, devido

a essas condições serem praticamente as mesmas na área como um todo, por se

reproduzirem em suas características de ocupação e desenvolvimento do espaço.

Com esse objetivo, foram estudados os imóveis existentes no quadrilátero

compreendido pelas Avenidas Rodrigues Alves, Barão de Tefé, Venezuela (ambos

os lados ), em direção à Praça Mauá.

Complementarmente, com o objetivo de se apreender esta espacialidade, serão

mapeados os dados de usos do solo, vazios, infra-estrutura e propriedade

fundiária.

57

Figura 15: Armazéns na esquina da Rua Equador com a Av. Prof. Pereira Reis, Gamboa. Fotografia do autor, em maio de 2001.

Obs.: ver figura 18 : situação fundiária e uso do solo; anexo 2: circulação viária, e

anexo 4: estacionamentos / vagas.

3.2 A estrutura espacial e barreiras físicas e institucionais.

Ao percorrermos os bairros do Porto, e, principalmente a área aterrada,

observamos a existência de um grande número de imóveis nesta zona que não

estão sendo utilizados e não cumprem sua função social. Ao se fazer a análise de

um trecho, identificamos quase que de imediato os elementos urbanos aparentes

de segregação espacial, presentes nas condições do sistema viário e de

transportes, nos vazios e estacionamentos existentes, caracterizando

espacialmente o �fundo de quintal� da Área Central de Negócios e núcleo da

região metropolitana, onde se localizam os equipamentos indesejáveis, mas ao

mesmo tempo necessários, como os terminais de transportes rodoviários e

ferroviários, o próprio porto com suas externalidades de usos desde os primórdios

58

de sua implantação e as indústrias, hoje em dia transferidas, em função também

das novas alternativas de localização.

Segundo Neves (1996), as maiores possibilidades de explicação de áreas vazias

no centro da cidade, ressalvando-se o fato da pesquisa avaliada ter sido realizada

na II RA e não na Zona Portuária, indicam quatro alternativas para a existência de

vazios urbanos, quais sejam:

- legislação restritiva quanto a usos e obras nos terrenos;

- remanescências de grandes intervenções urbanas;

- superposição de poderes; e

- deslocamentos de investimentos para a Zona Sul.

Há o entendimento que este quadro se repete também nesta zona, com o

acréscimo de uma variável, a União, grande proprietário e responsável pelas

áreas sob sua jurisdição, e seu conseqüente esvaziamento.

O objetivo desta análise é identificar os imóveis da União existentes neste trecho

próximo à Praça Mauá e que eventualmente possam ter outra destinação ou

ocupação distinta da atual. Em uma leitura da origem desses imóveis, cabe notar

os procedimentos à época de construção do porto, que proporcionaram esse

quadro fundiário, ou seja, da União ser a grande proprietária e concessionária da

Zona Portuária até hoje.

59

Segundo Benchimol(1990)32:

� assim que Rodrigues Alves assumiu a presidência, iniciaram-se os estudos e negociações para as obras portuárias. Em maio de 1903 foi assinado com Rothschild and Sons o contrato do empréstimo de 8.500.000 libras(...). Estas verbas e outras mais viabilizaram os trabalhos iniciais, inclusive o de encampar as concessões relacionadas aos melhoramentos do porto.�

Essas concessões eram feitas pelos governos, com direitos de apropriação dos

benefícios daí decorrentes por quem as executasse. Por exemplo, os terrenos

gerados pelos aterros em Vila Guarani, ao lado da Av. Francisco Bicalho, eram de

propriedade dos responsáveis pelas obras, sendo negociado inclusive o

pagamento dos impostos e outros emolumentos com o poder concessionário, isto

é, o poder público.

A execução das obras, segundo S. Stein, citado por Benchimol no mesmo trecho,

�sem concorrência pública�, coube à firma britânica C.H. Walker & Cia., vinculada

àquela que havia adquirido a concessão da Empresa de Melhoramentos. Como o

Governo Federal havia retomado as concessões e buscado financiamento para

execução das obras, e, dadas as dimensões do empreendimento, inclusive nos

seus impactos sobre a estrutura urbana, assumiu a titularidade das terras criadas,

mantendo as possibilidades de cessão, utilizadas para implantação de atividades

correlatas à portuária. A questão da propriedade mantém-se no momento atual,

sendo considerado um dos empecilhos ao desenvolvimento e fator de estagnação

da região como um todo, como será abordado adiante.

32 BENCHIMOL, op. cit. p.212.

60

Reforçam esta ocupação do espaço, os usos institucionais vinculados ao processo

de implantação do Porto da cidade como importação e exportação, imigração e

controle de fronteiras, com a Receita e Polícia Federais, e os usos posteriormente

expandidos dentro do desenvolvimento das atividades econômicas, como

armazéns, escritórios de comércio exterior e indústrias cuja matéria prima era

importada ou que exportava sua produção.

Cabe a leitura sobre uma das externalidades de uso do solo referentes às

atividades institucionais, sejam federais, estaduais ou municipais no que se refere

à dinâmica urbana e que se aplica à área de estudo. Empiricamente, observamos

no tecido da cidade do Rio de Janeiro alguns elementos que funcionam como

barreiras quanto à tipologia de ocupação e mesmo no aspecto aparente de

vitalidade nas atividades econômicas.

Um bom exemplo é a área do Campo de Santana/ Praça da República, com um

grande número de edificações governamentais - Ministério do Exército, antiga

sede da RFFSA, ex - Casa da Moeda, Corpo de Bombeiros e Hospital Souza

Aguiar e outras. A diferença na ocupação e nas tipologias urbanas de um e outro

lados dessa barreira, considerando-se o eixo da Av. Presidente Vargas, são

bastante visíveis.

Essa situação também pode ser constatada na Zona Portuária, com a ocupação

das áreas próximas à Praça Mauá. O Terminal Rodoviário e o edifício da Polícia

Federal, um dos lados do quadrilátero institucional em análise, de alguma forma

61

funcionam como uma barreira à

expansão das atividades

características da Área Central de

Negócios pelo eixo da Av.

Rodrigues Alves e Av. Venezuela.

Figura 16: Largo da Prainha, fotografia do autor, em maio de 2001

A ocupação da Rua Sacadura Cabral possui características diversas, devido ao

fato de, em primeiro lugar, sua tipologia construtiva e de dimensionamento dos

lotes estar afeita à dinâmica de ocupação imobiliária em um processo de

expansão a partir da ação social de adensamento populacional, e não de um

projeto de intervenção institucional, e, em segundo lugar, o uso do solo

caracterizar um comércio local, de baixa intensidade, e estar vinculado ao uso

residencial predominante das encostas do Morro da Conceição e adjacências.

Podemos entender este trecho como de transição entre a face histórica do porto,

com sua ocupação residencial, a institucional das áreas aterradas e a periferia da

Área Central de Negócios, com seus terminais de transportes coletivos, comércio

e serviços de apoio, como papelarias, restaurantes, e ao mesmo tempo bancos e

empresas de maior porte.

questão da Zona Portuária também passa por esse processo, quando

observamos a potencialidade das atividades econômicas durante a sua formação

e as articulações entre o poder público e a produção do espaço.

62

Figura 17: Pedra do Sal, fotografia do autor em maio de 2001

Aparentemente, a ocupação lindeira aos

morros, cujo crescimento está ligado aos

processos históricos da cidade colonial e

imperial possui uma vitalidade tanto no que se

refere às populações residentes e usuária, como na dinâmica econômica. Quando

percorremos a área aterrada, resultado da implantação do Porto percebemos

imediatamente a sua imagem de espaço destinado ou à circulação e guarda de

veículos, ou a espaços economicamente esvaziados, como se fosse outra cidade,

nitidamente separada, e não vizinhas da ocupação inicial.

A leitura da propriedade fundiária explica em parte essa situação. Grandes lotes

ocupados por atividades antigamente ligadas ao Porto, mesmo as institucionais,

conforme a figura 18 abaixo endossam a observação anterior a respeito das

barreiras na integração ou não dessas áreas.

63

Figura 18: Mapa da situação fundiária na Zona Portuária As áreas das Docas e da Rede Ferroviária são as grandes proprietárias. Retirado do Projeto de Revitalização da área portuária elaborado pelo IPP.[2001].

3.3 Percurso Moinho Fluminense - Quarteirão Institucional

Aproximação Metodológica

O método proposto para se observar a espacialidade da Zona Portuária será

através de um percurso pela Av. Venezuela (anexo 3), que contempla as áreas de

aterro do início do século, desde as encostas do morro das Saúde, na Praça

Coronel Assunção até a Praça Mauá. Com o objetivo de se ampliar a

compreensão sobre as relações espaciais, pretende-se também percorrer o

entorno a área em questão. Em um primeiro momento, serão observações da

64

estrutura urbana aparente e dos imóveis assinalados desse trecho da zona

portuária, buscando uma leitura na percepção do espaço, ou como ele se

apresenta. Depois, procuraremos entender essa articulação na dinâmica do lugar,

nas suas atividades, funções e características.

Esse percurso deve nos revelar as condições de uso do espaço, dos seus

processos de transformação em curso e das possibilidades de intervenção no

sentido de sua revitalização.

Lendo a espacialidade do lugar podemos observar a diversidade das tipologias

urbanas nos seus aspectos das edificações, dimensões dos lotes, arruamento que

conformam ocupações características de Porto.

Um exemplo é o Moinho Fluminense. Bem tombado

pelo SPHAN , compõe-se de várias edificações

interligadas por pontes sobre as ruas e o antigo e

desativado sistema ferroviário local. Como pode ser

observado nas fotos, traduz uma imagem de

representação da Zona Portuária - a atividade

industrial vinculada à

importação e exportação, grandes áreas planas,

armazéns, sistemas viário e

ferroviário adequados à movimentação de cargas.

Figura 19: Moinho Fluminense, fotografia do autor em maio de 2001

65

Segundo Del Rio:

�desde o fim do século XIX, a área portuária havia se tornado

importante concentração de indústrias e oficinas, fundições e

serralherias, e já abrigava duas grandes unidades fabris, o Moinho

Inglês e o Fluminense, beneficiadores de trigo que possuíam seus

próprios cais e trapiches.(op.cit., p.34)

As pontes sobre as ruas remetem à integração, processos de expansão, ligação e

articulação entre espaços e podem ser considerados marcos e referências

urbanas na Zona Portuária, como as do Moinho Fluminense, citados acima.

A área portuária foi objeto de seguidas

intervenções físicas em função da dinâmica da

cidade em relação à atividade do porto. O

movimento econômico do Rio , assim como sua

prática política e de arranjos sociais ,de alguma

forma , se pautou por este vínculo com a baía

de Guanabara. Desde sua fundação a cidade se

comunicou com seu hinterland por meio do

transporte por água, seja fluvial ou marítimo.

Figura 20: Moinho Fluminense, Fotografia do autor, maio de 2001

66

Conforme pode ser observado no processo de crescimento urbano, a cidade é

uma sobreposição de momentos históricos e relações socio-espaciais que vão se

cristalizando, adaptando-se, gerando novas estruturas num movimento contínuo.

Benchimol (1985), em consonância com diversos autores afirma que no fim do

século XIX, o centro do Rio tornava-se �cada vez mais o locus de um conjunto de

realidades críticas, oriundas da crescente incompatibilidade entre a antiga

estrutura material da cidade e as novas relações econômicas capitalistas que nela

se enraizavam�. (Op. cit. p.60).

Figura 21: Antigo galpão situado na esquina entre a rua Souza e Silva e a av. Venezuela.

O resultado espacial desses

arranjos, hoje se apresenta

como uma expectativa. A

importância da leitura da

massa edificada nos permite

pensar nos caminhos

possíveis para uma nova proposta que busque compatibilizar a disponibilidade

desse trecho da cidade com um uso social do espaço.

Dando continuidade à proposta de estudo dos espaços na Zona Portuária, a

leitura percorre a Av. Venezuela, onde temos os grandes lotes ocupados pelos

67

armazéns que de alguma forma reforçam essa imagem espacial urbana, de

relativo abandono e esvaziamento.

Ao chegarmos à Av. Barão de Tefé nos deparamos com um fluxo de veículos que

vem pela Av. Rodrigues Alves, tanto da Av. Brasil como pela Praça Mauá, e pelo

elevado da Av. Perimetral, e aí se dividem pela própria Av. Venezuela, e em

direção ao centro pela R. Camerino. Nesse ponto fica bastante clara a

modificação na ambiência urbana, caracterizada principalmente pelo aumento no

trânsito de veículos de transportes coletivos e suas externalidades, traduzidas em

sensíveis mudanças nos índices de ruído e poluição do ar.

Figura 22:Avenida Barão de Tefé, vendo-se ao fundo a torre da Central e à direita o morro da Providência, com os galpões, fotografia do autor em maio de 2001

3.4 Análise dos imóveis situados na quadra institucional

O objetivo é identificar as condições do patrimônio imobiliário na região em estudo

e fazer uma análise do seu uso social. Para tanto vamos fazer uma descrição das

68

edificações que compõem o lugar e reconhecer a propriedade, a ocupação e as

condições do bem imobiliário. O mapa 3 (anexo 3) indica a localização dos

imóveis no percurso proposto.

Aparentemente, a ocupação lindeira aos morros, cujo crescimento está ligado aos

processos históricos da cidade colonial e imperial possui uma vitalidade tanto no

que se refere às populações residentes e usuária, como nos seus aspectos da

dimensão econômica. Quando percorremos a área resultado da implantação do

Porto percebemos imediatamente a sua imagem de espaço destinado ou à

circulação e guarda de veículos, ou a espaços economicamente esvaziados, como

se fosse outra cidade, nitidamente separada, e não a apenas 100, 200 metros de

distância da ocupação inicial. Lendo a espacialidade do lugar podemos observar a

diversidade das tipologias urbanas nos seus aspectos das edificações, dimensões

dos lotes e arruamento que conformam ocupações características de Porto.

IMÓVEL I

Ministério da Agricultura

O primeiro imóvel (1) a ser analisado é um prédio situado na esquina das

avenidas Barão de Tefé e Venezuela.Trata-se de um imóvel atualmente utilizado

pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento DFA/RJ (Serviço de Vigilância

Agropecuária Porto, INMET, Sexto Disme).

69

Figura 23:Vista da Barão de Tefé, fotografia do autor em

maio de 2001

Em bom estado de conservação, com escritórios em dois pavimentos e ampla

garagem, está em

obras de ampliação na parte que dá acesso ao antigo sistema da rede

ferroviária. Pelas características observadas, trata-se de prédio com

utilização constante e contínua, provavelmente desde a sua inauguração.

Figura 24: Vista do galpão pela Av. Venezuela, fotografia do autor em maio de 2001

Interessa identificar o conjunto dos imóveis de propriedade da União na área de

estudo. Nesse caso, além dos escritórios, contamos com o estacionamento anexo,

com aproximadamente 2000 m2. Um fator de relevo é o acesso pela antiga via

férrea, com sua possível transformação em rua para pedestres, em direção à

Praça Mauá.

70

IMOVEL II

Tribunal de Justiça

Figura 25: Vista da av. Venezuela, fotografia pelo autor em maio de 2001

Esse prédio (2) foi objeto de reforma recente, apresentando excelente estado de

conservação, inclusive indicando um processo de investimento público na região

por parte do Estado, através do Poder Judiciário.

Até pouco tempo atrás, era um Hospital Psiquiátrico do INAMPS, com aparência

precária. Esta situação de transformação de uso, reforça a proposta de

intervenção nesta área da zona portuária, pelos resultados de renovação

apresentados. A nova utilização dessa edificação trouxe uma movimentação de

pessoas, usuários e ligados a atividades de apoio, cujos desdobramentos se

71

fazem perceber na instalação de restaurantes e lojas, enfim, numa nova dinâmica

urbana. Este prédio também possui acesso pela antiga via férrea paralela à

avenida Venezuela, o que de certa forma o valoriza, na medida em que se

ampliam as condições de acessibilidade para pedestres. No entanto, este acesso

hoje em dia vem sendo usado para estacionamento.

A propriedade imobiliária, sendo da União em quase todo este quarteirão, indica

uma constante inversão nas edificações públicas, reforçando o conceito de

renovação e vitalidade que está acontecendo de forma pontual em contraposição

ao abandono constatado no resto da zona portuária. Este prédio também possui

entrada pela antiga via férrea paralela à Av. Venezuela, o que de certa forma

valoriza na medida em que amplia as condições de acessibilidade para

pedestres.

IMÓVEL III

Pró Matre

Situado na esquina da avenida Venezuela e Barão de Tefé, é um prédio(3) de

propriedade da União, que vem sendo reformado, confirmando o movimento de

transformação que a região vem passando. É uma edificação histórica num

sentido do conhecimento popular com uma dimensão regional no Rio de Janeiro,

em um aspecto de grande importância social, pois é uma instituição conhecida por

todos os cariocas, a Pró-Matre. Várias pessoas moradoras do local, em contatos

informais, referiram-se a este hospital de modo respeitoso. Sempre foi uma das

72

poucas instituições públicas que prestou atendimento pré-natal de qualidade à

população da cidade.

Figura 26: Vista da Pró- Matre, pela Avenida Venezuela, em fotografia do autor em maio de 2001.

Novamente, é o Poder Público que assume esse papel de estímulo ao processo

de fortalecimento da dinâmica urbana. Como observação, é curioso notar a

coincidência nestas duas intervenções ( imóveis 2 e 3 ) pois ambos eram

propriedade da União cedidos ao Inamps, e, enquanto o imóvel que hoje serve à

Justiça tem seu uso transformado, a Pró Matre é também reformada. Como

hipótese a ser verificada oportunamente, podemos supor uma negociação que

envolveu esses imóveis, ambos da União. Este processo será proposto neste

trabalho como forma de recuperação dos imóveis, tanto no aspecto de renovação,

como no de reutilização para outras atividades.

73

IMÓVEL IV

Edifício Comercial e de Serviços

Trata-se de edifício de escritórios situado em frente ao prédio da Justiça, lado

ímpar da Av. Venezuela, com pequeno comercio local ( restaurante ) no pavimento

de acesso, em situação regular de conservação. É um dos poucos imóveis

particulares na Avenida Venezuela. Uma leitura

dos seus usos localizados vincula suas

atividades à dinâmica portuária, como

despachantes aduaneiros, companhias de

fretamento, advogados, escritórios de

importação e exportação, cabotagem, e outros

serviços correlatos. Faz, com a edificação

vizinha, o mesmo uso comercial e serviços.

Figura 27: Edifício comercial e de serviços, na Avenida Venezuela. Fotografia do autor em maio de 2001

É interessante notar sua situação, na esquina com o antigo sistema ferroviário, o

que condicionou sua volumetria ao lote, no caso, triangular.

74

As fachadas orientadas para a Av. Venezuela

são também características desta região.

Figura 28: Edifício de comércio e serviços na avenida Venezuela, em fotografia do autor, em maio de 2001

IMÓVEL V.

Edifício Frota Oceânica

Caminhando, vamos encontrar do outro lado da rua, o prédio da Frota Oceânica.

Trata-se de edifício com térreo e quatro pavimentos, separado do prédio do INT

por antigo ramal ferroviário de serviços já desativado, cujas ambiencia urbana, rua

calçada em paralelepípedos, arborizada com flamboyants, valorizam a edificação.

Possui uma arquitetura característica de construção destinada a uma empresa,

inclusive pela posição estratégica com relação à via de acesso ao porto.

Apresenta excelente estado de conservação, e aparentemente mantém suas

atividades vinculadas à Zona Portuária. Possui um acesso pela linha férrea

existente nos fundos do prédio, que

também funciona como

estacionamento e acesso de

serviços.

Figura 29: Edifício da Frota Oceânica, em fotografia do autor, em maio de 2001

75

IMÓVEL VI

IAPETC

Dando prosseguimento ao nosso percurso, consideramos o imóvel do extinto

IAPETC em frente ao INT na Av. Venezuela. Essa edificação, atualmente

abandonada e em péssimo estado de conservação, possui aproximadamente

1200 m2 de área por

pavimento, com loja, sobreloja,

cinco pavimentos e

cobertura, com área total em

torno de 9600,00 m2.

Figura 30: Vista do edifício do IAPETC em maio de 2001, fotografia do autor

Delimita-se com um estacionamento de 1000 m2 e do outro lado com um

prédio da LBV (Legião da Boa Vontade ), atualmente vazio, com área semelhante.

Neste processo constante de reocupações pelo próprio serviço público, obtivemos

informações sobre uma demanda pelo IBGE sobre a possibilidade de ocupação

dessa edificação para instalações de parte do Instituto. Entretanto, o que

inviabilizou esta mudança foram os investimentos que seriam necessários em

modernização nos sistemas de informática e transmissão de dados. No entanto,

76

nos parece que possam existir alternativas

para um uso adequado, inclusive em função

do que foi constatado com relação aos

imóveis vizinhos33.

Figura 31: Vista da fachada do edifício, mostrando as péssimas condições

de manutenção. Fotografia do autor, em maio de 2001

IMÓVEL VII

Instituto Nacional de Tecnologia

Este imóvel (7), como a maior parte dos analisados pertence à União e é objeto

importante desta avaliação no sentido de ser a instituição cujas potencialidades de

crescimento e ampliação de atividades devem ser analisadas com o intuito de

adequação às propostas espaciais existentes, tanto nesta dissertação, como nos

projetos em andamento para revitalização da zona portuária.

O INT., Instituto Nacional de Tecnologia �órgão do Ministério de Ciência e

Tecnologia é uma instituição tecnológica que atua de forma vinculada ao setor

empresarial e está direcionada ao desenvolvimento de pesquisa, assistência

tecnológica, serviços técnicos especializados, educação continuada e

treinamento.�34

33 Estas informações foram fornecidas pelos funcionários do Instituto Nacional de tecnologia, INT, situado em frente, em março de 2001. 34 INT, Serviço de Divulgação, 2001.

77

Figura 32: Vista do Instituto Nacional de Tecnologia,. Fotografia do autor em maio de

2001.

Segundo informes produzidos pelo próprio instituto, seus objetivos estão

orientados para geração e disseminação de novas tecnologias, suporte

tecnológico às indústrias, com foco na micro, pequena e média empresa, e,

particularmente no interesse deste trabalho, �executar programas governamentais

referentes a emprego, e competitividade; saúde e meio ambiente; informação,

educação e conhecimento; cidadão cliente.�

O INT desenvolve suas atividades através de instalações laboratoriais e parcerias

tecnológicas, o que permite �fluxo de informações, troca de experiências e

serviços�.

Concretamente, constatamos o processo de investimento tanto nas instalações

físicas do instituto, com a reforma dos galpões no pátio central, nas modificações

internas e nos revestimentos externos, assim como na implantação e abertura de

novas articulações com outras esferas institucionais no âmbito científico e

tecnológico, mais uma vez confirmando o processo de investimento por parte do

poder público na manutenção de atividades, mais do que recuperação ou

revitalização da zona portuária.

Ao início deste trabalho, imaginamos que o processo de ocupação da Zona

Portuária, a partir das novas propostas por parte da Prefeitura da Cidade fosse

78

contemplar uma vertente de desenvolvimento Tecnológico, com a participação das

universidades e centros de pesquisas, no qual o papel de coordenador dessa ação

caberia ao INT. No momento, vimos participando de reuniões abertas à

comunidade no âmbito do Planejamento Estratégico a ser implantado pela

Prefeitura, onde procuramos enfatizar a potencialidade existente nesta ação.

Fazemos este registro na medida em que estamos avaliando as possibilidades de

usos nessa área, mas detalharemos estas propostas adiante.

IMÓVEL VIII

Departamento de Polícia Federal

O quarteirão anterior à praça Mauá, é ocupada pelo Departamento de Polícia

Federal, com instalações em variados estados de preservação, indo do precário

ao reformado recentemente. Esse imóvel, tombado recentemente pelo Patrimônio

estadual concentra várias delegacias federais: Fazendária, Previdenciária, de

Repressão a Entorpecentes, Marítima , Aérea e de Fronteiras, DOPS, Arquivos e

serviços de apoio como academia de ginástica, treinamento de tiro, canil, agências

bancárias e outros, em aproximadamente quarenta por cento da área construída.

Figura 33: Vista aérea do prédio da Polícia FederaL. Fotografia do autor , em maio de 2001.

79

O pavimento de acesso é ocupado quase que totalmente por veículos -

oficiais, dos funcionários e apreendidos, inclusive nos espaços desativados

das edificações, reforçando a característica de grande estacionamento que é

a Zona Portuária.

Figura 34:Vista interna do prédio da Polícia Federal. Fotografia do autor, em maio de 2001.

O prédio é subdividido em blocos interligados por circulações internas

abertas para o pátio central. Nesse pátio existem seis volumes de construção

mais recente e praticamente desativados, e como em toda a edificação,

apresentando estado precário de conservação.

Em entrevista com o agente policial que me acompanhou na visita às

instalações, fica clara a vantagem em termos de localização para a atividade

policial, no que se refere a facilidades de deslocamentos tanto na área

central (sistema judiciário), quanto nos acessos às Avenidas Perimetral,

Rodrigues Alves, Rio Branco, Aterro e outras. Paralelamente, foi destacado

também a precariedade das instalações físicas, o abandono da edificação, a

80

dificuldade de modernização dos sistemas de comunicações e a infra

estrutura local (sistemas de força e luz e hidrosanitário ).

Figura 35: Vista do trecho com frente para Av. Venezuela, com visão do Morro da Conceição e ACN. Fotografia

do autor, em maio de 2001

O bloco que se localiza na esquina entre a Av. Venezuela e R. Edgar Gordilho

atualmente está sendo utilizado como estacionamento de veículos oficiais, e

pequena parte do terceiro pavimento é ocupada pelo DOPS, em área reduzida.

Esse bloco com aproximadamente 2100 m2 e três pavimentos, possui

inclusive um auditório desativado, situa-se paralelamente ao INT e cristalizaria

a proposta de implantação de uma atividade e ocupação do espaço mais aberta e

com características bastante singulares.

Como proposta, a liberação desses espaços pensados para algum tipo de

ocupação, por exemplo, na quadra da Policia Federal dependeria de uma

relocação dos veículos aí estacionados, sendo que os apreendidos poderiam

ocupar um dos inúmeros terrenos vagos na própria Zona Portuária.

81

A ocupação de espaços privilegiados por sucata de veículos e depósito de

automóveis demonstra a má utilização desses espaços e as deseconomias

urbanas daí decorrentes. Uma forma de ligação com o INT com outras

edificações poderia se dar por passarela elevada, utilizando a referência

característica da ZP, que é a passagem sobre as vias públicas, como acontece

nos prédios do Moinho Fluminense. (ver anexo 5).

IMÓVEL IX

Receita Federal

Trata-se de edificação destinada à Alfândega e Receita Federal, em excelente

estado de conservação composto por núcleo central com térreo, quatro

pavimentos e cobertura, com dois volumes anexos com três pavimentos, dois

blocos laterais com três pavimentos cada, inclusive sendo um deles destinado a

laboratório de análises, e um terceiro nos fundos, com apenas um pavimento.

Visualmente, pelas boas condições de manutenção, é uma edificação cujo uso

continuado denota a consolidação de suas atividades e seu vínculo com a

atividade portuária, pois, como dito anteriormente, esta zona urbana cristaliza os

espaços econômicos e suas articulações territoriais desde a fundação da cidade, e

a atividade alfandegária sempre existiu como forma de controle e fiscalização do

movimento comercial de importação e exportação.

82

Figura 36:Vista da fachada do prédio da Receita Federal, foto do autor em maio de 2001.

Cabe no entanto, questionar a excessiva

especialização do espaço institucional daí

decorrente. Através deste trabalho, procuramos

compreender o processo de consolidação da Zona

Portuária, inclusive traçando paralelos com outras zonas da cidade, e a imagem

urbana nos mostra a função compartimentadora de determinadas freqüências de

usos, particularmente o uso por instituições públicas.

Por outro lado, já existe um uso institucional conformado neste espaço, o que,

entre os critérios a serem considerados de disponibilidade para ocupação não o

coloca como prioritário.

Pretendemos realizar contatos para sabermos dos projetos de expansão, ou

mudanças previstas para esta instituição, inclusive para rediscussões futuras

quanto às possibilidades de ocupação deste espaço.

Outros Imóveis:

A quadra formada pelas Avenidas Barão de Tefé e Rodrigues Alves e a antiga

linha férrea possui pequenos lotes com usos privados, com exceção do edifício de

número 129 e 135 da Av. Rodrigues Alves, onde se localiza a Delegacia no

83

Estado do Rio de Janeiro do Ministério da Agricultura e do Abastecimento e do

prédio de número 161 pertencente ao Ministério da Infraestrutura, atualmente

fechado.

Pela tipologia construtiva, eram armazéns com dois e três pavimentos,

aproximadamente 600 m2 por pavimento por lote, sendo alguns remembrados

(n.157 e 161 com dois lotes e 173 com três lotes), acesso à via férrea e ao cais,

sendo que vários se transformaram em

estacionamentos, e em outros surge

incipiente atividade comercial, como

confecções e restaurantes.

Figura 37: Vista da Av Rodrigues Alves. Fotografia do autor em maio de 2002.

Um imóvel a ser analisado, também propriedade da União e que foi recentemente

cedido à ONG Cidadania, situa-se na Av. Barão de Tefé, 75 com

aproximadamente 8000 m2 cobertos, e vem transformando-se em centro de

desenvolvimento de atividades ligadas à questão social local e mais que local,

nos seus aspectos culturais e de organização. As propostas desta instituição

buscam também uma articulação com outras instâncias, e pretendem

desdobramentos nas questões locais e extra locais, inclusive com o próprio INT,

com a implementação de cursos e apoios na área de informática.

84

Figura 38: Vista do imóvel da ONG Cidadania, mostrando ainda o estacionamento existente na r. Coelho e Castro. Ao fundo o Hospital dos Servidores do Estado. Fotografia do autor em maio de 2002.

85

Capítulo 4

PORTO DO RIO � O Plano de Recuperação e Revitalização da Região

Portuária do Rio de Janeiro

Há algum tempo, a Prefeitura da Cidade, através da Secretaria Municipal de

Urbanismo e do Instituto Pereira Passos vem investindo na avaliação sistemática

da área da Zona Portuária e do seu entorno, em função dos processos de

abandono, esvaziamento e segregação física em seus aspectos de articulação

com a malha urbana. Em 1988 a região teve parte de seu patrimônio cultural

protegido através de lei específica, e em 1993 já se montavam as bases para o

estabelecimento da Área de Especial Interesse Urbanístico da Zona Portuária do

Rio de Janeiro. 35

Estes investimentos, de alguma forma, se deram paralelamente à percepção de

processos semelhantes acontecerem a nível internacional, em numerosas cidades

portuárias, como Boston, Baltimore, Barcelona, Buenos Aires, Gênova, que

sofreram processos de esvaziamento e pauperização de suas zonas do porto, em

função de características locais, mas com um denominador comum que seriam

35 A A.E.I.U., criada pelo decreto n° 11860, de 23/12/1992, estabeleceu limites e deu prazo de 120 dias para que o executivo enviasse projeto de Lei para a Câmara com definições dos usos e ocupações do solo.

86

referentes às novas tecnologias nos transportes marítimos e, consequentemente,

novas necessidades espaciais urbanas.

Houve um diagnóstico elaborado em julho de 1993, a partir dos levantamentos

realizados para estabelecimento da Área de Especial Interesse Urbanístico, em

continuidade à lei 971/87 que delimitou e definiu características de ocupação e

zoneamento para os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, através de

critérios de preservação pelas suas características históricas urbanas de tipologia

edilícia e conjunto edificado. A constatação foi de que a área portuária era um

vetor de crescimento da Área Central de Negócios, e precisava de uma proposta

de utilização, �tendo em vista o interesse que existe quanto à revitalização dos

espaços para novas ocupações como: lazer, turismo, cultura, residências, a

preservação do patrimônio histórico-arquitetônico, a recuperação dos espaços

ociosos e a melhoria das condições ambientais da orla marítima integrando-a a

cidade.�36

Durante esse período de dez anos, de 1991 a 2001, foram realizadas propostas

para intervenção na Zona Portuária, notadamente a desenvolvida pela Companhia

Docas, quando definiu um plano de massas a partir da legislação urbanística em

vigor na época para a área. Paralelamente, arquitetos e vários grupos ligados a

infraestrutura e obras públicas produziram estudos de como �revitalizar� aquela

região, com área aproximada de 3.177.000 m2, além de 400.000m2 de terrenos

36 Rio de Janeiro(RJ).Prefeitura- Secretaria Municipal de Urbanismo,. Superintendência de Planos Locais. Área de Especial Interesse Urbanístico da Zona Portuária do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Julho de 1993. (Relatório Básico, p. 48).

87

vazios.37 O resultado pode ser traduzido pela apropriação deste grande �projeto

urbano� pela atual administração municipal, transformado em eixo da ação

governamental.

Conforme explicitado na própria divulgação dos projetos atuais, é intenção da

Prefeitura realizar esta recuperação utilizando mecanismos e ferramentas já

experimentados nestas outras cidades, e, como objeto deste estudo, avaliaremos

este Plano sob a ótica do papel do Estado como executor de políticas de

intervenção urbanas, com objetivos definidos, metas e parcerias, núcleos de

interesse, sistema viário e setores prioritários de intervenção.

Os mecanismos de divulgação do Plano de Revitalização, envolvem desde

exposição freqüente na mídia, reuniões amplas com diversos setores da

população, e , desde a posse do prefeito César Maia em 2000, o estabelecimento

de uma estratégia de impacto, através da proposta de localização de filial do

Museu Guggenheim no píer da praça Mauá. No entanto, vamos nos ater aos

aspectos das propostas, e a estrutura de planejamento utilizada.38

EM PRIMEIRO LUGAR, FORAM ESTABELECIDOS CINCO TÓPICOS

ESTRATÉGICOS, MONTARAM-SE OBJETIVOS, E DEFINIRAM-SE METAS,

37 Planave (dez 89), Camara Técnica (mar 92), World Trade Center (mai 92), Utopia praticável (mar 93). Citado no Relatório Básico da Área de Especial Interesse Urbanístico da Zona Portuária do Rio de Janeiro. 38 Rio de Janeiro(RJ).Prefeitura- Secretaria Municipal de Urbanismo, Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos, Diretoria de Urbanismo - DUR PORTO DO RIO. Plano de Recuperação e Revitalização da Região Portuária.. Edição: Diretoria de Informações da Cidade � DIC. Rio de Janeiro, 2002

88

CONFORME SERÃO EXPLICITADAS ADIANTE, COM POSSIBILIDADES DE

ARTICULAÇÃO DE PARCERIAS.

Espacialmente, a região foi subdividida em seis núcleos de interesse, a saber:

1-O Píer e a Praça Mauá: Turismo, cultura e entretenimento;

2-O entorno da Av. Barão de Tefé: tecnologia e comunicações;

3-O morro e o cais da Saúde: turismo, meio ambiente e cultura;

4-A enseada da Gamboa: habitação, esportes e serviços;

5- O eixo da Igreja de Santo Cristo: usos mistos;

6-O polo centrado na Rodoviária Novo Rio: integração intermodal de

transportes.

As propostas foram alinhadas em quatro grupos de intervenções, procurando em

cada um deles explicitar as interelações entre os mecanismos da ação, e

buscando atender aos objetivos acima descritos.

Essas intervenções são as referentes ao sistema viário e de transportes,

destacando-se o binário interno Mauá - S. Cristóvão, o contorno do antigo litoral

com a recuperação das vias nos sopés dos morros, a volta dos bondes,

integrando os bairros entre si e também os diversos terminais existentes, e o

caminho da orla, com calçadas e ciclovias conjugadas do MAM ao armazém 7, na

Av. Rodrigues Alves.

Outro aspecto a ser tratado diz respeito à Legislação Urbanística, com um olhar

sobre a Proteção do Patrimônio e um outro avaliando os atuais usos e ocupações

89

do solo com vistas a modificações nos regulamentos edilícios, privilegiando usos

mistos e estímulos à habitação.

Dentro dos Projetos Especiais, ações agrupadas em programas com

gerenciamento próprio, mas coordenadas centralmente, encontram-se temas que

vão desde a revalorização dos espaços públicos; retomando os ambientes

tradicionais, passando por estímulos à economia local, até o aproveitamento dos

telhados dos galpões para coleta de energia solar.

É definido o Setor Prioritário de Intervenção, onde situam-se três dos projetos

especiais, que são: o Píer, a Praça Mauá e o Morro da Conceição; a Av. Barão de

Tefé e suas vizinhanças, e o Outeiro da Saúde, sua Igreja, seu entorno, como

núcleo histórico, paisagístico e turístico.

4.2 Análise do Plano Atual da Prefeitura.

A proposta desta etapa é analisar o conjunto do Plano de Revitalização buscando

identificar seus pontos positivos e negativos, tanto na questão urbana maior da

cidade do Rio de Janeiro, como nos aspectos locais desta intervenção.

Em primeiro lugar, entendemos que o plano proposto pela Prefeitura assume

características de um Plano Diretor para uma determinada região da cidade, cujas

propostas e diretrizes básicas e estratégicas significam uma retomada de um

processo que restabelece o planejamento como um instrumento legítimo para

produzir o equilíbrio ambiental urbano.

90

Quase cem anos após a primeira intervenção de porte na estrutura urbana desta

região vemos o Poder Público estabelecer medidas �inovadoras� que parecem de

certa forma definitivas e regeneradoras de um espaço empobrecido. Como os

urbanistas do século passado, podemos reverter o esvaziamento, com ações que

racionalizem o uso do espaço, reorganizem a ocupação social deste espaço,

reordenem os fluxos de pessoas e mercadorias e produzam atrativos que

requalifiquem esses espaços.

Partimos da premissa de que é um Plano Diretor fundamentalmente pelos

mecanismos �técnicos� de intervenção, através da seleção de funções urbanas a

serem acionadas, como o uso e ocupação do solo, sistemas de transportes,

políticas de incentivos tributários e, como elemento diferenciador do plano diretor

ortodoxo, a exposição freqüente das propostas junto a mídia, buscando um

endosso das ações públicas, em função da �seriedade e consistência� do plano.

É importante salientar que o conjunto dos tópicos estratégicos são de quase

unanimidade. Toda a sociedade deseja o desenvolvimento social e econômico;

novos investimentos; espaços para moradia, cultura e lazer; recuperação e

revitalização do patrimônio histórico; e a reintegração da cidade com a Baía de

Guanabara. A questão se apresenta nos processos e mecanismos de implantação

e articulação destas medidas, sua abrangência, a quem atender e de que forma.

Como forma de se desenvolver essas intenções, foram expressas no elenco de

objetivos:

- Atrair novos empreendimentos para a região, hoje em processo de

obsolescência,

91

- Valorizar o patrimônio cultural, tornando-o parceiro das inovações e do

desenvolvimento,

- Estimular novos usos em substituição ao deslocamento das atividades

portuárias,

- Romper o isolamento dos bairros, melhorando suas condições de circulação e

acesso,

- Recuperar as condições ambientais locais e reintegrar a área à Baía de

Guanabara,

- Reforçar a vocação residencial, recuperando prédios antigos, ocupando

terrenos vazios e requalificando áreas de ocupação informal,

- Fomentar a economia local através de financiamentos em diversas escalas.

Esses objetivos serão avaliados, buscando mostrar seus aspectos de viabilidade

e compatibilidade com os processos urbanos locais, junto com a percepção e o

entendimento desenvolvidos desde o início desta dissertação.

Com relação ao primeiro objetivo, de Atrair novos empreendimentos para a

região, observamos um processo de reforma e recuperação de vários imóveis,

principalmente na área que definimos como �institucional�, na Av. Venezuela, com

investimentos por parte da União, que é grande proprietária da área. Podemos

citar o imóvel na esquina das Avenidas Venezuela e Barão de Tefé, do Ministério

da Agricultura, a Pró matre, o Tribunal de Justiça e o Instituto Nacional de

Tecnologia. Na quadra anterior, na Av. Venezuela, há uma obra de recuperação

92

de um armazém para instalação de uma montadora de móveis importados, a Vitra,

como é conhecida, com projeto do escritório do arquiteto paulista Paulo Mendes

da Rocha, em área aproximada de 12 000 m2, além da inauguração recente de

Super Mercado na R. Sacadura Cabral, com grande sucesso. Salientamos

também, o grande número de novos estacionamentos em processo de abertura

nessa área, caracterizando uma dinâmica espacial de investimentos, tanto por

parte do poder público como do privado. São, como percebemos, setores de maior

dinamismo, concentrados no entorno ao que a Prefeitura definiu como prioritários

de intervenção, da Praça Mauá e da Av. Barão de Tefé.

As áreas em processo de obsolescência podem ser subdivididas em residenciais

e comerciais/serviços, e possuem características bastante distintas. As

residenciais seriam aquelas situadas principalmente nas encostas dos morros da

Conceição e Livramento, e cristalizam uma ocupação histórica por uma população

que, juntamente com outros grupos sociais vem sofrendo uma constante redução

na renda familiar pelas crises econômicas, através de falta de trabalho e

empregos, o que se reflete no espaço da moradia, tendo como resultado o

adensamento construtivo e populacional nas favelas e a falta de manutenção dos

imóveis, aliados à ausência de investimentos públicos na infraestrutura urbana. Ao

mesmo tempo, há toda uma modificação nos padrões de consumo da população

local, trazendo mudanças também na estrutura de atendimento do comércio.

Podemos intuir que a dinâmica de transformações urbanas em curso nessa área

tende a uma segregação do espaço residencial existente, e, com a renovação e a

conseqüente valorização das áreas de transição entre o antigo e o novo. As

93

substituições nos padrões do comércio local, provavelmente assumirão uma feição

de serviços característicos da Área Central de Negócios, com sua renovação

condicionada em função da tipologia imobiliária dos sobrados e construções

locais, com pouca testada e grande profundidade dos lotes. Devemos sinalizar

sobre a existência da legislação urbanística atual ( Lei 7351-88), que estabelece a

preservação de quase 2000 imóveis históricos nessa área, o que restringe e leva a

uma renovação criteriosa nos aspectos edilícios e de implantação de atividades

compatíveis.

Outras áreas situam-se nos baixios do morro da Providência e do Pinto, no bairro

de Santo Cristo e serão avaliadas nos aspectos de ocupação do solo, visto suas

atividades estarem vinculadas às práticas portuárias, desde o início da ocupação e

dos aterros. Correspondem aos pátios ferroviários existentes, a áreas militares,

grandes armazéns atualmente utilizados como barracão para Escolas de Samba,

agências de veículos e estacionamentos de ônibus que utilizam o terminal

Américo Fontenelle. São as maiores extensões de espaços vazios e reserva de

áreas na região portuária como um todo.

Com relação ao item seguinte, de �Valorizar o patrimônio cultural, tornando-o

parceiro das inovações e do desenvolvimento�, em primeiro lugar fica cristalino o

entendimento do grande valor histórico, urbanístico e social da zona portuária,

tanto pela ótica da estrutura da cidade como de seus moradores e usuários locais,

expresso neste objetivo. Os morros fazem parte da nossa própria história desde a

fundação da cidade, assim como o local marca as origens dos movimentos sociais

94

do início do século XX, e a construção do cais e das edificações aí existentes

configuram momentos de grandes transformações na estrutura urbana e

demonstram as relações entre o Poder Público e a sociedade. Na medida em que

se propõe essa valorização, depreende-se que hajam edificações e ambiências

urbanas a serem preservadas. Endossamos esse objetivo, considerando ainda a

oferta de espaços públicos e privados em processo especulativo, ou com usos e

ocupações inadequadas ao local. Percebemos em constantes visitas à área,

alguns imóveis em processo de arruinamento, o que nos leva a questionar sobre

os mecanismos de recuperação imobiliária do plano proposto, e sua viabilidade

em função do grande número de imóveis a serem objeto de preservação e

recuperação. A Lei 7351 de 1988 elaborada com a participação da comunidade e

outras instituições preservou cerca de 2000 prédios com características históricas

localizadas principalmente nos morros, enfatizando esse valor arquitetônico e

histórico do conjunto construído dessa área.

Quanto ao objetivo, de Estimular novos usos em substituição ao deslocamento

das atividades portuárias, entendemos que houve uma transformação nos

processos tecnológicos e nas políticas públicas relacionadas à atividade portuária,

com uma série de desdobramentos no tecido urbano, cuja adequação vem

acontecendo há algum tempo. A expansão da atividade portuária em direção ao

bairro do Caju com a implantação de espaços destinados a exportação de

veículos, e pátio de conteiners, desocupou vários armazéns localizados na Zona

Portuária, cuja função, num primeiro momento foi de esvaziamento e atualmente

são usados como barracões de Escolas de Samba e estacionamentos,

95

principalmente. Outro aspecto a ser considerado é com relação a legislação

urbana existente para a área dos armazéns, tanto no que se refere aos gabaritos,

como aos usos e ocupações previstos.

Há, no entanto, questões a serem equacionadas com relação ao deslocamento de

atividades portuárias. O porto do Rio de Janeiro foi tendo parcelas de suas

atividades transferidas para outros portos, principalmente minérios em Sepetiba, e

importação de veículos em Vitória em função de diversos fatores como preços das

operações portuárias e estímulos para que estas operações fossem deslocadas.

Temos o entendimento que parte das atividades portuárias são questões

estratégicas, vinculadas ao comércio e indústrias e na importação e exportação de

bens e serviços em nível nacional. A população local, que sempre esteve

vinculada à atividade econômica portuária, demanda que poderia haver um

retorno de algumas operações com intenções claras de se reverter o processo de

desemprego da área. As propostas atuais de desenvolvimento sócio-espacial para

regiões de porto procuram gerar mecanismos de agregação de valor às

mercadorias transportadas e não somente funcionar como instituição coletora de

impostos. Nesse ponto, a participação dos vários grupos envolvidos poderia

montar uma estratégia de recuperação e renovação de atividades compatíveis

com as questões urbanas locais.

O objetivo relacionado à integração e articulação interna da área portuária, de

Romper o isolamento dos bairros, melhorando suas condições de circulação e

acesso, é o que fornece maior diversidade de leituras, principalmente em função

dos seguintes aspectos:

96

1- o conceito de isolamento, aparentemente significando segregação pode ser

interpretado de várias maneiras. Quando percorremos as vias próximas à

Praça Mauá, percebemos a dinâmica urbana e a riqueza de funções

características de uma área com forte atividade comercial e de serviços, aliada

ao uso residencial localizado nas encostas do Morro da Conceição. A R.

Sacadura Cabral possui intensa movimentação tanto de veículos como de

pedestres, por ser uma importante via de ligação entre os terminais da praça

Mauá e o entorno a Av. Marechal Floriano e as proximidades da Central. Toda

essa região vem sendo progressivamente ocupada com a transformação de

diversos imóveis em estacionamentos, caracterizando uma certa especialidade

em termos de uso do solo. Acresce-se a essa dinâmica, a concentração de

comércio destinado a utensílios para cozinhas e de material elétrico e

iluminação na Av. Marechal Floriano e adjacências. Na Av. Barão de Tefé,

além do intenso fluxo de transporte coletivo que demanda as avenidas Passos,

Presidente Vargas e a Rio Branco, temos o Hospital dos Servidores do Estado,

que apesar das oscilações constantes na qualidade dos atendimentos, ainda é

uma referência na rede hospitalar da cidade. A questão da falta de vitalidade

refere-se principalmente ao período noturno, quando reduz-se a movimentação

relacionada ao centro da cidade, especialmente comércio e serviços.

2- As condições de circulação desse trecho da cidade são excelentes,

considerando-se sua centralidade, assim como a variada oferta de meios de

transportes disponíveis. Essa afirmação pode ser feita por observação local,

apesar de não termos acesso a dados atualizados sobre deslocamentos,

97

viagens e pesquisas de origem e destino no Rio de Janeiro. O sistema viário

local, com exceção da interrupção existente no sopé do morro da Gamboa

devido ao pátio de manobras da Rede ferroviária, e que é objeto de proposta

de intervenção por parte da Prefeitura, possui vias ortogonais, largas, planas,

que se articulam a um eixo linear que atravessa toda a região, que é a Av.

Rodrigues Alves. Essa via absorve grande parte dos fluxos de veículos

oriundos da Av. Brasil, inclusive o transporte coletivo que vem da baixada

fluminense e tem seu ponto final na própria Praça Mauá, e se articula com a

Terminal rodoviário A. Fontenelle existente atrás da Central, pela R. Prof. P.

Reis e R. da América, transformando este ponto da cidade em um terminal de

integração intermodal com a participação do sistema ferroviário, metroviário e

de ônibus, e utilizando o suporte físico do sistema viário da zona portuária. A

saída do terminal se dá pelo túnel João Ricardo e R. Rivadávia Corrêa até a

Av. Rodrigues Alves em direção a Av. Brasil novamente.

3- Como podemos observar, a Zona portuária desenvolve-se paralelamente à Av.

Pres. Vargas, e seu limite oeste, a Av. Francisco Bicalho, faz parte do

complexo viário da Praça da Bandeira e é importante ligação dessa avenida

ao início da Av. Brasil, em ambos os sentidos. Dessa forma, as condições de

acesso dos bairros pertencentes a essa região, podem ser consideradas como

altamente satisfatórias em função dessa macro localização estratégica no

tecido metropolitano. No entanto, existem freqüentes congestionamentos de

tráfego, caracterizando mais esta região como de passagem dos fluxos

originários das zonas sul e central, em direção à Av. Brasil e outras regiões da

98

cidade, do que propriamente uma situação localizada, cuja solução proposta

no projeto da Prefeitura, de se duplicarem os eixos viários com a abertura de

via paralela a Av. Rodrigues Alves, pudesse resolver a questão. Tanto nos

horários de pico da manhã, como no fim da tarde, ocorrem grandes retenções

que se estendem por toda a malha urbana, em especial nas áreas próximas ao

centro. Uma observação no local que endossa esta avaliação é quanto ao

tráfego na via elevada, constantemente engarrafado nesses horários, o que

não aconteceria caso os fluxos fossem desobstruídos além dos limites da área

de estudo.

Outro objetivo explicitado no plano é o de Recuperar as condições ambientais

locais e reintegrar a área à Baía de Guanabara, que pretende , de acordo com as

propostas apresentadas, dar visibilidade à linha do mar, obstruída pela seqüência

dos armazéns e das ampliações construídas entre eles e propiciar melhorias

ambientais. Podemos subdividir a questão ambiental local em dois aspectos, a

saber: a poluição sonora, visual e do ar decorrente do volume de tráfego e das

obstruções físicas citadas e a atividade industrial, concentrada atualmente nos

moinhos, que tem gerado reclamações por parte da população, e por outro lado, a

ambiência urbana, nos seus aspectos de paisagem natural e edificada. Devido ao

fato da região haver sido resultado de aterro, e uma das primeiras áreas ocupadas

na cidade, as características da paisagem natural remetem ao contorno dos

morros, e a alguns trechos arborizados. No entanto, podemos valorizar a

diversidade de construções como aspecto positivo da região, com a vantagem de

não haver sido renovada em sua maior parte, permitindo hoje uma avaliação

99

criteriosa dos edifícios e ambientes urbanos com potencial de preservação e

recuperação. No que se refere à questão da poluição devido ao tráfego, as

propostas para se reduzirem os índices devem avaliar a implantação dos VLT�s

(Veículos leves sobre trilhos), e, principalmente a possibilidade de se equacionar o

transporte urbano rodoviário, pelo grande fluxo existente nesta região. A

localização dos terminais da Praça Mauá, do A. Fontenelle junto a Central, a

Rodoviária Novo Rio e o expressivo volume de ônibus que demandam outros

pontos como a Praça XV, o Castelo, a Praça Tiradentes e outros, transformaram

esta área em eixos vitais de passagem, que, juntamente com a Av. Presidente

Vargas, o sistema do Metrô, o ferroviário e o das barcas, deveriam ser objeto de

estudos integrados de transporte intermodal na região metropolitana como um

todo.

Outro objetivo refere-se a Reforçar a vocação residencial, recuperando prédios

antigos, ocupando terrenos vazios e requalificando áreas de ocupação informal.

A área apresenta um uso residencial significativo, mas , no entanto vem perdendo

moradores. Segundo o IBGE, a população da zona portuária em 1990 era de

38000 habitantes, decrescendo para 22000 em 2000. Como o processo de

adensamento e favelização da cidade como um todo aumentou nesse período,

podemos inferir que houve redução na ocupação residencial nas áreas formais

dos bairros, isto é, naquelas consideradas legais. Hoje podemos perceber alguns

movimentos de recuperação, com a instalação de supermercados, restaurantes,

papelarias, no eixo da Av. Barão de Tefé, principalmente, indicando uma

tendência de adensamento.

100

A Prefeitura da cidade e a Secretaria Municipal de Habitação através do

Programa Novas Alternativas e da Coordenadoria de Fomento, vem

desenvolvendo projetos com o objetivo de se ocuparem vazios urbanos na cidade,

prédios abandonados e deteriorados, lotes vazios e áreas residenciais. São

viabilizados através de programas de crédito. Segundo informações colhidas junto

aos técnicos, a Secretaria realiza levantamentos, compra terrenos ou imóveis,

desenvolve projetos e monta operações de crédito em parceria com empresas e

agentes financiadores. Cerca de 30 projetos já foram desenvolvidos, com 34

processos de desapropriação. Cinco imóveis foram reabilitados com recursos

municipais e está em finalização a obra de recuperação do cortiço instalado à r.

Senador Pompeu, 34/36, tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural do

Município.

Os projetos em curso na secretaria buscam revitalizar a área pela produção

habitacional e com a participação e parceria entre empreendedores, construtores

e proprietários de imóveis da região, interessados em promover a reabilitação das

edificações existentes ou empreender novas construções em vazios urbanos.39

Devido às condições de preservação locais, todas essas adaptações devem ser

aprovadas pelos órgãos de patrimônio e de fiscalização urbanística, e �associar as

diretrizes de recuperação patrimonial às necessidades da habitação atual�.

A ocupação dos morros deveria ser considerada como área prioritária para

recuperação. As construções irregulares e as favelas são as mais antigas da

cidade, resultado das primeiras intervenções de porte na malha urbana, com a

101

atuação do Prefeito Pereira Passos e os deslocamentos populacionais gerados e

as primeiras crises habitacionais registradas. Até hoje simbolizam a ausência do

poder público no equacionamento dessa questão. Os custos de implantação dos

projetos Favela-Bairro e Bairrinho nas três favelas da região e provavelmente são

uma pequena parcela dos investimentos previstos para a Zona portuária como um

todo e significariam concretamente a intenção de recuperação da área. As

populações envolvidas, moradores e trabalhadores, tem, desde o início do século,

longa tradição de lutas e mobilização que deveriam ser reconhecidas pelas

instituições públicas como vetor de transformação e de requalificação dos

espaços centrais da cidade.

Quanto ao último aspecto, Fomentar a economia local através de financiamentos

em diversas escalas, entendemos que existe a necessidade de uma ampla

convergência de esforços no sentido de se estimularem mecanismos facilitadores

para a obtenção de créditos para diversos fins. Em reuniões realizadas no Instituto

Pereira Passos com a participação de técnicos, empresários locais e comunidade,

foi sinalizado a parceria de Prefeitura da Cidade com a Caixa Econômica Federal

para estabelecimento de algumas linhas de crédito para a recuperação de

imóveis. Esses entendimentos estavam em processo de avaliação, visto a

característica inovadora dos mecanismos propostos. Uma das idéias seria a

concessão de recursos a fundo perdido para recuperação das fachadas e

coberturas, com a intenção explícita de �embelezamento�, e a abertura de linhas

de crédito para as reformas internas, nos padrões de financiamento habituais, ou

39 De acordo com o catálogo da exposição Porto do Rio, realizada no Centro de Arquitetura e

102

dentro de programas já existentes. A preocupação dos moradores era quanto a

concessão de créditos nesses programas, devido ao fato de que em primeiro

lugar, não teriam rendas suficientes para obter acesso às linhas de crédito

imobiliárias propostas, gerando um processo de �expulsão� dos moradores locais,

e, em segundo , com a valorização decorrente, não suportarem o aumento da

carga tributária, com o mesmo resultado.

Nesta mesma reunião, os empresários locais sinalizaram com seus próprios

projetos de investimentos, mas solicitaram a injeção de recursos na economia

local. Propuseram um Conselho - grupo de trabalho, com a participação dos

trabalhadores da área, para �recuperação do comércio e da indústria� locais. Os

moradores e representantes dos trabalhadores sinalizaram com a efetiva

participação da população diretamente interessada, incluindo os moradores das

favelas dos morros da Providência e do Pinto, locais onde deveriam ser

implantados os projetos �Favela � Bairro�, como medida significativa da intenção

da Prefeitura em solucionar parcelas da questão habitacional da Zona Portuária.

As respostas oficiais remeteram ao �descompasso entre o IPP e a Secretaria de

Habitação do Município�. A nossa avaliação é de que o projeto habitacional

embutido no plano proposto pela Prefeitura não irá contemplar essas áreas de

favelas com o mesmo interesse e dinamismo direcionados às outras áreas.

A Prefeitura sinaliza com a formação de uma �Sociedade de propósitos

específicos�, com a participação dos proprietários locais, principalmente Docas,

Prefeitura, Caixa Econômica, INSS, Serviço de Patrimônio da União, e a

Urbanismo do Rio de Janeiro, de 18/12/01 a 17/2/02

103

transformação dos valores dos imóveis em títulos imobiliários, de forma a se

resolverem os problemas e pendências jurídicas dos terrenos, com possibilidades

de remembramentos dos lotes, negociações com estes títulos, cessão, garantias,

etc.

A partir desse elenco de objetivos, o Plano da Prefeitura se propõe, a atingir as

seguintes metas:

.Elaborar o Plano de Recuperação e Revitalização da região;

.Criar grupo gestor para gerenciamento do projeto;

.Buscar instrumentos de fomento à economia local;

.Adaptar a legislação urbanística às novas demandas;

.Estabelecer um sistema hierarquizado de vias de circulação.

O Plano de Recuperação e Revitalização da Zona Portuária , é o conjunto de

todas essas medidas( anexo I), se pretende um Plano Diretor e tem como

característica básica a leitura de que possui as condições exclusivas para

revitalização desta área, concedendo a participação aos atores sociais urbanos.

No entanto, desconsidera a multiplicidade e riqueza da participação dos setores

sociais diretamente envolvidos com a produção deste espaço e mantém a mesma

postura �técnica� dos planos anteriores. Pode-se dizer que o �PLANO� já está

pronto, faltando apenas pequenos ajustes, para dar a impressão de que houve

efetiva participação popular na sua feitura. Sua construção se fez no Instituto

Pereira Passos, logo após a posse da atual administração, restrito ao corpo

104

técnico do IPP, como parte do elenco de medidas inovadoras para solucionar as

questões urbanas atuais.

Com relação ao segundo ítem, de se Criar grupo gestor para gerenciamento

do projeto, conforme documento do Instituto Pereira Passos referente às medidas

de implantação do Plano, a função referente à Gestão urbana, dentro da meta de

Modelagem institucional/operacional do Plano de Reabilitação da Zona Portuária,

consta de articulações, com a definição das competências e bases negociais e

preparação e aprovação de contrato, sendo os órgãos envolvidos o Governo

Federal e a Prefeitura da cidade, e tendo como produto a criação da empresa

gestora do Plano de Revitalização da Zona Portuária e deveriam estar concluídas

em setembro de 2001. Parece-nos que há entendimentos entre a prefeitura e o

governo federal em tópicos isolados do plano, como as questões de empréstimos

junto à CEF, a transferência de propriedades, nos setores jurídicos da Prefeitura e

SPU, a possibilidade de viabilização do sistema de transportes VLT encaminhado

ao BNDES, e outras parcerias semelhantes. Entendemos a necessidade de

abertura destas negociações, com a efetiva participação dos setores sociais

envolvidos, principalmente, dos moradores e usuários dessa área, para

estabelecimento de prioridades na implantação de medidas que objetivem o

desenvolvimento e crescimento dessa região.

Conforme observado anteriormente, na função de Desenvolvimento Econômico,

existem as metas de: Apoio às pequenas atividades econômicas, Atração de

novos investimentos e atividades, e a Criação de pólos de desenvolvimento, como

mecanismo de se Buscar instrumentos de fomento à economia local.

105

As ações de levantamentos de demanda e estudos de viabilidade vem sendo

realizadas junto a institutos de pesquisas e outros órgãos da prefeitura, como a

Secretaria Municipal da Fazenda. O produto será a promoção de linhas de crédito

e elaboração de projeto de lei para implantação dos pólos de desenvolvimento. Há

estudos preliminares sobre uma atividade que poderia ser um vetor de

dinamização do espaço da Zona Portuária que é a universidade privada.

Recentemente, foram expandidos os Campus de duas universidades na Área

Central da cidade. Este evento mostra a permanente transformação de usos e

atividades em uma área, e sinaliza uma possibilidade real de dinamização na

Zona Portuária. Devido ao fato de já existirem Institutos de Pesquisas, como o INT

e o INPI, cujos vínculos acadêmicos são claros, e a atividade acadêmica atrair

pessoas, com comércio, restaurantes, atividades culturais, provavelmente seria

importante para a região, inclusive pela demanda residencial que acompanharia

essa atividade. A disponibilidade de espaços, terrenos e prédios vazios poderia

facilitar a localização deste uso socialmente necessário e com boas possibilidades

de consolidação(Egler, 2000).

Vinculada a esta proposta, está a de implantação do Pólo no Porto, projeto que

vem sendo desenvolvido para implantação de pólo de difusão do conhecimento,

com objetivo de se reduzir a exclusão social pela falta de acesso às tecnologias de

informação digitais. A área de tecnologia conta ainda com a participação de

Incubadoras de empresas, consorciadas ao Instituto Nacional de Tecnologia.

Com relação à meta de se Adaptar a legislação urbanística às novas

demandas, percebemos a reduzida consistência nessa ferramenta de controle

106

urbanístico, pois transparece a facilidade com que essa legislação pode ser

alterada. A Legislação urbana para a área, de alguma forma serviu para manter o

baixo índice de renovação edilícia, principalmente em função de não haver

demandas concretas para a sua reocupação. Acreditamos que o Mercado

Imobiliário investiu nas áreas de expansão e adensamento dos usos residenciais e

de serviços como as zonas sul e norte, e Barra da Tijuca, afastando-se da Área

Central de Negócios e sua periferia imediata, devido inclusive à questão da

propriedade da terra na Zona Portuária. Outro aspecto a ser considerado, que

endossa essa observação, diz respeito ao uso residencial não ser adequado , de

acordo com a legislação em vigor, a se localizar nas áreas centrais. Isso fez com

que o número de moradores tenha decrescido e ao mesmo tempo se reduzido a

dinâmica das atividades relacionadas a moradia no centro. As propostas em

estudos devem contemplar a possibilidade de usos mistos, como mecanismo de

se estabelecer novo dinamismo a área.

A Lei 7351, de 1988, com o tombamento de mais de 2000 edificações históricas

da área deve ser mantida, para haver proteção legal de um conjunto urbano

significativo da memória da cidade desde a sua fundação.

Um aspecto da legislação que merece estudos diz respeito ao novo projeto de

alinhamento para transformar o antigo leito das linhas ferroviárias em novas vias,

com o objetivo de se criarem novos percursos de circulação de pessoas e veículos

e abrir a possibilidade de lotes atuais serem orientados a essas novas vias, hoje

utilizadas para estacionamentos. Todos estes aspectos da legislação deveriam

estar concluídos em junho de 2001, conforme as propostas do plano.

107

A meta de se Estabelecer um sistema hierarquizado de vias de circulação, é

resultado de uma interpretação sobre �os efeitos negativos do isolamento�, com a

proposta de que �o novo sistema de circulação deverá oferecer o maior número

possível de conexões e articulações intra e extra bairros�. Continuando �As

intervenções visam manter a Avenida Perimetral exclusivamente como via de

passagem; estabelecer um binário interno de ligação com os bairros vizinhos,

paralelo à Avenida Rodrigues Alves; transformar os eixos mais próximos aos

morros em vias de articulação inter-bairros e de tráfego local e adotar sistemas

alternativos de circulação que valorizem a acessibilidade aos bairros portuários�.

Estas propostas foram subdivididas no binário interno Mauá - São Cristóvão, o

contorno do antigo litoral, a volta dos bondes e a ciclovia : o caminho da orla.

Apesar dos poucos dados referentes aos deslocamentos e pesquisas de pontos

de origem e destino, está claro que a duplicação da Avenida Rodrigues Alves não

é solução para �a ausência de malha viária estruturadora�, como citado no

documento do plano. Os pontos de estrangulamento estão situados nos acessos

à Zona Portuária, como na Rodoviária Novo Rio, na Praça Mauá e nas

transversais, r. Camerino e r. da América. Os fluxos no túnel João Ricardo

possuem seus horários de engarrafamento e como em qualquer ponto da cidade,

independem do sistema viário da Zona Portuária, e sim da avenida Brasil e da

Ponte Rio Niterói no sentido zona norte e da av. Rio Branco e áreas centrais no

sentido da zona sul.

A proposta de se revalorizar o contorno do litoral, complementa a de preservação

do patrimônio local, nas suas dimensões de ambiência urbana. No entanto, como

108

no caso do binário, não são esclarecidas as externalidades destas medidas, como

os possíveis impactos na estrutura atual de circulação.

A volta dos bondes é uma das propostas que envolve a participação do Governo

federal, através do BNDES, com a implantação no centro da cidade de seis linhas

circulares e tangenciais entre si, aproveitando a maioria das ruas existentes. Está

programada para 2004 a entrega dos estudos de viabilidade e editais de

concessão e exploração do sistema. Apesar da importância na implantação de

sistemas de transportes coletivos, reforço a observação sobre a falta de um

projeto de integração metropolitano de transportes, em função da desarticulação

existente entre as várias instâncias de governo e de uma proposta conceitual que

olhe a cidade e sua dinâmica como um todo.

A região portuária é a de maior acessibilidade na cidade. Como parte do núcleo

histórico e junto à Área Central de Negócios, com ligações entre as zonas sul e

norte, a ponte Rio Niterói , a av. Brasil, está vinculada ao sistema ferroviário e

bastante próxima do metroviário, é banhada pela baía de Guanabara, com

possibilidades de utilização de sistemas de transporte hidroviário para vários

pontos da região metropolitana, e tem em seu interior os terminais rodoviários

Novo Rio, da pça. Mauá e Américo Fontenelle. Está também relativamente

próxima aos aeroportos Santos Dumont e Galeão, e possui amplas áreas vazias

contínuas. Acreditamos que essa área possua grandes condições de absorver um

suporte para um sistema integrado de transportes intermodal, com variados

reflexos positivos na estrutura de transportes metropolitana como um todo.

109

110

Conclusões

Revisitando a política urbana no Rio de Janeiro

Algumas questões se apresentam na leitura dos mecanismos de ocupação do

espaço e seus desdobramentos. Entendemos que a intervenção do Estado e a

ação pública contribuem para a construção diferenciada do espaço, privilegiando

áreas de interesse de grupos sociais, em detrimento de outros setores da

sociedade.

A estrutura espacial da cidade capitalista em seus diversos momentos históricos,

não pode ser dissociada das práticas sociais e dos conflitos existentes no interior

do processo social entre os diversos atores urbanos, refletindo-se na luta pelo

domínio do espaço, marcando a sua forma de ocupação.

Algumas propostas para desdobramentos do objeto de estudo e interpretações do

que foi apreendido no processo de elaboração dessa dissertação serão

desenvolvidas, com o objetivo de se ampliar o entendimento sobre a questão

urbana. Aprendemos que estes processos de construção do espaço nas

sociedades, significam a cristalização de uma estrutura formada por uma teia de

relações sociais ao longo do tempo, e que se reproduzem em diferentes escalas

de observação. Simplificando, o que conformou a região portuária de alguma

maneira foi o que também contribuiu para a formação da cidade como um todo, e

111

o nosso interesse em compreender este processo possibilitará uma leitura ampla

do espaço das cidades.

A reflexão avança para uma constatação a respeito dos �Vazios Urbanos� da Área

Central e seu entorno imediato. A cidade do Rio de Janeiro, desde a sua

fundação, passou por momentos de profundas modificações em sua trama viária,

em seu relevo, com o desmonte dos morros do Castelo, do Senado e de Santo

Antônio e outros, com o aterro de lagoas e manguezais, alem das grandes

intervenções e cirurgias com os mais variados objetivos. Quando observamos

esses processos, percebemos alguns resultados que se repetem

sistematicamente (v. anexo 6: mapa desmonte e aterros):

- A intervenção do Prefeito Pereira Passos foi profundamente �demolidora�,

inclusive com a utilização e legitimação de poderes extraordinários na

consecução de suas ações de renovação urbana;

- A esplanada do Castelo, resultado do desmonte do núcleo histórico do Rio, no

morro do mesmo nome, ficou vazia por trinta e poucos anos, até ser ocupada

em sua maior parte pelas edificações dos Ministérios e outros órgãos federais;

- A Avenida Presidente Vargas, aberta em 1944, possui ainda terrenos vagos,

ou ocupados por estacionamentos e feiras de camelôs. As obras de maior

porte, dando continuidade ao projeto dos passeios cobertos pelos prédios

(Plano Agache), são as instituições bancárias nas proximidades da Av. Rio

112

Branco, ou os edifícios sede do Banco Central e do DNER, do lado da Av.

Marechal Floriano;

- O Morro de Santo Antônio também deu lugar à Av. Chile e República do

Paraguai, localização de grandes estatais, ícones do poder pós � 64, os

edifícios da Petrobrás, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social � BNDES, e o Banco Nacional da Habitação � BNH;

- A região da Cidade Nova, do Catumbi até a Praça da Bandeira, também foi

palco de uma profunda intervenção, em parte pela construção do Túnel Santa

Bárbara, e a seqüência de viadutos até o bairro do Santo Cristo pela R. da

América, obras essas integrantes do Plano Doxiadis em sua vertente rodoviária

(as linhas policrômicas) e pela implantação das linhas 1 e 2 do sistema Metrô,

que promoveu uma desapropriação em grande escala, principalmente na

ocupação residencial de renda mais baixa, mas que usufruía das vantagens

locacionais de proximidade ao Centro. A imagem dessa área hoje também é de

esvaziamento e abandono. Construiu-se no local, além dos viadutos e do

Metrô, o espaço conhecido como Sambódromo, o edifício sede dos Correios, o

Arquivo Geral da Cidade e os blocos destinados às Secretarias Municipais e

outros órgãos da Prefeitura da Cidade, além de experiências de investimentos

em infra estrutura para atividades �de ponta�, como o Teleporto,

estacionamentos e futuras possibilidades para instalações hoteleiras e de

apoio a convenções e turismo.

113

O que percebemos em comum nessas intervenções é, em primeiro lugar, o peso

das ações, e a sua irreversibilidade. Em segundo lugar, a sistemática da

intervenção nas áreas residenciais de baixa renda, gerando um processo de

�invasão e sucessão�, ou seja, abrindo espaços para outros usos e outras classes

e estamentos sociais reocuparem estruturas urbanas dinâmicas e finalmente a

enormidade dos prazos de reocupação: são décadas em que a cidade fica como

que estagnada, principalmente nas imediações do seu centro histórico, ou melhor

no quadrilátero dos morros que a conformaram, Castelo. S. Bento, Conceição e

Sto. Antônio. (V. mapa 1, Cap. 1).

A oferta de áreas próximas ao centro da cidade, por um lado, estimula a criação

de propostas as mais variadas para sua ocupação, devido inclusive ao baixo valor

de seus terrenos. Por outro lado, o poder público encontra dificuldades concretas

em avançar nessas propostas, devido a questão da propriedade fundiária, pois as

terras sempre pertenceram à União, cedidas por concessão. Como o efetivo

legislador do espaço é o poder municipal, e pela ausência de uma política explícita

de ocupação desses espaços, há essa superposição de interesses, cujos

resultados remetem ao esvaziamento urbano.

114

Para uma política social na Zona Portuária

Em primeiro lugar, constatamos que a grande disponibilidade de áreas no centro, e na zona portuária em particular, será acrescida de outro espaço considerável com a futura desativação das instalações do Gasômetro no fim da av. Brasil e Francisco Bicalho. As propostas do Plano da Prefeitura não consideram essas variáveis. Esses espaços devem ser considerados como complementares à atividade portuária, como zonas industriais que possam agregar algum valor à mercadoria portuária, como por exemplo a divisão de produtos importados que chegam em um só conteiner e que vão para vários destinos diferentes, ou de expansão urbana para usos diversos.

São necessários estudos sobre os deslocamentos intra urbanos e as demandas

atualizadas de origem e destino da população metropolitana, com os meios de

transportes utilizados, o tempo gasto e os custos dessas viagens. A questão dos

transportes , principalmente no núcleo da região metropolitana não deve ser

analisada pontualmente. Em função desses estudos, provavelmente seriam

apresentadas alternativas que contemplassem a possibilidade de integração

intermodal, objetivando uma maior racionalidade no aproveitamento da

infraestrutura de transportes atual e prevista.

A prefeitura elabora um projeto de viabilidade para construção de um museu, com

a intenção de ser um marco no processo de revitalização portuária, cujos custos

ultrapassam a casa dos 300 milhões de dólares, e não conclui um investimento

para recuperação das comunidades faveladas dos morros locais. Como são as

mais antigas favelas da cidade, significam a ausência de investimentos do poder

público há 100 anos. Conforme assertivas anteriores, qual a credibilidade de um

projeto para a comunidade local, e qual o envolvimento desses moradores ? Como

exemplo podemos citar o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, cujo custo de

construção foi de 5 milhões de dólares, é um sucesso de público e transformou-se

na imagem da cidade.

115

O Porto da cidade do Rio de Janeiro é e sempre foi um porto urbano vinculado à cidade. Dessa forma, proponho um conceito, de comunidade portuária, com a participação das empresas privadas, setor público, moradores e associações de trabalhadores com o objetivo de se estabelecerem políticas locais de desenvolvimento do porto.

Cabe à Prefeitura da cidade o estabelecimento de diretrizes urbanas para a cidade

como um todo por ser a entidade com informações gerais sobre a estrutura urbana

e conhecimentos específicos sobre os deslocamentos intra metropolitanos.

Como complementação deste trabalho, acredito que existam possibilidades de

rearranjos nas relações entre o autor do plano (Prefeitura) e a comunidade

portuária no sentido de que sejam repensadas algumas metas e objetivos do

Plano atual, e a forma de participação dos setores envolvidos, com o objetivo de

se construir um novo processo de participação e gestão urbanos.

116

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120

Anexo 1: Mapa da Zona Portuária no século XIX. Retirado de A História dos Bairros, P38.

121

Anexo 2: Sistema viário atual. Retirado do Plano de Recuperação e revitalização da Zona Portuária, Instituto Pereira Passos, 2001.

122

Anexo 3: Localização dos imóveis no quarteirão institucional.

123

Anexo 4: Vagas /estacionamentos:

Este levantamento foi realizado em dois dias úteis, nos períodos da manhã e à

tarde, caracterizando uma ocupação cotidiana dos espaços.

Praça Mauá Pol. Civil. 25 Marinha 84 Av. Rodrigues Alves Pol. Federal 25 Pol Federal (int) 350 (est.) Rec. Federal 18 Sec Est. 11 Sob o viaduto 50 n°173 Rio park. 300 Av. Barão de Tefé DHL 7 MA 15 Promatre 19 Av. Venezuela MA. 85 INT (ext) 6 INT (int) 60 Est. I 109 Est. II 70 Pol. Federal 32 R. Edgar Gordilho Pol. Federal 53 Rec. Federal(reg) 27 2° trecho lado par 16 2° trecho lado ímpar 25 R. Coelho e Castro ONG Cidadania 79 Outro lado 28 Est. I 100 Est. II ( L. Americanas) 90 Est. III 57 LBV 49 Outro lado 22

124

R. Sacadura Cabral Est. I 25 Est. II 56 Est. III (Central Park) 190 1° trecho lado par 92 1° trecho lado ímpar 25 2° trecho lado par 19 2° trecho lado ímpar 19

Total de vagas : 2238. Anexo 5: Propostas para ligação entre os prédios da Zona Portuária, utilizando a linguagem arquitetônica característica das pontes sobre as ruas.

Articulação/ligação entre o INT- Instituto Nacional de Tecnologia e o prédio do IAPETC

Articulação/ligação entre o INT e o prédio da Polícia Federal.