4- direito civil - parte geral

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    DIREITO CIVIL Parte Geral PROF. FLVIO MONTEIRO DE BARROS

    DIREITOS DA PERSONALIDADE

    CONCEITO

    Direitos da personalidade so os atributos inerentes prpria condio humana. Conforme

    ensina Francisco Amaral, so os direitos subjetivos que tem por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto fsico, moral e intelectual.

    Os direitos da personalidade podem ser inatos e adquiridos. Os primeiros so os inerentes pessoa humana (exemplos: direito vida, integridade fsica e moral). Os segundos so os conferidos pelo direito positivo (exemplo: direito autoral).

    Como salienta Renan Lotufo, os direitos da personalidade so o mnimo imprescindvel para o ser humano desenvolver-se dignamente.

    Trata-se, a rigor, do patrimnio mnimo da pessoa, porque no h quem no os titularize. A pessoa jurdica tambm possui direito da personalidade (art.52 do CC e Smula 227 do STJ).

    CLASSIFICAO

    Os direitos da personalidade, de acordo com Limongi Frana, podem ser classificados da

    seguinte forma: a) direito integridade fsica: 1) direito vida e aos alimentos; 2) direito sobre o prprio

    corpo, vivo; 3) direito sobre o prprio corpo, morto; 4) direito sobre o corpo alheio, vivo; 5) direito sobre o corpo alheio, morto; 6) direito sobre as partes separadas do corpo, vivo; 7) direito sobre partes separadas do corpo, morto.

    b) direito integridade intelectual: 1) direito liberdade de pensamento; 2) direito pessoal do autor cientfico; 3) direito pessoal do autor artstico; 4) direito pessoal do inventor.

    c) direito integridade moral: 1) direito liberdade civil, poltica e religiosa; 2) direito honra; 3) direito honorificncia; 4) direito ao recato; 5) direito ao segredo pessoal, domstico e profissional; 6) direito imagem; 7) direito identidade pessoal, familiar e social.

    Do ponto de vista do Direito pblico, alguns desses direitos integram as chamadas liberdades

    pblicas clssicas, pois protegem o homem enquanto pessoa humana, limitando o arbtrio do Estado. Todavia, os direitos da personalidade, classificados acima, tambm devem ser analisados sob

    a tica do direito privado, razo pela qual merece aplausos o Cdigo de 2002, que disciplinou o assunto, estipulando certas proibies e garantindo o ressarcimento dos danos causados.

    CARACTERES

    Os direitos da personalidade so absolutos, extrapatrimoniais, intransmissveis, indisponveis,

    vitalcios, irrenunciveis, imprescritveis e ilimitados. Absolutos, porque oponveis erga omnes, isto , devem ser respeitados por todas as pessoas,

    independentemente de qualquer relao jurdica anterior. Extrapatrimoniais, porque incidem sobre bens jurdicos insuscetveis de avaliao pecuniria.

    Todavia, alguns desses direitos, como, por exemplo, a imagem de uma pessoa famosa, podem ser mensurados economicamente de acordo com os critrios estabelecidos por publicitrios,

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    DIREITO CIVIL Parte Geral PROF. FLVIO MONTEIRO DE BARROS

    anunciantes e meios de comunicao de massa. Assim, conquanto a regra seja a existncia de direitos personalidade extrapatrimoniais, excepcionalmente depara-se com alguns patrimoniais, como o caso dos direitos imagem e dos direitos autorais que por isso admitem a cesso de seu uso.

    Intransmissveis, porque inerentes prpria pessoa. Assim, enquanto os direitos

    patrimoniais, como a propriedade, podem ser separados da pessoa de seu titular, mediante alienao do bem, os direitos da personalidade no podem ser destacados da pessoa que os titulariza. Todavia, como ensina Ives Gandra, no se deve confundir a intransmissibilidade com o direito do sucedido, em vida ou aps o falecimento, nestes casos admitindo-se, inclusive, que a lei torne um direito indisponvel, transmissvel, como, por exemplo, o direito imagem, pelo menos no que diz respeito sua defesa. A titularidade dos filhos para defender a imagem paterna exemplo de transmissibilidade de um direito indisponvel. J se decidiu que o direito de mover ao de indenizao por dano moral transmissvel.

    De fato, em se tratando de morto, o pargrafo nico do artigo 12 do CC, confere legitimidade ao cnjuge sobrevivente, a qualquer parente em linha reta e aos colaterais at o quarto grau para tomarem as medidas judiciais visando a cessao da ameaa ou a leso a direito da personalidade, podendo, inclusive, reclamar as perdas e danos, sem prejuzo de outras sanes de natureza patrimonial e penal.

    Indisponveis, porque o seu exerccio no pode ser cedido nem limitado pela vontade da

    pessoa. Com efeito, dispe o art.11 do CC: Com exceo dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade so intransmissveis e irrenunciveis, no podendo o seu exerccio sofrer limitao voluntria. Jamais podero ser penhorados ou transmitidos por ato inter vivos ou causa mortis. Todavia, conforme salienta Carlos Roberto Gonalves, a indisponibilidade dos referidos direitos no absoluta, podendo algum deles ter o seu uso cedido para fins comerciais mediante retribuio, como o direito autoral e o direito de imagem, por exemplo. Nesses casos, os reflexos patrimoniais dos referidos direitos podem ser penhorados. Conforme vimos, alguns direitos da personalidade admitem a cesso de uso (exemplos: direito imagem e direitos autorais). O Enunciado 4 do CJF preceitua tambm que: O exerccio dos direitos da personalidade pode sofrer limitao voluntria, desde que no seja permanente nem geral. Assim, a cesso de uso da imagem no pode ser vitalcia, permanente, sob pena de nulidade do contrato.

    Vitalcios, porque os direitos da personalidade acompanham a pessoa por toda a vida, at a

    sua morte. Alguns desses direitos, mesmo aps a morte, so protegidos, como o respeito ao morto, sua

    memria e ao seu direito moral de autor (pargrafo nico do art.12 do CC). Irrenunciveis, porque a pessoa no pode abdicar desses direitos da personalidade. A

    eventual renncia ser nula. Observe-se, contudo, que a pessoa pode deixar de tomar as medidas necessrias para que cesse a ameaa, ou a leso, a direito da personalidade, deixando, pois, de exercer esse direito. Acrescente-se, porm, que vlida a renncia quando se tratar de direitos da personalidade patrimoniais.

    Imprescritveis, porque o direito da personalidade, com o passar do tempo, no pode se

    convalidar, de modo que a qualquer tempo ser cabvel a ao judicial destinada a fazer cessar a ameaa ou leso a direito da personalidade.

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    A imprescritibilidade emana do fato de esses direitos serem irrenunciveis. A prescrio, a rigor, uma renncia tcita, e, por isso, vedada. Todavia, no que tange ao direito de pedir indenizao, submete-se, evidentemente,

    prescrio, devido ao seu carter patrimonial. Finalmente, o rol dos direitos da personalidade, previsto nos arts. 11 e 12 do CC explicativo,

    pois referidos direitos so ilimitados. Exemplos: planejamento familiar, alimento, liberdade religiosa etc.

    DIREITO IDENTIDADE PESSOAL CONCEITO Direito identidade pessoal, segundo Limongi Frana, o conferido pessoa de ser

    conhecida como aquela que e a de no ser confundida com outrem. CONTEDO O direito identidade compreende:

    direito ao nome; direito ao pseudnimo; direito ao ttulo: consiste na faculdade que tem a pessoa de, em lugares prprios, ser

    identificada atravs de seus ttulos cientficos, honorficos ou militares, como complemento de seu nome civil;

    direito ao signo figurativo: consiste no uso de brases e insgnias correspondentes aos ttulos que detm, como forma de identificao pessoal.

    DIREITO AO NOME CONCEITO Nome o sinal que identifica a pessoa e indica a sua procedncia familiar. NATUREZA JURDICA Trata-se de direito da personalidade. , pois, o sinal distintivo revelador da personalidade. ELEMENTOS ESSENCIAIS Os elementos essenciais, que so aqueles necessrios para o registro do nome no Cartrio

    competente, so os seguintes: a) prenome ou nome prprio ou nome de batismo, cujo objetivo identificar a pessoa dentro

    da prpria famlia; b) patronmico ou sobrenome, que o sinal indicativo da procedncia familiar, cujo objetivo

    identificar a pessoa no seio da sociedade.

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    No Brasil, o prenome antecede ao patronmico; na Itlia, o inverso. O prenome pode ser: a) simples: o formado por um s vocbulo. Ex.: Joo da Silva. b) composto: o formado por mais de um vocbulo. Ex.: Joo Carlos da Silva. Os irmos no podem ter prenomes idnticos, salvo em duas hipteses, previstas no art. 63

    da LRP: a) prenome composto. Nesse caso, um dos vocbulos pode ser idntico. Ex.: Joo Carlos da

    Silva e Pedro Carlos da Silva . b) nome completo diverso. Ex.: Joo da Silva e Joo da Silva Oliveira. O patronmico pode ser o paterno ou materno, ou ambos, por fora do princpio da isonomia. exceo do infante exposto, toda pessoa necessariamente h de ter prenome e

    patronmico. O infante exposto o recm-nascido abandonado pelos pais. Em sendo estes desconhecidos,

    o registro do nascimento far-se- apenas com o prenome, sem qualquer referncia ao patronmico (art. 61 da LRP).

    Por outro lado, compete aos pais indicarem o nome completo do filho. Podem decidir s pelo patronmico paterno ou ento s pelo materno, ou ainda por ambos, por fora do princpio da isonomia.

    Se os pais no indicarem o nome completo, o artigo 55 da Lei 6.015/73 ordena que o sobrenome ser o do pai; na falta deste, ser o da me.

    ELEMENTOS FACULTATIVOS Os elementos facultativos ou secundrios, isto , dispensveis para o registro do nome, so os

    seguintes: a) agnome: o sinal acrescentado no final do nome para distinguir membros da mesma

    famlia. Exemplos: Joo da Silva Junior; Caetano Lagrasta Neto; Jos da Silva Segundo; Joo de Barros Filho; Ana de Oliveira Sobrinha.

    b) a partcula: a preposio da, das, de, do, dos. c) cognome: o apelido que, por sentena judicial, passa a integrar o nome. O apelido,

    quando integra o nome civil, passa a denominar cognome. Exemplos: Luis Incio Lula da Silva, Maria das Graas Xuxa Meneghel.

    PRINCPIO DA IMUTABILIDADE O princpio da imutabilidade consiste na impossibilidade da alterao do nome civil.

    aplicvel tanto ao prenome quanto ao patronmico. Excepcionalmente, porm, admite-se a alterao, que pode ser de trs categorias:

    causas comuns de mudana do prenome e patronmico; causas especficas da mudana do prenome; causas especficas de mudana do patronmico.

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    CAUSAS COMUNS DE MUDANA DO PRENOME E PATRONMICO Essas causas, que autorizam tanto a alterao do prenome quanto do patronmico, so as

    seguintes: a) Erro grfico. Exemplos: Osvardo, ao invs de Osvaldo; Joo da Sirva, ao invs de Joo da

    Silva. Anote-se, contudo, que a corrigenda depende de deciso judicial, sendo, pois, vedado ao registrador a retificao, ainda que o erro seja grosseiro.

    b) Erro no registro: ocorre quando o oficial registrador faz consignar um nome diferente daquele declarado pelos pais. Estes podem mover a ao anulatria do registro, no prazo de 4 anos, com base no artigo 138 e seguintes do CC.

    c) Nome posto por agente incapaz ou sem legitimao. Nesses casos, a anulao pode ser pleiteada com base no art. 104, I, do CC.

    d) Nome ridculo. O pargrafo nico do art. 55 da Lei 6.015/73 probe o registro de prenome ridculo; e se os pais no se conformarem com a deciso do oficial, este submeter por escrito o caso a deciso do Juiz competente. Se, porm, o prenome ridculo acabou sendo registrado, por falta de ateno do oficial, nada obsta que o interessado pleiteie a sua alterao judicial. No obstante a lei se refira a alterao do prenome ridculo, a Jurisprudncia vem estendendo esta regra para permitir a mudana do patronmico ridculo, como, por exemplo, Antonio Carnaval Quaresma.

    e) Vtimas e testemunhas criminais (Lei n 9.807/99) coagidas ou expostas a grave ameaa em razo de colaborarem com a investigao ou processo criminal. A alterao do nome completo poder ser estendida ao cnjuge ou companheiro, ascendentes, descendentes e dependentes que tenham convivncia habitual com a vtima ou testemunha, conforme o especificamente necessrio em cada caso. A alterao do nome depende de deciso do juiz competente para a matria de registros pblicos. Cessada a coao ou ameaa que deu causa alterao, ficar facultado ao protegido solicitar ao juiz competente o retorno situao anterior.

    f) Adoo. Na adoo, admite-se, a pedido do adotante ou do adotando, a mudana do prenome do adotando, que, no entanto, poder conservar o prenome de origem. Todavia, a mudana do patronmico obrigatria, de modo que a sentena da adoo deve ordenar que, no novo registro de nascimento, conste o patronmico dos adotantes, sendo, pois, vedada a manuteno do sobrenome dos pais biolgicos (art.1.627).

    g) Vontade do titular no primeiro ano seguinte ao da maioridade civil. Assim, at os 19 anos, o interessado poder:

    alterar o prenome. Essa alterao poder consistir na transformao do prenome simples em composto ou vice-versa, desde que no se trate de nome clebre. Assim, por exemplo, nada obsta a alterao de Antonio para Antonio Jos e vice-versa. Em contrapartida, Jlio Csar nome clebre, e, por isso, no poder ser transformado em Jlio ou Csar, nem estes naqueles. A nosso ver, a alterao deve limitar-se a acrescentar um dos prenomes, ou a suprimir um deles, quando composto. A supresso total s deve ser admitida em caso de justificada gravidade.

    patronmico ou sobrenome. O patronmico deve ser preservado. Todavia, nada obsta a incluso do patronmico, materno ou avoengo (dos avs).

    O interessado, ao atingir a maioridade civil, tem o prazo de um ano para alterar o nome,

    desde que no prejudique os apelidos de famlia (art. 56 da LRP). Essa alterao procedida administrativamente, junto ao Cartrio de Registro Civil, cujo pedido apreciado pelo Juiz

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    Corregedor. Esse prazo de um ano, que decadencial, para o pedido ser formulado na esfera administrativa. Aps esse prazo, nada obsta o pedido judicial de alterao do patronmico, junto Vara de Registros Pblicos, mediante comprovada justificativa.

    Convm salientar que, para a incluso do nome materno, no h necessidade de se aguardar a maioridade civil, pois o menor poder formular o pedido assistido ou representado pelo representante legal.

    CAUSAS ESPECFICAS DE MUDANA DO PRENOME O prenome, alm das causas comuns mencionadas anteriormente, ainda pode ser alterado

    nas seguintes hipteses: a) Traduo. O prenome deve figurar em lngua portuguesa. Tratando-se de estrangeiro,

    possvel a traduo, desde que o prenome seja traduzvel, isto , encontre correspondncia em nossa lngua. No se admite, porm, a traduo inversa, isto , da lngua portuguesa para outro idioma estrangeiro. Quanto ao patronmico, no admite a traduo, pois pertence a todo o grupo familiar. Todavia, o estrangeiro que vem para o Brasil pode requerer, junto ao Ministro da Justia, a alterao do patronmico, e, em caso de recusa, formular o pedido perante o Juiz Federal. (art.44 da Lei n 6.815/80). Anote-se que os descendentes brasileiros no podero requerer a traduo do patronmico estrangeiro. Acrescente-se ainda que se o prenome estrangeiro estiver definitivamente integrado em nossa lngua, a traduo ser vedada, pois implicaria em mudana de prenome. Assim, no se pode traduzir William para Guilherme, porque o primeiro encontra-se j enraizado em nosso idioma.

    b) Pronncia e compreenso difcil. Essa alterao, que tambm diz respeito ao prenome do estrangeiro, possvel, desde que o prenome possa ser traduzido ou adaptado prosdia da Lngua Portuguesa (art. 43 da Lei n 6.815/80). O pedido formulado ao Ministro da Justia, se este indeferir, o interessado poder mover ao judicial perante a Justia Federal (art. 44 da Lei n 6.815/80).

    c) Irmos com prenomes idnticos. Nesse caso, obrigatria a alterao do prenome do irmo registrado por ltimo, para no haver confuso entre a identidade dos irmos.

    d) Apelidos pblicos e notrios (art. 58 da Lei n 6.015/73, com a redao dada pela Lei n 9.708/98). Admite-se a substituio do prenome pelo apelido pblico e notrio. Nada obsta, porm, que o interessado apenas acrescente o apelido, quando, ento, este passar a ser um cognome. A jurisprudncia tambm admite a substituio do prenome oficial pelo prenome de uso, isto , pelo qual a pessoa conhecida.

    e) Transexual. Assim, o transexual submetido cirurgia de mudana de sexo pode requerer a alterao do assento civil para dele constar o prenome feminino. A questo de ndole constitucional, porque a alterao visa preservar a cidadania e a dignidade do ser humano, razo pela qual deve ser rejeitada a opinio contrria, que nega a alterao, argumentando a falta de previso legal. Ora, o princpio da legalidade dos registros pblicos no pode sobrepor-se aos ditames constitucionais.

    CAUSAS ESPECFICAS DE MUDANA DO PATRONMICO O patronmico, alm das causas comuns j mencionadas, ainda pode ser alterado nas

    seguintes hipteses:

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    casamento; unio estvel; separao judicial; divrcio; viuvez; reconhecimento de filho; ao negatria de paternidade; anulao de casamento; mau procedimento da viva, separada e divorciada; incluso do patronmico da me, do padrasto ou madrasta.

    CASAMENTO O cnjuge no pode ser coagido a usar o patronmico do outro. Trata-se, pois, de mera

    faculdade. Nada obsta que se mantenha o nome de solteiro. Essa opo pelo patronmico do cnjuge pode ser feita a qualquer tempo, enquanto perdurar o casamento (RT 515/76). Todavia, aps o casamento, haver necessidade de ordem judicial para essa incluso do patronmico. Diferentemente, ensina Yussef S. Cahali, que a opo pelo nome de famlia do outro cnjuge s possvel na fase de habilitao do casamento, invocando, para tanto, o art. 70, 8, da Lei n 6.015/73, que, a nosso ver, porm, no endossa seu ponto de vista, pois em nenhum momento esse dispositivo legal probe a incluso posterior do patronmico.

    Por outro lado, qualquer dos nubentes, querendo, poder acrescer ao seu o sobrenome do outro (1 do art. 1.565). Permite-se, portanto, que o marido tambm adote o patronmico da esposa. Uma vez feita a opo em utilizar o nome do outro cnjuge, torna-se inadmissvel a renncia na constncia da sociedade conjugal. Observe-se que o cnjuge pode apenas acrescer ao seu o patronmico do outro. Na prtica, tem sido tolerada, ao arrepio da lei, a supresso, passando a mulher a usar apenas o sobrenome do marido.

    UNIO ESTVEL Dispe o 2 do art. 57 da Lei n 6.015/73: A mulher solteira, desquitada ou viva, que viva com homem solteiro, desquitado ou vivo,

    excepcionalmente e havendo motivo pondervel, poder recorrer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja averbado o patronmico de seu companheiro, sem prejuzo dos apelidos prprios, de famlia, desde que haja impedimento legal para o casamento, decorrente do estado civil de qualquer das partes ou de ambas.

    Assim, a companheira pode requerer ao juiz a incluso do patronmico do companheiro, mediante a comprovao dos seguintes requisitos:

    cinco anos de unio estvel, salvo se houver filho em comum (art. 57, 3 da LRP) autorizao do companheiro. Este pode recusar-se imotivadamente; que nenhum deles seja casado; que haja impedimento legal para o casamento deles, decorrente do estado civil de um ou de

    ambos; que a ex-esposa no esteja usando o nome de casada (art.57, pargrafo 4, da LRP).

    Do exposto, dessume-se que a incluso do patronmico s possvel na unio estvel entre:

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    I. pessoas separadas judicialmente II. separado judicialmente com mulher viva; III. solteiro ou vivo com mulher separada judicialmente. Note-se que pelo menos um deles deve ser separado judicialmente, pois s assim haver

    impedimento para o casamento, conforme mencionado na alnea d. Portanto, nesse caso, torna-se lcito requerer a incluso do patronmico, a no ser que a ex-esposa esteja usando o nome de casada.

    Slvio Rodrigues sustenta que, sendo a unio estvel uma instituio reconhecida pelo Estado, no mais subsistem essas restries da Lei n 6.015/73. Outros discordam, porque em matria de registros pblicos, a hiptese deve estar devidamente regulamentada na lei.

    Assim, a companheira no poder incluir o nome do companheiro nas seguintes hipteses: a) quando os dois so solteiros, divorciados ou vivos; b) quando um solteiro e o outro divorciado ou vivo. Nesses casos, o casamento torna-se possvel. E quando possvel o casamento vedada a

    incluso do patronmico. Presentes os requisitos legais, o pedido deve ser formulado perante o juiz da Vara de

    Registros Pblicos. Este ouvir o Ministrio Pblico antes de prolatar a sentena. Esta dever ser registrada no Registro Civil.

    Finalmente, embora a lei seja silente, torna-se evidente que no concubinato incestuoso, a mulher no pode incluir o patronmico do concubino.

    SEPARAO JUDICIAL Em relao ao direito de usar o sobrenome do outro cnjuge, a situao a seguinte: a) na separao consensual, o cnjuge poder ou no manter o nome de casado. Se a petio

    inicial for omissa, persiste o direito de usar o nome, porque a renncia deve ser expressa; b) na separao-remdio e na separao-falncia, o cnjuge tem tambm a opo de

    conservar ou no o nome de casado (1 do art.1.578). O 1 do art. 17 da Lei n 6.515/77, que cominava a perda do nome, quando a mulher tomava a iniciativa da ao, encontra-se revogado pelo novo Cdigo;

    c) na separao-sano, o cnjuge declarado culpado perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde que expressamente requerido pelo cnjuge inocente (art.1.578). Portanto, a perda do nome no mais automtica; urge que seja requerida pelo cnjuge inocente, estando revogado o art.17 da Lei n 6.515/77. Assim, a perda do nome exige dois requisitos: (a) culpa pela separao; (b) requerimento do cnjuge inocente. No obstante a presena desses dois requisitos, o cnjuge culpado ainda poder continuar com o nome de casado em trs casos: (a) evidente prejuzo para sua identificao; (b) manifesta distino entre seu nome de famlia e dos filhos havidos da unio dissolvida; (c) dano grave reconhecido na deciso judicial. Quanto ao cnjuge inocente, poder manter o nome de casado, se quiser.

    Na hiptese de o cnjuge conservar o nome de casado, poder renunciar, a qualquer

    momento, a esse direito ( 1. do art.1578). Esse direito tambm poder ser cancelado, mediante ao judicial, quando o cnjuge usar o nome para fins ilcitos ou imorais.

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    DIVRCIO Por outro lado, quanto ao nome de casado, pode ser mantido pelo cnjuge, seja o divrcio

    direto ou por converso, salvo, no segundo caso, dispondo em contrrio a sentena de separao judicial ( 2 do art.1.571). O Cdigo foi flexvel com o nome da divorciada, permitindo a sua manuteno, salvo na hiptese de perda ou renncia desse direito na separao judicial. A Lei n 8.408/92, que impunha divorciada a perda obrigatria do nome, encontra-se revogada.

    Por outro lado, a divorciada que contrair novas npcias pode continuar com o patronmico do casamento anterior, pois a lei no prev essa perda em face do novo casamento. Esse ponto de vista, porm, no pacfico. Yussef Cahali, por exemplo, sustenta que ela no poder continuar usando o nome do ex-marido, pois se vier a remaridar-se, perde ope legis o direito a alimentos por fora do art. 29 da Lei n 6.515/77, de modo que a manuteno do nome do ex-marido incompatvel com os princpios de direito matrimonial. Discordamos dessa exegese, porque o nome civil questo atinente ao Registro Pblico. Este, quanto menos alterado for, maior a segurana das relaes jurdicas, razo pela qual vigora o princpio da imutabilidade do nome.

    VIUVEZ No Brasil, o direito consuetudinrio atribui viva o direito de continuar usando o nome do

    falecido marido. A qualquer tempo, porm, poder renunciar a esse direito, mediante requerimento judicial, retomando o nome de solteira.

    Por outro lado, convolando novas npcias, discute-se se poder ou no continuar usando o nome do falecido. Prevalece a opinio de Limongi Frana, segundo o qual, rompendo-se todos os laos que a uniam memria de seu antigo cnjuge, no h mais nada de comum entre eles, e logicamente o nome, marca exterior dessa unio, deve tambm desaparecer para dar lugar ao do novo cnjuge, smbolo da nova unio. Discordamos desse ponto de vista, por fora do princpio da imutabilidade do nome, cuja alterao depende de causa expressa na lei. Assim, a nosso ver, nada obsta que a viva, ao convolar novas npcias, mantenha o patronmico anterior, acrescendo ainda, se quiser, o do novo consorte.

    RECONHECIMENTO DE FILHO O filho reconhecido, por fora do princpio da isonomia, poder adotar o patronmico

    paterno, mantendo ou no o nome da me. AO NEGATRIA DE PATERNIDADE Com o trnsito em julgado da sentena que julgou procedente a ao negatria de

    paternidade, opera-se a supresso do patronmico paterno, alterando-se, destarte, o nome civil. ANULAO DO CASAMENTO Com a sentena anulatria do casamento, o cnjuge perde o direito de usar o patronmico do

    outro. Se, porm, o casamento for putativo, o cnjuge de boa-f continua com o direito de usar o

    nome. H, porm, quem sustente que, aps a sentena, o cnjuge virago perde o nome do varo, ainda que haja boa-f, por fora do art.1.561 do CC, que limita os efeitos da putatividade at o dia

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    DIREITO CIVIL Parte Geral PROF. FLVIO MONTEIRO DE BARROS

    da sentena anulatria. A nosso ver, alguns efeitos da putatividade permanecem aps a sentena, tais como: o direito de usar o nome, a emancipao, a penso alimentcia, etc. Entendimento diverso esvaziaria a importncia da putatividade.

    MAU PROCEDIMENTO DA VIVA, SEPARADA E DIVORCIADA A viva, a separada judicialmente e a divorciada, que mantiveram o nome de casada, podem

    perder esse direito, por sentena judicial, quando usar o nome para fins ilcitos ou imorais. INCLUSO DO PATRONMICO DA ME, DO PADRASTO E MADRASTA A incluso do patronmico materno garantida pelo princpio da isonomia,

    independentemente de concordncia da genitora. O 8 do art.57 da Lei n 6.015/73 faculta ao enteado ou enteada a incluso do patronmico

    do padrasto ou madrasta, se estes concordarem, desde que os motivos sejam ponderveis, no se podendo excluir os apelidos de famlia.

    Ambas as hipteses acima dependem de deciso judicial. NOME VOCATRIO Nome vocatrio aquele pelo qual a pessoa comumente chamada. Rui nome vocatrio

    de Rui Barbosa, Greco, o de Vicente Greco Filho, Maysa, o da cantora Maysa Monjardim. PSEUDNIMO O pseudnimo um nome independente do nome civil, que registrado e usado pela pessoa

    especialmente para fins literatos, artsticos, polticos, cientficos, etc. Di Cavalcanti, por exemplo, o pseudnimo pelo qual ficou conhecido o famoso pintor Emiliano de Albuquerque Melo.

    Anote-se que o pseudnimo no integra o nome civil, ao contrrio do cognome. Acrescente-se, por fim, que o pseudnimo adotado para atividades lcitas goza da proteo

    que se d ao nome (art. 19 do CC). TTULOS QUALIFICATIVOS Os ttulos qualificativos so os seguintes: a) axinimo: so os ttulos nobilirios e os ttulos honorficos. Os ttulos nobilirios, que

    serviam para distinguir as classes sociais, eram de seis categorias, nessa ordem de importncia: prncipe, duque, marqus, conde, visconde e baro. At hoje, ainda podem ser adquiridos por sucesso hereditria. J os ttulos honorficos ou cavalheirescos, como comendador, uma distino honrosa pessoa, sendo, porm, intransmissvel, tendo em vista o seu carter estritamente pessoal.

    b) ttulos eclesisticos: so os concedidos pela Igreja. Exemplos: bispo, arcebispo, cardeal, padre, dom, frei, irmo, irm, madre, etc.

    c) ttulos de identidade oficial. Exemplos: senador, desembargador, marechal, embaixador, etc.

    d) ttulos acadmicos e cientficos. Exemplos: professor, doutor, engenheiro, etc.

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    Esses ttulos, de acordo com Limongi Frana, podem ser apostos antes do prenome. Cremos que isso no seja possvel, por falta de previso legal. A matria atinente ao nome civil de ordem pblica, e, por isso, no registro s pode constar aquilo que a lei autoriza.

    HIPOCORSTICO Hipocorstico o tratamento carinhoso. Exemplo: Bia, ao invs de Beatriz; Nando, ao

    invs de Fernando; Pedrinho, ao invs de Pedro, etc. Nada obsta que o hipocorstico figure como prenome. Assim, os pais podem registrar a filha

    como Bia, ao invs de Beatriz. PROTEO AO NOME No mbito do direito privado, a proteo ao nome garantida pelas seguintes aes: a) ao de contestao: cabvel quando o nome de algum usado pessoalmente por

    outrem, de forma abusiva. , pois, a ao cabvel para impedir que terceiro use nome alheio ou exponha ao ridculo. De fato, dispe o art. 17 do CC que o nome da pessoa no pode ser empregado por outrem em publicaes ou representaes que exponham ao desprezo pblico, ainda que no haja inteno difamatria. No h necessidade de o desprezo pblico ser exacerbado. Na aludida ao, o autor requerer a suspenso do prosseguimento da publicao ou representao, sob pena de multa diria, bem como a apreenso dos livros, jornais etc.

    b) ao de proibio: cabvel quando o nome de algum usado por outrem, de maneira no pessoal. Com efeito, dispe o art. 18 do CC que sem autorizao, no se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. A publicidade que venha a divulgar, sem autorizao, qualidades inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar seu nome, mas sendo capaz de identific-la, constitui violao do direito da personalidade (Enunciado 278 CJF). No Brasil, no h distino entre a publicidade e propaganda. Portanto, a proibio compreende qualquer anncio destinado a promover a venda de produtos ou servios do anunciante. A propsito, como esclarece Fbio Ulhoa Coelho, mesmo a pessoa premiada no certame promocional no poder ter o seu nome divulgado pelo anunciante, a no ser que tenha autorizado expressamente a divulgao ou que as normas de premiao prevejam clusula de autorizao de uso do nome pela to-s adeso ao certame. Note-se que, mesmo tendo a pessoa dado autorizao ao uso do nome em propaganda comercial, no se admite qualquer prejuzo imagem dela. Essa ao de proibio, que tambm pode conter pedido cominatrio, isto , de multa diria, ainda cabvel, com base no princpio constitucional da dignidade da pessoa humana e da proteo imagem e honra, quando o nome da pessoa posto em um prdio, um estabelecimento ou em animal.

    c) ao de reclamao. De acordo com Limongi Frana, a que assiste ao titular do direito ao nome, quando esse nome ilicitamente usado por parte de outrem.

    d) ao de indenizao. cabvel, em todas as hipteses anteriores, para se obter o ressarcimento dos danos materiais e morais, causados por outrem em virtude do desrespeito ao direito ao nome. Seu fundamento legal o art. 186 do CC.

    Finalmente, ainda cabvel a ao de retificao de registro civil, no rito sumrio e da

    competncia da Vara de Registros Pblicos. Aludida ao deve ser movida no lugar em que o assento foi lavrado ou no local da residncia do interessado.

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    DIREITO SOBRE O CORPO INTRODUO O direito sobre o corpo compreende, dentre outros, os seguintes assuntos:

    disposio do corpo; transplantes; esterilizao; intervenes cirrgicas.

    DISPOSIO DO CORPO A vida se desenvolve no corpo. Portanto, a agresso ao corpo implica na ofensa vida. , pois,

    indisponvel o direito integridade fsica, de modo que nulo o negcio jurdico que objetiva a mutilao do corpo da pessoa.

    Com efeito, dispe o art. 13 do CC que, salvo por exigncia mdica, defeso o ato de disposio do prprio corpo, quando importar diminuio permanente da integridade fsica, ou contrariar os bons costumes.

    Anote-se que, ainda que a disposio do prprio corpo no importe diminuio permanente da integridade fsica, o ato ser vedado quando contrariar os bons costumes.

    Assim, a pedido do Ministrio Pblico ou de parentes, o juiz pode, por exemplo, impedir o sujeito de automutilar-se num espetculo artstico, se a disposio do corpo:

    importar em diminuio permanente da integridade fsica, ou; contrariar os bons costumes.

    Acrescente-se, contudo, que as pequenas leses so admitidas, desde que de acordo com os

    costumes, como, por exemplo, para o fim de pagamento de promessa. Outro exemplo: furar a orelha da filha para colocar brinco.

    A mudana cirrgica do sexo, conquanto implique em diminuio permanente da integridade fsica, possvel por exigncia mdica (art. 13 do CC). Sobredita cirurgia autorizada pela Resoluo n 1.652/2002 do Conselho Federal de Medicina. Fundamenta-se no princpio constitucional da inviolabilidade da intimidade (art.5, X, da CF). O Enunciado 276 do CJF/STJ autoriza essas cirurgias de transgenitalizao com a consequente mudana do prenome e do sexo no registro civil.

    Urge, porm, que o distrbio emocional seja extremo, a ponto de a opo pelo transexualismo ser o nico meio de se obter a cura. No se pode, por mero capricho, na esperana ser um pouco mais feliz, realizar essa cirurgia, pois, alm de contrariar os bons costumes, ainda importa em diminuio permanente da integridade fsica.

    TRANSPLANTES Transplante a retirada de rgos, tecidos e partes do corpo para ser introduzido noutra

    pessoa. A Constituio Federal probe a comercializao de rgos, tecidos ou partes do corpo (art.

    199, 4 da CF). A comercializao, porm, significa a prtica de atos medianeiros entre a produo

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    e o consumo com o intuito de lucro. De acordo com Jos Afonso da Silva, a lei no pode prever a comercializao, mas pode

    prever a alienao (venda, doao, etc) direta do titular para o utente ou para a formao de banco de sangue, sem intuito comercial.

    Discordamos desse ponto de vista, porque a venda e qualquer ato oneroso so imorais, e, por isso, a legislao especial no pode consagr-los.

    Sendo assim, a expresso comercializao deve ser interpretada em sentido amplo, com o fito de abranger qualquer ato oneroso, isto , motivado pelo animus lucrandi.

    A Lei 9.434/97, que regulamentou a matria, s permite a doao, que pode ser concretizada aps a morte, ou ainda em vida, vedando qualquer ato oneroso.

    A doao para retirada post mortem disciplinada no art. 14 do CC, nos seguintes termos: vlida, com objetivo cientfico, ou altrustico, a disposio gratuita do prprio corpo, no

    todo ou em parte, para depois da morte. Exige-se morte enceflica. Anote-se que essa doao s vlida se o motivo for cientfico, isto , para fins de pesquisa,

    ou, ento, altrustico, isto s, para fins de transplante. Essa doao pode ser feita:

    pela prpria pessoa, antes de morrer; autorizao de paciente maior, da linha reta ou colateral at 2 grau, ou do cnjuge

    sobrevivente, mediante documento escrito perante duas testemunhas (art.4 da Lei n 9.434/97 e Lei n 10.211/2001).

    Se, contudo, em vida, a pessoa manifestou expressamente a sua vontade de no ser doadora,

    impe-se a proibio da doao. Se, em vida, permaneceu em silncio, da sim o cnjuge, parentes em linha reta ou colaterais at 2 grau podero efetuar a doao. Essa disposio deve ser feita por escrito, exigindo ainda duas testemunhas. Adotou-se o princpio do consenso afirmativo, isto , a necessidade de autorizao expressa dos familiares do morto, de modo que o silncio em vida do potencial doador no gera a presuno de sua autorizao. Se, contudo, em vida ele manifestou expressamente o desejo de no doar os rgos, a sua vontade prevalece sobre a vontade dos familiares (Enunciado 277 do CJF/STJ).

    Acrescente-se ainda que o pargrafo nico do art. 14 do CC preceitua que o ato de disposio pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

    Por outro lado, a doao para retirada em vida, s cabvel mediante os seguintes requisitos:

    capacidade do doador. Tratando-se de pessoa absolutamente incapaz ou relativamente incapaz, a doao, em vida, no possvel, a no ser na hiptese de transplante de medula em caso de comprovada compatibilidade imunolgica (art. 9, 6 da Lei n 9.434/97), e, mesmo assim, desde que haja a autorizao do representante legal. Anote-se, ainda, que o menor emancipado pode figurar como doador.

    autorizao judicial. O pedido deve ser formulado pelo doador, atravs de advogado. Dispensa-se a autorizao judicial apenas quando se tratar de transplante de medula ssea autorizada por doador capaz (art. 9 da Lei 9.434/1997).

    justificativa mdica. vedada a doao prejudicial sade do doador, ou, ento que no seja indispensvel ao receptor.

    ESTERILIZAO A esterilizao masculina denomina-se vasectomia; a feminina, laqueadura tubria. A esterilizao voluntria s possvel a partir dos 25 anos, desde que a pessoa manifeste por

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    escrito a sua vontade de realiz-la, sendo certo que, para concretizao cirrgica deve decorrer o prazo de no mnimo 60 dias, durante o qual a pessoa interessada poder ter acesso a servio de regulao da fecundidade, incluindo o aconselhamento destinado a desencorajar a esterilizao precoce (art. 10 da Lei 9.263/96).

    No caso de a pessoa ser casada, necessria a autorizao do cnjuge. Acrescente-se, ainda, que a pessoa incapaz s pode ser esterilizada, mediante autorizao

    judicial. Quanto ao prdigo, nada obsta sua esterilizao, independentemente de ordem judicial, pois sua incapacidade restrita aos atos patrimoniais.

    Finalmente, a extirpao do tero (histerectomia) ou dos ovrios (ooforectomia), para fim de esterilizao, expressamente vedada pela lei.

    INTERVENO CIRRGICA E TRATAMENTO MDICO Dispe o art. 15 do CC que Ningum pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida,

    a tratamento mdico ou a interveno cirrgica. A anuncia do paciente interveno cirrgica s necessria quando o perigo causado pela

    doena for futuro. Se, ao revs, houver iminente perigo de vida, perfeitamente lcita a interveno mdica ou

    cirrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante, conforme se depreende da anlise do 3 do art. 146 do CP, que legitima esse ato, dispensando-se autorizao judicial. Em tal situao, ainda que a vtima dispense ou recuse o socorro, o mdico deve intervir, sob pena de ser responsabilizado criminalmente pela negligncia.

    No tocante transfuso de sangue, rejeitada pela convico religiosa do paciente ou familiares, cremos que, em caso de iminente perigo de vida, o mdico deva concretiz-la, com apoio no 3 do art.146 do CP, sob pena de responder criminalmente pela omisso.

    De fato, no pode a liberdade religiosa sobrepor-se ao direito vida. Trata-se de uma hiptese de estado de necessidade, em que os valores religiosos so desconsiderados em prol da preservao da vida do paciente.

    Denota-se, portanto, que a anuncia do paciente dispensada quando houver iminente perigo de vida. claro, porm, que se o risco de vida da cirurgia ou transfuso de sangue for maior do que o risco de vida provocado pela doena que acomete o paciente, a interveno mdica depender do consentimento do moribundo ou de seu representante legal.

    DIREITO PRIVACIDADE INTRODUO Dispe o art. 5, inciso X, da CF que so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a

    imagem das pessoas, assegurado o direito indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao.

    Assim, o direito privacidade, que um reflexo do direito vida, compreende o direito intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas.

    No Captulo dos Direitos da Personalidade, o Cdigo Civil disciplina apenas a imagem e a vida privada.

    O direito intimidade, consistente na esfera secreta do indivduo, na qual ele tem o poder legal de evitar os demais, abrange:

    inviolabilidade de domiclio;

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    o sigilo das correspondncias e comunicaes; o segredo profissional.

    O direito intimidade apresenta reflexos criminais relevantes, e, por isso, disciplinado pelo

    Direito Penal e Direito Processual Penal. No tocante honra, consistente no conjunto de atributos que faz com que a pessoa goze de

    estima prpria e reputao na sociedade e na famlia, sem embargo da sua tutela penal, encontra-se tambm disciplinada no art. 953 do Cdigo Civil, no Ttulo atinente responsabilidade civil.

    Finalmente, com a violao do direito privacidade, em todas as suas modalidades, o lesado tem direito indenizao pelos danos materiais e morais.

    VIDA PRIVADA A vida privada ou vida interior compreende as relaes da pessoa com sua famlia e seus

    amigos. A Magna Carta assegura a sua inviolabilidade. Portanto, no pode ser perturbada, investigada e muito menos divulgada.

    , pois, vedada a interceptao telefnica em processo civil. Assim, por exemplo, no pode ser gravado o dilogo entre a mulher casada e o seu amante.

    Como salienta Jos Afonso da Silva, os eventos relevantes da vida pessoal e familiar no podem ser levados ao conhecimento pblico.

    Sem prejuzo da indenizao pelos danos materiais e morais, o interessado ainda pode tomar providncias necessrias para impedir ou fazer cessar a violao vida privada, movendo a ao de proibio da prtica do ato ofensivo, prevista no art. 21 do CC.

    Finalmente, a vida exterior, que compreende as relaes do indivduo na sociedade, bem como suas atividades pblicas, pode ser objeto de pesquisa e de divulgaes, pois a tutela constitucional restrita vida privada.

    DIREITO IMAGEM Imagem o aspecto da pessoa perceptvel visivelmente pelos sentidos. Em sentido estrito, a imagem compreende apenas a denominada imagem retrato, consistente

    no aspecto fsico, ou seja, o corpo da pessoa, no todo ou em parte. Exemplos: fotografias, desenhos, filmes, etc.

    Em sentido amplo, a imagem abrange tambm as idias da pessoa, isto , a chamada imagem-atributo, exteriorizada atravs da divulgao de escritos e da transmisso da palavra.

    O art. 20 do CC tutela a imagem em termos amplos, protegendo tanto a imagem-retrato quanto a imagem-atributo. Com efeito, dispe o art.20 do CC: Salvo se autorizadas, ou se necessrias administrao da justia ou manuteno da ordem pblica, a divulgao de escritos, a transmisso da palavra, ou a publicao, a exposio ou a inutilizao da imagem de uma pessoa podero ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuzo da indenizao que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.

    Assim, de acordo com o citado art. 20 do CC, podero ser proibidos, a requerimento do interessado:

    a divulgao de escritos; a transmisso da palavra; a publicao, a exposio ou a utilizao da imagem de uma pessoa.

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    As alneas a e b referem-se imagem-atributo; a alnea c, imagem-retrato. Aludida proibio de veiculao da imagem s possvel quando atingir a honra, boa-fama ou

    a respeitabilidade, ou ento quando se destinar a fins comerciais. V-se, portanto, que a proibio da veiculao da imagem pode ser motivada por aspectos

    extrapatrimoniais e patrimoniais. Sob o prisma extrapatrimonial, visa proteger a honra, a boa-fama e a respeitabilidade da

    pessoa. E, sob o aspecto patrimonial, objetiva evitar o enriquecimento custa alheia. Por outro lado, o direito imagem protegido, ainda que j falecido o indivduo. Com efeito,

    dispe o pargrafo nico do art. 20 do CC que Em se tratando de morto ou de ausente, so partes legtimas para requerer essa proteo o cnjuge, os ascendentes ou os descendentes. A doutrina tambm confere legitimidade ao companheiro (Enunciado 275 do CJF). Quanto aos colaterais at quarto grau no desfrutam de legitimidade para a defesa do direito imagem do morto (art.20, pargrafo nico, do CC), embora ostentem legitimidade para defender a leso a outros direitos da personalidade do morto (art.12, pargrafo nico, do CC), como no exemplo da violao de sepultura, tendo pois legitimidade para mover ao de indenizao por danos morais.

    A tutela do direito imagem compreende as seguintes medidas judiciais:

    ao de proibio: cabvel quando a imagem de uma pessoa usada ilicitamente por parte de outrem. Trata-se de ao cominatria, cujo escopo impedir a violao da imagem, sob pena de multa diria;

    ao de indenizao pelos danos materiais e morais; ao penal pelos crimes de calnia, injria ou difamao, quando a violao da imagem

    atingir a honra da pessoa.

    O direito imagem autnomo, possvel ofender a imagem sem atingir a honra ou intimidade da pessoa. Logo, cabvel a indenizao pelo simples fato de a imagem ter sido utilizada sem autorizao, ainda que no se tenha atingido a honra da pessoa. O dano consiste na utilizao da imagem alheia sem autorizao. A propsito, dispe a smula 403 do STJ: Independe de prova do prejuzo a indenizao pela publicao no autorizada de imagem de pessoa com fins econmicos ou comerciais.

    Convm, porm, destacar que o direito imagem no pode ser entendido em sentido absoluto.

    Assim, esse direito no pode ser invocado quando a prpria pessoa autorizou a divulgao, transmisso, publicao, exposio ou utilizao da imagem, ou ento, quando isso for necessrio administrao da justia ou manuteno da ordem pblica.

    De fato, o direito imagem no pode ser invocado para proteger atividades ilcitas ou de modo diverso ordem pblica. Alis, nenhuma garantia constitucional pode ser invocada seno vista de uma finalidade tica. Assim, o criminoso procurado pela polcia no pode impedir que o seu retrato seja veiculado em cartazes ou programas de televiso.

    Fbio Ulhoa Coelho acrescenta que tambm no h bice exposio de imagem na hiptese de participao em evento de inegvel alcance jornalstico. Caracteriza-se esta quando a notcia de sua verificao desperta o interesse de considervel quantidade de pessoas indistintas. O jogador de futebol no pode impedir que os cadernos esportivos dos jornais impressos veiculem a sua imagem no momento em que marcou o gol, praticou pnalti, comemorou a vitria etc. A pessoa que ficou refm do assaltante de banco, presenciou a desfile do dia da independncia, tomava banho de mar no feriado prolongado durante o vero, comemorou a chegada do ano novo em pblico ou foi uma das primeiras a se utilizar da nova estao do metr, no pode impedir a

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    divulgao de eventos jornalsticos. O interesse de todos em ter notcias (e imagens) desses acontecimentos sobrepe-se ao do indivduo retratado.

    AUSNCIA INTRODUO No Cdigo de 2002, o ausente no figura mais no rol dos absolutamente incapazes, ao

    contrrio do que dispunha o direito anterior. O problema relacionado ausncia sempre foi de restrio de direitos, e no propriamente

    de incapacidade, tanto que os atos praticados pelo ausente, no lugar onde ele se encontrava presente, reputavam-se vlidos.

    Vislumbrava-se, quanto ao ausente, uma incapacidade geogrfica, restrita ao lugar de onde havia desaparecido, outrossim, ao patrimnio amealhado at a data do seu desaparecimento.

    O Cdigo de 2002 abriu um captulo autnomo para o ausente, regendo a matria na Parte Geral, e no mais no Livro do Direito de Famlia.

    A repercusso de o ausente ter sido excludo do rol dos absolutamente incapazes restringe-se basicamente ao problema da prescrio, que no corre contra os absolutamente incapazes, conforme preceitua o art. 198, I, do CC, mas doravante passar a correr contra o ausente.

    Antes de passar ao seu estudo, queremos dizer ainda que a ausncia pode ser classificada em:

    ausncia civil; ausncia processual.

    O ausente processual o ru revel, isto , que no comparece aos atos processuais. Ser-lhe- nomeado curador especial, qual seja, um defensor dativo, apenas na hiptese de ter sido citado fictamente (por edital ou hora certa). Este curador poder contestar por negativa geral (pargrafo nico do art. 302 do CPC). Caso tenha sido citado pessoalmente, o processo tramitar revelia, sem que lhe seja nomeado curador especial.

    A ausncia civil, por sua vez, verifica-se quando o paradeiro da pessoa for ignorado. Pois bem, nada obsta as seguintes situaes:

    ausente processual sem ser ausente civil. Exemplo: o ru citado pessoalmente, mas no

    contesta a ao; ausente civil sem ser ausente processual. Exemplo: ao movida contra o ausente civil, em

    que a citao recai diretamente sobre seu curador, que oferta a contestao; ausente processual e ausente civil.

    CONCEITO E FASES DO PROCEDIMENTO Verifica-se a ausncia civil quando a pessoa desaparece de seu domiclio e no d notcia de

    seu paradeiro. Na ausncia, ao contrrio da pessoa desaparecida em catstrofe, no h certeza de morte,

    mas apenas uma suspeita, e, por isso, o legislador cauteloso, presumindo a sua morte somente aps a abertura da sucesso definitiva (art. 6).

    Com efeito, o procedimento de ausncia desenvolve-se em trs fases sucessivas:

    curadoria do ausente;

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    sucesso provisria; sucesso definitiva.

    Aludido procedimento encontra-se disciplinado nos arts. 1.159 a 1.169 do CPC. instaurado no ltimo domiclio do ausente. Trata-se de jurisdio voluntria. Qualquer interessado pode requerer a sua instaurao, inclusive o Ministrio Pblico.

    O procedimento s instaurado na hiptese de o ausente ter deixado bens. Para outros assuntos, como, por exemplo, penso previdenciria, a ausncia pode ser demonstrada no curso da ao, sem que haja necessidade de instaurao de demorado procedimento de ausncia. De fato, para a percepo da penso previdenciria, basta os dependentes do ausente demonstrarem o seu desaparecimento, por mais de seis meses, no bojo da ao em que essa penso requerida (art. 78 da Lei n 8.213/91).

    Conquanto o ausente no seja considerado incapaz, urge que algum o represente em relao aos seus bens. Assim, na primeira fase, a da curadoria do ausente, a representao ficar afeta ao curador do ausente; na segunda fase, a da sucesso provisria, o ausente ser representado ativa e passivamente pelos herdeiros que tomaram posse nos bens, de modo que contra eles correro as aes pendentes e que no futuro forem movidas em face do ausente. Na ltima fase, a da sucesso definitiva, o ausente considerado morto, e, por isso, ningum mais o representa.

    CURADORIA DO AUSENTE Nessa primeira fase, o juiz, convencendo-se de que certa pessoa encontra-se desaparecida,

    aps analisar a petio inicial, declarar a ausncia, nomeando-lhe um curador. O critrio de escolha do curador similar ao do inventariante. O cnjuge do ausente, sempre que no esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de

    dois anos antes da declarao de ausncia, ser o seu legtimo curador. Em falta do cnjuge, a nomeao recair sobre os pais. Na falta destes, aos descendentes,

    sendo que o mais prximos precedem os mais remotos. Na falta do cnjuge, pais e descendentes, o juiz nomear um curador dativo. O Enunciado 97

    do CJF dispe que: No que tange a tutela especial da famlia, as regras do Cdigo Civil que se referem apenas ao cnjuge devem ser estendidas situao jurdica que envolve o companheirismo, como, por exemplo, na hiptese de nomeao de curador dos bens do ausente (art.25 do CC).

    Convm esclarecer que o Ministrio Pblico no deve ser nomeado curador do ausente. Outrossim, que a lei no exige prazo mnimo de desaparecimento para instaurao do procedimento.

    Por outro lado, se o ausente houver deixado representante ou procurador, no se declarar a ausncia e nem se nomear curador, a no ser que o mandatrio no queira, ou no possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.

    Nessa primeira fase do procedimento, o juiz ainda mandar arrecadar os bens do ausente, cuja administrao ficar afeta ao curador do ausente, cujos poderes so similares aos dos tutores e curadores.

    Feita a arrecadao, o juiz mandar publicar editais durante 1 (um) ano, reproduzidos de dois em dois meses, anunciando a arrecadao e chamando o ausente a entrar na posse dos bens. Do exposto, se d conta que esses editais visam conferir publicidade arrecadao e convocar o ausente a retornar para o seu domiclio. Se, por engano, algum bem alheio houver sido arrecadado, o interessado poder mover os embargos de terceiro.

    Passado 1 (um) ano da publicao do primeiro edital, ou trs anos se o ausente havia deixado

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    DIREITO CIVIL Parte Geral PROF. FLVIO MONTEIRO DE BARROS

    um representante, trs situaes podem ocorrer:

    o retorno do ausente. Nesse caso, ele assume seus bens, extinguindo-se o procedimento. Acrescente-se que o ausente ter direito de receber todos os frutos e rendimentos dos seus bens, deduzindo-se as despesas relativas administrao;

    a certeza da morte do ausente. Provado o seu bito, o procedimento convertido em inventrio;

    a persistncia da ausncia. Em tal situao, o procedimento avana para a segunda fase, a da sucesso provisria.

    SUCESSO PROVISRIA Os interessados podero requerer que se abra provisoriamente a sucesso. Esse

    requerimento, em regra, pode ser formulado somente aps o decurso do prazo de 1 (um) ano da publicao do primeiro edital, conforme salientamos anteriormente. Todavia, esse prazo passa a ser de 3 (trs) anos, se o ausente houver deixado procurador ou representante legal.

    Somente se consideram interessados para requererem a sucesso provisria:

    o cnjuge no separado judicialmente; os herdeiros presumidos, legtimos ou testamentrios; os que tiverem sobre bens do ausente direito que dependa de sua morte; os credores de obrigaes vencidas e no pagas.

    O companheiro tambm tem legitimidade para requerer a sucesso provisria (Enunciado 97

    do CJF). O Ministrio Pblico poder tambm requerer a sucesso provisria em duas situaes:

    se no houver nenhum desses interessados elencados acima; se esses interessados no formularem o requerimento.

    No requerimento de abertura da sucesso provisria, o requerente pedir a citao do curador e dos herdeiros, sendo que esses ltimos devero providenciar a respectiva habilitao.

    Aps o julgamento das habilitaes, o juiz prolatar a sentena determinando a abertura da sucesso provisria. Aludida sentena s produzir efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas logo que passe em julgado, proceder-se- abertura do testamento, se houver, e ao inventrio e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.

    Assim, com o trnsito em julgado dessa sentena, efetua-se a partilha dos bens entre herdeiros. Estes, porm, s podero tomar posse depois de transcorrido o prazo de 180 dias a contar da publicao da sentena na imprensa.

    Alm disso, os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, daro garantia da restituio deles. Essa cauo poder ser concretizada mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhes respectivos. Os ascendentes, os descendentes e o cnjuge esto dispensados dessa cauo. Quanto aos demais herdeiros, se no prestarem cauo, no tomaro posse, mantendo-se os seus quinhes sob a administrao do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, que tenha prestado essa garantia. Todavia, o herdeiro que no tomar posse, por falta da cauo, poder requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinho que

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    DIREITO CIVIL Parte Geral PROF. FLVIO MONTEIRO DE BARROS

    lhe tocaria. Nessa fase da sucesso provisria, os herdeiros ainda no adquirem a propriedade dos bens

    do ausente, mas apenas a posse, encontrando-se em situao similar ao usufruturio, pois tero direito aos frutos e rendimentos dos bens que lhes couberam.

    Com efeito, o descendente, ascendente ou cnjuge que for sucessor provisrio do ausente, far seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os outros sucessores, porm, devero capitalizar metade desses frutos e rendimentos, convertendo-os em imveis ou ttulos da dvida pblica. Essa capitalizao ordenada pelo juiz, aps ouvir o representante do Ministrio Pblico. O objetivo dessa capitalizao resguardar os interesses do ausente, caso ele retorne e justifique o seu desaparecimento. Se, porm, o ausente aparecer e ficar comprovado que a ausncia foi voluntria e injustificada, perder ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos capitalizados.

    Saliente-se, ainda, que os herdeiros no podero alienar os imveis do ausente, a no ser mediante ordem judicial, para lhes evitar a runa.

    Quanto aos bens mveis, a venda tambm depende de ordem judicial. Alis, antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenar a converso dos bens

    mveis, sujeitos deteriorao ou extravio, em imveis ou em ttulos garantidos pela Unio, por fora do art. 29 do CC, que, por analogia, tambm pode ser aplicado aps a partilha.

    Dentro de dez anos, a contar do trnsito da sentena de abertura da sucesso provisria, ou, ento, dentro de cinco anos a contar de suas ltimas notcias, se o ausente contava oitenta anos de idade, podem ocorrer as seguintes hipteses:

    o retorno do ausente. Nesse caso, ele reassume o seu patrimnio, cessando a sucesso

    provisria dos herdeiros. O descendente, ascendente ou cnjuge que for sucessor provisrio, no ter que devolver os frutos e rendimentos dos bens ao ausente; os outros sucessores, porm, se a ausncia for involuntria e justificada, tero que lhe devolver a metade dos frutos e rendimentos, aquela que foi capitalizada para essa hiptese de retorno do ausente;

    a certeza da morte do ausente. Nesse caso, o juiz converte a sucesso provisria em definitiva, ordenando ainda o levantamento das caues prestadas;

    a persistncia da ausncia. Em tal situao, o procedimento avana para a terceira fase, a da sucesso definitiva.

    SUCESSO DEFINITIVA Os interessados podero requerer a sucesso definitiva em trs hipteses:

    dez anos depois de passar em julgado a sentena que concede a abertura da sucesso provisria;

    cinco anos a contar das ltimas notcias, se o ausente contava oitenta anos de idade; quando houver certeza da morte do ausente, comprovada por certido de bito.

    Essa sentena de sucesso definitiva produz os seguintes efeitos:

    presuno da morte do ausente (art. 6). Trata-se da chamada morte ficta, pois o bito no sequer registrado. Nas fases anteriores h presuno que o ausente est vivo, tanto que na primeira fase ele representado pelo curador e na segunda pelos herdeiros, alis, os herdeiros respondem pelas dvidas do ausente at as foras da herana; na terceira fase, o

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    ausente considerado morto. averbao desta sentena no Cartrio de Registro Civil (art. 9, IV); dissoluo do casamento (art. 1.571, 1). Assim, o cnjuge do ausente pode contrair novas

    npcias, sem que haja necessidade do divrcio, porquanto reputado vivo. Nas fases anteriores, curadoria do ausente e sucesso provisria, a ausncia fica restrita aos bens sem dissolver o casamento.

    extino do poder familiar (art. 1.635 e art. 6 do CC); levantamento das caues prestadas pelos herdeiros que se imitiram na posse; imisso na posse dos herdeiros que no haviam tomado posse por falta de cauo; aquisio da propriedade resolvel dos bens por parte dos herdeiros.

    Estes, at ento, eram meros possuidores e titularizavam uma espcie de usufruto legal; a

    partir da sentena de sucesso definitiva, adquirem a propriedade dos bens, e, por isso, podem alien-los, independentemente de ordem judicial.

    Acrescente-se, contudo, que, dentro de dez anos, a contar da sentena de sucesso definitiva, podem ocorrer as seguintes hipteses:

    o retorno do ausente ou de algum herdeiro mais prximo.

    Nesse caso, eles podero requerer ao juiz a entrega dos bens existentes no estado em que se

    acharem, ou sub-rogados em seu lugar ou o preo que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados.

    Observe-se, portanto, que o retorno do ausente, at dez anos da sucesso definitiva, provoca a extino da propriedade, razo pela qual esta tida como resolvel. Saliente-se, contudo, que o ausente no ter direito aos frutos e rendimentos referentes ao tempo da ausncia.

    a persistncia da ausncia. Nesse caso, a propriedade se torna definitiva. Se acaso o ausente

    retornar depois de dez anos da sucesso definitiva, no ter direito a reaver nenhum de seus bens.

    AUSNCIA POR MOTIVOS POLTICOS

    A ausncia seguir o rito sumrio, quando a pessoa houver desaparecido por motivos

    polticos, no perodo de 2 de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988, conforme preceitua a Lei 9.140/95.

    Se, porm, o nome da pessoa desaparecida figurar no rol da aludida lei, dispensa-se a ao judicial, porque, nesse caso, a prpria lei a declarou morta.

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    PERGUNTAS:

    1) O que so direitos da personalidade? 2) Quais as caractersticas do direito da personalidade? 3) O que nome civil? 4) Qual a natureza jurdica do nome civil? 5) Quais os elementos essenciais do nome civil? 6) O que infante exposto? 7) O que agnome? 8) O que cognome? 9) Elenque as causas comuns de mudana do prenome e patronmico. 10) O apelido pblico e notrio s pode funcionar como cognome? 11) O cnjuge pode adotar o patronmico do outro? 12) Quais os requisitos para a companheira utilizar o patronmico do companheiro? 13) Na separao judicial, o cnjuge continua com o direito de usar o nome do outro? 14) A divorciada pode usar o patronmico do ex-marido? 15) A viva obrigada a continuar usando o nome de casada? 16) O que nome vocatrio? 17) O que pseudnimo? 18) O que axinimo? 19) O que hipocorstico? 20) Quais as aes de proteo ao nome? 21) O direito sobre o corpo abarca quais assuntos? 22) possvel a disposio do prprio corpo? 23) possvel cirurgia de mudana de sexo? 24) possvel a comercializao de rgos, tecidos ou partes do corpo? 25) A doao de rgos do corpo revogvel? 26) O cnjuge do de cujus pode realizar doaes de rgos? 27) Quais os requisitos para a doao em vida dos rgos do corpo? 28) possvel a esterilizao? necessria a autorizao do cnjuge? 29) A pessoa incapaz pode ser esterilizada? 30) necessria a anuncia do paciente para a realizao de interveno cirrgica? 31) A transfuso de sangue pode ser rejeitada pela condio religiosa do paciente ou familiares? 32) Qual a repercusso de o ausente ter sido excludo pelo novo Cdigo Civil do rol dos

    absolutamente incapazes? 33) Qual a diferena entre ausncia civil e ausncia processual? 34) Quais as fases do procedimento de ausncia e qual o foro competente? 35) Sempre h necessidade de se instalar o procedimento de ausncia? 36) Quem representa o ausente? 37) Quantos editais so pblicos na fase da Curadoria do Ausente? 38) Passado um ano da publicao do primeiro edital, o que pode ocorrer? 39) Qual o prazo para se requerer a abertura da sucesso provisria? 40) O Ministrio Pblico pode requerer a sucesso provisria? 41) Quando se realiza a partilha dos bens entre os herdeiros do ausente? 42) Quando os herdeiros do ausente podem tomar posse dos bens? 43) A posse depende de cauo? 44) A quem pertencem os frutos desses bens na fase da sucesso provisria?

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    45) Os herdeiros que no tomaram posse tm direito aos frutos? 46) possvel alienar bens do ausente na fase da sucesso provisria? 47) Qual a consequncia do retorno do ausente dentro dos dez anos a contar do trnsito em

    julgado da sentena de sucesso provisria? 48) Quando pode ser declarada a sucesso definitiva? 49) Quais os efeitos da sucesso definitiva? 50) O retorno do ausente aps a sucesso definitiva faz com que ele readquira a propriedade de

    seus bens?